Você está na página 1de 122

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES

Bárbara Machado Mazzetti

Estados e potencialidades corporais em processos artísticos no lazer:

Explorando particularidades dos encontros de música corporal “Fritura Livre” em São


Paulo - SP.

São Paulo

2015

1
BÁRBARA MACHADO MAZZETTI

Estados e potencialidades corporais em processos artísticos no lazer:

Explorando particularidades dos encontros de música corporal “Fritura Livre” em São


Paulo - SP.

Projeto do Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado no curso de Lazer e Turismo,
da Universidade de São Paulo, como
requisito parcial para obtenção do título de
bacharel em Lazer e Turismo, sob a
orientação da Prof. Dra. Madalena Pedroso
Aulicino.

São Paulo

2015
2
Eu estou onde está meu corpo
Meu corpo, onde estão os meus pés
Meus pés, onde está o chão
Ou então
Onde a cabeça
Com seu pensar em vão

Eu estou onde tudo esteja


Ou seja
Onde quer que esteja em mim
O céu, o chão, o não, o sim
A vontade de Deus

O meu corpo todo, eu acho


Vale quanto pesa e sente
Como pensa e é imenso
Como deve ser o vôo
Da terra pra lua
E a noite da lua
E a imensa viagem do dia do sol
E a continuação da imensidão
Pelo corredor da enfermaria
Daquele lugar aonde eu ia
Visitar meu namorado internado
Dado por louco
Por pouco, pouco, muito pouco
Pouco mesmo

(Gilberto Gil – Dos pés a cabeça)

3
Resumo

A presente pesquisa possibilitou identificar particularidades e percepções de


participantes acerca dos encontros de música corporal “Fritura Livre”, que ocorrem
mensalmente na Praça Victor Civita, localizada no bairro de Pinheiros em São
Paulo. Os encontros são atividades abertas de música corporal, onde os sons
produzidos por estímulos ao corpo configuram práticas integradas de percussão
corporal e música vocal. Suas vivências são realizadas de forma livre, inclusiva e
comunitária, não se exigindo experiência musical e/ou pré-requisito, a não ser pela
disponibilidade de estar em contato direto com o outro. A pesquisa descritivo-
qualitativa partiu de uma revisão bibliográfica de conceitos sobre lazer, animação
sócio cultural, educação informal ou não formal, arte, cultura, eutonia e consciência
corporal, e utilizou-se da observação participante e da aplicação de questionários
semiestruturados abertos como instrumentos metodológicos para coleta de dados.
Quando as particularidades dos encontros de música corporal e percepções
relatadas pelos entrevistados, foi possível captar a impressão de que os encontros
de música corporal “Fritura Livre” representam uma vivência artístico-corporal que
ajuda a promover a criatividade pessoal e coletiva, por meio de uma sociabilização
espontânea, do respeito mútuo e pelo autoconhecimento corporal, resultando em
uma avaliação positiva do público entrevistado sobre as atividades desenvolvidas
nos encontros de “Fritura Livre”. Também foi verificado como o espaço da Praça
Victor Civita, seu espaço físico e sua forma de gestão contribuem para o
desenvolvimento de atividades sócio artísticas, inclusive para a própria execução do
“Fritura Livre”. Ademais, foi verificado como novos conhecimentos corporais e
artísticos podem ser obtidos através da vivência de música corporal coletiva, em
momento de lazer, e como estes podem influenciar diretamente na forma como o
individuo se relaciona consigo mesmo, com o espaço público e com outras pessoas.

Palavras chave: Lazer, Música Corporal, Consciência Corporal, Praça, Cidade de


São Paulo.

4
Sumário
Introdução ............................................................................................................................ 6
Revendo conceitos .............................................................................................................. 9
2.1. Lazer: tempo, conteúdos e espaços. ..................................................................................... 9
2.2. Relações entre Arte e Educação informal e não formal. .................................................. 12
2.3. Consciência Corporal e o método da eutonia. ................................................................... 14
A pesquisa: Os encontros “Fritura Livre” na Praça Victor Civita .................................. 21
3.1. Fritando: Os encontros de música corporal........................................................................ 21
3.2. A Praça Victor Civita: Criação e usos criativos. ................................................................. 23
3.3. A ocupação do espaço público através de atividades artístico-educativas: A cidade, o
lazer e as vivências corporais coletivas. ..................................................................................... 24
3.4. Metodologia ............................................................................................................................. 26
3.5. Questionários e entrevistas................................................................................................... 28
Resultados obtidos............................................................................................................ 34
4.1. Como ocorrem os encontros “Fritura Livre”: Descrição do dia 24 de Maio. .................. 34
4.2. Como o encontro é sentido: análise de percepções dos participantes.......................... 41
4.3. A Associação Amigos da Praça Victor Civita e o Fritura Livre. ....................................... 53
4.4. Fritura Livre: lazer, arte, consciência corporal e ludicidade. ............................................ 56
Considerações Finais ........................................................................................................ 59
Referências Bibliográficas ................................................................................................ 64
APENDICES ........................................................................................................................ 67
Apêndice 1. Questionários aplicados aos participantes – respondidos por email ............... 68
Apêndice 2. Questionários aplicados aos participantes – respondidos presencialmente .. 85
Apêndice 3. Questionário aplicado ao facilitador do Fritura Livre ........................................ 106
Apêndice 4. Questionário da Associação dos Amigos da Praça Victor Civita.................... 111
Apêndice 5. Quadro de respostas do público entrevistado ................................................... 116

5
Introdução
Por meio da realização de um estudo de caso, a presente pesquisa
buscou analisar particularidades dos encontros de música corporal “Fritura Livre”,
que ocorrem mensalmente na Praça Victor Civita, localizada no bairro de Pinheiros
em São Paulo, além de compreender percepções de seus organizadores e
participantes, visando também explorar a relação do espaço público com o
desenvolvimento da atividade. As atividades de “Fritura Livre” são encontros abertos
de música corporal, onde os sons produzidos por estímulos ao corpo configuram
práticas integradas de percussão corporal e música vocal. Suas vivências são
abertas e realizadas de forma livre, inclusiva e comunitária, não se exigindo
experiência musical e ou pré-requisito, a não ser pela disponibilidade de estar em
contato direto com o outro. Desta forma, buscou-se compreender, por meio de uma
pesquisa descritivo-qualitativa e através da observação participante, particularidades
destes encontros e relações interpessoais, e percepções que podem surgir a partir
desta vivência corporal, social e artística.

Está claro que o corpo sustenta a mente e que a saúde física tem impacto
direto sobre o bem-estar mental. Assim, pode-se entender que o corpo humano é
base para qualquer existência, onde o raciocínio, a sociabilização, a capacidade
criativa e demais facetas humanas podem estar ligados potencialmente ao corpo,
uma vez que todas as ações partem dele. Torne-se possível entender também que o
processo criativo, corporal e psicológico, representa um grande impulso para que se
possa avançar como indivíduo, ao poder atingir novas etapas e perspectivas ao
longo de seu desenvolvimento, partindo da dimensão dos estados corporais, da
mente e do espírito. E o inverso por sua vez também é uma realidade. Dentro da
dimensão conceitual, o estado corporal de “estar presente”, é resultado de uma
percepção e consciência sobre o próprio corpo de forma apurada, representando
assim formas de estar atento ao corpo, alerta aos estímulos, acordado e focado nos
movimentos corporais e no meio em que se está inserido. Dentro dessa perspectiva
corporal de existência e evolução, Dascal (2008) conceitua o “saber do corpo” como
a busca da compreensão da unidade mente-corpo que inclui a dimensão existencial
e enfatiza a vivência como situação original e significativa. Nesta mesma linha de
pensamento, que exalta a relação da percepção e consciência corporal como
condição de existência e presença no espaço-tempo, o professor e coreógrafo
6
Klauss Vianna, em seu livro “A Dança” acaba por resumir sua filosofia de ensino e
arte ao dizer que “A vida é síntese do corpo e o corpo é síntese da vida.” (VIANNA,
2005, p.103)

Desta forma, compreendendo o tempo-espaço do lazer como, também, um


elemento de grande valia para a formação do individuo, possibilitando e
impulsionando o aprimoramento de habilidades artísticas, lógicas, sociais e
pessoais, entre outras, o presente trabalho visou levantar e discutir possibilidades de
estados corporais em processos artísticos no lazer, verificando o emergir de
momentos em que ocorra maior conexão do individuo com seu corpo. Assim, o
estudo de caso acerca do “Fritura Livre” partiu de questionamentos de como estes
estados corporais pessoais refletem e interferem na coletividade e quais
potencialidades podem ser identificadas nas relações entre lazer, educação informal,
vivências artísticas e consciência corporal. Assim, visando identificar as etapas do
trabalho e expor as formas como o mesmo foi realizado, estão descritos a seguir os
objetivos do trabalho, hipóteses e a metodologia utilizada.

O objetivo geral da presente pesquisa foi identificar, de forma mais profunda,


conhecimentos, valores, condutas e comportamentos que são trabalhados ao longo
dos encontros livres de música corporal realizados mensalmente no meio urbano, na
Praça Victor Civita, buscando compreender suas particularidades (potencialidades
artísticas, educativas e sociais existentes) dentro das relações que permeiam as
vivências corporais coletivas, verificando possíveis vínculos entre arte, educação
informal e consciência corporal em momentos de lazer.

Como objetivos específicos, estabeleceu-se: apontar particularidades de


encontros de música corporal “Fritura Livre” em São Paulo; identificar características
da gestão da Praça Victor Civita, analisando como ela contribui para vivências sócio-
artísticas e, por fim, analisar percepções dos participantes e organizadores nas
vivências de música corporal do “Fritura Livre. Como forma de evidenciar e mensurar
os objetivos previamente estabelecidos, as hipóteses formuladas se baseiam nas
suposições de que os encontros de música corporal “Fritura Livre” representam uma
vivência artístico-corporal que ajudam a promover a criatividade artística, a
sociabilização espontânea e respeitosa e o auto conhecimento corporal, que o
espaço da Praça Victor Civita e sua forma de gestão contribuem para o
7
desenvolvimento de atividades sócio artísticas e que participantes e organizadores
do “Fritura Livre” tem percepções positivas sobre as atividades desenvolvidas.

A presente pesquisa visou ser um estudo de caso sobre os encontros de


música corporal “Fritura Livre” realizados na Praça Victor Civita, localizada no bairro
de Pinheiros, na Cidade de São Paulo, entendendo o estudo de caso a partir da
conceituação de YIN (2005) como sendo uma investigação empírica que investiga
um fenômeno contemporâneo (o “caso”) em profundidade e em seu contexto de
mundo real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não
puderem ser claramente evidentes.

Assim, a metodologia deste trabalho parte de uma revisão bibliográfica


acerca dos conceitos de Lazer, Arte-Educação, Educação informal, Percepção
Corporal e Eutonia, a serem discutidos no segundo capítulo. A descrição completa
da metodologia utilizada para a pesquisa consta no inicio do terceiro capitulo,
seguido pelo histórico e contextualização da Praça Victor Civita e dos encontros de
“Fritura Livre, relacionando-os, em seguida, por meio da discussão da ocupação do
espaço público através de atividades artístico-educativas. Posteriormente, tendo em
foco realizar uma pesquisa qualitativa-descritiva, a coleta de dados foi feita por meio
da aplicação de questionários com perguntas abertas e fechadas e entrevistas
semiestruturadas com participantes e organizadores do “Fritura Livre”, em conjunto
com a observação participante, que foi realizada, por meio de anotações e registros
fotográficos, nas três pesquisas de campo feitas. Assim, ao final do terceiro
capítulo, serão apresentados os questionários e entrevistadas aplicadas e os demais
instrumentos de pesquisa utilizados.

O quarto capítulo da pesquisa concentra todas as informações coletadas e


respectivas análises, assim como a verificação dos objetivos e hipóteses.
Posteriormente, as correlações dos resultados obtidos com temas anteriormente
discutidos serão apresentadas nas considerações finais da pesquisa e, ao final, as
referências bibliográficas utilizadas estão indicadas, assim como os apêndices da
pesquisa, que concentram os questionários respondidos e o quadro geral de
respostas dos participantes, feito com o intuito de facilitar a leitura holística de
opiniões e apontamentos.

8
Revendo conceitos

2.1. Lazer: tempo, conteúdos e espaços.

O lazer é o tempo-espaço livre do indivíduo, onde, após já ter realizado suas


obrigações familiares, sociais e profissionais este pode se dedicar de livre e
espontânea vontade a alguma atividade que lhe interesse. Descansar, divertir e
desenvolver são funções centrais conectadas intrinsicamente dentro da esfera do
lazer, conceituado por Joffre Dumazedier (1980) como:

Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-


se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se,
recrear-se e entreter- se ou ainda para desenvolver sua
formação desinteressada, sua participação social voluntária ou
sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-
se das obrigações profissionais, familiares e sociais.
(DUMAZEDIER, 1980, p. 19)

Sendo ele um dos primeiros sociólogos a se debruçar sobre os estudos do


tempo livre e do lazer, por meio do entendimento de que a necessidade deste cresce
em função da urbanização, já que o lazer é uma temática tipicamente urbana,
Dumazedier (1980) também indica os conteúdos culturais do lazer, sendo eles os
interesses intelectual, manual, físico, social e artístico, sendo estes últimos dois
conteúdos os que serão abordados a seguir nas reflexões sobre os encontros de
música corporal “Fritura Livre”. Os conteúdos culturais estão interconectados, pois
se relacionam dentro da esfera do tempo/espaço do lazer, ou seja, uma atividade
não está ligada à apenas um conteúdo cultural e sim uma combinação e relação
livre e espontânea dos mesmos, pois sempre haverá uma influência ou interferência
de um conteúdo com outro, não havendo assim um caráter excludente dentre eles.
É importante também destacar o interesse turístico do lazer, que foi acrescentado ao
conjunto de conteúdos culturais por Camargo (1986) e o interesse virtual,
acrescentado por Schwartz (2003).

Os espaços e equipamentos de lazer são conceituados por Santini (1993),


que apresenta a compreensão do espaço como suporte para equipamentos e os

9
equipamentos como os objetos que organizam o espaço em função de determinada
atividade. Dessa forma, os equipamentos podem ser específicos ou não-específicos.
O autor Requixa (1980) define os equipamentos não –específicos como aqueles que
não são construídos de forma original para esta finalidade, mas eventualmente
cumprem este papel, a exemplos do lar, ruas e escolas. Já os equipamentos
específicos do lazer são conceituados por Marcellino (2006) como aqueles que são
construídos com a finalidade de atender diretamente aos conteúdos culturais do
lazer definidos por Dumazedier (1980), sendo eles o conteúdo artístico, intelectual,
manual, social e físico.

Também é destacada por Marcellino (2007) a importância dos equipamentos


de lazer no dever de atender a população de forma democrática, além de poder
compor uma efetiva política de animação cultural ao promover a atuação profissional
dos animadores socioculturais, que desempenham um importante papel na
sensibilização do público em função do uso e significado do espaço e equipamento,
fazendo com que estes possam contribuir diretamente com o questionamento e
reflexão sobre a realidade social e estrutural existente em determinada localidade,
bem como promover uma dimensão de grande importância na qualidade de vida
individual e social (MELO, 2003). Assim, a animação cultural introduz, por meio
desta técnica pedagógica de mediação, também novas compreensões mais
aprofundadas acerca dos sentidos e significados culturais (considerando as tensões
que nesse âmbito se estabelecem) que dão concretude a nossa experiência
cotidiana, construída com base no principio de estimulo às organizações
comunitárias, sempre tendo em vista provocar novos questionamentos acerca da
ordem social estabelecida e contribuir para a superação do status quo e para a
construção de uma sociedade mais justa (MELO, 2006). O autor Bernet (2004)
também nos fornece um entendimento da animação sociocultural enquanto
ferramenta política:

A animação cultural será, assim, o instrumento da democracia


cultural mais do que apenas a democratização da cultura. Não
é um meio para difundir, mas uma forma de transformar a
potencialidade das comunidades para gerar. (BERNET, J. T.
2004, p. 23)

10
A animação cultural também tem uma grande relação com a arte, onde seu
papel poder ser principalmente democratizar o acesso da arte erudita a todos ao
mesmo tempo que pode clarear o entendimento de arte como experiência, onde a
experiência estética é o grande valor das obras-de-arte, aquilo que devem ocasionar
(MELO, 2007) ampliando o potencial da arte, por meio da animação, para o
cotidiano de todas as pessoas e/ou comunidade, assim como destaca ainda o
mesmo autor

A grande questão é descortinar as condições concretas que


impedem as pessoas de acessar um número maior de
vivências artísticas, com mais intensidade, mais
profundamente, entabulando mecanismos de mediação que
possam, ao problematizar o que cada um vive como arte,
apresentar e estimular a busca de alternativas. (MELO, 2007,
p. 76)

Dessa forma, o lazer, por meio de seus conteúdos culturais e de seus


espaços e equipamentos potenciais podem, principalmente com a animação cultural,
promover novas vivências artísticas, promovendo a arte enquanto seu conceito
ampliado, como experiência e multiplicidade, ao passo que contribui para a
superação do status quo. Outro importante elemento que pertence ao universo do
lazer e da arte, na contemporaneidade, é o elemento lúdico, segundo Pinto (2007)

Ele nasce da curiosidade, da motivação, do interesse e da


mobilização dos sujeitos no brincar, realizando-se segundo
suas capacidades de lidar com as condições possíveis para
(re)criar os conteúdos vividos. As lembranças lúdicas são
expressas pela totalidade do corpo. (PINTO,2007, p. 177)

Assim, o lúdico enquanto vivência compartilhada também contribui para uma


construção sociocultural, promovendo a pluralidade e o significado de atividades,
que participa de um processo de construção de identidades e memórias dos
indivíduos e coletivo, seja pelo jogo ou pela brincadeira livre em qualquer idade, tal
como um caminho subjetivamente educacional com potencial de humanização.

11
2.2. Relações entre Arte e Educação informal e não formal.

[...] acho fértil essa imagem da arte como algo que não pode se
evitar. Como dejeto. A arte como dejeto que sai do corpo, que
precisa sair do corpo: mas... Não era do espírito que
estávamos acostumados a ver a arte sair? ”(CCSP, 2013, p.49)

Este trecho do professor doutor Julio Groppa Aquino, presente no livro de


ações educativas para a convivência no espaço público, elaborado em 2013 pelo
Centro Cultural São Paulo, traz a ideia das manifestações artísticas na
contemporaneidade e a forma como isso contrasta com o histórico das produções no
campo da arte. As manifestações artísticas representam o pensamento do homem
ao longo da história da humanidade, por meio de desenhos, confecções, danças,
costumes, entre outras manifestações. A arte configura uma manifestação cultural,
trazendo sua diversidade presente nos diversos estilos artísticos, que podem estar
carregados de questões estéticas, políticas, pessoais, sociais, todas advindas de
uma inquietação, sendo esta uma das principais origens do ato de fazer surgir uma
produção/manifestação de arte.

A arte pode ser compreendida hoje como experiência estética, uma vez que
tem um potencial transformador por meio da experiência vivida e se configura como
estética por meio do estudo das formas artísticas. Dentro deste entendimento e
frente ao contexto contemporâneo, a arte é uma forma de reverter o processo de
empobrecimento da experiência humana. Assim, ao contrário do que por muito
tempo se conceituava como arte, sendo mera expressão, Camargo (2009) contrapõe
este pensamento de expressão em prol da experiência transformadora:

[...] a arte não é apenas uma comunicação de emoções, mas


também a constituição de conhecimentos sensíveis capazes de
promover o entendimento de uma parcela do mundo que
nenhuma outra reflexão silogística alcançaria. Reduzir a obra
de arte à comunicação de emoções não contribui muito para
seu entendimento ou eventual definição.
(CAMARGO, M.H. 2009, p.7.)

12
Por meio da arte, estes conhecimentos sensíveis que propiciam novos
entendimentos sobre o mundo refletem a subversão de formas, através de formas. A
arte como uma perspectiva e visão do mundo que se expressa e se projeta
configurando a experiência para quem produz e para quem recebe, sendo ela
dança, teatro, música, literatura, pintura ou as demais segmentações da arte,
configuram, como um todo, uma manifestação humana, carregada de valores,
costumes, vivências, inquietações. Podemos, assim, compreender a arte e as
manifestações artísticas como elementos que colaboram para a construção de uma
cultura ou identidade cultural, entendendo cultura pela definição de Milton Santos
(2000):

O conceito de cultura está intimamente ligado às expressões


de autenticidade, da integridade e da liberdade. Ela é uma
manifestação coletiva que reúne heranças do passado, modos
de ser do presente e aspirações, isto é, o delineamento do
futuro. Por isso mesmo, tem de ser genuína, isto é, resultar das
relações profundas dos homens com seu meio, sendo por isso
o grande cimento que defende as relações locais, regionais e
nacionais contra as ameaças de deformação ou dissolução de
que podem ser vítimas. (SANTOS, 2000)

A cultura como processo genuíno que advém de relações profundas do


homem com o seu meio, repercutindo em manifestações coletivas autenticas, que
irão direcionar e definir os traços de determinada sociedade, perpassando, assim,
por todas as esferas da sociedade, em função de expor, das mais diversas formas, o
conhecimento obtido e assim gerar novos conhecimentos, formando um processo
cíclico culturalmente educacional. Assim, as manifestações artísticas, que
constituem conjuntos culturais, surgem deste processo cultural e educacional, uma
vez que a educação permeia todo o universo da formação, educação e projeção de
um indivíduo na sociedade, resultando na compreensão da arte como uma
importante maneira de estabelecer contato com a realidade, como algo que traz
impactos para além da própria obra em si (MELO, 2007, p.75). É no dia a dia, na
família, nos amigos, nos encontros, festas, conversas que se pode agregar
conhecimento, sendo esta a esfera da educação informal ou não-formal,
conceituadas por Gohn (2006) como:

13
[...] a informal como aquela que os indivíduos aprendem
durante seu processo de socialização - na família, bairro, clube,
amigos etc., carregada de valores e culturas próprias, de
pertencimento e sentimentos herdados: e a educação não-
formal é aquela que se aprende "no mundo da vida", via os
processos de compartilhamento de experiências,
principalmente em espaços e ações coletivos
cotidianas.(GOHN, 2006)

As diversas vivências do individuo ao longo dos seus dias são, assim,


carregadas de conhecimentos variados, que acabam por ser absorvidos e
projetados na formação e personalidade da pessoa. Desta forma, é possível
compreender como os momentos e atividades de lazer, que englobam o descanso, o
divertimento e o desenvolvimento, podem influenciar potencialmente na formação do
individuo e do coletivo, exaltando e evidenciando a relação entre vivências artísticas
e educação informal e não formal a exemplo dos encontros de música corporal
“Fritura Livre”, em que se promove o contato e exploração com o próprio corpo e a
busca pela harmonia sonora com os demais corpos, como fatores que carregam
conhecimentos, valores e condutas dentro de uma vivência corporal social criativa e
artística.

