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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

WILLIAM CORNETTA

A OBSOLESCÊNCIA COMO ARTIFÍCIO USADO PELO


FORNECEDOR PARA INDUZIR O CONSUMIDOR A REALIZAR
COMPRAS REPETITIVAS DE PRODUTOS E A FRAGILIDADE DO
CDC PARA COMBATER ESTA PRÁTICA

DOUTORADO EM DIREITO

São Paulo
2016
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Secretaria Acadêmica – Processamento de Dissertações e Teses

WILLIAM CORNETTA

A OBSOLESCÊNCIA COMO ARTIFÍCIO USADO PELO


FORNECEDOR PARA INDUZIR O CONSUMIDOR A REALIZAR
COMPRAS REPETITIVAS DE PRODUTOS E A FRAGILIDADE DO
CDC PARA COMBATER ESTA PRÁTICA

DOUTORADO EM DIREITO

Tese apresentada à Banca


Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção
do título de Doutor em Direito, sob a
orientação da Professora Doutora
Suzana Maria Pimenta Catta Preta
Federighi.

São Paulo
2016
Banca Examinadora:

______________________________

______________________________

______________________________

______________________________

______________________________
Dedico este trabalho aos meus
queridos pais, suportes e referências
constantes, que não mediram esforços
para que eu concluísse mais uma
etapa na minha vida.
Aos meus dois irmãos, Lilian e Luiz,
pelo apoio e incentivo que deram para
a conclusão deste trabalho.
Por fim, e acima de tudo, a minha
esposa Juliana, por todo amor,
amizade, companheirismo, suporte e
paciência durante a minha jornada na
PUC e por todo o tempo que estamos
juntos.
AGRADECIMENTOS

À Professora Suzana, por todas as lições de vida, pela sugestão do tema


deste trabalho e por todo o suporte durante a pesquisa, e principalmente por
tornar possível este passo tão importante.
Aos Professores Nelson Nery Júnior, Georges Abboud e Maria Helena
Diniz, por terem compartilhado o seu conhecimento.
Aos Professores Marcelo Gomes Sodré e Regina Vera Villas Boas, pelos
profícuos comentários e recomendações para este trabalho na banca de
qualificação.
Ao amigo Alessandro Silva, advogado, dos mais brilhantes, dotado de
uma personalidade ímpar.
Aos meus colegas da PUC/SP, Luiz Afonso, Flavia Orsi Leme e Renato
Cury, pelas longas discussões e todo o suporte durante a nossa jornada no
mestrado e no doutorado.
Agradeço, por fim, à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, por
me acolher.
“Os antigos egípcios construíram
monumentos para durar por gerações
sem fins, cerca de tudo que
produzimos na América do Norte é feito
para quebrar.”

(Giles Slade)
RESUMO

CORNETTA, William. A obsolescência como artifício usado pelo fornecedor para


induzir o consumidor a realizar compras repetitivas de produtos e a fragilidade do
CDC para combater esta prática. 2016. 186f. Tese (Doutorado em Direito)-
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, SP, 2016.

O tema pano de fundo deste trabalho é a sociedade de consumo, em especial a


obsolescência como técnica aplicada aos produtos. Considerando o contexto de
consumo descartável aceito e adotado pela sociedade atual, pretende-se
demonstrar que a obsolescência é um artifício utilizado na produção para induzir
ao consumo repetitivo e que os mecanismos reparatórios e protetivos previstos no
âmbito da legislação consumerista (CDC) são frágeis para defender o consumidor
contra essas práticas. Para tanto, será necessário conhecer o artifício da
obsolescência na prática e alguns cases que demonstram a sua presença nos
produtos colocados no mercado, para, a partir daí, analisar a existência ou não de
mecanismos preventivos ou reparatórios no CDC para a proteção do consumidor.
Como apoio metodológico, a pesquisa adota como principais instrumentos o
raciocínio dedutivo e a técnica de pesquisa bibliográfica. Após a introdução, o
referencial que dá suporte ao estudo se desenvolve em sete capítulos,
especificamente para: tratar de sociedade de consumo, história, conceito e
tipologia da obsolescência, e aplicação do artifício da obsolescência na sociedade
segundo a tipologia de Giles Slade (obsolescência técnica, obsolescência
psicológica e obsolescência programada); e confrontar cada modalidade de
obsolescência com os mecanismos preventivos e reparátorios dispostos no CDC
para constatar a existência ou não (fragilidade) de proteção do consumidor nesta
seara. O estudo também coteja alguns casos específicos como o caso de Ford vs.
General Motors, moda e design, Cartel de Phoebus, associação Windows e Intel,
entre outros. Como conclusão, pode-se dizer que a obsolescência é o recurso ou
estratégia utilizado por muitos fornecedores para induzir os consumidores a
realizar compras repetitivas de produtos motivados por fatores psicológicos,
tecnológicos, funcionais ou mercadológicos, e que o CDC não dispõe de
mecanismos preventivos ou reparatórios robustos para a defesa do consumidor
contra práticas deliberadas de obsolescência programada.

Palavras-chave: Direito do consumidor. Sociedade de consumo. Produto.


Obsolescência.
ABSTRACT

CORNETTA, William. The obsolescence as an artifice used by supplier to induce


consumer to perform repetive purchases of products and the fragility of Brazilian
Consumer to combat this practice. 2016. 186p. Doctoral thesis (Ph.D. in Law)-
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, SP, 2016.

The background theme of this work is the consumer society, in particular the
obsolescence as a technique applied to products. Considering the disposable
consumer context accepted and adopted by the current society, we intend to
demonstrate that obsolescence is an artifice used in the production to induce
repetitive consumption and at the same time the protective and reparatory
mechanisms provided for under the Brazilian Consumer Law (“CDC”) are fragile to
protect consumers against such practices. Therefore, it must be understood the
artifice of obsolescence in practice and some cases will be used to demonstrate
their presence in products placed on the market, from there, analyze the existence
of preventive or reparatory mechanisms at the CDC for consumer protection. As
methodological support, research adopts the main instruments deductive
reasoning and the technical literature. After the introduction, the framework that
supports the study develops into seven chapters, specifically for: dealing with
consumer society, history, concept and typology of obsolescence, and application
of device obsolescence in society according to the typology of Giles Slade
(obsolescence technical, psychological obsolescence and planned obsolescence);
and confront each obsolescence mode with preventive mechanisms and willing
reparatory the CDC to establish the existence or not (brittleness) of consumer
protection in this endeavor. The study also collates some specific cases such as
the case of Ford vs. General Motors, fashion and design, Phoebus Cartel,
Windows and Intel Association, among others. In conclusion, it can be said that
obsolescence is the resource or strategy used by many providers to induce
consumers to perform repetitive purchases of products motivated by psychological
factors, technological, functional or mercadológicos, and the CDC has no
preventive mechanisms or robust reparatory for consumer protection against
deliberate practice of planned obsolescence.

Keywords: Consumer law. Consumer society. Product. Obsolescense.


RÉSUMÉ

CORNETTA, William. Le obsolescence comme un artifice utilisé par le fournisseur


pour inciter le consommateur à effectuer des achats répétitifs de produits et de la
fragilité du droit des consommateurs pour lutter contre cette pratique. 2016. 186f.
Thèse (Docteur en droit). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São
Paulo, SP, 2016.

Le thème de fond de ce travail est la société de consommation, notamment


l'obsolescence comme une technique appliquée aux produits. Compte tenu du
contexte de consommation jetable acceptée et adoptée par la société actuelle,
nous avons l'intention de démontrer que l'obsolescence est un dispositif utilisé
dans la production pour induire la consommation répétitive, cette
mécanisme réparatrices et protection prévus par la
législation brésilien consumériste ("CDC") sommes fragiles à protéger les
consommateurs contre de telles pratiques. Par conséquent, vous devez connaître
l'artifice de l'obsolescence dans la pratique et certains cas qui démontrent leur
présence dans les produits mis sur le marché, à partir de là, d'analyser l'existence
de mécanismes de prévention ou réparatrices à la CDC pour la protection des
consommateurs. Comme appui méthodologique, la recherche adopte les
principaux instruments de raisonnement déductif et la littérature technique. Après
l'introduction, le cadre qui prend en charge l'étude se développe en sept chapitres,
en particulier pour: faire face à la société de consommation, l'histoire, le concept et
la typologie de l'obsolescence et l'application de cette obsolescence sur la société
selon la typologie de Giles Slade (obsolescence technique, l'obsolescence
psychologique et l'obsolescence programmée); et faire face à chaque mode
d'obsolescence et leur mécanismes de prévention et réparatrices prêts CDC pour
établir l'existence ou non (friabilité) de protection des consommateurs dans cette
mécanisme. L'étude rassemble aussi des cas spécifiques tels que le cas de Ford
vs. General Motors, de la mode et du design, Phoebus Cartel, Windows et Intel
Association, entre autres. En conclusion, on peut dire que l'obsolescence est la
ressource ou la stratégie utilisée par de nombreux fournisseurs pour inciter les
consommateurs à effectuer des achats répétitifs de produits motivés par des
facteurs psychologiques, technologique, fonctionnelle ou du marchés, et la CDC
n'a pas de mécanismes de prévention ou réparatrices robuste pour la protection
des consommateurs contre la pratique délibérée de l'obsolescence planifiée.

Mots-clés: Droit de la consommation. Société de consommation. Produit.


Obsolescence.
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Ciclo de vida do produto..........................................................................83


Gráfico 2 – Média de vida das lâmpadas, em número de horas (1926-1934) .........112
Gráfico 3 – Vício do produto e prazo de garantia ....................................................117
Gráfico 4 – Assistência técnica de produtos fora do prazo de garantia ...................118
Gráfico 5 – Tempo de aquisição dos eletroeletrônicos ............................................121
Gráfico 6 – Percentuais de entrevistados que adquiriram o eletroeletrônico
(primeira aquisição e mais de uma aquisição) ........................................................122
Gráfico 7 – Expectativa de troca no primeiro ano de aquisição – por tipo de
aparelho...................................................................................................................123
Gráfico 8 – Tempo mínimo de duração dos bens adquiridos – por tipo...................124
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Ciclo de vida – Indivíduo x Produto ........................................................82


Quadro 2 – Razão pela qual o consumidor não procurou uma assistência
técnica .....................................................................................................................118
Quadro 3 – Razão pela qual o consumidor não efetivou o conserto na assistência
técnica .....................................................................................................................119
Quadro 4 – Vício(s) apresentado(s) e tempo de uso ...............................................120
Quadro 5 – Preocupação com a durabilidade no momento de aquisição de
um eletroeletrônico ..................................................................................................123
LISTA DE SIGLAS

AAAA – Comitê de Definições da American Association of Advertising Agencies


ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ALT – Accelerated Life Test
Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APAS – Associação Paulista de Supermercados
CDC – Código de Defesa do Consumidor
CEE – Conselho das Comunidades Européias
Conmetro – Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial
EUFIC – European Food Information Council
Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
ISO – International Organization for Standardization
MTBF – Mean Time Between Failures
OCDE – Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico
STJ – Superior Tribunal de Justiça
TI – Tecnologia de Informação
USDA – United States Department of Agriculture
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14

1 CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE DE CONSUMO: DOS OBJETOS AO


CONSUMO MODERNO DESCARTÁVEL ......................................................... 19

2 OBSOLESCÊNCIA ......................................................................................... 33
2.1 HISTÓRIA DA OBSOLESCÊNCIA ............................................................... 35
2.2 CONCEITO DE OBSOLESCÊNCIA ............................................................. 45
2.3 TIPOLOGIA DA OBSOLESCÊNCIA ............................................................. 51
2.3.1 Estudo do Comitê Econômico e Social Europeu sobre
obsolescência ................................................................................................... 60
2.3.2 A tipologia de classificação de Giles Slade como base para comprovar
a presença da obsolescência no mercado brasileiro .................................... 63

3 PRODUTOS E OBSOLESCÊNCIA ................................................................. 64


3.1 CLASSIFICAÇÕES DE PRODUTOS .......................................................... 65
3.1.1 Produtos duráveis e não duráveis ......................................................... 65
3.1.2 Produtos perecíveis ................................................................................ 67
3.1.3 Produtos descartáveis ............................................................................ 68
3.1.4 Produtos indissociáveis e dissociáveis ................................................ 69
3.2 CLASSIFICAÇÕES DE PRODUTOS E OBSOLESCÊNCIA ........................ 71

4 OBSOLESCÊNCIA TÉCNICA......................................................................... 72
4.1 COMO O ARTÍFICO É COLOCADO EM PRÁTICA PELO FORNECEDOR 72
4.2 CASOS DE OBSOLESCÊNCIA TÉCNICA ................................................... 73
4.2.1 Ford versus General Motors – Caso 1 ................................................... 73
4.3 ANÁLISE DOS MECANISMOS PREVENTIVOS OU REPARATÓRIOS
DISPONÍVEIS NO CDC ...................................................................................... 74

5 OBSOLESCÊNCIA PSICOLÓGICA ............................................................... 78


5.1 COMO O ARTÍFICO É COLOCADO EM PRÁTICA PELO FORNECEDOR 78
5.2 CASOS DE OBSOLESCÊNCIA PSICOLÓGICA .......................................... 85
5.2.1 Ford versus General Motors – Caso 2 ................................................... 85
5.2.2 Obsolescência e moda ............................................................................ 86
5.2.3 A questão do “design” ............................................................................ 90
5.3 ANÁLISE DOS MECANISMOS PREVENTIVOS OU REPARATÓRIOS
DISPONÍVEIS NO CDC ...................................................................................... 91

6 OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA ............................................................ 103


6.1 COMO O ARTÍFICO É COLOCADO EM PRÁTICA PELO
FORNECEDOR ................................................................................................ 103
6.2 CASOS DE OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA ....................................... 109
6.2.1 A centenária lâmpada de Livermore e o Cartel Phoebus ................... 109
6.2.2 Windows e Intel = Wintel ....................................................................... 114
6.2.3 PROTESTE: Pesquisa sobre garantia de produtos ............................ 116
6.2.4 Pesquisa Idec e Market Analysis: desempenho, durabilidade
e ciclo de vida de eletroeletrônicos .............................................................. 120
6.3 ANÁLISE DOS MECANISMOS PREVENTIVOS OU REPARATÓRIOS
DISPONÍVEIS NO CDC .................................................................................... 125

7 PROPOSTAS PARA A SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS APONTADOS ...... 156


7.1 PROJETO DE LEI N. 5.367/2013 e N. 3.903/2015..................................... 156
7.2 RESOLUÇÃO BELGA 5-1251/1 ................................................................. 158
7.3 PROJETO DE LEI N. 429 DA FRANÇA ..................................................... 159
7.4 REPAIR CAFÉ ............................................................................................ 160
7.5 PHONEBLOKS ........................................................................................... 161

CONCLUSÃO................................................................................................... 163

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 171


INTRODUÇÃO

A temática que direciona a presente pesquisa abrange o modelo de


produção capitalista que frutificou com a Revolução Industrial, a sociedade de
consumo e, propriamente, a obsolescência como técnica que provoca o
encurtamento da vida útil de produtos.
Uma ligeira contextualização do estudo começa registrando que a relação
entre artefatos e pessoas iniciou na Antiguidade, quando os primeiros eram meros
objetos para auxiliar a sobrevivência dos seres humanos. A história do consumo,
que também acompanha o desenvolvimento humano, começa na Idade Média,
quando se nota a alteração da forma tradicional de compras de produtos até então
realizadas – apenas para atender às necessidades da família – para um consumo
voltado ao imediatismo, ao individualismo e ao hedonismo.1
O consumo moderno é resultado da evolução histórica da sociedade e
iniciou no século XVI na Europa quando os nobres passaram a gastar com roupas,
ornamentos, entre outros, criando uma competição social cujo objetivo era ganhar
a atenção da realeza e em troca receber prestígio, apoio financeiro. Este
movimento do consumo espalhou os seus efeitos para toda a sociedade,
inicialmente incorporou as classes sociais e, depois, enraizou-se na sociedade.
A sociedade industrial, que nasceu com a Revolução Industrial, foi um
fenômeno voltado para a definição de novos métodos de produção do trabalho,
organização da produção e uso intensivo de máquinas de modo a permitir a
fabricação de produtos em larga escala.
A sociedade industrial e a sociedade de consumo são complementares. A
primeira é responsável por transformar recursos em produtos destinados aos
consumidores. A segunda é responsável por consumir produtos e gerar recursos
para os fornecedores.
Nesse novo cenário, os artefatos se transformaram em produtos e
ingressaram nas relações de consumo realizadas pelas pessoas, cotidianamente e

1
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo. Tradução: Fernanda Eugenio. 1. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2003. p. 1.
15

diversas vezes ao longo do dia. Essa dinâmica, observa Almeida 2, faz o consumo
tornar-se parte indissociável da vida do ser humano, independente da classe social
e da faixa de renda a que pertença.
Na ciranda do consumo entre fornecedores e consumidores, os primeiros,
inspirados no modelo capitalista, têm buscado a maximização do lucro.
Inicialmente, passaram a reduzir seus custos, otimizar a operação, melhorar seus
processos internos, logistícios e de fabricação com o objetivo de aumentar os
ganhos, mas esses esforços não foram suficientes e a busca do lucro máximo se
tornou uma corrida desenfreada. Com o propósito de aumentar as vendas, outras
estratégias passaram a ser utilizadas para criar produtos individualizados e
estimular as compras repetitivas.
As técnicas de marketing são muito importantes para saciar o desejo do
fornecedor de vender cada vez mais. Mas não é só. Hoje são aplicadas técnicas
de obsolescência aos produtos para induzir o consumidor a realizar compras
repetitivas.
A obsolescência fica caracterizada quando o fornecedor lança uma nova
versão do produto com uma nova funcionalidade, quando cria fatores
mercadológicos, psicológicos ou, ainda, quando lança mão de métodos de
persuasão para influenciar o consumidor a considerar o produto que já possui
menos atrativo e então realizar a compra de um novo para substituir o anterior. No
caso extremo, o fornecedor deliberadamente usa a sua engenharia, o seu know
how, para introduzir no produto mecanismos que concorram para a redução da sua
vida útil, que pode resultar na impossibilidade de manutenção ou uso de partes e
peças de menor qualidade, ou mesmo fazer com que o produto, a partir de
determinado tempo de uso, torne-se incompatível com o padrão daqueles mais
novos colocados no mercado. Essas estratégias e técnicas persequidas por muitos
fornecedores para inflar suas vendas têm nome: obsolescência.
A constatação de que navegam no mar do mercado do consumo produtos
feitos para “quebrar” ou para durar pouco foi o que deu guarida ao presente
estudo, em especial quando se verifica que, pelo lado da doutrina, a obsolescência

2
ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. 3. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2002. p. 1.
16

de produtos ainda é pouco explorada, e não só no Brasil, principalmente quando


temas como mercado de consumo e proteção do consumidor se embatem.
A pertinência de realização deste estudo ainda se ancora no fato de que no
atual modelo de sociedade de consumo emerge a ideia de produto descartável, ou
seja, a sociedade passa a aceitar a possibilidade da utilização de um produto por
uma única vez e descartá-lo em seguida. Por outro lado, os fornecedores,
aproveitando-se do cenário “favorável” a um maior consumo, buscam cada vez
mais fazer vendas repetitivas, lançando mão da redução da vida útil dos próprios
produtos que disponibilizam no mercado.
Apesar de o foco deste estudo ser a obsolescência de produtos no
mercado de consumo, não é demais lembrar o viés ambiental de suas
consequências: primeiro, porque os recursos naturais do planeta são finitos e a sua
constante retirada como matéria-prima para a produção pode causar a exaustão;
segundo, porque grande parte dos produtos substituídos são descartados,
agravando o problema do lixo em todo o mundo. É, portanto, necessária e urgente
a conscientização de todos de que esse modelo compromete a sobrevivência das
presentes e das futuras gerações.
Dentro do contexto da atual sociedade de consumo, o estudo busca, em
primeiro plano, demonstrar que o artifício da obsolescência também está presente
no mercado de consumo brasileiro e conhecer os reflexos das distintas práticas de
obsolescência para o consumidor; em segundo plano, o objetivo é verificar se a
legislação consumerista pátria – materializada no Código de Defesa do
Consumidor (CDC) – é suficiente e efetiva relativamente a aspectos preventivos e
reparatórios de proteção e defesa do consumidor em face da obsolescência.
Acrescente-se a importância de se demonstrar que a obsolescência é um
fenômeno que foi criado no mercado de consumo dentro de uma sociedade de
hiperconsumo industrial e capitalista, e que pode ser aplicada em qualquer tipo de
produto.
Metodologicamente, a pesquisa se orienta pelo método de procedimento
monográfico3 e pelo raciocínio dedutivo4, abordagem esta que procura

3
Esse método se aplica a “[...] qualquer caso que se estude em profundidade pode ser considerado
representativo de muitos outros ou até de todos os casos semelhantes, o método monográfico
consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou
comunidades, com a finalidade de obter generalizações. A investigação deve examinar o tema
17

primeiramente compreender o tema proposto a partir do referencial teórico de base


que o circunda, para só então abstrair uma possível resposta ao problema
apresentado. Ainda, a técnica de pesquisa escolhida é a bibliográfica5, extraída de
fontes secundárias – doutrina especializada e jurisprudência pertinente, além de
dados estatísticos retirados de sítios oficiais de interesse. Com esses instrumentos
metodológicos será possível compreender não só questões relativas à vida útil, à
durabilidade e à obsolescência de produtos colocados no mercado, tendo em vista
a proteção e a defesa do consumidor albergadas pelo CDC – Lei n. 8.078, de 11
de setembro de 1990 –, mas também os artifícios utilizados por fornecedores com
o objetivo de induzir o consumidor a realizar compras repetitivas tendo por base a
tipologia de obsolescência desenvolvida por Giles Slade6.
No que tange à estrutura, o estudo se desenvolve em sete capítulos, onde
são abordados os distintos assuntos que perpassam o tema e dão corpo à
pesquisa. O primeiro trata dos aspectos históricos, desde a utilização dos primeiros
objetos pelos humanos, o nascimento do consumo, a consolidação da sociedade
de consumo, a chegada da sociedade de hyperconsumo e seu extremo de
sociedade de produtos descartáveis (Throaway society). O segundo capítulo
aborda a história da obsolescência, os conceitos de obsolescência e a tipologia de
Giles Slade como fundamento para as análises propostas neste estudo; na
sequência, apresenta o Estudo do Comitê Econômico e Social Europeu sobre o

escolhido, observando todos os fatores que o influenciaram e analisando-o em todos os seus


aspectos”. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos da metodologia
científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 108.
4
“O método dedutivo parte das teorias e leis consideradas gerais e universais buscando explicar a
ocorrência de fenômenos particulares. O exercício metódico da dedução parte de enunciados
gerais (leis universais) que supostos constituem as premissas do pensamento racional e deduzidas
chegam a conclusões. [...]” DINIZ, Célia Regina; SILVA, Iolanda Barbosa da. Metodologia
científica. Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN - EDUEP, 2008. p. 6.
5
“A pesquisa bibliográfica ou fonte secundária abrange toda bibliografia já publicada relacionada ao
tema em estudo, desde livros, jornais, revistas, monografias, dissertações, teses, incluindo outras
fontes como eventos científicos, debates, meios de comunicação como televisão, rádio, vídeos,
filmes etc. [...] é de fundamental importância porque consiste no primeiro passo de qualquer estudo,
tanto em nível lato sensu com stricto sensu. É através de uma pesquisa bem feita que se torna
possível a fundamentação de todos os dados de uma questão e, por conseguinte, oferece a
fundamentação teórica para o problema.” FIGUEIREDO, Antônio Macena de; SOUZA, Soraia Riva
Goudinho de. Como elaborar projetos, monografias, dissertações e teses. Da redação científica à
apresentação do texto final. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p. 88.
6
Giles Slade, jornalista canadense e grande crítico social, retomou o problema da obsolescência no
livro denominado “Made to break: tecnology and obolescence in America” (sem tradução para o
Português), em 2006, após concluir o doutorado em história cultural, na Univeridade de Southern
California. O livro foi responsável por trazer novamente o tema da obserlescência para o centro da
discussão sendo responsável inclusive por ter influênciado o documentário intitulado “Comprar,
tirar, comprar”, que será mencionado neste estudo.
18

tema. O terceiro capítulo basicamente examina se o artifício da obsolescência é


aplicável para todas as classificações de produtos no CDC, além de tecer
considerações sobre produtos descartáveis, que não estão contemplados no CDC.
Do quarto ao sexto capítulos, o foco é a teoria de Slade que classifica a
obsolescência em obsolescência técnica ou funcional, obsolescência psicológica,
perceptiva, progressiva ou dinâmica e obsolescência planejada ou programada. O
derradeiro capítulo apresenta algumas iniciativas que podem contribuir para a
solução dos problemas apontados: proposta para alteração de legislação sobre
obsolescência, constituição de grupos comunitários para reparo de produtos e
estratégia de incentivo a fornecedores para o desenvolvimento de produtos que
possam ser atualizados conforme a real necessidade e o devido tempo de vida útil,
sem encurtamentos artificiais.
19

1 CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE DE CONSUMO: DOS OBJETOS AO


CONSUMO DESCARTÁVEL

Alguns aspectos são de fundamental importância para o estudo da


obsolescência e da fragilidade da legislação consumerista no Brasil para proteger o
consumidor da prática da obsolescência. Um primeiro aspecto tem relação com o
consumo moderno e sua evolução, e isto implica identificar os fatores
determinantes que levaram a sociedade a comportar-se da maneira atual. Outro
aspecto que merece destaque é a análise da formação da sociedade de
hiperconsumo.
Essas abordagens permitem compreender a base que suporta o consumo
atual e a razão de na sociedade existirem questões relacionadas à obsolescência
de produtos.
Como observam Douglas e Isherwood, a base de qualquer estudo sobre
consumo deve levar em consideração o modelo capitalista de produção e a
sociedade industrial.7
O consumo não é algo imposto ao consumidor, é de sua livre escolha,
mesmo que seja “irracional, supersticioso, tradicionalista ou experimental” 8. Pode
ser entendido, segundo os autores, como “o uso de posses materiais que está
além do comércio e é livre dentro da lei” 9.
Forgioni, dissertando sobre o tema, comenta que o consumo é a base para
o mercado e para a produção; "sem consumo não há mercado, pois não há sentido
para a produção"10.
Antes de adentrar o estudo desses aspectos, é importante entender a
relação dos produtos com os seres humanos desde o início e como passaram a
fazer parte da vida cotidiana do consumo moderno.

7
DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. Mundo dos bens para uma antropologia do consumo.
Tradução Pínio Dentzien. 1. ed. 2 reimp. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 2009. p. 101.
8
DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. Mundo dos bens para uma antropologia do consumo, p.
101.
9
DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. Mundo dos bens para uma antropologia do consumo, p.
102.
10
FORGIONI, Paula Andrea. A evolução do direito comercial brasileiro: da mercancia ao mercado.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 221.
20

Os nossos ancestrais fizeram os primeiros instrumentos de pedra para


cortar carne, ossos e madeira, e foram justamente estas iniciativas que
diferenciaram os seres humanos dos outros animais.11
Muitos dos produtos que conhecemos hoje têm origem nesses primeiros
objetos. É como afirmam Petroski12, Eco e Zorzoli, “todas as ferramentas hoje
usadas se baseiam em coisas criadas na pré-história”13.
MacGregor corrobora:

[...] se quisermos contar a história do mundo inteiro, uma história


que não favoreça indevidamente nenhuma parte da humanidade,
não podemos fazê-lo usando apenas textos, pois durante a maior
parte do tempo, só uma fração do mundo teve textos, enquanto a
maioria das sociedades não teve. Escrever é uma das últimas
conquistas da humanidade, e, até bem recentemente, mesmo
sociedades letradas registravam preocupações e aspirações não
apenas em seus escritos, mas em suas coisas14.

Blainey relata que há dois milhões de anos, os ancestrais dos seres


humanos viviam na África e eram poucos; alimentavam-se principalmente de
frutas, nozes, sementes e outras plantas comestíveis, mas já começavam a
consumir carne; os implementos que utilizavam eram primitivos.15 O primeiro
objeto de que se tem notícia é a ferramenta de corte de Olduvai, criada há cerca de
1,8 a dois milhões de anos16, e a machadinha de Olduvai, que data de 1,2 a 1,4
milhões de anos17. Ambos os instrumentos foram encontrados na Garganta de
Olduvai, no território atual da Tanzânia, África.
Muito antes do comércio e do consumo como atualmente o concebemos,
os primeiros objetos desenvolvidos revelam a forma encontrada pelos nossos
ancestrais para controlar e transformar o meio ambiente com vistas a distintas
atividades: proporcionar alimentos melhores, fazer roupas a partir da pele de

11
NEIL, MacGregor. A história do mundo em 100 objetos. Tradução Berilo Vargas. 1 ed. Rio de
Janeiro: Intrínseca, 2013. p. 27.
12
PETROSKI, Henry. A evolução das coisas úteis, garfos, latas, zíperes e outros objetos do nosso
cotidiano. Tradução Carlos Irineu W. da Costa. Revisão técnica, Suzana Herculado-Houzel. Rio de
Janeiro: Jorgem Zahar, 2007. p. 12.
13
ECO, Umberto; ZORZOLI, G.B. The picture history of inventions: from plough to polaris. Nova
York: Macmillan, 1963. p. 11.
14
NEIL, MacGregor. A história do mundo em 100 objetos, p. 16.
15
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo: Fundamento Educacional, 2012.
p. 2.
16
NEIL, MacGregor. A história do mundo em 100 objetos, p. 27.
17
NEIL, MacGregor. A história do mundo em 100 objetos, p. 41.
21

animais, quebrar galhos para acender fogueira ou construir abrigos e acima de


tudo viajar e se deslocar nas savanas africanas.18
Com a evolução, os objetos primitivos logo se transformam em produtos.
Mesmo sem aprofundar o estudo da história do comércio, cujos primórdios estão
perdidos na obscuridade, conforme observa Day19, é importante saber que as
fronteiras e as hierarquias entre “valores de uso” e “valores de troca” sofreram e
podem sofrer mudanças ao longo do tempo.20 Significa dizer que um objeto se
torna um produto quando passa a ser valorado pela sociedade como algo que
pode ser trocado, ou seja, passa a ser comercializado; torna-se também um
produto de consumo quando passa a fazer parte de uma relação de consumo.
Os primeiros objetos acompanharam a evolução do homem e se
transformaram nos produtos que hoje estão disponíveis para os consumidores.
McCracken afirma que “o consumo moderno é, acima de tudo, um artefato
histórico. Suas características atuais são o resultado de vários séculos de profunda
mudança social, econômica e cultural no Ocidente”21.
O marco inicial da sociedade de consumo ocorreu no século XVI, época
em que novos hábitos, bens e práticas de consumo começavam a surgir,
principalmente em países como Inglaterra e França.22
O consumo é fruto da Revolução Industrial. McKendrick23 fala em
“revolução do consumidor”. Nas suas palavras:

A revolução do consumidor ocorreu na Inglaterra no século XVIII


junto com a Revolução Industrial. A revolução do consumo foi o
lado da demanda análoga ao da oferta proporcionada pela
Revolução Industrial. Todas as classes participaram desta
revolução, caracterizada por uma nova prosperidade e novas

18
NEIL, MacGregor. A história do mundo em 100 objetos, p. 43-44.
19
DAY, Clave. A history of commerce. New edition – reprinted. New York: Longmans, green and
Co., 1921. p. 9.
20
ROCHE, Daniel. História das coisas banais: nascimento do consumo nas sociedades do século
XVII ao XIX. Tradução de Ana Maria Scherer. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. p. 26.
21
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 21.
22
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 21.
23
MCKENDRICK, Neil. The consumer society. Bloomington: Indiana University Press, 1982. p. 9.
No original: “The consumer revolution occurred in England in the eighteenth century with the
Industrial Revolution. For the consumer revolution was the necessary analogue for the Industrial
Revolution, the necessary convulsion on the demand side of the equation to match the convulsion of
the supply side All classes participated in this revolution, characterized by a new prosperity and new
production techniques and marketing. The consumer revolution is decisive in the history of human
experience”.
22

técnicas de produção e marketing. A revolução do consumidor é


decisiva na história da experiência humana [Tradução nossa].

Três momentos históricos contribuíram para a formação do consumo


moderno, relata McCracken24.
O primeiro momento histórico do consumo data do fim do século XVI,
época que ocorreu um boom do consumo, causado por duas importantes
transformações neste período. Uma delas, quando Elizabeth I utilizou a despesa
como instrumento de governo com o objetivo de fazer da corte uma espécie de
desfile, de espetáculo teatral. A rainha consegue então persuadir a nobreza a
pagar uma boa parte da conta da cerimônia. A nobreza, consequentemente,
passou a gastar de maneira extravagante e a esbanjar recursos, ou seja, instalou-
se uma grande competição social na nobreza. Como os nobres dependiam de
favores reais para a sua sobrevivência, passaram a gastar cada vez mais com o
consumo de produtos no afã de se destacarem na corte perante a rainha e seus
pares.25
O segundo momento histórico ocorre no século XVIII, quando houve uma
explosão do consumo devido às novas oportunidades para compra de móveis,
cerâmicas, pratas, espelhos, tecidos etc. O consumo, na época, passa a ser mais
presente na sociedade e seus reflexos redefinem a organização e o papel do
status dos grupos sociais. Essa explosão do consumo integrou os grupos
subordinados, gerando o fenômeno do “tickle-down”, ou seja, a popularização do
consumo para as classes de mais baixa renda, que passou a ser explorado pelos
comerciantes da época.26
A terceira e última fase histórica ocorreu no século XIX, período em que o
consumo se enraizou na sociedade e já fazia parte da estrutura da vida social.
Nesta última fase, começam a surgir as lojas de departamentos, que mudaram de
modo especial os hábitos de consumo e o local onde as pessoas consumiam e
também forneciam todas as informações necessárias para a realização do

24
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 30.
25
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 1.
26
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 1.
23

consumo.27 Nas lojas de departamentos, as pessoas passaram a ficar mais


próximas dos objetos de seus desejos, o que permitiu a democratização do
consumo. Além disso, não mais se negociavam os preços, que eram afixados nos
próprios produtos. Ao consumidor cabia aceitar ou não o valor atribuído ao produto
desejado e, consequentemente, tomar a decisão de comprá-lo.28
Mas houve outro acontecimento que teve impacto significante para a
sociedade como um todo: a Revolução Industrial.
A Revolução Industrial foi o mais importante acontecimento da história
humana nos últimos três séculos, um episódio único, e continua a estender seus
efeitos para o mundo contemporâneo..29
O fenômeno da Revolução Industrial, apesar de ter nascido focado no
desenvolvimento de novos métodos e na organização da produção, alterou a forma
como as pessoas vivem, definem questões políticas, entre outros aspectos da vida
social. 30
Com o seu regime de produção em escala, a Revolução Industrial foi
responsável pelo aumento da quantidade de produtos colocados no mercado de
consumo, facilitando o acesso por diferentes camadas da sociedade.
Bauman considera que ocorreu a transformação de uma “sociedade
moderna de produtores” para uma “sociedade de consumidores”. Analisa que a
felicidade não é tão associada à satisfação de necessidades, mas à quantidade de
desejos sempre crescentes, o que significa uso imediato e rápida substituição dos
objetos para atender a todas essas novas necessidades, impulsos, compulsões e
vícios, assim como apresenta novos mecanismos de motivação, orientação e
monitoramento da conduta humana. É do autor a afirmação de que a economia
consumista se baseia no excesso e no desperdício.31
A criação do fenômeno do crédito acelerou fortemente o consumo. As
vendas a prazo ou em parcelas expandiram a possibilidade de consumo, já que
não era mais necessário ter o valor integral do preço do produto para poder

27
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 1.
28
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 1.
29 th
STEARNS, Peter N. The Industrial Revolutions in world history. 4 . ed. Doulde, USA: Westview
Press, 2013. p. 1.
30
STEARNS, p.eter N. The Industrial Revolutions in world history, p. 1.
31
BAUMANN, Zygmunt. Vida para o consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 53.
24

adquiri-lo. As técnicas de marketing também se tornaram mais presentes e


persuasivas para os consumidores, criando, cada vez mais, novos objetos de
desejos e ditando a moda e a obsolescência dos produtos. 32
O consumo acabou responsável por reclassificar a sociedade em
sociedade de consumo.
A história da sociedade de consumo é recente.33 Apesar de o consumismo
não ser novidade, foi somente após a industrialização que se produziram mais
produtos do que era necessário para a sociedade34, caracterizando, assim, um
mercado ou uma sociedade de consumo.
Iturraspe35 lembra que o homem medieval tinha necessidades escassas e
muito pautadas pela necessidade de alimentos e de vestimentas. Em relação ao
homem da pós-modernidade, o autor anota que:

[...] por ocasião do marketing, a publicidade, a necessidade de


vender mais para produzir mais – e o maior lucro – tem multiplicado
suas necessidades: em número e em qualidade. E a todas sente e
vivencia como se fossem ‘necessidades primárias e urgentes’. É a
sociedade do conforto, do bem-estar, da opulência, do ter mais e
mais coisas, como um símbolo da relação pessoal, da satisfação e
da felicidade [Tradução nossa].36

A constituição da sociedade de consumo foi, portanto, um processo de


desenvolvimento: partiu-se de uma necessidade muito simples, de atendimento de
necessidades básicas para uma sociedade complexa, com necessidades confusas.
Baudrillard traz um ilustrativo exemplo para mostrar a divergência entre
esses dois momentos:

Assim como a sociedade da Idade Média se equilibrava em Deus e


no Diabo, assim a nossa se baseia no consumo e sua denúncia.
Em torno do Diabo era possível organizar heresias e seitas de

32
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 1.
33
SODRÉ, Marcelo Gomes. A construção do direito do consumidor: um estudo sobre as origens
das leis principiológicas de defesa do consumidor. São Paulo: Atlas, 2009. p. 10.
34
BEHREND, Chirstoph. Consequences of planned obsolescence for consumer culture and the
promotional self. United Kingdom: University of Leicester Grin – Publish & Find Knowledge, 2004. p.
4.
35
ITURRASPE, Jorge Mosset. Como contractar en una economia de mercado. Buenos Aires:
Rubinzal-Culzoni, 1997. p. 178.
36
ITURRASPE, Jorge Mosset. Como contractar en una economia de mercado, p. 178. No original:
“con motivo del marketing, de la publicidade, de la necessidad de vender más para producir más – y
obtener mayores ganancias – há visto multiplicadas sus necesidades: en número y en calidad. Y a
todas las siente, las vive como ´necesidades primaris y urgente´. Es la sociedade del confort, del
bienestar, de la opulencia, del ´tener´más y más cosas, como signo de la relación personal, da
satisfación, de la felicidade.”
25

magia negra. A nossa magia, porém, é branca e a heresia é


impossível na abundância.37

Como se vê, não há consenso sobre o conceito ou as características da


sociedade de consumo.
Na opinião de Barbosa:

A dificuldade conceitual de se definir e limitar o que é uma


sociedade de consumo junta-se o caráter elusivo da atividade de
consumir, que a torna apenas social e culturalmente percebida na
sua dimensão supérflua, ostentatória e/ou de abundância. A
consequência dessa associação automática e inconsciente entre
consumo, ostentação e abundância foi e ainda é o permanente
envolvimento da sociedade de consumo e do consumo com
debates de cunho moral e moralizante sobre os seus respectivos
efeitos nas sociedades contemporâneas. Temas como
materialismo, exclusão, individualismo, hedonismo, lassidão moral,
falta de autenticidade, desagregação dos laços sociais e
decadência foram associados ao consumo desde o início do século
XVII e ainda hoje permeiam as discussões, dificultando e
misturando conceituação e análise sociológica com moralidade e
crítica social.38

Baudrillard, reconhecendo a dificuldade apontada, assevera que “o


consumo constitui um mito”39 e a “única realidade objetiva do consumo é a ideia de
consumo”40. Para o filósofo, “pensa-se e fala-se como sociedade de consumo na
medida de que [se] consome enquanto sociedade de consumo em ideia”41.
A palavra “consumo” dentro do capitalismo é tanto a base como a
organização social da “sociedade de consumo”.
Consumo deriva do latim consumere, que significa usar tudo, esgotar e
destruir. Na língua inglesa, o termo consummation significa somar e adicionar.42
No Brasil, o significado do termo “consumo” ficou mais próximo do sentido
negativo mencionado linhas atrás, enquanto a palavra “consumação” tem sentido
positivo de realização, de clímax.43

37
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Reimp. Lisboa: Edições 70, 2008. p. 268.
38
BARBOSA, Livia. Sociedade de consumo. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 12.
39
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo, p. 264.
40
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo, p. 264.
41
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo, p. 264.
42
BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: Ed. da FGV,
2006. p. 21.
43
BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, consumo e identidade, p. 21.
26

Segundo Lipovetsky:

A vida no presente tomou o lugar das expectativas do futuro


histórico e o hedonismo, o das militâncias políticas; a febre do
conforto substituiu as paixões nacionalistas e os lazeres, a
revolução. Sustentado pela nova religião do melhoramento
contínuo das condições de vida, o maior bem-estar tornou-se uma
paixão de massa, o objetivo supremo das sociedades
democráticas, um ideal exaltado em todas as esquinas.44

Apesar da dificuldade de sua conceituação, a sociedade de consumo


apresenta como característica: o crescimento vertiginoso da procura e da oferta de
bens de consumo nas sociedades industrializadas e naquelas em
desenvolvimento, a explosão demográfica e a expansão da classe média e seu
acesso aos bens de consumo”45.
Para Schmitt, a consequência dessas características é a massificação da
relação de consumo.46
Todos esses pontos da constituição da sociedade de consumo foram
responsáveis pela mudança de hábito de consumo.
Roche corrobora ao afirmar que: “Os hábitos modernos de uso acelerado
dos objetos nasceram num mundo heterogêneo onde coexistiam vários modos de
consumo e setores diferentes de mercadoria.”47.
Até o século XVI, a unidade de consumo era a família e a decisão de
consumo era a tradicional “pátina”, ou seja, a compra com o objetivo de o bem
permanecer na família por diversas gerações. Os bens adquiridos se tornavam
valiosos em razão de sua antiguidade e da história da família.48
A pátina de um objeto funcionava como uma mídia, uma mensagem de
status de vital importância.49

44
LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal. Ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 11.
45
ARRUDA ALVIM. Cláusula abusivas e seu controle no direito brasileiro. Revista de Direito do
Consumidor, São Paulo, RT, n. 20, p. 25-70, out.-dez. 1996., p. 29-30.
46
SCHMITT, Cristiano Heineck. Cláusulas abusivas nas relações de consumo. 2. edição revista,
atualizada e ampliada. Biblioteca de Direito do Consumidor, v. 27. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008. p. 73.
47
ROCHE, Daniel. História das coisas banais: nascimento do consumo nas sociedades do século
XVII ao XIX, p. 330.
48
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 1.
49
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 58.
27

Sobre a pátina, explica McCracken:

1.) Um objeto adquire pátina em proporção direta a sua idade.


