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Deduções filosóficas

acerca de Deus

Feito por: João Ricardo


do Amaral Thomé
“Laudare,benedicere e Praedicare”
1
Índice
Introdução.......................................................................................................4
I-Faz sentido ser ateu?...................................................................................5
O ateísmo é o “novo normal”........................................................................5
Há algo em nossa natureza que nos impele a crer em Deus......................6
Faz de fato sentido ser ateu?.......................................................................6
O absurdo da vida sem Deus.......................................................................7
Por que a maioria dos cientistas são ateus?...............................................8
II-O ceticismo da fé........................................................................................9
A fé contradiz a razão?...............................................................................9
O conhecimento de Deus segundo São Tomás de Aquino........................10
O fracasso da razão....................................................................................12
III-Os argumentos racionais a favor da existência de Deus........................13
As 5 vias de São Tomás de Aquino.........................................................13
O argumento Ontológico.........................................................................17
O argumento Moral.................................................................................19
O argumento cosmológico.......................................................................20
IV- Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental......................21
A difamação a Igreja................................................................................22
A influência da Igreja na formação da civilização ocidental..................22
A moral judaico-cristã..............................................................................23
Os heróis do Ocidente..............................................................................24
V- O absurdo do neo-ateísmo.........................................................................25
Ateus iluminados ou adolescentes rebeldes?...........................................26
O pensamento neo-ateu............................................................................26
A guerra contra as religiões.....................................................................28
Fundamentalismo?...................................................................................28

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VI- Por que o cristianismo é a religião verdadeira?........................................29
Uma defesa a singularidade cristã............................................................29
O que é religião?.........................................................................................29
Qual é a religião verdadeira?.....................................................................30
O argumento de C.S Lewis.........................................................................31
Jesus é Deus?..............................................................................................31
VII- Qual é a diferença entre o Cristianismo e as outras religiões?..............36
Se todas as religiões são boas, por que seguir Jesus?.............................36
Dizer que todas as religiões são boas é revoltar-se contra Deus............38
VIII- Por que sou Católico Apostólico Romano?..............................................39
A minha conversão..................................................................................39
Em defesa da Santa Igreja......................................................................40
Por que eu deixei o Protestantismo?.......................................................41
A farsa da “Sola Scriptura”.....................................................................45
Lutero e sua heresia................................................................................48
IX- O problema do Mal: uma refutação ao trilema de Epicuro......................64
O trilema de Epicuro..................................................................................64
Por que não tem lógica usar sofrimento como argumento contra Deus?.65
Por que Deus permitiu o Mal?...................................................................66
Deus sabia que o Mal viria a existir?........................................................66
Jó e o sofrimento de Deus..........................................................................67
X- Todos os caminhos levam a Roma..............................................................69
Scott Hann: Um exemplo de humildade e honestidade intelectual.........69
A santidade da Igreja.................................................................................70
Maria é Santa?.............................................................................................71
Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria....................72
A intercessão dos Santos.............................................................................73
A beleza do Catolicismo...............................................................................77
Ato de humildade.........................................................................................77
Conclusão..........................................................................................................77
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Introdução

Sapientiam autem non vincit malitia


Neste ensaio, o tema principal é o ateísmo e os argumentos em
favor da existência de Deus. No objetivo de “Laudare, Benedicere
e Praedicare” e desmistificar algumas falácias feitas por parte de
ateus e pessoas desonestas para atacar o cristianismo e vos
apresentar o catolicismo como uma forma viável e logicamente
defensável para a sua espiritualidade. O ensaio será separado por
questões centrais e respostas fundamentadas com argumentos e
defendendo a tese de que de fato, Deus existe. Focarei também na
defesa da singularidade da fé católica e darei argumentos na
tentativa de refutar o ateísmo, farei também uma explicitação do
debate sobre a fé e a razão, se uma contradiz a outra e expor os
argumentos que acredito que são os melhores para provar Deus.

Figura 1- São Tomás de Aquino

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Capítulo I- Faz sentido ser ateu?
O ateísmo é o “novo normal”
Antigamente, era necessário algum esforço para ser ateu. Hoje, é a pessoa religiosa
que tem de se rebelar contra a ideia de que Deus não existe. É a pessoa de fé que
precisa ter coragem para aderir à sua crença num ambiente altamente secularizado
e hostil a ela. Não posso prová-lo, mas tenho a forte impressão de que, hoje, o ateísmo
é a posição “padrão” dos americanos bem educados, relativamente ricos e com menos
de 40 anos.

Quando falo de ateus, penso em três categorias: (1) os ateus sinceros, pessoas
bastante francas em relação à sua descrença; (2) os ateus tímidos, também
conhecidos como agnósticos, que não creem em Deus, mas gostam de dizer a si e aos
outros que são tolerantes em relação ao assunto (embora não o sejam); (3) os ateus
indiferentes, cuja convicção da inexistência de Deus é tão grande, que não se
importam em atribuir ao seu estado de espírito o rótulo de ateu ou agnóstico. A
menos que alguma grande revolução religiosa ocorra, é provável que o ateísmo se
dissemine nos níveis menos instruídos e privilegiados da sociedade. Existe uma
espécie de princípio segundo o qual as crenças e valores das elites culturais da
sociedade cedo ou tarde se disseminam entre as massas, ainda que de forma diluída.
Na Idade Média, por exemplo, as crenças e valores cristãos dos sacerdotes, monges e
freiras se espalharam entre as massas semicristianizadas, ainda que o cristianismo
das massas fosse diluído com muitas doses de heresia e superstição.

Nos grandes dias da atividade missionária dos jesuítas, estes compreendiam que, se
quisessem converter uma sociedade para o catolicismo, teriam de começar não pelos
camponeses, mas pelo rei e a corte. Converta-se o rei, e o campo logo se converterá
também.

Em resumo, em poucas décadas os Estados Unidos poderão ser uma sociedade em


que elites ateias liderarão massas semiateias. Já é possível antever a formação dessa
estrutura social. Elites ateias tendem a predominar em nossas grandes instituições
dedicadas à “educação cultural” do público: instituições como o jornalismo, a
indústria do entretenimento e as nossas melhores faculdades e universidades.

Tudo isso é bastante estranho, já que, ao longo da história da espécie humana, algum
tipo de teísmo (ou politeísmo) foi praticamente universal. Quase todas as pessoas
acreditavam em Deus (ou em deuses). Quase todos acreditavam que algum poder (ou
poderes) divino sobrenatural governava o mundo.

Isso funcionou assim por tantos milênios, que alguns criteriosos pesquisadores
concluíram que os seres humanos são religiosos por natureza. Há algo em nossa
natureza que nos impele a crer em Deus (ou deuses). O ateísmo, portanto, era algo
raro e artificial.

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Há algo em nossa natureza que nos impele a crer em
Deus
Naturalmente, por vivermos numa época extraordinária de esclarecimento científico
e psicológico, a maior parte de nossas elites culturais aderiu ao novo entendimento
de que a homossexualidade não é nem um pouco antinatural. Depois de fazerem essa
grande descoberta, deveríamos nos surpreender com o fato de terem descoberto algo
ainda mais importante, ou seja, que o ateísmo também não é antinatural?

Imaginemos que o ateísmo passe a predominar na sociedade. Isso causará algum


dano significativo nas gerações que virão? Aqueles que, ao longo da vida, acreditaram
na existência de Deus responderão que sim. Mas talvez este seja apenas um
“preconceito” da nossa parte. Temos, pois, bons motivos para temer o triunfo do
ateísmo?

Sugiro dois: por um lado, se Deus não existe, então a moralidade humana não tem
fundamento divino; mas, se não possui fundamento divino, deve ter um fundamento
exclusivamente humano. A moralidade terá de ser reconhecida como algo criado
exclusivamente pelo homem. Ora, se é algo feito apenas pelo homem, então pode ser
modificado por ele de forma súbita e radical. O que ontem se considerava mau (o
assassinato, por exemplo) poderá, hoje, ser considerado bom. É claro que
facilitaremos essa transição usando nomes suaves. Não chamaremos assassinato de
“assassinato”. Chamaremos de aborto, eutanásia ou de qualquer outro nome suave
que possamos encontrar.

Por outro lado, se Deus existe (ao menos o Deus racional no qual sempre creram a
teologia e a filosofia ocidentais, em oposição ao Deus um tanto arbitrário do
islamismo), então faz sentido crer que a natureza, criatura de Deus, é inteligível; que
a natureza pode ser compreendida pela razão humana. Se nos livrarmos desse Deus
racional, também nos livraremos da Criação racional. Abriremos as portas para
crenças arbitrárias (por exemplo, a de que um homem se torna mulher apenas por
sentir-se assim). Abriremos as portas para as mais selvagens superstições. As
pessoas serão incentivadas a crer em qualquer coisa de que gostarem.

Não me agrada a ideia, eu um jovem que ainda está em formação e que


provavelmente não irá ver esse triunfo do ateísmo pois creio que ainda está um pouco
longe. Outras vezes, no entanto, agradeço a Deus por saber que não serei espectador
do colapso total de nossa outrora magnífica civilização.

Faz de fato sentido ser ateu?


“Para aquele que tem fé, nenhuma explicação é necessária. Para
aquele que não tem fé, nenhuma explicação é possível.”-São
Tomás de Aquino
Também quero trazer alguns pensamento que rebatem o sentido de uma vida sem
Deus e propor o cristianismo como uma opção lógica melhor que o ateísmo.

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Os ateus costumam alegar para defender as suas proposições que não existem
evidências concretas da existência de seres divinas, e portanto, a única posição viável
é a de que eles não existem. E tem outros que vão além e se opõem ao cristianismo
pois na cabeça deles a religião trouxe para a humanidade episódios negativos como
guerras e perseguições. Eu não irei negar aqui que muitas atrocidades foram
cometidas em nome da religião cristã e isso claramente é algo horrível mas existe
uma coisa que alguns ateus parecem querer ignorar: que você não pode julgar todo o
cristianismo pelos atos cometidos por algumas pessoas que se diziam ou se dizem
cristãs mas na realidade não segue o verdadeiro cristianismo. O cristianismo em si
é uma religião que prega o amor e além disso traz esperança e sentido para a vida.
A pergunta que resume todo esse tema é: Qual o sentido ou o propósito que o ateísmo
traz para a vida das pessoas? Eu mesmo posso responder, o ateísmo só retira toda a
esperança e o propósitos dos seres humanos, e quanto aos aspectos negativos dos
falsos cristãos no passado, quantas pessoas também não morreram e foram
perseguidas pelos regimes comunistas ateístas no século passado? Talvez ninguém
tenha parado para pensar nisso, pois talvez o ateísmo possa ter matado mais pessoas
que todas as religiões juntas.

Agora voltando a fé cristã, os cristãos acreditam que através da fé em Deus, e através


do sacrifício e ressureição de Jesus Cristo pagando toda a dívida da humanidade, nós
temos a esperança de que no futuro poderemos alcançar a vida eterna. E nós tanto
ateus como cristãos, enquanto vivermos nesse mundo de injustiças e pecados, um dia
conheceremos a morte. Consequentemente, se Deus não existe, tanto ateus como
cristãos não terão vida após a morte. Mas e se os cristãos estiverem certos? E se
Jesus for exatamente aquilo que Ele dizia ser? Quem será que perde? Se você não
crê, isso é um problema única e exclusivamente seu. Mas é muito inconveniente
querer tirar a esperança de uma outra pessoa.

O absurdo da vida sem Deus


“Quem sou eu?”, “Por que eu estou aqui?”, “Para onde vou?”. Em nome do
progresso, o homem moderno tentou responder essas perguntas sem referência a
Deus, mas a resposta que ele recebeu foi sombria e terrível. “Você é acidental,um
subproduto da natureza, não há razão para a sua existência, tudo que você enfrenta
é a morte.” O homem moderno pensou que matando Deus, ele se libertaria de tudo
o que reprimiu e o sufocou, mas ao invés disso, ele descobriu que matando Deus, ele
tinha cometido um suicídio inconsciente, pois se Deus não existe, a vida do homem
é em última instância um absurdo. Se Deus não existe, o homem e o universo estão
inevitavelmente destinados a morte como todos os organismos biológicos, o homem
deve morrer, sua vida é apenas uma faísca na escuridão infinita, a faísca aparece,
pisca e depois morre para sempre. Os cientistas nos dizem que o Universo está se
expandindo, a medida que o faz, cresce cada vez mais frio, eventualmente não
haverá luz, nem haverá vida, ou seja estamos condenados a extinção. Agora, o que
tudo isso implica? Se cada pessoa deixa de existir quando morre, que significado
final pode ser atribuída a sua vida? A humanidade portanto, não é mais
significativa do que um enxame de mosquitos. Pois o fim deles é o mesmo. Este é o
horror do homem moderno, pois ele acaba em nada, ele em última análise não é
nada. E ainda fica mais angustiante, pois se a vida acaba numa sepultura, não faz
diferença se você vive como Stalin ou como Madre Teresa de Calcutá, se o seu
destino não for relacionada com seu comportamento, então você pode viver muito
7
bem como quiser. Os valores morais são apenas expressões do gosto pessoal ou
então subprodutos de evolução biológica e condicionamento social, quem pode dizer
de quem são os valores? Se eles estão certos ou estão errados? Agora pense no que
isso significa, isso significa que é impossível qualificar a guerra, a opressão ou
orgulho como algo ruim. Matar ou amar alguém é moralmente equivalente. Na
minha percepção é que é impossível viver consistente e feliz com essa visão de
mundo. O cientista ateu Bertrand Russel sustentou que os valores morais são
apenas expressões de gostos e ainda assim Russel admitiu que não poderia viver
assim. Ele portanto encontrou sua própria visão de mundo. “Incrível, eu não sei a
solução” ele confessou. Se a morte está de braços abertos no fim da vida, então qual
é o objetivo da vida? Não há razão para vida? Se o seu destino é uma morte fria nos
recessos do espaço sideral, então a resposta é sim, é inútil. Se Deus existe, então há
esperança para o homem. Se Deus não existe, então tudo o que resta é desespero.
Diante de uma visão ateísta, o filósofo Sartre percebeu que a vida é absurda, em
sua peça “Sem saída” ele retratou tragicamente a vida do homem como um inferno.
As palavra finais da peça podem servir como um mantra para os ateus: ”Bem,
vamos em frente”.

Por que a maioria dos cientistas são ateus?


No livro “100 years of Nobel prize”, o autor sustenta que 65% dos laureados com o
prêmio Nobel foram dado a cristãos, sendo 72% na Química, 65% na Física e 62% na
Medicina. Fora o Nobel da Paz, ele menciona que em Economia o percentual cai para
54% e em Literatura para 49%. Nunca me esqueço do que um amigo meu que ama
Matemática me disse quando eu era ateu e discutíamos sobre esse assunto: “Cara,
esse papo de ateísmo é para o pessoal de Humanas.” Longe de se desfazer da
importância das Humanas, mas os próprios ateus alegam que a maior parte dos
cientistas são ateus, no intuito de conferir uma intelectualidade que não existe no
ateísmo. Mas vamos aos dados: Para acreditar que os cientistas sejam naturalmente
ateus ou agnósticos(eu acreditei nisso com credulidade infantil até o início desse ano),
duas condições são necessárias:

1)Você tem que não ter lido uma só linha do que eles escreveram a respeito;

2)Você tem que ter sido vítima do que chamam por aí sem o menor motivo aparente
de sistema de “educação”. A noção popular de que os homens da Ciência são por
natureza ateus é um puro blefe que só funciona por esses dois motivos.

Mas é um blefe que conta com verbas milionárias e passa, por isso, a ser crível. Por
exemplo, numa entrevista recente à Veja, Richard Dawkins(um homem que eu
admirava bastante na minha época de ateu), o apóstolo-mor do neoateísmo deu uma
de João sem braço quando confrontado com a pergunta sobre casos na história de
cientistas que tiveram longe de ser ateus. Ele, fingindo serem casos isolados, cita
Galileu e Newton. Pois eu respondo: Não era só Galileu e Newton que eram cristãos
não, seu picareta. Vou deixar aqui uma lista de cientistas famosos que eram cristãos
e irão até se assustar: Galileu, Newton, Torricelli, Da Vinci, Copérnico, Brahe,
Napier, Roberval, Harvey, Gilbert, Barrow, Steno, Kepler, Descartes, Beeckman,
Snell, Stevin, Pascal, Lamy, Varignon, Desargues, Venturi, Hooke, Picard, Leibniz,
Gassendi, Grimaldi, Cassini, Bayes, Cavaliers, Bartolomeu de Gusmão, Joule, Watt,

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Lavoisier, Lineu, Ampère, Ohm, Oesterd, Avogadro, Volta, Doppler, Fraunhofer,
Maxwell, Faraday, Weber, Henry, Pasteur, Mendel, Couloumb, Carnot, Foucault,
Fourier, Hamilton,Hertz, Planck, Minkoeski, Bohr. Absolutamente nenhum desses
foi ateu ou agnóstico.

Capítulo II-O ceticismo da Fé


A fé contradiz a razão?
O problema subjacente ao debate da fé e da razão está na questão de que se é possível
ou não provar a existência de Deus. E a tese defendida pelos ateus é que o nosso
conhecimento e nossa razão não conseguem provar a existência de Deus, o que faz
muitos assumirem uma posição agnóstica sobre o problema visto que para eles , a
dúvida e a impossibilidade de provar Deus cientificamente devido aos limites
humanos eram uma prova de Sua “inexistência”.

Em uma coisa eles estão certos, não é possível provar Deus cientificamente, isso é
verdade. Mas, temos outros métodos para analisar a veracidade de certas coisas. Por
exemplo, as retas paralelas de Euclides, são infinitas e nunca se cruzam. É
impossível provar isso cientificamente pois ninguém tem uma régua do tamanho do
infinito para provar que essas retas nunca se cruzam. É aí que está a diferença entre
axioma e teorema. Um axioma, assim como Deus e as retas de Euclides, não são
possíveis de provar cientificamente, mas logicamente, por dedução, os dois podem
ser provados. “Ausência de evidência não é evidência de ausência”.

Se nós tivermos honestidade intelectual e apreço pela busca pela verdade,


tentaríamos ao menos estudar as bases filosóficas e metafísicas da religião, e nesse
estudo provavelmente chegaríamos ao debate se fé e razão se coadunam. Hoje,
qualquer religioso com uma boa base filosófica, entende que não há qualquer
contradição entre fé e razão, “nós cremos para que possamos compreender melhor e
compreendemos para crer” dizia Santo Agostinho. A fé ajuda a razão no seus
métodos e a fé também é ajudada pela razão pois assim ela recebe um maior
embasamento. Desta forma, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino não se
excluem, se complementam. Hoje é simples, mas podemos dizer que o grande
desafio intelectual da Idade Média foi o debate se a fé tem ou não mais importância
que a razão. A própria Escolástica surge no meio desses debates entre fé e razão.
Alguns no início da Escolástica eram mais da opinião que se a razão importava
mais do que a fé, Deus teria enviado filósofos para evangelizar os homens, mas
após um tempo, a maioria dos mestres escolásticos passam a crer que se Deus
dotou suas criaturas humanas da razão ,diferentemente dos animais, logo há um
fim nobre no uso da razão. A razão tem um valor expressivo e se ela podia ajudar a
compreender melhor os mistérios da fé, por que descartá-la? Basicamente o que
mudou essa opinião entre os escolásticos é que a partir do século 12 há uma
verdadeira invasão Aristotélica no pensamento filosófico medieval, o que
influenciou bastante o pensamento escolástico. Desde a Patrística até o século 11, a
filosofia cristã de modo geral estava apoiada em bases platônicas(neoplatonismo),
já Aristóteles era mal-visto por ser considerado um pagão pela Igreja, mas aos
poucos a Igreja foi se abrindo e hoje em dia as maiores bases filosóficas da Igreja
está em Aristóteles. São Tomás de Aquino, o maior expoente da escolástica e quiçá
de toda a teologia de todos os tempos, escreveu uma das maiores obras de filosofia

9
da história a sua chamada Suma Teológica. A grande sacada do Doutor
Angélico(como ele era chamado ainda em vida) foi juntar o Aristotelismo em favor
de Cristo, o essencial que São Tomás foi buscar é que o homem pode buscar a razão,
pois para o neoplatonismo e a Patrística, a razão era completamente subordinada a
fé e as vezes se caia num misticismo irracional facilmente refutável, já no
aristotelismo a razão vale por si, nem acima nem abaixo da fé, porque elas atuam
em campos diferentes e ao mesmo tempo elas caminham juntas pois qual é o
objetivo da fé senão conhecer a verdade? E qual é o objetivo da razão senão
conhecer também a verdade? Ambas tem o mesmo objetivo mas elas percorrem
caminhos diferentes, no final das contas, existem vários caminhos para se chegar a
verdade, o astrônomo e o físico sabem que a Terra é redonda, mas para chegar a
isso eles usam caminhos totalmente diferentes. Assim São Tomás acabou com essa
charada com a maior maestria possível, a razão e a fé se complementam e não se
excluem, e a partir dessa conclusão que parece até bem simples, através de São
Tomás outras áreas do conhecimento puderam se desenvolver de forma muito
veloz, as sociedades cristãs conscientes do valor da razão, vão progredir
politicamente, socialmente, economicamente, medicinalmente, tecnologicamente
dentre tantos outros aspectos tendo em conta o bom uso da razão.

O conhecimento de Deus segundo São Tomás de Aquino


Na Suma Contra os Gentios, São Tomás de Aquino explica que há três modos pelos
quais o homem pode conhecer às coisas divinas. O Aquinense, como bom conhecedor
da psicologia humana, relembra o princípio de que a alma humana tende
naturalmente a Deus. Sendo assim, ele mostrará os três conhecimentos do homem
referentes às coisas divinas: “o primeiro, enquanto o homem mediante a luz natural
da razão e pelas criaturas sobe até o conhecimento de Deus; o segundo, enquanto a
verdade divina que excede o intelecto humano, desce até nós pela revelação, não para
ser vista como por demonstração, mas para ser crida como pronunciada por palavras;
o terceiro, enquanto a mente humana é elevada à perfeita intuição das coisas
reveladas”.

Primeiramente o homem mediante a luz natural da razão e pelas criaturas obtém o


conhecimento de Deus, em outro trecho da Suma contra os Gentios, o autor faz uma
analogia entre Deus e a arte ao afirmar que: “Pela meditação sobre as obras podemos
admirar de algum modo e considerar a sabedoria divina: as coisas realizadas pela
arte são representativas da arte, porque são realizadas à sua semelhança”. De modo
que podemos tirar daí uma metáfora interessante que pode exemplificar um pouco
como o homem conhece a Deus pela luz natural da razão e pela suas obras. Quando
vemos um belo quadro de arte, pintado minuciosamente nos seus mais belos detalhes
e aspectos, vemos nessa bela pintura todos os traços produzidos pelo artista e
entrevemos um pouco como é a psicologia do pintor. Mas jamais poderemos dizer que
não houve um autor que a tenha feito. É o que acontece com o mundo criado. Porque
ele reflete algo do seu Autor, e por isso São Tomás afirma: “Ora Deus, pela sua
sabedoria, deu o ser às coisas, razão por que é dito: Tudo fizestes com sabedoria (Sl
103,24). Daí podermos, pela consideração das obras, recolher a sabedoria divina, que
está como que espelhada nas criaturas por certa comunicação da sua semelhança”.
Se voltarmos novamente os olhos para a metáfora, podemos tirar uma outra ideia
que é a seguinte: Se o artista produziu uma magnífica obra é por que a
sua capacidade tem que ser tida como superior às coisas que ele faz, é o que diz o
10
livro da sabedoria: “Se ficam admirados (os filósofos) da sua potência e das suas obras
(isto é, do céu, das estrelas e dos elementos do mundo) compreendam que quem as
fez é mais poderoso que elas” (Sb 13,4). Assim notamos como Deus criou de tal
maneira o universo deixando ao homem vestígios para que este pudesse contemplar
os inefáveis reflexos de seu Autor. Vejamos como São Tomás nos explica isso:

Como, no entanto, o bem perfeito do homem consiste em conhecer a Deus de algum


modo, e para que uma tão nobre criatura não fosse considerada totalmente vã por
não poder atingir o seu fim, foi-lhe dado um caminho pelo qual pudesse elevar-se ao
conhecimento de Deus, a saber: como todas as perfeições das coisas descem de Deus
ordenadamente, de Deus que é o vértice supremo de todas elas, também o homem,
partindo das coisas inferiores e subindo gradativamente, deve progredir no
conhecimento de Deus, pois também nos movimentos corpóreos há caminho pelo qual
se desce e o caminho pelo qual se sobe, distintos em razão do princípio e do fim.De
modo que através dos objetos sensíveis que nos circundam, podemos subir
gradativamente até Deus.Por isso a qüididade das coisas é o que primeiramente
conhecemos e por meio dele chegamos até o nosso Autor e fim último.”

No entanto, São Tomás nos diz que há outros dois modos no qual o homem conhece
às coisas divinas, passemos para o segundo.

Conhecemos às coisas divinas, enquanto a verdade divina que excede o intelecto


humano, desce até nós pela revelação, não para ser vista como por demonstração,
mas para ser crida como pronunciada por palavras. Pois conhecemos a Deus por
intermédio de sua obra, mas não o conhecemos inteiramente. Eis o que diz São Tomás
a respeito das palavras de Jó “Com efeito, quando Jó diz: isto que foi dito é uma parte
dos seus caminhos (Jó 26,14), refere-se àquele conhecimento pelo qual o nosso
intelecto sobe ao conhecimento de Deus pelas vias das criaturas. E porque
conhecemos essas vias imperfeitamente, com acerto Jó acrescenta: é uma parte”.
Continua São Tomás: “Como também diz São Paulo aos Coríntios: Conhecemos,
agora, em parte (1Cor 13,9). E São Paulo continua: E se apenas ouvimos uma
pequena gota das suas palavras, o Apóstolo se refere ao segundo conhecimento,
enquanto as coisas divinas nos são reveladas para serem cridas como por meio de
palavras”. De maneira que parece óbvio que se todo o Universo criado provém das
mãos de um único Ser, é impossível que este não esteja, de alguma forma em contato
com o seu Autor. No entanto o contrário se dá. O Criador do céu e da terra deixou
não somente uma obra visível, na qual pela simples luz natural da razão o homem
chegasse até ele, mas revelou também aos homens quem Ele é. E por isso Ele quis
como que uma contribuição dos homens, ou seja, que eles cressem na sua revelação.
A doutrina da Igreja Católica nos explica bem ao afirmar “Cremos por causa da
autoridade de Deus que revela e que não pode nem enganar-se nem enganar-nos”. E
o Magistério da Igreja explicita: “Todavia para que o obséquio de nossa fé fosse
conforme à razão, quis Deus que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem
acompanhados das provas exteriores da revelação”. No Catecismo da Igreja Católica,
encontramos um trecho, no qual se explica esse ponto tendo como base o ponto de
vista tomista: “Sem dúvida, as verdades reveladas podem parecer obscuras à razão
e à experiência humanas, mas, como diz São Tomás, a certeza dada pela luz divina é
maior que a que é dada pela luz da razão natural (S. Th. II-II, q. 171 a.5 obj.3)”.

11
Resta-nos agora o último ponto, em que a mente humana é elevada à perfeita
intuição das coisas reveladas. Seguindo o caminho trilhado por São Tomás, vimos
que a verdade revelada referente às coisas divinas não é proposta para ser vista,
mas para ser acreditada. Não obstante, pelo fato do conhecimento imperfeito provir
daquele conhecimento perfeito, no qual a verdade divina é vista em si mesma,
enquanto nos é revelada por Deus por meio dos seus anjos. E pelo fato de não nos
ser revelado todo o mistério visto na primeira verdade, conhecidos pelos anjos e
pelos bem-aventurados, pois deles poucos mistérios nos são revelados, por isso
acrescenta Jó nas suas palavras, também essas poucas coisas que nos são
reveladas, nos são propostas por semelhanças e palavras veladas. De modo que é
através das coisas reveladas que intuiremos de modo mais perfeito a Deus e
compreenderemos mais a Ele, pois o nosso fim último é louvar, amar e servir a
Deus sobre todas as coisas, como consta no Evangelho de São Lucas: “Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o coração, de toda a alma e de todas as tuas forças e de
todo o teu pensamento” (Lc 10, 27).

São Tomás demonstra que o intelecto humano não é capaz de conhecer as


substâncias imateriais criadas, ou seja, os anjos ,a alma e etc… Ora se o intelecto
não pode adquirir esse conhecimento na vida presente, como conhecerá a Deus que é
a suma imaterialidade? O Doutor Angélico então explicou que para chegarmos ao
conhecimento de Deus precisamos do intermédio das criaturas, pois, conhecemos
primeiramente a quididade das coisas materiais e é a partir delas que chegamos ao
conhecimento do Criador. No entanto, esse conhecimento exclusivo das coisas que
nos circundam ,não são suficientes para adquirir um conhecimento mais profundo de
Deus. Por isso ele se refere à necessidade de que exista uma Revelação no qual o
próprio Deus entra em contato conosco através da revelação, que precisa ser crida
por nós, e por meio desta chegamos à intuição desse Ser que é o nosso Criador.

O Fracasso da razão
O homem é um animal racional. A capacidade de raciocinar está enraizada em sua
natureza. Quando não vive à luz da razão, ele não consegue ser verdadeiramente
humano. São Tomás de Aquino compreendeu as implicações sociais da razão e via
nela um meio pelo qual todas as pessoas podem se comunicar umas com as outras
sobre uma base comum. Ele acreditava, portanto, que a razão pode unir as pessoas.
A capacidade de raciocinar é uma propriedade universal, diferentemente de raça,
religião, condição social e lugar de nascimento. Quando escreveu a Suma contra os
gentios, São Tomás de Aquino estava convencido de que poderia estabelecer pontos
em comum com os muçulmanos ao “recorrer à razão natural, com a qual todos são
obrigados a concordar”.

Talvez poderíamos dizer que S. Tomás estava excessivamente convencido, pois é


possível que as pessoas se recusem a dar seu assentimento à razão. O fato de
possuirmos algo não significa que sempre o utilizemos, por mais que se trate de uma
propriedade que define a nossa natureza. Se as pessoas, no entanto, forem honestas
consigo mesmas, terão de prestar assentimento à razão, pois não poderão viver (em
nenhum sentido prático) sem a orientação proporcionada por ela.

Jacques Maritain escreve o seguinte no livro The Range of Reason:

12
“Nada é mais importante do que os eventos que ocorrem no interior daquele
universo invisível que é a mente humana”. Quando o homem vive segundo a razão,
vive de acordo com a sua natureza. Quando rejeita a razão, desvia-se de sua
natureza e encontra-se num estado de profunda confusão. Logo, a única escolha
sensata é viver segundo a luz da razão. O fato de o homem ter sido feito à imagem e
semelhança de Deus significa que ele tem em comum com Deus a racionalidade.
Quando se rejeita a razão, rejeita-se Deus junto com ela. Mas o mundo ateu ao
nosso redor — a despeito de seus lugares-comuns sobre diversidade, tolerância,
inclusividade etc. — está totalmente comprometido com seu objetivo de rejeitar a
Deus e despojar as criaturas racionais do precioso dom que Ele lhes concedeu.

