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Prólogo II — A queda

— Hermes é o traidor. — Zeus afirma encarando o rapaz nos olhos, com uma
fúria inominável.

Todos se viraram para o deus mensageiro, como se não acreditassem no que


haviam acabado de ouvir, principalmente Apolo, o mais próximo de Hermes.

Hermes sorriu para seu pai de maneira despreocupada.

O silêncio era ensurdecedor.


Nenhum dos deuses ali presentes pareciam dispostos a romper aquela atmosfera
tensa.
Logo, Zeus continuou enquanto caminhava na direção de Hermes.
— Você! — Ele exclamou enquanto apontava para o rapaz com uma expressão
feroz. — Achou engraçado enganar a todos aqui todo esse tempo?
Ele parou a três metros de distância do filho, o encarando por cima. Nesse
momento, se tornou possível ver a diferença de tamanho entre os dois.
Hermes tinha cerca de um metro e oitenta e cinco centímetros. Já o gigante em
sua frente devia facilmente passar dos dois metros e cinquenta.
Zeus encarava seu filho como uma criança. Mas uma criança que o havia
enfurecido, e muito.
Entretanto, mesmo com toda a sua pose superior e intimidante, não parecia ter
conseguido amedrontar o ‘pequeno’ Hermes, que o encarava com um rosto agora
sereno. Já não ria mais, apesar de não parecer com medo.
— Você tinha essa obrigação para com os seus iguais. Era o seu dever se livrar
de Pandora por nós! — Zeus continuou.
— Pai- Por favor, seja razoável, Hermes nunca- — Apolo se aproximou do pai,
gesticulando com um rosto preocupado.
Sem nuvens, sem tempestade, sem chuva. Um trovão debanda dos céus,
provocando um enorme barulho e fazendo Apolo estremecer num susto.
Zeus fitou furiosamente de canto de olho, o que o fez se calar desviando o olhar
com medo.
Todos, assim, perceberam que não deveriam se intrometer ali.
— HERMES, VOCÊ TRAIU O SEU- — Zeus quase cuspia cada palavra para
seu filho, apontando tão ferozmente quanto falava.
Os lábios de Hermes se retorceram. Certa irritação se amontoando em sua
expressão.
— Cale a boca. — Hermes ordenou a seu pai.
As sobrancelhas de Zeus se levantaram, assim como a de todos no lugar. Depois
de alguns segundos, as veias na testa de Zeus começaram a se expandir. Seu rosto
se desfazendo em pura ira.
— Como- —
— Tá tão irritado só por que não pode mais engravidar mortais qualquer? —
Hermes pergunta para seu pai com um rosto bravo.
A fúria de Zeus aumentava a cada segundo, tal qual a incredulidade de todos os
presentes. Em especial Hera, que havia sido a mais irritada com este comentário
do rapaz.
Era de conhecimento geral entre os deuses que ela não gostava que expusessem a
infidelidade do marido. Se sentia humilhada por isso.
Hermes não pareceu se afetar pois seguiu encarando sem vacilar o olhar
mortalmente branco de seu pai.
— Você fala tanto sobre dever, trabalho, obrigação... — Prosseguiu Hermes,
dando um passo a frente. — E principalmente sobre, ‘nós’. — Observou o rapaz,
com um rosto confuso enquanto fazia aspas com as mãos.
— Quem diabos é ‘nós’?
Num piscar de olhos, Hermes desaparece da frente de Zeus, reaparecendo no
centro do coliseu, em frente a todos os outros deuses.
— Vocês influenciam no mundo inferior, inferindo suas vontades em todos os
mortais. Lançando pragas naqueles que os desobedecem. Causando guerras por
se envolverem com mulheres comprometidas. — Hermes com raiva conta nos
dedos cada uma das acusações, e olha diretamente para seu pai de costas ao dizer
a última.

