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Irei lhe contar sobre quando e como foi-me concedido um corpo, como me trouxeram a carne,

quando ironicamente me deram vida.

Isto ocorreu em um corpo celeste conhecido por um nome no qual atualmente não existe uma
tradução exata para os seres do planeta em questão, nem mesmo alguma palavra que possa transcrever a fonética do
mesmo. Entretanto há palavras que conseguem transparecer o significado para o nome original concedido a este
planeta, mesmo que não em exatidão.

Estas palavras são “caos”, “destruição”, “metamorfose”, “vida”, “beleza” e “esquizofrenia”.

Foi lhe dado tal nome impronunciável por antigos seres pelo fato de desde o seu surgimento ele vive
em constantes mudanças. Sejam estas feitas pelo próprio planeta para se adaptar aos excêntricos seres que ali viviam,
viveram, vivem e viverão, ou mudanças feitas pelas próprias criaturas que ali existem, sejam estas ditas como racionais
ou não. Seus atuais habitantes dados como racionais o batizaram com um nome diferente, embora “metamorfose”,
“destruição”, “caos”, “vida”, “beleza” e até mesmo “esquizofrenia” sejam nomes mais apropriados para tal planeta em
minha mórbida opinião. Os seres que nele habitam lhe deram a alcunha de “planta azul” devido à coloração anil/indigo
do mesmo que visto de fora tem em sua maior parte a coloração em tais cores, devido à água que preenche grande
parte do planeta. A alcunha foi dada muito depois dos habitantes já terem batizado o planeta com um nome derivado
de um ser que um dia ali viveu, e pelos seus feitos foi cultuado como uma entidade divina, vista tempos depois como
um ser mitológico, ora heróico, ora vilanesco, a então conhecida como “deusa” do solo fértil. Assim usando a base de
um dos nomes de Tellus, também chamada de Telo, Gea, Gaia, Ge, Terra ou Mãe Natureza, o planeta foi nomeado
como “Terra”. Entretanto você pode se referir a ele por qualquer um dos nomes de Tellus que você estaria correto ao
dizer, mesmo que você não seja compreendido pela maioria que ali habitam.

Esta história se inicia em um tempo muito distante da atual data, muito antes de Tellus ser cultuado
como uma Deusa, antes mesmo do conhecido Homo-Sapiens-Neanderthalensis, até mesmo antes do Australopithecus,
antes da era glacial, antes da terra ser povoada por dinossauros, antes dos dragões precisarem se adaptar vários
milhões de anos na contagem de tempo do planeta para evoluírem para o que foi nomeado de dinossauro como meio
de manter a sobrevivência, antes dos antigos continentes se unirem e tornarem um único que foi conhecido como
Pangeia pelos seres de hoje, antes que as primeiras civilizações inteligentes, os primeiros bípedes racionais existentes
neste planeta fossem temporariamente aniquilados pelos dragões que lá reinaram.

Para lhe contar minha história, primeiro devo contar sobre os Nimikhins. A espécie denominada como
Nimikhin seria o equivalente ao Homo-sapiens-sapiens, ao que é chamado de Humano anatomicamente falando e da
mesma maneira existiu-se o Masculino e o Feminino. (Macho e Fêmea se assim preferir).

Existiam variações dentro da espécie, o que hoje seria denominado de raças, e cada raça tinha sua
peculiaridade. Tanto peculiaridade individual da raça ou até mesmo chegando a peculiaridades de um único ser perante
sua raça. As raças tinham padrões físicos e habilidades diferentes, devido à adaptação diferente de cada ser.

Na hera em questão, as línguas e caracteres utilizados para escrita eram diferentes de qualquer linguagem
ou caractere utilizado hoje, embora existissem caracteres que se assemelhassem visualmente a caracteres hoje
conhecidos, embora tivesse uma fonética diferente. Por estes motivos haviam palavras que se assemelham com
palavras hoje já existentes, mas com outro significado ou significado nenhum, como muitos nomes. Não era comum dar
nomes com reais significados, por tal motivo não era incomum que os progenitores dessem um sobrenome diferente
para um ou mais de sua próle. Salvo exceções, nomes eram escolhidos apenas pela fonética e por este motivo muitos
sobrenomes mesmo sendo carregado por gerações poderia ter um significado heroico, um significado tolo ou
significado nenhum, existindo a possibilidade de não dar sobrenome ao descendente.

Esta história só encontrou o fim que teve por culpa de dois nimikhins de raças extremamente distintas. Um
masculino e um feminino. Ele um miriniano, raça nimikhin originada da ilha de Mirinia e ela uma atlântina, raça
nimikhin originada da ilha de Atlântida. Ele um aventureiro e ela uma aproveitadora, ele com uma valentia
desproporcional a suas habilidades e ela com uma inteligencia tão grande quanto sua sede de poder; ele de bom
coração e ela sem parecer ter um. Dois seres que por um mero acaso se encontraram e foram responsáveis pelo fato de
eu não ter mais minha forma física, fazendo com que eu tenha que esperar o próprio tempo me dar alimento, enquanto
voltava a ser o mero expectador de tudo.

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Relato Inicial

Keizer Van-Harley

K eizer Van-Harley, quando ainda atendia pelo nome de Keizer Khainzgaskard, foi um bravo e
destemido guerreiro conhecido por todos. Deis de seus tempos de juventude, tinha um dom incomparável para criar
problemas ou se envolver em problemas que inicialmente não eram seus, mas mesmo que estes fatos pertençam ao seu
passado e no momento em que se inicia este relato ele já tenha mais maturidade e experiência, saber que seus dias de
batalhas não estão longe de finalizar fazia a realidade ser algo de dificil absorvição para ele. A idade estava o
alcançando, a falta de cabelo e a barba grisalha era prova de que o tempo não perdoa nem o melhor dos guerreiros,
mesmo que ele ainda tivesse força para mais algumas batalhas e tendo a crença de que se sentia vivo como nunca na
vida, ele tinha ciência de que o tempo o alcançaria e tais pensamentos o incomodavam.

Keizer, assim como Balthor e a maioria no local, era um neelin. Todos os seres diziam que os neelin eram
a única raça nimikhin que se originava do continente de Vanihain, ao contrário das outras raças que se originaram nas
ilhas que rodeavam o continente, tendo grandes diferenças genéticas e biológicas entre elas. Não que tal afirmativa
tivesse qualquer comprovação real.

Os neelins tinham como características típicas da raça os cabelos e olhos castanhos, podendo variar o
tom do castanho. Ao contrário de qualquer outra raça variante da espécie nimikhin, não tinha outra característica
marcante fora estas.

No dia em questão, Keizer já havia se esquecido de qualquer preocupação, encontrava-se feliz na


taverna negra, que se localizava na destruída, mas ainda ativa marina de Aialahay. Era uma taverna de tamanho
considerável, pela janela aberta era possível enxergar os píeres ao fundo onde um grande navio veleiro chamado
Demeter estava prestes a ancorar. No salão de entrada da taverna havia seis mesas redondas de tamanho padrão tendo
espaço para quatro seres sentarem a sua volta confortavelmente, mais duas mesas redondas um pouco maiores tendo
espaço para sete pessoas sentarem a sua volta, mais e mais três mesas retangulares na qual havia espaço para seis
pessoas sentarem ao seu redor, além das cinco cadeiras que ficavam fixadas ao chão que ficavam de frente com o
balcão de atendimento, que se localizava ao lado da escada que dava acesso ao segundo andar.

Nesta taverna, até alguém como Keizer seria considerado invisível, ou mais um bêbado qualquer, que
estava ali para ouvir musica, beber, comer e conversar, mesmo que neste fatídico dia não houvesse mais nenhum
musico ali. Até mesmo Balthor Wolf, seu melhor amigo e fiel companheiro em batalhas que era sempre muito cauteloso
estava despreocupado naquele momento. Balthor desaprovava o este tipo de exposição vinda de Keizer, embora nunca
o advertisse sobre isto, mesmo que geralmente era o primeiro a influenciar, até mesmo incentivar Keizer a cometer tais
atos.

Keizer ria enquanto era descoberto trapaceando em um jogo de cartas qualquer, até visualizar um ser
se dirigindo a sua direção, com suas vestes soturnas e escondendo-se dentro de sua capa com capuz, quase ocultando a
existência um ser por baixo da vestimenta. Mesmo sem usar seu típico chapéu, utilizando uma vestimenta suspeita
semelhante à de muitos ali que ocultavam suas identidades, teve a presença notada por Keizer que perdeu todo o
ânimo contido em si ao notar tal presença.

Balthor que estava sentado em um dos bancos colados ao chão próximo ao balcão, ao olhar para traz
para visualizar seu amigo jogando, visualizou a feição no rosto de Keizer se alterando e reconhecendo tal expressão de
desanimo e frustração no rosto do amigo, soube de imediato quem ali havia chegado sem mesmo vê-lo. Abaixou a
cabeça por rápidos segundos, sorriu de canto de boca com certo desanimo. Levantou-se e subiu a escadaria que havia
próximo ao balcão de o direcionava para o segundo andar da taverna, onde havia quartos da pousada que um dia
aquele lugar foi, onde às vezes ficavam alguns amigos dos donos da taverna, e foi logo pegar seus pertences e os de
Keizer que ali estava por saber que era o momento de darem continuidade a peregrinação de ambos.

Os olhos negros de Keizer fitavam a figura sombria que vinha em sua direção. Entornou o resto do
néctar negro de brill, bebida altamente alcoólica, olhou para cima e resmungou com vós embriagada.

—Você não! Qual seria a notícia ruim que me traz desta vez? E como eu demorei tanto para perceber tua presença?
—Minha presença se encontrava neste estabelecimento antes mesmo de tua chegada, tenho que estar
aqui enquanto ela estiver por aqui, acredito que está próximo o dia que terei melhor de aborda-la para dar continuidade
a minha tarefa. —Respondia a voz calma e sombria que saia de dentro das vestes que escondia um ser chamado Bode,
que em troca de suas palavras recebeu a resposta de Keizer em tom de deboche e com sorriso maldoso no rosto:
—Ainda tem de bancar o vigia protetor de longe até o momento de abordar ela não é verdade amigo? Eu havia te
visto anteriormente, mas você estava casual, sem seu disf- —Bode da cicatriz levanta uma de suas mãos até a altura do
peito fazendo algum tipo de aceno, e neste momento Keizer se engasga com a própria saliva ficando afônico por alguns
segundos, dá dois socos no próprio peito e ao desengasgar, olha um pouco confuso para o mago.

—Cuidado com que diz Keizer Khainzgaskard, há informações que não devem ser reveladas no meio de
desconhecidos, nem mesmo nesta taverna.

Alguns olhares se voltavam para a mesa onde se encontrava Keizer, prestando atenção em tal conversa, embora
Keizer já estivesse bêbado a ponto de mesmo percebendo, não se importar.

Neste momento o olhar confuso e levemente embriagado de Keizer que tentava focar a visão em Bode se
transformou em um olhar de raiva, ele se levantou da cadeira que se encontrava em volta de uma mesa redonda onde
ele e outros jogavam cartas e bebiam, estufou seu peito e disse em alto tom de voz, quase rosnando de raiva:

—VOCÊ FEZ ALGUM TRUQUE MÁGICO PARA EU ME ENGASGAR NÃO FOI?COMO OUSA FAZER ALGO ASSIM? SE
REALMENTE QUISER BRIGAR, NÃO PRECISO NEM MESMO DE MINHA ESPADA PARA TE DERRUBAR, TE VENÇO COM
MINHAS MÃOS! VENHA COM SEUS MALDITOS TRUQUES!

Bode não se exaltou e em seu típico tom calmo e sombrio disse como se não estivesse diante de uma situação de
combate, mas diante de uma situação rotineira:

—Acalme-se Khainzgaskard, tu estás bêbado e não está em condições de enfrentar nem mesmo uma criança bem
treinada. De qualquer modo, não estou aqui para entrar em combate, vim apenas lhe trazer uma noticia.

Lailia Beelgamar, a única garçonete e única funcionaria da taverna no dia em questão, que já havia visto repetidas
brigas de Keizer, viu Balthor na escadaria parado vendo a cena e se segurando para não rir, olhou para a mesa onde se
encontrava Keizer, viu todos que ali estavam sentados se levantarem e tomarem distancia e Keizer pronto para entrar
em uma briga com Bode mesmo já tendo esquecendo-se do por que. Ela respirou fundo e disse vós alta com um tom de
voz indiferente com o olhar fixo em Keizer:

—O que for quebrado, impendente de quem quebrar vai ser cobrado de você velho caréca, independente de quem
seja você fora daqui! Aqui você vai ser tratado como qualquer outro e sabe disto. Se puderem brigar fora do
estabelecimento fico agradecida. —E assim dando de ombros a situação, volta à atenção a outros clientes que li
estavam, ignorando completamente as ações de Keizer.

Keizer após ouvir a fala de Lailia e entende-la como aval para fazer o que quiser deis de que arque com os custos
financeiros, dá uma risada de canto de boca, chuta a cadeira no qual ele estava sentado e diz ainda em vós alta para
Bode:

—Me dê um bom motivo para eu não tirar de você isto que chama de vida! Que maldita noticia é importante a
ponto de interromper meu descanso mago maldito!?

Entretanto qualquer frase que fosse ouvida por Keizer seria melhor para ele naquele momento do que a frase que
veio aos seus ouvidos:

—Alice Van-Harley e sua sentinela estão se dirigindo para este local e acredito que chegarão logo.

Todo barulho de vozes do local se silencia ao ouvir tal nome.

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A expressão de fúria na face de Keizer foi se dissipando e transformando novamente em expressão de desanimo
enquanto abaixava a cabeça refletindo sobre tal informação. Pesados segundos depois levantou a cabeça, olhando para
Bode abriu um sorriso e disse em tom alto e bem humorado para que todos no local pudessem ouvir:

—Ainda te acho extremamente irritante, mas devo que admitir que você seja um excelente amigo! Fico grato pelo
aviso velho amigo! — Fez uma pausa e aumentou ainda mais o tom de voz quando voltou a falar —Vamos partir de
imediato Balt, as crianças estão chegando!

Balthor que já estava em posse dos equipamentos de ambos respondeu no mesmo tom bem humorado que estava
pronto para a partida:

—Deixei boa quantidade do nosso dinheiro no aposento em que estávamos Lailia, vai pagar toda a despesa que eu e
este velho maluco causamos por aqui e sobrará algo como forma de gratidão, mande lembranças minhas e de Keizer
Khainzgaskard para seus pais.

—Pelo meu dever ao reino eu abandonei este sobrenome há muito tempo velho amigo e sabe disto! Mas neste lugar
acredito que é correto me chamar assim. —Dizia Keizer enquanto deixava o local com um grande sorriso no rosto. —E
devemos ir ao píer encontrar o barco de Zurk está antes de irmos. Acredito que Deméter já ancorou há algum tempo,
Neil deve estar impaciente esperando por nós.

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Os dois deixaram a taverna, viram que a chuva que ouviam de fora não estava violenta como imaginaram e Keizer
visualizou a embarcação nomeada de Demeter ancorada na ponta de um píer, e três seres conversando a frente da
mesma. Ao se aproximarem visualizaram Neil Delordi, um jovem que aguardava Keizer e Balthor para seguir caminho
com ambos, acompanhado de Zurkin Malakhia, capitão e atual dono do Demeter e um jovem miriniano de feição
bastante abatida.

A aparência de tal miriniano, que aparentava ter o mesmo tempo de vida de Neil, mas contrastava bastante com a
aparência dos outros dois que ali estavam. Como todo miriniano puro, tinha cabelos ruivos que se encontravam mal
cuidados, além de volumosos e rebeldes no momento; Olhos de cor verde água com a borda da íris negra, que eram
sombreados pelo volumoso cabelo rebelde. Olheiras escuras que eram próprias da raça, assim como a pele quase albina
e com sardas no rosto, além de estar usando roupas claras, com exceção da gargantilha preta, o que contrastava com os
outros dois que ali estavam. Ao contrario das olheiras naturais do miriniano, Neil tinha olheiras de cansaço, cabelos
negros que embora volumosos não eram rebeldes, olhos igualmente negros como a maioria da sua raça e usava vestes
escuras que pareciam estar desbotando como os cabelos negros de Zurk. Zurk por sua vez era mais baixo que os dois e
também usava roupas escuras, mas ainda mais velhas e desbotadas que as roupas de Neil.

Após Keizer descer a escadaria de pedras que separava a Taverna do cais onde havia muitos nimikhins, se dirigiu
ao píer onde Demeter estava ancorada e encarou com certo espanto o miriniano de feição assustada que parecia não
acreditar que estava ali. Cumprimentou Zurk e sentiu nostalgia ao olhar Deméter ancorada, o que fez vir a sua mente
memórias antigas, pensou novamente que logo não teria forças para cruzar grandes viagens assim como Demeter,
passou a mão no casco da embarcação dizendo:

—Acredito que nossas aventuras estão chegando ao fim velho amigo, você passou por mais batalhas do que eu e
espero que quando se for, tenha um merecido descanso. — Zurk riu ao ver a cena afirmando que Deméter podia ser
uma embarcação velha, mas duraria mais tempo que todos ali presente e enquanto dizia isto Neil deixava Balthor ciente
de acontecimentos trágicos que ocorreram antes de sua chegada a bordo de Deméter.

—O que há com este miriniano que aparenta estar tão abatido? — Questionou Balthor a Neil, voltando seu olhar
ao pálido miriniano que ainda aparentava estar apavorado, o que também contrastava com o animo mórbido típico de
Neil, que mencionou que o que causava o evidente espanto do mirinano era algo importante demais para ser exposto
em publico sem causar pânico, que devia ser partilhado em particular entre ele, Keizer e Balthor após eles estivessem
seguramente sozinhos, sem risco de serem escutados. Keizer ao ouvir o que Neil reportou a Balthor, sabendo que Neil
não faria drama por pouca coisa, foi até o miriniano que ainda se encontrava em estado catatônico. Colocou a mão
esquerda em seu ombro, o que fez o miriniano se assustar e lembrar-se que estava diante de outros seres e disse
olhando fixamente nos olhos dele:

—Não sei o porquê de você estar aqui e sei menos ainda o que fez você chegar onde está, mas esta pode ser a única
chance de você mudar os rumos de sua vida e escolher um caminho novo. O seu passado pertence apenas a você e ao
passado e nada altera isto. Se ele te fortalecer, guarde-o em suas memórias; mas se ele te tortura, abandone-o e siga
um caminho novo. Não existe como alterar o que já foi, mas você tem a opção de escolher o que virá.

O miriniano olhou nos olhos negros de Keizer e disse com insegurança na voz:

—Ma... Mas como esperar um futuro de quem não tem nada? De quem perdeu tudo? De quem... De quem já não é
mais nada? Não que eu tenha sido algo antes deste momento...

Então Keizer sorriu, olhou com admiração para o miriniano e não se conteve ao dizer com os olhos brilhando:

—E isto não é incrível? Se não tem nada, nada te segura para recomeçar! Se perder tudo, pode se arriscar a vontade,
pois não existe nada a perder! Quem não é nada, pode ser o que quiser ser! É uma oportunidade única na vida que
poucos terão. Não desperdice isto.

