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UM PONTO DOIS, UM OLHAR SOBRE O GRUPO DE TEATRO NO CONTEXTO

COMUNITÁRIO EM PALMAS-TO

UM PONTO DOIS, UNA MIRADA AL GRUPO DE TEATRO EN EL CONTEXTO DE


LA COMUNIDAD EN PALMAS-TO

UM PONTO DOIS, A LOOK AT THE THEATER GROUP IN THE COMMUNITY


CONTEXT AT PALMAS-TO

Lucas Alcides Justino1


Um Ponto Dois - Grupo de Teatro e Ponto de Cultura Itinerante
E-mail: lucasjustinogratidao@gmail.com

Renata Patrícia da Silva2


Universidade Federal do Tocantins
E-mail: renatapatricia@uft.edu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3133-7450

Resumo
Este artigo tem como propó sito apresentar parte da trajetó ria do Grupo de Teatro Um
Ponto Dois, da cidade de Palmas - Tocantins, com o intuito de explorar a aproximaçã o de
sua produçã o artística com as propostas do teatro comunitá rio. Para tanto, faz-se um
breve histó rico das fases vivenciadas pela companhia, tomando como foco a dramaturgia
de alguns espetá culos realizados, a fim de evidenciar os percursos traçados pelos artistas
junto ao contexto sociocultural em que atuam e sã o convidados a criar suas obras. Nesse
sentido, entrelaçando experiências vivenciadas pelos artistas e aportes teó ricos que
embasaram a nossa discussã o construiu-se uma escrita referenciada nos estudos de
autores como: Nogueira (2008), Augusto Boal (1983), Dario Fo (1998), Dan Baron (2004),
entre outros. A partir da pesquisa realizada é possível considerar que o teatro
desenvolvido pelo grupo vem construindo um percurso cada vez mais aprofundado nas
questõ es do teatro comunitá rio e isso é resultado do estreitamento das relaçõ es entre os
artistas, seu processo criativo e a comunidade.
Palavras-Chave: Teatro Comunitá rio; Teatro de Grupo; Pedagogia do Teatro; Um Ponto
Dois

Resumen
Este artículo pretende presentar parte de la trayectoria del Grupo de Teatro Um Ponto
Dois, de la ciudad de Palmas - Tocantins, con el propó sito de explorar la aproximació n de
su producció n artística con las propuestas del teatro comunitario. Para ello se hace una
1
Licenciado em Teatro pela Universidade Federal do Tocantins, ator e diretor teatral, fundador do Grupo de
Teatro Um Ponto Dois e coordenador geral do Ponto de Cultura Itinerante do referido grupo. Atualmente
coordena o projeto Fesp Multimídias na Divisã o de Educaçã o Permanente da Fundaçã o Escola de Saú de
Pú blica de Palmas-TO.
2
Professora do Curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Tocantins. Doutora e Mestre em
Artes. Pesquisadora do campo da Pedagogia do Teatro, com ênfase na formaçã o de professores, teatro da
educaçã o bá sica, teatro em comunidades e está gio supervisionado.
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JUSTINO, Lucas Alcides. SILVA, Renata Patrícia da. Um Ponto Dois, um olhar sobre o grupo de teatro no contexto comunitá rio
em Palmas-TO. Teatro: criaçã o e construçã o de conhecimento, V. N. Ano, p.
Organizaçã o de Dossiê :
Editor-Chefe: Prof. Dr. Juliano Casimiro de Camargo Sampaio
ISSN: 2357-710X
Laborató rio de Pesquisa e Extensã o em Composiçã o Poé tica Cê nica, Narratividade e Construçã o de Conhecimento (CONAC)
Universidade Federal do Tocantins (UFT)
breve historia de las fases vividas por la compañ ía, tomando como eje la dramaturgia de
algunos de los espectá culos representados, con el fin de poner de relieve los recorridos
trazados por los artistas a lo largo del contexto sociocultural en el que actú an y son
invitados a crear sus obras. En este sentido, entrelazando las experiencias de los artistas y
los aportes teó ricos que sustentaron nuestra discusió n, hemos construido un escrito
referenciado en los estudios de autores como: Nogueira (2008), Augusto Boal (1983),
Dario Fo (1998), Dan Baron (2004), entre otros. A partir de la investigació n realizada se
puede considerar que el teatro desarrollado por el grupo ha ido construyendo un camino
cada vez má s profundo en las cuestiones del teatro comunitario y esto es el resultado de
las relaciones má s estrechas entre los artistas, su proceso creativo y la comunidad.
Palabras clave: Teatro comunitario; Teatro de grupo; Pedagogía del teatro; Um Ponto Dois.

