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GESTO: POÉTICAS DA CRIAÇÃO

O grupo de pesquisa Gesto: poéticas da criação inicia suas atividades em 2021 em


pleno contexto pandêmico, em formato virtual a partir de uma parceria interistitucional entre a
UFT e a UFAL1.
O grupo ativa pesquisa de interface entre as Artes e a Comunicação com processos
metodológicos baseados em arte, ou seja, lemos, estudamos, partilhamos processos de
pesquisas, escrevemos, organizamos eventos e publicações mas, sobretudo, criamos juntos
ativando o corpo em processos inventivos. Nosso vinculo institucional é o Programa de Pós-
graduação em Comunicação e Sociedade da Universidade Federal do Tocantins (UFT) mas
operamos por vínculos afetivos e geografias intensivas dada nossa distancia espacial.
Coordenado pela Drª Renata Ferreira da Silva, somos um coletivo de professores e
estudantes de graduação e pós-graduação de diferentes áreas de conhecimento - Teatro,
Literatura, Jornalismo e Educação. Vemos nisto um força para responder a um mundo tão
complexo e desafiante, trabalhar na diferença e no encontro entre as áreas.
Os encontros são quinzenais (on-line) e os processos de pesquisa ativados são
vinculados a formas de experiências artística. Nos interessa estudar: Em que medida as artes
podem dar conta da investigação?
A questão documental do processo tem surgido em meio a estas partilhas, que por sua
vez surgiram do desejo poético do grupo de conectar-se com a área onde habita e expandir seus
conceitos sobre ela, não só com o espaço da casa ou da intimidade uns dos outros, mas com os
corpos em tempo “real”. Confinados devido a atual situação mundial, dialogar com a casa e
suas diferentes maneiras de coexistir possibilitou ao grupo, como um primeiro movimento
coletivo de investigação, os devires possíveis dentro do espaço que habitamos e as diferentes
possibilidades de movimento dentro dele, e para além da questão espacial discutirmos também
a relação temporal com este espaço. Esta noção espaço/movimento-tempo provocou no grupo
experiências estéticas e artísticas nos levando a fabular dentro da nossa própria realidade a
partir de uma cadeia de experimentos.

Gilles Deleuze entende a fabulação como uma forma de criação, de


pensamento que faz crer em um novo real. Em um real minoritário. Ela é algo
que possibilita a constituição de um novo corpo, de algo ainda não existente.
É algo capaz de afetar e, consequentemente, fazer crer em um modo de
existência outro (ZEPPINI; ZACHARIAS, 2018, p.281).

Durante os encontros somos provocados por nossas próprias questões a investigar a


relação espacial coletiva que se forma. Os encontros realizados via plataforma digital delimitam
cada participante a um retângulo, um frame, um enquadramento previsto o que aguçou o desejo
de aproximação entre os participantes, como se mesmo estando em diferentes espaços
habitássemos a mesma casa e a partir deste ponto passamos a investigar possíveis encontros e
desencontros cotidianos a partir de um tempo em comum o que culminou na produção do
Documentário Devir- Casa2.
Pesquisas baseadas em arte aceitam, de uma forma normalizada, diferentes formatos de
escritura utilizando procedimentos artísticos, literários, visuais e performativos para dar conta
da prática de experiência que não se fazem visíveis em outros tipos de pesquisa (IRWIN, 2013)
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O grupo justifica suas atividades a partir do interesse comum de pesquisa entre as líderes do grupo
interinstitucional (Universidades Federal do Tocantins e Universidade Federal de Alagoas), a saber: pesquisa de
interface entre artes e comunicação com processos metodológicos baseados em arte.
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O resultado, faz parte da pesquisa de mestrado de Lucas Justino e pode ser acessado pelo intagram do grupo.
As artes aparecem como método, forma de análise, tema e experiencia sensivel dentro dos
processos investigativos ativados pelo Gesto, no exercicio de fuga de dicotomias como razão x
emoção, corpo x mente, sujeito x objeto.
Cada percurso metodológico tem uma forma de perguntar, uma língua própria e, cada
percurso de pesquisa apresenta a realidade respondendo à pergunta na sua própria língua. Nesse
sentido nos interessa perguntar: “Como compomos este movimento que investigamos? “A
produção de dados ao invés de coleta, o jogo de forças implícito no movimento de pesquisa, o
que está em contínuo movimento ao invés do que se estabiliza (SILVA,2020,p.239).
As artes levam ao fazer e , utilizar elementos artísticos e estéticos nos provocam outras
maneiras de olhar e representar a experiência, a desvelar aquilo que não se fala. Pensamento,
neste contexto, não é somente “raciocinar” ou “calcular” ou “argumentar”, ou mesmo
“categorizar” e “contar”, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar
sentido ao que somos e ao que nos acontece.
Ao pensar a comunicação, e sobretudo as transformações na comunicação em uma
sociedade em rede em interface com as artes e a pesquisa em comunicação, campo onde
delimitamos nossa problemática de pesquisa, a ideia de imobilidade aliada a um contato
permanente com o mundo torna-se ponto de partida para pensar outras formas de produção
artística e de pesquisa. Quais os efeitos destas mudanças vividas em contexto pandêmico na
experiência de produção artística? A pesquisa em comunicação não passaria também pelo
afetivo, corporal a medida em que nosso cotidiano se transforma em experiência midiática e
tenta gerar afeto, memória e experiência?
O grupo procura articular e fortalecer o tripé pesquisa, ensino e extensão, para tanto
promove uma convocatória internacional chamada Pausa na Rede, realizada em parceria com a
Casa Clic3 e com os grupos de pesquisa da UFT: Malt – Memória, Arte e Alteridade (Curso de
Ciências Sociais), Coletivo 50 Graus (Curso de Pedagogia). A convocatória conta com o apoio
do PPGCOMS/UFT, a parceria da Associação de Leitura do Brasil (ALB), vinculada à
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/SP), a parceria das Revistas Linha Mestra
(Unicamp), Alegrar (Unicamp) e Rascunhos (UFU) que hospedam edições da Revista Pausa na
Rede além da galeria Eixo Arte Contemporânea do Rio de Janeiro que apoia e divulga o
projeto.
Ao considerar o contexto pandêmico as chamadas buscam dar visibilidades a obras
textuais, audiovisuais e imagéticas produzidas durante o período pandêmico e tensionar a
produção cientifica em formato de periódicos artísticos. Além desta publicação, o grupo
organiza um Dossie temático A cibercultura e o retorno a casa: comunicação e arte num
mundo porvir a partir das discussões dos projetos de pesquisas tramados coletivamente, ou
seja, estamos reunindo textos que apresentem reflexões sobre os novos contornos do mundo
atual em que vivemos. Queremos pensar sobre estilos de produções artísticas surgidas em meio
aos contextos remotos e pandêmicos que transformaram nossas formas de interação em rede
dentro de uma economia global e um capitalismo informacional. Quais os efeitos destas
mudanças nas dinâmicas de produção artísticas? O que pode a casa e o espaço da intimidade
nestes rearranjos culturais?
Outra ações partem da iniciativa de organização de eventos como a V Jornada
Intersdisciplinar do PPGCOMS/UFT em articulação com o grupo de pesquisa Coletivo 50°,
coordenado pela Drª Amanda M. P. Leite também vinculado ao PPGCOMS/UFT. Nesta ação,
exploramos o tema: Intimidade expandida: comunicação em tempos virais - num evento
articulador de pesquisas nas diversas áreas do conhecimento que possuam interface com a
comunicação na sociedade. O evento de abrangência internacional é realizado por meio de
parcerias entre as diversas unidades de ensino, pesquisa e extensão da UFT, promovendo um

