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Prólogo II — A queda

— Hermes é o traidor. — Zeus afirma encarando o rapaz nos olhos, com uma
fúria inominável.

Todos se viraram para o deus mensageiro, como se não acreditassem no que


haviam acabado de ouvir, principalmente Apolo, o mais próximo de Hermes.

Hermes sorriu para seu pai de maneira despreocupada.

O silêncio era ensurdecedor.

Nenhum dos deuses ali presentes pareciam dispostos a romper aquela atmosfera
tensa.

Logo, Zeus continuou enquanto caminhava na direção de Hermes.

— Você! — Ele exclamou enquanto apontava para o rapaz com uma expressão
feroz. — Achou engraçado enganar a todos aqui todo esse tempo?

Ele parou a três metros de distância do filho, o encarando por cima. Nesse
momento, se tornou possível ver a diferença de tamanho entre os dois.

Hermes tinha cerca de um metro e oitenta e cinco centímetros. Já o gigante em


sua frente devia facilmente passar dos dois metros e cinquenta.

Zeus encarava seu filho como uma criança. Mas uma criança que o havia
enfurecido, e muito.

Entretanto, mesmo com toda a sua pose superior e intimidante, não parecia ter
conseguido amedrontar o 'pequeno' Hermes, que o encarava com um rosto agora
sereno. Já não ria mais, apesar de não parecer com medo.

— Você tinha essa obrigação para com os seus iguais. Era o seu dever se livrar
de Pandora por nós! — Zeus continuou.

— Pai- Por favor, seja razoável, Hermes nunca- — Apolo se aproximou do pai,
gesticulando com um rosto preocupado.

Sem nuvens, sem tempestade, sem chuva. Um trovão debanda dos céus,
provocando um enorme barulho e fazendo Apolo estremecer num susto.

Zeus fitou furiosamente  de canto de olho, o que o fez se calar desviando o olhar
com medo.
Todos, assim, perceberam que não deveriam se intrometer ali.

— HERMES, VOCÊ TRAIU O SEU- — Zeus quase cuspia cada palavra para
seu filho, apontando tão ferozmente quanto falava.

Os lábios de Hermes se retorceram. Certa irritação se amontoando em sua


expressão.

— Cale a boca. — Hermes ordenou a seu pai.

As sobrancelhas de Zeus se levantaram, assim como a de todos no lugar. Depois


de alguns segundos, as veias na testa de Zeus começaram a se expandir. Seu rosto
se desfazendo em pura ira.

— Como- —

— Essa irritação toda é por que não pode mais sair engravidando qualquer mortal
que encontrar? — Hermes pergunta para seu pai com um rosto bravo.

A fúria de Zeus aumentava a cada segundo, tal qual a incredulidade de todos os


presentes. Em especial Hera, que havia sido a mais irritada com este comentário
do rapaz.

Era de conhecimento geral entre os deuses que ela não gostava que expusessem a
infidelidade do marido. Se sentia humilhada por isso.

Hermes não pareceu se afetar pois seguiu encarando sem vacilar o olhar
mortalmente branco de seu pai.

— Você fala tanto sobre dever, trabalho, obrigação... — Prosseguiu Hermes,


dando um passo a frente. — E principalmente sobre, 'nós'. — Observou o rapaz,
com um rosto confuso enquanto fazia aspas com as mãos.

— Quem diabos é 'nós'?

Num piscar de olhos, Hermes desaparece da frente de Zeus, reaparecendo no


centro do coliseu, em frente a todos os outros deuses.

— Vocês influenciam no mundo inferior, inferindo suas vontades em todos os


mortais. Lançando pragas naqueles que os desobedecem. Causando guerras por
se envolverem com mulheres comprometidas. — Hermes com raiva conta nos
dedos cada uma das acusações, e olha diretamente para seu pai de costas ao dizer
a última.

Zeus não se virou. Parecia petrificado com a ousadia do rapaz. Ele simplesmente
encarou sua frente com os olhos arregalados em raiva e veias furiosas saltando
em todos os pontos visíveis de seu corpo.
— Se sentem traídos? — Hermes ergueu a sobrancelha, falando com um ar
cômico enquanto se virava para encarar o pai. — Traídos por que eu não sujei
minhas malditas mãos pra favorecer os interesses de vocês? — Ele pergunta
adotando um tom mais irritado.

