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Performance – palavra inglesa com sentido geral de ação (ou processo de agir)
executada com determinado fim. Verbo to perform significa “realizar, empreender,
agir de modo a levar uma conclusão”.
NOS EUA, a palavra performance passou a circular na área artística para indicar um
ato mais ou menos teatral, com um certo grau de improvisação e de uso do acaso. Nos
EUA tornou-se área de estudos acadêmicos. Nesta perspectiva, a performance realiza-se
diante de uma audiência e identifica-se com uma relação presente.
Na língua inglesa passou a ter significados mais específicos nas ciências humanas e nas
artes a partir dos anos 50. Era uma idéia-força capaz de saltar o fosso entre arte-vida 1.
Movendo-se nos interstícios de diversas áreas, o termo foi se definindo mediante certas
práticas. Dos experimentos artísticos da vanguarda, destaque-se alguns princípios:
Tendo buscado inspiração com outras áreas, houve um movimento de aproximação das
artes com as áreas de conhecimento que tratam dos ritos, das atividades esportivas, das
práticas cotidianas.
Ex: Antropologia (estudos dramas rituais)
Linguística (poder performático da palavra)
Estudos Culturais (significados culturais das performances)
A vida é como um drama. Os atores tentam demonstrar o que têm feito, o que estão
fazendo e impor suas soluções ou idéias aos outros. Assim, a interação social é uma
contínua negociação entre atores (isto está de acordo com o modelo dramatúrgico de
Erwing Goffman/1983).
IV - NA HISTÓRIA
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LANGDON, E. Jean. Performance e Preocupações Pós-Modernas na Antropologia. In. TEIXEIRA. Op.
Cit. P.23-28.
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V - O JOGO NA PERFORMANCE
O jogo é sempre mais extensivo do que a ação dos jogadores, daí os limites da
subjetividade (existe uma cultura que joga com os jogadores, uma cultura escolar, no
caso). O jogo é jogado por sua dinâmica cultural.
Outro aspecto que toca ao jogo e está presente nas performances artísticas: o jogar
junto, o colocar-se em play, espaço simulativo e pactual entre as partes.
Portanto, os artistas, estão entre aqueles que criam seus próprios problemas, não para
resolvê-los, mas para produzir instantes de uma mobilização coletiva altamente
carregada, intensa (Ricardo Bausbaum – Performance – A questão da Autoria).
O significado do trabalho de arte nunca é final, assim como o jogo nunca atinge sua verdadeira
finalidade; o jogo pode sempre ser jogado novamente e os jogadores sempre serão atraídos pelos seus
horizontes.
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A performance tem co-autoria com o público que a recepciona.
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A voz é o lugar simbólico que não pode ser definido de outra forma que por uma
relação, uma distância, uma articulação entre o sujeito e o objeto, entre o objeto e o outro. A voz
é, pois, inobjetivável. A voz estabelece ou restabelece uma relação de alteridade, a que funda a
palavra do sujeito” (2000, p. 83);
A opção pela definição de espaço justifica-se, no nosso caso, pela materialidade que
evoca. A aula não é um artifício subjetivo da aprendizagem, mas está subordinada a um
roteiro prévio em que estão definidas, por diversas questões, um arcabouço de
indicações objetivas de sequências, convenções, conteúdos e atos. Materialidades
expressas em um repertório gestual, corporal e vocal que nos levam a à noção de
performance, ou melhor de espaço performático. Mas, o que definiria a performance
em sua relação com o espaço cênico em sala de aula? A performance implica em um
jogo em ato, um jogo cênico.
que precisa ser lido de maneira interdisciplinar, para além de suas exterioridades 8. Por
relacionar-se com uma experiência em ato, uma performance também não escapa da
definição de acordo, de jogo entre aquele que cria de um lado e, por outro, aquele que
assiste, consome e interage com a criação. Materialidades no corpo e na voz e o jogo
cênico: estes seriam os ingredientes da performance de uma aula.