Capítulo III-Os argumentos racionais a favor da


existência de Deus
As cinco vias
“O intelecto humano não pode ter repouso definitivo senão na beatitude eterna,
quando vê a Deus por essência. Mas “in via”, ou seja, antes da morte, nada lhe pode
dar maior repouso que a paz da clara verdade: a paz do Tomismo”.- Carlos Nogué
A Suma Teológica é possivelmente a obra mais famosa e estudada do filósofo São
Tomás de Aquino. Entretanto, na questão dois do primeiro livro (no início da Prima
Pars para ser mais exato) temos como título para o capítulo a seguinte pergunta:
Deus existe? Para não somente responder o capítulo como tentar responder a
pergunta que o Santo nos apresenta “5 vias” para provar a existência de Deus.
Portanto, este ensaio dará foco a apresentação e explanação dessas 5 vias
argumentativas.

A Suma teológica é a sua obra mais conhecida e utilizada. O título de cada capítulo
é um questionamento, sendo desenvolvido nele mesmo a resposta para esse assim
como estou tentando fazer neste ensaio. Toda a sua obra segue uma minuciosa
estrutura argumentativa devido a influência de Aristóteles no pensamento do
filósofo — e isso será facilmente percebido quando explanarmos as 5 vias
argumentativas de São Tomás. A Suma se dividirá em três grandes partes — pois é
assim que a obra é habitualmente apresentada: Prima Pars, Secunda Pars — a
segunda parte se apresenta dividida em mais duas partes e por isso a Suma contém
habitualmente quatro volumes — e Tertia Pars. Os argumentos de São Tomás de
Aquino a favor da existência de Deus está na Prima Pars, pois nela é que se trata de
Deus. Querendo em primeiro lugar tratar Deus segundo o que Ele é em si mesmo,
conseguimos observar na Prima Pars duas subdivisões: o que se relaciona à essência
divina e o que pertence à distinção entre pessoas. Entretanto, devido Deus ser o
princípio e fim de todas as coisas, fala-se igualmente da forma pela qual as criaturas
procedem de Deus. É nesse ponto que entra as 5 vias. Segundo o pensamento Tomista
abordado na Suma Teológica, o problema central da filosofia é a de responder os
questionamentos sobre Deus — se Ele existe ou não por exemplo — enquanto que o
principal intuito da Doutrina Sagrada é o de transmitir o conhecimento de Deus.
Segundo São Tomás, a própria estrutura do ser humano exige que o conhecimento
comece pelos seus sentidos, elevando-se a partir deles ao mundo suprassensível, a

13
Deus. A Suma Teológica retoma a metafísica aristotélica através de uma
interpretação cristã afim de poder fundamentar as provas para a existência de Deus.

Por fim, a questão número dois do primeiro livro da Suma trata do seguinte problema
filosófico: Deus existe? Para São Tomás de Aquino e para mim,sim, mas a existência
dEle não é assim algo evidente a ponto de somente haver feito a apreensão de seu
termo ou definição para efetivamente saber que existe — e aqui está a crítica de São
Tomás ao argumento ontológico que logo irei expor também. São Tomás expõe
inicialmente na questão de número dois argumentos contra a existência de Deus —
o primeiro argumento apresentado, por exemplo, é sobre o problema do mal -,
mostrando neles sua falta de cogência.

Entretanto não são somente apresentados argumentos a favor da inexistência de


Deus: para São Tomás de Aquino é possível provar a existência de Deus através de
“5 vias”, 5 argumentos. Todas as 5 vias necessitam de uma causa transcendente, pois
sem tal ela não poderia existir. São essas vias, no final, formas de chegar a um único
lugar — pois o efeito existe, portanto, deve existir uma causa. Uma única prova —
que no caso é Deus — fundamentada por cinco caminhos diferentes.

As cinco vias são as seguintes:

* Via do movimento/primeiro motor;

* Via da causa eficiente;

* Via do contingente e do necessário;

* Via dos graus de perfeição;

* Via do governo das coisas/da finalidade do ser.

1° Via:

A primeira via fala de um fato do mundo: o movimento. Conseguimos facilmente


perceber o movimento das coisas através de nosso sentidos. Proposicionalmente
falando, a primeira via pode ser assim apresentada:

(1) No mundo, algumas coisas são movidas.

(2) Tudo o que é movido é movido por outro.

(3) Não se pode regredir até ao infinito nos moventes e movidos.

(4) Logo, é necessário um primeiro motor, que é Deus.

Primeiro, consideremos aqui movimento toda e qualquer transformação, mutação ou


mudança. Conseguimos perceber no mundo o movimento de algumas coisas (1),
sendo esta premissa facilmente constatável pela nossa sensibilidade. Com relação a
premissa seguinte será necessário apresentar duas palavras: potência e ato. Para
São Tomás de Aquino a palavra potência significa aquilo que é movido ou aquilo que
recebe o movimento. Ato significa aquilo que move ou que inicia o movimento. O que
está sendo movido está sempre em potência para o movente, enquanto que o movente
está sempre em ato para o movido (2) — ou seja: o ato antecede a potência assim
como o movente antecede o movido. Devido a essa relação ato-potência, não é possível
fazer uma regressão ao infinito entre moventes e movidos (3) porque nunca

14
acharemos o primeiro movente (e como a relação ato-potência se dá através de ações
em cadeia, nada seria movido). Logo, devido constatarmos através de nossa
sensibilidade a relação ato-potência no mundo, é preciso admitimos um primeiro
motor, que é Deus.

2° Via

Na segunda via é defendida a existência de uma causa primeira para conseguir


explicar a cadeia de causas que acontecem no mundo. Proposicionalmente falando, a
segunda via pode ser assim apresentada:

(1) No mundo todas as coisas tem uma causa eficiente.

(2) Nada pode ser a causa eficiente de si mesmo.

(3) Não é possível que se proceda até o infinito nas causas eficientes.

(4) Logo, existe uma causa primeira eficiente, que é Deus.

Causa eficiente tem por definição algo produzir outro algo — e no mundo
conseguimos observar uma ordem de causas eficientes e seus efeitos como bem
aponta a premissa (1). E se o último algo produzir um terceiro algo e assim o ciclo
continuar sucessivamente, assim teremos uma ordem de causas eficientes. Se, por
exemplo, X produz Y, X é a causa eficiente de Y. Y não pode ser a causa eficiente de
si mesmo, mas apenas efeito de uma causa eficiente (2) — que no caso é X. Portanto,
como observamos os efeitos, fazer um regresso ao infinito para chegar a causa
eficiente primeira torna-se impossível, pois assim como na primeira via, caso não
assumíssemos uma causa eficiente primeira, não haveria qualquer efeito posterior
(3). Por fim, se existem efeitos no mundo, é preciso que exista uma causa eficiente
primeira, sendo ela Deus (4).

3° Via:

Na terceira via é defendida a existência de um ser necessário na qual dependem


todos os seres contingentes. Proposicionalmente falando, a terceira via pode ser
assim apresentada:

(1) No mundo, há coisas contingentes que existem mas poderiam não existir.

(2) Mas é preciso que algo seja necessário entre as coisas.

(3) Não é possível que se proceda ao infinito nas coisas necessárias.

(4) Logo, existe um ser primeiro necessário, que é Deus.

No mundo podemos constatar as coisas contingentes, pois elas poderiam ser ou não
ser/existir ou não existir. Computadores por exemplo não existiam no passado, mas
agora existem. O ser humano pode facilmente estar dentro da categoria dos
contingentes: uma hora existimos e numa outra hora não mais (1). Se toda sorte de
coisa é contingente, então em algum momento essas deixarão de existir. Devido ao
absurdo dessa consideração, é preciso de alguma coisa que seja necessária para dar
origem aos contingentes (2). Entretanto, regredir ao infinito nas coisas necessárias é
impossível, pois será preciso um necessário por si que seja a causa de outros
necessários (3). Essa primeira coisa necessária causadora de outras coisas é Deus
(4).

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4° Via:

A quarta via fala sobre a existência de um ser máximo na qual todos os seres
presentes no mundo participam no mesmo com Ele em diferentes graus de perfeição.
Proposicionalmente falando, a quarta via pode ser assim apresentada:

(1) No mundo, as coisas têm diferentes graus de perfeição.

(2) Os graus de perfeição atribuem-se em relação à proximidade do grau máximo.

(3) O grau máximo de um gênero é a causa de todas as coisas desse gênero.

(4) Logo, há algo que é a causa da existência para todas as coisas, que é Deus.

É facilmente observável que, no mundo, as coisas que chegam a nosso entendimento


através de nossos sentidos contém determinado grau de perfeição — seja esse grau
para mais ou para menos e segundo também nosso julgamento diante de tais coisas
(1). Estando esses graus presentes desde os objetos mais comuns até os sentimentos
mais obscuros ou nobres, julgamos sobre tais grais de tais coisas tendo como
referência alguma coisa de grau máximo (2). Mas esses graus máximos que temos
como referência para determinada coisa é o que dá existência de todos do seu gênero
(3). Ainda mais: se para cada coisa existente existe um grau máximo, portanto, deve
existir um Ser que contém todos os atributos e coisas possíveis em seus graus de
perfeição no máximo — e que seria geradora de todas as coisas em grau de perfeição
menos (4). Esse Ser é Deus.

Não somente Deus pode ter algo em seu grau de perfeição máximo como todo e
qualquer ser pode assim ter esse grau máximo, bastando participar da Suma
Perfeição. Ou seja: uma coisa ou ser somente consegue chegar a seu grau máximo de
perfeição caso participe da perfeição do Ser mais perfeito — pois Deus é fonte de toda
coisa ou ser, transcendendo a ordem natural do mundo devido a sua perfeição.

5° Via:

Na quinta e última via São Tomás de Aquino argumenta sobre a existência de um


arquiteto inteligente que governa, coordena ou dá uma finalidade a todas as coisas
no mundo. Proposicionalmente falando, a quinta via pode ser assim apresentada:

(1) No mundo, algumas coisas operam por causa de um fim.

(2) Estas coisas não atingem o fim por acaso.

(3) Estas coisas não tendem para um fim a não ser que estejam sendo dirigidas por
algo inteligente.

(4) Logo, existe algo inteligente, que é Deus, que dirige as coisas a um fim.

São Tomás aqui faz referência a finalidade das coisas do mundo. Existem certas
coisas que não tem inteligência e que, regidas pelas leis da natureza, são ordenadas
e contém a finalidade certa (1). Assim como a flecha, em sua finalidade única, é
direcionada para seu alvo pelo arqueiro, as coisas não recebem uma finalidade
arbitrária (2). Devido ao tamanho e a diversidade de coisas presentes no mundo, não
é possível observar a harmonia e ordem do mundo e a finalidade específica presente
em cada coisa carente de inteligência — ou até mesmo não a contendo — sem pensar
na possibilidade de haver uma inteligência por trás de tudo (3). Como existem essas

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coisas ou seres de pouca ou nenhuma inteligência realizando seus atos com
finalidade específica e de forma harmoniosa com o outro que preenche o mundo, deve
haver sim um ser inteligente que governa, coordena e atribui as devidas finalidades
a esses.Por fim, o Ser inteligente é Deus (4).

Com essa leitura explanada dos cinco argumentos propostos por São Tomás de
Aquino para provar a existência de Deus — e assim cumprindo com o problema
central da filosofia que segundo o filósofo deve se assegurar de resolver os
questionamentos sobre Ele -, fica nítida a influência que Aristóteles exerceu através
de seus escritos nesse filósofo medieval — principalmente na parte metafísica e
lógica. Contribuindo com a tradição medieval de conciliar a fé com a razão já
explicitada antes por mim no tema anterior. São Tomás de Aquino abre mais uma
porta para aqueles que desejam chegar a Deus (pois a primeira teve origem em Santo
Agostinho através da ontologia, valendo observar a influência que Platão teve nele).
É observável também a influência do uso da empiria, pois, diferente do acesso a Deus
por via da gnosiologia inata, temos São Tomás de Aquino fazendo uso da empiria de
Aristóteles. Ou seja: é no mundo que vemos as provas da existência de Deus, pois
todas as vias partem de uma realidade verificável e concreta, tendo São Tomás suas
racionais demonstrações a posteriori. Perceba que São Tomás de Aquino não
pretendeu dizer o que era Deus, mas apenas provar sua existência.

O argumento Ontológico
Diferente dos outros argumentos, o Ontológico é puramente a priori, inteiramente
baseado na razão. Pelo que se tem registro, o primeiro a formular esse argumento
foi Santo Anselmo de Cantuária onde ele diz que a própria possibilidade de
existência de um Deus e pela essência do que é Deus prova que ele existe. Sem uma
base filosófica é difícil de compreender este argumento mas vamos lá. Ele se divide
em 5 premissas que levam a uma conclusão:

(1): É possível que um ser de máxima grandeza exista;

(2):Um ser de máxima grandeza existe em algum mundo possível ;

(3):Se um ser de máxima grandeza existe em algum mundo possível, ele existe em
todos os mundos possíveis;

(4): Se um ser de máxima grandeza existe em todos mundos possíveis, ele existe
também no nosso mundo;

(5): Um ser de máxima grandeza existe no nosso mundo;

(6):Logo,um ser de máxima grandeza existe.

Analisando as premissas, a premissa 1 quer dizer que nós temos a capacidade de


imaginar, de pensar num Ser de máxima grandeza, a nossa mente de alguma forma
é capaz de imaginar um Ser com uma inesgotável fonte de poder, completamente
sábio e totalmente bom, um Ser perfeito o qual nada poderia ser melhor que Ele,
alguém poderia afirmar que alguém pode imaginar num ser ainda maior que Deus,
mas se isso é possível, você de qualquer forma pensou em Deus, se existe um ser
maior do que o Ser de máxima grandeza, então este é Deus. O Ser que tem poder de
fazer qualquer coisa possível desde que esse obedeça a lógica, Deus pode fazer tudo
pois ele é todo-poderoso mas Ele não pode fazer algo que fuja da lógica ,por exemplo,

17
Deus não pode criar uma pedra tão grande que não pode carregar, pois isso
constituiria um erro lógico. Deus não pode pecar, pois assim ele não seria totalmente
bom. Resumindo Deus é um ser de máxima grandeza onde nada é maior que Ele.
Existindo a possibilidade de pensar nesse ser, Deus, logicamente existe também a
possibilidade de que ele exista em algum mundo possível. Alguém pode vir a
argumentar “Ah mas isso é um absurdo pois nós também conseguimos imaginar algo
que não exista no mundo real, como um unicórnio” sim isso é verdade, e isso nos leva
a premissa 2.

Muita gente tem a noção errada do que é um mundo possível, um mundo possível
nada tem que ver com um planeta qualquer do universo ou um mundo paralelo.
Mundo possível assume o sentido de realidade, na filosofia, o mundo real pode ser
considerado como um dentre muitos mundos possíveis ,o que quer dizer que podemos
supor outras realidades diferentes da que vivemos. Nós podemos supor a existência
de um ser de máxima grandeza num mundo possível pois existe a possibilidade de se
pensar nele no mundo real. Nós sabemos que unicórnios não existem, mas qual é o
conceito de um unicórnio? Um cavalo com um chifre. Cavalos e chifres existem no
mundo real e portanto a mente do ser humano consegue pensar num cavalo com um
chifre pois existe a possibilidade de se pensar nisso, logo em um mundo possível
existem cavalos com chifres. Nós também sabemos que não existem seres humanos
com 8 metros de altura mas na imaginação eles podem existir, logo em uma realidade
possível seres humanos de 8 metros existem. Mas e Deus? Ele também pode ser
imaginado assim como um unicórnio e homens de 8 metros, ou seja, em um mundo
possível existe um Ser de máxima grandeza. Como eu já havia dito, um ser de
máxima grandeza é a maior coisa que se possa imaginar, nada pode ser maior que o
ser de máxima grandeza, o que significa que o ser de máxima grandeza é a perfeição
em pessoa, e sem rodeios, se Deus existe em algum mundo possível, ele
necessariamente deve existir em todos os mundos possíveis, senão ele não é Deus.
Obviamente de primeira você pode achar que eu dei um salto incrível para tentar
provar a existência de Deus. Mas para entender isso temos que entender o conceito
de ser necessário e ser contingente. Ser contingente é um ser que a sua existência
não decorre da sua essência, nós seres humanos e todas as criaturas são seres
contingentes porque o mundo a nossa volta não depende necessariamente de nós
para existirem e eu poderia muito bem não existir que tudo existiria independente
da minha existência. Eu não sou um ser necessário, a espécie humana não é
necessária, pois todos nós temos na nossa essência depender de fatores e agentes
externos a ele para existir, já Deus é diferente. A essência de Deus é existir sem
depender de agentes externos a ele, ele não depende de ninguém nem nada para a
sua existência, esse é o conceito de Deus, ele é autossuficiente e portanto um ser
necessário. Se deus é o maior ser que possa ser imaginado e comprovado que é um
ser necessário, ele necessariamente deve existir em todos os mundos possíveis,
porque um ser de máxima grandeza só é um ser de máxima grandeza se ele existir
em todos os mundos possíveis, se ele não existir em todas as realidades possíveis ele
não é um ser necessário, e se ele não é um ser necessário, ele não é um ser de máxima
grandeza, se ele não é um ser de máxima grandeza, ele não é Deus. Então Deus só é
realmente perfeito se ele existir em todas as realidades possíveis, e se Deus só pode
ser concebido como Ser perfeito, a única conclusão lógica é que ele exista em todos os
mundos possíveis, do contrário ele não seria perfeito e muito menos Deus. As
premissas 4 e 5 só arrematam o óbvio, que se Deus existe em todos os mundos

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possíveis ele também existe em nosso mundo afinal o nosso mundo é um dos mundos
possíveis, e nós chegamos a esta belíssima conclusão:Deus existe.

O argumento Moral
Basicamente, o argumento moral se baseia em duas premissas que levam a uma
conclusão.

(1): Se valores morais objetivos existem, Deus existe.

(2):Valores morais objetivos existem.

(3): Logo, Deus existe.

Você já deve ter notado que o impasse desse argumento está na existência ou não de
valores morais objetivos e se esses valores morais objetivos levam ou não a Deus.

O que são valores morais? A questão da moralidade se define no conceito do que é


certo e errado. O ser humano é dotado de valores morais. Desde pequeno aprendemos
o que fazer ou o que não fazer, como agir ou como não agir. Alguns valores são
relativos, dependem da cultura em que o indivíduo é inserido, porque eles são
baseados na tradição e nos costumes da sociedade e não interferem objetivamente o
conceito de certo e de errado, é como dizer que azul é cor de menino e rosa é cor de
menina isso é subjetivo pois depende da cultura e da tradição. Porém, existem alguns
valores que são objetivos, que independem da cultura e da opinião pessoal como não
matar, não roubar, não mentir, todos temos na consciência que essas coisas são
objetivamente erradas. Nós descobrimos então que realmente existe uma lei moral
objetiva e toda a lei precisa de um legislador, e é exatamente aqui que entra Deus,
alguns ateus argumentam que aqui não é preciso Deus para dar essas leis morais
pois o ser humano fruto da evolução consegue adequar sozinho o que é bom ou o que
é mal. O problema com esse tipo de argumento é que ficamos submetidos a opiniões
pessoais sobre o que é certo e o que é errado. Exemplificando, vamos pensar num
mundo sem Deus, um mundo onde cada um tem a sua noção do que é certo e errado
e nesse mundo temos duas pessoas sobre a questão do assassinato(Moisés e Hitler).
Moisés diz que matar é errado e Hitler diz que não existe problema algum em matar,
Hitler mata judeus, agora qual é a referência que temos nesse mundo hipotético para
dizer que Moisés está certo e Hitler errado? Pois nesse mundo sem Deus só temos a
opinião de Moisés contra a opinião de Hitler. Pois não existe um padrão
preestabelecido que deve ser seguido, ninguém pode dizer que Hitler está errado em
matar judeus, e ninguém pode dizer que Moisés está certo em dizer “Não matarás”.
São dois pesos e duas medidas. Em um mundo sem deus e sem uma lei moral
objetiva, o certo e o errado não existem, se você discordar de uma pessoa que maltrata
uma criancinha, isso é somente sua opinião, uma opinião sem valor algum. Agora
voltando para o mundo real, todos temos na nossa natureza a sensação do que é certo
e o que é errado, ateus e religiosos irão concordar que a ganância, o terrorismo, o
abuso de crianças são coisas abomináveis. Porque existe um padrão preestabelecido
de coisas boas e ruins, pois em um passado muito distante, alguém de toda sabedoria
e bondade nos deu mandamentos para seguir, leis objetivas de amor ao próximo, por
conseguinte, só podemos supor que esse legislador seja Deus. Se você concorda com
as premissas, você tem que concordar com a conclusão.

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O argumento Cosmológico
Apesar de ser um argumento que proveio de uma das vias de São Tomás De Aquino
já aqui expostas, irei contextualizá-lo. Então segue o argumento:

(1):Tudo o que vem a existir tem uma causa.

(2):O universo veio a existir.

(3): Logo,o universo tem uma causa.

Geralmente, mesmo as pessoas que não acreditam em Deus, aceitam essas premissas
como verdadeiras, a dificuldade está em concluir se a causa do universo tem alguma
relação com Deus. Mas primeiro vamos analisar as premissas.

Primeira premissa: é um fato, nós não vemos por aí coisas surgindo do nada,
logicamente toda causa precede o seu feito em existência , nenhuma causa pode ser
o seu próprio efeito. Toda causa tem que ser anterior ao efeito e diferente dele. É
possível que alguém diga que os cientistas descobriram uma coisa que veio a existir
sem uma causa mas tomem muito cuidado, se você desconhece a causa que trouxe
algo a existência, não quer dizer que este algo não tenha tido uma causa.

Pois bem, a premissa 2 afirma que o universo veio a existir. Por muito tempo, a
Ciência afirmava com toda certeza do mundo que o universo era eterno, que o
universo era estático , e que ele nunca teve um começo, antigamente era
unanimidade entre os cientistas que o universo sempre tenha existido. A Ciência
atualmente admite que o universo teve um princípio, porque hoje temos o
conhecimento de que o universo está se expandindo, e como toda coisa que se expande
e aumenta de tamanho, em algum momento do passado, essa coisa começou a
expandir, é impossível dizer que uma coisa está eternamente em expansão. Em
algum momento do passado essa expansão começou, e a teoria que supostamente
explica o princípio do universo é chamada de Big Bang. Ela foi criada por um padre
católico e foi aprimorada com o tempo e no meio científico ela é praticamente
unanimidade e diz que em algum ponto a 13,7 bilhões de anos atrás houve uma mega
explosão que deu origem ao universo e desde então o universo vem se expandindo e
se esfriando. Eu não sou a melhor pessoa para explicar como funciona a teoria do Big
bang até porque esse não é o foco desse ensaio. Mas é bom deixar claro que o big bang
em si não é uma teoria ateísta, ela somente tenta explicar como se deu origem do
universo. E na bíblia nós não temos especificado o método que Deus se utilizou para
criar o universo ,na Bíblia diz que deus criou o universo mas não o método. Talvez
deus utilizou o Big bang bang para criar o universo. Então você pode perfeitamente
crer em deus é acreditar no Big bang. O importante é que nesse ponto a Ciência
concorda com a bíblia em que sim, o universo teve um princípio, a diferença é que a
Bíblia sempre afirmou isso, e a Ciência só aceitou isso a pouquíssimo tempo.

Nós sabemos então que as duas premissas são verdadeiras. Mas o que, ou quem será
que causou a existência do Universo? Qual é a causa que teria causado o Big bang?
Infelizmente a resposta é muito triste para os ateus, a Ciência não sabe o porquê do
universo vir a existir. Explicar a origem do universo não é a mesma coisa de explicar
o porquê da origem do universo, ao explicar como, você não está explicando o porquê.
Normalmente os físicos e cientistas costumam afirmar que o “universo veio do nada

20
e pelo nada” mas isso implicaria que coisas poderiam surgir por aí sem uma causa,
ou seja, um absurdo lógico.

A causa que causou a origem do universo precisa preencher uma lista de atributos
para que ela seja realmente a causadora do universo. Primeiramente é óbvio, já que
nenhuma causa depende do seu efeito, a causa do universo não depende do universo.
Se ela causou o universo, ela vivia fora do universo e antes do universo, então nós
não conseguimos encontrar a causa do universo dentro do universo, ela precisa ser
imaterial já que ela deu origem a toda a matéria existente no universo conclui-se
então que a causa do universo precisa anteceder a criação da matéria. Ela precisa
ser atemporal já que ela deu origem ao tempo, isso significa que a nossa linha do
tempo não afeta a causa do universo já que o tempo e a matéria só começaram a
existir depois da origem do universo, a causa do universo não está atrelada ao tempo
e a matéria assim como nós. Ela precisa ser eterna já que um regresso infinito de
causas é impossível, então a causa do universo também necessariamente deveria ter
existido por toda a eternidade passada. A causa do universo também é uma fonte
inesgotável de poder já que ela sempre existiu e somente uma causa poderosa poderia
dar origem a algo tão grandioso quanto o universo, a causa do universo com certeza
é infinitamente poderosa. A causa do universo também é uma força pessoal, ela
decidiu por vontade própria dar origem ao universo, o universo não poderia ter
começado sem um estímulo pessoal, o universo não se faria sozinho sem que uma
força exterior a ele decidisse dar origem a ele. Logo, a causa do universo decidiu criar
o universo. O que temos aqui: a causa do universo é imaterial, atemporal, eterna,
poderosa e pessoal, sabe quem ou o que tem esses atributos? “Deus é
espírito...(Imaterial)” João 4:24; “Toda a boa dádiva e todo dia dom perfeito vem do
alto, descendo do pai das luzes em que não há variação da virada da
sombra(atemporal)” Tiago 1:17; “Antes que os montes nascessem ou que Tu
formasses a terra e o mundo, mesmo de eternidade a eternidade, Tu és Deus(Eterno)”
Salmos 90:2; “ o todo-poderoso(poderoso)” Apocalipse 1:8; “O nosso Deus está nos céus
e pode fazer tudo o que lhe agrada(pessoal)” Salmos 115:3.

Portanto eu não consigo crer em outra coisa a não ser que a causa eficiente do
universo seja Deus, mais especificamente o Deus judaico-cristão. Não acreditar
nisso, seria acreditar que o universo veio do nada, pelo nada e para o nada e me
desculpem os ateus, eu não tenho fé o suficiente para acreditar nisso.

Capítulo IV- Como a Igreja Católica construiu a


civilização ocidental?
A difamação a Igreja
“A igreja Católica é inimiga da Ciência, do progresso e da razão”, todos nós já ouvimos
essa conversa antes. Bom, isso é tudo tolice, e irei provar, sem dó.

Começarei com um fato bem óbvio para a maioria: há um certo duplo padrão sobre a
Igreja Católica na civilização. Você pode dizer o que quiser sobre a Igreja, sua
carreira não terminará, ninguém se importará, não haverá indivíduos ofendidos
nem greves de fome, você diz o que quiser e está tudo bem, na verdade você será
ainda melhor tratado no círculo em voga do que antes. Então, qual é o resultado
disso? O resultado é que você pode escapar impune mesmo dizendo as coisas mais

21
ridículas sobre a Igreja e as pessoas acreditam, tendem a acreditar em toda e
qualquer calúnia absurda contra a Igreja. Irei resumir a verdadeira glória da Igreja.
Os ataques à Igreja e a crença religiosa em geral aceleram-se nos últimos cinco anos
ou menos. Nós vimos em anos recentes best-sellers como Richard Dawkins
condensando a crença religiosa como algo irracional e imbecil. Pior que isso é que
depois dos atentados terroristas islâmicos, isso tende a dar uma justificativa para os
pseudointelectuais para que se oponham a todas religiões e dizer que toda religião é
irracional e traz violência então todas devem ser condenadas.

Desde o Iluminismo, algo que se enraizou em nossa cultura e pensamento foi a


presunção de que a Igreja Católica estava errada e o secularismo, a ideia de organizar
a sociedade e a vida sem referenciar Deus, é a fonte do progresso.
Assim,naturalmente , tudo que se ligue a Igreja envolve retrocesso mas quando um
intelectual secular nos traz essa coisa é progresso.

A influência da Igreja na civilização Ocidental


Vamos refletir sobre algumas áreas que a Igreja realmente construiu a civilização,
por exemplo, considere a maneira como vemos a caridade, acreditamos que você está
fazendo caridade quando você ajuda alguém sem uma espera de troca, você faz isso
porque é genuinamente bom. Você o faz porque sabe que aquela pessoa é de algum
modo seu semelhante feito a imagem e semelhança de Deus, portanto você a ajuda.
De onde veio essa ideia? Essa ideia veio da Bíblia e da Igreja. Na Grécia Antiga ou
em Roma, se você dissesse que iria ajudar alguém sem reciprocidade, e só porque é
bom achariam que você é doido. Ainda pior seria a ideia de orar e até mesmo tentar
ajudar seu inimigos. Mas hoje admitimos isso como o ideal, como os princípios que
um bom homem tenta incorporar. Mas de onde eles vem? Da Igreja Católica. E
quanto a ideia de direito, se eu tenho direito à propriedade ou direito de não ser
assasinado? De onde vem essa ideia? Sempre nos disseram que secularistas no
Iluminismo ou logo antes, os direitos surgiram no século 17, de repente apareceram
os direitos. Isso não é verdade. E novamente a investigação moderna vem para
resgatar o catolicismo.Na verdade professores honestos católicos ou não católicos
dizem que a ideia de direito remonta ao século 12 e que surgiu com juristas do direito
canônico. Essa ideia tem um significado simples: eu tenho uma imunidade contra
uma ofensa sua, ou seja, você não pode me matar ou tomar minha prioridade ou
coisas assim. O direito é isso, de onde vem essa ideia libertadora? Do coração da
Igreja. Ou a ciência econômica? Por acaso Adam Smith simplesmente pensou em
economia no século 18? Saiu tudo da cabeça dele? Ele tinha essa cabeça gigante e
toda a economia brotou dela? Não. Na realidade, nos últimos 50 anos, os
historiadores têm dito que os católicos e escolásticos professores que ensinavam em
universidades espanholas e mais especificamente na Universidade de Salamanca
que criaram a ciência econômica moderna e não os secularistas do Iluminismo.
Finalmente, o que dizer sobre nosso comprometimento com a razão? Que usamos
racionalidade para resolver disputas e solucionar debates? Isso também vem da
Igreja Católica. Porque o sistema universitário que a Igreja estimulou encorajava o
debate rigoroso e a racionalidade era tida como o maior árbitro para decidir todas
as questões a se debater. Isso não é o oposto do que te contaram? Que a igreja Católica
é inimiga da razão? Pelo contrário: nunca houve maior defensor da razão. Mas não é
apenas da razão, são mais especificações dela. Por exemplo: as ciências em
particular. “A Igreja Católica deu mais ajuda e apoio financeiro ao estudo da
22
astronomia por mais de 6 séculos, da recuperação do saber antigo durante a idade
média ao iluminismo do que qualquer outra ou provavelmente todas as instituições”
J.L Heilbron (University of California). A moral judaico-cristã, ao longo da história,
influencia na formação das ideias e pensamentos ocidentais e é manifestada nas
diversas maneiras de expressão dessa sociedade ocidental de forma marcante. Essa
influência se mostra no plano religioso, cultural, social, econômico e por
consequência, no plano jurídico.