Passos são escutados se aproximando lentamente pelas costas de Hermes.

— Eu acredito que você já se divertiu o bastante com suas acusações, irmão. —


Ares falou em um tom de advertência. — Talvez necessite passar um tempo com
Hades, para pensar sobre suas ações.

Este era o que, dentre os deuses, não poupava esforços para se meter em brigas.
Ainda mais quando era seu pai o alvo da confusão. Ares se comportava como o
verdadeiro braço direito de Zeus...

Apesar de não chegar nem perto de ser.

*Ziip* *Pump*

Hermes desaparece da frente de Ares com uma espécie de zumbido deixado para
trás. Sem que o irmão tenha tempo de se preparar, ele reaparece em uma
investida no ar acertando-lhe com um chute voleio direto no nariz.

Ares voa com o golpe, se chocando e atravessando três das pilastras do coliseu. O
corpo do deus cai no chão, enquanto ele, ainda em choque, tenta se levantar.
Falha, e então cai no chão inconsciente.

Hermes pousa de pé no chão majestosamente, suas asas nas sandálias tremendo e


brilhando com intensidade.

Os outros deuses no coliseu arregalam os olhos encarando o pequeno rapaz e se


colocando em alerta. O susto, tanto por seu ataque repentino, quanto por sua
força.

Quase ninguém ali naquele lugar poderia mandar Ares voando com aquela
facilidade.

Hera estava furiosa. "Como um maldito bastardo ousa encostar um dedo em meu
filho?"

— Vocês acham que eu vou simplesmente permitir que me matem?  — Hermes


adotou uma postura mais séria, apesar de despreocupada.

Zeus se virou, finalmente, para o centro do salão. E encarou, com um olhar


frenético, o filho. Tendo assim, ignorando completamente Ares, que havia sido
arremessado violentamente poucos segundos atrás.
Poseidon se levanta de seu trono, catando seu tridente com um olhar sério.

— Você está condenado garoto.

— Pessoal, por favor- — Apolo suplica imensamente preocupado.

— Ninguém. Move. Um. Dedo. — Zeus ordena.

O corpo de Zeus se clareia num branco amarelado, e a atmosfera começa a ruir


com um zunido. Poseidon por sua vez começa a conjurar uma esfera de água na
ponta de seu tridente.

Zeus desaparece em um feixe de luz que se movimenta em alta velocidade na


direção de Hermes.

O rapaz se prostra erguendo os braços defensivamente. O feixe retorna à forma


de Zeus na frente de Hermes. Seus punhos transformados em lâminas elétricas de
cor branca, desferindo um soco com uma velocidade inacreditável. Felizmente
para o deus dos mensageiros, a velocidade é sua principal qualidade, superando
até mesmo seu pai nesse aspecto. Ele desvia com um movimento simples para a
lateral.

Um trovão é escutado.

Zeus desfere inúmeros socos na direção do filho, um som estrondoso ruindo de


cada golpe. Hermes usa sua velocidade e consegue desviar, contra atacando com
golpes mais leves e velozes visando os cotovelos e joelhos de Zeus.

Isto se segue por algum tempo, com todos encarando sem acreditar.

"Como ele consegue se equiparar ao pai?!" A surpresa dá lugar a uma revelação


surpreendente. "Não. A velocidade dele é ainda maior que a de um raio!"

Porém, a velocidade dos golpes de Zeus começa a aumentar subitamente, seu


rosto ficando mais furioso. Seus braços começam a formar borrões de luz no ar
emanando faíscas elétricas. Hermes desvia, mas para de contra-atacar quando
percebe que aquela aura elétrica nos punhos de Zeus havia se expandido e
tomado conta de todo o seu braço.

Os golpes passam a queima roupa, arrancando fios de cabelo do pequeno rapaz.

— ISTO É TUDO? — Hermes pergunta enquanto desvia, assumindo um ar de


superioridade.

E então, um corte superficial aparece na bochecha de Hermes que demonstra


surpresa.
Ele não havia sido acertado. Então como isso aconteceu?