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A este respeito, ver TEIXEIRA, João Gabriel L.C. História, Teatro e Performance. Encontro Anual da
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em História na Universidade do Rio dos Sinos, São
Leopoldo, RS, 2007.
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nos servir para pensar o campo do ensino. De saída, reitera que entra nessa matéria pela
evocação de lembranças, portanto, pelo trato com a memória. Explica, ainda, que essa
lembrança se conforma em algo material que em conjunto, seria da natureza do
espetáculo, do jogo e da experiência. Esse algo material, Zumthor chama de forma-
força, uma forma que só existiria em performance. Decompor, analisar a melodia ou a
mímica do intérprete para buscar a sensação da experiência vivida em sua experiência
de infância seria um trabalho pedagógico que o autor considerava útil, mas que só
poderia ser vivido na performance e em sua forma, uma materialidade em ato. A forma
está associada ao tempo, ao lugar, à ação do locutor e à resposta do público, ou seja à
materialidade global da obra performatizada (Zumthor, 2007, p.29).
Avalia, então, que a performance implica uma presença e uma conduta, uma
conjunção comportando coordenadas espaço-temporais e fisiopsíquicas concretas, uma
ordem de valores encarnada em um corpo vivo (Idem, p.31). E o autor convoca esta
explicação para defender o ato performático no jogo da aprendizagem. Jogos que
possuem materialidades, formas–força mediadas pela experiência de aprendizagem.
Esta forma-força é de uma reiterabilidade dinâmica, uma repetição que envolve
repertórios não redundantes. A forma-força é da natureza do instante em ato de
percepção e é reiterável sem ser repetitiva. O performático, para o autor, é um sentir que
pode ser originário, subjacente ao cognitivo.
Examinemos, ainda, os traços que caracterizam essa forma-força: a presença de
um corpo que se movimenta em um espaço, laço que os une em teatralidade, traços de
uma intencionalidade em lugares cênicos em que interagem atores e espectadores, a sala
de aula.
A definição de espaço justifica-se pela materialidade que evoca. A aula não é um
artifício subjetivo da aprendizagem, mas está subordinada a um roteiro prévio em que
estão definidas, por diversas questões, um arcabouço de indicações objetivas de
sequências, convenções, conteúdos e atos. Elementos de reiterabilidade que se
(re)atualizam. Materialidades expressas em um repertório gestual, corporal e vocal que
nos levam a à noção de espaço performático. Para além do jogo historiográfico que
interpela a tradição, o ambiente da sala de aula de história reúne ingredientes
performáticos: corpo, voz e jogo cênico. Sabe-se que o corpo e a voz são mais do que
recursos técnicos da teatralidade. Carregam em si, significados que os vinculam a
determinadas tradições, visões de mundo e de representação. O corpo, segundo Alain
Corbain, é uma ficção, um jogo de representações mentais, uma imagem inconsciente
que se elabora, se dissolve, se reconstrói através da história do sujeito, com a mediação
dos discursos sociais e dos sistemas simbólicos (Corbain, 2008, p.8-9).
Assim, para as aulas-conferência , as conhecidas aulas expositivas em que se
pressupõe que o aluno é um mero receptáculo do conhecimento, é comum encontrar,
por exemplo, um corpo alerta, rígido, um corpo autoritário e peripatético. As aulas-
conferência se opõem às aulas-colóquio e às aulas-oficina, experiências de
conhecimento partilhado mais dinâmico entre professor e aluno. São bastante
conhecidas as recomendações para o professor de manter-se sempre ereto e em pé, de
movimentar-se equilibradamente entre um lado e outro da lousa para não cansar o
espectador e de manter comunicação visual com o aluno para não distrair sua atenção. O
corpo autoritário é um corpo tenso, em que não se reconhece a interação do público sob
qualquer reação ao repertório e sequência de conteúdos previamente preparados. O
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