2.) A idade de um objeto é diretamente proporcional à duração de
sua posse por parte de uma família (com o pressuposto de que a
família o teria comprado novo).
3.) A duração da posse familiar de um objeto representa a
extensão de tempo durante a qual esta família gozou de um certo
nível de renda discricionária e caprichosa.
4.) A duração deste nível de renda representa a extensão de
tempo durante a qual esta família desfrutou de um certo status
social.50

E complementa:

A pátina permite a seguinte inferência: quanto maior a pátina em


certos objetos, mais longo foi o tempo durante o qual o proprietário
gozou de certo status. Isso permite ao observador ler a duração do
status de uma família na quantidade de pátina que se deposita
sobre suas posses.51

Como mencionado anteriormente, na Inglaterra, a rainha Elizabeth I


passou a utilizar a despesa como instrumento de governo com o objetivo de fazer
da corte uma espécie de desfile, de espetáculo teatral. Com isso, iniciou-se uma
competição social e a nobreza elisabetana passou a gastar cada vez mais com o
consumo de produtos como instrumento de destaque na corte52.
Esse movimento foi responsável por transferir a unidade de consumo da
família para o âmbito do indivíduo, o que gerou uma grande mudança no processo
de decisão de consumo. Neste novo cenário, a decisão de compra é impulsionada
pela moda, pelo hedonismo individual e pela competição social.53
A consequência, bastante fértil para o mercado de consumo, é que a
antiga preocupação de adquirir o bem para durar por geração (pátina) passa a ser
substituída pelo imediatismo (moda) e pela competição social.
No século XVIII, com o aparecimento da sociedade de consumo, a
sociedade inglesa começou a ser conduzida por novos gostos e preferências.54

50
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 58.
51
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 58.
52
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 59.
53
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 1.
54
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 62.
28

Subitamente, a pátina, símbolo de status, entrou em declínio e os “indivíduos de


elevada posição podiam encontrar mais status em objetos novos do que nos
antigos”55.
Ademais, o novo modelo de consumo é imediato; as pessoas se
preocupam com a necessidade momentânea, sem levar em conta a durabilidade
do produto que está sendo adquirido.
Roche também conta que “a família estava no centro dessa transformação,
tanto na cidade como no campo”. A família era a unidade de produção e de
consumo56. “A época moderna viu a modificação do sentimento familiar e o
desenvolvimento de uma concepção de vida privada e de novas manifestações do
sentimento da infância“57, ou seja, uma preocupação individual que se sobrepõe à
preocupação com a família.
A mudança da unidade da família para o indivíduo permite também o
consumo em maior escala e contribui para o aparecimento da sociedade de
consumo e de hiperconsumo.
A propósito, sociedade de hiperconsumo, um conceito concebido por
Lipovetsky58, é marcada pela perda de sentido das instituições morais, sociais e
políticas. A cultura nesse tipo de sociedade é marcada por relações de tolerância,
hedonismo e consumo excessivo.
A sociedade de hiperconsumo é caracterizada não apenas por novas
maneiras de consumir, mas também por novos modos de organização da
produção, novas estratégias de vendas, de comunicação e de distribuição de bens.
Lipovestsky também usa a expressão “Revolução da Revolução de
Consumo” para a sociedade de hiperconsumo, por entender que este novo
momento traduz uma nova concepção do sistema de oferta, ou seja, uma
economia centrada na procura, que prega uma abordagem qualitativa do mercado

55
McCRACKEN, Grant. Cultura & Consumo – novas abordagens ao caráter simbólico dos bens e
das atividades de consumo, p. 63.
56
ROCHE, Daniel. História das coisas banais: nascimento do consumo nas sociedades do século
XVII ao XIX, p. 34.
57
ROCHE, Daniel. História das coisas banais: nascimento do consumo nas sociedades do século
XVII ao XIX, p. 34.
58
LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo, p. 76.
29

e busca a satisfação do cliente. As “empresas orientadas para o produto” passam a


ser “empresas orientadas para o mercado e para o consumidor”59.
Nessa nova concepção, além da produção de bens, os agentes do
mercado também se dedicam a desenvolver políticas de marca e a buscar sempre
a “criação de valor para o cliente”, sistemas de fidelização, crescimento da
segmentação (nichos) e da comunicação.60
Outra marca da sociedade de hiperconsumo é o funcionamento global dos
mercados, significando que os produtores não estão necessariamente na mesma
região e a produção pode ser dividida em diversos países.
Como destaca Lipovetsky61, a sociedade de hiperconsumo se desenvolve
em torno de dois atores principais: consumidores e acionistas. As empresas
buscam a maximização de valor para os acionistas. Em relação aos consumidores,
o imperativo é mercantilizar todas as experiências em todo lugar e a todo
momento, para qualquer nicho e idade, diversificando a oferta e adaptando-a às
expectativas dos consumidores.
A sociedade de hiperconsumo é uma sociedade que prima por um
consumo exacerbado, por exemplo, o consumidor que visita uma loja de descontos
não é um subconsumidor, mas sim um hiperconsumidor que controla suas
despesas para poder consumir mais, buscando prazeres diversificados, consumos
lúdicos, comunicacionais e emocionais.62
Lipovestsky também observa que não é mais a onipotência de marcas e de
logos que gera o consumo, mas sim a força dos valores hedonistas, gosto pela
mudança e desejo generalizado de participar da moda.63 Nesta sociedade de
hiperconsumo, pode-se afirmar que ocorre a transição do consumo para o
consumismo.

59
LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo, p. 76-
78.
60
LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo, p. 95-
96.
61
LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo, p. 13-
14.
62
LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo, p. 95-
94.
63
LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo, p. 95-
94.
30

Antes de adentrar o tema do consumismo, vale observar que existe grande


dificuldade de se traçar uma linha divisória ou mesmo definir parâmetros que o
identifiquem.
Para Schweriner64, consumo é a compra saudável, que busca o
atendimento de verdadeiras necessidades do consumidor. Consumismo deve ser
entendido como a patologia desta conduta, a transgressão do consumo saudável.
O autor resume tal raciocínio da seguinte forma: “Necessidades – Bens Essenciais
– Consumo – Desejos – Bens Supérfluos – Consumismo”. Entretanto, adverte que
“o mero ato de consumir supérfluos, mesmo muitos supérfluos, não implica
consumismo. Trata-se de uma opção de consumo”.65
Algumas situações são representativas do consumismo:

 Compras (compulsiva): o ‘shopaholic’, para quem o ato da


aquisição em si é gratificante, podendo até sobrepujar em
significância a posse e o uso. Vários consumidores fazem do ato da
compra um ritual de alugar o tempo e a atenção do vendedor,
fazendo a troca do dinheiro pela mercadoria um fim em si mesmo.
 Posses (desmesuradas): acumulação e retenção, levando o
indivíduo a possuir muito mais bens do que o necessário para uma
vida saudável. Uso (abuso do prazer/ostentação): quer dizer, o
prazer sem limites, ou a utilização do bem transcendendo seu valor
de utilidade. O sujeito faz uso do bem mais pelo que representa
para os outros.66

Dessas primeiras lições, pode-se inferir que o consumismo é um consumo


patológico e sem necessidade; a pessoa consome pelo simples desejo ou prazer
de consumir.
Baudrillard67 faz uma interessante digressão sobre o tema: “Era uma vez
um homem que vivia na raridade. Depois de muitas aventuras e de longa viagem
através da ciência econômica, encontrou a sociedade da abundância. Casaram-se
e tiveram muitas necessidades.”.
Não é difícil perceber que houve uma mudança significativa da forma de
consumo na sociedade. Antes, consumia-se pensando na família e na durabilidade

64
SCHWERINER, Mario Ernesto René. Comportamento do consumidor: identificando necejos e
supérfluos essenciais. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 151-152.
65
SCHWERINER, Mario Ernesto René. Comportamento do consumidor: identificando necejos e
supérfluos essenciais, p. 152, 159.
66
SCHWERINER, Mario Ernesto René. Comportamento do consumidor: identificando necejos e
supérfluos essenciais, p. 154.
67
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo, p. 77.
31

do produto por diferentes gerações. Após a revolução do consumo, o consumo é


feito de maneira individualista, imediatista e hedonista.
Packard corrobora a posição acima quando, ao analisar o mercado
americano, observou que o americano médio consome duas vezes mais que
consumia logo após a Segunda Guerra Mundial. Além disso, cerca de dois quintos
dos produtos que o cidadão americano adquire não são considerados essenciais,
ou seja, são itens considerados supérfluos ou itens de luxo.68
O crescimento do consumo decorre da invenção de novos produtos,
causado por dois fatores principais: o primeiro deles é o crescimento da
capacidade produtiva dos Estados Unidos, com a utilização de cada vez mais
equipamentos automatizados em fábricas e escritórios; o segundo se deve ao
aumento da quantidade de unidades produtivas baseada na crença dos executivos
americanos de que os consumidores podem ser induzidos a consumir sempre
mais.69
A ideia é que um verdadeiro homem de negócios rejeita o conceito de
saturação de mercado na medida em que sempre será capaz de identificar novas
demandas para seus produtos. Se um fabricante percebe que muitas famílias já
possuem o seu produto, só existem três formas de obter vendas adicionais, vender
um novo produto semelhante para substituir o anterior, vender mais de um item
para cada família ou então introduzir um novo produto ou um produto melhorado
que vai encantar os consumidores a ponto de substituir o “velho” pelo novo.70
Packard ainda anota que a cada ano fica mais difícil implementar melhorias
nos produtos e que muitas mudanças passaram a ser apenas superficiais ou
cosméticas.71
O ápice dessa nova sociedade e de modelo de consumo ocorre quando se
começa a aceitar o conceito de produtos descartáveis.
Em agosto de 1955, a revista americana Life72 publicou uma matéria
denominada "Throwaway Living", que comemorava a nova sociedade descartável.

68
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben. Brooklyn, New York: IG
Publishing, 1988. p. 25. (Ebook).
69
PACKARD, Vance. The waste makers, p. 25-26.
70
PACKARD, Vance. The waste makers, p. 26.
71
PACKARD, Vance. The waste makers, p. 27, 28.
72
O artigo pode ser visto em: GOOGLE. Livros. Disponível em:
<https://books.google.com.br/books?id=xlYEAAAAMBAJ&lpg=PP1&pg=PA43&redir_esc=y#v=onep
age&q&f=true>. Acesso em: 12 set. 2015.
32

O artigo trazia uma foto com uma série de utensílios descartados e completava o
chamado com a seguinte afirmação: “produtos descartáveis reduzem as tarefas
domésticas”73.
A matéria destacava que não era mais necessário despender diversas
horas realizando a tarefa de limpeza porque era possível adquirir produtos que
depois de usados poderiam ser descartados e os exemplos apresentados eram
guardanapos, fraldas, bacias de alimentação para animais, frigideiras e
churrasqueiras descartáveis.
Os produtos descartáveis eram, assim, uma solução fantástica para todos
os problemas, ou seja, depois de usados uma vez eram jogados no lixo.
Slade, sobre o tema, observa que a cultura do descartável (“desposal
culture” ou “throwaway ethics”) começou principalmente pelo fato de produtos e
matérias-primas serem mais baratos para as indústrias.74
Cooper alerta que o lixo nos países industrializados cresceu na mesma
taxa que a economia, ou seja, ambos cresceram cerca de 40% nos últimos trinta
anos. Observa ainda que o crescimento da cultura do descarte na nossa sociedade
tem sido abordado de forma pouco adequada, como reflexo da democracia liberal.
Contudo, já se começa a formar um consenso de que grandes ameaças para a
sociedade passam a surgir no médio e no longo prazos, uma vez que o meio
ambiente tem uma capacidade limitada de absorver os impactos causados pela
extração imensurável de matérias-primas e a consequente produção de
lixo/poluição.75
Esse é um problema sério que se coloca na mesa: a dicotomia de posições
existentes hoje na sociedade com relação à cultura de produtos descartáveis e à
finitude dos recursos naturais, ante o argumento de que o planeta não tem como
suportar este tipo de cultura por longas gerações.
Todo esse contexto é o ambiente fértil para os fornecedores utilizarem
artifícios como a obsolescência para induzir o consumidor a realizar compras
repetitivas de produtos.

73
Tradução livre de “Disposable itens cut down household chores”.
74
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America. First Harvard University
Press paperback edition. Cambridge, USA: Havard University Press., 2007. p. 13.
75
COOPER, Tim. Slower consumption – Reflections on product life span and the throwaway
society. Jornal of Industrial Ecology, Massachusetts Institute of Technology and Yale University, v.
9, n. 1-2. 2005. p. 52, 53.
33

2 OBSOLESCÊNCIA

“The old stuff gets broken faster than the


new stuff is put in its place”.
Clay Shirky76

Em 1970, o futurista Alvin Toffler, autor do célebre livro intitulado “Choque


do Futuro” (Future Shock), afirmou que a taxa de mudança no mundo acelerava de
forma drástica, podendo causar uma sobrecarga física e psicológica e que o
progresso estava acontecendo em um ritmo exponencial com as coisas se
tornando obsoletas em uma velocidade assustadora. Naquela época, constatou
também que as mudanças que ocorriam no período de um ano, nas gerações
passadas demandavam vários séculos.77
As afirmações de Toffler da segunda metade do século passado são muito
atuais. Em se tratando de desenvolvimento de mercado de consumo impulsionado
pela tecnologia, seja na TV, na internet, em jornais ou revistas, a todo momento,
deparamo-nos com o lançamento de um sem-número de produtos (eletrônicos,
aparelhos celulares, alimentícios, produtos relacionados com a saúde e beleza,
entre outros).
O lado positivo do lançamento de novos produtos no mercado é, regra
geral, a promessa de serem melhores que os seus antecessores, com
desempenho melhor, mais rápidos, mais leves, com mais funcionalidades em
relação aos desenvolvidos anteriormente.
A sociedade, por sua vez, passa a trocar os produtos com mais frequência,
nem sempre no fim da vida útil, gerando um grande consumo repetitivo com suas
consequências econômicas, sociais e ambientais, isto sem contar os impactos para
a relação de consumo.
Leonard, no vídeo intitulado “The Story of Stuff”, lembra a célebre
declaração do Presidente Eisenhower:

76
SHIRKY, Clay. Newspapers and thinking the unthinkable. Edge.org. Disponível em:
<https://www.edge.org/conversation/clay_shirky-newspapers-and-thinking-the-unthinkable>. Acesso
em: 22 abr. 2016.
77
Apud GROSSMAN, Anna Jane. Obsolete – an encyclopedia of once-common things passing us
by. New York: Abrams Image, 2009. p. 15.
34

Fora a enorme capacidade produtiva […] impõe que façamos que


o consumo seja o nosso meio de vida, que convertamos a compra
e o uso de bens em rituais, que busquemos a nossa satisfação
espiritual, a satisfação do nosso ego no consumo; nós precisamos
de coisas consumíveis, queimadas, repostas e descartadas de
forma cada vez mais acelerada.78

Neste ponto do estudo, é necessário e importante bem compreender a


questão da obsolescência dos produtos, sem o que não será possível analisar se o
artifício do consumo repetitivo é usado na relação de consumo por parte do
fornecedor, tampouco constatar a existência e a efetividade, ou não, dos
mecanismos preventivos e reparatórios no CDC.
Em 2005, a 20th Century Fox lançou a animação denominada “Robôs”
(Robots)79. A animação conta a história do personagem Rodney Lataria, um robô
que tem talento para inventar máquinas, mas trabalha com seu pai lavando pratos.
Sonhando em conhecer seu ídolo, o Grande Soldador, Rodney decide partir em
uma viagem rumo a Robópolis. Ao chegar na cidade, o personagem principal
percebe que sua busca será mais difícil do que imaginava, pois o Grande Soldador
já não está na empresa que fundou, agora administrada por outro personagem
denominado Dom Aço. O novo presidente ignora o povo e dirige a empresa apenas
para a obtenção de lucro com a venda de novas peças para os robôs, deixando de
vender peças sobressalentes para os robôs antigos, ou seja, ou o robô compra um
uniforme inteiro novo ou é considerado obsoleto e enviado para o descarte. De
uma forma lúdica, a animação trata da obsolescência.
Falar que um produto é obsoleto pode significar que existe outro mais
moderno ou que veio para substituir o primeiro. Obsolescência, contudo, é muito
mais amplo, conforme se verá a seguir.
É importante destacar a ausência de qualquer legislação aplicável para
coibir a obsolescência de produtos no Brasil, deixando o consumidor vulnerável em
relação aos abusos dos fornecedores, fato que também justifica este estudo.

78
STORY OF STUFF PROJETC. The story of stuff. 2015. Disponível em: <http://storyofstuff.org/>.
Acesso em: 30 mar. 2015. No original: “Out enormously productibe economy… demands that we
make consumption our way of life, that we convert the buying and use of goods into rituals, that we
seek our spiritual satisfaction, our ego satisfaction, in consumption we need things consumed,
burned up, replaced and discarded at an ever-accelarating rate.”
79
ROBÔS (título original Robots). Direção: Chris Wedge, Carlos Saldanha. Produtor: Jerry Davis,
John C. Donkin, Bob Gordon, William Joyce, Christopher Meledandri, Lorne Orleans. Hollywood
(CA), USA. Twientieth Century Fon Animation and Blue Sky Studios. [Distribuidor brasileiro Fox
Films]. Digital 35 mm (spherical) (Kodak Vision 2383) e 70 mm (horizontal) (IMAX DMR blow-up)
(Kodak Vision 2383), Color, (91min), março 2005.
35

Na Europa não existe qualquer legislação ou norma sobre obsolescência 80,


tampouco os Estados Unidos da América possuem lei federal neste sentido81,
apesar de ter sido este país o berço da obsolescência. Mas o cenário começa a
mudar na Europa na medida em que França e Bélgica já começam a regulamentar
o tema, como será destacado à frente.82

2.1 HISTÓRIA DA OBSOLESCÊNCIA

De início, pode-se dizer que o desenvolvimento do conceito de


obsolescência foi tortuoso, sendo concebida, ora como benefício para a sociedade,
ora como problema social e ambiental.
Slade comenta que a obsolescência, em todas as suas formas,
tecnológica, psicológica e planejada, é uma invenção norte-americana. Para o
autor, foram os americanos que criaram os produtos descartáveis, como fraldas,
câmeras, lentes de contato, entre outros. Tal fato foi, de certo modo, responsável
pelo sucesso da economia dos Estados Unidos da América.83
O conceito da obsolescência e seu desenvolvimento ocorreu
principalmente nos Estados Unidos. O primeiro texto que abordou diretamente a

80
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 2. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
81
HG.ORG. Legal Resources. Planned obsolescence – Shouldn´t be an offense punishable like any
deception. Disponível em: <http://www.hg.org/article.asp?id=33946>. Acesso em: 6 abr. 2015.
82
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 2. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
83
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 3, 4.
36

questão da obsolescência, intitulado “Ending the depression through planned


obslescence”, de autoria de Bernard London, data de 1932.84
Em seu panfleto, London propõe uma solução para a crise de 1929 dos
Estados Unidos, com a mudança dos hábitos dos consumidores e da
obsolescência programada, um contraponto para situações de crise, ameaça ou
histeria, quando as pessoas em geral utilizam seus produtos por mais tempo se
comparado com momentos de prosperidade.85 Nos momentos de prosperidade, as
pessoas não esperam até o último momento para substituir seus produtos, a
substituição ocorre por questão de moda ou de atualização.86
Em períodos de crise, as pessoas desobedecem a “lei da obsolescência” e
utilizam por longo tempo produtos como carros, roupas, rádios, entre outros.
Quando isso acontece é grande o impacto para a economia, que apesar de dispor
de recursos naturais, mão de obra e capacidade produtiva, deixa de movimentar a
economia com a venda dos novos produtos, pois as pessoas evitam consumir. 87
Na opinião de London, o governo deveria definir o prazo de vida útil dos
produtos manufaturados quando desenvolvidos e postos à venda. Defende que,
decorrido o prazo da vida útil, os produtos deveriam ser considerados “mortos” e
devidamente destruídos por uma agência governamental, a ser definida. Com essa
providência, novos produtos seriam vendidos em substituição àqueles destruídos.
Esse tipo de obsolescência planejada teria como função servir de reserva de
receita para distintos atores: o governo, por meio de impostos; os fabricantes, pela
receita da venda de novos produtos; e as pessoas, com a garantia de salários.
Essa receita poderia ser planejada e controlada, já que cada produto no mercado
teria um prazo de vida útil definido. As pessoas, por sua vez, devolveriam os
produtos obsoletos para uma agência governamental. Em troca, receberiam um
valor pelo produto devolvido, cujo recurso serviria para comprar um novo88,
valendo destacar que o produto devolvido ainda poderia atender aos fins a que se
propunha, ou seja, não se tratava de devolução de um produto que deixou de

84
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 50.
85
LONDON, Bernard. Ending the depression through planned obsolescence. New York: Sef-
published, 1932. p. 1.
86
LONDON, Bernard. Ending the depression through planned obsolescence, p. 1-2.
87
LONDON, Bernard. Ending the depression through planned obsolescence, p. 2.
88
LONDON, Bernard. Ending the depression through planned obsolescence, p. 2.
37

funcionar. Por outro lado, caso a pessoa decidisse manter o produto após o prazo
definido pelo governo, deveria pagar uma taxa pelo uso do bem obsoleto.89
Quando lançou essas ideias, London considerava que existia uma
“abundância” de recursos e commodities capazes de manter o ciclo produtivo no
mercado e que tal circunstância permitia ao governo rever o prazo de vida útil dos
produtos, conforme a necessidade.90 Desta feita, seria mais econômico destruir
produtos sem uso ou mesmo obsoletos do que assumir o risco de destruir ativos
mais importantes como a vida humana, a saúde e a confiança da população.91
A obsolescência programada, nesse sentido, era concebida como um
processo positivo para a sociedade.
Em 1922, apesar de não abordar diretamente a questão da obsolescência,
Chase relatou que as indústrias da época focavam sua produção apenas na
questão do lucro e que a melhor forma de incentivar o processo produtivo era criar
uma cultura de consumo de produtos descartáveis.92 O foco do economista era o
desperdício e a ineficiência das práticas de produção93, analisando também a
questão de empresas produzirem com distinção entre produtos que atendiam a
uma necessidade da população e outros que consideravam uma extravagância. 94
Conforme o relato de Slade, um pouco antes de London, em 1928, Justus
George Frederick cunhou o conceito de “obsolescência progressiva”, em artigo
preparado para a revista Advertising and Selling. Na verdade, foi uma tentativa de
mudar a forma como os americanos pensavam o papel da propaganda e do
design, e utilizavam como bandeira a mudança do Ford Modelo T para o Ford
Modelo A.
A ideia era incitar a compra de produtos novos, mais eficientes, atualizados
e de novo estilo, em substituição ao antigo pensamento de usar produtos até o seu
desgaste ou até o fim da sua vida útil. Além disso, tentou suavizar o conceito de
obsolescência, reduzindo seus aspectos negativos, ao justapor o conceito positivo
“progressivo” ao de progresso.95.

89
LONDON, Bernard. Ending the depression through planned obsolescence, p. 2.
90
LONDON, Bernard. Ending the depression through planned obsolescence, p. 3.
91
LONDON, Bernard. Ending the depression through planned obsolescence, p. 6.
92
CHASE, Stuart. The challenge of waste. New York: League for Industrial Democracy, 1922. p. 26.
93
CHASE, Stuart. The challenge of waste, p. 6-7.
94
CHASE, Stuart. The challenge of waste, p. 8-9.
95
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 58.
38

Nessa época, os consumidores não estavam tão familiarizados com o


conceito de obsolescência e Frederick foi muito firme ao divulgá-lo, encorajando os
fabricantes a focar os seus consumidores para que estes passassem a fazer suas
opções de compras baseados no princípio da obsolescência progressiva. 96
Roy Sheldon e Egmont Arens publicaram um artigo na revista Consumer
Engineer, seguindo as ideias de Frederick, ou seja, incentivavam os consumidores
a substituir os seus produtos, mencionando que o período de vida útil devia ser o
mais curto possível. Os autores usaram o termo “obsoletismo” como forma de
evitar as conotações negativas de “obsolescência”, conforme observa Slade.97
No outro extremo do conceito, Schumpeter, economista do século
passado, ao analisar o capitalismo cunhou o termo “destruição criativa”. A
explicação é que o impulso fundamental do sistema capitalista tem origem em
novos consumidores, novos métodos de produção ou transporte, novos mercados
e novas formas de organização industrial que só o capitalismo pode criar. A história
da evolução do aparato produtivo do capitalismo é um processo de revoluções, no
qual o antigo é destruído e substituído por algo novo constantemente, constituindo
o processo de destruição criativa.98
Mészáros também observa que na chamada “sociedade descartável” é
necessário encontrar um equilíbrio entre produção e consumo necessário para que
a contínua reprodução possa ser artificialmente acelerada em grande velocidade,
ou seja, para permitir que os bens duráveis sejam prematuramente descartados
antes de se esgotar o prazo de sua vida útil.99
Outro autor que abordou a questão da obsolescência foi Paul. M Mazur, no
livro intitulado “American prosperity: its causes and consequences” 100, onde tratou
a obsolescência como um “deus”: o consumo apenas movido pelo desgaste dos
produtos era muito lento para a necessidade da economia/indústria americana. A

96
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 58.
97
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 66-67.
98
SCHUMPETER, Joseph A. Capitalism, socialism and democracy. Fifth edition 1976. New York:
Taylor & Francis e-Library, 2003. p. 82-83.
99
MÉSZÁROS, István. Produção destrutiva e Estado capitalista. São Paulo: Ensaio, 1989. p. 16.
(Cadernos Ensaio V – Série Pequeno Formato).
100
MAZUR. Paul M. American prosperity: its causes and consequences. London: Jonathan Cape,
1928. p. 28.
39

partir dessa ideia, os altos executivos nomearam um novo “deus” capaz de


movimentar a economia: o “deus da obsolescência”.101
Em 1947, Paul. M. Gregory apresentou o conceito de obsolescência
intencional (purposeful obsolescence) como redução planejada da vida útil dos
produtos. A obsolescência intencional ocorre sempre que os fabricantes,
propositadamente, produzem bens com uma vida útil mais curta do que poderiam,
em condições tecnológicas e com os mesmos custos existentes; ou sempre que
fabricantes/vendedores induzam o público a substituir os bens que ainda têm
substancial utilidade física. No primeiro caso, os fabricantes, deliberadamente,
fazem os produtos com qualidade ou durabilidade inferior e, assim, reduzem a vida
útil do bem, tornando o processo de substituição mais frequente. No segundo, os
fabricantes reduzem a utilidade psicológica dos bens que ainda estão nas mãos
dos consumidores, levando-os a optar pela substituição, antes mesmo de a vida
útil do produto se esgotar.102
Nos anos 1950, Brooks Steven se destacou como design e industrial.
Afirma-se que ele foi o responsável pelo desenvolvimento da obsolescência
programada103, cuja definição é a seguinte: “Obsolescência programada é o desejo
de ter alguma coisa mais nova, um pouco melhor, um pouco antes que o
necessário [Tradução nossa]. “104. Não obstante, como visto, outros autores já
abordavam o tema da obsolescência antes dele.
Segundo Steven, o trabalho de um “designer é produzir produtos, vendê-
los às pessoas e no próximo ano, deliberadamente, criar um conceito que torna o
produto vendido fora de moda, desatualizado, obsoleto. Fazemos isso para ““fazer”
dinheiro para os nossos clientes [os fabricantes]. Uma boa razão [Tradução
nossa]”105. Essa definição denota apenas a obsolescência psicológica 106, conforme

101
No original: “wear alone [...] (is) too slow for the needs of American Industry. And so the high-
priests of business elected a new God to take its place along with – or even before – the other
household god . Obsolescence was made supreme”.
102
GREGORY Paul M. A theory of purposeful obsolescence. Southern Economic Journal, University
of North Carolina – United States of America, 14(1), p. 24-45, jul. 1947. p. 24.
103
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 152.
104
STEVEN, Brooks. Planned obsolescence: the desire to own a little newer and a little better, a
little soone than necessary. Disponível em: <http://www.brooksstevenshistory.com>. Acesso em: 9
mar. 2015.
105
STEVEN, Brooks. Planned obsolescence: the desire to own a little newer and a little better, a
little soone than necessary. Disponível em: <http://www.brooksstevenshistory.com>. Acesso em: 9
mar. 2015. No original: "As designer we make goods, sell them to people, and the following year
40

o slogan de ter “alguma coisa mais nova, um pouco melhor, um pouco antes que o
necessário”, sem levar em conta a obsolescência por um lado mais econômico,
preocupado com a criação da demanda, como apontavam outros autores.
Steven, na verdade, aproveitava-se de sua reputação de “bad boy of
industrial design” para atrair mais clientes para a sua empresa de design e também
para conseguir uma maior divulgação do conceito de obsolescência programada,
opina Slade.107
Em 1958, Kenneth Galbraith publicou o livro intitulado “The Affluent
Society”, onde denunciou abertamente os fenômenos da obsolescência planejada
e as práticas industriais correspondentes, valendo transcrever a seguinte
observação do economista e filósofo sobre o mercado de consumo americano:

Sob certas circunstâncias - as empresas devem ser de tamanho


adequado no setor e algumas outras condições devem ser
atendidas - podemos esperar da economia para fazer um trabalho
superior de invenção, desenvolvimento e redesenho dos produtos
de consumo e melhorar o seu processo de fabricação. Também
não há razão para duvidar que será dada uma atenção semelhante,
em circunstâncias igualmente favoráveis, para as indústrias de
bens de capital que apoiam as empresas que fabricam bens de
consumo. Grande parte dessa conquista vai nos impressionar
apenas enquanto não perguntar como a demanda para os produtos
assim desenvolvidos é artificial e sustentada. Se fizermos isso,
somos obrigados a observar que grande parte do esforço de
pesquisa - como na indústria automobilística - é dedicado a
descobrir as mudanças que podem ser anunciadas. O programa de
pesquisa será construído em torno da necessidade de conceber
‘pontos de venda’ e ‘estacas de publicidade’ para acelerar a
‘obsolescência planejada’. Tudo isso sugere que o incentivo será
alocar recursos de pesquisa para que, em certo sentido, as coisas
[pareçam] menos importantes. A quantidade é mais impressionante
do que a forma como é alocado. Ainda assim, a economia norte-
americana é delinquente na atenção da demanda para a mudança
e a melhoria nos produtos de consumo [Tradução nossa].108

deliberately create a concept that will make the products old-fashioned, out of date, obsolete. This
we do to make money for our clients. A sound reason.".
106
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p.153.
107
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p.153.
108
GALBRAITH, John Kenneth. The affluent society. Fortieth Anniversary Edition – A Mariner Book.
Boston/New York: Hought Miffling Company, 1945. p. 3.096. No original: “Under the proper
circunstances firms must be of adequate size in the industry, and certain other condition must be
met – we may expect the economy to do a superior job of invention, developing and redesigning
consumer´s goods and improving their process of manufacturing. Nor is there reason to doubt that
similar attention will be given, under equality favorable circumstances, to the capital goods industries
which support this consumer´s goods consumption. Much of this achievement will impress us only
so long as we do not inquire how the demand for the products so developed is contrived and
sustained. If we do, we are bound to observe that much of the research effort – as in the automotive
41

A fascinação dos executivos pela obsolescência planejada proporcionou


um grande desenvolvimento no período do pós-guerra, sendo inclusive utilizada
para influenciar a forma dos produtos e a atitude mental do consumidor, que seria
o principal fundamento do espírito do descarte de produtos como modo de
contribuir para um crescimento saudável da sociedade.109
A expressão obsolescência programada tem significados diferentes e varia
de acordo com a pessoa que a adota, podendo em certos momentos significar
progresso e em outros algo desfavorável para a sociedade.110
Packard foi o primeiro estudioso a categorizar a obsolescência:
obsolescência de função (obsolescence of function), obsolescência de qualidade
(obsolescence of quality) e obsolescência de desejo (obsolescence of desirability).
Na obsolescência de função, um produto se torna obsoleto quando um novo é
introduzido e realiza uma função melhor. Na obsolescência de qualidade ocorre um
planejamento, de modo que o produto quebre ou se desgaste em momento não
muito distante do início de seu uso. Na obsolescência de desejo, por sua vez, o
produto que ainda opera normalmente em termos de qualidade e performance é
considerado obsoleto em razão da mudança de estilo ou outra mudança de
mercado, fazendo com que pareça menos desejável ao consumidor.111
A obsolescência de qualidade e a obsolescência de desejo são as
espécies mais controversas porque denotam uma estratégia planejada e desleal
dos fabricantes para promover vendas repetitivas de seus produtos aos
consumidores. Não bastasse, os fabricantes reduzem a qualidade de seus
produtos e aumentam a sua complexidade fazendo com que os consumidores
fiquem “loucos”, na expressão de Packard.112
Além da baixa qualidade, o fornecedor pode reduzir a vida útil do produto
de diversas formas. A primeira delas é percebida quando o fornecedor apresenta
um novo modelo de produto todo ano, incitando o consumidor a substituir o que já

industry – is devoted to discovering changes that can be advertised. The research program will be
built around the need to devise ‘selling points’ and ‘advertising pegs’ to accelerate ‘planned
obsolescence’. All this suggest that the incentive will be allocate research resource to what, in some
sense, are least important things. The quantity is more impressive than the way it is allocated. Still,
one would not wish to suggest that the American economy and the improvement in
consumer´good.”.
109
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 65-66.
110
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 65.
111
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 65.
112
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 65.
42

possui. Outra estratégia é causar o desgaste de partes do produto, tornando o


reparo difícil, seja pela dificuldade de obter as peças sobressalentes, seja pela
dificuldade de efetivamente fazer o reparo no produto.113
Packard alerta, contudo, que todos os produtos sofrem desgaste, quebram
em um determinado momento, e as empresas não podem ser criticadas pelo fato
de legitimamente calcularem a vida útil e a morte de seus produtos. 114. O que não
é aceitável é o fornecedor comercializar um produto com uma expectativa de vida
útil menor, sabendo que com o mesmo custo ou com um pequeno investimento
poderia fornecer um produto com uma vida útil mais longa.115
Slade, aqui citado várias vezes, também teve um papel importante, em
especial pela análise que faz do desenvolvimento econômico e da história
americana pelo prisma da obsolescência.
Com efeito, a invenção de marcas e a publicidade têm desempenhado um
papel crucial no desenvolvimento da atual sociedade de consumo norte-americano
e a obsolescência é o mecanismo que garante a retroalimentação do sistema ao
criar o consumo repetitivo.
O documentário espanhol de 2010, denominado “Comprar, tirar,
comprar”116,117 da RTVE, idealizado por Cosima Dannoritzer, explora a questão da
obsolescência programada com alguns exemplos. O primeiro trata das lâmpadas
incandescentes, que no início do século passado tinham uma vida de mais de
2.500 horas de uso, mas devido à formação de um cartel entre os principais
fabricantes da época, denominado Phoebus, decidiu-se reduzir a sua vida útil para
1.000 horas com a introdução de materiais de menor qualidade, forçando os
consumidores a adquirir com maior frequência as lâmpadas e consequentemente
provocar o aumento das vendas e obtenção de maiores lucros. Outro exemplo vem
das impressoras jatos de tintas, que param de funcionar quando o equipamento

113
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 68.
114
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 69.
115
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 65.
116
ESPAÑA. RTVE - Radio y Televisión Española. “Comprar, Tirar, Comprar”. La historia secreta de
la obsolescencia programada. Documentário 2010. 77min. Direção Cosima Dannoritzer e Steve
Michelson. Roteiro: Coisam Dannoritzer. Fotografia Marc Martinez Sarrado. Música Composta por
Marta Andrés, Joan Gil Bardagi. Espanha. Disponível em:
<http://www.rtve.es/television/documentales/comprar-tirar-comprar/>. Acesso em: 27 maio 2014.
117
O título do documentário em francês é “Prêt à Jeter” e em inglês é “Light Bulb Conspiracy”.
43

atinge um determinado número de impressões (páginas) contabilizadas por uma


memória, forçando o consumidor a adquirir um novo produto. 118
Nos anos 1930, registra o mencionado documentário119, a durabilidade
começou a ser propagada como algo antiquado, não mais refletindo as
necessidades dos consumidores da época. Nos anos 1950, com o
desenvolvimento dos fenômenos do crédito e do marketing, os fornecedores
buscavam tornar o consumidor insatisfeito, pois sempre desejava algo novo.
Latouche entende que a sociedade atual vive em um círculo “infernal” de
acumulação ilimitada, condenada ao crescimento constante, em um planeta com
recursos limitados. Nesta sociedade, “a vida do trabalhador geralmente se reduz à
vida de um biodigestor que metaboliza o salário com as mercadorias e as
mercadorias com o salário, transitando da fábrica para o hipermercado e do
hipermercado para a fábrica” 120. Na verdade, três elementos fazem com que esta
sociedade entre neste círculo infernal: “a publicidade, que cria o desejo de
consumir; o crédito, que fornece os meios; e a obsolescência acelerada e
121
programada dos produtos, que renova a necessidade deles” . A obsolescência
programada, considera o autor, é a arma absoluta do consumismo.122 E
acrescenta: “[...] a publicidade nos faz desejar o que não temos e desprezar aquilo
de que já desfrutamos. Ela cria e recria a insatisfação e a tensão do desejo
frustrado” 123.
O dinheiro e o crédito são considerados os “grandes ditadores” do
crescimento e são usados por empresários e consumidores para permitir o
crescimento.124

118
ESPAÑA. RTVE - Radio y Televisión Española. “Comprar, Tirar, Comprar”. La historia secreta de
la obsolescencia programada. Documentário 2010. 77min. Direção Cosima Dannoritzer e Steve
Michelson. Roteiro: Coisam Dannoritzer. Fotografia Marc Martinez Sarrado. Música Composta por
Marta Andrés, Joan Gil Bardagi. Disponível em:
<http://www.rtve.es/television/documentales/comprar-tirar-comprar/>. Acesso em: 27 maio 2014.
119
ESPAÑA. RTVE - Radio y Televisión Española. “Comprar, Tirar, Comprar”. La historia secreta de
la obsolescencia programada. Documentário 2010. 77min. “Direção Cosima Dannoritzer e Steve
Michelson. Roteiro: Coisam Dannoritzer. Fotografia Marc Martinez Sarrado. Música Composta por
Marta Andrés, Joan Gil Bardagi. Disponível em:
<http://www.rtve.es/television/documentales/comprar-tirar-comprar/>. Acesso em: 27 maio 2014.
120
LATOUCHE, Serge. Pequeno tratado do decrescimento sereno. Tradução de Claudia Berliner.
São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. p. 17.
121
LATOUCHE, Serge. Pequeno tratado do decrescimento sereno, p. 17-18.
122
LATOUCHE, Serge. Pequeno tratado do decrescimento sereno, p. 21.
123
LATOUCHE, Serge. Pequeno tratado do decrescimento sereno, p. 18.
124
LATOUCHE, Serge. Pequeno tratado do decrescimento sereno, p. 18-19.
44

Em prazos cada vez mais curtos, aparelhos e equipamentos, das


lâmpadas elétricas aos pares de óculos, entram em pane devido a
falhas intencionais de um elemento. Impossível encontrar uma
peça de reposição ou alguém que conserte. Se conseguíssemos
pôr a mão na ave rara, custaria mais caro consertá-la do que
comprar uma nova (sendo esta hoje fabricada a preço de banana
pelo trabalho escravo do sudeste asiático).125

A obsolescência, para Behrend, pode decorrer de outras técnicas


desenvolvidas com o objetivo de levar o consumidor a comprar, como por exemplo,
limitar o número de produtos colocados no mercado (edições de colecionador),
alegar que existem apenas poucas unidades em estoque (método comum nas
vendas pela TV) e oferecer um produto substituto do antigo por um menor preço.126
Essas técnicas, embora reconhecidas como forma de induzir ao consumo, não são
exclusivas do plano da obsolescência propriamente.
A propósito, os países comunistas e socialistas não experimentaram a
obsolescência, conforme observa Magera127:

[...] no bloco comunista na Europa do Leste, a obsolescência


programada não poderia ser aplicada. Pelo contrário, as indústrias
criaram máquinas que chegavam a durar 25 anos. O sistema
socialista da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas) tinha uma outra concepção de produção. Não havia a
figura do capitalista e o Estado era o dono do modo de produção.
Com a falta de recursos, a obsolescência não era desejada, visto
que causaria prejuízo para o Estado.128

Com base nessas lições, constata-se que a história da obsolescência é


recente, teve como marco o início do século passado e se desenvolveu
principalmente nos Estados Unidos da América.
A obsolescência surgiu como algo benéfico para a sociedade, ou seja, algo
que permitia o crescimento econômico e evitava crises como a “Grande
Depressão”, de 1929.
Com o avançar do tempo, o contexto e o conceito de obsolescência foram
alterados; de aspecto eminentemente econômico passou a fazer parte da
estratégia de negócios das empresas e do mercado de consumo.