A resposta não tarda a aparecer na forma de outros cortes. Hermes começa a


recuar, desviando dos socos e dando poucos passos para trás de maneira
cuidadosa.

Ele finalmente percebeu. "As malditas faíscas!"

A cada soco energizado de Zeus, faíscas se formavam em torno de seus braços e


iam de encontro ao rosto de Hermes. Ele percebeu que teria que se esforçar mais.

Zeus assumiu uma postura mais presunçosa, percebendo que ele estava recuando
com os golpes. E então, o corpo de Hermes começou a vibrar e se transformar
num borrão. Ele estava desviando em uma velocidade muito maior que qualquer
respingo de energia pudesse alcança-lo.

Zeus rangeu os dentes, e seguiu aumentando cada vez mais a velocidade e força
de seus golpes. A mancha branca de seus braços se expandindo e tomando cada
vez mais conta de seu corpo.

Ele começou a sentir dor, estava começando a se forçar.

O Rei dos Deuses chega ao seu limite. Incapaz de acompanhar a velocidade do


rapaz, ele ruge, decidindo investir com mais força ao sacrifício da velocidade.
Cinco raios descem do céu em direção aos dois à medida que Zeus prepara um
golpe com as mãos juntas, as usando como um martelo.

O ar vibra, quase se igualando à velocidade de Hermes. A pressão em todo o


lugar aumenta quando os pés de Zeus afundam criando rachaduras enormes no
chão do coliseu.

Zeus realiza seu movimento como um martelo, dispersando o ar à sua volta como
se estivesse amassando a própria realidade. Acertando assim, o nada, já que
Hermes já não se encontrava mais à sua frente.

Os raios caem se unindo em apenas um grande relâmpago, abrindo uma cratera e


perfurando violentamente o chão do coliseu. Um terremoto toma conta do lugar,
como se a ilha inteira estivesse sendo empurrada para baixo e tremendo com as
descargas elétricas que chacoalhavam todo o Olimpo.

Hermes não dá tempo de seu pai se virar e salta o golpeando na lateral do


abdômen com um chute.

Os pés de Zeus afundam no chão, e ele é empurrado pelo impacto alguns metros
para o lado, rasgando o chão com seus pés presos.
O rapaz avança sem pestanejar e aparece imediatamente na frente do pai. Uma
chuva de socos em super velocidade são desferidos contra seu abdômen o que faz
Zeus ceder. Ele é pego de surpresa e tenta desferir contragolpes.

Hermes apenas move a cabeça e o tronco em manobras evasivas, desviando de


tudo à medida que acerta vários na barriga de Zeus e alguns nas laterais de seus
joelhos.

E então, em um instante, o rapaz desaparece da frente do pai deixando um rastro


de luz para trás. E reaparece num dos cantos do coliseu, reto a Zeus. Pega
impulso, e avança em um flash condensado de luz dourada contra seu pai,
deixando apenas uma centelha divina em um rastro para trás.

Zeus sente seus joelhos falharem e começa a cair movimentando as mãos para o
abdômen. Incredulidade, mais que tudo, aparente em seu rosto. Mas, antes de cair
de joelhos, é acertado por um golpe ultra veloz no queixo, que o manda voando
para fora do coliseu, demolindo tudo que há pela frente.

Hermes encara o corpo iluminado se distanciando e devastando todo seu


caminho.

Os deuses no coliseu arregalam os olhos e fortalecem ainda mais o aperto em


suas armas.

Já não é mais prudente subestimar o Arauto dos Deuses.

— Você passou dos limites, rapaz. — Poseidon fala, mantendo uma aura
imponente enquanto aponta seu tridente na direção de Hermes.

— Quem é você? — Hermes pergunta, se virando para o tio com uma


sobrancelha levantada.

O que pode parecer uma frase sem sentido, fora entendido facilmente por todos
naquele recinto. Hermes quis dizer. "Se nem Zeus foi capaz de me parar, quem é
você para pensar que pode?".

Todos entenderam, e até certo ponto chegavam a pensar o mesmo. Exceto por
Poseidon. O orgulhoso Rei dos mares não deixaria esta afronta barato.

