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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PERFORMANCES CULTURAIS
DOUTORADO EM PERFORMANCES CULTURAIS
TEORIAS E PRÁTICAS DAS PERFORMANCES
RAIMUNDO VAGNER LEITE DE OLIVEIRA

REFLEXÃO

Goiânia-GO

2023
RAIMUNDO VAGNER LEITE DE OLIVEIRA

REFLEXÃO

Relatório da disciplina “Teorias e práticas


das performances” do curso de
doutoramento do Programa de Pós-
Graduação em Performances Culturais da
Universidade Federal de Goiás, como
requisito parcial para aprovação na
matéria.

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO:
Performances Culturais.

LINHA DE PESQUISA: Teorias e Práticas


das Performances.

Goiânia-GO

2023
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REFLEXÃO DA AULA

Marcelo Fecunde de Faria iniciou o encontro do dia 15 e apresentou as outras


palestrantes. Todos apresentaram suas produções. Logo após nos foi dada aos
doutorandos a oportunidade de se apresentarem. Em seguida, quem estivesse à
vontade, já poderia fazer perguntas aos palestrantes sobre os trabalhos
apresentados.

Marcelo Fecunde de Faria apresentou sua pesquisa sobre a manifestação


carnavalesca conhecida como Zé Pereira que acontece no município de Itaberaí–
GO (FARIA, 2015). Nancy de Melo Batista Pereira falou a respeito do “DIÁLOGO
VISUAL DIEGÉTICO: A PERFORMANCE DO DISPOSITIVO CINEMATOGRÁFICO
NO CINEMA CONTEMPORÂNEO” e Alcione Gomes de Almeida discorreu sobre
PLÍNIO MARCOS: DO TEXTO À TELA.

Em termos gerais, as falas evidenciaram a importância do “eu-outro”, das


vivências e sensibilidades que permeiam a performance. Tal aspecto me reportou ao
artigo “Ser Afetado” de Favret-Saada (2005), depois ao livro “O arquivo e o
repertório” de Taylor (2013) e “A Queda do Céu” de Kopenawa e Albert (2015).

Tanto na fala dos palestrantes quando nos textos percebe-se que não
podemos tratar, o que pretendemos investigar, como um simples objeto, um objeto
de estudo, mas como sujeito de pesquisa, um sujeito completo envolto num
complexo mundo permeado de interconexões outras.

Desse modo, percebo a riqueza que uma pesquisa oferecer são


considerrmos, ou melhor, se tivermos atentos aos tantos detalhes que ela poderá
oferecer. O olhar para a manifestação cultural pelo sujeito que faz parte, pelo que
participa direta ou indiretamente, e aí tem ainda a idade e gênero, o contexto, entre
outros fatores. E ainda, o referencial teórico que servirá não como moldura, mas
como auxílio às sensibilidades da manifestação cultural.

Sobre essa questão, a da sensibilidade, foi levantado uma outra discussão, a


de como enxergá-la. E nesse ponto surgiu o assunto metodologia.
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Quadro 1 - Da sensibilidade e estática


CULTURA POPULAR ESTÁTICA

MÉTODO SENSIBILIDADE
Fonte: Do autor.

Assim temos que a cultura popular, e aí inserida as performance, não é


estática. Por tanto, pensar o método para se investigar a cultura não faz muito
sentido. Na performance, faz sentido se cercar do sensível da performance, deixar
primeiro ser afetado, para se pensar depois num método que atenda às
sensibilidades existentes. A própria performance se revelará ao seu tempo ao
pesquisador e o mesmo seguirá, dentro de suas possibilidades intelectuais,
apreendendo as nuances, as miudezas de grande valor às performances.

Não seria exagero pensar que na performance, qualquer que seja, há uma
teatralidade onde cada objeti, cada sujeito, cada fala, cada cheiro, cada sabor, tudo
que a compuser, que adapta-se ao seu espaço-tempo singular-plural. Performance
que é carregada de significados. Então a pergunta: ao fazermos pesquisa sobre tal
manifestação, o que foi escrito faz sentido para quem vivencia? Se não fizer,
fizemos algo errado. Nos perdemos no processo.