125
LATOUCHE, Serge. Pequeno tratado do decrescimento sereno, p. 21.
126
BEHREND, Christoph. Consequences of planned obsolescence for consumer culture and the
promotional self, p. 10.
127
MAGERA, Marcio. Os caminhos do lixo: da obsolescência programada à logistica reversa.
Campinas/SP: Átomo, 2013. p. 97.
128
MAGERA, Marcio. Os caminhos do lixo: da obsolescência programada à logistica, p. 97-98.
45

Nesse caminhar, a ideia de obsolescência como algo positivo para o


mercado e para a economia mudou. Hoje, a intenção de produzir bens com vida
útil reduzida para incentivar o consumo não é vista com bons olhos pois gera o
consumo repetitivo, que não condiz com a concepção de desenvolvimento
sustentável.

2.2 CONCEITO DE OBSOLESCÊNCIA

Conforme o parecer do Comité Económico e Social Europeu sobre


consumo sustentável, denominado “Por um consumo mais sustentável: o ciclo de
vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”, ainda não existe consenso sobre o significado de obsolescência. 129
Mesmo assim, tentar-se-á construir um conceito de obsolescência, inicialmente
com base na etimologia do termo.
Obsolescência, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa,
significa desclassificação tecnológica do material industrial motivada pela aparição
de material mais moderno; expressa também a ideia de redução gradativa e
consequente desaparecimento de determinada coisa/bem.130

129
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 2. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014..
130
Verbete: obsolescência. PRIBERAM. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em:
<http://www.priberam.pt/dlpo/obsolesc%C3%AAncia>. Acesso em: 27 maio 2014.
46

Burns131 relata que a origem latina da obsolescência decorre da


justaposição de dois componentes: o primeiro deles, o verbo soleo, significa “estar
em uso”132; o segundo “ob”, significa “até o fim”133; o segundo, que a palavra tem
sentido oposto ao comumente usado hoje.134
A palavra obsolescência usada pelos romanos tinha o sentido de algo não
mais em uso ou insignificante.135
Do Parecer do Comitê Econômico e Social Europeu sobre consumo
sustentável, extrai-se a seguinte definição de obsolescência:

[...] ‘degradação de um material ou de um equipamento antes da


sua deterioração material pelo uso’ (Dicionário: Le Petit Larousse),
a ponto de perder valor e utilidade por razões independentes do
seu uso físico, mas ligadas ao progresso técnico, à evolução dos
comportamentos, à moda, etc.136.

Packard137 traz a definição do Dicionário Webster, indicando obsolescência


como produto que deixou de ter uso.
Nos dias atuais, o sentido da palavra obsolescência se refere a produtos
que estão desatualizados.
Os conceitos de obsolescência e produtos descartáveis foram
desenvolvidos pelos americanos no início do século passado, quando
eletrodomésticos com visuais mais modernos substituíram antigos fogões e lareiras
da época, anota Slade138. O autor também reconhece três tipos de obsolescência –
tecnológica, psicológica e planejada – e sustenta que obsolescência programada é

131
BRIAN, Burns. Re-evaluating obsolescence and plannin of it. In: COOPER, Tim (Ed.). Longer
lasting products – Alternatives to the throwaway society. United Kingdom: MPG Books Group, 2010.
p. 40.
132
No original: “to be in use”.
133
No original: “away”.
134
BRIAN Burns. Re-evaluating obsolescence and plannin of it. In: COOPER, Tim (Ed.). Longer
lasting products – Alternatives to the throwaway, p. 40.
135
BRIAN Burns. Re-evaluating obsolescence and plannin of it. In: COOPER, Tim (Ed.). Longer
lasting products – Alternatives to the throwaway society, p. 40-41.
136
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 2. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
137
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 66.
138
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 36.
47

toda e qualquer técnica utilizada para limitar artificialmente a durabilidade de um


produto manufaturado e estimular o consumo repetitivo.139
Na interpretação de Cooper, a obsolescência ocorre quando os produtos
estão fora de uso (out of use) ou desatualizados (out of date).140
Neste ponto do estudo é oportuno conhecer a distinção que existe entre
obsolescência e obsolescência programada. A obsolescência pode decorrer
simplesmente do fato de um determinado produto se tornar fora de uso, sem que
exista um fator negativo relacionado. A obsolescência programada depende de um
fator externo apto a influenciar a troca antecipada do produto.
Os conceitos de obsolescência e de obsolescência programada no Brasil
são adotados indistintamente, conforme se verá a seguir.
Em relação à obsolescência planejada ou programada, Benjamin assevera:

O consumidor é induzido a adquirir um produto ou serviço que, em


pouco tempo será considerado obsoleto, seja porque sua utilidade
decai rapidamente, seja porque o fornecedor, intencionalmente,
deixou de lhe dar certas características que já conhecia, apenas
para lançar um ‘novo’ produto em seguida. E o consumidor queda-
se completamente alheio a todos esses processos, embora
pagando, por inteiro, seus custos.141

Obsolescência programada, leciona Vio, consiste na "redução artificial da


durabilidade de um bem de consumo, de modo a induzir os consumidores a
adquirirem produtos substitutos dentro de um prazo menor e, consequentemente,
com uma maior frequência, do que usualmente fariam"142.
Cabral e Rodrigues complementam o conceito ao afirmar que “tal redução
da durabilidade não se resume apenas a uma menor duração de um produto, mas
também a perda ou redução de sua utilidade depois de determinado período de
tempo”143.

139
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 52.
140
COOPER, Tim. Inadequate life? Evidence of consumer attitudes to product obsolescence.
Journal of consumer policy, p. 440.
141
BENJAMIN, Antônio Herman; MARQUES; Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de
direito do cConsumidor. 2ª tir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 104.
142
VIO, Daniel de Ávila. O poder econômico e a obsolescência programada de produtos. Revista de
Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo: Malheiros, ano XLIII, v. 133, p.
193-202, jan./mar. 2004. p. 193.
143
CABRAL, Hildeliza Lacerda Tinoco Boechat; RODRIGUES, Maria Madalena de Oliveira. A
obsolência programada na perspectiva da prática abusica e a tutela do consumidor. Lex Magister.
Disponível em:
<http://www.lex.com.br/doutrina_22860424_A_OBSOLENCIA_PROGRAMADA_NA_PERSPECTIV
A_DA_PRATICA_ABUSIVA_E_A_TUTELA_DO_CONSUMIDOR.aspx>. Acesso em: 16 mar. 2015.
48

No seu “Vocabulário jurídico”, De Plácido e Silva assim define o termo


“obsoleto”: “do latim obsoletus (velho, usado, estragado pelo tempo)”144, anotando
que na linguagem jurídica “é empregado para exprimir o que está fora de uso, ou
que caiu em desuso, é esquecido ou foi desprezado”.
Na verdade, alguns produtos foram programados para ter uma
obsolescência mais rápida, instantânea, como o caso dos produtos descartáveis.145

A obsolescência programada é um tema preocupante a muitos


títulos: diminuir a duração de vida dos bens de consumo leva ao
aumento da utilização de recursos e da quantidade de resíduos a
processar no final da vida dos produtos. A obsolescência, que pode
assumir muitas formas, é utilizada para estimular as vendas e
promover o crescimento econômico criando necessidades
incessantes e condições favoráveis à irreparabilidade voluntária
dos bens de consumo.146

Como consequência desse processo, há o desperdício de recursos e a


emissão de poluentes.147
É importante destacar também que obsolescência não pode ser confundida
com sucata ou resíduos de materiais.
Sobre o termo sucata, com esteio nos conceitos do Parecer Normativo
Coordenador do Sistema de Tributação - CST n. 1/89, que também serviu de base
para a resposta à Consulta n. 108/91 da Receita Federal do Brasil, transcreve-se a
seguinte definição de sucata ou resíduos de materiais:

144
Verbete: obsoleto. DE PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário jurídico, p. 972.
145
LEONARD, Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que
consumimos. Revisão técnica de André Piani Besserman Vianna; tradução Heloísa Mourão. Rio de
Janeiro: Zahar, 2011. p. 175.
146
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 5. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
147
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 4. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
49

Desperdícios e resíduos são aqueles provenientes da fabricação ou


acabamento do produto, como também as obras definitivamente
inservíveis como tais em decorrência de quebra, corte, desgaste ou
outros motivos. Estes produtos são de natureza muito variada e
apresentam-se geralmente com as seguintes formas:
- desperdícios e resíduos obtidos no decurso da fabricação ou do
acabamento do produto, por exemplo: aparas, limalhas e pedaços;
- artefatos definitivamente inaproveitáveis como tais em
consequência de fraturas, corte, desgaste ou outros motivos, bem
como seus resíduos.148

O Recurso Especial n. 984.106-SC (2007/0207915-3) aborda a questão da


obsolescência programada, conforme se infere do seguinte excerto do voto do
Ministro relator Luis Felipe Salomão:

Ressalte-se, também, que desde a década de 20 - e hoje, mais do


que nunca, em razão de uma sociedade massificada e consumista
-, tem-se falado em obsolescência programada, consistente na
redução artificial da durabilidade de produtos ou do ciclo de vida de
seus componentes, para que seja forçada a recompra prematura.
Como se faz evidente, em se tratando de bens duráveis, a
demanda por determinado produto está visceralmente relacionada
com a quantidade desse mesmo produto já presente no mercado,
adquirida no passado. Com efeito, a maior durabilidade de um bem
impõe ao produtor que aguarde mais tempo para que seja realizada
nova venda ao consumidor, de modo que, a certo prazo, o número
total de vendas deve cair na proporção inversa em que a
durabilidade do produto aumenta.
Nessas circunstâncias, é até intuitivo imaginar que haverá grande
estímulo para que o produtor eleja estratégias aptas a que os
consumidores se antecipem na compra de um novo produto,
sobretudo em um ambiente em que a eficiência mercadológica não
é ideal, dada a imperfeita concorrência e o abuso do poder
econômico, e é exatamente esse o cenário propício para a
chamada obsolescência programada (a propósito, confira-se:
CABRAL, Hildeliza Lacerda Tinoco Boechat; RODRIGUES, Maria
Madalena de Oliveira. A obsolescência programada na perspectiva
da prática abusiva e a tutela do consumidor. in. Revista Magister de
Direito Empresarial, Concorrencial e do Consumidor. vol. 1. Porto
Alegre: Magister (fev./mar. 2005 e vol. 42, dez./jan. 2012).
São exemplos desse fenômeno: a reduzida vida útil de
componentes eletrônicos (como baterias de telefones celulares),
com o posterior e estratégico inflaciona mento do preço do
mencionado componente, para que seja mais vantajoso a recompra
do conjunto; a incompatibilidade entre componentes antigos e
novos, de modo a obrigar o consumidor a atualizar por completo o
produto (por exemplo, softwares); o produtor que lança uma linha
nova de produtos, fazendo cessar açodadamente a fabricação de
insumos ou peças necessárias à antiga.
Registro, por exemplo, da jurisprudência do TJRJ, caso em que um
televisor apresentou defeito um ano e doze dias depois da venda

148
Parecer Normativo Coordenador do Sistema de Tributação - CST n. 1/89.
50

(doze dias após o término da garantia), e tendo o consumidor


procurado a assistência técnica, constatou ele que não existiam
mais peças de reposição para solucionar o vício, de modo que, em
boa verdade, o produto - bem durável - tornou-se imprestável em
brevíssimo espaço de tempo (AC 0006196-91.2008.8.19.0004, 4a
Câmara Cível do TJRJ, ReI. Des. Sérgio Jerônimo A. Silveira, j.
19.10.2011).
Certamente, práticas abusivas como algumas das citadas devem
ser combatidas pelo Judiciário, visto que contraria a Política
Nacional das Relações de Consumo, de cujos princípios se extrai a
‘garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de
qualidade, segurança, durabilidade e desempenho’ (art. 4º, inciso
II, alínea ‘d’, do CDC), além de gerar inegável impacto ambiental
decorrente do descarte crescente de materiais (como lixo
eletrônico) na natureza [Grifo do autor].149

A decisão colacionada reconhece a existência de prática de obsolescência


programada ao afirmar que produtos com vida útil mais longa permitem que o
consumidor tenha um prazo mais longo para efetuar a substituição do bem; do
contrário, ao oferecer produtos com uma vida menor os fabricantes estariam
induzindo os consumidores a realizar novas compras.
Conforme destaca o julgado, essa prática se caracteriza pela redução da
vida útil dos componentes com o posterior aumento do preço do componente de
reparo, tornando mais vantajosa a “recompra” do produto.
Outra prática observada pelo magistrado é a incompatibilidade entre
componentes antigos e novos, forçando o consumidor a atualizar por completo o
produto (por exemplo, softwares), como no caso do produtor que lança uma linha
nova de produtos e de maneira açodada cessa a fabricação de insumos ou peças
necessárias à edição antiga.
Mas existem outras formas de obsolescência, por exemplo, quando
fabricantes buscam antecipar o fim da vida do produto ou mesmo utilizam outros
artifícios para fazer com que o consumidor venha a substituir o seu produto antes
do fim de sua vida útil.
Diante do exposto, pode-se conceituar obsolescência como:
1) redução da vida útil do produto mediante o uso de artifícios ou uso de
materiais de menor durabilidade;

149
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 984.106-SC (2007/0207915-3).
Relator Ministro Luis Felipe Salomão. Brasília, DF. Julgamento em 4 de outubro de 2012. DJE
20.11.2012. p. 1-23. Disponível em: <http://s.conjur.com.br/dl/cdc-proteger-consumidor-
obsolescencia.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2016.
51

2) redução da vida útil do produto pela impossibilidade de realização de


manutenção, seja pela ausência de peças para reposição ou assistência técnica,
seja pela incompatibilidade entre componentes antigos e novos, incluindo
softwares e suas atualizações, ou pela ausência de consumíveis, acessórios,
produtos associados ou relacionados com o produto principal;
3) introdução de produtos ou outras condições no mercado, como fatores
psicológicos, mercadológicos, tecnológicos, funcionais ou outra forma de
persuasão, fazendo com que o produto funcional em posse do consumidor seja
menos desejável;
4) redução do prazo de validade ou do número de vezes de uso do produto
sem qualquer razão científica.
A obsolescência pode ainda ser artifício interno ou externo da relação de
consumo: interno, quando o fornecedor, de alguma forma, faz com que tal artíficio
esteja presente no produto ou mesmo na relação de consumo (pós-contratual), por
exemplo, deixa de disponibilizar consumíveis ou peças de reposição; externo,
quando o fornecedor cria um ambiente ou condição de mercado fazendo com que
o consumidor venha a substituir o seu produto, como é o caso da obsolescência
psicológica.

2.3 TIPOLOGIA DA OBSOLESCÊNCIA

A teoria da obsolescência, como mencionado antes, tem uma história


recente, mas sua influência na sociedade alterou-se com o passar dos anos. Como
é natural, aos poucos os estudiosos que se debruçaram sobre o tema criaram
distintas classificações para a obsolescência.
A propósito do conteúdo a ser explorado nesta seção, é pertinente retomar
a categorização sistematizada de obsolescência desenvolvida por Packard. São
elas: obsolescência de função (obsolescence of function), obsolescência de
qualidade (obsolescence of quality) e obsolescência de desejo (obsolescence of
desirability).150

150
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 66.
52

A obsolescência de função fica caracterizada quando um produto novo é


introduzido e realiza uma função melhor. Na obsolescência em razão da qualidade,
o produto quebra ou se desgasta em determinado momento, antes de completar a
sua vida útil, sinalizando que há um planejamento para que tal ocorra. Na
obsolescência de desejo ou psicológica, o produto que ainda opera normalmente,
em termos de qualidade e de performance, é considerado obsoleto em razão de
uma mudança de estilo ou outra mudança de mercado, fazendo com que pareça
menos desejável ao consumidor.151
Adotar a técnica de tornar o produto obsoleto a partir do projeto, segundo
Packard, significa promover a quebra antecipada ou mesmo parecer desgastado
(utilidade limitada) após algum tempo de uso.152
Com base no comentário de Mazur153, o autor afirma que o “estilo pode
destruir completamente o valor do produto, mesmo quando sua utilidade se
mantém inalterada”154. Aduz que é mais fácil criar a obsolescência na mente do
consumidor do que desenvolver um novo produto com novas funcionalidades,
denotando que os fabricantes não podem esperar pela vagarosa obsolescência de
função para poder comercializar um novo produto.155
O desafio, no caso da obsolescência de desejo, é criar uma estratégia para
persuadir o público, prestigiando o estilo como o elemento mais importante para a
decisão de compra de um produto. Assim, o estilo ou design é mais importante do
que os reais valores envolvidos no produto e também causa o crescimento da
extravagância no design.156
A obsolescência psicológica ou de desejo é bem notada no mercado de
moda feminina, suscitando até que as mulheres foram treinadas a sempre dar uma
desculpa para comprar um novo vestido.157 Apesar de o grande foco do mercado
da moda ser inicialmente o público feminino, hoje, estende-se cada vez mais para
o público masculino.158

151
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 65, 66.
152
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 78.
153
Apud PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 79.
154
No original: “Style can destroy completely the value of possessions even while their utility remain
unimpaired”.
155
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 79.
156
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 80.
157
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 82.
158
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 84.
53

Cheskin, citado por Packard, comenta que a “obsolescência psicológica é


um sintoma de nossos tempos, relacionado com a prevalência de tédio, falta de
expressão, falta de liberdade e de verdadeira comunicação entre amigos e
vizinhos, e uma geral falta de valores racionais [Tradução nossa]”159.
Slade classifica a obsolescência de maneira um pouco diferente daquela
apresentada por Packard.
A primeira classificação de obsolescência é denominada de obsolescência
técnica ou funcional e foi introduzida em 1913, quando os veículos passaram a
incorporar a partida elétrica em substituição às manivelas para acionar o motor.
Ocorre este tipo de obsolescência quando o fornecedor introduz uma nova
tecnologia ou funcionalidade no produto que faz com que o consumidor passe a
desejá-lo por uma determinada característica que apresenta, em detrimento de
outro, como é o exemplo das mudanças de tecnologia – de fitas VHS para DVDs e
posteriormente blue-rays.
A segunda forma de obsolescência é a chamada obsolescência
psicológica, perceptiva, progressiva ou dinâmica, quando o fornecedor modifica o
design ou o estilo do produto para manipular a compra repetitiva pelo
consumidor160. Esta modalidade de obsolescência surgiu uma década após a
primeira, em 1923, quando os executivos da General Motors passaram a fazer
mudanças nos veículos a cada ano, com o objetivo de induzir os consumidores a
substituir seus veículos por modelos mais novos. Com esta técnica, o fornecedor
reduz a vida de um produto funcional ao lançar outro com nova aparência ou
pequenas mudanças, com o propósito de fazer o consumidor substituir o bem que
possui por um novo. Tal situação é muito comum também no mercado de moda,
como acontece no lançamento de coleções de roupas a cada mudança de estação.
No mercado automotivo, observado pelo lado da manufatura do produto, a
obsolescência psicológica é encontrada com mais frequência do que a tecnológica.
A obsolescência psicológica tem menor custo e pode ser produzida com maior
demanda.161

159
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 86. No original:
“Psychological obsolescence is a symptom of our times related to the prevalence of ´boredom, lack
of self-expression, absesnce of free and truly friendly communication between neighbors and
friends, and a general lack of rational values”.
160
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 43.
161
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 328.
54

A terceira forma de obsolescência é a obsolescência planejada ou


programada. Neste tipo de obsolescência, o fornecedor deliberadamente manipula
o produto para que venha a falhar após determinado período de tempo. A falha de
produto decorrente do uso, por motivo de desgaste, falha ou consumo do material,
é considerada normal, uma vez que todos os produtos têm uma expectativa de
vida útil. A obsolescência planejada ou programada ocorre quando o fornecedor
passa a dispor de sua engenharia para adulterar a composição do produto, seja
introduzindo materiais de menor durabilidade, seja fazendo com que tenha uma
vida menor. Esse comportamento força o consumidor a adquirir um novo
produto.162
Na opinião de Leonard, a obsolescência técnica é diferente da
obsolescência programada: a primeira decorre do avanço técnico, enquanto a
segunda se refere a uma “programação” do fornecedor para que as coisas deixem
de funcionar.163 De modo mais incisivo, quando trata da obsolescência planejada, a
autora sentencia que é um “produto desenhado para o lixo” 164.165
Em abril de 2013, o Centro Europeu de Consumo166 elaborou o estudo
intitulado “L´obsolescence programmée ou Les Dérives de La Société de
Consommation”167, que trata da obsolescência programada e identifica três tipos
de obsolescência: obsolescência técnica ou tecnológica (L´obsolescence technique
ou techologique), obsolescência pela expiração (L´obsolescence par péremption) e
obsolescência estética (L´obsolescence esthétique).
A obsolescência técnica ou tecnológica é a mais comum e se divide em
quatro espécies: obsolescência por vício funcional (’obsolescence par défaut
fonctionnel), obsolescência por incompatibilidade (l’obsolescence par

162
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 48.
163
LEONARD, Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que
consumimos, p. 175.
164
Annie Leonard usa a expressão “designed for the dump”.
165
STORY OF STUFF PROJETC. The story of stuff. 2015. Disponível em: <http://storyofstuff.org/>.
Acesso em: 30 mar. 2015.
166
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou Les Dérives
de La Société de Consommation. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
167
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
55

incompatibilité), obsolescência indireta (l’obsolescence indirecte) e obsolescência


por notificação (l’obsolescence par notification).168
Obsolescência por vício funcional caracteriza bem a obsolescência
programada, ou seja, trata-se de um recurso técnico existente no produto cujo
objetivo é promover/antecipar o fim de sua vida útil. Ocorre quando os fabricantes
adicionam determinada peça no equipamento com o intuito de provocar uma avaria
e ele deixa de funcionar. Este tipo de obsolescência ocorre em produtos elétricos
ou eletrônicos, como televisores, máquinas de lavar, computadores e outros.169
Há, ainda, a obsolescência estética, de cunho subjetivo. Este tipo de
obsolescência atua na esfera psicológica do consumidor fazendo com que
reconheça determinado produto como velho ou desatualizado e fique inclinado a
adquirir um novo modelo do mesmo produto. A obsolescência estética ocorre antes
da “quebra ou morte” do produto, tornando-o apto ao descarte quando na verdade
ainda está em pleno funcionamento.170
Neste esforço de pesquisa também se identificou uma nova forma de
obsolescência planejada que é a obsolescência ecológica. A justificativa
encontrada para este tipo de obsolescência é que o produto novo tem um impacto
ambiental menor do que aquele em uso, por exemplo, os televisores de LED têm
um consumo de energia muito inferior aos antigos aparelhos de tubo. 171
A ideia é apoiada por muitos atores e distintas organizações de países da
União Europeia. Contudo, usar um argumento "verde" para justificar o abandono

168
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 4. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
169
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 4. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
170
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 4. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
171
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 6. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
56

de dispositivos antigos ainda em perfeito estado de funcionamento para a


aquisição de novos produtos que usam menos energia também promove um
aumento significativo de resíduos que nem sempre podem ser reciclados de
maneira adequada. Além disso, há que se questionar o real benefício para o
planeta desses novos produtos verdes que ainda não foram avaliados. Também é
importante lembrar que os consumidores, com a obsolescência verde, sofrem os
mesmos inconvenientes dos outros tipos de obsolescência, que, regra geral,
reclamam a substituição prematura de produtos ainda em perfeitas condições de
funcionamento.
Sobre a questão ambiental, a “engenharia de valor” (value engineer),
segundo Del Mastro, é um processo de design que visa utilizar o mínimo de
material possível em um produto e ainda oferece um tempo de vida aceitável. Esta
técnica sugere que todas as peças de um produto devem falhar após o mesmo
tempo de uso, ou seja, nenhuma peça/componente terá vida útil superior (overbuilt)
a outras.172
Apesar de existir uma preocupação ambiental em utilizar a menor
quantidade de matérias-primas possível, na verdade a ideia da técnica da
engenharia de valor é fazer com que o produto falhe por inteiro, ou seja, se
diversas partes e componentes de um produto falharem ao mesmo tempo, o custo
de reparo pode tornar-se proibitivo.
Cooper, pesquisador que se dedica aos aspectos econômicos e ambientais
da sociedade de consumo, em estudo sobre a tipologia da obsolescência
identificou outras espécies: a obsolescência absoluta e a obsolescência relativa. A
primeira, significa falha total de um produto e ocorre quando tal produto chega ao
fim de sua vida técnica porque se esgotou a sua vida útil ou porque não pode mais
suportar o desgaste do uso, talvez pela degradação do material que o compõe. A
segunda classificação de obsolescência (relativa) ocorre quando um produto que
ainda está em funcionamento é descartado em um momento que uma substituição
“discricionária” é feita. Existe, segundo o autor, uma teoria de escolhas racionais
que pode sugerir o momento em que os proprietários de produtos decidem avaliar

172
DEL MASTRO, Addison. Planned obsolescence: the good and the bad. Property and
Environment Research Center. Disponível em: <http://www.perc.org/blog/planned-obsolescence-
good-and-bad>. Acesso em: 20 abr. 2015.
57

a relação custo-benefício para a substituição de um produto funcional, contudo, na


prática, outras influências podem servir de base para tal decisão.173
A Teoria de Heiskanen174, explica Cooper, identifica alguns tipos de
obsolescência para explicar a razão de os consumidores substituírem seus
produtos: por falha, por insatisfação ou por necessidade de mudança. A
obsolescência por falha tem que ver com o ciclo de vida do produto e com o
comportamento do consumidor em relação a este mesmo produto (exemplo: forma
de uso, decisão de reparar ou substituir o produto). A obsolescência por
insatisfação tem relação com a obsolescência do produto pela inovação em face
de novas funcionalidades, como mudanças decorrentes da moda ou design do
produto ou mesmo mudança do estilo de vida do consumidor. Neste caso, há uma
substituição discricionária (discricionary replacement), ou seja, a decisão do
consumidor de trocar um produto que ainda está em pleno funcionamento não é
racional, baseada no custo-benefício, como mencionado linhas atrás. A terceira
tipologia apresentada por Heiskanen ocorre por necessidade de mudança do
consumidor, seja no seu estilo de vida, seja por circunstâncias pessoais, como
troca de domicílio, nascimento ou crescimento de crianças, entre outras
hipóteses.175
A obsolescência pode ser classificada ainda em tecnológica, psicológica e
econômica, conforme explicita Cooper. A obsolescência tecnológica ocorre quando
as pessoas são atraídas para novas funções adicionadas ou alteradas como
resultado dos avanços da tecnologia. Aqui, verifica-se a influência da tecnologia
como fator de decisão de aquisição ou descarte de determinado produto. A
obsolescência psicológica ocorre quando as pessoas não estão mais atraídas por
um produto ou mesmo satisfeitas com ele. Este tipo de obsolescência ocorre, regra
geral, em razão de pressões do grupo, moda ou marketing. A terceira forma,
identificada como obsolescência econômica, ocorre quando os consumidores
atribuem um pequeno ou não existente valor (econômico) a determinado produto e
concluem que não vale a pena mantê-lo em uso. Os consumidores, neste caso,
podem ser influenciados pelo custo da substituição do produto em relação a um

173
COOPER, Tim. Longer lasting products – Alternatives to the throwaway society, p. 16.
174
HEISKANEN, E. Conditions for produto life extension. Helsinki: National Consumer Research
Centre. Working Paper 23, 1996.
175
COOPER, Tim. Inadequate life? Evidence of consumer attitudes to product obsolescence.Journal
of Consumer Policy, Netherlands, Kluwer Academic Publishers, n. 24, p. 421-449, 2004. p. 425.
58

novo modelo, que pode ter maior eficiência energética, ou desencorajar o reparo
em razão do alto custo.176
A Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE),
ao classificar a obsolescência leva em consideração aspectos contábeis, dando,
assim, origem à obsolescência anormal ou imprevista e à obsolescência prevista.
Obsolescência anormal ou imprevista é a perda de valor de um produto devido a
uma queda na demanda que não poderia ter sido prevista quando o bem foi
adquirido. Este tipo de obsolescência pode ocorrer em razão de nova invenção ou
descoberta, ou porque uma mudança nos preços torna antieconômico continuar a
usar o bem.177 A obsolescência prevista, por sua vez, é a perda de valor de um
ativo; o comprador estava esperando que tal acontecesse quando o bem foi
adquirido.178
Keeble identifica a obsolescência postergada (postponement
obsolescence), que ocorre quando o fabricante tem condição de agregar uma
determinada tecnologia ou funcionalidade ao produto mas decide não incluí-la, ou
então incorpora tal tecnologia ou funcionalidade aos produtos mais sofisticados da
sua linha. Esta estratégia objetiva cria uma segmentação de produto, de maneira
que os consumidores venham a adquirir os produtos mais sofisticados, cheios de
tecnologia e portanto mais caros, ou “optem” por produtos mais simples, com
menos tecnologia e com preços inferiores.179
Há, ainda, a obsolescência não programada, resultante de circunstâncias
não planejadas, fora do controle das empresas, em função da legislação ou
mesmo devido a novas pesquisas, por exemplo, quando se descobre que

176
COOPER, Tim. Inadequate life? Evidence of consumer attitudes to product obsolescence.
Journal of Consumer Policy, Netherlands, Kluwer Academic Publishers, n. 24, p. 421-449, 2004. p.
421-449.
177
ORGANISATION FOR ECONOMIC COOPERARION AND DEVELOPMENT. Measuring Capital:
OECD Manual, Annex 1. Glossary of Technical Terms Used in the Manual. 2001, p. 91. Disponível
em: <http://www.oecd.org/std/na/1876369.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2015.
178
ORGANISATION FOR ECONOMIC COOPERARION AND DEVELOPMENT. Measuring Capital:
OECD Manual, Annex 1. Glossary of Technical Terms Used in the Manual. 2001, p. 91. Disponível
em: <http://www.oecd.org/std/na/1876369.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2015.
179
KEEBLE, Daniel. The culture of planned obsolescence in technology companies. The culture of
planned obsolescence in technology companies. 2013. Bachelor´s Thesis. (Business Information
Technology)-Oulu University of Applied Sciences. Finland, Spring 2013. p. 18.
59

determinado produto ou seu processo de fabricação pode causar dano, ser


prejudicial ou nocivo aos consumidores ou ao meio ambiente.180
A categorização da obsolescência em diversas tipologias segue diferentes
raciocínios que podem auxiliar no entendimento do seu verdadeiro conceito e na
identificação de eventuais reflexos para o consumidor.
Burns assevera que a obsolescência muitas vezes é causada por uma
combinação de diversos fatores. Por isso, recomenda que na investigação da
causa da obsolescência devam ser analisadas as respostas a algumas perguntas
simples, por exemplo:

Qual foi o mercado que o produto foi lançado?


Por quanto tempo os consumidores podem precisar do produto?
Qual a expectativa de vida do produto?
Qual a expectativa de preço e custo de uso ou por uso do produto?
Qual o impacto ambiental do produto durante sua vida útil e no seu
descarte?
Qual a confiança na durabilidade do produto e as consequências
no caso de vício/defeito do produto?
Qual o potencial de mudança tecnológica?
Qual a maturidade do produto no mercado?
Qual a possibilidade de alteração nas leis, marco regulatório ou
padrão que se aplicam ao produto?
Quais os requisitos de manutenção do produto e a possibilidade de
‘upgrade’ no produto?
Qual o ciclo da moda relacionado ao produto?
Como o produto é usado e como tal questão pode afetar a vida útil
do produto?
O produto é realmente necessário? (Supérfluo).181

Mas não é só. No desenvolvimento da investigação é importante ter em


mente que a tipologia tem a função de auxiliar a identificar a causa da
obsolescência.

180
KEEBLE, Daniel. The culture of planned obsolescence in technology companies. The culture of
planned obsolescence in technology companies. 2013. Bachelor´s Thesis. (Business Information
Technology)-Oulu University of Applied Sciences. Finland, Spring 2013. p. 19.
181
BURNS, Brian. Re-evaluating obsolescence and plannig of it. In: COOPER, Tim (Ed.). Longer
lasting products – Alternatives to the throwaway society, p. 50-51.
60

2.3.1 Estudo do Comitê Econômico e Social Europeu sobre obsolescência

Aprofundando o estudo da obsolescência, o mencionado parecer do


Comitê Econômico e Social Europeu “Por um consumo mais sustentável: O ciclo
de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma
confiança restabelecida. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao
consumidor”, concluiu que a obsolescência programada coloca diversos problemas
para a sociedade europeia.182
No plano social, vislumbram-se três tipos de problemas causados pela
obsolescência programada. “Em primeiro lugar, numa altura de crise, os
comportamentos provocados pela obsolescência programada dos bens de
consumo contribuem para a dinâmica das compras a crédito e para taxas de
endividamento nunca antes atingidas.”183
As pessoas mais afetadas pela obsolescência pertencem às camadas
sociais mais desfavorecidas, que não têm condições de arcar com preços mais
elevados de produtos sustentáveis ou com maior prazo de vida útil e muitas vezes
têm de se contentar com produtos mais frágeis e com vida útil menor.184

182
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 6. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
183
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 6. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
184
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 6. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
61

Outro problema é que toda a cadeia de empregos das empresas de


reparação às vezes tem de arcar com as repercussões negativas da obsolescência
programada, uma vez que muitos produtos não podem ser reparados em
decorrência de distintos fatores, como alto custo, dificuldade técnica, falta de peças
de reposição e outros.185
Na seara da saúde pública, duas são as principais repercussões. A
primeira alude ao impacto da incineração de tais produtos para as populações
vizinhas devido à toxicidade dos componentes eletrônicos, ou seja, quando os
produtos são incinerados, sua fumaça e seus poluentes atingem outras regiões
além daquela onde foram incinerados.186 A segunda repercussão apontada no
parecer é de ordem internacional, uma vez que:

[...] a falta de infraestrutura onde é possível tratar os resíduos de


produto faz com que muitos destes sejam ilegalmente exportados
para zonas geográficas onde o seu depósito em aterros será
menos oneroso, mas com consequências diversas para as
populações locais (p. ex., o Gana, onde a sucata de ferro é extraída
dos resíduos para ser enviada para o Dubai ou a China).187

A realidade europeia registra ainda repercussões culturais e econômicas


da obsolescência programada. De acordo com o parecer em comento, o ciclo de

185
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 6. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
186
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 6. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
187
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 6. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
62

vida médio dos eletrodomésticos é atualmente de seis a oito anos, mas há duas
décadas era de dez a 12 anos. “Os consumidores têm razão para se interrogar
sobre a redução do ciclo de vida dos produtos numa altura em que é a inovação
que é valorizada.”188 Do lado da economia:

A grande maioria das empresas incriminadas operam em domínios


de alta tecnologia cujos produtos são frequentemente importados
para a Europa. Ao analisar o tema, a União Europeia proporciona
às suas empresas uma forma de se distinguir pela sua prática
efetiva da sustentabilidade.189.

No Brasil, não foi possível localizar estudo que fizesse uma análise sobre
os reflexos da obsolescência para o consumidor. Apesar disso, acredita-se que as
repercussões que tangenciam os aspectos sociais, a saúde, a economia, por
exemplo, são válidos e podem transbordar para a realidade brasileira.
Apresentados esses comentários sobre as repercussões da obsolescência,
ressalta-se que o parecer do Estudo do Comitê Econômico e Social Europeu nada
mencionou quanto aos aspectos ambientais, mas eles serão abordados no
presente estudo.
Por fim, é importante salientar que a obsolescência programada não tem
como única finalidade o consumo repetitivo de produtos; seus reflexos são mais
amplos, complexos, severos e podem atingir inclusive terceiros que não
participaram da relação de consumo do produto afetado.

188
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 6. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
189
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 6. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
63

2.3.2 A tipologia de classificação de Giles Slade como base para comprovar a


presença da obsolescência no mercado brasileiro

Slade, vale lembrar, classifica a obsolescência em três espécies. A


primeira delas é a obsolescência técnica ou funcional, que consiste na inclusão de
uma nova tecnologia ou funcionalidade no produto que faz com que o consumidor
passe a desejá-lo por esta nova característica. A segunda classificação é a
chamada obsolescência psicológica, perceptiva, progressiva ou dinâmica e ocorre
quando o fornecedor modifica o design ou o estilo do produto para manipular a
compra repetitiva pelo consumidor190. A terceira forma de obsolescência é a
obsolescência planejada ou programada, que ocorre quando o fornecedor
deliberadamente manipula o produto para que este venha a falhar após
determinado período de tempo em uso.
Antes de seguir adiante, é importante mencionar que a seleção da tipologia
de Slade usada neste estudo tem duas motivações: a primeira, pelo fato de ser
mais ampla e representar uma evolução em relação à classificação criada por
Packard; a segunda, servir como base para demonstrar a ação do fornecedor para
induzir o consumidor a realizar compras repetitivas e, ainda, suportar o exame de
formas de prevenção e de mecanismos reparatórios dessas práticas no âmbito do
CDC.
A abordagem da obsolescência programada, conforme classificação de
Slade, vai, ademais, buscar alguns aspectos do Estudo do Comitê Econômico e
Social Europeu aqui referenciado. A justificativa para tanto é a complexidade desta
tipologia de obsolescência e a necessidade de completude de sua análise.

190
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 43.
64

3 PRODUTOS E OBSOLESCÊNCIA

Produtos compõem a parte objetiva da relação de consumo, conforme se


extrai do conteúdo do art. 2º do CDC: “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica
que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único.
Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis,
que haja intervindo nas relações de consumo.”. O art. 3º do mesmo diploma legal
vem complementar a definição de produto ao definir expressamente que produto é
qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
Pelo lado da doutrina, Filomeno assim leciona a respeito: “Produto
(entenda-se bens) é qualquer objeto de interesse em dada relação de consumo, e
destinado a satisfazer uma necessidade do adquirente como destinatário final.” 191.
Nery Junior destaca que: “O CDC não distinguiu entre bem material ou
juridicamente consumível, de modo que não é lícito ao intérprete distinguir. Assim,
tanto uma como outra categoria de bem consumível estão sob a regência do
Código.”192.
A noção trazida pelo legislador do CDC é a de se considerar produto
qualquer bem que tenha sido colocado em circulação no mercado de consumo
pelo fornecedor.193
Todo produto tem por essência um bem – uma obrigação de dar, de
transferir a propriedade ou a posse de coisa móvel ou imóvel, material ou
imaterial.194
Sanseverino entende que o conceito de produto é amplo, abrangendo
todos os bens móveis, imóveis, materiais e imateriais.195

191
FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direito do consumidor. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
p. 41.
192
NERY JÚNIOR, Nelson. A defesa do consumidor no Brasil. Revista de Direito Privado. São
Paulo, n. 18, p. 218-298, abr./jun. 2004.
193
CALDEIRA, Patricia. Caracterização da relação de consumo. Conceito de
consumidor/fornecedor. Teorias maximalista e finalista. Análise dos artigos 1º a 3º, 17 e 29, do
CDC. In: _____; SODRÉ, Marcelo Gomes, MEIRA, Fabiola (Org.). Comentários ao Código de
Defesa do Consumidor. 1. ed. São Paulo: Verbatim, 2009, p. 30.
194
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 7. ed. 3. reimpr. São Paulo:
Atlas, 2007. p. 455.
195
SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no Código do Consumidor e a
defesa do fornecedor. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 130.
65

Dessas lições, infere-se que produto é qualquer bem de valor econômico,


objeto de interesse do homem e adquirido mediante relação de consumo. Com sua
descrição genérica, pode-se dizer que o legislador pretendeu abranger todas as
situações justamente para evitar que o consumidor possa ficar desprotegido.196

3.1 CLASSIFICAÇÕES DE PRODUTOS

3.1.1 Produtos duráveis e não duráveis

A primeira classificação que se observa no CDC é aquela que distingue


produtos duráveis e não duráveis.

Por bens não duráveis entenda-se todos aqueles que se exaurem


ao primeiro uso ou em pouco tempo após a aquisição. Aí cabem,
entre tantos outros, os alimentos, medicamentos, cosméticos,
serviços de lazer e de transportes [...]. Bens duráveis podem ser
definidos por exclusão aos não duráveis. De qualquer modo,
caracterizam-se eles por terem uma vida útil efêmera, embora não
se exija que seja prolongada. Do nosso cotidiano podem ser tirados
alguns exemplos: o automóvel, os computadores, os utensílios
domésticos, os móveis, os serviços de assistência técnica, os de
oficinas, os de reforma de habitações, os de decorações. Os
produtos imóveis são, como regra, duráveis.197

O Superior Tribunal de Justiça (STJ), no REsp 114.473, ocorrido em março


de 1997, assim estabeleceu: “entende-se por produtos não-duráveis aqueles que
se exaurem no primeiro uso ou logo após sua aquisição, enquanto que os
duráveis, definidos por exclusão, seriam aqueles de vida útil não efêmera”198.
No seu voto, o Ministro Sálvio Figueiredo, no REsp em questão, assim
consignou: “Entende-se por produtos não duráveis aqueles que se exaurem no

196
CORNETTA. William. Produtos essenciais no direito do consumidor. 2012. 202f. Dissertação
(Mestrado em Direito)-Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012. p.128.
197
BENJAMIN, Antônio Herman et al. Comentários ao Código de Proteção ao Consumidor. São
Paulo: Saraiva, 1991. p. 131 -132.
198
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp 114.473 (1996/0074492-0) – data do julgamento
24/03/1997 – DJ 05/05/1997 p. 17.060 – JBCC, v. 181, p. 103.
66

primeiro uso ou logo após sua aquisição, enquanto que os duráveis, definidos por
exclusão, seriam aqueles de vida útil não efêmera.” 199.
Outra definição aponta que produto durável é aquele cujo consumo não
importa na sua imediata destruição física, como por exemplo, eletrodomésticos,
automóveis, computadores. Por sua vez, produto não durável é aquele cujo
consumo acarreta a sua imediata destruição física, como é o caso de alimentos,
produtos medicinais etc.200
Da doutrina de Cavalieri Filho, extrai-se a seguinte lição:

[...] duráveis são os bens tangíveis que não se extinguem após o


seu uso regular. Foram feitos para durar; para serem utilizados
várias vezes. Não são, todavia, eternos. Sofrem desgastes naturais
com o passar do tempo e a sequência de uso. Assim, os livros, as
roupas, os automóveis, os imóveis, os equipamentos eletrônicos
etc. Com o tempo, maior ou menor, deixarão de atender às
finalidades para as quais se destinam ou, terão reduzida a sua
eficiência ou capacidade de funcionamento. No segundo caso, a
contrario sensu, temos que não duráveis são aqueles bens
tangíveis que desaparecem, se destroem, acabam com o seu uso
regular. A extinção pode ser imediata (alimentos, remédios,
bebidas) ou paulatina (caneta, sabonete).201

Pode-se associar os produtos não duráveis aos bens consumíveis do


Código Civil, consoante estabelece o seu art. 86: “São consumíveis os bens
móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também
considerados tais os destinados à alienação.”202.
Os produtos não duráveis são, portanto, aqueles que desaparecem, que se
destroem ou acabam em razão do seu uso regular, são efetivamente consumidos
pelo uso. O consumo que gera a extinção pode ser imediato, ou seja, o produto é
usado uma única vez, como é o caso de alimentos, ou paulatinamente, como é o
caso de produtos de beleza, canetas, entre outros. Produtos duráveis são aqueles

199
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp 114.473 (1996/0074492-0) – data do julgamento
24/03/1997 – DJ 05/05/1997 p. 17.060 – JBCC, v. 181, p. 103 – Voto Ministro Sálvio de Figueiredo
Teixeira (Relator).
200
LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade civil nas relações de consumo. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2001. p. 173.
201
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p.
64-65.
202
“Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria
substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.” BRASIL. Lei n. 10.406, de
10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
67

que não se extinguem após o seu uso, podendo ser utilizados diversas vezes, ou
seja, permanecem aptos ao fim a que se propõem, por um certo período de tempo.

