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Performance e corpo como escala e linguagem geográfica

Me apresento: iure, estudante de doutorado, ufes, rasuras, orientado pelo carlos queiroz

A pesquisa: iniciando o segundo ano da pesquisa

Leitura do texto

Primeiro uma observação

Quando digo corpo nesta pesquisa estou me referindo ao ser humano, apesar do foco na
materialidade não se exclui a imaterialidade presente, compreendendo assim o ser humano
para além de binarismos, como corpo mente ou consciente inconsciente e ainda mais, para
além do olhar distanciado do espaço pois nessa perspectiva o corpo e o espaço influenciam-se
mutuamente.

Implicações de tratar o corpo como escala geográfica

1. Assume-se a influência do pesquisador onde a pesquisa passa necessariamente, pelo


pesquisador
2. A multiplicidade do espaço se torna mais nítida já que cada corpo traz uma perspectiva
diferente e são muitos os corpos
3. Valoriza o humano, a vida, o corpo
4. A compreensão do espaço é praticada para além da visão utilizando-se outros sentidos

O que é e Por que a performance? Desdobramentos geográficos

A arte da performance foi um movimento artístico com manifestações em


diversas áreas como pintura, escultura, teatro, dança, poesia... constituindo um
movimento de diversidade anamórfica e de natureza contestadora, de modo que precisar
seus elementos e manifestações é um risco de cair em contradições. Uma vez que essa
arte parece ter uma natureza imprecisa.

Contudo sua imprecisão natural é concebida não como uma fragilidade mas
como uma força com o poder de variar as concepções artísticas, as compreensões acerca
da arte, da sociedade, do espaço, de nossas imaginações e de nós mesmos. E ademais da
aparente confusão entre opiniões, pode ser encarada como uma pluralidade de
concepções que desobscurece uma multiplicidade coetânea ao invés do monopólio
semântico de um discurso dominante que se pretenda “verdadeiro”.
E foi buscando a transgressão do discurso único, dentre outras transgressões, que a arte
da performance surge como um movimento de inquietação dos artistas para com as
limitações das formas de arte, buscando romper os limites discursivos e solapar a
acomodação dos artistas da época.
origens da performance a autora coloca a performance como um movimento de
vanguarda do século XX nascido do futurismo, do Dadaísmo, Surrealismo e
happenings. Embora o conceito de performance e a arte da performance tenha surgido
em meados do século XX ele pode ser aplicado a inúmeras manifestações artísticas,
sociais e linguinsticas ocorridas desde o princípio da humanidade
(SCHECHNER, 2003, p. 34).
Qualquer evento, ação ou comportamento pode ser examinado ‘como
se fosse’ performance. Tratar o objeto, obra ou produto como performance
significa investigar o que esta coisa faz, como interage com outros objetos e
seres e como se relaciona com outros objetos e seres. (...) Ser ou não ser
performance independe do evento em si mesmo, mas do modo como este é
recebido e localizado num determinado universo

Dentre as muitas concepções vou me valer aqui da de Cezar Huapaya: “o ato


performativo é a ocupação do performer com seu corpo no espaço e a durabilidade de
tempo para realização deste ato”.

Por que a performance?

A representação seja no teatro ou na cartografia é um problema quando se pretende como


verdade. Um mapa que se mostra como verdade está mentindo por que o espaço ou território
não cabem no mapa, o mapa é marcado mais pela quantidade de elementos que são excluídos
do que pelos poucos que aparecem. E todos que aparecem não são por acaso, são escolhas
conscientes de quem produziu buscando suas intencionalidades.

No teatro a representação foi acusada por alguns de impedir a racionalização do que era visto
devido a uma identificação exagerada entre espectador e personagem impedindo que o
conteúdo seja racional e criticamente interpretado de maneira eficaz.

Além da representação tem a apresentação onde Bertold Brecht propunha mecanismos para
distanciar espectador do personagem e as vezes o ator saía do personagem apresentava e na
performance ocorre o que se chama de presentação onde o ator performer não veste nenhum
personagem mas fala por si mesmo.

Outra característica da performance é que geralmente não utiliza a fala. O foco da ação é o
corpo do performer e sua energia.
Por ultimo um elemento marcante que acaba sendo consequencia do conjunto dos outros
elementos é que o público é colocado como um co-performer. A interpretação da
performance passa necessariamente pelo corpo de cada um da plateia, suas vivencias,
concepções de mundo, suas geografias que são evocadas no contato com a performance. Logo
a performance é extremamente aberta a significações, ela é polifônica, um conjunto de muitas
vozes diferentes ressoando em cada corpo e todas essas vozes compõem o espaço ao mesmo
tempo.