As palavras de Keizer o deixaram o miriniano mais confuso e inseguro que já esta estava. Keizer antes de ter
oportunidade de ouvir uma resposta ao que disse para o miriniano percebeu que Balthor e Neil já estavam seguindo
caminho. Ele foi em direção de Balthor e Neil que caminhavam em direção à floresta de Raizeli e ao alcança-los para
seguir caminho, foi questionado por Balthor:

—O que disse a ele?

—Não tenho a exata certeza do que eu disse, acho que estou um pouco bêbado. Temos que seguir caminho, as
crianças estão a caminho e podem chegar a qualquer momento de acordo com o Bode.

E ao ouvir tais palavras, Neil que caminhava com passos pesados por causa do cansaço sofre uma espécie de
epifania instantaneamente, suas pernas travam por alguns segundos, sente como se fosse capturado por uma armadilha
bem planejada pelos dois a sua frente que o olhavam com um sorriso debochado segurando risada que era típico do
próprio Neil. Percebendo que não haveria tempo para seu descanço, perde a expressão de horror do rosto, voltando a
expressão cançada, volta a caminhar epõe as mãos na cabeça resmungando em tom dramaticamente sarcastico:

—Ótimo! Agora a sentinela imperial e a imperatriz negra se dirigem a nossa localização. Eu disse que era uma ideia
ruim ficar tanto tempo no mesmo local e agora vou ter que dar adeus a meu descanso enquanto vocês já estão
dispostos a seguirem viagem. — E resmungando seguiu caminho junto de Keizer e Balthor deixando para trás o
miriniano e Zurk seguiu viagem com Demeter enquanto a chuva parava no momento que o sol iniciava o nascimento do
dia.
Relato 01

Ele
Não é necessário dizer nada sobre este miriniano antes deste momento, nada ocorrido na desinteressante vida de
um miriniano de classe inferior será proveitoso de se contar para que se inicie este relato.

O jovem miriniano com uma expressão extremamente abatida pensava em qual rumo deveria seguir. Seus olhos
de íris verde-água observavam uma paisagem destoante do mundo que havia conhecido na ilha de Mirinia, tendo uma
arquitetura um tento diferente da conhecida por ele, embora ele soubesse que a velhice do cenário não fizesse parte da
estética da arquitetura originalmente.

A visão que tomava seus olhos, embora diferente do cenário que ele conseguia imaginar e diferente até mesmo do
que ele havia ouvido falar, não lhe causava surpresa ou admiração, nem mesmo desgosto, pois ainda não havia
superado o ocorrido que o levou a embarcar em Deméter. Por tal motivo ele não ficaria empolgado nem mesmo se
tivesse encontrado Aialahay em seus tempos de glória.

O miriniano que se viu obrigado a seguir caminho com as palavras de Keizer formigando na cabeça e foi em direção à
multidão de nimikhins que se encontravam próximos aos píeres de onde chegavam e partiam outras embarcações. A
maioria que ali estava ignorou o não percebeu o miriniano, porém alguns nimikhins o olhavam com certa curiosidade ou
desdenho a presença nova que ali estava, não só pelo fato de ser incomum qualquer um querer sair de Mirinia e chegar
ao continente de Vanihain, era ainda mais incomum um miriniano de classe inferior vir ao continente. O olhar curioso
dos que ali estavam era algo desagradável, pois para o ruivo que ali chegou já era incomodo ser chamado de inferior por
características físicas que lhe faltavam diante dos ditos “superiores” da raça, mas pelo menos em Mrinia ele era só mais
um entre tantos outros iguais a ele.

A temperatura no ambiente dava um reforço na aparência desagradável do local, mas mesmo o mormaço que seria
incomodo para a maioria das raças nimikhin não é algo para incomodar a qualquer miriniano, pois tinham baixa
sensibilidade referente à sensação térmica.
Decidiu-se por fim passar por um pequeno grupo de nimikhins ignorando os olhares curiosos dos seres deste
admirável novo mundo e explorar o porto no qual havia chego, para decidir dali que rumo daria em sua vida. Enquanto
se decidia o que fazer e foi distraído por um cartaz colado em uma coluna de madeira que segurava um teto que saía do
armazém ao fundo onde ninguém ousava entrar e seguia seis metros para frente para proteger qualquer um que ali
estivessem do poderoso sol. O cartaz era tão velho que poderia estar ali há meses, talvez anos, mesmo assim o jovem
deslocado acreditou que seria um convite do destino para ele ao ler, um convite tão ousado quanto curioso: “seja você
também um aventureiro, um poderoso guerreiro, se inicie na casa de espadachins de Iroilia e ganhe sua vida
trabalhando como um espadachim para o bem de todos”.

Após ler tal convite, um sorriso de canto de boa nasceu em sua face por alguns segundos, mas seus próprios
pensamentos o repreenderam de tal ato, fazendo o sorriso desaparecer.

As palavras ditas por um desconhecido a momentos atrás voltaram a sua cabeça, a ideia de “não ter nada significa
não ter limites” parecia interessante, mesmo não tendo certeza se foi exatamente isto que o caréca de barba branca
quis dizer. O jovem segurou com força sua algibeira de couro a sua cintura que continha todo o dinheiro pertencente a
ele, levantou-a a altura dos olhos, restando em sua cintura um cantil e uma pequena bainha onde guardava uma faca de
caça. Ao dar um passo para traz uma atlântina de aparentemente mesma idade surgiu inesperadamente, se chocando
com o miriniano, levando-o ao chão, assim a jovem atlantina caindo por cima.

A atlântina rapidamente saiu de cima dele, se pondo de joelhos com uma de suas mãos na cabeça, tentando se
ajeitar para se levantar. O miriniano se levantou mais rápido e notou a linda atlântina agora apoiada sobre seus próprios
joelhos em sua frente com um olhar fixo nele suplicando em desespero:
—Si-sinto muito ter te derrubado, eu n-não tive a intenção, estava com muita pressa, tenho muitos afazeres,
sinto realmente t-te derrubado, me desculpe... — e os pedidos de desculpas pareciam não cessar.

Ao meio de desculpas confusas intermináveis, o Miriniano sorriu e ajeitando sua camisa branca de manga longa,
com um corte em v na gola que terminava pouco antes de seu umbigo, admirou a visão de uma atlantina, a primeira
que ele viu em vida.

Lógo ele estendeu sua mão para a atlântina que o olhava com seus grandes olhos de cor azul royal, que tinha um
aro preto fino na Iris dos olhos circulando ambas as pupilas. Observou a atlântina ainda sentada no chão e disse com um
enorme sorriso no rosto mostrando muita empolgação — Não se preocupe comigo! Espero que não tenha se
machucado. Não vai ser um tombo pequeno como este que irá me lesionar, já que serei o espadachim mais poderoso
que já existiu, tenho que estar atento a este tipo de situação. Eu me chamo... – Mas foi interrompido pela atlântina que
de forma inesperadamente ágil e fria se colocou de pé com muita velocidade abandonando a postura desastrada e tom
de voz dócil enquanto dizia:

—Me desculpe miriniano desconhecido, mas não tenho tempo para isto e devo correr.

Parado em frente ao cartaz de alistamento dos espadachins, o Miriniano observou a o de cabelos loiros em tom
esbranquiçado que chegavam à altura de seus ombros se distanciarem com rapidez, se admirou ao notar que a luz do
sol quando baitia no cabelo dela o fazia mudar a cor de acordo com a luz, como nas histórias que lhe contaram sobre
atlantinos. Ela acabou desaparecendo ao entrar no armazém aparentemente abandonado à frente. O miriniano ficou
parado admirando tal visão, a tonalidade loira quase branca junto de uma única mexa azul clara em seus cabelos, era
prova o suficiente para ter certeza que era uma atlantina pura. Sentiu-se agraciado por ter visto uma atlantina ainda
viva, começou a se perguntar o porquê ter dito que se tornaria um espadachim com tanta certeza se não tem ao menos
certeza se teria vontade de tal feito, até se dar conta de que acabou de ser roubado.

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O jovem miriniano, magro, sardento e de cabelo ruivo, entrou por um breve momento em estado de inercia ao
perceber que foi tapeado. Após alguns segundos, o miriniano observou a porta do armazém sem ainda entender o que
havia acontecido, caminhou lentamente à porta do armazém enquanto a mente digeria o acontecimento, percebendo
que perdeu todo o pouco dinheiro que lhe restava, se destinou a porta do armazém para encontrar a jovem gatuna que
o afanou com uma destreza invejável.

Foi até a porta, empurrou-a, mas a porta não abriu, logo olhou a maçaneta redonda, algo diferente na porta que
não existia em sua ilha, girou-a instintivamente e a porta se abriu. Ficou maravilhado por outra novidade do continente,
pois em mirinia as portas não tinham maçaneta, não havia necessidade para tal item, mas rapidamente voltou a si,
entrou no armazém imenso e vazio onde nada havia além de uma porta ao fundo que levava quem chegasse do
ancoradouro para o reino em si. Saiu pela porta dos fundos do armazém imenso e vazio e ao sair do armazém avistou o
que um dia foi o grande reino de Aialahay.

O deserto havia entrado dento do reino, exatamente como o miriniano já havia ouvido falar, expulsando os
moradores e até mesmo o rei daquele reino costeiro que jamais imaginaria que o pequeno deserto ao norte do reino
cresceria de repente e em velocidade absurda e secaria o grande lago de Aialahay que separava o deserto do reino,
ainda mais considerando que o lago era maior que o próprio reino.

O cenário após a porta era uma visão triste para qualquer nimikhin. Todo imóvel que ali residia aparentava
abandono. Foi dito que em tal reino tinha um castelo belo, mas nem sombra de um castelo ali existia. Dava para contar
nos dedos o que existia de imóvel no reino na visão do miriniano, talvez incluindo os dedos dos pés. Obviamente o
cenário catastrófico era algo novo para o novo integrante do continente, tal cenário seria inimaginável para quem nunca
havia saído de Mirinia.

Ao se encontrar em Aialahay, o miriniano se esqueceu do cenário que havia visto á suas costas. Esqueceu-se de
ter visto nimikhins e se focou ao que estava a sua frente. Sem dinheiro e desorientado, decidiu pedir informação para
saber como chegar a tal guilda de espadachins e com sorte encontrar a ladra. Decidiu entrar na grande ferraria que era a
maior construção a vista, tendo esperança de encontrar a ladra ou qualquer nimikhin que pudesse lhe dar alguma
informação de encontrar a atlântina ou no mínimo chegar ao reino de Iroilia.

Todo o ambiente era silencioso, era praticamente uma cidade fantasma, o que era espantoso pela quantidade de
seres que chegavam e partiam da marina que não estava a muitos paços de distancia de onde ele estava no momento.

Começou a procurar qualquer sinal de algum ser vivo até ouvir vozes vindas de um aposento que assim como todos
os outros imóveis, parecia um bom lugar para se assustar alguém.

Aproximou-se da porta, ao toca-la percebeu que a mesma se encontrava aberta. Relutou por alguns segundos para
entrar em um estabelecimento desconhecido, mas avançou de forma sorrateira ao decidir entrar. Mesmo sabendo de
que se tratava de um estabelecimento, que não tinha motivos para não entrar, não encontrava coragem para anunciar
sua entrada. Ao entrar com passos leves, se deparou com uma situação completamente inesperada: três neeilins
estavam armados com alfanjes e cercavam uma nimikhin que ali se localizava que parecia indefesa, porém indiferente,
olhando para cima reclamando algo em um tom baixo algo que o miriniano não conseguiu ouvir, após isto abaixou a
cabeça e começou a aumentar um pouco o tom de sua vóz:

—Não adianta ameaçar a Lanna com a espada ou arma que for! A espada não chegou ainda e mesmo que já
tivesse chegado a Lanna não entregaria, ela é propriedade do mestre Jaunmir. Não que a Lanna considere algum dos
três como ameaças reais, mas irão mesmo ameaçar uma linda e indefesa artesã? — Dizia ela com um desanimado olhar
e em tom indiferente, enquanto enrolava uma mecha de seus cabelos com o dedo indicador da mão esquerda e olhava
de cabeça baixa para as unhas da mão direita, com a mente vagando para pensamentos distantes.

A artesã tinha cabelo longo e negro, usava um sobretudo largo que era preto assim como sua gargantilha, e
usava uma camisa de cor azul marinho por baixo do sobretudo aberto. A íris de seus olhos eram de cor azul-royal,
característica única de uma atlântina, com pele albina, olheiras escuras e sardas no rosto, característica única de uma
miriniana e o cabelo inteiramente negro era típico dos Neelins. Era visível a mescla de raças.

Ao entender a situação, o miriniano se escondeu atrás de uma pilastra no local antes de ser notado, seu corpo
começou a tremer. Mal havia chegado ao continente e já havia sido roubado, logo em seguida já estava presenciando
um assalto, o que deixava evidente que o continente era absurdamente mais hostil que sua terra natal.

—Sem seu mentor você não é desafio, pelo tempo que ele não entra em batalha nem mesmo com o auxilio de
uma artesã impura como você traria ameaça. —Dizia o mais corpulento dos três neelins, os outros dois riram
maldosamente e em seguida o menor e aparentemente mais perigoso dos três completou dizendo:

—Se não for ajudar, não existe motivo para deixarmos você viva.

Ao tomar coragem, o miriniano pôs a cabeça para fora da pilastra para observar a situação, pensando em algo
para ajudar a nimikhin que estava sendo cercada. Novamente Lanna olhou para o teto, com desgosto no olhar,
resmungando algo sobre bichos imprestáveis e inúteis, novamente em um tom no qual o miriniano não tenha
conseguido ouvir, o que o fez duvidar da própria audição que costumava ser muito boa. Subtamente ela olha para o
miriniano, que estava no campo de visão de Lanna, as costas dos três assaltantes, mesmo que em distancia
considerável. Lanna sorri para ele e pisca, o que faz ele se sentir como se tivesse sido descoberto por um furto antes de
realizado, o que o paralisa, mas faz com que o maior dos neelins perdesse a paciência:

—Acha que flertando com um de nós vai ter chance de escapar? Vai ser massacrada, junto com o estupido do seu
mestre, após tomarmos a espada penso em que fazer com seu cadáver — E enquanto dizia, os três assaltantes
começaram a se aproximar da artesã que abriu um pequeno e travesso sorriso de empolgação, finalmente algo que a
iria tirá-la da inércia daquele ambiente tedioso, entretanto quando iriam atacá-la, ouviu-se uma voz autoritária que
gritava a plenos pulmões com estrema ameaça —NÃO SE APROXIMEM DELA!

A voz do impulsivo miriniano que acabara de se revelar ecoou pelo ambiente que embora amplo, devido ao
desgasto do local somado as paredes e teto que ali o cercavam lhe davam uma sensação claustrofóbica. Apenas depois
de todos o encararem se deu conta do problema que acabara de encontrar; A sensação do miriniano de impotência
diante os três inimigos era apavorante, fez seu corpo travar inicialmente, mas mesmo com o corpo tremendo pelo medo
a sensação de adrenalina em seu corpo lhe deu uma sensação de prazer que se misturava com o medo. Um dos inimigos
tinha um rosto largo,corpo largo e musculoso, lembrando o biótipo corporal de um “miriniano superior”, tinha
sobrancelhas grossas e era desprovido de cabelo, um era um pouco mais magro, as roupas escondiam o corpo, tinha o
cabelo raspado dos lados e jogado para traz, um rosto mais afinado e uma cicatriz no canto esquerdo da boca que
descia até o queixo e o terceiro dos assaltantes se assemelhava ao da cicatriz, mas tinha cabelo cumprido e olhar mais
calmo que os outros dois.

O miriniano puxou a faca de caça que estava em sua cintura e a segurou para frente, se posicionando exatamente
como havia visto Neil fazer em posse de uma espada curta a bordo de Deméter antes de treinar golpes contra um
inimigo imaginário. O miriniano prestou muita atenção na movimentação de Neil e na situação que se encontrava, a
melhor maneira que teria para intimidar os inimigos seria mostrando ser uma ameaça em potencial, mesmo que isto
fosse extremamente difícil intimidá-los com uma única faca de caça.

Ao avistar a cena, a sardenta artesã que estava tão surpresa com a aparição inesperada de um miriniano de classe
inferior ali naquele momento quanto os três possíveis ladrões, ficou admirada pela postura de batalha tomada pelo
miriniano, reconheceu que a postura praticamente se espelhava com a de um espadachim no qual ela conhecia e ficou
interessada em saber como ele lutaria com uma faca de caça usando uma postura para combate com espada. Abriu um
sorriso ainda mais delirante enquanto dizia em tom desanimado típico dela:

—E então herói, vai salvar a Lanna de mãos vazias ou com esta faca de caça em sua cintura? Caso ache útil, tem
três espadas encostadas na parede ao seu lado. Se me salvar, pode levar uma de presente — E Lanna piscou flertando
com o miriniano que havia se decidido em entrar em combate mesmo não tendo ciência de que não teria a menor
chance de vitória. Ao tomar coragem para atacar, quando começou a mexer o corpo para ir para cima dos inimigos,
sentiu uma manopla pousando em seu ombro, fazendo seu corpo tremer ainda mais, acreditando não ter visto inimigos
a suas costas, mas a vós de quem colocou a mão em seu ombro direito lhe acalmou se pronunciando:

—Obrigado por impedi-los de atacar a artesã em perigo amigo, mas se incomodaria se eu assumisse a situação
daqui? —Dizia um cavaleiro de armadura reluzente, e cabelo castanho claro preso por um rabo de cavalo.

O miriniano ainda assustado abandonou a postura de combate e deu um passo para trás, se dando conta que a
primeira piscada que a artesã havia dado não era para ele, que estava tão assustado que não havia percebido que
alguém havia entrado no local após ele.

—Não é cedo demais para tanta agitação? O sol mal nasceu e já estão fazendo bastante barulho. O que procuram
por aqui? —Continuava falando em tom amigável o cavaleiro.

—Viemos atrás da espada lendária que hoje será entregue a Jaunmir. Não que faça diferença você saber disto, não
sairá vivo deste local. — Dizia em tom calmo e ameaçador o neelin de cabelos longos ao cavaleiro que sorriu e retribuiu
com palavras amigáveis:

—Porque entrar em combate? Se quer realmente a espada, — O cavaleiro tira uma das duas espadas que
carregava nas costas e a arremessa, fazendo a mesma passar pelos assaltantes e cravar na lateral de uma pedra de forja
que se encontrava entre Lanna e os assaltantes —Se conseguir retirá-la da pedra, ela é sua. Resolverei diretamente com
mestre Jaunmir e não o deixarei que ele tome a espada de você caso tire ela de onde está, mesmo eu duvidando que ele
quisesse a espada para ele sabendo que você foi digno de empunha-la.

Calmamente os três se dirigiram a espada, não abandonando a postura intimidadora que era ignorada até pelo
miriniano que observava com atenção e curiosidade o andamento da situação.