Abstract
This article aims to present part of the trajectory of the Grupo de Teatro Um Ponto Dois,
from the city of Palmas - Tocantins, with the purpose of exploring the approximation of its
artistic production with the proposals of community theater. For this, a brief history of the
phases experienced by the company is made, taking as a focus the dramaturgy of some of
the shows performed, in order to highlight the paths traced by the artists along the socio-
cultural context in which they act and are invited to create their works. In this sense,
intertwining the experiences of the artists and the theoretical contributions that
underpinned our discussion, we built a writing referenced in the studies of authors such
as: Nogueira (2008), Augusto Boal (1983), Dario Fo (1998), Dan Baron (2004), among
others. Based on the research carried out, it is possible to consider that the theater
developed by the group has been building a deeper and deeper path in community theater
issues and this is the result of the closer relations between the artists, their creative
process and the community.
Keywords: Community Theater; Group Theater; Pedagogy of Theater; Um Ponto Dois.

APRESENTAÇÃO primó rdios da humanidade e com o passar do


tempo foi apenas se reformulando. Ocorre
O presente artigo tem como propó sito que entre a origem da civilizaçã o e os tempos
apresentar o trabalho que vem sendo atuais a interpretaçã o virou arte e tem sido
desenvolvido pelo Grupo de Teatro Um Ponto cada vez mais aperfeiçoada por seus
Dois da cidade de Palmas – Tocantins e praticantes e muitos destes optam por tê-la
discorrer como esse trabalho vem se como ofício. Um exemplo do desdobramento
pautando nas prá ticas do teatro comunitá rio. da mimese, sã o as diferentes vertentes da
Nesse sentido, procura-se fazer um breve encenaçã o, a configuraçã o como conhecemos
histó rico da trajetó ria do grupo, a fim de hoje do teatro ocidental surge na Grécia
compartilhar os caminhos percorridos por Antiga e na sua essência em contexto
seus artistas em busca de uma criaçã o mais comunitá rio, ou seja, parte da populaçã o
aproximada do contexto sociocultural da grega encenava durante sua participaçã o nos
regiã o em que estã o localizados, bem como ditirambos, rituais ao deus Dionísio. Contudo,
um diá logo mais pró ximo com o pú blico em até mesmo naquele período fazer teatro nã o
suas criaçõ es artísticas. era tã o acessível, afinal atuava quem
Ainda que de distintas formas e em dispusesse de tempo, o que a maior parte da
diferentes situaçõ es é fato que todo ser populaçã o trabalhadora nã o possuía, da
humano interpreta. A mimese ou se mesma maneira assistia quem os patrõ es
preferirem a imitaçã o, existe desde os liberassem. E assim o teatro foi se
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JUSTINO, Lucas Alcides. SILVA, Renata Patrícia da. Um Ponto Dois, um olhar sobre o grupo de teatro no contexto comunitá rio
em Palmas-TO. Teatro: criaçã o e construçã o de conhecimento, V. N. Ano, p.
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remodelando e em todos os períodos da sobrevivência financeira do grupo e dos seus
histó ria da humanidade vemos a comunidade membros e/ou estar ligada aos objetivos
hora o fazendo, hora o assistindo. Para intrínsecos do grupo (Nogueira, 2010, p. 02)
Cohen: O Grupo de Teatro Um Ponto Dois surge
Comunidade nã o se define apenas em termos no ano de 2012 em uma instituiçã o de ensino
de localidade. (…) É a entidade à qual as da rede pú blica municipal de Palmas, a Escola
pessoas pertencem, maior que as relaçõ es de de Tempo Integral Padre Josimo Tavares,
parentesco, mas mais imediata do que a onde alunos do sétimo ano orientados pelo
abstraçã o a que chamamos de "sociedade". É professor e ator Lucas Justino decidem
a arena onde as pessoas adquirem suas montar um grupo de teatro. A companhia
experiências mais fundamentais e
ultrapassou os muros da escola, se
substanciais da vida social, fora dos limites
do lar (Cohen: 1985, p. 15).
transformou em ponto de cultura e há sete
Existem inú meras formas do fazer teatral, anos desenvolve espetá culos e açõ es
podendo elas ocorrerem de forma culturais no estado do Tocantins.
profissional ou amadora. Já sobre quem pode Segundo dados do pró prio grupo, o
fazer teatro, a resposta pode parecer simples, mesmo já atingiu um pú blico de mais de 15
e se nã o refletirmos responderemos no mil espectadores, realizando apresentaçõ es
automá tico: todos. Sim, o teatro é universal, em teatros, escolas de educaçã o do campo,
mas o acesso a ele e suas diferentes formas, centro de detençã o feminina, feiras literá rias,
assim como na Grécia Antiga, depende do praças, praias e comunidades remanescestes
contexto. Como mencionado anteriormente o de quilombos, dentre outros espaços
teatro resiste e isso se dá por diversos pú blicos.
fatores, um deles é o teatro realizado em Palmas é a capital mais nova do Brasil. A
contextos comunitá rios. Para Nogueira: regiã o metropolitana com ar interiorano atrai
[...] ao pesquisar as prá ticas existentes, habitantes que advêm de todos os cantos do
podemos identificar um nú mero muito grande país, com motivos que vã o desde estudantes
de prá ticas teatrais que acontecem em em busca do tã o sonhado diploma, até
contextos comunitá rios, (...) espaços em que o pessoas em busca de oportunidade de
teatro é praticado fora dos holofotes do teatro trabalho ou de recomeçar a vida. Atualmente
comercial (Nogueira, 2010, p. 01) o Grupo de Teatro Um Ponto Dois é composto
Dentre estas práticas apontadas encontra- por esta diversidade dos moradores da
se o teatro de Grupo. Parafraseando Rosyane cidade, que se encontraram no Tocantins e