Poseidon encarou Hermes de cima a baixo. E então, um míssil d'água


pressurizada atravessou o ombro do rapaz, deixando um buraco no local.
Surpreendentemente, a velocidade do projétil foi suficiente para superar a
percepção passiva de Hermes. Um punhado de sangue esguichou da ferida.

Hermes arregalou os olhos. "Desde quando este velho é tão rápido?" Pensou
encarando o corte superficial em seu ombro.
Ele ergueu seus olhos para o tio, e novamente foi surpreendido. Poseidon estava
carregando mais dez daqueles mísseis d'água ao seu redor. Seu rosto parecia
presunçoso. Provavelmente queria se mostrar mais poderoso que Zeus e
demonstrar como poderia vencer facilmente aquele que o superou.

Hermes, entretanto, não tinha planos de permitir que isso acontecesse. Ele sabia
que, por mais que sua provocação tenha dito o contrário, Poseidon era muito
poderoso.

Um míssil luminoso atravessou o salão, e acertou Poseidon com tudo na barriga.


Ele cuspiu litros de sangue com o golpe, os mísseis d'água estouraram no ar
como bolhas, e ele foi mandado voando, ainda mais longe que Zeus.

Ele certamente não tomaria esse golpe facilmente se estivesse preparado. Mas
para ele, Hermes ainda se encontrava um degrau abaixo dele. Se sentia muito
seguro vendo como foi capaz de o acertar facilmente com um dos mísseis,
diferente de Zeus, que custou a ferir superficialmente o rapaz.

Todos finalmente entraram numa posição de ataque, apontando suas armas e


formando feitiços na direção de Hermes. Exceto por Apolo que ainda parecia
extasiado com tudo o que acontecia, e Dioniso que se mostrava animado e
despreocupado.  Independentemente, todos perceberam que teriam que lutar
juntos.

Ares, que estava sendo socorrido por Hera, sua mãe, se levantou com uma mão
no rosto, tapando o nariz quebrado, ainda atordoado.

A mulher vendo situação de seu filho se virou para Hermes com ódio e fúria.
"Como um maldito bastardo ousa tocar meu filho?"

E então, sentiu uma certa confusão tomar conta de seus sentidos. Uma neblina
roxa e fina passou a se espalhar dentro do coliseu.

Hermes se sentiu tonto. E então começou a se virar, procurando a origem daquela


neblina. Antes que tudo ficasse nublado, ele conseguiu encarar uma figura
enorme e gorda, com um barril na mão, desaparecendo em meio ao gás roxo.

— Acho que você precisa se acalmar um pouco, meu irmão. — Disse Dioniso
com um sorriso bêbado enquanto bebia vinho direto de um barril, emanando
aquela neblina de sua pele.

Hermes rangeu os dentes.

— Gordo maldito! — Ele resmungou com a mão no pescoço, sentindo aquela


sensação se espalhar da sua boca e descendo para o resto do corpo.

Sua visão ficara turva em poucos segundos.


E então, prendeu a respiração.

Ele começou a olhar em volta, procurando por sinais de qualquer um que fosse e
que ele pudesse golpear.

Uma silhueta apareceu em meio à névoa. Hermes saltou em sua direção em alta
velocidade. E então, socou o vento.

Isso se repetiu por algumas vezes, até que Hermes perdesse a paciência.

— AFRODITE! APAREÇA DE UMA VEZ, SUA VADIA! — Ele rugiu,


perdendo a composição com uma raiva que normalmente não se associaria a ele.

Dioniso estava fazendo um bom trabalho.

Afrodite com seus poderes hipnóticos e alucinógenos, era uma mistura


implacável contra o rapaz que se encontrava totalmente desamparado de seus
cinco sentidos nesse momento.

E então um chirriado foi escutado, e o rapaz se virou em sua direção. A figura de


uma coruja vinha voando diretamente contra ele. Ele então usou sua velocidade
para avançar contra ela e a acertou com um soco.

Quando se deu por conta, seu braço estava rasgado. Do vão entre os dedos médio
e anelar, até o cotovelo.

