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São Paulo
2013
Ricardo Assarice dos Santos
São Paulo
2013
AGRADECIMENTOS
RESUMO
A vida humana é calcada por ciclos. A primeira infância, segunda infância,
puberdade, adolescência, juventude e vida madura são as etapas comumente conhecidas
no desenvolvimento humano. Simbolicamente, cada ciclo pode ser interpretado como
uma nova vida, e o fim dos ciclos como uma morte. A vida, morte e ressureição, são
então, etapas arquetípicas do desenvolvimento psico-espiritual, no qual, para atingir um
novo nível de consciência, é necessário realizar sacrifícios e abdicar dos antigos
paradigmas da consciência. Eram estes sacrifícios que permeavam a vida dos antigos (e
dos contemporâneos) alquimistas, que buscavam através em seus laboratórios a
obtenção da pedra filosofal, do elixir da vida. A pedra filosofal é o resultado final de
todo um processo meticuloso que, apesar de ser representado fisicamente nos textos
alquímicos, são, também, etapas internas que um alquimista passa, na sua busca por
transformação. A metáfora alquímica portanto, diz respeito a transformação interna do
indivíduo em busca de Si-mesmo (Self) e está intimamente ligada ao conceito de
individuação proposto por Jung, e tal transformação é de nível moral e intelectual. O
ourobóros é uma imagem alquímica presente em diversas esferas sociais e religiosas, na
qual uma cobra, ou dragão, morde a sua própria cauda num movimento circular. A
imagem revela o paradoxo do infinito, onde tudo se inicia em seu próprio fim, e acaba
em seu próprio começo. O presente trabalho teve como objetivo traçar os paralelos entre
a opus alquímica e o processo de individuação, investigando o significado desta imagem
alquímica e arquetípica, suma do processo de individuação, o ourobóros. Através do
método de amplificação e de levantamentos bibliográficos, foram analisados escritos
que explicitavam a simbologia desta imagem arquetípica, suas correspondências dentro
da simbologia alquímica e as respectivas analogias com o processo de individuação
descrito por C. G. Jung. Foi concluído que, não só a imagem do ourobóros é análoga
com um determinado processo alquímico, o Conjunctio, como tal etapa alquímica
representa psicologicamente um importante momento do processo de individuação: a
integração dos opostos psíquicos complementares. O equilíbrio dos opostos seria uma
finalidade natural da psique, e essa integração ocorre quando se percebe diferentes
níveis de corpos, físico, onírico, sutil, e a manifestação dos arquétipos que ocorre
através destes. Quanto maior a capacidade do ego em organizar tais estruturas, mais
repertório este poderá desenvolver para enriquecer a troca com o self, e por conseguinte,
a manifestação do corpo será mais harmoniosa e menos ‘doente’, tendo como
consequência aumento da qualidade de vida, individual e social.
2. ALQUIMIA .................................................................................................................................... 14
5. ANÁLISE ........................................................................................................................................ 34
6. CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 37
INTRODUÇÃO
O homem que volta ao mesmo rio, nem o rio é o mesmo rio, nem o homem é o
mesmo homem. Esta suma de Heráclito define bem a constante transformação do
indivíduo e denota como a transformação é um aspecto presente, tanto no homem
quanto na natureza. As coisas fluem, mudam, se transformam e transmutam.
Assim é a consciência, um sistema em constante transformação, porém com que
finalidade? O que busca o intelecto?
A vida humana é calcada por ciclos. A primeira infância, segunda infância,
puberdade, adolescência, juventude e vida madura são as etapas comumente conhecidas
no desenvolvimento humano. Simbolicamente, cada ciclo pode ser interpretado como
uma nova vida, e o fim dos ciclos como uma morte. A vida, morte e ressureição, são
então, etapas arquetípicas do desenvolvimento psico-espiritual, no qual, para atingir um
novo nível de consciência, é necessário realizar sacrifícios e abdicar dos antigos
paradigmas da consciência e se integrar.
Eram estes sacrifícios que permeavam a vida dos antigos (e dos
contemporâneos) alquimistas, que buscavam através em seus laboratórios a obtenção da
pedra filosofal, do elixir da vida.
Ao longo de sua prática clínica, o psicólogo suíço Carl Gustav Jung percebeu
uma correlação entre sonhos de seus pacientes com figuras alquímicas, e a partir daí,
traçou diversos paralelos entre as metáforas alquímicas com o processo que denominou
individuação (JUNG, 1999).
Dentro do universo alquímico foi escolhido uma imagem em especial, a do
Ourobóros: a serpente que morde a própria cauda, de forma circular.
O presente trabalho teve como objetivo traçar os paralelos entre a opus
alquímica e o processo de individuação, investigando o significado desta imagem
alquímica e arquetípica, suma do processo de individuação, o Ourobóros. Através do
método de amplificação e de levantamentos bibliográficos, foram analisadas obras
filosóficas e acadêmicas que explicitavam a simbologia desta imagem arquetípica, suas
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perceber e atuar com diferentes polaridades, a doença de manifesta como uma forma de
chamar a atenção para a unilateralidade da psique, e convidá-la a integrar outros
aspectos.