—Está sozinho esta briga, não tenho a menor intenção de me envolver! — Dizia com um sorriso maldoso o
cavaleiro loiro de olhos dourados, utilizando um cachecol de pano fino cobrindo o pescoço. Este usava uma franja que
cobria um dos olhos. Havia uma gema brilhante chamada de “pedra rúnica” de cor vermelha no centro do cinturão de
sua armadura, uma pedra rúnica negra na ombreira do braço direito, uma armadura metálica que cobria corpo por
inteiro e um cinto largo e caído contendo outras três pedras rúnicas de colorações distintas, uma azul, uma verde e uma
roxa. O cinto solto na cintura por cima do cinturão ficava caído abaixo da cintura no lado direito, estando preso somente
no lado esquerdo da cintura. O cinturão estava preso a duas amarras que ligava o cinto à bainha de fundo aberto
expondo a ponta da lamina da espada de aparência poderosa e um pouco gasta. Somando isto a feição hostil,
aparentava ser um guerreiro extremamente forte e maldoso. O outro cavaleiro aparentemente era o oposto, tinha um
cabelo mais rebelde, também possuía uma franja que quase escondia um dos olhos, seu cabelo longo era preso como
“rabo de cavalo” que chegava até ao meio das costas. Seu cabelo era castanho claro e de aparência desleixada. Tinha
olhos de cor verde esmeralda, diferente dos olhos dourados do outro cavaleiro, era característica que não era típica de
nenhuma raça existente, era uma anomalia sem explicações. Usava uma armadura muito diferente da armadura usada
pelo cavaleiro loiro, porém igualmente gasta. Carregava duas espadas nas costas, uma delas em estado lastimável e
outra extremamente conservada. Mas ao contrário de seu companheiro, tinha feições mais serenas.

Este cavaleiro por sua vez observou com curiosidade o miriniano, enquanto se questionava que atitude seria a
certa a tomar.

—Vieram atrás desta espada? — Com certa expressão de desgosto no rosto retirou a excalibur de suas costas, que
brilhava como uma espada recém nascida levantou-a e a arremessou com força em direção a uma pedra de forja que ali
se localizava, cravando a lamina da espada até a metade na pedra. —Façam bom proveito!

Enquanto os três meliantes correram com total afobamento na esperança de retirá-la da pedra enquanto Klayner
se aproximou do ruivo tremendo de nervosismo e argumentou com total compreensão:

—Consegue vencê-los apenas com esta faca de caça? Não me parece a melhor arma para se lutar contra três
alfanjes. Dizem que mirinianos são formidáveis lutando com facas, mas são especializados em combate com lanças,
clavas ou machados.

O miriniano agora sorria dizendo que apenas carregava a faca por precaução, mas nunca a usou, nunca nem
mesmo havia lutado com outra pessoa, seja com faca, lança ou espada ou os punhos.

”Sei que mirinianos são famosos por serem ótimos lutadores, mas sou inexperiente em batalha. Em Mirinia eu
cuidava de plantações e animais, nunca entrei em batalha, mas mudarei isto. Unirei-me à casa de espadachins de Iroilia,
treinarei e serei um espadachim incrível!”

Enquanto o miriniano pegava uma espada das três oferecidas por Lanna, o cavaleiro de cabelo castanho sorria
admirado enquanto o cavaleiro loiro que sorria com certo desdenho dizendo:

—Você é um indigno? É realmente algo depressivo. Não me importa se é um lutador ou um indigno, como já disse,
não irei me envolver! Klay, o que pretende fazer?

—Como pode dizer que alguém que mesmo sem experiência alguma se arrisca para proteger uma outra pessoa é
indigno? Paréce que esqueceu-se de sua história Lakos.

—O adjetivo “indigno” é considerado a maior entre as ofensas verbais para um miriniano, que geralmente são brutos
e bárbaros com muito orgulho. Mirinianos são diferenciados por “classe superior”, que são os mirinianos “dignos”. São
brutos, dotado de grande força e extinto selvagem, tendo geralmente um corpo largo, enquanto os “mirinianos de
classe baixa”, também chamados indevidamente de “indignos” não nasciam com o instinto agressivo, estrutura larga e a
natural falta de paciência do ser masculino da raça. Por terem um corpo franzino, são intitulados como incapazes deis
do nascimento, focando a vida em serviços mais burocráticos e geralmente não conseguiam uma parceira para o
romance, pois mirinianas sentem atração por poder e brutalidade vindas de outro nimikhim da raça. É raro uma
miriniana amar um miriniano de aparência frágil, sendo quase impossível tal o ocorrido, mas existem exceções. —
Explicou Lanna para Klayner que parecia ter passado por uma grande epifania.

—Como eu ainda não sabia disto? Então é por isto que... —Klayner abaixa a cabeça em uma pausa reflexiva antes de
completar o que dizia —Isto explica muita coisa...

Após sua reflexão, cavaleiro de olhos verde esmeralda deu um passo à frente dizendo em um tom de voz enérgico – Eu
sou Klayner Wolf, cavaleiro pessoal da futura imperatriz Alice Van-Harley e lhe peço ajuda, futuro espadachim de
Mirinia para derrotá-los — após virou seu rosto para olhar o outro cavaleiro que parecia, assim como a artesã que ali
observava, se divertir com a situação, depois olhou a mulher de olhar gélido que acompanhava os dois cavaleiros, que
até o momento não argumentava, apenas lançava seu olhar de desprezo a tudo.

—Alguma objeção quanto a isto Alice? –Dizia o cavaleiro com um tom de voz informal, parecendo conversar de
igual para igual com a garota escoltada que parecia censurá-lo com os olhos.

Alice Van-Harley, princesa do reino de Iroilia e futura imperatriz de todo o continente de Vanihain, tinha pele
quase albina, busto avantajado e olhos negros, gargantilha e cabelos longos da mesma cor. Usava o cabelo prezo atrás
da cabeça, após a amarra que prendia seus cabelos, descia três grossas tranças. Usa um espartilho por cima de uma
camisa tomara-que-caia, uma saia em cima dos joelhos que ficava por baixo de o que aparentava ser a parte de baixo de
um vestido, mas cobrindo apenas as laterais e a retaguarda. Luvas que cobriam quase o braço por inteiro chegando
próximo as falsas mangas caídas que saiam do tomara que caia, meia-calça que cobria suas pernas e sapatilhas de cor
como todo o resto de sua vestimenta, preto.

A vestimenta inteiramente preta combinava com a sua pele albina e seu olhar severo. Entretanto não usava sua
habitual coroa que só era usada dentro de seu castelo pela mesma.

Lakos Gakalius, o cavaleiro loiro de sorriso maldoso disse em tom igualmente maldoso:

—Sua espada não está em condições de aguentar mais uma batalha Klay, eu acredito que deva usar a minha.

A espada que Lakos carregava estava velha e quase sem fio, porem ainda estava em melhores condições do que a
espada de Klayner para tal batalha.

Os ladrões que ainda estavam tentando retirar a excalibur da pedra na qual estava cravada, furiosos por não
conseguirem retirar a espada, após ouvirem o cavaleiro de olhos verde esmeralda falando sem a menor preocupação
em lutar, desistiram da espada e partiram sem pensar para cima do cavaleiro, enquanto Alice ao olhar a situação disse
com total desgosto:

—Seja rápido.

Mesmo Alice não aparentando não gostar de tal situação, ou de qualquer outra coisa, concedeu o pedido de
Klayner Wolf, que mesmo tendo dito que iria lutar junto com o pretendente a espadachim contra os três inimigos,
apenas se desviava dos ataques e se protegia, enquanto observava o talento natural do miriniano que mostrava belos
reflexos e destreza com a espada escolhida, lutando com superioridade contra os ladrões que embora fracos, eram
muito mais experientes em batalha.

Os três assaltantes após perceberem que não venceriam, fugiram em desespero.

Lanna sorriu dizendo ao talentoso miriniano que a espada que usou para batalhar agora pertencera a ele, “Agora
poderá ir à casa de espadachins com uma boa espada para suas aventuras”, enquanto Lakos encarava com visível
desprezo a espada fincada na pedra de forja.

—Espada maldita! Vai me recusar até quando? Eu não sou bom o bastante para você? –Disse Lakos em voz baixa,
entretanto audível a todos no local.

Klayner ao perceber o jovem miriniano olhar a cena com curiosidade, explicou em tom didático:

—Esta espada fincada na pedra é conhecida como a espada mais forte já forjada por um elfo negro, foi dada a
mim pelo meu avô para ser entregue ao artesão que é dono desta ferraria. Esta espada tem um poder absurdo, mas
tem vontade própria. Se for empunhada por uma pessoa na qual ela julgue indigna, ela perderá o fio, aumentará seu
peso, se aquecerá em temperaturas inimagináveis, se tornará pedra ou fará algum tipo de bizarrice que a torne
inutilizável em batalha. Arremessei-a na pedra tendo certeza que a mesma se recusaria a desprender pelas mãos dos
assaltantes. Nunca tive interesse por esta espada, acredito que o que faz um bom guerreiro não é seu armamento. Por
que não tenta tirá-la da pedra?

—Esta espada ridícula sempre me rejeitou, é estúpido pensar que esta espada me considere indigno, mais
estúpido é alguém criar uma espada que tenha vontade própria! Espadas são feitas para ceifar vidas, nada mais do que
isto! — Dizia Lakos com desprezo na voz. Logo se afastou, observou e se deliciou com a tentativa frustrada de um
miriniano de classe baixa de tirar a espada da pedra.

O miriniano inseguro de poder ter chance tentou, mas falhou miseravelmente.

Um sorriso maldoso surgiu no rosto de Alice ao olhar para a espada cravada na pedra e disse em alto e bom tom:

—Klayner, ordene a Lakos Gakalius que retire a espada da pedra, ordene para que ele não possa sair deste
estabelecimento até realizar tal feito.

Ao ouvir a ordem vinda de Alice, que nem ao menos olhava em sua direção, ignorando sua presença, Lakos que já
esperava tal atitude vinda da futura imperatriz sorriu sarcasticamente, e disse com total formalidade antes que Klayner
pudesse repassar a ordem:
—Mesmo que eu tentasse tal feito, eu não conseguiria tirar a maldita espada da pedra mesmo que eu ficasse a
minha vida inteira aqui. Odeio passar por cima de suas ordens, mas como estou sob ordens de seu pai, atual rei,
Zakariah Val-Harley, e por ordem do mesmo terei que retornar assim que possível, não poderei cumprir seu pedido,
majestosa princesa.

Então antes que algo pudesse ser dito, Klayner colocou sua mão direita no cabo da espada, mas ao invés de tentar
tirá-la da pedra, afundou-a mais fundo na pedra e disse:

—Se prefere ficar nesta pedra esperando uma pessoa que seja julgada digna por você de te portar, então aqui você
ficará, poderosa Excalibur.

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Ao observar a cena, uma jovem artesã com sardas no rosto olhou a espada cravada na pedra de demonstração de
forja, logo em seguida olhou para o rosto de Alice, que ao perceber a desaprovação de Lanna pela espada cravada na
pedra, sorri maldosamente encarando o rosto da mesma. Assim fazendo a jovem artesã dizer em um tom alto de voz
quase berrando:

—A Lanna não acredita que você vai deixar a espada fincada logo na pedra de forja que fica no meio do
estabelecimento! Veio aqui só para irritar a Lanna é? Eu esperava isto desta princesinha peituda mimada ai, mas não de
você Klay!

Alice a olhou com seu habitual olhar de desaprovação, com um sorriso tão maldoso quanto o de Lakos, disse em
alto tom de voz:

—Não acredite que só porque tivemos certa prossimidade na infância tem o direito de falar com tamanha
insolência quando se refere a mim!

Ambas se encararam com visível repulsa.

Lakos Gakalius, o único que realmente se divertia vendo tal situação, se aproximou do miriniano que se observava a
situação sem saber como agir, e disse aos ventos em tom audível a todos no local enquanto tentava conter o riso:

—Sempre a mesma coisa que estas duas se encontram, esta discussão já está virando rotineira.

Alice nem ao menos desviou o olhar de Lanna quando ordenou:

—Klayner Wolf, Eu ordeno para que ordene a Lakos...

—Já entendi, ficarei calado. —Dizia Lakos se contorcendo para não soltar algum comentário maldoso, Enquanto
Lana e Alice se encaravam para recomeçar a evidente discussão.

Ao ver a cena, Klayner pensou em dizer algo para que evitasse maiores problemas. Entretanto assim que abriu a
boca para tentar dizer algo para evitar maiores problemas, um elfo negro surgiu da porta dos fundos do
estabelecimento dizendo:

—Parece que as coisas aqui estão bem agitadas!

Assim todos ali presentes, com exceção do jovem miriniano que se distraia com sua nova espada e já não sabia
mais o porquê ainda estava no estabelecimento, voltaram à atenção ao elfo negro de cabelos grisalhos, trajava roupas
simples e tinha uma enorme estatura.

—Jaunmir, viemos lhe encontrar. —Disse Alice que abandonara a forma petulante de falar e adotando uma forma
mais formal, mas sem deixar transparecer superioridade.
—A neta de Keizer veio pessoalmente procurar informações sobre o desaparecimento do avô? — Jaunmir dizia
enquanto tirava excalibur da rocha com facilidade —Se seu avô se ausentar por muito tempo, seu pai Zakariah é quem
terá total poder sobre o reino e isto me preocupa, porém fico realmente honrado em revê-la, jovem Alice. Vejo que está
acompanhada do neto de Balthor e de meu antigo aprendiz. Como está seu treinamento atual Lakos? Mande
lembranças ao seu avô quando o encontrar Klayner.

Klayner sorri e diz que Balthor mandaria lembranças a Jaunmir caso tivesse chance, já Lakos se aproxima do
elfo negro e faz uma reverencia para cumprimentá-lo e diz com certo sorriso nostálgico em seu rosto:

—É bom revê-lo mestre Jaunmir.

Jaunmir retribui o sorriso responde com brilho nos olhos:

—Onde está o resto de sua equipe? A miriniana agitada e o aprendiz do Khanz dificilmente se distanciam de
você, devem ter um excelente motivo para estarem longe. Antes que me esqueça, as espadas que vieram buscar estão
prontas. Agradeço por trazerem a excalibur a mim, eu poderia ir pessoalmente buscá-la, mas estou com muitas
encomendas, até mesmo a artesã de seu reino aceitou ajudar-me em troca de aprendizagem em forjas.

Lakos responde imediatamente a pergunta de Jaunmir com um sorriso de satisfação pelo reencontro com seu
primeiro treinador:

—A princesa Alice quis vir pessoalmente coletar informações sobre o sumiço de seu avô, veio naturalmente
com seu cavaleiro pessoal. Como iriam vir atrás do senhor e de Lanna, pareceu vantajoso vir junto com os dois para
aumentar a escolta de Alice, mesmo eu sabendo que Klayner seria capaz do feito sozinho. Como eu teria que buscar a
nova espada de qualquer maneira e sabia que Klay estava tendo que carregar esta maldita espada — Lakos olha com
desprezo para a espada nas mãos de Jaunmir, imitando o olhar de Alice — Achei mais vantajoso auxiliá-los. Marko e
Naju estarão chegando por outra direção, tentando descobrir alguma pista do paradeiro de Keizer e Balthor por ordem
de Zakariah Val-Harley. Quanto às espadas, acredito que sua nova serviçal já tenha nos informado que estavam prontas,
mas como nunca presto muito atenção no que ela diz, não tenho certeza se ela realmente tenha dito.

Lanna abaixou a cabeça e apertou os punhos, mas não respondeu a provocação de Lakos, não queria dar a ele o
prazer de vê-la irritada.

Jaunmir olha para Lanna e diz com um sorriso bondoso enquanto deposita a espada novamente na pedra:

—Lanna tem sido de grande ajuda nos afazeres, está diminuindo muito meus esforços, em troca está aprendendo
como deve ser feita a forja de um elfo.

Jaunmir em tom de satisfação ao olhar para todo o cenário a sua volta, percebe um miriniano admirando uma
espada que o mesmo segurava com um brilho nos olhos. Pergunta aos demais presentes no local quem é o miriniano
que lutava bravamente com a espada enfrentando algum inimigo imaginário. Lanna informa ao elfo o ocorrido,
explicando que o miriniano que mesmo sendo de classe inferior, se saiu bem em batalha, mostrando uma habilidade
admirável com a espada. Lanna disse ter dado a espada a ele por defendê-la, mesmo sabendo que ela acabaria com os
ladrões sozinhos em um terço do tempo usado pelo miriniano, talvez até mesmo sem o auxílio de uma espada ou
qualquer outra arma.

Jaunmir deu-se por satisfeito com a história que ouviu.

—Provavelmente mercenários, acredito que inexperientes, qualquer mercenário com real experiencia já teriam
ouvido falar de seus feitos Lanna, temeriam muito mais enfrentar você do que a mim.

Neste momento Lanna se aproximou do jovem miriniano, que se assustou, sendo ele puxado de volta a realidade
ao vê-la. O excesso de vestes que ela utilizava era algo estranho para qualquer ser vindo de Mirinia, algo que não havia
incomodado o miriniano anteriormente por não ter dado a devida atenção por estar focado nos três mercenários que a
cercavam, mas agora o visual de Lanna, a mestiça artesã o maravilhava, mais uma esquisitice deste admirável novo
mondo. Lanna ao perceber que acabara de tirá-lo de sua fantasia, sorri bondosamente e pergunta antes que dê tempo
do jovem ruivo se sentisse envergonhado:

—Como pretende chegar a Iriolia? A Lanna acha que você não conhece muito do continente.
Com um pesar nos olhos, ele conta o porquê fora obrigado a deixar a ilha de Mirinia. Contou que há alguns dias atrás,
nunca pensaria em sair de sua terra natal, mas teve que fugir as pressas no momento em que a ilha começou a ser
engolida pelo mar. —Acredito que poucos tenham sobrevivido. Fiquei por duas luas a deriva com um pouco de
alimento. Fui encontrado por um barco de pesca, expliquei o ocorrido para o pescador que me deu de bom grado uma
algibeira com uma quantidade razoável de dinheiro, mas logo que cheguei avistei um cartaz de recrutamento na guilda
de espadachins e decidi para onde iria, mas fui roubado por uma atlântina logo em seguida — Lakos neste momento
deu um pequeno sorriso maldoso —Procurei por ela e acabei entrando neste estabelecimento.

Jaunmir agora entra na conversa com um olhar severo, pensa em voz alta dizendo:

—Primeiro Galihall, depois Atlântida, em seguida Alaizir e agora Mirinia. Algo está acontecendo, não é natural que
ilhas sejam engolidas rapidamente pelo mar. Quatro anos após Alazir afundar, Atlântida se foi, dois anos após foi a vez
de Galihall e um ano após o ocorrido Mirinia afunda. Algo está afundando as grandes ilhas que rodeiam o continente,
caso continue assim seguindo o padrão de tempo seguido, em seis meses mais uma das 6 grandes ilhas restantes
afundará.

A imagem de um elfo negro era algo novo para o futuro espadachim, mas a adrenalina do momento fez com que o
miriniano mesmo o ouvindo, não prestou a devida atenção do ser em sí.

—Existe algo que possa ser feito sobre isto? —Disse Klayner com preocupação enquanto Jaunmir refletia sobre
o ocorrido.

—Lanna, preciso que entregue as encomendas em Iroilia, vá para o castelo logo após de entregar as encomendas,
preciso que garanta que Zakariah tenha recebido tal mensagem, acredito que seria bom informar Gillerard e Kaila,
então acompanhe o futuro espadachim a academia e os informem também. Sei que não irá desistir de encontrar Keizer
princesa Alice, acredito que Khanz possa ter informações sobre onde Keizer possa estar, entretanto não posso lhe dar
certeza. Lakos — Jaunmir abaixou a cabeça por um momento, logo olhou direto para Lakos e continuou a falar —
Junte-se a Marko e Naju, coincidentemente Khanz precisa falar com vocês, acredito que tenha relação a algo sobre as
pedras rúnicas negras que encontraram. A propósito, usei uma destas pedras runicas em sua nova espada como havia
me pedido.