2.3. Consciência Corporal e o método da eutonia.

Da tradição cartesiana, advinda do pensamento do filósofo e matemático


alemão René Descartes (1596-1650), baseada no dualismo corpo/alma, surge o
distanciamento histórico do indivíduo com sua dimensão corporal, que exime o corpo
de uma inteligência própria e de uma influência sobre a saúde mental.

A tradição cartesiana esmerou-se na construção e na


defesa do dualismo corpo/alma. Ela considera que a realidade
possui duas substâncias imiscíveis que não se correspondem
de forma direta: a res extensa e a res cogitans. A primeira
determina a existência dos corpos e a segunda a existência da
alma e do pensamento. (DASCAL, 2008, p. 41)

14
Essa doutrina desenha um corpo sujeito ao mecanicismo, logo,
decomponível e incapaz de produzir “saberes”; faz da mente a
única fonte de conhecimento e vida ativa. (DASCAL, 2008,
p.42)

Porém anos depois, confrontando diretamente este pensamento, a autora


Dascal (2008), discorrendo sobre Maurice Merlau Ponty, (1908-1961) filósofo
fenomenologista francês, apresenta a compreensão, baseada no filósofo, de que
toda técnica corporal amplia a metafisica da carne, tornando-se necessário
reencontrar o corpo operante e atual, sem que este seja um pedaço de espaço, um
feixe de funções, mas sim um entrelaçado de visão e movimento. E a consciência
em si é compreendida não à maneira do cogito cartesiano “Penso, logo existo”
(Cogito, ergo sum), mas por meio de suas relações com o corpo: consciência é
comportamento. Assim, a consciência corporal é baseada na auto percepção pelo
indivíduo, onde:

[...] a consciência do corpo não é meramente intelectual, não se


reduz a algum conjunto de imagens idealizadas, simples
decalques ou fotografias da realidade. Ela nasce de uma
percepção criada durante o movimento. Por princípio, toda
percepção é movimento, não havendo possibilidade de se
compreender o corpo sem sua motricidade, sem sua
capacidade de se pôr em movimento. (DASCAL, 2008, p.43)

Assim, a consciência sobre o corpo não parte da capacidade intelectual de


imaginar, mas provém de cada vivência em que se está atento às percepções que
surgem a partir dos movimentos, sendo a própria vivência da movimentação a mola
propulsora para o crescimento do repertório intelectual posteriormente, que gera a
capacidade de imaginar e criar a partir de experimentações mentais do que um dia
já se viveu. Dessa forma, a relação de percepção corporal e a consciência sobre si
configuram o envolvimento e a forma com que cada pessoa se relaciona com seu
espaço corporal e também com o mundo. Há uma dinâmica que compõe uma
unidade, assim “Corpo e consciência não são causalidade distintas, mas formam
uma unidade resultante da dinâmica de experiência do corpo em
movimento.”(DASCAL, 2008. p.47).

15
E onde os espaços corporais são:

Os espaços correspondem às diversas articulações do corpo,


no qual é possível localizar fluxos energéticos importantes e no
qual se inserem os vários grupos musculares. Em sentido mais
amplo, a ideia de espaço corporal está intimamente ligada à
ideia de respiração – que, ao contrário do que pensamos, não
se resume à entrada e à saída do ar pelo nariz. Na verdade o
corpo não respira apenas através dos pulmões. Em linguagem
corporal, fechar, calcificar e endurecer são sinônimos de
asfixia, degeneração, esterilidade. Respirar, ao contrário,
significa abrir, dar espaço. Portanto, subtrair os espaços
corporais é o mesmo que impedir a respiração, bloqueando o
ritmo livre e natural dos movimentos. Imagem muito forte de
nossa emoção, a respiração representa toda nossa troca com o
mundo. (VIANNA, 2005, p.70)

Os fluxos energéticos existentes dentro dos espaços das articulações


caracterizam o ritmo dos movimentos do corpo e, consequentemente, da troca que é
feita com o mundo. Assim, o trabalho com o corpo, com os espaços corporais,
observando suas formas, sensibilidades, fragilidades ou força, agilidade, possibilita
que aos poucos o individuo perceba como o seu corpo reage aos estímulos,
situações, sentimentos e uma vez percebendo esta relação de ação e reação
corporal, possibilita-se um novo posicionamento perante o meio, a partir da
consciência corporal

[...] uma consciência corporal baseada na percepção dos


espaços internos do próprio corpo. Nesses espaços, que em
geral correspondem às diversas articulações, localizam-se
fluxos energéticos e inserem-se os vários grupos musculares.
(VIANNA, 2005, p.117)

A vivência atenta aos espaços corporais a partir dos grupos musculares,


articulações e movimentos, otimiza o fluxo energético existente em cada corpo,
promovendo uma consciência corporal que busca perceber e aprimorar os espaços
internos do corpo, ao mesmo tempo que garante um equilíbrio com o meio em que
se insere, pois explorando e trabalhando os espaços do corpo e, consequentemente,

16
o fluxo energético entre estes espaços, uma boa relação de equilibro do individuo
consigo, com outras pessoas e com o meio, pode ser aprimorada, alterando sua
forma de receber e projetar informações e ações, conciliando ambos e criando uma
unidade consciente, onde:

A sensação de equilíbrio corresponde ao momento ou aos


momentos em que descobrimos uma maneira harmônica de
utilização do espaço, em que equilíbrio interior e exterior já não
se diferenciam mais. (VIANNA, 2005, p.117)

Dessa forma, o autor Vianna (2005) coloca que estar em harmonia com o
próprio corpo, por meio da observação e da percepção dos movimentos mais
elementares, é criar um código com o próprio corpo, iniciando um processo de
sensibilização de partes mortas até alcançar a liberação das articulações. A reação
do corpo aos novos e diferentes estímulos possibilita acordar o corpo, rompendo
com uma domesticação social, assim como discute o autor:

Em geral, mantemos o corpo adormecido. Somos criados


dentro de certos padrões e ficamos acomodados naquilo. Por
isso, digo que é preciso desestruturar o corpo; sem essa
desestruturação não surge nada de novo. [...] No fundo, é uma
mudança de ritmo: se vou todos os dias pelo mesmo caminho,
não olho mais para nada, não presto atenção em mim ou no
ambiente. Mas se penetro numa rua desconhecida, começo a
perceber as janelas, os buracos no chão, despertando para as
pessoas que passam, os odores, os sons. Se o corpo não
estiver acordado é impossível aprender seja o que for.
(VIANNA, 2005, p.77)

É importante destacar a relação de atividade energética neste processo de


percepção e consciência corporal. A relação do circuito energético ocorre no
microcosmo e no macrocosmo, uma vez que o ritmo do universo é baseado em
expansão e recolhimento, assim como o corpo humano, onde cada célula do corpo
também é composta por expansão e recolhimento. Assim, para Vianna (2005) a
energia do cosmo é uma espiral que se repete no corpo humano.

17
Resumindo em compreensão e expansão, o movimento
humano tanto é reflexo do interior do homem quanto tradução
do mundo exterior. Tudo que acontece no universo acontece
comigo e com cada célula do meu corpo. A espiral crescente, o
universo, tem um ponto de partida em cada um de nós, e é do
nosso interior, da nossa concepção de tempo e espaço, que
estabelecemos uma troca com o exterior, uma relação com a
vida. (VIANNA, 2005, p.103)

Assim, o processo de “auto reconhecimento corpóreo” por meio da


percepção/consciência corporal é baseado na capacidade de atenção, sendo este
um dos objetivos principais da Eutonia, tida por Dascal (2008) como um método
investigatório e de observação do corpo em que a pessoa é, simultaneamente, o
sujeito e o objeto da própria experiência. Essa experimentação constante e
observação rigorosa do próprio corpo aguçam a sensibilidade proprioceptiva, de
perceber-se efetivamente, desenvolvendo um estado de presença autêntica de si e
em relação às pessoas, às coisas e ao mundo. Assim, integrando educação, terapia,
corpo e arte, o trabalho corporal desta técnica denominada Eutonia visa:

Aguçar a sensibilidade proprioceptiva significa despertar o


corpo para sentir, perceber e conhecer o que ocorre. Conectar-
se a este campo perceptivo-cognitivo significa estar receptivo
às próprias sensações e modificações que possam vir a
ocorrer, sem julgamentos prévios ou valorativos; é um processo
de conquista da liberdade de se permitir ser o que é.
(DASCAL, 2008, p.57)

O desenvolvimento de um saber do corpo ocorre assim através da atenção,


observação, exploração e experimentação do/com e pelo próprio corpo. Dessa
forma, o estado de presença é este estado de alerta, de consciência sobre o corpo,
de percepção ativa, de estar alerta para sentir, perceber e conhecer, estar receptivo
para o que está ocorrendo no corpo.

O estado de presença acontece quando a atenção e a intenção


para o momento que estamos vivendo se encontram “no aqui e
no agora”. Nesse estado, encontramo-nos completos na ação
que realizamos, não fazemos julgamento do certo ou do errado,

18
do bonito ou do feio, somos o que somos; talvez seja esse o
estado de pura consciência. (DASCAL, 2008, p.76)

A repercussão posterior deste estado de alerta reflete nas demais esferas da


vida, seja intelectual, social, profissional e familiar, assim como defende a autora
Dascal (2008) ao afirmar que o corpo assim compreendido revelará o sujeito que
percebe, assim como o mundo percebido. Sua força advém do movimento próprio
da existência. Assim, um controle positivo sobre o corpo pode surgir, determinando a
postura frente ao mundo exterior. Portanto, a necessidade de rever o olhar sobre o
corpo, compreendendo sua complexidade e infinitas possibilidades dentro de seu
simples modo de ser através da vida, possibilita com que o individuo possa
estabelecer uma nova relação consigo mesmo, com os demais e com o espaço-
tempo.

“A vida é síntese do corpo e o corpo é síntese da vida.”


(VIANNA, 2005, p.103)

A cada momento a mobilidade, a sensibilidade, a intuição, todo o corpo


caracteriza nossa forma como recebemos e percebemos o mundo e como nos
comportamos nele, como nos identificamos nele. Refletindo sobre lazer, arte, corpo
e cidade, torna-se possível perceber como ainda hoje, um dos grandes desafios da
relação arte e sociedade é superar o distanciamento entre ambos, assim como o
histórico distanciamento entre o corpo e a mente, ou mesmo entre o lazer e as
estruturas culturais, políticas e econômicas. Há uma urgência em compreender
como todos estes fatores estão intimamente relacionados, como um é suporte e
para que o outro aconteça ao mesmo tempo em que o delimita, como a arte é
produto da sociedade e vice versa, como o corpo é condição básica de existência e
essencial para qualquer produção artística e como o lazer representa o potencial
político social para que a arte seja feita, vista, absorvida, refletiva, ressignificada, por
quem quer que seja. A ludicidade dentro deste processo de conexão de fatores e
subjetividades é também importante, pois promove o reconhecimento da pluralidade,
ou seja, da diversidade das vivências lúdicas, abrindo um caminho educativo
importante para a compreensão das diferenças entre os sujeitos (PINTO, 2007,p.
180), principalmente dentro do contexto urbano como o da Cidade de São Paulo,
tido para alguns como um “caldeirão cultural” ou seu extremo oposto, “selva de

19
pedra”, ressaltando como as relações e ações de respeito coletivo, consciência
corporal, manifestações artísticas autênticas, trocas harmônicas e de equilíbrio se
tornam ainda mais preciosas e necessárias no meio urbano e entre seus habitantes.

20
A pesquisa: Os encontros “Fritura Livre” na Praça Victor Civita

A apropriação criativa do espaço público através da vivência corporal coletiva


no meio urbano, somada ao espaço-tempo do lazer, que promove por sua vez a
educação informal e não formal, configura o universo dos encontros de música
corporal “Fritura Livre”. O descansar, divertir e desenvolver está presente na
atividade lúdica coletiva que é realizada, onde os indivíduos descansam uma vez
que estão fora de atividades possivelmente estressantes do dia a dia, o “divertir”
está visivelmente presente nos atos de cantar, dançar e sociabilizar e o
“desenvolver” presente diretamente nos valores, princípios e técnicas que são
trabalhadas coletivamente, além de, principalmente, também estar presente no
contato com o próprio corpo. A voz, o passo, o tato, o ritmo e a experimentação livre
e sem julgamentos de si e dos outros, estão presentes neste processo de educar
pelo lazer, que Melo (2003) defende que significa aproveitar o potencial das
atividades para trabalhar valores, condutas e comportamentos.

Os acessos à cidade por meio da vivência e manifestação cultural que são


trabalhadas nos encontros representam também uma arte corporal livre e coletiva
que é estimulada, democraticamente, no lazer, trazendo à esfera do tempo livre um
tipo de atividade que até hoje não é muito trabalhada ou explorada. Um novo contato
e entendimento do corpo e de suas potencialidades se torna possível em cada um
deles e em todos, como unidade. Dessa forma, a presente pesquisa visou também
compreender mais a fundo quais são os valores subjetivamente intrínsecos nas
condutas e conhecimentos trabalhados e transmitidos ao longo dos encontros livres
de música corporal realizados mensalmente no meio urbano, na Praça Victor Civita.

3.1. Fritando: Os encontros de música corporal.

Tudo começou com a união de pessoas que se encontravam para “fritar”.


Eram os encontros livres e espontâneos de pessoas que se reuniam para
compartilhar sons, movimentos, danças, corpos. A experimentação é o que guiava.
A criação dos mais diversos ritmos, tons e combinações de vozes, sons do e no

21
corpo configuravam os encontros. O “fritar” era experimentar o seu corpo e a relação
com o corpo do outro. O respeito ao próximo era base do processo de exploração do
corporal, da exploração do coletivo.

Assim, o Núcleo Fritos, criado em 2003, surge em São Paulo como um grupo
de estudos que se organizava para encontros de música corporal de frequência
semanal. Após uma segmentação do grupo, em que Fernando Barba, atual diretor
do Barbatuques, deixa em 2008 o grupo, que ainda sim seguiu sem o seu criador. O
projeto cresce e, em 2012, o grupo de estudos ganha novos integrantes que
buscavam praticar mais do que uma vez por semana e que começaram a fomentar
encontros abertos em parques de São Paulo. Neste contexto surgem, em janeiro de
2013, os encontros do Fritura Livre, coordenados por Zuza Gonçalves e Ronaldo
dos Santos.

Nesse contexto surgem os encontros abertos de “Fritura Livre”, onde os


coordenadores Zuza e Ronaldo trazem ao público a vivência de experimentar o
próprio corpo e sua união com os demais corpos. A conexão com o público se cria e
o espaço escolhido para realizar os encontros, além de marcar a identidade e
qualidade destes, foi a Praça Victor Civita.

O intuito da atividade é a prática de improvisação musical utilizando


percussão corporal, voz e movimento. A intenção é ser aberta e inclusiva de modo
que qualquer pessoa possa se juntar ao grupo para experimentar o fazer musical.
Com o tempo, a atividade tornou-se também um lugar para o encontro comunitário e
a sensibilização para as possibilidades de convivência amistosa e cooperativa no
espaço público.

O espaço da Praça Victor Civita foi escolhido por alguns motivos chave, tal
como a localização, próximo ao Metrô Pinheiros, também pela estrutura da praça,
com água, sanitários e, principalmente, por seu piso de madeira suspenso, que
colabora com a sonoridade dos pés. Outros elementos que colaboram são a
privacidade sonora, por não ser um lugar que contenha muito movimento nas
proximidades, as árvores presentes no espaço que criam um ambiente mais
acolhedor e a estrutura da arquibancada, que possibilita que mesmo em dias de
chuva se possa realizar a atividade, ainda que de forma adaptada.

22
As informações acima citadas foram obtidas por meio da entrevista realizada
com Ronaldo dos Santos, no dia 5 de Abri de 2015, através da pesquisa online feita
por email.

3.2. A Praça Victor Civita: Criação e usos criativos.

A Praça Victor Civita, localizada no bairro de Pinheiros na Cidade de


São Paulo, nas proximidades do Metrô Pinheiros e Marginal Pinheiros, é um espaço
que foi revitalizado e inaugurado em 2008. De acordo com o Relatório de Atividades
(2013), após ter seu espaço totalmente planejado em função do uso sustentável da
área, onde por 40 anos funcionou o Incinerador de Pinheiros, a Praça Victor Civita é
resultado da Parceria Público Privada, em um modelo de gestão compartilhada que
envolve o poder municipal e empresas privadas, onde desde o inicio de seu
planejamento, em 2001, contou com parceiros como Grupo Abril, Grupo Itaú,
Petrobrás, Even Construtora e Incorporadora, Instituto Claro, Gerdau, Grupo CCR,
Grupo Petrópolis, Instituo Verdescola, Itaú Unibanco, Levisky Arquitetos e Sabesp,
utilizando também as leis de incentivo PROAC – Programa de Ação Cultural do
Estado como forma de ampliar a estrutura da Praça, além de parceiros que
contribuem diretamente com a programação de atividades e atrações do local, como
Guri Santa Marcelina, Pôr do Som, Direção Cultura entre outros, variando entre
produtoras culturais a grupos musicais.

Atualmente a Praça oferece diversas atividades regulares e gratuitas de lazer,


cultura e bem-estar, tais como aulas de yoga e pilates que são oferecidas
diariamente, além de aulas de idiomas para a terceira idade, shows para o público
jovem, festivais e encontros destinados ao público infantil. Contendo também
ambientes para instalações artísticas, workshops e fóruns de discussões, a Praça
Victor Civita também remodelou e ressignificou o antigo Prédio do Incinerador, que
mantendo o mesmo nome, hoje contém um amplo espaço para exposições, oficinas,
além das salas multimídias e é também onde está instalada a AAPVC - Associação
Amigos da Praça Victor Civita.

23
A Associação Amigos da Praça Victor Civita, que funciona regularmente em
horário comercial e com sede no Prédio do Incinerador, foi criada em 2011 e é
responsável pela gestão compartilhada do espaço, por meio da Parceria Público-
Privada, cuidando desde os recursos e serviços básicos para sua manutenção,
programação de atrações e atividades, captação e relacionamento com parceiros e
prestação de contas aos associados que contribuem financeiramente com a AAPVC.
sempre reafirmando o compromisso com o espaço público da Praça, com o meio
ambiente e com os cidadãos da Cidade, a meta da Associação Amigos da Praça
Victor Civita é cada vez abrir mais espaço para as novas linguagens e
manifestações artísticas, contribuindo assim para a diversidade das opções culturais
e de lazer que São Paulo oferece.

Todas as informações citadas acima foram retiradas do Relatório de


Atividades da Praça Victor Civita em 2013, elaborado pela AAPVC – Associação
Amigos da Praça Victor Civita.

3.3. A ocupação do espaço público através de atividades artístico-educativas: A


cidade, o lazer e as vivências corporais coletivas.

O direito à cidade pode ser reflexo da segurança, de sua composição


estrutural, transporte e acesso ás opções de atividades de lazer existentes na
Cidade, resultando na qualidade de vida urbana das pessoas. Hoje, através da forte
influência da iniciativa privada, muitas das atividades do tempo livre e de lazer estão
voltadas ao consumo e, possivelmente, ao processo de individualização. Assim, o
caso da Praça Victor Civita, através da parceria pública privada, possibilita outro
olhar sobre esta tendência, uma vez que o objetivo é, por meio de um espaço verde
e bem estruturado, promover ações culturais variadas e abertas a todos os públicos,
estimulando a apropriação do espaço público pelos seus usuários, assim como
ocorre nos encontros de música corporal “Fritura Livre”.

A utilização de parques e praças pode ser considerada como


índice positivo na qualidade de vida urbana, desde que esses
espaços estejam – e sejam – adequados para sua

24
compatibilização com os aspectos cruciais da vida
contemporânea e, principalmente, para os lazeres. (GIRALDI,
2009, p.60)

Assim, Giraldi (2009) apresenta os parques e praças como elementos de


grande importância para a qualidade de vida urbana, desde que bem planejados e
que tenham suas ações e atividades bem desenvolvidas em função de atender os
aspectos da vida na cidade e da necessidade por lazeres. A autora também indica
como, principalmente, a segurança dos espaços públicos caracterizam a diversidade
e qualidade das ações e opções de lazer que podem existir no local, retomando a
rua como espaço primordial de sociabilização, educação informal e de lazer.