Será, portanto, a ferramenta principal da psique para se manifestar e se
transformar, e que, as religiões são carregadas destes símbolos que ajudam o homem a
se religar com o divino, ou com seu próprio self, uma forma de vir-a-ser mais natural e
fluída. Toda manifestação de doenças exigiria uma compreensão e investigação
simbólica, que facilitaria a dissolução da mesma.
Em síntese, considerando o paradigma social de unilateralidade, manifestado
entre outras esferas, na psique, produz adoecimentos nos indivíduos, em níveis mentais
e físicos. Através do método de amplificação, que consiste ressaltar as impressões
individuais acerca de um símbolo, em seguida associá-lo com outras imagens
arquetípicas e por fim resignificá-lo a partir dos vieses individuais e coletivos será
analisado o símbolo arquetípico do Ourobóros e suas correlações com os processos
alquímicos e a o conceito de individuação de Jung, permitindo uma maior compreensão
do processo de individuação e a potencialidade da alquimia como forma de integrar a
psique.
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- Alquimista desconhecido
2. Alquimia
Nos primeiros séculos da Roma cristã, surgiu uma série de tratados de cunho religioso e
esotérico, que se diziam influenciados na religião egípcia, neoplatonismo e neopitagorismo. O
conjunto desses escritos é chamado Corpus Hermeticum, e reúne a Hermética e a Tábua de
Esmeralda. Estas duas obras são trabalhos estritamente herméticos sobre os quais se
fundam a ciência e a filosofia alquímicas. Na análise deste trabalho serão investigadas
as possíveis ligações com o Ourobóros e as leis herméticas. No anexo 1 encontramos a
compilação das sete leis herméticas, e no anexo 2 a tradução livre da tábua de
esmeralda. E mais, como símbolo máximo associado a Hermes, encontramos o caduceu:
Na figura 1(a), vemos o deus Hermes e seu caduceu, na figura 1(b), o caduceu
com as serpentes circulares em movimento:
Para os mais descuidados, é necessário apontar que o processo para obter tais feitos, não
só é simbólico, como o próprio objetivo em si, é uma metáfora. Os metais densos
podem ser caracterizados como aspectos da personalidade, a serem tranformados,
transmutados, ou seja, lapidados até sua forma mais pura, o ouro. A pedra filosofal é o
resultado final de todo um processo meticuloso que, apesar de ser representado
físicamente nos textos alquímicos, são, também, estapas internas que um alquimista
passa, na sua busca por individuação. A metáfora alquímica, portanto é diz respeito a
transformação interna do indivíduo em busca de sí-mesmo e esta intimamente ligada ao
conceito de indivduação proposto por Jung, tal transformação é de nível moral e
intelectual. Von Franz elucida o paralelo evidente destes dois processos:
Imagem 2: Corresponde à três, dos quatro momentos descritos: nigredo, albedo e rubedo.
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Imagem 3
Associada então com o elemento terra, a conjunção pode ser divida em duas sub-
etapas, segundo Masan: coniunctio inferior e superior. Na primeira, a união dos opostos
separados de forma imperfeita, resulta em algo que deverá ser submetido a novos
procedimentos.
Masan define que a coniunctio inferior acontecerá sempre que o ego identificar
aspectos inconscientes, como a sombra, anima, ou mesmo o Si-mesmo (Self), através de
uma perspectiva introvertida ou coletiva. Essa identificação deve ser ‘purificada’, ou
seja, eliminada, redimida, para dar continuidade ao processo de individuação. A
coniunctio superior representa a conjunção mor dos aspectos previamente impossíveis
de serem integrados. Após passar pelos estágios anteriores da Opus, a prima matéria
pode finalmente ter seus opostos complementados.
Masan apresenta o Amor como uma das chaves para a integração psicológica
dos opostos. Seria insensato pensar em amor se associá-lo com o coração. A simbologia
do coração é estudada no livro “A Psique do Coração”, de Denise Ramos . A autora
apresenta mitos e imagens de culturas americanas que tinham como centro o coração,
sendo ele, em quase todas as histórias um ícone do sagrado ou oferecido ao sagrado.
No capítulo “Elegias Para Acalmar o Coração”, é somado às ideias de rezas para
‘abrir’ o coração e permitir o esvaziamento do sofrimento com o preenchimento de
Deus. No capítulo “O Coração em Julgamento” é recapitulado toda a simbologia do
coração no antigo Egito, como este sendo um exemplar da alma do indivíduo.
Ao morrer, o coração era pesado numa balança, onde na contraparte ficava a
pena de Maat. Neste julgamento especial, se o coração fosse mais pesado que a pena, ou
seja, estivesse carregado das impurezas do ego, não era permitido ao falecido integrar-se
a completude. No sub-capítulo “O Lugar Secreto” é destacado o valor simbólico do
coração na tradição hindu, e como o coração está associado nestas culturas como o
‘lugar da consciência”, sendo o self em si, o lugar que o homem emana a si mesmo, um
guia de luz.