A formação do senso de justiça e do próprio Direito de uma sociedade passa pelo


processo de influências e transformações do pensamento social ao longo do tempo; a
consonância das leis com a moral vigente em determinada sociedade em dado tempo,
gera na sociedade a sensação de “aprovação” ou “reprovação” das normas pelo corpo
social, assim legitimando sua aplicação ou fadando-as à extinção.

A moral judaico-cristã faz parte dessa seara de influências que formam o Direito e
que norteiam sua aplicabilidade. Além disso, tem parte de forma direta ou indireta
na produção das novas normas que formam o ordenamento jurídico pátrio, assim,
tanto indicando a história já percorrida pelo país, quanto ajudando a dar os novos
rumos que poderá tomar.

A moral judaico-cristã
A ética ou moral judaico-cristã são normas e padrões instituídos a milhares de anos
atrás e um passo importante para que o ser humanos pudesse sair da barbarie e se
tornasse um ser civilizado e são esses valores e padrões comportamentais e sociais
que ao longo da história serviu de base para que a humanidade conseguisse viver em
sociedade de forma pacífica e que são a essência para grande parte das leis
constituídas em nações ou países da dita civilização ocidental. Além de regras
espirituais de amor a Deus, nós temos leis que resumem toda uma vida em sociedade
que é o caso dos 10 mandamentos. Sem esses princípios éticos da moral judaico-
cristã, o ser humano dificilmente conseguiria viver de uma forma civilizada, então
mesmo que você não acredite no Deus bíblico pelo menos entenda a importância
dessas religiões para a humanidade e que as doutrinas que pretendem destruir o
cristianismo e os cristãos irão trazer uma grande devastação para a nossa cultura e
se não fosse o tão criticado cristianismo, provavelmente nem você nem eu estaríamos
aqui para contar história.

Os heróis do Ocidente
Mais um exemplo da vitória cristã no Ocidente são as cruzadas, acredito eu que é um
dos assuntos que mais as pessoas tentam deturpar e distorcer o seu real significado
fazendo-nos acreditar que toda a guerra envolvendo cristãos e muçulmanos foram
por motivos fúteis e com objetivos fúteis, jogando para os cristãos uma certa imagem
de intolerantes e agressivos. Mas faz sentido acreditar que os cristãos foram os vilões
da história? As cruzadas foram as diversas expedições militares de caráter cristão
que aconteceram a partir do século 11, no intuito de recuperar a cidade de Jerusalém
tida pelos cristãos como Terra Santa das mãos dos árabes seguidores de maomé,
esses que por sua vez avançavam rumo a Europa cristã no intuito de dominá-la e
torná-la um território muçulmano. Os muçulmanos tinham por objetivo invadir toda
a Europa e islamizar todo o continente europeu que era predominantemente cristão,

23
ou seja, a princípio de conversa a culpa de haver começado uma guerra religiosa em
nenhum momento foi dos cristãos , os conflitos entre cristãos e muçulmanos foram
justamente os muçulmanos que em meados dos anos 1000, na intenção de espalhar
a influência da religião islâmica pela África e Europa iniciaram investidas para
conquistar territórios de predominância cristã e como a situação para o lado cristão
estava ficando insustentável, nada mais justo que os mesmo se organizarem e
recuperar aquilo que os pertenciam. E é óbvio, proteger todos os cristãos dos
impiedosos muçulmanos. Após centenas de anos, os maometanos causaram
destruição e morte por onde passaram e praticamente dizimaram toda a cidade de
Jerusalém e dominaram vários locais de predominância cristã, em 1095 o Papa
Urbano II convoca as tropas cristãs a se mobilizarem em direção ao oriente, diversos
combates foram travados entre os cristãos cruzados e os islâmicos, que se estenderam
até o fim do século 13. E antes que falem que as cruzadas não eram necessárias ou
que não precisava de guerra, é importante você saber que se os cristãos não tivessem
tomado uma posição em relação as atrocidades cometidas pelos islâmicos, as
consequências teriam sido muito piores. Com toda a certeza, se houvesse passividade
dos cristãos dadas as circunstâncias, o islamismo teria dominado o mundo em
pouquíssimo tempo. E sim, é fácil falar dos cristãos, criticar os cristãos mas se hoje
você pode usufruir dessa liberdade de expressão, pode até mesmo criticar e difamar
os cristãos e sair impune por esta ser uma religião pacífica, agradeça aos cristãos
heróis cruzados que salvaram e promoveram toda essa civilização evoluída e com
bons princípios. Pois uma coisa é certa, se os islâmicos tivessem avançado rumo a
Europa cristã e tivessem encontrado toda a passividade e interesse dos cristãos de
hoje em dia, com toda certeza o cristianismo teria morrido a mil anos atrás, hoje em
dia ninguém saberia mais quem foi Jesus Cristo, provavelmente eu estaria
escrevendo em árabe e provavelmente me chamaria Mohammed e estaríamos de
baixo das leis de uma religião intolerante e opressora que é o caso da religião
islâmica. Você não é obrigado a concordar comigo, mas o maior alicerce que rege toda
nossa sociedade, que nos fornece bons princípios éticos e morais de convívio e de amor
se chama cristianismo. E mesmo que você não seja cristão o respeito por aquilo que
não te traz nenhum mal e ainda por cima é a base que sustenta toda a civilização, a
nossa civilização ,é indispensável.

Capítulo V- O absurdo do neo-ateísmo


Ateus iluminados ou adolescentes rebeldes?
Ateus ignorantes, em sua maioria, devem ser tratados não como adultos sustentando
crenças bem ponderadas, mas antes como adolescentes rebeldes. Tudo o que eles
sabem é que querem ser livres para fazer o que quiserem. Uma coisa que eu aprendi
a questionar, ao modo de Sócrates, nos chamados ateus, agnósticos e céticos que
abundam na internet estes dias, é que o cristianismo rejeitado por eles não é nenhum
cristianismo que eu reconheceria como meu, mas sim um falso cristianismo, formado
por eles mesmos e a partir de preconceitos. Em pouco tempo de conversa fica claro
que raramente algum deles chegou a ler Santo Agostinho, São Tomás de Aquino ou
C. S. Lewis, ou tirou tempo para estudar (quanto mais entender) a Bíblia. O que logo
se percebe, de fato, é que eles pouco ou nada sabem de verdadeiro sobre a fonte da
maior parte do que são a Verdade, o Bem e a Beleza na civilização ocidental.

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Só a verdade pode nos tornar verdadeiramente livres. Assim como meus amigos
ateus ou agnósticos, essas pessoas com quem eu frequentemente me deparo na
internet não são nem um pouco ignorantes e sem instrução. Muitas delas são o
produto de universidades ou escolas, onde elas aprenderam a desprezar o
cristianismo, os Estados Unidos, a civilização ocidental e qualquer um, enfim, que
não compartilhe com eles desse ódio. É preciso odiar essas coisas e quaisquer pessoas
que as defendam, porque seriam responsáveis, estas últimas, pela “opressão” que
impede os “oprimidos” de conseguir o que eles desejam, seja lá o que for.

A justificativa que se apresenta a essa recusa de aceitar qualquer ordem ou


autoridade para além de si mesmo é, agora, o absurdo recorrente de que “todo o
mundo tem sua própria verdade”. Que cada um tendo sua própria verdade seja uma
impossibilidade lógica não parece ser um problema. A ausência de razão, de maneira
geral, não parece ser um problema para essas pessoas. Ao invés, a razão subordina-
se à autonomia individual, ao triunfo da vontade livre e desimpedida.

A aparente disposição de prescindir até mesmo do senso comum, se este inibir o que
alguém decide querer, frequentemente põe às claras essa comédia, como na prática
cada vez mais comum de decidir que somos nós, não Deus(ou a natureza) quem nos
fez homem e mulher. Essa busca por autonomia atingirá o seu fim lógico quando
alguns começarem a se arrogar o papel de “criadores de si próprios”. A ideia pode
soar absurda, mas não é, se você estiver prestando atenção. O triunfo da vontade, da
autonomia individual sobre a verdade e a razão, é o mais proeminente fruto do
Iluminismo. A ideia era sermos livres das amarras da tradição e da religião, a fim de
seguirmos a razão. Mas a própria razão, juntamente com a natureza humana, tem
sido vista por muitos como um obstáculo a mais à liberdade. A realidade mesma
tornou-se um obstáculo.

A escolha entre razão e cristianismo sempre foi entendida como uma falsa escolha,
pelo menos por quem já leu os Pais da Igreja, mas o Iluminismo nunca foi, na
verdade, sobre “iluminar” as pessoas no fim das contas. Tratava-se, em sua raiz, de
libertar o homem de Deus. Torna-se “iluminado” quem aceita a mentira de que o
homem não precisa de Deus, de que ele pode salvar a si mesmo de qualquer coisa que
o aflija. Essa é a filosofia sob a qual muitos no Ocidente vivem nos dias de hoje. Se
Deus existe ou não está fora de questão; Deus é simplesmente desnecessário. O
problema para esses rebeldes, que cada vez mais ascendem ao poder, é o que fazer
com alguém que ouse discordar deles. Problema cada vez maior, também, para
aqueles que discordam.

Grande parte do caos e do absurdo que nós vemos hoje à nossa volta pode ser
diretamente associado a essa busca da liberdade por si mesma, sem nenhum limite
no que é verdadeiro, no que é bom e no que é belo. Às vezes é difícil enxergar isso
porque os rebeldes aprenderam habilmente a chamar de bom, verdadeiro e belo ao
que eles querem que seja assim; e mais habilmente ainda aprenderam eles a
conseguir isso que querem. Que o que eles geralmente queiram seja ruim, falso e feio,
salta aos olhos e faz tremer. Nossa civilização talvez não sobreviva ao triunfo da
vontade livre e desimpedida, nem aos meios totalitários que estão se tornando cada
vez mais necessários para firmá-la. Uma sociedade de pessoas devotadas tão-
somente à liberdade de serem livres não é um conjunto de cidadãos, mas um bando
de malfeitores. Entre os pilares de nossa civilização está o reconhecimento — que se

25
encontra em Platão, na Bíblia e em muitos outros lugares — de que só a verdade
pode nos tornar verdadeiramente livres. “Libertar-se”, portanto, da verdade não
trará verdadeira liberdade a ninguém; só a falsa liberdade que vem acompanhada
sempre por desordem, tirania e morte.

O pensamento neo-ateu
Na verdade, o movimento do ateísmo surgiu a partir do Iluminismo, do racionalismo
europeu e da efervescência da Ciência de achar que podia excluir Deus. E hoje em
dia, podemos ver umas novidades em relação ao ateísmo clássico que para mim é
bem mais intelectualmente honesto. O chamado “neoateísmo” é acima de tudo
evangelizador pois ele tem os seus brigadores como Richard Dawkins que
popularizam livros com falácias na intenção de levar os jovens para essa ideologia
ateia onde ele mesmo diz que seu livro “Deus:um delírio” “saiu sim para converter ao
ateísmo”. E a segunda novidade é que, pasmem, eles querem ter uma vida espiritual
sem Deus, ter valores sem Deus, é uma evangelização às avessas. Sem contar que
em grande parte dos países hoje em dia vemos movimentos muito fortes de esquerda
alegadamente marxistas, com autores marxistas emplacarem nas universidades com
um ateísmo metodológico, de modo que você nas universidades não pode falar de
Deus pois esse assunto é da Igreja, mas pode falar de ateísmo. Isso ainda se apoiando
nessa condição de Estado Laico que é uma das coisas mais mal entendidas de hoje
em dia, hoje as pessoas confundem estado laico com estado ateu. O estado laico foi
uma conclusão cristã que estavam, na época, se matando entre eles, então decidiram
que presbiterianos, católicos, ortodoxos e anglicanos iriam respeitar-se entre si, mas
também que o estado não poderia interferir na fé alheia ditando regras ou
perseguindo alguém pela fé que professa. Por esse motivo você pode ser presidente e
umbandista,kardecista e ateu, muçulmano ou cristão, inclusive regrar o país de
acordo com a sua religião, pois apesar do estado não se meter na fé do povo, o povo
pode e deve se meter nas ações do estado.

A guerra contra as religiões


Embora desde a Revolução Francesa o grosso da violência militante tenha se
originado sempre nas ideologias materialistas e escolhido como vítima preferencial
a população religiosa; embora a perseguição aos católicos, ortodoxos, protestantes e
judeus tenha matado mais gente só no período de 1917 a 1990 do que todas as guerras
religiosas somadas mataram ao longo da história universal; embora nas duas
últimas décadas o morticínio de cristãos tenha voltado a ser rotina nos países
comunistas e islâmicos, chegando a fazer 150 mil vítimas por ano; embora todos esses
fatos sejam de facílima comprovação e de domínio público (Livro Cristofobia); e
embora nas próprias nações democráticas o acúmulo de legislações restritivas
exponha os religiosos ao perigo constante das perseguições judiciais, — a grande
mídia e o sistema de ensino na maior parte dos países insistem em continuar usando
uma linguagem na qual religião é sinônimo de violência fanática e na qual a
eliminação de todas as religiões é sugerida ao menos implicitamente como a mais
bela esperança de paz e liberdade para a humanidade sofrida.

A mentira gigantesca em que se sustenta essa campanha é tão patente, tão ostensiva,
tão cínica, que combatê-la só no campo das discussões públicas é o mesmo que querer
parar um assassino, ladrão ou estuprador mediante a alegação polida de que seus

26
atos são ilegais. Os mentores e autores da campanha anti-religiosa universal sabem
perfeitamente que estão mentindo. Não precisam ser avisados disso. Precisam é ser
detidos, desprovidos de seus meios de agressão, reduzidos à impotência e tornados
inofensivos como tigres empalhados.

A propaganda insistente contra uma comunidade exposta a risco não é simples


expressão de opiniões: é ação criminosa, é cumplicidade ostensiva ou disfarçada com
o genocídio. Aqueles que a praticam não devem ser apenas contestados
educadamente, como se tudo não passasse de um pacífico debate de ideias: devem
ser responsabilizados judicialmente por crimes contra a humanidade. A
jurisprudência acumulada em torno das atrocidades nazistas, unânime em condenar
a cumplicidade moral mesmo retroativa, fornece base mais que suficiente para
condenar, por exemplo, um Richard Dawkins quando sai alardeando que o judaísmo
e o cristianismo são “abuso de menores”, como se a noção mesma da proteção à
infância não tivesse sido trazida ao mundo por essas religiões e como se elas não
fossem, hoje, o último obstáculo à erotização total da infância e à subsequente
legalização universal da pedofilia (já praticamente institucionalizada no Canadá, um
dos países mais ateus do universo).

Quando o sr. Dawkins se diz avesso ao uso de meios violentos para extinguir as
religiões, mas propõe os mesmos objetivos ateísticos que há dois séculos buscam
realizar-se precisamente por esses meios, ele sabe perfeitamente que a ênfase do seu
discurso, e portanto seu efeito sobre a plateia, está na promoção dos fins e não na
seleção dos meios. Voltaire, quando bradava “esmagai a infame”, negava estar
incitando quem quer que fosse à violência física contra a Igreja Católica. Mas,
quando os revolucionários de 1789 saíram incendiando conventos, destripando
freiras e decapitando bispos, era esse grito que ecoava nos seus ouvidos e saía pelas
suas bocas. Se a religião é, segundo o sr. Dawkins, “o maior de todos os crimes”, a
matança de todos os religiosos terá sempre o atenuante da gravidade menor e o da
sublime intenção libertadora. Quando no começo do século XX Edouard Drumont
escrevia “ La France Juive”, ele não tinha em mente nenhuma crueldade a ser
praticada coletivamente contra os judeus. Mas é impossível ler hoje suas páginas
sem sentir o cheiro das câmaras de gás. Uma única e breve página vagamente anti-
semita escrita por Winston Churchill na juventude precipitou-o numa tal crise de
arrependimento, diante da ascensão do nazismo, que isso decidiu o restante da sua
vida de líder e combatente. Mas o sr. Dawkins não precisa adivinhar o futuro para
calcular o efeito de suas palavras: ele conhece a história do século XX, ele sabe a que
resultados levam não somente as propostas explícitas como a de Lenin, “varrer o
cristianismo da face da Terra”, mas também o anticristianismo mais sutil, mais
sofisticado de um Heidegger, que, pretendendo expulsar Deus para fora da
metafísica, convocou Adolf Hitler para dentro da História. O homem que, sabendo de
tudo isso, se oferece para gravar programas de TV que apresentam a religião como a
raiz de todos os males, como se os mais amplos morticínios da História não fossem
males de maneira alguma, esse homem é simplesmente um apologista do genocídio,
um criminoso vulgar como qualquer neonazista de arrabalde.

O sr. Dawkins já ultrapassou aquele limite da truculência mental e do desprezo à


verdade, para além do qual toda a discussão de ideais se torna inútil. Não se trata
de provar nada para o sr. Dawkins. Trata-se de provar seu crime perante os

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tribunais. O dele e o de inumeráveis organizações militantes, subsidiadas por
fundações bilionárias, dedicadas a fomentar por todos os meios o ódio às religiões.

Todas as organizações religiosas que não se mobilizarem para a defesa comum não
só no campo midiático, mas no judicial, devem ser consideradas traidoras,
colaboracionistas e vendidas ao inimigo. E não espanta que usem para legitimar sua
covardia abominável o pretexto do perdão e da caridade, prostituindo o sentido da
mensagem evangélica que manda cada um de nós perdoar as ofensas feitas a ele
próprio, nunca pavonear-se de cristão mediante o expediente fácil de perdoar crimes
cometidos contra terceiros, que aliás nunca lhe deram procuração para isso. Não é
um discípulo de Jesus aquele que, vendo seu irmão ser esbofeteado, se apressa em
cortejar o agressor ofecendo-lhe a outra face da vítima.

Fundamentalismo?
O mais extraordinário é que as forças anticristãs e antijudaicas, mal escondendo seu
apoio à ocupação islâmica do mundo ocidental, prevalecem-se da própria imagem
sangrenta do radicalismo islâmico para projetá-la sobre todas as comunidades
religiosas, sobretudo aquelas que são vítimas usuais da violência muçulmana, e
transmitir ao mundo a noção de que todas são, no fundo, terroristas. O manejo astuto
do termo “fundamentalismo” tem servido para esse ardil, que desonra qualquer
língua culta. Esse termo designava originariamente certas seitas protestantes
afeitas a uma leitura literal da Bíblia ou, mais genericamente, qualquer comunidade
religiosa decidida a conservar o apego às suas tradições (um direito que hoje se
reserva para muçulmanos, índios, africanos e seus descendentes, negando-o a todo o
restante da espécie humana). Ao transferir o uso desse qualificativo para os
terroristas islâmicos, a grande mídia e os intelectuais ativistas que a frequentam
cometeram uma impropriedade proposital. De um lado, esse uso camuflava o fato de
que esses radicais não eram de maneira alguma tradicionalistas: eram
revolucionários profundamente influenciados pelas ideologias de massa ocidentais –
comunismo e nazifascismo –, bem como pelo pensamento “vanguardista” de
Heidegger, Foucault, Derrida e outros. De outro lado, e por isso mesmo, o termo
assim empregado ia-se imantando de conotações repugnantes, preparando seu uso
futuro como arma de guerra psicológica contra as mesmas comunidades religiosas
que o radicalismo islâmico tomava e toma como suas vítimas preferenciais: os
cristãos e os judeus. Numa terceira fase, o qualificativo passou a ser usado
ostensivamente contra essas comunidades, ao mesmo tempo que se espalhava pelo
mundo a campanha de difamação anti-religiosa da qual o sr. Richard Dawkins é
agora o mais espalhafatoso garoto-propaganda. Durante a invasão do Iraque, rotular
como “fundamentalistas” o presidente Bush (cristão) e o secretário Rumsfeld (judeu)
tornou-se repentinamente obrigatório em toda a mídia chique, com uma
uniformidade que comprova, uma vez mais, a presteza da classe jornalística em
colaborar com a reforma orwelliana do vocabulário.

Capítulo VI-Por que o cristianismo é a religião


verdadeira?
28
Uma defesa a singularidade da fé cristã
Partindo do pressuposto que Deus existe, Quem garante que esse Deus seja cristão?
E a resposta é que eu não sei. Eu não posso afirmar categoricamente que o Deus
cristão é o Deus verdadeiro, essa é uma questão que vai muito além do que qualquer
ser humano possa ser capaz de afirmar com 100% de certeza qual é a resposta certa.
Então, as vezes, nós temos que ter a humildade de dizer que não temos uma resposta
definitiva. Mas isso não me impede de crer em possibilidades, enquanto não me
provarem por a+b que Deus não existe, enquanto houver margem para dúvida nessa
questão, ninguém pode dizer que ter fé em um criador é uma tolice. Já citei aqui
alguns argumentos que fundamentam logicamente a existência de Deus, então não
é nenhum absurdo dizer que quem acredita em Deus tem razão suficientes e firmes
para isso. Mas por que logo o cristianismo e somente ele seria a religião correta?

O que é a religião?
A religião é um instrumento que o homem busca ter um relacionamento mais
próximo com Deus, através de revelações, dogmas e através da própria descrição da
personalidade de Deus, ou seja, um instrumento que liga o homem ao Criador. Isso
significa que a religião deve operar a favor do homem, a religião é para o homem e
não o homem para a religião. Cada religião tem uma percepção diferente do que seja
Deus, algumas se assemelham um pouco e outras são completamente contraditórias
entre si, mas nenhuma é idêntica a outra. Para exemplificar, os cristãos creem em
um Deus formado pela união do Pai do Filho e do Espírito Santo e que Jesus foi
enviado a terra pelo Pai para trazer salvação aos seres humanos. Os islâmicos por
sua vez creem em um Deus unitário e nos ensinamentos de Maomé o qual eles
acreditam ser o último e maior dos profetas de Deus, já os hindus, acreditam e
cultuam milhares de divindades. Ou seja, se existem percepções diferentes do que
seria as divindades e elas se contradizem entre si consequentemente afirmar que
todas as religiões estão corretas é um erro pois a não ser que Deus altere suas
características para se adequar a uma ou outra religião, existe religiões que são
falsas. Se uma religião diz que Deus pune com ódio quem não o obedece e outra diz
que Deus é amor, é impossível que ambas estejam corretas acerca de Deus. Levando
em consideração que todas as religiões são divergentes em algumas coisas, é fácil
concluir que só uma religião é a certa e logicamente todas as outras religiões são
falsas.

Qual é a religião verdadeira?


Lembrando que esse assunto é subjetivo demais para que possamos dar uma
resposta concreta, por isso para não ser mal intencionado aqui e não ser mal
interpretado, eu deixo bem claro que o que vou dizer agora está mais para uma
opinião pessoal minha do que uma resposta definitiva mesmo, até porque não existe
uma resposta concreta para isso. Então estabelecendo um critério poderoso para
finalmente encontrarmos a religião verdadeira, como já foi dito anteriormente, a
religião é um instrumento em favor do homem e em benefício do homem e não algo
tirânico, um jugo que traga incômodo ao homem. E seguindo esse princípio, a única
religião que respeita o homem como ser absoluto se chama cristianismo. A maioria
das religiões em sua essência não passam de uma lista de regras que devem ser

29
seguidas, leis e rituais que devem ser seguidos a risca para que o seguidor de tal
religião possa ser considerado de fato um fiel daquele Deus. Ou seja, em grande parte
das religiões para que você seja classificado como justo e fiel, você tem que observar
uma série de tradições, de práticas, de rituais e de costumes e isso coloca o ser
humano em segundo plano, faz com que sejamos rebaixadas a simples cumpridores
de regras como se Deus considerasse mais importante ao ponto de valorizar mais as
leis em si do que o próprio ser humano, punindo com ódio quem ouse quebrar aquelas
regras impostas por aquele Deus. Algumas outras religiões tratam o homem com o
mesmo valor que tratam um animal, focalizando seus dogmas em rituais onde os
indivíduos tem que oferecer diversos sacrifícios periodicamente, comer determinada
comida, fazer determinadas missões, e esses esforços são suficientes para justificar
o homem diante de Deus. Essas práticas humilham o homem, e o coloca em segundo
nível, é como se Deus valorizasse bem mais um animal sacrificado, um culto, um
ritual do que o próprio homem. Já o cristianismo é diferente, o cristianismo enfatiza
na relação de Deus com o homem sem se fundamentar tanto em rituais e regras para
se alcançar a salvação , mas vale destacar que na religião verdadeira que é o
cristianismo, existem regras também, porém, essas regras são seguidas não como um
esforço para se alcançar a salvação, mas como uma consequência de uma vida em
harmonia com o Criador. Quando Jesus diz:”Ame a Deus e ao próximo”, Jesus não
impôs uma lei a ser observada para se conseguir a salvação, somente resumiu o
mínimo do que o homem precisa fazer para ser um homem pleno em harmonia com
o Criador. O Deus cristão é o único que demonstra um amor puro, capaz de enviar
seu filho unigênito para morrer pela humanidade, e trazer a salvação para aquele
que crê nesse sacrifício, um Deus misericordioso com seus filhos, um Deus que não
faz distinção entre as pessoas, que salva desde o mais pobre até o mais abastado, que
ama igualmente aquele que retribui esse amor e até mesmo aquele que O odeia. A
religião verdadeira é a única que trata o ser humano como um ser humano, com a
importância que ele realmente tem, diferente de todas as outras religiões que
rebaixam o homem e elevam a um alto patamar tradições e regras pesadas. Por estes
motivos, se Deus existe e se Ele se revelou através de alguma religião, essa é a
cristã(na minha opinião). E é por isso que eu sou cristão, e muito dificilmente irei
deixar de ser um.

O argumento de C.S Lewis


C. S. Lewis popularizou o argumento de que Jesus ou era um mentiroso, um louco ou
o Senhor. Contudo, Kyle Barton demonstrou que não foi Lewis quem o inventou.Em
meados do século XIX, o pregador cristão escocês, “Rabbi” John Duncan (1796-1870)
elaborou o que ele chamou de “trilema”. Em Colloquia Peripatetica (p. 109) vemos
esse argumento de Duncan a partir de 1859-1860.”Ou Cristo enganou a humanidade
com uma fraude de forma intencional, ou Ele próprio era iludido e enganado sobre si
mesmo ou Ele era Divino. Não há como livrar-se desse trilema. Ele é inevitável.”

Em 1936, Watchman Nee formulou um argumento semelhante em seu livro, Normal


Christian Faith. Uma pessoa que alega ser Deus deve pertencer a uma dessas três
categorias:

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Primeiro, se ele alega ser Deus e de fato não é, ele deve ser louco ou lunático.Segundo,
se ele não é Deus e nem um lunático, deve ser um mentiroso,enganando os outros
com sua mentira.E terceiro, se ele não é nenhum desses três, ele deve ser Deus.Você
só pode escolher uma dessas três possibilidades.Se você não acredita que Ele seja
Deus, você deve considerá-lo louco.Se você não consegue vê-lo como nenhum desses
dois, você tem de vê-lo como um mentiroso. Não há necessidade de provarmos se
Jesus é Deus ou não. Tudo que temos de fazer é descobrir se Ele é um lunático ou um
mentiroso. Se Ele não for nem um nem outro, ele deve ser o Filho de Deus.

C. S. Lewis, falando em 1942 (e depois publicado na obra “Cristianismo Puro e


Simples” em 1952), deu ao argumento a sua formulação mais memorável:

“Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a seu
respeito: “Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não
aceito a sua afirmação de ser Deus.” Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um
homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria
um grande mestre da moral. Seria um lunático – no mesmo grau de alguém que
pretendesse ser um ovo cozido — ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou
esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você
pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio;
ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém
venha, com paternal condescendência, dizer que ele não passava de um grande
mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la. […] Agora,
parece-me óbvio que Ele não era nem um lunático nem um demônio,
consequentemente, por mais estranho, assustador e inacreditável que possa parecer,
tenho que aceitar a ideia de que Ele era e é Deus.” (Cristianismo Puro e Simples).

Jesus é Deus?
Ou Jesus é Deus, ou ele não é nada. Jesus não foi um homem que "pretendeu" ser
Deus, mas o Verbo que se fez carne e veio morar entre nós.

Os cristãos confessam, desde sempre, que Jesus Cristo é Deus. São João escreve que
a Palavra, que "estava junto de Deus" e "era Deus" ( João 1, 1), "se fez carne e veio
morar entre nós" (João 1, 14). São numerosos os discursos de Cristo em que Ele deixa
claro ser muito mais que um simples homem – todo o Evangelho de São João está
permeado de declarações desse teor –, sendo este o motivo alegado pelos judeus para
condená-Lo à morte: "Não queremos te apedrejar por causa de uma obra boa, mas
por causa da blasfêmia. Tu, sendo apenas um homem, pretendes ser Deus" (João 10,
33).

Se, naquela época, até quem não seguia Nosso Senhor tinha clara consciência da
grandeza do que Ele anunciava, hoje, muitos – atribuindo a si o apelido de "cristãos"
– têm advogado, covardemente, uma "terceira opção": ao invés de rejeitar ou aceitar
de vez a mensagem do Evangelho, recorrem a uma leitura distorcida das Escrituras,
reduzindo a figura de Jesus à de "um grande profeta, um mestre de sabedoria, um
modelo de justiça" , cujas máximas valeriam, no máximo, como "guias
motivacionais". Para essas pessoas, a Bíblia não é o livro que traz a revelação de
Deus, mas tão somente um "manual de autoajuda"; e a Igreja não é um edifício
espiritual, mas uma construção puramente material, voltada apenas aos cuidados e
necessidades deste mundo.

31
Antes de mais nada, importa denunciar o grave equívoco desse ponto de vista, que
não pode ser aceito sem se cometer um grande e grave atentado à razão. Se Jesus
não é "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" ( João 1, 29), nem "o pão que
desceu do céu" e que dá a vida eterna (João 6, 41), nem "a porta das ovelhas" (João
10, 7) – realidades que ninguém usaria senão para se referir à divindade –, como eu
disse no texto anterior(o argumento de Lewis) então, ou é um mentiroso, que queria
enganar os outros, ou um louco, que não sabia sequer quem ele mesmo era. Ora, que
grandeza pode haver na mentira e na loucura? Ou Jesus é Deus, ou não é nada. Et
tertium non datur.

É preciso reconhecer, porém, como é cômodo relegar Nosso Senhor à posição de


"apenas um homem". Se é assim, as suas palavras realmente não vinculam, nem
obrigam ninguém a nada; são apenas reflexões morais e sociais, como as de qualquer
pensador antigo. Daria no mesmo, então, citar Confúcio, Dalai Lama, Buda, Chico
Xavier ou Jesus Cristo. Afinal, se são todos homens, com igual tratamento deveriam
ser acolhidas suas mensagens: como palavras humanas. A prática da Igreja
primitiva, no entanto, atesta: os discípulos sempre creram que pregavam uma
doutrina autenticamente divina. Em carta a Tessalônica, por exemplo, o Apóstolo
agradece a Deus "sem cessar, porque, ao receberdes a palavra de Deus que ouvistes
de nós, vós a recebestes não como palavra humana, mas como o que ela de fato é:
palavra de Deus, que age em vós que acreditais" (1 Tessalonicenses 2, 13). Tanto
ontem, como hoje, a fé católica não mudou. Diante das vozes enganadoras que
pretendem reduzir a imagem de Cristo à de um chefe religioso qualquer, urge dizer
"não": a boa-nova do Evangelho não é "palavra humana", mas, verdadeiramente,
"palavra de Deus".