Se considerarmos que as ruas representam o mais


característico dos espaços comuns da cidade, elas são mais
importantes que praças, bosques e parques. O problema da
rua não está nela enquanto espaço físico, mas na maneira pela
qual é vivida socialmente. (GIRALDI, 2009, p.63)

As ruas, pela sua natureza e uso histórico, caracterizavam em grande parte a


apropriação coletiva do espaço, por meio do brincar das crianças, do conversar dos
adultos e das práticas manuais dos idosos. O espaço público, antes ocupado com
maior intensidade pelos corpos físicos das pessoas, que muitas vezes, tocando-se,
trocando-se, sociabilizando-se, compunham vivências corporais coletivas no espaço
público, em sua maioria em momentos de lazer. Infelizmente hoje, como muitos
autores discorrem, está é uma realidade que está se perdendo. Cabe, assim, trazer
a questão sobre os reais aspectos da relação do direito ao lazer, urbanização e os
limites da cidadania, assim como discutem os autores Isayama e Linhales (2006):

[...] da noção de direito à cidade como ampliação dos direitos


de cidadania que se poderia encontrar o alcance e os limites do
que hoje se formula como direito ao lazer. (ISAYAMA,H.F.;
LINHALES, M.A , 2006, p.102)

Os encontros de música corporal “Fritura Livre”, por meio do espaço público


da Praça Victor Civita, retomam a proposta de atividade de lazer que coloque o
corpo em função do coletivo. A formação de uma rede baseada em conexão,
aproximação, experimentação, observação de si mesmo e respeito ao outro
25
constituem uma vivência corporal pessoal e coletiva muito especial. Enquanto
atividade de lazer que promove a sociabilização, o aprimoramento artístico, através
do canto, dança e percussão corporal, o “Fritura Livre” estimula que o sujeito possa
perceber e compreender o seu corpo e o meio que o cerca de outra forma, assim
como Dascal (2008) indica que o corpo assim compreendido revelará o sujeito que
percebe, assim como o mundo percebido. Sua força advém do movimento próprio
da existência.

3.4. Metodologia

A metodologia da pesquisa consiste em um estudo de caso sobre os


encontros de música corporal “Fritura Livre”, buscando compreender a fundo seu
funcionamento, atores, impactos e repercussões. Conforme conceitua Yin (2005) o
estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno
contemporâneo (o “caso”) em profundidade e em seu contexto de mundo real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto puderem não ser
claramente evidentes. O objetivo central é analisar como ocorrem os encontros
intitulados “Fritura Livre”, realizados mensalmente aos domingos de tarde na Praça
Victor Civita no Bairro de Pinheiros em São Paulo, buscando compreender quais são
suas particularidades (potencialidades artísticas, educativas e sociais existentes)
dentro das relações de vivências corporais coletivas, verificando os vínculos entre a
arte, educação informal e a consciência corporal em momentos de lazer. Assim,
visando realizar uma pesquisa de caráter qualitativo-descritivo, onde Veal (2011)
conceitua que “grande parte da pesquisa descritiva da área pode ser considerada
exploratória: procura descobrir, descrever ou mapear padrões de comportamentos
em áreas ou atividades que não foram estudadas.”, os objetivos específicos do
trabalho foram definidos visando explorar particularidades do encontro de música
corporal chamado “Fritura Livre”, em São Paulo, satisfazendo os conceitos
anteriormente colocados. Foram assim estabelecidos três objetivos específicos:

26
1: Conhecer particularidades dos encontros de música corporal “Fritura Livre” em
São Paulo.

2: Identificar características da gestão da Praça Victor Civita e analisar como ela


contribui para vivências sócio artísticas.

3: Analisar percepções dos participantes e organizadores nas vivências de música


corporal do “Fritura Livre.

E as seguintes hipóteses:

Hipótese 1: Os encontros de música corporal “Fritura Livre” representam uma


vivência artístico-corporal que ajuda a promover a criatividade, sociabilidade, auto
conhecimento e respeito ao outro.

Hipótese 2: O espaço da Praça Victor Civita e sua forma de gestão contribuem para
o desenvolvimento de atividades sócio artísticas.

Hipótese 3: Participantes e organizadores avaliam positivamente atividades


associadas ao “Fritura Livre”.

A coleta de dados consistiu na aplicação de questionários com perguntas


abertas e fechadas, dentro da proposta de entrevistas semiestruturadas com
participantes, organizadores do “Fritura Livre” e com gestores da Associação Amigos
da Praça Victor Civita, em conjunto com a observação participante realizada nas
visitas à campo, conceituada por YIN (2005) como uma modalidade de observação
em que o observador assume uma postura ativa e participativa dos eventos que
estão sendo estudados. Assim, na presente pesquisa, a observação participante
consiste no acompanhamento integral das etapas do encontro, participação nas
atividades coletivas e posterior registro de dados e aplicação de questionários, além
de analisar os registros em vídeo disponíveis no site Youtube.com.

As visitas e pesquisas de campo realizadas se constituíram em acompanhar


integralmente três encontros do “Fritura Livre”, nas datas de 11 de Janeiro, 15 de
Março e de 24 de Maio, realizando registros em formato de vídeo, depoimentos e
fotos. Nestas idas a campo também foi feito a aplicação de questionários e
entrevistas aos participantes, organizadores e espectadores.

27
A aplicação dos questionários semiestruturados abertos foi realizada de duas
formas. A primeira foi feita presencialmente, no dia 15 de Março, onde 20 pessoas
responderam a primeira versão feita do questionário de participantes.
Posteriormente, foi feita a aplicação dos questionário por meio digital, onde os
participantes do “Fritura Livre” tiveram acesso ao questionário disponibilizado no
grupo do “Fritura Livre” na rede social Facebook e puderam respondê-lo e enviá-lo
assinado até a data limite estipulada, em 1° de Junho de 2015 . Os questionários
aos organizadores e gestores da AAPVC – Associação Amigos da Praça Victor
Civita também foram enviados por email respondidos e assinados até a mesma data
definida. As perguntas elaboradas buscaram não influenciar nas respostas dos
entrevistados.

3.5. Questionários e entrevistas.

A coleta de dados foi feita por meio da aplicação de questionários com


perguntas abertas e fechadas com os participantes e com os organizadores do
“Fritura Livre” em conjunto com a observação participante que foi realizada nas três
pesquisas de campo que foram feitas nas datas de 11 de Janeiro, 15 de Março de
2015 e 24 de Maio de 2015. Vale ressaltar que foram feitas algumas alterações e
correções, dentre a primeira versão aplicada presencialmente de questionários
direcionados aos participantes, feita no dia 15 de Março, e os demais questionários
respondidos online, via email. Por conta disso, encontram-se pequenas diferenças
em algumas perguntas destes questionários respondidos pelo público entrevistado.
Os mesmos seguem registrados e estão disponíveis para consulta nos apêndices
desta pesquisa.

Ao total, foram entrevistados 28 participantes, 1 membro da organização do


Fritura Livre, Ronaldo Santos, e 1 membro da Associação Amigos da Praça Victor
Civita, Elizabeth Pereira Barbosa, totalizando 30 pessoas que contribuíram e
forneceram dados. Todos os questionários respondidos se encontram nos apêndices
1, 2, 3 e 4 ao final da pesquisa, e também todas as respostas dadas pelo público
entrevistado, totalizando 28 pessoas, estão reunidas em um quadro identificado no
apêndice 5.
28
Os modelos dos questionários são apresentados na página a seguir:

QUESTIONÁRIO 1:

Entrevista semiestruturada aplicada aos participantes.

Assinatura do entrevistado: Data:

Nome: Sexo: Idade:

Formação: Bairro e Zona que reside:

1 - Como você soube do “Fritura Livre”?

2 - O que lhe motivou e/ou motiva a vir aos encontros?

3 - O que esta atividade representa para você?

4 - O que, a seu ver, o espaço da Praça Victor Civita contribui para a atividade?

5 - Quais são as suas sensações com esta atividade? E em relação ao seu corpo?

6 - Qual é, a seu ver, a importância de esta atividade ser realizada em grupo e no


espaço público?

7 - Você obteve aprendizados com esta atividade? Se sim, quais?

8 - A vivência obtida no encontro “Fritura Livre” interfere posteriormente na sua vida?


Se sim, como?

9 - Você considera que este tipo de atividade contém um potencial transformador na


formação do individuo e também no coletivo? Se sim, por quê?
10 - Você considera atividade como (permitido assinalar mais que uma alternativa):
Educativa ( ) Lazer ( ) Artística ( )
29
30
QUESTIONÁRIO 2:
Entrevista semiestruturada aplicada aos organizadores do Fritura Livre.

Nome: Sexo: Idade:

Formação: Atuação profissional:

Assinatura do entrevistado: Data:


1 – Quando e como surgiram os encontros do “Fritura Livre”?

2 - Quais são os princípios e objetivos da atividade?

3 - Quais são os traços educativos e artísticos que a atividade trabalha?

4 - Como ocorrem os encontros e quais foram as mudanças percebidas ao longo do


tempo?

5 – Como o espaço da Praça Victor Civita contribui para a atividade? Quais são as
relações com a administração do espaço?

6 – A percepção corporal é trabalhada ao longo da atividade? Se sim, como e por


quê?

7 – Qual é a importância desta atividade ser realizada em grupo e no espaço


público?

8 - As vivências artísticas dos encontros do “Fritura Livre” buscam interferir


posteriormente na vida de seus participantes? Se sim, como e por quê?

9 - Você considera que este tipo de atividade de lazer contém um potencial


transformador na formação do individuo e também no coletivo? Se sim, por quê?

10 – Como, a seu ver, o conhecimento do próprio corpo interfere na vida do


individuo?

31
QUESTIONÁRIO 3:

Entrevista semiestruturada aberta aplicada a membros da AAPVC*.

Assinatura do entrevistado: Data:

Nome: Sexo: Idade:


Formação: Atual cargo na AAPVC*:
1 – Quando, como e por quem a AAPVC* foi fundada?

2 - Como funciona a AAPVC*?

3 - Quem participa atualmente da AAPVC* e como os recursos são obtidos?

4 – Quais foram e são os princípios da gestão da Praça Victor Civita?

5 – Quais são as propostas e/ou potenciais da estrutura física da Praça?

6 – Como funciona a preservação e manutenção deste espaço público?

7 – Há um diferencial da Praça Victor Civita em relação às demais praças de São


Paulo? Se sim, qual(s)?

8 – Quais são as principais atividades realizadas na Praça? Porque estas


atividades?

9 – Há uma relação da AAPVC* com o encontro de música corporal “Fritura Livre”?


Como ela ocorre?

10 – A Praça contribui para os encontros do “Fritura Livre”? Como e por quê?

32
11 – O que os encontros de música corporal “Fritura Livre” representam para a
AAPVC*?

12 – Algum dos membros da AAPVC participa ou já participou de um dos encontros


do “Fritura Livre”?

*Associação Amigos da Praça Victor Civita.

33
Resultados obtidos

4.1. Como ocorrem os encontros “Fritura Livre”: Descrição do dia 24 de Maio.

Cada edição do encontro “Fritura Livre” ocorre sempre de uma forma


diferente, apesar de compartilharem da mesma proposta, pois não há uma fórmula
exata a seguir, e tudo acaba por depender do grupo presente, das condições do dia
e da conexão entre as pessoas feita durante a atividade. É importante ressaltar a
complexidade em descrever de modo definitivo, objetivo ou conceitual uma atividade
extremamente experimental, dinâmica e livre, em que não há regras ou fórmulas
para sua execução e por isso mesmo nem sempre a descrição apresentada pode
representar fielmente a forma total como ocorreu. Dessa forma, o registro das etapas
do “Fritura Livre”, realizado no dia 24 de Maio de 2015, e sua respectiva descrição
foram baseados na observação participante realizada sob a perspectiva da
pesquisadora.

A atividade tem horário de inicio marcado para as 12h30min em uma das


áreas da Praça Victor Civita, conforme o evento na rede social Facebook, utilizada
como meio de divulgação, porém começou as 13h00min, dando 30 minutos para
que as pessoas pudessem chegar, se cumprimentar ou conhecer e iniciar a
concentração para a atividade. Inicialmente, os condutores deste encontro de
música corporal, Zuza e Ronaldo, formam uma grande roda, com todas as pessoas
presentes, apresentando o que é “Fritura Livre” e introduzindo a forma como ocorre
a vivência, dizendo sobre a importância de experimentar a potencialidade do corpo e
da voz, propondo o exercício de não utilizar as palavras para se comunicar, mas
apenas gestos e sons. Em seguida, são identificados os participantes que vem pela
primeira vez, que nesta edição foram em torno de 15 pessoas, e são definidos os
“anjos”, que são os participantes mais experientes que se posicionam ao lado direito,
na roda dos que vêm pela primeira vez, visando guiar e orientar no que se mostrar
necessário.

Assim, o encontro “Fritura Livre” se inicia partindo de um aquecimento coletivo


e individual, aquecendo, soltando e experimentando os membros do corpo, como
mãos, braços, tronco, pernas, pés. O condutor Ronaldo propõe uma sequência de
34
movimento e balanço dos braços, introduzindo depois a palma, como forma de já
gerar um som e um ritmo. Em seguida, introduz a compensação do peso do corpo,
através de passos no mesmo lugar da roda, porém com os pés em ritmos diferentes,
“batendo o pé”, também trazendo demais recursos de percussão corporal, como o
estalar de dedos. Feito esta sequência de aquecimento corporal com certa
musicalidade, o alongamento corporal é feito com o outro, por meio do alongamento
dos pés e pernas, onde se deve segurar atrás uma das pernas trazendo-a para o
respectivo quadril e, com a mão inversa á que está segurando a perna atrás, se
apoiar no ombro do companheiro ao lado, fazendo uma leve massagem (proposta
pelo condutor Ronaldo) como forma de descontrair o alongamento e introduzir o
contato com a pessoa ao lado, muitas vezes desconhecida. Feito isso com um lado
do corpo, troca-se a perna a ser alongada e a mão que irá massagear, assim como
a pessoa que irá receber a massagem. Em seguida, alguns pulos livres são
propostos e mais alguns movimentos de alongamento do tronco e dos ombros, por
meio de inclinações e rotações. Um exercício de respiração é proposto: respirar
profundamente e, ao expirar, fazer um alto som, soltando um “ahhhhhh” (neste
momento muitos bocejos surgem). Movimentos de rotação de pescoço e cabeça são
propostos, seguidos por um aquecimento das mãos (movimenta-las em diferentes
velocidades, rotações e massagens), depois uma automassagem no rosto,
brincando com seus membros, fazendo caretas, girando a língua entre outros
movimentos livres, onde não há certo ou errado.

Após este processo inicial de acordar externa e internamente o corpo, ainda


no formato da grande roda, as pessoas dão as mãos e o condutor Zuza, desata uma
das mãos e caminha circularmente em direção ao centro da roda, formando
gradativamente uma grande espiral, que começa, assim, o movimento coletivo de
deslocamento pelo espaço, ao mesmo tempo em que propõe outra organização
espacial para e do grupo. A espiral se divide em três rodas, uma dentro da outra,
divididas de acordo com a proximidade entre as pessoas. O trabalho com sons é
iniciado por meio de movimentos de braços, palmas e estalos ritmados.
Posteriormente o foco é na respiração e os condutores Zuza e Ronaldo propõem
para os participantes para que inspirem profundamente, fechem os olhos, escutem a
contagem de três palmas e ao expirar escolham uma vogal como nota para cantar
de forma prolongada (entre A, E, I, O, U). Uma linda atmosfera sonora é criada. As
35
rodas se aproximam, os condutores brincam com a ordem e vez de cada roda cantar
uma nota e se cria uma melodia com as vozes, a experimentação livre do coletivo e
de cada pessoa. É interessante notar como os participantes de “primeira viagem”
estão um tanto acanhados neste primeiro momento. Outra importante observação é
que a atividade está constantemente aberta para a entrada ou saída dos
participantes, assim, em certos momentos novas pessoas entram ou saem de
acordo com sua vontade. A imagem abaixo demonstra a formação do grupo e
alguns movimentos de percussão corporal, dentro da formação em diferentes rodas.

Fotografia 1: Movimentos coletivos de percussão corporal e dança.

Imagem própria. Foto tirada em 15/03/2015

Aleatoriamente o condutor Zuza toca no ombro de algumas pessoas para


que estas comecem a experimentar os sons da voz livremente em meio à melodia
coletiva, trocando notas, variando ritmos, velocidades e volumes, fornecendo uma
grande estimulo de participação e confiança para o grupo e, principalmente, para os
mais acanhados. Zuza faz “fôlegos” de improvisação, que são como pausas da
experimentação livre e foco na repetição coletiva do improviso criado por um dos
condutores do momento. Estes “fôlegos” se tornam coletivos à medida que o
36
condutor passa a vez para demais participantes, para que estes improvisem e o
grupo repita, fazendo com que o coletivo reproduza o improviso criativo individual,
dentro de uma atmosfera leva e positiva de participação e alegria compartilhada.
Todos estão felizes e sorrindo. Dá-se início a percussão corporal e dança, por meio
de passos marcados, introduzindo novos ritmos a melodia. Ocorre uma divisão das
três rodas em regiões, quase como grandes pedaços de uma pizza, definidas de
forma livre em função da sonoridade que vai ser proposta, experimentada e
trabalhada coletivamente por meio da regência e orientação direcionada que os
condutores e participantes mais experientes realizam. Cada “pedaço da pizza”,
composto por três fileiras, lembrando a composição de um pequeno coral, recebem
orientações diferentes de composições de movimentos de percussão corporal, de
dança e de canto, assim como é possível observar na imagem abaixo.

Fotografia 2: Orientação e proposta de movimentos para cada grupo.

Imagem própria. Foto tirada em 15/03/2015.

Os condutores Zuza e Ronaldo circulam a todo o momento pelo espaço,


arrumando detalhes da composição sonora, quase que afinando a música corporal
produzida pelo grupo. A melodia coletiva se estabelece, por meio da harmônica
37
combinação dos pedaços sonoros da roda. Vale destacar que a progressão da
atividade ocorre de forma dinâmica, livre e contínua, ao mesmo tempo de forma
muito agradável, onde todos estão sorrindo também cada vez mais, se abrindo cada
vez mais, sentindo, recebendo e trocando. Torna-se uma grande brincadeira musical
e corporal.

Dando continuidade à atividade, os condutores formam quatro grandes rodas,


uma dentro da outra, novamente de mãos dadas, e inicia-se o deslocamento de
cada roda em uma direção (esquerda ou direita) sem desdar as mãos entre as
pessoas de cada círculo, ainda produzindo uma composição de sons diferentes. É
interessante notar que as movimentações em diferentes direções e escalas dos
círculos acabam por criar uma dança no corpo coletivo no espaço em que ocupam,
desenhando no espaço, interagindo com ele, embelezando-o ainda mais. Nesta
etapa do processo já se nota que os corpos estão mais soltos, livres, com balanço
natural do tronco e de outros membros de acordo com a melodia produzida no
momento. Os sons diferentes de cada círculo estão presentes dentro de uma
mesma melodia, variando ritmos, velocidades, volumes e até recursos de sons,
dentre dança, canto e percussão corporal. Posteriormente, as rodas se unem em um
grande trenzinho, conduzido por um dos participantes, porém iniciado pelos
condutores da atividade, unindo assim as diferentes rodas e composições rítmicas
em uma nova formação espacial, ainda um tanto circular, que percorre uma direção
livre e divertida pelo espaço. Zuza inicia danças livres no centro da formação
trenzinho, trazendo outras pessoas para compartilhar a dança livre, induzindo um
fluxo crescente de pessoas entrando e saindo da formação do trenzinho para dançar
e experimentar no centro da roda. A improvisação e o alto dinamismo são
características marcantes da atividade e um estado de êxtase coletivo se
estabelece, por meio da dança, do canto, da percussão corporal e da brincadeira
coletiva livre e tão alegre. Há uma energia, no sentindo mais subjetivo possível, que
o grupo criou e cria e que agora, tão intensamente, saboreia.

Respeitando progressão da atividade até atingir seu ponto máximo, a


regressão da intensidade da atividade ocorre quando os condutores começam a
aproximar as pessoas em um grande circulo, porém não em roda e sim cheio de
pessoas dentro, se aproximando cada vez mais. Volta-se à experimentação de

38
diferentes níveis de voz e canto, enquanto um grande coral, como no inicio da
atividade. Zuza começa a alternar propostas de improvisação individual para
repetição do coletivo, passando uma mensagem final, criada especialmente naquela
edição do Fritura e naquele momento, através do verso cantado: “quando a festa
está acabando, o coração começa a doer”. Todos cantam juntos, usando um recurso
da percussão corporal de bater no peio, porém, neste momento, este ato contém
uma simbologia muito grande, pois em certo momento, ao ir abaixando o volume do
trecho cantado, só resta o som de bater no peito, da percussão corporal, do coletivo,
representando o ritmo do coração. Um sentimento de amor e vida que une a todos
naquele momento transborda em um comemorar coletivo, assim como a foto abaixo
demostra.

Fotografia 3: Movimento de celebração final do encontro.

Imagem própria. Foto tirada em 15/03/2015.

Um grande silêncio se estabelece. Não há necessidade de palavras. O gesto


da última e grande palma marca o final da atividade, que se segue após o momento
relatado pela foto acima. Todos erguem seus braços e juntamente batem uma ultima
e muito forte palma, que é seguida de um abraço coletivo. Todos se sentam no
39
chão, ainda na proximidade do abraço coletivo, e começam a compartilhar
sensações. Relatos como “foi a tarde de domingo mais gostosa em dois anos”, “foi
muito mais fácil do que eu imaginava”, “foi uma composição muito bem elaborada”, “
feliz por estar aqui”, “precisamos levar a atividade para fora, para outras pessoas”, ”o
que importa é se soltar e se expressar”, “superou minhas expectativas, não sabia o
quão prazeroso isso é”, “eu sinto que possa voar de tão livre que estou”, entre
outros, todos perceptivelmente felizes pela vivência coletiva e individual. É
interessante perceber que agora, sentados, próximos uns aos outros, todos se
olham com atenção, com carinho, olhos nos olhos, sem medo, com cumplicidade ao
ouvir o relato das sensações dos outros participantes. Algo especial foi vivido por
cada um, feito e compartilhado com todos. Agora todos se conhecem de uma forma
única, através dos corpos, da música, da arte, da ludicidade. A foto abaixo mostra
essa união do grupo.

Fotografia 4: Abraços e união coletiva.

Imagem própria. Foto tirada em 15/03/2015.