A coruja havia se transformado numa lança. A lança de Atena para ser mais
exato.

— GUAGH! — Hermes gemeu em dor, sentindo seu braço partido em duas


partes.

"Aquela desgraçada!" Ele amaldiçoa a Deusa da Estratégia.

Em condições normais, ele perceberia a estratégia da Deusa, mas os poderes de


Dioniso certamente mexeram com suas percepções.

Ele retira a lança do braço, a jogando no chão, e, para sua infelicidade, percebe
seu sangue fluindo em um tom roxo.

"Ela me envenenou!?" O rapaz se pergunta, incrédulo.

O que não estaria caso sua mente se encontrasse em condições normais.

Ele percebeu imediatamente a estratégia de Atena. Sua calma já havia se


esgotado, e ela se aproveitou disso. Agora, ele sabia que poderia não sair vivo
desta situação.
Sentiu o corpo paralisar.

*Fwishh*

E então uma flecha cruzou a neblina, abrindo espaço e deixando um rastro de ar


limpo em meio a ela. Hermes desviou, mas ainda foi acertado de raspão na coxa
e sentiu novamente uma paralisia momentânea, seguida de um formigamento
crescente percorrendo seu corpo a partir daquela ferida.

"Até Ártemis está no meio disso?" Ele se pergunta surpreso.

Ela era uma que normalmente não tomava parte nessas intrigas. Mas, por algum
motivo, do modo como ela errou a flecha mesmo com o alvo estando atordoado,
acabou chamando a atenção de Hermes.

Por outro lado, ao ver a flecha abrindo espaço no gás, ele teve uma nova ideia.

Hermes começa a correr em círculos no coliseu, aumentando sua velocidade ao


máximo que pode.

E então, um redemoinho começa a se formar. O vento varre a neblina, trazendo


de volta o ar para o coliseu. Hermes capota perdendo as forças e afundando no
chão rachado.

Todos os deuses o encaram seriamente no chão, um em cada ponto do coliseu. E


então, passam a se aproximar lentamente e com cautela.

Após alguns momentos no chão, o braço partido de Hermes começa a se


regenerar. E em pouco tempo ele está em inteiro de novo.

Hermes começa a se levantar com dificuldade.

— Ainda persiste? — Atena pergunta levantando a sobrancelha em surpresa.

Atena era uma deusa

Hermes sabia que não seria capaz de vencer a todos ali. Os poderes de Dioniso o
atordoaram, e a flecha envenenada de Ártemis estava dificultando sua cura, de
modo que ele ainda não sentia seu braço recém curado.

Ele se prepara para se distanciar dali.

Seus pés então afundam o piso, enquanto ele pega impulso para correr dali.

Mas então, não consegue sair do lugar. Ele olha para baixo e percebe seus pés
envoltos de vinhas espinhosas que emanam uma aura púrpura.
Hermes arregala os olhos e olha em volta, encontrando Hera, que o encarava com
olhos famintos e uma energia ainda mais furiosa ruindo de seu corpo, causando a
quebra do chão abaixo dela com a pressão de seus poderes.

— VOCÊ! — Ela fala se aproximando de Hermes com a mão esquerda erguida


em sua direção.

As vinhas cresciam e se envolviam cada vez mais ao redor do rapaz.

— Um bastardo ousou levantar a mão contra seu pai, e muito pior, contra MEU
filho! — Ela ruge com a testa franzida e os olhos completamente tomados por um
brilho púrpura.

As vinhas cobrem a parte inferior do corpo de Hermes por completo quando Hera
para poucos metros em sua frente em uma pose orgulhosa. Uma energia
condensada começa a sair do caos provindo pela aura de Hera.

— Você será amaldiçoado pela desgraça, e independente de para onde vá, tua
vida e morte será repleta de sofrimento e dor. — Hera começa a entoar o que
parece ser uma maldição. — Que sua estadia no tártaro seja ainda pior que
inexistência!

Hera aponta para Hermes, e uma enxurrada violenta de poder segue em sua
direção. Adentrando o corpo do rapaz. Hermes sente sua força se esvair, e seu
corpo ser marcado, uma marca direta na alma.

