Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Este texto partilha fabulações do Grupo de Pesquisa GESTO – Poéticas da criação da Universidade
Federal do Tocantins para a pesquisa baseado em artes. Os pesquisadores participantes dialogam neste período de
isolamento social sobre a casa enquanto espaço de pesquisação poética e , para tanto desenvolvem experimentos
a partir de registros sonoros, visuais e de escrita de forma remota se propondo a fabulação da casa enquanto
espaço, território em um modo artístico de pesquisa. A experimentação documental da realidade dos pesquisadores
reflete sobre este corpo, sobre a espacialidade e territóriedade pandêmica, bem como a perdurabilidade da
incidência artística na relação entre o mundo da representação e o mundo dito como real, utilizando para tanto de
meios virtuais e audiovisuais no processo criativo de pesquisa. Estimulam os pensamentos teóricos como Deleuze,
Casimir, Ismail Xavier e Chirstine Greiner.
Introdução
Desenvolvimento
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade da Universidade Federal do
Tocantins;
[1] Professora Docente do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Sociedade
(PPGCOMS-UFT), renataferreira@uft.edu.br;
como força pulsante em qualquer grupo, onde manifestações declaradas coexistem as
circunstâncias históricas. Há outros aspectos da territorialidade humana, bastante pluralista,
ligada a multiplicidade de expressões e comportamentos socioculturais. Para tanto e
antropologicamente falando faz-se necessária abordagens etnográficas para compreender os
múltiplos formatos específicos dessa diversidade de territórios. Durante a realidade que
vivemos e o ambiente caótico que nos encontramos causado pela pandemia de COVID-19 que
nos obriga ao isolamento social, nos colocamos a experenciar a relação corpo e casa, corpo e
ambiente, corpo e territorialização.
Cada percurso metodológico tem uma forma de perguntar, uma língua própria e, cada
percurso de pesquisa apresenta a realidade respondendo à pergunta na sua própria língua. Nesse
sentido nos interessa perguntar: “Como compomos este movimento que investigamos? “A
produção de dados ao invés de coleta, o jogo de forças implícito no movimento de pesquisa, o
que está em contínuo movimento ao invés do que se estabiliza (SILVA,2020, p.239).
As artes levam ao fazer e, utilizar elementos artísticos e estéticos nos provocam
outras maneiras de olhar e representar a experiência, a desvelar aquilo que não se fala.
Pensamento, neste contexto, não é somente “raciocinar” ou “calcular” ou “argumentar”, ou
mesmo “categorizar” e “contar”, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo
dar sentido ao que somos e ao que nos acontece.
Justamente, nos acontece de sermos levados a “observar o comportamento a partir das
ações corporais, das relações entre corpo e ambiente, dos diferentes níveis de consciência, da
intencionalidade expressa através do movimento e da maneira como os universos simbólicos
são organizados na ação” (GREINER, 2012, p.37). Esta experimentação o espaço e nossos
corpos nos oferece muitas possibilidades investigativas, e a partir disto vivenciarmos a ideia de
que a relação corpo biológico e corpo cultural torna-se um aspecto fundamental para
mapearmos o corpo como um sistema e “não mais como um instrumento ou produto”
(GREINER, 2012, p.37). Como habitamos a casa? O que nossas ações corporificam na casa, e
vice-versa?
Confinados pelo contexto pandêmico, fabular a espacialidade da casa e suas diferentes
maneiras de coexistir nos possibilita experenciar o devir -casa dentro do espaço que residimos
e os múltiplos movimentos cabíveis dentro dele. A noção entre espaço, ambiente, território,
corpo, movimento e tempo instiga o grupo as experiências estéticas e artísticas fabulosas acerca
da própria realidade.
Neste sentido o programa funciona para o grupo como enunciado que norteia as
experimentações. Os programas abaixo, foram elaborados coletivamente pelos integrantes do
grupo de pesquisa GESTO:
Programa I: Deixe seu gravador ligado em um canto da casa; capte o som emitido às
19h de segunda-feira; envie o minuto sonoro para o editor que fará a sobreposição de todos os
áudios do grupo.
Programa II: Grave um vídeo de 1 minuto utilizando o áudio criado coletivamente
como estímulo para movimentos e ações no plano baixo (base solo, chão).
Programa III: Grave 1 minuto de vídeo na terça-feira às 16 horas. Celular disposto na vertical.