Foi o que disse o Cardeal Joseph Ratzinger – depois, Papa Bento XVI –, na virada do
novo milénio, quando publicou a declaração Dominus Iesus, sobre a unicidade e a
universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja". Em 2000 – ou, "em pleno século
XXI", diriam os mais escandalizados –, a Igreja recordava que "os homens (...) só
poderão entrar em comunhão com Deus através de Cristo" . À época, os meios de
comunicação "rasgaram as vestes", acusando São João Paulo II e o Vaticano de
arrogância e intolerância religiosa. É que, com a Dominus Iesus, a Igreja denunciava
taxativamente as opiniões mundanas a respeito de Jesus, das quais a mídia moderna
se faz porta-voz tão ardorosa:

"Na reflexão teológica contemporânea é frequente fazer-se uma aproximação de


Jesus de Nazaré, considerando-o uma figura histórica especial, finita e reveladora do
divino de modo não exclusivo, mas complementar a outras presenças reveladoras e
salvíficas. O Infinito, o Absoluto, o Mistério último de Deus manifestar-se-ia assim à
humanidade de muitas formas e em muitas figuras históricas: Jesus de Nazaré seria
uma delas."

Nesse sentido, a fé católica é profundamente intolerante, sobretudo, porque é fiel à


palavra de Cristo, que não temeu apontar a si mesmo como "o caminho, a verdade e
a vida", fora do qual ninguém pode ir ao Pai ( João 14, 6). Essa expressão - dita pelo
mesmo Jesus que perdoou os pecadores arrependidos, curou os doentes e saciou os
pobres - mostra como a misericórdia divina está profundamente unida à verdade da
Sua mensagem, que repele todo erro, toda mentira… e toda falsa religião.

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Ao argumento dos judeus de que Jesus, sendo apenas um homem, se fazia Deus, a
Igreja responde, em consonância com dois mil anos de Tradição e Magistério: Jesus
não foi um homem que pretendeu ser Deus. Ao contrário, Ele foi Deus, que, não se
apegando ciosamente à natureza divina, "despojou-se, assumindo a forma de escravo
e tornando-se semelhante ao ser humano" (Fl 2, 7). Eis o que creem os cristãos. Para
quem investiga com seriedade a vida e a obra de Jesus, não há outra alternativa
senão reconhecer em Cristo as pegadas do eterno na história dos homens. Não nos
basta aceitar Jesus como um “grande líder religioso”, se não estivermos dispostos a
reconhecê-lo como Deus. Os homens de nosso tempo, embora aceitem Jesus Cristo
como um grande líder religioso, estão cada vez menos dispostos a reconhecê-lo como
Deus. A Sua divindade, no entanto, é a coluna vertebral da religião cristã, sem a qual
todo o edifício da fé rui inevitavelmente. Afinal, se Jesus é Deus, tudo o que disse é
verdadeiro – e a Ele devemos, pela fé, “plena adesão do intelecto e da vontade", já
que Deus “não pode enganar-se nem enganar" ninguém –, mas, se é apenas uma
pessoa “iluminada", a religião que fundou pode muito bem ser remodelada ao gosto
dos tempos. Não é possível que Cristo tenha sido simplesmente “bom", já que Ele
mesmo manifestava, em seus discursos, a consciência de ser Deus encarnado. Não só
o disse explicitamente, por exemplo, aos fariseus: “Antes que Abraão existisse, Eu
sou" ,como os próprios judeus tinham entendido aonde Ele queria chegar: “Não
queremos te apedrejar por causa de uma obra boa, mas por causa da blasfêmia. Tu,
sendo apenas um homem, pretendes ser Deus!".

Diante disso, ou se admite que Jesus é Deus ou, então, trata-se de uma pessoa má,
seja moral – não sendo Deus, Ele teria mentido –, seja intelectualmente – se Se
enganou, não sabendo de Sua própria identidade, é alguém evidentemente louco. O
apologista protestante norte-americano Josh McDowell chama isso de “trilema dos
três L's": se Jesus não é Lord (Senhor), ou é um lier (mentiroso) ou um lunatic
(lunático).

Mas, Ele não pode ser um mentiroso perverso. Um homem que amou tanto, a ponto
de entregar a própria vida, que transformou inúmeras pessoas com o Seu olhar
bondoso e misericordioso, não pode ser um farsante. Ao mesmo tempo, descarta-se
que Ele seja um louco. Se não tinha consciência de quem Ele próprio era, como
possuía uma consciência tão aguda do que é a pessoa humana, a ponto de lermos nas
páginas do Evangelho como que uma “radiografia" de nossas vidas?

Assim, não resta às pessoas outra alternativa senão crer na divindade de Nosso
Senhor.

Os teólogos liberais, no entanto, tentam escapar desse ótimo argumento por duas
vias. Primeiro, acusando as Sagradas Escrituras de mentirosas: para fugir de Deus
feito homem, eles dizem que o Novo Testamento não é nada mais que uma invenção
da comunidade primitiva, que criou um “Jesus da fé" em total oposição ao “Jesus
histórico". Como explicar que esses cristãos aparentemente mentirosos tenham sido
os mesmos a darem a vida por aquilo em que acreditavam, é um mistério que esses
teólogos se recusam a responder. Homens de fibra, que derramaram o próprio sangue
pelo Evangelho, não se identificam com uma comunidade de aproveitadores e
charlatães, que teriam forjado uma história só para enganar os outros. Afinal,
ninguém dá a vida por uma mentira. As pessoas mentem para salvar a vida, não
para perdê-la, como fizeram os primeiros mártires da fé cristã.

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Esses mesmos teólogos também recorrem a uma “orientalização" de Cristo: após uma
visita à Índia, Jesus teria saído de lá pregando o panteísmo hinduísta, o qual foi o
motivo de Sua morte. Mas, qualquer pessoa com um pouco de conhecimento sobre
religiões sabe que os ensinamentos do Evangelho são absolutamente incompatíveis
com as crenças orientais.

Ainda que toda essa explicação seja convincente, não é suficiente para dar a uma
pessoa a fé, que “a Igreja a professa como virtude sobrenatural, pela qual, sob a
inspiração de Deus e com a ajuda da graça, cremos ser verdade o que ele revela, não
devido à verdade intrínseca das coisas conhecida pela luz natural da razão, mas em
virtude da autoridade do próprio Deus revelante". Uma vez diante dos preambula
fidei, é preciso bater às portas de Deus e pedir-Lhe, humildemente, o tesouro da fé.
Um dia Jesus estava ensinando, à sua volta estavam sentados fariseus e doutores da
Lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. E a virtude do
Senhor o levava a curar. Uns homens traziam um paralítico num leito e procuravam
fazê-lo entrar para apresentá-lo. Mas, não achando por onde introduzi-lo, devido à
multidão, subiram ao telhado e por entre as telhas o desceram com o leito no meio
da assembleia diante de Jesus. Vendo-lhes a fé, ele disse: “Homem, teus pecados
estão perdoados”. Os escribas e fariseus começaram a murmurar, dizendo: “Quem é
este que assim blasfema? Quem pode perdoar os pecados senão Deus?” Conhecendo-
lhes os pensamentos, Jesus respondeu, dizendo: “Por que murmurais em vossos
corações? O que é mais fácil dizer: ‘teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘levanta-
te e anda’? Pois, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder de
perdoar pecados — disse ao paralítico — eu te digo: levanta-te, pega o leito e vai para
casa”. Imediatamente, diante deles, ele se levantou, tomou o leito e foi para casa,
louvando a Deus. Todos ficaram fora de si, glorificavam a Deus e cheios de temor
diziam: “Hoje vimos coisas maravilhosas!” O Evangelho de hoje nos relata o tocante
episódio em que Jesus perdoa os pecados e restitui a saúde a um paralítico, descido
pelo teto por um grupo de amigos cheios de fé. Contemplar esta cena tão cheia de
significado adquire uma especial relevância no tempo do Advento, pois constitui uma
oportunidade propícia para nos desfazermos de um erro muito comum, estendido
hoje entre não poucos católicos, mas cuja origem se remonta a uma heresia
protestante do séc. XIX segundo a qual, após a Encarnação, Cristo teria de algum
modo perdido a consciência de ser o Filho natural de Deus. Para autores como Renan,
Harnack, Stapfer e Weiss, Jesus não se considerava nada mais do que um homem
superior aos outros, unido ao Pai por um vínculo especial de dependência e amor,
mas nunca o Filho natural de Deus. Sabemos, porém, que essa doutrina não só não
corresponde à fé que a Igreja sempre professou como também se opõe, de modo
flagrante, ao testemunho das Sagradas Escrituras. O Magistério da Igreja, com
efeito, afirmou solenemente no Concílio de Calcedônia, celebrado em 451, que é “um
só e o mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito na sua divindade e perfeito
na sua humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, composto de alma
racional e de corpo, consubstancial ao Pai segundo a divindade e consubstancial a
nós segundo a humanidade, semelhante em tudo a nós, menos no pecado (cf. Hb 4,
15), gerado do Pai antes dos séculos segundo a divindade e, nestes últimos dias, em
prol de nós e de nossa salvação, gerado de Maria Virgem, a Deípara, segundo a
humanidade” (DH 301).

Também consta claramente nas Escrituras que Jesus declarou inúmeras vezes ser o
Filho de Deus, condição da qual, portanto, não podia ser “inconsciente”. Assim, o
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vemos afirmar sua superioridade sobre reis como Davi (cf. Mt 22, 43ss), sábios como
Salomão (cf. Mt 12, 42), profetas como Jonas, ascetas como João Batista (cf. Mt 11,
11) e inclusive sobre todos os anjos (cf. Mt 13, 41; 16, 27), rebaixados à condição de
servos seus (cf. Mt 4, 11; Mc 1, 13). Afirmou estar acima tanto do Templo de
Jerusalém, de cujos impostos estava isento justamente por ser Filho do Senhor do
Templo (cf. Mt 12, 6; 17, 24-27), quanto da própria Lei mosaica e dos seus preceitos
mais sagrados, como o do descanso sabático (cf. Mt 12, 8). Além disso, são constantes
as declarações em que Ele se atribui a si mesmo poderes e atributos exclusivos de
Deus: o seu poder legislativo se estende à totalidade da Lei, que Ele faz questão de
aperfeiçoar (cf. Mt 5, 21.27.31.33 etc.); o seu poder judicial se funda em sua
prerrogativa de Juiz de vivos e mortos (cf. Mt 7, 22s; 13, 37-42; 16, 27; Lc 12, 35-40;
13, 26s etc; o seu poder santificador, enfim, abrange explicitamente a faculdade de
perdoar pecados (cf. Mt 6, 9; Lc 7, 48 etc.), coisa que, como reconhecem
escandalizados os próprios fariseus, é exclusiva de Deus: “Quem pode perdoar os
pecados senão Deus?”.

Diante de tão claros e evidentes testemunhos, abalizados pelo Magistério infalível


da Igreja Católica, preparemo-nos neste Advento para a vinda daquele que, muito
mais do que um simples “fundador” de um movimento religioso, “já antes do princípio
do mundo”, como Deus de infinita majestade, “nos abraçou no seu infinito
conhecimento e eterno amor; Amor que Ele demonstrou palpavelmente e de modo
verdadeiramente assombroso assumindo a nossa natureza em unidade hipostática;
donde segue, como ingenuamente nota Máximo de Turim, que ‘em Cristo nos ama a
nossa carne’” ,carne que, unida à divina Pessoa do Verbo, queremos neste próximo
Natal adorar com todo o coração, com toda a mente, com todas as forças, com a
particular intenção de reparar as gravíssimas injúrias, blasfêmias e irrisões com que
ano após ano, nesta data santa, tantos homens o desprezam, ridicularizam e
escarnecem, cegos para a verdade de que só Ele pode e tanto deseja, se se
converterem, dizer-lhes: “Teus pecados estão perdoados”.

Capítulo VII-Qual é a diferença entre o cristianismo


e as outras religiões?
Se todas as religiões são boas, por que seguir Jesus Cristo?
Se todas as religiões são boas e iguais em essência, por que então veio Cristo, Ele
mesmo, ensinar-nos uma nova religião? Apenas para atrapalhar os homens?

“Todas as religiões são boas e iguais, em essência, perante Deus”, dizem os espíritas.
“Não somos contra nenhuma religião, pois julgamos todas boas”. “Todas levam, por
diversos caminhos, para o mesmo fim”. “É tudo água da mesma fonte”. “A religião é
uma questão de ética, e não de doutrinas”. “Basta fazer a caridade”.

Ora,

• se Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, nada nos tivesse


revelado a respeito do modo como chegar a Ele;
• se Deus tivesse deixado os homens em absoluta ignorância a respeito da
vida após a morte;

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• se não houvesse nenhum mandamento positivo de origem certamente
divina;
• se o Verbo eterno não tivesse assumido a natureza humana e “habitado
entre nós” (Jo 1, 14);
• se Cristo não tivesse percorrido a Galiléia e Judéia “ensinando” (cf. Mt
5, 2; 13, 54; Mc 1, 21; 2, 13; 4, 2; 10, 1; Lc 4, 15; 4, 31; 5, 3; Jo 7, 14; 8, 2;
etc.);
• se Cristo Jesus fosse apenas um mito inventado por alguma fantasia
piedosa;
• ou se Cristo não tivesse dado nenhuma outra ordem senão que nos
“amássemos uns aos outros”;
• ou se Cristo não tivesse enviado os Apóstolos pelo mundo com a ordem
solene e expressa de “pregar a todos os povos o seu Evangelho” (Mc 16,
15), nem tivesse dado a ordem de “ensinar a todas as gentes a observar
tudo que Ele mandara” (cf. Mt 28, 18-20);
• se Jesus não tivesse prescrito tantas outras coisas como absolutamente
necessárias “para a vida eterna” (por exemplo, Jo 3, 5: “Quem não
renascer pela água e o Espírito, não pode entrar no Reino de Deus”; Jo
3, 36: “Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem, pelo contrário, descrê
do Filho não terá a vida, mas pesa sobre ele a ira de Deus”; Jo 6, 53: “Se
não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue,
não tereis a vida em vós”; Jo 15, 6: “Quem não ficar em mim, será lançado
fora como o sarmento e secará”; Lc 13, 3: “Se não vos converterdes,
perecereis todos”; Lc 8, 23: “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a
si mesmo, carregue a sua cruz, dia por dia, e siga-me”; Lc 14, 27: “Quem
não carregar a sua cruz e me seguir, não pode ser meu discípulo”; Lc 14,
33: “Não pode nenhum de vós ser meu discípulo, se não renunciar a tudo
quanto possui”; Mt 10, 38: “Quem não tomar a sua cruz e me seguir, não
é digno de mim”; Mc 16, 16: “Quem crer e for batizado, será salvo; mas
quem não crer, será condenado”);
• se não estivesse tão claramente anunciado que “não há salvação senão
nele (em Cristo), porque debaixo do céu não foi dado aos homens outro
nome em que nos cumpra operarmos a nossa salvação” (At 4, 12),

Se não fosse tudo isso, então, sim, poderíamos, talvez, dizer que todas as religiões
são boas. No entanto,

• sabemos e temos certeza de que “muitas vezes e de modos diversos falou


Deus, antigamente, aos nossos pais pelos profetas; nos últimos dias,
porém, falou-nos por meio de seu Filho, a quem constituiu herdeiro
universal” (Hb 1, 1-2);
• sabemos que “toda a Escritura divinamente inspirada é útil para
ensinar, a fim de que o homem seja perfeito” (2Tim 3, 15s);
• sabemos que os autores sagrados da Bíblia “falaram por impulso do
Espírito Santo” (2Pd 1, 21);
• sabemos que Cristo nos deu tantas e tão várias ordens, das quais fez
depender a nossa salvação eterna. Por tudo isso, devemos afirmar e
conceder que nem todas as religiões são boas e iguais, em essência,

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perante Deus. Quem é o homem para levantar-se contra Deus ou contra
seu Filho Unigênito? Se Deus estabeleceu positivamente meios de
salvação, se prescreveu e indicou caminhos de chegar a Ele, se deu
ordens expressas e bem determinadas, se fez declarações terminantes
neste sentido, então é justo e necessário que o homem obedeça e siga as
prescrições divinas. Fazer e propagar o contrário seria revolta aberta
contra Deus.

E, infelizmente, há pessoas assim, que se levantam contra o Criador. São João abre
o seu Evangelho com uma grande mensagem que, ao mesmo tempo, contém
gravíssimas denúncias:

• “No princípio era o Verbo… e o Verbo era Deus… Todas as coisas foram feitas
pelo Verbo… Nele estava a vida; e a vida era a luz dos homens. E a luz
resplandece nas trevas, mas as trevas não a compreenderam… Veio ao mundo
a luz verdadeira que ilumina a todo o homem. Estava no mundo; o mundo foi
feito por Ele; mas o mundo não o conheceu. Veio ao que era seu, mas os seus
não o receberam. A todos, porém, que o receberam deu-lhes o poder de se
tornarem filhos de Deus, os que crêem no seu nome, os que nasceram… de
Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.”

É evidente que este Verbo, que “era Deus” e a “luz do mundo”, é Cristo Jesus. Os
espíritas contestam obstinadamente que o Verbo “era Deus” e, por isso, são do
número daqueles que não o compreenderam nem o conheceram nem o receberam…
Dizer, pois, com os espíritas, que todas as religiões são boas; que não é preciso seguir
a mensagem do Verbo, e toda a mensagem; que basta a caridade somente; que todas
as religiões levam, por diversos caminhos, para o mesmo fim, e outras frases
semelhantes, é revoltar-se contra Deus e contra Cristo.

Dizer que todas as religiões são boas é revoltar-se contra


Deus
Respondam-nos, portanto, os espíritas às seguintes perguntas: Por que então insistiu
Cristo tanto na necessidade da fé em suas palavras? Por que mandou Ele os
Apóstolos pregar a todos os povos (que já tinham uma religião!) o Evangelho dele?
Apenas para aumentar a confusão? Por que então declararam os Apóstolos que “não
há salvação senão em Cristo” (At 4, 12)?

Se é verdade que todas as religiões são boas e iguais, então foi imperdoável a
exigência de Cristo em fazer de todos os homens discípulos seus; então foram uns
bobos aqueles numerosos mártires que preferiram morrer a renegar os ensinamentos
de Cristo, para aderir a outra religião; então foram uns insensatos os Apóstolos e os
missionários de todos os tempos, que, entre mil perigos e longe da pátria, correram
e ainda hoje correm o mundo para levar a todos a mensagem cristã.

Se é verdade que todas as religiões são boas e iguais, por que então não deixam os
espíritas aos brasileiros a religião católica, que mais de 90% afirma ter? Ou será que,
segundo eles, todas as religiões são boas, menos a católica? Ou pensam eles que o
Brasil é um país sem religião alguma? Se é verdade que todas as religiões são boas e

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iguais em essência, por que proclamou então Allan Kardec, em suas Obras Póstumas,
que “o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã, a única instituição
verdadeiramente divina e humana”?

Se todas as religiões são boas e iguais, então a vida mortificada dum São Pedro de
Alcântara, glorioso padroeiro do Brasil, vale tanto aos olhos de Deus como a de um
sultão turco no seu harém com 150 mulheres! Então Moisés, Brama, Marte, Júpiter,
Lutero, Buda e Cristo (perdão, meu Deus!), todos merecem em igual medida os nossos
respeitos! Então tanto faz se eu, com os astecas, sacrifico milhares de vidas humanas
ou, com outros, adoro um touro, um gato, uma cegonha, o sol, a lua ou presto culto a
Satanás.

Tudo isso será bom e igual, em essência, perante Deus?…No livro "O Sal da Terra",
o então cardeal Joseph Ratzinger falou sobre o posicionamento atual de se considerar
todas as religiões como iguais. Ele foi categórico ao dizer que, com certeza, nem todas
as religiões são iguais ou mesmo boas. Segundo ele, existem formas de religião de tal
maneira corrompidas e insalubres que não são capazes de levar o homem a Deus;
pelo contrário, servem tão-somente para aliená-lo.

Estas más religiões ao longo de sua existência pregaram o terrorismo, o ódio,


algumas até o sacrifício humano. É evidente que estas modalidades religiosas,
mesmo em uma sociedade como a atual - em que a liberdade é cláusula pétrea -, elas
não têm o direito de existir, pelo simples fato de que atentam contra a humanidade,
causando um malefício à sociedade.

Além disso, um outro fato histórico contribui sobremaneira para que não se possa
considerar todas as religiões iguais: Jesus Cristo. O cristianismo se diferencia das
demais religiões, pois é a única que adora Deus que se fez homem. Jesus nasceu em
Belém, viveu em Nazaré, morreu em Jerusalém, fatos reais e concretos, diante dos
quais não se pode passar indiferente. É preciso posicionar-se, pois se Jesus é Deus,
todas as outras religiões estão num nível inferior, ou se Jesus não é Deus, o
cristianismo é uma grande farsa.

O cristão crê que todas as coisas encontram o seu sentido em Jesus Cristo. Tudo foi
criado por Ele e para Ele. É a razão de ser de tudo o que existe. É o sentido da vida
de cada homem e isso significa também que Ele é o Senhor de tudo.

A pregação católica consiste em dizer que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e


verdadeiro homem, o Verbo de Deus encarnado, que continua vivo na história, num
corpo concreto chamado Igreja Católica.

Jesus cristo continua vivo e presente através da Igreja em seu Magistério e em seus
sacramentos. Afirmar a fé católica não é pregar o ódio ou a intolerância contra as
outras religiões. Pelo contrário, o católico sabe desde a época dos mártires das
primeiras perseguições que a fé católica não é algo pelo qual se mata, mas sim pelo
qual se morre.

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Capítulo VIII-Por que sou Católico Apostólico
Romano?
“São Tomás de Aquino dizia que a beleza é o reflexo da Verdade,
logo não é difícil de afirmar que o Catolicismo é verdadeiro, pois
ele é de fato belo, logo é o reflexo da verdade.”-Vinicius Martinez
A minha conversão
Primeiramente, queria deixar o meu testemunho de como eu me converti ao
catolicismo. Eu fui minha infância toda evangélico protestante, estudei bastante
sobre a bíblia, e de uns 12 anos para cá, tornei-me num ateu durante todos esses
anos, um ateu fervoroso mesmo. Este ano comprei um livro para tentar refutar o
cristianismo de vez, mas vi que o livro era muito raso em argumentos e pensei: “não
é possível que seja isso o ateísmo”(trata-se do livro Deus:um delírio de Dawkins),
após isso fui procurar vídeos de cristãos, ler sobre as 5 vias de São Tomás de Aquino
que diziam que são argumentos a favor de Deus e aquela questão do ato motor puro
ou a causa de todas as coisas e do movimento de Aristóteles que foi onde no livro do
Sr. Dawkins via-se uma grande falta de informações sobre o assunto e eu procurei
saber mais, resumindo ao tentar refutar São Tomás de Aquino virei um tomista e
cristão.

As cinco vias são argumentos a posteriori, é uma lógica inabalável que ao tentar ferir
essa lógica, simplesmente não se sustentam, como eu já expus aqui em um capítulo
anterior.

Então eu me via com duas opções: ou me convertia, ou negava a verdade e a lógica e


vivia na ilusão que é o ateísmo. E como eu não sou intelectualmente desonesto com
todos os argumentos e lógica que estudei, tive que ser humilde e reconhecer a
verdade.

Depois me aprofundei mais ainda na história do cristianismo, a vida dos santos,


desmenti todas as falácias que as pessoas contam sobre a igreja católica. E diante
disso me converti a Santa Igreja Católica que é a única religião racional e
logicamente sustentável pela própria filosofia e pela ciência como tento mostrar
neste ensaio.

Em defesa da Santa Igreja


Por vezes, as pessoas confundem a fé com uma fé cega. Assim diz Hebreus 11:1” Ora,
a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. Se a fé
é a prova das coisas que não vemos, não se pode ser cego, do contrário, o conceito
seria trivial, pois, se não se vê absolutamente nada, a fé retrataria qualquer situação
epistemológica e não uma situação específica. Ora, se para falar daquilo que não se
pode ver tem-se de necessariamente enxergar, é só a partir da aplicação da visão que
se pode saber quais são as suas limitações. Algumas pessoas já me disseram que eu
estudo demais e que não posso conhecer tudo. Se elas lessem Kant, saberiam que é
trivial dizer isso a um filósofo. Se você disser que a razão é limitada, você tem de
conhecer o seu limite, para conhecer o limite, precisa saber o que está além dele.

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Pense em termos matemáticos, dizer que você conhece o alcance da razão é
contraditório porque você tem de saber o que está além dele e isso implica o
conhecimento daquilo que se alega estar além do alcance da razão. Logo, assim como
só se pode saber o que não se pode enxergar vendo-se. Romanos 4.3 afirma que
Abraão creu e que isso lhe foi imputado como justiça, qualquer católico que saiba o
que é a graça santificamente e o que são as obras meritórias entende perfeitamente
o sentido da passagem. A fé de Abraão não é apenas uma crença, um mero conteúdo
mental, mas uma lista inacreditável de sucessíveis atos de obediência. Abraão com
75 anos saiu da sua terra em obediência a Deus sem saber para onde iria e ouviu a
promessa de que a partir de Deus faria um grande povo, com 99 anos, em uma época
sem anestesia ele circuncidou-se em sinal da sua aliança com Deus e teve seu nome
mudado para Abraão sem que tivesse tido ainda o filho que Deus tinha lhe prometido.
O filho prometido só viria quando ele completasse 100 anos, 25 anos depois da sua
promessa. Depois de tudo isso, Deus ainda o provaria. Ter fé é ser obediente! Por
isso, São Tiago explica que a fé sem obras é morta (Tiago 2.20) e justamente por isso
Lutero chamava a carta de Tiago de “carta de palha” porque ele sabia que estava
escrito em Tiago que o “homem é justificado pelas obras, não somente pela fé”.

Durante meus anos de agnosticismo, eu enxergava a vida como um processo inútil


que atrasava um fim inevitável. Se todos vamos morrer e se não há nada após a
morte, por que continuar vivo? Mesmo que eu consiga fazer qualquer coisa relevante,
a longo prazo, empreender alguma descoberta científica, compor uma música que
leve multidões a emocionar-se, tudo isso desaparecerá. A vida natural é um constante
esforço contra a morte, é uma luta incessante que fatalmente será perdida. Mesmo
depois de anos sem orar, comecei a falar com Deus antes de dormir: “Se há realmente
algum Deus ouvindo me agora, peço por favor que o senhor mostre-se a mim. Eu
tenho buscado a verdade da forma mais sincera, se eu morrer, e vir que o Senhor
existe, eu não terei culpa”. Eu não entendia que estava fazendo tudo errado. Eu não
compreendia que em primeiro lugar estava fazendo exigências a quem é soberano,
Rei do Universo. E eu não estava em condições de exigir absolutamente nada de
Deus, nem estou ainda. O grito divino rompeu a minha surdez e a Sua luz afugentou
minha cegueira. Deus espargira sua fragrância e respirando-a, suspirei por Ele,
desde então, tive fome e sede Dele ardendo o desejo de Sua paz. Tardiamente, havia
aprendido amar Aquele que tinha me amado muito antes que eu existisse e vi que
Deus é a condição de possibilidade de tudo o que existe, pois “nEle somos, nos
movemos e existimos” (Atos 17.28). Percebia então que o cristianismo não diz
respeito a uma crença, mas a uma presença. C.S Lewis dizia que a nossa fome indica
a existência de algo que possa sacia-lá. Em outras palavras, todos os desejos inatos
que temos correspondem a um objeto real que pode satisfazê-los. Existe em nós um
vazio existencial que nada na Terra pode saciar. Temos um desejo de eternidade.
Esperamos deixar a nossa marca na história nem que seja simplesmente por meio
de filhos. Parece plausível portanto que haja algo que possa preencher esses desejos.
A angústia existencial que eu sentia era, na verdade, uma evidência da
transcendência. Quando você entra em um carro novo, você confia que ele não irá
capotar, que ele está funcionando direito pelo fato de você ter visto outras pessoas
fazendo a mesma coisa. Quando você senta em uma cadeira, você não verifica toda a
sua constituição e faz contas para saber se ela vai suportar seu peso. Nós usamos a
fé diariamente a partir da confiança que temos em testemunhos. Com a religião, a
coisa é parecida: ela funciona, essencialmente, pelo conhecimento e por testemunhos.

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Você não dará um passo de fé no nada, mas a partir de milênios de testemunhos de
Santos que marcaram a história. O catolicismo é a única religião de que tenho notícia
que promove estudos sistemáticos sobre os milagres, com auxílio de pesquisadores e
cientistas de outras confissões religiosas. Outra exclusividade do Catolicismo é a de
que também é a única religião que conheço cujos milagres atestam sua Doutrina.
Você verá protestantes sendo curados de maneira milagrosa de um câncer mas não
encontrará nada parecido a um milagre eucarístico ou a uma aparição de Nossa
Senhora como em Fátima.

Por que eu deixei o Protestantismo?


Primeiro de tudo, os evangélicos protestantes são nossos irmãos separados e amigos
políticos, diante de um mundo que quer destruir o cristianismo, nós nos unimos. Mas
procurando saber a história da Igreja, conseguimos perceber alguns erros na
doutrina protestante. Jesus instituiu algo que ele chamou de Igreja no episódio
bíblico que se chama “a confissão de Pedro” e diz que Pedro seria a Rocha a qual
Jesus edificaria a sua Igreja. “Pedro, tu és a pedra, a qual eu edificarei a minha
Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. A pedra a qual Jesus se
referia é Pedro, o primeiro Papa da Igreja Católica, “Dar-te-ei as chaves dos céus,
tudo o que desligares na terra será desligado no céu e tudo o que ligares na terra será
ligado no céu”(Mateus 16:19). Pedro, em toda a escritura, é tratado com primazia
diante de todos os outros apóstolos, o que mostra a sua importância diante dos outros,
um forte indício a atribuição de Pedro como primeiro Papa. E se assim for, a Igreja
Católica incontestavelmente é a Igreja verdadeira pois é a única que reivindica a
sucessão apostólica e detém as chaves dadas por Cristo ao primeiro Papa, de ligar e
desligar quanto aos assuntos religiosas. Jesus também diz que “as portas do inferno
não prevalecerão contra a igreja”, Lutero e Calvino por sua vez, líderes da Reforma
protestante, diziam que em seu tempo, a Igreja havia se corrompido, se degradado,
Lutero achava que a Igreja em si havia se degradado, tendo em consideração que até
o século 16 a igreja católica era a única instituição cristã. Logo, se a única Igreja se
corrompeu, então as portas do inferno prevaleceram contra ela, e se as portas do
inferno prevaleceram, então Jesus mentiu, ou estava enganado, e Jesus mente ou se
engana? Eu prefiro acreditar que Jesus falou a verdade e quem se corrompeu foram
alguns membros da Igreja e não a Igreja em si como Lutero dizia, que a Igreja criada
por Cristo esteve as portas da perdição e da degradação por 15 séculos, e só no século
16, algumas pessoas iluminadas foram as que restauraram a normalidade da fé
cristã. Mas como sabemos que a Igreja Primitiva era a Igreja católica? Desde o
Primeiro Século, a igreja já era chamada de Católica por Santo Inácio de Antioquia
que viveu sua vida contemporânea aos apóstolos. É muito comum encontrar pessoas
que tiveram a graça de nascer em uma família católica, mas que ainda não fizeram
uma opção consciente pela sua fé, achando que tanto faz pertencer à Igreja Católica
ou a qualquer outra comunidade cristã, mesmo que seja protestante.