Jaunmir após uma longa pausa para digerir o que ouvira, olhou para o miriniano e lhe perguntou o nome, o miriniano
com a cabeça baixa respondeu que tudo que lhe pertencera afundou junto com mirinia, até mesmo seu antigo nome,
que encontraria um novo nome no momento certo.

Após Jaunmir entregar as espadas aos cavaleiros que ali estavam, todos saíram da ferraria, com exceção de Jaunmir.
Enquanto saiam o miriniano voltou seu olhar a Alice, o único ser no qual ele ainda não tinha prestado sua atenção. Ao
olhar a futura imperatriz sua mente foi enviada a dimensões nunca antes pensadas, uma beleza divina, as vestes negras
realçava a divindade de sua pele pecaminosa, pareceu o mais infame dos pecados apenas tocar um único dedo em tal
visão angelical, mas todo encanto foi quebrado ao vistar os olhos da mesma que neste exato momento o encararam.
Mesmo por um breve momento, o olhar tão frio e soberbo registrado pelo miriniano o quebrou por dentro, fez o
mesmo se sentir inferior a um verme, ali ele avistou alguém a quem nunca contradizer.

Marko e Naju o aguardavam do lado de fora. Naju abriu um grande sorriso ao avistar Lakos, mas logo se fechou ao
avistar Alice.

Naju era também miriniana, usava uma lança como arma de combate, estatura baixa, cabelos ruivos e curtos não
ultrapassando os ombros. Sardas no rosto, pele muito clara e olhos verde água com olheiras bem escuras. Marko por
sua vez era mais alto que Naju, carregava uma besta em suas costas e dois cutelos, cada um pendurado ao lado de uma
perna, tinha cabelos espetados, curtos e negros, olhos em tom castanho escuro e pele clara, porém não tão clara
quanto à pele de Naju. Os dois trajavam armaduras semelhantes a armadura de Lakos, porém com suas
particularidades.

—É bom vê-la novamente princesa Alice — Dizia Marko com seu habitual bom humor, ao perceber o evidente clima
pesado que ocorreria ao perceber o olhar de Naju a Alice, rapidamente tentou desfocar o a atenção — Vimos três
pessoas com alfanjes correndo e logo em seguida suas vozes, assim pareceu mais seguro aguardar aqui fora.

Naju agora não tirando os olhos do cavaleiro loiro com franja cobrindo um dos olhos, disparou a falar assim que
achou brecha:
—La-Lakos que ótimo te ver! Você fez falta na equipe, sabe, não é a mesma coisa sem você — Marko segurava a
risada no momento —O seu lugar é do meu lado, digo, do lado da equipe, não deveria andar com outra mulher que não
seja eu —Naju corou por um breve segundo, mas ao tentar se justificar, olhou Alice com o semblante sério e calou-se.
Lakos por sua vez parecia irado com o que ouvira e retrucou em fúria:

—Você testa minha paciência! Eu já estou cansado de indignos em meu caminho, já não basta ter de encontrar a
mestiça na ferraria junto de Jaunmir, aparece mais um perdido e ao sair, você está aqui. Quando vai entender que ando
ao seu lado apenas pelo dever?

Klayner que estava próximo ao miriniano que não entendia a situação que se encontrava novamente e disse baixo
próximo de seu ouvido.

—Naju é uma miriniana pura como você deve ter percebido e assim como qualquer outra miriniana pura, nutria
certo desprezo aos seres masculinos de sua ou de qualquer outra raça que pudesse se reproduzir até se apaixonar, o
que aconteceu quando conheceu Lakos e isto alterou seu comportamento totalmente com qualquer ser masculino,
transformando a aversão em indiferença, mesmo que com certo respeitos aos nimikhins masculinos com exceção de
seu amado, assim seu desprezo se voltava a quem via como concorrência. Ela em particular tem alguns costumes e
atitudes diferentes de uma miriniana pura comum pelo que me descreveram uma miriniana pura que nunca saiu da
terra natal, pois passou grande parte de sua vida no convívio com os costumes do continente. Apaixonou-se por Lakos
quando o mesmo ainda treinava na academia para espadachins em Iriolia que você pretende frequentar assim que
descobriu que Lakos tinha o objetivo de se tornar guarda real de Zakariah, por isto seguiu o mesmo caminho, mesmo
sendo rejeitada pelo seu amor.

—Quem te contou isto deturpou um pouco a realidade mas não deixa de ter verdade nisto, mirinianos são
nimikhins da mesma maneira e nada é tão simples quando se trata de seres racionais, sejam masculinos ou
femininos. Isto me traz lembranças da ilha, mas não existe o que fazer pelo que se foi, tenho que me focar no que
está por vir e isto me dá mais vontade de ir a tal casa de espadachins.

—Mesmo ela admitindo que seu ciúme é sem sentido, Naju enxerga Alice como rival amorosa, mas não ousa tratar
com desprezo a futura imperatriz de Vanihain. — Completava Klayner tentando desviar a cabeça do futuro
espadachim para algo que não fosse Mirinia.

O miriniano se sentiu acuado ao perceber o desprezo que Lakos mantinha por uma parceira de equipe, mas Naju se
encantava com as palavras do homem no qual ela decidiu um dia se casar, enquanto Marko não conseguiu conter seu
riso e se apoiou em Klayner para não cair enquanto gargalhava.

Alice diante de tal situação disse com seu habitual maneira rude:

—Marko e Naju, acompanhem a mim e Klayner aos aposentos de Khanz, ele tem assuntos a tratar com os dois,
enquanto eu tenho outras razões para ir ao encontro do mesmo. Lanna e o miriniano irão a Iroilia. Klayner ordene a
Lakos que os escolte, de todos aqui ele foi o único que já frequentou a guilda de espadachins, acredito que ficará mais
fácil ele informar Kaila sobre os eventos acontecidos. Kaila repassará as noticias para Gillerard e Gillerard repassará a
informação às outras guildas e consequentemente aos outros reinos assim como Kaila. Marko, entregue o restante do
dinheiro que Zakariah lhe entregou antes de começar sua jornada a Lanna e ao miriniano. Não precisará do dinheiro a
partir daqui.

Lakos abaixou a cabeça e disse com certa frustração, mas sem perder sua postura insolente na voz:

—Pode ordenar diretamente a mim as ordens sem repassar a Klayner antes caso desejar.

—Klayner, informe a Lakos Gakalius que sei exatamente o que posso ou não fazer, que em momento algum lhe pedi
instruções de meus direitos.

Lakos se calou.

Todos se espantaram com Alice pedir escolta para Lanna, pessoa na qual Alice mais demonstrava antipatia, com
exceção de Lakos. Entretanto Klayner foi o único que não parecer se surpreender, sabendo que ela passaria
momentaneamente até por cima do próprio orgulho para reencontrar seu avô, entretanto achou mais lógico acreditar
que ela fez só pra chatear ambos, sabendo que Lakos odiaria ficar responsável por escoltar Lanna tanto quanto Lanna
odiaria ter Lakos por perto. O fato de ordenar a Lakos ir de encontro a sua antiga companheira de aprendizado, a atual
mentora da guilda de espadachins Kaila Khalifa, provavelmente foi para provocar mais irritação e insegurança em Naju.

Naju parecia irritada, mas não ousou dizer nada. Alice se deu por satisfeita.

Marko abaixou a cabeça, deu uma risada sem graça e revelou que há algumas horas atrás encontraram uma atlântina
na floresta morta que separava o deserto da floresta de Raizeli e a mesma os roubou antes que percebessem, Klayner
disse ter encontrado uma atlântina no caminho para o aposento de Jaunmir, pouco antes de chegar ao destino com
Alice e Lakos, logo percebeu que foi roubado também. Lakos pareceu se divertir muito com o que acabara de
presenciar, sorrindo maldosamente para seus companheiros, disse sem conter o riso:

—Só agora percebeu Klay? Esperava que fosse mais habilidoso que isto! Ela tentou me roubar também, mas —
Lakos revela seis algibeiras que havia escondido até o momento — Fui mais esperto que ela. Reconheci as algibeiras
assim que tomei posse, imaginei que não estariam longe.

Em intenção de impressionar Alice com seu feito, Lakos arremessou as algibeiras para seus devidos donos,
sobrando mais duas algibeiras em suas mãos, sem contar sua própria que estava preso a sua cintura. O miriniano agora
ao lado de Lanna reconheceu sua algibeira roubada e exclamou:

—Uma destas postilas que segura é minha, fico agradecido se fizer a bondade de me devolver.

Lakos aumentou o sorriso maldoso no rosto e disse com satisfação que não tinha o nome dele em nenhuma das
postilas —Não existe prova de que esteja dizendo a verdade. Caso queira dinheiro, seja inteligente e tome de outro!

Ao olhar para a face de Alice que mantinha um olhar de desaprovação, o sorriso na face de Lakos se apagou e ele
arremessou a postila ao miriniano sem sequer ousar a dizer algo. O ruivo inominável se juntou a Lakos e Lanna e os três
partiram para o píer Aialahay a espera do Barco que os Levaria ao porto de uma cidade vizinha de Iriolia enquanto
Klayner e a equipe de Lakos que novamente se separava do líder da equipe iriam percorrer outros caminhos, indo ao
aposento de Khanz, o antigo grande guerreiro aposentado que vivia como um lenhador em uma área não muito distante
dali, dentro da floresta de Raizeli.
Relato 02

Ela
Algum tempo após, se aproximando ao horário do crepúsculo, em uma aldeia que se encontrava escondida dentro
da floresta de Raizeli, se encontrava uma furiosa atlântina que havia sido roubada, perdendo todo o dinheiro que havia
juntado no dia furtando os mais desavisados além da própria algibeira. A jovem se encontrava sentada de baixo de uma
arvore, enrolando seu cabelo loiro esbranquiçado com seu dedo indicador, enquanto seus olhos de cor azul royal

percorriam o lugar, tentando se livrar do tédio é frustração de pensar que quem fora roubado no final foi o ladrão.

A grande aldeia de nimikhins que se disfarçava de mais uma grande aldeia orc era um bom abrigo na floresta.
Localizava-se quase ao centro da floresta, com casas construídas a base de madeira e barro, havia barracas feitas de
couro de animais selvagens e uma grande área livre com poucas arvores ao centro da aldeia. A aldeia era rodeada por
muitas arvores e um muro, o muro era feito por toras de madeira e barro, construída pelos orcs que um dia viveram ali.
Na parte de campo aberto se localizava a área de comércios. Um mercado negro onde o comércio funcionava a base de
vendas ou trocas, baseando se que todos ali presentes se alimentavam com caças ou produtos vindos de partes
povoadas do continente. No mercado negro podia se encontrar além de alimento, qualquer tipo de produto, não
importando como o produto foi adquirido pelo vendedor.

A floresta era um lugar perigoso de se viver, havia orcs que viviam em aldeias não muito distantes na floresta, porém
com melhor posicionamento para camuflagem. Os orcs das outras aldeias não ousavam entrar na aldeia mesmo
sabendo haver nimikhins, pois um dia tal aldeia pertenceu a outro grupo de orcs, por respeito aos antigos orcs que ali
viveram não invadiam o espaço. Entretanto se um orc topasse com um nimikhin andando pela floresta fora da aldeia,
sem sombra de duvidas o mataria. Com isto a prática de caça ou mesmo sair da vila para ir a civilização era algo
perigoso.

Nesta vila vivia um orc que andava entre os nimikhins, um orc que quando bebê junto de sua irmã e irmão gêmeos do
mesmo foram abandonados. Foram encontrados e criados por nimikhins. Como forma de agradecimento quando
cresceram ajudaram a reconstruir uma antiga aldeia orc abandonada na floresta. Edgar, um dos dois orcs machos,
decidiu viver ali e sua irmã em algum lugar na civilização nimikhin. O outro irmão havia desaparecido há tanto tempo
que não se lembrava mais de sua existência. Guardar lembranças tristes e sofrer por memórias ruins era algo
costumeiro para nimikhins, não para orcs.

A atlântina olhava a paisagem com desagrado, pois não era um bom lugar para se furtar, principalmente
considerando que era aonde ela vivia. Todos que viviam ali conheciam a garota, mesmo sendo o único lugar onde a
frustrada atlântina acreditava não sofreria de preconceito por ser pura da raça racional mais mal vista entre as raças
vindas das ilhas, com exceção talvez dos orcs. Ela acreditava que aquele não era seu lugar, talvez nem mesmo exista um
local para ela atualmente.

Não podia voltar para sua terra natal que havia sido engolida pelo mar, e os puro-sangue vindo de Atlântida estavam
praticamente extintos, mal ela acreditava que existisse outro ainda vivo.

Após sair de baixo da arvore de onde estava, circulou pelo centro de comércio pensando em como adquirir dinheiro,
pois não queria ter de se sujeitar a trabalhar como mercenária. Mercenários faziam missões de estremo perigo para
quem pagasse. Geralmente missões ilegais, rejeitadas pelas guildas, o que significava arriscar o próprio pescoço.
Sabendo que dificilmente conseguiria dividir a missão com outro mercenário, precisava com certa urgência conseguir
dinheiro e dificilmente conseguiria contar com a caridade de alguém da aldeia.

Observou por um momento um sujeito que não morava por ali, algo que não era incomum, mas o fato de estar
deitado e aparentemente adormecido com sua algibeira a mostra em um território no qual não se conhece ninguém
não é algo que alguém habilidoso ou no mínimo inteligente faria. Por ter a boca e nariz coberto por um pano e um
capuz cobrindo a sua cabeça deixando seus cabelos longos avista só após seu pescoço, deixava claro que se tratava de
um mercenário. Para estar dormindo em uma área aberta com seus itens a mostra provava que não era um bom
mercenário, bons mercenários eram mais cuidadosos. Era a vitima perfeita.

Olhou para ver se alguém a observava, não seria bom ser vista como ladra aonde vivia. Já não tinha vínculos com
mais ninguém, conseguir a desaprovação de todos não seria difícil e ficaria insustentável viver ali.

Ao olhar ao redor avistou uma nimikhina que que também não era dali, usava uma gargantilha extremamente fina e
obscena, mal escondia seu pescoço e com um pequeno sino pendurado no centro. Para uma nimikhina ter coragem de
vestir algo tão pervertido enquanto proclama alto coisas irrelevantes sobre algum deus pagão no qual ela servia,
provavelmente estava precisando de atenção. Talvez de um companheiro para acasalamento imaginou a atlântina.

Deixar o pescoço tão exposto era algo de extrema vulgaridade de acordo com os padrões de vida da época. Até os
orcs, que em geral eram monstros estúpidos não deixariam o pescoço tão a mostra. Era difícil acreditar que uma
nimikhina teria coragem de usar algo tão minúsculo para cobrir o pescoço.

Ver algo tão vergonhoso e pervertido roubou a atenção da garota de atlântina por alguns segundos, mas
rapidamente retornou a realidade e esticou vagarosamente a mão para pegar a postila do estranho mascarado que ali
dormia, mas se assustou ao ouvir:

—Aquela ali é a atlântina que tentou nos roubar não é? Lakos adoraria estar aqui agora com toda certeza! Como pode
ter um clima tão fresco em uma floresta entre desertos?

Olhou para traz e viu o cavaleiro de cabelos negros que havia sido roubado por ela há algumas horas atrás e com um
sorriso debochado em seu rosto apontando o dedo indicador em sua direção, após abaixar o braço falou em tom
audível —Deve ser terrível ser um ladrão e ser roubado não é verdade? Quase chego a sentir pena!

O cavaleiro de cabelo rebelde de coloração negra assim como seus olhos, olhou-a assim como a miriniana que o
acompanhava, com um olhar maldoso parecido com o olhar do cavaleiro loiro que a havia roubado. A princesa que
caminhava entre três cavaleiros, não esboçava sentimento nenhum além do visível desprezo nos olhos. O cavaleiro de
cabelo longo de cor castanha, nem ao menos olhou ao responder que não tinham tempo a perder com a ladra, que não
estavam ali à toa e deveriam partir o quanto antes.

Desconhecia os guerreiros antes da tentativa frustrada de roubo, mas a princesa que andava entre eles ela
reconheceu assim que a viu próximo ao porto anteriormente. Mesmo sem estar usando coroa, era fácil reconhecer Alice
até mesmo pelas pessoas que nunca a viram. A garota de cabelo loiro esbranquiçado com uma mexa natural azul clara
olhou a cena e ocorreu em sua cabeça o seguinte pensamento: “Um dos dois guerreiros é seu sentinela pessoal e
inseparável, provavelmente o cavaleiro loiro de olhar maldoso, mas o fato dele não estar junto significa que cedeu seu
posto temporariamente para provavelmente o cavaleiro de cabelos negros. O cavaleiro de cabelo longo e castanho,
junto de uma miriniana deve ser um reforço na segurança da princesa. Para Alice Van-Harley se sujeitar a vir a tal lugar
na qual todos aqui presentes acreditavam ser desconhecido pela realeza, algo muito ruim deve ter acontecido. Estão
indo em direção a casa do velho lenhador que vive aqui há algum tempo, com a fama que segue a princesa,
provavelmente o velho Khanz terá problemas.”.

Ao voltar o foco na algibeira que seria roubada, percebeu que o nimikhin mascarado já não estava mais ali deitado,
se deu conta da lamina de um sai cercando seu pescoço e uma voz a suas costas que dizia um tom baixo que não a
mataria ali, pois isto não lhe renderia dinheiro a mais. Ao ouvir a frase se deu conta que era um mercenário de
passagem, que mesmo a primeira vista não aparentando ser um guerreiro forte, assim como a maioria dos mercenários
não aparentavam, aquele era um mercenário extremamente perigoso, provavelmente um mercenário experiente. Antes
que ela tivesse tempo para raciocinar, o sujeito desapareceu.

Um mercenário que usava sais como arma era algo incomum, uma garota que mal cobria o pescoço, uma princesa
entrando em território hostil, ser roubada por um sentinela real... Não era comum um dia com tantas anomalias. Ao se
dar conta do quão diferente estava sendo o dia, a atlantina acreditou que isto fosse um sinal dos deuses Suni e Luni para
hoje sair de sua zona de conforto e decidiu finalmente que deveria se sujeitar a algum trabalho de mercenária, o único
problema disto é que quase ninguém sabia a exata localização da guilda de mercenários. De acordo com as crenças
antigas, os deuses Suni e Luni, criadores da existência, diziam que muitas anomalias eram sinais para mudança de
hábito.
A atlantina de olhar decidido saiu do vilarejo, mas logo percebeu que estava sendo seguida por três nimikhins,
havia percebido estes antes de sair do vilarejo, mas decidiu seguir caminho e acreditou ser capaz de encontrar
instintivamente a toca de mercenários, que se localizava em algum lugar dentro da floresta ou próximo ao cemitério de
orcs que se localizava no inicio do deserto vermelho.

