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2° Edição
Emilly Amite
Contatos:
L. Arbarus
Prólogo
Arcádius estava nos levando para algum lugar que ele julgava ser
seguro, o que nós podíamos fazer era confiar e permanecer em silêncio para
que não fossemos percebidos por nada nem ninguém, Amantia tinha
ouvidos e olhos por todos os lados, tínhamos que evitar ao máximo nos
expor para que Fairin não nos encontrasse antes do tempo. Jocelinne
mantinha uma proteção em volta de nós para que Arcádius parecesse para
quem o visse do chão, apenas uma ave voando baixinho na noite a caminho
de seu ninho.
Serena dormia profundamente amparada por Hasan, Eirien ia apoiada
em Amaterasu e dormia também, acho que na noite anterior ninguém havia
conseguido dormir direito, ansiosos com o retorno para casa. Jocelinne,
Ewren, Arcádius e eu estávamos alertas, observando tudo em volta com
cautela, eu mantinha a espada de Nellena em minha mão, embora preferisse
minha lança, eu não precisaria de meus poderes para usar a espada.
O vento começou a soprar mais forte, estava gelado demais quando
alcançamos terra firme, o gelo foi aparecendo aos poucos sobre a terra
escura. Estávamos sobre Lastar, tinha certeza disso, pois a neve aqui tinha
um tom diferente, um branco hipnótico que era difícil desviar os olhos da
neve que cobria as árvores queimadas pelo frio. Quase não via vida ali, um
montinho de neve escondido pelas arvores poderia ser um Yeti descansado,
ou apenas uma toca enterrada e escondida. Pouco a pouco a neve foi
tomando conta de todo o cenário e logo chegaríamos aquele estranho abrigo
de Arcádius, porém ele passou direto sem desviar para o norte como teria
de fazer, continuou voando em linha reta e após alguns minutos chegamos
ao mar novamente.
– Para onde acha que estamos indo? – Perguntei à Ewren quando vi
que Arcádius não estava parando. – Ewren agora me segurava com força,
como se pensasse que eu poderia desaparecer.
– Ele deve estar procurando o último lugar em que Fairin pensaria em
nos procurar, ou onde ele já deve ter nos procurado quando sumimos com
Serena e não encontrou ninguém... – Ewren estava sério, porém tranquilo.
Eu não conseguia parar de pensar nas crianças em Evenox, em Lórien,
Medras e em Ervie, sentia falta deles, mais ainda de Lórien pois era como
estar indo para a batalha despida sem a presença dela, ela era como uma
armadura para mim, estranho como em pouco tempo havia me apegado a
ela, mas a considerava como minha melhor amiga agora, sentia-me mal por
Serena, não era como se a tivesse deixado de lado, mas agora nós tínhamos
um laço maior e não sentia que havia me afastado dela.
Teríamos que fazer o melhor possível para que eles tivessem uma
Amantia segura para voltar. Apertei o cabo da espada onde a bolinha de luz
estava bem protegida, o poder que usaria para romper o lacre dos Doze
Mundos e me separar para sempre de tudo que amava. Isso me dava
motivação para dar o melhor de mim e não ter que usá-la, queria devolver
aquele poder para Áries e dizer “Não foi necessário! ” Isso sim me faria feliz.
Ewren notou meu nervosismo, puxou minha mão e a beijou gentilmente.
– Ei, vai dar tudo certo! Se pensar muito sobre isso, vai ficar difícil se
concentrar e pode acabar cometendo algum erro fatal. – Disse ele, sorri, ah
se ele soubesse o que estava se passando em minha mente agora, fiquei
muito feliz com o bloqueio que Áries havia me dado, assim ele nunca
desconfiaria de meus planos alternativos. Só a ideia de nunca mais ver esses
olhos novamente fez meu estômago embrulhar, segurei firme as lágrimas
que estavam querendo rolar. Segurei seu rosto com as mãos e o beijei, ele
pareceu surpreso mas correspondeu com vontade.
– Não dê ideias erradas a Hassan! – Sussurrou ele para mim, Hassan
estava acordado, seu rosto estava corado e ele olhava discretamente para
Serena em seu colo.
– Não é culpa minha ele estar assim, foi ela quem o beijou no carro,
não eu! – Murmurei virando o rosto corada também e lembrando do
atrevimento de Serena.
– Acho que ele está completamente apaixonado. – Disse Ewren tão
baixo ao meu ouvido que sua boca fez cocegas em mim. – Ele nem pisca
quando olha para ela.
– Talvez... – respirei fundo evitando sorrir, havia usado isso como
argumento para conseguir ajuda de Áries, ela não iria querer ver o único
filho sofrendo por amor. – Quando ele era Leonard, todas as vezes que
Serena ia dormir lá em casa ele ficava por perto, se oferecia para lavar o
prato dela quando ela jantava lá e ainda dava sua sobremesa para ela! Ele era
meu irmãozinho e o máximo que ganhava dele eram puxões de cabelo e
mordidas! – Resmunguei. – Acho que a paixão dele por Serena já é antiga.
– Acha? – Ewren ergueu uma sobrancelha – você é muito mais devagar
do que eu imaginava, Leona! Se eu não tivesse dito sobre meus sentimentos
por você quando achei que fosse morrer, você nunca teria percebido
sozinha! – O encarei irritada, o poder que Ewren tinha de me irritar ainda
estava lá, mas eu realmente nunca teria desconfiado que ele gostava de mim
também.
Arcádius fez uma manobra rápida e quase nos derrubou, fazendo com
que ficássemos em alerta novamente. Pouco depois pude ver para onde ele
estava nos levando, um frio passou por minha espinha. A grama vermelha
no chão abaixo de nós e o cheiro doce das pequenas flores vermelhas
espalhadas pelo campo e bem próximas às ruinas do templo de fogo.
Arcádius fez uma leve inclinação e começou a descer aos poucos,
rodeando as ruinas como se estivesse verificando repetidamente se estava
realmente seguro por lá, todos acordaram quando sentiram que estávamos
descendo, Eirien acordou coçando as orelhas de Amaterasu para que ela
acordasse também.
Quando ele pousou e voltou a sua forma normal, Jocelinne foi
erguendo suas mãos em direção às ruinas fazendo uma bolha gelatinosa
cobrir uma grande extensão a nossa volta, no momento em que a bolha
cobriu tudo sem deixar nenhuma entrada descoberta, Arcádius bateu as
palmas das mãos e o castelo começou a se refazer, as pedras em volta dele
começaram a rolar em sua direção e se encaixar onde antes era o seu lugar,
os vidros despedaçados pareciam se derreter e voltar a ser o que era, terra,
água e pequenas porções de pedregulhos também se juntaram à massa
cinzenta que se movia e ia cobrindo as rachaduras e buracos restantes, era
como se o tempo estivesse voltando para o templo.
Num piscar de olhos, tudo estava tudo restaurado, um leve brilho
avermelhado tomou conta do castelo e ele pareceu novo, recém construído,
era magnífico! Parecia um castelo de um reino antigo. Atravessamos a ponte
de pedra em passos apressados e entramos no templo, que era ainda mais
incrível por dentro! O chão era coberto por tapetes de diversos tons de
vermelho e marrom e as paredes trabalhadas com pinturas de flores e
plantas, deviam ser todas as espécies de plantas existentes em Amantia, pois
nenhuma era igual a outra e os desenhos não se repetiam. A abóbada no
meio do salão tinha vários símbolos coloridos e brilhantes pintados nela.
– Os símbolos de todas as famílias nobres de Amantia... – disse
Jocelinne se aproximando de mim. No centro da Abóbada havia um vitral
com uma imensa orquídea lilás.
– Acho que foi uma das melhores coisas que aconteceu em minha
vida... – acabei falando isso alto, Jocelinne me olhou confusa. – Ah, ter pego
aquele espelho de Moan na terra... – falei. Jocelinne ergueu uma
sobrancelha.
– Acha bom estar em um mundo cheio das mais terríveis criaturas, ter
um sangue amaldiçoado e estar sendo perseguida por um mago que deseja
dominar os Doze Mundos só para manter seu amor por poder sob controle?
– Perguntou ela olhando-me torto, seu sarcasmo era tão sutil que mal o
percebi.
– Acho bom estar num mundo que me encaixo, que tem defeitos e
problemas como acredito que todos os outros mundos devem ter, tenho um
sangue amaldiçoado e se não fosse por ele não teria salvo Ewren... – Claro,
se não fosse por mim talvez ele não tivesse se colocado em risco, mas mesmo
se eu não existisse, haveria outra Arbarus com o sangue amaldiçoado
rodando por aí e talvez ela não tivesse a mesma vontade de lutar que eu
tinha. - As coisas mais terríveis que passamos servem para nos fortalecer! –
Arcádius que estava ao nosso lado me escutando, sorriu.
– Ela não tem nada a ver com suas filhas e netas, Jocelinne! Nem
parecem que são da mesma família!
– O que quer dizer? – Perguntei.
– Nada de importante. – Disse ele rindo e acariciando minha cabeça.
Odiava quando faziam isso, pareciam que estavam me tratando como
criança que não precisava saber das conversas dos adultos.
Jocelinne nos mostrou todo o templo, ele era muito aconchegante, era
bem parecido com o castelo de Lotus Vale, só que menor e mais colorido.
– Ficaremos aqui enquanto decidimos o que fazer. – Disse Eirien
enquanto íamos para a cozinha para preparar algo para comer. Estava sem
ânimo para cozinhar, então usei meus poderes para fazer algo aparecer já
que estávamos protegidos pela barreira que Jocelinne havia feito, então não
achei que houvesse problema com isso.
– É bom não exagerar, Leona! – Disse Eirien preparando um chá. – Não
sabemos o quão forte pode ser o poder de Fairin, ele pode nos detectar.
Quando voltamos com o lanche para a sala onde estavam todos
reunidos, Arcádius começou a falar sobre sua estratégia, como deveríamos
agir num primeiro momento.
– Bom, o primeiro passo é descobrir o que Fairin anda fazendo, temos
que espionar o que ele já conseguiu para que possamos planejar com cuidado
nossas estratégias contra ele e quem podemos colocar numa possível lista
de aliados.
– Uma pergunta, por que ele precisa de um exército se o objetivo dele
é se tornar o mais forte com o sangue amaldiçoado? – Perguntou Serena
tirando a pergunta de minha boca.
– É simples Serena, sem um exército, sem pessoas que o apoiem ele
teria que usar seus poderes para destruir as pessoas que se opõe a ele para
conseguir dominá-las através do medo. O objetivo de Fairin não é matar nem
destruir, ele quer mandar! Ele quer ter o controle absoluto, ele é um garoto
com uma fazenda de formigas. Se ele quebrar a fazenda de formigas e
esmagá-las, o que vai restar para ele dominar? – Respondeu Arcádius – Se
ele tiver um exército, significa que tem pessoas que apoiam sua causa, e
assim mais pessoas acreditarão que ele está agindo por uma boa causa e o
apoiarão.
– Então nós temos que fazer o mesmo, buscar pessoas que nos apoiem?
– Perguntou Serena.
– Sim, temos que achar aqueles que ainda são fiéis a Eirien e reunir um
exército para enfrentar Fairin, pois de qualquer forma teremos que derrotá-
lo para destruir Veruza e a Maldição. – Respondeu ele.
– O que Fairin prometeu a eles? Como foi que ele convenceu tanta
gente a ficar ao seu lado? Não consigo pensar em nada que ele possa ter dito
que fizesse as pessoas o seguirem sem ele usar seus poderes para convencê-
las! – Falei – Afinal, o reinado de Eirien era muito bom! As pessoas não
tinham do que reclamar para aceitar um novo líder como ele! – Eirien olhou-
me com ternura e suspirou.