O encontro segue com a habitual foto final do grupo naquele encontro, de três
formas diferentes, que depois são compartilhadas virtualmente. Uma sorrindo, uma
40
fazendo caretas e uma fazendo um movimento de percussão corporal que cada um
escolher. Posteriormente a formação para a foto se desmancha e todos vão se
abraçando, um a um, agradecendo, sorrindo, se conhecendo “formalmente”. A meta
é todos se abraçarem como forma de fechar individualmente, por meio do abraço, o
contato coletivo. Em seguida, o piquenique coletivo é feito, também de forma livre,
onde alguns trazem comidinhas e todos podem comer, compartilhando, ao
conversar, mais sensações sobre a Fritura e se conhecendo melhor. O Fritura Livre
tem duração média de 3:30min, sendo das 12:30min às 16:00min mais ou menos,
contando com todas as etapas do encontro.

Uma importante observação a se fazer é que, seja nesta edição do dia 24 de


Maio ou nos demais meses/edições, sempre há uma diversidade de públicos, ou
seja, crianças, jovens, idosos, casais, famílias, amigos, parentes, todos estão juntos
e são iguais na vivência, porém, nesta atividade estavam também alguns deficientes
visuais, que vieram em grupo pela ADEVA (Associação de Deficientes Visuais e
Amigos), acompanhados de dois educadores artísticos da associação. Os
deficientes visuais estiveram presentes em todas as etapas da atividade, com a
diferença que tinham sempre uma pessoa que os guiava por meio do seu ombro.
Interessante ressaltar que essas pessoas que guiavam eles ao longo das atividades,
não eram conhecidos dos deficientes e em nenhum momento demostraram
desconforto ou constrangimento pela ocasião, ao contrário, aparentavam estar
contentes por proporcionar aquela vivência também aquelas pessoas.

4.2. Como o encontro é sentido: análise de percepções dos participantes.

A metodologia que se mostrou mais eficiente, em um primeiro momento, para


a aplicação de questionários aos participantes da atividade, como forma de obter
respostas que representem suas percepções, foi a da pesquisa online, conforme
descrito anteriormente na metodologia. Este método foi escolhido após a aplicação
inicial de 20 questionários impressos no Fritura Livre do dia 15 de Março de 2015,
onde os próprios entrevistados propuseram esta aplicação online, de forma
unânime. Foram feitas algumas alterações no questionário aplicado inicialmente e,
em seguida, a nova versão foi publicada no grupo específico dos participantes do
41
“Fritura Livre” na rede social Facebook. Ao longo do trabalho, este método se
mostrou ineficiente, já que muitas pessoas gostaram da proposta da pesquisa, mas
não houve um efetivo retorno de questionários respondidos. Isso pode indicar certa
superficialidade do Facebook, enquanto meio para aplicar pesquisas acadêmicas,
uma vez que poucas pessoas dedicam um tempo extra a outros assuntos e,
também, até o próprio ato de sair da rede enquanto ainda estão nela, podendo
inclusive, no final de olhar outras coisas na rede, acabar esquecendo que iriam
contribuir com a pesquisa. Ainda sim, no último encontro do dia 24 de Maio, em que
também foi feita a observação participante e o registro das etapas do encontro,
realizou-se uma conversa informal com cada participante visando formar uma lista
de e-mails de pessoas que se comprometeram a respondem o questionário da
pesquisa. Isto feito, foram enviados o total de 41 e-mails com o questionário da
pesquisa e houveram apenas 8 pessoas que responderam integralmente as
perguntas.

Dessa maneira, a amostra total que foi analisada nesta pesquisa é baseada
nos vinte questionários aplicados inicialmente, que se manteve útil a pesquisa como
forma de identificar o perfil do público mais a fundo e absorver criticamente as
respostas iniciais fornecidas, e nos oito questionários respondidos online,
analisando-os como a versão mais atual do questionário proposto, em conjunto com
perguntas que se mantiveram iguais ou semelhantes em ambas as versões dos
questionários aplicados.

A análise da amostra dos 28 questionários semiestruturados abertos,


aplicados por meio da pesquisa online e por meio impresso, apresenta inicialmente o
perfil dos entrevistados, indicando, por meio de tabela, os dados sobre formação,
sexo e região que residem. Posteriormente, é apresentado a análise das respostas
dadas para cada pergunta, seguindo a ordem do questionário aplicado aos
participantes e destacando trechos relevantes das entrevistas que foram
selecionados. Ao final, no quinto apêndice, também se encontra um quadro geral
das respostas que foram transcrevidas de cada questionário aplicado aos
participantes.

42
A seguir, tabela com informações sobre sexo, idade, bairro que reside e nível
de escolaridade dos entrevistados, a fim de traçar um perfil básico dos participantes
do Fritura Livre.

Tabela 1. Informações do público participante entrevistado

Número Sexo Faixa etária Bairro que reside Formação


1 F 35 Cambuci Fonoaudiologa
2 M 25 Mandaqui Letras
3 M 23 Campos Elíseos Turismo
4 M 23 Bela Vista Superior Incompleto
5 F 20 Morumbi Superior Incompleto
6 F 17 Pirituba Gestão de Turismo
7 M 21 Jardim Iva Eng. Mecânica
8 M 49 Penha Médio
9 F 23 Paraíso Eng. Produção
10 F 21 não informado não informado
11 F 27 Florianópolis Gestão Ambiental
12 F 58 Ipiranga Superior Completo
13 M 17 Jd. Sapopemba
14 M 20 Ipiranga Superior Incompleto
15 F 29 Utinga - Sto. André Secretária Executiva
16 F 42 não informado não informado
17 F 43 Vila Mariana Biblioteconomia
18 M 28 Lyon - França Antropologia
19 F 17 Ipiranga Ensino Médio
20 F 27 Lyon - França Antropologia
I F 27 Vila Clementino -SUL Superior Incompleto
II F 29 Parque Novo Mundo - ZN Superior Incompleto
III F 27 São Bernardo do Campo Superior Completo
IV F 62 Ipiranga - ZS Superior Completo
V M 34 Vila Mariana - ZN Superior Incompleto
VI M 23 Penha - ZL Gestão Comercial
VII F 18 Ipiranga - ZS Cursando Superior
VIII F 19 Vila Moraes - ZS Cursando Técnico

Visando apresentar fielmente as informações fornecidas, a tabela 1,


apresentada acima, reúne os dados básicos dos 28 entrevistados e nos apêndices
se encontram as cópias dos questionários respondidos, assim como o quadro que
reúne todas as respostas dadas por este público participante entrevistado. Os
questionários respondidos por email estão identificados em número romanos (de I à

43
VIII), e os que foram respondidos presencialmente, no dia 15/03, com numeração
comum (de 1 a 20). No quadro geral de respostas, os questionários identificados em
amarelo representam aqueles em que a resposta dada foi utilizada como citação
neste trabalho.

Em relação ao perfil do público do “Fritura Livre”, a faixa etária identificada foi


entre os 17 anos e os 62 anos, porém a média de idade do público entrevistado está
entre as idades de 20 á 35 anos. Em relação ao sexo da de participantes, 18 são
mulheres e 10 homens, indicando, ao menos na amostra desta pesquisa, uma maior
presença de mulheres participando do encontro, sendo este talvez uma possível
vertente de estudo desta pesquisa. Em relação ao bairro, município ou país que
provêm os participantes, as respostas foram muito variadas, demonstrando que o
“Fritura Livre” atrai e faz com que pessoas de todas as regiões do estado e cidade
de São Paulo venham participar, assim como os turistas franceses que também
estavam presentes na edição do Fritura Livre de Março. Quanto o nível educacional
dos entrevistados, 23 deles chegaram ao nível superior, tendo já concluído,
cursando ou está em estado incompleto, enquanto 1 entrevistado está cursando o
ensino técnico, 2 contém a formação do ensino médio e 2 entrevistados não
informaram este dado. É importante ressaltar que esta amostra de participantes
indica o perfil do público, mas, ainda sim, pode não representar o amplo universo
dos participantes, pois, como já relatado anteriormente, há diversas pessoas e,
inclusive crianças a idosos acompanhados, que entram e saem livremente enquanto
a atividade ocorre.

Os entrevistados alegaram, em sua maioria, conhecer o Fritura Livre por meio


de indicações de amigos e pessoas próximas, ou, principalmente, por meio
professores de canto e música ou pelos próprios condutores do encontro, Zuza e
Ronaldo, além das pessoas que sabem do encontro por já terem participado
anteriormente de outras edições. Houve também algumas pessoas que souberam
do encontro via divulgação no Facebook e, curiosamente, outras pessoas que, ou
por estarem apenas passando, ou por terem ido assistir uma atração cultural da
praça antes, optaram por participar da atividade, mesmo sem conhecê-la.

Quanto à motivação em participar dos encontros, os entrevistados informam


que a vontade de estar com outros, a fim de fazer arte, música com o próprio corpo,
44
conhecendo-o, e, coletivamente, viver de novo a experiência marcante do encontro
são alguns dos argumentos apresentados. O “desenvolvimento artístico, encontro
com pessoas legais e queridas” (Questionário 11) ou “a boa vibração, as pessoas, o
local, a atividade” (Questionário 17) são fatores que marcam a crescente presença
de participantes a cada encontro do Fritura Livre.

O que representa o encontro de música corporal “Fritura Livre” pode ser


expresso em diversas palavras, como: comunhão, amor, alegria, respeito mútuo,
renovação, improviso, desenvolvimento, união, arte, entre muitas outras palavras e
sentimentos expressos por meio dos questionários. As percepções são, sem
exceção, positivas quanto o que representa este encontro, pois, possivelmente, para
todos “Representa um espaço para se permitir um fazer musical livre, em que o
corpo (voz inclusive) é explorado nas suas múltiplas possibilidades musicais.”
(Questionário I), e sendo realizada coletivamente, o Fritura Livre tem uma
potencialidade muito grande de criar novos laços, relacionamentos e sentimentos
entre as pessoas que participam.

O espaço público da Praça Victor Civita, apesar de estar localizado sobre


uma área contaminada e que, por vezes, emana um mal cheiro, ainda sim, contribui
muito positivamente para a realização do encontro, sendo esta uma opinião comum
a todos os entrevistados, através de seu espaço arborizado, tranquilo, um tanto
afastado das vias públicas e seus ruídos, e com uma boa estrutura, que favorece a
acústica e o conforto dos participantes, assim como relatado por uma das
entrevistadas:

“O fato de ser um espaço aberto e amplo, com árvores e pássaros, contribui para a
sensação de liberdade e de interação com a natureza. Além disso, a estrutura em
madeira contribui para a sensação de aconchego (nos sentimos à vontade para
sentar e deitar), torna a acústica mais apropriada e serve bem à produção de som
com os pés.” (Questionário I)

As sensações percebidas pelos entrevistados sobre o encontro de música


corporal, enquanto a própria atividade e em relação ao seus próprios corpos,
diversas foram as palavras que, sempre positivamente, expressavam o que foi
vivenciado, tais como gratidão, paz, leveza, energia, cura, prazer, harmonia, entre

45
muitas outras. O conhecimento sobre as potencialidades do próprio corpo, o contato
de respeito e cumplicidade ao outro, a sensação do corpo desperto, de estar inteiro,
são algumas dos sentimentos que foram externados por meio dos questionários.
Apenas eles podem realmente dizer por si o que sentem e sentiram, dessa forma,
alguns relatos foram selecionados para que, nas palavras de cada entrevistado,
possa ser expresso as sensações vividas:

“Sinto que posso deixá-lo fluir, posso permitir fazer o ele que quer e o que ele sente
que precisa fazer. A música feita através do corpo liberta a alma!” (Questionário II)

“Minhas sensações são diversas. Sinto amor, como já disse muito, sinto vontade,
sinto energia vibrando em todas as células do meu corpo. Me sinto muito diferente
do comum. No meu corpo, além de me auxiliar na coordenação motora, também me
mantém ativa fisicamente, trazendo benefícios inclusive à minha saúde.”
(Questionário VII)

“Há uma sensação muito boa de relaxamento, mas ao mesmo tempo, de vitalidade.
Sinto que, ao longo da atividade, o corpo vai se soltando e as inibições vão sendo
deixadas de lado.” (Questionário I)

Segundo os entrevistados, é se suma importância que o encontro seja


realizado em grupo e em um espaço público, porque o coletivo é uma das maiores
potencialidades da atividade e o espaço público favorece que qualquer pessoa
possa participar da atividade. Assim, o objetivo é a “Integração. Criar relações sem
limites, com diversos tipos de pessoas de diversos grupos diferentes que se unem
em um espaço comum para criar outras relações.” (Questionário II). Há uma
intencionalidade também de proporcionar a vivência especial do encontro para todas
as pessoas, assim “É importante para todos verem que é uma atividade PÚBLICA.
Qualquer um pode participar, independentemente de sua classe social, etnia,
sabedoria musical, etc… É para que todos sintam essa energia da música
revigorando suas almas e sentimentos.” (Questionário VII). Alguns entrevistados
acreditam que a potencialidade do encontro está justamente no caráter público e
coletivo, onde um, pela presença do outro, também se sente desinibido a participar e
o faze-lo da sua forma, assim como nos mostra a entrevistada ao dizer que “De
suma importância é a coletividade que faz do encontro ser o que ele é. Ainda mais

46
em um lugar público onde qualquer um pode chegar e participar. E o mais
interessante são as pessoas que não sabem do evento e estão na praça por
“coincidência” e ficam com vontade de participar e agregam de forma maravilhosa, é
incrível ver como as pessoas conseguem se expressar na Fritura.” (Questionário
VIII)

Tal como nas respostas sobre as sensações e representatividade do


encontro, alguns entrevistados indicam que não pode ser tão racionalmente
descritível os aprendizados obtidos. A sensibilidade sonora e corporal, a
improvisação no canto, a tolerância, a aceitação, a cooperação com outras pessoas,
a coordenação motora e os sons do corpo são alguns dos aprendizados relatados.
Assim, em um âmbito geral, a resposta quanto à obtenção de aprendizados foi “Sim.
Acho que a atividade contribui para uma maior aceitação dos erros, para um contato
mais próximo com outras pessoas e para que se dê uma atenção maior ao “estar
presente” (Questionário I). Dentro da esfera educativa do encontro, um entrevistado
indica um importante ponto quanto questionado se havia obtido conhecimentos:
“Claro, Diversas dinâmicas para conduzir atividades em grupo, formas de interação e
socialização por meio da música.” (Questionário V), demostrando que além de
participar do encontro, se pode reproduzi-lo também com outras pessoas e lugares,
se baseando em pontos observados na condução de uma dinâmica como esta.

A vivência obtida no encontro “Fritura Livre” foi tida como um fator que
interfere posteriormente na vida das pessoas, seja pelos conhecimentos e técnicas
musicais e corporais obtidas, ou por meio da interação com o coletivo, pela
formação de novas amizades, de estar aberto sem julgamentos, ou, conforme
alguns, pela “energia permanecer reverberando no corpo”, fazendo com que a
resposta seja “Sim. O Fritura contribui para que eu me mantenha aberta às
possibilidades da música improvisada, bem como às possibilidades da interação
música-corpo. Além disso, como estudante de licenciatura em música, é interessante
observar a dinâmica entre os facilitadores e o grupo. (Questionário I). No caso desta
entrevistada, destaca-se ainda mais o sentido educativo dos aprendizados obtidos
com a atividade. A atividade, por depender essencialmente do corpo para ocorrer,
acaba também por inferir uma nova relação de percepção, escuta e experimentação
do individuo com o seu corpo, assim como é relatado pela entrevistada ao dizer que

47
“Sim, a experiência vivida aqui me deixa consciente do meu corpo (postura,
respiração, estado de presença) (Questionário 1).

Novamente, como resposta unânime quanto a uma pergunta, os entrevistados


afirmam que a atividade contém um potencial transformador na formação do
individuo e também no coletivo, uma vez que promove a percepção e cooperação
entre os indivíduos, por meio da integração, sintonia e liberdade artística do
individuo e do coletivo, resgatando o sentimento de coletividade, afetividade,
respeito e cooperação. Novamente, visando dar voz aos entrevistados, foram
selecionadas algumas respostas que possam inferir as opiniões por si mesmas
quando questionadas se a atividade tem potencial transformador e por que:

“Sim. Pela forma como a atividade é conduzida, as pessoas interagem de uma forma
mais próxima – tocamos umas às outras, olhamos nos olhos. Acredito que isto
contribua muito com o desenvolvimento de nossa empatia, de nossa aceitação às
diferenças e isto é algo que reverbera para muito além da atividade em si.”
(Questionário I)

“Sim. Pois, ela nos ensina a ouvir, interagir e estar junto do outro, sem fazer com
que você perca a sua individualidade.” (Questionário III)

“Acredito que essa atividade faz com que qualquer pessoa vivencie algo que não
está habituada no seu dia a dia, é um momento que ela esquece do seu cotidiano e
vivência algo sem julgamento, sem certo ou errado. Assim sendo, a pessoa começa
a refletir sobre tudo o que se passa em sua volta, podendo assim querer transformar
o meio em que vive buscando coisas melhores para seu convívio diário.”
(Questionário V)

“Sim, nos deixa mais humanos, mais olho no olho e nos desinibe” (Questionário VI)

“Claro! A relação das pessoas com as pessoas, com a cidade, com a música, tem
sido cada vez mais superficial. Esse encontro permite que conheçamos pessoas,
nos relacionemos e sintamos algo profundo por elas. O coletivo é totalmente
envolvido na Fritura. A formação do indivíduo começa a partir da relação com o
coletivo e o meio em que é inserido. Ou seja, a partir da Fritura, as pessoas
conseguem aprender e ver o melhor de si mesmas.” (Questionário VII)

48
Fechando a análise dos questionários, a última pergunta foi a respeito do
reconhecimento da atividade do “Fritura Livre” como algo educativo, de lazer ou
artístico, onde era permitido assinalar mais de uma opção. Foi possível, então,
identificar que apenas 18 dos 28 entrevistados consideram o encontro de música
corporal Fritura Livre como uma atividade que pertence ás três esferas: educativa,
de lazer e artística, enquanto os outros 10 candidatos consideram a atividade como
apenas educativa e artística, ou apenas artística e de lazer ou somente artística,
sendo o lazer uma das alternativas menos consideradas e assinaladas pelos
participantes entrevistados nesta pesquisa, assim como o gráfico abaixo demonstra:

Gráfico 1: Levantamento das respostas dadas na questão 10: Como os participantes


reconhecem a atividade.

30

25

20
Série1
15

10

Educativa = 23 Lazer = 21 Artística = 26

É interessante observar que, para alguns, o lazer poderia, dessa forma, não
ser uma definição principal ou adequada para tal vivência, indicando, assim, uma
possível necessidade de disseminar e aprofundar estudos e compreensões de lazer
em vivências e atividades como esta, assim como busca esta pesquisa, visando
compreender o entendimento de lazer por parte dos participantes do Fritura Livre ou
de outras atividades e possibilitar, ao mesmo tempo, uma nova relação de
conhecimento e consciência sobre a esfera do lazer presente nas atividades
realizadas.

49
4.3. A criação, organização e condução dos encontros de música corporal.

A entrevista semiestruturada, aplicada por meio de pesquisa online no dia 5


de Abril a um dos criadores e atual facilitador/condutor do encontro de música
corporal Fritura Livre, Ronaldo dos Santos, que está apresentada no 3° apêndice
desta pesquisa, possibilitou compreender pontos muito relevantes sobre o encontro,
sobre sua execução e importância enquanto atividade corporal artística de lazer.
Assim a análise da entrevista é apresentada seguindo a ordem das perguntas e
respostas do questionário aplicado.

Ronaldo tem 39 anos, é técnico em piano, graduado em Comunicação Social


(Publicidade e Propaganda) e é pós-graduado em Pedagogia da Cooperação e
Metodologias Colaborativas e atua profissionalmente como artista-educador
(percussão corporal), além de ser professor universitário de música e focalizador de
processos colaborativos, em grupos diversos. Segundo ele, os encontros do Fritura
Livre são promovidos em nome do grupo de estudos de música corporal do Núcleo
Fritos, que é coordenado atualmente por ele, junto com Zuza Gonçalves e Pedro
Consorte. Este grupo de estudos é remanescente do grupo de estudos criado em
2003 por Fernando Barba, diretor dos Barbatuques, e desde 2008 segue sem a
presença de seu criador, mas ainda sim manteve até 2014 uma frequência semanal
de encontros. A característica desse grupo de estudos é estar aberto a pessoas que
se interessam na linguagem e que já possuam alguma experiência musical e ao
longo dos anos várias pessoas passaram pelos encontros. Em 2012 novos
integrantes do grupo de estudos queriam praticar mais do que uma vez por semana
e começaram a fomentar encontros em parques de São Paulo e assim os encontros
tornaram-se oficiais quando Ronaldo e Zuza começaram a coordenar juntos as
atividades de improvisação nesses encontros, partindo da experiência que já traziam
da coordenação do grupo de estudos e do projeto Música do Círculo que eles
realizam juntos.

Assim, o inicio dos encontros abertos de música corporal chamados de


“Frituras Livres” podem ser contados oficialmente a partir de janeiro de 2013.
Segundo Ronaldo, o intuito da atividade é a prática de improvisação musical
utilizando percussão corporal, voz e movimento. A intenção é ser aberta e inclusiva
50
de modo que qualquer pessoa possa se juntar ao grupo para experimentar o fazer
musical. Com o tempo, a atividade tornou-se também um lugar para o encontro
comunitário e a sensibilização para as possibilidades de convivência amistosa e
cooperativa. Há diversos traços educativos e artísticos que são trabalhados na
atividade, como a percepção corporal, a sensibilização da escuta, a criatividade e a
convivência amistosa entre os participantes. Ronaldo informa que, apesar de terem
um repertório de jogos de improvisação, não há uma programação o que será feito,
dessa forma, muitas novas formas de interação foram criadas ou descobertas a
partir desse espaço. A condução da atividade é compartilhada entre ele e Zuza
Gonçalves, mas sempre outras pessoas são acionadas para propor improvisações e
auxiliar no apoio dos jogos. Ainda que haja uma preocupação estética, os
condutores buscam propostas não tão complexas para poder incluir quem participa
do encontro pela primeira vez ou que tenham pouca experiência musical. Outro
aspecto é que não há interrupção entre uma criação e outra, as propostas seguem
em transformação e dentro de um fluxo contínuo até o final da atividade. Mas os
participantes podem entrar e sair da roda a qualquer momento, de acordo com sua
disponibilidade e resistência para seguir ou não.