Ela já havia ouvido dizer que existia uma cidade escondida após o deserto vermelho, uma cidade onde orcs
andavam entre os nimikhins e eram tratados como iguais. Mesmo se não for verdade de orcs andarem por esta possível
cidade junto com nimikhins, os orcs não atacavam os habitantes de tal cidade por serem mercenários e os orcs que
viviam na tal cidade também eram mercenários. Outros diziam que orcs não entravam em tal cidade, pois não ousavam
invadir por ser uma terra amaldiçoada para orcs. Era terra de mercenários e nunca se sabia que tipo de ser poderia se
encontrar por lá.

Era um território perigoso para visitantes, para os orcs e até para os próprios mercenários, por causa de outros
mercenários. Qualquer um podia ser um mercenário, independente de habilidades, independente de idade, era só se
sujeitar a realizar pedidos extremamente perigosos e ilegais deixados na toca e você se torna um mercenário. Poucos
mercenários mantinham algum tipo de código de honra, eram inconfiáveis, mas habilidosos. Era necessária coragem e
extrema habilidade para se tornar um mercenário. Mercenários mais fracos tinham vida curta, morrendo nas primeiras
tarefas. O fato de qualquer um poder ser um mercenário fez com que as missões fossem ranqueadas por dificuldade,
sendo as missões de maior importância ou periculosidade só poder ser feita por um mercenário experiente.

Não existia amizade ou parceria entre mercenários, a menos que fossem pagos por isto.

Era fato que mercenários existiam e que se encontravam em algum lugar entre a floresta e o deserto vermelho, mas a
história de existir uma cidade desconhecida no meio do deserto vermelho e os mercenários se encontravam por lá
parecia absurdo, mas a jovem Atlantina decidiu ver se tal cidade existia com os próprios olhos.

Alguns minutos após sair do vilarejo orc dois seres encapuzados de corpo totalmente coberto por capas velhas e
longas e usando mascaras que cobriam por completo o rosto, sendo possível apenas ver parte da lamina da espada
semelhante a uma katana que ambos carregavam nas duas mãos por baixo das capas velhas que usavam como manto
para cobrir o corpo e a ponta dos pés que não estavam cobertas pelas capas. Posicionaram-se a sua frente e uma voz
sombria que saia de um dos dois, voz na qual não daria para saber se feminina ou masculina disse em tom baixo:

—Acreditei que a raça imunda de Atlantinos estava extinta, porque acredita que tem direito de estar viva?

A atlatiana no momento deduziu que se os dois a sua frente não fossem mercenários que vieram atrás dela por
ordem de alguém que os pagaria por sua morte, seriam arruaceiros que teriam problemas com sua raça. Torceu para
que a segunda opção fosse a correta, mas caso não fosse, não poderia mostrar medo e tentar assustar os prováveis
assassinos e criar uma brecha para fugir, caso não conseguisse a fuga já podia se considerar morta.

Sorriu com maldade nos olhos para os mascarados, estava assustada, mas fez o máximo para não demonstrar o medo
que tinha, disse calmamente no tom mais sombrio que conseguiu:

—Acham mesmo que terão chance de combater uma atlantina? Pelo que vejo vocês estão tentando atacar de frente
usando um ser de habilidades mágicas com armas brancas. Vocês são estúpidos? Não preciso nem ao menos tirar um
dos meus cajados das costas para derrotá-los. Não tenho tempo para isto, adeus. — E decidiu seguir em frente, quando
recomeçou a caminhada os dois encapuzados se posicionaram para atacar, mas um sai surgido do nada aterrissou no
chão na frente dos encapuzados e em seguida apareceu o mercenário dono da arma branca que descia de uma das
arvores parando atrás de seu sai que se encontrava próximo aos pés dos mascarados, dando as costas a atlantina que
ainda se esforçava para não demonstrar medo. O mercenário também encapuzado com um olhar frio e olhos negros,
olha em direção dos dois encapuzados, retira o sai do chão sem desviar o olhar para os possíveis inimigos a frente e diz
em alto tom sem desviar o olhar:

—Você é uma maga, provavelmente poderosa por conseguir utilizar três cajados ao mesmo tempo, mas os inimigos
estão em maior numero, posso te ajudar caso me pague por isto.

A maga que estava às costas do mercenário dizia não ter dinheiro, mas aproveitou a brecha para tirar de seu bolso um
frasco pequeno com areia vermelha sem que todos ali percebessem e a atirou no chão, criando uma espécie de poeira
vermelha que se espalhava envolta dela quando ela dizia em tom autoritário:
—Dou um ultimo aviso! Se não saírem do meu caminho eu mostrarei o real poder de uma atlantina! Sei que três
pessoas me seguiram até aqui e a terceira não era este mercenário, então se juntem ao seu parceiro que está escondido
e deem o fora de minha visão!

Os dois deram um passo para traz com certo receio, ficaram impressionados por ela produzir a poeira vermelha sem
uso de cajado. Um mago usar magia sem auxilio de algum item mágico era algo de um mago de nível extraordinário. O
mercenário no momento que viu a poeira vermelha que vinha por suas costas que passava de onde ele estava parado,
percebeu o truque e o delatou:

—Isto não é magia, isto é areia vermelha do deserto dos orcs! Porque uma maga usaria de truques para um combate
quando poderia usar magia?

Os dois encapuzados agora riam, dizendo ridículo existir uma atlantina que precisava de truques, souberam no
momento que ela não sabia usar magia, que os cajados nas costas eram apenas para assustar quem tivesse intenção de
atacá-la.

Atlantinos não eram uma raça querida no continente, mas atacar um atlantiano que estivesse com um cajado era
estupidez sabendo o incrível nível de poder mágico que nascia na raça. Mas uma atlantina que não sabia como usar
magia era inofensiva, mesmo sendo óbvio o poder mágico descomunal que ela deveria ter, saber que ela era incapaz de
acessá-lo a tornava alvo fácil.

O mercenário a sua frente que lhe oferecera seus serviços dizendo que se ela o desse um dos cajados, ele a ajudaria.
Ela concordou e o mercenário se colocou em posição de ataque enquanto os dois mascarados se posicionaram para o
ataque igualmente, um deles atacou o mercenário e o outro caminhou lentamente na direção da atlantina, esta que por
sua vez se desesperou, deu um grito e posicionou suas mãos para frente instintivamente, o medo que sentia era
tamanho que fez com que usasse magia para teletransportar um dos cajados de suas costas para sua mão, com a ponta
do cajado brilhando indicando uma magia a ser disparada.

No mesmo instante, o mercenário e o encapuzado que o enfrentava param de lutar e a encaram, o outro encapuzado
que anteriormente estava andando lentamente ficou parado. Todos olham para a atlantina que estava assustada com o
próprio feito.

A atlantina se surpreendeu quando o mercenário disse aos ventos:

—É o suficiente para você Bode?

O terceiro encapuzado aparece instantaneamente entre todos, usava trapos que se podia dizer um dia ter sido uma
capa que cobria menos o corpo que os outros dois, mas não usava um capuz na cabeça, mas sim um chapéu de bruxo.
Parte de um pano que fazia parte da capa tampava a parte inferior do rosto e um de seus olhos, sendo possível apenas
ver um olho do mago, parte da barriga e as duas pernas que não estavam cobertas pela capa.

—Sim. Isto foi o suficiente.

A atlantina que ainda segurava o cajado com as duas mãos não entendia o que estava acontecendo, entendeu
menos ainda quando o mercenário que tinha a ajudado chegou próximo ao bruxo e estendeu a mão como se esperasse
receber algo e o bruxo colocou uma quantia generosa de moedas de ouro na mão do mercenário.

O mercenário sem se explicar se dirigiu em direção a atlantiana e disse com total indiferença:

—Fiz o combinado, agora me entregue um de seus cajados.

A atlantiana que não ousaria descumprir um acordo com um mercenário perguntou pelo que o bruxo teria o pago,
o mercenário ainda indiferente disse que recebeu para protegê-la tomando o tempo de um dos dois mascarados. A
atlantina agora furiosa por dentro percebeu que ofereceu seu cajado por nada.

Os mascarados que ali estavam já haviam desaparecido, no instante seguinte o mercenário também desapareceu,
deixando apenas o bruxo e a atlantina sozinhos na floresta.

—O mercenário deve ter sido surpreendido por ter sido quase roubado por quem era pago para vigiar e proteger.
Acredito que tenha pegado seu cajado por este motivo, ou só tenha achado que seria uma maneira de lucrar mais.
O bruxo mascarado lhe entregou seu cajado, que era muito superior ao que havia dado ao mercenário. A atlantina
ficou satisfeita com isto, mas ao pegar o cajado, o mesmo se transformou no cajado que havia dado ao mercenário. Ela
ficou decepcionada, percebendo que o cajado poderoso provavelmente havia sido dado ao mercenário em troca de ela
ter o dela novamente.

—Para aonde está se dirigindo, jovem atlantina? A direção que está caminhando só dará rumo ao cemitério de
orcs, e em seguida caso não se perca no deserto vermelho, talvez encontre Malkalif. Não gostaria de estar em um
cemitério de orcs e nem mesmo em Malkalif sem saber utilizar magia direito, mesmo que você tenha naturalmente um
poder mágico de nível acima do nível comum de um atlantino.

A atlantina ficou confusa e perguntou de imediato por que ele tinha certeza de que o poder dela era tão grande
mesmo sabendo que ela não sabia usar a magia que tinha, pois até onde ela sabia, existiam atlantinos que nasciam com
baixo poder magico, mesmo o poder magico sendo poderoso contra um guerreiro sem magia, não seria eficiente contra
mais de dois inimigos. Se nem mesmo ela sabia o tamanho de seu poder, como outro poderia saber?

Mesmo sabendo que era perigoso, agora que sabia que a cidade era real e acreditava que deveria ir a Malkalif. Dizia
ela que já realizou tal feito mais de uma vez, pelo motivo dos inimigos desconhecerem seu nível de poder, os orcs
dificilmente a incomodavam, e quando acontecia ela conseguia enganá-los para fugir, o que não era uma tarefa de
grande desafio para ela. O único perigo real era os animais selvagens, mas ela dizia não ser nada tão preocupante para
ela.

—A minha única esperança é ir para a toca dos mercenários em Malkalif e conseguir um trabalho com menor risco
possível. Mesmo que muitos mercenários não gostem de atlantinos, os mais fracos têm medo de me atacar por medo
de meu poder e os mais fortes não me atacariam se não fossem pagos por isto.

Bode a encarando com seu único olho a vista de coloração amarelada que agora adquiria uma coloração roxa disse em
tom bruto:

—Se realmente tivesse entrado em Malkalif eu saberia e você não estaria viva. Mesmo que por milagre você consiga
atravessar o cemitério de orcs e encontre Malkalif escondida no deserto vermelho você vai morrer se entrar na mais
tranqüila missão de um mercenário. Mesmo que chegue a Malkalif, entrar na toca de mercenários e aceitar uma missão
seria como declarar sua sentença de morte. Não irei te impedir e nem irei te proteger, mas se vier comigo te ensinarei
como controlar seus dons.

—Não sei se faria alguma diferença eu morrer em uma missão, não tenho muito a perder, e está perdendo seu
tempo acreditando que tenho uma quantia alta de poder mágico.

—Você nasceu em Atlantida, mas não viveu lá e nunca conheceu outro semelhante e por isto não sabe nada de sua
espécie, mas o aro negro que existe desenhado em volta de sua pupila não é característica comum de um atlantino, é
algo raro. Este aro em seus olhos é algo que simboliza poder muito alem do comum de um atlantino, o que prova isto foi
seu medo que fez o cajado de suas costas aparecer em suas mãos sem você nem mesmo saber como fez. Um atlantino
comum só faria tal feito com certa experiência e treino, e posso lhe assegurar que não foi pura sorte. Sorte não existe
para este tipo de ocasião.

O bruxo estendeu a mão e um cajado diferente do anterior que usava apareceu em sua mão, disse a atlentina de
cabelo loiro esbranquiçado que ela possuía um poder muito maior que o dele e ele a ensinaria a usar caso assim ela
quisésse.

—Porque quer me ajudar? O que ganha com isto?

—Estamos entrando em tempos difíceis, mesmo que lute apenas por si mesma, será lucrativo para todos ter uma
maga poderosa no continente.

—Ou um litch, tão poderosa quanto você! —Dizia a atlantina com um sorriso maldoso no rosto.

—Se vai usar magias poderosas para o bem comum, usar a magia para propósitos ruins e egoístas ou continuar
com truques de falsa magia é você quem vai decidir. Não sou eu quem pode decidir por você. Posso te encaminhar para
a casa de magos em Galastiniza para você iniciar seu aprendizado e caso aceite, irei deixá-la nas mãos competentes do
mago Gillerard que te ensinará com mais eficiência o básico de inicio enquanto resolvo outros assuntos, voltarei a seu
encontro dentro de alguns dias, tempo que será suficiente para aprender o básico do que necessita saber, te ensinarei o
mais básico no caminho para Galastiniza e Gillerard vai aperfeiçoar o que te passarei.

A atlantina agora empolgada com o que ouviu decidiu aceitar a proposta e partiu de imediato com o bruxo para
Galastina, em objetivo de descobrir mais sobre seus poderes mágicos para usá-los para seu único e exclusivo beneficio.

Relato 03

Mestra de espadas

Quatro dias se passaram e o miriniano já havia ingressado na casa de espadachins. Surpreendeu-se em descobrir que
apesar do nome, ali era o ponto de inicio para qualquer guerreiro de arma branca de ataque bruto, não só de
espadachins.

Chegou a Griliezi no mesmo dia em que saiu de Aialahay, atravessou o reino e se dirigiu a Iriolia junto de Lakos e
Lanna. Chegaram ao reino de Iriolia no inicio da noite e se dirigiram a casa de espadachins, onde o miriniano foi
apresentado a Kaila Khalifa, quem inicialmente lhe ensinaria o básico para se tornar um bom espadachim.

O pretendente a espadachim observou Kaila conversar com Lanna, que após entregar algumas das espadas recém
forjadas lhe contou sobre a tragédia da ilha de Mirinia e que espalhar a noticia as outras guildas, aos reis dos outros
reinos e conseqüentemente aos sete sábios. Observou Kaila conversar com Lakos sobre o tempo que ambos treinavam
com Jaunmir Lazort, enquanto ela flertava abertamente com Lakos, ignorando momentaneamente os presentes na
guilda. Após isto o magro jovem de cabelos bagunçados cor de fogo foi guiado para fora da casa de espadachins por
Lanna que parecia enojada com a cena em questão. Lanna acompanhou o miriniano para uma pousada onde ele
passaria a noite para descansar. Lanna pagou sua estadia para cinco dias com direito a refeição e disse que dali em
diante deixava a situação nas mãos dele, pois ela junto de Lakos Gakalius iria regressar ao castelo para passar a noticia
para o rei de Iroilia, já que no dia seguinte ela deveria entregar as outras espadas que Jaunmir havia lhe entregado aos
respectivos donos ela não poderia perder muito tempo.

No segundo dia o miriniano foi pouco após o nascer do sol para a guilda para iniciar o treinamento. Ao sair da
pousada onde estava hospedado, se deparou com Kaila com um saco com frutas frescas indo em direção a guilda,
trajando um vestuário que parecia na visão do miriniano, roupas masculinas. Uma camisa branca quase transparente,
de manga longa e pano fino, calças largas e pés descalços. Era possível quase ver o corpo nu de Kaila por baixo da
camisa.

Ao olhá-la trajada de tal maneira, alem de se encantar com sua beleza, percebeu que a guerreira de armadura
reluzente da noite anterior também era apenas uma nimikhin, mesmo que um nimikhin muito poderosa.

Ao encará-la, o miriniano sorriu e acenou, mas Kaila com a cara sonolenta lhe lançou um olhar de desprezo, quase
tão frio e cruel quanto o da tal princesa que havia avistado no dia enterior. O miriniano que estava empolgado e um
pouco sonolento, no momento pensou que mesmo humalistin sendo uma raça de nimikhin assim como um miriniano ou
um atlantino, eles pareciam ser um pouco mais hostis do que as outras raças. Ou talvez seja o tratamento comum pela
manhã dos habitantes do continente.

Ele esperou alguns segundos antes de segui-la para dentro da guilda, que de manhã aparentava um pouco menos
bonita. Ao entrar, Kaila percebeu sua presença, lhe encarou com desprezo e perguntou o que ele queria, então ele
acanhado ao mesmo tempo que empolgado disse a ela que na noite anterior tinha vindo junto de Lanna e Lakos e que
queria entrar para a guilda de espadachins. Disse que era inexperiente e primeiramente procurava treinamento.

Ao ouvir os nomes Lanna e Lakos a expressão de desprezo no rosto de Kaila foi trocada por uma expressão de
espanto, mesmo ainda deixando transparecer a indiferença no rosto, e assim que o miriniano magrelo parou de falar,
Kaila o avaliou de cima a baixo com os olhos e disse:
—Agora me lembro da Lany ter dito que foi salva por um miriniano inexperiente que mostrou um talento promissor.
Lembro de ela ter pedido para treiná-lo também. Mas quando ela disse, eu esperava um miriniano de classe superior,
não esperava por um expurgo.

O miriniano então entendeu que ela o olhou com desprezo ao ter acenado para ela anteriormente por que nem o
notou na noite anterior. Provavelmente nem o considerou como um ser existente apenas pelo fato de seu corpo
denunciar que ele era um miriniano de classe inferior. Mas agora o olhar dela para ele ganhava brilho, um sorriso
malicioso surgiu no rosto dela e ela disse com total satisfação:

—Então você é um miriniano de classe baixa que tem talento para batalha. —O sorriso malicioso no rosto de Kaila
aumentou. —Você deve ser o único miriniano de classe baixa em toda a existência que demonstra talento em batalha.
Geralmente expurgos costumam ser atrapalhados e incompetentes, mas parece que você é diferente dos demais. Você
é único, acredito que você vai conseguir me entreter um pouco. É bom ter carne nova para saborear.

Depois disto ela pediu para que ele esperarasse, saiu de cena e alguns minutos e depois retornou com uma espada
de madeira.

No meio tempo em que ela ficou fora o miriniano olhou mais ao redor e viu que a ala de entrada da guilda aonde ele
se encontrava era bem grande. Havia um grande quadro de avisos na parede a sua direita, parede onde os guerreiros
escolham a missão que iria fazer.Espalhados pelo salão havia mesas e ao lado esquerdo do salão havia um balcão, pois o
local em questão além de guilda era também um bar. Mas o que realmente lhe surpreendeu o jovem de cabelos
vermelhos foi ver uma orc atrás do balcão passando um pano em alguns copos para enxugá-los. Ele nunca havia visto
um orc antes, mas já avia escutado sobre tais seres. Pelo que ele sabia, orcs eram ditos como criaturas burras,
agressivas e não sociável com outra raça. Ela era parecida com o que haviam descrito para ele, não era tão diferente do
que ele havia imaginado da aparência de um orc. Pele azulada,alta, mas não tão alta quanto o elfo negro que havia visto
no dia anterior. Era larga, tinha duas prezas inferiores expostas para fora da boca, chegando a altura do nariz. Olhos
vermelhos, narinas enormes e seus cabelos negros sebosos que se iniciavam no meio de sua cabeça.

Distraiu-se e não percebeu quando Kaila retornou, mas a voz de Kaila o trouxe de volta ao mundo. Ela lhe deu a
espada de madeira, afastou algumas cadeiras para abrir espaço e disse ao miriniano que só o treinaria se ele
conseguisse tocá-la com a espada.