São Pedro nos exorta: “Estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo
aquele que a pedir".

É importante entender como e por que os protestantes se separaram da Igreja. O


século XVI foi um período muito difícil, principalmente por conta do fenômeno do
“renascimento", que foi o retorno do paganismo à cultura da Europa. Com a tomada
de Constantinopla pelos turcos otomanos, muitas pessoas que viviam no Oriente

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vieram para o Ocidente, levando manuscritos não só da filosofia clássica, como
também da mitologia grega. Imersos nas histórias e valores da Antiguidade pagã, os
homens dessa época - também os da Igreja -, experimentaram um arrefecimento na
fé. O clero encontrava dificuldades para viver o celibato e era constantemente agitado
por jogos de poder e preocupações políticas.

Os reformadores protestantes, como Martinho Lutero, João Calvino e Ulrich


Zwinglio, vendo a triste situação em que se encontravam os homens da Igreja,
quiseram empreender uma mudança, mas, no fim, acabaram mutilando a Igreja.
Eles tentaram fazer uma reforma prescindindo da fé na Igreja e acabaram criando
um dualismo, pelo qual aceitavam a Igreja invisível, mas rejeitavam qualquer
instituição visível, que não passaria de criação humana.

É por isso que os protestantes não ficam escandalizados quando um pastor briga com
outro e decide fundar outra igreja. Para eles, Jesus veio a este mundo, deixou a sua
mensagem, que está na Bíblia, e todos estão entregues à sua própria interpretação
das Escrituras. Se não há, como postula a doutrina do livre exame, nenhuma
autoridade humana que interprete fielmente a Bíblia, então, todos se tornam
autoridades legítimas para interpretá-la; cada crente é o seu próprio Magistério.
Assim, a cada intérprete autorizado da Bíblia, abre-se uma nova igreja, sem nenhum
escrúpulo. Para entrar em contato com a Igreja invisível - que é a única que existe -,
ou eles recorrem aos carismas - como fazem os pentecostais - ou à interpretação livre
das Escrituras. As “igrejas visíveis" existem tão somente para que as pessoas
congreguem e se ajudem mutuamente, mas nada disso é fundado por Deus, senão
pelos homens.

No fim, toda essa doutrina protestante chega a um beco sem saída. Pois, se tudo o
que é visível não passa de invenção dos homens, o que dizer das Escrituras que, tendo
como autor último o Espírito Santo, têm, no entanto, autores verdadeiramente
humanos, de carne e osso? O que dizer das Escrituras, que foram estabelecidas como
verdadeiras justamente pela autoridade da Igreja Católica, como diz Santo
Agostinho: “Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae
commoveret auctoritas - Quanto a mim, não acreditaria no Evangelho se não me
movesse a isso a autoridade da Igreja Católica" .Ora, cortar da árvore do Credo a fé
na Igreja é serrar o próprio galho em que se está sentado.

Para resolver o seu dilema, os protestantes acabaram se dividindo em duas correntes


principais. A primeira, mais tradicional, crê que basta recorrer ao texto literal para
se chegar à verdadeira interpretação da Bíblia. A experiência histórica comprova que
esse método “realista" não funciona: milhares de protestantes ao redor do mundo
interpretam de forma diferente as Escrituras, por isso existem mais de 60 mil
denominações de igrejas protestantes enquanto a Igreja Católica é e sempre foi Una
em dois milênios de história. Para aceitar como verdadeiro o livre exame, ter-se-ia
que admitir ou que Deus fala várias coisas divergentes entre si - o que não é possível
- ou que todos, mesmo com opiniões contrárias, falam a verdade - o que é igualmente
impossível. Por isso, o livre exame é muito difícil de se sustentar.

Alguns teólogos, principalmente a partir do século XIX, vendo a fragilidade dessa


doutrina, procederam à investigação histórica e científica das Escrituras, procurando
identificar as interpolações, gêneros literários e acréscimos presentes na Bíblia. Ao
fazê-lo, porém, esqueceram-se do todo coerente que são as Escrituras e

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fragmentaram-na em um “mosaico de pequenas teologias". Olhando de longe para
uma redutiva figura de “Jesus histórico", perderam de vista a fé no Verbo que
irrompeu na história dos homens.

Enquanto eles olham para um Jesus distante e pensam que, quanto mais o tempo
passa, menos precisos são seus apontamentos, nós, católicos, ao contrário, à medida
que o tempo passa, temos cada vez mais certeza de nossa fé. Porque, ainda que os
tempos, os lugares e os estilos mudem, uma só é a Palavra que sai da boca dos santos
e doutores da Igreja: Jesus. De fato, nós cremos que a Palavra de Deus não é um
livro, mas uma pessoa que “se fez carne e veio morar entre nós". Cremos também que
essa realidade da Encarnação continua na Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo e
o que garante a interpretação autêntica das Sagradas Escrituras.

Olhando para o organismo vivo da Igreja, para os seus Concílios e Papas, para a vida
dos santos e todos os seus ensinamentos, é impossível não dirigir uma imensa ação
de graças a Deus, por nos dar a graça de ser como anões no ombro de gigantes. Que
alegria é ser católico e saber que não é preciso inventar um novo caminho, mas já
existe um, deixado por Cristo e muito bem “pavimentado, iluminado e policiado"
pelos santos da Igreja de Deus.

De fato, a verdadeira história da Igreja é feita por esses homens e mulheres que
devotaram toda a sua vida à vontade de Deus. Muitos querem estudar a história
eclesiástica, mas o fazem a partir das personagens corruptas e pecadoras, que foram
justamente as primeiras a trair a Igreja. Ora, qualquer pessoa que se proponha a
contar a história da própria família, fá-lo-á narrando os episódios de quem entregou
o seu sangue por ela ou contando as histórias dos que a abandonaram? Quem se
propõe a conhecer a arquitetura, começa estudando os prédios que caíram ou os que
deram certo? Do mesmo modo, não se estuda a história da Igreja senão pela via dos
santos e mártires, que entregaram a sua vida por ela.

A religião protestante, no entanto, não acredita na santidade. Eles se recusam a crer


que um ser humano possa se santificar em vida ou mesmo ser invocado após a sua
morte, ignorando que nada, absolutamente, pode nos separar do amor de Cristo.

Uma só é a Igreja de Cristo. Não existem várias, apenas uma. Enquanto os próprios
protestantes assumem que as congregações a que pertencem são meras fundações
humanas, nós, católicos, cremos firmemente que a Igreja Católica é de instituição
divina e que nenhuma das fragilidades e dos pecados dos homens pode macular a
sua santidade real, concreta e visível nos Sacramentos e na doutrina e na vida de
seus santos. E cremos que esse organismo vivo existe e continuará a existir até o fim
dos tempos, porque “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. A ideia deles
é a seguinte: Se a Palavra de Deus é Jesus, então a Palavra é anterior à Igreja e,
logicamente, mais importante do que esta. A Igreja também crê assim. Acontece que
eles confundem a Palavra de Deus com um livro. E é aqui que começam as
discordâncias, pois, para os católicos, a Palavra de Deus não se resume a um livro; a
Palavra de Deus é, antes, uma Pessoa!

De fato, a Igreja nasce da Palavra de Deus, pois nasce da Pessoa de Cristo, que é seu
Noivo e Salvador. Mas uma coisa é a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, Verbo
encarnado do qual procede toda salvação; outra é o cânon dos livros sagrados como

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temos na Bíblia. Este é posterior à Igreja e dela depende sua autenticidade, como
professava Santo Agostinho na citação que já expus anteriormente.

Também é preciso lembrar que Jesus não deixou nenhum documento por escrito.
Todos os livros do Novo Testamento — que compõem tanto a Bíblia católica como a
protestante — são de autoria de algum apóstolo ou discípulo do Senhor,
convenientemente chamados de hagiógrafos . Cabe, então, a pergunta: de que modo
se pode provar que esses 27 livros são mesmo inspirados por Deus e que os demais
evangelhos existentes são apócrifos?

O grande trunfo de Dan Brown no livro O código da Vinci é a acusação de que a Igreja
teria escondido o Evangelho de Maria Madalena para impor uma visão machista da
doutrina cristã. Desconsiderando o conteúdo ideológico dessa acusação leviana, não
deixa de ser verdadeiro o fato de que o Magistério rejeitou não somente o evangelho
de Maria Madalena, como também o de tantos outros autores, embora o tenha feito
não por motivações ideológicas, mas pela simples razão de esses livros não serem
autênticos, nem estarem de acordo com a Tradição Apostólica.

A formação da lista dos livros do Novo Testamento não aconteceu de maneira


tranquila, rápida e consensual, como erroneamente imaginam os protestantes que a
Bíblia caiu do céu “com zíper e tudo” como disse sarcasticamente o Padre Paulo
Ricardo numa entrevista. Durante mais de três séculos a Igreja teve de lidar com
grupos diversos que, por um lado, defendiam a inclusão de vários livros apócrifos no
cânon bíblico — como era o caso dos gnósticos — e, por outro, queriam a exclusão de
vários livros sagrados, reconhecendo como verdadeiros apenas o Evangelho de Lucas
e algumas cartas paulinas — como no caso dos marcionitas, discípulos do herege
Marcião. Coube à Igreja Católica, representada pela autoridade apostólica dos bispos
e apoiada na Tradição, a missão de discernir a respeito do assunto e listar, depois de
um consenso por parte de todo o orbe católico, os livros que deveriam estar presentes
no cânon das Sagradas Escrituras. A lista mais antiga de que temos notícia é a lista
do Papa Dâmaso, no século IV (cf. Decretum Damasi: DS 179-180):

“Para o Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio,


Josué, Juízes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros
das Crônicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os dois livros dos Macabeus,
Jó, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes (ou Coelet), o Cântico dos Cânticos, a
Sabedoria, o livro de Ben-Sirá (ou Eclesiástico), Isaías, Jeremias, as Lamentações,
Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Nahum,
Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias;

Para o Novo Testamento: Os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João; os Atos


dos Apóstolos; as epístolas de São Paulo: aos Romanos, primeira e segunda aos
Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, primeira e
segunda aos Tessalonicenses, primeira e segunda a Timóteo, a Tito, a Filémon: a
Epístola aos Hebreus; a Epístola de Tiago, a primeira e segunda de Pedro, as três
epístolas de João, a Epístola de Judas e o Apocalipse.”

Antes da formação do cânon bíblico, os primeiros cristãos passaram séculos a fio


vivendo apenas da Tradição. Para que fique claro, o livro mais antigo do Novo
Testamento, a I Carta de São Paulo aos Tessalonicenses, foi redigido quase 20 anos
após a ascensão de Jesus, ao passo que o mais recente, o livro do Apocalipse, foi

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escrito por volta do ano 90. Além disso, esses livros não estavam reunidos em um
único pergaminho, mas espalhados por várias regiões, de modo que a Igreja primitiva
não possuía um Novo Testamento como nós o conhecemos. Os primeiros cristãos,
luminares de santidade, viveram absolutamente da Tradição, da Palavra de Deus
encarnada, não de um livro.

Com efeito, o princípio da Sola Scriptura revela-se totalmente alheio à Tradição e à


história da Igreja, que sequer cogitou alguma vez colocar a Bíblia como única fonte
da Revelação Cristã. Foi apenas com Lutero que esse postulado surgiu. Com a
invenção da imprensa, tornou-se fácil colocar a Bíblia na mão das pessoas. Mas os
protestantes só puderam imprimir as Sagradas Escrituras e distribuí-las aos fiéis
porque, durante 1500 anos, monges católicos as preservaram em suas bibliotecas,
redigindo novos e novos manuscritos, à medida que as cópias antigas iam se
deteriorando. Não haveria Bíblia sem Tradição.

A Bíblia inegavelmente é um instrumento preciosíssimo pois, por meio dela, a “Igreja


encontra continuamente o seu alimento e a sua força” (Catecismo da Igreja Católica,
§ 104). O que seria de nós sem a Bíblia? Todavia, não se pode perder de vista que a
“fé cristã não é uma ‘religião do Livro’”, “mas é a religião da ‘Palavra’ de Deus, ‘não
duma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo’” (Catecismo da Igreja
Católica, § 108), o qual nos legou a Igreja como coluna e sustentáculo da verdade
(1Tm 3, 15). Daí que o Magistério venere igualmente a Tradição e as Sagradas
Escrituras, porque não tira só desta última “a sua certeza a respeito de todas as
coisas reveladas”, uma vez que ambas derivam “da mesma fonte divina, fazem como
que uma coisa só e tendem ao mesmo fim” (Catecismo da Igreja Católica, § 80).

A farsa da Sola Scriptura


O pilar fundamental do Protestantismo está edificado na doutrina da Sola Scriptura,
que quer dizer "somente as Escrituras", ou "somente a Bíblia basta". Para eles, Cristo
não fundou nenhuma Igreja e o Catolicismo se desviou cometendo vários erros
doutrinários durante o decorrer da história.

Vejamos como isso é falso:

A própria Bíblia mostra a fundação da Igreja em Mateus 16,18-19 e este


acontecimento trata-se também de um fato histórico que nenhum estudioso ou
pesquisador consegue provar o contrário. A Igreja possui milhares de documentos
que mostram exatamente como a Igreja se formou e como se desenvolveu, tornando-
se a Igreja que é hoje. Todas essas questões e milhares de outras são respondidas por
documentos bem primitivos da Igreja. Eusébio de Cesaréia escreveu um livro sobre
a História da Igreja, desde sua origem, após ter sido fundada por Jesus Cristo, até
cerca do ano 300 dC.

A Igreja é o próprio Corpo do Senhor e também "coluna e sustentáculo da verdade"


(1Tim 3,15). Me expliquem como uma Igreja que não seja fundada pelo próprio Cristo
pode ser coluna e sustentáculo da verdade. Ele a quis como o seu corpo Místico,
constituído como o "Sacramento universal da salvação da humanidade" (LG 48) isto
é, o meio escolhido por Deus para salvar a todos. Perguntar "Porque a Igreja?" é
então, o mesmo que perguntar: "Porque Cristo?". Cristo veio do Pai e deixou aqui a
Igreja. O Pai enviou Jesus para a salvação do mundo e Cristo enviou a Igreja.

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Então fica a pergunta: O que veio primeiro, a Bíblia ou a Igreja?

Antes do Antigo Testamento ser escrito já existia uma Igreja alicerçada no povo de
Israel e quando o Novo Testamento foi escrito, a Igreja já tinha sido entregue a Pedro
e aos Apóstolos pelo próprio Cristo (Mateus 16,18-19). O povo de Israel era a
posteridade das Doze Tribos de Jacó, que Deus chamou "Israel".

O livro do Apocalipse (Ap 21,10-14) revela a Igreja como a "Jerusalém celeste"


construída sobre doze pedras fundamentais, nas quais "estão escritos os nomes dos
Doze Apóstolos do Cordeiro". Com a vinda de Cristo a Igreja cresceu e caminhou na
"Doutrina dos Apóstolos" (At 2,42). Depois, estes Apóstolos ordenaram Bispos, seus
sucessores, para que a Igreja cumprisse até o fim dos tempos a missão que Jesus lhe
confiou: "Ide pelo mundo inteiro, pregai o Evangelho a toda criatura..." (Mc 16,15).
Assim, os Apóstolos cumpriram a ordem e puseram à frente das Igrejas, bispos,
presbíteros e diáconos como auxiliares, tendo regulamentado a sua sucessão com
normas claras para que, com a comunidade, fossem escolhidos sempre os melhores.
Os Bispos - os Apóstolos de hoje - continuam a mesma missão de Jesus. Eles
estabeleceram os princípios básicos para toda a vida da Igreja: o Credo e a Tradição
Apostólica.

Clemente (88-97), Bispo de Roma, quarto Papa da Igreja, colaborador de São Paulo
(cf. Fl 4,3), na importante carta aos Coríntios, já no século I mostra que Jesus Cristo
recebeu todo o poder do Pai e incumbiu os Apóstolos de estabelecerem a hierarquia.
Santo Ireneu, mártir do século II, nos relata a lista dos primeiros Papas da Igreja,
até o décimo segundo, Eleutério, já no seu tempo. Veja o que ele diz: "Depois de ter
fundado e edificado a Igreja, os bem-aventurados Apóstolos transmitiram a Lino o
cargo do Episcopado... Anacleto o sucedeu. Depois, em terceiro lugar a partir dos
Apóstolos, é Clemente a quem cabe o episcopado. Ele tinha visto os próprios
Apóstolos, estivera em relação com eles; sua pregação ressoava-lhe aos ouvidos.; sua
Tradição estava presente ainda aos seus olhos.. Aliás ele não estava só, havia em sua
época muitos homens instruídos pelos Apóstolos... A Clemente sucede Evaristo...
Alexandre; em seguida... Sixto, depois Telésforo, também glorioso por seu martírio;
depois Higino, Pio, Aníceto, Sotero... e Eleutério em 12º lugar a partir dos Apóstolos."

A "Sola Scriptura" diz que todos os ensinamentos cristãos estão presentes na Bíblia,
com clareza tal que todos podem compreendê-la, sem que seja necessário levar em
consideração a Tradição Cristã e os Concílios. Esta ideologia implantada pelos
protestantes no século XVI é tão falsa que a própria leitura da Bíblia, já a derruba.
Confira em João 20,30 e João 21,25. E fica mais claro quando comparamos com
outras passagens como a promessa do Paráclito (João 14,16-26; João 15,26; João 16,
7-13) e seu efetivo derramamento (Atos 2). Além disso, a Bíblia não caiu pronta do
Céu. Se não fosse a Igreja Católica, com seus monges a copiarem manualmente as
Escrituras durante 1500 anos, onde estaria hoje a Bíblia?

Um dos argumentos protestantes sobre a "Sola Scriptura" está em 2Tim 3,16, onde
Paulo diz: "Toda Escritura é inspirada por Deus". Mas que Escritura havia no tempo
de Paulo? Paulo morreu em aproximadamente 67 d.C., de forma que a segunda
epístola a Timóteo (2Tim) foi escrita antes desse ano. Existia o Novo Testamento na
época de (2Tim)? Não, não existia! Também sabemos que não existiu um Novo
Testamento por centenas de anos após a redação de 2Tim. A única Escritura
disponível para Paulo era o Antigo Testamento. Portanto, os protestantes não podem

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usar este versículo para justificar a Sola Scriptura, a não ser rejeitando todo o Novo
Testamento. Ficam aqui algumas perguntas sobre a Sola Scritura:

- Se a Sola Scriptura fosse 100% verdadeira para que precisaríamos do Espírito Santo
se tudo está na Bíblia? O que o Espírito Santo viria ensinar se tudo já foi escrito?

- Se a Sola Scriptura fosse suficiente, como conheceríamos a lista dos livros


canônicos, se ela não traz a relação deles? Qualquer pessoa de bom senso perceberá
que os livros canônicos só chegou até nós graças à Igreja Católica, através do
Magistério e da Tradição.

- Onde Jesus ordena a seus Apóstolos a escreverem a Bíblia? O que está escrito lá é:
"Ide e pregai" e não "ide e escrevei". E assim, os Apóstolos não escreveram nada,
somente ouviram e pregaram!

- Em qual livro do Novo Testamento os Apóstolos falam às gerações futuras que a fé


cristã se baseará apenas na Bíblia?

- Onde a Bíblia afirma ser a única autoridade para o cristão em matérias de fé e


moral?

- Por que existem mais de 60.000 denominações protestantes, com centenas e


centenas de interpretações diferentes umas das outras, se todas estão com a mesma
Bíblia na mão?

- Se o Cristianismo é uma "religião do Livro", como ele floresceu durante os primeiros


1500 anos de História da Igreja, se a Imprensa não tinha ainda sido inventada?

- E quando a Imprensa foi inventada (sistema mecanizado de impressão) no século


XVI, 90% da população era analfabeta. Será que esta maioria foi para o inferno?

- Se a Sola Scriptura é tão sólida e biblicamente fundada, por que não existe um
tratado de verdade, escrito para defendê-la, desde a época em que a expressão foi
cunhada pela Reforma?

- Se a Igreja primitiva acreditava na Sola Scriptura, por que os credos primitivos


sempre dizem: "Creio na Santa Igreja Católica" e não simplesmente "Creio nas
Santas Escrituras"?

No mais, a segunda vinda de Jesus ocorrerá para resgatar a Igreja e não a Bíblia.E
assim como Cristo não ordenou aos Apóstolos: "Ide e imprimi e distribuí Bíblias",
assim também não disse: "Quem vos lê, a Mim lê". Pelo contrário, Cristo disse: "Quem
vos ouve, a Mim ouve" (Lc 10, 16).

Conclusão: a Igreja é a mãe; e a Bíblia, sua filha. A doutrina da "Sola Scriptura" é


antibíblica, não é histórica antes da Reforma e é impraticável pelo verdadeiro
Cristianismo. Martinho Lutero (1483-1546) costuma a receber o crédito pela
invenção da falsa doutrina da Sola Scriptura (=”Somente a Bíblia” ou “Suficiência da
Bíblia”). Ele, que havia se separado da autoridade do Papado e do Magistério, tinha,
por conseqüência, perdido toda a autoridade nos assuntos tratados pela Igreja.
Então, voltou-se para a Bíblia, afirmando que ela era a única fonte de autoridade.
Poderia um livro ser a única fonte de autoridade? Poderia a Constituição do Brasil
prevalecer sozinha sem a autoridade de um Corpo que a interpretasse? Qual Corpo
teria autoridade para resolver questões oriundas das interpretações opostas acerca

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das normas escritas nela? Por quanto tempo esse país poderia durar se os fundadores
(a Assembléia Constituinte) não tivessem previsto o estabelecimento de uma Corte
Suprema (o Supremo Tribunal Federal-STF), que teria a última palavra na
interpretação da lei deste país? Certamente, esse país se fracionaria desde o começo.
O “Sola scriptura” só é verdadeiro se e somente se for falso. O princípio é paradoxal
em si mesmo, porque necessariamente a Igreja tem de ter sido infalível, pelo menos,
quando reconheceu quais livros faziam parte da Bíblia. Se a Igreja tiver sido
infalível, no mínimo, ao fazer isso, a própria Bíblia já não pode ser a única regra para
norma de fé e prática. Se você não aceita essa infalibilidade da Igreja em nenhuma
circunstância , nem mesmo o reconhecimento do Cânone bíblico, o Sola Scriptura é
falso pela simples razão de não existir nenhuma maneira empírica de você saber qual
é a Escritura a ser usada como única regra. Se você pontificar alguns critérios da sua
cabeça, você já será uma autoridade superior à Bíblia pelo fato desses critérios não
constatarem nela.

Lutero e sua heresia


Lutero se separou da Igreja Católica em 1521 e imediatamente surgiram problemas
entre ele, Zwínglio (seu amigo reformador da Suíça) e Tomás Muntzer. Nesse mesmo
ano, Muntzer se separou e formou os Anabatistas. João Calvino se separou em 1536
e constituiu o Calvinismo. John Knox pulou fora do barco e formou os Presbiterianos
em 1560. John Smith fundou os Batistas em 1609, e John e Carl Wesley fundaram o
Metodismo em 1739.

A partir do momento em que se separou da Igreja Católica, o Protestantismo perdeu


a “Suprema Corte” de interpretação da Bíblia – o Papado e o Magistério – e acabou
por perder toda a autoridade que tinha sido dada a eles pelo próprio Deus. As
separações continuam até hoje. Existem agora mais de 60000 seitas protestantes
diferentes, sendo que nenhuma delas pode reclamar autoridade para interpretar a
Lei de Deus, a Sagrada Escritura. O problema é tal que as seitas disputam entre si
e se separam internamente ainda mais. Há divisões nos Batistas e várias divisões
em todas as outras seitas principais do Protestantismo… É cada homem
interpretando, por sua própria cabeça, a Bíblia para o Protesntantismo.

Se isto parece certo para você, tudo bem, mas é bom se preparar para as
consequências … Não existe unidade naquilo que Martinho Lutero começou. Se há
algo que conseguiu, este algo foi tornar impotente uma grande parte do Corpo de
Cristo. Fica fácil de perceber a obra de Satanás aqui, porque SEU plano é dividir e
conquistar (confronte Mateus 12,25 para o plano de Satanás, com João 10:16 para o
plano de Jesus Cristo!).

No que você acredita ser a raiz de todo esse caos? Foi a implementação da falsa
doutrina da Sola Scriptura e, com ela, a interpretação particular das Sagradas
Escrituras (proibida em 2 Pedro 1:20 e 3,16). Como todo o Protestantismo pode
interpretar a “Constituição das Leis de Deus” a Santa Bíblia da forma como crê
conveniente, provoca nele mesmo divisões, desuniões e caos.

Na verdade, seria mesmo muito estranho que Deus nos tivesse entregue um Livro
infalível e não nos tivesse deixado um intérprete com autoridade e infalibilidade.
Você e eu sabemos que Deus nunca teria feito isso.

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Martinho Lutero foi um escritor prolífico e sustentou muitos pontos de vista
contrários aos da Igreja Católica. Em 1 de novembro de 1517, Lutero reuniu 95 Teses,
das quais era autor, e as fixou na porta da igreja do castelo de Vitemberg, na
Alemanha. A Igreja Católica respondeu, exigindo que Lutero se retratasse das
declarações que eram contrárias aos ensinamentos da Igreja. A primeira menção da
falsa doutrina da Sola Scriptura ocorreu quando Martinho Lutero foi questionado no
Sínodo de Augsburgo (Alemanha), em outubro de 1518. Ao apelar para um Concílio,
Lutero apontou a Bíblia e sua interpretação dela, sobre a interpretação do Papa.
Embora ele admitisse que a autoridade do Concílio e da Bíblia eram equivalentes,
Lutero deu um passo a mais declarando posteriormente que a Escritura estava acima
do Concílio e que os Concílios Ecumênicos já tinham errado em matéria de fé. Como
resultado, foi classificado como herege.

Parece ter havido uma contradição aí, pois Lutero era monge católico agostiniano e,
portanto, sabia muito bem que foram os Concílios da Igreja Católica que tinham
fixado os cânons do Antigo e do Novo Testamento. Mas agora em Leipzig, ele
declarava que o fruto dos Concílios – a Bíblia – se encontrava acima dos próprios
Concílios!

Lutero foi advertido pela Igreja, em junho de 1520, pela Bula Papal “Exsurge
Domine”. A Igreja fez tudo que pôde para reconciliá-lo, porém, ele rejeitou, criando o
ambiente para a sua própria excomunhão. Ele foi formalmente excomungado em 3
de janeiro de 1521, através da Bula Papal “Decet Romanum Pontificem”. Um concílio
secular chamado “Dieta de Worns” foi convocado pelo imperador católico Carlos V,
em abril de 1521, onde foi novamente perguntado a Lutero se ele iria se retratar ou
manter a sua ideologia, contida em muitos de seus livros. Lutero se manteve firme.
Um edito emitido pelo concílio, em maio de 1521, apontou Lutero como herege e fora
da lei.

Como Lutero se separara por si mesmo da autoridade da Igreja Católica, não pôde
proclamar toda a beleza da Tradição da Igreja. A Tradição também era contrária à
“sua” ideia de Sola Scriptura, de modo que ele precisou condenar a Tradição como
“não-bíblica”, apesar de muitos versículos suportarem as Tradições, como este:
“Assim, pois, irmãos, mantei-vos firmes e conservai as Tradições que aprendestes de
nós, por VIVA VOZ ou por carta” (2Tessalonicenses 2,15).

Martinho Lutero foi um sacerdote católico que fundou o Protestantismo,


convertendo-se assim no primeiro protestante. É interessante que ele escreveu em
seu comentário sobre São João: “Somos obrigados a conceder aos Papistas que eles
possuem a Palavra de Deus, que recebemos deles e que, sem eles, não teríamos
conhecimento dela”.

Para alguém que humildemente reconhece que recebeu a “Palavra de Deus” da Igreja
Católica, causa estranheza que tenha começado a “modificá-la” sem deter autoridade
para isso.

Com efeito, Lutero, por sua própria autoridade, removeu sete livros de seu lugar
correto no Antigo Testamento [Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc,
1Macabeus e 2Macabeus] e os relegou a um Apêndice. Isto porque eles faziam
referências que não concordavam com os “seus” ensinamentos, em especial

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2Macabeus e a doutrina do Purgatório. Ele também queria remover os últimos
quatro livros do Novo Testamento (Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse), chegando a
retirá-los do lugar correto e colocá-los em um Apêndice adicional não enumerado. O
que sabemos então? Lutero incluiu os quatro livros – Hebreus, Tiago, Judas e
Apocalipse – em seu Novo Testamento, porém apenas em um Apêndice não
compaginado, claramente separados do restante do Novo Testamento. Sabemos que
isto se deu desde a primeira impressão do Novo Testamento de Lutero até a sua
morte, em 1546, quando a Bíblia foi reformatada pelos seus seguidores.

Tiago 2,24 deveria ter se constituído em um motivo de vergonha para a sua doutrina
da Sola Fides (Somente a Fé), porque dizia: “Vês aí como o homem é justificado pelas
obras e NÃO SOMENTE pela fé”. Tiago 2,26 também dizia: “A fé sem obras é morta”.

Lutero adicionou a palavra “somente” à sua tradução de Romanos 3,28 porque este
versículo contradizia a sua doutrina da Sola Fides, passando-se a ler: “porque
pensamos que o homem é justificado somente pela fé, sem as obras da lei” (v.
Provérbios 30,6).

No decorrer de todas as Escrituras, somos ordenados a não acrescentar, nem retirar


nada destas Sagradas Escrituras (eis alguns versículos que nos advertem para não
fazermos isso: Deuteronômio 4,2; 11,32; 12,32 (13,1); Salmos 12:6-7; 33,4; 50,16-17;
107,10-11; 119,57; 139-140; Provérbios 5,7; 30,5-6; Jeremias 23,36; Gálatas 1,8-9;
1Pedro 1,24-25; 2Pedro 3,15-16 e, certamente, estamos todos bem familiarizados com
o último parágrafo da Bíblia: Apocalipse 22,28-29: “Advirto a todo aquele que escuta
as palavras proféticas deste livro: se alguém acrescentar algo a isto, Deus lançará
sobre ele as pragas descritas neste livro; se alguém retirar algo às palavras deste
livro profético, Deus retirará sua parte na Árvore da Vida e na Cidade Santa,
descritas neste livro”).

Martinho Lutero removeu sete livros do Antigo Testamento. Removeu coisas da


Palavra de Deus. Mais tarde, estes livros foram totalmente removidos das Bíblias
protestantes. Como já foi dito, ele fez o mesmo com quatro livros do Novo Testamento.
Todos esses livros tinham estado em todas as Bíblias por mais de 1.100 anos. Quem
tinha autoridade para removê-los? Martinho Lutero? Outra pessoa?