Zeus não se virou. Parecia petrificado com a ousadia do rapaz. Ele simplesmente
encarou sua frente com os olhos arregalados em raiva e veias furiosas surgindo
em todos os pontos de seu corpo.
— Se sentem traídos? — Hermes ergueu a sobrancelha, falando com um ar
cômico enquanto se virava para encarar o pai. — Traídos por que eu não sujei
minhas malditas mãos pra favorecer os interesses de vocês? — Ele pergunta
adotando um tom mais irritado.

Passos são escutados se aproximando lentamente pelas costas de Hermes.

— Eu acredito que você já se divertiu o bastante com suas acusações, irmão. —


Ares falou em um tom de advertência. — Talvez necessite passar um tempo com
Hades, para pensar sobre suas ações.
Este era o que, dentre os deuses, não poupava esforços para se meter em brigas.
Ainda mais quando era seu pai o alvo da confusão. Ares se comportava como o
verdadeiro braço direito de Zeus...
Apesar de não chegar nem perto de ser.
*Ziip* *Pump*
Hermes desaparece da frente de Ares com uma espécie de zumbido deixado para
trás. Sem que o irmão tenha tempo de se preparar, ele reaparece em uma
investida no ar acertando-lhe com um chute voleio direto no nariz.
Ares voa com o golpe, se chocando e atravessando três das pilastras do coliseu. O
corpo do deus cai no chão, enquanto ele, ainda em choque, tenta se levantar.
Hermes cai em pé no chão, suas asas nas sandálias tremendo e brilhando com
intensidade.
Os outros deuses no coliseu arregalam os olhos encarando o pequeno rapaz e se
põem em alerta. Em surpresa, tanto por seu ataque repentino, quanto por sua
força.
Quase ninguém ali naquele lugar poderia mandar Ares voando com aquela
facilidade.
Hera estava furiosa. “Como um maldito bastardo ousa encostar um dedo em meu
filho?”
— Vocês acham que eu vou simplesmente permitir que me matem? — Hermes
adotou uma postura mais séria, apesar de despreocupada.
Zeus se virou, finalmente, para o centro do salão. E encarou, com um olhar
frenético, o filho.
Poseidon se levanta de seu trono, catando seu tridente com um olhar sério.
— Você está condenado garoto.
— Pessoal, por favor- — Apolo suplica com imensa preocupação.
— Ninguém. Move. Um. Dedo. — Zeus ordenou para seus filhos.
O corpo de Zeus se clareia num branco amarelado, e a atmosfera começa a ruir
com um zunido. Poseidon por sua vez começa a conjurar uma esfera de água na
ponta de seu tridente.
Zeus desaparece em um feixe de luz que se movimenta em alta velocidade na
direção de Hermes.
O rapaz se prostra numa posição de luta. O feixe retorna à forma de Zeus na
frente de Hermes. Seus punhos transformados em pequenas lanças elétricas de
cor branca, desferindo um soco com uma velocidade inacreditável. Felizmente
para ele, Hermes é rápido e consegue desviar do golpe de seu pai.
Um trovão é escutado.
Zeus desfere inúmeros socos na direção do filho, um som estrondoso ruindo de
cada golpe. Hermes usa sua velocidade e consegue desviar, contra atacando com
golpes mais leves e velozes os cotovelos e joelhos de Zeus.
Os golpes passam a queima roupa, arrancando fios de cabelo do pequeno rapaz.
Isto se segue por algum tempo, com todos encarando sem acreditar.
“Como ele consegue se equiparar ao pai?!” A surpresa dá lugar a uma revelação
surpreendente. “Não. A velocidade dele é ainda maior que a de um raio!”
Porém, a velocidade dos golpes de Zeus começa a aumentar subitamente, seu
rosto ficando mais furioso. Seus braços começam a formar borrões de luz no ar
emanando faíscas elétricas. Hermes desvia, mas para de contra-atacar quando
percebe que aquela aura elétrica nos punhos de Zeus havia se expandido e
tomado conta de todo o seu braço.
— ISTO É TUDO? — Hermes pergunta enquanto desvia, assumindo um ar de
superioridade.
E então, um corte superficial aparece na bochecha de Hermes que demonstra
surpresa.
Ele não havia sido acertado. Então como isso aconteceu?
A resposta não tarda a aparecer na forma de outros cortes. Hermes começa a
recuar, desviando dos socos e dando poucos passos para trás de maneira
cuidadosa.
Ele finalmente percebeu. “As malditas faíscas!”
A cada soco energizado de Zeus, faíscas se formavam em torno de seus braços e
iam de encontro ao rosto de Hermes. Ele percebeu que teria que se esforçar mais.
Zeus assumiu uma postura mais presunçosa, percebendo que ele estava recuando
com os golpes. E então, o corpo de Hermes começou a vibrar e se transformar
num borrão. Ele estava desviando em uma velocidade muito maior que qualquer
respingo de energia pudesse alcança-lo.
Zeus rangeu os dentes, e seguiu aumentando cada vez mais a velocidade e força
de seus golpes. A mancha branca de seus braços se expandindo e tomando cada
vez mais conta de seu corpo.
Ele começou a sentir dor, estava começando a se forçar.