Ela parecia particularmente interessada no miriniano, pois como ele tinha corpo esguio como o de uma miriniana de
classe superior, acreditou na possibilidade de ele ser rápido como uma miriniana ao invés de ter grande força bruta
como um miriniano de classe superior. Mirinianos de classe superior eram velozes, mas mirinianas costumavam ter
ainda mais velocidade, mesmo que por pouca diferença, compensando a ausência de força bruta com velocidade.

Ao pegar a espada de madeira, seus olhos de cor verde água havistaram um miriniano de classe superior saindo pela
mesma porta que Kaila havia entrado para buscar a arma de madeira. Mas ao que tudo indicava, ele estava ali apenas
para observar um miriniano de classe inferior tentar encostar a espada em Kaila. Tentar e falhar.

Ao ver o olhar de deboche no rosto do bruto miriniano de classe superior, olhar no qual já tinha visto no rosto de
nimikins demais deis de que chegou ao continente, começou a ficar irritado. O jovem esguio de cabelos vermelhos se
sentiu mais motivado a conseguir o objetivo.

Assim ele foi afoito para cima de Kaila Khalifa, mas sem pensar para atacar ela se desviava dos ataques sem esforço
algum, como se fosse algo entediante de se fazer. Em poucos minutos os ataques dele melhoraram, chegando cada vez
mais perto de acertá-la. Ele tentou atacá-la de qualquer maneira, até que em um repentino momento ele pareceu
desistir e parou de atacar.

O miriniano que o observava sorriu e manteve o mesmo desdenho que muitos já tiveram ao olhar para o miriniano
magrelo.

Kaila pareceu se decepcionar e o olhou com o mesmo maldito desprezo e perguntou se só com aquilo ele já havia
desistido. O magro ruivo disse que não foi desistência que lhe fez parar de atacar, mas sim uma reflexão. Explicou que
percebeu que ou estava pensando muito para atacar ou estava atacando sem pensar, e assim nunca conseguiria acertá-
la. Kaila baixou a guarda, se proximou calmamente do miriniano sem perder o olhar de desprezo que havia retornado ao
seu rosto.

—Se você parar para refletir no meio de uma batalha morrerá antes mesmo de começar a agir.
Enquanto Kaila dizia isto o miriniano com calma e pacientemente apenas esticou seu braço com a espada de
madeira encostando-a na barriga de Kaila. Kaila por sua vez paralisou, o miriniano bruto que observava se espantou e a
orc que estava atrás do balcão observando soltou um urro de pavor, deixando cair um copo de vidro que estilhaçou no
chão. O miriniano magrelo calmamente disse em resposta para Kaila que se em uma batalha ela abaixasse a guarda
como tinha feito naquele momento, seria morta antes de agir.

—Mas sei que você no fim, você já havia encerrado minha chance de acertá-la e por isto consegui encostar a espada.
Sei que você deixou, mas te peço mais uma chance de tentar acertá-la com esta espada de madeira.

A atenção de todos se voltava ao magro ruivo com os olhos verde-água que agora parecia ter ganhado um brilho a
mais. Todos estavam surpresos, mas a expressão no rosto de Kaila Khalifa se transformou em um sorriso sádico, se
deliciando com o momento enquanto dizia “Me mostra do que é capaz!”

O Miriniano atacava com ataques em diagonal e estocadas, Kaila desviava com facilidade e não tirava o sorriso
malicioso e obsceno do rosto, até o momento em que ele fez um ataque em diagonal assim como tantos outros
anteriores, o que fez Kaila se esquivar para traz como havia feito algumas vezes, entretamto ele soltou a espada ao fazer
o movimento, fazendo assim a espada alcançar um espaço maior e quase acertar a barriga de Kaila, que deu um
pequeno pulo para traz. Assim que ocorreu o pequeno e desajeitado salto, o ruivo jogou seu corpo para frente para
alcançar o cabo da espada de madeira no ar e dar uma estocada no meio do abdômen de Kaila que não teve tempo para
se esquivar. Com este movimento o miriniano perdeu o equilíbrio e caiu como uma tábua no chão, mas conseguindo
finalizar o ataque como desejou.

O miriniano antes visto como apenas mais um “expurgo” estava com o rosto no chão, com um braço esticado para
frente segurando uma espada de madeira que encostava na barriga de Kaila Khalifa. Enquanto Kaila tremia paralisada
com uma expressão que misturava surpresa e prazer em seu rosto, ouvia-se uma voz vinda do chão que dizia “eu venci”.

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Assim como Kaila que sorria sadicamente, os que observavam ficaram impressionados. Kaila olhou para o miriniano
ainda no chão com o braço estendendo a espada em direção a sua barriga e sem tirar o sorriso de satisfação do rosto
desviou seu olhar para o outro miriniano que estava de olhos arregalados e com expressão de espanto.

—É a segunda vez que ele utiliza uma espada na vida e chegou mais longe que você. Conseguiu um feito que nem
você e nem qualquer outro iniciante havia alcançado. Quem você diria que é o miriniano de classe baixa agora Khenil?

Khenil Kairohzi tinha aparência de um miriniano de classe superior, tendo uma estrutura corporal larga, com
músculos definidos que lhe dava uma aparência ainda mais poderosa e sua cabeça um pouco achatada com cabelos
ruivos totalmente bagunçados de forma desleixada. Khenil era o instrutor de batalhas com lança há dois anos, tendo
deixado mirinia a quatro, tendo assim muitos hábitos e costumes vindos de Mirinia. O mesmo há três anos desafiou
Kaila para uma luta com espadas, Kaila o entregou a mesma espada de madeira que o miriniano que estava no chão
ainda segurava e Khenil não conseguiu atingi-la. Khenil por ser experiente em batalha se frustrou e a desafiou com uma
lança, Kaila assim como na batalha com espada o enfrentou desarmada e Khinil novamente não conseguiu acertá-la.
Kaila em momento algum atacou em ambas as lutas, apenas desviou até Khenil se cansar e desistir.

Após a provocação de Kaila, Khenil se enfureceu e já espumando de raiva pegou uma das lanças penduradas na
parede e foi em direção ao ruivo que ainda se encontrava estirado ao chão segurando a espada de madeira ainda
encostada no abdômen de Kaila. Ao perceber a intenção de Khenil, Kaila pegou a espada de madeira, retirando-a da
mão esticada na diagonal de um ser ao chão, se posicionou na frente do mesmo e disse com uma expressão de desejo
no rosto:

—Este aqui já é meu.

Khenil possesso de raiva começa a aumentar o tom de sua voz dizendo que queria provar que o expurgo ao chão não
era um inimigo a sua altura, que Kaila amoleceu com o tempo e para o magrelo provar o valor deveria enfrentar um
guerreiro de verdade. Se o jovem ao chão fosse capaz de encostar a espada de madeira em um guerreiro de verdadeiro
valor ao invés de sair chorando após tentar e fracassar, isto provaria que ele tem algum valor.
Enquanto Khenil se exaltando dizia coisas irrelevantes comparando o poder de um miriniano guerreiro como ele,
com o nível de poder de um miriniano expurgo, o miriniano ao chão se levantou calmamente, pegou a espada de
madeira das mãos de Kaila e encostou a ponta da espada de madeira que era usada em treinos no abdômen de um
miriniano raivoso que não parava de falar coisas aos ventos. Khenil ao sentir a espada de madeira recuperou a
sanidade. Calou-se instantaneamente e fixou seu olhar em um ser magro de rosto fino que sorria desanimadamente.

—Venci você também. Agora sou bom o suficiente para iniciar meu treinamento com vocês?

Kaila por um breve momento tremeu por dentro esperando que Khenil perdesse a calma e se atirasse para cima do
jovem inexperiente que não teria chance alguma de sobreviver caso isto ocorresse, mas Khenil nada fez.

Por mais que não aparentasse, Khenil era extremamente habilidoso, um guerreiro de talento desigual usando uma
lança.

Mesmo que anteriormente tenha sido apenas um miriniano bruto e impulsivo, o tempo que passou fora de Mirinia o
fez aprender a controlar melhor seus impulsos, mesmo que não por completo. Em batalha Khenil não utilizava apenas
de sua lança, sempre se aproveitava de brechas para ataques corpo-a-corpo para sentir a satisfação de agredir o
oponente com suas próprias mãos. Mesmo que fora de batalha ele mostrasse um regular raciocínio analítico, Khenil
usava apenas seu instinto para lutar, sem ao menos pensar uma única vez para fazer o movimento que seja.

Khenil Kairohzi percebeu que o jovem era buscava ser um estrategista em batalha, que tentava calcular
possibilidades rapidamente para dar apenas ataques necessários. Mesmo com todo este talento era inexperiente e
precisava ser lapidado, a prova disto foi a queda no seu ultimo movimento contra Kaila.

O jovem esguio aproveitou que Kaila lhe julgou como inferior e tirou proveito da situação para traçar uma estratégia
que mesmo pouco elaborada, seria inesperada de um miriniano de classe inferior. Aproveitou a guarda baixa de Khenil
para encostar a espada no mesmo. Tais ações não seriam esperadas de um guerreiro inexperiente, menos ainda de um
expurgo, por isto se aproveitou da falta de fé de seus adversários em suas habilidades.

Ao que tudo indicava a Khenil, o jovem miriniano sabia calcular para prever os ataques do adversário, mas não
conseguia calcular ou prever as próprias limitações e probabilidade de falhas. Para Khenil que sempre lutou sendo
guiado por instinto, lutar pensando em estratégias na velocidade que o novo pupilo de Kaila fez era algo impensável.

Khenil simplesmente se retirou do local, voltando para a mesma porta de onde veio. Era fato que o expurgo tinha
talento, mas admitir que um miriniano de classe baixa pudesse se igualar a um de classe superior era algo que o orgulho
de Khenil não iria admitir de maneira alguma.

Kaila disse que o treinaria, mas iniciaria o treino dele no dia seguinte, pois tinha alguns afazeres no dia e depois
tentaria tirar o resto do dia para não fazer mais nada. Talvez pensar em como iniciar o treinamento de um sardento
magrelo no dia seguinte pela manhã. Por hoje se ele quisesse ganhar um dinheiro a mais ele poderia trabalhar de
garçom por aquele dia, assim aproveitando e conhecendo mais sobre como funciona a guilda. Ou ele poderia explorar a
cidade, conhecer o novo lugar, pois tudo era bem diferente de Mirinia.

O miriniano magro olhou fixamente para o lado com seus olhos verde-água e pensou que o melhor a fazer era
explorar a cidade, pois achou melhor guardar suas forças para o dia seguinte ao invés de trabalhar.

Assim que o novo aspirante a espadachim se retirou, Khenil voltou e se aproximou de Kaila, cruzou seus braços e
disse com um ar reflexivo:

—O magricela estava analisando cada movimento que você fazia para se esquivar Kaila, criou uma seqüência com seis
golpes e repetitivos, os mesmos seis golpes várias vezes seguidas, até você perceber o padrão de ataques e ficar
repetindo automaticamente a mesma seqüência de movimentos para desviar dos ataques. Quando você começou a se
viciar na esquiva e começou a deixar a espada de madeira chegar cada vez mais perto de seu corpo esperando ele
mudar do nada um dos movimentos da seqüência, ele não mudou o ângulo do golpe, mas o fato de ter soltando a
espada para que a mesma alcançasse um espaço maior de surpreendeu, você conseguiu afastar o suficiente para evitar
a espada, mas ficou desequilibrada e foi o tempo para ele jogar o corpo para frente te dando a estocada fatal. Mesmo
que ele tenha ido ao chão para alcançar a espada, é inegável que ele lhe deu o golpe de misericórdia utilizando de uma
estratégia que mesmo sendo medíocre, foi funcional.
Kaila ainda sorrindo disse que o seu novo aluno não tinha a força de um miriniano, infelizmente não tinha uma
velocidade grande como ela pensou. A velocidade dele era no nível de um humalistin inexperiente, talvez pouca coisa
maior. Mas ele soube usar sua pouca força e agilidade com estratégia durante a luta. Com o tempo ele se tornará mais
rápido e mais forte com o treino. Se ele continuar ainda com estratégias ele se tornaria um guerreiro excepcional.

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No segundo dia, um miriniano magro e sonolento sem nenhuma pressa se encontrava saindo de uma hospedaria,
enquanto uma humalistin animada, radiando energia, se encontrava na porta da guilda de guerreiros, chamada de “casa
de espadachins”. A humalinstin em questão estava acenando alegremente para seu mais novo aluno que a encarava
com uma evidente hesitação.

Assim que entrou na guilda junto de sua nova mestra, os olhos de cor verde água de um ruivo se deparou com uma
cena incomum. Talvez a coisa mais incomum que havia presenciado em sua surpreendente vida: um miriniano de classe
superior, sem camisa, sentado em uma pequena mesa redonda, dialogando com uma orc sorridente.

Kaila e seu aluno se aproximaram do casal incomum, mas o esguio garoto hesitou em se sentar junto deles, ao
conttrario de sua mestra que se sentou muito a vontade.

—Edna, acho que o nosso novo companheiro ainda não se acostumou com sua presença — Dizia Khenil com um
sorriso simpático no rosto. Logo olhou para o franzino garoto ainda em pé —A ultima vez que te vi, não queria levantar
do chão. Agora hesitar em se sentar? Você com toda certeza é um miriniano incomum. Não ouso dizer que é um
miriniano de classe superior, mas com certeza de classe inferior você não é.

Edna sorrindo pacientemente disse em um tom amável:

—Não tenha medo de mim só porque sou uma orc. Jovem espadachim, não irei te devorar! — Edna abriu um
sorriso maior e completou —A não ser que você queira.

Após hesitar, com um pouco de cautela um ruivo medroso se sentou a mesa. Após um momento curto de silencio
que pareceu eterno para o aprendiz de espadachim, enquanto Khenil continuava sua conversa com Edna, uma segunda
orc entrou no salão com uma bandeja com uma bandeja que continha quatro canecas com leite de Succaibio em
temperatura quente. Serviu uma caneca para cada um dos quatro sentados a mesa. Khenil sorrindo cumprimentou a
garçonete, Kaila fez um aceno indiferente com uma das mãos para cumprimentá-la enquanto paralisava seu olhar no
leite quente servido a sua frente. Edna sorriu orgulhosa de sua filha enquanto a criatura magra sentada na mesa
arregalava os olhos para observar a orc mais incomum que já havia visto. Mesmo se levar em consideração que era a
segunda orc que havia visto na vida.

—Ela é minha filha, o pai era um nimikhin, um humalistin para ser mais exata — Edna dizia orgulhosa ao olhar o
olhar enigmático no rosto de um miriniano esguio —por isto o corpo se parece com o de um nimikhin, mesmo sendo
uma orc. Ao menos herdou características da mamãe.

Edilia tinha um corpo mais definido e belo do que o de muita miriniana na opinião do ruivo impressionado, que não
parava de pensar que mesmo com a pele azul escura e as prezas dos dentes de baixo saltando para fora, nunca
imaginou viver para presenciar tal mistura de raças.

Edilia estava voltando pela mesma porta de onde saiu, no momento que entrava mais alguns nimikhins na guilda,
dois foram ao quadro de avisos para olhar os pedidos de trabalho, três se sentaram em uma das cadeiras, e um foi ao
balcão, chamando por Edilia para pedir algo.

Alheio ao movimento, o grupo de Kaila se encontrava conversando sobre assuntos aleatórios, enquanto um
miriniano de olhar perdido tentava acompanhar a conversa sem entender muita coisa.

—O que Lanna veio conversar ontem com você Kaila? Ela não me pareceu estar com o animo de sempre quando vem
fazer vizita. —Perguntava a curiosa orc tomando seu leite e apreciando o sabor agridoce.
—Ela veio entregar as encomendas de Jaunmir e trouxe algumas noticias trágicas também. Até o momento, Keizer e
Balthor continuam desaparecidos, não que isto seja algo surpreendente. Os dois vivem desaparecendo, cedo ou tarde
reaparecem como se nada tivesse acontecido como fazem sempre.

Edna e Khenil deram uma risadinha de deboche enquanto um esguio jovem alheio a tudo encarava um leite espesso
com uma coloração que parecia começar migrar do branco para o cinza claro, leite que borbulhava em uma caneca de
porcelana, material até então desconhecido por ele.

Edna após quase se engasgar com o excêntrico leite, diz que se surpreendeu quando ficou sabendo que Keizer iria se
tornar imperador. —No final, Keizer nunca foi uma pessoa de dar ou seguir ordens, mas sempre foi um formidável
cavaleiro e o mais fiel ao antigo imperador. Casou-se com Karmélia mais por que Azeus pediu do que por amor. Talvez
Keizer enxergasse Karmélia mais com admiração por ser filha do imperador Azeus do que com desejo. Com toda certeza
existia amor entre os dois, mas se existia paixão, era apenas por parte de Karmélia.

Kaila e Khenil olhavam para Edna com uma expressão cômica e indiferente de tédio, pois já ouviram ela reclamar do
desleixo de Keizer como imperador muitas vezes, depois ela sempre começava a contar da fidelidade dele com Azeus e
sobre o relacionamento de Keizer com Karmélia. Geralmente ela após isto contava que se lembrava de quando cuidava
de Keizer, Khanz e Balthor na infância, tepois contava de uma travessa menina que vivia atrás dos três, a já falecida Elen.

—Eu me lembro quando ele vivia aprontando junto com o Balt— Mas Edna é cortada por um grito eufórico de um
sardento guerreiro —INCRIVEL!!!!!!

Kaila, Edna e Khenil se surpreenderam com um miriniano que havia sido esquecido a algum tempo.

—ESTE LEITE TEM UM GOSTO INCRIVEL! QUE SABOR DELICIOSO!

—E o jeito que desce pela garganta é ótimo também. Era a bebida preferida dos netos do Balthor de acordo com
ele. Pelo que ele vivia dizendo, os dois juntos com o assistente do Pierre bebiam este leite sempre que tinham chance.

Com a fala de Khenil, tanto Kaila que parecia desinteressada com a vida mexendo em seus cabelos lisos que
inexplicavelmente ficavam sempre armados como se ela tivesse tomado um choque, quanto o empolgado magricela
que parecia ter descobrindo a coisa mais impressionante do mundo, foram puxados novamente para a realidade. Kaila
ainda recuperando seu foco a realidade, se lembra do que estava dizendo anteriormente e retorna do mesmo ponto
que parou.

—Antes que eu me esqueça, Lanna disse que mais uma das ilhas afundou. Pediu para eu repassar a noticia para o
Gui o quanto antes.Gui vai repassar a noticia para o Pierre e o Pierre repassa para o Tyroni. Pelo que parece a ilha que
afundou desta vez foi Mirinia.

—NÃO ACREDITO! —Neste momento Khenil fala alto se levantando com tudo com as mãos sobre a mesa enquanto
fala. Edna fica um pouco abalada pela noticia e Kaila já tendo ouvido a noticia tempo o suficiente para se acostumar
com o ocorrido, se mostra indiferente. Todos olham lentamente para o gesto de Khenil, parecendo que todos ali
olhavam sem dar muita importância para o gesto exagerado do bruto miriniano, pois cada um estava ocupado com o
próprio sentimento de auto piedade. Então Khenil que estava em pé, com as duas mãos apoiadas fortemente sobre a
mesa e com suor visivelmente escorrendo pelo rosto, depois de uma pausa dramática recomeçou a falar em tom alto
quase gritando — A LANNA ESTEVE AQUI E NENHUM DE VOCÊS AVISA?

