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O Tempo Vivido no Acompanhamento Terapêutico

The Lived Time on Therapeutic Accompaniment


El Tiempo Vivido en el Acompañamiento Terapéutico

Danilo Faizibaioffi, Andrés Eduardo Aguirre Antúnezii & Leonardo Gonzalez iii

Resumo: Este artigo visa ilustrar, ainda que no diálogo com outros autores, a fecundidade da
produção fenomenológica e psicopatológica de Eugène Minkowski para a compreensão e terapêutica
da clínica no enquadre do AT. Para o tal, consideraram-se as experiências clínicas radicais de
convivência diária que o referido autor, por meses, empreendia com pacientes psiquiátricos, bem como
foram expostos os fenômenos essenciais que descreveu a partir de seu estudo fenomenológico sobre o
aspecto temporal da vida, dentro ou fora da patologia, a saber: o ímpeto (élan) vital de Bergson, o
contato vital com a realidade, a duração vivida e a duração racional, o binômio espera-esperança e o
diagnóstico por compenetração. Apresentamos, no diálogo com tais noções, um recorte de caso clínico
atendido no enquadre do AT, cuja problemática manifesta é o uso abusivo e dependência de
substâncias psicoativas.

PALAVRAS-CHAVE: Acompanhamento Terapêutico; Fenomenologia; Drogadicção; Hospitalidade

Abstract: This article aims to illustrate, although in dialogue with other authors, the fecundity of the
Eugène Minkowski`s phenomenological and psychopathological production for the understanding and
therapeutics in the AT clinical field. Seeking this, we considered the author`s radical daily living
clinical experiences, who lived for months with psychiatric patients, as well we exposed the essential
phenomena he described trough his phenomenological study of the temporal aspect of life, within or
outside the pathology, which are: the Bergon`s vital (élan) impetuous, the vital contact with reality, the
lived duration and rational duration, the binomial waiting-hope and the interpenetration diagnostic. We
show, in dialogue with such notions, a clipping clinical case treated in the AT seeting, whose manifest
problematic is the abuse and dependence of psychoactive substances.

KEY-WORDS: Therapeutic Accompaniment; Phenomenology; Drug Addiction; Hospitality

Resúmen: Este artículo pretende ilustrar, aunque en diálogo con otros autores, la fecundidad de la
producción fenomenológica y psicopatológica de Eugène Minkowski para la comprensión y la
terapéutica del encuadre clínico del AT. Para ello, se consideraran las radicales experiencias clínicas
diarias que el autor, durante meses, emprendió con pacientes psiquiátricos, así como fueran expuestos
los fenómenos essenciales que describió a través de su estudio fenomenológico respecto el aspecto
temporal de la vida, dentro y fuera de la patología, a saber: el impulso (élan) vitale de Bergson, el
contacto vital con la realidad, la duración vivida y la duración racional, el binomio espera-esperanza y
el diagnóstico por compenetración. Expusimos, en diálogo con estas nociones, un recorte de caso
clínico tratado en el encuadre del AT, cuya la problema se manifiesta es el abuso y dependencia a las
sustancias psicoactivas.

PALABRAS-LLAVE: Acompañamiento Terapéutico; Fenomenología; Adición, Hospitalidad

Introdução

O caráter inovador, promissor e transdisciplinar do AT revela-se por sua

essência mesma, qual seja, constituir-se como prática polifônica (Sacadura, 2013).

Barretto (2012) destaca 3 âmbitos através dos quais se manifesta a polifonia do AT:

sua inserção em diferentes campos epistemológicos e laborais, para além da Saúde

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Mental, tais quais a Saúde Geral, a Educação e o Judiciário; a formação dos ats, que

não se restringe nem à Psicologia, nem às outras áreas da Saúde necessariamente e,

finalmente, os distintos referenciais teóricos que, hoje, o embasam, não se esgotando

na "predominância das diferentes psicanálises" (p.12) como, historicamente no Brasil

e Argentina, tal prática institucionalizou-se.

Neste último âmbito, temos assistido à contribuição de autores do campo da

Fenomenologia para o AT, tais quais Edith Stein (Possani, 2012), Michel Henry

(Antúnez & Martins, 2013) e Eugène Minkowski (Antúnez, Barretto, & Safra, 2011).

Minkowski (1885-1972) foi um psiquiatra e psicopatólogo fundamentalmente

influenciado pela fenomenologia de Husserl e pela filosofia de Bergson (Antúnez,

2012), sendo ambos estes filósofos, segundo Ales Bello (2013, p.10), os mais

importantes expoentes do século XX, pois "se deram conta e procuraram frear a

interpretação redutiva do ser humano", fruto histórico da aplicação dos princípios

metodológicos das ciências naturais para o entendimento científico do homem. Na

introdução de sua célebre obra O Tempo Vivido, Minkowski (1973/1933) sintetiza a

essência da fenomenologia husserliana e da filosofia bergsoniana:

A primeira propôs-se como meta estudar e descrever os fenômenos


que compõe a vida, sem deixar-se guiar ou limitar, em suas
investigações, por premissa alguma, seja qual fosse sua origem ou
aparente legitimidade. A segunda opôs, com uma ousadia
formidável, a intuição à inteligência, o vivente ao morto, o tempo
ao espaço. (p.9, tradução nossa)

Já em 1923, penetrado por tais influências e pelas importantes transformações

nosológicas no campo da psicopatologia da esquizofrenia - cuja fundamental

influência encontrou em Bleuler (Pereira, 2004) - Minkowski (1970/1923) apresenta

um artigo no qual opera uma análise psicológica e fenomenológica de um caso de

melancolia esquizofrênica, o qual acompanhou durante 2 meses, dia e noite, no

ambiente cotidiano do paciente, em moldes formais muito próximos aos quais, cerca

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de 40 anos depois, fundar-se-ia a clínica do AT em nosso continente. Para ele, a

intensa e prolongada convivência com o paciente era um meio privilegiado de

"penetrar mais profundamente na origem e natureza do fenômeno mórbido como taliv"

(p.22), desvelando à nossa compreensão o seu sentido originário.

Nesta empreitada, descobre que a essência das manifestações psicopatológicas

reside na esfera do tempo e espaço vividos pelos sujeitos, sendo esta a base sobre a

qual construirá o seu Tratado de Psicopatologia (Minkowski, 1999/1966).

Considerando as diversas configurações patológicas - cujas manifestações mais

graves encontramos no campo do AT (Maduenho, 2012) -, a despeito dos caracteres

idiossincráticos dos pacientes, talvez não nos seja difícil dar-se conta de que "em todo

doente psíquico, ou quase, pode-se falar da repetição do passado, da insatisfação do

presente vazio e da incapacidade de projeção no porvir" (Tatossian, 2012, p.78). Mas

de qual concepção temporal e, logo, antropológicav, fala-se aqui?

Trata-se do tempo-qualidade, o tempo do devir, vivido ao nível pré-reflexivo

da experiência, e não do tempo-assimilado-ao-espaço, como nomeia Bergson para

referir-se à faceta mensurável e quantificável do tempo, elevada, pelo método

científico de embasamento positivista, à categoria de primazia quando se concebe o

fenômeno temporal na modernidade (Minkowski, 1973/1933). O tempo vivido

transcende a mera contagem numérica do relógio, a periodicidade previsível dos

calendários uniformemente delimitados, os dados obtidos por meio de questionários

dirigidos visando avaliar a orientação têmporo-espacial dos indivíduos hospitalizados.

Ele é, ante tudo e antes de tudo, "essa 'massa fluida', esse oceano em movimento,

misterioso, grandioso e potente que vejo em torno de mim, em mim, em todas as

partes... É o devir", que implica a marcha existencial humana "em direção a um

futuro indefinível e inacessível" (p.22).

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Em relação ao AT, prática inalienável do contexto urbano pós-moderno em

que não só a dupla acompanhante-acompanhado, mas também toda a rede de

profissionais e familiares inserem-se inexoravelmente, Antúnez (2012) envereda-nos

à reflexão de sua relação com o fenômeno temporal:

Em um época na qual a técnica é fruto da tecnologia, o tempo é


vivido sempre como escasso para fazer tudo o que se tem a fazer. A
aceleração do tempo é um impedimento a deter-se com calma,
tranquilidade e serenidade no cotidiano, onde o espaço do
ambiente de uma metrópole não se harmoniza com as necessidades
fundamentais de cada ser que exprime seu espaço interior (p.58).

Assim, vislumbra-se o contexto sócio-histórico dentro do qual manifesta-se o

adoecimento mental e, paralelamente, dá-se a prática do AT. Ele é marcado pela

"agonia do totalmente pensado" (Safra, 2004, p.), harmônica à hegemonia de uma

concepção temporal do totalmente contabilizado, espacializado e intelectualizado.

Segundo Costa & Medeiros (2009), tal configuração de coisas, que implica a não

consideração do tempo subjetivo na compreensão diagnóstica e terapêutica dos

transtornos mentais, constitui-se como importante fonte de impasses para o encontro

clínico.

O Ímpeto Vital: fenômeno mais originário da existência humana

Minkowski (1973/33) considera que, ao encararmos o devir com a noção de

direção, se nos apresenta à consciência o fenômeno do Ímpeto (Élan) Vital, já

descrito por Bergson. O ímpeto "cria diante de nós o futuro e é isso o que ele faz"

(p.39), implicando que, primitivamente, nunca seja "um ímpeto que parta de... senão

unicamente um ímpeto em direção a..." (p.42). Não se trata, então, da existência de

pontos de partida ou chegada em nossa trilha biográfica, como sugeriria o raciocínio

espacial, mas de uma expansão progressiva e inexorável em direção a um futuro

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imprevisível, em cuja marcha afirmamos nossa personalidade frente ao devir

circundante e realizamos, com todo nosso ser, nossa obra pessoal.

Sem o ímpeto vital, sem essas "asas poderosas" que nos levam "sempre

adiante, até mais além da própria morte" (p.44), naufragaríamos no caos do devir,

afogados por suas "ondas poderosas, porém cinzas e caóticas" (p.40). Estando toda

nossa vida orientada ao futurovi, e sendo o ímpeto a própria possibilidade de abrir-se e

criar-se diante de nós este futuro, não nos resulta difícil compreender por que

Minkowski (1973/33) concebe que, "no fundo, não há mais que um único fenômeno,

o do ímpeto vital" (p.40).

É importante destacar, todavia, o fator de limitação que o ímpeto carrega em

si, pois, enquanto nos concentramos em nossa obra pessoal, "o devir se estende cheio

de promessas, de possibilidades, de riquezas insuspeitas" (Minkowski, 1973/33, p.61),

às quais renuncio por "estar absorvido por meu ímpeto pessoal" (p.62). Quem de nós,

eventualmente, não experimenta a angustiante sensação de estar perdendo inúmeras

possibilidades profissionais, dentro ou fora de nosso campo de atuação, por termos

feito certa escolha de carreira e nela focalizado todo o nosso empenho? O quanto

aspiramos a uma plenitude epistemológica sobre determinado tema e, diante do

mergulho em nossas pesquisas de mestrado e doutorado, sentimo-nos sufocados pela

necessidade de recortar um aspecto muito diminuto da realidade, a fim de que nossos

trabalhos harmonizem com o rigor acadêmico exigido?

Há de haver, portanto, outro fenômeno que, em sincronia com a separação

entre o eu e o ambiente operada pelo ímpeto, permita-nos, mais uma vez,

reencontramos nossas raízes profundas com o devir circundante, possibilitando um

movimento fusional, ainda que temporário, ao ambiente que nos cerca e no qual

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estamos inseridos inescapavelmente. E é justamente daí que nosso ímpeto recupera

suas forças para possibilitar que sigamos adiante.

O Contato vital com a realidade

Tal fenômeno é descrito nos termos do contato vital com a realidade, que

alude à possibilidade humana de fundir-se e "confundir-se com o devir circundante"

(Minkowski, 1973/33, p.63), isto é, à nossa "faculdade de vibrar em uníssono com o

ambiente" e de mantermo-nos "em contato com a realidade" (Minkowski, 2000/1927,

p.79). Não é desprovido de valor ressaltar que este ambiente é composto,

essencialmente, de pessoas e relações, e que a capacidade de com eles vibrar em

uníssono revela o fenômeno empático como uma das formas de manifestação do

contato vital com a realidade (Minkowski, 1973/33)

Tal fusão com as raízes profundas do devir nos libera da tensão inerente à

nossa atividade no mundo, tensão esta atrelada ao ímpeto vital, mais especificamente

ao fator de limitação que lhe é inerente (Ibid.).

A tais vivências sufocantes, relacionadas à limitação de nossa atividade no

mundo, opõe-se a sensação de repouso e relaxamento aportadas-nos pelo contato vital

com a realidade, por esta faculdade sublime de sermos visitados e penetrados pelo

devir mesmo, ao mesmo tempo em que nos deixamos, sem oferecer resistências,

sermos carregados por suas ondas poderosas, rumo a um futuro recheado de

promessas imprevisíveis e belezas insuspeitas (Ibid.).

Os fenômenos do ímpeto vital e do contato vital com a realidade, assim,

constituem uma "oposição natural" (Minkowski, 1973, p.63), ainda que o primeiro

seja mais originário e, por isso mesmo, estabeleça com o segundo uma relação de

subordinação. Afinal de contas, não há como conceber uma vida puramente

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contemplativa, pois desejamos não somente existir, mas, sobretudo afirmar nossa

personalidade frente ao devir circundante e deixarmos nossa marca pessoal no mundo.

O desmoronamento do tempo vivido na doença mental

A experiência clínica radical a que se propôs Minkowski (1970/1923) quando

acompanhou seu paciente esquizofrênico diariamente, por 2 meses, dia e noite, em

seu ambiente cotidiano, permitiu-lhe postular que, a despeito dos sintomas

secundários que caracterizam tal afecção mental - como os delírios, alucinações,

embotamento afetivo e vivências persecutórias -, sua essência reside na perda do

contato vital com a realidade.

Tal característica corresponde à afetação, na doença esquizofrênicavii, ao nível

do ímpeto vital, ao qual o contato vital com a realidade segue subordinado. Ao passo

que, nas configurações não patológicas, tal contato estaria preservado,

salvaguardando aos sujeitos a capacidade de "vibrar em uníssono com os

acontecimentos imprevistos que se lhes apresentam" (p.24) e de tender "em direção a

um futuro que não conhece limites" (p.25), ainda que se possam experimentar tais

sensações de fechamento do devir em determinados momentos de crise biográfica,

porém nunca persistentemente como na esquizofrenia (Minkowski, 1973/33).

Portanto, à afetação ao nível do ímpeto vital associa-se a impossibilidade

individual de projetar-se num futuro essencialmente inacessível e imprevisível, sendo

que, ao sujeito adoecido, o devir encontra-se fechado por certezas obscuras e

inescapáveis, justificando a pavorosa vivência paranóide, por exemplo, de que algum

evento catastrófico esteja reservado ao sujeito sem que nada possa ser feito a respeito

para evitá-lo. O paciente de Minkowski (1970/1923) padecia de intenso sofrimento

decorrente de uma certeza crônica, resistente à qualquer estratégia interventiva, de

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que todos os homens ao seu redor eram seus perseguidores, e que tramavam

introduzir-lhe no ventre toda sorte de lixo e sujeiras que vinham acumulando há anos,

justamente para tal fim; ademais, não lhe restavam dúvidas de que seria exposto em

praça pública sob tal situação degradante.

Dado o exposto, seguirei com a apresentação de uma vinheta clínica de um

paciente adicto a drogas de abuso atendido por mim no enquadre do AT. Foi possível

observar que, embora de forma menos brutal do que na esquizofrenia, também pôde

ser constatado, neste caso, o enfraquecimento do ímpeto vital e a consequente perda

do contato vital com a realidade, cuja busca compensatória desemboca no abuso de

substâncias psicoativas diversas. Na medida em que se fizerem necessários, exporei

outros fenômenos temporais descritos por Minkowski, secundários ao ímpeto vital e

ilustrativos da fecundidade de sua produção para a clínica do AT.

Raíssa: à espera do outro muito antes da primeira pedra de crack

Raíssaviii é uma jovem publicitária com histórico de abuso de álcool, crack e

cocaína desde a maioridade. Nos conhecemos em uma de suas diversas internações,

durante a qual se formou uma equipe de ats visando à estruturação mínima de um

cotidiano que pudesse desdobrar-se fora de instituições psiquiátricas.

Dotada e adotada por uma estupenda capacidade intelectual, sempre conseguiu

manter-se em empregos que lhe provêm altos salários, ainda que entre umas e outras

recaídas mais ou menos graves. A eficiência e rapidez de seu pensamento salta aos

olhos, desafiando teorias neuropsicológicas que atribuem ao abuso de agonistas

dopaminérgicos lesões cognitivas amplas e limitantes à atividade do sujeito no

mundoix, pelo menos no que toca ao âmbito profissional.

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Não é à toa, então, que sua fantasia de cura corresponda à compreensão

racional do "mecanismo de minhas recaídas" (sic), e que me olhe com espanto e

estranhamento quando sustento, frente a este seu discurso, que não será pela via do

intelecto que ela resolverá ou mesmo, como pontua Safra (2004), dará andamento às

suas questões fundamentais.

A função anestésica que o abuso psicoativo exerce em seu psiquismo

harmoniza-se com sua dificuldade em contatar grotescas vivências de um vazio que

não se cansam de se lhe apresentar, coerentes com uma biografia marcada pelo

desinvestimento materno precoce (Green, 1988?) e por outras relações violentas

fundantes. Já muito cedo, em sua história, produziram-se fraturas éticas ali mesmo

onde não deveria haver mais que experiências mínimas que sustentassem a

continuidade de sua constituição como Pessoa no mundo dos homens (Safra, 2009).

Fenomenologicamente, a tal configuração de coisas corresponde seu exílio do

tempo do devir e o enfraquecimento de seu contato vital com a realidade. Raíssa

relata sentir-se real apenas quando do mergulho na "vida bandida" (sic), isto é, num

padrão de abuso e orgias sexuais de tamanha intensidade que atualiza e comunica sua

condição ontológica fraturada: (des)equilibrando-se nos desfiladeiros da morte,

perambulando pelas fendas abismais de seu buraco negro existencial.

A excessiva racionalização de sua experiência subjetiva restringe sua

experimentação do tempo quase que exclusivamente em sua faceta espacializada e

intelectualizada. Minha impressão, como descreve Minkowski (1973/1933, p.167), é

de que, nela, "as forças vitais parecem esgotadas; chegaram a ser presa dos fatores

racionais", de forma que "infiltraram-se nos mais profundos recantos de seu ser e

reduziram-nos ao nada".

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Ademais, como aponta Messas (2006), a respeito da vivência temporal na

dependência química, pode-se dizer que há, em Raíssa, uma "ampliação da

temporalidade presente da consciência" (p.25), com a implicação estrutural de "uma

consciência incapaz de experimentar sentimentos dolorosos e, portanto, sem

suficiente densidade para enfrentar determinados problemas de sua biografia" (p.157).

Ou seja, há uma restrição vivencial ao nível do agora, do instantâneo, pois, por um

lado, quando o passado penetra no presente através de recordações carregadas de

afetos angustiantes (Minkowski, 1973/33), ameaça-se sua frágil estrutura temporal

calcada no presente, manifestando-se fenômenos que se traduzem em fissura,

atuações agressivas ou mais-racionalizações; pelo outro, o devir encontra-se barrado,

com quase nenhuma abertura, implicando um futuro vivido empobrecido e restrito à

capacidade de previsão racional.

Sua capacidade de vibrar em uníssono com as pessoas mostrava-se ainda mais

comprometida no começo do trabalho de AT, cerca de dois anos atrás. Fez-se preciso

um árduo trabalho para que uma mínima vinculação com o at fosse estabelecida,

sendo que trazê-la para o âmbito da relação interpessoal elegeu-se como o pilar

interventivo sobre o qual se sustenta toda a terapêutica do caso.

Lembro-me de um dia, por exemplo, em que fui buscá-la no trabalho e, devido

a um acidente automobilístico numa via arterial da cidade, fiquei preso num

congestionamento inescapável. Angustiado, calculei que me atrasaria, no mínimo, 40

minutos para estar lá no horário combinado. Tomado de um pavor que subitamente

tornou difícil até minha própria respiração, liguei-lhe para comunicar o atraso.

Imediatamente, disparou-me, furiosa, uma série de ataques: "como assim?", "que

palhaçada é esta?", "que tipo de profissional é você?". Tentei-lhe explicar que não

havia palavra em português para descrever o trânsito na Avenida Bandeirantes, que eu

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havia saído de casa uma hora e meia antes do horário combinado, como sempre o

fizera, mas que havia ocorrido algo excepcional neste dia, frente a que não havia o

que ser feito. Ela continuou me bombardeando com sentenças agressivas até dizer-me

a seguinte: "Eu tenho meus problemas, você tem os seus. Isso agora é um problema

seu! Acha um atalho, se vira, não quero nem saber!!!". Neste momento, pude-lhe

responder: "Raíssa, isto é um problema nosso!". Depois desta intervenção, ela cessou

fogo. Creio que pôde perceber, um pouco, o quanto eu também estava angustiado e

implicado na situação toda e, assim, acalmar-se minimamente. Quando entrou no

carro, de fato cerca de 40 minutos depois de seu horário de saída do serviço,

cumprimentei-a e disse-lhe que compreendia o quanto era difícil para ela suportar a

minha ausência.

Duração Vivida

Minkowski (1973/33) descreve a diferença entre a duração vivida, referente às

experiências que se vivem em harmonia com o tempo subjetivo de cada um, e a

duração elementar pensada, experienciando-as a partir do estabelecimento racional

de um intervalo de tempo mensurável (∆t). No primeiro caso, trata-se de fenômenos

que penetram no fluxo vivente do tempo, durando enquanto fluem e fluindo enquanto

duram; já no segundo, o fenômeno é experimentado como "uma série de instantes que

se sucedem" (p.28), como "pontos justapostos" (p.29) que se apresentam sem

penetração no fluxo temporal. Segundo Barthelémy (2012), a duração vivida refere-se

à própria possibilidade de experimentar, enquanto sua faceta espacializada, ao

movimento mental de contabilizar.

Neste sentido, pode ser compreendida uma das falas mais paradigmáticas de

Raíssa, ao referir-se às suas vivências de abstinência, duramente perseguida sobretudo

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após suas altas institucionais: "minha vida resumiu-se a seis, sete, oito meses de

abstinência. Não aguento mais isso, não vejo sentido algum nisso, nasci pra morrer

aos 30, não aos 70". A abstinência, aqui, é vivida nos moldes da duração puramente

racional e, por isso mesmo, impossibilitada de ser significada e apropriada

subjetivamente pela paciente. Contudo, podemos pensar que das implicações e

decorrências desta vivência temporal empobrecida dá-se conta ela própria, quando diz

que não mais suporta viver reduzida a um ∆t mais ou menos longo. Isso foi entendido

por mim como um bom sinal prognóstico, que harmoniza com sua possibilidade, cada

vez maior, de suportar, mediante o rosto do at devotado, o vazio que se lhe apresenta

cotidianamente, ensaiando um abandono progressivo do comportamento abusivo de

substâncias e relações desvitalizadas.

Creio que o trabalho de AT sustentado na ética da relação interpessoal

devotada (Safra, 2008) e no trabalho com as questões originárias da paciente - que já

revelavam importantes fraturas a serem cuidadas muito antes que pudesse vir a

acender seu primeiro cachimbo de crack (Cruz, 2012) - possibilitou que eu

testemunhasse, meses depois, uma fala inédita , que a ressituava em relação ao tempo

vivido e à própria vivência de abstinência: "Em fevereiro completo um ano limpa!".

Aqui, o verbo completar e a utilização do "um ano" - transcendendo a mera

justaposição dos vários meses acumulados -, mostram que Raíssa começava a encarar

a abstinência sob uma outra ótica, qual seja, a da duração vivida. Revelou-se que o

próprio abuso iniciava a perder-lhe o sentido, menos por um trabalho racional e

decifrativo, de desvendar o "mecanismo de suas recaídas", do que pela própria

experiência orgânica, vivente e compenetrada, possibilitada por nossa relação

interpessoal. Neste sentido, por exemplo, eu costumava-lhe compartilhar, quando me

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dizia que nascera para morrer aos 30 e não aos 70, minha vivência espontânea do

quão abalado e agoniado eu ficaria caso isso viesse mesmo a acontecer.

Espera e esperança

Minkowski (1973/33) descreve a espera e a esperança como dois fenômenos

essenciais em relação ao futuro vivido. A espera, no sentido fenomenológico, não se

reduz a um determinado período de tempo (∆t) durante o qual aguardamos, por

exemplo, a chegada de um trem ou o sol brilhar novamente depois de uma tempestade

de verão. Apesar de poder desdobrar-se nestas vivências temporais quantificáveis,

mais ou menos agradáveis, em seu sentido originário a espera

engloba todo o ser vivente, suspende sua atividade e o congela,


angustiado, na espera. Contém em si um fator de brutal detenção
e faz ansioso o indivíduo. Diria-se que todo o devir, concentrado
fora do indivíduo, cai, como uma massa potente e hostil, sobre
ele, tratando de o aniquilar; é como um iceberg que bruscamente
surge ante a proa de um navio e que num instante se chocará
fatalmente contra ele. (p.83)

O que está em jogo, na espera, é a revelação de um futuro imediato, cujo

alcance é significativamente restrito em termos da infinitude do devir. Por isso, ela é

sempre ansiógena, uma vez que não vivemos sequer o presente na espera, senão este

futuro imediato apenas. Ao contrário do fator de expansão, contido na atividade do

sujeito e que lhe é possibilitado pelo ímpeto vital, na espera sentimos o doloroso

impacto da ação direta do ambiente sobre nós, de forma que carrega, em si, um fator

de encolhimento. Seu valor vital, contudo, reside na possibilidade de podermos

“suportar os (inevitáveis) golpes que vêm de fora” (p.86-7, parênteses nossos).

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Já a esperança, como a espera, também revela um futuro que vem em nossa

direção, porém "um futuro mais afastado, mais amplo, cheio de promessas" (p.95),

que nos libera da espera ansiosa ao mesmo tempo em que rompe com o futuro

imediato, pois vai além deste. Descortinando-nos longinquamente o devir, a esperança

abre ante nós um futuro amplo, fenômeno que nos permite sermos visitados pela

experiência do sublime.

Restrita em sua vivência temporal, Raíssa é atravessada por cotidianas crises

de ansiedade. Atada ao futuro imediato, vive constantemente acuada, trêmula e

encolhida. O futuro se lhe apresenta exclusivamente através do fenômeno da espera,

pois está impossibilitada da vivência da esperança; para ela, as infinitas possibilidades

que um futuro menos imediato poderiam trazer perdem espaço para certezas mórbidas

a respeito da perpetuação crônica de seu vazio, desconfiando da própria capacidade da

vida em lhe surpreender e mostrar-se de forma que valha a pena ser vivida. O

relaxamento e o repouso da ampliação temporal baseada na esperança (assim como

na possibilidade de enriquecer-se das experiências do passado) não emergem de sua

experiência cotidiana, vista como "uma eterna mesmice" (sic).

A intervenção do at, neste âmbito, visa resgatar-lhe a possibilidade originária

de surpreender-se, encarnando-se a esperança e, logo, a possibilidade de ampliação

da vivência do futuro, na relação interpessoal. Por exemplo, certa vez me

comunicava, extremamente agoniada, sua intenção suicida ou, no mínimo, "uma

recaída de proporções nunca antes imaginadas" (sic). Referia não suportar mais sua

vida abstêmia, na qual nada era sentido como real e tudo era oco;

"quando da vida bandida, pelo menos, existia a incerteza de estar viva no dia

seguinte" (sic). Acolhendo-a, disse que, por paradoxal que pudesse ser, este vazio que

se lhe apresentava era de fato o mais real e existente possível em sua história e que, se

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pudesse seguir suportando estas vivências, contando para isso com a minha ajuda,

continuaríamos como que adubando o solo da vida para que dele algo novo pudesse

brotar. Após um longo silêncio elaborativo, ela acalmou-se e, recuperando seu humor

agressivo, disse-me com certa ironia para eu ficar tranquilo, pois não estava disposta

a, de fato, recair. Ressaltei que suas recaídas em nada me interessavam diretamente,

senão que o nosso foco de trabalho era sua evolução como Pessoa (Safra, 2009).

No dia seguinte, arrisquei um ato interventivo: fui buscar-lhe em seu trabalho,

sem qualquer aviso prévio. Quando saía do prédio da empresa e preparava-se para

chamar um táxi, "brotei" em sua frente, com um sorriso largo e acolhedor: "Oi,

Raíssa!". Ela, um tanto assustada, perguntou-me o que eu estava fazendo ali. Disse-

lhe: "surpresa! vim te buscar". Acho que foi a primeira vez em que a vi sorrir sem

lançar mão de anedotas violentas e irônicas: "ai, não precisava (risos)", comentou

embaraçada. Desdobrou-se, no caminho à sua casa, uma conversa mais tranquila, na

qual ela me disse que havia se sentido um pouco melhor depois de nosso encontro no

dia anterior mas que, de fato, jamais imaginou que eu pudesse aparecer lá de surpresa.

Mais uma vez, pontuei-lhe com firmeza: "Raíssa, nunca subestime a capacidade da

Vida em te surpreender!".

E, como uma verdadeira aliada do at, a Vida continuou e continua lhe

surpreendendo: duas semanas depois, contou-me que encontrara uma antiga amiga da

faculdade em sua rua, e que haviam sentado para tomar um café, durante o qual

desenrolou-se uma conversa que lhe trouxera boas recordações de uma parte

constitutiva de seu passado. Desta vez, o passado penetrara o presente trazendo-lhe

boas recordações, ampliando o escopo de sua restrita vivência temporal ao presente.

Quanto às recordações do passado com conteúdos angustiantes e

ambivalentes, essas têm lhe começado a ser toleradas mais recentemente. Há algum

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tempo, fomos a uma peça de teatro frente à qual ela referiu não ter muitas

expectativas de "ser destruída" (sic)x. A encenação, repentinamente, revelou-se

repleta de simulações de abuso de cocaína e de orgias panssexuais, bem ao modo da

sua "vida bandida". Ansiosa e assustada pelo que subitamente se apresentava,

demonstrou-me extrema agonia e fissura. Perguntei-lhe se queria sair da sala, mas ela

insistiu em ver a peça até o final (estávamos na primeira fileira). Ao término da

mesma, absolutamente trêmula e fumando um cigarro atrás do outro, começou a

questionar-se sobre "que vida é esta que estou levando, em que só trabalho, trabalho,

trabalho, não bebo, não cheiro, não faço nada, no máximo vejo um filme ou uma

peça", ao mesmo tempo em que "eu quero muito voltar pra vida bandida, sonho com

isso todos os dias, mas não dá mais, eu sei que não dá, sempre tem o dia seguinte...".

Vibrando em uníssono com sua agonia, disse-lhe: "Raíssa, creio que você está me

contando de dois mundos inabitáveis: o da mesmice da rotina, em que nada de novo

emerge, e o do abismo da vida bandida, cujas consequências mortíferas você pode

descrever melhor que ninguém. Será que, então, não existe um lugar intermediário,

entre estas duas realidades tão insustentáveis quanto inóspitas?". Ao ouvir-me,

encarou-me profundamente. Brotou um profundo silêncio, no qual era possível como

que vislumbrar a extrema angústia que lhe intimava ser elaborada . No caminho de

volta para sua casa, sustentei minha intervenção, dizendo-lhe que não só ela, mas

todos os homens estamos submetidos a tal situação ontológica, que tão bem descreve

Safra (2004):

O homem se encontra na fragilidade do entre: entre o dito e o indizível, entre o


desvelar e o ocultar, entre o singular e o múltiplo, entre o encontro e a solidão, entre
o claro e o escuro, entre o finito e o infinito, entre o viver e o morrer (p.24).

16
Ao deixá-la em casa, um pouco mais calma, arrisquei uma brincadeira.

Sorrindo, exclamei-lhe: "Raíssa, bem-vinda ao drama humano!". Ela riu e, em

seguida, ressaltei-lhe para telefonar-me a qualquer hora da madrugada se necessário

(ainda que destas intervenções, ela permanecera consideravelmente fissurada com a

peça). Em harmonia com sua impossibilidade de reconhecer a interdependência das

relações humanas, comentou-me, ironicamente: "ah tá, vai sonhando".

Considerações finais

Analisando o caso em termos do tempo vivido, podem ser descritas duas

vertentes de transformações em Raíssa através do trabalho de AT.

Em primeiro lugar, sua restrição à experiência de uma temporalidade

excessivamente quantificável, calculável e controlável foi, gradualmente, permitindo

a emergência vivencial do tempo-qualidade, aquele que não se presta à racionalização

objetiva mais do que um pensamento abstrato o é capaz de fazer (Minkowski, 1973).

Isso permitiu-lhe, mesmo que de forma muito incipiente, experimentar sensações de

relaxamento, repouso e fluxo, em harmonia com o tempo do devir.

Ademais, sua fixação estrutural ao agora pôde ser ligeiramente ampliada: por

um lado, apresentando-lhe a esperança no devir através da faceta do surpreender-se, o

que lhe descortinou um futuro mais longínquo do que aquele permitido apenas pela

espera ansiosa; pelo outro, sustentando sua angústia decorrente da penetração de

conteúdos biográficos do passado no presente, através das recordações angustiantes

da vida bandida (e mesmo de episódios traumáticos anteriores a elas), o que

fortaleceu a densidade de sua tessitura sentimental e permitiu que começasse a

encarar suas fraturas psíquicas e existenciais sem lançar mão de mecanismos auto-

destrutivos tais quais as recaídas.

17
Tais mudanças foram viabilizadas, a meu ver, pelo trabalho de AT baseado na

ética da Hospitalidade (Safra, 2009), a qual convida o at a suportar e sustentar os

desarranjos psíquicos - e, eventualmente, físicos - decorrentes do acolhimento

devotado da alteridade do paciente. Minkowski (2000), a nosso ver, tocou neste ponto

ao propor a relevância do "diagnóstico por compenetração" (p.80), postura

simultaneamente investigativa e terapêutica que "penetra na personalidade do outro

em sua totalidade como tal e que a percebe, em um só ato, por sentimento, em tudo o

que há de morto e vivo nela" (p.82).

Destaca-se, em conclusão, a fecundidade da obra de Minkowski para a

fundamentação do dispositivo do AT, tanto formal (Minkowski, 1970) quanto clínica

e eticamente (Antúnez, Barretto & Safra, 2011).

iPsicanalista, acompanhante terapêutico, mestrando pelo Departamento de Psicologia Clínica


do IPUSP e membro do Laboratório PROSOPON. Email: danilo.faizibaioff@usp.br

ii
Professor Livre-Docente do Departamento de Psicologia Clínica da USP e coordenador do
Laboratório PROSOPON. Email: antunez@usp.br

iiiPsicólogo, acompanhante terapêutico, mestrando pelo NEPES (FMABC). Email:


gonzalez.usp@gmail.com

iv Apesar de seu objetivo manifesto ser menos terapêutico do que científico - Minkowski
procurava compreender a essência da enfermidade mental mais do que desenvolver
dispositivos clínicos para intervir frente às suas manifestações mórbidas -, ele se dá conta que
sua mera companhia servia de alguma ajuda ao paciente (Minkowski, 1973/1933). Desta
observação, podemos que o termo Acompanhamento Terapêutico é redundante, pois o
acompanhar já é terapêutico em seu sentido originário (Cf. Barretto, 1998).

v Segundo Barthélémy (2012), o método que Minkowski acaba por delinear - chamado de
Fenômeno-Estrutural - também é extensível à compreensão das subjetividades não
patológicas, e não somente da estrutura da personalidade dos supostos portadores de alguma
afecção mental. O próprio questionamento científico de Minkowski (1973/1933) vai mudando
ao longo desta descoberta: de como penetrar na essência do fenômeno psicopatológico sob a
égide do tempo vivido, passar a questionar-se sobre como compreender os sutis mecanismos

18
da personalidade humana em geral e, finalmente, propõe-se investigar a essência mesma dos
fenômenos originários de que se compõe a vida.

viÉ interessante a observação do autor de que o futuro, sob determinado ponto de vista, é
mais estável que o presente, sempre fugaz, e que o passado, do qual nos afastamos
progressivamente. Desta forma, concebe passado, presente e futuro como fenômenos
estruturalmente diferentes, tornando o raciocínio lógico de sobrepô-los em uma linha reta e
bidimensional mais afastado de nossa experiência subjetiva do que um exame pouco atento
poderia sugerir.

vii
Embora também se possa falar da perda do contato vital com a realidade, em maior ou
menor grau, em todas as manifestações psicopatológicas

viii Nome fictício.

ix A este respeito, por exemplo, Cf. Nassif, S.L.S. & Bertolucci, P.H.F. (2003). Aspectos
neuropsicológicos na dependência química: cocaína. Um estudo comparativo entre usuários e
controles. In J.T. Rosa & S.L.S. Nassif. Cérebro, inteligência e vínculo emocional na
dependência de drogas (pp.83-105). São Paulo: Veto.

x Esta é uma outra expressão paradigmática de Raíssa: ela demanda por algo que "a destrua",
querendo dizer, com isso, que busca por experiências que a toquem e a emocionem
profundamente. A este respeito, aproximam-se os modelos antropológicos de Minkowski
(1970/1923) e Safra (2006), no que toca à relevância da compreensão do idioma pessoal do
paciente.

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