O Rei dos Deuses chega ao seu limite. Incapaz de acertar o rapaz, ele ruge, e
cinco raios descem do céu em direção aos dois à medida que Zeus prepara um
golpe com as mãos juntas, as usando como um martelo.
Os raios caem abrindo uma cratera e se dispersam no chão do coliseu causando
um terremoto. Zeus golpeia o vento.
Hermes não dá tempo de seu pai se virar e salta golpeando seu abdômen com um
chute supersônico.
Os pés de Zeus afundam no chão, e ele é jogado alguns metros para o lado, ainda
sem tirar os pés do chão.
O rapaz avança sem pestanejar e aparece imediatamente na frente do pai. Uma
chuva de socos em super velocidade são desferidos contra seu abdômen que
fazem Zeus ceder. Ele é pego de surpresa e tenta desferir contragolpes.
Hermes apenas move a cabeça e o tronco em manobras evasivas, desviando de
tudo à medida que acerta vários na barriga de Zeus e alguns nas laterais de seus
joelhos.
E então, em um instante, o rapaz desaparece da frente do pai deixando um rastro
de luz para trás. E reaparece num dos cantos do coliseu, reto a Zeus. Pega
impulso, e avança em um flash condensado de luz dourada contra seu pai.
Zeus sente seus joelhos falharem e começa a cair com as mãos na barriga. O
rosto surpreso. Mas, antes que caísse de joelhos, é acertado por um golpe ultra
veloz no queixo, que o manda voando para fora do coliseu, demolindo tudo que
há pela frente.
Hermes encara a figura brilhante se afastando e devastando todo seu caminho.
Os deuses no coliseu arregalam os olhos e apertam ainda mais suas armas.
Todos percebem que não é prudente subestimar o mensageiro dos deuses.
— Você passou dos limites, rapaz. — Poseidon fala, uma aura imponente
enquanto aponta seu tridente na direção de Hermes.
— Quem é você? — Hermes pergunta, se virando para o tio.
O que pode parecer uma frase sem sentido, fora entendido facilmente por todos
naquele recinto. Hermes quis dizer. “Se nem Zeus foi capaz de me parar, quem é
você para pensar que pode?”.
Todos entenderam, e até certo ponto compactuavam com esta ideia. Exceto por
Poseidon. O orgulhoso Rei dos mares não deixaria esta afronta barato, era o que
pensava.
Poseidon encarou Hermes de cima a baixo. E então, um míssil d’água
pressurizada atravessou o ombro do rapaz. Apesar de pouco dano, a velocidade
do projétil foi suficiente para o impressionar.
Hermes arregalou os olhos. “Desde quando este velho é tão rápido?” Pensou
encarando o corte superficial em seu ombro.
Ele ergueu seus olhos para o tio, e novamente foi surpreendido. Poseidon estava
carregando mais dez daqueles mísseis d’água ao seu redor.
Hermes não deu tempo para que Poseidon revidasse como aconteceu com seu
pai. Ele sabia que, por mais que sua provocação tenha dito o contrário, Poseidon
era muito poderoso.
Um míssil luminoso atravessou o salão, e acertou Poseidon com tudo na barriga.
Ele cuspiu litros de sangue com o golpe, e foi mandado voando, ainda mais longe
que Zeus.
Ele certamente não tomaria esse golpe facilmente se estivesse preparado. Mas
estava contando com a incapacidade do sobrinho e pensou que Hermes não fosse
ataca-lo com tudo de uma só vez.
Todos finalmente entraram numa posição de ataque, apontando suas armas e
formando feitiços na direção de Hermes. Exceto por Apolo que ainda parecia
extasiado com tudo o que acontecia, e Dioniso que parecia animado e
despreocupado. Eles perceberam que teriam que lutar juntos.
Ares, que estava sendo socorrido por Hera, sua mãe, se levantou com uma mão