Todos com exceção do jovem de corpo esguio parecem entender a reação de Khenil que parece borbulhar em um
misto de raiva, desespero e frustração.

—E SE EU TIVÉSSE ME ENCONTRADO COM ELA? E SE EU TIVÉSSE DESPREPARADO?

—Você já estava dormindo, fora que ninguém aqui é seu mensageiro particular. Ela não pareceu nem mesmo
lembrar que você existe. Você sempre a desafia para algum tipo de competição e até onde sei você nunca venceu.
Provavelmente nem te enxerga como um rival.

—ELA É MINHA ARC-RIVAL! EU NÃO PÓSSO VIVER EM PAZ SEM PROVAR QUE SOU MELHOR QUE ELA!!

—Nem ela e nem ninguém se importa. Você deveria estar triste em pensar que sua terra natal foi engolida pelo
mar.
—FICAR TRISTE POR QUE MIRINIA AFUNDOU? NÃO SEJA ESTUPIDA! DEMONSTRAR FRAQUEZA POR CAUSA DISTO
SERIA DESONRAR QUEM PERDEU A VIDA LÁ! — E Khenil pareceu acalmar um pouco da euforia e recomeçou a falar,
entretanto mais calmo — Todos eram grandiosos, quase como eu sou, então serei forte por todos. Foi só isto que Lanna
disse?

Edna não ousava entrar no meio da conversa, apenas observava olhando a cada momento para o rosto de um dos
que estavam sentados em sua companhia.

—Ela também disse que alguém enviou alguns nimikins para tentar roubar a excalibur que estava sendo levada para
Jaunmir pelo Klay. Alice obviamente o acompanhava. Pelo que foi informado por ela, este miriniano magro que está
presente entre nós salvou ela, Alice, Klay e Lakos sozinho lutando contra os três assaltantes. Lakos que estava junto de
Alice não confirmou a história, mas o fato de ele ter ficado quieto deu a entender ser verdade. Embora eu acredite que
ela tenha aumentado a história, é fato que pelo que tudo indica, foi a primeira batalha do nosso novo companheiro e
ele se saiu bem. Lanna pediu para treiná-lo como agradecimento por ele ter salvado-a. Só não entendi o que eu tenho a
ver com ela ser salva, mas como ele conseguiu me despertar interesse em treiná-lo, assim eu farei.

Após um pequeno momento de silencio na mesa, Kalia olha para um garoto magro sentado ao lado e arregala os
olhos com uma expressão de quem acaba de descobrir algo espantoso:

—Eu deveria estar te treinando neste momento! Eu me distrai completamente e acabei esquecendo, mas eu já
preparei uma sala no terceiro andar para o treinamento. Foi mais fácil organizar um cômodo vazio lá.

Edna e Khenil se olharam com uma expressão de desgosto enquanto Edna dizia com voz sarcástica de falsa animação:

—Que coencidencia!Mesmo o quinto andar estando com todo equipamento para treino você decidiu esvaziar um
cômodo do terceiro andar para treinar, andar onde coincidentemente fica seu quarto!

Khenil no mesmo tom de deboche disse mantendo uma expressão de falsa surpresa no rosto:

—Isto explica você ter tirado toda a tralha que estava no cômodo de frente com seu quarto e levando para um
cômodo vazio do quinto andar.

—Então foi este o motivo da barulheira na madrugada Khenil?

—Kaila é uma mestra dedicada Edna, nem ao menos dormiu de ontem para hoje para preparar o cômodo de frente
para o quarto dela para ensinar o novo pupilo.

—Acho que ele vai aprender muita coisa hoje.

Kaila já entendendo a malicia da conversa abriu um sorriso maldoso e completou dizendo:

—Se depender de mim, hoje ele vai aprender tanta coisa que sairá mais experientes que muitos no continente.

O miriniano sem entender a maldade na conversa e abriu um sorriso e disse com muita empolgação:

—Mais experiente que muitos no continente? Sério? Apenas em um único dia isto é possível?

Kaila aumentou o sorriso maldoso enquanto dizia:

—Os meus métodos de ensino são especiais, mesmo sendo cansativo para você de inicio, rapidamente você
acompanha o ritmo.Posso te ensinar muito hoje, vai depender de você o quanto você vai aprender.

—Posso garantir que o que ela diz é verdade — Dizia Khenil com um sorriso convencido no rosto.

—Eu vou voltar para o balcão e vou ajudar a minha filha na cozinha, esta conversa comesou a me dar enjôo, bom
treinamento pra vocês dois.

Edna se levantou e se dirigiu para porta atrás do balcão, logo em seguida Kaila se levantou e levou seu novo aprendiz
para uma sala no terceiro andar que se encontrava praticamente vazia, com exceção de inúmeras espadas que se
encontravam pelo chão perto das paredes que rodeavam o ambiente.
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Ao entrarem na sala, Kaila deixou o miriniano por algum tempo sozinho na sala enquanto ela ia ao quarto a frente
para vestir algo mais apropriado para treinar seu novo aprendiz. Retornou para onde seu aprendiz magro e sardento
estava vestindo sua armadura e pediu para que seu aprendiz escolhesse uma espada para batalhar.

O miriniano escolheu uma gládio, a maior que havia ali, tinha dois gumes, cabo um pouco longo e lamina grande e
grossa.A lamina da espada, assim como a lamina de todas as outras, estava com uma espécie de gel em torno de seus
gumes, assim impedindo que a espada corte. Kaila segurava a espada de madeira em uma mão.

Posicionou-se de frente com seu aprendiz e disse seu aluno se posicionar para um combate a que a atacasse assim
que sentisse que estava pronto. O Jovem se posicionou do mesmo jeito que se posicionou com a espada de madeira,
segurando a espada com apenas uma mão. Foi para cima de Kaila com confiança, mas desferia golpes lentos, mesmo
que perigosos. Após quinze golpes realizados com a espada, ao tentar realizar o décimo sexto golpe com uma poderosa
gladius, Kaila realiza um único golpe em uma das pernas de seu aprendiz com a espada de madeira e o magro ruivo vai
ao chão.

—Sabe por que te derrubei com tanta facilidade? —Dizia Kaila com uma expressão séria no rosto, expressão que se
mantinha em seu rosto dês de o momento em que entraram no ambiente de treinamento.

—Porque você tem muito mais experiência em batalhas do que eu.

—Porque você estava segurando uma espada pesada com apenas uma mão. Você não conseguiria usar este tipo de
espada com apenas uma mão, qualquer golpe certeiro tiraria a espada de suas mãos, pois você segurando uma espada
pesada como esta com uma única mão prejudica seu desempenho, pois afeta sua precisão, força e equilíbrio. De nada
adianta um ataque forte e demorado? Abriria brechas de mais para um contra ataque.

Ele então desiste da arma que está usando e pega um florete, aponta o florete para Kaila mas desiste de usar a arma
antes de iniciar o ataque.

—A lamina é fina e leve, é bom para ataques rápidos, mas mesmo que eu ataque segurando as duas mãos não sei se
esta lamina agüenta o atrito com sua espada de madeira.

—Floretes são usados com apenas uma mão, cada tipo de espada tem a maneira certa de se usar, mesmo que existam
casos em que o espadachim desenvolva uma maneira própria para usar a espada. Mesmo se com este tipo de
treinamento você parece estar ficando ofegante, você vai ter que praticar exercícios físicos diariamente para aumentar
força, velocidade e destreza, mas vejo que você tem uma velocidade de aprendizado boa, seus golpes já estão mais
rápidos do que estavam da ultima vez que me enfrentou.

Eles batalharam por mais algum tempo e o miriniano realmente se desenvolvia rápido, mas ainda faltava muito para
chegar ao nível de Kaila.Após o miriniano estar totalmente esgotado eles encerraram o treinamento do dia.

—Isto foi apenas o inicio, amaná você vai começar o verdadeiro treinamento. Por hoje foi mais para ver seu ritmo de
evolução e para que eu soubesse como treiná-lo — Kaila encarou o miriniano e um sorriso maldoso surgiu em seu rosto
— Caso esteja muito cansado, pode descansar no meu quarto comigo hoje, mas pode ser que você acabe ainda mais
cansado.

—Eu mal me agüento em pé, se você diz que eu posso ficar ainda mais cansado e acredito que se eu me cansar mais
que isto vou acabar desmaiando... você iria me aplicar algum tipo de treinamento novo não é?

—Não deixa de ser um treinamento.

—Adoraria, mas como disse anteriormente, quem sabe amanhã.

Kaila perdeu o sorriso do rosto e falou em um tom um pouco irritado:


—Amanhã não vai ter tempo para este treinamento, se achou que o que aconteceu hoje foi cansativo, amanhã você
mal vai se agüentar em pé... —Kaila perde o autocontrole e aumentou o tom de voz mais do que desejava —... VOU
FAZER VOCÊ SOFRER COM O TREINAMENTO QUE TE DAREI, VAI CARREGAR PESOS CAMINHANDO PELA ESTRADA
INTEIRA, FAZER EXERCICIOS EXTREMAMENTE EXAUSTIVOS, VAI APRENDER A SE ESQUIVAR DESVIANDO DE MEUS
ATAQUES, ANTES QUE CONSIGA CONCLUIR SEU TREINAMENTO VAI SENTIR TANTA DOR QUE NÃO GARANTO QUE
SOBREVIVA... —Kaila então recupera a sanidade ao olhar o rosto assustado de seu pupilo a sua frente com uma
expressão, sorri e diz —... Mas ao concluir o treinamento vou te dar um presente, talvez até antes de concluir o
treinamento, só vai depender de você!

A expressão no rosto do magro miriniano foi se transformando de pavor para uma expressão de empolgação.

—Eu não me importo o quão duro ou exaustivo vai ser o treinamento, se você diz que isto vai me deixar mais forte, eu
suporto o treinamento que for. Prefiro que comesse a partir de amanhã, eu não estava tão preparado para o
treinamento como achei, mas amanhã estarei preparado.

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Ambos descerram de volta ao bar, o miriniano estava evidentemente esgotado, Kaila descia se mostrando quase
tão esgotado quanto seu aluno, o que surpreendeu Khenil que estava na mesma mesa que estava anteriormente. Um
casal que estava sentado junto de Khenil, além de Edna e Edilia que observavam de trás do balcão ficou igualmente
espantado. O jovem magro, sardento e de cabelos vermelhos saiu do bar sem dizer nada a ninguém, já Kaila se sentou à
mesa onde Khenil e um casal conversava. Logo Edna se juntou ao grupo. Todos olharam para o rosto frustrado e de
Kaila, enquanto a mesma olhava para o nada com um sorriso no rosto, mas sua expressão não parecia exatamente feliz.

Mickaila tinha cabelos negros e longos e a Iris de seus olhos tinham a cor roxa, Dailius por sua vez tinha um cabelo
loiro esbranquiçado com uma única mecha vermelha e olhos verde-esmeralda. Tanto Mickaila quanto Dailius eram
“miscigenos”, termo dado para mistura de mais de três ou mais raças. Quando um “hibrido”, nome que era dado a
alguém que vinha da mistura de duas raças, se misturava com um puro de uma terceira raça, outro hibrido ou até
mesmo com um miscigeno, dava origem a um miscigeno. Tanto miscigenos quanto híbridos eram geralmente descritos
como “mestiços” e vistos por alguns nimikhins com certo desprezo.

—Do jeito que seu aprendiz saiu, ele teve uma bela iniciação. Acredito que você tenha se dado por satisfeita
também. —Dizia Edna com tom de desaprovação.

Khenil, Dailius, Mickaila e Edna não conseguiam parar de olhar para a expressão perdida de Kaila, Khenil então não
resistiu e perguntou:

—Como ele conseguiu te deixar deste jeito?

—Ele me rejeitou.

Todos ficaram espantados, com exceção de Khenil que parecia se divertir com a noticia.

Mickaila olhou com seus olhos tristonhos para Kaila que mesmo sorrindo estava com uma expressão de derrotada.

—Não fique triste, aposto que você encontrará outra pessoa.

Dailius e Khenil entornaram suas canecas de vinho para segurar o riso e não precisarem fazer nem um comentário
piedoso.

—Outro? Você acha que um expurgo pode aparecer no meu bar, pedir para ser treinado e me rejeitar? Não importa
quanto tempo demore, aquele magrelo é meu. —Um sorriso sádico e obsceno surgia no rosto de Kaila.

—O bar é da Edna e o estabelecimento em si é do reino. Acima de tudo aqui ainda é um lugar para o inicio de novos
guerreiros, o bar serve apenas para aumentar a renda do local.
Edna nem ao menos se importava de contra-argumentar Kaila ou Khenil, pois já havia se cansado re realizar tal
feito. Mickaila então defende a mestra espadachim dizendo:

—É fácil você falar algo Khenil, não se importa em ter um par. Kaila está apaixonada e você deveria respeitar isto!

Kaila, Dailius e Khenil começaram a gargalhar alto depois do comentário de Mickaila.

Após sair da casa de espadachins, o sardento miriniano se deparou com uma nimikin totalmente coberta por panos,
deixando exposto apenas os olhos de cor azul claro, característica geralmente encontrada em elfos, ou mestiços de
elfos. Mesmo com olhos femininos, era difícil distinguir sua sexualidade por causa dos panos, até sua voz denuncia-la
quando a mesma perguntou para o empolgado miriniano:

—Aqui é a casa de espadachins?

O miriniano enérgico disse com total empolgação:

—É sim, e eu sou o espadachim mais forte que entrou neste lugar! — E saiu andando para caminhar pela cidade e
conhecer mais o lugar, mas lógo mudou de idéia e percebeu que estava cançado de mais para turismo, então retornou
para hospedagem para enfim descansar, pois amanhã teria um longo dia.

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No terceiro dia o miriniano ao entrar na guilda, viu já havia nimikhins no local e foi recepcionado por Edilia, que lhe
deu uma caneca do mesmo leite que tinha tomado no dia anterior, dizendo que Kaila já havia deixado pago para ele, foi
o momento que percebeu que não sabia como usar o dinheiro do continente e nem ao menos conhecia a moeda, pois já
sabia que não era a mesma de Mirinia. Após tomar seu leite, foi conduzido por Edilia até o cômodo que ficava na fren
quarto de Kaila, onde Kaila já o aguardava. Kaila desta vez não parecia tão amistosa quanto no dia anterior, fez o
miriniano fazer exercícios físicos, iniciando com exercícios de alongamento para se preparar, após o aquecimento
desceram ao bar com intuito de sair e o miriniano reconheceu um cavaleiro loiro de olhos dourados com uma franja que
cobria um dos olhos, sentado em uma mesa com uma meriniana de cabelo curto, e dois humalistins. Reconheceu Lakos,
Marko e Naju no momento que os viu, o quarto nimikhin a mesa ele nunca o tinha visto. Ao passarem por perto da
mesa, ouviu que falavam da princesa de algum reino que havia fugido para se aventurar, lógo concluiu que se não fosse
a princesa que encontrou ao chegar no continente, deveria haver algo errado com as princesas do continente. Kaila
fingiu não vê-los e seguiu para o quadro de avisos, onde um casal procurava uma missão a fazer.

—Ainda não está falando com seu irmão Kaila? —Dizia a doce, agradável e piedosa voz de Mickaila.

—Eu só prefiro evitar conversas com o Marko por hora Micka, perto dele eu tenho que me comportar para
conversar com o Lako, fora que a miriniana esquisita fica me encarando como se eu fosse a pior pessoa do mundo, não
tenho interesse em passar por isto. Mas sempre que posso converso com o meu irmão, mesmo não parecendo somos
muito unidos eu ele e a Kalidia. —Kaila abria um sorriso cansado no rosto ai dizer isto. — Então você e o Daii vão para
alguma missão?

Mikaila abriu um enorme sorriso no rosto dizendo que escolheram uma missão para escoltar uma pobre fazendeira
até a aldeia na floresta de Aialahai para ela buscar medicamentos para seu marido.

—Mas esta missão é trabalhosa, chata e não existe recompensa por ela, por que vão se dar ao trabalho de fazer
algo que nem serão pagos por isto?

—Nem tudo na vida é dinheiro Kaila, ajudar ao próximo é algo bom de se fazer, a alegria do casal que vamos ajudar
já é um ótimo pagamento.

—Alegria não enche o estomago Micka, mas faça como quiser. —no mesmo momento Kaila virou para seu
aprendiz e disse baixinho —Nunca faça missões de graça, sempre tem algo errado com essas missões.
Kaila e seu pupilo saíram do estabelecimento. Ao saírem, Edilia os aguardava ao lado de fora, Kaila apontou o dedo
indicador para duas grandes pedras próximas a porta de entrada e saída da guilda e disse:

—Carregue esta pedra em suas costas enquanto estivermos em treinamento, Edilia amarrará uma das pedras em
você e a outra em mim, isto vai ajudar a aumentar sua resistência.

—Vai treinar junto comigo? Mas se vai ajudar a me melhorar, que assim seja.O que iremos fazer?

—Para mim isto já nem conta como treinamento, mas para você que ainda é iniciante é um bom começo.

Após Edilia amarrar uma pedra as costas de cada um dos dois, Kaila deu seu típico sorriso travesso para seu
aprendiz e disse:

—É uma corrida, vamos correr até a entrada sul da cidade, de lá para o píer, do píer de volta para a guilda. quem
perder paga o almoço.

No momento em que ela terminou de falar começou a correr, o miriniano foi atraz mal se agüentando em pé, mas
se esforçando para correr atrás de Kaila. Assim que a perdeu de vista se irritou ao ponto de que sua pele começou a se
avermelhar e conseguiu pegar mais velocidade, conseguiu correr como nunca havia corrido antes, a pedra que
carregava nas costas parecia ter diminuído bastante o peso mesmo ainda continuando pesada, e após pouco tempo
conseguiu avistar Kaila que corria tranquilamente em velocidade baixa, sem parecer se preocupar em ser alcançada. De
pouco a pouco o jovem albino que estava momentaneamente com a péle tão avermelhada quanto os seus cabelos
começou a se aproximar de sua mestra que corria devagar enquanto cantarolava como se estivesse em uma agradável
caminhada. Ao ouvir passos rápidos vindos de trás dela, Kaila para e olha para trás seu aluno a passa.Ela olha para
frente com um sorriso sádico, ambos já haviam passado pelo porto e estavam a um caminho reto da guilda quando Kaila
começa a realmente correr e por pouco consegue chegar antes de seu aluno no local combinado.

Kaila conduz seu aprendiz de volta ao porto onde Edilia os esperava. Edilia tira a pedra das costa de ambos, Kaila
percebe que seu aluno estava com a pele inteira vermelha deis de o momento em que chegaram na porta da guilda e
mesmo depois de caminharam calmamente de volta a um ponto que haviam passado a cor da pele do miriniano não
havia mudado. Kaila pega a pedra que anteriormente estava em suas costas, levanta ela com as duas mãos e a
arremessa para o mar. Logo em seguida desafia seu aluno que parecia furioso a arremessar a pedra dele mais longe. O
miriniano arremessa a pedra que ele carregava com uma única mão e consegue lançá-la para um pouco mais a frente de
onde o miriniano lançou.