Trotta (1995) o teatro de grupo constitui-se que identificaram um interesse em comum: o
como um nú cleo de artistas de teatro que se de contar histó rias através do teatro. Sete
unem por um mesmo objetivo e ideal anos apó s sua fundaçã o o grupo só existe
realizando um trabalho continuo e que ao pelo seu contexto comunitá rio, seus
decorrer de sua trajetó ria acaba por integrantes sã o artistas, professores,
configurar uma linguagem (estética e/ou acadêmicos em diversas á reas da educaçã o, e
ideoló gica) que o identifique. Desde a década também é composto por mã es, esposos,
de 70 o termo grupo tem sido utilizado para amigos, crianças que sã o filhos dos amigos,
denominar a junçã o de artistas que possuem pessoas que nem sempre sã o remuneradas,
o interesse de permanecerem juntos mas se unem para ver o espetá culo acontecer.
artisticamente de forma duradoura, Ao assistir o trabalho do Grupo Um Ponto
distinguindo-os das produçõ es de teatro Dois, ou acompanha-los nas redes sociais,
empresarial, onde na maioria das vezes o vemos um trabalho realizado a nível
elenco e a equipe sã o escolhidos para profissional em contexto comunitá rio.
determinada montagem e se desfazem ao Utilizamos o termo contexto comunitá rio
final da temporada daquela produçã o. Para para nos referir a condiçã o em que a
Nogueira o teatro de Grupo: construçã o deste fazer teatral se dá. Para
[...]também está na origem de muitos trabalhos melhor compreendermos e definirmos esta
de teatro em comunidades. Essa ligaçã o pode
relaçã o do teatro em/na comunidade
ter sua origem na necessidade de
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JUSTINO, Lucas Alcides. SILVA, Renata Patrícia da. Um Ponto Dois, um olhar sobre o grupo de teatro no contexto comunitá rio
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debruçamos sobre as palavras de Nogueira tó picos: composiçã o e gestã o do grupo,
(2010) que propõ em este olhar para o escolhas dramatú rgicas e estéticas e por fim
movimento teatral comunitá rio, que costuma pú blico alvo.
provir seus materiais e formas quase sempre
diretamente da pró pria comunidade que DA COMPOSIÇÃO E GESTÃO DO GRUPO
tenta expressar seus interesses pela arte ou
através dela. Para a autora: Em 2012, apó s atuarem na livre
Existem também prá ticas teatrais adaptaçã o da obra O Gato Malhado e a
comunitá rias independentes que se vinculam a Andorinha Sinhá de Jorge Amado, na
comunidades de local, buscando montagem do espetá culo com mesmo nome,
financiamentos diversos, mas existindo
dirigido pelo professor e ator Lucas Justino
independente deles. ” (Nogueira, 2010, p. 02)
durante as aulas de teatro na Escola de
Como é o caso do nosso objeto de aná lise,
Tempo Integral Padre Josimo Tavares, os
o Grupo Um Ponto Dois. Além do teatro de
alunos e o professor decidem dar
grupo independente, Nogueira relata ainda a
continuidade ao projeto formando um grupo
existência de prá ticas do teatro comunitá rio
de teatro. O nome do grupo Um Ponto Dois
em outros espaços, como em Organizaçõ es
faz referência aos nú meros que descreviam
nã o Governamentais (ONG’s), em
as idades dos alunos que compunham o
comunidades vinculadas a movimentos
elenco, todos estudantes do sétimo ano do
políticos e sociais citando como exemplo o
ensino fundamental que no referido ano
MST e finaliza apontando as prá ticas também
estavam com doze anos de idade. No terceiro
em comunidades religiosas que encenam por
ano de sua fundaçã o os alunos concluíram o
exemplo os autos. Mesmo que muitas vezes
ensino fundamental e mudaram de escola e
os praticantes de teatro destes espaços nã o
com articulaçã o do diretor do grupo
se denominem assim, os mesmos se
firmaram dois grandes apoiadores: o ponto
enquadram no contexto do teatro em/na
de cultura Ideia Cultural e o curso de
comunidade. Estas prá ticas nã o
Licenciatura em Teatro da Universidade
necessariamente ocorrem isoladas, podendo
Federal do Tocantins – UFT, através da
estar ou nã o interligadas.
Professora do curso Daniela Rosante Gomes
Nogueira (2010) identifica três possíveis
que se somou aos trabalhos desenvolvidos
modelos de categorizaçã o entre o teatro e a
pelo grupo.
comunidade, definidos conforme o percurso
O Ponto de Cultura Ideia Cultural sediava
assumido pelos projetos teatrais em contexto
espaço para o grupo ensaiar e em
comunitá rio e que se diferenciam em funçã o
contrapartida o grupo realizava
dos objetivos e métodos a serem decididos
apresentaçõ es e ministrava oficinas no ponto
ou nã o por quem os compõ em, sendo estes:
de cultura em parceria com o projeto de
teatro para comunidades, teatro com
extensã o do curso de Teatro da UFT. Desde
comunidades e teatro por comunidades, mais
entã o o grupo passou a agregar integrantes
adiante falaremos sobre cada um.
da comunidade. Atualmente o pró prio grupo
No caso do grupo Um Ponto Dois,
é reconhecido como Ponto de Cultura pela
destacam-se diversos elementos e fatores ao
prefeitura de Palmas, e embora nã o tenha
longo de sua trajetó ria que permeiam as
sede fixa, realiza suas atividades com apoio
relaçõ es entre o teatro e a comunidade, a
do Instituto Federal do Tocantins – IFTO, no
começar por sua formaçã o, posteriormente
campus de Palmas.
por suas escolhas de gestã o e, por fim pelo
O grupo permanece sobre coordenaçã o
trabalho artístico do grupo, seja na
geral do Professor, ator e diretor Lucas
dramaturgia, ou no pú blico-alvo. A
Justino, com gestã o comunitá ria de seus
comunidade está inserida nos objetivos e
integrantes e atua de forma independente,
métodos do grupo, sendo assim, para melhor
contando as vezes com premiaçõ es em
destacar estas relaçõ es na trajetó ria do grupo
editais pú blicos de apoio a cultura, “mas
tocantinense dividiremos a aná lise em três