no rosto, tapando o nariz quebrado, ainda atordoado.
A mulher vendo situação de seu filho se virou para Hermes com ódio e fúria.
“Como um maldito bastardo ousa tocar meu filho?”
E então, sentiu uma certa confusão tomar conta de seus sentidos. Uma neblina
roxa e fina começou a se espalhar dentro do coliseu.
Hermes se sentiu tonto. E então começou a se virar, procurando a causa daquela
neblina. Antes que tudo ficasse nublado, ele conseguiu encarar uma figura
enorme e gorda, com um barril na mão, desaparecendo em meio ao gás roxo.
— Acho que você precisa se acalmar um pouco, meu irmão. — Disse Dioniso
com um sorriso bêbado enquanto bebia vinho direto de um barril, emanando
aquela neblina de sua pele.
Hermes rangeu os dentes.
— Gordo maldito! — Ele resmungou com a mão no pescoço, sentindo sua
sobriedade deixar seu corpo.
E então, prendeu a respiração.
Ele começou a olhar em volta, procurando por sinais de qualquer um que fosse e
que ele pudesse acertar.
Uma silhueta apareceu em meio à névoa. Hermes saltou em sua direção em alta
velocidade. E então, socou o vento.
Isso se repetiu por algumas vezes, até que Hermes perdesse a paciência.
E então um chirriado foi escutado, e o rapaz se virou em sua direção. A figura de
uma coruja vinha voando em sua direção em alta velocidade. Ele então usou sua
velocidade para avançar contra ela e a acertou com um soco.
Quando se deu por conta, seu braço estava rasgado. Do vão entre os dedos médio
e anelar, até o cotovelo.
— GUAGH! — Hermes gemeu em dor, sentindo seu braço partido em duas
partes.
A coruja havia se transformado numa lança. A lança de Atena para ser mais
exato.
“Aquela desgraçada!” Ele amaldiçoa Atena.
Em condições normais, ele perceberia a estratégia da Deusa, mas os poderes de
Dioniso certamente mexeram com suas percepções.
Ele retira a lança do braço e, para sua infelicidade, percebe seu sangue fluindo
em um tom roxo.
Ele percebeu imediatamente a estratégia de Atena. Sua calma já havia ido
embora a tempos. Agora, ele sabia que poderia não sair vivo daqui.
Sentiu o corpo paralisar. E então uma flecha cruzou a neblina, abrindo espaço e
deixando um rastro de ar limpo em meio a ela. Hermes desviou, mas ainda foi
acertado de raspão e sentiu novamente uma paralisia momentânea.
“Até Ártemis está no meio disso?” Ele se pergunta surpreso.
Porém, ver a flecha abrindo espaço no gás, ele teve uma nova ideia.
Hermes começa a correr em círculos no coliseu, aumentando sua velocidade ao
máximo que pode.
E então, um redemoinho começa a se formar. O vento varre a neblina, trazendo
de volta o ar para o coliseu. Hermes capota perdendo as forças.
Todos os deuses o encaram seriamente no chão, um em cada ponto do coliseu.
Depois de alguns momentos no chão, o braço partido de Hermes começa a se
regenerar. E em pouco tempo ele está em bom estado de novo.
Hermes começa a se levantar com dificuldade.
— Ele ainda persiste? — Atena pergunta levantando a sobrancelha em surpresa.
Hermes sabia que não seria capaz de vencer a todos ali. Os poderes de Dioniso o
atordoaram, e a flecha envenenada de Ártemis estava dificultando sua cura, de
modo que seu braço recém curado ainda estava dormente.
Ele se prepara para se distanciar dali.
Seus pés então afundam no chão, enquanto ele pega impulso para correr dali.
Mas então, não consegue sair do lugar. Ele olha para baixo e percebe seus pés
envoltos de vinhas espinhosas que emanam uma aura roxa.
Hermes arregala os olhos e olha em volta, encontrando Hera, que o encarava com