– Eu fazia o melhor que podia, Leona, mas Fairin ainda está usando o
corpo de Aeban e ele foi colocado no posto dele por meu pai, Narlevi, ele
tinha uma aceitação melhor que eu, pois eu sou a primeira Rainha mulher
de Amantia, para o povo daqui um homem é mais confiável e comanda com
a cabeça e não com o coração. Só consegui que me aceitassem bem quando
venci o gigante com um único golpe. – Ela explicou.
– Mas Ruthar e Turiel morreram e Bargon apoiou Fairin para que ele
assumisse o controle de Amantia, até onde o povo sabe, Eirien apenas
desapareceu, devem achar que ela está em um dos outros Doze Mundos se
escondendo de Arcádius. – Jocelinne falou. – Afinal, quase ninguém tem
conhecimento sobre Fairin, se alguém se lembra dele, é como um mago do
conselho que foi afastado, já Arcádius... – Ela o encarou.
– Então o primeiro passo é verificar o que foi feito por Fairin, depois
nos mover atrás de quem é fiel à Eirien e à Amantia e lhes explicar o que está
acontecendo. – Disse Arcádius aborrecido.
– Como provaremos que falamos a verdade? – Perguntei, meu coração
pesou de repente – Bloqueei as mentes de todos nós para que Fairin não
pudesse descobrir sobre as meninas... – ao falar delas senti um nó na
garganta. Todos me olharam surpresos.
– Como fez isso? – Perguntou Jocelinne.
– Com o poder que Áries me deu... – não queria entrar em detalhes
para que não perguntassem o que ofereci em troca de tal poder. – Ela me deu
umas pílulas que ao ser ingeridas poderiam impedir qualquer um de ver a
mente do outro.
– E como faremos se nos separarmos? Não poderemos ter a certeza de
que alguém não está usando a aparência roubada para se infiltrar! – Eirien
parecia nervosa. Todos ficaram pensativos, procurando uma solução.
– Tive uma ideia! – Gritou uma voz atrás de nós entrando pela porta
principal. Assustados puxamos nossas armas.
– Lórien? – Falei. – O que está fazendo aqui? – Ela andou até mim e
tocou minha testa com a sua. Não havia dado o remédio de Áries para ela,
então pude ver suas últimas memórias. Depois que me mostrou as memórias
ela mostrou a marca de Medras em seu dedo.
– Usei magia de Antares e me dividi em duas! – Disse ela sorrindo e me
abraçando. – É temporário, leva cerca de três semanas para desaparecer,
então como o tempo lá passa mais lentamente eu decidi que viria para cá
ajudar vocês! Não queria perder a luta e vocês não poderiam viver sem
minha genialidade! – Disse ela sorrindo.
– Então esse corpo que está usando... – Ewren começou.
– Sim, apenas um corpo de argila com uma mecha de cabelo minha!
Teleportei um Summon para com parte de minha mente e com um pouco de
meu cabelo para cá e de lá o controlei, aí fiz a magia para separar minha
mente em duas! – Disse ela jogando os cabelos para trás.
– Então você está focada lá e aqui ao mesmo tempo? - Perguntei.
– Quase isso, eu separei minhas mentes, então só posso saber o que
está acontecendo lá quando esse corpo se desmanchar e minha mente voltar
ao outro por completo, assim, as memórias que tenho daqui passarão para o
outro corpo também!
– Genial Lórien! – Exclamei apertando-a num forte abraço. Vi suas
últimas memórias de Evenox, ela estava com Medras pouco antes de fazer a
magia vi o beijo que ele deu nela como se fosse uma despedida, já que uma
parte da mente dela estaria aqui, então ela sentiria falta dele, vi as
menininhas no berço dormindo tranquilamente, isso me deixou ainda mais
tranquila.
– Você disse que teve uma ideia para nos separarmos e voltar e nos
identificarmos, certo? – Ewren perguntou parecendo aliviado também.
– Sim, tirei a ideia de Nellena. – Disse ela pegando minha espada e
mostrando a marca na lâmina. – Serena, me dê sua espada! – Disse ela
esticando a mão para que Serena lhe entregasse sua espada. Ela a entregou,
quando Lórien uniu as duas, o desenho do Lobo e do Gato na lâmina
ascenderam e brilharam.
– Interessante, quando elas estavam juntas seus símbolos brilhavam!
– Arcádius falou maravilhado pegando as espadas e olhando de perto.
– Mas corremos o risco de perder as armas, Lórien! – Disse Hassan que
estava em silêncio observando tudo.
– Ah, eu disse que tirei a ideia daí, não que ia usá-la da mesma forma!
– Lórien como sempre, delicada como um coice de mula.
– Então o que pretende fazer? – Ewren perguntou a ela tentando
amenizar a grosseria dela.
– Simples, todos me deem as mãos! – Ela abriu a palma da mão no meio
de nós, tocamos em sua mão um por um até formar um montinho. Ela sorriu
enquanto marcas vermelhas e brilhantes se acenderam em nossos braços,
senti uma dor terrível no meu braço direito, como se estivesse pegando fogo.
– Ah! Lórien! – Gritei olhando as três marcas vermelhas em meu braço,
ardiam como se alguém tivesse me marcado com um ferro em brasa, e acho
que era exatamente o que Lórien havia feito. Serena e Jocelinne também
gritaram esfregando os braços, pouco a pouco a vermelhidão foi cedendo,
dano lugar a três tatuagens claras, quase da cor da pele, com o formato das
três luas de Evenox. Percebi isso pois uma estava parcialmente destruída.
– Agora juntem elas! – Disse Lórien unindo as mãos comigo, as
tatuagens se acenderam e começaram a brilhar, um brilho prateado bem
fraco, mas visível. Conforme os outros foram unindo as mãos o brilho foi
aumentando, até ficar tão forte quando todos uniram as mãos que clareou a
sala.
– Lórien! Você é um gênio! Não sei o que faria aqui sem você! – A
abracei com força agradecendo mentalmente por ela estar aqui.
– Eu sei! Vocês não são nada sem mim! – Ela retrucou rindo e me
apertando com força também, era um pouco menos doloroso estar em
Amantia com Lórien.
– Lórien, você não está com a mente blindada, e se você for pega? –
Perguntou Hasan olhando-a desconfiado.
– É simples, eu vou me desmanchar, assim minha mente volta
imediatamente ao meu corpo verdadeiro, igual ao que acontece com os
Summons. – Respondeu ela revirando os olhos.
– Então o que temos que fazer agora é sair por aí e espionar, certo? –
Perguntou Serena nos olhando confusa, ela e Hasan deviam estar se sentindo
completamente deslocados do grupo, fiquei com pena deles, mas agora não
era a hora de tentar animá-los.
– Então faremos isso quando estiver amanhecendo, pássaros não
costumam voar a noite! – Arcádius nos lembrou, então teríamos algumas
horas para descansar antes do amanhecer. Subimos até os quartos, Lórien e
Eirien foram para o mesmo quarto, Serena subiu junto com Hasan, mas
parou em frente à porta do quarto que eu havia entrado com Ewren.
– Acho melhor você ficar aqui! – Disse Ewren sorrindo para Serena, ela
olhou discretamente para a porta ao lado e ficou corada. Ewren beijou minha
testa e saiu. Já que íamos ficar sozinhas, arrastei Serena até o quarto em que
Eirien e Lórien estavam, precisava enturmar Serena para que ela não se
sentisse tão deslocada.
– Podemos entrar? – Perguntei abrindo um pouquinho a porta do
quarto.
– Claro! – Eirien sorriu para nós e fez um gesto para que entrássemos.
Lórien estava deitada numa cama toda largada.
– Então, Serena. – Disse ela se ajeitando para ficar de frente para nós.
– O que está rolando entre você e Hasan! – Serena perdeu a cor do rosto e
arregalou os olhos.
– Como assim? Não está rolando nada! Ele é um amigo de infância só
isso! Eu só não sabia que ele era tão... – ela me encarou como se eu pudesse
continuar a frase e achar as palavras para descrever Hasan.
– Tão diferente! – Respondeu Eirien. – Minha Jovem, você é como um
livro aberto, é mais fácil de ler você do que Leona!
– Ela está com uma cara de apaixonada, não é? – Lórien estava
implicando com ela como fez comigo a respeito de Ewren. Serena acabou se
entregando, cobrindo o rosto e ficando ainda mais vermelha.
– Meu deus o que é que está acontecendo! – Disse ela soltando as mãos
e olhando para a porta do quarto. – Eu nunca me senti assim! – Eu ri
abraçando-a e a colocando sentada na cama ao lado de Lórien.
– Bem-vinda ao clube! – Falei ajeitando seus cabelos. Lórien sorriu e
mordeu os lábios e passando os dedos sobre sua nova marca no dedo anelar.
– Medras é um amor, não sei por que nunca reparei nele antes. – Disse
ela fechando os olhos. – Esse corpo se cansa mais facilmente que o
verdadeiro, estou com tanto sono... – Ela bocejou e abraçou Serena e se
atirou para trás, as duas caíram na cama como se já fossem amigas há séculos
e agora brincavam juntas. Serena começou a contar as coisas que fazíamos
quando éramos menores, o quanto aprontávamos e nunca éramos pegas.
– Vocês deveriam descansar! Os Summons gastam muita energia! -
resmungou Eirien para nós, pela primeira vez a vi como uma senhora
rabugenta e mandona.
Quando Serena, Eirien e Lórien pegaram no sono, voltei para o outro
quarto e me sentei em uma cadeira perto da janela para observar o céu,
porém estava nublado e a chuva havia começado a cair bem fina contra o
vidro.
– Sem sono? – Ewren estava apoiado na porta olhando para mim.
– Na verdade estou com sono, só não estou conseguindo dormir. –
Falei batendo de leve as pontas dos dedos no vidro frio, coloquei minha
palma na janela e por um instante pude ver uma névoa em formato de uma
mão cobrir a minha, puxei a mão do vidro e olhei novamente, não havia
nada. Ewren veio até mim, me pegou no colo e me colocou na cama.
– O que vai fazer? – Perguntei assustada, o castelo estava cheio demais
para ter qualquer contato com ele aqui, duvido que todos estariam
dormindo tranquilamente a ponto de não poderem escutar. Ewren sorriu
me encarando com seus olhos azul-prateado.
– Você só pensa coisas pervertidas, não é! – Ele deitou de frente para
mim – feche os olhos. – Obedeci, pude sentir o calor de sua respiração bem
próxima ao meu rosto, ele beijou minha testa e começou a cantar baixinho.
Meu coração deu um pulo, sua voz fez todo meu corpo se arrepiar.
– Acho que não está ajudando... – falei apertando minha mão contra
seu peito.
– Shiii, fique quieta se não, não vai ajudar! – Ele sussurrou e continuou
a cantar baixinho.
– Espere... – pedi abrindo os olhos e segurando sua mão – Tem algo que
estou querendo fazer desde o casamento de Lórien em Evenox... – beijei sua
mão onde estava a marca dourada, como se a estivesse puxando para mim,
então as marcas lilás de minha mão começaram a ficar alaranjadas e foram
clareando até ficarem douradas. Ewren sorriu e me beijou, depois voltou a
cantar baixinho. Ao fechar os olhos novamente me vi em um campo aberto
cheio de flores e com o sol brilhando aquecendo minha pele, uma névoa
começou a me cobrir desde os pés, ao chegar na cabeça, respirei fundo e
adormeci.
Acordei com o cheiro de comida. Ewren não estava mais no quarto,
levantei e olhei pela janela, ainda não havia clareado, a chuva havia estiado
e as nuvens escuras já não cobriam mais o céu. Desci as escadas até onde os
outros estavam reunidos para tomar café. Lórien e Serena estavam juntas,
cochichando e dando risadinhas olhando para mim. Até imagino o que elas
estavam pensando, já que Hassan também me olhava de canto de olho e
Ewren estava sorrindo de lado como se fizesse de propósito para que todos
pensassem no que devia ter acontecido. Meu rosto esquentou e isso só
piorou a situação.
– Dormiu bem? – Perguntou Lórien beliscando minha bochecha.