3.1.2 Produtos perecíveis

Outra espécie de produtos prevista no CDC é a dos produtos perecíveis.


De plano, é importante registrar as seguintes definições trazidas pelo
Dicionário Michaelis, relativamente ao vocábulo perecível: “1 Sujeito a perecer;
perecedor. 2 Que se pode estragar; frágil.”203.
Benjamin204 define produto perecível como aquele que necessita de
conservação especial, não lhe bastando as condições ambientais normais, mas
isso não significa que seja sinônimo de produto não durável. Produto perecível,
regra geral, é comercializado em supermercados, açougues, quitandas,
restaurantes, lanchonetes e drogarias.
Ana Luisa Nery, ao tratar dos produtos perecíveis, segue a mesma linha do
retromencionado doutrinador, corroborando que produtos perecíveis são aqueles
que necessitam conservação especial.205
Enfim, bens perecíveis não são duráveis e, dada a sua fragilidade,
dependem de conservação especial para que não se estraguem ou pereçam em
um prazo muito exíguo.

203
Verbete: Perecíveis. MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Dicionário on-line.
2009. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br>. on line. Disponível em:
<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=bens>. Acesso em: 8 mar. 2015.
204
BENJAMIN, Antônio Herman; MARQUES; Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de
direito do consumidor. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 134.
205
NERY, Ana Luiza Barreto de Andrade Fernandes. A responsabilidade do comerciante à luz do
artigo 13 do CDC. In: SODRÉ, Marcelo Gomes; MEIRA, Fabiola; CALDEIRA, Patrícia (Org.).
Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 1. ed. São Paulo: Verbatim, 2009. p.127.
68

3.1.3 Produtos descartáveis

Os produtos descartáveis não receberam tratamento no CDC, mas,


consoante o escopo deste estudo, merecem ser aqui abordados.
Na opinião de Slade, outra estratégia usada pelos fabricantes para dar
asas ao consumo repetitivo foi a introdução da "cultura do descartável", que data
do início do século XX, quando muitos materiais se tornaram mais baratos e
disponíveis para a indústria. A mencionada "cultura do descartável" foi concebida
como uma demanda infinita para a indústria. O primeiro produto descartável a ser
introduzido foram as camisas com gola e punhos descartáveis, feitos de papel, no
início da década de 1870. Na época, os custos com lavanderia eram altos, não
confiáveis e limitados a apenas alguns espaços urbanos. Como a produção do
papel tinha ficado barata e era possível produzir em larga escala, a fabricação de
camisas e sua comercialização era, então, uma realidade. Além disso, o descarte
de golas e punhos podia ser feito em lareiras ou nos antigos fogões da época. O
fim das camisas de gola e dos punhos descartáveis veio com o desenvolvimento
dos eletrodomésticos que permitiram que muitos lares americanos possuíssem
máquinas de lavar roupa. A popularização de lavanderias em diversos pontos dos
Estados Unidos da América também colaborou para a mudança.206 Outro produto
descartável destacado por Slade207 foi a lâmina de barbear descartável, idealizada
e desenvolvida por King Gillette no início do século XX.
A cultura do descartável ganhou popularidade nos Estados Unidos porque
os produtos descartáveis pessoais eram utilizados em nome da higiene e da
saúde. O reflexo destes novos hábitos influenciou o aparecimento de outros
produtos.208
Exemplo mais recente de produto descartável está nas embalagens dos
sanduiches utilizados pelo McDonald´s. Petroski conta que no início da década de
1970, o McDonald´s “envolvia o Big Mac num aro de papelão, embrulhava o

206
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America. First Harvard University
Press paperback edition. Cambridge, USA: Havard University Press, 2007. p. 13.
207
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and o.solescence in America. First Harvard University
Press paperback edition. Cambridge, USA: Havard University Press, 2007, p. 16.
208
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America. First Harvard University
Press paperback edition. Cambridge, USA: Havard University Press, p. 24.
69

sanduiche em papel alumínio e o servia dentro de uma caixa vermelha”209. Em


1975, esta complexa embalagem foi substituída por uma de poliestireno, uma
espécie de isopor. Na década de 1990, por pressões ambientais, a embalagem do
sanduíche foi novamente substituída por uma de papelão. A vida útil da caixinha de
poliestireno era muito curta; segundo o autor, resumia-se ao tempo que
acondicionava o sanduiche, ou seja, “desde o balcão da lanchonete até a mesa”210.
Na avaliação de Rizzatto Nunes, embora a lei não tenha definido produto
descartável, não há que se confundi-lo com produto não durável. Produto
descartável é o produto durável de baixa durabilidade, que só pode ser utilizado
uma vez.211
O mercado de consumo disponibiliza um sem-número de produtos
descartáveis, como copos, talheres, fraldas, barbeadores, entre outros. Estes
exemplos bem demonstram a importância de não se confundir produto descartável
com produto perecível. Produtos descartáveis são duráveis; apenas são utilizados
ou uma vez ou poucas vezes e, como o próprio nome indica, depois são
descartados.

3.1.4 Produtos indissociáveis e dissociáveis

A classificação dos produtos indissociáveis e dissociáveis decorre da


análise da composição do produto.
Os produtos artificiais ou industriais, na doutrina de Grinover, podem ser
classificados em:

a) produtos indissociáveis, que são aquelas resultantes da


aglomeração dos respetivos componentes ou substâncias, que dão
origem a um composto que não pode ser dissociado, sem
comprometimento do produto final, como é o caso de
medicamentos;

209
PETROSKI, Henry. A evolução das coisas úteis, garfos, latas, zíperes e outros objetos do nosso
cotidiano, p. 240.
210
PETROSKI, Henry. A evolução das coisas úteis, garfos, latas, zíperes e outros objetos do nosso
cotidiano, p. 241-243.
211
RIZZATTO NUNES, Luiz Antônio. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 3. ed. rev.
e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 115.
70

b) produtos dissociáveis que são aqueles resultantes da reunião ou


justaposição dos componentes ou peças que podem ser
dissociados, sem comprometimento do produto final, como é o
caso dos eletrodomésticos, veículos automotores etc.212

Lisboa213 faz uso de uma nomenclatura diferente, contudo tem uma


conclusão muito semelhante:

[...] quanto à substituição de peças, o produto pode ser: compósito


ou essencial (não composto). Produto compósito é aquele
resultante do justaposicionamento de peças e componentes, que
podem ser substituídos sem que se proporcione a sua
inadequação. Produto essencial ou não compósito é aquele que
não pode ter qualquer de seus componentes retirados ou
substituídos, sob pena de comprometer a sua substância. Os
elementos do produto essencial são, portanto, insuscetíveis de
dissociação. A distinção entre produto compósito e produto não
compósito é útil porque o bem que não se sujeita à retirada de
qualquer dos seus componentes não pode ser reparado no caso de
existência de vício intrínseco, cabendo ao consumidor, neste caso,
a adoção das outras soluções propugnadas pelo legislador
(redibição, estimação ou troca). No entanto, tratando-se de produto
que admite a substituição da peça defeituosa sem que isso
provoque danos maiores à coisa, abre-se o prazo legal de trinta
dias para que o fornecedor proceda à substituição necessária, sob
pena de o consumidor poder exercer a opção de redibir, estimar ou
trocar o bem.

Desse raciocínio, infere-se, primeiro, que o produto in natura será sempre


indissociável, não compósito ou essencial; segundo, que o produto industrial ou
artificial, de acordo com a sua composição, poderá ser indissociável (não
compósito ou essencial), dissociável ou compósito.
Para o propósito do presente estudo, o interesse está nos produtos
industriais ou artificiais, já que uma classificação de produto em razão de sua
composição permite o reparo mediante a substituição de suas peças ou de seus
componentes, enquanto a outra não.

212
GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos
autores do anteprojeto. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. p. 219.
213
LISBOA, Roberto Senise. Responsabilidade civil nas relações de consumo, p. 196-197.
71

3.2 CLASSIFICAÇÕES DE PRODUTOS E OBSOLESCÊNCIA

Apresentada a classificação dos produtos, verifica-se que todas elas estão


sujeitas ao artifício da obsolescência, exceto aquela que alude aos alimentos
perecíveis quando decorrem da própria natureza.
Os produtos industrializados perecíveis podem ser objeto do artifício da
obsolescência, uma vez que sua formulação ou sua forma de comercialização
podem ser sujeitas a tais artifícios.
Todas as demais classes de produtos, ou seja, produtos duráveis, não
duráveis, descartáveis, dissociáveis ou indissociáveis também podem ser objetos
das diferentes formas de obsolescência.
É notório que para alguns tipos de produto a ação da obsolescência é mais
patente, como acontece com os produtos duráveis. Neste caso, como existe uma
expectativa do consumidor de permanecer com o produto por mais tempo, é claro
que o desejo do fornecedor é que este prazo seja reduzido.
Quanto aos produtos descartáveis ou não duráveis, a ação da
obsolescência é menor porque, óbvio, o tempo de uso do produto pelo consumidor
é menor, mas isso não impede que o fornecedor lance mão de artifícios para
provocar a compra repetitiva, antecipada. O mesmo raciocínio vale para produtos
dissociáveis ou indissociáveis, lembrando apenas que no caso de indissociáveis, a
situação nem permite qualquer reparação ou alteração do produto.
Diante desses fatos, é possível afirmar que independente da classificação
dos produtos o artifício da obsolescência pode ser aplicável.
O capítulo seguinte se dedica ao estudo de cada um dos tipos da
obsolescência segundo a teoria de Slade.
72

4 OBSOLESCÊNCIA TÉCNICA

4.1 COMO O ARTÍFICO É COLOCADO EM PRÁTICA PELO FORNECEDOR

O primeiro tipo de obsolescência identificado por Slade, como mencionado


anteriormente, é a obsolescência técnica ou funcional214. Este tipo de
obsolescência foi introduzido no mercado automobilístico quando os veículos
passaram a incorporar a partida elétrica em substituição às manivelas para acionar
o motor, no início do século passado215.
A obsolescência técnica ocorre quando o fornecedor introduz uma nova
tecnologia ou funcionalidade no produto que faz com que o consumidor passe a
desejá-lo por esta nova característica que apresenta.
A obsolescência técnica ou funcional de Slade se assemelha a
obsolescência e função (obsolescence of function) desenvolvida por Packard, que
ocorre quando um novo produto é introduzido e realiza uma função melhor.216
À primeira vista, pode-se entender que se trata de um aspecto favorável à
obsolescência, pois permite que novos produtos ou produtos com novas
funcionalidades ou tecnologias ingressem no mercado.
Ao longo da história humana, vários produtos foram evoluindo ou
substituídos por outros. Por exemplo, as primeiras fitas betamax foram substituídas
pelas fitas VHS, depois pelo DVD, o blue-ray, e hoje perdem espaço para as
mídias disponibilizadas via internet ou em servidores de TVs a cabo.
A introdução de nova funcionalidade, tecnologia ou característica no
produto também pode ser uma forma de induzir o consumidor a substituir o seu
produto por um modelo atualizado ou mesmo adquirir uma nova unidade.
Antes de aprofundar o tema da obsolescência técnica, e para facilitar o
raciocínio, é importante partir para a análise prática, objeto da seção seguinte.

214
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 43.
215
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 43.
216
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 66.
73

4.2 CASOS DE OBSOLESCÊNCIA TÉCNICA

4.2.1 Ford versus General Motors – Caso 1

Atualmente, o mercado de automóveis promove mudanças estéticas com


certa regularidade. Na maioria das vezes não existem alterações significativas do
ponto de vista do projeto, da mecânica ou da funcionalidade do veículo; limitam-se
apenas a pequenas mudanças para diferenciar um modelo de determinado ano
para outro do ano subsequente. Tal prática data do início do século passado, fruto
de uma disputa encabeçada pelas montadoras General Motors e Ford.
Slade comenta que uma deliberada prática da cultura da obsolescência
ocorreu na competição entre Ford e General Motors, na década de 1920, travada
entre seus líderes corporativos, Henry Ford e Alfred Sloan, respectivamente.217
O automóvel Ford modelo T era um carro confiável e comercializado
sempre pelo menor preço possível e por esta razão era um produto praticamente
imbatível no mercado. A vida útil do Ford modelo T era de cerca de oito anos, dois
anos a mais do que a média dos outros veículos. Ocorre que devido à qualidade do
produto e à ausência de qualquer alteração estética ao longo dos anos em que o
Ford T foi produzido, a empresa começou a ter problemas em manter a demanda e
a economia de escala. Em 1920, cerca de 55% dos norte-americanos que tinham
condição de adquirir um veículo eram proprietários de um Ford T.218
Contudo, em razão da qualidade e da integridade do seu produto, Henry
Ford tinha grandes restrições para fazer qualquer alteração no Ford T. Enquanto
isso, o seu concorrente, Alfred Sloan, à frente da General Motors, tinha um
dinamismo diferente e entendia que a dinâmica capitalista tornava a tecnologia
obsoleta.219
A primeira grande investida da General Motors contra a Ford foi a inclusão
do motor de partida elétrica em seus veículos, em 1913, fazendo com que os
veículos com partida à manivela se tornassem obsoletos da noite para o dia. Em

217
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 29.
218
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 30-31.
219
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 31-32.
74

paralelo, diversos fabricantes passaram a incluir outros acessórios nos veículos,


como para-brisas, luzes interiores, redutores de ruídos e odores para o
compartimento do motor e, ainda, pensando nas mulheres, começaram a investir
no conforto e no estilo da parte interna dos veículos.220
A Ford, ainda assim, mantinha-se fiel ao modelo T original, tanto que,
segundo o relato de Slade, o carro virou motivo de piadas e até ridicularizado em
músicas e desenhos animados.
A introdução de novas funcionalidades e tecnologias foi a base para criar
um mercado constante de revenda de veículos, prática esta que ainda pode ser
reconhecida no momento atual.
A propósito, adiante, verificar-se-á que o mercado automotivo ainda vincula
a prática da obsolescência técnica à psicológica.

4.3 ANÁLISE DOS MECANISMOS PREVENTIVOS OU REPARATÓRIOS


DISPONÍVEIS NO CDC

A introdução de uma nova funcionalidade ou tecnologia, como apontado,


tem o objetivo de levar o consumidor a adquirir um novo produto. Giles Lipovetsky
coloca que todo esse desenvolvimento funciona como um chamariz tecnológico
para criar o consumo em massa.221
Nessa trilha, o primeiro aspecto que merece atenção é quanto ao objetivo
da obsolescência, de criar um ambiente, despertar uma motivação ou um desejo
no consumidor para incitar o consumo repetitivo do produto, conforme denota
Slade222.
O desenvolvimento e introdução de nova funcionalidade, tecnologia ou
característica a produtos que já estão no mercado, reitera-se, é uma forma de
despertar no consumidor a vontade de adquirir o novo produto. Em outras
palavras, regra geral, quando o fornecedor inclui nova tecnologia, funcionalidade

220
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 35, 37.
221
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero – a moda e seu destino nas sociedades modernas.
Tradução Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia de Bolso – ebook – pos. 2925 de 5836.
222
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 65.
75

ou característica na nova versão do produto ou mesmo apresenta nova tecnologia


ou outro produto que venha substituir a anterior, como ocorreu com os
tocadores/mídias de DVD’s que foram substituídos pelos tocadores/mídia de blue-
ray, o objetivo é criar uma motivação no consumidor para novas compras e,
consequentemente, vender mais.
Em muitas situações, essa atuação do fornecedor decorre de uma
estratégia de marketing223, quando o consumidor opta pela substituição de um
produto funcional por outro justamente em função da novidade que apresenta.224
Nesta hipótese, tem-se a obsolescência, que não causa limitação de uso do
produto, ou seja, o consumidor ainda está apto a utilizar o produto, que por sua vez
está em pleno funcionamento e atendendo ao fim a que se propôs. E não se pode
dizer, in casu, que houve um problema intrínseco à relação de consumo –
fornecedor/consumidor –; na verdade foi o consumidor quem, por um fator externo
à relação de consumo, optou por substituir o produto, quiçá, por estar convencido
de que a nova tecnologia é mais interessante.
Essa assertiva, contudo, não tem o condão de mitigar o problema porque,
bem sabemos, existem artifícios usados pelos fornecedores para fazer com que o
consumidor tenha o desejo ou a necessidade de fazer a troca do bem que já
possui, ou partir para o consumo de um novo, mesmo que o anterior esteja em
pleno funcionamento e atendendo ao fim a que se propôs.
A propósito da necessária defesa da parte mais vulnerável da relação de
consumo – o consumidor –, uma questão que sobressai é a da verificação da
existência de mecanismos de prevenção ou mesmo de reparação no âmbito do
microssistema do CDC.
De plano, pode-se dizer que o CDC não apresenta os mecanismos
necessários para proteger devidamente o consumidor contra a obsolescência
técnica. O que existe são princípios e direitos básicos, como é o caso do direito de
informação, que permite uma proteção relativa mas que pode ter um efeito muito
limitado, como se verá em seguida.

223
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 65.
224
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 66.
76

O direito de informação positivado pelo CDC, conforme observa Miragem,


é um dos direitos que maior repercussão prática alcança no cotidiano das relações
de consumo.225 E aduz:

O tratamento favorável do consumidor nas relações de consumo


apoia-se no reconhecimento de um déficit informacional entre o
consumidor e o fornecedor, porquanto este detém o conhecimento
acerca de dados e sobre o processo de produção e fornecimento
dos produtos e serviços no mercado de consumo.226

O princípio da informação – disposto na Constituição Federal, a partir do


artigo 1º, incisos II, III e IV, artigo 5º, incisos XIV, XXXII, XXXIII e LXXII, artigo 170,
inciso IV, e artigos 220 e 221 – pode ser classificado como princípio constitucional
implícito, extraído da interpretação conjunta de outros postulados: dignidade da
pessoa humana; livre-iniciativa; construção de uma sociedade livre, justa e
solidária; erradicação da pobreza; redução das desigualdades sociais e regionais;
promoção do bem de todos; proteção à vida (e à saúde); liberdade de expressão;
acesso à informação; defesa do consumidor; livre concorrência; e respeito aos
valores éticos e sociais da pessoa e da família.227
Para Filomeno228, o dever de informar bem o público sobre todas as
características dos produtos e dos serviços já lançados no mercado é importante
para que aquele que pretenda, respectivamente, adquiri-los ou contratá-los saiba
exatamente o que poderá deles esperar.
O direito básico à informação tem, portanto, a finalidade de promover o
equilíbrio entre fornecedores e consumidores; ademais, visa permitir que os
consumidores tenham acesso a todas as informações sobre os produtos ou
serviços que almejam adquirir.

225
MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor: fundamentos do direito do consumidor; direito material
e processual do consumidor; proteção administrativa do consumidor; direito penal do consumidor.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p.121.
226
MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor: fundamentos do direito do consumidor; direito material
e processual do consumidor; proteção administrativa do consumidor; direito penal do consumidor,
p.121.
227
MALFATTI, Alexandre David. O princípio da informação no Código de Defesa do Consumidor.
2001. Dissertação (Mestrado em Direitos Difusos)-Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2001. p. 278-279.
228
FILOMENO, José Geraldo Brito. Dos direitos básicos do consumidor. In: BENJAMIM, Antonio
Herman Vasconcelos e (Coord.). Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos
autores do anteprojeto. São Paulo: Forense, 2011. p. 237.
77

Com esteio no direito à informação assegurado no CDC, o consumidor


poderá exigir do fornecedor todas as informações necessárias em relação ao
produto que será adquirido.
Note-se que, pelo princípio da informação, o fornecedor é obrigado a
prover as informações sobre os produtos já colocados no mercado e não sobre os
produtos que serão lançados no mercado. Ou seja, o CDC não impõe ao
fornecedor o dever de informar quais são os novos produtos a serem
disponibilizados no mercado nem mesmo as novas funcionalidades que lhes serão
atribuídas.
As informações colocadas no mercado sobre novos produtos, os teasers,
têm uma função mais comercial do que propriamente informar o consumidor. Na
prática, percebe-se que o fornecedor comunica ao mercado o lançamento de um
novo produto ou versão com o objetivo de fazer o consumidor optar por comprar
dele e não do concorrente.
Pelo lado da reparação, o legislador consumerista, no art. 12, § 2º,
reconheceu que o produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de
melhor qualidade ter sido colocado no mercado.
Segundo Denari229, “o dispositivo acima [citado] tem origem na Diretiva do
Conselho n. 374/85230 da Conselho das Comunidades Europeias - CEE, que
somente faz menção do caráter sequencial da introdução do novo produto no
mercado”.
Não se trata, aqui, de abordar a questão do risco de desenvolvimento, uma
vez que a doutrina é pacífica em reconhecer que o fabricante é o responsável por
todos os riscos do desenvolvimento do produto e pelas consequências do seu uso
ou consumo. O que se percebe é que o consumidor não dispõe de recursos
jurídicos na legislação nacional para se proteger da obsolescência que não causa
a limitação de uso do produto, ou seja, aquela decorrente da introdução de uma
nova funcionalidade ou tecnologia.
229
DENARI, Zelmo. Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da reparação dos danos.
In: BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos e (Coord.). Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. São Paulo: Forense, 2011. p. 203.
230
EUR-LEX. Directiva 85/374/CEE do Conselho, de 25 de Julho de 1985, relativa à aproximação
das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-Membros em matéria
de responsabilidade decorrente dos produtos. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/legal-
content/PT/ALL/?uri=CELEX%3A31985L0374>. Acesso em: 20 maio 2016.
“Artigo 6 […] 2 – Um produto não será considerado defeituoso pelo simples facto de ser
posteriormente colocado em circulação um produto mais aperfeiçoado.”
78

5 OBSOLESCÊNCIA PSICOLÓGICA

5.1 COMO O ARTIFÍCÍO É COLOCADO EM PRÁTICA PELO FORNECEDOR

A segunda forma de obsolescência observada por Slade é a chamada


obsolescência psicológica, perceptiva, progressiva ou dinâmica, quando o
fornecedor modifica o design ou o estilo do produto para incitar a compra repetitiva
pelo consumidor231.
A obsolescência psicológica trabalhada por Slade é semelhante a
obsolescência psicológica ou de desejo apontada por Packard.232
Como exemplos de obsolescência psicológica, têm-se a moda, o design de
produtos, também aplicável a veículos, e todas as outras formas utilizadas pelo
fornecedor para criar um ambiente para manipular a percepção, o desejo ou a
psique do consumidor para fazer com que este realize uma nova compra do
produto.
Há alguns aspectos da tipologia obsolescência psicológica que precisam
ser destacados. O primeiro alude a uma das maneiras mais fáceis de gerar a
compra repetitiva, quando o fornecedor não precisa de grandes investimentos nem
de longo prazo para desenvolver uma nova tecnologia ou funcionalidade do
produto. Por exemplo, nos mercados da moda, do design, dos automóveis, entre
outros, a diferença entre um modelo de roupa, uma estação ou ano do produto, no
caso de veículos, pode ser simplesmente a cor ou um detalhe estético que não traz
nenhuma vantagem para a operação ou o desempenho do produto. Outro aspecto
é que o artifício da obsolescência psicológica não é utilizado diretamente no
produto, mas sim no ambiente ou no marketing que é feito em torno dele, ou seja,
diferente da obsolescência programada, o fornecedor não manipula o produto para
falhar antes do tempo nem trabalha para incluir uma nova função, como acontece
na obsolescência técnica, neste caso, o fornecedor trabalha com o psicológico do
consumidor.

231
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 43.
232
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 82.
79

Para conhecer como o fornecedor utiliza o artifício da obsolescência


psicológica, pode-se começar pela demanda. A demanda se refere à forma como
os fornecedores verificam o interesse dos consumidores na aquisição de seus
produtos.
Como observam Pindyck e Rubbinfeld, pelo lado da microeconomia, a
curva de demanda informa a quantidade de consumidores que desejam comprar
determinado produto à medida que muda o preço unitário.233 Para os autores: “A
quantidade demandada pode também depender de outras variáveis, tais como a
renda, clima e preços de outros bens. Para muitos produtos, a quantidade
demandada aumenta quando a renda aumenta.”234.
Ao lado da curva da demanda está a curva de oferta, que “informa a
quantidade de mercadoria que os produtores estão dispostos a vender a
determinado preço, mantendo-se constante quaisquer fatores que possam afetar a
quantidade ofertada; trata-se de uma relação quantidade ofertada e preço”235.
Os fornecedores podem estabelecer o volume de oferta de produtos
conforme a demanda dos consumidores para tentar, assim, maximizar a produção,
a distribuição e a venda. Com esse propósito em mente, eles podem desenvolver
meios e ferramentas para influenciar a demanda e gerar o consumo repetitivo.
Essa capacidade de influenciar exterioriza-se no marketing, na publicidade, na
oferta do produto em outros meios de divulgação.
Os experts de marketing, comenta Packard, consideram que os
consumidores devem receber desculpas plausíveis para comprar mais dos
mesmos produtos antes do período que seria considerado racional ou prudente;
quer dizer236, os consumidores devem receber estímulos para comprar os mesmos
produtos antes do fim dos respectivos ciclos de vida. Por exemplo, segundo o
autor, a ideia que transborda na obsolescência psicológica é que os homens
devem possuir um terno para eventos matutinos, outro para eventos que ocorrem
no meio do dia e um terceiro para eventos noturnos.237

233
PINDYCK, Robert S.; RUBBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 6. ed. São Paulo: Pearson
Prentice Hall, 2007. p. 18.
234
PINDYCK, Robert S.; RUBBINFELD, Daniel L. Microeconomia, p. 19.
235
PINDYCK, Robert S.; RUBBINFELD, Daniel L. Microeconomia, p. 18.
236
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 43. (Ebook).
237
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 43. (Ebook).
80

Slater aduz que pessoas insatisfeitas tendem a se manter empregadas


para poder comprar mais comodidades, formando um grande ciclo de consumo.238
Nesse cenário, a demanda é, pois, a forma como os fornecedores
verificam o interesse dos consumidores na aquisição de seus produtos e pode ser
alterada para incitá-los a comprar mais produtos. Esse movimento, por certo,
impulsiona e faz aumentar a demanda.
Diante de tais fatos, percebe-se que a alteração da curva da demanda é
uma das formas utilizadas pelo fornecedor para induzir o consumidor a fazer
compras repetitivas de seus produtos. Portanto, a alteração da curva da demanda
pode ser enquadrada como forma de obsolescência psicológica.
A ferramenta utilizada para alterar a curva de demanda é o marketing, que
pode ser definido como “um processo social por meio do qual pessoas e grupos de
pessoas obtêm aquilo que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e
livre negociação de produtos e serviços de valor com outras”239.
No início do século XX, relata Slade, a questão central era como os
fabricantes podiam encorajar os consumidores a comprar seus produtos
constantemente, sem adquirir produtos semelhantes de seus concorrentes. A
solução encontrada para o problema foi a promoção do consumo repetitivo, que
incluia uma grande variedade de estratégias comerciais, como embalagem de
produto e colocação de marca (branding and packing), de modo a continuamente
mudar os produtos duráveis e torná-los obsoletos.240
No que tange ao branding, a consolidação de uso da marca foi a primeira
técnica que os fabricantes utilizaram para estimular o consumo repetitivo de seus
produtos. Esta técnica permite a identificação e a diferenciação dos bens
colocados no mercado.241
A embalagem (packing) também foi um recurso utilizado para estimular o
consumo repetitivo. O acondicionamento dos produtos, antes vendidos a granel,

238
SLATER, Don. Consumer, culture and modernity. Oxford: Polity Press Terrel, T., 1999, p. 18.
(Hoodwinked by Tecnology).
239
KOTLER, Philip. Administração de marketing: a edição do novo milênio. Tradução Bazán
Tecnologia e Linguistica, revisão técnica Arão Sapior. São Paulo: Prentice Hall, 2000. p. 30.
240
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 84.
241
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 91.
81

também permite uma melhor distinção dos concorrentes e a distribuição em áreas


geográficas maiores.242
Na verdade, a criação da cultura dos produtos descartáveis apresentava
para os fabricantes “um horizonte sem fim”. Bom exemplo nesse sentido é o da
Gillette, que desenvolveu o barbeador de lâminas descartáveis, ou seja, quando as
lâminas perdessem o fio, bastaria substituí-las por outras novas. A cultura do
descarte, desta feita, garantiria a fortuna e o sucesso dos fabricantes.243
Outro aspecto igualmente digno de nota é o desenvolvimento de produtos
para homens e mulheres244, uma forma de fazer com que as famílias passem a ter
dois produtos diferentes para a mesma finalidade, apenas se diferenciando em
razão do gênero: um para homem e outro para mulher, como é o caso dos
xampus, por exemplo.
Segundo o exemplo trazido por Packard, fabricantes introduziram um “kit”
de desodorante “ele-ela” para maridos e esposas, e com esta estratégia os casais
poderiam ter dois produtos com as mesmas características, no mesmo banheiro. 245
Outra estratégia para aumentar o leque de opção de produtos destinados a
homens e mulheres foi a introdução de cores diferentes para eles e para elas.246
Mas há outras formas de o fabricante buscar a individualização do
consumo, como os aparelhos celulares, por exemplo. Quando os celulares
entraram no mercado existia um aparelho para cada família. Não demorou muito e
o produto foi tornando-se cada vez mais individual, tanto que hoje, em alguns
lugares do mundo, existem mais aparelhos celulares do que pessoas.
Bem a propósito, o Brasil terminou o mês de janeiro de 2015 com 281,7
milhões de celulares e com uma proporção de aparelho celular por habitante de
138,3 a cada cem habitantes. Estes números indicam que há mais de 138
aparelhos celulares para cada cem habitantes, ou seja, 1,38 celular por
habitante.247 No fim do terceiro trimestre de 2014 já existiam mais de 6.9 bilhões de

242
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 84.
243
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 107, 142-143.
244
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 107.
245
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 43.
246
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 65.
247
TELECO. Estatísticas de celulares no Brasil. 2016. Disponível em:
<http://www.teleco.com.br/ncel.asp>. Acesso em: 4 abr. 2015.
82

celulares habilitados em todo o planeta248 para um número de 7.2 bilhões de


habitantes.249
A tendência de lançar no mercado, inicialmente, produtos mais simples e
depois sofisticá-los vem sendo observada em vários setores da economia. Há
outros exemplos: o sabão em pó em duas versões de produto: um para roupas
escuras e outro para roupas claras; o xampu, que se apresenta em várias versões
(para homens, para mulheres, para crianças e para bebês), e lâminas de barbear
para homens e para mulheres.
A individualização de produtos tem como objetivo, portanto, aumentar a
quantidade do mesmo item na residência dos consumidores. A consequência, em
se tratando de mercado de consumo, é o acréscimo das vendas.
Esses exemplos bem demonstram a estratégia da obsolescência
psicológica, quando o fornecedor cria situações para induzir o consumidor a
realizar compras repetitivas sem uma efetiva necessidade.
Outra forma de o fornecedor utilizar o artifício da obsolescência psicológica
é a redução do ciclo de vida do produto.
Schweriner, dissertando sobre o tema, afirma que o ciclo de vida de um
produto engloba o lançamento, o crescimento, a maturidade, o declínio e a sua
retirada do mercado.250 O autor compara o ciclo de vida251 de um produto à vida de
um indivíduo, conforme resume o seguinte quadro:

Quadro 1 – Ciclo de vida – Indivíduo x Produto


INDIVÍDUO PRODUTO

Nascimento Lançamento no mercado (introdução)


Infância/Adolescência Crescimento
Idade adulta Maturidade
Velhice Declínio
Falecimento Retirada do mercado
Fonte: Schweriner252

248
TELECO Estatísticas de celular no mundo. 30.11.2015. Diponível em:
<http://www.teleco.com.br/pais/celular.asp>. Acesso em: 4 abr. 2015.
249
COUNTRYMETERS. População mundial. Disponível em: <http://countrymeters.info/pt/World>.
Acesso em: 4 abr. 2015.
250
SCHWERINER, Mario Ernesto Renê. Comportamento do consumidor: identificando necejos e
supérfluos essenciais, p. 13.
251
SCHWERINER, Mario Ernesto Renê. Comportamento do consumidor: identificando necejos e
supérfluos essenciais, p. 13.
252
SCHWERINER, Mario Ernesto Renê. Comportamento do consumidor: identificando necejos e
supérfluos essenciais, p. 13.
83

As fases do produto são explicadas por Kotler253 da seguinte forma:

 Introdução: período de baixo crescimento de vendas, uma vez que o


produto está sendo introduzido no mercado. Nesse estágio, não há lucro devido às
pesadas despesas com a introdução do produto.
 Crescimento: período de rápida aceitação no mercado e melhoria
substancial dos lucros.
 Maturidade: período de baixa no crescimento das vendas, uma vez que
o produto conquistou a aceitação da maioria dos compradores potenciais. Os
lucros se estabilizam ou declinam devido à competição acirrada.
 Declínio: período em que as vendas mostram uma queda vertiginosa e
os lucros desaparecem.

A relação entre vendas e ciclo de vida de determinado produto pode ser


visualizada no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Ciclo de vida do produto

Fonte: Marketing Teacher.com254

Segundo Schweriner, há duas espécies de produtos em desuso:


“improdutos” e “produtos terminais”.255 O autor considera como “improdutos”
aqueles que não são mais fabricados e somente podem ser encontrados em
antiquários, brechós e afins, por exemplo, monóculos, pneus de faixa branca,

253
KOTLER, Philip. Administração de marketing: a edição do novo milênio, p. 326.
254
MARKETING.TEACHER. O ciclo de vida do produto (CVP). Disponível em:
<http://www.marketingteacher.com/o-ciclo-de-vida-do-produto-cvp/>. Acesso em: 31 jul. 2014.
255
SCHWERINER, Mario Ernesto Renê. Comportamento do consumidor: identificando necejos e
supérfluos essenciais, p. 14.
84

régua de cálculos, discos de vinil, disco de 78 e 45 rotações, entre outros. Já os


produtos terminais são aqueles que se encontram “no limbo”256 e continuam sendo
produzidos, mas em quantidades ínfimas se comparados com o seu período de
esplendor. Esses produtos, com alguma dificuldade, ainda podem ser encontrados,
mas o seu fim já foi decretado; têm um uso residual, pois sobrevivem
marginalmente, como acontece com, por exemplo, a ampulheta, a anágua, a
brilhantina, a cadeira de balanços, a cigarreira, entre outros.257
Kotler258 identifica três ciclos de vida de produto, intitulados de estilo, moda
e modismo.

O estilo é um modo básico e distinto de expressão, que surge em


uma área da atividade humana. O estilo aparece em casas
(coloniais, country), na maneira de se vestir (formal, informal,
extravagante) e na arte (realista, surrealista, abstrata). Um estilo
pode durar várias gerações, entrando e saindo de moda.
Moda é um estilo correntemente aceito ou popular em uma
determinada área.
Modismo é a moda que chega rapidamente, é adotada com grande
entusiasmo, chega logo ao pico e declina muito rapidamente. Seu
ciclo de aceitação é pequeno e ele tende a atrair um número
limitado de adeptos, que estão em busca de emoção ou querem se
destacar dos demais. Como regra, o modismo é um elemento de
aspecto singular e imprevisível, como o piercing ou a tatuagem. O
modismo não sobrevive, uma vez que normalmente não atende a
uma forte necessidade. 259

O ciclo de vida, como observa Porter, tenta descrever um padrão que


invariavelmente ocorrerá (quatro fases), mas o tempo de permanência do produto
em cada uma das fases pode variar significativamente, assim como o padrão, que
também pode variar.260
A redução do ciclo de vida de produto é uma forma bastante perversa de
induzir o consumidor à compra repetitiva, quando, por exemplo, o fornecedor lança
uma coleção ou versão especial do produto com poucas unidades, ou

256
SCHWERINER, Mario Ernesto Renê. Comportamento do consumidor: identificando necejos e
supérfluos essenciais, p. 14.
257
SCHWERINER, Mario Ernesto Renê. Comportamento do consumidor: identificando necejos e
supérfluos essenciais, p. 15.
258
KOTLER, Philip. Administração de marketing: a edição do novo milênio, p. 329.
259
KOTLER, Philip. Administração de marketing: a edição do novo milênio, p. 329-330.
260
PORTER, Michael E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústria e da
concorrência. Tradução de Elizabeth Maria de Pinho Braga. 30ª reimpressão. Rio de Janeiro:
Elsevier, 1986. p. 162.
85

simplesmente limita a produção para um determinado lote ou a venda do produto


em um determinado período.
Nesse modelo de redução do ciclo de vida também se enquadram o
desconto ou o preço especial para os primeiros compradores de determinado
produto e a moda, que será abordada à frente.
Dessa análise, extrai-se que o fornecedor tem a sua disposição diversos
artifícios que podem ser utilizados para, por meio da obsolescência psicológica,
induzir o consumidor a adquirir novos produtos.
Na seção seguinte são apresentados alguns casos e o propósito é melhor
ilustrar a prática da obsolescência psicológica.

5.2 CASOS DE OBSOLESCÊNCIA PSICOLÓGICA

5.2.1 Ford versus General Motors – Caso 2

A disputa entre as montadoras Ford e General Motors decorreu


basicamente da prática da obsolescência psicológica, muito utilizada no mercado
de automóveis.
Como apontado no capítulo anterior, a Ford, fiel ao modelo T original,
apesar de barato e mecanicamente confiável, perdia cada vez mais espaço no
mercado para os modelos oferecidos pela General Motors, que passou a oferecer
diversas funcionalidades adicionais em seus veículos.
Não bastasse, o Ford modelo T era oferecido apenas na cor preta,
considerado, principalmente pelas mulheres, uma cor de baixo prestígio, enquanto
a General Motors e a Chrysle ofereciam ao mercado carros em diversas cores. 261
Enquanto isso, a Jordan Motor Car, foi além e em 1918 se tornou a primeira a
comercializar um carro exclusivo para mulheres.

261
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 38-41.
86

A grande competição por estilo, na verdade, começou em 1926, quando os


carros começaram a apresentar mais alterações estéticas.262
Como o custo de desenvolver um projeto de um carro novo com frequência
era muito alto, a General Motors criava anualmente pequenas alterações estéticas
para diferenciar os seus automóveis de um ano para outro. 263
O ponto alto da disputa foi a criação do departamento de arte e coloração
(art and color) dos carros da General Motors, em 1927264, dando início, pode-se
dizer, à obsolescência psicológica no mercado automotivo. Tal fato teve grande
impacto neste mercado. Primeiramente, fez com que a Ford alterasse o seu firme
conceito de produzir um carro confiável, feito para durar, sem grande preocupação
com a estética e que prestigiava a eficiência produtiva com vista a reduzir custos
para o consumidor, para um modelo de busca de realização de compras
repetitivas, utilizando-se da obsolescência psicológica.
Não levou muito tempo e a obsolescência psicológica se espraiou para o
mercado de consumo geral. Em se tratando de montadoras de veículos, vale dizer,
este padrão continua a ser adotado mundialmente.
A combinação dos dois casos Ford e General Motors permite também
inferir que os fornecedores não estão adstritos a uma única forma de
obsolescência, podendo adotar duas ou mais tipologias para atingir o objetivo de
induzir a compra repetitiva de seus produtos.