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existindo independente deles” (Nogueira, interaçã o exige o enfrentamento de muitas
2010, p.02). questõ es: como evitar uma relaçã o de invasã o
cultural? Como garantir um processo
democrá tico? Como pode se dar a interaçã o de
DAS ESCOLHAS DRAMATÚRGICAS E
culturas diferentes? Qual o papel do
ESTÉTICAS facilitador? Paulo Freire (1977) fornece as
bases de muitos trabalhos que enfrentam este
A produçã o de teatro em contexto tipo de desafio. Seu método fundado no
comunitá rio é fortemente influenciada pela diá logo, no respeito pelo diferente, exige
cultura da comunidade, isto ocorre no grupo períodos preparató rios de conhecimento
Um Ponto Dois que é composto por artistas mú tuo, em que comunidade e facilitadores
de diferentes regiõ es do país e que pesquisam a comunidade na busca de temas
atualmente residem em distintos setores e significativos que podem estar na base de
processos teatrais conjuntos. (Nogueira, 2010,
realidades de Palmas. Essa pluralidade
p.4)
cultural de seus componentes reflete
Em 2014, apó s defensores pú blicos do
diretamente nas composiçõ es e decisõ es da
estado assistirem a terceira montagem do
companhia, o que passa pelas escolhas
grupo, o Um Ponto Dois foi convidado para
estéticas e dramatú rgicas destas produçõ es.
uma parceria com a defensoria pú blica
Dan Baron discorre sobre a democratizaçã o
estadual e com a Associaçã o dos Defensores
do que ele nomeia de “palco de fazer
Pú blicos do Estado do Tocantins - ADPETO,
histó rias”:
para circular com o espetá culo Saltimbancos
Se a nossa capacidade de narrar e contar
histó rias surge de nossa necessidade de em comunidades remanescentes de
organizar e dar sentido de nossa experiência quilombos do estado, sendo estas: Có rrego
ao mundo, como nó s narramos e contamos Fundo, Malhadinha, Morro de Sã o Joã o e
nossa histó ria depende de quem nó s somos, do Curralinho do Pontal. Conforme dados
lugar a que pertencemos e das histó rias que coletados no site do Governo do estado do
ouvimos ou deixamos de ouvir. (BARON, Tocantins até o ano de 2019 foram
2004, p.181) reconhecidas 38 comunidades
Neste sentido, o grupo orientado por remanescentes de quilombos no estado,
Justino havia se proposto a valorizaçã o da tendo sido a ú ltima publicada no diá rio oficial
dramaturgia brasileira. Em seus primeiros em dois de fevereiro de 2015, sendo ela a
três anos de existência as montagens foram comunidade de Boa Esperança, em Mateiros,
de peças nacionais que de certa forma pró ximo ao Jalapã o.
haviam marcado a trajetó ria do diretor do A histó ria dos mú sicos de Bremen, fá bula
grupo, que até entã o nã o possuía formaçã o popular escrita e publicada em 1819 pelos
acadêmica em teatro e que utilizava de suas irmã os Grimm, serviu de inspiraçã o para o
vivências pessoais no teatro para repassar a texto da peça dos italianos Sérgio Bardotti e
seus alunos. Desta maneira as obras Luis Enríquez Bacalov na década de 70 e
propostas por Justino e acolhidas pelos ganhou traduçã o e adaptaçã o de Chico
demais foram: O Gato Malhado e a Andorinha Buarque, estreando em palcos brasileiros em
Sinhá em 2012 (Jorge Amado), Feiurinha em 1977 no Canecã o no Rio de Janeiro. A peça se
2013 (baseada no Clá ssico “O Fantá stico transformou em um clá ssico do teatro
Mistério de Feiurinha” de Pedro Bandeira) e nacional, ao narrar a trajetó ria de uma
Saltimbancos em 2014 (Sérgio Bardotti, Luis galinha, um jumento, um cã o e uma gata que
Enríquez Bacalov e Chico Buarque). Esta fase oprimidos fogem de seus respectivos donos.
da dramaturgia do grupo é definida por ele A livre adaptaçã o deste clá ssico pelo Grupo
como “nacionalista”. Mas algo mudaria os Um Ponto Dois foi encenada em terraços e
rumos da dramaturgia do grupo. barracos das comunidades remanescentes de
Os processos de criaçã o nesta á rea envolvem quilombos.
frequentemente a interaçã o de artistas classe-
Apó s as apresentaçõ es da peça, que de
média com pessoas de comunidades
periféricas. Em termos metodoló gicos, esta certa forma servia como indutora de