– Como uma pedra, Lórien! – Murmurei enfiando um pedaço de pão
na boca. Aparentemente, não era o único alvo de pensamentos errados essa
manhã, Jocelinne estava com cara de quem não havia dormido e Arcádius
sorria triunfante. Acho que Ewren só estava sorrindo por causa disso, para
disputar algo invisível entre os pensamentos dos dois.
Tomamos café rapidamente e fomos para a sala, iríamos partir logo
cedo, enquanto Sirius e Áries se erguiam preguiçosamente no céu.
– Vamos nos separar e voar por aí para ver o que descobrimos. Ewren,
Leona Jocelinne e eu iremos invocar os Summons e sair, Hasan, Serena,
Eirien e Lórien ficam aqui e façam a guarda, qualquer coisa de errado que
acontecer vocês nos trarão de volta! – Disse Arcádius levantando-se de sua
cadeira e pegando um colar com amostras. Amaterasu parecia incomodada.
Lórien a encolheu e afagou suas orelhas.
– Amaterasu, fique na torre principal por favor, vigie a movimentação
de lá de cima! – Amaterasu estava incomodada por que a deixaríamos de
lado. Afaguei sua cabeça.
– Quando eu precisar de você, eu vou te chamar está bom assim? –
Falei para ela, que se alegrou e lambeu meu rosto.
– Vamos logo então! – Joceline tirou a fita que amarrava sua trança,
era cheia de penas coloridas e pequenas bolinhas de pelos. Ela apertou uma
das penas e uma grande ave vermelha de olhos apagados apareceu em sua
frente, Jocelinne transferiu sua mente, abrindo seus olhos cor de vinho para
nós. Lórien ajeitou seu corpo em cima do sofá. Em seguida fiz a mesma coisa,
escolhi uma pena menos chamativa, uma pena de cor roxa e marrom e fiz a
ave aparecer, era um pássaro pequeno, comparado ao pássaro que Jocelinne
havia escolhido.
Me preparei e depois de um suspiro, transferi minha mente abrindo
os olhos no corpo do pequeno pássaro. Virei para trás e observei Ewren
pegar meu corpo e o colocar numa poltrona, minha cabeça pendeu para o
lado, ele arrumou meus cabelos e sorriu, senti meu pequeno coração de
pássaro acelerar, os anos iriam se passar e mesmo assim não conseguiria
acreditar que ele era meu. Ewren se virou para me encarar, dando aquele
seu sorriso perverso, ele sentou no outro sofá e fez uma ave cinzenta
aparecer de um pingente com uma pena prateada que estava em seu cabelo.
Ele transferiu a mente e parou ao meu lado.
Arcádius foi o último a transferir a mente, achei que ele fosse apenas
se transformar em um pássaro como havia feito antes, mas depois me dei
conta de que se o fizesse e fosse capturado não teria escapatória, com os
Summons era só se desfazer e voltar ao corpo.
– Leona, a área que você conhece melhor aqui em Amantia é Lotus
Vale, então vá para aquela área e veja o que consegue descobrir por lá.
Ewren, vá para o Castelo de Cristal, Jocelinne para a floresta dos elfos e veja
o que aconteceu por lá sem a liderança de Ruthar e Arcádius, vá para Vintro!
– Disse Eirien para nós. Ela ergueu os Braços, Ewren e eu subimos neles,
Lórien pegou Arcádius e Jocelinne. Elas nos levaram até a porta do Templo.
– Vão com cuidado, não sejam pegos, por favor! Se não eles vão saber
que estamos aqui e virão atrás de nós. – Disse Eirien num sussurro para nós
dois. Abri as asas e voei livremente pelo céu, era uma sensação realmente
incrível o vento passando por entre as penas, Ewren circulou em volta de
mim, brincando e dando rasantes, ele não fazia ideia de quanto era difícil
para mim controlar o voo já que eu fazia isso a menos tempo que ele. Ewren
sabia que eu não conseguiria achar o caminho para Lotus Vale sozinha,
voamos juntos até chegar perto o suficiente para que eu pudesse reconhecer
a cidade de Lotus Vale Flutuando. Quando ele avistou a cidade, me deu uma
bicada na cabeça como despedida e disparou em outra direção, desviei um
pouco para a esquerda e fui em direção à cidade. Os sóis estavam nascendo,
o calor se misturou com o vento frio da madrugada, dando uma sensação
maravilhosa entre minhas penas delicadas.
Não parecia que havia mudado muita coisa no tempo que estive fora,
A única diferença visível era a bandeira que tremulava com o vento presa ao
mastro em cima da torre principal, antes era uma bandeira azul com a flor
de Lis dourada, agora era uma bandeira vermelha com uma mão segurando
uma serpente. Nunca havia visto aquele símbolo em nenhum dos livros da
história de Amantia que Ewren e minha mãe me forçaram a ler.
Mãe, um nó se formou em minha garganta ao lembrar dela, tinha que
continuar, tinha que vencer por ela, já que havia se sacrificado em vão, não
podia perder para ele. Pairei sobre a torre central onde ficava a sala de Aeban
e a circulei até pousar no para peito da sacada. A porta estava aberta, meus
olhos varreram a sala num instante, o que vi lá dentro quase me fez
desmanchar o pássaro e voltar ao meu corpo. Demétrius, Bargon e Guinn
estavam conversando ali dentro despreocupadamente.
Guinn estava sentado à mesa, Bargon no sofá e Demétrius de pé ao
lado dos dois olhando para fora. Impossível, o vi morrer! Vi Ewren arrancar
sua cabeça e ele se evaporar no ar! Meu coração batia tão rapidamente que
podia escutar um zunido dentro de minha cabeça.
– ...Tenho certeza de que eles se juntarão a nós em breve, Bargon. –
Disse Guinn girando uma lâmina sobre um ponto no mapa em sua mesa. Me
posicionei melhor no beiral para ver que local do mapa que estava circulado.
– Eles ainda acham que Eirien pode voltar, os elfos de Górtia são muito fiéis
a ela, mas eu lhes dei um prazo de dois meses para que se decidissem, ou
estariam a favor ou contra nós. – Ele enterrou a faca no mapa, fazendo-me
dar um pulinho, disfarcei cantando baixinho e mexendo nas asas com o bico.
Demétrius virou os olhos em minha direção.
– Um cântaro roxo em Lótus Vale? Deve ser um sinal de boa sorte! –
Disse ele rindo vindo em minha direção.
– Eles não são muito dóceis, não vivem nessa região, deve ter sido
trazido com a corrente de ar de ontem! – Explicou Bargon me olhando de
canto de olho e me ignorando. Olhei novamente para Guinn.
– Os Lobisomens e Vampiros também se recusam a se unir a nós, eles
temem que “a sacerdotisa das águas” volte para Amantia e acabe com o
poder deles! – Disse Guinn num tom de deboche. Eles estavam com medo de
mim? Antes que pudesse perceber senti duas mãos me segurando, assustada,
sacudi as asas tentando me soltar e piei alto. Demétrius segurava-me, mas
não estava apertando, apenas queria me prender.
– Consegui pegá-lo! – Disse ele rindo.
– Largue esse bicho aí Demétrius! Você tem trabalho a fazer! Fairin
ordenou que você encontrasse Pytia e a matasse, se lembra dela? Sua
amiguinha traidora? – Bargon cuspiu as palavras como se fosse uma doença
que ele queria se livrar. Traidor é você! Demétrius, porém, endureceu ao
ouvir o nome de Pytia e ficou sério, me encarando, quando percebeu que eu
havia parado de me debater ele passou os dedos em minha cabeça
carinhosamente.
– Sabe por que gosto de animais? – Disse ele com sua voz rouca. – Eles
não se importam se você é um monstro ou não, eles vão esperar até o último
momento para reagir, até não terem mais tempo... – ele foi apertando suas
mãos, senti que estava quase parando de respirar. Mas ele afrouxou. E
mostrou seu sorriso de agulhas para mim, o mesmo sorriso que um dia me
fez acreditar que ele era uma boa pessoa.
– Bargon já disse o que você tem que fazer, não é? O que está
esperando para achar Pytia e acabar com ela? Fairin se irritar e acabar com
você? Se eles voltarem para Amantia e a encontrarem, ela com certeza
contará tudo para Arcádius e eles vão saber sobre a outra filha da
Sacerdotisa ser a mais velha, isso se já não descobriram e estão usando o
sangue dela nesse exato momento para virem mais fortes até nós! – Guinn
esbravejou socando a mesa fazendo-a ceder aos seus pés e se desmanchar
em uma pilha de farpas e pedaços de madeira. Sorri mentalmente e
triunfante, ele não poderia usar o sangue de Serena, pois eu era a mais velha.
– Já estou indo! – Achei que Demétrius ia me soltar, mas ele apenas
subiu no canto do parapeito, depois subiu no telhado da torre e saltou para
a torre norte ainda me carregando, então pulou para fora da fortaleza em
direção à floresta. Ele aterrissou suavemente, dobrando seus joelhos, sua
grossa trança ruiva me acertou. Belisquei seu dedo com o bico para que me
soltasse, mas ele apenas riu e me ajeitou nas mãos. Demétrius correu
rapidamente entre as árvores, saltando grandes distancias até parar a beira
de um lago e se sentar no chão. Novamente o belisquei, com força suficiente
para tirar um pedaço da pele.
– Continua arisca comigo não é Leona! – Novamente meu coração se
jogou contra minhas frágeis costelas enquanto eu tentava me soltar. Como
ele sabia que era eu? – Curiosa para saber como eu sei que é você? Meu
sangue vibra quando você está perto de mim, por causa do seu que eu tomei
a força, se esqueceu? – Ele riu e me pôs no chão, mas sem me soltar. Ele
segurou meu bico e o puxou para cima, um brilho avermelhado saiu de suas
mãos. Ele me esticou até eu escutar pequenos estalos e sentir todo o corpo
do Summon arder. – Agora fale comigo! – Disse ele me encarando. Olhei
atordoada para meu reflexo na água. Estava em forma humana, ainda
coberta por uma camada de penas que formavam um vestido, mas estava
definitivamente em minha forma humana!
– O que é isso! O que você fez! – Esbravejei tentando me levantar do
chão, mas minhas pernas não permitiam.
– Quando tomei seu sangue, roubei um pouco do seu poder também!
É fraco, mas é bem útil! Não precisa se preocupar, quando você o desfizer ele
vai voltar a ser pássaro! – Disse ele levantando meu queixo.
– O que você quer de mim agora? – Murmurei.
– Nada, só queria dizer que estou do seu lado agora! – O encarei
desconfiada, vindo de Demétrius eu esperaria qualquer coisa, menos ajuda.
– Por quê? – Novamente tentei me levantar, mas minhas pernas ainda
estavam dormentes.
– Pois naquele dia, no castelo de Cristal quando Eirien ia me matar,
mesmo depois de tudo que fiz para você, você ainda quis me poupar! – Ele
sorriu mudando para uma forma mais humana, como na vez que o vi em
Arcádia, seus olhos não estavam mais cinzentos, estavam em um tom de
marrom quase dourado.
– Não me entenda mal, Demétrius! Eu só queria usar você para achar
Arcádius! – Ele ergueu uma sobrancelha para mim.
– Sabe o que eu reparei? Você mente muito mal! Quando você mente,
sua voz fica mais fina. Uma mudança quase imperceptível para um humano!
– Ele sorriu. – Mas a minha audição é perfeita, posso escutar qualquer coisa
que quiser! Por exemplo... – ele ficou em silêncio, fechou os olhos e virou o
ouvido em direção à fortaleza. – Bargon e Guinn estão tramando me matar
caso eu não volte com a cabeça de Pytia... – disse ele olhando novamente
para mim.
– Não acredito em você! – Falei, tentei me levantar pela última vez,
Demétrius revirou os olhos e segurou meu braço.