5.2.2 Obsolescência e moda

Lipovetsky relata que a eclosão da moda ocorreu na Idade Média quando


os nobres procuravam brilhar e distinguir-se nas cortes. Por essa razão, a moda
passou a ser o principal meio de competição por status e prestígio.265 O autor

262
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 44.
263
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 44.
264
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 49.
265
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero – a moda e seu destino nas sociedades modernas,
ebook, pos 927.
87

comenta ainda que as questões da moda se tornaram assunto de alta importância


para a nobreza, que perdeu as antigas prerrogativas guerreiras e judiciárias266.
Em 1899, Thorsten Veblen267 publicou “A teoria da classe ociosa”, que
trouxe o conceito de ócio e de consumo conspícuo. Segundo esta teoria, caso haja
uma categoria de indivíduos que deliberadamente possa abster-se do trabalho útil,
a riqueza e o lazer então não são mais desejados por si, mas sim pelo objetivo de
ostentação. Assim, a acumulação de riqueza decorre cada vez menos da
necessidade material e cada vez mais da necessidade de busca de uma posição
de destaque na sociedade.
O ócio e o consumo conspícuo são definidos como tempo gasto em
atividades que não visam à produção, mas distinto também da inatividade. As
ocupações da nobreza passam a ser relacionadas com a subsistência social do
grupo, atividades como prática de esportes, guerra, governo e religião, o que se
poderia chamar, nos dias atuais, de estilo de vida. 268
Como mencionado linhas atrás, a moda ingressou na sociedade no fim da
Idade Média, assumiu o espaço antes ocupado pelas batalhas e se tornou um ritual
de competição por atenção.
Neste ponto, passa-se ao largo de um estudo aprofundado da moda, sua
história e reflexo para a sociedade. Na verdade, a atenção se voltará para o lado
do consumo desenfreado e da constante mobilização do mercado para induzir o
consumidor a realizar compras repetitivas no modelo da obsolescência psicológica.
Cline destaca que o preço médio das roupas teve uma queda significativa
nos últimos anos e a moda das roupas baratas (cheap fashion) passou a ser vista
como chique, prática e democrática.269 Mas os benefícios deste novo estilo de
moda merecem uma análise mais detida.
O fato de que o “menor preço estimula o consumo”270 pôde ser percebido
em 2008, nos Estados Unidos da América, quando foram consumidos

266
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero – a moda e seu destino nas sociedades modernas,
ebook, pos 927.
267
VEBLEN, Thornstein. Teoria de la classe ociosa. México: FCE, 1966. p. 9-40.
268
VEBLEN, Thornstein. Teoria de la classe ociosa, p. 36-37.
269
CLINE, Elisabeth L. Over-dressed – The shockingly high cost of cheap fashion. New York:
Portfolio/Penguin, 2012. p. 2.
270
CLINE, Elisabeth L. Over-dressed – The shockingly high cost of cheap fashion, p. 3.
88

aproximadamente vinte bilhões de itens de vestuário e 2,2 bilhões de calçados271,


perfazendo uma média anual de 64 itens de roupa por americano.
Ao longo da história, o vestuário sempre foi algo relativamente caro, difícil
de obter, valorizado pela sociedade, usado até como moeda de troca.272
A mudança ocorre quando a referência da moda barata se torna uma
atividade de massa, de acesso possível a qualquer pessoa, ainda que com pouco
dinheiro para gastar.273 Esse fato passa a ter grandes reflexos no mercado
consumidor. O primeiro diz respeito à qualidade. No segmento de moda barata, a
qualidade passa a ter um sentido relativo, em termos por exemplo de quantas
vezes um produto de vestuário pode ser lavado até que o tecido manche, desbote
ou mesmo a peça perca a forma, perca botões ou descosture. Em tempos de
produção da chamada moda barata, a roupa deve durar até a próxima nova
tendência.274
A relação do consumidor com cada peça de vestuário é de algo
descartável, tanto que em um comercial da rede de varejo americana T. J Maxx,
comenta Cline, uma estudante de moda diz que “nunca usa a mesma roupa duas
vezes” 275.
A razão ou motivação da compra é outro aspecto a ser observado. A
autora descreve uma situação em que está em uma loja de roupas com uma amiga
e a decisão da compra de um blazer é o valor da peça. Referida peça era
anunciada por USD 59.95, mas a amiga de Cline pagaria no máximo o valor de
USD 45.00, ou seja, a decisão de comprar deixa de ser a real necessidade do
vestuário e se transfere para o valor relativo ou percebido da peça.276
Ainda, no aspecto preço, perdeu-se o costume de analisar se a peça a ser
adquirida vale o esforço dispendido, no sentido de seu valor intrínseco, por
exemplo percorrer longa distância para ir a determinado outlet que oferece

271
AMERICAN APPAREL AND FOOTWEAR ASSOCIATION. Trends. An annual statistical analysis
of the U.S. Apparel & Footwear Industries. Annual 2008 Edition. Arlington, August 2009. Disponível
em: <https://www.wewear.org/assets/1/7/Trends2008.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2015.
272
CLINE, Elisabeth L. Over-dressed – The shockingly high cost of cheap fashion, p. 4.
273
CLINE, Elisabeth L. Over-dressed – The shockingly high cost of cheap fashion, p. 7.
274
CLINE, Elisabeth L. Over-dressed – The shockingly high cost of cheap fashion, p. 12.
275
CLINE, Elisabeth L. Over-dressed – The shockingly high cost of cheap fashion, p. 8.
276
CLINE, Elisabeth L. Over-dressed – The shockingly high cost of cheap fashion, p.12.
89

descontos ou mesmo passar a noite em uma fila para ser a primeira pessoa a
ingressar na loja que está oferecendo uma promoção especial.277
Segundo a autora, moda é obsolescência, mudança, torna-se um processo
constante de compra, cujo ciclo está em aceleração.278
Sobre moda e obsolescência, Grossman assevera que é “muito fácil
confundir a obsolescência e as coisas que caíram de moda”. E completa dizendo
que na busca de estabelecer uma linha divisória entre ambas, a moda “vai e volta”
muitas vezes. O raciocínio é que “algum estilo se tornou obsoleto porque ficou por
muito tempo sem ser usado ou também porque foi suplantado por alguma coisa
que é percebida como uma categoria melhor, mais rápida, mais forte, de mais fácil
uso”279.
A obsolescência psicológica está muito presente no mercado da moda e o
mecanismo é criar instrumentos para o que consumidor realize compras
repetitivas, antes mesmo que seu produto de vestuário se tenha desgastado.
Nessa linha, é fácil perceber que não existe tanta diferença nas coleções
que são lançadas no mercado do vestuário de ano para ano em termos de
evolução e novos tecidos, materiais ou modo de fabricação/uso das vestimentas,
entre outros. Na verdade, o que ocorre entre um ano e outro é a mudança de estilo
e de cores, e o objetivo é fazer com que os consumidores realizem novas compras
para se adequar à nova moda.
O exemplo de Leonard, no citado vídeo “The story of stuff”280, serve para
ilustrar tal situação; trata-se da largura dos saltos dos sapatos femininos: em um
ano os saltos da moda são grossos, em outro são finos, alternando-se
sucessivamente. Essa mudança de espessura dos saltos de sapatos femininos,
observa a autora, não tem nenhum objetivo ergonômico ou ortopédico, visa apenas
uma alteração de estilo em decorrência da moda.
A moda é, nesse sentido, o principal exemplo de obsolescência
psicológica, uma vez que o uso do marketing e da publicidade tem o objetivo de

277
CLINE, Elisabeth L. Over-dressed – The shockingly high cost of cheap fashion, p. 6.
278
CLINE, Elisabeth L. Over-dressed – The shockingly high cost of cheap fashion, p. 7.
279
GROSSMAN, Anna Jane. Obsolete – an encyclopedia of once-common things passing us by, p.
17.
280
STORY OF STUFF PROJETC. The story of stuff. 2015. Disponível em: <http://storyofstuff.org/>.
Acesso em: 30 mar. 2015.
90

fazer com que o consumidor substitua o seu produto antes do desgaste apenas
porque ocorreu a troca de coleção.

5.2.3 A questão do “design”

A mudança de design ou estética de produtos, como visto anteriormente, é


uma das formas de fazer com que um produto se torne obsoleto.
Ao longo de vários anos e em diferentes mercados, o design, a moda ou as
mudanças estéticas têm sido usados para incitar os consumidores a adquirirem
novos produtos em substituição a outros que se tornaram obsoletos, pelo fato de
não estarem mais alinhados com os modelos novos lançados no mercado.
Grillo e Salles281 anotam que um novo movimento começa a aparecer
relativo ao design “retrô”. Nos últimos anos, alguns consumidores passaram a
venerar produtos com design retrô, como é o caso de toca-discos de vinil,
utensílios de cozinha, carros e outros.282
Durante muitos anos os designers defenderam que os produtos deveriam
ser agradáveis aos olhos e que a questão da utilidade deveria ser relegada a
segundo plano. Atualmente, este direcionamento está retornando, com o chamado
design emocional, aquele cujo produto apela para memórias afetivas dos
consumidores ou lhes confere algum status.283
Pela “ótica emocional”284, a utilidade do bem não precisa ser
necessariamente o fim a que se propõe, como por exemplo o espremedor de limão
desenvolvido por Phillipie Starck (tem um desenho pouco convencional se
comparado a outros). A ideia é que o produto, no caso do espremedor, não precisa

281
GRILLO, Cristina; SALES, Livia Cunha. Objetos que amamos. Revista Época, São Paulo, n. 883,
11 maio de 2015. p. 58-61.
282
GRILLO, Cristina; SALES, Livia Cunha. Objetos que amamos. Revista Época, São Paulo, n. 883,
11 maio de 2015. p. 58.
283
GRILLO, Cristina; SALES, Livia Cunha. Objetos que amamos. Revista Época, São Paulo, n. 883,
11 maio de 2015. p. 60.
284
GRILLO, Cristina; SALES, Livia Cunha. Objetos que amamos. Revista Época, São Paulo, n. 883,
11 maio de 2015. p. 60.
91

atender a sua principal função, de espremer limões, mas servir igualmente como
objeto de decoração ou até mesmo ser o assunto de uma conversa.285
Outros exemplos podem ser aqui trazidos, mas, neste ponto, importa
mesmo é analisar o reflexo desse design ou ótica emocional em relação ao escopo
do presente estudo. Neste sentido, vale destacar que a concepção do designer
emocional não deseja que os consumidores preservem os seus produtos antigos,
estendendo sua vida útil ao máximo. Na verdade, o que se pretende é uma nova
compra de produtos que eventualmente se tornaram ultrapassados ou até mesmo
obsoletos, mas o seu design, sua estética, atrai emocionalmente o consumidor.
Ademais, os designers não estão gerando a obsolescência estética de
produtos, ao contrário, estão trazendo para a moda atual produtos que já deixaram
de ser atuais. Apesar de não ser um caso de obsolescência propriamente, com
essa concepção, busca-se a compra repetitiva de novos produtos.

5.3 ANÁLISE DOS MECANISMOS PREVENTIVOS OU REPARATÓRIOS


DISPONÍVEIS NO CDC

A obsolescência psicológica é a tipologia de obsolescência que tem como


principal característica a criação de um ambiente psicológico para criar o desejo no
consumidor de realizar a compra repetitiva ou de um novo produto. Trata-se de
uma situação não vinculada ao produto que está em poder do consumidor, mas
sim atuar na mente dele para que se convença de substituir um produto funcional
por outro.
Nessa tipologia, as figuras do marketing, da publicidade, da oferta são os
artifícios mais importantes para o fornecedor, razão pela qual serão analisados os
mecanismos legais disponíveis para proteger o consumidor neste aspecto.
Da mesma forma que na obsolescência técnica, o reflexo para o
consumidor da obsolescência psicológica não é um problema interno da relação de
consumo estabelecida com o fornecedor do produto.

285
GRILLO, Cristina; SALES, Livia Cunha. Objetos que amamos. Revista Época, São Paulo, n. 883,
11 maio de 2015. p. 60.
92

O marketing, a publicidade e a oferta de um novo produto, a tendência, o


design, entre outros, não causam limitação de uso do produto em posse do
consumidor, isto é, o consumidor ainda está apto a utilizar o produto, que pode
estar em pleno funcionamento e atendendo ao fim a que se propôs.
O consumidor, por um fator externo à relação de consumo, optou por
substituir o produto, induzido pelo novo ambiente criado pelo fornecedor.
Novamente, não se pretende mitigar o problema, já que a decisão da compra do
novo produto, como se sabe, decorre de uma ação do fornecedor. O produto, em
si, está com as suas condições de funcionamento preservadas e atendendo ao fim
a que concepcionalmente se destinou.
De par com essa realidade, é necessário conhecer e examinar os
mecanismos preventidos e reparatórios colocados à disposição do consumidor, a
começar pela publicidade e pela oferta, e em seguida as práticas abusivas,
relacionando-as com a obsolescência psicológica.
Publicidade e oferta têm estreita relação com a questão da criação da
demanda e do consumo e também com a obsolescência psicológica dos produtos.
Antes de adentrar a análise, também é importante compreender o
significado de ambos os termos. Oferta é a ação de oferecer; fazer a proposta ou a
exposição de produtos. Publicidade, por sua vez, significa divulgação de fatos ou
informações a respeito de produtos, serviços ou instituições, utilizando os veículos
normais de comunicação, com o fim de influenciar o público consumidor.
De acordo com Federighi, definir publicidade “não é de fácil trato”286, e “não
porque a compreensão do conceito seja de difícil alcance, mas porque a dimensão
dela e o seu enquadramento jurídico não é unânime.”287
Para Kotler e Keller, os anúncios publicitários “são uma maneira lucrativa
de disseminar mensagens, seja para desenvolver uma preferência de marca, seja
para instruir as pessoas”288.

286
FEDERIGHI, Suzana Maria Pimenta Catta Preta. Publicidade abusiva – incitação à violência.
São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999. p. 64.
287
FEDERIGHI, Suzana Maria Pimenta Catta Preta. Publicidade abusiva – incitação à violência, p.
64.
288
KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson
Education, 2012.
93

Benjamim289 apresenta o conceito formulado pelo Comitê de Definições da


American Association of Advertising Agencies (AAAA), segundo o qual:
“Publicidade é qualquer forma paga de apresentação impessoal e promoção tanto
de ideias, como de bens ou serviços, por um patrocinador identificado”.
Na interpretação de Miragem290, publicidade é toda informação dirigida ao
público com o objetivo de promover, direta ou indiretamente, a aquisição de
determinado produto ou serviço.
Segundo Dias, publicidade pode ser conceituada como:

[...] meio de divulgação de produtos e serviços com a finalidade de


incentivar o seu consumo. Trata-se do duto par excellence através
do qual se leva ao conhecimento dos consumidores em geral a
existência de bens e serviços a serem examinados e
eventualmente adquiridos.291

Ainda, com esteio em Eugênio Malanga: “Publicidade é a arte de despertar


no público o desejo da compra, levando-o à ação.”292.
Outra interpretação destaca que “a publicidade passa a adquirir também
uma função de informar o consumidor com a finalidade precípua de estimular
novas demandas; convencê-lo, por meio de persuasão, à aquisição de produtos e
serviços”293.
Diante do exposto, percebe-se que publicidade é a forma de instigar o
consumidor a ter desejo por determinado produto/serviço e então realizar a
compra.
O diploma consumerista, cumpre observar, não apresenta uma definição
de publicidade. O legislador do CDC apenas estabeleceu dois regimes de práticas,
que considera ilícitas, como a publicidade enganosa, conforme art. 37, § 1° 294, e a
publicidade abusiva, conforme art. 37, § 2°295, do referido diploma legal.

289
BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos e. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
comentado pelos autores do anteprojeto. São Paulo: Forense, 1991. p. 322.
290
MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor: fundamentos dos direitos do consumidor;
direito material e processual do consumidor; proteção administrativa do consumidor; direito penal do
consumidor, p. 167.
291
DIAS, Lucia Ancona Lopez de Magalhães. Publicidade e direito. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010. p. 21.
292
Apud DIAS, Lucia Ancona Lopez de Magalhães. Publicidade e direito, p. 21-22.
293
DIAS, Lucia Ancona Lopez de Magalhães. Publicidade e direito, p. 27.
294
“Art. 37 [...] § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter
publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz
de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.” BRASIL. Lei n.
94

O regime da oferta segue o artigo 30 do CDC, que assim dispõe:

Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa,


veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação
a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o
fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o
contrato que vier a ser celebrado.296

É importante destacar o que determina o artigo 31297 do CDC quanto ao


teor das informações que o fabricante disponibiliza no mercado de consumo:

Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem


assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em
língua portuguesa sobre suas características, qualidades,
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e
origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que
apresentam à saúde e segurança dos consumidores.298

A grande preocupação do legislador consumerista com a apresentação da


oferta e da publicidade de produtos/serviços contribuiu para a criação de um
mecanismo reparatório, conforme se verifica no comando do artigo 35, litteris:

Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar


cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor
poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta,
apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas
e danos.

A disciplina desse dispositivo trata do princípio da vinculação da oferta ou


vinculação publicitária.

8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
295
“Art. 37 [...] § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a
que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e
experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor
a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.” BRASIL. Lei n. 8.078,
de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
296
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
297
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
298
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
95

Para Amaral Júnior, o princípio da vinculação publicitária se realiza de dois


modos diversos:

Se o fornecedor deixar de cumprir a oferta ou publicidade, ou,


ainda, se não tiver condições de cumprir o que prometeu, o
consumidor poderá escolher entre o cumprimento forçado da
obrigação e a aceitação de outro bem de consumo. Se o contrato já
tiver sido concluído, deixando, contudo, de mencionar algum
elemento previsto na oferta ou publicidade, é licito ao consumidor
exigir a sua rescisão, com restituição da quantia paga, mais perdas
e danos.299

A publicidade integra a oferta e ambas passam a ser fonte de obrigação do


fornecedor, ou seja, figuram como um pré-contrato.

Isso significa que o fornecedor brasileiro deve prestar mais atenção


nas informações que veicula, através de impressos, propaganda
em rádio, jornais e televisão, porque estas já criam para ele um
vínculo, que no sistema do CDC será o de uma obrigação pré-
contratual, obrigação de manter a sua oferta nos termos que foi
veiculada e cumprir com seus deveres anexos de lealdade,
informação e cuidado – no caso de aceitação por parte do
consumidor, a obrigação de prestar contratualmente o que
prometeu ou sofrear as consequências previstas no art. 35.300

Conforme se verifica, a publicidade tem a finalidade de incentivar o


consumo, ou seja, fazer com que o consumidor compre um produto, contrate um
serviço ou mesmo utilize novamente o mesmo produto em função da moda.
A relação entre publicidade, oferta e demanda, e consumo repetitivo é
bastante nítida; quer dizer: publicidade e oferta são elementos que têm a clara
função de servir como estímulo para que o consumidor venha a realizar compras
de novos produtos, aumentando, assim, a demanda por determinado bem.
Agora, tendo em mente esses aportes doutrinários e legislativos, em
contraponto com a questão central do presente estudo, o fornecedor pode fazer a
publicidade de seu produto e comunicar o consumidor sobre um novo produto ou
uma nova tendência a ser lançada no mercado e, mais importante, influenciá-lo a
realizar a compra, aspecto que é o cerne da obsolescência. O fornecedor pode
ainda concretizar a venda repetitiva pelo mercanismo da oferta, vinculada ou não à
publicidade, conduta esta lícita e amparada pelo diploma legal consumerista.

299
AMARAL JUNIOR, Alberto. Proteção do consumidor no contrato de compra e venda. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1993. p. 239-240.
300
MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das
relações contratuais. 6. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: RT, 2011. p. 775-776.
96

Mesmo assim, o CDC demonstra aqui uma grande fragilidade na medida em que
não prevê nenhuma proteção específica em relação a publicidade e a oferta que
induzam o consumidor a realizar compras repetitivas.
O legislador do CDC estabeleceu alguns requisitos para a publicidade e
para a oferta. A publicidade deve ser clara, objetiva e com conduta adequada ao
preceito do código, proibida a publicidade enganosa e abusiva. Contudo, não cria
qualquer limite para a publicidade em relação à obsolescência, pelo contrário,
apenas dispõe que a publicidade tem o poder de influenciar o consumidor.
Os mecanismos de controle existentes, sejam eles exclusivamente
privados, públicos ou mistos, não são suficientes para tal controle ou limite.
A percepção que se tem é que o CDC, no que se refere ao aspecto
preventivo da publicidade, tem foco muito mais no aspecto de clara compreensão
do consumidor do produto ou do serviço oferecido, no sentido de que as
informações sejam acuradas e respeitados os requisitos do CDC relativos à
publicidade enganosa ou abusiva.
Como se vê, não houve preocupação em coibir a publicidade que utiliza a
obsolescência psicológica para influenciar a compra de produtos. Como exemplo,
pode-se citar a publicidade veiculada por um banco brasileiro com a qual adverte
seus clientes a terem cuidado ao utilizar os limites do cartão de crédito e do crédito
rotativo da conta corrente. Apesar de a mensagem não estar diretamente
relacionada com a questão da obsolescência, o banco procura conscientizar os
consumidores em relação ao uso excessivo do seus serviços e eventuais riscos ou
impactos financeiros negativos que podem resultar dos excessos no uso do
crédito.
Trazendo o exemplo para a questão da obsolescência, a melhor
abordagem deveria ser a comunicaçao ao consumidor da real necessidade da
aquisição de um novo produto por uma sugestão de marketing.
O aspecto reparatório está vinculado aos casos de publicidades que não
fornecem informações apropriadas, divergem dos produtos ou, no caso de
abusividade ou enganosidade, acabam convertidos em danos pagos pelo
fornecedor ao consumidor ou à coletividade de consumidores.
97

A propósito da abusividade, o legislador do CDC elevou a proteção contra


práticas e cláusulas abusivas por parte do fornecedor como direito básico do
consumidor, demonstrando assim a importância desta questão.
Segundo Miragem301, entende-se por práticas abusivas:

[...] toda a atuação do fornecedor no mercado de consumo, que


caracterize o desrespeito a padrões de conduta negociais
regularmente estabelecidos, tanto na oferta de produtos e serviços
quanto na execução na fase pós-contratual. Em sentido amplo, as
práticas abusivas englobam toda a atuação do fornecedor em
desconformidade com padrões de conduta reclamados, ou que
estejam em desacordo com a boa-fé e a confiança dos
consumidores.

Cláusulas abusivas são cláusulas inseridas nos contratos e decorrem da


“posição dominante do fornecedor em relação ao consumidor, que permitem a
imposição unilateral de condições contratuais prejudiciais aos consumidores”302.
Tais cláusulas violam a boa-fé objetiva das relações de consumo.
Uma das grandes missões do CDC era suprimir a abusividade nas
relações de consumo, prática303 comum na época da publicação do diploma de
proteção e defesa do consumidor.
Práticas abusivas, na opinião de Benjamin, são desconformidades com os
padrões mercadológicos de boa conduta no âmbito do mercado consumidor. Para
o autor, as práticas abusivas não se mostram como atividades enganosas, mas
sim como ações pré ou pós-contrato, cuja alta carga de imoralidade econômica e
de opressão podem causar danos ao consumidor.304
Lorenzetti anota que as práticas comerciais são procedimentos,
mecanismos, métodos ou técnicas utilizados pelos fornecedores para fomentar,

301
MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor: fundamentos do direito do consumidor; direito material
e processual do consumidor; proteção administrativa do consumidor; direito penal do consumidor,
p.123.
302
MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor: fundamentos do direito do consumidor; direito material
e processual do consumidor; proteção administrativa do consumidor; direito penal do consumidor,
p.124.
303
O dicionário De Plácito e Silva, define como Prática “no sentido de exercício ou de execução.
Assim, p.rática de um ato ou de um negócio, entende-se a sua realização, execução ou feitura. DE
PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário jurídico. Atualizadores Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho. 28.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 1.065.
304
BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e. Teoria da qualidade. In: _____; MARQUES,
Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscole (Coord.). Manual de direito do consumidor. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007. p. 215, 216.
98

manter, desenvolver ou garantir a produção de bens e serviços ao destinatário


final.305
As práticas abusivas, afirma Rizzatto Nunes, “são ações ou condutas que,
uma vez existentes, caracterizam-se como ilícitas, independentes de se encontrar
ou não algum consumidor que se sinta lesado”306.
Santos traz um conceito bastante completo de práticas comerciais
abusivas:

[...] são todos os atos, condutas ou meios utilizados pelo fornecedor


para levar o seu produto ou serviço ao mercado de consumo,
visando a lucratividade e menor dispêndio, valendo-se de técnicas
de marketing, de aproximação individual ou coletiva e de meios de
comunicação, para que o consumidor tenha conhecimento e
acesso ao produto ou serviços (ex. Publicidade, amostra grátis) ou
para resguardar o fornecedor de qualquer ato de consumo que
inviabilize a plena relação de consumo (ex.: consulta a órgãos de
proteção ao crédito e fichas cadastrais para formação de perfil e
verificação de viabilidade de aquisição e cumprimento de
obrigação).307

No artigo 4º, inciso VI, o legislador do CDC introduziu o princípio da


coibição e da repressão eficientes relativamente a abusos praticados no mercado
de consumo, capazes de causar prejuízos aos consumidores como parte da
Política Nacional de Relações de Consumo. No artigo 6º, inciso IV, definiu como
direitos básicos do consumidor a proteção contra métodos comerciais coercitivos
ou desleais e contra práticas e cláusulas abusivas impostas no fornecimento de
produtos e serviços.
O artigo 39 do mesmo código de proteção do consumidor elenca as
práticas abusivas, de forma exemplificativa (numerus apertus)308:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas:
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao
fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa
causa, a limites quantitativos;

305
LORENZETTI, Ricardo Luis. Consumidores. Buenos Aires: Rubinzal Culzoni Editores, 2006. p.
136.
306
RIZZATTO NUNES, Luiz Antônio. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 493.
307
SANTOS, Fabiola Meira de Almeida. As práticas comerciais abusivas no mercado de consumo.
In: _____; SODRÉ, Marcelo Gomes; CALDEIRA, Patrícia (Org.). Comentários ao Código de Defesa
do Consumidor. 1. ed. São Paulo: Verbatim, 2009. p. 246-247.
308
MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor: fundamentos dos direitos do consumidor; direito
material e processual do consumidor; proteção administrativa do consumidor; direito penal do
consumidor, p. 186.
99

II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata


medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de
conformidade com os usos e costumes;
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia,
qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo
em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para
impingir-lhe seus produtos ou serviços;
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;
VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e
autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes
de práticas anteriores entre as partes;
VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado
pelo consumidor no exercício de seus direitos;
VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço
em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais
competentes ou, se normas específicas não existirem, pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade
credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (Conmetro);
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços,
diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto
pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em
leis especiais;
X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços.
XI - Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de 22.10.1999,
transformado em inciso XIII, quando da conversão na Lei nº 9.870,
de 23.11.1999
XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua
obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo
critério.
XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou
contratualmente estabelecido.
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou
entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III,
equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de
pagamento.309

Na mesma trilha das práticas abusivas, é oportuno conhecer também as


práticas infrativas descritas no Decreto n. 2.181/1997:

Art. 13. Serão consideradas, ainda, práticas infrativas, na forma dos


dispositivos da Lei nº 8.078, de 1990:
[...]
IV - deixar de reparar os danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projetos, fabricação, construção,
montagem, manipulação, apresentação ou acondicionamento de
seus produtos ou serviços, ou por informações insuficientes ou
inadequadas sobre a sua utilização e risco;
[...]

309
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
100

XXI - deixar de assegurar a oferta de componentes e peças de


reposição, enquanto não cessar a fabricação ou importação do
produto, e, caso cessadas, de manter a oferta de componentes e
peças de reposição por período razoável de tempo, nunca inferior à
vida útil do produto ou serviço; [...].310

Em complementação, vale colacionar a seguinte disciplina do citado


decreto:

Art. 14. É enganosa qualquer modalidade de informação ou


comunicação de caráter publicitário inteira ou parcialmente falsa,
ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir
a erro o consumidor a respeito da natureza, características,
qualidade, quantidade, propriedade, origem, preço e de quaisquer
outros dados sobre produtos ou serviços.

§ 1º É enganosa, por omissão, a publicidade que deixar de informar


sobre dado essencial do produto ou serviço a ser colocado à
disposição dos consumidores.311

Na avaliação de Marques, as práticas abusivas podem ser identificadas a


partir do elenco de cláusulas abusivas312 do artigo 51313 do CDC.

310
BRASIL. Decreto n. 2.181, de 20 de março de 1997. Dispõe sobre a organização do Sistema
Nacional de Defesa do Consumidor - SNDC, estabelece as normas gerais de aplicação das
sanções administrativas previstas na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, revoga o Decreto Nº
861, de 9 julho de 1993, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d2181.htm>. Acesso em: 21 mar. 2016.
311
BRASIL. Decreto n. 2.181, de 20 de março de 1997. Dispõe sobre a organização do Sistema
Nacional de Defesa do Consumidor - SNDC, estabelece as normas gerais de aplicação das
sanções administrativas previstas na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, revoga o Decreto Nº
861, de 9 julho de 1993, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d2181.htm>. Acesso em: 21 mar. 2016.
312
MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das
relações contratuais, p. 574.
313
“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer
natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de
consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em
situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste
código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
V - (Vetado);
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja
conferido ao consumidor;
101

A abusividade, conforme destaca Santos, “reside na ideia de não se


adequar ao sentido jurídico e aos valores de uma sociedade, uma conduta que
apresente ao fornecedor vantagens econômicas, políticas ou institucionais” 314.
Dessas lições, extrai-se que práticas abusivas são atividades do
fornecedor que não se adequam aos padrões e aos valores de boa conduta que
devem permear as relações do mercado de consumo. As práticas abusivas podem
ocorrer nas distintas fases do contrato (pré, pós, ou durante a sua execução) e
várias são as técnicas utilizadas pelo fornecedor com o objetivo de aumentar a sua
lucratividade, causando, em contrapartida, dano para o consumidor.
Igualmente, trazendo a questão das práticas abusivas para o tema central
deste estudo, pode-se dizer que o artifício da obsolescência psicológica não é
direta nem indiretamente tratado no âmbito da legislação protetiva do consumidor,
tanto no aspecto preventivo como no reparatório.
Pelo exposto, e com o olhar fixo nos princípios, nos direitos básicos e nas
demais disposições do CDC, percebe-se que não existe disposição específica que
tenha por objetivo proteger preventivamente o consumidor contra a obsolescência
psicológica praticada por fornecedores de produtos/serviços.

XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual
direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato,
após sua celebração;
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;
II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a
ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo
do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua
ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.
§ 3° (Vetado).
§ 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público
que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o
disposto neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e
obrigações das partes.” BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do
Consumidor. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10
mar. 2016.
314
SANTOS, Fabiola Meira de Almeida. As práticas comerciais abusivas no mercado de consumo,
In: _____; SODRÉ, Marcelo Gomes; CALDEIRA, Patrícia (Org.). Comentários ao Código de Defesa
do Consumidor, p. 259.
102

No que se refere à proteção reparatória, o CDC também é bastante frágil,


uma vez que não existe possibilidade de o consumidor pleitear qualquer forma de
reparação em relação ao fornecedor.
103

6 OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA

6.1 COMO O ARTÍFICO É COLOCADO EM PRÁTICA PELO FORNECEDOR

A terceira forma de obsolescência, na teoria de Slade, é a obsolescência


planejada ou programada. Nessa espécie de obsolescência, o fornecedor
deliberadamente manipula o produto para que falhe após um determinado período
de tempo.
Novamente, vale frisar que a falha de produto decorrente do uso, seja por
seu desgaste, defeito ou consumo do material, é considerada normal, uma vez que
todos os produtos têm uma expectativa de vida útil.
Ocorre a obsolescência programada quando o fornecedor
deliberadamente passa a usar a sua engenharia, o seu know how, para adulterar a
composição do produto, introduzindo materiais de menor durabilidade para fazer
com que o produto tenha uma vida menor, forçando o consumidor a adquirir um
novo.315
A obsolescência programada é a mais rica em termos de exemplos e por
esta razão merece uma abordagem mais detida.
Uma primeira maneira de o artifício da obsolescência programada ser
colocado em prática diz respeito à redução da vida útil do produto.
Com efeito, vida útil pode ser compreendida como espaço de tempo de
existência de determinada coisa (produto/serviço) durante o qual tenha algum uso
ou se preste para algum fim.
Na concepção de Cooper, a longevidade de um produto corresponde à sua
vida útil e depende da natureza (tipo), da forma de uso, da duração, da frequência
e da intensidade, mas a medida mais comum é o número de anos.316
A vida útil do produto depende dos materiais utilizados na sua confecção,
da qualidade do design, da manufatura e montagem, da qualidade do projeto, da
facilidade de manutenção e reparabilidade, e da possibilidade de atualização ou

315
SLADE, Giles. Made to break. Tecnology and obsolescence in America, p. 48.
316
COOPER, Tim. The significance of product longevity. In: _____ (Ed.). Longer lasting products –
Alternatives to the throwaway society. United Kingdom: MPG Books Group, 2010. p. 8, 9.
104

melhoria de seus componentes (upgrade). Todos estes aspectos resultam das


decisões dos fabricantes, que são influenciados pela estrutura do mercado e
respectivas condições, incluindo as demandas dos consumidores.317
Cooper ainda explica que:

[...] teoricamente a ‘vida técnica’ deve ser mais longa que a ‘vida
em uso’ do produto, já que os produtos podem estar
desatualizados, ou não serem mais necessários, ou ainda
demandarem reparo que é considerado muito custoso, arriscado
e/ou inconveniente. A ‘vida em uso’ do produto é menor que a ‘vida
econômica’, sendo que esta última considerada quando o produto é
descartado ainda funcionando ou quando é descartado pelo fato de
demandar um custo de reparo.318

A vida útil do produto também é influenciada pelo ambiente em que opera,


como temperatura, humidade e luminosidade, e também pela intensidade e
cuidado de uso, aí incluída qualquer manutenção necessária.319
Importante destacar que a vida útil pode ser calculada e existem várias
ferramentas e metodologias disponíveis na área industrial para fazer o cálculo da
vida útil dos produtos colocados no mercado de consumo, de acordo com sua
natureza.
Apesar de não ser objetivo deste estudo discutir cada uma das ferramentas
de cálculo de vida útil de produto, não custa nada proceder a uma ligeira
abordagem sobre o tema.
Segundo Zarzar Júnior, o conhecimento da vida útil e da curva de
deterioração de cada material ou sua estrutura é fundamental na realização de
uma obra.320
O primeiro fator apontado por Jones é o Mean Time Between Failures
(MTBF) e significa a forma de determinar o tempo de vida útil de um sistema
durante a sua operação.321

317
COOPER, Tim. Longer lasting products – Alternatives to the throwaway society. England: Gower
Publishing Limited, 2010. p. 16.
318
COOPER, Tim. The durability of consumer durables. Business Strategy and the Environment.
Sydney, University of Technology, 3 (1) 1994, p. 24.
319
COOPER, Tim. Longer lasting products – Alternatives to the throwaway society, p. 16.
320
ZARZAR JR., Fuad Carlos. Metodologia para estimar a vida útil de elementos construtivos,
baseado no método dos fatores. 2007. 173f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil)-Pontifícia
Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 2007. p. 28.
321 rd
JONES, James V. Integrate logistics support handbook. 3 . edition. Local: McGraw-Hill
Professional, 2006. p. 42.
105

Oppenheimer322 comenta que o MTBF, um método inicialmente


desenvolvido pela indústria de computação, foi aplicado para medir o tempo que
um computador ou um de seus componentes opera antes de apresentar alguma
falha/defeito.
O conceito de MTBF tem sido usado por mais de sessenta anos,
principalmente nos setores de Tecnologia de Informação (TI) e telecomunicação,
como forma de auxiliar o processo de tomada de decisão. O MTBF possui mais de
vinte métodos ou procedimentos para determinação da vida útil do produto.323
Existem várias maneiras de fazer o cálculo do MTBF, segundo diferentes
padrões de qualidade internacionais, como MIL-HDBK 217, Telcordia, HRD5, entre
outros.
Outra forma de cálculo de vida dos produtos é o teste de vida acelerada –
Accelerated Life Test (ALT). O teste ALT é largamente utilizado na indústria pelo
aumento do nível de stress (temperatura, humidade, pressão, tensão) que o
produto suporta habitualmente. Quando submetido a um nível superior de pressão,
o produto tende a falhar mais rapidamente. Esse tipo de teste, com o auxílio da
estatística, auxilia os engenheiros a fazer o cálculo estimado da vida útil do
produto.324
Apesar de o método ou processo do cálculo de vida útil ter mais
proximidade com as áreas de engenharia e de administração, sabe-se que o
fabricante tem condição de calcular o prazo da vida útil de um determinado
produto, antes ou depois de lançá-lo no mercado de consumo.
Slade observa que as empresas não podem ser criticadas pelo fato de
legitimamente calcularem a vida útil e a morte de seus produtos325, o que não pode
ocorrer é deliberadamente fazerem alterações em seus produtos com o objetivo
reduzir-lhes o prazo de operação/duração.

322
OPPENHEIMER, Priscilla. Top-down netwrok design. 2nd edition, 2nd printing. Indianapolis,
USA: Cisco Systems, Inc./Cisco Press, 2004. p. 34.
323
TORRELL, Wendy; AVELAR, Victor. Mean time between failures: explanation and standards.
White paper 78 – Revision 1. APC by Scheneider Eletrics. 2010. Disponível em:
<http://www.ptsdcs.com/wpp/APC/APC%20-
%20Mean%20Time%20Between%20Failure%20Explanation%20and%20Standards.pdf>. Acesso
em: 23 mar. 2015. p. 2.
324
MA, Haiming. New developments in planning accelerated life test. Doctor of Philosophy
Dissertation. Iowa State University. 2009. Disponível em:
<http://lib.dr.iastate.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=2960&context=etd>. Acesso em: 21 abr. 2015.
p. 1.
325
PACKARD, Vance. The waste makers. Introduction by Bill Mckibben, p. 69.
106

Na opinião de Bayus, determinar o prazo de vida útil dos produtos não é


tarefa fácil. Para o autor, “[...] empiricamente é muito difícil encontrar dados
rigorosos para examinar o prazo de vida útil dos produtos, já que os dados
detalhados sobre o ciclo de vida do produto em vários mercados são difíceis de ser
obtidos [Tradução nossa]”326.
No passado, alguns fabricantes de televisores costumavam apontar a
quantidade de horas de uso dos aparelhos de tela de LCD, Plasma e LED.
Hodiernamente, tal prática desapareceu e não é mais possível encontrar tais
informações. Assim, não é possível saber qual é o tempo de vida útil do produto,
ou mesmo se o fornecedor utilizou algum artifício para reduzir a vida útil ou o prazo
de validade do produto.
A obsolescência programada não se limita apenas às situações aqui
mencionadas. Para enriquecer a análise, será necessário combinar a teoria da
obsolescência programada de Slade com o citado Parecer do Comité Econômico e
Social Europeu – CMMI/112.
Em suma, o Parecer CMMI/112 considera como uma das formas de
obsolescência a obsolescência técnica ou tecnológica, que apesar desta
denominação, guarda direta relação com o conceito de obsolescência programada
utilizado por Slade.
A obsolescência técnica se divide em quatro espécies: obsolescência por
vício funcional (’obsolescence par défaut fonctionnel), obsolescência por
incompatibilidade (l’obsolescence par incompatibilité), obsolescência indireta
(l’obsolescence indirecte) e obsolescência por notificação (l’obsolescence par
notification).327
Obsolescência por vício funcional caracteriza bem a obsolescência
programada, ou seja, trata-se de um recurso técnico existente no produto, cujo

326
BAYUS, Barry. L. An analysis of product lifetimes in a technologically dynamic industry.
Management Science, California, USA, 44 (6), p. 763-775, 1998. p. 764. Disponível em:
<http://public.kenan-lagler.unc.edu/faculty/bayusb/webpage/papers/shrinkingplc(mgs).pdf>. Acesso
em: 12 mar. 2016. No original: “Empirically, it is very difficult to rigorously examine product lifetimes,
since detailed data for the entire product life-cycle and at all the various product market levels are
generally difficult to acquire”.
327
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 4. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
107

objetivo é promover/antecipar o fim de sua vida útil. Ocorre este tipo de


obsolescência quando os fabricantes adicionam determinada peça no equipamento
com o intuito de provocar uma avaria e ele então deixa de funcionar, como é o
caso de produtos elétricos ou eletrônicos, como televisores, máquinas de lavar,
computadores e outros.328
A obsolescência por incompatibilidade ocorre principalmente na área de
tecnologia da informação. A ideia é tornar um produto inútil por não ser compatível
com versões futuras ou com as correntes tecnológicas disponíveis no mercado. É o
que acontece, particularmente, com softwares/programas de computador.329
A obsolescência indireta é a mais extrema porque torna os produtos
obsoletos, ainda que estejam em pleno funcionamento. A ideia, aqui, é fazer com
que produtos associados, relacionados ou acessórios, incluindo peças de
reposição ou consumíveis (exemplo, o papel de fax para equipamento de fac-
símile), tornem-se parcial ou totalmente indisponíveis, dificultando,
consequentemente, que o consumidor utilize o produto principal. Este é um
problema comum em telefones celulares e seus carregadores, como bateria, por
exemplo.330
A suspensão da produção de peças de reposição ou consumíveis é uma
poderosa ferramenta posta à disposição dos fabricantes em todos setores. Desta
feita, abandonar a produção ou comercialização de produtos ou acessórios
relacionados (cartuchos, peças de reposição, baterias etc.) impacta negativamente
o uso, a manutenção e a reparação correspondentes; em certas situações pode
tornar-se inviável ou até mesmo impossível.331

328
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 4. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
329
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 4. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
330
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 4. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
331
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 4. Disponível em: <http://www.europe-
108

O Parecer do Comité Econômico e Social Europeu – CMMI/112 – também


reconhece a obsolescência indireta, que ocorre pela ausência de peças de
reposição para o reparo do produto, ausência de assistência técnica para a
reparação, ou também porque a reparação se mostra impossível (quando o
produto, por exemplo, é inviolável ou não permite que o maquinário/engrenagem
seja aberto).332
Porter leciona que a obsolescência indireta também ocorre em relação aos
produtos complementares; aqueles que só podem ser utilizados em conjunto, como
acontece com os discos estereofônicos (discos de vinil), que funcionam apenas em
aparelhos de áudio estereofônicos (tocadores de disco de vinil). 333 Nesse caso, a
descontinuidade de um produto torna obsoleto o outro produto/componente
complementar ao primeiro.
A obsolescência por notificação, é uma forma bastante sofisticada de
“autoexpiração” dos produtos e não pode ser confundida com obsolescência
indireta, nem com qualquer forma de obsolescência por expiração.334
Ocorre obsolescência por notificação quando um fornecedor projeta um
produto que tem a capacidade de notificar o usuário de que é necessário fazer um
determinado reparo, manutenção ou substituição de peças, no todo ou em parte.
Este tipo de obsolescência pode ser visto em impressoras que informam ao
usuário que os cartuchos precisam de manutenção ou substituição e em

consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
332
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: O
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112. Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 5. Disponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
333
PORTER, Michael E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústria e da
concorrência, p. 166.
334
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 4. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
109

automóveis, quando comunica a necessidade de revisão obrigatória após um


determinado número de quilômetros rodados.335
Na obsolescência em virtude de expiração, como o nome sugere, o
fornecedor informa a data de expiração do produto. Pode-se, à primeira vista,
pensar em alimentos e em remédios, que possuem datas de validade por razões
óbvias de saúde e de segurança pública. Contudo, este tipo de obsolescência fica
caracterizada quando o fabricante deliberadamente reduz a vida útil do produto
indicando prazos de validade mais curtos, quando na verdade ainda pode ser
consumido/utilizado.336
Enfim, conhecidas as formas como o artifício da obsolescência
programada é utilizado pelos fabricantes, chega o momento de apresentar alguns
casos para aprofundar o assunto.

