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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde


Psicologia

Gregorio Vespoli Della Nina


RA00175076

Título

SÃO PAULO - SP

2020
Gregorio Vespoli Della Nina

Título

Projeto de pesquisa apresentado como exigência parcial da


disciplina "Projeto de Pesquisa", do curso de Psicologia, da
Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde, da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.

Orientador Marcos Alexandre de Medeiros

São Paulo, setembro 2020


Sumário

1. Revisão de literatura…………………………………………….…………………...4
2. Referências………………………..…………………………………………………..6
REVISÃO DE LITERATURA

A respeito do tempo de vida cotidiana, Forghieri (1993) evidencia a presença instintiva de


pensarmos em relógios ou calendários, segundo o autor este seria o "tempo assimilado ao
espaço". Tendemos a evidenciar este em detrimento do tempo "vivido" e experienciado em
sua "velocidade" e "extensibilidade", pouco se investigando a respeito de como o
entendimento de aspectos do tempo presente influencia a perspectiva temporal orientada para
o futuro.

A respeito de tal conceito sobre a temporalidade, Remen (1993) afirma que “uma
visão restrita de tempo pode igualmente diminuir a compreensão da importância e o
significado de eventos, impedindo uma total avaliação sobre a natureza da saúde e da
doença”. Desta forma, a evolução positiva de um quadro clínico necessitaria de uma visão
flexível a acurada do tempo humano, devido a suas características de imediatismo e longo
alcance.

Procurando conhecer tal visão, Remen (1993) fala a respeito de uma nova dimensão
qualitativa do tempo para além da visão de longo prazo. A visão de tempo materialista não
contempla os aspectos qualitativos, aqueles chamados de "dimensão humana de tempo".
Nesta, até quinze minutos teriam qualidades; eles podem ser repousantes, difíceis, íntimos,
belos, educativos,dolorosos, entre tantos outros. Santo Agostinho (354-430 d.C.) evidenciou a
diferença entre tempo medido mecanicamente e tempo vivido existencialmente em sua
subjetividade. Sobre o tema, o filósofo Santo Agostinho (354-430 d.C.) colocou a seguinte
questão:

(...) não há nas nossas palavras sílabas longas e sílabas breves, assim
chamadas, porque umas ressoam durante mais tempo e outras durante menos
tempo? (...) Pode acontecer que um verso mais curto, lido lentamente, dure
mais tempo que um mais longo lido rapidamente. (1987, p. 223-224)

A partir desta reflexão, Santo Agostinho coloca o tempo não pertencente às coisas do
mundo, mas sim a extensão do próprio espírito. À vista disso, evidencia um caráter
psicológico do tempo e seu pertencimento a consciência. Minkowski (1965) se alinha a esta
visão ao definir o existir como viver o tempo; viver o tempo é recuperar o passado pela
memória, mas é também antecipar o futuro dando ao presente uma dimensão dinâmica. Neste
sentido, Bergson (1999) afirma que o tempo parece existir somente na consciência. ademais,
faz uma importante definição a respeito do tempo presente: Consistindo na consciência
corporal que experimenta sensações e se movimenta em direção ao futuro. Bergson (1979)
destaca uma importante força existente no presente denominada "élan vital", é por meio desta
que o indivíduo garante-se uno, evoluindo e movimentando-se em direção às suas
possibilidades.

É no momento presente que se percebe sintonias e distonias com relação a emoções e


sentimentos. Segundo Minkowski (1965), no momento em que o "èlan vital" se "apaga", o Eu
não mais presente no tempo perde velocidade e dimensão do devir, do futuro. Isto é, não
administra nas suas exigências temporais e dinâmicas, sendo vivido como "tempo assimilado
ao espaço", uma forma mais impessoal em relação ao "tempo qualidade ou tempo vivido".
Minkowski (1965) refere-se a este último como o tempo vivido em introspecção, tal como
aparece à consciência, sendo um puro tempo dado à experiência.

No entanto, a organização temporal para o acesso ao tempo vivido ou tempo


qualidade não é um fenômeno naturalmente dado. O presente é definido por Minkowski
(1965) como "um ato de muita complexidade, é um estado da mente, e engloba um grupo de
fenômenos, incluindo o agora". Bicudo (2003) afirma que o agora é um instante focal
elementar do tempo que nasce e se finda nele mesmo, é, portanto, não só condição para o
presente, mas também a própria consciência da existência do tempo presente.

O presente, por sua vez, une o passado e o futuro, dando duração, sucessão e
continuidade ao tempo vivido (Dias, 2007), portanto, conferindo sentido às experiências
vividas. Em uma perspectiva de cura, Costa (2003) coloca a importância de desvelar o ser-aí
para além de seu sintoma, cuja linguagem da alma é expressa no seu corpo, no tempo
assimilado ao espaço, e ao tempo vivido conjuntamente.
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