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problemá ticas relacionadas à s comunidades, reflexivos para casa ao fim de cada dia de
eram realizadas rodas de conversa com os visita e apresentaçã o à s comunidades. A
moradores das comunidades. Os diá logos fá bula cumprira seu papel, mas a
mediados pelos atores e pelos defensores identificaçã o dos moradores à s opressõ es,
pú blicos presentes, marcaram muito os pulsou por dias no elenco pois, embora a
componentes do grupo. Foi citado pelos peça/fábula se consolide com final feliz ainda
moradores das comunidades em diversos hoje é difícil acreditar que todas aquelas
momentos que as opressõ es vividas pelos problemá ticas foram resolvidas. Além da
animais personagens da peça eram falta dos itens bá sicos, citados anteriormente,
semelhantes a realidade por eles vivida. Em a fala do senhor José Lopes Sampaio,
algumas das comunidades nã o havia morador da comunidade quilombola Có rrego
saneamento bá sico, em outras nã o havia Fundo registra o quanto o acesso a arte
energia, e em todos os bate-papos pó s produzida fora daquele contexto é precá ria,
espetá culo foram citadas a precariedade em aquela comunidade quilombola em sua
transporte pú blico e escolar. Relatos de maioria nunca havia tido acesso a uma
crianças que perdiam aula porque os ô nibus apresentaçã o de teatro.
atolavam, ou simplesmente nã o passavam A partir destas experiências o grupo Um
nas estradas de terra para nã o atolar. Ponto Dois e seus membros foram também
Em entrevista para a assessoria de compreendendo que como artistas, ocupam
comunicaçã o da ADPETO, apó s a uma posiçã o de privilégio e com isso deviam
apresentaçã o do espetá culo, o morador da levar a determinados pú blicos espetá culos
comunidade quilombola Có rrego Fundo, o que dialogassem com a realidade do
senhor José Lopes Sampaio relatou que espectador.
nunca havia visto uma apresentaçã o como Devemos nos fazer entender sempre com
esta “só mesmo na televisã o. Mas assim, ao clareza e utilizando cada meio disponível (com
vivo, é muito mais bonito” (ADPETO, 2014). a constante preocupaçã o de exprimirmo-nos
com estilo, por favor). Ou seja, método,
Em depoimento para a jornalista
racionalidade e uma bela carga emocional...
Alessandra Bacelar do Portal da defensoria controlada..., mas principalmente sempre
do estado, um menino de 11 anos disse: atentos ao espectador [...] Essa conversa fiada
“Eu ri muito, o jumento, a galinha, a gata e o de “quem entender, entendeu; quem nã o
cachorro contaram porque fugiram dos donos, entendeu, que se dane” denota uma
e eu aprendi que juntos se tem mais forças e mentalidade de aristocratas da mendicâ ncia.
que é preciso estudar, preservar o meio (Fo, 1998, p. 223)
ambiente e nã o maltratar os animais”. (Portal Mais do que se fazer entender, é preciso
Defensoria Pú blica do Estado do Tocantins,
que o artista compreenda seu lugar de fala e
2014)
Na mesma entrevista, Dona Maria de Jesus que use desta oportunidade com astú cia:
É nosso dever, ou, se preferirem nossa missã o
Costa de Souza, de 61 anos, argumentou: profissional, como autores, diretores e pessoas
Muito importante essa visita da Defensoria de teatro, conseguir falar da realidade
Pú blica aqui na Comunidade, a gente fica
rompendo o modelo estandardizado, por meio
conhecendo mais sobre os nossos direitos, os da fantasia, do sacarmos, do uso cínico da
benefícios existentes, quem pode nos ajudar;
razã o. Assim, iremos contrariar o programa e a
saio daqui mais esperançosa de que o futuro estratégia que o poder tenta levar adiante, ou
pode ser bem melhor. Hoje tivemos a parte do
seja, doutrinar o pú blico a nunca usar o seu
teatro, onde me diverti demais; todas essas senso crítico: achatamento mental, fantasia
pessoas falando de coisas boas para nó s; gostei
zero. (Fo, 1998, p.201)
muito das horas passadas com todos aqui.
Durante os três primeiros anos de
(Portal Defensoria Pú blica do Estado do
Tocantins, 2014) existência do grupo ocorreram evoluçõ es
Embora os depoimentos à imprensa técnicas no trabalho por ele desenvolvido,
tenham sido satisfató rios e a devolutiva dos contudo, ainda que composto por artistas da
espectadores tivessem sido um afago, os comunidade, o grupo nã o refletia de maneira
componentes do grupo retornavam consciente sobre qual peça teatral realizava e