Hermes estende o braço numa investida desesperada para tentar atacar Hera.
Porém, o tridente de Poseidon corta o ar, perfurando seu braço e o prendendo no
chão.

Ele se vira e encara o tio que se aproxima vindo das ruínas do destruído coliseu
contra o qual ele havia sido arremessado. Suas roupas sujas e uma marca gravada
de um punho no centro de seu abdômen. Seu rosto numa mistura, tanto de raiva
quanto de exaustão.

— MALDITOS! — Hermes grita. — EU VOU MATAR TODOS VOCÊS! —


Ele encara a todos com uma feição intimidante, mesmo em sua posição atual.

Todos apontam imediatamente suas armas para ele, realmente se sentindo


ameaçados.

Ártemis arma seu arco. Ares aponta sua espada. Afrodite libera uma aura rosa em
formato de espiral de seu corpo. Atena aponta sua lança. Hera fortalece suas
vinhas no chão.

E Apolo, que até agora estava paralisado com a situação, apertava fortemente sua
lira na mão com um rosto abatido. Se perguntava, ele, se Hermes dizia aquilo
para ele também. Se seu ódio era direcionado a verdadeiramente todos os Deuses
ali.

O chão começa a tremer. Hermes sente seu fim se aproximando.

Ao longe, todos avistam Zeus retornando ao coliseu.

Suas vestes surradas caem aos rasgos pelo chão. Sua aura se fortifica mais a cada
instante, estando inclusive mais poderosa que anteriormente.

Hera começa a andar para o lado, abrindo caminho para o marido. Sua missão já
estava completa.

O corpo de Zeus começou a reluzir. Aquele brilho que antes possuía suas mãos,
agora possui todo o seu braço e tronco.

— Hermes. — Zeus falou enquanto sintetizava em sua mão, um raio em formato


de lança estalando furiosamente na frente de seu filho. — Você traiu a todos
nesse recinto. Principalmente a mim, seu pai e seu rei. — O rei dos deuses ergueu
seu braço direito, utilizando o máximo de energia que conseguia canalizar em seu
punho, sua boca escorrendo um pouco de sangue. O brilho no resto de seu corpo
sumindo e sendo mandado todo para a palma de sua mão. — Agora, você deve
viver em meio a toda a desgraça e sofrimento que causou, como um daqueles que
você jurou proteger. Hugh- Seus tempos como um deus, ACABARAM! GAH-

Zeus rugiu, sua voz tão poderosa e imponente quanto um trovão.

Aquela lança elétrica desceu dos céus, cravando diretamente o peito de Hermes
que bramiu em dor. Sentiu ele toda a sua energia se esvair. Seus cabelos foram
perdendo o brilho dourado e divino aos poucos, até ficarem totalmente brancos.

— GUAHGH! — Hermes sentiu sua consciência se esvaindo.

Algo penetrando sua própria essência, e então a repartindo em vários pedaços.

Algo sendo fragmentado dentro dele, como um jarro quebrando em vários


pedaços.

E então, algo marcando seu peito, fisicamente e espiritualmente.

O que quer que Hera tivesse feito, pareceu se intensificar naquele momento, com
a descarga de energia divina provinda do raio de Zeus.

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A investida do raio continuou até que as vinhas queimassem e chão de mármore
abaixo dele cedesse, levando o rapaz no formato a cruzar o céu da Grécia, como
uma gigante serpente de raios.

E então, no meio do nada. O raio atinge com tudo o chão, abrindo uma enorme
cratera e mandando pedras ao redor voando para todo o lado.

*KABOOOM*

Uma cortina de fumaça e poeira se ergue no local, devastando aquele quieto e


pacífico ambiente.

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Uma caravana segue um caminho desértico. Cerca de cem carroças e apenas uma
carruagem mais à frente da linha de carroças.

Mais à frente do caminho, o condutor da carruagem percebe algo estranho.

No meio da estrada, uma enorme cratera e árvores caídas para todos os lados.

Uma cena bem caótica, e que ele julgava como sendo algo estranho mesmo para
bandidos.

O homem para a carruagem, fazendo sinal para que os outros façam o mesmo.