Martinho Lutero rejeitou toda a autoridade da Igreja e declarou que a Bíblia era a
única autoridade. Em nenhuma parte das Escrituras está escrito que elas mesmas
são “a única autoridade”, nem dizem que são “auto-suficientes”). Ele se afastou da
Palavra de Deus (Isaías 22,20-22; Provérbios 11,14; 24,6; Mateus 18,17; Lucas 10,16;
2Coríntios 10,8; 1Timóteo 3,15, Hebreus 13,17).

Martinho Lutero acrescentou a palavra “somente” a Romanos 3,28. Ele fez acréscimo
à Palavra de Deus!

Martinho Lutero condenou a Tradição como não-bíblica (já que não podia tê-la a seu
favor), passando assim a negar alguns versículos da Bíblia. Ele fez supressões à
Palavra de Deus!

Martinho Lutero declarou que as obras eram inúteis para a salvação. Ele fez uma
supressão à Palavra de Deus (Tiago 2,24-26)!

Martinho Lutero redigiu uma série de panfletos, nos quais declarava que o sacerdócio
e o ofício episcopal deveriam sumir. Ele fez uma supressão à Palavra de Deus, a qual

50
claramente estabelece o ofício episcopal e o sacerdócio (Atos 6,5; 14,22; 20,28; Tito
1,5; Tiago 5,14).

Eis aí o que temos. Lutero foi culpável de todas as violações mencionadas. Ele foi o
primeiro protestante e fundador do Protestantismo. Ele foi a mesma pessoa que
declarou que a Bíblia “é a única regra de autoridade” e que era nisto que todos
deveriam crer. Ele estava violando os seus próprios ensinamentos ao acrescentar e
retirar coisas da Palavra de Deus. Ninguém pode negar que ele tenha feito isto
porque encontra-se registrado nos livros de História e nos arquivos da Igreja. Sua
ação foi herética e hipócrita e todo o Protestantismo herdou as obras deste único
homem. Os Protestantes têm se esforçado para demonstrar que a Sola Scriptura
existia desde os tempos dos Padres da Igreja. Eles têm me apontado cinco
referências, as quais abordarei a seguir.

Porém, antes de iniciar, preciso dizer que a falsa doutrina da Sola Scriptura une os
seus fiéis à Bíblia e apenas à Bíblia. Se me é dito repetidamente que não se encontra
na Bíblia, simplesmente para eles não ocorreu ou não pode ser crido. Me obriga a
fazê-los observar que, segundo as suas próprias regras – (apenas a Bíblia)– os
escritos dos Padres da Igreja que me apresentam não deveriam ser cridos (ou citados
por eles)porque não os encontro na Bíblia. Mas se esse é o caso, por que que me
apresentam (os escritos dos Padres da Igreja)em primeiro lugar? Não estariam eles
mesmos quebrando as suas próprias regras ao fazerem isso? Não haveria aqui dois
pesos para a mesma medida?

Alguns Protestantes preferem usar hoje o termo “suficiência da Bíblia” ao invés da


já familiar “Sola Scriptura”. A razão por que fazem isso é porque a expressão “Sola
Scriptura” não é nunca mencionada nas obras dos Padres da Igreja, mas “suficiência
da Bíblia” sim. Isto nada mais é do que um truque para tentar demonstrar a
legitimidade da Sola Scriptura desde os primeiros escritos da Igreja.

Mas examinemos, primeiro, a palavra “suficiente” em um dicionário: “ser ou ter tanto


quanto se necessita. Uma quantidade adequada”. Isto significa apenas a Bíblia?
NÃO! Vejamos o que a própria Bíblia diz: “Jesus realizou na presença dos discípulos
muitos outros sinais, os quais não estão escritos neste livro. Estes foram escritos
para que creais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida
em seu Nome” (João 20,30-31). “Ademais, muitas outras coisas fez Jesus. Se fossem
escritas uma por uma, penso que NEM TODO O MUNDO SERIA SUFICIENTE
PARA CONTER OS LIVROS QUE SE ESCREVERIAM” (João 21,25).

Obviamente, as Sagradas Escrituras dizem claramente: NEM TUDO ESTÁ nas


Sagradas Escrituras.

Seguem agora os cinco exemplos que costumam a me apresentar. Minhas respostas


seguem a cada uma delas, em azul:

1. “Que mais posso vos ensinar além do que lemos nos Apóstolos? Porque as
Escrituras acertam a regra da nossa doutrina, não pretendemos ser mais sábios do
que devemos (…) Portanto, não vos ensinarei nada a não ser para vos expor as
palavras do Mestre” (Agostinho de Hipona; Da Superioridade da Viuvez 2).

– Este exemplo não diz respeito à “suficiência das Escrituras” em nada, mas sim à
“autoridade das Escrituras”. Onde se encontam as palavras “somente a Bíblia”? Os

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Apóstolos ensinaram a guardar as Tradições também, como já expus. Também as
“palavras do Mestre” mandam guardar as Tradições (v. João 15,20: “recordem a
Palavra que vos falou”). Onde se encontra então a referência à Sola Scriptura?

2. “Que não digamos: ‘eu te digo isto; tu dizes aquilo’, mas ‘isto disse o Senhor’.
Seguramente, são os livros do Senhor, cuja autoridade nós concordamos e cremos.
Busquemos a Igreja, discutamos nossas questões. (…) Não estejamos de acordo com
os bispos católicos se por eventualidade estiverem errados em alguma coisa, cujo
resultado de suas opiniões vá em contrário às Escrituras canônicas de Deus”
(Agostinho de Hipona; Da Unidade da Igreja 3).

– Não enxergo nada nesta citação que sequer remotamente possa se referir à Sola
Scriptura. Novamente o caso aqui se refere à “autoridade das Escrituras”. A terceira
frase manda levar as questões (diferenças de opiniões) à Igreja. Esta frase indica que
a Igreja possui a autoridade final, não é mesmo (v. Mateus 18,15-18)? Quanto à
última frase, tudo o que ela diz é que não estejamos de acordo com um bispo que se
encontra no erro; mas onde se encontra afinal a referência à Sola Scriptura?

3. “Se alguém prega quanto a Cristo, ou quanto à Sua Igreja, ou quanto a qualquer
outra matéria que pertence à nossa fé e vida, não direi o que nós, mas o que Paulo
acrescenta: ‘Porém, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie um
Evangelho diferente do que recebemos nas Escrituras da Lei e dos Evangelhos, seja
anátema'” (Agostinho de Hipona; “Contra as Cartas de Petiliana 3,6).

– Aqui temos apenas uma repetição de Gálatas 1,8-9, que nos adverte contra os
ensinamentos de um outro evangelho. Os Mórmons deveriam prestar atenção a isto,
mas não se aplica aos Católicos. Aplica-se também aos Protestantes, que negam o
valor das Tradições; isto é ensinamento de outro Evangelho. Onde se encontra aqui
a referência à Sola Scriptura? As referências dos Protestantes às obras de Santo
Agostinho, para suportar a Sola Scriptura, são tão pouco convincentes que
praticamente são tidas por inexistentes.

Como os Protestantes gostam de fazer tanta referência a Santo Agostinho, apresento


aqui mais algumas referências para eles:

– “Eu não creria no Evangelho se não fosse movido pela AUTORIDADE da IGREJA
CATÓLICA” (Contra a Carta de Mani 5,6; 397 d.C.).(Como já foi citado acima)

– “Porém, no que se refere àquelas observâncias às quais cuidadosamente atendemos


e que todo o mundo guarda, as quais derivam não das Escrituras MAS DA
TRADIÇÃO, nos é dado a entender que elas são recomendadas e ordenadas para
serem observadas, seja pelos próprios Apóstolos, seja pelos CONCÍLIOS
PLENÁRIOS, CUJA AUTORIDADE É BASTANTE VITAL PARA A IGREJA” (Carta
a Januário 54,1,1; 400 d.C.).

– “Eu creio que esta prática provém da Tradição Apostólica, igualmente como muitas
outras práticas NÃO ENCONTRADAS EM SEUS ESCRITOS, nem nos Concílios de
seus sucessores. Porém, como são guardadas por toda a Igreja em todos os lugares,
crê-se que foram confiadas e transmitidas pelos próprios Apóstolos” (Do Batismo
1,12,20; 400 d.C.).

52
– “O que eles encontraram na Igreja, eles guardaram. O que aprenderam, eles
ensinararm. O que eles receberam dos Padres, eles transmitiram aos seus
filhos”(Contra Juliano 2,10,33; 421 d.C.).

– “Visto que, com o favor de Cristo, nós somos cristãos católicos” (Carta a Vitálio
217,5,16; 427 d.C.)

– “Com a mesma palavra, com o mesmo sacramento nasceste; porém, não chegarás
à mesma herança da vida eterna, exceto se retornares à IGREJA CATÓLICA”
(Sermão 3; 391 d.C.).

– “Esta Igreja é sagrada, a única Igreja, a verdadeira Igreja – a Igreja Católica – que
luta contra todas as heresias. Ela pode lutar, porém não pode ser vencida. Todas as
heresias são eliminadas dela, como inúteis podas da parreira. Ela permanece firme
em sua raiz, em sua parreira, em seu amor. As portas do inferno NÃO a
conquistarão” (Sermão aos Catecúmenos sobre o Credo 6,14; 395 d.C.).

Por todos os exemplos de Santo Agostinho (354-430) que apresentei aqui, se eu fosse
Protestante e estivesse determinado a pertencer como tal, teria cuidado de não
mencioná-lo novamente. Há referências a muitas outras citações de muitos Padres
da Igreja na próxima seção.

4. “Porque, na verdade, as Sagradas Escrituras, sopro de Deus, são auto-suficientes


para o ensinamento da verdade” (Atanásio de Alexandria; Contra as Opiniões da
Gente acerca da Encarnação do Verbo).

– Se os Protestantes entendem isto como Sola Scriptura, então deveriam alterar o


nome para “Sola alguma Scriptura”, porque ele rejeitaram sete livros do Antigo
Testamento e os versículos que falam em guardar as Tradições. Mais uma vez, esta
citação se refere à autoridade das Escrituras e não a “apenas as Escrituras”. Os
Católicos nunca duvidaram da autoridade das Escrituras, mas os Protestantes
reclamam que é “a única” autoridade.

5. “…as Sagradas Escrituras são, de todas as coisas, o que há de mais suficiente para
nós” (Atanásio de Alexandria; Aos Bispos do Egito 4).

– Esta foi a única linha que me apontaram de um escrito bem longo. A seguir
encontra-se toda a parte 4 desse escrito e a linha que me foi enviada encontra-se
destacada ao final:

“Atanásio (…) Aos Bispos do Egito: De onde recebem Marcião e os Maniqueus o


Evangelho enquanto rejeitam a Lei? Porque o Novo Testamento surgiu do Antigo e
o confirma. Se eles rejeitam isto, como podem receber aquilo que procede dele? Com
efeito, Paulo foi um Apóstolo do Evangelho, ‘o qual Deus prometeu antes por seus
profetas nas Sagradas Escrituras’; e mesmo Nosso Senhor disse: ‘Busca antes as
Escrituras porque são elas que dão testemunho de Mim’. Como podem eles confessar
ao Senhor a menos que primeiro busquem as Escrituras, as quais escrevem a respeito
Dele? E os discípulos dizem que o encontraram, ‘acerca de quem Moisés e os Profetas
escreveram’. E o que é a Lei para os Saduceus se eles não aceitavam os Profetas?
Porque Deus, que deu a Lei, Ele mesmo prometeu na Lei que levantaria Profetas
também; logo, Ele é o Senhor da Lei e dos Profetas; quem nega a um, deve negar o
outro também. Novamente: com o Antigo Testamento dos Judeus, não deveriam eles
ao menos reconhecer o Senhor, cuja vinda foi aguardada de acordo [com o Antigo

53
Testamento]? Se eles tivessem acreditado nos escritos de Moisés, teriam acreditado
nas palavras do Senhor, porque Ele disse: ‘Ele (Moisés) escreveu a meu respeito’. E
ainda mais: o que são as Escrituras para o [Paulo] de Samósata, que nega a Palavra
de Deus e Sua presença encarnada, a qual é significativamente declarada em ambos,
tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento? E para que usam as Escrituras os
Arianos? Ora, eles a traem logo depois, pois são homens que afirmam que o Verbo de
Deus é uma criatura e, como os gentios, ‘servem mais à criatura que ao Deus
Criador’! Assim, cada uma destas heresias, com relação à peculiar impiedade da sua
invenção, não tem nada em comum com as Escrituras. E seus defensores têm
conhecimento disto: que as Escrituras são muito – ou totalmente – opostas às
doutrinas de cada um deles; porém, pelo afã de enganar os mais simples (tais como
aqueles a quem os Provérbios se referem: ‘o simples crê em cada palavra’), eles
pretendem – como o seu ‘pai, o demônio’ – estudar e citar a linguagem das Escrituras,
para que possam parecer, por suas palavras, que possuem a crença correta e possam
assim persuadir os seus miseráveis seguidores a crerem de forma contrária às
Escrituras. Seguro em cada uma destas heresias, o demônio tem se disfarçado para
sugerir a eles palavras cheias de astúcia. O Senhor falou a respeito deles, que ‘se
levantariam falsos Cristos e falsos profetas, para enganar a muitos’. De acordo com
isso, o demônio veio, declarando por cada um deles: ‘Eu sou o Cristo e a verdade está
comigo’ e os têm tornado mentirosos como ele mesmo. Com efeito, ainda que todas as
heresias se diferenciem umas das outras acerca das invenções mal intencionadas
com as quais se identificam, estão unidas pelo propósito único de mentir, porque eles
possuem a um e mesmo pai que semeou neles as sementes da falsidade. Os Cristãos
fiéis e verdadeiros discípulos do Evangelho, tendo a graça de discernir as coisas
espirituais e tendo edificado a casa de sua fé sobre a rocha, se levantam firmes e
seguros continuamente contra os seus enganos. Porém, a pessoa simples, como já
disse antes, que não é totalmente consciente em conhecimento, considerando apenas
as palavras que lhe são faladas e não percebendo o seu significado, é imediatamente
levada por seu falatório. É bom e necessário para nós orarmos para que possamos
receber o dom do discernimento, para que cada um possa saber, conforme o preceito
de João, a quem deve rejeitar e a quem deve receber como amigos da mesma fé.
Alguém poderia escrever muito acerca destas coisas, se desejasse entrar em detalhes
nesta matéria, já que a impiedade e a perseverança das heresias aparecerão em
grande número e de maneiras variadas, de modo que o trabalho dos enganadores
será terrível. **Porém, como as Sagradas Escrituras são, de todas as coisas, o que há
de mais suficiente para nós,** então recomendo àqueles que desejam conhecer mais
sobre essas matérias que leiam a Palavra Divina, me apressando a apresentaragora
para vocês o que mais reclama atenção e pelo bem do quê escrevi estas coisas”.

– Esta citação que me foi passada, quando é tomada em seu inteiro teor, que é que
diz em sua primeira frase e qual é o tema que aborda? NÃO SE GANHA NADA AO
SE RECEBER APENAS UMA PARTE DAS ESCRITURAS E REJEITAR A OUTRA
PARTE. Já analisamos as partes rejeitadas pelos Protestantes, de modo que
pergunto: quem pode se aproveitar deste parágrafo? Onde afirma que “as Sagradas
Escrituras APENAS são, de todas as coisas”, suficientes para nós? Novamente está
se referindo à autoridade das Escrituras e não à Sola Scriptura.

Os Protestantes gostam de citar Santo Atanásio repetidamente para provar que a


Sola Scriptura existia no seu tempo, porém, uma vez mais, “provaram” que este

54
Padre da Igreja nunca escreveu nada para promover a Sola Scriptura. Contudo, ele
escreveu algumas palavras interessantes, que vão bem em sentido contrário:

– “É coisa muito útil investigar a antiga TRADIÇÃO, a doutrina e a fé da IGREJA


CATÓLICA, AQUELA QUE O SENHOR NOS ENSINOU, a qual os Apóstolos
pregaram e os Padres conservaram. Nela, com efeito, está o fundamento da Igreja.
Se alguém se afasta dessa doutrina, de maneira nenhuma poderá sequer ser
chamado de cristão” (1ª Carta a Serapião de Thmuis 1,28).

Marquei o meu ponto; preciso dizer algo mais? Como já disse anteriormente, ao tratar
de outro Pai da Igreja, se eu fosse Protestante, seria bem mais cuidadoso ao citar
Santo Atanásio (296-373) também. Eis mais algumas citações de outros Padres da
Igreja, já que os Protestantes também gostam de citá-los:

* Santo Inácio de Antioquia (+110) é um Pai da Igreja dos tempos apostólicos, o que
significa dizer que conheceu alguns dos Apóstolos:

– “Onde quer que esteja o bispo, acuda ali o povo, assim como onde quer que esteja o
Cristo, ali está a Igreja católica (katholiké)” (Carta aos Esmirnenses 8,1).

– “De igual maneira façam que todos respeitem aos Diáconos como respeitariam a
Jesus Cristo, e respeitem o Bispo como a um pai e os Presbíteros como o Conselho de
Deus e o Colégio dos Apóstolos. Sem isto, não é possível se chamar Igreja” (Carta aos
Tralianos 3,1).

* São Clemente de Roma é outro Pai da Igreja dos tempos apostólicos. Ele disse:

– “Em razão das inesperadas e sucessivas calamidades que se abateram sobre nós
(…) demoramos um pouco em prestar atenção ao assunto discutido entre vós, essa
sedição estranha e imprópria aos eleitos de Deus, detestável e sacrílega, que alguns
sujeitos audazes e arrogantes levaram a tal ponto de insensatez, que o vosso nome
honorável e celebradíssimo, digno do amor de todos os homens, se tornou objeto de
grave ultraje (…) Aprendei a vos submeter, depondo a arrogância jactanciosa e
altaneira da vossa língua, pois mais vos vale encontrar-se pequenos, mas eleitos e
dentro do rebanho do Senhor” (Carta aos Coríntios; datada dos anos 80 d.C.).

São João Crisóstomo (354-407):

– “‘Mantei-vos, pois, irmãos, firmes e guardai os ensinamentos que recebestes, quer


por palavra [oral], quer por carta nossa’: com isto, resta claro que eles [os Apóstolos]
não entregaram tudo por carta, mas que havia muito mais do que foi escrito. Assim
como o que foi escrito, também o que não foi escrito pode ser crido. Com efeito,
devemos olhar para a Tradição da Igreja como merecedora de fé. É uma Tradição?
Não procurem algo mais” (Homilias sobre 2Tessalonicenses 4,2).

As referências a seguir, retiradas dos escritos dos Pais da Igreja, refutam cada uma
das heresias de Martinho Lutero, como tenho demonstrado neste ensaio:

– Inácio de Antioquia, Carta aos Efésios 5,3 – J38a,b,43,44,47,48,49,58a.

– Inácio de Antioquia, Carta aos Esmirnenses 8,1 – J65.

– Tertuliano de Cartago, Contra Marcião 4,5,1 – J341.

– Agostinho de Hipona, Contra a Carta de Mani 5,6 – J1581.

55
– Agostinho de Hipona, Contra Fausto 33,6s – J1607, *J1631.

* Cânon do Novo Testamento:

– Atanásio de Alexandria, Carta nº 39 – J791.

– Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica 3,25,1 – J656.

* Cânon do Antigo Testamento:

– Dâmaso de Roma, Decreto de Dâmaso 2 – J910t.

– Atamásio de Alexandria, Carta nº 39 – J791.

– Jerônimo, Prólogo Galeático – J1397.

* Cânons do Antigo e do Novo Testamento:

– Dâmaso de Roma, Decreto de Dâmaso 2 – J910t.

– Rufino de Aquiléia, O Credo dos Apóstolos 35-37 – J1344.

– Agostinho de Hipona, Da Instrução Cristã 2,8,13 – J1585.

– Inocêncio I de Roma, Carta a Exupério 6,7,13 – J2015b.

* Livre Arbítrio:

– Justino Mártir, 1ª Apologia 43 – J123.

– Teófilo de Antioquia, A Autólico 2,27 – J184.

– Atanásio de Alexandria, Discurso contr aos Arianos 3,6 – J775.

– Gregório de Nissa, Grande Catecismo 31 – J1034.

– João Crisóstomo, Sobre Hebreus 12,3,5 – J1219.

– Ambrósio de Milão, Comentário sobre Lucas 10,60 – J1309.

– Jerônimo, Contra Joviniano 2,3s – J1380, J1404, J1405.

– Pelágio, Livre Arbítrio: Graça de Cristo 4,5 – J1413.

– Juliano de Eclano, A Floro 5,41 – J1416.

– Agostinho de Hipona, Carta a Valentino 215,4 – J1455, J1495, J1560.

– Agostinho de Hipona, Questões a Simpliciano 1,2,12 – J1572-1573.

– Agostinho de Hipona, O Espírito e a Carta 3,5s – J1729, J1735, J1742.

– Agostinho de Hipona, Homilias sobre João 26,2s – J1821, J1926, J1942.

– Agostinho de Hipona, A Graça e o Pecado Original 1,25,26 – J1854.

– Agostinho de Hipona, Admonição e Graça 11,32 – J1955, J1972

– Próspero de Aquitaine, A Graça de Deus 18,3 – J2038.

– Cirilo de Alexandria, Comentário sobre João 13,18 – J2113.

56
– João Damasceno, Fonte de Conhecimento 3,3,20 – J2367.

* Infalibilidade da Igreja:

– Ireneu de Lião, Contra as Herersias 3,4,1 – J213.

– Tertuliano de Cartago, Contra os Hereges 28,1 – J295.

– Agostinho de Hipona, Contra a Carta de Mani 5,6 – J1581.

– Pedro Crisólogo, Carta a Êutiques 25,2 – J2178.

* Tradição:

– Polícrates, Carta a Vítor de Roma 5,24,1 – J190a.

– Ireneu de Lião, Contra as Heresias 2,91,1 – J192,198,209.

– Ireneu de Lião, Contra as Heresias 3,3,2 – J210-213,226,242,257.

– Ireneu de Lião, Contra as Heresias 5,20,4 – J264.

– Tertuliano de Cartago, Contra os Hereges 19,3 – J291-296,298.

– Tertuliano de Cartago, Do Véu das Virgens 2,1 – J328a,329.

– Tertuliano de Cartago, Contra Marcião, 4,5,1s – J341,371.

– Hipólito de Roma, Contra a Heresia de Noeto 17 – J394.

– Orígenes de Alexandira, Doutrinas Fundamentais 1,Prefácio,2,4 – J443,445,785.

– Atanásio de Alexandria. Carta a Serapião 1,28 – J782.

– Foebad de Agen, Contra os Arianos 22 – J898.

– Basílio de Cesaréia, Transcrição da Fé 125,3 – J917.

– Basílio de Cesaréia, Do Espírito Santo 27,66 – J954.

– Basílio de Cesaréia, Da Fé 1 – J972.

– Gregório de Nissa, Contra Eunômio – J1043.

– Epifânio de Salamina, Contra Todas as Heresias 61,6; 73,34 – J1098,1107.

– João Crisóstomo, Sobre Romanos 1,3 – J1181.

– João Crisóstomo, Sobre 2Tessalonicenses 4,2 – J1213.

– Jerônimo, Diálogo entre Luciferianos e Cristãos 8 – J1358.

– Agostinho de Hipona, Carta a Januário 54,1,1.3 – J1419,1419a.

– Agostinho de Hipona, Contra a Carta de Mani 5,6 – J1581.

– Agostinho de Hipona, Do Batismo 2,7,12; 4,24,31 – J1623,1631.

– Agostinho de Hipona, Da Interpretação Literal do Gênesis 10,23,39 – J1705.

– Agostinho de Hipona, A Cidade Deus 16,2,1 – J1765.

57
– Agostinho de Hipona, Contra Juliano 1,7,30; 2,10,33 – J1898-1900.

– Inocênio I de Roma, Carta ao Concílio de Cartago 29,1 – J2015f.

– Teodoreto de Ciro, Carta a Florêncio 89 – J2142.

– Vicente de Lérins, Comonitorium 2,1; 9,14 – J2168,2169.

– Vicente de Lérius, Comonitorium 20,25; 22,27 – J2172-2175.

– Gregório I de Roma, Homilia sobre Ezequiel 2,4,12 – J2329.

– João Damasceno, Homilia 10,18 – J2390.

* Necessidade das Boas Obras:

– Ambrósio de Milão, Carta a Constâncio 2,16 – J1247.

– Agostinho de Hipona, Questões a Simpliciano 1,2,2.6 – J1569-1570.

Algumas notas finais acerca da Sola Scriptura e do inventor e fundador do


Protestantismo:

Martinho Lutero chegou a perceber o dano que a Sola Scriptura e a “interpretação


particular” da Bíblia estavam causando à sua “Reforma” e fez os seguintes
comentários:

– “Este não escuta sobre o Batismo, aquele nega o sacramento e aquele outro coloca
um mundo entre este e o último dia; alguns ensinam que Cristo não é Deus, alguns
dizem isto e alguns dizem aquilo; há tantas seitas e credos quanto o número de
cabeças. Nada é tão rude quanto aquele que tem sonhos e fantasias, e pensa por si
mesmo que foi inspirado pelo Espírito Santo, devendo ser um profeta” (De Wette
3,61; citado em O’Hare, “Os Fatos sobre Lutero”, p. 208).

– “Nobres, homens das cidades: os camponeses e todas as classes [dizem] entender o


Evangelho melhor do que eu ou que São Paulo. [Dizem que] são sábios agora e se
crêem mais doutos do que todos os ministros” (Walch 14,1360; citado O’Hare, Ibid, p.
209.)

– “Reconhecemos – como devemos – que muito do que eles (=os católicos) dizem é
verdade: que o papado possui a Palavra de Deus e o ofício dos Apóstolos, e que
recebemos as Sagradas Escrituras, o Batismo, o Sacramento e o púlpito deles. O que
saberíamos nós acerca disso se não fosse por eles?” (Sermão sobre o Evangelho de
São João, capítulos 14 a 16, pregado em 1537; “Obras de Lutero”, vol. 24, Sn. Louis,
Mo.:Concórdia, 1961, p. 304).Tudo isto e muito mais foi dito pelo fundador da Sola
Scriptura pouco tempo depois de ver o dano que causara e que continuava causando.
Nessa época, Zwínglio corria para um lado, Muntzer para um outro e Calvino para
um outro ainda todos eles dispersando as ovelhas e carregando uma parte do
rebanho. Lutero começara algo e não conseguiu mais parar.

“Uma vez que abres a porta ao erro, não podeis mais fechá-la”. Quanta verdade nesta
expressão! Lutero deu o primeiro exemplo!

Mais algumas declarações interessantes feitas por Martinho Lutero:

58
Sobre a Bem-Aventurada Virgem Maria:“O principal é que ela chegou a ser a Mãe
de Deus, processo no qual se lhe concederam tantos e tão grandes dons que ninguém
é capaz de compreender. Consequentemente, segue toda honra, toda bênção e o fato
de que sobre toda a raça humana apenas uma pessoa encontra-se por cima de todas
as demais, alguém que não é igual a ninguém mais. Por essa razão, sua dignidade
encontra-se completa em uma só frase, quando a chamamos de ‘Mãe de Deus’.
Ninguém pode dizer algo maior acerca dela ou a ela, inclusive se tivesse tantas
línguas quanto as folhas e fibras do pasto, as estrelas do céu e a areia das praias.
Deve-se ainda meditar no coração o que significa ser a Mãe de Deus” (Die Erklarung
des Magnificat; 1521).

O primeiro Protestante amava e honrava a Bem-Aventurada Virgem Maria, a Mãe


de Deus. Porque o Protestantismo não seguiu o seu exemplo em honrá-la? Frutos da
Sola Scriptura…

“Quando vier Ele, o Espírito da Verdade, os guiará até a verdade plena; pois não
falará por si mesmo, mas falará do que ouviu e anunciará a eles o que há de vir”(João
16,13).

A maioria das seitas protestantes afirma que o Espírito Santo está “ensinando-lhes”
a verdade. No entanto, só pode existir uma única verdade.

Desde a vinda da Sola Scriptura e da interpretação individual da Bíblia, como


poderia o Espírito Santo se encontrar em milhares de seitas, ensinando a cada uma
delas pontos de vista opostos? Deve-se observar que todas as denominações ensinam
com a mesma Bíblia; portanto, por que possuem diferenças em suas doutrinas?

• Como pode o Espírito Santo dizer aos Luteranos que na Eucaristia ,Cristo
está realmente presente se depois diz aos Batistas que é apenas um símbolo?
• Como pode o Espírito Santo dizer aos Metodistas que se deve ordenar
mulheres se depois diz aos mesmos Batistas que isto não é bíblico?
• Como pode o Espírito Santo dizer aos Adventistas do Sétimo Dia que o sábado
é o dia de se prestar culto se depois diz aos Presbiterianos que o culto deve se
dar no domingo e não no sábado?
• Como pode o Espírito Santo dizer aos Luteranos que a Santíssima Virgem
Maria foi e permaneceu sempre virgem se depois diz aos Batistas que ela teve
outros filhos?
• Como pode o Espírito Santo dizer aos Batistas: “uma vez salvo, sempre salvo!”
e depois dizer à Igreja de Cristo (denominação protestante) que a Sola Fides
é antibíblica?
• Como pode o Espírito Santo dizer aos Episcopais para batizar as crianças e
depois dizer aos Pentecostais que o batismo infantil é ínválido?
• Como pode o Espírito Santo dizer aos Mórmons que a Santíssima Trindade
são três pessoas separadas (três deuses) e depois dizer aos Metodistas que são
três Pessoas e um só Deus?

Poderia continuar aqui por muito tempo apontando as diferenças entre as seitas
protestantes, porém, creio que você já teve uma ideia. Requer-se um pouco de bom
senso para perceber que o Espírito Santo não poderia estar falando uma coisa a uma
e outras coisas opostas às outras seitas protestantes. Porém, já me foi dito que o bom
senso não é tão comum hoje. É fácil enxergar que os “frutos da Sola Scriptura” não

59
são de Deus, pois não há “um rebanho e um pastor” no Protestantismo. As doutrinas
opostas nestas denominações são claríssimas, todas elas causadas pela falsa
doutrina da Sola Scriptura e suas interpretações particulares das Sagradas
Escrituras, que a acompanha. Mas qual de todas essas seitas ensinaria TODA a
verdade, como prometeu Jesus Cristo em João 16,13?

“Nós somos testemunhas destas coisas e também o Espírito Santo, que tem dado a
Deus a todos que o obedecem” (Atos 5,32).

Quem, pois, obedece a vontade de DEUS? Os que dizem que a Sagrada Eucaristia
contém a “presença real” de Jesus Cristo encarnado, como os luteranos, ou os que
dizem que é “apenas um símbolo”, como os batistas? Aqueles que prestam culto no
sábado, ou que prestam culto no domingo? Os que batizam as crianças, ou os que
dizem que isto não deve ser feito?