Os encontros acontecem uma vez por mês na Praça Victor Civita em


Pinheiros (SP) e, embora não tenham um tempo controlado, costumam durar cerca
de duas horas ininterruptas com posterior convite a um piquenique colaborativo. Ao
longo do tempo os encontros foram tornando-se mais fluídos musicalmente (no
começo ele afirma que era comum fazerem uma pausa do meio) e criando espaço
para e a subjetividade do encontro aflorar em reflexões lançadas espontaneamente
no final da experiência. Em relação aos primeiro encontros houve um grande
crescimento na quantidade de participantes. Os encontros “Fritura Livre” começaram
com 8 pessoas e tem sido comum os encontros chegarem a 70... 80 pessoas. Em
dezembro de 2013 haviam 120!

A forma como a Praça Victor Civita contribui para a atividade é descrita por
Ronaldo indicando inicialmente a estrutura da praça que, que colabora em vários
aspectos: o piso é de maneira e suspenso, o que colabora com a sonoridade dos
pés. Apesar de alguma interferência sonora externa como de carros e aviões, há
certa privacidade no espaço por não ser um lugar de muito movimento. Na Praça há

51
árvores por perto e isso cria um ambiente mais acolhedor e em dias de chuva, há a
possibilidade de refugiar o grupo na arquibancada coberta, onde é possível seguir
com a atividade mesmo que de forma adaptada, além de ter água e sanitários. Além
disso, a Praça está localizada perto do metrô, o que facilita o acesso de pessoas de
todas as regiões da cidade. Quanto à relação da atividade com a Associação
Amigos da Praça Victor Civita, Ronaldo reafirma que o Fritura Livre não é uma
atividade que participa da programação oficial da Praça, mas sempre o encontro é
marcado, há uma verificação da data escolhida em relação a programação, para que
não haja conflito de horário e de espaço entre atrações da programação e a
atividade.

Em relação à percepção corporal, o entrevistado afirma que o encontro é


dedicado à música corporal, ou seja, o corpo é estimulado o tempo todo com o
movimento pelo espaço e pela produção de sons por meio da voz e da percussão
corporal com palmas, estalos e batidas do pé entre outros. Ademas, como
preparação inicial para a atividade, é feito um aquecimento corporal. Embora a
percussão corporal e o canto possam ser executados individualmente, o Fritura Livre
é uma atividade essencialmente coletiva. Ronaldo afirmar que é de grande interesse
essa investigação em que não há separação entre artista e público e todos estão
envolvidos na experiência musical. Também interessa à eles o aspecto do encontro
e da sensação de pertencimento que esse fazer artístico faz emergir, apontando
para a reflexão do quanto é possível mudar a relação das pessoas com o mundo,
estimulando a conexão das pessoas como em comunidade e promovendo relações
mais positivas diante da crise ou colapso social que, segundo ele, estejamos
passando. Assim, as vivências do Fritura Livre podem interferir posteriormente na
vida de seus participantes, sensibilizando para uma ação no mundo mais
colaborativa, amorosa e em conexão com os aspectos subjetivos das relações
humanas. Segundo ele, esta atividade de lazer contém um potencial transformador
na formação do indivíduo e no coletivo a medida que ela tem potencial de criar um
estado emocional que sensibiliza os participantes para a possibilidade da
convivência pacífica e incentiva as pessoas a buscarem no dia-a-dia um estado de
conexão semelhante nos demais grupos em que estão inseridas. Além disso, ele
acredita que essa vivência estimula a conexão com o próprio corpo, o que pode

52
trazer auto-conhecimento na medida em que torna possível reconhecer os próprios
limites e potencialidades.

Por fim, Ronaldo discorre como o conhecimento do próprio corpo pode


interferir na vida do individuo, uma vez que as pessoas se relacionam com o mundo
a partir do corpo e seus sentidos e que é através dele que podem se expressar.
Quanto mais sensível o corpo estiver para as relações com o outro e com o
ambiente, maiores os aprendizados de cada um quanto a suas potencialidades e
limites. Dessa experiência afloram questões que passam por aspectos físicos,
emocionais e mentais, abrindo espaço para um autoconhecimento mais integral.
Assim, quanto mais cada pessoa se apropria do próprio corpo, maior também sua
possibilidade de expressão e consequentemente sua ação no mundo. Ao concluir,
ele afirma: “Penso que o caminho para o conhecimento de fora passa pelo
conhecimento de si, tanto quanto a conexão como mundo passa pela conexão
consigo mesmo.”.

4.3. A Associação Amigos da Praça Victor Civita e o Fritura Livre.

Os dados obtidos através da aplicação de apenas um questionário online são


decorrentes da colaboração da Coordenadora de Projetos, Elisabeth Barboza, que
tem 42 anos, tem pós-graduação concluída na área. A partir das respostas obtidas
foi possível compreender melhor como a e a Associação Amigos da Praça Victor
Civita (AAPVC) foi criada, pois em 2011, por meio da solicitação do Sr. Roberto
Civita, idealizador do espaço, que visava a transferência da gestão da Praça Victor
Civita do Instituto Abril para a atual AAPVC, possibilitando que o espaço pudesse
futuramente se tornar um espaço cultural. As funções atribuídas à Associação são a
manutenção do espaço, que é realizada por empresas terceirizadas, sendo
segurança, limpeza, jardinagem e controle de pragas, enquanto a manutenção
preventiva do espaço é realizada por uma equipe própria da AAPVC, visando reduzir
os custos de reformas e benfeitorias esporádicas, além da organização e curadoria
da programação cultural e esportiva do espaço. Conforme Elizabeth, a Associação
é mantida por aportes anuais das empresas parceiras, valores que são para a
infraestrutura da Praça e folha de pagamento dos funcionários, sendo a
53
programação trazida por parceiros ou até mesmo pelos artistas, interessados pelo
espaço e a divulgação do evento, pois a AAPVC não dispõe de verba para
programação. Quando criada, a AAPVC contava com diversos colaboradores, como
as empresas ABRIL, CCR, CLARO, EVEN, GERDAU, ITAU, SABESP E
VERDESCOLA, porém, hoje a AAPVC conta apenas com a SABESP como único
patrocinador financeiro e optaram pela certificação de OSCIP, concedida no final de
fevereiro de 2015, visando a isenção fiscal como meio de trabalhar com projetos que
possibilitem a captação de recursos financeiros para serem destinados a
programação e um percentual para a manutenção do espaço.

Os princípios da gestão da Praça Victor Civita, segundo a entrevistada, são


focados no estímulo ao surgimento de novas ideias, ao convívio comunitário, ao
desenvolvimento sustentável e a difusão do conhecimento, proporcionando ao
público, além do acesso a programação de qualidade, gratuitamente. Como um dos
diferenciais da praça, está sua estrutura física, que em 2013, reformou o segundo
andar do Prédio do Incinerador, ganhando o espaço intitulado “Oficinas Criativas”,
equipado com 30 estações de trabalho, equipadas com 30 notebooks, 02 televisores
de Led, 01 projetor e 20 câmeras fotográficas semi profissionais, projeto patrocinado
pelas empresas Claro, Gerdau e Even e que teve a reforma realizada através do
ProAC. Segundo Elizabeth, já há um projeto orçado para a reforma do primeiro
andar, espaço que atualmente contém uma infraestrutura limitada (apenas uma
tomada de 220 W), mas ainda sim é muito disputado para o uso de exposições. Este
projeto deve ser inscrito no projeto em lei ainda este ano, tendo sua conclusão e
inauguração prevista para 2016.

O principal diferencial do espaço é que, segundo Elizabeth Barboza, a Praça


Victor Civita não se enquadra nas legislações de praças e nem de parques, sendo
um espaço com regulamento próprio (Portaria nº 139/SPPI/GAB/2008), considerado
como um centro cultural por gestores, pela equipe administrativa e técnica e por
parte do público visitante, dessa forma, a AAPVC está atualmente tentando viabilizar
junto a Subprefeitura de Pinheiros, a divulgação do espaço como Centro Cultural
Victor Civita, o que, segundo ela, seria mais adequado pelo trabalho realizado no
espaço, podendo principalmente, aumentar o número de frequentadores nos

54
eventos, porque possivelmente quem não conhece o espaço poderia ter receio em
visitá-lo, devido ao titulo “praça”.

As principais atividades que são realizadas na Praça, segundo Elizabeth


Barboza, pertencem aos dois projetos que estão em andamento há três anos
consecutivos, sendo o Cine na Praça, com sessões de cinema ao ar livre, todas as
noites das quintas-feiras, que atrai uma média de 250 pessoas por sessão, e o
Esporte na Praça, com aulas de ioga, pilates e ginastica funcional ao ar livre, de
segunda a segunda. Ambos os projetos foram criados especialmente para a Praça,
visando unir propostas diferenciadas. Além destas atividades fixas, ocorrem os
eventos nos finais de semana, que em sua maioria são projetos musicais que
compõem a programação cultural da Praça. Segundo a coordenadora de projetos,
além dos artistas que aparecem pela visibilidade do nome nos veículos de
divulgação que atendem a Praça, a AAPVC também tem grandes projetos como o
Guri na Praça, que mensalmente traz uma apresentação para o espaço, a Semana
Ticket de Arte e Cultura, a Virada Sustentável, além das atividades infantis
programas para ocupar os espaços da Praça de Agosto á Dezembro.

A relação entre a Associação Amigos da Praça Victor Civita e o encontro de


música corporal “Fritura Livre” ocorre de modo informal, pois não há vinculo com a
AAPVC, devido ao motivo central de os encontros não serem agendados com pelo
menos 35 dias de antecedência, prazo que a AAPVC precisa para informar a
Subprefeitura sobre o uso do espaço. Ainda sim, a praça, enquanto espaço público,
contribui com a infraestrutura existente, proporcionando o mesmo acesso e as
mesmas condições que são oferecidas para o público em geral. Assim, segundo a
coordenadora de projetos entrevistada, o contato com o organizador Zuza
Gonçalves é de total colaboração, fazendo com que os encontros não sejam nos
dias de eventos da programação da Praça, ocorrendo mensalmente em um domingo
que não haja programação destinada para o mesmo horário previsto para a
atividade.

Ainda sim, os encontros de música corporal “Fritura Livre” representam mais


um diferencial que a AAPVC tem a intenção de trazer para a programação do
espaço, tendo até já combinado informalmente uma apresentação do encontro no
palco da Praça, faltando apenas o efetivo planejamento deste evento por parte dos
55
organizadores do “Fritura Livre” e da própria AAPVC, prevendo já as circunstâncias
necessárias para a realização do mesmo.

Um dos pontos curiosos observados no questionário, respondido pela


coordenadora de projetos Elizabeth Barboza, foi que nenhum dos membros da
AAPVC chegou a participar efetivamente de um dos encontros de música corporal
Fritura Livre, sendo isto justificado por ela devido à carga horária compatível com a
realização do encontro ou pelo folga quinzenal dos membros da equipe da AAPVC,
o que pode indicar que, possivelmente, os próprios membros da Associação não
utilizam o espaço da Praça como espaço tempo de lazer e que também não haja um
interesse pessoal, fora o profissional, em participar e conhecer o encontro de música
corporal Fritura Livre.

4.4. Fritura Livre: lazer, arte, consciência corporal e ludicidade.

Após as pesquisas de campo realizadas e das análises dos questionários e


dos dados obtidos, é possível afirmar que os três objetivos centrais da pesquisa
foram realizados, sendo eles: identificar particularidades dos encontros de música
corporal “Fritura Livre” em São Paulo; identificar características da gestão da Praça
Victor Civita e analisar como ela contribui para vivências sócio artísticas; analisar
percepções dos participantes e organizadores nas vivências de música corporal do
“Fritura Livre. Assim, após aprofundar a discussão em torno do encontro de música
corporal Fritura Livre, é possível identificar esta atividade como uma ação que
promove diretamente uma reformulação no olhar artístico por meio, principalmente,
do lazer, ao propor uma apropriação criativa do espaço público, a criação de
vínculos afetivos entre pessoas antes desconhecidas e principalmente o contato
com o próprio corpo em prol de música. Esta manifestação artística atípica, porém
que está em rápido crescimento, mostra-se como uma forma de expandir os
horizontes da arte, do corpo e do lazer, ao mesmo tempo em que estabelece novas
relações, ainda que subjetivas, entre os mesmos. Assim, na afirmação abaixo, Melo
indica como é necessário descontruir a ideia tradicionalista de arte e expandir seus
horizontes.

56
“Para pensarmos a arte como forma de lazer está estabelecido
aqui, portanto, um primeiro desafio: reverter essa compreensão
de que se trata de algo para poucos, concepção que ainda hoje
é mais forte do que a princípio poderíamos conceber. A arte
não é superior, é ordinária, sendo necessário, portanto,
desmontar as hierarquias construídas a seu redor. ”(MELO,
2007,p. 73)

O encontro livre, o espaço público, os conhecimentos corporais trabalhados,


os valores e princípios trabalhados na esfera da educação informal ou não-formal
são indicadores de como há uma experiência única e marcante que provém do
encontro coletivo, da experiência estética de arte, do ato de voltar a atenção ao
próprio corpo, onde o que repercute da vivência coletiva configura a experiência
artística, uma vez que o conceito de arte não é definido somente a priori e
externamente, mas também levando-se em conta o que os indivíduos sentem com
arte” (MELO, 2007, p. 75).

“Ouvindo música, cantando, dançando, tocando instrumentos, o


corpo lida com a expressividade dos gestos, dos objetos, dos
instrumentos musicais, dos temas e do universo sonoro em que
vive. Passa a perceber que alguns detalhes são muito
especiais na relação gestual e musical da sua e das outras
culturas. Aguça sua percepção musical (ritmo, harmonia e
melodia), educando-se para compreender como convivemos
com o ambiente, o clima, os animais, as opressões sociais, as
festas, os ritos, o trabalho, o lazer.” (PINTO, 2007,p.188)

Assim, o que Pinto descreve se relaciona diretamente com a experiência do


encontro de música corporal “Fritura Livre”, que sensibiliza os indivíduos para os
detalhes do coletivo, o respeito mútuo, a exploração do sons e das possibilidades,
de si e dos outros, “educando-se para compreender” as mais diversas esferas
sociais e culturais em que estamos inseridos e que, assim como na música, há a
necessidade de se manter um ritmo, uma harmonia e até mesmo uma melodia ao
vivenciá-las. Nesta atividade, notam-se os corpos que se movem de acordo com um
ritmo comum, a harmonia que se estabelece na troca entre cada indivíduo, as notas
57
vocais que indicam como o espaço contribui para uma melodia coletiva, compondo
um despertar corporal e de diversos sentimentos que surgem. Ao final, talvez caiba
aqui, então, questionar como estimular cada vez mais o ampliar, na prática, de
novas compreensões sobre a arte, sobre o próprio corpo, sobre o espaço público ou
sobre o outro, se não experimentando, improvisando, se permitindo, trocando,
aprendendo e compreendendo?

58
Considerações Finais

Compreendendo o tempo-espaço do lazer como um elemento de grande valia


para a formação do individuo, possibilitando e impulsionando o aprimoramento de
habilidades artísticas, lógicas, sociais e pessoais, entre outras, o presente trabalho
visou levantar e discutir possibilidades de estados corporais em processos artísticos
no lazer, verificando o emergir de momentos em que ocorra maior conexão do
individuo com seu corpo e, por consequência, com o meio e pessoas que o cercam.
Para tanto, foi realizado um estudo de caso sobre os encontros de música corporal
chamado “Fritura Livre”, que ocorrem mensalmente na Praça Victor Civita, localizada
no bairro de Pinheiros em São Paulo. Os encontros são atividades coletivas de
música corporal, em que, por meio da exploração dos sons do corpo, voz, percussão
corporal e dança, somado à apropriação criativa do espaço público da Praça, e do
ato da criação de vínculos afetivos entre pessoas antes desconhecidas, foi possível
verificar e analisar percepções relatadas por participantes, assim como por
organizadores do Fritura e por responsáveis da gestão da Praça Victor Civita, feita
pela Associação de Amigos da Praça Victor Civita.

Buscando também explorar a relação do corpo com a arte, assim como da


arte com lazer, ou deste com o espaço público e, por fim, o espaço público com o
desenvolvimento de uma atividade artística corporal coletiva, compreendendo a
dimensão subjetivamente educativa presente em todo o processo, o objetivo geral
da presente pesquisa foi identificar conhecimentos, valores, relações intra e
interpessoais e comportamentos que são trabalhados ao longo dos encontros
abertos de música corporal, realizados mensalmente no meio urbano paulistano,
visando indicar também algumas de suas particularidades, dentre potencialidades
artísticas, educativas e sociais existentes.

O referencial teórico da pesquisa se baseou em uma revisão conceitual sobre


lazer, por meio dos conceitos de autores como Dumazedier (1980/2004), Camargo
(1986/2009), Marcellino (2006/2007), sobre animação cultural, discutindo autores
como Melo (2003), Bernet (2004) e Santini (1993), sobre arte e cultura, com Santos
(2000), Melo (2006) e em autores que discutem sobre o corpo humano, suas
potencialidades e interferências em demais esferas da vida cotidiana, a exemplo de

59
Dascal (2008), Vianna (2005) e Merleau-Ponty (1994), entre outros que contribuíram
e possibilitaram reflexões sobre o uso do espaço urbano, politicas públicas de lazer
e na fundamentação da metodologia utilizada ao longo da pesquisa.

Como metodologia, buscou-se compreender, por meio de uma pesquisa


descritivo-qualitativa e através da observação participante, particularidades destes
encontros e as relações que surgem, verificando percepções que puderam emanar
deste processo social e artístico. A coleta de dados foi feita por meio da aplicação de
questionários com perguntas abertas e fechadas e entrevistas semiestruturadas com
os participantes, com os organizadores do “Fritura Livre” e com uma representante
da Associação Amigos da Praça Victor Civita, em conjunto com a observação
participante que foi realizada integralmente no dia 24 de Maio, por meio de diário de
campo, visando captar e descrever todas as etapas do encontro “Fritura Livre”.

As visitas e pesquisas de campo realizadas se constituíram em acompanhar o


decorrer de três encontros, nas datas de 11 de Janeiro, 15 de Março e de 24 de
Maio, porém apenas em 15 de Março que foi feita a aplicação de 20 questionários
para uma parcela do público participante. Ao total, foram entrevistados 28
participantes, além de 1 membro da organização do Fritura Livre, Ronaldo Santos, e
1 membro da Associação Amigos da Praça Victor Civita, Elizabeth Pereira Barbosa,
totalizando 30 pessoas que contribuíram e forneceram dados.

Após as pesquisas de campo realizadas e das análises dos questionários e


dos dados obtidos, é possível afirmar que os três objetivos centrais da pesquisa
foram realizados, sendo eles: identificar particularidades dos encontros de música
corporal “Fritura Livre” em São Paulo; verificar características da gestão da Praça
Victor Civita e analisar como ela contribui para vivências sócio artísticas; analisar
percepções dos participantes e organizadores nas vivências de música corporal do
Fritura Livre. Frente aos dados levantados com o decorrer da pesquisa, as hipóteses
previamente estabelecidas foram comprovadas como corretas, logo, pode-se afirmar
que os encontros de música corporal “Fritura Livre” representam uma vivência
artístico-corporal que ajuda a promover a criatividade, sociabilidade, auto
conhecimento e respeito ao outro; o espaço da Praça Victor Civita e sua forma de
gestão contribuem para o desenvolvimento de atividades sócio artísticas e, por fim,

60
que os participantes e organizadores avaliam positivamente atividades associadas
ao “Fritura Livre”.

Verificou-se, também, algumas variáveis que partiram das hipóteses


estabelecidas, enquanto complemento para algumas conclusões, como quanto ao
primeiro objetivo, onde muitas foram as particularidades relatadas ao longo da
pesquisa, porém exalta-se como a improvisação e o alto dinamismo são
características marcantes da atividade e como um estado de êxtase coletivo pode-se
estabelecer, por meio da dança, do canto, da percussão corporal e da brincadeira
coletiva livre e tão alegre que este encontro de música corporal representa. Quanto
ao segundo objetivo, ressalta-se como a relação entre a Associação Amigos da
Praça Victor Civita (AAPVC) e o encontro de música corporal “Fritura Livre” ocorre
de modo informal, feito por meio de um contato autônomo do organizador Zuza
Gonçalves com a AAPVC, em que se estabelece uma relação de total colaboração,
a fim de mediar à escolha das datas para a realização do encontro, além de
promover o uso consciente e criativo da praça. A praça, enquanto espaço público
aberto, também contribui com a infraestrutura já existente, algo que por si só já
garante o bom desenvolvimento dos encontros “Fritura Livre” no local. Por fim, as
percepções relatadas, em que algumas foram até citadas, demostram o quão
gratificante é considerado, pelos participantes, o ato de participar, vivenciar,
aprender e trocar vivências corporais coletivas que o “Fritura Livre” proporciona.
Ainda sim, verificou-se que para alguns participantes, o lazer não pertence,
unanimemente, à compreensão sobre o que é a atividade, não tido, dessa maneira,
como uma definição para tal vivência, indicando uma possível necessidade de
disseminar e aprofundar estudos e compreensões de lazer em vivências e atividades
como estas. Além disso, vale ressaltar que o contato com o próprio corpo é um dos
pontos do “Fritura Livre” mais destacados pelos participantes, que possibilita um
controle positivo sobre o corpo, determinando as posturas do indivíduo frente ao
mundo exterior. Portanto, a necessidade de rever o olhar sobre o corpo em
momentos de lazer, compreendendo sua complexidade e infinitas possibilidades, é
um dos pontos chave desta pesquisa, pois possibilita que o individuo possa
estabelecer uma nova relação consigo mesmo, com os demais indivíduos e com o
espaço-tempo em que está inserido.