– Você fez um pássaro! Não um corpo humano, só tem energia
suficiente para mover uma parte desse corpo e está usando essa energia na
cabeça! Então pare de tentar sair! – Logo que ele falou isso, percebi que onde
ele estava me segurando, não podia sentir nada, estava tudo dormente. –
Estou falando a verdade, achei que vocês tivessem fugido de Amantia e que
não voltariam, então mantive Moan escondida para não ser encontrada por
Veruza ou dominada por ela. Ontem à noite senti que você havia voltado e
me espalhei pelos céus procurando pelo esconderijo de vocês, até ontem
ainda estava em dúvida se iria ou não contra Fairin. Mas eu vi uma coisa que
me fez ter certeza do lado que eu estava. – Ele olhou para seu reflexo no lago
e o sacudiu formando pequenas ondas.
– O que você viu? – Perguntei.
– Esperança... – ele me encarou com seus olhos castanhos, prendendo-
me com seu olhar – comecei a chover em volta do templo ontem, você estava
em uma das janelas e tocou o vidro com a mão, eu senti seu calor através do
vidro, depois eu vi aquele elfo te colocar na cama e cantar para você dormir.
No outro quarto vi sua irmã dormindo com aquela hibrida louca... – ele
sorriu estreitando os olhos para mim.
– Ainda não acredito em você! Por que isso poderia fazer você mudar
de ideia? – Perguntei.
– Como eu disse, esperança. Não é por que uma pessoa é má que ela
não merece uma chance de ser feliz! Você não deu uma chance para ele? E
ele era mau, talvez pior do que eu, e mesmo assim ele teve uma chance e a
agarrou com unhas e dentes. – Disse ele serrando os punhos. – Eu te devo
isso também, só me salvei aquele dia pois usei seus poderes para fazer aquele
Summon.
– Olha... – comecei a dizer, mas ele segurou meu rosto e encostou seu
rosto no meu. Vi ele em Lastar, entrando pela porta do esconderijo de
Arcádius com algo nas mãos. Ele andou pelos corredores e entrou num
quarto grande, alguém estava deitado numa cama do outro lado do quarto.
De dentro da bolsa que carregava ele tirou um pote com um caldo e levou
até a cama. A mulher se levantou e sentou encostada na cabeceira da cama
ela era muito parecida com Serena, tirando os olhos amarelos e a pele mais
clara, meio acinzentada. Quando ele lhe entregou o pote ela o colocou na
cabeceira e puxou ele para um beijo. Quando ele começou a tirar suas roupas
a memória se desfez.
– É Moan? – Perguntei, minha respiração ficou difícil e minha cabeça
ficou pesada.
– Sim, estou mantendo ela escondida lá em Lastar bem longe de Fairin
e Veruza, no esconderijo subterrâneo de Arcádius, se não acredita em mim,
pergunte a ele! Ele sabe sobre nós, eu a levei para lá quando Fairin a feriu,
ela não está se recuperando muito bem, o corte se abre todas as manhãs e
cicatriza a noite. – Disse ele para mim. Não parecia estar mentindo.
– Por que fez tudo aquilo, por que tentou me matar? O que ele
prometeu a você? – Perguntei me referindo a Fairin.
– Ele prometeu que não mataria Moan quando ela voltasse, quando ela
o traiu e foi te buscar no outro mundo para te levar a Arcádius. Fairin falou
que a perdoaria e não lhe faria mal, mas eu precisava ajudá-lo a pegar você.
– Ele bufou e fechou os olhos, pelo visto havia sido enganado por Fairin
também. – Ainda estava em dúvida quanto a ajudá-lo ou não pois se eu o
ajudasse ele poderia curar Moan.
– Quando foi que ele a pegou, até onde eu sei, ela estava com Arcádius!
– Logo que vocês partiram, como não havia cumprido com minha
missão, que era levá-la até ele, ele capturou Moan na Floresta das almas e a
levou até lá. Veruza tirou uma lâmina negra de dentro de um baú em frente
à um altar e esfaqueou sua própria filha, disse que ela morreria aos poucos,
que eu poderia tentar qualquer coisa, mas ela morreria em poucos dias.
– E como ela está viva? – Perguntei, Demétrius abaixou a cabeça.
– Estou dando um pedaço de cristal da montanha azul todas as noites
para ela, eu faço um pó com o cristal e lhe dou pela manhã, durante o dia ele
cicatriza e melhora, mas na madrugada, volta a se abrir. É doloroso, ela diz
que queima como ferida de unha de Vampiro. – Quando ele disse, lembrei da
cicatriz em minhas costas, e de como parecia pegar fogo na hora.
– Então você precisa de mim para salvá-la e em troca vai ficar do nosso
lado? – O olhei desconfiada.
– Estarei do lado de vocês mesmo se ela morrer, só para ter o prazer
de rasgar a garganta de Fairin no final! – Rosnou ele. – Mas de qualquer
forma, estarei lá com Moan esperando por vocês. – Ele se levantou e me
ergueu do chão.
– Demétrius, uma última pergunta, por que querem que você mate a
irmã de minha mãe? O que ela fez? – Perguntei.
– Ela os traiu também, quando descobriu que Veruza estava no corpo
de sua filha ela ficou possessa, Pytia gritou com Veruza “Se minha filha não
está mais aí dentro, seu corpo não vai pertencer a mais ninguém! ” E tentou
matar Veruza, Fairin não estava por perto! Pytia chegou a atravessar sua
espada do peito de Veruza e fugiu quando achou que ela ia morrer, mas
Fairin chegou a tempo de salvá-la, tirou a alma de Veruza do corpo de Belve
e colocou sua alma em outro corpo.
– Então Veruza não está mais no corpo de Belve é isso?
– Não, não está... ela está no corpo de uma jovem morena de cabelos
azuis, uma metamorfa, Brigith, acho que foi esse o nome que eles disseram...
Eles a capturaram em Torre das Nuvens semana passada...– disse ele
pensativo – Bom, preciso ir achar Pytia, não posso me dar ao luxo de morrer
agora! – Disse ele rindo. “Animalium discutiunt”! Falou ele baixinho em meu
ouvido enquanto via meu corpo virar uma nuvem nas mãos de Demétrius.
2
Ewren:
Leona:
D
emétrius não nadava tão rapidamente quanto as Sereias
que me raptaram, mas estávamos bem perto do navio
agora, podia sentir a presença de Ewren e Amaterasu.
– Não conte a ele que sei das suas filhas, tudo bem?
– Demétrius falou após um longo tempo nadando em
silêncio.
– Não vou contar.
– Já sabe o que vai fazer se não conseguirmos derrotá-lo? – Estávamos
no mar, nas águas frias e mesmo assim suas palavras me deixaram com um
frio terrível na barriga.
– Tenho um segundo plano... – Demétrius parou de nadar para poder
me encarar.
– Espero que o seu segundo plano não seja se unir a ele!
_ meus planos não incluem traição, Demétrius! – Respondi friamente.
– Você é filha dele, talvez...
– Eu não vou me unir a ele! Não me julgue como uma pessoa que pode
ser comprada com poder! – Ele me encarou por mais alguns instantes antes
de subir a superfície. O navio estava parado no mesmo lugar nos esperando.
Usei meus poderes para fazer uma escada e subir a bordo. Ewren estava nos
esperando, ele me deu a mão e me puxou para um abraço.
– Você só arruma problemas, sabia! – Disse ele me apertando com
força.
– Arrumei mais aliados também! – Respondi.
– Ela conquistou minha irmã dando algumas patadas nela! – Disse
Demétrius rindo e sentando-se no chão.
Moan veio ao nosso encontro e sentou-se ao Lado de Demétrius
também. Amaterasu veio até mim fazendo uma festa e abanando o rabo.
– Vamos até a cabine, tem que trocar essas roupas molhadas! – Ia dizer
que podia fazer isso com meus poderes, mas Ewren me levou para a cabine
antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Serena já não estava mais na
cabine.
– Você está bem? – Perguntei a ele.
– Onde vocês estavam, o que aconteceu?
– Algumas Sereias me sequestraram para me entregar a Fairin, parece
que ele e Guinn espalharam fotos de nós com o valor da recompensa. Elas
desistiram de me entregar a ele pois eu parecia uma boa refeição, então
Demétrius apareceu e matou elas. Depois fomos ao palácio dos nove Dragões
pedir ajuda à irmã dele. – Resumi a história da melhor maneira que pude
escondendo a parte das bebês.
– Misannin fez alguma coisa contra você? – Perguntou ele olhando-me
preocupado.
– Não, ela não fez nada, só rosnou um pouquinho, mas a coloquei no
lugar dela! – Respondi, Ewren ficou me encarando por um tempo, olhando
bem fundo em meus olhos depois começou a rir. – Qual é a graça?
– Você é inacreditável, parece um animal selvagem, brigona, teimosa
e quando alguém te provoca você apenas responde à altura!
– O que você esperava que eu fizesse? Batesse nelas porque você ficou
com elas antes de mim? – Ele pareceu desconcertado.
– Talvez...
– É por isso que você odeia tanto o Demétrius? Achava que ele poderia
fazer algo comigo por vingança ao que você fez com a irmã dele?
– Na verdade isso nunca passou pela minha cabeça! Mas faz sentido.
– Quando vocês se viram em Arcádia eu tinha certeza de que não o
conhecia! Pelo jeito que ele falou com você.
– Leona, Amantia é um mundo bem menor que a terra! As pessoas aqui
vivem muito, muito mesmo! Eu conheço quase todas as pessoas de Amantia
e quase todos me conhecem, você e Serena que são as novidades desse
mundo! Quanto a Demétrius, o conhecia de vista apenas, ele era guarda do
Palácio dos nove dragões. Só soube que ele era irmão de Misa quando ela me
falou.
– Entendo... – bufei desviando o olhar.
– Está chateada comigo por causa disso? – Ele segurou meu queixo com
o polegar e o indicador e virou meu rosto para ele novamente.
– Claro que não, não tem porque eu estar chateada por isso.
– Me desculpe.
– Pelo que?
– Se eu tivesse tirado você da água com meus poderes na hora que
você disse que não conseguia usar os seus, você não teria sido levada por
elas.
– Foi bom, conseguimos mais ajuda! Sabia que essa Misa é mãe de Ami?
– Isso eu não sabia! – Ele ficou pálido de repente e soltou meu rosto.
– Relaxa, Ewren! Ela é filha de Castien, não é sua não! – Demétrius falou
do outro lado da porta dando uma risada divertida.
– É feio ouvir a conversa dos outros sabia? – Respondi. Ewren parecia
aliviado agora. – Vai continuar aí escutando a conversa? – Perguntei, ele
ficou em silencio fingindo ter saído, fiz uma adaga longa aparecer em minha
mão e a atirei contra a parede de madeira do navio, a lâmina atravessou a
madeira e ouvi um barulho estranho do outro lado.
– Ficou louca? – Gritou ele – Você quase acertou minha cabeça!
– Sai daí ou eu mando Hasan fazer peixe frito para o almoço! – Gritei.
– Não tenho gosto bom, sou meio demônio também! – Disse ele
bufando. Ouvi barulho de passos em direção a escada e sorri.
–Você fica assustadora as vezes, sabia? – Ewren passou os dedos no
meu pescoço, lhe dei um beijo no queixo e ele me puxou pela cintura.
– Cadê Serena? – Perguntei afastando-me em direção à porta.
– Estava lá fora com Hasan! Ela acordou assustada na hora que o navio
parou. – Ele puxou meu braço antes que eu chegasse à porta e me derrubou
no chão prendendo-me com as pernas e segurando minhas mãos acima de
minha cabeça.
– O que acha que está fazendo? – Perguntei.
– Não estou fazendo nada... – ele sussurrou mordendo de leve minha
orelha, meu coração acelerou. O beijei enquanto soltava minhas mãos,
quando tentei sair ele riu e mudou de aparência, seus cabelos prateados
estavam roçando em meu pescoço, ele abriu as asas e as fez nos cobrir
enquanto levantava meu vestido.
– Ewren, o que está fazendo? – Minha voz estava dura, senti algo
errado com ele. Segurei seu rosto e o virei para mim, seus olhos estavam
vermelhos e brilhantes.