olhos famintos e uma energia ainda mais furiosa ruindo de seu corpo, causando a
quebra do chão abaixo dela com a pressão de seus poderes.
— VOCÊ! — Ela fala se aproximando de Hermes com as mãos erguidas em sua
direção.
As vinhas cresciam e prendiam cada vez mais o rapaz.
— Um bastardo ousou levantar a mão contra seu pai, e pior ainda, contra MEU
filho! — Ela ruge com a testa franzida.
As vinhas cobrem as pernas de Hermes por completo quando Hera para poucos
metros em sua frente. Uma energia condensada começa a sair do caos provindo
pela aura de Hera.
— Você será amaldiçoado pela desgraça, e independente de onde vá, tua vida e
morte será repleta de sofrimento. — Hera começa a entoar o que parece ser uma
maldição. — Que sua estadia no tártaro seja ainda pior que inexistência!
Hera aponta para Hermes, e uma enxurrada de poder segue em sua direção.
Adentrando o corpo do rapaz. Hermes sente sua força se esvair, e seu corpo
sendo marcado.
Ele estende o braço num ataque para tentar atacar Hera. Porém, o tridente de
Poseidon corta o ar, perfurando seu braço e o prendendo no chão.
Ele se vira e encara o tio que se aproxima das ruínas do destruído coliseu contra o
qual ele havia sido arremessado.
— MALDITOS! — Hermes grita com raiva. — EU VOU MATAR TODOS
VOCÊS! — Ele encara a todos com uma pose intimidante, mesmo em sua
posição atual.
Todos apontam imediatamente suas armas para ele.
Ártemis arma seu arco. Ares aponta sua espada. Afrodite faz gestos hipnotizantes
com suas mãos. Atena aponta sua lança. Hera fortalece sua aura.
E Apolo, que até agora estava paralisado com a situação, estava com sua lira na
mão, e um rosto abatido.
O chão começa a tremer. Hermes começa a sentir seu fim se aproximando.
Ao longe, todos avistam Zeus retornando ao coliseu.
Suas vestes surradas caem em rasgos pelo chão. Sua aura se fortifica mais a cada
instante, estando inclusive mais poderosa que anteriormente.
Hera começa a andar para o lado, abrindo caminho para o marido. Sua missão já
estava completa.
O corpo de Zeus começou a reluzir. Aquele brilho que antes possuía suas mãos,
agora possui todo o seu braço e tronco.
— Hermes. — Zeus falou enquanto segurava uma lança de raios estalando
furiosamente na frente de seu filho. — Você traiu a todos nesse recinto.
Principalmente a mim, seu pai e seu rei. — O rei dos deuses ergueu seu braço
direito, utilizando o máximo de energia que conseguia canalizar em seu punho. O
brilho no resto de seu corpo sumindo e sendo mandado todo para a palma de sua
mão. — Agora, você dever viver em meio a toda a desgraça e sofrimento que
causou, como um daqueles que você jurou proteger. Hugh- Seus tempos como
um deus, ACABARAM! GAH-
Zeus rugiu, sua voz tão poderosa e imponente quanto um raio.
Aquela lança elétrica desceu dos céus, cravando diretamente o peito de Hermes
que bramiu em dor. Sentiu ele toda a sua energia se esvair. Seus cabelos foram
perdendo o brilho dourado e divino aos poucos, até ficarem totalmente brancos.
— GUAHGH! — Hermes sentiu sua consciência se esvaindo.
Algo penetrando sua própria essência, e então a repartindo em vários pedaços.
Algo sendo fragmentado dentro dele, como um jarro quebrando em vários
pedaços.
A investida do raio continuou até que as vinhas queimassem e chão de mármore
abaixo dele cedesse, levando o rapaz no formato a cruzar o céu da Grécia, como
uma gigante serpente de raios.
E então, no meio do nada. O raio atinge com tudo o chão, abrindo uma enorme
cratera e mandando pedras ao redor voando para todo o lado.