6.2 CASOS DE OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA

6.2.1 A centenária lâmpada de Livermore e o Cartel Phoebus

Em 1881, quando Thomas Edison criou suas primeiras lâmpadas


incandescentes, elas tinham vida útil de cerca de 1.500 horas. Quarenta anos mais
tarde, a vida útil média da lâmpada passou a ser de cerca de 2.300 horas.337

335
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 5. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
336
CENTRE EUROPÉEN DE LA CONSOMMATION. L´obsolescence programmée ou les dérives
de la société de consommation p. 5. Disponível em: <http://www.europe-
consommateurs.eu/fileadmin/user_upload/eu-
consommateurs/PDFs/publications/etudes_et_rapports/Etude-Obsolescence-Web.pdf>. Acesso em:
24 mar. 2015.
337
OBSOLESCENCE-PROGRAMMEE.FR. Le Cartel Phoebus et les lampes à incandescense.
Disponível em: <http://obsolescence-programmee.fr/exemples-symboliques/le-cartel-phoebus-et-
les-lampes-a-incandescence/>. Acesso em: 1 set. 2014.
110

Hoje, grande parte das lâmpadas incandescentes, apesar da


338
descontinuidade anunciada, possuem uma vida útil de 1.000 horas. Não é o que
acontece com a já centenária lâmpada de Livermore, instalada em uma central de
bombeiros, na cidade de mesmo nome, no norte da Califórnia, que está acesa há
mais de 110 anos.339 A lâmpada foi acesa em 1901 e apagada algumas vezes em
razão de cortes de energia e de mudança de prédio dos bombeiros em 1976.340
Reportagem da BBC informa que a lâmpada de Livermore tem até um
comitê, formado em seu centenário. Segundo o presidente do comitê, Lynn Owens,
um bombeiro aposentado: "Ninguém sabe como é possível uma lâmpada funcionar
por tanto tempo."341.
A lâmpada em questão, criada por um inventor chamado Adolphe A.
Chaillet, foi um presente para os bombeiros da cidade342; trata-se de uma lâmpada
incandesceste com filamento de carbono.343
Steve Bunn, que faz parte do comitê do centenário da lâmpada de
Livermore, acredita que a corrente baixa que alimenta a lâmpada de 60 watts pode
ter prolongado a sua vida, mas ninguém descobriu porque ela continua brilhando.
A longa vida útil da lâmpada foi reconhecida pelo Guinness World Record.344
A propósito do tema aqui enfrentado, cabe registrar que as lâmpadas
incandescentes tinham inicialmente uma vida útil de 1.500 horas, aumentando,
anos depois, para 2.300 horas. Na atualidade, após anos de evolução, as
lâmpadas têm apenas 1.000 horas de vida útil. Parte desta questão é respondida
quando se analisa o Cartel de Phoebus.

338
OSRAM. Produtos. Lâmpadas. Disponível em:
<http://www.osram.com.br/osram_br/produtos/lampadas/lampadas-incandescentes/classic/classic-
p/index.jsp>. Acesso em: 1 set. 2014.
339
CENTENIAL BULB. Centennial Light. Home of the words longest burning light bulb. Disponível
em: <http://www.centennialbulb.org/facts.htm#anchor3216>. Acesso em: 28 ago. 2014.
340
BBC.Brasil. Lâmpada misteriosa está acesa há 110 anos nos EUA. Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_photos/2011/06/110616_lampada_110anos_video_fn.s
html>. Acesso em: 28 ago. 2014.
341
BBC.Brasil. Lâmpada misteriosa está acesa há 110 anos nos EUA. Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_photos/2011/06/110616_lampada_110anos_video_fn.s
html>. Acesso em: 28 ago. 2014.
342
BBC.Brasil. Lâmpada misteriosa está acesa há 110 anos nos EUA. Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_photos/2011/06/110616_lampada_110anos_video_fn.s
html>. Acesso em: 28 ago. 2014.
343
CENTENIAL BULB. Centennial Light. Home of the words longest burning light bulb. Disponível
em: <http://www.centennialbulb.org/facts.htm#anchor3216>. Acesso em: 28 ago. 2014.
344
BBC.Brasil. Lâmpada misteriosa está acesa há 110 anos nos EUA. Disponível em:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_photos/2011/06/110616_lampada_110anos_video_fn.s
html>. Acesso em: 28 ago. 2014.
111

Phoebus foi o nome dado ao cartel internacional relacionado com as


lâmpadas incandescentes, em 1924.345 Apesar de a indústria de lâmpadas
incandescentes existir a quase meio século, quando o cartel nasceu, a
característica deste mercado era monopolista. O cartel foi o ponto culminante para
o desenvolvimento de um programa cujo objetivo era evitar a competição na
fabricação e na venda de lâmpadas elétricas.346
O acordo de cartel foi assinado em 23 de dezembro de 1924, entre Osram,
Philips, Tungsram, Associação Britânica de Indústria Elétrica (British Associated
Electrical Industries), Compagnie des Lampes, International General Electric de
Nova York, General Eletric de Londres (chamada de Overseas Group), que incluia
as subsidiárias da General Eletric de países como Brasil, China e México.347
Pela orientação do cartel, liderado pela General Eletric, as empresas
deveriam fazer um programa de padronização do produto oferecido (lâmpada
elétrica incandescente) com vistas a aumentar as vendas e isto implicava reduzir a
vida útil da lâmpada e eliminar a competição na qualidade do produto a ser
ofertado.348
Um representante da General Eletric mencionou que a estratégia era o
licenciamento de patentes e a padronização das lâmpadas para o modelo Mazda,

345
STOCKING, George W.; WATKINS, Myron W. Cartels in action - Case studies in international
business diplomacy. New York: Twentieth Century Fund, 1946. John Hancock Institute for
International Finance – Chapter VII. The Incandescent Electric Lamp Cartel. Disponível em:
<http://libertyparkusafd.org/lp/Hancock/CD-ROMS/GlobalFederation%5CGlobal%20-%2032%20-
%20Cartels%20in%20Action%20%E2%80%93%20Case%20Studies%20in%20International%20Bu
siness%20Diplomacy.html>. Acesso em: 7 mar. 2015.
346
STOCKING, George W.; WATKINS, Myron W. Cartels in action - Case studies in international
business diplomacy. New York: Twentieth Century Fund, 1946. John Hancock Institute for
International Finance – Chapter VII. The Incandescent Electric Lamp Cartel. Disponível em:
<http://libertyparkusafd.org/lp/Hancock/CD-ROMS/GlobalFederation%5CGlobal%20-%2032%20-
%20Cartels%20in%20Action%20%E2%80%93%20Case%20Studies%20in%20International%20Bu
siness%20Diplomacy.html>. Acesso em: 7 mar. 2015.
347
STOCKING, George W. & WATKINS, Myron W. Cartels in action - Case studies in International
Business Diplomacy. New York: Twentieth Century Fund, 1946. John Hancock Institute for
International Finance – Chapter VII. The Incandescent Electric Lamp Cartel. Disponível em:
<http://libertyparkusafd.org/lp/Hancock/CD-ROMS/GlobalFederation%5CGlobal%20-%2032%20-
%20Cartels%20in%20Action%20%E2%80%93%20Case%20Studies%20in%20International%20Bu
siness%20Diplomacy.html>. Acesso em: 7 mar. 2015.
348
STOCKING, George W.; WATKINS, Myron W. Cartels in action - Case studies in international
business diplomacy. New York: Twentieth Century Fund, 1946. John Hancock Institute for
International Finance – Chapter VII. The Incandescent Electric Lamp Cartel. Disponível em:
<http://libertyparkusafd.org/lp/Hancock/CD-ROMS/GlobalFederation%5CGlobal%20-%2032%20-
%20Cartels%20in%20Action%20%E2%80%93%20Case%20Studies%20in%20International%20Bu
siness%20Diplomacy.html>. Acesso em: 7 mar. 2015.
112

que possibilitaria testes e resultados muito mais semelhantes.349 Como resultado


desta prática, as lâmpadas, que em 1925 duravam cerca de 2.500 horas, tiveram
sua durabilidade reduzida para apenas 1.000 horas.350
O gráfico apresentado a seguir mostra o declínio da durabilidade das
lâmpadas, evidenciando que os objetivos do Cartel Phoebus foram bem-sucedidos.

Gráfico 2 – Média de vida das lâmpadas, em número de horas (1926-1934)

Fonte: KRAJEWSKI351
Foto: Landesarchiv Berlin

A Osram, fabricante e membro do cartel, em seu material de comemoração


dos 100 anos de empresa faz menção ao acordo de Phoebus.352 Primeiramente, a
empresa confirma a missão de unir os fabricantes alemães e buscar cooperação
internacional e que o acordo (também chamado de “world light buld agreement”) foi

349
LEAGLE. United States vs. General Electric Co. Civil Action n. 1.364. December 22, 1939.
Disponível em: <http://www.leagle.com/decision/194983582FSupp753_1667>. Acesso em: 7 mar.
2015.
350
ESPAÑA. RTVE - Radio y Televisión Española. “Comprar, Tirar, Comprar”. La historia secreta
de la obsolescencia programada. Documentário 2010. 77min. Direção Cosima Dannoritzer e Steve
Michelson. Roteiro: Coisam Dannoritzer. Fotografia Marc Martinez Sarrado. Música Composta por
Marta Andrés, Joan Gil Bardagi. Espanha. Disponível em:
<http://www.rtve.es/television/documentales/comprar-tirar-comprar/>. Acesso em: 27 maio 2014.
351
KRAJEWSKI, Markus. The great lightbulb conspiracy - The Phoebus cartel engineered a shorter-
lived lightbulb and gave birth to planned obsolescence. 24 set. 2014. Disponível em:
<http://spectrum.ieee.org/geek-life/history/the-great-lightbulb-conspiracy>. Acesso em: 8 mar. 2015.
352
OSRAM. 100 years of OSRAM – Light has a name. Brand Centenary 2006. Diponível em:
<http://www.osram.com/media/resource/HIRES/334233/2591693/history---100-years-of-osram.pdf>.
Acesso em: 7 mar. 2015.
113

um marco em termos de abrangência internacional, envolvendo os principais


fabricantes do mercado.353
O acordo de Phoebus encerrou com o início da Segunda Guerra
Mundial.354
O Cartel de Phoebus, analisado pela Corte Norte-Americana, no caso
United States vs. General Electric Corp355, trouxe as seguintes conclusões:

Sem tentar enumerá-los na ordem de importância, as restrições


individuais previamente determinadas de comércio e concorrência
e as atividades que manifestam um monopólio podem ser assim
resumidos:
(1) Posição dominante na indústria da General Electric.
(2) A falta de uma patente válida para sustentar limitações preço,
quantidade e exportação para as lâmpadas elétricas, licenças de
âmbito nacional na existência a partir de 1933.
(3) A combinação e integração da Westinghouse, evidenciada pelo
seguinte:
(A) beneficiar de uma posição privilegiada no âmbito dos acordos
de vidro com a Westinghouse;
(B) a utilização mútua da marca Mazda pela General Electric e
Westinghouse;
(C) solicitação comum e eliminação de agentes;
(D) utilização conjunta do supervisor do mercado;(E) esforço
conjunto na angariação de serviços públicos;
(E) esforços de cooperação em campanhas de vendas de
lâmpadas tipo Mazda;
(F) adesão da Westinghouse às restrições estabelecidas no acordo
de mercado e uso de patentes.
(4) Combinação com Corning para monopolizar a produção e a
distribuição de lâmpadas de vidro, tubos e bengala.
(5) A combinação com Corning, American Blank and Empire para
restringir o comércio e a concorrência na fabricação e distribuição
de máquinas para a fabricação de lâmpadas de vidro, tubos e
bengala.
(6) O emprego da International General Electric como um meio de
eliminar a concorrência estrangeira através de:
(A) empresas controladas no exterior;
(B) acordo de Phoebus e acordo de 1941;
(C) acordos separados entre a Internacional General Electric e os
membros individuais da combinação Phoebus, abrangendo os
termos gerais do acordo Phoebus e coordenadas com licenças de
âmbito nacional da General Electric.
353
OSRAM. 100 years of OSRAM – Light has a name. Brand Centenary 2006. Diponível em:
<http://www.osram.com/media/resource/HIRES/334233/2591693/history---100-years-of-osram.pdf>.
Acesso em: 7 mar. 2015. p. 34-35.
354
OSRAM. 100 years of OSRAM – Light has a name. Brand Centenary 2006. Diponível em:
<http://www.osram.com/media/resource/HIRES/334233/2591693/history---100-years-of-osram.pdf>.
Acesso em: 7 mar. 2015. p. 39.
355
LEAGLE. United States vs. General Electric Co. Civil Action n. 1.364. December 22, 1939.
Disponível em: <http://www.leagle.com/decision/194983582FSupp753_1667>. Acesso em: 7 mar.
2015.
114

(7) O monopólio do mercado da lâmpada.


(8) As restrições aos equipamentos de fabricação das lâmpadas.
(9) Restrição aos fabricantes de filamentos e aos fornecedores de
arame para fabricação de filamentos.
(10) Os lucros da General Electric no mercado de da lâmpada
elétrica incandescente.
(11) Atividades de negócios públicos.
(12) Monopólio de patentes lâmpada elétrica incandescentes.
(13) Criação de restrições ilegais para concessão licenças de
fabricação de lâmpadas fluorescentes.
(14) O poder de intimidar e excluir fabricantes de lâmpadas
elétricas incandescentes, como também de fixar os padrões de
comportamento para a indústria.
(15) A vigilância industrial das práticas de cada um dos fabricantes
[Tradução nossa].356

Com base nessas considerações sobre o Cartel de Phoebus, pode-se dizer


que o mercado de lâmpadas incandescentes foi maculado por práticas
anticoncorrenciais e anticonsumerista, uma vez que ao deturpar a concorrência
mediante cartelização o acordo acabou reduzindo o número de horas de vida útil
de tais produtos para gerar a compra repetitiva por parte dos consumidores e,
assim, auferir maior lucro para os fabricantes.
A prática constatada no Cartel de Phoebus é um caso de obsolescência
programada porque, no caso das lâmpadas, reduziu a qualidade dos componentes
do produto para diminuir a sua vida útil, fazendo com que os consumidores
realizassem compras repetitivas em um prazo inferior ao que o estado da técnica
da época permitia.

6.2.2 Windows e Intel = Wintel

Nesta seção, a atenção se volta para a obsolescência causada por um


produto complementar ou entre dois produtos diretamente relacionados.
Wintel foi o nome que se tornou conhecido como a relação entre o sistema
operacional Windows, da Microsoft, e o fabricante de microprocessadores Intel. O
termo “Wintel” é o resultado da junção Windows com Intel.

356
LEAGLE. United States vs. General Electric Co. Civil Action n. 1.364. December 22, 1939.
Disponível em: <http://www.leagle.com/decision/194983582FSupp753_1667>. Acesso em: 7 mar.
2015.
115

Na década de 1990, quando foi cunhado o termo, a Intel e a Microsoft


tinham uma espécie de aliança para dominar o mercado de computadores
pessoais. A Intel fabricava processadores e chipsets, e ditava os padrões de
interfaces para os computadores pessoais (hardware). A Microsoft desenvolvia e
comercializada o Windows e outros softwares, moldando a base de código em
torno dos recursos oferecidos pelos novos processadores.357
Como resultado dessa parceria, cada nova versão do Windows exigia
processadores e computadores mais potentes, fazendo com que os usuários
acabassem trocando todo o computador. Desta maneira, as duas empresas
passavam a ter mais vendas de produtos, uma alavancando a outra. Oficialmente
nenhuma das empresas declarou a existência de uma aliança entre ambas, mas os
resultados para o mercado de consumo são claros.358
Nesse caso, as duas empresas colaboraram para que a obsolescência
fosse, pode-se dizer, de mão dupla, isto é, enquanto uma desenvolvia um software
mais complexo que dependeria de processadores mais céleres, outra desenvolvia
processadores mais rápidos sabendo que novos softwares estavam ou poderiam
ser colocados no mercado. No fim da cadeia quem acabava prejudicado era o
consumidor porque tinha de substituir o seu computador ainda em funcionamento
pelo fato de o atual não suportar, não “rodar”, as novas versões do sistema
operacional. Os usuários que já possuíam a nova versão do processador também
precisaram comprar um novo Windows porque a versão anterior estava
desatualizada. Tal situação, no entanto, não foi objeto de ação judicial. A ruptura
ocorreu na segunda metade da década de 2000, quando:

[...] a Intel teve que reduzir o consumo elétrico dos processadores e


aumentar sua eficiência, enquanto a Microsoft manteve a velha
política de inchar a base de código, lançando o Windows Vista, que
foi vítima de um alto nível de rejeição e fez com que muitos
usuários optassem por continuar com o Windows XP, prejudicando
assim também as vendas da Intel.359

O principal ponto a ser evidenciado, nesse caso, é a relação entre duas


empresas que oferecem produtos complementares. É que a obsolescência

357
MORIMOTO, Carlos E. Intel e Microsoft: um relacionamento complicado. 8 abril 2011.
Disponível em: <http://www.hardware.com.br/artigos/intel-microsoft/>. Acesso em: 17 maio 2015.
358
MORIMOTO, Carlos E. Intel e Microsoft: um relacionamento complicado. 8 abril 2011.
Disponível em: <http://www.hardware.com.br/artigos/intel-microsoft/>. Acesso em: 17 maio 2015.
359
MORIMOTO, Carlos E. Intel e Microsoft: um relacionamento complicado. 8 abril 2011.
Disponível em: <http://www.hardware.com.br/artigos/intel-microsoft/>. Acesso em: 17 maio 2015.
116

causada por ambas acaba fazendo com que o consumidor adquira regularmente
os seus produtos.

6.2.3 PROTESTE: Pesquisa sobre garantia de produtos

O Instituto ProTeste360, em estudo sobre sobre garantia, constatou que


cerca de 45% dos produtos eletrônicos e eletrodomésticos comprados no Brasil
apresentaram algum tipo de vício361 antes de completar dois anos de uso.362
A entidade também registrou que 74% dos consumidores preferiram
substituir o aparelho que apresentou vício por um novo item, em vez de recorrer às
assistências técnicas.363
A mesma pesquisa ainda compara o prazo de garantia legal brasileiro, que
é de três meses, com o prazo de garantia legal de países como Portugal, Bélgica e
Espanha, que é de dois anos.364
O Gráfico 3 representa, em termos percentuais, as respostas dadas à
seguinte pergunta formulada na pesquisa: “Quando o produto quebrou pela
primeira vez estava na garantia?

360
PROTESTE. Associação Brasileira de Defesa do Consumidor. Disponível em:
<www.proteste.org.br>. Acesso em: 8 jan. 2016.
361
Nota do Autor: A pesquisa da PROTESTE utiliza por diversas vezes o palavra defeito para
referenciar vício do produto, para evitar qualquer problema, foi substituida a palavra defeito por vício
para se adequar a metodologia do CDC.
362
PRÔA, Ana Lúcia et al. (Ed.). Pesquisa: Garantia - 45% dão defeito antes de dois anos. Revista
ProTeste, Rio de Janeiro, ano XIII, n. 139, p. 26-28, setembro 2014. p. 26.
363
PRÔA, Ana Lúcia et al. (Ed.). Pesquisa: Garantia - 45% dão defeito antes de dois anos. Revista
ProTeste, Rio de Janeiro, ano XIII, n. 139, p. 26-28, setembro 2014. p. 26.
364
PRÔA, Ana Lúcia et al. (Ed.). Pesquisa: Garantia - 45% dão defeito antes de dois anos. Revista
ProTeste, Rio de Janeiro, ano XIII, n. 139, p. 26-28, setembro 2014. p. 27.
117

Gráfico 3 – Vício do produto e prazo de garantia

Fonte: PRÔA365

De acordo com o Gráfico 3, na maior parte das vezes, ou seja, em 84,5%


das ocasiões, o produto deixou de funcionar quando o prazo de garantia ofertado
pelo fabricante já tinha expirado.
A pesquisa sobre garantia analisou também a questão do reparo dos
produtos: 69% dos consumidores que tiveram seus produtos avariados fora do
prazo de garantia não procuraram a assistência técnica, conforme ilustra o gráfico
seguinte.

365
PRÔA, Ana Lúcia et al. (Ed.). Pesquisa: Garantia - 45% dão defeito antes de dois anos. Revista
ProTeste, Rio de Janeiro, ano XIII, n. 139, p. 26-28, setembro 2014. p. 27.
118

Gráfico 4 – Assistência técnica de produtos fora do prazo de garantia

Fonte: PRÔA366

Os dados relativos aos consumidores que não procuraram a assistência


técnica e as respostas à questão “Por que não procurou uma assistência técnica?”
são resumidos no quadro seguinte.

Quadro 2 – Razão pela qual o consumidor não procurou uma assistência técnica
Considera a assistência técnica muito cara 59%
Preferiu comprar um aparelho mais moderno 18%
O aparelho já estava fora do prazo de garantia 15%
Não confia na assistência técnica 7%
Já havia consertado o aparelho, mas outros vícios começaram a
2%
aparecer
Já havia consertado o aparelho, mas o vício voltou a acontecer 0,2%
Outros 2%
Fonte: PRÔA367

366
PRÔA, Ana Lúcia et al. (Ed.). Pesquisa: Garantia - 45% dão defeito antes de dois anos. Revista
ProTeste, Rio de Janeiro, ano XIII, n. 139, p. 26-28, setembro 2014. p. 27.
367
PRÔA, Ana Lúcia et al. (Ed.). Pesquisa: Garantia - 45% dão defeito antes de dois anos. Revista
ProTeste, Rio de Janeiro, ano XIII, n. 139, p. 26-28, setembro 2014. p. 27.
119

Em relação aos consumidores que levaram o aparelho para a assistência


técnica mas não realizaram o reparo, as respostas à questão “Por que não efetivou
o conserto na assistência técnica?” são tabuladas no quadro a seguir:

Quadro 3 – Razão pela qual o consumidor não efetivou o conserto na assistência


técnica
O preço era muito alto 81%
O tempo de reparo era muito elevado 25%
Não havia peças de reposição disponíveis para o conserto 7%
O conserto não oferecia garantia 6%
Não encontrou nenhuma assistência 2%
Outros 2%
Fonte: PRÔA368

Com base nesses dados, pode-se dizer que aspectos como falta de
assistência técnica, garantia, falta de peças para reparo ou mesmo o custo para
realizar o reparo dos produtos são maneiras de induzir o consumidor a realizar o
consumo repetitivo do bem e, como apontado, pode ser considerada uma prática
de obsolescência indireta.
Na conclusão da pesquisa369, a recomendação apresentada foi a revisão
do prazo de garantia ofertado para os produtos no Brasil, uma vez que a maior
parte dos vícios dos produtos ocorre após um ano de uso. Este prazo é atualmente
considerado padrão de prazo de garantia ofertado para diversos produtos
disponibilizados no mercado de consumo brasileiro.

368
PRÔA, Ana Lúcia et al. (Ed.). Pesquisa: Garantia - 45% dão defeito antes de dois anos. Revista
ProTeste, Rio de Janeiro, ano XIII, n. 139, p. 26-28, setembro 2014. p. 27.
369
PRÔA, Ana Lúcia et al. (Ed.). Pesquisa: Garantia - 45% dão defeito antes de dois anos. Revista
ProTeste, Rio de Janeiro, ano XIII, n. 139, p. 26-28, setembro 2014. p. 28.
120

6.2.4 Pesquisa Idec e Market Analysis: desempenho, durabilidade e ciclo de


vida de eletroeletrônicos

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e o Instituto de


Pesquisa Market Analysis370 realizaram pesquisa sobre desempenho e
durabilidade de aparelhos eletroeletrônicos na visão do consumidor.371
Os dados coletados demonstram que a satisfação do consumidor sobre o
desempenho e a durabilidade dos produtos eletroeletrônicos é menor com relação
a aparelhos celulares e computadores, já que estes apresentam a maior frequência
de problemas de funcionamento, conforme demonstrado no quadro a seguir.

Quadro 4 – Vício(s)372 apresentado(s) e tempo de uso373


Percentual de aparelhos que apresentaram Tempo de uso dos
vício(s) aparelhos
32% computador 2,6 anos
22% celular 3,1 anos
21% lavadora de roupa 4,8 anos
17% impressora 2,9 anos
13% televisor 4,8 anos
11% DVD ou Blue-ray 3,9 anos
11% geladeira ou freezer 6,0 anos
9% câmera fotográfica 2,9 anos
9% micro-ondas 4,3 anos
8% fogão 5,6 anos
Fonte Idec374

370
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Testes e Pesquisas, Consumo
Sustentável. Em cinco anos, metade dos computadores apresentará algum defeito. Disponível em:
<http://www.idec.org.br/consultas/testes-e-pesquisas/em-cinco-anos-metade-dos-computadores-
apresentara-algum-defeito>. Acesso em: 2 jan. 2014.
371
Sobre a pesquisa relativa ao ciclo de vida de eletroeletrônico, conferir: INSTITUTO
BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Ciclo de vida de eletrônicos. Outubro 2013.
Disponível em: <http://www.idec.org.br/uploads/testes_pesquisas/pdfs/market_analysis.pdf>.
Acesso em: 3 set. 2014.
372
Nota do Autor: A pesquisa da IDEC e Market Analysis utiliza por diversas vezes o palavra defeito
para referenciar vício do produto, para evitar qualquer problema, foi substituida a palavra defeito por
vício para se adequar a metodologia do CDC.
373
Segundo o IDEC a pesquisa foi feita por entrevista, por telefone, sendo 806 homens e mulheres,
de 18 a 69 anos, de diferentes classes sociais das seguintes cidades: Belo Horizonte (MG), Brasília
(DF), Curitiba (PR), Goiânia (GO), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador
(BA) e São Paulo (SP). O número de entrevistados em cada capital foi proporcional à população de
cada capital. O levantamento foi feito entre agosto e outubro de 2013. A margem de erro é de 3,5%
para mais ou para menos. INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Testes e
Pesquisas, Consumo Sustentável. Em cinco anos, metade dos computadores apresentará algum
defeito. Disponível em: http://www.idec.org.br/consultas/testes-e-pesquisas/em-cinco-anos-metade-
dos-computadores-apresentara-algum-defeito>. Acesso em: 2 jan. 2014.
121

O tempo de posse dos aparelhos, combinado com o número de problemas


relatados no período, resulta que, a cada cinco anos, 51,6% de todos os
computadores e 42,3% de todos os celulares do país apresentarão algum vício. No
que tange aos celulares, especificamente, a duração ideal é 77% maior que a
duração vivenciada (3 anos e 5,3 anos, respectivamente).375
A pesquisa realizada com o objetivo de identificar as expectativas dos
consumidores em relação à durabilidade dos aparelhos informa que, de modo
geral, os consumidores esperam que tenham uma vida útil de dois a três anos a
mais do que de fato têm hoje.
O gráfico apresentado a seguir registra o tempo que os consumidores
mantêm a posse dos equipamentos.

Gráfico 5 – Tempo de aquisição dos eletroeletrônicos

Tempo que possui o equipamento (média em anos)

Celular ou smartphone 2,6


Câmera Fotográfica 2,9
Impressora 2,9
Computador 3,1
DVD ou blue ray 3,9
Micro-ondas 4,3
Lavadora de roupas 4,8
Televisão 4,8
Fogão 5,6
Geladeira ou freezer 6

0 1 2 3 4 5 6

Fonte: Idec376

374
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Testes e Pesquisas, Consumo
Sustentável. Em cinco anos, metade dos computadores apresentará algum defeito. Disponível em:
http://www.idec.org.br/consultas/testes-e-pesquisas/em-cinco-anos-metade-dos-computadores-
apresentara-algum-defeito>. Acesso em: 2 jan. 2014.
375
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Testes e Pesquisas, Consumo
Sustentável. Em cinco anos, metade dos computadores apresentará algum defeito. Disponível em:
http://www.idec.org.br/consultas/testes-e-pesquisas/em-cinco-anos-metade-dos-computadores-
apresentara-algum-defeito>. Acesso em: 2 jan. 2014.
376
Vide INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Ciclo de vida de eletrônicos.
Outubro 2013. Disponível em:
<http://www.idec.org.br/uploads/testes_pesquisas/pdfs/market_analysis.pdf>. Acesso em: 3 set.
2014.
122

O gráfico a seguir registra os percentuais de entrevistados que possuíam o


aparelho objeto da pesquisa pela primeira vez e que já haviam adquirido outros:

Gráfico 6 – Percentuais de entrevistados que adquiriram o eletroeletrônico


(primeira aquisição e mais de uma aquisição)

Fonte: Idec377

Para 78% dos entrevistados, a durabilidade é um aspecto muito importante


a avaliar. Apenas 8% afirmam que no momento de adquirir um aparelho
eletroeletrônico/celular não se influenciam pelo fator “durabilidade”, conforme
demonstrado no quadro a seguir.

377
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Ciclo de vida de eletrônicos.
Outubro 2013. Disponível em:
<http://www.idec.org.br/uploads/testes_pesquisas/pdfs/market_analysis.pdf>. Acesso em: 3 set.
2014.
123

Quadro 5 – Preocupação com a durabilidade no momento de aquisição de


um eletroeletrônico
Muito importante 78%
Parcialmente importante 7%
Nem muito nem pouco importante 2%
Pouco importante 2%
Nada importante 8%
Não sabiam/não responderam 4%
Fonte Idec378

Em relação à expectativa de troca de aparelho, a pesquisa mostra os


seguintes dados, conforme Gráfico 7:

Gráfico 7 – Expectativa de troca no primeiro ano de aquisição – por tipo de


aparelho

Fonte: Idec379

378
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Testes e Pesquisas, Consumo
Sustentável. Em cinco anos, metade dos computadores apresentará algum defeito. Disponível em:
http://www.idec.org.br/consultas/testes-e-pesquisas/em-cinco-anos-metade-dos-computadores-
apresentara-algum-defeito>. Acesso em: 2 jan. 2014.
379
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Ciclo de vida de eletrônicos.
Outubro 2013. Disponível em:
<http://www.idec.org.br/uploads/testes_pesquisas/pdfs/market_analysis.pdf>. Acesso em: 3 set.
2014.
124

A percepção do consumidor quanto ao tempo mínimo esperado de duração


dos produtos é demonstrada no gráfico seguinte.

Gráfico 8 – Tempo mínimo de duração dos bens adquiridos – por tipo

Fonte: Idec380

Segundo registrou o Idec/Market Analysis, o consumidor brasileiro está


muito satisfeito com o desempenho e com a durabilidade dos bens objeto da
pesquisa. Há ainda o reconhecimento de que a durabilidade é uma característica
importante dos equipamentos. Os consumidores, ademais, gostariam que os
aparelhos tivessem uma durabilidade maior – de 2 a 3 anos a mais do que
realmente duram.381
A conclusão apresentada pela pesquisa em comento pode ser um
indicador de que cada vez mais os fabricantes estão usando artifícios para reduzir
a vida útil do produto para induzir o consumidor a realizar compras repetitivas.

380
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Ciclo de vida de eletrônicos.
Outubro 2013. Disponível em:
<http://www.idec.org.br/uploads/testes_pesquisas/pdfs/market_analysis.pdf>. Acesso em: 3 set.
2014.
381
INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Ciclo de vida de eletrônicos.
Outubro 2013. Disponível em:
<http://www.idec.org.br/uploads/testes_pesquisas/pdfs/market_analysis.pdf>. Acesso em: 3 set.
2014.
125

6.3 ANÁLISE DOS MECANISMOS PREVENTIVOS OU REPARATÓRIOS


DISPONÍVEIS NO CDC

Segundo a tipologia de Slade, a terceira forma de obsolescência é a


obsolescência planejada ou programada. Considerada o tipo mais complexo de
obsolescência, tal prática ocorre quando o fornecedor deliberadamente manipula o
produto para que este venha a falhar após um determinado período de tempo.
A obsolescência programada pode ocorrer de diversas formas, como
apontado anteriormente, pela redução da vida útil do produto devido ao uso de
materiais inferiores, redução de prazo de validade de produtos de consumo; pela
colocação de produtos no mercado sem oferecer a possibilidade de reparo (por
sua impossibilidade per se ou por ausência de peças); ou ainda por formas
indiretas, como a impossibilidade de atualização do sistema operacional ou
ausência de consumíveis.
Diferente da obsolescência psicológica ou técnica, em que o produto na
posse do consumidor ainda está em pleno funcionamento e atendendo aos fins a
que se propõe, na obsolescência programada o produto é diretamente afetado e
para de operar, ou se está em operação deixa de atender aos fins que se propõe.
No que tange aos mecanismos preventivos colocados à disposição do
consumidor, alguns aspectos precisam ser analisados. O primeiro alude ao direito
de informação segundo o qual o consumidor pode exigir do fornecedor as
informações necessárias em relação ao produto que será adquirido.
Contudo, como a obsolescência programada é uma prática escusa,
eventual informação sobre a falha antecipada do produto, direta ou indiretamente,
é ocultada do consumidor.
No Brasil, o prazo de validade de produtos é objeto de distintas
legislações.
No âmbito do CDC, o legislador determinou no artigo 31 que toda oferta e
apresentação de produtos devem assegurar informações precisas, incluindo o
prazo de validade.382 O art.igo 18, § 6°, inciso I, do mesmo diploma, estabelece

382
O parágrafo único do artigo em questão determina ainda que, no caso de produtos refrigerados,
o prazo de validade deve ser gravado de forma indelével.
126

que são impróprios ao uso e consumo os produtos cujos prazos de validade


estejam vencidos.
A Lei n. 6.437, de 20 de agosto de 1977, que define as infrações à
legislação sanitária federal, em seu art. 10, inc. XVIII, consigna que é considerada
infração sanitária a ação de importar ou exportar, expor à venda ou entregar ao
consumo produtos de interesse da saúde com prazo de validade expirado, ou opor-
lhes novas datas, após expirado o prazo.
A Lei n. 6.360, no art. 67, inc. III, também considera infração a venda ou
exposição à venda produto cujo prazo da validade esteja expirado. O inc. IV do
mesmo artigo informa que é infração a aposição de novas datas em produtos cujo
prazo de validade haja expirado ou recondicionamento em novas embalagens,
excetuados os soros terapêuticos que puderem ser redosados e refiltrados.
O inciso IX do artigo 7° da Lei n. 8.137/1990 define que é crime contra as
relações de consumo vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de
qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria em condições impróprias ao
consumo.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da
Resolução RDC n. 328/1999, no item 4.12, definiu que prazo de validade de
produto é a data limite para a sua utilização. Na Resolução RDC n. 157/2002, a
Anvisa novamente define que prazo de validade é o tempo durante o qual o
produto poderá ser usado, caracterizado como período de vida útil, fundamentada
nos estudos de estabilidade específicos. Há, ainda, a Resolução Anvisa RDC n.
259/2002, que ao tratar do regulamento técnico sobre rotulagem de alimentos
embalados, no item 6.6, definiu que todo produto embalado deve apresentar prazo
de validade.
A Associação Paulista de Supermercados (APAS) e o Procon/SP criaram a
campanha “de olho na validade”383, na qual o consumidor que encontrar produto
com validade vencida no ponto de venda receberá gratuitamente produto similar,
dentro do prazo de validade. A campanha, que é válida para produtos encontrados
dentro da área de venda (antes de passar pelo caixa), prevê o seguinte: se o
estabelecimento/loja não possuir o mesmo produto, deverá entregar ao cliente um

383
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE SUPERMERCADOS. De olho na validade. Disponível em:
<http://www.portalapas.org.br/m5.asp?cod_noticia=14868&cod_pagina=1222>. Acesso em: 27 julho
2014.
127

similar e de igual valor; se o consumidor encontrar mais de um item com o prazo


de validade vencido, receberá a mesma quantidade de produtos.
Segundo o Procon/SP384, trata-se de medida educativa e deve trazer
benefícios à população paulista, uma vez que poderá aprimorar os mecanismos de
controle para a identificação de produtos com prazo de validade vencido, além de
trazer uma compensação imediata ao consumidor.
Rizzatto Nunes entende que o prazo de validade dos produtos é garantia
de dupla face: “a.) garante ao consumidor que o produto até a data marcada se
encontra em condições adequadas de consumo; b.) garante o fabricante, produtor,
importador ou comerciante que, após a data marcada, o risco do consumo do
produto é do consumidor” 385.
Existem ainda produtos cujo prazo de validade é indeterminado, aqueles
que não têm um prazo para ser consumidos, como é o caso de eletrodomésticos,
automóveis, eletroeletrônicos, artigos de vestuário e de decoração. Alguns
produtos de alimentação podem ser assim considerados, como vinhos e bebidas
destiladas, cujo prazo de consumo pode prolongar-se por vários anos.
A legislação europeia, nos termos da Directiva 2000/13/CE, estabelece que
os produtos alimentícios comercializados na União Europeia devem ser
etiquetados conforme tal diretiva, além de informar: (i) data de consumo máximo,
correspondente ao tempo que razoavelmente se espera que o alimento mantenha
a sua qualidade, ou (ii) data de validade, ou seja, período durante o qual se espera
que o produto é seguro para o consumo desde que armazenado nas condições
especificadas.
A European Food Information Council (EUFIC), no artigo intitulado “La vida
útil de los alimentos y su importancia para los consumidores”, comenta a citada
diretiva da União Europeia e observa que alimentos com data de consumo máximo
são aqueles desidratados, congelados ou enlatados.386 Os alimentos que
apresentam data de validade são aqueles que dependem de um armazenamento
específico e, por suas características, podem apresentar risco de intoxicação se

384
FUNDAÇÃO PROCON-SP. De olho na validade. 3.06.2013. Disponível em:
<http://www.procon.sp.gov.br/noticia.asp?id=3540>. Acesso em: 27 jul. 2014.
385
RIZZATTO NUNES, Luiz Antônio. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 245.
386
EUROPEAN FOOD INFORMATION COUNCIL. La vida util de los alimentos y su importancia
para los consumidores. Disponível em:
<http://www.eufic.org/article/es/artid/La_vida_util_de_los_alimentos_y_su_importancia_para_los_co
nsumidores/>. Acesso em: 6 abr. 2015.
128

consumidos após a data de validade indicada, como é o caso de alimentos lácteos,


refrigerados, carnes cozidas, saladas preparadas, entre outros.
Conforme observa a EUFIC:

Uma data de consumo preferencialmente máximo refere-se a um


período durante o qual se espera, de forma razoável, que um
alimento mantenha sua melhor qualidade, como, por exemplo, o
sabor. Entre os alimentos que têm uma data de consumo máximo
se incluem os produtos enlatados, os desidratados e os congelados
[Tradução nossa].387

No mesmo artigo388, a EUFIC explicita que, regra geral, o tempo de vida


útil de um alimento é definido conforme a sua preparação pelo fabricante, suas
características (intrínsecas ou extrínsecas). A avaliação deve levar em
consideração os ingredientes utilizados, os processos de preparação, o tipo de
embalagem (a vácuo ou em atmosfera modificada). Os fabricantes, para definir a
vida útil de um produto, se necessário, podem realizar análises e estudos, incluindo
testes microbiológicos.
Além da Directiva 2000/13/CE, relativa a rotulagem, apresentação e
publicidade dos gêneros alimentícios, há o Regulamento (UE) 1169/2011, cujo
principal objetivo é simplificar as inúmeras normas relativas à rotulagem de
alimentos no âmbito da União Europeia. O Regulamento 2073/2005/CE dispõe
sobre critérios microbiológicos aplicáveis aos produtos alimentícios.
Nos Estados Unidos da América, segundo o Institute of Food
389
Technologists , há pouca regulamentação sobre validade de produtos fornecida
pelo United States Department of Agriculture (USDA). Este órgão disponibiliza
apenas um folder com informações sobre prazo de validade da seguinte forma:

387
EUROPEAN FOOD INFORMATION COUNCIL. La vida util de los alimentos y su importancia
para los consumidores. Disponível em:
<http://www.eufic.org/article/es/artid/La_vida_util_de_los_alimentos_y_su_importancia_para_los_co
nsumidores/>. Acesso em: 6 abr. 2015. No original: “Una fecha de consumo máximo preferente
refleja el periodo durante el cual cabe esperar, de forma razonable, que un alimento conserve su
mejor calidad, como, por ejemplo, el sabor. Entre los alimentos que tienen una fecha de consumo
máximo preferente se incluyen los alimentos enlatados, los deshidratados y los congelados.”.
388
EUROPEAN FOOD INFORMATION COUNCIL. La vida util de los alimentos y su importancia
para los consumidores. Disponível em:
<http://www.eufic.org/article/es/artid/La_vida_util_de_los_alimentos_y_su_importancia_para_los_co
nsumidores/>. Acesso em: 6 abr. 2015.
389
INSTITUTE OF FOOD TECNOLOGISTS. Food storage and shelf life. Disponível em:
<http://www.ift.org/knowledge-center/learn-about-food-science/food-facts/food-storage-and-shelf-
life.aspx>. Acesso em: 6 abr. 2015.
129

a.) “Vendido até” (sell-by): refere-se ao tempo (período) que o produto


pode permanecer à disposição para venda, antes de começar a expirar
(shelf life);
b.) “Melhor se usado antes de” (Best if used by or before): refere-se à
data recomendada para consumo do produto, sendo seguro que
mantém suas qualidades e sabor;
c.) “Usar até” (use-by): refere-se à última data recomendada para uso do
produto.390

O prazo de validade é, portanto, o lapso de tempo durante o qual o produto


pode ser armazenado e consumido sem perder as suas características e sem
apresentar algum risco ao consumidor.
Tanto a redução da vida útil como o prazo de validade do produto são
artifícios que podem ser usados pelos fornecedores para induzir o consumidor à
compra repetitiva.
No caso do prazo de validade, a sua redução pode ocorrer apenas pela
alteração dos dizeres na embalagem do produto. Caso o fornecedor tente exercer
tal prática de forma ilegítima, ele fará a redução do prazo sem nenhum fundamento
técnico.
Bem importante é saber distinguir prazo de validade e prazo de garantia.
Prazo de validade, como visto, é o lapso de tempo que o fornecedor garante ao
consumidor que o produto até a data marcada se encontra em condições
adequadas de consumo, ou seja, decorre da própria natureza do produto. Prazo de
garantia, por sua vez, deve ser analisado em dois instantes. O primeiro trata da
garantia legal de adequação do produto, ou seja, é o prazo que o fornecedor
garante que o produto atende aos aspectos de qualidade, segurança, durabilidade,
desempenho, para atingir o fim a que se destina. O segundo momento se refere à
garantia contratual, que trata de um prazo adicional concedido pelo fornecedor
além da garantia legal de produtos que apresentem prazo de validade
indeterminado.