– Já disse que não estou fazendo nada demais! – Sua voz estava mais
grave ele me apertou com força contra o chão, lembrando-me de como ele
havia ficado em Vintro. Rapidamente o abracei e criei uma bolha dourada
ao nosso redor.
– Que a minha luz dissipe as trevas que se escondem em seu coração,
que meu calor seja o suficiente para aquecer sua alma sombria... – Falei
baixinho o prendendo com força em meus braços. Senti a energia fluir de
mim para ele e passar por ele como se o estivesse purificando.
– O que está fazendo? – Perguntou ele para mim, sua voz estava
normal e seus olhos prateados, quando ele se deu conta do que e estava
acontecendo, afastou-se de mim fechando as asas, levantou-me do chão e
me abraçou novamente. – Sinto muito! Não era para isso acontecer mais.
– Nós estamos em um navio cheio de cristais de purificação, não era
para acontecer isso mesmo! – Resmunguei.
– Não subestime o poder maligno que o mar das tormentas tem! Até
você é fortemente afetada por ele. – Disse ele para mim. Ouvimos um
barulho de espadas se chocando vindo do convés e saímos apressados em
direção a ele. Moan e Serena estavam gritando feito loucas com Hasan e
Demétrius que estavam lutando ferozmente em cima do mastro central,
Amaterasu latia desesperada em direção a eles, Meow e Neve também
pareciam incomodados com a briga.
– O que está acontecendo afinal? – Perguntei a Moan.
– Eles simplesmente começaram a brigar! Sem motivo algum só
sacaram as espadas e começaram a lutar! – Ela estava apavorada.
– Será que eles estão brincando? – Perguntou Serena olhando-os
preocupada. Nesse momento Demétrius cortou uma corda da vela que fez
um efeito chicote, Hasan pulou a tempo evitando que a corda o derrubasse.
Uma densa neblina começou a rodear o navio e não permitia que víssemos
nada.
– Dissipem! – Gritou Moan girando seu cajado, a neblina se afastou de
nós, nos permitindo ver o que estava por trás da neblina. Eram fantasmas,
muitos deles e vindos de todas as partes, muitos caminhavam sobre as águas
e outros atravessavam as paredes no navio.
– Vieram tirar a paz daqueles que descansam, agora se juntarão a nós!
– A voz melodiosa do fantasma mais próximo a nós ecoou em meus ouvidos,
preferia enfrentar um Ymir novamente ao ficar perto daqueles fantasmas.
Ewren sacou a espada.
– Isso não vai adiantar conta eles! – Gritou Moan aproximando-se de
mim. – Essa perturbação vem deles, Leona! – Disse ela para mim.
– A espada não é para eles! – Disse ele a brandindo em nossa direção.
Conseguimos escapar do seu golpe, seus olhos estavam brancos e apagados.
Demétrius e Hasan saltaram do mastro no navio e pararam ao nosso lado
para nos proteger de Ewren que brandia a espada violentamente contra nós.
Amaterasu e neve estavam acuadas em um canto da proa do navio e Meow
saiu voando assim que a névoa começou a aparecer.
– Essa sua Mantícora é tão covarde quanto um amigo que eu tenho! –
Resmunguei para Hasan, mas seus olhos ficaram brancos também e Segurou
Serena, que começou a gritar e se debater, Moan tentou ajudar enquanto eu
segurava os ataques de Ewren, mas foi presa por Demétrius também.
– Moan, o que são esses fantasmas afinal? – Perguntei usando uma
forte onda para varrer Ewren de perto de nós.
– São os fantasmas dos homens que morreram devorados pelas
sereias, eles querem se vingar de todas as mulheres que não os impediram
de se atirar ao mar! Por isso não estão fazendo nada contra eles!
– Como se mata um fantasma? – Perguntei, eles se aproximavam cada
vez mais de nós.
– Ah sério gênio? Como se mata alguém que já está morto? – Fiquei
sem saber se ela estava apenas debochando ou se era tão obvio que não
precisava de resposta. Ewren se aproximou novamente, suas marcas
acenderam e correntes apareceram no chão prendendo a nós três.
– Não estou conseguindo usar meus poderes com precisão!
– Nem vai conseguir, o mar das tormentas causa fortes interferências
em nossos poderes! – Respondeu Moan.
– O que faremos então?
– Não sei! Nunca enfrentei fantasmas! – Demétrius se aproximou dela
com a adaga na mão, seus olhos brancos e dentes de agulhas a mostra
estavam mais assustadores do que estiveram antes.
– Precisamos de fogo de raposa! – Serena falou nos surpreendendo,
olhamos para ela espantadas.
– Como sabe disso? – Perguntamos juntas
– Li num mangá uma vez... – respondeu ela, Moan revirou os olhos e
bateu com a cabeça em forma de deboche, Serena ficou sacudindo as
correntes tentando se soltar, porém Hasan segurou seu cabelo e colocou as
garras em seu pescoço.
– NÃO TOQUE NELA, HASAN! – gritei batendo os pés no convés usando
toda força que pude juntar com meus poderes reduzidos pelas correntes de
prata. A pancada fez uma onda atingir o navio derrubando os três, mas os
fantasmas não foram afetados por ela.
– Por favor, nos deixem ir! Não temos nada a ver com o incidente de
vocês! – Moan começou a choramingar baixinho.
– Tive uma ideia! – Olhei para Amaterasu, se podia controlar os lobos
de terra, talvez pudesse controlar minha guardiã. Usei toda minha
concentração para liberar minha alma e alcançar Amaterasu no canto do
navio, foi muito difícil tomar o corpo dela, vamos menina, me dê passagem
ou todos nós morreremos aqui! Falei em pensamento para ela, foi como se
ela tivesse me entendido e liberado seu corpo para mim, pude ver através de
seus olhos e controlar seu enorme corpo de Waheela. Meu próprio corpo
estava caído sobre Moan, Ewren e Demétrius se aproximavam de nós, saltei
por cima das escadas e aterrissei em cima deles dois, derrubando-os com
meu peso, logo em seguida dei uma cabeçada em Hasan, derrubando o
também, ao abrir a boca de Amaterasu, pude soltar uma descarga elétrica no
chão molhado do navio, evitando a parte que Serena e Moan se
encontravam, assim eles não nos dariam mais trabalho. Pelo jeito, a
possessão dos fantasmas era muito fraca, eles não tinham acesso total aos
poderes dos possuídos.
– Vocês não vão escapar! – Disse o fantasma se aproximando
rapidamente de meu corpo.
– Leona! Não deixe ele tomar seu corpo! – Gritou Moan assustada.
Corri em direção a elas e quebrei as correntes com os dentes fortes de
Amaterasu e voltei rapidamente ao meu corpo. Levantei-me tonta e
transformei um dos cristais de purificação de meu colar em um espelho,
cortei o dedo de serena e pinguei o sangue em sua superfície depois fiz o
mesmo com meu sangue.
– O que está fazendo? Rápido Leona! – Serena estava apavorada
olhando para Ewren, Hasan e Demétrius que estavam se levantando
novamente com as armas nas mãos. Pressionei o vidro do espelho até que
ele brilhasse e ficasse com a superfície mole.
– Vocês que ainda não puderam descansar, que permanecem presos
aqui pela mágoa e tristeza, lhes dou passagem para o décimo segundo
mundo, vão em paz e descansem agora, quando voltarem em outras vidas,
sem rancor nem pendências, sejam felizes como não puderam ser nessa
existência! Até a próxima vida! – Cantei para eles e ergui o espelho acima de
minha cabeça. Um forte vento saiu do espelho formando um redemoinho
acima de mim, puxando todos os espíritos para dentro dele, muitos
começaram a aparecer de todas as partes, vindo das águas, da direção do
porto e de todas as direções, parecia que toda minha energia estava sendo
sugada para dentro daquele portal também.
Quando o último fantasma foi arrastado para dentro do espelho junto
com a névoa, o espelho voltou a ficar sólido. O atirei no chão partindo-o em
pedaços, transformei meu pingente em uma vassoura e varri os cacos para
fora do navio. Soltei Moan e Serena, quando as soltei, senti um gosto
metálico em minha boca e caí de joelhos no chão.
– Leona! – Moan me segurou antes que eu batesse no chão.
Serena:
Acordei com Neve lambendo meu rosto, Hasan não estava mais dentro
da barraca, Leona estava se levantando ao meu lado, seu cabelo estava
completamente bagunçado, enrolado e meio grudento. Ela olhava feio para
Amaterasu atrás dela.
– Sabe, bichinho, eu não sou um filhote que você precise lamber para
manter limpo! – Reclamou Leona passando a mão sobre seu cabelo duro.
Amaterasu espirrou e lhe deu outra lambida. Estávamos com cheiro de lobo
molhado e baba.
– Quero ir tomar banho! – Resmunguei puxando minha roupa
completamente babada e meio dura.
– Também vou! – Disse Leona pegando roupas limpas e toalha, fiz o
mesmo seguindo-a para fora da barraca.
– O que houve com vocês? – Perguntou Hasan assustado quando nos
viu saindo da barraca.
– Parece que foram engolidas por um dragão, parcialmente digeridas
e cuspidas fora! – Disse Demétrius se aproximando e tentando descolar o
cabelo de Leona.
– Amaterasu deve ter sonhado que vocês eram filhotes dela e que
precisavam de um banho! – Quando Moan disse isso o olhar de Leona ficou
desfocado, olhando para o nada e sua boca se estreitou em uma fina linha,
tenho certeza de que estava pensando em suas filhas.
– Onde está Ewren? – Perguntou Leona olhando em volta, também
nãoo vi desde que foi fazer a guarda na noite anterior.
– Ele saiu e disse que não demorava, pediu para vocês não se afastarem
de nós. – Demétrius nos olhou de canto de olho. – Mas vou pedir, por favor,
se afastem até o rio, pois estão com cheiro de cachorro babado! – Hasan
segurou o riso disfarçando-o com uma tosse falsa. Leona segurou meu braço
e me arrastou com ela em direção ao rio, seu rosto estava corado de
vergonha e ela resmungava repetindo o nome de Amaterasu junto com
palavrões. Andamos ao longo do rio que na noite anterior havia pego água
com Ewren, a paisagem era tão bonita! Os sóis brilhavam refletidos nas águas
do rio fazendo as pedras molhadas da margem parecerem espelhos, a grama
verde ainda estava molhada com o orvalho da manhã, as árvores se
espalhavam ao longo do rio com folhas avermelhadas e enfeitadas por
pequenas frutas azuis.
Quando ia entrar no rio, Leona me puxou para trás de uma pedra,
tapando minha boca, olhava fixamente para um ponto na outra margem.
– O que foi? – Perguntei num sussurro tirando sua mão com cheiro de
cachorro de cima de mim.
– Ewren! – Falou ela tão baixo que tive que olhar para frente para ver
do que se tratava. Ewren estava parado do outro lado do rio embaixo de uma
árvore antiga, de galhos longos e floridos, as flores amarelas caiam em
cascata ao redor da árvore, fazendo-a parecer uma espécie de santuário. Ele
estava de pé em frente à uma pedra de ângulos retos e formato muito similar
à uma lápide, ele segurava em suas mãos uma rosa de cor vinho.
– Essa é a floresta das sombras! – Disse Leona desviando o olhar de
Ewren e olhando ao longe à pequena vila que estava situada em um vale
cercada pela floresta. – Aquele é o túmulo de Emma... – disse ela com os olhos
se enchendo de lágrimas. Antes que pudesse lhe dizer qualquer coisa ela
correu rio acima tendo o cuidado para que ele não a visse. Segui seus
movimentos silenciosamente até chegarmos em uma parte mais larga do rio.
Leona entrou na água, a segui novamente.