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para qual pú blico a encenaria. Foram as pertencimento sobre a histó ria e cultura da
apresentaçõ es nas cinco comunidades sua terra e da sua gente, o que de certa
remanescentes de quilombos que maneira, estava diretamente ligado à s
despertaram no grupo a consciência no que experiências compartilhadas nas
se refere ao fazer teatral para comunidade. comunidades remanescentes de quilombos.
O grupo Um Ponto Dois, naquele período, Nessa transiçã o é possível observar que o
realizava o que Nogueira classifica como contar e fazer histó rias vai modificando o
teatro para comunidade: fazer artístico do grupo e como o mesmo
Este modelo inclui o teatro feito por artistas envolve a comunidade em seus processos de
para comunidades periféricas, desconhecendo criaçã o. À vista disso, é possível considerar
de antemã o sua realidade. Caracteriza-se por que se passa de um teatro para comunidades
ser uma abordagem de cima pra baixo, um
a um teatro com comunidades:
teatro de mensagem. (Nogueira, 2019, p.3)
Aqui, o trabalho teatral parte de uma
Ainda sobre o despertar do grupo e sua investigaçã o de uma determinada comunidade
decisã o de dialogar nã o somente com o para a criaçã o de um espetá culo. Tanto a
contexto de seus componentes, mas também linguagem, o conteú do - assuntos específicos
de seus expectadores, é possível compara-lo que se quer questionar - ou a forma -
com a reflexã o de Boal apó s anos de manifestaçõ es populares típicas - sã o
experiências similares: incorporados no espetá culo. A ideia de
Usá vamos nossa arte para dizer verdades, para vinculaçã o a uma comunidade específica
ensinar soluçõ es: ensiná vamos os camponeses estaria ligada à ampliaçã o da eficácia política
a lutarem por suas terras, porém nó s éramos do trabalho. (Nogueira, 2019, p.3)
gente da cidade grande; ensiná vamos aos Dan Baron discorre sobre a arte de contar
negros a lutarem contra o preconceito racial, histó rias, e nos convida também para o lugar
mas éramos quase todos alvíssimos; de fazedores de histó rias, buscando
ensiná vamos à s mulheres a lutarem contra os democratizar o espaço da fala, da narrativa,
seus opressores. Quais? Nó s mesmos, pois permitindo novas vivências, escrevendo e
éramos feministas-homens, quase todos. Valia
dando possibilidades para novos lugares de
a intençã o (Boal: 1996, 17-18).
fala, pois é preciso saber e fazer.
O que Boal quis dizer é que por vezes Se o contar histó rias é o ato de ‘dar sentido’,
tomamos o lugar de fala dos espectadores e através do fazer de uma histó ria pela primeira
transmitimos uma mensagem (consciente ou vez ou fazendo diferente da ú ltima vez, por
nã o) escolhida previamente sem participaçã o que nã o é reconhecida como o fazer de
do pú blico e muitas vezes sem de fato histó rias? É para nos convencer de que somos
conhecer a realidade do mesmo e sem dar a apenas contadores ou ouvidores? Que
ele a oportunidade de se representar. Toda deveríamos nos submeter e investir nos
esta reflexã o leva os artistas do Um Ponto reconhecidos fazedores de histó rias? (BARON,
2004, p.182)
Dois a repensar seu fazer teatral e optar por
novas escolhas. Deste modo, se constituía E com este intuito o grupo realiza a
uma nova fase do grupo. montagem de “Joã o e Maria: uma aventura no
A segunda fase dramatú rgica do grupo cerrado” (2015), trazendo o clá ssico europeu
passa a ser classificada como “autoral para ser contado coletivamente pelos
regional” e caracteriza-se pelos textos participantes das oficinas3, regionalizando as
originais assinados por componentes do Um personagens e agregando características da
Ponto Dois e que remetem a cultura do regiã o, como a seca e a fome no sertã o, a
centro-norte do país. Tal fase marca a 3
Oficinas semanais de iniciação teatral, coordenadas
necessidade de transformaçã o tambémpela professora Mestre em Teatro Daniela Rosante
daqueles artistas, por assim dizer, Gomes e pelo ator Lucas Justino integravam o
constituindo-se enquanto coletivo, definindo
projeto de extensão “Caravelas – Ventos que Sopram
assim a sua identidade enquanto grupo
Histórias e trazem teatro” do curso de licenciatura
(Trotta, 1995). Com isso, passaram a querer
em teatro da Universidade Federal do Tocantins em
falar sobre sua existência, obter
parceria com o Ponto de Cultura Ideia Cultural, do
Instituto IDEIA.
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JUSTINO, Lucas Alcides. SILVA, Renata Patrícia da. Um Ponto Dois, um olhar sobre o grupo de teatro no contexto comunitá rio