61
Vale ressaltar, também, que na edição de Novembro de 2015, que ocorreu no
domingo, dia 15, o encontro foi realizado no vão livre do MASP, como forma de
celebrar junto a outras pessoas desconhecidas o novo uso de lazer que o espaço
público da Avenida Paulista ganhou aos domingos e, ao mesmo tempo, apresentar e
introduzir a proposta de música corporal para as diversas pessoas que ali circulam.
Esta iniciativa foi tomada pelo próprio grupo organizador do “Fritura Livre” e o
desenvolvimento da atividade sucedeu de uma forma muito agradável e harmoniosa,
como em todos os encontros. Porém, esta ação marca claramente a facilidade com
que esta atividade pode ser levada para diversos espaços públicos ao redor da
cidade, seja em parques, praças, ruas de lazer, bibliotecas, centros culturais,
escolas e entre outros. Apesar desta edição de Novembro no MASP ter sido um
movimento organizado somente pelo grupo, sem dúvidas seria de grande valia se,
em um futuro próximo, pudessem ser estabelecidas parcerias oficiais com os órgãos
de lazer, arte, cultura e juventude da Cidade e até do Estado de São Paulo, algo que
provavelmente promoveria novos estudos a respeito do tema e de sua aplicação
prática.

Pode-se concluir, assim, que o encontro de música corporal Fritura Livre,


realizado na Praça Victor Civita, é uma atividade de lazer diferenciada, que promove
a percepção e consciência corporal por meio das técnicas e conhecimentos de
música corporal compartilhados, configurando uma vivência lúdica de arte, dentro de
sua potencialidade de experiência estética, além de resgatar valores de coletividade,
cooperação, respeito e amor coletivo, dentro do universo da educação informal ou
não formal. Os processos artísticos vividos no “Fritura Livre”, de acordo com
percepções observadas, demonstram que a experiência estética não pode ser
traduzida em palavras, ultrapassam o ato de fazer música com o corpo, de se
exercitar ou se reunir com desconhecidos. É um jogo, uma festa livre, altamente
inclusiva, com alto potencial de aprendizado e compartilhamento, baseado na
proposta de estabelecer novas relações de carinho e respeito com desconhecidos,
além de explorar o próprio corpo, experimentando suas potencialidades, para depois
saborear o resultado coletivo destas experimentações, que passam do individual
para o coletivo. O encontro promove um despertar, seja corporal, emocional,
musical, espacial ou das relações interpessoais e que, sem duvidas, poderia ser
expandindo para os demais espaços públicos da cidade, sendo promovida como
62
atividade de lazer corporal, social e educativa, e proporcionando para cada vez mais
pessoas uma experiência transformadora e marcante, no sentido mais leve e
agradável da palavra.

63
Referências Bibliográficas

AAPVC. Relatório de Atividades da Praça Victor Civita/Associação Amigos da


Praça Victor Civita. São Paulo, 2013.

BERNET, J. T. Animação Sociocultural. (A. Rabaça, Trad.). São Paulo: Piaget,


2004.

CAMARGO, L. O. de L. O que é lazer. São Paulo: Brasiliense, 1986.

CAMARGO, M. H. As estéticas e suas definições de arte. R.cient./FAP, Curitiba,


v.4, n.1 p.1-15, jan./jun. 2009.

CENTRO CULTURAL SÃO PAULO. #SOU PÚBLICO. São Paulo, 2013.

DASCAL, M. Eutonia: O saber do corpo / Miriam Dascal. - São Paulo: Editora


Senal São Paulo, 2008.

DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva, 2004.

DUMAZEDIER, J. Valores e conteúdos culturais do lazer. São Paulo: SESC,


1980.

GIRALDI, R. de C. Equipamentos de lazer: Uma reflexão sobre o espaço


urbano. In: LAGE,B,H.G. (org). Lazer e Turismo: Conceitos e Reflexôes. V.1.São
Paulo: Plêiade, 2009. P.53-73.

GOHN, M. G. Educação não-formal na pedagogia social. An. 1 Congr. Intern.


Pedagogia Social Mar. 2006.

GONÇALVES, Z. Fritura Livres de 2014. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=CUiwLBx0K1M > . Acesso em 30 mai. 2015.

ISAYAMA, H. F. Lazer em Estudo: Currículo e formação profissional. / Hélder


Isayama (org) - Campinas, SP – Papirus, 2010.

ISAYAMA,H.F.; LINHALES, M.A.(org). Sobre o lazer e politica: maneiras de ver,


maneiras de fazer. Belo Horizonte: Ed. UFMG,2006.

MARCELLINO, N.C. (Org). Lazer e cultura. Campinas, SP: Alínea, 2007.

64
MARCELLINO, N. C. Estudos do lazer: uma introdução. 4. ed. Campinas, SP:
Autores Associados, 2006.

MARCELLINO, N. C; BARBOSA, F. S.; MARIANO, S. H.; SILVA, A.


da.;FERNANDES, E. A. de O. Espaços e equipamentos de lazer em região
metropolitana. Curitiba, PR: Opus, 2007.

MELO, V.A. Arte e lazer: Desafios para Romper o Abismo. In: MARCELLINO,
N.C. (Org.) Lazer e cultura. Campinas, SP: Átomo Alínea, 2007, p. 65-87.

MELO, V. A. de; A Animação Cultural: conceitos e propostas. Campinas:


Papirus, 2006.

MELO, V. A. de; ALVES JUNIOR, E. de. Introdução ao lazer. Barueri, SP: Manole,
2003.

MERLEAU-PONTY, M. (1994). Fenomenologia da percepção (C. Moura, Trad.).


São Paulo: Martins Fontes. (Texto original publicado em 1945)

MINAYO MC. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio


de Janeiro: Abrasco; 2007.

PINTO, L. M. S. M. Vivência lúdica no lazer: Humanização pelos Jogos,


Brinquedos e Brincadeiras. In: MARCELLINO, N.C. (Org.) Lazer e cultura.
Campinas, SP: Átomo Alínea, 2007, p. 171-193.

REQUIXA, R. Sugestões de diretrizes para uma política nacional de lazer.São


Paulo: SESC, 1980.

SANTINI, R. de C. G. Dimensões do lazer e da recreação. São Paulo: Angelotti,


1993.

SANTOS, Milton. “Da cultura à indústria cultural”. São Paulo: Folha de São Paulo,
19 de março de 2000.

SCHWARTZ, Gisele M. O conteúdo virtual: contemporizando Dumazedier. In


LICERE, Belo Horizonte, v.2, nº 6, p.23-31, 2003.

OLIVEIRA. H. A. Fritura Livre de 11/01/2015. Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=4dKva1Riyak >. Acesso em: 30 mai. 2015.

65
VIANNA, K. A Dança / Klauss Vianna ; Marco Antonio de Carvalho. – 6. Ed. – São
Paulo: Summus, 2005.

VEAL, A. J. Metodologia de pesquisa em lazer e turismo / A. J. Veal; tradução


Gleice Guerra, Mariana. Aldrigui. – São Paulo : Aleph, 2011.

YIN, R.K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 5. Ed. Porto


Alegre:Bookman, 2005.

66
APENDICES

67
Apêndice 1. Questionários aplicados aos participantes – respondidos por
email

68
QUESTIONÁRIO I

EACH - USP
Potencialidades Corporais em Processos Artísticos no Lazer: Explorando
percepções sobre o encontro de percussão corporal “Fritura Livre”.

Entrevista semiestruturada aberta a ser aplicada aos participantes.

Assinatura do entrevistado: Data:

Nome: Andrea Satomi Nagamine Sexo: F Idade: 27 anos

Formação: Graduanda em Licenciatura em Educação Musical Bairro e Zona que


reside: Vila Clementino (Zona Sul)

1 - Como você soube do “Fritura Livre”?

Através de amigos que conheci nas oficinas que o Zuza ministrou no Sesc Vila
Mariana.

2 - O que lhe motivou e/ou motiva a vir aos encontros?

Saber que encontrarei pessoas abertas às possibilidades da construção coletiva


feita na hora e que a música será feita de uma forma orgânica e sem qualquer tipo
de cobrança por algum tipo de “acerto”.

3 - O que esta atividade representa para você?

Representa um espaço para se permitir um fazer musical livre, em que o corpo (voz
inclusive) é explorado nas suas múltiplas possibilidades musicais.

4 - No que, a seu ver, o espaço da Praça Victor Civita contribui para a atividade?

O fato de ser um espaço aberto e amplo, com árvores e pássaros, contribui para a
sensação de liberdade e de interação com a natureza. Além disso, a estrutura em
madeira contribui para a sensação de aconchego (nos sentimos à vontade para
sentar e deitar), torna a acústica mais apropriada e serve bem à produção de som
com os pés.

5 - Quais são as suas sensações com esta atividade? E em relação ao seu corpo?

69
Há uma sensação muito boa de relaxamento, mas ao mesmo tempo, de vitalidade.
Sinto que, ao longo da atividade, o corpo vai se soltando e as inibições vão sendo
deixadas de lado.

6 - Qual é, a seu ver, a importância de esta atividade ser realizada em grupo e no


espaço público?

Acredito que a importância consiste em oferecer a pessoas de todas as idades e


contextos sociais a possibilidade de interação, de acolhimento e de contato com o
fazer musical coletivo.

7 - Você obteve aprendizados com esta atividade? Se sim, quais?

Sim. Acho que a atividade contribui para uma maior aceitação dos erros, para um
contato mais próximo com outras pessoas e para que se dê uma atenção maior ao
“estar presente”.

8 - A vivência obtida no encontro “Fritura Livre” interfere posteriormente na sua vida?


Se sim, como?

Sim. O Fritura contribui para que eu me mantenha aberta às possibilidades da


música improvisada, bem como às possibilidades da interação música-corpo. Além
disso, como estudante de licenciatura em música, é interessante observar a
dinâmica entre os facilitadores e o grupo.

9 - Você considera que este tipo de atividade contém um potencial transformador na


formação do individuo e também no coletivo? Se sim, por quê?

Sim. Pela forma como a atividade é conduzida, as pessoas interagem de uma forma
mais próxima – tocamos umas às outras, olhamos nos olhos. Acredito que isto
contribua muito com o desenvolvimento de nossa empatia, de nossa aceitação às
diferenças e isto é algo que reverbera para muito além da atividade em si.

10 - Você considera a atividade como (permitido assinalar mais que uma


alternativa):

Educativa ( x) Lazer (x ) Artística (x )

70
QUESTIONÁRIO II
EACH - USP

Potencialidades Corporais em Processos Artísticos no Lazer: Explorando


percepções sobre o encontro de percussão corporal “Fritura Livre”.

Entrevista semiestruturada aberta a ser aplicada aos participantes.

Assinatura do entrevistado: _____


Data: 26.05.2015

Nome: Julyanna Katryn Carmo Sexo: F Idade: 29

Formação: Superior incompleto

Bairro e Zona que reside: Parque Novo Mundo - ZN

1 - Como você soube do “Fritura Livre”?

Através de indicações de amigos do SESC V. Mariana.

2 - O que lhe motivou e/ou motiva a vir aos encontros?

A experiência musical que difere do que estamos acostumados, o que proporciona


um estado de espírito diferente do habitual. O fato de poder sentir a música sem
normas, preconceitos e padrões.

3 - O que esta atividade representa para você?

Uma atividade terapêutica.

4 - O que, a seu ver, o espaço da Praça Victor Civita contribui para a atividade?

O espaço amplo, com a presença da natureza, afastado de movimentações urbanas


nos proporciona um ambiente onde podemos estar em conexão conosco.

5 - Quais são as suas sensações com esta atividade? E em relação ao seu corpo?

Sinto que posso deixá-lo fluir, posso permitir fazer o ele que quer e o que ele sente
que precisa fazer. A música feita através do corpo liberta a alma!

6 - Qual é, a seu ver, a importância de esta atividade ser realizada em grupo e no


espaço público?

71
Integração. Criar relações sem limites, com diversos tipos de pessoas de diversos
grupos diferentes que se unem em um espaço comum para criar outras relações.

7 - Você obteve aprendizados com esta atividade? Se sim, quais?

Que posso me permitir fazer que meu corpo sente. Que a música pode libertar o
que todas as convenções que viemos aprendendo desde que chegamos a este
mundo nos impõem.

8 - A vivência obtida no encontro “Fritura Livre” interfere posteriormente na sua vida?


Se sim, como?

Sim. Descobrimos a música de uma forma diferente. Como uma energia presente
em todos os lugares e em todas as pessoas.

9 - Você considera que este tipo de atividade contém um potencial transformador na


formação do individuo e também no coletivo? Se sim, por quê?

Sim. Como citei na questão 7, ela pode sim, mostrar que nem todos os limites que
acreditamos ser saudáveis, realmente o são. Que fazer coisas que parecem
‘estranhas’ aos olhos da maioria pode nos fazer melhor do que a gente imagina, pois
neste caso, só fazemos o que a energia do corpo, das conexões com os presentes
nos leva a sentir.

Nesta atividade aprendemos a respeitar o que o outro sente, respeitar o que aos
nossos olhos também parece estranho, mas que é simplesmente a manifestação de
uma paz e uma felicidade que nos ocupa naquele momento.

10 - Você considera atividade como (permitido assinalar mais que uma alternativa):

Educativa (x) Lazer (x) Artística (x)

72
QUESTIONÁRIO III

EACH - USP
Potencialidades Corporais em Processos Artísticos no Lazer: Explorando
percepções sobre o encontro de percussão corporal “Fritura Livre”.

Entrevista semiestruturada aberta a ser aplicada aos participantes.

Assinatura do entrevistado: Data:

Nome: Juliana Keiko Kawachi Sexo: F Idade:27

Formação: superior completo Bairro e Zona que reside: Anchieta – S.B.


do Campo

1 - Como você soube do “Fritura Livre”?

Conheço desde o começo do ano, depois que participei de um Retiro de Música


Circular com os organizadores do Fritura.

2 - O que lhe motivou e/ou motiva a vir aos encontros?

O encontro com a música, com as pessoas e comigo mesma.

3 - O que esta atividade representa para você?

Representa um momento de paz, alegria, desapego, totalidade.

4 - O que, a seu ver, o espaço da Praça Victor Civita contribui para a atividade?

Por ser uma praça toda de madeira e com muitas àrvores, eu a considero
acolhedora.

5 - Quais são as suas sensações com esta atividade? E em relação ao seu corpo?

Me sinto mais leve, mais disposta, mais relaxada.

6 - Qual é, a seu ver, a importância de esta atividade ser realizada em grupo e no


espaço público?

É uma atividade que só tem esta força, justamente por ser feito em grupo e num
espaço público e gratuito. Pois, todos se sentem parte e podem fazer parte.

7 - Você obteve aprendizados com esta atividade? Se sim, quais?

73
Como musicoterapeuta e professora de música, aprendi uma nova forma de
improvisar e criar música no coletivo. E aprendi que o ser humano é um ser com
muitos potenciais e com uma necessidade de estar junto partilhando.

8 - A vivência obtida no encontro “Fritura Livre” interfere posteriormente na sua vida?


Se sim, como?

Sim. Como já citei, por ser professora de música, eu tento recriar esta atmosfera nas
minhas aulas. E como pessoa, eu percebi que a música no meu corpo está presente
todos os dias.

9 - Você considera que este tipo de atividade contém um potencial transformador na


formação do individuo e também no coletivo? Se sim, por quê?

Sim. Pois, ela nos ensina a ouvir, interagir e estar junto do outro, sem fazer com que
você perca a sua individualidade.

10 - Você considera atividade como (permitido assinalar mais que uma alternativa):

Educativa (X) Lazer ( X ) Artística ( X )

74
QUESTIONÁRIO IV

EACH - USP
Potencialidades Corporais em Processos Artísticos no Lazer: Explorando
percepções sobre o encontro de percussão corporal “Fritura Livre”.

Entrevista semiestruturada aberta a ser aplicada aos participantes.

Assinatura do entrevistado: Data:

Nome: Angela Andreuccetti Sex o:


Feminino Idade: 62

Formação: Superior completo Bairro e Zona que


reside: Ipiranga Zona Sul

1 - Como você soube do “Fritura Livre”?

Minha filha Laura é aluna do Zuza, faz parte do Vozes ao Cubo e trabalha na
FUNSAI.

2 - O que lhe motivou e/ou motiva a vir aos encontros?

A energia. O contato com pessoas.

3 - O que esta atividade representa para você?

Um encontro com outras energias.

4 - O que, a seu ver, o espaço da Praça Victor Civita contribui para a atividade?

É um espaço importante, apesar do forte cheiro de esgoto por conta da SABESP


que fica bem ao lado da praça.

5 - Quais são as suas sensações com esta atividade? E em relação ao seu corpo?

É gratificante tanto para a cabeça como para o corpo.

6 - Qual é, a seu ver, a importância de esta atividade ser realizada em grupo e no


espaço público?

O grupo está cada vez maior e o fato de ser gratuito acho que contribui para
aumentar cada vez mais o número de participantes.

75
7 - Você obteve aprendizados com esta atividade? Se sim, quais?

Aprendizado acho que não, mas a troca de energia, a alegria são coisas boas.

8 - A vivência obtida no encontro “Fritura Livre” interfere posteriormente na sua vida?


Se sim, como?

Acho que nos torna mais leves.

9 - Você considera que este tipo de atividade contém um potencial transformador na


formação do individuo e também no coletivo? Se sim, por quê?

Sim. Se todos pudessem vivenciar essa atividade, haveria menos gente estressada.

10 - Você considera atividade como (permitido assinalar mais que uma alternativa):

Educativa (X) Lazer (X) Artística ( )

76
QUESTIONÁRIO V

EACH - USP
Potencialidades Corporais em Processos Artísticos no Lazer: Explorando
percepções sobre o encontro de percussão corporal “Fritura Livre”.

Entrevista semiestruturada aberta a ser aplicada aos participantes.

Assinatura do entrevistado: Data:

Nome: André Melo Sexo: Masculino Idade: 34

Formação: Superior Incompleto Bairro e Zona que reside: Vila Mariana Z/S

1 - Como você soube do “Fritura Livre”?

Em uma oficina que fazia com o Zuza, algumas pessoas que estavam fazendo a
mesma oficina e já frequentavam a Fritura Livre me convidaram.

2 - O que lhe motivou e/ou motiva a vir aos encontros?

Um encontro com música coletiva e improvisação, foi o que me motivou, depois de


conhecer a energia que emana durante é algo mágico isso é um complemento a
mais.

3 - O que esta atividade representa para você?

Integração, comunidade.

4 - O que, a seu ver, o espaço da Praça Victor Civita contribui para a atividade?

Um lugar tranquilo, acolhedor bem propício para a atividade.

5 - Quais são as suas sensações com esta atividade? E em relação ao seu


corpo?

Paz, tranquilidade, união. Quanto ao corpo depende do dia, as vezes fico relaxado,
as vezes fico um pouco cansado.

6 - Qual é, a seu ver, a importância de esta atividade ser realizada em grupo e


no espaço público?

77
Não teria uma atividade como essa sem ser em grupo, e ser em espaço público não
restringe quem queira participar.

7 - Você obteve aprendizados com esta atividade? Se sim, quais?

Claro, Diversas dinâmicas para conduzir atividades em grupo, formas de interação e


socialização por meio da música.

8 - A vivência obtida no encontro “Fritura Livre” interfere posteriormente na


sua vida? Se sim, como?

De alguma forma sim, é algo que quero levar, compartilhar para qualquer lugar que
for.

9 - Você considera que este tipo de atividade contém um potencial


transformador na formação do individuo e também no coletivo? Se sim, por
quê?

Acredito que essa atividade faz com que qualquer pessoa vivencie algo que não
está habituada no seu dia a dia, é um momento que ela esquece do seu cotidiano e
vivência algo sem julgamento, sem certo ou errado. Assim sendo, a pessoa começa
a refletir sobre tudo o que se passa em sua volta, podendo assim querer transformar
o meio em que vive buscando coisas melhores para seu convívio diário.

10 - Você considera atividade como (permitido assinalar mais que uma


alternativa):

Educativa (X) Lazer (X) Artística (X)

78
QUESTIONÁRIO VI

EACH - USP
Potencialidades Corporais em Processos Artísticos no Lazer: Explorando
percepções sobre o encontro de percussão corporal “Fritura Livre”.

Entrevista semiestruturada aberta a ser aplicada aos participantes.

Assinatura do entrevistado: Data:

Nome: Leonardo Henrique Solimeo Sexo: M Idade:23

Formação:Gestão comercial Bairro e Zona que reside: Penha ZL

1 - Como você soube do “Fritura Livre”?

Através da Família

2 - O que lhe motivou e/ou motiva a vir aos encontros?

A integração com o próximo

3 - O que esta atividade representa para você?

Terapêutica

4 - O que, a seu ver, o espaço da Praça Victor Civita contribui para a atividade?

A acústica com o chão de madeira e o silencio da praça sem ruídos externos

5 - Quais são as suas sensações com esta atividade? E em relação ao seu corpo?

Sensação de paz e harmonia, com meu corpo me sinto livre e relaxado.

6 - Qual é, a seu ver, a importância de esta atividade ser realizada em grupo e no


espaço público?

Em grupo pois ter aquela sensação da união de vários sons formarem uma musica e
por ser em um lugar publico sempre estar em contato com outras pessoas
desconhecias e em função disso sempre haverem coisas novas.

7 - Você obteve aprendizados com esta atividade? Se sim, quais?

Sim, conhecer melhor meu corpo e minha voz.

79
8 - A vivência obtida no encontro “Fritura Livre” interfere posteriormente na sua vida?
Se sim, como?

Sim, formei amizades

9 - Você considera que este tipo de atividade contém um potencial transformador na


formação do individuo e também no coletivo? Se sim, por quê?

Sim, nos deixa mais humanos, mais olho no olho e nos desinibe

10 - Você considera atividade como (permitido assinalar mais que uma alternativa):

Educativa ( ) Lazer ( ) Artística (X)

80
QUESTIONÁRIO VII

EACH - USP
Potencialidades Corporais em PrN ocessos Artísticos no Lazer: Explorando
percepções sobre o encontro de percussão corporal “Fritura Livre”.