Um senhor de idade com um quitón chique de cor amarela desce dessa carroça
mais bem arrumada, localizada à frente da caravana. Ele parece zangado.

— Quem diabos permitiu que parasse? — Ele pergunta para o condutor.

— É que tem algo estranho à frente senhor. Podem ser ladrões.

Um homem forte e de armadura preta, aparentemente um guarda, chega ao lado


dos dois, avistando a cratera à frente.

— Eu recomendo que o nobre retorne à segurança da carruagem e permita que eu


e mais alguns guardas averigue o que houve mais à frente. — O soldado explica
em um tom sério.

O nobre estremece com a ideia de ladrões estarem por trás disto tudo, e então,
começa a olhar para todos os lados, buscando por algum sinal destes arruaceiros.

Sua covardia era palpável no ar.


— Mas nem pensar que vais me deixar para trás em meio a este perigo iminente!
— O nobre fala com uma voz fina por conta do medo. — E se esses desgraçados
roubarem os meus escravos, pode ter certeza de que eu denunciarei você e seus
malditos subalternos à guarda de Corinto!

O homem revira os olhos, e então faz sinal para que os guardas fiquem mais
atrás, cuidando da segurança das carroças. Ele, por sua vez, acena para que o
nobre o siga.

Ao chegar na borda da cratera, o guarda é empurrado pelo senhor, que age com
curiosidade e pouca cautela. Eles veem, no centro da cratera, o que parece ser um
cadáver.

— O que é isso? — Pergunta o nobre tapando a boca com um lenço e com o


rosto retorcido.

— Parece um corpo. — O guarda afirma encarando um homem deitado no meio


da cratera.

— Não digas, imbecil! — O velho ironiza o soldado de maneira agressiva. —


Apenas desça lá e traga aquele corpo pra cá.

O guarda suspira e depois de alguns segundos resolve obedecer, apesar de não ser
seu trabalho fazer isso. A escolta de caravanas de escravos sempre era bem
recompensada, e como ele queria garantir que receberia seu pagamento, sabia
que não devia contrariar o senhor esnobe à sua frente.

Ele coloca no chão, ao lado do nobre, o corpo do rapaz de bruços, que logo cospe
uma quantidade grande de sangue. Ele veste o que parece ser parte de um quitón
muito rasgado e sujo. Seu peitoral exposto pela roupa rasgada.

— Isto vive? — O velho pergunta com impessoalidade, como quem se refere a


um animal.

O soldado teve vontade de retribuir a gentileza anterior do velho com uma


resposta ignorante, mas resolveu se reter ao óbvio para manter sua cabeça no
lugar.

— Devo mata-lo? — Perguntou com uma voz fria, aparentemente acostumada a


esse tipo de serviços.

O velho apenas encara o corpo com desdém entre os detritos. E então sorri,
encarando algo no corpo.

— Não. — Ele responde enquanto sorri. — Não quero ser tão insultuoso aos céus
recusando tamanha regalia. — O nobre fala dando as costas. — Faças o favor de
jogar este ladrão numa das carroças. Ele agora é minha propriedade.
— Ladrão? — O soldado pergunta, erguendo uma das sobrancelhas.

— Ele é um seguidor de Hermes, preste atenção no peito dele.

É então que se avista, no peito do rapaz, o que parece ser uma cicatriz no formato
de um caduceu. Um desenho muito bem feito, como uma tatuagem que foi
talhada diretamente na pele com uma faca.

O soldado suspira novamente, recolhendo o corpo do rapaz do chão para seu


ombro e retornando à caravana.

O condutor avista o soldado chegando e se enche de curiosidade.

— Quem é esse?

— Um dos ladrões seguidores de Hermes. — O soldado afirma sem se importar

— Ladrões? — Pergunta o homem sem entender. — Mas Hermes não é o deus


dos comerciantes ou algo assim? — Perguntou o condutor ainda sem entender.

— E tem alguma diferença entre os dois? — A resposta do soldado vem


acompanhada de um riso desprezível e desdenhoso.

O carroceiro encara os dois se afastando com pesar.

"Pobre rapaz..." Reflete balançando a cabeça.

Ele se vira e volta a conduzir os cavalos.

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