Uma cortina de fumaça e poeira se ergue no local.


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Uma caravana segue um caminho desértico. Cerca de 100 carroças e algumas
poucas carruagens.
Em meio à estrada, o condutor da carruagem mais à frente da caravana percebe
algo estranho.
Ao longe, uma enorme cratera, árvores caídas para todos os lados.
Uma cena bem caótica, para uma estrada considerada tranquila até agora.
O homem para a carruagem, fazendo sinal para que os outros façam o mesmo.
Um senhor de idade com um quitón chique de cor amarela desce dessa carroça
mais bem arrumada, localizada à frente da caravana. Ele parece zangado.
— Quem diabos permitiu que parasse? — Ele pergunta para o condutor.
— É que tem algo estranho à frente senhor.
Um homem forte e de armadura preta, aparentemente um guarda, chega ao lado
dos dois, avistando a cratera à frente.

Eles se aproximam da cratera, o velho e o guarda. O soldado mais à frente,


fornecendo uma segurança ao senhor.
— O que é isso? — Pergunta o nobre tapando a boca com um lenço e com o
rosto retorcido.
— Parece um corpo. — O guarda afirma encarando um homem deitado no meio
da cratera.
— Não me diga, seu idiota! — O velho insulta o guarda com um ar irritado. —
Apenas desça lá e traga aquele corpo pra cá.
O guarda suspira e depois de alguns segundos resolve obedecer, apesar de não ser
seu trabalho fazer isso.
Ele coloca no chão, ao lado do nobre, o corpo do rapaz de bruços, que logo cospe
uma quantidade grande de sangue. Ele veste o que parece ser parte de um quitón
muito surrado e sujo. Seu peitoral exposto pela roupa rasgada.
— Isso tá vivo? — O velho pergunta.
O soldado teve vontade de retribuir a gentileza anterior do velho com uma
resposta ignorante, mas resolveu se reter ao óbvio para manter sua cabeça no
lugar.
— Aparentemente. O que quer fazer com ele?
— Então jogue esse ladrão numa carroça com escravos. — O velho fala dando as
costas com desinteresse e voltando para sua carruagem.
— Ladrão?
— Ele é um seguidor de Hermes, preste atenção no peito dele.
Ele então percebe, uma tatuagem em formato de caduceu.
O soldado suspira, recolhendo o corpo do rapaz do chão e retornando por à
caravana.
O condutor avista o soldado chegando e se enche de dúvida.
— Quem é esse?
— Um ladrão seguidor de Hermes. — O soldado afirma sem se importar
— Mas Hermes não é o deus dos comerciantes ou algo assim? — Perguntou o
condutor sem entender.
— E tem alguma diferença entre os dois? — O soldado segue seu caminho com o
corpo no ombro, rumo à caravana de escravos.
O condutor encara a cena com pesar.
“Pobre rapaz...” Pensa balançando a cabeça.
Ele se vira e volta a conduzir os cavalos.

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