Desafio a qualquer um que me explique como a Sola Scriptura pôde ter existido antes
da invenção da imprensa. Antes disso (1450), um monge demorava cerca de 20 anos
para copiar à mão uma Bíblia. O custo de cada uma delas era proibitivo e cerca de
95% da população era analfabeta e não tinha como ler a Bíblia. Então, aponte-me
como seria possível a Sola Scriptura! A resposta certamente é esta: era impossível!
Portanto, a Sola Scriptura não existiu e não se encontra nas Escrituras. Como
demonstrei, a origem da Sola Scriptura ocorreu durante a Reforma; com efeito, se
classifica como uma tradição humana e sujeita à condenação pelo próprio Jesus
Cristo, como lemos em Marcos 7,8. "A BÍBLIA INDICA QUE DEVEMOS ACEITAR
A TRADIÇÃO ORAL São Paulo recomenda e ordena a manutenção da Tradição Oral.
Em 1 Cor 11,2, por exemplo, lemos: Eu vos felicito por vos lembrardes de mim em
toda ocasião e conservardes as tradições tais como eu vo-las transmiti. São Paulo
está claramente recomendando que mantenham a tradição oral, e deve ser notado
em particular que ele congratula os fiéis por fazê-lo (Eu vos felicito...). Também é
explícito no texto o fato de que a integridade desta Tradição oral apostólica era
claramente mantida, da mesma forma como Nosso Senhor havia prometido, sob o
auxílio do Espírito Santo (cf. Jo 16,13). Talvez o mais claro apoio bíblico para a
Tradição oral seja 2 Ts 2,15, onde os cristãos são enfaticamente advertidos: Assim,
pois, irmãos, ficai inabaláveis e guardai firmemente as tradições que vos ensinamos,
de viva voz ou por carta. Esta passagem é significante porque: a) mostra uma
tradição oral apostólica vivente, b) diz que os cristãos estarão firmemente
fundamentados na fé se aderirem a estas tradições e c) claramente afirma que estas
tradições eram tanto escritas como orais. A Bíblia distintamente mostra aqui que as
tradições orais - autênticas e apostólicas em sua origem - deveriam ser seguidas como
componente válido do Depósito da Fé, então por quais razões ou desculpas os
protestantes a rejeitam? Com qual autoridade podem rejeitar uma exortação clara
de Paulo? Além do mais, devemos considerar o texto desta passagem. A palavra grega
krateite, traduzida aqui como guardar, significa estar firme, forte, prevalecer .Esta
linguagem é enfática, e demonstra a importância da manutenção destas tradições.
Obviamente, devemos diferenciar o que seja Tradição (com T maiúsculo), que é parte
da revelação divina, das tradições da Igreja (com t minúsculo) que, mesmo que sejam
boas, desenvolveram-se tardiamente na Igreja e não fazem parte do Depósito da Fé.
Um exemplo de algo que seja parte da Tradição seria o batismo infantil; um exemplo
de tradições da Igreja seria o calendário das festas dos santos. Tudo que venha da
Sagrada Tradição é de origem divina e são imutáveis, enquanto que as tradições da

60
Igreja são cambiáveis pela Igreja. A Sagrada Tradição serve-nos como regra de fé por
mostrar no quê a Igreja tem consistentemente crido através dos séculos e como ela
sempre entendeu uma determinada parte Bíblica. Uma das principais formas pelo
qual a Sagrada Tradição foi transmitida a nós está nas doutrinas dos textos litúrgicos
antigos, o serviço divino da Igreja. Todos já notaram que os protestantes acusam os
católicos de promoverem doutrinas novas e anti-bíblicas baseadas na Tradição, por
afirmarem que tal Tradição contém doutrinas que são estranhas à Bíblia.
Entretanto, esta acusação é profundamente falsa. A Igreja Católica ensina que a
Tradição Oral não contém nada que seja contrário à Tradição Escrita. Alguns
pensadores católicos afirmam, inclusive, que não há nada na Tradição Oral que não
seja encontrado na Bíblia, mesmo que implicitamente ou em formas seminais.
Certamente as duas estão em perfeita harmonia e complementam uma à outra. Para
algumas doutrinas, a Igreja faz uso da Tradição mais que pelas Escrituras para seu
entendimento, mas mesmo estas doutrinas estão incluídas nas Sagradas Escrituras.
Por exemplo, as doutrinas seguintes são preferencialmente baseadas na Sagrada
Tradição: batismo infantil, o cânon das Escrituras, o domingo como Dia do Senhor, a
virgindade perpétua de Maria e a assunção de Maria. A Sagrada Tradição
complementa nossa compreensão da Bíblia ao mesmo tempo que não constitui uma
fonte extra-bíblica de revelação, com doutrinas novas ou estranhas a ela. Muito pelo
contrário: a Sagrada Tradição age como a memória viva da Igreja, relembrando-a
constantemente o que criam os cristãos antigos, como entendiam e interpretavam as
passagens bíblicas . De certa forma, é a Sagrada Tradição que diz ao leitor da Bíblia:
“Você está lendo um livro muito importante, que contém a revelação de Deus aos
homens. Agora deixe-me explicá-lo como ela sempre foi entendida e praticada pelos
cristãos desde o início dos tempos. "

"A BÍBLIA QUALIFICA A IGREJA COLUNA E FUNDAMENTO DA VERDADE É


muito interessante que em 1 Tm 3,15 vemos não a Bíblia, mas a Igreja - isto é, a
comunidade viva de crentes fundada sob Pedro e os apóstolos e mantida pelos seus
sucessores - sendo chamada de coluna e fundamento da verdade. Claramente esta
passagem de modo algum significa diminuir a importância da Bíblia, mas sua
intenção é de mostrar que Jesus Cristo de fato estabeleceu um magistério autorizado
que foi enviado a ensinar todas as nações (cf. Mt 28,19) Em outro lugar esta mesma
Igreja recebeu de Cristo a promessa de que as portas do inferno não prevaleceriam
contra ela (cf. Mt 16,18), pois Ele sempre estaria presente (cf. Mt 28,20) e enviaria o
Espírito Santo para ensiná-la todas as verdades (cf. Jo 16,13). Ao chefe visível de sua
Igreja, São Pedro, Nosso Senhor disse: Te darei as chaves do Reino dos Céus. Tudo
que ligares na terra será ligado no céu; e tudo que desligares na terra será desligado
no céu (Mt 16,19). É evidente a partir destas passagens que Nosso Senhor enfatiza a
autoridade de Sua Igreja e a norma que deveria seguir para salvaguardar e definir o
Depósito da Fé. Também é evidente destas passagens que esta mesma Igreja seria
infalível, pois se em algum lugar de sua história a Igreja ensinou o erro em matéria
de fé e moral - ainda que temporariamente - cessaria de ser esta coluna e fundamento
da verdade. Pelo fato de todo fundamento existir para ser firme e permanente, e de
que as passagens acima não permitem a possibilidade da Igreja ensinar algo
contrário à reta fé e moral, a única conclusão plausível é que Nosso Senhor foi muito
preciso em estabelecer a sua infalibilidade quando chamou-a de coluna e fundamento
da verdade. O protestante, entretanto, vê aqui um dilema quando afirma que a Bíblia
é a única regra de fé para seus crentes. Qual a capacidade, então, da Igreja - coluna

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e fundamento da verdade - se não deve servir para estabelecer autoridade alguma?
Como a Igreja pode ser coluna e fundamento da verdade se não é palpável,
habitualmente prática para servir como autoridade na vida do cristão? O protestante
efetivamente nega que a Igreja seja o fundamento da verdade por negar que ela
possua qualquer autoridade para ensinar. Além disso, os protestantes entendem o
termo Igreja como sendo algo diferente do que entende a Igreja Católica. Os
protestantes vêem a igreja como uma entidade invisível, e para eles ela é a
coletividade de todos os cristãos ao redor do mundo unidos na fé em Cristo, apesar
das grandes variações nas doutrinas e alianças denominacionais. Os católicos, por
outro lado, entendem que não somente os cristãos unidos na fé em Cristo formam
seu corpo místico, mas entendemos simultaneamente que esta seja - e somente uma
- a única organização que possa traçar uma linha ininterrupta até os próprios
apóstolos: a Igreja Católica. É esta Igreja e somente esta Igreja que foi estabelecida
por Cristo e que tem mantido uma consistência absoluta em doutrina através de sua
existência, e, portanto, é somente esta Igreja que pode requerer ser a coluna e
fundamento da verdade. O protestantismo, por comparação, tem conhecido história
de fortes vacilos e mudanças doutrinárias, e nem mesmo duas denominações
concordam entre si completamente - mesmo quanto a doutrinas importantes. Tais
mudanças e alterações não permitem que sejam consideradas fundamento da
verdade. Quando os fundamentos de uma estrutura alteram-se ou são dispostos
inapropriadamente, este mesmo fundamento é fraco e sem suporte firme (Mt 7,26-
27). Pelo fato de o protestantismo ter experimentado mudanças tanto
intradenominacional quanto entre as diversas denominações que surgem
continuamente, estas crenças são como uma fundação que muda constantemente.
Tais credos então cessam de prover o suporte necessário para manter a estrutura
que sustentam, e a integridade dessa estrutura fica comprometida. Nosso Senhor
claramente não pretendeu que seus discípulos e seguidores construíssem suas casas
espirituais em tal fundamento instável.

"CRISTO NOS FALA PARA SUBMETERMO-NOS À AUTORIDADE DA IGREJA


Em Mt 18,15-18 vemos Cristo orientar seus discípulos em como corrigir um
companheiro. É dito neste exemplo que Nosso Senhor identifica melhor a Igreja que
as Escrituras como sendo a autoridade final a se apelar. Ele mesmo diz que se o
irmão pecador não ouvir a própria Igreja, seja para ti como o pagão e o coletor de
impostos (v.17) - isto é, como um excluído. Além do mais, Nosso Senhor re-enfatiza
solenemente a autoridade infalível da Igreja no v.18 repetindo Seu pronunciamento
anterior sobre o poder de ligar e desligar (Mt 16,18-19), dirigido desta vez aos
apóstolos como um colégio, um grupo, e não somente a Pedro: Em verdade eu vos
declaro: tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na
terra será desligado no céu (Mt 18,18). Claro que existem exemplos na Bíblia onde
Nosso Senhor apela às Escrituras, mas nestes casos Ele, como aquele que possui a
autoridade, estava ensinando as Escrituras; Ele não estava permitindo que as
Escrituras ensinassem a si mesmas. Por exemplo, Ele preferiu responder aos
escribas e fariseus usando as Escrituras precisamente porque estes tentavam
apanhá-lo usando as mesmas Escrituras. Nestes exemplos, Jesus geralmente
demonstra como os escribas e fariseus tinham más interpretações, então corrigia-os
mediante uma melhor interpretação escriturística. Suas ações não servem de
argumento para que a Escritura seja Sola, ou uma autoridade por si mesma e, de
fato, a única autoridade do cristão. Muito pelo contrário: em todo lugar que Jesus

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leva seus ouvintes às Escrituras, Ele também fornece o Seu entendimento infalível,
uma interpretação com autoridade, demonstrando que as Escrituras não podem
interpretar a si mesmas. A Igreja Católica prontamente reconhece a inerrância e
autoridade da Escritura. Porém a doutrina católica diz que a regra imediata de fé
dos cristãos é a autoridade do ensino da Igreja - uma autoridade para ensinar e
interpretar a Escritura e a Tradição, como mostra Mt 18,17-18. Também deve-se
notar que está implícita (ou talvez até explícita) nesta passagem de Mateus o fato de
que a Igreja deve ser visível, uma entidade palpável estabelecida sob uma linha
hierárquica. De outro modo, como alguém saberia a quem encaminhar o pecador? Se
a definição protestante de igreja fosse correta, então o pecador deveria escutar todos
os cristãos que existem, desejando que haja uma unanimidade entre eles acerca do
objeto da discussão. Transborda aos olhos o absurdo que esta interpretação causaria.
O único modo de tornar a afirmação de Nosso Senhor plausível é reconhecendo que
lá havia uma organização definida, com ofícios hierárquicos definidos, a quem um
apelo poderia ser feito e de onde um julgamento decisivo poderia ser dado.

Capítulo IX- O problema do Mal: uma refutação ao


trilema de Epicuro e a origem do Mal
O trilema de Epicuro
O trilema de Epicuro nada mais é do que uma pergunta pelo maior dilema filosófico-
religioso e existencial humano, por que existe o sofrimento? Começarei discorrendo
sobre uma história que aconteceu no Brasil, uma menina chamada Isabella Nardoni
que foi morta alguns anos atrás por um crime bárbaro, a menina fora lançada de um
andar de um prédio e essa menina além de ter sido lançada, tinha apanhado antes,
tinha várias marcas de agressão e de sangue, mas eu conto essa história não apenas
como uma ilustração fria de um tema, eu conto movido de íntima compaixão. Eu
pergunto, se eu estivesse ali vendo aquela cena, e não fizesse nada. Se eu visse, e não
fizesse nada para ajudar. Qual adjetivo você me daria por essa situação?
Provavelmente você diria que eu sou tão ruim como aquele que fez tal agressão. Se
Deus existe, Deus viu aquilo que aconteceu, e ele não fez nada, seria Deus tão ruim
como aquele agressor? Considerando outra situação, quando tem um acidente de
ônibus e minha mãe estava sentada graças a Deus num lugar que não sofreu o
impacto, eu chegaria a Igreja e agradeceria a Deus por ter livrado a minha mãe, mas
e os outros que morreram? A ideia central é, Se Deus existe, por que existe o mal?
Epicuro então, faz 3 postulados:

(1) Deus é todo-poderoso.

(2)Deus é onibenevolente.

(3) O mal existe.

Se Deus é todo poderoso e onibenevolente e o mal existe, a terceira aparentemente


anula as primeiras porque se o mal existe mesmo Deus sendo todo poderoso e

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podendo evitar que o mal exista então ele não é todo amor pois ele não evitou o mal
de existir mas se ele é todo amor e não gostaria que o mal existisse então ele não é
todo poderoso.

Em primeiro lugar, existe uma falácia nesse argumento que irei expor como ela se
mascara nesse argumento. Existe uma brincadeira que fala que 3 homens foram a
uma pizzaria e comeram uma pizza(Rogério, Ramon e André), no final, a pizza deu
25 euros. Então cada um deles deu uma nota de 10 euros, e ficou 30 euros. E o garçom
devolveu os 5 euros de troco em 5 moedas de 1 euro. Um dos rapazes decidiu que
daria uma moeda para cada um e as duas que sobram davam de gorjeta para o
garçom. Partindo dessa lógica, sabemos que cada um deu uma nota de 10 e recebeu
1 de troco, cada um no final gastou 9 euros. Fazendo as contas, 3x9=27 euros mais 2
euros do garçom fica 29, agora onde está o outro euro para chegar a 30? Na verdade,
isso é uma pegadinha apenas para fazer você perceber que tem certos problemas que
parecem insolúveis mas não são. É uma pegadinha matemática, a conta está errada
porque os 9 euros que cada um pagou já estava incluído a gorjeta do garçom então
tem que somar 9 com os 3 de troco e não com os 2. Tudo isso para mostrar que temos
que ter cuidado com algumas coisas que parecem ser lógicos mas não são.

Por que não tem lógica usar o sofrimento como argumento


contrário a Deus?
Irei dar 3 razões para mostrar que o mal não é argumento para negar a existência
de Deus.

Primeiramente, o fato de existir o mal, pode no máximo provar que Deus não é bom,
e não que ele não existe. O fato de Deus existir e existir sofrimento no mundo são
dois temas que não tem nada a ver um com o outro. Nenhum ateu pode em sã
consciência afirmar que há sofrimento no mundo logo Deus não existe. E se de
repente ele existe e é um brincalhão cósmico? E se ele existe e não é bom? E se ele
existe e comete erros? O fato de ter sofrimento no universo não prova que Deus não
existe, ele só pode no máximo lançar dúvidas sobre o caráter de Deus, mas não pode
provar que ele existe nem que ele não existe. Então quando alguém fala que é ateu
pois tem sofrimento no mundo é porque não entende absolutamente nada o que lhe
cerca. Ter sofrimento no mundo não tem nada a ver com deus não existir. Porque um
deus mal pode existir e mesmo assim terá sofrimento.

Segundamente, curiosamente falando, o sofrimento está cada vez maior e mesmo


assim ainda temos a maior parte da população acreditando em Deus. Se o sofrimento
fosse o principal argumento para negar a existência de Deus, o mundo devia ser hoje
98% ateu. “Ah mas as pessoas se voltam para Deus pois são fracos, a realidade sem
Deus é muito dura”, posso afirmar categoricamente que a última coisa que o mundo
quer hoje é que Deus exista, as pessoas querem fazer coisas erradas com a certeza
de que não tem nenhum juiz para puni-los no fim do mundo. O mundo hoje crê em
Deus por uma coisa além da sua vontade , porque em termos comportamentais, o
mundo está dizendo que não quer que Deus exista, porque se o mundo quisesse que
Deus existisse não haveria tanta gente traficando armas e drogas no mundo, o fato
de termos um mundo maiormente que acredita em Deus mas vive como se ele não

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existisse me mostra que a crença em Deus é muito maior que uma filosofia ou uma
necessidade, é algo que você não consegue se livrar dela fácil e o sofrimento não tem
conseguido silenciar essa voz. Nem Auschiwtz conseguiu tornar os judeus ateus, isso
é algo a se pensar, quer sofrimento maior que isso? A maior parte dos judeus ateus
são judeus que não passaram pelo Holocausto, existem estudos analíticos sobre isso,
que os judeus que foram ateus para os campos, voltaram ateus, e os judeus que foram
crentes, voltaram crentes, o Holocausto não mudou a crença em Deus.

Terceiramente, podemos usar neste tema a mesma base do argumento moral que
expliquei anteriormente, devido à natureza do mal. Certa vez, um professor
apologeta Ravi Zacharias estava dando uma aula numa Universidade e um aluno
levantou e disse:” Eu não posso acreditar que Deus exista, porque existe o mal no
Universo”, Ravi respondeu:”Você está dizendo que não pode acreditar que existe
Deus o bem supremo por causa do mal?, mas como você tem a noção do mal?, para
ter a noção do mal, é porque existe o bem, então existe o mal e existe o bem, e como
você sabe que existe o mal e o bem? Então deve ter algum código ético(valores morais
objetivos) acima da sua cultura que determina que há coisas boas e ruins,e para ter
esse código ético, tem que ter um codificador ou um legislador porque nenhum código
surge do nada, os códigos sempre tem alguém que cria-os, então tem um codificador
que criou algum código universal que nos dá a noção de coisas certas e errados, só
que como ateu você não acredita que não existe o legislador universal, se não existe
o legislador, não existe o código, se não existe o código, não existe a noção de certo ou
errado, se não existe a noção de certo e errado, qual foi sua pergunta mesmo?”.

Essas três razões me fazem supor que é uma falácia dizer que o mal é uma prova que
Deus existe.

Por que Deus permitiu o Mal?


Deus poderia criar uma pedra que nem ele pudesse carregar? Isso é outra falácia,
pois as pessoas que fazem este tipo de pergunta não entendem o significado bíblico
da palavra onipotência. Onipotência na bíblia significa que Deus pode fazer tudo que
esteja de acordo com seu caráter, Deus não entra em duelo com seu caráter, se Deus
pudesse criar um círculo quadrado, Deus não seria onipotente, ele seria ilógico, ele
seria louco, Deus pode fazer tudo que esteja dentro do seu caráter, e por ser
onipotente, a Bíblia dá uma série de coisas que Deus não pode fazer, Deus não pode
mentir, Deus não pode ser destruído, tem várias coisas que Deus não pode fazer
justamente por ser o Deus onipotente. Então a pergunta inicial é uma contradição
lógica. Pois o significado da palavra onipotência que as pessoas colocam para
confundir os cristãos, é uma onipotência ridícula, porque se onipotência é Deus poder
fazer TUDO indistintamente, então Deus pode ao mesmo tempo existir e não existir.
Mas se Deus fizesse essas coisas Ele seria ilógico. E por não entrar em duelo com seu
caráter, Ele criou seres com sua própria vontade e livres, e a partir desse momento
ele permitiu que surgisse a possibilidade desses seres se voltarem contra a sua
vontade. Então Deus, é responsável pela possibilidade do mal. Porque ele criou seres
livres que pudessem pecar. Ok, então ele é responsável. De certa forma, sim. Mas
quem pagou a maior conta? A maior conta quem pagou foi Deus e não a menina
Isabela e eu irei comprovar no final.

Deus sabia que o Mal viria a existir?


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Na igreja é contada a história de um anjo rebelde chamado Lúcifer que levou a terça
parte dos anjos com ele, e daí surgiu o mal. Deus sabia ou não sabia que Lúcifer ia
se rebelar? Então por que Deus criou Lúcifer? Lembra sobre a onipotência? Deus faz
tudo de acordo com seu caráter, se Deus só criasse os seres que não fossem voltar-lhe
as costas, o livre arbítrio seria uma ilusão. Exemplificando, imaginem que eu sou um
professor e falo para os alunos que no primeiro dia de classe que todo mundo pode
escolher se irão fazer a minha disciplina ou não. Então irei dar uma folha para cada
um e o aluno pode me dar uma nota 0 ou 10. Se o aluno der 10, eu sou um ótimo
professor, se der 0, eu sou um mau professor. E eu prometo aos alunos que irei levar
todas as notas para o diretor da escola saber a minha reputação com os alunos. Então
eu recolho todos as notas dos alunos e digo que o diretor irá saber sobre o que a turma
pensa a meu respeito e saio de sala. Só que entre a sala e o gabinete do diretor, eu
passo no meu escritório e sobre a mesa separo só as notas 10 e entrego apenas os 10
para o diretor e os que me deram 0, eu trituro e jogo no lixo. Chego ao gabinete do
diretor e digo: “Senhor Diretor, aqui está o que a turma pensa ao meu respeito”, 10
de cima a baixo. Qual adjetivo me classificaria se eu fizesse isso? Mentiroso,
desonesto porque eu disse a turma que todos poderiam livremente dizer o que
pensavam ao meu respeito mas só levo para o diretor os 10. Se Deus dissesse que nós
somos livres, mas só deixasse vir a existência aqueles que não negariam Seu reino,
ele também seria um mentiroso, ele só mostraria os 10. “Ah, mas ninguém ia saber”,
mas Deus sabe, e ele não duela com a sua vontade, por isso que ele permitiu que
Lúcifer viesse mesmo sabendo tudo que ele viria a fazer.

Lúcifer tornou o mal um fato, o mal era apenas uma potência metafísica, mas agora
se tornou uma realidade.Era desejo de Deus que o mal se tornasse uma realidade?
Não, não era, mas infelizmente aconteceu. Tudo que você vai realizar, existe em
potência na sua mente. Enquanto isso ainda está na sua mente, ele não pode ser
roubado, não pode ser destruído, pois existe em potência, mas quando tal coisa
acontece, isso deixa de ser uma potência para ser um ato, que agora pode ser
destruído e roubado. Deus não queria que o mal de potência se tornasse um ato, mas
uma vez que se tornou, Deus pode destruir o mal. E nesse conflito entre bem e mal,
surgiu a ausência de Deus. E a ausência de Deus traz a noção de mal. Existe uma
história que é atribuída a Einstein que fala que existia uma sala de aula e que um
professor perguntou aos alunos se Deus criou tudo o que existe e os alunos
responderam:”Sim professor”, e o professor respondeu “o mal existe, então Deus criou
o mal” e um desses alunos levantou a mão e perguntou: “O frio existe?”, “Claro que
existe”-responde o professor. “Não existe não, o professor de física disse que o que
existe é ausência de calor”- responde o aluno. Não existe o frio, não existe as trevas,
é ausência de luz que dá sensação da treva, as trevas não foram criadas, a luz é um
organismo que nasce, que surge, as trevas não, as trevas passam a ocorrer pela
ausência da luz, mas a treva não pode ser criada. Pode perguntar para qualquer
fisico, não tem como medir as trevas, velocidade das trevas, dimensão das trevas.
Mesma coisa o frio, é a ausência do calor. É a ausência de Deus que dá todo o
resultado a desgraça, a morte e ao sofrimento que vemos hoje. Os ateus alegam que
Deus não é amor pois Ele diz que todos tem que vir para o Seu reino senão Ele irá
destruir você no inferno, parece mais um namorado possessivo que dá beijos e
abraços em sua mulher mas se ela o deixar ele a mata. A comparação não procede
pelo seguinte, no caso do namorado, a menina pode namorar vários meninos, esse
não é o único. Então se ele acha que é o único, ele está sendo possessivo e doentio

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pois ela tem outras opções. No caso de Deus é diferente, quando Deus diz: “Viva em
mim, senão você vai morrer” não é porque existe outros deuses, é porque Deus é
único. É como se a água falasse pro peixe: “peixe, viva em mim, senão você vai
morrer”, a água não está sendo egoísta quando ela diz isso, é porque a água sabe que
o único lugar que o peixe pode viver é na água. A água não ameaça o peixe, é uma
constatação. Então quando Deus fala para viver nele não é uma ameaça , é uma
constatação porque senão você vai morrer pois não tem outra opção, não existe vida
fora de Deus.

Jó e o sofrimento de Deus
Na luta entre o bem e o mal, vem a briga pela humanidade. E o livro de Jó, o livro
mais famoso da bíblia a lidar com o sofrimento, Jó tem uma visão que mostra todo
esse quadro. “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora eu te vejo com meus próprios
olhos.” Jó 42:5. Quem pode ver a Deus? Será que existe um espaço que caiba Deus?
Qual é o único modo para se ver a Deus? Lutero dizia que os homens usam uma
máscara para se esconder, e Deus ao contrário usa uma máscara para se revelar,
pois Deus é tão grandioso que o modo dele se mostrar é se escondendo. Se Jó falou
“agora os meus olhos te contemplam” é porque Deus estava de uma maneira visível,
e Deus já antecipou para Jó o que iria acontecer no futuro depois de Jó quando Ele
se fez carne e habitou entre nós(Jesus). E o livro de Jó termina então nos dando duas
lições que fecham a questão do problema do mal. Primeiramente, existe um grande
conflito entre o bem e o mal, Deus permitiu que o conflito surgisse por amor a
liberdade que ele nos deu, se sofrermos demais, a gente não suporta e se sofrermos
de menos, não sabemos o quão mal é o mal e não nos desejamos nos livrar dele. A
prova maior de que Deus ama os homens, é que Deus não está usando o seu poder
mas sim o seu caráter nessa guerra. Se Deus lutasse com o diabo como Deus, não
haveria luta, a prova maior que Deus não luta com o diabo como Deus é a de que
existe a luta porque Ele é tão poderoso que se Deus lutasse com o diabo como Deus
não haveria conflito. Então em última instância, Deus não destrói o diabo com o
poder divino, Ele destrói o diabo com o Seu caráter e o Seu amor, Deus usou a
fraqueza Dele para vencer o mal, e não o poder Dele. Deus não usa o poder na batalha
com o mal, Ele usa o caráter, Ele vence o mal com a Sua palavra, com Seu caráter,
com Seu amor, e não com Seus raios senão não haveria conflito. E se Deus então
também se diminui para poder lutar, Ele também sai machucado. E a segunda lição
do livro de Jó, onde Jó diz que Deus não sabia o que Jó estava passando, mas depois
que Deus se mostrou a Jó, a luta do próprio Deus contra os dois monstros e Deus
saindo ferido e machucado, Ele diz:”Jó, Eu também entendo o que você está
passando, Eu também fui morto e crucificado, Eu não conheço o mal só por teoria,
Jó, Eu conheço o mal na minha carne, porque mesmo sendo onipotente, Eu sei o que
é não conseguir carregar uma cruz, mesmo sendo onisciente, eu sei o que é ficar por
um tempo sem saber o que vai acontecer, Eu sei,Jó , o que é chorar e não conseguir
conter o impulso do choro porque um amigo morreu(Lázaro)” mas a história não para
aqui, enquanto todo o nosso sofrimento será provisório, o preço que Jesus pagou será
eterno. Existem evidências bíblicas que dizem que Cristo ficará para sempre retido
a um corpo humano, Jesus não perdeu a sua divindade, mas pelo preço eterno da
minha e da sua salvação, ele ficará retido para sempre num corpo humano glorificado
porém humano, ainda com as marcas da crucificação. Aquela cicatriz que te
incomoda na ressureição vai sumir, a Dele ficará para sempre. Então quando

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perguntam por que Deus deixou o mal acontecer no universo, eu pergunto, quem
pagou o maior preço? Foi Ele, então Ele sabe o que é. Mas mesmo assim ainda
existem histórias tristes como a da menina Isabela, então eu termino então com um
outra história. Um menino estava lendo um gibi, e quando ele passava as páginas do
gibi, ele via que o herói apanhava do vilão, depois prendia o vilão, depois o vilão dava
um murro no herói, aquelas histórias de criança, e o menininho não aguentou mais
aquela angústia e colocou o dedinho na última página da história e todos nós sabemos
que no fim o herói sempre vence. Agora que ele viu que o herói vencia, ele voltou a
leitura de onde ele tinha parado e o vilão dizia para o herói: ”Hahá te peguei” o
menininho pensava “Não pegou nada, se você soubesse o que eu sei...”. A história da
menina Isabela ou qualquer história de sofrimento, desgraça e morte que qualquer
um de nós passamos hoje são apenas páginas de um livro que ainda não terminou de
ser lido e na última página, o Bem vence o mal. E eu tenho essa certeza e essa
convicção, por isso, eu também sofro mas posso pela fé dizer “Se você soubesse o que
eu sei...”. Eu estou na marca das mãos daquele que venceu o Behemoth e o Leviatã
por amor à mim.

Capítulo X-Todos os caminhos levam a Roma


Scott Hann:Um exemplo de humildade e de honestidade
intelectual
A prática da Lectio Divina(Leitura da Bíblia) é uma das devoções mais presentes na
vida dos santos. Por meio da meditação das Sagradas Escrituras, eles foram capazes
de encontrar a face de Jesus, que se revela a cada versículo lido. É por isso que,
querendo esmiuçar o valor dos Textos Sacros, São Jerônimo dizia a seus fiéis: “A
ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo" . Quem se põe a escutar a Palavra,
escuta, pois, a própria voz de Deus; faz como reza o salmista: “É tua face, Senhor,
que eu procuro" (cf. Sl 27, 8-9).

Diferentemente do que acusam os protestantes, a Igreja sempre incentivou a leitura


das páginas sagradas. Ao mesmo tempo, os santos padres nunca deixaram de insistir
numa leitura dentro da «tradição viva de toda a Igreja». Essa preocupação se deve ao
fato de que também a Bíblia, quando mal interpretada, pode conduzir o homem ao
erro. Que foram as tentações de Cristo no deserto senão “tentações bíblicas"?
Desafiou Satanás: “Se és o Filho de Deus, lança-te abaixo, pois está escrito: 'Ele deu
a seus anjos ordens a teu respeito; eles te protegerão com as mãos'" (cf. Sl 90, 11).
Quando se perde a dimensão eclesiológica das Sagradas Escrituras, perde-se, por
conseguinte, o próprio sentido das Escrituras, pois não seria possível crer em suas
palavras se a isso não nos levasse a autoridade da Igreja.