A água estava tão fria que fez minha pele formigar, lavamos nossas
roupas no corpo antes de as tirarmos e por fim lavar os cabelos totalmente
colados de saliva canina. Leona estava virada para o outro lado evitando me
olhar, quando vi de relance, seus olhos estavam vermelhos. Ela estava
chorando? Fui até onde ela estava e segurei seus ombros a virando para mim.
– Leona? Por que está chorando? Fale comigo... – falei baixinho para
que ela entendesse que ainda podia contar comigo, que ainda éramos como
antes. Seus olhos fitaram os meus por um longo tempo antes dela suspirar e
falar.
– Aquele era o túmulo de Emma, da primeira esposa dele. – Disse ela
soltando um doloroso suspiro.
– Ele estava apenas prestando homenagem, Leona! Não é como se ele
ainda gostasse dela ou algo assim. – Leona virou o rosto para o lado limpando
as lágrimas e rindo tristemente.
– Não é por isso que estou chorando, é por que eu sou uma pessoa
horrível! – Ela sentou-se numa pedra e se encolheu dentro da água ficando
apenas com o rosto para fora.
– Por que está dizendo isso? Você é maravilhosa! Não diga uma
bobagem dessas de novo! – Vociferei segurando seu rosto e encarando-a.
– Eu fiquei imaginando... se ela ainda estivesse viva, ele não estaria
comigo, eles teriam filhos agora e talvez eu tivesse voltado para casa em
segurança e nunca o conheceria...
– Mas é normal pensar nessas coisas! Eu acho...
– É normal sentir alegria com a morte de alguém para que nossa
própria felicidade esteja completa? – Ela me encarava novamente com os
olhos cheios de lágrimas. Não pude responder apenas continuei tomando
banho, ajudei ela a lavar os cabelos colados e tentei arrumar os meus
também. Escutei passos entre as árvores e tentei ver o que era, mas antes
que pudesse sair da água, um jovem estava parado entre as pedras da
margem com uma besta nas mãos. Mergulhei novamente na água abafando
um gritinho com as mãos.
– Quem é você? – Perguntou Leona tirando o pingente do pescoço. O
rapaz era muito bonito, tinha pele branca e olhos verdes, cabelos negros
espetados e um sorriso no rosto.
– Tayman, caçador da tribo... e vocês? – Ele estava com o rosto corado,
mas não desviava o olhar de nós. Leona se irritou com ele e fez uma onda no
rio derrubando-o das pedras para dentro da água, saímos rapidamente e
colocamos as roupas limpas enquanto ele se recompunha.
– Por que estava nos observando? – Perguntei pegando minha espada
e apontando para ele.
– Cuidado com isso mocinha! Pode se ferir! – Ele empurrou a espada
com o dedo enquanto se levantava. – Não estava observando ninguém,
apenas as encontrei aqui... o que é belo é para ser olhado, não é? – Disse ele
sorrindo maliciosamente.
– Talvez queira que eu apague esse sorrisinho do seu rosto, não? –
Leona pegou sua própria espada e se aproximou do jovem.
– Calma! Não acho que sejam inimigas! – Disse ele erguendo as mãos e
dando um passo para trás.
– Conheço você! Estava com Sally no funeral de Nellena! – Disse Leona
embainhando a espada novamente.
– Não a conheço, senhorita! Com certeza não esqueceria seu rosto
perfeito. – Disse ele sorrindo novamente, porém seus olhos haviam perdido
o brilho de antes.
– Eu sou a sacerdotisa das águas. – Disse Leona acendendo suas marcas.
O sorriso do rapaz sumiu.
– Fairin matou minha mãe quando ela descobriu sobre a identidade
falsa que ele usava. Ela ia contar para a sacerdotisa dos ventos sobre ele, mas
um servo dele o alertou, ele mandou um vampiro matá-la. – Ele largou a
besta no chão, tirou sua espada da cintura e se ajoelhou diante de Leona.
– Eu quero ajudar no que for preciso para destruí-lo! – Disse ele
encarando-a com uma chama acesa em seus olhos.
– Como sabe que queremos destruí-lo? – Perguntou ela desconfiada.
– Se ele colocou meio mundo atrás de vocês, é porque algum perigo
vocês representam para ele, ou pelo menos, para os planos dele! – Disse ele
nos encarando. – Minha mãe morreu tendo sua fidelidade à Eirien e a
sacerdotisa dos ventos. Então estou do lado de vocês também! – Ele piscou
para mim, senti meu rosto corar.
Leona sorriu, parecia aliviada agora que sabia que ele estava ao nosso
lado e não contra nós.
– Viemos para conseguir aliados entre os caçadores, creio que tenham
pendências com Fairin também!
– Temos muitas! – Ele virou-se de costas para nós, alisando o fio da
espada distraidamente.
– Onde está Sally e seu pai? – Perguntou Leona.
– Meu pai era um dos três líderes da tribo dos caçadores, ele foi para
uma reunião na fortaleza de Lótus Vale e nunca mais voltou. Tenho certeza
de que se recusou a ajudar Fairin e foi morto por ele! – Ele segurava
firmemente a espada, sua raiva era visível. – Sally está com Mayra em Monte
Azul.
– Bom, se ela está com vovó, creio que esteja em segurança! – Leona
começou a andar em direção ao acampamento. – Estamos com alguns
amigos e aliados aqui perto! Pode nos acompanhar? – Ela estava sorrindo,
mas aquele olhar triste ainda estava presente.
– Com todo prazer. – Ele sorriu para nós e se virou para pegar a arma
que havia deixado no chão.
Quando ergui meu pé do chão para dar um passo à frente, percebi uma
sombra estranha acima de nós.
6
Leona:
Serena:
E
wren me segurou pelo braço e me levou de volta até
onde os outros estavam.
– Vou atrás de Leona, vocês vão para a vila dos
caçadores e consigam ajuda com eles, depois para as
ilhas monarcas, irei até Vintro com Leona, acho que
teremos ajuda lá também! – Disse ele. Tirando a blusa e
abrindo as asas.
– Leona se transformou em uma leoa antes de partir, Ewren! – O avisei
antes que ele levantasse voo e fosse atrás de Leona e tentasse encontrá-la.
– O quê? – Moan estava me olhando com olhos arregalados, Ewren,
Demétrius e Hasan também.
– Isso mesmo... – minhas palavras morreram sob o olhar surpreso
deles.
– Não tem como, um mago humano não pode fazer isso! Por maior
poder que tenha, esse tipo de transformação é restrito à Metamorfos ou
híbridos de metamorfos!
– Preciso mesmo ir, vou verificar isso eu mesmo! – Disse Ewren saltado
e desaparecendo no ar com Amaterasu encolhida em seus braços.
– Agora, pensando bem, quando ela começou a brigar com Veruza,
Leona estava com o olho esquerdo amarelo... – falei.
– Impossível! – Disse Moan ainda encarando-me estarrecida.
– Ela é hibrida? – Perguntou Hasan parecendo confuso também. –
Achei que era por causa da maldição que nenhuma nascia assim!
– E eu? – Perguntei encolhendo-me.
– Não, você com certeza não é uma hibrida, mas o estranho foi
notarem isso só agora! – Disse Hasan se aproximando de mim e segurando
carinhosamente minhas mãos.
– Leona estava muito furiosa quando o olho dela mudou de cor! Ela
estava falando coisas para Veruza, nunca vi ela falar daquele jeito com
ninguém! – Disse baixinho.
– Precisamos nos apressar, antes que eles venham atrás de nós aqui!
Estamos em um lugar perigoso! – Falou Tayman erguendo a besta e
carregando-a com uma flecha manchada.
– Vamos direto para a vila! – Disse Tayman indo na frente, seguido por
Moan e Demétrius. Fiquei para trás com Hasan e neve.
– Onde está Meow? – Perguntei.
– Ele voa para longe quando sente perigo. – Disse ele segurando meu
braço e me levando em direção ao rio.
– O que vai fazer? – Perguntei quando ele entrou no rio puxando-me
para dentro da água. Ele segurou a gola de meu vestido manchada de sangue.
Ficamos em uma parte da água que fiquei apenas com a cabeça para fora da
água, a água batia na altura do peito de Hasan.
– O que você mostrou para ele? – Perguntou ele segurando meu rosto.
– Como sabe que eu mostrei algo a Ewren?
– Sou um Salamandra, Serena! Minha audição é quase perfeita, escutei
vocês falando no início e novamente depois um longo silêncio.
– Quer que eu te mostre o que ele viu também? – Perguntei.
– Se você quiser me mostrar! – Acenei com a cabeça para que ele
aproximasse seu rosto do meu, sabia que lhe mostrando as memórias das
palavras que disse à sua mãe, seria o mesmo que dar minha resposta a ele.
Senti um arrepio quando sua testa tocou na minha. Ele viu todas as
memórias desde que fomos levadas ao castelo até a hora que chamei Ewren
para lhe mostrar as memórias.
Depois que acabou, ele ainda continuou segurando meu rosto com
suas mãos quentes, seus olhos estavam fechados e respirava rápido demais.
– Hasan? Você está bem? – Perguntei. Ele não me respondeu, apenas
pegou um lenço e começou a limpar a mancha em meu pescoço. Ele abaixou
a gola do vestido para ver a marca.
– Se estivesse perto na hora...
– Não foi culpa sua Hasan! Não comece com isso você também! Já basta
Leona com esse desespero de se sentir culpada, não quero você com isso
também! – Falei, as palavras saíram rápidas e atropeladas, mas nem assim
consegui tirar um sorriso dele. Hasan tocou seus lábios nos meus e assoprou
de leve minha boca, senti toda a energia que Fairin havia tomado de mim
retornar. Ele desceu as mãos que estavam em meu rosto até minhas pernas
e as deslizou para cima, puxando meu vestido no caminho e o tirou.
A água era tão cristalina que podia ver meu corpo dentro dela, porém
ele tinha seus olhos fixos nos meus aqueles olhos eram como o mar,
profundos demais para serem explorados, se não tivesse cuidado e
mergulhasse mesmo assim, poderia me perder para sempre naquele olhar.
Não sentia vergonha de que ele me visse assim, era como se nós nos
conhecêssemos a vida inteira. Não resisti ficar apenas olhando, tinha que
tocar, que sentir o gosto de sua boca novamente, tocar em seus cabelos
macios e em seus braços fortes.
Hasan era cuidadoso demais comigo, mais do que gostaria que fosse,
parecia que poderia quebrar nas mãos dele se me tocasse de forma errada.
O puxei de volta para mim, mordendo de leve seus lábios e traçando o
contorno de seu maxilar com a língua.
Escutei sua risada enquanto ele me apertava com força contra seu
corpo e me beijava como fizera no navio. Ele acariciava meu corpo com as
pontas dos dedos enquanto nossas línguas dançavam e se enrolavam numa
melodia que só nos podíamos decifrar. O abracei apertado, com medo de que
ele percebesse o erro que estávamos prestes a cometer e se desvencilhasse
de mim. Porém isso não aconteceu, ele continuou ali, com os lábios em meu
pescoço. Meu coração batia descontroladamente enquanto ele mantinha seu
corpo quente junto ao meu, queria tirar sua calça, mas Hasan sorriu contra
meus lábios e fez uma roupa aparecer em mim, virou-se de costas e me tirou
do rio.
– O quê? – Perguntei procurando a resposta em seu olhar divertido.
– Eu gosto de brincar com o fogo, de atiçar a brasa até que ela acenda
a fogueira... – disse ele baixinho ao meu ouvido, respirei fundo tentando
controlar a vontade louca que tive de bater nele.
– Posso recusar seu pedido de ontem! – Falei ameaçando.
– Não pode, você já aceitou! – Disse ele sorrindo ainda mais. Lembrei
das últimas palavras que disse a Áries e ele as viu nitidamente em minhas
memórias. – Prometi a Leona e Ewren que não faria nada até estarmos todos
fora de perigo! – Falou por fim, segurando minha mão e indo em direção a
trilha. Moan apareceu pouco depois entre os arbustos.