Área de gravação interno (1 Cômodo dentro da casa). Plano geral.
Os áudios dos propostos pelo programa I, foram compactados e sobrepostos por um
integrante do grupo o transformando em uma única faixa sonora de 1 minuto. A partir desta
faixa experimentamos a reverberação do som em nosso corpo em contato com o chão, base da
casa, ou seja, o programa 02 fez com que dançássemos esta sonoridade em plano baixo, de
forma individualizada e registrássemos em vídeo o experimento.
Desta vez cruzamos as imagens em camadas, sobrepondo-as umas às outras e o
resultado gerou encontros dos movimentos sobrepostos, uma coreografia do cotidiano do acaso
que nos fez “encontrar”, bailarmos entre imagens, unificando territorialmente o grupo ainda
que longínquos. O grupo fabula sobre a realidade individual e constitui um universo espaço-
tempo coletivo. Deleuze (1990) aponta que a fabulação ocorre quando em determinado
momento não mais se distingue aquilo que é real e aquilo que é imaginado “A verdade não tem
de ser alcançada, encontrada nem reproduzida, ela deve ser criada” (DELEUZE, 1990, p.178).
No experimento 03, cada integrante se programou para filmar um minuto do que
estivesse fazendo “naturalmente” sem pré-produzir apenas , gravar o “real”. Desta vez as
imagens não foram sobrepostas, mas montadas em camadas uma do lado da outra, com
transições entre si, ocupando sempre na tela pelo menos três pesquisadores distintos e mais uma
vez, também neste exercício, houve encontros e desencontros entre os participantes e demais
elementos presentes no quadro da câmera. A título de exemplo: duas pesquisadoras em lugares
distintos estavam em seus cômodos de casa acompanhadas por seus pets e na edição, no mesmo
instante quando um deles se senta no sofá o outro sai para brincar. O encontro permitiu na
imagem documentada, ainda que editada, uma outra realidade de convívio e interação. Ao ver
a representação do acaso, e na sobreposição de imagens pelo audiovisual temos encontros e
realidades espaciais e nos deleitamos sobre o conceito de fabulação de Deleuze como aposta
metodológica.
Conclusões:
O processo criativo advindo dos encontros virtuais do grupo de pesquisa são “meio”,
é o entre o que já fomos e o que seremos, mas caminhamos juntos no que entendemos ser apenas
o início do encontro entre nossas pesquisas. Mediante o que caminhamos podemos inferir que
seguimos fabulando numa experiência de cinema documentário, e se documentários não são
uma reprodução da realidade e sim uma “representação do mundo em que vivemos” (BILL
NICHOLS, 2016 p.36) nossos corpos e nossas casas representam de forma performativa,
fabulosa. Identificamos que o material já produzido pelo grupo se configura como um videoarte
com teor de cinema documentário e que as pesquisas e questões de cada integrante do grupo
influenciam diretamente no processo criativo. Se na construção de uma obra audiovisual há
duas operações básicas: a filmagem “que envolve a opção de como os vários registros serão
feitos” (XAVIER,2012, P.19) e a montagem, “que envolve a escolha do modo como as imagens
obtidas serão combinadas e ritmadas.” (XAVIER,2012, P.19), filmamos o nosso “real”, sendo
este cabível de “fabulação”. Editado e montado nossos corpos e territórios se unem, e
descobrimos novas formas de estar e criar juntos em relação com o ambiente constituído pela
liberdade de fabular geografias intensivas.
Referências:
XAVIER, I. O discurso cinematográfico: opacidade e transparência. 2ª edição. São Paulo: Paz e Terra,
2008. 2ª impressão, 2012.
ZEPPINI, Paola Sanfelice; ZACHARIAS, Pamela. Sobre aprender a fabular em educação. In.: Linha
Mestra, N.35, P.278-285, MAIO.AGO.2018
IRWIN, R. (Org.) Pesquisa Educacional Baseada em Arte: a/r/tografia. Santa Maria: Edufsm,
2013. p. 6-12.
SILVA, Renata F. Os dramas da pesquisa ou sobre escrita acadêmica e vida. ALEGRAR nº 25
- jan/jul, 2020, p. 238-249. Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/1C6I5Hs6crWe4rUzgcPZTBHEQCC9XfiOs/view
Acessado em 01 de junho de 2021.