Assim se justifica a luta do Magistério contra a doutrina luterana da Sola Scriptura


(Somente a Escritura). Trata-se de uma defesa do sentido autêntico da Bíblia, de
uma defesa contra reducionismos baratos, manipulações desonestas,
fundamentalismos agressivos, que, no mais das vezes, levam grande parte dos
cristãos à perda da fé, como também muitos céticos e pagãos a recusarem os
ensinamentos evangélicos. Por outro lado, a prática da Lectio Divina, isto é, a leitura

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das Sagradas Escrituras realizada sob a luz da Tradição, longe de induzir os fiéis a
falsas devoções, abre-lhes um caminho seguro para o encontro com Cristo. Isso
porque, como definiam os Padres, “a Sagrada Escritura está escrita no coração da
Igreja, mais do que em instrumentos materiais" — «Sacra Scriptura principalius est
in corde Ecclesiae quam in materialibus instrumentis scripta». A religião cristã não
é a religião do livro mas da Palavra, que é Jesus. Essa Palavra, por sua vez, confiou
seu depositum fidei, quer por meio do testemunho oral, quer por meio do testemunho
escrito, à tutela de sua Igreja. Scott Hahn, ex-pastor protestante, também
experimentou essa verdade, assim como os santos, quando se decidiu por uma escuta
da Palavra de Deus, alicerçada na grande Tradição da Igreja. Em seu comovente
testemunho de conversão à fé católica, ele e sua mulher, Kimberly Hahn, contam
como foram surpreendidos pela fé bíblica da Igreja, sobretudo na Santa Missa:

“Então, subitamente, compreendi que era ali o lugar da Bíblia. Aquele era o ambiente
no qual esta preciosa herança de família devia ser lida, proclamada e explicada.
Depois passamos à liturgia Eucarística, onde todas as minhas afirmações sobre a
Aliança encontravam o seu lugar.”

Hahn foi um ferrenho opositor do catolicismo durante anos. Como pastor de linha
calvinista, ele pregava “que a Missa católica era o maior sacrilégio que um homem
podia cometer" . Essa convicção o motivava a converter o maior número de católicos
possível, a fim de retirá-los da idolatria. Seus estudos teológicos, por conseguinte,
tinham por objetivo principal refutar cada ensinamento católico, mormente a divina
liturgia, a autoridade do Papa e a devoção à Virgem Santíssima. Nada que a Igreja
Católica ensinasse poderia ser considerado bíblico.

Em 1979, poucos meses após a visita de João Paulo II aos Estados Unidos, Kimberly
Hahn apresentou ao marido o livro “Sexo e a aliança matrimonial", de John Kippley,
que versava sobre a moral católica e a contracepção. A coerência dos argumentos era
tão eloquente, que o casal, embora não admitindo ainda a verdade católica, viu-se
obrigado a abandonar os métodos anticoncepcionais. Esse foi o primeiro passo para
a reviravolta. Scott Hahn descobrira uma nova maneira de enxergar a Aliança de
Deus: ela não era apenas um contrato; Deus queria uma família. Após o episódio,
Scott Hahn deu início a um estudo para fundamentar biblicamente as teses da Sola
Fide — doutrina protestante que nega o valor meritório das boas obras — e da Sola
Scriptura. Ora, a Sola Fide e a Sola Scriptura são como que duas colunas do
protestantismo como eu expliquei em “Por que sou Apostólico Romano?” Toda a fé
protestante tem como ponto de partida esses dois preceitos básicos. A sua
fundamentação era, portanto, imprescindível para o pastor. Mas qual não foi sua
surpresa ao descobrir que ambas as teses luteranas não possuíam nenhum respaldo
das Sagradas Escrituras. De fato, a Igreja Católica estava certa! Com efeito,
conforme Scott Hahn se aprofundava em seus estudos, um a um iam caindo os
dogmas do protestantismo: a proibição do batismo de crianças, a negação das
imagens, o repúdio ao culto mariano etc. Scott iniciava o caminho para a Igreja.

Scott Hanh converteu-se à Igreja Católica na páscoa de 1986, mesmo sob forte
oposição de amigos e familiares. Anos mais tarde, seria a vez de sua mulher,
Kimberly, buscar a comunhão com a Igreja de Cristo, pedindo o batismo e os demais
sacramentos da iniciação cristã. Hoje, ambos ministram palestras em todo o mundo,
a fim de esclarecer os fundamentos bíblicos da Igreja Católica, bem como a riqueza

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de sua liturgia. Graças à sua história de conversão, Scott é considerado o “Martinho
Lutero às avessas". Ele descobriu que também a Bíblia leva-nos a Roma.

A santidade da Igreja
A Igreja é Santa em primeiro lugar pois é Santa sua cabeça. A Igreja é o corpo místico
de Cristo, Cristo é a cabeça da Igreja, Ele é santo, por isso a Igreja é santa. A doutrina
da Igreja é Santa pois é a palavra de Deus sem pecado, é o ensinamento que nos leva
para o céu, não a opinião das pessoas, não os desvios que podemos encontrar, mas a
verdadeira doutrina da Igreja é santa, santa é a palavra que nós anunciamos. Santos
são os sacramentos que nos levam a Graça de Deus, o Santo batismo, a Santíssima
eucaristia, o Santo matrimônio , a Santa confissão, o Santo crisma, santos são os
sacramentos que nos santificam, são as coisas santas que nós tocamos. Pelos
sacramentos, Deus nos toca, é por onde passa a graça de Deus e a Igreja é um
instrumento de salvação da humanidade. Então os sacramentos que fazem a igreja,
são santos, por isso a igreja é santa. A Igreja é santa também porque ela tem o
testemunho dos santos, aqueles que a Igreja coloca como exemplos não são os
pecadores, não são os falhos, são aqueles que depois de minuciosa investigação e
tendo comprovado a graça de Deus, a eleição de Deus através dos milagres, a Igreja
declara aquela pessoa santa que viveu radicalmente as virtudes cristãs. A vida dos
santos demonstra a nós a santidade da igreja, a vida dos santos faz resplandecer no
mundo o rosto de Cristo de modo visível, ao olhar um santo, nós podemos ver o que
a graça de Deus faz através da Santa Igreja, e só através dela. Deus manifesta
também a santidade da igreja através dos milagres, os milagres são as assinaturas
de Deus no mundo, ao ver os milagres vemos a manifestação da santidade de Deus
no mundo, vemos nos corpos incorruptos dos santos, mas somente na Igreja vemos
milagres permanentes como os milagres eucarísticos no caso de Lanciano na itália,
a hóstia que se transformou num pedaço de carne e o vinho que se tornou em sangue
há mais de 700 anos e continua lá incorrupto até hoje. São santas também as obras
da igreja, as obras de piedade, as ordens religiosas aquilo que a igreja realiza é para
a santificação do homem. Deus manifesta sua glória nos missionários, nas obras de
misericórdia, nas obras de caridade, o amor aos pobres da Irmã Dulce, a Igreja
Católica é a maior instituição de caridade do mundo com as escolas, com educação,
com hospitais, a Igreja católica através da santidade de Cristo presente nela, é
instrumento de amor para as pessoas.

Maria é Santa?
A primeira coisa que devemos falar em relação a devoção a Santíssima Virgem Maria
é que se nós formos comparar Deus e a Virgem Maria, a Virgem Maria não é nada
perto de Deus. Se o nosso ponto de vista fosse olharmos de cima para baixo(de Deus
para Virgem Maria), Maria é um nada, isso para nós católicos, é um ponto
fundamental. “Com toda a igreja confesso que Maria, não sendo mais que uma
simples criatura saída das mãos do Altíssimo, é menor que um átomo ou antes, não
é nada em comparação com a majestade infinita visto que só Deus é aquele que
é”.(Tratado da verdadeira devoção a santíssima virgem maria número 14). De Deus
para Maria, Maria não é nada. Mas esse não é o nosso ponto de vista, o nosso ponto
de vista natural é olharmos de baixo para cima e se nós olharmos de baixo para cima,
se olharmos com esse ponto de vista nós veremos que Maria está muitíssimo acima

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de nós, imensamente acima de qualquer criatura. Agora, como criatura, por maior
que ela seja é sempre criatura, e em comparação com Deus, não é nada. Os nossos
irmãos protestantes insistem que Maria não é nada diante de Deus, é evidente. Mas
você não é Deus, você não olha para Maria de cima para baixo, o protestante que se
coloca a olhar para Maria e desprezá-la como um nada está se colocando na posição
de Deus, é onde mora a soberba. Que Deus diga isso é perfeitamente justo, mas quem
você pensa que é de olhar para esta criatura imensa, magnífica, a mais perfeita de
todas as criaturas e dizer que ela é um nada. “Todas as gerações me chamarão de
bem-aventurada”( Lucas 1:48), e nós católicos obedecemos a bíblia, obedecemos a
palavra de Deus considerando Maria grandiosa.

Como provar que Maria é Santa na sagrada escritura? Como é que uma pessoa pode
dizer que Maria não é santa? Isso não entra na minha cabeça. Um anjo chega para
ela e diz “Ave, cheia de graça”(Lucas 1:28), e ainda tem pessoas que dizem que ela
não é santa.

O “simples fato” dela ser a Mãe do Salvador, já é uma grande prova de que ela é
santa. Não é qualquer mulher que poderia gerar em seu corpo, o corpo do Salvador.
Tem pessoas que alegam que o Sangue de Cristo tem poder e esquecem aonde foi o
princípio desse sangue que foi formado no ventre de Maria. Então se esse sangue tem
poder, reconheça que aonde ele foi formado também existe poder, porque é Deus que
fez Maria ser o que ela é. Nossa Senhora é tão santa que até o próprio Deus quis ser
prisioneiro nela, quando o Verbo se fez carne e habitou entre nós. O ventre de Maria
foi a atmosfera que envolveu o Verbo que se fez carne, isso é muito lindo, é potente.
Como é que pode alguém não acreditar que Maria é santa? Mateus 12:33 diz que é
pelo fruto que se conhece a árvore, se é pelo fruto que se conhece a árvore eu pergunto
para você, quem é o fruto de Maria? Jesus, “Bendita és tu entre as mulheres, bendito
é o fruto do teu ventre”(Lucas 1:42), no versículo 43 diz “ De onde me vem está honra
de vir até mim a mãe do meu senhor?”, Nossa Senhora leva a presença do Espírito
Santo, temos vários argumentos bíblicos que confirma isso, não aceitam porque não
querem, mas que é um fato, é. Salve Maria Santíssima!

Totus tuus Mariæ

Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem


Maria
Não tenhas medo de receber Maria.Nossa Senhora é o coração com o qual Jesus foi
acolhido neste mundo. Eva foi a Mulher, a Virgem, a Imaculada sem pecado, a Noiva.
Ela foi visitada por um anjo. Maria faz parte do plano de salvação de Deus. Se a
perdição entrou pela desobediência de Eva, Deus quis que a salvação entrasse, na
nossa vida, por uma Mulher.

“Deus quer precisar da Virgem Maria. E se Ele precisa dela, nós também
precisamos.” Nenhum católico tem dúvida: Jesus é o único mediador entre o homem
e Deus. E para que Ele seja o Mediador, é preciso que seja verdadeiramente Deus e
verdadeiramente Homem.

Jesus é a ponte, mas essa ponte quis Deus que passasse por uma porta. Como Eva
desobedeceu, Maria, obediente, disse: “Eis aqui a serva do Senhor”. A porta se abriu
e a salvação entrou no mundo por meio da Virgem Maria, que é a Porta do Céu! Ela

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é a porta pela qual passou o Mediador Universal. O que Deus nos diz, hoje, é o mesmo
que o anjo disse a José: “Não tenhas medo de receber Maria”. Foi Deus quem a deu
para nós. Ela não é uma mulher qualquer, Ela é a Mulher!

Quando admiramos Maria, ela se torna para nós o reflexo do amor de Deus.

O pecado original nos levou a ter medo de Deus. Nós somos como Adão e Eva,
escondidos atrás do arbusto, mas Deus enviou uma Mulher, porque ninguém tem
medo de se entregar nos braços de uma boa Mãe.

Diga para Nossa Senhora: “Mãe, eu estou com medo! Cuida de mim! No teu colo,
Mãe, cuida de mim!”. Se nós nos entregarmos a Maria, Ela vai nos entregar para
Deus. Quando nos aproximamos da lua, vamos, diretamente, para a luz do sol. Se
nos entregarmos para Nossa Senhora, já estaremos no coração de Deus. Não
tenhamos medo de nos entregarmos a Maria, porque ela nos entregará para Deus.”

A intercessão dos Santos


A intercessão dos Santos é uma prática que existe na Igreja Católica, mas que não é
reconhecida e não é aceita por muitas denominações cristãs.

Os Católicos pedem a intercessão, o socorro, a súplica dos Santos, os nossos irmãos e


irmãs que já se encontram com Deus na glória, igualmente os Anjos (São Miguel, São
Rafael, São Gabriel e todos os seus comandados).

O protestantismo diz que a prática da intercessão dos Santos não é bíblica. E mais
do que isso, ela fere a Palavra de Deus. O texto que eles apresentam para negar a
eficácia da intercessão dos Santos, o famoso texto, o principal texto é 1Timóteo 2,5-6
“pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo
Jesus, que se deu em resgate por todos. Este é o testemunho dado nos tempos
estabelecidos”.

Então eles dizem, como Jesus Cristo é o único mediador, os Santos, principalmente
Maria, não deveriam ser invocados para pedir a Jesus por nós. Segundo eles, quando
os católicos apelam para os Santos, esses Santos se intrometem na única mediação
de Cristo. Mas se lermos de novo o texto, veremos que esse raciocínio é falso.
Reparem o texto: ‘um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo’, mas os
Santos não são mediadores entre o Pai e os homens. Quem é o único mediador entre
Deus e os homens: Jesus Cristo. Ele disse ‘ninguém vem ao Pai senão por mim’. E é
verdade. O único Caminho, mediador, canal, meio, recurso de chegar ao Pai é por
meio de Jesus. A mediação tratada em 1Tm 2,5, refere-se a Nova e Eterna Aliança.
No Novo Testamento, é Cristo que nos reconcilia com Deus, através de seu sacrifício
na Cruz. É nesse sentido que Ele é nosso único mediador, pois somente através Dele
que recuperamos para sempre a amizade com Deus.

Os protestantes não entendem que os Santos não intercedem ao Pai diretamente. Os


Santos se dirigem a Jesus. E Jesus acolhendo as suas preces, as apresenta ao Pai.
Vejamos um exemplo: as pessoas que nos pedem orações.

Vejamos 1Timóteo 2,1-3 (São Paulo pede que nós rezemos pelos homens. Isso é
intercessão). A minha fé me impede de rezar somente por mim, devo rezar por mim
e por todos. Quando peço por mim eu faço uma súplica, quando peço pelos outros eu
intercedo. Interceder significa pedir por outra pessoa.

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Vejamos outra intercessão: Marcos 5, 22-23 (pede pela sua filha). A mesma coisa que
os Santos fazem quando no céu intercedem por nós.

Vejamos agora: Mateus 15,21-22 – alguém pede por outra pessoa a Jesus, e Ele aceita
as preces, acolhe as súplicas.

Muitos dizem é um absurdo dizer: Santa Maria rogai por nós pecadores. Vejamos se
é verdade: Atos 8,24 – (Simão pede que interceda por Jesus por si).

Vamos agora ao texto mais solene, mais eloquente, talvez o mais importante que
comprova o valor, a eficácia da intercessão dos Santos: João 2,1-11. É a intercessão
mais solene junto a Jesus na Bíblia.

Vejamos Romanos 15,30 (rogai por mim); 1Tessalonicenses 5,25 (pedido de


intercessão);Hebreus 13,18.

Quando apresentamos esses textos, um cristão não católico diz que aqui na terra nós
podemos interceder, orar uns pelos outros. Mas os santos morreram. E quem morreu
acabou-se. Quem morreu não está no céu ainda. Quem morreu não pode pedir por
ninguém. Conforme os textos: Eclesiastes 9,5.10. Esses argumentos são falsos. Por
quê?

• Quem morre na graça de Cristo, e que está totalmente purificado, entra


imediatamente no Paraíso. Vejamos Lucas 23,42-43; quem está nos céus
pedem por nós. Vejamos Apocalipse 6,9-11, Apocalipse 5,8 –as orações dos
santos; Apocalipse 8,3-4 (as orações dos santos) .E em outros tantos textos a
Sagrada Escritura nos mostra isso (cf. Is 14,9-10; 1Pd 3,19; Mt17,3; Ap 7,10).

Importante fazer a diferença entre Evocação dos mortos (proibida pela Bíblia Dt
18,9-14; Lv 20,6-27)e Invocação dos Santos. Os Protestantes dizem que quem
intercede por nós são os que estão vivos, e os que morreram não pode interceder, pois
estão dormindo e esperando a ressurreição. Vejamos como isso é falso.

De imediato, é bom lembrar que Cristo levou no mesmo instante o bom ladrão. Pois
ele disse: “hoje estarás comigo no paraíso”. (Lucas 23,43).

Em (Apocalipse 6,9-10) podemos ver que os mártires estão bem acordadões, não é
mesmo? e que Jesus não está mais sozinho no Paraíso. Na parábola do rico e de
Lázaro, observamos também que não dormem.

Os que já estão na glória de Deus podem interceder junto a Cristo por nós. É o que
veremos de agora em diante.

Os Anjos e os Santos intercedem a Deus por nós, os Santos no céu estão na mesma
condição dos Anjos, pois conservam as suas naturezas individuais e intelectuais, e
possuem a mesma Luz divina na qual vêem a Deus, e em Deus e tudo que a sua
mente pode conhecer “Na tua Luz veremos a Luz?” (Salmos 35,10). Por isso, a Bíblia
afirma que os Santos “julgarão o mundo” (1Coríntios 6,2). Para fazerem esse
julgamento devem conhecer os atos nele praticados. Portanto, os Santos conhecem
as nossas precisões e intercedem por nós como nossos amigos junto de Deus.

É o que lemos em várias passagens da Bíblia:

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• Em Jeremias lemos: “E o Senhor me disse: ainda que Moisés e Samuel se
apresentassem diante de mim, o meu coração não se voltaria para esse povo”
(Jeremias 15,1). Ora, Moisés e Samuel já não eram do números dos vivos, e
podiam, no entanto, interceder pelo povo.

Note-se que em (2 Macabeus 15,14), o próprio Jeremias, já falecido, é apresentado


como, quem “muito ora pelo povo e pela cidade santa”.

• No Apocalipse São João narra a visão que teve de Jesus Cristo em seu trono
de glória, e como, diante dEle, se apresentavam anciãos “com taças cheias de
perfume, que são as orações dos santos” (Apocalipse 5,8) (Apocalipse 8,4).
Esses anciãos significam os Santos da glória ao apresentarem a Jesus as
orações dos “santos da terra”, ou seja, os fiéis de Cristo nesse mundo. Trata-
se de uma forma de mediação secundária dos Santos entre Cristo e os seus
fiéis.
• No 1º livro dos Reis lemos que Deus prometeu a Salomão conservar para seu
filho (Davi) a tribo ou reino de Judá, “em atenção” e “por amor ao seu servo
Davi” (já morto) (1Reis 11,11-13). Isso significa que Deus toma em
consideração os pedidos dos seus amigos também do Céu, os Santos.
• Igual sentido tem a oração de Moisés pedindo a Deus que poupasse o povo
culpado em atenção aos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, todos já falecidos
(Êxodo 32,11-14).
• Ainda no 2º livro dos Reis a Bíblia narra o milagre da ressurreição de um
morto, ao contato com os ossos do profeta Eliseu (2 Reis 13,21).

Note-se que nesse texto está divinamente aprovada ainda a prática católica de se
guardarem com respeito as relíquias dos Santos, pois, também através delas Deus
pode nos conceder graças e favores.

• Na Parábola do pobre Lázaro e do rico, Jesus apresenta Abraão sendo rogado


pelo mal rico que fora condenado ao inferno (Lucas 16, 27). No caso, o mal rico
não podia ser atendido. Mas com esse fato Jesus significou a possibilidade de
se pedir ajuda aos amigos de Deus que estão no céu, pois o mal rico pediu
intercessão de Abraão.
• Se os santos da terra (os fiéis em Cristo) intercedem junto de Deus pelas
necessidades dos irmãos, conhecidos e desconhecidos (são incontáveis os casos
na Bíblia), quanto mais os Santos da glória que, na Luz divina, conhecem
perfeitamente as nossas precisões (como acima ficou provado). Eles
intercedem com certeza por nós junto de Deus. Ler ainda (Sabedoria 18,20-
22).

Para nós Católicos os santos já estão no Céu e podem interceder por nós (Apocalipse
6,9-10) (Apocalipse 5,9) (Apocalipse 14,3) e (Apocalipse 15,3)

Por fim, um argumento de reta razão ou do bom senso:

É conforme à natureza dos seres criados por Deus que os inferiores obtenham favores
dos superiores também pela mediação de amigos de ambos. A própria mediação de
Cristo tem por base este princípio. Ora, os Santos são amigos de Deus e nossos na
glória (Lucas.16,9). Logo, eles não só podem, mas realmente intercedem por nós junto
de Deus.

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Conclusão: aí estão alguns dos fundamentos bíblicos da prática católica da devoção
ou culto dos anjos e dos Santos. A isso os protestantes costumam apresentar que há
um só Mediador, Jesus Cristo (1Timóteo 2,5).

A isso se responde completando a citação no versículo 06 assim: “…o Qual Se


entregou em Redenção por todos”. Cristo é, sim, o único Mediador, mas “de redenção”.
O que não exclui a mediação de intercessão dos Anjos e Santos, como acima ficou
provado.

E mais: estando os Santos da glória na mesma condição dos Anjos, eles podem
também ser venerados como os Anjos o foram por homens justos ou seja, pelos fiéis,
conforme se lê na Bíblia.

Pelo fato de os habitantes do céu estarem unidos mais intimamente com Cristo,
consolidam com mais firmeza na santidade toda a igreja. Eles não deixam de
interceder por nós junto ao pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra
pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por conseguinte, pela
fraterna solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxilio.

Sendo os Santos amigos de Deus pela santidade, e nossos, pela sua perfeita caridade,
é justo que lhes tributemos os louvores que, sob esse duplo título, merecem; e que
nos recomendemos à sua intercessão junto de Deus. É justo, visto que neles também
se realiza, embora em grau bem menor, mas bem verdadeiro, o que disse de Si
mesma, mas cheia do Espírito Santo, a mais santa que todos os Santos, Maria
Santíssima:

“Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada, porque fez em mim grandes


coisas o Todo-Poderoso? “ (Lucas 1,48-49)

Vê-se, por essas palavras inspiradas, que o louvor dos Santos redunda em louvor e
glória de Deus, pois os Santos são obras-primas da sua sabedoria, bondade e poder.
Quando os louvamos, é a seu Autor que louvamos. De fato, sendo Deus admirável em
seus Santos, e os Santos, obra de sua graça (à qual eles corresponderam fazendo a
sua parte), Deus os ama sob esse título. Aliás, no preceito de “amar e honrar a Deus”
está incluindo o de amar e honrar a tudo o que Ele ama e honra, e segundo a ordem
com a qual Ele o faz.

E Deus ama, de modo especial, os seus Santos: a Jesus Cristo enquanto Homem,
depois a Nossa Senhora, e depois aos Anjos e todos os Santos da glória; e também às
santas almas do Purgatório. E depois, aos que ainda pelejam neste mundo. Todos os
homens e mulheres são vocacionados a uma vida de santidade. Esse é um chamado
comum e universal desde o início da humanidade, como está em Levítico 11,44: “Sede
santos porque Eu sou santo”, assim diz o Senhor. Nessa perspectiva, a Santa Igreja
Católica, em sua sabedoria e conduzida pelo Espírito Santo, enaltece alguns fiéis na
condição de santo por um processo de canonização em que se verifica e comprova a
prática heroica das virtudes e fidelidade à graça de Deus vivida nesta terra.

Dessa forma, nesses santos e santas de Deus pode-se dizer que “brilha a santidade
da Igreja” (Catecismo da Igreja Católica, 867), e essa os apresenta como “modelos e
intercessores” (CIC, 828) de todos aqueles que buscam um caminho de perfeição e
imitação de Cristo, pois “aquele que afirma permanecer n’Ele deve viver como Ele
viveu” (1Jo 1,8). Com isso, a devoção aos santos nos ajuda no percurso de santificação.

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A devoção autêntica não consiste em sentimentalismo estéril, passageiro ou em vã
credulidade, mas procede de uma fé verdadeira. Ser devoto não é adorar, mas
venerar a vida dos homens e mulheres de Deus que procuraram em tudo viver
conforme o Evangelho. Então, a devoção a um santo é uma forma de observar a
vivência de sua entrega total a Deus, de admirar e imitar o seu testemunho de
santidade e amor a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Os santos contemplam e louvam a Deus, e eles não deixam de velar por aqueles que
deixaram na terra. Ser devoto de um santo é ter esse auxílio, porque interceder é o
mais alto serviço que eles prestam ao plano de Deus. Portanto, a devoção nos orienta
na caminhada espiritual, onde também pedimos que eles intercedam por nós e pelo
mundo inteiro (Cf. CIC, 2683).

É possível uma amizade com nossos santos de devoção, sendo que eles são para nós
escola de santidade e amizade com o Amigo dos amigos. Assim, a devoção nos ensina
que tudo é graça de Deus, que não são somente os nossos esforços humanos que nos
levam à santidade, mas é a mão poderosa do Senhor que nos conduz, e “os santos
sempre tiveram viva consciência de que seus méritos eram pura graça” (CIC, 2011)
e não honras próprias.

A beleza do Catolicismo
Quando um Santo é santo, ele é bem visível, porque ninguém acende uma vela para
colocá-la debaixo do alqueire mas a coloca num candelabro para que ela brilhe e
ilumine toda a sala, porque “Fareis obras maiores do que estas, e brilhareis como
astros luminosos.”. E os nossos Santos são luminosos na História da Igreja, os nossos
Santos são lindos, é lindo ser católico, é lindo ter Santos que iluminam, que são faróis
e que nos dizem: existe vida sobrenatural, a Igreja de Cristo sobrevive as desgraças,
as pedofilias, as misérias, as traições, as heresias jamais “Non prævalebunt” não irão
prevalecer. Ela sobreviverá, nós temos a garantia do Cristo. Podem vir as
tempestades,cair as chuvas, mas a casa está firmada sobre a rocha firme do Cristo.

Ato de humildade
Se você chegou até aqui, e por acaso conseguiu encontrar a Deus e a Verdade, você
deve se rebaixar assim como toda pessoa humilde faz. Comece estudando e matando
todos os jargões que eu citei aqui que você já ouviu: inquisição sangrenta,
perseguição, caça às bruxas, adorar imagens, racismo e outras maluquices. Você pode
fazer isso maratonando a série: “Resposta Católica” do Padre Paulo Ricardo-qualquer
um consegue entender o que lá está.

Sobre a vida espiritual, você não vai encontrar nada em livros. Existe uma prática
chamada “Santo Terço” que foi o meu primeiro contato verdadeiro que eu tive com
Deus, rezando o terço com meus avós. Você pode rezá-lo todos os dias. São 20
minutinhos da sua vida e qualquer um é capaz. Um dos jargões sobre o terço é o de
que são “meras repetições de palavras”. Pois eu digo: da repetição se leva à perfeição.
Você, todos os dias lá, 20 minutos da sua vida, vai crescer espiritualmente. Pois
embora eu tenha exposto provas lógicas de Deus: Ele é a vivaz confiança. Fé é confiar
nEle, o que essas provas lógicas fazem é mostrar que é muito mais provável que Deus
exista do que Ele não existir.

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Crux Sacra sit mihi Lux

Conclusão
Non nobis, domine, sed nomini tuo da gloriam
Após refutar algumas falácias, esclarecer algumas dúvidas e expor todo o meu
conhecimento possível nessa área, conseguimos perceber que a fé não é irracional,
que Deus pode ser sustentado logicamente e que a Igreja Católica é a Igreja
verdadeira. E assim termino esse ensaio para a honra e glória do Senhor Jesus Cristo
e que se esse ensaio tocar no coração de apenas uma pessoa e servir para essa
conversão eu já estou em festa e o céu também. A paz de Cristo e o amor da
Santíssima Virgem Maria!

Christo Nihil Præponere João Ricardo Thomé

Bibliografia
-Catecismo da Igreja Católica.
-São Tomás de Aquino, Suma contra os gentios.
-Roger Scruton, O rosto de Deus.
-Scott Hahn, Razões para crer, Como entender, Explicar e defender a Fé
Católica
-Bruce Shelley, História do cristianismo: Uma obra completa e atual sobre a
trajetória da igreja cristã desde as origens até o século XXI
-G.K. Chersterton, A coisa: por que sou católico?
-Padre Júlio Maria de Lombaerde, O diabo, Lutero e o Protestantismo.
- Olavo de Carvalho, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota.
- Rodrigo Silva, O ceticismo da fé.
-São Tomás de Aquino, Suma Teológica.
-Padre Paulo Ricardo, vídeo “O protestantismo”
-Norman Geisler, Não tenho fé suficiente para ser ateu.
-Scott Hahn, Todos os caminhos levam a Roma.
-Padre Paulo Ricardo, A resposta católica.
-Thomas E. Woods, Como a Igreja Católica construiu a civilização Ocidental.
-Alexandre Varela, As verdades que nunca te contaram sobre a Igreja Católica

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-Padre Júlio Maria de Lombaerde, Luz nas trevas: erros e objeções
protestantes.
-G.K. Chersterton, Santo Tomás de Aquino.
-Alexandre Varela, As grandes mentiras sobre a Igreja Católica
-C.S Lewis, Cristianismo:Puro e Simples.
-Papa Bento XVI, Deus Existe?
-Ravi Zacharias, Jesus entre outros deuses
-São Luís Maria, Tratado da verdadeira devoção a Santíssima Virgem Maria
-Christopher Dawson, A divisão da Cristandade.
-Christopher Dawson, Criação do Ocidente.
-Padre Leonel França, A crise do mundo moderno.
-Santo Agostinho, Sobre o livre-arbítrio.
-Edward Feser, A última superstição: Uma refutação ao neoateísmo.
-Bíblia Sagrada
-Alvin Plantinga, Deus, a liberdade e o Mal.
-Leo Trese, A fé explicada.
-Aristóteles, Metafísica.
-Tomás de Kempis, Imitação de Cristo.
-Prof Felipe Aquino, Por que sou católico?
-Robert Davis, Escravos cristãos, senhores muçulmanos.
-William Craig, Apologética.
-Alister Mcgrath, Ciência e Religião: Fundamentos para o diálogo.
-Rodrigo Silva, Enciclopédia Histórica de Jesus.
-Padre Julio Maria, Ataques protestantes ás verdades católicas.
-J.N.D Kelly, Patrística.
-Alister McGrath, O delírio de Dawkins.
-Scott Hahn, O banquete do cordeiro.
-Padre Leonel França, Catolicismo e Protestantismo
-Catecismo Romano, O catecismo do Concílio de Trento.

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Legenda: Em sequência, Santíssima Virgem Maria; A volta do Salvador; São Miguel
Arcanjo e Jesus Crucificado.

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