em Palmas-TO. Teatro: criaçã o e construçã o de conhecimento, V. N. Ano, p.
Organizaçã o de Dossiê :
Editor-Chefe: Prof. Dr. Juliano Casimiro de Camargo Sampaio
ISSN: 2357-710X
Laborató rio de Pesquisa e Extensã o em Composiçã o Poé tica Cê nica, Narratividade e Construçã o de Conhecimento (CONAC)
Universidade Federal do Tocantins (UFT)
fauna e a flora do cerrado, as personagens da para colaborar ainda mais no processo de
cultura popular da regiã o amazô nica, identidade enquanto grupo.
brincando com a gastronomia local e A exitosa experiência com Joã o e Maria,
valorizando as diferentes formas do teatro na fez com que o grupo assumisse um papel
cultura popular brasileira, trazendo bonecos importante de busca pelo resgate cultural da
de mamulengos, tecido e acrobacias circenses jovem capital que apesar de ser a mais nova
e elementos indígenas. do país, já vem sofrendo drasticamente no
O lugar escolhido para apresentaçã o: um que tange a memó ria de sua histó ria cultural.
imenso quintal rodeado de á rvores Entã o no ano de 2016, juntamente com a
possibilitou que as intérpretes que dividiam a extinta Cia. 3 Marias de Teatro, cria o Espaço
personagem caipora bailassem nos galhos e Colaborativo para o Desenvolvimento
com a ajuda da iluminaçã o aparecessem e Artistico- PorTã o e na tentativa de manter
sumissem em frente aos olhos do pú blico que uma sede pró pria fixa, desenvolve diversas
assistia sentado em bancos localizados ao açõ es culturais, intercâ mbios, apoio as
centro da peça encenada de forma festivais, apresentaçõ es, oficinas e cursos
circundante em 360° ao redor do pú blico. ligados a produçã o cultural e as artes cênicas.
Nesta caminhada, tornou-se fundamental Infelizmente por falta de aporte financeiro o
para o grupo falar sobre a realidade dos espaço encerrou suas atividades com menos
espectadores, com os espectadores e para os de um ano de sua abertura, mas trouxe
espectadores, buscando identificaçã o, experiências exitosas ao grupo, entre elas o
encontrando elementos significativos e reconhecimento pela Prefeitura de Palmas
construindo um enredo capaz de atingir o como Ponto de Cultura em 2018, premiando
espectador, permitindo ao mesmo o o grupo através do projeto “Ponto de Cultura
sentimento de pertencimento à obra. Itinerante Um Ponto Dois” pelo edital de
Joã o e Maria: Uma aventura no cerrado foi chamamento pú blico da Fundaçã o Cultural
de grande relevâ ncia para a Um Ponto Dois e de Palmas: n°003/2018/FCP de 19 de
para o cená rio cultural da cidade, sendo fevereiro de 2018.
posteriormente selecionado por meio do
edital de incentivo à cultura Procine DO PÚBLICO ALVO
Palmas/FCP/FSA 2015 da Fundaçã o Cultural
de Palmas, com recursos do Fundo Setorial A partir de entã o o Grupo Um Ponto Dois
do Audiovisual (FSA), da Ancine e do Fundo também como ponto de cultura, estrutura-se
Municipal de Apoio à Cultura, através do para desenvolver açõ es socioculturais e
Programa Municipal de Incentivo à Cultura artísticas que envolvam a populaçã o local e
(Promic), gerando uma versã o do espetá culo busquem reconhecer e difundir o legado de
para o cinema, produzida pela Fá brica seus pioneiros, exaltando sua histó ria, sua
Produçõ es em coproduçã o com o Instituto cultura e suas tradiçõ es e começa a desenhar
IDEIA, se tornando a primeira produçã o naquele ano seu novo espetá culo: As
cinematográ fica para o pú blico infantil Histó rias que Vou Te Contar, explorando
produzida integralmente em Palmas/TO por lendas, mitos e fatos da regiã o amazô nica
profissionais locais. brasileira, contadas a eles por moradores de
Nesta fase também a estética das Palmas, entre as histó rias estã o: A serpente
produçõ es do grupo começa a sofrer embaixo da matriz (Porto Nacional e
alteraçõ es, acompanhando a busca pela Natividade -TO), A lenda da cachoeira da
identificaçã o com a histó ria e seu pú blico. A Velha (Regiã o do Jalapã o- TO), O nego d’agua
montagem anterior do grupo, havia partido (Antigos moradores que já foram
de um figurino simples e esteticamente rural, ribeirinhos– Palmas-TO), A vaca canela
para indumentá rias que queriam alcançar (Remanescentes do Povoado do Canela –
montagens da Broadway. Joã o e Maria Palmas-TO), A pedra que se move na lagoa
rompeu com o estilo do teatro empresarial, (Lagoa da Confusã o-TO), O desaparecimento