390
UNITED STATES OF AMERICA. Department of Agriculture. Food safety and inspection services
– Food safety information – Food product dating. Disponível em:
<http://www.fsis.usda.gov/wps/wcm/connect/19013cb7-8a4d-474c-8bd7-
bda76b9defb3/Food_Product_Dating.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em: 6 abr. 2015.
130

O prazo de validade e o prazo de garantia legal de adequação devem ser


semelhantes, ou seja, ambos devem ter o mesmo prazo
A propósito, a questão da garantia será aprofundada à frente, ainda neste
capítulo.
No caso da redução da vida útil, o fornecedor faz uso de técnicas ou
metodologias de engenharia para alterar o projeto do produto, seus materiais ou
utiliza técnicas de manufatura inferiores.
Contudo, não existe nenhuma legislação que obrigue o fornecedor a
informar o prazo de garantia para o consumidor. A situação piora quando se
verifica que também não existe normativa que obrigue o fornecedor a colocar no
mercado produtos com vida útil maior do que as versões anteriores, ou mesmo que
o obrigue a incluir no projeto ou no produto meios de permitir a atualização com o
objetivo de estender a sua vida útil.
O CDC também é omisso em estabelecer de forma expressa a obrigação
do fornecedor de apresentar a vida útil esperada do produto, mas apenas a
validade dos produtos perecíveis.
Ainda, no que tange ao prazo de validade, não existe nenhuma obrigação
do fornecedor de demonstrar ao consumidor como chegou a determinado prazo,
permitindo assim a redução do referido prazo se tiver a intenção de lesar o
consumidor.
Quando se menciona que há omissão do CDC quanto à proteção do
consumidor é porque, apesar de existir a obrigação de fornecer as informações, o
legislador consumerista não abordou o aspecto principal que é a vida útil/prazo de
validade e como o fornecedor chegou aos dados/valores que apresenta.
Em suma, o CDC não trata diretamente dos aspectos vida útil, prazo de
validade e obsolescência dos produtos. Contudo, o inciso IV do artigo 4º
demonstra a preocupação do legislador consumerista em garantir que os
fornecedores coloquem no mercado de consumo produtos que estejam de acordo
com as melhores práticas de controle de qualidade, conforme se infere da
disciplina do dispositivo citado:

Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
131

como a transparência e harmonia das relações de consumo,


atendidos os seguintes princípios:
[...]
V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de
controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim
como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de
consumo; [...].

Benjamin, ao tratar da “Teoria da Qualidade”, observa duas órbitas


distintas quanto às garantias que devem ser dadas ao consumidor: incolumidade
físico-psíquica e incolumidade econômica:

A primeira centraliza suas atenções na garantia da incolumidade


físico-psíquica do consumidor, protegendo sua saúde e segurança,
ou seja, preservando sua vida e integridade contra os acidentes de
consumo provocados pelos riscos de produtos e serviços. Esta
órbita, pela natureza do bem jurídico tutelado, ganha destaque em
relação à segunda [grifo nosso].391

A segunda esfera de inquietação, diversamente, busca regrar a


incolumidade econômica do consumidor em face dos incidentes (e
não acidentes!) de consumo capaz de atingir seu patrimônio. Não
obstante, em termos éticos, a proteção da incolumidade físico-
psíquica do consumidor seja prioritária, são os ataques a sua
incolumidade econômica que mais aparecem no seu
relacionamento com o fornecedor. [grifo nosso].392

Pode-se dizer, em síntese, que as garantias de incolumidade físico-


psíquica e de incolumidade econômica, respectivamente, protegem o “corpo” e o
“bolso” do consumidor.393
A disciplina do artigo 8º do CDC, a propósito, calha bem com a
incolumidade físico-psíquica, ao determinar que:

Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo


não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores,
exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de
sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer
hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu
respeito.
Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante
cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de
impressos apropriados que devam acompanhar o produto.

391
BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e. Teoria da qualidade. In: _____; MARQUES,
Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscole (Coord.). Manual de direito do consumidor, p. 100.
392
BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e. Teoria da qualidade. In: _____; MARQUES,
Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscole (Coord.). Manual de direito do consumidor, p. 100.
393
BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e. Teoria da qualidade. In: _____; MARQUES,
Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscole (Coord.). Manual de direito do consumidor, p. 101.
132

De fato, o CDC impõe uma teoria de qualidade ao estatuir que os produtos


deverão atender a uma qualidade-segurança (artigos 8º a 17) e a uma qualidade-
adequação (artigos 18 a 25), sinalizando, assim, que o “dever de qualidade” que
deve acompanhar o produto/serviço é um dever inerente ao fornecedor: uma
verdadeira garantia implícita de segurança razoável e de adequação.394
Filomeno395, sobre a questão da qualidade dos produtos lançados no
mercado, bem observa:

Conceito de qualidade não é mais a adequação às normas que


regem a fabricação de determinados produtos ou a prestação de
um determinado serviço tão somente, mas principalmente a
satisfação de seus consumidores, tem-se que cabe às próprias
empresas o zelo por esse tipo de qualidade, até para seu
crescimento.

A qualidade, nesse contexto, objetiva assegurar que os produtos/serviços


colocados no mercado de consumo estejam de acordo com as melhores práticas
de controle de qualidade e de segurança, mas não é só isso, pois intrínseca à
qualidade está a ideia de que os produtos devem também garantir a satisfação da
necessidade dos consumidores e os fins a que se destinam.
A análise desse aspecto permite constatar que o CDC prevê a obrigação
do fornecedor de colocar produtos que observem as melhores práticas de controle
de qualidade e de segurança, contudo, no que se refere à obsolescência
programada, a possibilidade de o consumidor utilizar este direito preventivamente é
bastante difícil.
A obsolescência é um mecanismo escuso do fornecedor no sentido de que
a exigência da prática da produção com qualidade pode ser facilmente ludibriada
pela apresentação de certificações de manufatura e operações, como é o caso das
normatizações International Organization for Standardization (ISO).
A conclusão a que se chega é que não obstante a previsão na legislação
protetiva, será bastante difícil e complexo para o consumidor usar o dever de
qualidade do fornecedor como forma de prevenir a obsolescência programada: o

394
BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e. Arts 12 a 27. In: OLIVEIRA, Juarez de (Coord.)
Comentários ao Código de Proteção do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 45.
395
FILOMENO, José Geraldo Brito. Dos direitos básicos do consumidor. In: BENJAMIM, Antonio
Herman Vasconcelos e (Coord.). Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos
autores do anteprojeto, p. 89.
133

consumidor não detém o conhecimento necessário para aferir se foram adotadas


as melhores práticas de controle de qualidade e de segurança ao produto/serviço.
Em se tratando de mecanismos reparatórios do CDC, pontualmente sobre
a falha/defeito do produto, a primeira análise que sobressai é a do vício do produto.
Cavalieri Filho, em ligeira abordagem, menciona que vício é “defeito menos
grave, circunscrito ao produto ou serviço, que apenas causa o seu mau
funcionamento”396.
Miragem explica que vício do produto ou do serviço “abrange o efeito
decorrente da violação aos deveres de qualidade, quantidade ou informação,
impedindo, com isso, que o produto ou serviço atenda aos fins que legitimamente
dele se esperam (dever da adequação) “ 397.
Para Rizzatto Nunes, consideram-se vícios as características de qualidade
ou de quantidade que tornem os produtos ou serviços impróprios ou inadequados
ao consumo a que se destinam e também que lhes diminuam o valor. Da mesma
forma, são considerados vícios aqueles decorrentes da disparidade havida em
relação às indicações constantes no recipiente, na embalagem, na rotulagem, na
oferta ou na mensagem publicitária veiculada.398
Embora o artigo 18 do CDC se refira de maneira introdutória às espécies
vício de quantidade e vício de qualidade, “seus parágrafos e incisos disciplinam,
exclusivamente, a responsabilidade do fornecedor pelos vícios de qualidade dos
produtos, ou seja, por aqueles vícios capazes de torná-los impróprios, inadequados
ao consumo ou lhes diminua o valor”399.
A compreensão do que seja vício de quantidade de um produto não exige
muito esforço de raciocínio, pois se existe uma disparidade entre o volume ou a
quantidade efetivamente apresentada, o fornecedor é obrigado a responder pela
diferença, mas isso não tem grande relevância para o presente estudo.
Há autores que enfrentam a questão do vício como cumprimento imperfeito
da obrigação/contrato.

396
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de direito do consumidor, p. 267
397
MIRAGEM, Bruno. Direito do consumidor: fundamentos dos direitos do consumidor; direito
material e processual do consumidor; proteção administrativa do consumidor; direito penal do
consumidor, p. 309.
398
RIZZATTO NUNES, Luiz Antônio. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 236.
399
DENARI, Zelmo. Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da reparação dos danos.
In: BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos e (Coord.). Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p. 223.
134

Guimarães, seguindo a doutrina espanhola de Diez-Pacazo e a italiana de


Maria Constanta, entende que:

O cumprimento imperfeito se refere a toda prestação realizada pelo


devedor em que seu comportamento está em desacordo com o que
foi previamente estipulado, em que seu agir não corresponde aos
pressupostos e às condições que o pagamento exige para produzir
os efeitos liberatórios da obrigação.400

E prossegue no ensinamento:

O cumprimento imperfeito é aqui diferenciado da inexecução


contratual, uma vez que nele há o cumprimento de parte da
obrigação, ou o cumprimento da obrigação com entrega da coisa
ou do serviço, porém com imperfeições; nessas hipóteses,
colocam-se à disposição do adquirente/usuário alternativas que
não sejam a resolução do contrato ou a execução forçada da
prestação.401

O cumprimento imperfeito do contrato, portanto, é o cumprimento de parte


da obrigação, porém com imperfeições. Nesse caso, o contratante poderá optar
por alternativas que não a resolução do contrato ou a execução forçada da
prestação.
O vício de qualidade do produto, por sua vez, pode ser analisado pelos
aspectos objetivo e subjetivo. O vício será objetivo “[...] quando a coisa não
apresentar qualidade normal em comparação às suas similares, como, por
exemplo, uma geladeira que não gela ou o elevador comprado para o prédio que
não permite o seu uso constante e diário” 402. O vício subjetivo decorre da ausência
de qualidade indicada ou prometida pelo alienante no momento anterior à
contratação. É o caso da pessoa que compra uma caixa de papelão não
apropriada para carregar livros só porque o vendedor disse que ela serviria para tal
fim.403
O legislador do CDC, no § 6° do artigo 18, assim consignou:

§ 6° São impróprios ao uso e consumo:


I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

400
GUIMARÃES, Paulo Jorge Scartezzini. Vícios de produto e do serviço por qualidade, quantidade
e insegurança: cumprimento imperfeito do contrato. 2. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2007.
p. 136-137.
401
GUIMARÃES, Paulo Jorge Scartezzini. Vícios de produto e do serviço por qualidade, quantidade
e insegurança: cumprimento imperfeito do contrato, p. 137.
402
GUIMARÃES, Paulo Jorge Scartezzini. Vícios de produto e do serviço por qualidade, quantidade
e insegurança: cumprimento imperfeito do contrato, p. 156.
403
GUIMARÃES, Paulo Jorge Scartezzini. Vícios de produto e do serviço por qualidade, quantidade
e insegurança: cumprimento imperfeito do contrato, p. 157.
135

II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,


falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde,
perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados
ao fim a que se destinam.404

Denari interpreta o dispositivo citado:

Da leitura do § 6° do Art. 18 se depreende que, dentre os produtos


impróprios ao uso e consumo, estão elencados todos aqueles
deteriorados, adulterados, falsificado, corrompidos ou fraudados,
compreendendo, portanto, diversas condutas delitivas, que revelam
um inevitável ponto de encontro com os dispositivos previstos na
legislação dos crimes contra as relações de consumo.405

Os vícios apontados pelo autor podem ser considerados como


aparentes406 ou de fácil constatação.
Da mesma forma, o vício de qualidade alude àquelas situações que o
produto deixa de atender ao fim para o qual foi produzido, tornando-o impróprio,
inadequado ao uso ou consumo, ou de valor diminuído.
O vício de qualidade também pode ser caracterizado como cumprimento
imperfeito do contrato, isto é, o cumprimento de parte da obrigação, com
imperfeições, como mencionado linhas atrás.
Existe vício de qualidade nos produtos considerados impróprios ao uso ou
consumo, como é o caso de (i) produtos cujos prazos de validade estejam
vencidos; (ii) produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados,
corrompidos, fraudados; (iii) produtos considerados nocivos à vida ou à saúde,
perigosos ou, ainda, aqueles que estiverem em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; e/ou (iv) produtos
que, por qualquer motivo, revelem-se inadequados aos fins a que se destinam.
Trazendo a questão do vício para o âmbito da obsolescência programada,
o primeiro aspecto que merece análise se refere ao cumprimento imperfeito do

404
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
405
DENARI, Zelmo. Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da reparação dos danos.
In: BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos e (Coord.). Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p. 223.
406
Luiz Antônio Rizzatto Nunes traz uma crítica ao termo aparente. Para ele o termo aparente “não
é bom semanticamente falando. É que a palavra ´aparente´ tem sentido de ´aparência´, daquilo que
não é real. E o vício, ao contrário, é bem rela. O Legislador quis aproveitar do vocábulo o sentido de
aparecimento, do que aparece, mas ele não se presta a isso. Por isso, p.referimos abandonar seu
uso e ficar apenas com a outra expressão ´de fácil constatação´. Essa sim diz respeito ao sentido
desejado pela norma”. (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 346).
136

contrato, valendo lembrar que sua alegação por parte do consumidor é difícil pela
ausência de prazo ou expectativa de vida útil do produto.
Além disso, no que se refere a aspectos indiretos, como o fornecimento de
consumíveis, não existe prazo para o fornecedor disponibilizar consumíveis no
mercado.
O vício de qualidade de produto é mais fácil de ser alegado pelo
consumidor, pois quando o produto para de funcionar, deixa de atender aos fim a
que se propõe ou por alguma razão se torna impróprio para o consumo. Nesse
caso, o consumidor poderá utilizar os mecanismos reparatórios previtos no CDC.
Assim, ocorrendo um vício de produto, o consumidor pode,
alternativamente, pleitear o ressarcimento ou a sua substituição, ou a
complementação do volume ou do peso, que não tem relação com a questão da
obsolescência.
O CDC também faculta que o consumidor pleiteie danos morais, danos
patrimoniais ou outros danos econômicos quando ocorrer vício de produto. O
consumidor ainda poderá, se for de seu interesse, exigir o reparo do aparelho, a
substituição de peças e partes que apresentam mau funcionamento, bem como a
complementação do volume ou da quantidade faltante.
Denari407, a respeito, observa “que o Código concedeu ao fornecedor de
bens o direito de proceder ao saneamento de vícios capazes de afetar a qualidade
do produto, no prazo de trinta dias, contados de sua aquisição”.
Caso o vício não seja sanado no prazo de trinta dias, com base no artigo
18 do CDC, o consumidor poderá exigir alternativamente e à sua escolha:

I – a substituição do produto por outro de mesma espécie, em


perfeitas condições de uso;
II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III – o abatimento proporcional do preço.408

Na linha de entendimento de Cavalieri Filho: “O pleito da substituição do


produto poderá ocorrer quando, em razão da substituição das partes viciadas, for

407
DENARI, Zelmo. Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da reparação dos danos.
In: BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos e (Coord.). Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p. 224.
408
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
137

inócua ou impossível, ou vier a comprometer a qualidade ou as características do


produto.”409.
Ademais, quando o produto for indissociável, conforme apontado
anteriormente, o consumidor poderá pleitear a substituição do produto ou a
restituição da quantia paga, devidamente reajustada.
O prazo legal para saneamento dos vícios abrange somente produtos
industrializados dissociáveis, quer dizer: aqueles que permitam a dissociação de
seus componentes, como é o caso de eletrodomésticos, veículos de transporte,
computadores, armários de cozinha, copa ou dormitório. Se os vícios afetarem
produtos industrializados ou naturais essenciais que não permitem dissociação de
seus elementos, como ocorre com vestimentas, calçados, utensílios domésticos,
medicamentos, bebidas de todo gênero, produtos in natura, não se oferece a
oportunidade de reparações previstas alternativamente no § 1º do art. 18 do CDC,
como prevê expressamente o § 3º410, in fine.411
Nessas situações, o consumidor pode requerer a substituição do produto
ou mesmo a restituição da quantia paga, conforme se extrai do disposto no
parágrafo 4° do mesmo artigo do CDC:

Art. 18.
[...]
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1°
deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá
haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos,
mediante complementação ou restituição de eventual diferença de
preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste
artigo.412

Além dessas possibilidades conferidas pela ordem legal, também pode


ocorrer a substituição por produto de mesma espécie, mas de outra marca, ou a
substituição por outro bem que não guarda nenhuma relação com o bem inicial, por

409
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil, p. 485.
410
“Art. 18 [...] § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo
sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer
a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.”
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
411
DENARI, Zelmo. Capítulo IV – Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da
reparação dos danos. In: BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos e (Coord.). Código Brasileiro
de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p. 224.
412
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
138

exemplo, substituição de um televisor por um computador, desde que respeitado o


direito do consumidor e que não lhe seja causado nenhum prejuízo.
Não é demais lembrar que grande parte dos fornecedores reconhece a
possibilidade de o consumidor utilizar as alternativas disponíveis apenas quando o
vício ocorre no prazo de garantia do produto.
Como no caso da obsolescência programada o fornecedor manipula o
produto usando sua engenharia para que este venha a falhar no momento definido
por ele, é plenamente possível que também planeje a falha após expirada a
garantia do produto. Por essa razão, é importante examinar a questão da garantia
e do vício oculto, começando pelos prazos para o consumidor reclamar os vícios.
Os prazos para reclamar vícios de produtos, no âmbito do CDC, são
estabelecidos no artigo 26, litteris:

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil


constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos
não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de
produtos duráveis.413

O início da contagem do prazo, conforme o disposto no § 1° do artigo em


comento, ocorre a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução
do serviço.
O critério utilizado pelo legislador para a definição dos prazos decorreu da
durabilidade do produto (produtos duráveis e não duráveis), conforme observa
Bessa.414
Partindo agora para a análise de vício oculto, colaciona-se a doutrina de
Rizzatto Nunes a respeito:

O vício oculto tem característica bastante duvidosa. O problema


será considerado oculto quando: a.) não puder ser verificado no
mero exame do produto ou serviço; b.) ainda não estiver provocado
a impropriedade ou inadequação ou diminuição do valor do
produto.415

413
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
414
BENJAMIN, Antônio Herman; MARQUES; Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de
Direito do Consumidor, p. 55.
415
RIZZATTO NUNES, Luiz Antônio. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 236.
139

A questão do vício oculto de produto é assim tratada por Marques:

Se o vício é oculto, porque ele se manifesta somente com o uso, a


experimentação do produto ou porque se evidenciará muito tempo
após a tradição, o limite temporal da garantia legal está em aberto,
seu termo inicial, segundo o § 3º do art. 26, é a descoberta do
vício. Somente a partir da descoberta do vício (talvez meses ou
anos após o contrato) é que passarão a correr os 30 ou 90 dias.
Será, então, a nova garantia eterna? Não, os bens de consumo
possuem uma durabilidade determinada. É a chamada vida útil do
produto.

Se o vício aparece no final da vida útil do produto, a garantia ainda


existe, mas começa a esmorecer, porque se aproxima o fim natural
da utilização dele, o produto atingiu já durabilidade norma, porque o
uso e o desgaste como que escondem a anterioridade ou não do
vício, são causas alheias à relação de consumo, como que se
confundem com a agora revelada inadequação do produto para seu
uso normal. É a ‘Morte’ dos bens de consumo.416

O autor observa ainda que “o vício é oculto se não estiver acessível e, ao


mesmo tempo, não estiver impedindo o consumo”417.
Denari assim se posiciona sobre o tema do vício oculto:

Quid juris se o vício somente se exteriorizar na fase mais avançada


do consumo, após o término do prazo de garantia contratual? Para
responder a essa indagação, é preciso ter presente que o consumo
de produto ou serviço passa por uma fase de preservação, em que
se busca manter a sua indenidade, ou seja, a incolumidade do bem
ou do serviço colocado no mercado de consumo. Esse período de
tempo costuma ser mensurado pelo prazo contratual de garantia.
Portanto, é o próprio fornecedor quem determina o tempo de
duração do termo de garantia, variável segundo a natureza do bem
ou serviço. A fase subsequente é de conservação do produto ou
serviço, pois, em função de sua degradação, passa a ser
consumido sem garantia contratual do respectivo fornecedor,
cumprindo ao consumidor arcar com os respectivos custos. [...]
Significa dizer que a data-limite para efeito de exoneração da
responsabilidade do fornecedor coincide com a data-limite da
garantia legal ou contratual, e isso tem uma explicação muito
simples: não se pode eternizar a responsabilidade do fornecedor
por vícios ocultos dos produtos ou serviços.418

O vício oculto, em resumo, é todo vício que não está manifesto ou não é
facilmente constatado pelo consumidor.

416
MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor – o novo regime das
relações, p. 1.253, 1.254.
417
RIZZATTO NUNES, Luiz Antônio. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 236.
418
DENARI, Zelmo. Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da reparação dos danos.
In: BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos e (Coord.). Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p. 346.
140

Diante da inexistência de um dispositivo específico para tratar da


obsolescência no CDC, a melhor forma de fazer seu enquadramento é utilizar o
vício oculto, pelas seguintes razões. Primeiro, a obsolescência programada leva o
produto a deixar de atender os fins a que se propôs, como analisado
anteriormente. Segundo, trata-se de uma ação do fornecedor que deliberadamente
usa a própria engenharia para fazer o produto ter uma vida útil menor ou usa
outros artifícios para induzir o consumidor à compra repetitiva. No caso, pode-se
entender que o produto tem uma falha ou erro de projeto.
Além da relação individual do consumo, é necessário analisar a questão do
lote ou de todo o modelo ou família de produto via chamamento de produto ou
recall.
Em relação aos mecanismos reparatórios, consoante o que ocorre com o
vício, o consumidor pode pleitear o ressarcimento ou a sua substituição. Da
mesma forma, o CDC permite que o consumidor pleiteie danos morais, danos
patrimoniais ou outros danos econômicos quando tal ocorrer.
Quanto aos vícios ocultos, segundo o artigo 26, § 3°, do CDC, o prazo
decadencial inicia no momento em que ficar evidenciado o defeito.
Por ora, salienta-se que não será analisada a relação entre obsolescência
programada e vício oculto porque seria prematuro fazê-lo sem tratar antes da
garantia.
De qualquer forma, é importante mencionar que quando a obsolescência
programada não é aplicada apenas a uma unidade do produto, mas sim ao lote ou
a todo o modelo do produto, o caminho é utilizar o recall ou chamamento dos
consumidores, conforme estabelece a Portaria n. 487/2012 do Ministério da
Justiça, que regulamentou o art. 10 do CDC.
Conforme o artigo 1 da citada Portaria, o recall só se aplica a produtos
colocados no mercado que apresentem alguma nocividade ou periculosidade para
o consumidor.
Diferentemente, na obsolescência programada a tendência é que o produto
não seja nocivo nem periculoso para o consumidor, mas sim pode ser detectada
uma falha no produto ou mesmo deixar de atender aos fins a que se propõe por
fatores diretos ou indiretos (consumíveis, peças etc.). Aqui, mais uma vez, verifica-
se que o recall não poderá ser usado em favor do consumidor.
141

Conforme mencionado antes, ao lado da obsolescência, que reduz a vida


útil do produto, existe o dever de qualidade do fornecedor. Com esse pano de
fundo, passa-se agora a examinar se o CDC estabeleceu alguma linha reparatória
no que se refere à redução do prazo de vida útil.
O resultado de uma primeira análise aponta que não existe no CDC
nenhuma obrigação do fabricante em introduzir produtos com um prazo mínimo de
vida útil do produto. O mesmo ocorre quanto à obrigação de introduzir uma nova
versão do produto no mercado, que tenha vida útil mais longa que o produto
anterior ou mesmo que permita a sua atualização de modo a alongar a vida útil.
Na mesma trilha, o legislador consumerista não fixou nenhuma punição
nem mesmo algum mecanismo de reparação ao consumidor no caso de redução
deliberada da vida útil do produto pelo fornecedor. Pelo contrário, o CDC
estabelece que um produto pode ter sua vida útil reduzida devido ao mau uso por
parte do consumidor, quando então se configura uma excludente de
responsabilidade do fabricante.
O parágrafo 3º do artigo 12 do CDC prevê as situações de excludente de
responsabilidade:

§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não


será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito
inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.419

As hipóteses inscritas nos três incisos falam por si sós, ou seja, não há se
falar em dever de reparação se o fornecedor provar que não colocou o produto do
alegado dano no mercado (inc. I), tampouco se ficar comprovada a inexistência de
defeito (vício). Aqui, o raciocínio é mais óbvio: se não existe problema no produto,
o consumidor não sofreu nenhum dano (inc. II).
A hipótese estampada no inciso III do artigo colacionado, que interessa ao
escopo do presente estudo, alude à culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
A situação tem relação com mau uso, uso indevido ou uso em desacordo com o
manual do produto.

419
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
142

Com efeito, os fornecedores por exigência do CDC são obrigados a prestar


todas as informações sobre o produto, seu uso e riscos, como corolário de um
direito do consumidor inscrito no seguinte dispositivo: “Art. 6. [...] III - a informação
adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e
preço, bem como sobre os riscos que apresentem.”420.
O art. 31 do mesmo diploma de proteção do consumidor, de forma
complementar, dispõe que:

[...] oferta e apresentação de produtos ou serviços devem


assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em
língua portuguesa sobre suas características, qualidades,
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e
origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que
apresentam à saúde e segurança dos consumidores.421

Assim, da análise dos dois artigos citados, extrai-se que é obrigação


daqueles que colocam produto no mercado de consumo detalhar a forma, as
condições de uso e o respectivo modo de operacionalização.
O CDC também não contempla disposição sobre a vida útil de produto
especificamente, mas permite ao fabricante definir o modo de uso do produto,
inclusive descrever as situações que terá a sua responsabilidade exonerada.
Note-se que com essa assertiva não se pretende lançar crítica ao comando
do artigo em comento, mas apenas demonstrar a sua pouca eficácia no que se
refere à proteção do consumidor contra a obsolescência programada.
Retomando o artigo 12 retrocitado, o fabricante, o produtor, o construtor,
nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
Como se vê, o CDC concebeu sistemas distintos para o vício e para o
defeito ao centrar a distinção entre ambos nas suas consequências, mas graves ou
menos graves, que acarretam para o consumidor.

420
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
421
BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
143

No entendimento de Cavalieri Filho: “Defeito é vício grave que compromete


a segurança do produto e/ou do serviço e causa dano ao consumidor. Já, o vício
em si, um defeito menos grave, circunscrito ao produto ou serviço que apenas
causa o seu mau funcionamento.”422.
Em se tratando de inclusão de artifício no produto, nas suas distintas
etapas – projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação –,
adotar o disposto no art. 12 do CDC como suporte legal como excludente de
responsabilidade pode ser um caminho para o fornecedor. Contudo, o CDC é bem
claro ao dispor que somente existe a obrigação de reparar quando o defeito do
produto gerar consequência indesejada para o consumidor.
Essas considerações permitem afirmar que a obsolescência programada,
que faz o produto deixar de funcionar ou de atender aos fins a que se propõe, não
se enquadra no mencionado art. 12 do do CDC.
Com a publicação do CDC, estabeleceu-se uma nova disciplina em relação
à garantia de produtos colocados no mercado de consumo. Anteriormente à
publicação deste código, eram os fornecedores que, discricionariamente, definiam
a forma, os prazos e as condições de garantia dos produtos/serviços, deixando,
assim, os consumidores desamparados.
Nos termos no artigo 4º, inciso II, alínea “d”, do CDC:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo,
atendidos os seguintes princípios: [...]
II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o
consumidor: [...]
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados
de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

Dos princípios do CDC, ressalta-se a garantia dos produtos e dos serviços


com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho
como uma ação governamental para proteger efetivamente o consumidor.
Rizzatto Nunes observa que o Estado não deve apenas garantir o acesso a
produtos e serviços, mas também assegurar que uma vez colocados no mercado

422
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil , p. 480.
144

tenham a qualidade necessária e estejam adequados ao consumo, como reivindica


a ideia de segurança, durabilidade e desempenho.423
O primeiro conceito trazido pelo CDC se relaciona com a garantia legal de
adequação dos produtos/serviços, conforme se verifica no art. 24424. Trata-se de
garantia legal independente de termo expresso, sendo, portanto, vedada a
exoneração contratual pelo fornecedor.
Denari comenta que o citado artigo 24 do diploma legal consumerista tem o
objetivo de garantir a boa qualidade do produto ou serviço colocado no mercado de
consumo, ou seja, o produto não deve apresentar vícios ou defeitos que venham a
diminuir o seu valor ou torná-lo impróprio para uso ou consumo.425
Marques também assevera que:

[...] tal garantia impede que se estipulem cláusulas contratuais que


impossibilitem, exonerem ou mesmo atenuem as obrigações pelos
vícios de inadequação, dispostos nos arts. 18 a 23. A garantia de
adequação do produto é um verdadeiro ônus natural para toda a
cadeia de produtores que nasce com a atividade de produzir, de
fabricar, de criar, de distribuir, de vender o produto. No sistema do
CDC, ela é mais do que a garantia de vícios redibitórios, é garantia
implícita ao produto, garantia de sua funcionalidade, de sua
adequação, garantia que atingirá tanto o fornecedor direto como os
outros fornecedores da cadeia de produção.426

Em rigor, a garantia de adequação “significa a qualidade para atingimento


do fim a que se destina o produto”427; é também uma segurança, uma certeza de
que o produto não vai causar danos ao consumidor.
A garantia de adequação também engloba a responsabilidade do
fornecedor no que tange à durabilidade e ao desempenho do produto.428
Cavalieri Filho, na mesma linha, afirma que:

A garantia de adequação do produto e do serviço é outro


instrumento eficiente para a proteção contratual do consumidor.

423
RIZZATTO NUNES, Luiz Antônio. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 128.
424
“Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso,
vedada a exoneração contratual do fornecedor.” BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990.
Código de Defesa do Consumidor. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 10 mar. 2016.
425
DENARI, Zelmo. Da qualidade de produtos e serviços, da prevenção e da reparação dos danos.
In: BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos e (Coord.). Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p. 237.
426
MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao
Código de Defesa do Consumidor, p. 403.
427
RIZZATTO NUNES, Luiz Antônio. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 342.
428
RIZZATTO NUNES, Luiz Antônio. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 342.
145

Entende-se por garantia de adequação a qualidade que o produto e


o serviço deve ter, em termos de segurança, durabilidade e
desempenho, para atingir o fim a que se destina.429

A garantia, como aspecto definido em lei, implica que o fornecedor não


pode exonerar-se dela na via contratual.430
O fundamento da garantia decorre da produção para o consumo, da
participação do fornecedor/fabricante na cadeia de bens destinados ao
consumidor. Significa também a confiança do consumidor de que qualquer produto
colocado no mercado possui este dever legal, um novo ônus, com base na
obrigatória boa-fé do fornecedor.431
A garantia de adequação ainda deve observar o comando do inciso VIII do
artigo 39 do CDC, segundo o qual, é vedado ao fornecedor colocar no mercado de
consumo qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas
pelos órgãos oficiais competentes ou, se não existirem normas específicas, pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), ou outra entidade credenciada
pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(Conmetro). Em outras palavras, o fornecedor tem de garantir que os produtos
colocados no mercado de consumo estejam em conformidade com as normas que
disciplinam a sua fabricação.
A garantia definida no CDC também se relaciona com a oferta, já que,
conforme a disciplina do artigo 30, toda informação ou publicidade, suficientemente
precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a
produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor e integra o
contrato que vier a ser celebrado.
O artigo 31, vale destacar, estabelece que a oferta e a apresentação de
produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas,
ostensivas e em língua portuguesa, sobre suas características, qualidade,
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros
dados, o mesmo ocorrendo em relação aos riscos que apresentam para a saúde e
a segurança dos consumidores.

429
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor, p. 136.
430
ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor, p. 95.
431
MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor – O novo regime das
relações contratuais, p. 1.238.
146

A garantia de produtos se classifica em legal e contratual. A garantia legal


decorre da disciplina do art. 24 do CDC, nos seguintes termos: “A garantia legal de
adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a
exoneração contratual do fornecedor.”. A garantia contratual432 é uma faculdade do
fornecedor, complementar à legal, e será conferida mediante termo escrito. “Ao
contrário da garantia legal, que é sempre obrigatória, a garantia contratual é mera
faculdade, que pode ser concedida por liberdade do fornecedor.”433
Cavalieri Filho esclarece que a “garantia legal diz respeito ao prazo para
reclamar por vícios do produto ou do serviço, estabelecidos no art. 26 do CDC em
30 dias para produtos e serviços não-duráveis e 90 dias para produtos e serviços
duráveis (Incisos I e II do art. 26)”.434
Certo é que o CDC introduz no ordenamento jurídico brasileiro uma
garantia legal, imperativa e de adequação do produto, sem a possibilidade de
exoneração do fornecedor.435
Na garantia contratual, os termos e os prazos ficam ao alvedrio do
fornecedor, que pode estipulá-los conforme a sua conveniência.436. Essa garantia
contratual pode ser condicionada, ou seja, o fornecedor pode estabelecer os limites
e as condições de execução.437
Para Nery Junior, a garantia contratual tem um caráter complementar à
garantia legal438. Segundo o autor, “a garantia legal não pode ser excluída”439. A
garantia contratual, ao contrário, é concedida por mera liberalidade.440 E completa:

Os termos e prazos desta garantia ficam ao alvedrio exclusivo do


fornecedor, que os estipulará de acordo com sua conveniência, a
fim de que seus produtos ou serviços possam ter competitividade

432
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor, p. 136.
433
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor, p. 136.
434
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor, p. 136.
435
MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao
Código de Defesa do Consumidor, p. 403.
436
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor, p. 136-137.
437
MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao
Código de Defesa do Consumidor, p. 403.
438
NERY JUNIOR, Nelson. Da proteção contratual. In: BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos e
(Coord.). Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. São
Paulo: Forense, 2011. p. 566.
439
NERY JUNIOR, Nelson. Da Proteção Contratual. In: BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos
e (Coord.). Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p.
566.
440
NERY JUNIOR, Nelson. Da Proteção Contratual. In: BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos
e (Coord.). Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p.
566.
147

no mercado, atendendo, portanto, aos princípios da livre


iniciativa.441

O CDC, em resumo, estabeleceu duas modalidades de garantia a ser


fornecida ao consumidor. A primeira alude à garantia legal, que é obrigatória, não
podendo ocorrer a exoneração do fornecedor e independe de termo expresso. A
segunda é a garantia contratual, concedida por mera liberalidade, inclusive,
termos, condições e prazos desta garantia ficam condicionados ao arbítrio do
fornecedor, que os estipulará conforme sua conveniência, interesse ou mesmo em
razão de concorrência com outros produtos.
Sedimentado o conceito de garantia, chega o momento de examinar a sua
relação com a obsolescência programada, passando primeiramente pela discussão
que envolve o vício oculto e a garantia do produto.
Benjamin, a propósito, alerta que: “Diante de um vício oculto, qualquer juiz
vai sempre atuar casuisticamente. Aliás, como faz em outros sistemas legislativos.
A vida útil do produto ou serviço será um dado relevante na apreciação da
garantia.”442. E completa o raciocínio:

O legislador, na disciplina desta matéria, não tinha, de fato muitas


opções. De um lado, poderia estabelecer um prazo totalmente
arbitrário para a garantia, abrangendo todo e qualquer produto ou
serviço. Por exemplo, seis meses (e por que não dez anos?) a
contar da entrega do bem. De outro lado, poderia deixar - como
deixou - que o prazo (trinta ou noventa dias) passasse a correr
somente no momento em que o vício se manifestasse. Esta última
hipótese, a adotada pelo legislador, tem prós e contras. Falta-lhe
objetividade e pode dar ensejo a abusos. E estes podem encarecer
desnecessariamente os produtos e serviços. Mas é ela a única
realista, reconhecendo que muito pouco é uniforme entre os
incontáveis produtos e serviços oferecidos no mercado.443

Em outra obra, Benjamin, Marques e Bessa asseveram que: “O critério da


vida útil confere coerência ao ordenamento jurídico e prestigia o projeto

441
NERY JUNIOR, Nelson. Da Proteção Contratual. In: BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos
e (Coord.). Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, p.
566.
442
BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos e. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
comentado pelos autores do anteprojeto, p. 134-135.
443
BENJAMIM, Antonio Herman Vasconcelos e. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
comentado pelos autores do anteprojeto, p. 134.
148

constitucional de defesa do consumidor, considerando sua vulnerabilidade no


mercado de consumo.” 444.
O Recurso Especial n. 984.106/SC (2007/0207915-3)445, de relatoria do
Ministro Luis Felipe Salomão, aborda a questão do critério da vida útil e do vício
oculto.
O citado acordão do STJ versa sobre ação ajuizada para cobrança de um
trator agrícola em 17.6.1997. Em outubro de 2000, três anos e quatro meses
depois da aquisição, o equipamento apresentou defeito. O reparo, realizado a
cargo da empresa autora da ação, envolveu a troca de uma peça que estava
defeituosa. Argumentou que a garantia contratual era de oito meses ou mil (1.000)
horas de uso, o que primeiro ocorresse, razão que a levava a pleitear o
ressarcimento dos custos envolvidos no reparo do trator. O réu contestou o pedido,
aduzindo que o defeito da máquina não decorreu de desgaste natural ou mau uso,
mas consistia em defeito de projeto, tratando-se, assim, de vício oculto e por isso
deveria o fornecedor responder pelo custo do reparo.
Analisando o mesmo acordão, os pontos principais que têm relevância
para o presente estudo são os seguintes:

4. O prazo de decadência para a reclamação de defeitos surgidos


no produto não se confunde com o prazo de garantia pela
qualidade do produto - a qual pode ser convencional ou, em
algumas situações, legal. O Código de Defesa do Consumidor não
traz, exatamente, no art. 26, um prazo de garantia legal para o
fornecedor responder pelos vícios do produto. Há apenas um prazo
para que, tornando-se aparente o defeito, possa o consumidor
reclamar a reparação, de modo que, se este realizar tal providência
dentro do prazo legal de decadência, ainda é preciso saber se o
fornecedor é ou não responsável pela reparação do vício.

5. Por óbvio, o fornecedor não está, ad aeternum, responsável


pelos produtos colocados em circulação, mas sua responsabilidade
não se limita pura e simplesmente ao prazo contratual de garantia,
o qual é estipulado unilateralmente por ele próprio. Deve ser
considerada para a aferição da responsabilidade do fornecedor a
natureza do vício que inquinou o produto, mesmo que tenha ele se
manifestado somente ao término da garantia.

6. Os prazos de garantia, sejam eles legais ou contratuais, visam a


acautelar o adquirente de produtos contra defeitos relacionados ao

444
BENJAMIN, Antônio Herman; MARQUES; Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de
Direito do Consumidor, p. 162.
445
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 984.106/SC (2007/0207915-3).
Relator Min. Luis Felipe Salomão. DJE 20/11/2012 RSTJ, v. 229, p. 462.
149

desgaste natural da coisa, como sendo um intervalo mínimo de


tempo no qual não se espera que haja deterioração do objeto.
Depois desse prazo, tolera-se que, em virtude do uso ordinário do
produto, algum desgaste possa mesmo surgir. Coisa diversa é o
vício intrínseco do produto existente desde sempre, mas que
somente veio a se manifestar depois de expirada a garantia. Nessa
categoria de vício intrínseco certamente se inserem os defeitos de
fabricação relativos a projeto, cálculo estrutural, resistência de
materiais, entre outros, os quais, em não raras vezes, somente se
tornam conhecidos depois de algum tempo de uso mas que,
todavia, não decorrem diretamente da fruição do bem, e sim de
uma característica oculta que esteve latente até então.

7. Cuidando-se de vício aparente, é certo que o consumidor deve


exigir a reparação no prazo de noventa dias, em se tratando de
produtos duráveis, iniciando a contagem a partir da entrega efetiva
do bem e não fluindo o citado prazo durante a garantia contratual.
Porém, conforme assevera a doutrina consumerista, o Código de
Defesa do Consumidor, no § 3º do art. 26, no que concerne à
disciplina do vício oculto, adotou o critério da vida útil do bem, e
não o critério da garantia, podendo o fornecedor se responsabilizar
pelo vício em um espaço largo de tempo, mesmo depois de
expirada a garantia contratual.