– Vamos logo! – Disse ela bufando, meu rosto corou quando ela
apareceu. – Ah, me desculpem se atrapalhei! – Disse ela me lançando um
olhar malicioso, o que me deixou ainda mais constrangida. A seguimos,
encontramos Tayman e Demétrius à frente na trilha, neve ia na frente
vigiando o caminho.
– Temos que ir depressa antes que Fairin chegue neles primeiro! –
Disse Demétrius indo na frente.
Ewren:
Serena:
Leona:
Ewren:
Leona:
O que foi que você fez para Ewren resolver confiar em você
assim tão de repente? – Perguntei depois de um longo
tempo em silêncio. Demétrius ficou tenso por um
momento, depois suspirou.
– Enquanto os dois estavam fora, Veruza controlou
a mente de um dos serviçais do castelo e a fez entrar no quarto para
sequestrar Karin, eu estava na sacada e a vi saindo do quarto com a bebê, eu
chamei várias vezes, quando ela não me respondeu percebi que ela estava
sendo controlada por uma magia.
– Então você salvou Karin? – Perguntei.
– Pois é! – Disse ele rindo.
– Certeza que foi só isso? – Perguntei desconfiando de sua expressão
nervosa.
– O resto da história é melhor não saber, mas não se preocupe! Não diz
respeito a você ou as suas filhas! – Demétrius arrumou seus cabelos e
continuou olhando para frente, mantinha o olhar fixo nele, sabia que isso
era irritante, então ele ia dizer para que eu parasse de encará-lo.
– Demétrius...
– Ah! Já disse que não tem nada a ver com você, e sei que mulheres são
fofoqueiras e não guardam segredos dos outros, então não te contaria de
qualquer jeito! – Disse ele amarrando a cara.
– Demétrius! – Tive que prender uma risada, ele estava ficando
nervoso com meu olhar fixo.
– Não vou falar nada! – Ele mexeu atrás dos chifres do dragão fazendo-
o aumentar de velocidade, resolvi o deixar em paz.
Mantemos a velocidade até o anoitecer e chagamos bem perto do
porto da Âncora, mas o dragão precisava descansar e eu também! Voar era
muito mais cansativo do que passar energia para ser carregada, talvez
amanhã iria montada em Lua. Descemos no final da floresta que ficava
depois do vale do esqueleto para acampar ali. Fiz um acampamento aparecer
e o protegi, acendi uma fogueira e me sentei ao lado dela, Demétrius havia
saído para pescar enquanto eu arrumava as coisas. Podia ter trazido Feroz
também, ele poderia esperar do lado de fora enquanto estava na água.
Estava tão distraída em meus pensamentos que quase caí quando Lua
fez um movimento brusco e mergulhou no mar a comando de Demétrius.
Me segurei nos chifres de Lua enquanto ele nadava a uma velocidade muito
maior do que quando estávamos voando.
– Um dragão marinho nada melhor do que voa! – Disse Demétrius
rindo. Fiquei com medo de abrir a boca e engolir água, mas conseguia
respirar tranquilamente debaixo d’água.
Já haviam se passado mais de meia hora que estávamos nadando,
minha pele estava dormente e formigava pela velocidade que íamos.
Demétrius não parecia estar incomodado, ele estava com sua aparência
alterada, mesmo não sendo a primeira vez que o via assim, os chifres me
assustavam um pouco.
Aos poucos, Lua foi reduzindo a velocidade até parar completamente,
estávamos diante de um grande abismo escuro e cheio de dragões e criaturas
marinhas assustadoras que nadavam perto ou dentro dela. Minha maior
vontade era fugir dali imediatamente, mas tinha que fazer isso.
– Não posso passar daqui as águas aqui já estão mais ácidas! – Ele
ergueu o braço e pude ver sua pele com marcas vermelhas. Olhei para minha
própria e não havia nada de errado comigo, ainda.
– Tudo bem... – me arrisquei a falar, parecia que estava na superfície,
como se estivesse apenas flutuando. – Vou tentar não demorar! – Falei.
– Vou ficar entre aqueles corais te esperando! – Disse ele apontando
para uma floresta de corais onde haviam alguns navios destruídos,
parecendo um cenário de filme de terror. Acenei com a cabeça e me segurei
em Lua, ele entendeu meu gesto como um sinal para partir e mergulhou em
direção as fendas.
Estávamos nadando cada vez mais fundo no abismo, olhei para cima
assustada, não havia nenhuma luz, apenas a escuridão. De repente as
escamas de lua começaram a brilhar, um brilho verde fosforescente e até
bonito, mas seus dentes afiados também brilhavam, era como se sua pele
tivesse se tornado translúcida, seria muito assustador se eu não soubesse
que ele era manso.
Outras criaturas em volta de nós também brilharam, eles ignoravam
completamente nossa existência. Porém em uma parte, comecei a sentir
uma leve ardência em minha pele, minhas roupas começaram a se
desmanchar, usei meus poderes para fazer aparecer algo que não se
desmanchasse com aquelas águas, minhas marcas estavam brilhando como
as escamas do dragão agora.
Chegamos à um ponto que não haviam mais criaturas aso nosso redor
e Lua parecia estar tendo dificuldades de seguir adiante. Não estava
enxergando nada, então tive a ideia de fazer uma bola de luz iluminar o
fundo onde estávamos. Quando a bola de luz mergulhou e iluminou em volta
de nós, tive uma súbita onda de pânico e um desejo enorme de chorar e fugir.
Em nossa frente havia uma Fenda estreita no paredão de rochas e
embaixo da fenda um enorme monstro marinho guardava a entrada, ele
estava adormecido quando a luz o fez despertar. Só seus olhos eram maiores
que Lua. Queria fugir, mas estava paralisada de medo, Lua se afastou de mim,
subindo alguns metros acima e ficou descansando sobre uma rocha. Se ele
não fugiu, talvez aquele monstro não significava uma ameaça, pelo menos
não para ele.
Os olhos gigantes e brancos estavam fixos em mim, não sabia o que
fazer agora, mas estava começando a subir lentamente, então usei meu
cajado para fazer um pequeno peso e descer até a fenda. Se estou com medo,
vou com medo mesmo! Quando fiz menção de me aproximar, o monstro se
moveu rapidamente, enrolando-me numa espécie de tentáculo luminoso e
me puxando para perto. Pronto! Agora eu vou morrer, tinha razão, Sirius me
enviou para cá para morrer e pagar por ter deixado Áries sem sua forma
física! Só podia ser isso! Meus braços estavam presos e não conseguia pensar
de forma lógica para usar meus poderes e me livrar daquele monstro tão
grande que fazia o Kraken de Lirien parecer um polvo.
Do alto dos olhos do monstro saíram pequenas antenas fininhas, ele
as colocou sobre meus olhos. Num instante todas as memórias que tinha de
Amantia passaram diante de meus olhos, mas a que ficou por mais tempo,
foi a que Sarya me entregou a pulseira e me disse que eu era a sacerdotisa
das águas. Pouco depois o monstro me soltou e voltou a dormir, meu corpo
inteiro tremia e estava prestes a chorar. Como não conseguia nem me mover
direito, usei meus poderes para me levar até a entrada daquela fenda. Ao
passar por ela, senti uma paz tão grande, como nunca havia sentido em toda
minha vida, foi como se nada mais fosse dar errado. Nadei por ela até uma
curva nas pedras, até achar um bolsão de ar.
Lá dentro era tudo tão claro! A bola de luz que eu havia conjurado
flutuava a alguns metros de altura acima de uma pequena ilha no meio do
bolsão, o teto dali era coberto por plantas e flores estranhas de cores claras
e brilhantes, pássaros vermelhos voavam em pequenos grupos e assobiavam
alegremente enquanto faziam seu show aéreo. Nadei até a margem e pisei
na ilha, a grama que a cobria era verdinha e macia, haviam pequenas árvores
frutíferas em toda a extensão da ilha que não era maior que um campo de
futebol. Bem no meio da ilha havia um laguinho e no centro do laguinho,
uma coluna de pedras de vidro jorravam água.
– Bem-vinda, sacerdotisa das águas! – Disse uma voz atrás de mim
quando me aproximei do laguinho.
– Sarya? – Olhei para a Ondina atrás de mim, ela sorriu.
– Sabia que você viria, estava esperando por você!
– É a fonte das ondinas, não é? – Perguntei olhando as pedras no
centro do lago.
– É sim, agora você tem que provar que é digna de tomar aquela água!
– Disse Sarya para mim, a olhei com estranheza. – Não achou que ia chegar,
beber da nossa fonte de poder e sair, não é?
– Na verdade achei sim! – Respondi. Sarya pegou dos pássaros que
estava pousado em um arbusto e o colocou na água do lago, para minha
surpresa ele não afundou, ficou sobre a água como se a água estivesse
congelada.
– O que é impuro não consegue andar sobre essas águas, para você
conseguir tomar aquela água, você tem que estar aqui com boas intenções!
Passou pela primeira barreira, que era o meu bichinho guardião, mas andar
sobre essas águas...
– Eu tenho que conseguir! – Falei, não esperei ela terminar de falar e
passei meu pé sobre as pedras que limitavam as águas do lago.
– Se você afundar, sem beber aquela água, você morre! – Disse ela para
mim. A olhei incrédula. – Esse lago não tem fundo, vai cair no vazio dessas
águas e seus poderes não funcionarão, assim vai se afogar! Está disposta a
arriscar mesmo sabendo que pode não passar? – Ela me encarava. Eu não era
uma pessoa pura e embora estivesse ali com boas intenções, não tinha
certeza de que estava fazendo as escolhas corretas. – Para que você precisa
entrar ali? – Perguntou ela ao ver minha relutância.
– Prometi a alguém que iria chegar aqui e beber aquela água. Estou
prestes a me tornar uma maga negra, se não conseguir tomá-la, estarei
colocando a vida de muitas pessoas em risco, então ou eu consigo, ou não
vale a pena sair daqui com vida! – Falei, então ao invés de colocar um pé na
água, coloquei minhas mãos na pedra e girei meu corpo por cima dela
pulando com os dois pés sobre as águas.
Fechei os olhos quando meus pés tocaram a superfície fria das águas.
Se fosse para morrer, que fosse rápido! Para minha surpresa eu só afundei
até a cintura, o passarinho estava em pé nas águas ao meu lado então olhei
para baixo, depois para Sarya. Ela começou a gargalhar quase rolando no
chão.
– O que é engraçado? – Perguntei frustrada.
– Estava apenas testando você, se você teria medo ou não, mas você
não desistiu! Parece que Eirien escolheu certinho a sacerdotisa das águas!
Usei magia para fazer o passarinho não afundar! – Sarya ergueu os braços e
desapareceu em uma nuvem de vapor. As pessoas em Amantia não sabiam a
hora de brincar, francamente! Andei até o meio do lago e fiz uma concha
com as mãos, peguei um pouco de água, respirei fundo e bebi, a água era
adocicada.
Parecia que tinha estado doente por toda minha vida e que havia me
curado agora. Todas as cicatrizes que tinha em meu corpo desapareceram,
cada dor, cada sentimento ruim, parecia que tudo havia sido lavado por
aquela água queria rir sem explicação. Fiz um frasco de vidro aparecer e o
enchi com um pouco daquela água, Sarya não havia dito nada que eu não
poderia pegar um pouco.
Coloquei a garrafinha presa em minha roupa e saí da ilha, mergulhei
na água em direção a fenda novamente e saí por ela. O monstro continuava
adormecido lá. Bem acima de mim, Lua estava nadando em círculos como se
estivesse irritado com minha demora. Quando ele me viu, nadou
rapidamente em minha direção para que eu me segurasse nele, mal segurei
em seus chifres e ele deu um solavanco para cima disparando para sair da
fenda. O que havia acontecido com ele?
Saímos da fenda numa velocidade tão grande que causamos uma
perturbação na água, vários corais e plantas ao nosso redor foram
arrancados. Demétrius estava perto demais, ele parecia prestes a entrar na
fenda, quando nos viu ele segurou em Lua me olhou de cima a baixo para ter
certeza de que era eu mesma.