Entrevista semiestruturada aberta a ser aplicada aos participantes.

Assinatura do entrevistado: Data:

Nome: Anna Beatriz S.S. Garcia Sexo:


Feminimo Idade: 18 anos

Formação: Superior Cursando Bairro e Zona que


reside: Ipiranga, Zona Sul

1 - Como você soube do “Fritura Livre”?


Sou aluna dos condutores dos encontros, Zuza e Ronaldo. Um dia, aceitei o convite
e desde lá estou apaixonada.

2 - O que lhe motivou e/ou motiva a vir aos encontros?


O amor pela música, pelo improviso, pelas pessoas que vão ao encontro, que irão e
que foram.

3 - O que esta atividade representa para você?


Representa liberdade, expressão. Representa amor.

4 - O que, a seu ver, o espaço da Praça Victor Civita contribui para a atividade?
O lugar é incrível, um espaço lindo. Em dia de sol, embeleza nossa música, em dia
de chuva, compõe nosso cenário musical e também nos protege.

5 - Quais são as suas sensações com esta atividade? E em relação ao seu corpo?
Minhas sensações são diversas. Sinto amor, como já disse muito, sinto vontade,
sinto energia vibrando em todas as células do meu corpo. Me sinto muito diferente
do comum. No meu corpo, além de me auxiliar na coordenação motora, também me
mantém ativa fisicamente, trazendo benefícios inclusive à minha saúde.

6 - Qual é, a seu ver, a importância de esta atividade ser realizada em grupo e no


espaço público?
É importante para todos verem que é uma atividade PÚBLICA. Qualquer um pode
participar, independentemente de sua classe social, etnia, sabedoria musical, etc…
81
É para que todos sintam essa energia da música revigorando suas almas e
sentimentos.

7 - Você obteve aprendizados com esta atividade? Se sim, quais?


Além de todo o aprendizado musical e de improviso (no qual a Fritura Livre foi de
fundamental importância), aprendi a me conectar com pessoas que nunca passaram
por mim em toda a minha vida, e mesmo assim, também sentir amor por elas.

8 - A vivência obtida no encontro “Fritura Livre” interfere posteriormente na sua vida?


Se sim, como?
Com certeza, na relação com as pessoas, no descobrimento do meu “eu”, no
aprendizado da música, na minha saúde física e mental… São diversas as formas
com que a Fritura interfere na minha vida, e sempre positivamente!

9 - Você considera que este tipo de atividade contém um potencial transformador na


formação do individuo e também no coletivo? Se sim, por quê?
Claro! A relação das pessoas com as pessoas, com a cidade, com a música, tem
sido cada vez mais superficial. Esse encontro permite que conheçamos pessoas,
nos relacionemos e sintamos algo profundo por elas. O coletivo é totalmente
envolvido na Fritura. A formação do indivíduo começa a partir da relação com o
coletivo e o meio em que é inserido. Ou seja, a partir da Fritura, as pessoas
conseguem aprender e ver o melhor de si mesmas.

10 - Você considera atividade como (permitido assinalar mais que uma alternativa):

Educativa (X) Lazer (X) Artística (X)

82
QUESTIONÁRIO VIII

EACH - USP
Potencialidades Corporais em Processos Artísticos no Lazer: Explorando
percepções sobre o encontro de percussão corporal “Fritura Livre”.

Entrevista semiestruturada aberta a ser aplicada aos participantes.

Assinatura do entrevistado: Caroline Machado Data:

Nome: Caroline Machado de Andrade Sexo: femino


Idade: 19 anos

Formação: Cursando Técnico Médio em Eventos

Bairro e Zona que reside: Vila Moraes / Zona Sul

1 - Como você soube do “Fritura Livre”?

Conheci o Zuza e o Ronaldo, que são os organizadores do evento, no Espaço


Quixote- Funsai onde eles são professores e eu era aluna. Assim que a Fritura ia
começar a acontecer eles convidaram todos do espaço para participar e foi assim
que conheci.

2 - O que lhe motivou e/ou motiva a vir aos encontros?

Além dos encontros serem relacionados a música e percussão corporal, coisas que
eu adoro praticar, as pessoas que frequenta são incríveis e fazem do encontro o que
ele realmente é.

3 - O que esta atividade representa para você?

Representa pra mim o meu momento de me distanciar do mundo, da vida cotidiana


corrida, e poder relaxar, pensar, dar tempo ao tempo e compartilhar alegria, amor,
carinho e todos os possíveis adjetivos bons com pessoas maravilhosas.

4 - O que, a seu ver, o espaço da Praça Victor Civita contribui para a atividade?

As vezes penso que a Praça foi feita para a Fritura Livre, é incrível como ela
conversa com o encontro. É um lugar calmo, repleto de natureza e sustentabilidade

83
algo que conversamos na Fritura de como conseguir trazer essas reflexões para a
nossa rotina e das próximos também.

5 - Quais são as suas sensações com esta atividade? E em relação ao seu corpo?

Assim que o encontro acaba, o meu corpo agradece. Tenho as sensações de


gratidão e amor transbordando.

6 - Qual é, a seu ver, a importância de esta atividade ser realizada em grupo e no


espaço público?

De suma importância é a coletividade que faz do encontro ser o que ele é. Ainda
mais em um lugar público onde qualquer um pode chegar e participar. E o mais
interessante são as pessoas que não sabem do evento e estão na praça por
“coincidência” e ficam com vontade de participar e agregam de forma maravilhosa, é
incrível ver como as pessoas conseguem se expressar na Fritura.

7 - Você obteve aprendizados com esta atividade? Se sim, quais?

Sim, posso dizer que as minhas habilidades em percussão corporal evoluíram muito
desde que comecei a frequentar. E não posso esquecer do aprenzidado espirutal e
humanitário que obtive.

8 - A vivência obtida no encontro “Fritura Livre” interfere posteriormente na sua vida?


Se sim, como?

Sim e muito. Tudo que aprendo no encontro tento colocar em minha vida. Algo que
eu aprendi e levo pra tudo e para todos é aprender a olhar, de verdade, o próximo.

9 - Você considera que este tipo de atividade contém um potencial transformador na


formação do individuo e também no coletivo? Se sim, por quê?

Sim, é em evento onde aprendemos coletividade, pensar no próximo e no universo


em que vivemos. Isso está faltando em nosso mundo contemporâneo.

10 - Você considera atividade como (permitido assinalar mais que uma alternativa):

Educativa (X) Lazer ( X ) Artística ( X )

84
Apêndice 2. Questionários aplicados aos participantes – respondidos
presencialmente

85
86
Nota: Imagem de questionário pouco legível devido às respostas feitas com caneta laranja.

87
88
89
90
91
92
93
94
Nota: Imagem de questionário pouco legível devido às respostas feitas com caneta laranja.

95
96
97
98
99
100
101
102
103
104
105
Apêndice 3. Questionário aplicado ao facilitador do Fritura Livre

106
EACH - USP

Arte, Educação e Potencialidades Corporais em Processos Artísticos no Lazer:


Explorando as singularidades e as percepções sobre o encontro de música
corporal “Fritura Livre”.

Entrevista semiestruturada aberta a ser aplicada aos organizadores.

Nome: Ronaldo dos Santos Sexo: Masculino Idade: 39

Formação: Técnico em piano / Graduação em Comunicação Social


(Publicidade e Propaganda) / Pós-Graduação em Pedagogia da Cooperação e
Metodologias Colaborativas

Atuação profissional: artista-educador (percussão corporal) / professor


universitário (música) / focalizador de processos colaborativos (em grupos
diversos)

Assinatura do entrevistado: Data: 05/04/15

1 - Como e por que surgiram os encontros do “Fritura Livre”?

Promovemos o encontro Fritura Livre em nome do grupo de estudos de música


corporal do Núcleo Fritos, que coordeno atualmente ao lado de Zuza Gonçalves e
Pedro Consorte.

Esse grupo de estudos é remanescente do grupo de estudos criado em 2003 por


Fernando Barba, diretor dos Barbatuques, e desde 2008 segue sem a presença de
seu criador, mas mantendo até 2014 uma frequência semanal de encontros.

A característica desse grupo de estudos é estar aberto a pessoas que se interessam


na linguagem e que já possuam alguma experiência musical e ao longo dos anos
várias pessoas passaram pelos encontros.

Zuza Gonçalves pode contar melhor a história do início da Fritura Livre, mas em
2012 novos integrantes do grupo de estudos queriam praticar mais do que uma vez
por semana e começaram a fomentar encontros em parques de São Paulo e daí os
encontros tornaram-se oficiais quando Zuza e eu começamos a coordenar juntos as
atividades de improvisação nesses encontros a partir da experiência que trazíamos
da coordenação do grupo de estudos e do projeto Música do Círculo que temos
juntos.

Contamos então o início das Frituras Livre a partir de janeiro de 2013.

2 - Quais são os princípios e objetivos da atividade?

O intuito da atividade é a prática de improvisação musical utilizando percussão


corporal, voz e movimento. A intenção é ser aberta e inclusiva de modo que
qualquer pessoa possa se juntar ao grupo para experimentar o fazer musical.
107
Com o tempo, a atividade tornou-se também um lugar para o encontro comunitário e
a sensibilização para as possibilidades de convivência amistosa e cooperativa.

3 - Quais são os traços educativos e artísticos que a atividade trabalha?

A atividade estimula a percepção corporal, a sensibilização da escuta, a criatividade


e a convivência amistosa entre os participantes.

Apesar de termos um repertório de jogos de improvisação, não programamos o que


faremos e muitas novas formas de interação foram criadas ou descobertas a partir
desse espaço.

A condução é compartilhada entre mim e o Zuza, mas sempre acionamos outras


pessoas para propor improvisações e nos apoiar nos jogos.

Mesmo com a preocupação estética, buscamos propostas não tão complexas para
poder incluir quem participa do encontro pela primeira vez ou que tenham pouca
experiência musical.

Outro aspecto é que não há interrupção entre uma criação e outra, as propostas
seguem em trasnformação e dentro de um fluxo contínuo até o fim. Mas os
participantes podem entrar e sair da roda a qualquer momento, de acordo com sua
disponibilidade e resistênca para seguir ou não.

4 - Como ocorrem os encontros e quais foram as mudanças percebidas ao longo do


tempo?

Os encontros acontecem uma vez por mês na praça Victor Civita em Pinheiros (SP)
e, embora não tenham um tempo controlado, costumam durar cerca de duas horas
ininterruptas com posterior convite a um piquenique colaborativo.

Ao longo do tempo os encontros foram tornando-se mais fluídos musicalmente (no


começo era comum termos uma pausa no meio) e criando espaço para e a
subjetividade do encontro aflorar em reflexões lançadas espontaneamente no final
da experiência.

Em relação aos primeiro encontros houve um grande crescimento na quantidade de


participantes. Começamos com 8 e tem sido comum os encontros chegarem a 70...
80 pessoas. Em dezembro de 2013 haviam 120!

5 – Como o espaço da Praça Victor Civita contribui para a atividade? Quais são as
relações com a administração do espaço?

A estrutura da praça contribui em vários aspectos: o piso é de maneira e suspenso,


o que colabora com a sonoridade dos pés. Apesar de alguma interferência sonora
externa como de carros e aviões, temos uma certa privacidade por não ser um lugar
de muito movimento. Temos árvores por perto e isso cria um ambiente mais
acolhedor. Se chove, temos a possibilidade de nos refugiar na arquibancada
108
coberta, onde podemos seguir com a atividade mesmo que de forma adaptada. É
perto do metrô, o que facilita o acesso. Tem água e sanitários.

Nossa atividade não é uma programação oficial da praça, mas sempre que vamos
marcar o encontro verificamos se vai haver alguma programação deles para adaptar
nosso horário e o Zuza liga para falar com a administração avisando dos nossos
planos. (O Zuza pode falar melhor sobre isso também).

6 – A percepção corporal é trabalhada ao longo da atividade? Se sim, como e por


que?

O encontro é dedicado à música corporal, portanto, o corpo é estimulado o tempo


todo com o movimento pelo espaço e a produção de sons pela voz e pela percussão
corporal com palmas, estalos e batidas do pé entre outros. No início, como
preparação, fazemos um aquecimento corporal.

7 – Qual é a importância de esta atividade ser realizada em grupo?

Embora a percussão corporal e o canto possam ser executados individualmente,


nossa atividade é essencialmente coletiva. Nos interessa essa investigação em que
não há separação entre artista e público e todos estão envolvidos na experiência
musical. Também nos interessa o aspecto do encontro e da sensação de
pertencimento que esse fazer artístico faz emergir, apontando para a reflexão do
quanto podemos mudar nossa relação com o mundo, nos conectando às pessoas
como em comunidade e promovendo relações mais positivas diante da crise (ou
colapso) social pelo qual, suponho, estejamos passando.

8 - As vivências artísticas dos encontros do “Fritura Livre” buscam interferir


posteriormente na vida de seus participantes? Se sim, como e por quê?

De certa forma sim, sensibilizando para uma ação no mundo mais colaborativa,
amorosa e em conexão com os aspectos subjetivos das relações humanas.

9 - Você considera que este tipo de atividade de lazer contém um potencial


transformador na formação do individuo e também no coletivo? Se sim, por quê?

Penso que a atividade tem potencial de criar um estado emocional que sensibiliza os
participantes para a possibilidade da convivência pacífica e incentiva as pessoas a
buscarem no dia-a-dia um estado de conexão semelhante nos demais grupos em
que estão inseridas.

Além disso, acredito que essa vivência estimula a conexão com o próprio corpo, o
que pode trazer auto-conhecimento na medida em que torna possível reconhecer
seus limites e potencialidades.

10 – Como, a seu ver, o conhecimento do próprio corpo interfere na vida do


individuo?

109
Entendo que as pessoas se relacionam com o mundo a partir do corpo e seus
sentidos e que é através dele que podem se expressar. Quanto mais sensível o
corpo estiver para as relações com o outro e com o ambiente, maiores os
aprendizados de cada um quanto a suas potencialidades e limites. Dessa
experiência afloram questões que passam por aspectos físicos, emocionais e
mentais, abrindo espaço para um auto-conhecimento mais integral.

Quanto mais cada pessoa se apropria do próprio corpo, maior também sua
possibilidade de expressão e consequentemente sua ação no mundo. Penso que o
caminho para o conhecimento de fora passa pelo conhecimento de si, tanto quanto a
conexão como mundo passa pela conexão consigo mesmo.

110
Apêndice 4. Questionário da Associação dos Amigos da Praça Victor Civita

111
EACH - USP

Potencialidades Corporais em Processos Artísticos no Lazer: Explorando


percepções sobre o encontro de percussão corporal “Fritura Livre”.

Entrevista semiestruturada aberta a ser aplicada aos participantes.

Assinatura do entrevistado: Data:

Nome: ELISABETH PEREIRA BARBOZA Sexo: FEM Idade: 42 A

Formação: PÓS-GRAUAÇÃO COMPLETA

Atual cargo na AAPVC*: COORDENADORA DE PROJETOS

1 – Quando, como e por quem a AAPVC* foi fundada?

A AAPVC foi fundada em 2011, por solicitação do Sr. Roberto Civita, idealizador do
espaço, para transferência da gestão da Praça Victor Civita do Instituto Abril para a
AAPVC, para que o espaço pudesse tomar um rumo de espaço cultural. Em 2011,
faziam parte da AAPVC as empresas ABRIL, CCR, CLARO, EVEN, GERDAU, ITAU,
SABESP E VERDESCOLA.

2 - Como funciona a AAPVC*?

A AAPVC é a gestora da Praça, cabendo a ela a manutenção, organização e


curadoria da programação cultural e esportiva do espaço.

A Associação é mantida por aportes anuais das empresas parceiras, valores que
são para a infraestrutura da Praça e folha de pagamento dos funcionários, sendo a
programação trazida por parceiros ou até mesmo pelos artistas, interessados pelo
espaço e a divulgação do evento, pois a AAPVC não dispõe de verba para
programação.

3 - Quem participa atualmente da AAPVC* e como os recursos são obtidos?

Com rumo que a economia brasileira tomou, as empresas optaram por investir a
verba de marketing internamente, em capacitação de funcionários, programas
internos e até mesmo na criação de institutos internos. Sendo assim, optamos pela
certificação de OSCIP, a que concedida no final de fevereiro de 2015.

112
Tendo em 2015, a saída das empresas Gerdau e CCR como patrocinadoras e a
opção da Abril em aportar a Praça com permuta em mídia, hoje a AAPVC tem como
único patrocinador financeiro a Sabesp.

A opção que temos é trabalhar com projetos incentivados, para a captação de


recursos através da isenção fiscal, onde obteremos recursos financeiros para a
programação e um percentual para a manutenção do espaço.

4 – Quais foram e são os princípios da gestão da Praça Victor Civita?

Trabalhamos focados no estímulo ao surgimento de novas ideias, ao convívio


comunitário, ao desenvolvimento sustentável e a difusão do conhecimento,
proporcionando ao público, acesso a programação de qualidade, gratuitamente.

5 – Quais são as propostas e/ou potenciais da estrutura física da Praça?

Em 2013, a AAPVC, através do ProAC, reformou o segundo andar do Prédio do


Incinerador, ganhando o espaço intitulado “Oficinas Criativas”, equipado com 30
estações de trabalho, equipadas com 30 notebooks, 02 televisores de Led, 01
projetor e 20 câmeras fotográficas semi profissionais, projeto patrocinado pelas
empresas Claro, Gerdau e Even.

Já temos um projeto orçado para a reforma do primeiro andar, espaço que mesmo
com a infraestrutura limitada (uma tomada de 220 W somente), é disputadíssimo
para uso em exposições.

Pretendemos inscrever o projeto em lei ainda este ano, para que em 2016 a sala
Multiuso possa ser inaugurada.

6 – Como funciona a preservação e manutenção deste espaço público?

A manutenção é realizada por empresas terceirizadas, sendo segurança, limpeza,


jardinagem e controle de pragas. Na equipe temos um Encarregado da Manutenção
Predial que realiza a manutenção preventiva do espaço, reduzindo o curso em
reformas e benfeitorias esporádicas.

7 – Há um diferencial da Praça Victor Civita em relação às demais praças de São


Paulo? Se sim, qual(s)?

113
A Praça Victor Civita não se enquadra nas legislações de praças e nem de parques,
sendo um espaço com regulamento próprio (Portaria nº 139/SPPI/GAB/2008). Tanto
os gestores, a equipe administrativa e técnica, quanto o público visitante,
consideram o espaço um centro cultural, por isso estamos tentando viabilizar junto a
Subprefeitura de Pinheiros, a divulgação do espaço como Centro Cultural Victor
Civita, o que com certeza seria mais adequado pelo trabalho realizado no espaço e
principalmente, aumentaria o número de frequentadores nos eventos, uma vez que
quem não conhece o espaço, fica com receio em dar uma oportunidade de visita-la
pelo titulo “praça”.

8 – Quais são as principais atividades realizadas na Praça? Porque estas


atividades?

Temos dois projetos que estão em andamentos já há três anos consecutivos, sendo
o Cine na Praça, com sessões de cinema ao ar livre, todas as noites das quintas-
feiras, trazendo uma média de 250 pessoas por sessão, e o Esporte na Praça, com
aulas de ioga, pilates e ginastica funcional ao ar livre, de segunda a segunda.

São projetos diferenciados, criados especialmente para a Praça e que deram certo.

Fora esses projetos, temos os eventos aos finais de semana, em sua maioria,
projetos musicais. Que além dos artistas que aparecem pela visibilidade do nome
nos veículos de divulgação que atendem a Praça, temos os grandes projetos como o
Guri na Praça, que mensalmente traz uma apresentação para o espaço, a Semana
Ticket de Arte e Cultura, que no seu terceiro ano já reservou o palco da Praça para
este ano, a Virada Sustentável, também com agenda bloqueada para este ano,
trazendo de agosto a dezembro atividades infantis para o espaço.

9 – Há uma relação da AAPVC* com o encontro de música corporal “Fritura Livre”?


Como ela ocorre?

Por enquanto o Fritura Livre não tem vinculo com a AAPVC, simplesmente pelo
motivo dos encontros não serem agendados com pelo menos 35 dias de
antecedência, prazo que precisamos para informar a Subprefeitura sobre o uso do
espaço.

114
A Praça contribui com a infraestrutura existente, uma vez que não existe vinculo
contratual entre o responsável pelos encontros e a AAPVC, é oferecido o que se
oferece ao público em geral.

O contato com o organizador Zuza Gonçalves é de total colaboração, fazendo com


que os encontros não sejam nos dias de eventos da programação da Praça.

11 – O que os encontros de música corporal “Fritura Livre” representam para a


AAPVC*?

É mais um diferencial que gostaríamos de trazer para a programação do espaço. Já


conversamos inclusive sobre a possível apresentação do Grupo em um evento no
palco da Praça. O que só precisa de um de acordo dos envolvidos, na pessoa do
Zuza, para a realização.

12 – Algum dos membros da AAPVC participa ou já participou de um dos encontros


do “Fritura Livre”?

Sendo os encontros aos finais de semana, quando a equipe, ou está em trabalho no


espaço ou está em sua folga quinzenal, não há muito estimulo na participação, o
que é totalmente compreensivo.

*Associação Amigos da Praça Victor Civita.

115
Apêndice 5. Quadro de respostas do público entrevistado

116
Quadro de respostas do público entrevistado – Continua até a página 121.
Entrevistados / Questão 1 2 3 4 5

1) Como você soube do Pelo Zuza Colega da ETEC Por indicação do Divulgação pelo Facebook. Amigos e professores de
"Fritura Livre" ? de Artes (Canto) Pedro Consorte. música/canto.

2) O que lhe motivou e/ou A oportunidade Amor pela O encontro com Primeiramente a vontade de A união a fim de fazer arte. A arte
motiva a vir aos encontros? de fazer música música, as pessoas, a explorar os sons do corpo. possível para todos, não elitizada.
com o corpo em percussão música
movimento e corporal e
coletivamente. experiência em
edições
anteriores.