8. Com efeito, em se tratando de vício oculto não decorrente do


desgaste natural gerado pela fruição ordinária do produto, mas da
própria fabricação, e relativo a projeto, cálculo estrutural,
resistência de materiais, entre outros, o prazo para reclamar pela
reparação se inicia no momento em que ficar evidenciado o defeito,
não obstante tenha isso ocorrido depois de expirado o prazo
contratual de garantia, devendo ter-se sempre em vista o critério da
vida útil do bem.

9. Ademais, independentemente de prazo contratual de garantia, a


venda de um bem tido por durável com vida útil inferior àquela que
legitimamente se esperava, além de configurar um defeito de
adequação (art. 18 do CDC), evidencia uma quebra da boa-fé
objetiva, que deve nortear as relações contratuais, sejam de
consumo, sejam de direito comum. Constitui, em outras palavras,
descumprimento do dever de informação e a não realização do
próprio objeto do contrato, que era a compra de um bem cujo ciclo
vital se esperava, de forma legítima e razoável, fosse mais longo
[Grifo nosso].

Do voto do Ministro Luis Felipe Salomão, no relatório do Recurso Especial


em discussão446, extrai-se:

De fato, o fornecedor não está, ad aeternum, responsável pelos


produtos colocados em circulação, mas, a meu juízo, sua
responsabilidade não se limita pura e simplesmente ao prazo

446
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 984.106/SC (2007/0207915-3).
Relator Min. Luis Felipe Salomão. DJE 20/11/2012 RSTJ, v. 229, p. 462.
150

contratual de garantia, o qual é estipulado unilateralmente por ele


próprio.
Cumpre ressaltar que, mesmo na hipótese de existência de prazo
legal de garantia, causaria estranheza afirmar que o fornecedor
estaria sempre e sempre isento de responsabilidade em relação
aos vícios que se tornaram evidentes depois desse interregno.

Mais à frente, no mesmo documento, reitera o Ministro447:

Deve ser considerada para a aferição da responsabilidade do


fornecedor a natureza do vício que inquinou o produto, mesmo que
tenha ele se manifestado somente ao término da garantia.
Nesse passo, os prazos de garantia, sejam eles legais ou
contratuais, visam a acautelar o adquirente de produtos contra
defeitos relacionados ao desgaste natural da coisa, como sendo
um intervalo mínimo de tempo no qual não se espera que haja
deterioração do objeto. Depois desse prazo, tolera-se que, em
virtude do uso ordinário do produto, algum desgaste possa mesmo
surgir.
Coisa diversa é o vício intrínseco do produto existente desde
sempre, mas que somente veio a se manifestar depois de expirada
a garantia, como é o caso de edifícios de estruturas frágeis que
ruíram a partir de certo tempo de uso, mas muito antes do que
normalmente se esperaria de um empreendimento imobiliário, de
modo a ficar contrariada a própria essência do que seja um ‘bem
durável’.
Nessa categoria de vício intrínseco certamente se inserem os
defeitos de fabricação relativos a projeto, cálculo estrutural,
resistência de materiais, entre outros, os quais, em não raras
vezes, somente se tornam conhecidos depois de algum tempo de
uso, mas que, todavia, não decorrem diretamente da fruição do
bem, e sim de uma característica oculta que esteve latente até
então
Um eletroeletrônico, por exemplo, mesmo depois do seu prazo
contratual de garantia, não é feito para explodir, de modo que se tal
acidente ocorrer por um erro de concepção nascido ainda na
fabricação do produto - e não em razão do desgaste natural
decorrente do uso -, é ele defeituoso, independentemente do
término do prazo de garantia.

Os entendimentos colacionados explicitam que o fornecedor não poderá


ser eternamente responsabilizado pelos vícios de produtos duráveis colocados no
mercado de consumo, contudo, a responsabilidade por vícios ocultos não se limita
ao prazo contratual de garantia, prazo este definido unilateral e discricionariamente
pelo fabricante.
O prazo de garantia de determinado produto, seja legal ou contratual, visa
proteger o consumidor contra vícios aparentes e desgaste prematuro do bem

447
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 984.106/SC (2007/0207915-3).
Relator Min. Luis Felipe Salomão. DJE 20/11/2012 RSTJ, v. 229, p. 462.
151

adquirido. Encerrado tal prazo em virtude do uso ordinário do produto, é possível


que algum desgaste ocorra. Neste caso, trata-se de um desgaste da própria
natureza do bem e decorrente de seu uso comum. Diferentemente é o vício
intrínseco do produto existente desde sempre, mas que somente se manifestou
depois de expirada a garantia.
Nessa espécie de vício intrínseco, certamente, inserem-se os defeitos de
fabricação relativos a projeto, cálculo estrutural, resistência de materiais, por
exemplo. Esses tipos de vícios, não raro, sé se tornam conhecidos depois de
algum tempo de uso e não decorrem diretamente da fruição do bem, mas sim de
uma característica oculta que esteve latente até então.
O vício oculto não decorre do desgaste natural gerado pela fruição normal
do produto; ele pode ter como causa o próprio processo de fabricação do produto,
um erro de projeto, por exemplo.
O prazo para reclamação inicia no momento em que ficar evidenciado o
problema, mesmo que tal evidência venha a ocorrer após decorrido o prazo
contratual de garantia, já que este tem em vista o critério da vida útil do bem
"durável".
Referenciando o citado julgado do STJ com a doutrina apresentada, em
suma, pode-se dizer que o vício oculto não decorre do uso regular do produto, mas
sim de um fator decorrente do projeto, do desenvolvimento ou de sua fabricação.
O vício oculto pode ocorrer a qualquer momento, reitera-se, mesmo após
expirado o prazo da garantia legal do produto e é de responsabilidade do
fabricante arcar com o ônus do reparo ou substituição do bem, conforme o
interesse do consumidor, ou seja, este é o critério da vida útil.
A doutrina reconhece que no caso de o vício aparecer no fim da vida útil do
produto, a responsabilidade do fabricante começa a esmorecer, pois existe uma
expectativa do fim natural da utilização do produto decorrente de seu uso e natural
desgaste. A grande dificuldade é, pois, estabelecer qual o prazo de vida útil de um
produto para então definir a responsabilização do fabricante.
Pelo exposto, percebe-se que o caminho para explorar a questão da
obsolescência programada é o reconhecimento do vício oculto ou intrínseco e o
correspondente mecanismo previsto no CDC para reparar o consumidor.
152

Contudo, a fragilidade da argumentação se deve à falta de informação


sobre a vida útil esperada do produto, que não é tratada pelo CDC.
No que toca às questões relacionadas a práticas e cláusulas abusivas por
parte do fornecedor, cujos conceitos já foram estudados anteriormente, neste
ponto cumpre apenas acrescentar que elas são refutadas pelo CDC, que as
combate pelo prisma de um direito básico do consumidor.
A prática do artifício da obsolescência programada, por sua vez, não é
direta nem indiretamente tratada pelo diploma consumerista e também não há
disposição de caráter preventivo e reparatório de práticas ou cláusulas abusivas a
respeito.
Aqui, novamente, percebe-se a fragilidade do CDC em relação à prática da
obsolescência.
A respeito, é importante destacar que o artigo 39 do Código, inciso VIII,
repetido no artigo 12, inciso IX, alínea “a”, do Decreto n. 2.181/1997, proíbe o
fornecedor de colocar no mercado de consumo qualquer produto ou serviço em
desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se
normas específicas não existirem, pela ABNT ou outra entidade credenciada pelo
Conmetro.
Não obstante essa orientação, a verdade é que não existe qualquer
normatização sobre a questão da obsolescência de iniciativa dos órgãos e
associações citados.
A impossibilidade de reparo e/ou substituição de peças, como apontado
anteriormente, é uma das formas utilizadas pelos fabricantes para causar a
obsolescência dos produtos e a consequente redução da vida útil.
O CDC, em seu artigo 32, disciplina que: “Os fabricantes e importadores
deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não
cessar a fabricação ou importação do produto.”. E o parágrafo único do mesmo
artigo completa: “cessada a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida
por período razoável de tempo, na forma da lei”.
Com base no citado dispositivo legal, componentes e peças de reposição
de produtos que deixaram de ser fabricados ou aqueles que foram substituídos por
novos modelos devem estar disponíveis no mercado "por um período razoável de
tempo".
153

O Decreto-Lei n. 2.181/1997, no artigo 13, inciso XXI, dispõe que o período


razoável nunca pode ser inferior à vida útil do produto.
O Projeto de Lei n. 2.444/2000, apresentado pelo deputado Pompeo de
Mattos (PDT-RS), arquivado em 31 de janeiro de 2011, propunha a alteração do
artigo 32 do CDC. O objetivo era obrigar as empresas a não cessarem a produção
de peças de reposição em prazo inferior ao tempo de duração média do produto.
Pelo propósito do Projeto de Lei em comento, percebe-se que o CDC não
consegue garantir a disponibilidade de peças no mercado, já que o prazo razoável
de tempo regulamentado não é suficientemente claro, permitindo eventuais abusos
por parte do fornecedor.
Mas há que se seguir com a análise, evidenciando novamente o fato de
não existir proteção suficiente do CDC nestes aspectos.
Uma das formas de criar a obsolescência é a impossibilidade do
fornecimento de consumíveis, que pode ser até mais sério que o fornecimento de
peças de reposição, por exemplo, aparelhos e fac-símiles, que não podem operar
sem o fornecimento do papel especial. Além disso, existe o problema da
compatibilidade com outros equipamentos, ou mesmo a versão de software, que
pode limitar ou impossibilitar o produto de atingir os fins a que se propõe.
Há dois outros aspectos, que não são endereçados no CDC: o primeiro
alude à decisão de compra e à vida útil do produto; o segundo se refere à vida útil
e ao custo.
O Comité Econômico e Social Europeu448, no parecer intitulado “Por um
consumo sustentável”, defende que o tempo de vida do produto ou número de
utilização previsto seja sempre indicado, de modo que o consumidor possa
escolher com conhecimento de causa e evitar prejuízos econômicos ou ser
ludibriado.
O raciocínio proposto é a comparação de dois produtos: um de valor
superior e com vida útil/número de utilização superior; outro com valor menor e
448
COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU. Parecer. “Por um consumo mais sustentável: o
ciclo de vida dos produtos industriais e informação do consumidor a bem de uma confiança
restabelecida”. CMMI/112 .Ciclo de vida dos produtos e informação ao consumidor. Relator Thierry
Libaert e Correlator Jean Pierre Haber. Bruxelas, 17 de outubro de 2013, p. 2. Dsponível em:
<https://dm.eesc.europa.eu/eesc/2013/_layouts/WordViewer.aspx?id=/eesc/2013/10001999/1904/c
es1904-2013_00_00_tra_ac/ces1904-
2013_00_00_tra_ac_pt.doc&DefaultItemOpen=1&Source=http%3A%2F%2Fdm%2Eeesc%2Eeurop
a%2Eeu%2Feescdocumentsearch%2FPages%2Fopinionsresults%2Easpx%3Fk%3Dciclo%2520de
%2520vida>. Acesso em: 12 set. 2014.
154

com vida útil/número de utilização inferior. Quando comparados o tempo de


duração e o valor pago em ambos os produtos, constata-se que o primeiro produto,
mais caro, pode ser mais benéfico ao consumidor.
Como todo consumidor que adquire um produto durável tem a expectativa
de que vá atender aos fins a que se propõe e por um prazo mínimo, entender a
vida útil de um produto pode ser um fator determinante para a decisão de compra
em relação a outro que lhe é oferecido.
O exemplo de um consumidor que deseja adquirir um refrigerador, embora
singelo, serve para explicar o que se acaba de afirmar. A compra de um
refrigerador por um valor de R$ 400,00 pode parecer um bom negócio quando a
média dos produtos semelhantes tem valor acima de R$ 1.000,00. Mas o cenário
mudará quando o consumidor verificar que a vida útil do refrigerador de R$ 400,00
é inferior a dois anos e que aqueles com valor acima de R$ 1.000,00 têm vida útil
esperada de mais de 13 anos.
A grande preocupação é com os consumidores de classes menos
favorecidas, que por sua limitação financeira acabam tomando a decisão de
compra apenas em função do valor do produto.
O mercado brasileiro de consumo, bem sabemos, oferece um sem-número
de produtos ao consumidor. Em cada segmento de mercado existe igualmente um
grande número de fabricantes que oferecem diversos modelos do mesmo produto.
Todos estes fornecedores estão interessados em comercializar seus produtos e
neste cenário o consumidor não raro se vê desamparado para fazer a melhor
compra. O CDC, por sua vez, não reguarda o assunto com o manto da proteção
em face da parte mais forte da relação de consumo – o fornecedor –, deixando o
consumidor exposto.
Outro aspecto que deve ser considerado é o custo de manutenção ao
longo da vida útil do produto, ou seja, é importante verificar se há outros custos
associados à manutenção do produto. Como exemplo, pode-se citar o caso de um
consumidor que adquire um veículo, mas ao longo da vida útil o custo de
manutenção se mostra muito alto quando comparado com outras marcas. Neste
caso, mesmo que o valor inicial da compra e a vida do útil do bem sejam o melhor
negócio para o consumidor, a informação do custo de manutenção é muito
importante na medida em que pode evitar que o consumidor seja lesado.
155

Ainda, no exemplo do veículo, alguns demandam manutenção e troca de


óleo a cada 5.000 quilômetros rodados, outros só a cada 10.000 quilômetros.
Neste caso, o consumidor tem grande chance de arcar com um custo muito
superior com trocas de óleo se optar por aquele cuja prazo de manutenção é
inferior, isto sem contar o incomodo de deixar de utilizar o veículo mais vezes
porque as manutenções são mais frequentes.
Aqui, igualmente, não há nenhuma proteção do CDC para o consumidor
em relação ao custo associado à manutenção do produto.
156

7 PROPOSTAS PARA SOLUÇÃO DOS PROBLEMAS APONTADOS

A ausência de legislação específica e a fragilidade do CDC em relação à


vida útil e à obsolescência de produtos permitem engendrar algumas propostas na
tentativa de aumentar o leque de proteção do consumidor.
As soluções aqui apresentadas extrapolam a seara jurídica, algumas foram
pinçadas de referências existentes em outros países, outras trazidas pelos próprios
fabricantes.

7.1 PROJETOS DE LEI N. 5.367/2013 E N. 3.903/2015

O Projeto de Lei n. 5.367/2013, da deputada Andreia Zito (PSDB-RJ),


ainda em análise na Câmara dos Deputados, obriga o fornecedor de bens de
consumo duráveis a prestar informação ao consumidor sobre o tempo de vida útil
do produto. A informação da vida útil deverá ser clara, precisa, ostensiva e em
língua portuguesa. 449
Uma das justificativas apresentadas é a de que muitos fornecedores,
principalmente de eletrodomésticos e de eletroeletrônicos, reduzem a vida útil de
produtos e dificultam o conserto para garantir que sejam utilizados pelo menor
tempo possível, acelerando o ciclo de consumo, características da obsolescência
programada.450
Nesse cenário, os produtos são arquitetados pelos fabricantes para durar
pouco, isto é, são confeccionados com qualidade inferior, gerando dois problemas

449
HAJE, Lara. Fornecedores terão de informar durabilidade de bens de consumo. Edição Marcos
Rossi. 15.07.2013. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/CONSUMIDOR/447724-FORNECEDORES-
PODERAO-TER-DE-INFORMAR-DURABILIDADE-DE-BENS-DE-CONSUMO.html>. Acesso em: 2
set. 2014.
450
HAJE, Lara. Fornecedores terão de informar durabilidade de bens de consumo. Edição Marcos
Rossi. 15.07.2013. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/CONSUMIDOR/447724-FORNECEDORES-
PODERAO-TER-DE-INFORMAR-DURABILIDADE-DE-BENS-DE-CONSUMO.html>. Acesso em: 2
set. 2014.
157

para a sociedade. O primeiro se refere ao aspecto econômico, ao obrigar o


consumidor a recomprar um produto que utiliza e necessita apenas porque parou
de funcionar em curto período de tempo. O segundo problema é de cunho
ambiental, já que produtos de menor durabilidade implicam a recompra de um
substituto com maior constância, gerando uma grande quantidade de lixo
inorgânico.
O citado projeto de lei ainda prevê que o não cumprimento das suas
disposições sujeita os infratores a sanções administrativas e penais previstas na
Lei n. 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor), que vão de multa à
interdição das atividades do estabelecimento.
O Projeto de Lei n. 3.903/2015, do Deputado Veneziano Vital do Rêgo
(PMDB/PB), também em análise na Câmara dos Deputados, tem por objetivo
combater a obsolescência em produtos eletrônicos e eletrodomésticos. Como
justificativa, afirma que o marketing tem sido um poderoso artifício dos
fornecedores para causar a obsolescência psicológica do produto e induzir o
consumidor a adquirir um novo produto.
O mesmo projeto de lei reconhece que os fornecedores optam pela
obsolescência programada ao introduzir no mercado produtos com reduzida
durabilidade, compelindo o consumidor a realizar compras repetitivas em prazo
mais custo que o esperado. Por esse motivo, estabelece a obrigação de o
fornecedor informar a vida útil estimada no produto introduzido no mercado, porém
vai além ao determinar que no caso de, sem culpa do consumidor, superveniência
de obsolescência do produto eletrônico ou eletrodoméstico antes do término da
sua vida útil, poderá o consumidor exigir a restituição do valor pago ou a
substituição do produto da mesma espécie por similar de melhor qualidade.
158

7.2 RESOLUÇÃO BELGA 5-1251/1451

Com a publicação da Resolução 5-1251/1, a Bélgica foi o primeiro país a


regulamentar a questão da obsolescência de produtos.
Na exposição de motivos apresentada pelo relator da citada resolução,
Muriel Targnion, o senador belga assim consignou: “A obsolescência planejada
pode ser definida como o ato de desenvolver e comercializar um produto fixando
antecipadamente o tempo de expiração; o objetivo deste método é limitar a vida útil
do objeto e promover a compra de um novo substituto.”452. Assinalou também que
todos os produtos colocados no mercado de consumo belga têm um tempo de vida
muito limitado, como roupas, móveis, equipamentos elétricos e eletrônicos, entre
outros.
A preocupação do legislador belga não se limitou ao mercado de consumo,
pois considerou também os danos de natureza ambiental e social. No aspecto
ambiental, existe a questão do consumo e da eficiência energética para uso dos
produtos elétricos e eletrônicos como também os custos ambientais provocados
pela produção e gestão de produtos após o uso (todo o seu ciclo de vida). Se o
produto tem vida útil mais restrita, é necessário produzi-lo em maior quantidade
para substituir aqueles fora de uso. Pelo viés social, é bem verdade que por conta
da prática de obsolescência planejada, as famílias têm de suportar um custo
financeiro maior; quer dizer: se o produto apresenta uma vida útil menor, os
consumidores despenderão mais recursos financeiros na compra de mais
produtos.
Como solução, a Resolução 5-1251/1 estabelece que os fabricantes terão
de indicar na embalagem do produto o prazo de vida útil, permitindo assim que os

451
BELGICA. Senat de Belgique. Document législatif n° 5-1251/1. Session de 2010-2011. 7 octobre
2011. Proposition de résolution en vue de lutter contre l'obsolescence programmée des produits liés
à l'énergie Disponível em:
<http://www.senate.be/www/?MIval=/publications/viewPub&COLL=S&LEG=5&NR=1251&PUID=838
87779&LANG=fr>. Acesso em: 10 abr. 2015.
452
BELGICA. Senat de Belgique. Document législatif n° 5-1251/1. Session de 2010-2011. 7 octobre
2011. Proposition de résolution en vue de lutter contre l'obsolescence programmée des produits liés
à l'énergie Disponível em:
<http://www.senate.be/www/?MIval=/publications/viewPub&COLL=S&LEG=5&NR=1251&PUID=838
87779&LANG=fr>. Acesso em: 10 abr. 2015.
159

consumidores possam, a partir desta informação, sopesar não só o custo para o


seu orçamento como também os aspectos ambientais e sociais.
Outra preocupação é com a crescente miniaturização dos circuitos
integrados, que faz com que haja uma maior dificuldade para reparar os produtos
ou dispositivos avariados. Para evitar esse tipo de problema, a resolução em
comento desencoraja a comercialização de produtos não reparáveis ao exigir que
tal informação seja exibida nas respectivas embalagens. Os fabricantes, por seu
lado, devem disponibilizar no mercado peças de reposição a preços razoáveis.
Como objetivo final, a Resolução 5-1251/1 busca proteger o consumidor,
sem reduzir o seu poder de compra, ou seja, a ideia é que os produtos devem ser
acessíveis a todos.
O legislador belga, vale dizer, abordou vários aspectos da obsolescência,
desde a preocupação com o orçamento do consumidor e o acesso ao produto
(preço do produto) até com os aspectos ambientais e sociais envolvidos. A
resolução também tem a preocupação de disponibilizar mais informações ao
consumidor no que se refere à vida útil do produto e à possibilidade de reparação,
permitindo que faça uma melhor escolha no momento da aquisição.

7.3 PROJETO DE LEI N. 429 DA FRANÇA453

A França foi um dos primeiros países a enfrentar a questão da


obsolescência programada com o Projeto de Lei n. 429. O projeto ainda está em
trâmite, esperando a aprovação do senado francês.
A primeira preocupação trazida na exposição de motivos pelo legislador
francês foi a necessidade de medidas para enfrentar o problema ecológico, fruto da
prática da obsolescência programada. Como destaque, apresentou a informação
de que a França consome atualmente 50% dos recursos naturais existentes há 30
anos e mais de quinhentos quilogramas de resíduos são descartados por pessoa,
no período de um ano.

453
FRANCE. Senat, n. 429 rectifié. Session ordinaire de 2012-2013. Disponível em:
<http://www.senat.fr/leg/ppl12-429.html>. Acesso em: 10 mar. 2016.
160

Não sem razão, algumas empresas já estão oferecendo produtos cada vez
mais confiáveis e inovadores, contudo, ainda utilizam estratégias para acelerar
artificialmente a obsolescência e, assim, promover a compra de novos produtos.
A obsolescência, in casu, pode ser causada ainda por inovação
tecnológica e estética, como também poderá advir de outros processos técnicos
utilizados para deliberadamente projetar um produto com potencial vida útil curta.
Essas estratégias podem revelar a introdução voluntária de um defeito, uma
fraqueza, um temporizador, uma limitação técnica, uma incapacidade para reparar
ou uma incompatibilidade de software.
A obsolescência programada, como mencionado anteriormente, causa a
substituição acelerada dos bens e contribui fortemente para a sobre-exploração de
recursos não renováveis, levando a um impasse ecológico, social e econômico.
O projeto de lei francês também destaca que o aumento da vida útil dos
produtos pode ser uma vantagem competitiva para as empresas e a possibilidade
de reparação é capaz de fomentar a criação de postos de trabalho no campo da
assistência técnica, por exemplo. Aborda ainda a finitude dos recursos naturais e
os desafios energéticos que obrigam todos a repensar o modelo de negócio e os
padrões de consumo atuais.
Enquanto a Bélgica adotou a publicação de uma resolução para tratar da
obsolescência, a França tem um objetivo mais arrojado: produzir uma lei para
regulamentar o assunto.

7.4 REPAIR CAFÉ

O Repair Café é um conceito de café onde as pessoas de uma vizinhança


se reúnem para consertar objetos quebrados em vez de jogá-los fora e comprar
novos. O primeiro Repair Café do mundo foi criado em Amsterdã, na Holanda, por
Martine Postma.454

454
HYPENESS. Os cafés onde voluntários consertam coisas de graça para protestar contra a
obsolescência programada. Disponível em: <http://www.hypeness.com.br/2014/07/o-conceito-de-
cafe-em-que-voluntarios-consertam-desde-uma-geladeira-ate-uma-boneca/>. Acesso em: 3 set.
2014.
161

A ideia é que em determinado dia da semana voluntários se reúnam para


consertar vários produtos que não estejam em pleno funcionamento – brinquedos
quebrados, roupas descosturadas, secadores de cabelo, eletrodomésticos etc.
Todos os reparos são feitos gratuitamente como uma troca de gentilezas e um
aprendizado para os moradores da região. Atualmente, existem mais de trezentos
Repair Cafés em mais de dez países do mundo. No Brasil, há apenas um Repair
Café, localizado em Santos (SP). 455
A propósito, o conceito de Repair Café pode ser uma solução para alguns
dos problemas apresentados neste estudo, como a falta de assistência técnica, a
falta de confiança nas assistências técnicas arroladas, entre outros.

7.5 PHONEBLOKS

A Phonebloks456 é uma iniciativa independente que procura desenvolver e


produzir produtos eletrônicos que gerem menos quantidade de lixo eletrônico.
A visão principal da Phonebloks, como sugere o próprio nome, é produzir
um aparelho celular constituído por diferentes blocos, cada um representando uma
função disponível dos aparelhos celulares atuais, como displays, câmera,
processador de dados, antena etc.
A utilização desses diferentes blocos permitiria a substituição apenas do
bloco que apresentasse problema, permitindo o aproveitamento dos demais
dispositivos do aparelho.
Com essa “engenharia”, evitar-se-iam o descarte do aparelho completo,
como acontece atualmente, e a obsolescência do produto, pois os módulos podem
ser substituídos por outros mais atuais, permitindo uma maior vida útil.

455
HYPENESS. Os cafés onde voluntários consertam coisas de graça para protestar contra a
obsolescência programada. Disponível em: <http://www.hypeness.com.br/2014/07/o-conceito-de-
cafe-em-que-voluntarios-consertam-desde-uma-geladeira-ate-uma-boneca/>. Acesso em: 3 set.
2014.
456
PHONEBLOKS. We try to change the way how electronics are made in order to create less
waste. Disponível em: <https://phonebloks.com/about>. Acesso em: 27 maio 2014.
162

A iniciativa da Phonebloks quebra o paradigma de se produzir um produto


limitado tecnologicamente na medida em que pode ser atualizado conforme a
necessidade do usuário.
163

CONCLUSÃO

O modelo capitalista de produção e a sociedade industrial são as bases


para do consumo. O consumo, por sua vez, tornou-se a base de criação de
demanda para o mercado.
O consumo é uma criação humana que ocorreu ao longo dos últimos
séculos – em especial impulsionado pela Revolução Industrial, com o
desenvolvimento da produção em escala – e tornou-se realidade para a maioria
dos países, incluindo o Brasil.
Os produtos, antes avaliados pela sua durabilidade e até pela possibilidade
de transmissão entre famílias/gerações (visão patrimonial), passam a ser
consumidos de maneira individualista, imediatista e hedonista, movimentando o
motor da sociedade de consumo e mais recentemente alimentando o
hiperconsumo.
Na sociedade de consumo, ou de hiperconsumo, tem-se o aparecimento
do "Throwaway Living" ou “vida descartável”, comemorando, pode-se dizer, a
“sociedade do descartável” pela possibilidade de se adquirir produtos para, depois
de uma única utilização, descartá-los.
A história da obsolescência é recente e tem como marco de
desenvolvimento o início do século passado, principalmente nos Estados Unidos
da América.
A obsolescência surgiu com foco na macroeconomia como algo benéfico
para a sociedade; uma solução que permitisse o crescimento econômico e evitasse
crises como a ocorrida em 1929, conhecida como “Grande Depressão”.
Com o passar do tempo, o contexto e o conceito de obsolescência foram
alterados; de aspecto econômico passou a fazer parte da estratégia de negócios
de empresas e do mercado com o objetivo de aumentar suas vendas por meio do
consumo repetitivo.
Não é demais lembrar que os produtos podem tornar-se obsoletos, ou seja,
antigos, ultrapassados. Contudo, essa ideia é distinta da concepção de
obsolescência utilizada pelos fornecedores na relação de consumo. Aliás, não
existe um conceito fechado de obsolescência, a sua construção foi perseguida
164

neste estudo. Contudo, com base no referencial de base arregimentado, é possível


conceituar obsolescência como:
1) redução da vida útil do produto mediante o uso de artifícios ou uso de
materiais de menor durabilidade;
2) redução da vida útil do produto pela impossibilidade de realização de
manutenção, seja pela ausência de peças para reposição ou assistência técnica,
seja pela incompatibilidade entre componentes antigos e novos, incluindo
softwares ou suas atualizações, ou pela ausência de consumíveis, acessórios,
produtos associados ou relacionados com o produto principal;
3) introdução de produtos ou outras condições no mercado, como fatores
psicológicos, mercadológicos, tecnológicos, funcionais ou outra forma de
persuasão, fazendo com que o produto funcional em posse do consumidor seja
menos desejável; e
4) redução do prazo de validade ou do número de uso do produto sem
qualquer razão científica.
O objetivo principal da obsolescência é, portanto, induzir o consumidor a
realizar compras repetitivas do produto, independente de o produto que já possui
estar em pleno funcionamento ou não, que é o principal reflexo na relação de
consumo.
A obsolescência configura, assim, um artifício presente no mercado de
consumo e usado pelos fornecedores, podendo ser um artifício interno da relação
do consumo, como é o caso da obsolescência programada, ou externo à relação
de consumo, como é o caso da obsolescência psicológica.
Dentro da metodologia proposta neste estudo, verificou-se que o artifício é
usado independente da classificação de produtos no CDC, ou seja, é uma prática
que transpassa todos os produtos.
Na sequência, tomou-se como aporte teórico a tipologia de Giles Slade
para verificar como o artifício é colocado em prática e analisar os mecanismos
preventivos e reparatórios do CDC.
A propósito, Slade classifica a obsolescência em três tipos. O primeiro tipo
é a obsolescência técnica ou funcional e se caracteriza pela introdução de uma
nova tecnologia ou funcionalidade no produto, fazendo com que o consumidor
passe a desejá-lo justamente por esta nova funcionalidade ou tecnologia. O
165

segundo tipo é a obsolescência psicológica, perceptiva, progressiva ou dinâmica,


quando o fornecedor modifica o design ou o estilo do produto para manipular a
compra repetitiva, induzindo o consumidor a substituir um produto que está em
pleno funcionamento por um outro. O terceiro tipo é a obsolescência planejada ou
programada, que constitui a atuação deliberada do fornecedor para que o produto
venha a falhar após um determinado período de tempo.
No estudo da obsolescência técnica foi possível observar que os
fornecedores fazem uso deste artifício quando incluem novas funcionalidades nos
novos produtos lançados e muitas delas nem sempre representam uma grande
evolução técnica do produto, demonstrando assim a intenção de induzir o
consumidor à compra repetitiva.
O caso da Ford versus General Motors muito bem demonstra a presença
da obsolescência técnica, ou seja, a competição entre ambas as marcas tinha
como objetivo fazer o consumidor adquirir um novo veículo, lembrando que a nova
compra é induzida pela introdução de novidades em cada novo modelo de veículo
colocado no mercado.
Em relação aos mecanismos preventivos e reparatórios do CDC e que
deveriam dar salvaguardas ao consumidor, parte frágil da relação de consumo,
contra a obsolescência técnica, na verdade eles são insuficientes para coibir a
prática ou mesmo reparar eventual dano. Para chegar a esta conclusão foi
necessário percorrer o CDC e com as lentes da garantia de proteção e defesa do
consumidor, quando se verificou que não contempla nenhuma obrigação do
fornecedor de comunicar ou produzir informação sobre o lançamento de novos
produtos. A propósito, eventuais teasers ou pré-lançamentos realizados pelo
fornecedor têm mais o objetivo de evitar a compra de produtos do concorrente com
a promessa do novo produto ou nova versão do que propriamente informar o
consumidor para permitir que ele tome, por si só e livre de qualquer influência, a
melhor decisão de compra.
O legislador do CDC reconhece, ademais, que novos produtos podem ser
lançados no mercado sem que o anterior seja considerado defeituoso ou mesmo
viciado, ou seja, trata-se praticamente de um incentivo ao fornecedor.
A obsolescência psicológica é a técnica utilizada pelos fornecedores com o
objetivo de sempre alterar a curva de demanda de seus produtos, negando o
166

conceito de saturação de mercado para assim criar o ambiente ideal e impelir os


consumidores a adquirir novos produtos por questões de marketing.
A análise do segundo caso entre a Ford e a General Motors demonstrou
que a prática da obsolescência psicológia é bem presente no mercado automotivo
há quase um século, inclusive é a alternativa mais barata quando comparada à
obsolescência técnica, pois nesta modalidade existe o esforço de pesquisa e de
desenvolvimento do produto, enquando na opção pelo design basta fazer
alterações estéticas.
Outra mecanismo usado por fabricantes é a redução do ciclo de vida do
produto pela inclusão de fatores psicológicos, como alteração do design, da moda.
Esta prática tem o condão de induzir o consumidor a substituir um produto que está
na sua posse e atende aos fins a que se propõe, por um critério aparentemente
discricionário, deliberado, mas que no fundo é induzido pelo fornecedor.
A indústria da moda é emblemática quando se quer demonstrar a prática
da obsolescência psicológica, que privilegia o volume de vendas de produtos, o
ciclo de venda e principalmente as artimanhas da publicidade para induzir a
compra de novos produtos a cada novo ciclo.
O design, do mesmo modo, objetiva gerar um apelo emocional aos
consumidores apenas pela mudança na forma de apresentação do produto, por
exemplo, mesmo que não exista nenhuma adição de funcionalidade ou tecnologia
nova, nenhum upgrade, pode-se dizer.
O CDC também é omisso quanto à proteção e à apresentação de
mecanismos de prevenção de publicidade ou propaganda de iniciativa dos
fornecedores que visem à criação do desejo ou indução do consumidor para a
compra repetitiva.
No que tange à oferta, o legislador consumerista se limitou a estabelecer
uma igualdade entre a oferta levada ao público e o produto em si, sem se
preocupar com o aspecto da compra repetitiva.
Na análise das práticas ou cláusulas abusivas, percebe-se que o CDC não
traz qualquer dispositivo prevenindo a obsolescência psicológica.
Retomando a teoria de Slade, a obsolescência programada é aquela que o
fornecedor manipula o produto para que falhe após um período de tempo em uso,
ou seja, o fornecedor deliberadamente usa a sua engenharia para
167

alterar/comprometer a operacionalidade do produto e deixe de atender aos fins a


que se propõe após um determinado período de tempo de uso.
A obsolescência programada, a mais rica e mais complexa de todas, é
artifício que pode ser colocado em prática pelo fornecedor com vistas à redução da
vida útil ou prazo de validade do produto.
Com esteio no Parecer do Comitê Econômico e Social Europeu –
CMMI/112, verificou-se que uma forma de identificar a obsolescência programada
é a incompatibilidade do produto já adquirido pelo consumidor em face de
congêneres lançados no mercado. O Parecer também identifica outros tipos de
obsolescência. A obsolescência indireta define como técnica utilizada para tornar
indisponível ou parcialmente disponíveis, consumíveis, acessórios ou peças para
reparo dos produtos ou mesmo impossibilitar o reparo. A obsolescência por
notificação, que ocorre quando o fornecedor notifica o consumidor para fazer um
reparo, manutenção ou substituição de peças. A obsolescência por expiração,
quando o próprio fornecedor reconhece o fim da operacionalização do produto.
O caso da lâmpada centenária de Livermore – que permanece acessa por
mais de cem anos – mostra o Cartel de Phoebus como o responsável por
estabelecer/diminuir a vida útil máxima de todas as lâmpadas produzidas pelas
principais fabricantes do mercado.
No segmento de tecnologia, Microsoft e Intel constituíram uma parceria
não oficial e acordaram que cada nova versão do sistema operacional Windows
exigiria um microprocessador (Intel) mais potente, evidenciando uma oportunidade
de ambos os fornecedores gerarem vendas repetitivas.
Mas não foi só. Algumas pesquisas que abordam o tema foram
apresentadas. A primeira, realizada pelo Instituto ProTeste, versando sobre a
garantia de produtos, mostrou que a maioria dos consumidores opta pela compra
de um novo produto quando ocorrem vícios, sejam eles verificados dentro ou fora
do prazo de garantia. A pesquisa do Idec/MarketAnalysis registrou que apesar de o
brasileiro estar satisfeito com a durabilidade e o desempenho dos produtos, existe
uma percepção de que os produtos devem ter durabilidade maior do que a
apresentada atualmente.
Na análise dos mecanismos do CDC, foi possível constatar que o direito de
informação não é suficiente para obrigar o fornecedor a informar sobre a vida útil
168

do produto que lança no mercado: se o produto tem um limite de utilização ou se


tem um tempo máximo de vida útil.
A legislação consumerista, no que tange à proteção contra vício do
produto, igualmente não é suficiente para reparar o consumidor, já que a prática da
obsolescência programada carrega uma engenharia do próprio fornecedor e o vício
tende a ocorrer depois de expirada a garantia do produto.
O recall denota que a obsolescência programada é aplicada a uma série,
um lote ou determinado modelo do produto, e só poderá invocada pelo consumidor
se caracterizada a nocividade ou a periculosidade do produto.
O defeito do produto em relação ao projeto, manufatura, construção ou
manipulação só poderá ser alegado quando causar dano ao consumidor
decorrente de falta de segurança. Enquanto isso, o vício oculto pode ser o caminho
mais plausível, mas a grande dificuldade alude à possibilidade de realização de
prova e o momento do reconhecimento do vício oculto, principalmente quando há
produtos com prazo de garantia expirado.
A propósito da garantia, nenhum produto tem obrigação de ser eterno; quer
dizer, é esperado que o produto tenha uma vida útil determinada. A obrigação que
se coloca para o fornecedor é garantir que o produto seja seguro até o fim de sua
vida útil.
Contudo, ao cotejar a questão da garantia, da vida útil e do vício oculto,
percebe-se que dado o não fornecimento do prazo de vida útil do produto, a
eventual alegação de vício oculto fora do prazo de garantia pode ser penosa para o
consumidor ante a justificativa do fornecedor do fim da garantia ou mesmo o fim da
vida útil do produto.
Quanto às práticas abusivas no âmbito do CDC, não se constata o tema da
obsolescência e o único inciso que faz menção a normas de qualidade de
colocação do produto no mercado não indica a associação técnica ou o órgão
incumbido de emitir qualquer normativa a respeito.
O prazo da vida útil e a manutenção do produto, que têm um direito reflexo
para o consumidor quando entra em jogo a sua decisão de compra, também não
foram regulamentados pelo CDC.
Em razão do exposto, e tendo em mente o objetivo traçado neste estudo,
duas ilações podem ser apresentadas. Primeiro, que a obsolescência está
169

presente na sociedade de consumo e é um artifício utilizado pelo fornecedor para


induzir o consumidor a realizar compras repetitivas, mesmo que o produto em
posse do consumidor seja funcional e atenda aos fins a que se propõe. Segundo,
que o CDC não tem instrumentos efetivos e robustos para prevenir que
fornecedores façam uso das práticas aqui apontadas, tampouco dispõe sobre
mecanismos que efetivamente permitam a reparação do consumidor porventura
lesado por tais artifícios.
Diante da ausência de legislação específica, é possível tecer algumas
propostas de solução para o problema da vida útil e da obsolescência de produtos,
algumas pinçadas de referências existentes em outros países, outras trazidas
pelos próprios fabricantes. A primeira proposta alude à publicação de legislação
específica com a obrigação de apresentação da vida útil dos produtos duráveis
colocados no mercado de consumo, medida que se alinha com o Projeto de Lei n.
5.367/2013, da deputada Andreia Zito (PSDB-RJ). O citado projeto de lei ainda
prevê que o não cumprimento das suas disposições sujeita os infratores a sanções
administrativas e penais previstas na Lei n. 8.078/1990 (Código de Defesa do
Consumidor), que prescreve desde multa até interdição das atividades do
estabelecimento.
A nova legislação, para além da proposta de obrigar o fabricante a
apresentar a vida útil e definir a sua punição, deve trazer em seu bojo também a
preocupação com o dano ambiental e social, em aproximação da Resolução belga
5-1251/1. No que tange ao aspecto ambiental, deve abordar distintas questão:
consumo de matérias-primas, eficiência energética para uso de produtos elétricos
e eletrônicos, custos ambientais provocados pela produção e gestão de produtos
após o uso (todo o seu ciclo de vida). No aspecto social, deve contemplar o custo
financeiro que a obsolescência traz para as famílias.
Outra preocupação é com a crescente miniaturização dos circuitos
integrados, o que faz com que haja uma maior dificuldade para reparar produtos ou
dispositivos avariados. Para evitar esse tipo de problema, a resolução belga
desencoraja a comercialização de produtos não reparáveis ao exigir que tal
informação seja exibida na embalagem dos produtos.
Um dos efeitos mais nocivos da obsolescência, como mencionado, é a
substituição do produto por outro em função de fatores psicológicos,
170

mercadológicos, tecnológicos, funcionais ou mesmo persuasão, quer dizer: o


produto está em pleno funcionamento, mas o consumidor é de alguma forma
persuadido a adquirir um novo produto. Neste caso, a legislação deve obrigar o
fornecedor a informar o lançamento de novos produtos, o prazo de duração dos
modelos antes de sua substituição, as características e as eventuais divergências
dos novos modelos, permitindo que o consumidor tenha condição de tomar a
melhor decisão de compra do produto atual ou de um novo produto.
Além disso, caso o produto utilize software, consumíveis acessórios,
produtos associados ou relacionados com o produto principal, a legislação deve
obrigar o fabricante a informar o prazo de atualização de software como também a
comercialização de consumíveis acessórios, produtos associados ou relacionados
com o produto principal.
O fabricante, do mesmo modo, deve ser obrigado a informar claramente ao
consumidor sobre o período de manutenção e de fornecimento de peças de
reposição, que não poderá ser inferior à vida útil do produto. A vida útil, a
propósito, deve ser estabelecida não apenas pelo fabricante, mas também por
entidades ou laboratórios especializados na realização de testes e estudos deste
quesito, de modo a orientar o mercado.
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