– O que aconteceu? Por que demorou tanto? – Perguntou ele
angustiado olhando feio para mim.
– Demétrius, não passou nem uma hora desde que entramos lá! –
Respondi.
– Se passaram dois dias, Leona! Estava quase entrando lá para
recuperar seu corpo! – Respondeu ele. – Locais sagrados o tempo passa mais
lentamente mesmo, mas eu realmente achei que você podia ter morrido! A
fenda causou uma interferência, não podia sentir mais sua presença.
– Ninguém me disse isso! Temos que correr então! – Meu estomago
estava se revirando ne tanto nervoso que eu sentia.
– Aconteceu algo em Alamourtim agora a pouco, os céus de Amantia
ficaram negros de repente, como se os sóis tivessem desaparecido do céu e
um grande exército alado passou voando por cima do mar!
– Está começando, Demétrius! Vamos rápido Lua! – Toquei em suas
costas lhe passando o máximo de energia que pude. Lua disparou para
frente, mas Demétrius o virou, fazendo-o desviar para a esquerda.
– O que está fazendo? – Perguntei.
– Mandei avisar ao exército abissal, eles estarão nos esperando na
costa de Mantum! – Disse ele segurando minha mão e absorvendo um pouco
de minha energia também. – Fique calma, ou vai fazer Lua passar mal com
essa quantidade de energia! – Ele me encarava sério. – Achou a fonte, não é?
– Achei! Por quê? – Perguntei.
– Olhe suas marcas! – Eu olhei, as marcas agora estavam nos dois
braços, as marcas douradas dos Ascardian haviam desaparecido e dado lugar
novamente as marcas verdes e a orquídea. Apenas a marca da minha aliança
continuava lá.
– Pode me fazer seu guardião agora! – Disse ele sorrindo de lado.
– Por que você iria querer isso? – Perguntei olhando-o confusa.
– Eu roubei seu sangue aquela vez, isso me tornou seu inimigo, então
meus poderes não aumentaram tanto, se você me der seu sangue e me
transformar em guardião... ah, que se dane! Eu só quero ficar mais forte que
Yurin! – Disse ele franzindo o cenho.
– Ela derrotou você? – Perguntei.
– Era isso que eu ia te dizer naquele dia, eu estou apaixonado por ela,
mas ela disse que só ficaria comigo se eu conseguisse vencê-la!
– Quando isso aconteceu? – Perguntei.
– Depois que você saiu aquele dia no templo de fogo, eu falei com ela,
ela me derrotou com apenas dois golpes! – Resmungou ele.
– E Moan?
– Ela sabe, disse que não vai desistir até eu ter certeza de que é isso
que eu quero, sei que ela me ama, mas quando vi Yurin...
– Você tem certeza disso? – Perguntei sentindo muita pena de Moan.
– Yurin disse que nunca ficaria com alguém mais fraco que ela. – Ele
parecia irritado com isso.
– Se você acha que isso vai fazer alguma diferença! – Respondi.
Demétrius sorriu.
– Vai me dar seu sangue? – Perguntou ele mostrando seus dentes de
agulhas para mim.
– Se você nos trair, eu peço ajuda de Yurin para te matar! Vai por mim,
ela consegue! – Falei bem séria.
– Eu sei! – Ele gargalhou. – Por mim, tudo bem!
Voei sobre o campo com Lua, passei por cima dos gigantes, Lua jogava
um jato de água ácida neles que os faziam derreter como papel higiênico
molhado. Os caçadores que trouxemos de Ciartes pareciam ferozes, eles
destruíam tudo que entrava em sua frente como gafanhotos sobre uma
plantação, sem nenhuma piedade. Ouvia as espadas se chocando, as flechas
pareciam chuva sobre ambos os lados. Amijad e Lirien também estavam no
campo junto com seu filho, nunca soube que tinham um filho, ele usava uma
longa espada diferente dos outros Sereianos e seus ataques eram precisos e
muito hostis.
Em pouco tempo de batalha, muitos já haviam se ferido ou perdido
suas vidas, era uma cena horrível de se ver e eu precisava acabar logo com
isso.
Vários silfos e elfos alados começaram a ir em direção ao castelo.
Assoviei alto fazendo os dragões marinhos os seguirem e os derrubarem,
porém alguns conseguiram passar e estavam perto demais do castelo.
Um grande buraco brilhante se abriu no céu e dele saíram duas Fênix
que lançaram bolas de fogo e queimaram os silfos que se aproximavam do
castelo. Eram Farahdox e Noliah. Eles se aproximaram voando de mim.
– Leona! As coisas já estão quentes por aqui, não é? – Farahdox estava
sorrindo com a espada na mão. – Pelo visto a pulseira para neutralizar prata
nem foi necessária! – Disse ele me entregando a pulseira, que coloquei no
braço para prevenir ela era de um material parecido com vidro.
– Está começando a esquentar! – Respondi olhando para Noliah.
Quando olhei seu rosto tive uma surpresa tão grande que quase não podia
acreditar ser real.
– Vovô Enzo? – O olhei incrédula.
– Olá Leona! Quem diria, não é? – Eu não estava entendendo mais nada.
– O que... como? – Perguntei. Era mesmo meu avô Enzo, que eu achava
ser o pai de minha mãe. Estava com a mesma aparência, cabelo branco, olhos
verdes, mas agora parecia mais forte que antes.
– Quando entrei em Saldazaris e percebi a passagem do tempo, escapei
para Pollo e descobri uma passagem de lá para a terra, então acabei numa
fazenda, lá uma senhora já de idade pensava que eu era seu marido falecido,
acabei ficando por lá alguns dias. Foi aí que vi a Sacerdotisa dos ventos
chegando com três crianças extremamente poderosas, ela modificou as
memórias daquela senhora, dos filhos dela e de seus netos para que ela
achasse que vocês eram parentes deles também, ela me deu algumas
memórias também, não me reconhecia embora tenha sido meu aprendiz!
Acabei ficando na terra e voltando para Pollo apenas para me comunicar
com Farahdox. Aí treinei vocês com medo de que se tornassem uns fracotes!
– Explicou ele dando uma gargalhada. Mais silfos e elfos tentavam entrar no
castelo agora com Fermans os levando até lá!
– Deixe conosco! Se você não der um jeito em Fairin, isso vai
continuar! – Disse Farahdox indo atrás deles. Uma chuva de flechas caiu
sobre eles derrubando a maioria, Era Yurin em cima dos muros do castelo.
Ela acenou para nós.
Comecei a circular novamente por cima do exército até avistar Fairin,
ele estava entre um círculo de Trolls que o protegiam. Passei minha perna
por cima de Lua e saltei de cima dele até o local em que Fairin estava. Ele me
encarou e sorriu abrindo os braços de forma provocativa.
– Olhe ao seu redor, Leona! Veja o que está acontecendo! – Eu passei
os olhos sobre os campos. – Mesmo com todos que vocês arrumaram contra
mim, ainda estou vencendo! E Veruza não está aqui para você destruir! –
Gritou ele dando uma gargalhada e erguendo a espada para mim. Ele tinha
razão, eles estavam em maior vantagem e a qualquer momento poderiam
vencer e tomar o castelo. – Eu te dei tantas chances! Mas você continuou
com os perdedores!
Só havia uma coisa que eu podia fazer, senti o poder pulsar dentro de
minha espada, a segurei firmemente enquanto ele se aproximava de mim.
15
No dia seguinte ao nosso aniversário quinze anos atrás, Eirien fez uma
grande cerimônia de coroação. Ela passou o trono para Ewren, agora éramos
os Rei e rainha de Amantia. Ela disse que estava velha e queria tempo para
aproveitar suas netas. No mesmo dia Yurin e Demétrius se casaram. Fizeram
uma festa grande cheia de pompas, ao contrário de Ewren, Yurin adorava
uma festa, pouco depois tiveram um filho, Datani, que nasceu hibrido de Elfo
e incubo era muito parecido com o pai, mas com os cabelos escuros e olhos
iguais aos de Yurin.
Ewren e eu havíamos tido mais um filho, um menino, Susano, ele era
um ano mais novo que as gêmeas, era muito arteiro e passava o dia todo
implicando com as meninas.
Lórien e Medras também tiveram um casal de gêmeos, Lupinus e
Nelin, agora já tinham quase a idade de Karin, Asahi e Nyumun, alguns meses
mais velhos que Susano.
Mesmo com toda a tranquilidade, eu insisti que elas fossem treinadas
por Medras, ele era um ótimo professor, eu achava que era melhor elas
saberem se defender, já que não sabíamos o que o futuro poderia guardar e
Ayrana não havia me dito nada sobre isso. Não permiti que fossem a ACV em
Ciartes, o que deixou o rei muito decepcionado, mas ele não tirou minha
razão de querer ficar ao lado delas depois de tudo que passamos. Apenas
Susano, depois de muito esforço por parte de Ewren, aceitei que ele fosse
para a ACV, ele voltava todos os fins de semana para ficar conosco no castelo
e era um dos alunos mais avançados, queria terminar o mais rápido possível
pois odiava o calor de Ciartes.
Quanto as trigêmeas, elas ficavam uma semana em Vintro, com Hasan
e Serena, eles as treinavam também, mas com a chegada do filho dos dois,
apenas Hasan os treinava agora, já que Nero dava muito trabalho a Serena.
Outra semana elas ficavam no templo de fogo, e na outra em Lastar com
Sirius e Áries, seus mentores favoritos. Aos fins de semana ficavam no
castelo conosco, Eirien reclamava da ausência delas a semana toda, mas
passava todo o tempo que podia mimando Susano, ele ficava cada vez mais
agarrado com os avós. Eirien também havia aproveitado que não era mais a
rainha e casou-se escondida com Farahdox, finalmente poderiam ficar
juntos depois do tempo que passaram distantes.
Embora sempre houvesse alguma rixa ou problemas para resolver,
estava tudo sempre muito calmo, sempre estávamos rodeados pelas pessoas
que amávamos.
– Não deixei ele vencer, Ewren! Se é isso que está te deixando tão
chateado! – Falei de noite depois que estávamos a sós no quarto. A família
real de Ciartes havia partido no começo da noite, pois no outro dia Kuran e
Annie teriam aula na ACV, Susano aproveitou a visita deles e foi junto com
eles para Ciartes. Karin, Nyu e Asahi também já haviam sido levadas para
Vintro por Eirien e Farahdox, era semana delas ficarem com Serena e Hasan.
– Ericko me deixou entrar em sua mente quando estávamos a sós em
Lastar. Ele é muito justo, corajoso e honesto, diferente do aproveitador do
pai deles. E já havia gostado de Karin quando você falou sobre ela em Ciartes.
– Disse ele me encarando. – Ele não tem intenção de levá-la daqui, disse que
quando eu permitir, vem para Amantia e ficará conosco o tempo que
quisermos, mas ele resolveu partir porque disse que Karin é muito nova
ainda! – Disse ele suspirando aliviado e me abraçando.
– E o outro, Kuran? Não sei nada sobre ele, apenas parece ser um pouco
tímido! Asahi parecia interessada nele... – falei.
– Não entrei na mente dele, mas parece que ele já tem alguém de quem
gosta em Ciartes, não parava de olhar para o nada enquanto conversávamos!
– Disse ele puxando-me contra ele. Deitei minha cabeça em seu peito,
aliviada. Ericko havia conquistado Ewren com essas palavras “muito nova
ainda”. O tempo nos favorecia, sem pressa nos deixando aproveitar cada
momento juntos.
– Ainda é para sempre? – Perguntei brincando com a marca dourada
em seu anelar.
– Para sempre é pouco! – Ele respondeu beijando minhas mãos. –
Eternamente, por todas as vidas, até que os mundos acabem... – Eu o beijei
antes que terminasse de falar, abri minhas asas e nos enrolei nelas.
– Então até o fim dos mundos!
Meus mais sinceros
Agradecimentos: