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PRELIMINARES
Introdução
Para os antigos, o objeto de estudo da psicologia era a alma, princípio vital de todo corpo organizado. Existente nas plantas, nos animais e também no
homem, dizer que um corpo tem alma, que é provido de anima, é constatar o fato de que ele se move por si mesmo e que é dotado de um conjunto de potências,
de capacidades necessárias para sustentar o nível de complexidade da sua própria vida. Assim, nas plantas, cuja alma é vegetativa, existem apenas as potências
de reprodução e alimentação; os animais, de alma sensitiva, têm por acréscimo a percepção e o movimento; e os homens, por sua vez, são os únicos com
vontade e intelecto, deste modo possuindo uma alma intelectiva integrada às potências de ordem vegetativa e sensitiva (VERNEAUX, 1952).
Foi o filósofo grego Aristóteles (384 – 322) quem primeiro desenvolveu a concepção esboçada acima, assentando-a sob uma base menos platônica e
espiritualista, mas nem por isso menos metafísica. Suas obras, desenvolvidas a partir de uma gnosiologia realista, apresentam um estudo do ser humano e dos
demais entes considerando o seu vínculo orgânico com a realidade - com o Ser – vindo a influenciar grandemente diversos intelectuais espalhados pelos
centros de ensino durante a Idade Média. Um deles, o monge dominicano Tomás de Aquino (1225 – 1274), absorveu boa parte dessa herança filosófica do
pensador estagirita, dando um passo além nos estudos sobre o homem e a alma humana (BRENNAN, 1960)
Conforme Brennan (1960), o aperfeiçoamento dado à psicologia aristotélica por Tomás de Aquino foi realizado de maneira dispersa em vários dos seus
escritos, notadamente nos Comentários à Ética de Aristóteles e nos Comentários às Sentenças de Pedro Lombardo, nas Questões Disputadas sobre a Alma
e, claro, na Suma Teológica, devendo ser entendido num contexto eminentemente teológico, de estudos sobre Deus e a Revelação. Desse modo, de acordo com
Faitanin (2010), enquanto parte fundamental da sua antropologia filosófica, a psicologia do mestre aquinense encontra-se inserida num quadro teórico mais
amplo e robusto do que o de Aristóteles, uma vez que se trata de uma síntese original que contempla não só as contribuições do filósofo grego e das Sagradas
Escrituras, sobretudo o Gênesis, mas também a filosofia de Santo Agostinho e o tratado Sobre o Homem escrito por Alberto Magno.
Dentre as concepções teóricas refinadas pelo Aquinate em sua antropologia está a noção de hilemorfismo elaborada por Aristóteles, que concebe o ser
humano como um composto de matéria e forma, isto é, de corpo e alma, postulando, destarte, um dualismo moderado que na verdade pode ser entendido como
unidade psicossomática. É na esteira desse conceito que se pode encontrar boa parte dos fundamentos para uma compreensão da saúde e das enfermidades
mentais à luz da doutrina do Doutor Angélico que, sim, procedeu de maneira metodológica e cientificamente muito diferente dos padrões hodiernos, mas que
se encontra de tal modo de acordo com a realidade que o adjetivo “perene” se afigura como mais do que adequado para fazer jus à validade e atualidade do seu
pensamento (KRAPF, 1943).
Nesse sentido, Echevarria (2005) e (2009), apresenta o entendimento do Aquinate a respeito das patologias de raiz fisiológica e comportamental, que foram
organizadas em duas categorias: a das enfermidades do corpo e a das enfermidades da alma, que por sua vez podem ser contra a razão ou contra a natureza.
Essa distinção não é propriamente real e sim didática, visto que um hábito antinatural, como a zoofilia, ou um defeito corporal, por exemplo, incidem
respectivamente na autoestima e na saúde da alma do mesmo modo que um defeito da razão incide na saúde do corpo, como nos casos de disposição sádica
que, segundo o monge medieval, perturba a capacidade de discernimento e compromete a construção de bons hábitos.
No campo das doenças mentais mais graves, como a psicose, Ripperger (2013) frisa que o Doutor Angélico lançou mão de diversos termos para descrever
os variados estados mentais patológicos que podem afligir o ser humano, sendo dois deles merecedores de destaque: amens, que quer dizer “fora de si” e
phrenetici, que quer dizer “frenético”, ambos se referem à loucura, mas cada um em uma acepção diferente. Os “amentes” apresentam falhas ou vícios em seus
juízos sobre a realidade, sendo incapazes de fazer bom uso da razão, enquanto os “frenéticos” estão em condição “ex mente captis”, cativos da própria mente
devido a um excesso da imaginação que deforma seus hábitos e pensamentos.
Numa análise mais detida será possível encontrar uma série de paralelos e correspondências entre a semiologia dos transtornos mentais de Tomás de Aquino
e o aporte científico da psicologia e da psicopatologia contemporâneas, sendo este o intento para futuros estudos sobre o tema, que justifica-se ao apresentar a
possibilidade de reabilitar uma das correntes de pensamento mais pujantes do ocidente - o tomismo - ao seu lugar de direito na história e na prática da
psicologia enquanto ciência e profissão.
Material e métodos
De ordem estritamente bibliográfica, o material utilizado nesta pesquisa teve como objetivo apresentar os principais elementos teóricos da antropologia
filosófica de Tomás de Aquino, explorando de modo introdutório as noções de psicopatologia e saúde mental que lhe são derivadas.
Resultados e discussão
A bibliografia levantada sobre o tema permitiu concluir que o estudo da antropologia e da psicologia tomistas tem experimentado renovado interesse no
meio acadêmico, ainda que incipiente, com destaque para o padre estadunidense Chad Ripperger (2013) referência mundial em psicologia e saúde mental a
partir de um enfoque tomista; o padre argentino Ignacio Andereggen (2005) e o também argentino Martín Federico Echavarría (2005), (2006), (2009),
psicólogo e professor na universidade Abat Oliba, em Barcelona, que trabalhou na sistematização da dispersa doutrina tomista sobre o homem e a alma humana
colocando-a em perspectiva com as modernas abordagens da ciência psicológica. No Brasil, as únicas pesquisas relevantes sobre a aplicação do tomismo na
psicologia provêm do psiquiatra Lamartine de Hollanda Cavalcanti Netto (2015), que publica na área de bioética e saúde mental. Dentre os trabalhos anteriores
que se sobressaem pela qualidade e pelo pioneirismo estão os livros do dominicano estadunidense Robert Edward Brennan (1952), (1960) e do psiquiatra de
origem alemã Enrique Eduardo Krapf (1943). A investigação do padre francês Roger Verneaux (1985) apresenta-se igualmente como uma boa fonte de
conhecimento sobre o assunto.
Considerações finais
Este estudo a respeito das contribuições de Tomás de Aquino para a psicologia e para a psicopatologia está em fase preliminar, de exame pormenorizado das
referências consagradas sobre o tema. O intuito é desenvolvê-lo paulatinamente em futuras publicações científicas, contribuindo para a maior disseminação e
debate sobre o tomismo na psicologia e suas implicações científicas e profissionais para aqueles ligados à área de saúde e das ciências humanas.
Agradecimentos
UNIMONTES/FEPEG
Referências bibliográficas