Logo a arte da performance está Diretamente associada com a concepção de espaço utilizada
nesta pesquisa onde a multiplicidade coetânea, isto é ao mesmo tempo, está presente nesse
espaço.

Para nos fundamentar na perspectiva em que pensamos o espaço encontramos no


artigo de Doreen Massey (1999) três proposições esclarecedoras a respeito desse
conceito
1. O espaço é um produto de inter-relações. Ele é constituído através de
interações, desde a imensidão do global até o intimamente pequeno (...)
2. O espaço é a esfera da possibilidade da existência da multiplicidade;
é a esfera na qual distintas trajetórias coexistem;
3. o espaço é o produto de relações-entre, relações que são práticas
materiais necessariamente embutidas que precisam ser efetivadas, ele
está sempre num processo de devir (1999, p.8).

Nunes (2014), afirma que as paisagens internas produzem metáforas


visuais, de maneira que o estudo corpográfico pode expor diversas
corporalidades resultantes da experiência espacial. Quanto à corpografia,
estamos utilizando esse termo compreendendo-o como cartografia corporal.
Dessa forma, adotamos a hipótese de que a experiência espacial, sobretudo
urbana, dados os espaços majoritariamente vividos pela população em geral,
fica marcada em seus corpos, como afirma Ana Francisca Azevedo (2009) e,
também, Carlos Queiroz (2018).

Por isso, utilizamos a performance para potencializar o pensamento a


respeito do espaço\corpo, para que o espaço se expresse, se evidencie por
meio desse corpo, que é parte indissociável do espaço. E se é no corpo que
ficam registradas essas marcas, o próprio corpo pode expressar as paisagens
internas através de movimentos e sons que compõem, em conjunto com outros
elementos a performance que estamos criando.

Por isso pretendemos


Utilizar a performance teatral como elemento potencializador para provocar
imaginações espaciais sem impor visões de mundo, mas buscando construir outras no
contato com a visão de mundo dos co-performers e utilizar a performance construída,
como um dispositivo para fomentar a escrita e a pluralidade de compreensões.

Além disso
Estimular imaginações espaciais abertas e consequentemente posicionamentos políticos
a partir da performance.
Além de Criar uma performance na cidade de vitória estimulada pelas experiências do
corpo.
Pensar o saber do corpo buscando superar o que estou chamando de anestesiamentos
corporais

Na aula passada o professor queiroz disse uma frase que achei muito bonita e anotei.
não se incomodar com as injustiças sociais é uma prova da eficiência da naturalização
de certas imagens de mundo, certos estereótipos clichês. E é esse anestesiamento que
busco transgredir.

E é a partir da experiência do corpo no espaço, sobretudo na cidade, que


pensamos nossa performance. Analogamente a Pina Bausch (apud FERNANDES,
2007) que buscava em seus bailarinos o que os movia, para criar suas performances,
buscamos pensar num contexto de que esse corpo vive. Ana Godoy (2007) e Berenstein
Jacques (2008) que concordam que a cidade impõe automatismos, impõe
silenciamentos, ou como eu chamo, anestesiamentos, onde os movimentos repetitivos
da cidade, a migração pendular quotidiana... Acaba por absorver essas repetições em
nível físico e mental ao mesmo tempo.
E as repetições marcadas no corpo podem muitas vezes tirar a potencia do corpo
de afetar e de ser afetado de sentir de perceber o nossa influência no espaço, apenas se
percebermos isso perceberemos também que o futuro é aberto e depende de como
atuamos no espaço.
Se não podemos influenciar o mundo como uma grande empresa ou uma grande
emissora de tv não tem problema nenhum, fazemos nossa influencia na escala do corpo.
se a influencia que podemos fazer não é abrangente como de grandes emissoras, pode
ser intensa tanto quanto a vida pode ser. É preciso compreender o espaço enquanto
construção conjunta que passa por cada um de nós, assim compreenderemos também
que o futuro é aberto e o estamos construindo nesse momento. Portanto nossa aposta é
na criação, na produção, na vida, na felicidade... enquanto muitos utilizam, ordens,
armas, decretos, discursos de ódio e fake News, não é com eles que dialogamos aqui
utilizamos a poesia, os afetos e nosso corpo, nosso último refúgio que é também nossa
primeira geografia.
Obrigado.

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