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Música Pedro Pedreiro de Chico Buarque de Holanda
Mediante as desterritorializações, os sufocamentos corporais, muitas
vezes nos agarramos aos nossos antigos territórios corporais, anestesiando as
forças do desejo e transformando forças ativas em reativas.
A produção do desejo e produção de realidade é ao mesmo tempo e
indissociavelmente material, semiótica e social. São construções que
acontecem ao mesmo tempo, onde toda produção de realidade é produção
social como afirmam Deleuze e Guattari (1996) e Suely Rolnik (2018). Logo, só
há real social. Embora separemos essas forças para explicitar suas ações, elas
ocorrem de maneira imiscuída entre os corpos humanos em seus encontros e
também entre os corpos não humanos, como os corpos da cidade que é o
contexto de nossa pesquisa.
Embora o inconsciente muitas vezes esteja anestesiado, seu pleno
funcionamento é uma máquina de criação de mundos, e é nesse
funcionamento que é preciso investir para resistir ou tencionar o regime
hegemônico, indo muito além da questão da extração de mais-valia destacada
por Karl Marx (1996).
Além da extração de mais-valia o regime econômico hegemônico possui
uma face intrínseca e inseparável que é ao mesmo tempo cultural e subjetiva,
aumentando o nível de dominação. De modo que é necessário resistir ao
regime dominante em sua própria subjetivação, sobretudo ao regime
dominante em nós mesmos.
Rolnik (2018) denomina a política de inconsciente desse tipo de regime
como "inconsciente colonial-capitalístico". mas como driblar esse regime de
inconsciente em nós mesmos e nos outros?
A autora propõe que o trabalho de investigação deve ocorrer dentro do
próprio processo de subjetivação experimentado, buscando-se em nós
mesmos maneiras de tencioná-lo, demandando uma atenção constante para o
próprio corpo e o que a autora chama de saber do corpo. Onde se pode
fugazmente fugir dos movimentos de subjetivação pré-direcionados e buscar
singularidades. De acordo com a autora esses processos ocorrem por meio da
micropolítica.
A micropolítica foi um termo criado por Deleuze nos anos 60 para
designar uma produção de subjetividade que escapava ao pensamento e
reflexão hegemônicos em relação a família, ao corpo, à sexualidade... Suely
Rolnik (2018) afirma que não é possível alterar os rumos do governo e suas
estruturas sem se modificar igualmente a produção micropolítica.
Logo, implica num tipo de militância que tem por objetivo a reapropriação
da força vital mediante sua expropriação pelo regime econômico dominante ao
qual jocosamente, Rolnik qualifica como colonial-capitalístico-cafetinístico,
devido a sua ação. Tal regime se expressa de maneira totalitária ao mesmo
tempo em que utiliza de mecanismos que estimulam uma entrega do indivíduo
às forças reativas que o enveredam por afetos numa determinada direção
indiferente as suas reais necessidades.
Nessa perspectiva pensar e agir são inseparáveis, uma vez que o
próprio câmbio de pensamento altera também as relações com o mundo, com
a cidade. Contudo tais processos ainda que ocorram a partir de indivíduos não
são isolados, se reverberam nos corpos a partir de diferentes campos do saber
como os estudos pós-colonias, queer, os saberes dos diversos povos
chamados indígenas, expressões artísticas diversas, modos alternativos de
agricultura...
E é nessas direções que os autores propõem que sejam criadas as
ações revolucionárias, a partir de uma micropolítica ativa em nossos corpos,
valorizando as diferenças e singularidades de cada indivíduo. Embora de
maneira fugaz, nesses breves momentos o regime dominante sofre variações e
nessas variações ativas aumentamos nossa potência frente ao mundo.