Ainda segundo a autora, Anãhata é a representação do chakra¹ cardíaco no
Tantra Yoga, que une os chakras (ver capítulo 3) superiores com os inferiores, o Tantra
Yoga tem como objetivo alinhar e equilibrar as polaridades masculinas e femininas. Tal
equilíbrio acontece no coração, e quando acontece, o praticante da técnica consegue
ouvir o som ‘hum’, do vazio, que emana por todo o tempo e espaço. Essas informações
aparecem no sub-capítulo “O Lugar do Som Universal”. Uma frase que pode
exemplificar o amor como via de integração das polaridades é a de Nietzsche: “Aquilo
que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.
Hauck (1999) sincretiza o processo alquímico da conjunção da seguinte forma:
“Psicologicamente, Conjunção é usar a energia sexual dos corpos para transformação
pessoal. Conjunção se ocupa no corpo no nível do coração” (HAUCK, 1999,220).
Imagem 4
Imagem 5
de sua forma plena, integrada com a impulsão da consciência para os estados mais
elevados do vir-a-ser.
“Vivo minha vida em círculos cada vez maiores que se estendem sobre as coisas.
- Reiner Rilke
3.1 Símbolo
3.2 Ourobóros
Imagem 6
- Dream Theater
5. ANÁLISE
5.1 Amplificação
Cirlot (1974) consegue em seu Diccionario de los símbolos sintetizar a maioria das
analogias levantadas no trabalho:
“Nosce te ipsum”
- Oráculo de Delfos
6. Conclusão
O presente trabalho teve como objetivo traçar os paralelos entre a opus alquímica e o
processo de individuação, investigando o significado da imagem alquímica e arquetípica, suma
do processo de individuação, o Ourobóros. Através do método de amplificação e de
levantamentos bibliográficos, foram analisadas obras filosóficas e acadêmicas que explicitavam
a simbologia desta imagem arquetípica, suas correspondências dentro da simbologia alquímica e
as respectivas analogias com o processo de individuação descrito por C. G. Jung.
A amplificação promove associações diretas da consciência frente a uma imagem,
conteúdo ou símbolo explorado, cujo nome é circumbulação, ou seja, um movimento circular
em torno de um ponto, o próprio método é o uma manifestação ourobórica. “a amplificação
consiste simplesmente em estabelecer paralelos” (JUNG, 1935, 172).
Estende-se ao ponto de considerar aspectos coletivos através de experiências
individuais, recorrendo a fontes de cunho cultural, histórico, mitos e filosóficos, afim de
“ampliar o conteúdo metafórico do simbolismo” (JUNG, 1935, 173).
O símbolo estaria carregado com os significados arquetípicos de uma forma
apresentável para o ego, e seria então o terceiro fator da relação psique-corpo, um intermediador
que facilitaria o equilíbrio e manifestação da individualidade, possibilitando uma vida menos
sintomática. Uma vez que a psique tem dificuldade de perceber e atuar com diferentes
polaridades, a doença de manifesta como uma forma de chamar a atenção para a unilateralidade
da psique, e convidá-la a integrar outros aspectos.
Seria, portanto, a ferramenta principal da psique para se manifestar e se transformar, e
que, as religiões são carregadas destes símbolos que ajudam o homem a se religar com o divino,
ou com seu próprio self, uma forma de vir-a-ser mais natural e fluída. Toda manifestação de
doenças exigiria uma compreensão e investigação simbólica, que facilitaria a dissolução da
mesma.
Em síntese, considerando o paradigma social de unilateralidade, manifestado entre
outras esferas, na psique, produz adoecimentos nos indivíduos, em níveis mentais e físicos.
A integração desses aspectos psicológicos inicialmente opostos, seria, portanto a chave
da chamada individuação. Através destes, seria possível atingir um estado psicológico centrado,
no qual o maniqueísmo neurótico não mais afetaria negativamente
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7. Referências Bibliográficas
BADANO, Federico. Signo del Yin-Yang. Rev. argent. radiol., Ciudad Autónoma de
Buenos Aires, v. 74, n. 4, dic. 2010 . Disponible en
<http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1852-
99922010000400010&lng=es&nrm=iso>. accedido en 13 jun. 2013.
CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo. Ed. Palas Athena, 1990.
HAUCK, Dennis Willian. The Emerald Tablet: Alchemy for Personal Transformation.
Arkana. Ed.Pengun Group. 1999.
JUNG, Carl Gustav. A Vida Simbólica. Obras Completas. Vol. XVIII/I. Petrópolis. Ed.
Vozes. 2 Edição 1998.
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. São Paulo. Ed. Nova Fronteira. 9
edição. 1964.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Alquimia. Obras Completas. Vol. XII. Petrópolis. Ed.
Vozes. 2009.