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Espaço de promoção de arte e educação na cidade de Palmas – TO ativados pelas pesquisadoras Amanda M. P.
Leite e Renata F. da Silva.
espaço ampliado e multidisciplinar de discussões e intercâmbio de conhecimentos. O objetivo
geral é pensar a Comunicação em tempos virais afetada pelo contexto pandêmico na sua
relação com a arte. Esta ação fomenta dilogo entre os grupos de pesquisa para além do
PPGCOMS/UFT, amplia trocas por meio de oficinas virais, salas temáticas, mesas pandêmicas
e, ainda, projeções de trabalhos artísticos disponíveis no Hall de entrada do evento que é
realizado 100% on-line.
Desde 2016, o que tem caracterizado nossos processos investigativos tem sido
experimentar metodologias de pesquisa que favoreçam encontros entre a Comunicação, as
Artes, a Educação e a Filosofia da Diferença .O exercício é deslocar de outras áreas e aproximar
essas metodologias de pesquisa daquilo que realizamos no PPGCOMS/UFT. Nossos
movimentos transitam a Pesquisa baseada em Artes (IRWIN, 2013); e a Cartografia (COSTA,
2014).
Em 2021 lançamos o Instagram: @gestopoeticasdacriação – canal criado para divulgar nas
mídias sociais telemáticas as atividades realizadas no intuito de nos aproximarmos do público
externo à UFT, de apresentar nosso trabalho e de ampliar nossa rede estendendo as ações à
diferentes localidades

Palavras-chave: Comunicação. Arte. Processo criativo.

Referências bibliográficas

ZEPPINI, Paola Sanfelice; ZACHARIAS, Pamela. Sobre aprender a fabular em educação. In.: Linha
Mestra, N.35, P.278-285, MAIO.AGO.2018.
SILVA, Renata F. Os dramas da pesquisa ou sobre escrita acadêmica e vida. ALEGRAR nº 25 -
jan/jul, 2020, p. 238-249. Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/1C6I5Hs6crWe4rUzgcPZTBHEQCC9XfiOs/view
Acessado em 01 de junho de 2021.
DIAS, B. A/r/tografia como metodologia e pedagogia em artes: uma introdução. In: DIAS, B.;
IRWIN, R. (Org.) Pesquisa Educacional Baseada em Arte: a/r/tografia. Santa Maria: Edufsm,
2013. p. 6-12.
BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras. Educ.
[online]. 2002, n.19, pp.20-28. ISSN 1413-2478.

[1] Professora Docente do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Sociedade


(PPGCOMS-UFT), renataferreira@uft.edu.br
[2] Mestrando do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Sociedade
(PPGCOMS-UFT lucasjustinogratidao@gmail.com

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