Como num corpo que precisa usar Libras, que alguém percebeu pela
sensibilidade, nossa escrita precisa revelar o ritmo do sujeito. O que o pesquisador
faz com a informação que lhe é dada? O pesquisador vai transformar o que antes
era daltônico aos olhos da academia em algo perceptível. Faz-se conhecer o outro-
eu, o eu-outro.

E é nessa descoberta do outro-eu que se revela uma versão do que estava


encoberto. E então percebemos as cores, s corpos, os cheiros, os gostos, os
sabores, os gestos, os sons. Um todo extraordinário.

Diante do exposto, no texto, “A questão espaço-temporal em Bakhtin:


cronotopia e exotopia” de autoria de Irene Machado (2015), quando a autora fala
sobre “Ainda que seu funcionamento seja situado no espaço e no tempo, a
mecânica se orienta pelas coisas em si, tomadas isoladamente, e não pelo que elas
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possam significar em suas relações umas com as outras” (MACHADO, 2015, p. 1),
essa frase, antes de certa forma confusa, agora faz mais sentido diante da reflexão.

O quadro acima passaria a ser um pouco mais amplo:

Quadro 2 - Do mundo das relações e das coisas mudas


CULTURA POPULAR MÉTODO
sensibilidade estático
diálogo sem diálogo
ARQUITETÔNICA MECÂNICO
compreensão das relações, mundo das coisas
mundo vivo mudas, inanimadas
Fonte: Do autor.

É com essa ´percepção das coisas, ou melhor, do eu-outro e do outro-eu, que


devemos buscar ser afetado nas pesquisas, sentir, valorizar a experiência que nos é
oportunizada. É não falar sobre o sabor (que se vê), mas do sabor (que se sente).
Como diz Oliveira (2019), ser pesquisador é estar em movimento. E Machado
completa, “movimento de dentro para fora” (MACHADO, 2015, p. 18).

REFERÊNCIAS

FARIA, Marcelo Fecunde. Zé Pereira: a performance carnavalesca em Itaberaí-GO.


2015. 176 f. Dissertação (Mestrado em Performance Cultural) - Universidade Federal
de Goiás, Goiânia, 2015. Disponível em:
https://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/5464. Acesso em: 10.05.2023.

FARIA, Marcelo Fecunde; CAMARGO, Robson Corrêa de. Zé Pereira: a rua, o


mascarado e o bumbo. In: Urbano palco: estudo de performance urbana. V. 2. -
Josiane Kunzler, Roberta Machado, Vânia Dolores Estevam de Oliveira (orgs.) -
Goiânia / Kelps, 2020. Disponível em:
https://kelps.com.br/wp-content/uploads/2020/11/urbanoPalco_ebook_PDF.pdf.
Acesso em: 10.05.2023.

FARIA, M.; CAMARGO, R. Teatralidade e carnavalização. Zé Pereira no final do séc.


XIX. Cadernos De Filosofia Alemã: Crítica E Modernidade, 1(80), 142-165, 2021.
Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v1i80p142-165. Acesso em:
10.05.2023.
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MACHADO, Irene. A questão espaço-temporal em Bakhtin: cronotopia e exotopia.


In: Círculo de Bakhtin: teoria inclassificável (Luciane de Paula; Grenissa Stafuzza).
São Paulo: Mercado de Letras, 2010. Disponível em:
https://www.academia.edu/4216635/A_quest%C3%A3o_espa
%C3%A7o_temporal_em_Bakhtin_cronotopia_e_exotopia. Acesso em: 10.05.2023.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã


Yanomami. Tradução Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras,
2015.

FAVRET-SAADA, Jeanne. Ser afetado. Cadernos de Campo, n. 13: 155-161, São


Paulo: 2005.

TAYLOR, Diana. O arquivo e o repertório: performance e memória cultural nas


Américas. Tradução Eliana Lourenço de Lima Reis. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2013.

OLIVEIRA, Raimundo Vagner Leite de. Trajetórias de vida-científica dos cinco


pesquisadores/PQ do CNPq da Educação Musical: a construção de Biogramas a
partir de fontes documentais. 2019. 204 f., il. Dissertação (Mestrado em Música)—
Universidade de Brasília, Brasília, 2019. Disponível em:
https://repositorio.unb.br/handle/10482/35884. Acesso em: 17.05.2023.

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