da santa e os batuques dos pretos(Monte do
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JUSTINO, Lucas Alcides. SILVA, Renata Patrícia da. Um Ponto Dois, um olhar sobre o grupo de teatro no contexto comunitá rio
em Palmas-TO. Teatro: criaçã o e construçã o de conhecimento, V. N. Ano, p.
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Laborató rio de Pesquisa e Extensã o em Composiçã o Poé tica Cê nica, Narratividade e Construçã o de Conhecimento (CONAC)
Universidade Federal do Tocantins (UFT)
Carmo-TO), Um gigante no rio Araguaia- independente, as vezes com parcerias e
separaçã o dos Xerentes e dos Xavantes recursos financeiros, mas acontecendo
(Indígenas Xerentes e Xavantes), A origem mesmo sem estes, por meio do desejo e da
dos Karajá s- o povo do fundo das á guas força comunitá ria. Ocorrendo de maneira
(Indígenas Karajá s), O bico do Mutum e a coletiva, através da colaboraçã o entre
mancha do Jacu (Indígenas Apinajés), A lenda artistas e comunidade específica e
do Pequi e A lenda do Pirarucu (ambas coordenadas por seu diretor e fundador
lendas contadas em diversas etnias e aldeias Lucas Justino. Os processos criativos do
indígenas). grupo atualmente difundem e culminam para
Desta maneira o grupo de teatro Um realidades vividas em comunidades de local
Ponto Dois dentro do contexto comunitá rio ou de interesse, esboçando-se em histó rias
realiza também o terceiro modelo pessoais e locais, desenvolvidas a partir de
identificado por Nogueira, o teatro por escuta e pesquisa acerca das realidades que
comunidades: cercam estas comunidades.
Teatro por Comunidades: O terceiro A relaçã o entre teatro e comunidade no
modelo tem grande influência de Augusto grupo tocantinense passa pelo cará ter
Boal. Inclui as pró prias pessoas da amador do grupo que nasceu no contexto
comunidade no processo de criação teatral.
comunitá rio escolar, ultrapassando os muros
Em vez de fazer peças dizendo o que os
outros devem fazer, passou-se a perguntar
da escola, se consolidando através de
ao povo o conteú do do teatro, ou dar ao parcerias com instituiçõ es e projetos sociais
povo os meios de produçã o teatral. comunitá rios e em constante construçã o da
(Nogueira, 2019, 3) identidade do grupo que aponta para uma
Para o diretor-pedagogo Jurij Alschitz em tendência regionalista e popular. Destaca-se
sua obra Teatro sem diretor, situar-se deve ainda que o grupo local, nã o consiste em
ser base para os artistas: apenas uma prá tica de teatro em
Estou convencido de que esta é a questã o comunidade, interligando suas açõ es e
fundamental, a mais importante para um projetos para, com e por comunidades, como
artista: compreender qual é a fonte da qual se define Nogueira (2010).
nutre, em qual atmosfera vive e sobre qual Desta forma, ao discorrer sobre o trabalho
terreno artístico floresce sua obra. (Alschitz:
do grupo, apontamos as relaçõ es entre a
2012, p.18)
criaçã o artística e a influência comunitá ria
Os componentes da companhia com o
nos processos criativos do grupo, bem como
tempo ganharam consciência disto e
o processo de amadurecimento e as
partiram em busca de manter-se em contato
transiçõ es que implicaram nessa trajetó ria
com a fonte nutricional do grupo, sendo para
rumo a um trabalho junto as comunidades.
eles a cultura popular e tradicional da regiã o.
Portanto, o que se apresenta neste trabalho é
Respirando e permeando entre o teatro e a
parte de um percurso que continua
arte-educaçã o, firmando-se no contexto
avançando em busca do desenvolvimento de
comunitá rio, extensã o de toda sua arte.
um trabalho cada vez mais aliado aos
propó sitos do teatro comunitá rio e da criaçã o
CONSIDERAÇÕES FINAIS
coletiva e colaborativa entre artistas e
comunidades.
Evidencia-se, portanto, que as prá ticas
desenvolvidas pelo Grupo de Teatro Um
Ponto Dois caracterizam-se como teatro em
contexto comunitá rio, de forma

REFERÊNCIAS

ALSCHITZ, Jurij. 2012.Teatro sem diretor. Belo Horizonte: Ediçõ es CPMT,2012.


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JUSTINO, Lucas Alcides. SILVA, Renata Patrícia da. Um Ponto Dois, um olhar sobre o grupo de teatro no contexto comunitá rio
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JUSTINO, Lucas Alcides. SILVA, Renata Patrícia da. Um Ponto Dois, um olhar sobre o grupo de teatro no contexto comunitá rio
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