3) O que esta atividade Um momento Amor, universo Comunhão Um tipo de ritual; conexão Ideologia, Política, Compartilhamento
representa para você? de encontro em vibração. espiritual através do som. de olhares da arte.
com amigos, de
sentir prazer, de
convivência.

4) O que, a seu ver, o espaço Um ambiente Os tablados e A natureza ao Boa localização, amplitude do Para a efetivação de um evento, com
da Praça Victor Civita tranquilo. ambiente redor da praça espaço. boa localização, de fácil acesso.
contribui para a atividade? relativamente Ambiente que promove tranquilidade,
silencioso. afasta da correria urbana.

5) Quais são as suas Sensação de Difícil resumir. De relaxamento Acolhimento, liberdade, paz, Me conecto com meu corpo, relaxo e
sensações com esta inteireza. Corpo Meu corpo se serenidade. fico atenta, em estado de colaboração
atividade? E em relação ao desperto. torna um com o e afeto. Tranquiliza e energiza.
seu corpo? de outros, o
ritmo me move,
assim como o
amor.

6) Qual é, a seu ver, a Na atividade em Constitutiva. A atividade Simplismente não pode ser A contribuição de cada um com o que
umportância de esta grupo as Sem o grupo ganha corpo por realizada individualmente... melhor sabe, o compartilhar, enxergar
atividade ser realizada em pessoas não não seria a ser em grupo, e aceitar o outro.
grupo? ficam inibidas e mesma coisa. independente
podem se da quantidade.
expressar Ser em grupo é
livremente. fundamental
para a
realização dela.

7) Você obteve aprendizados Aprendi fazer Sim. Não é algo Sim. Sim, aprendi que é possível me Se doar para outros, desconhecidos.
com esta atividade? Se sim, percussão racionalmente Aprendizados abrir e cooperar com pessoas Conhecimento musical, reverberação
quais? corporal, a descritível. ligados a que nunca vi na vida. em meu corpo.
improvisação Aprendemos a música, a escuta
com a voz. sentir a fruição e a sensibilidade
do universo. em relação aos
sons
produzidos.

8) A vivência obtida no Sim, a Sim. Mudando Sim. Interfere Nas técnicass do corpo e da voz, Sim, como atividade política, artística
encontro "Fritura Livre" experiência paradigmas, no bem estar e nas interações com o outro. e educacional.
interfere posteriormente na vivida aqui me tornando a na saúde do
sua vida? Se sim, como? deixa consciente bondade, uma corpo.
do corpo qualidade
(postura, humana e
respiração, tornando
estado de utopias
presença) possíveis.

9) Você considera que este Sim, porque Sim, pelo o que Sim, por conta Para mim é evidente. A Sim, por meio da relação, da
tipo de atividade de lazer promove a foi dito acima. da união, percepção de que a cooperação afetividade, trabalho pela coletividade
contém um potencial integração, colaboração e social é possível muda qualquer e pela contribuição.
transformador na formação sintonia por vivência em um.
do indivíduo e também no meio de coletivo que
coletivo? Se sim, por quê? expressão esta atividade
artistíca dos propõe.
indivíduos.
10) Você considera esta Educativa (X) Educativa (X) Educativa ( ) Educativa ( ) Lazer (X) Artística Educativa (X) Lazer (X) Artística (X)
atividade como: Educativa ( ) Lazer (X) Lazer ( ) Lazer ( ) (X)
Lazer ( ) Artística ( ) Artística (X) Artística (X) Artística (X)

117
6 7 8 9 10

Estava assistindo a Estava no local por acaso e Tava passando e resolvi Amigos convidaram Internet
apresentação da orquestra e acabei ficando para ver o participar.
no final me fizeram o que iria acontecer.
convite.

A energia passada, a Antes do encontro iria ter Fazer amizades e aprender as Conhecer algo novo O estudo de percussão corporal e
sinceridade em cada gesto e uma apresentação de técnicas. música vocal
os sorrisos. orquestra.

Renovação Um núcleo de paz, boas Um fator importante na vida Comunhão Improviso, didática, conexão, pessoas
energias e positivas social.
sintonias. Conexão, alegria
e respeito mútuo.

A energia positiva do local e É de fácil acesso, o lugar já Um lugar silecioso e bonito Abertura, verde, piso Sendo um espaço aberto e grande,
a leveza favorecem muito. tem boas energias e uma viabiliza a atividade
boa área verde.

Comecei a reconhecer Leveza, harmonia. Cura, Leveza, prazer Paz, leveza, energia Conexão, autoconhecimento
melhor o meu corpo, dos
sons que sou capaz de fazer.

A troca de experiências, de Ela simplismente não pode Integração Sinergia, um contagia o outro Integração, sociabilização
energias e a relação ser realizada sozinha. A
saúdavel entre diferentes conexão de pessoas é a
pessoas. chave para esta atividade
acontecer.

Sim, inexplicáveis, mas o Sim. O universo trata de Somos seres comunitários Autoconhecimento, calma
principal: "tudo tem unir pessoas que buscam a
harmonia". paz e boas energias. Raça,
credo ou cor não importam
nada, o que realmente
importa vem de "dentro".

Sim reconhecimento de Sim, de certa forma Sim, fica a sensação de amizade Ainda não sei. 1° vez Sim, integraação, didática, relações
mim mesma e o poder da aumentou minha confiança pessoais.
música, o Fritura Llivre é no meu próximo, seja ela
poesia para a alma. quem for e onde esteja.

Sim, com certeza. Juntos Sim. A conexão com Sim, a união é muito positiva Sim, nos faz sorrir, Ela ultrapassa a relação de lazer. Lazer
somos melhores que pessoas traz saúde para a transformação positiva criativo, ponto de encontro.
sozinhos, nos mente e o corpo e alma.
complementamos. Junto com a música esse
potencial é quintuplicado.

Educativa (X) Lazer (X) Educativa (X) Lazer (X) Educativa ( ) Lazer ( ) Artística Educativa (X) Lazer (X) Artística Educativa (X) Lazer ( ) Artística (X)
Artística (X) Artística (X) (X) (X)

118
11 12 13 14 15

Indicação de um amigo. Através do projeto Convite de uma amiga que Zuza, Ronaldo e amigos Um amigo me apresentou
socio educativo frequenta.
"Quixote"

Desenvolvimento artistico, encontro Compartilhamento de É uma experiência incrível, faz A comunhão e o sentimento de Gosto pela música,
com pessoas legais e queridas. energia positiva bem pro peito e é um companherismo, que trazemos coletividade, união
excelente exercício musical. com a música.

Alegria, descontração, Respiração Não só uma maneira de se Paixão União complexa e íntegra de
desenvolvimento, lazer. sentir, mas uma prática e um pessoas
estudo de música, ritmo,
dança, arte.

Possibilidade de encontro, lugar O contato direto com a Cria uma aura incrível. A natureza A praça com piso suspenso,
agradável, fácil acesso. natureza estimula a no meio da realidade que
sinergia vivemos, nos faz sair da
rotina no mesmo espaço
diário.

O ritmo fica reverberando... Leveza; Relaxamento; Felicidade, empolgação, Companherismo, igualdade e Leveza, gratidão, amor,
Limpeza Energética; serenidade, harmonia. musicabilidade liberdade
Importância da doação;
Troca

Oportunidade do resgate da relação Estimula o Consciência do que somos Comunhão Traz o sentimento de grupo,
de comunidade, respeito, escuta, cooperativismo e o capazes, coletivamente, e o resgata isso nas pessoas.
empatia. altruismo exercício da convivência.

O som e o silência são polaridades Aguçamento da Sim, consegui perceber que Sim, viver em sociedade e com Sim! Calma, tolerância,
do mesmo elemento. sensibilidade auditiva; quase tudo (ou tudo) que o levar isso a ela. aceitação.
Melhora no trato com homem faz é dança.
o outro

Acredito que sim (apesar de ser a 2° Na prática que eu me Sim, me torno uma pessoa Sim, me deixa mais acolhedor Sim, a energia permaneceu
vez), porque me possibilita uma lembro, no momento mais inteligente, para a vida e o próximo. reverberando em meu corpo.
noção ritmica e musical melhorou meu emocionalmente livre,
interessante. aprendizado de inglês, consciente.
ouço melhor.

Sim! Porque precisamos ter atenção, Sim, por mostrar a Sim. Passa uma série de Sim, aprendemos a viver Sim, resgata os sentimentos
escuta e respeito para funcionar o importância de estar emoções que causam grandes melhor. de coletividade e respeito
encontro. Qualidades que levadas em sintonia com o reflexões.
para o cotidiano fazem toda a outro.
diferença

Educativa (X) Lazer (X) Artística (X) Educativa (X) Lazer (X) Educativa (X) Lazer (X) Educativa (X) Lazer (X) Artística Educativa (X) Lazer ( )
Artística (X) Artística (X) (X) Artística (X)

119
16 17 18 19 20

Conheço os facilitadores Através do Zuza ( um dos Minha namorada Por uma amiga que já Amigo de infância
idealizadores do evento) frequentava

A energia passada positiva A boa vibração, as pessoas, o Curiosity A vivência que ela falava que Mostrar algo diferente
que todos compartilham, local, a atividade. proporcionava para minha amiga
novos amigos, antigos francesa
amigos.

Autoconhecimento, Conexão Iniciation Uma forma de libertação Abertura, alimento e


solidariedade. inspiração espirituais

Estar em contato com a Sonoridade, natureza Espace and wood, wood = sound A mistura de um espaço Chão de madeira,
netureza. conceituado, praça mas com acústica
uma arquitetura inovada, faz
com que nossas experiências
sempre se renovem.

Sempre consigo encontrar Liberdade de expressão sem There are lot of things. Good Sensação de conexão, entre Vitalidade
paz e mais tranquilidade. julgamentos sensation when the harmony corpo e alma, conexão com o
arrive, but few frustations too, outro, liberdade, pureza,
because things it's too simple for a renovação.
musicide (?)

A interação entre pessoas, as A sociabilização, a inclusão do Cohesim and the acceptation of the A importância da interação Laço social fortifica
trocas. ser num grupo/atividade others com o próximo, já que
vivenciamos um constante
individualismo

Sim, a ser mais concentrada, Melhoria da coordenação Sim, aprendizados Eu não sei, noções de
cooperação, calma. motora e vocal (ainda humanitário, aceitação, ritmo talvez e
aprendendo) coletividade improvisação

Sim, pois é uma filosofia de Integração com o coletivo It was my first time Interfere, faz com que eu me Na vontade de cantar
vida. abra para o próximo e seja
ceita sem julgamentos.

Sim, porque mostra algo que A integração do individuo no Yes, if people don't have a scrt (?) Acredito que sim, contribui Sim, a sensibilidade e
não se encontra dia a dia. grupo e a oportunidade de se of tradition witch is colletiv, maybe para a transformação de um percepção do outro com
manifestar na sociedade como Fritura Livre can make people more indivíduo melhor os outros sentidos.
cidadão transformador. open to the others. Exercício de alteridade.

Educativa (X) Lazer (X) Educativa (X) Lazer (X) Artística Educativa (X) Lazer (X) Artística ( ) Educativa (X) Lazer (X) Educativa ( ) Lazer ( )
Artística (X) (X) Artística (X) Artística (X)

120
I II III

Através de amigos que conheci nas oficinas que o Zuza Através de indicações de amigos do SESC V. Mariana. Conheço desde o começo do ano, depois que
ministrou no Sesc Vila Mariana. participei de um Retiro de Música Circular com os
organizadores do Fritura.

Saber que encontrarei pessoas abertas às possibilidades da A experiência musical que difere do que estamos acostumados, O encontro com a música, com as pessoas e
construção coletiva feita na hora e que a música será feita de o que proporciona um estado de espírito diferente do habitual. comigo mesma.
uma forma orgânica e sem qualquer tipo de cobrança por O fato de poder sentir a música sem normas, preconceitos e
algum tipo de “acerto”. padrões.

Representa um espaço para se permitir um fazer musical livre, Uma atividade terapêutica. Representa um momento de paz, alegria,
em que o corpo (voz inclusive) é explorado nas suas múltiplas desapego, totalidade.
possibilidades musicais.

O fato de ser um espaço aberto e amplo, com árvores e O espaço amplo, com a presença da natureza, afastado de Por ser uma praça toda de madeira e com muitas
pássaros, contribui para a sensação de liberdade e de movimentações urbanas nos proporciona um ambiente onde àrvores, eu a considero acolhedora.
interação com a natureza. Além disso, a estrutura em madeira podemos estar em conexão conosco.
contribui para a sensação de aconchego (nos sentimos à
vontade para sentar e deitar), torna a acústica mais apropriada
e serve bem à produção de som com os pés.

Há uma sensação muito boa de relaxamento, mas ao mesmo Sinto que posso deixá-lo fluir, posso permitir fazer o ele que Me sinto mais leve, mais disposta, mais relaxada.
tempo, de vitalidade. Sinto que, ao longo da atividade, o corpo quer e o que ele sente que precisa fazer. A música feita através
vai se soltando e as inibições vão sendo deixadas de lado. do corpo liberta a alma!

Acredito que a importância consiste em oferecer a pessoas de Integração. Criar relações sem limites, com diversos tipos de É uma atividade que só tem esta força, justamente
todas as idades e contextos sociais a possibilidade de pessoas de diversos grupos diferentes que se unem em um por ser feito em grupo e num espaço público e
interação, de acolhimento e de contato com o fazer musical espaço comum para criar outras relações. gratuito. Pois, todos se sentem parte e podem
coletivo. fazer parte.

Sim. Acho que a atividade contribui para uma maior aceitação Que posso me permitir fazer que meu corpo sente. Que a Como musicoterapeuta e professora de música,
dos erros, para um contato mais próximo com outras pessoas música pode libertar o que todas as convenções que viemos aprendi uma nova forma de improvisar e criar
e para que se dê uma atenção maior ao “estar presente”. aprendendo desde que chegamos a este mundo nos impõem. música no coletivo. E aprendi que o ser humano é
um ser com muitos potenciais e com uma
necessidade de estar junto partilhando.

Sim. O Fritura contribui para que eu me mantenha aberta às Sim. Descobrimos a música de uma forma diferente. Como uma Sim. Como já citei, por ser professora de música, eu
possibilidades da música improvisada, bem como às energia presente em todos os lugares e em todas as pessoas. tento recriar esta atmosfera nas minhas aulas. E
possibilidades da interação música-corpo. Além disso, como como pessoa, eu percebi que a música no meu
estudante de licenciatura em música, é interessante observar a corpo está presente todos os dias.
dinâmica entre os facilitadores e o grupo.

Sim. Pela forma como a atividade é conduzida, as pessoas Sim. Como citei na questão 7, ela pode sim, mostrar que nem Sim. Pois, ela nos ensina a ouvir, interagir e estar
interagem de uma forma mais próxima – tocamos umas às todos os limites que acreditamos ser saudáveis, realmente o junto do outro, sem fazer com que você perca a
outras, olhamos nos olhos. Acredito que isto contribua muito são. Que fazer coisas que parecem ‘estranhas’ aos olhos da sua individualidade.
com o desenvolvimento de nossa empatia, de nossa aceitação maioria pode nos fazer melhor do que a gente imagina, pois
às diferenças e isto é algo que reverbera para muito além da neste caso, só fazemos o que a energia do corpo, das conexões
atividade em si. com os presentes nos leva a sentir.
Nesta atividade aprendemos a respeitar o que o outro sente,
respeitar o que aos nossos olhos também parece estranho, mas
que é simplesmente a manifestação de uma paz e uma
felicidade que nos ocupa naquele momento.

Educativa (x) Lazer (x) Artística (x) Educativa (x) Lazer (x) Artística (x) Educativa (X) Lazer ( X ) Artística ( X )

121
IV V VI VII VIII

Minha filha Laura é aluna Em uma oficina que fazia com o Zuza, Através da Família Sou aluna dos condutores dos encontros, Zuza e Conheci o Zuza e o Ronaldo, que são os organizador
do Zuza, faz parte do algumas pessoas que estavam fazendo a Ronaldo. Um dia, aceitei o convite e desde lá do evento, no Espaço Quixote- Funsai onde eles são
Vozes ao Cubo e trabalha mesma oficina e já frequentavam a Fritura estou apaixonada. professores e eu era aluna. Assim que a Fritura ia
na FUNSAI. Livre me convidaram. começar a acontecer eles convidaram todos do esp
para participar e foi assim que conheci.

A energia. O contato com Um encontro com música coletiva e A integração com o O amor pela música, pelo improviso, pelas Além dos encontros serem relacionados a música e
pessoas. improvisação, foi o que me motivou, depois próximo pessoas que vão ao encontro, que irão e que percussão corporal, coisas que eu adoro praticar, as
de conhecer a energia que emana durante é foram. pessoas que frequenta são incríveis e fazem do
algo mágico isso é um complemento a mais. encontro o que ele realmente é.

Um encontro com outras Integração, comunidade. Terapêutica Representa liberdade, expressão. Representa Representa pra mim o meu momento de me distan
energias. amor. do mundo, da vida cotidiana corrida, e poder relaxa
pensar, dar tempo ao tempo e compartilhar alegria
amor, carinho e todos os possíveis adjetivos bons co
pessoas maravilhosas.

É um espaço importante, Um lugar tranquilo, acolhedor bem propício A acústica com o chão O lugar é incrível, um espaço lindo. Em dia de sol, As vezes penso que a Praça foi feita para a Fritura L
apesar do forte cheiro de para a atividade. de madeira e o silencio embeleza nossa música, em dia de chuva, compõe é incrível como ela conversa com o encontro. É um
esgoto por conta da da praça sem ruídos nosso cenário musical e também nos protege. calmo, repleto de natureza e sustentabilidade algo
SABESP que fica bem ao externos conversamos na Fritura de como conseguir trazer e
lado da praça. reflexões para a nossa rotina e das próximos també

É gratificante tanto para Paz, tranquilidade, união. Quanto ao corpo Sensação de paz e Minhas sensações são diversas. Sinto amor, como Assim que o encontro acaba, o meu corpo agradece
a cabeça como para o depende do dia, as vezes fico relaxado, as harmonia, com meu já disse muito, sinto vontade, sinto energia Tenho as sensações de gratidão e amor transbordan
corpo. vezes fico um pouco cansado. corpo me sinto livre e vibrando em todas as células do meu corpo. Me
relaxado. sinto muito diferente do comum. No meu corpo,
além de me auxiliar na coordenação motora,
também me mantém ativa fisicamente, trazendo
benefícios inclusive à minha saúde.

O grupo está cada vez Não teria uma atividade como essa sem ser Em grupo pois ter É importante para todos verem que é uma De suma importância é a coletividade que faz do
maior e o fato de ser em grupo, e ser em espaço público não aquela sensação da atividade PÚBLICA. Qualquer um pode participar, encontro ser o que ele é. Ainda mais em um lugar
gratuito acho que restringe quem queira participar. união de vários sons independentemente de sua classe social, etnia, público onde qualquer um pode chegar e participar
contribui para aumentar formarem uma musica e sabedoria musical, etc… É para que todos sintam mais interessante são as pessoas que não sabem do
cada vez mais o número por ser em um lugar essa energia da música revigorando suas almas e evento e estão na praça por “coincidência” e ficam
de participantes. publico sempre estar sentimentos. vontade de participar e agregam de forma maravilh
em contato com outras é incrível ver como as pessoas conseguem se expre
pessoas desconhecias e na Fritura.
em função disso sempre
haverem coisas novas.

Aprendizado acho que Claro, Diversas dinâmicas para conduzir Sim, conhecer melhor Além de todo o aprendizado musical e de Sim, posso dizer que as minhas habilidades em
não, mas a troca de atividades em grupo, formas de interação e meu corpo e minha voz. improviso (no qual a Fritura Livre foi de percussão corporal evoluíram muito desde que com
energia, a alegria são socialização por meio da música. fundamental importância), aprendi a me conectar a frequentar. E não posso esquecer do aprenzidado
coisas boas. com pessoas que nunca passaram por mim em espirutal e humanitário que obtive.
toda a minha vida, e mesmo assim, também sentir
amor por elas.

Acho que nos torna mais De alguma forma sim, é algo que quero Sim, formei amizades Com certeza, na relação com as pessoas, no Sim e muito. Tudo que aprendo no encontro tento
leves. levar, compartilhar para qualquer lugar que descobrimento do meu “eu”, no aprendizado da colocar em minha vida. Algo que eu aprendi e levo
for. música, na minha saúde física e mental… São tudo e para todos é aprender a olhar, de verdade, o
diversas as formas com que a Fritura interfere na próximo.
minha vida, e sempre positivamente!

Sim. Se todos pudessem Acredito que essa atividade faz com que Sim, nos deixa mais Claro! A relação das pessoas com as pessoas, com Sim, é em evento onde aprendemos coletividade,
vivenciar essa atividade, qualquer pessoa vivencie algo que não está humanos, mais olho no a cidade, com a música, tem sido cada vez mais pensar no próximo e no universo em que vivemos.
haveria menos gente habituada no seu dia a dia, é um momento olho e nos desinibe superficial. Esse encontro permite que está faltando em nosso mundo contemporâneo.
estressada. que ela esquece do seu cotidiano e vivência conheçamos pessoas, nos relacionemos e
algo sem julgamento, sem certo ou errado. sintamos algo profundo por elas. O coletivo é
Assim sendo, a pessoa começa a refletir totalmente envolvido na Fritura. A formação do
sobre tudo o que se passa em sua volta, indivíduo começa a partir da relação com o
podendo assim querer transformar o meio coletivo e o meio em que é inserido. Ou seja, a
em que vive buscando coisas melhores para partir da Fritura, as pessoas conseguem aprender
seu convívio diário. e ver o melhor de si mesmas.

Educativa (X) Lazer (X) Educativa (X) Lazer (X) Artística (X) Educativa ( ) Lazer ( ) Educativa (X) Lazer (X) Artística (X) Educativa (X) Lazer ( X ) Artística ( X )
Artística ( ) Artística (X)

122

Você também pode gostar