—Isto é inacreditável! —Dizia Edilia vendo o feito do magro miriniano.

—Como eu suspeitei. —Kaila encarava seu aprendiz com um sorriso maldoso —Eu já havia visto o Khenil ficar com a
pele avermelhada como a sua está neste momento, é uma habilidade que mesmo sendo rara de ser usada por
mirinianos, é uma capacidade que todos tem. Todos acreditam que seja uma habilidade apenas dos mirinianos de classe
superior, mas como ninguém nunca viu um miriniano de classe inferior em batalha e você tenha acessado a habilidade
através da raiva, posso deduzir que qualquer miriniano puro seja capaz do mesmo.

Após o discurso de sua mestra, o miriniano se envergonhou ao perceber que ela havia notado sua irritação, o que
fez diminuir muito a coloração vermelha de sua pele, mantendo apenas um pouco por causa da timidez.

—Como sabe que acessei tal habilidade por raiva?Não tenho motivos para ficar nervoso.

—Mirinianos se irritam com facilidade com outras raças, acredito que seja algo instintivo. Você nunca tinha
chegado a este estado antes porque nunca havia entrado em batalha, você nunca deve ter sentido a mistura de raiva e
empolgação que sentiu agora, seu corpo nunca sentiu necessidade de se superar. Esta habilidade que usou aumenta
todos seus atributos físicos, mas mirinianos costumam desmaiar após usar tal habilidade. Você acessa este aumento de
atributos quando mistura a frustração que teve quando eu saí correndo e te deixei sem a menor chance de vitória e
empolgação que sentiu ao ser desafiado e ter acreditado que poderia vencer.

—Se você sem estas habilidades especiais conseguiu carregar a pedra do mesmo peso correndo com mais
facilidade, prova que a habilidade só vai me deixar próximo ao seu nível quando você não se esforça.

—Se ela estivesse carregando honestamente a pedra você teria razão, mas a pedra que Kaila carregava estava
enfeitiçada, a pedra em si nem ao menos tinha peso, ao contrario da que você carregava. Não que ela não conseguisse
fazer o que fez com uma pedra verdadeira, mas não quis se dar ao trabalho de carregar peso, afinal quem está sendo
treinado é você e não ela.

Kaila se comportava como se nem soubesse o assunto que estava sendo abordado, olhando para o céu, andando
de um lado para o outro e cantarolando baixinho.

—Você me enganar faz parte do treinamento ou você é apenas preguiçosa?

Kaila não parecia estar de muito bom humor ao responder a pergunta:

—Um pouco dos dois, geralmente quando vou fazer este treinamento eu nem ao menos carrego uma pedra, nem
ao menos participo da corrida. Coloco futuros espadachins para correr um contra o outro para correr, mas você é um
caso em especial. Corri com a pedra falsa para dar um incentivo a você para ver se afluiria mas do seu sangue miriniano,
mas sinceramente eu não tinha muitas esperanças que surtisse efeito.

—Você foi o primeiro miriniano de classe baixa a virar um espadachim e o primeiro aprendiz da Kaila que a
ultrapassou na corrida, você é realmente surpreendente.

Kaila olhou com uma expressão de desgosto para Edilia, o que fez a mesma ficar calada. Sem desviar olhar de Edilia
comessou a falar:

—Mas não conseguiu me vencer, perdeu no ultimo segundo. Entretanto é o aluno mais interessante e
surpreendente que já tive —Um sorriso sádico surgiu no rosto de Kaila no momento em que pausou o que falava,
lentamente deixou de olhar para Edilia e fixou o olhar em seu aprendiz, o encarando com uma expressão de que iria o
comê-lo vivo e voltou a falar—Eu vou me divertir muito as suas custas, é bom se preparar.

No restante do dia o espadachim iniciante treinava ataques com a espada em uma pequena arvore mágica que se
regenerava instantaneamente, no dia seguinte seguiu uma lista de tarefas que Kaila o mandou fazer para treinamento,
sendo a todo momento sendo supervisionado pela mesma. No fim do dia percebeu que a próxima noite depois desta
seria a ultima que estaria na hospedaria. Precisava de alguma maneira de conseguir dinheiro para pagar o quarto nos
dias seguintes, sendo que nem ao menos conhecia a moeda de troca do continente e como usá-la.

—Você se desenvolve com facilidade, acredito que agora você irá precisar de um pouco de experiência em campo.
Amanhã você vai pegar um trabalho no quadro de avisos, acredito que um de não vai precisar fazer um trabalho de nivel
iniciante, acredito que tenha capacidade para missões de nivel aprendiz. Missões de aprendiz não vão te dar muito
dinheiro e são entediantes.

—Mas nem sei como funciona a economia de Vanahin, você poderia me explicar o valor das moedas?

—Cada reino em Vanahin tem sua própria moeda, as principais moedas usadas em Iriolia são: a pimhata, a
balpimhata, o manitilio ,o balmantilio e o trimalitio. Sessenta pimhatas equivalem a um balphimata, trinta balphimatas
equivalem a um mantilio, sessenta mantilios equivalem a um balmantilio, e trinta balmantilios equivalem a um
trimalitio. As moedas dos outros reinos tem valores variados, um mantilio tem um valor em Raiseli difernte que tem em
Galastiniza ou em qualquer outro reino, entretanto, uma moeda que vale muito em um reino, pode valer pouco em
outro.

O miriniano parecia extremamente perdido com as informações sobre o dinheiro do continente, pois era diferente
da moeda de Mirinia. Kaila percebeu que ele estava tendo dificuldades para acompanhar o raciocínio, ficou fascinada
pela falta de conhecimento do aprendiz.

—Não se preocupe, escolha qualquer missão de nível aprendiz, se quiser pode fazer a missão junto de outro
guerreiro, não vejo problema deis de que seja outro iniciante. Se conseguir concluir a missão que escolher, dou minha
garantia de que você não irá mais se preocupar com moradia. O dia correu com mais treinamento antes de ser
finalizado.

No quinto dia o miriniano estava decidido em entrar em sua primeira missão como espadachim, a partir deste
momento é que sua história como guerreiro realmente se iniciou.
Relato 04

Mestre de magia

Bode junto com a atlantina de índole questionável cruzou a floresta de raizeli até chegar ao pequeno reino de
raizeli, ao norte da floresta. Durante o caminho, enquanto os dois caminhavam, Bode ia orientando a futura maga para
que ela conhecesse a parte mais básica de suas habilidades:

—Controle seu karma, sinta a energia dentro de seu corpo, deixe a palma de suas mãos voltadas uma para outra
como se estivesse segurando um objeto da largura de seu corpo e imagine que realmente esteja segurando algo, não
desfaça esta posição mesmo após ver ou sentir uma energia entre suas mãos, se fizer corretamente vai sentir uma
energia extraída de seu karma entre suas mãos.

—Irei tentar, mas não posso prometer nada. Enquanto tento fazer isto, me explique mais sobre este “karma”.

—Você vai aprender que a magia vem da “energia karmika”, ou “karma”, é a energia vital que irradia por todo o
corpo e dá ao usuario energia e vitalidade. Com exceção dos mirinianos, toda a raça derivada da espécie nimikhin, além
de elfos e alguns poucos orcs, conseguem violar o karma e dele extrair uma segunda energia chamada “Prana”.
Uttilizando-se de prana, conjuramos magia.

—Acreditei que ouviria algo novo, mas até recém nascidos conhecem informações tão básicas quanto estas, até
mesmo alguns mirinianos tem o conhecimento deste fato, mesmo que seja uma informação sem valor para aquela raça.
— Dizia a atlantina em tom de desprezo, tentando concentrar energia entre suas mãos, mais falhando miseravelmente.
—E o prana produzido por um atlantino supera até a de um elfo, mesmo que o elfo ainda seja considerado um ser mais
evoluído em questão de magia. Todo ser vivo sabe disto.

—Ouvi histórias de mirinianos que estavam aprendendo a usar o prana, mesmo que sejam poucos, não acho que
seja algo impossível de ser verdade.

A atlantina riu maldosamente achando graça a ideia absurda de um miriniano ser usuário de magia.

—Quando o karma é violado de forma errada, a energia dissipa-se e se gasta, assim você não vai conseguir o
acesso ao prana. Da mesma maneira se utilizar o prana de forma excessiva ou errada, pode acabar misturando parte do
karma com o prana para gerar magia, o que vai tornar a magia mais poderosa, porém estará utilizando sua energia vital,
o que irá acabar tornando o corpo do usuário fraco e debilitado, tendo até o risco de levar o mago a inconsciência ou
até mesmo morte. O seu comprometimento com o aprendizado com o tempo tornará seu corpo mais efetivo na
produção de karma e consequentemente lhe dará mais energia, e melhor saúde, vitalidade juvenil e personalidade mais
radiante. Se realmente entender isto vai sentir ou até mesmo visualizar o prana entre suas mãos. —Dizia Bode
ignorando a risada debochada da atlantina.

—Você tem alguma dica para que eu consiga acessar meu prana? —Perguntava a atlantina com as mãos tremulas
perguntando para o bruxo que caminhava a sua frente e sempre a respondia sem ao menos olhá-la.

—É preciso se concentrar e assumir controle do corpo, da mente, das emoções e também controlar todos os
movimentos desnecessários das mãos, pés e corpo.
A atlantina começa a sentir uma energia entre as mãos, energia que começa a puxar as palmas de suas mãos uma
em direção a outra. Bode que estava andando a frente da jovem de olhos de cor azul royal sem virar percebe o feito,
ainda caminhando diz em seu habitual tom de voz, sereno porém sombrio:

—Me descreva a sensação que a energia que criou está te causando.

—Você nem ao menos olhou para trás, como você sabe que... —Logo a atlantina percebeu o quão ridícula éra a
pergunta que iria fazer a interrompe-a respondendo Bode —...Eu sinto uma energia magnética puxando minhas mãos,
não para a energia em sí, mas uma mão para a outra como se cada uma de minhas mãos quisesse tomar o poder da
outra.

—E o que seu corpo sente sobre isto?

—É estranho descrever, mas é uma sensação de prazer, como se ao mesmo tempo em que eu tento evitar que as
mãos se toquem para que uma das mãos devore o poder da outra, sinto a vontade de deixar ambas as mãos se tocarem
para absorver o poder.

—Isto porque seu prana tem natureza sombria, você terá mais facilidade de aprendizagem com os elementos fogo
e terra. A natureza do prana é algo que nasce com o ser, com muito trabalho e esforço pode-se inverter a natureza do
prana ou até mesmo controlar ambas as polaridades de prana. Quando se tem um prana iluminado, a energia que você
sente entre as suas mãos é elétrica e não magnética, as mãos se repelem ao invés de se atraírem, pois o prana sombrio
é atraído pelo poder e o iluminado tem aversão ao mesmo. É indiferente se seu prana é sombrio ou iluminado,
consegue usar magia dos quatro elementos da mesma maneira, mas acredito ser estupidez você querer saber todo o
tipo de magia elemental. Magos que costumam saber todos manipular todos os elementos mágicos costumam ser
poderosos, mas se tornar bom em tudo faz com que você não seja excepcional em nada. Magos assim são derrotados
facilmente por alguém experiente.

—Estou conseguindo visualizar a energia, ela está em cor lilás, isto é incrível!

—Desfaça a energia que criou, mas com calma, pois se a prana for dissipada de forma irregular, pode afetar até
mesmo sua força vital, ou seja, sua energia karmica, assim suas células e nervos do corpo entrarão em um estado bréve
de colapso e de carência de energia, fazendo seu corpo sofrer conseqüências como fraqueza corporal ou às vezes o
surgimento de doenças.

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Ao fim do dia chegaram ao reino de Raizeli, a jovem atlantina percebeu que atraia olhares surpresos, olhares de
admiração e olhares desconfiados, nada que ela já não previsse acontecer.

Pelo cansaço da atlantina que não parava de reclamar, tiveram que ficar pela cidade para passar a noite e ela
dormiu em uma hospedaria de pouca qualidade. Bode desapareceu pela noite, mas reapareceu cedo no dia seguinte a
esperando pela manhã. Seguiram para Galastiniza andando a oeste de Railezi, caminhando novamente por parte eda
floresta até chegaram ao objetivo. Foram diretamente para a guilda, sem dar a oportunidade dos olhos de cor azul royal
admirarem a cidade.

A guilda se localizava no centro da cidade e por fora era pequena, aparentando ter o0lll0ĺ tamanho de um banheiro
químico, mas por dentro era extremamente grande, aparentando ser grande a ponto de nem caber dentro da cidade.

Ao contrário da guilda de espadachins, ali não funcionava uma taverna, mas uma biblioteca, aonde não havia
apenas livros de magia, mas livros em geral. Os livros de magia só podiam ser acessados por magos, dependendo do seu
nível de classificação em níveis mágicos o mago teria acesso a determinados tipos de livros de magia. Ao entrarem na
guilda, viram que a mesma se encontrava vazia, mas assim que a porta da entrada se fechou sozinha apareceu do nada
o humalistin mais esquisito que a atlantina já havia visto em sua vida.

—Vejo que veio acompanhado Bode, não é algo de seu fetio.


O sujeito tinha olhos muito expressivos, no tom azul claro, coloração normal adiquirida nos olhos de alguém
enquanto usa magia simples. A coloração somada aos olhos grandes e expressivos ainda tendo o fato de ele não piscar
tornava seu olhar extremamente incomodo.

—Guillerard, você irá ensinar o básico da magia para ela, ensine o máximo que conseguir a ela no prazo de 3 luas,
irei retornar dentro deste prazo, caso eu ultrapasse o prazo continue treinando-a.

—Bom dia para você também. Não vou perguntar o porque, mas existe algo que eu deva saber sobre minha nova
aprendiz?

—Pergunte diretamente para ela.

Um sorriso malicioso subiu no rosto de Guillerard ao olhar para o corpo de sua nova pretendente a aprendiz, que
embora não fosse esbelta e de belas curvas, tinha um corpo que chamava atenção, quando olhou o rosto que o
encarava com cara de incomodo não se importou, mas ao perceber o aro em seus olhos azul real deu um passo para
traz.

—Uma Atlantina! Bode, ela seria a... —Bode não se encontrava mais ali. —...Típico.

A atlantina percebeu que ele falava algo referente a ela ou a qualquer outra atlantina, o que fez ela ficar um tanto
quanto acuada. Mesmo sentindo-se vitima de algum tipo de armação ela questionou sem pensar:

—Ela seria a...?

— A primeira entidade viva em anos que este bruxo rabugento se interéssa a treinar depois de muito tempo.
Acreditei que ele nunca mais se interessaria em treinar outro nimikhim.

A atlantina não insistiu na pergunta, mas não ficou satisfeita com a resposta, ainda mais vindo de alguém de
aparência tão suspeita. Cabelo loiro, cabelo repartido de lado, uma franja cobrindo a testa, sobrancelhas bem grossas,
bigode estufado, pequena barba no queixo, um corte vertical e um horizontal no rosto, cortes estes que se cruzavam.
ambos os cortes próximo a seu olho direito. Tudo isto sem esquecer os grandes e expressivos olhos azuis extremamente
claros que não piscavam.

—Seu treinamento vai partir do inicial. O que você já conhece sobre magia?

—Meu prana é de natureza sombria, aprendi a momentos atrás a projetar meu prana entre minhas mãos.

—Quanto tempo demorou para converter o karma? Se diz que iniciou o aprendizado a momentos atrás e já
consegue projetar seu prana entre as mãos, é algo surpreendente, embora não tão surpreendente se tratando de um
atlântino. Anteriormente quando se encontrava atlântinos aos montes, era comum se deparar com magos aonde você
fosse. Atualmente se você andar por Vanihain irá encontrar com menor frequencia um mago, ainda mais um
competente. Embora alguns guerreiros, artesoes e mesmo alguns magos tenham comemorado o desaparecimento de
Atlântida e seu povo, acredito hoje que tenha sido uma perda lastimável para a magia.

Da mesma maneira de Bode ele parecia ter uma maneira indiferente de falar, embora não retirasse os olhos de cima
da atlântina que se sentia violada por aqueles olhos grandes que jamais piscavam.

—Não precisei de muito tempo para conseguir concentrar cada parte do meu corpo, manter a concentração em cada
centímetro de meu ser. Mesmo ainda não entendendo como fiz.

—Feito extraordinário se foi com tanta facilidade. Magos demoram muitas horas, em vezes muitas luas para ao
menos sentir a energia entre as mãos, quanto mais visualizá-la.

Um sorriso satisfeito surgiu no rosto da atlântina, imaginou o quão mais fácil seria a vida após dominar a magia.

—Entretanto quando conseguiu tal feito, estava sobre a presença de Bode, correto?

O sorriso se desfez rapidamente em uma expressão de incerteza


—Si... sim. Ele caminhava a minha frente, a caminho daqui. —Surgiu uma expressão de pequena raiva —Mas ele
mesmo olhou para mim e se dirigia a mim com extrema indiferença. De alguma maneira percebeu que consegui sentir a
magia.

—Por isto conseguiu tal feito tão rápido! —A atlântina agora expressava decepção. —Bode sem sombra de duvidas
exerceu o próprio karma em você para que você conseguisse em tão pouco tempo se concentrar a ponto de
instintivamente conseguir concentrar seu próprio karma em seu corpo inteiro e em cada parcela de si em individual.
Ainda não torna menos assombroso o fato de conseguir tal feito em tão pouco tempo. Mesmo com influencia do karma
de seus mestres, um mago aprendiz não consegue tal feito depois de no mínimo muitas horas. É claro, já existiram
outros que conseguiram com mesma velocidade ou até maior, até mesmo sem a ajuda de um segundo mago. Você tem
potencial, mas vai ter de aprender a controlar seu corpo por inteiro. Vai ter de controlar melhor sua agitação e seus
sentimentos, a variação emocional pode ser caminho da morte de qualquer usuário de magia. Para controlar cada
parcela de seu corpo é necessário se zerar de sentimentos. Quando conseguir conjurar a prana entre as mãos sem
auxilio daremos inicio a seu treinamento.

A aspirante a maga que entrou naquele ambiente mágico com total animação foi arremessada ao chão. O animo
pertencente a ela sumiu dando vez a um vazio solitário e triste dentro de sí.

—Me procure quando conseguir tal feito ou desistir do mesmo, até mesmo se achar que necessita de um conselho,
embora eu acredite que tenha te dito todo o necessário. Estarei em algum lugar pela bibliotéca, conseguirá me
encontrar se assim desejar. — E assim Gillerard segue rumo a dentro da bibliotéca.

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Estando ali, em um lugar desconhecido, sozinha e desestabilizada por descobrir que não conseguiu conjurar o prana
sozinha, se sentiu incapaz de conjurar ou sentir qualquer tipo de energia. Ela se posicionou aonde estava, pernas juntas,
coluna ereta, as palmas das mãos posicionadas uma de frente para outra. Entretanto sua mente não estava em paz,
muita informação para assimilar, um mundo de pensamento pairando em sua mente. Ainda sim se esforçou para se
esvaziar de pensamentos, tentou sentir o karma que corria por cada partícula do seu ser, mas a sensação de
incompetência era que corria em seu corpo. As mãos tremiam de maneira desenfreada, suor escorria em seu rosto e
nada parecia indicar a ela que conseguiria o feito.

Depois de muito tempo, tempo o suficiente para que o sol começasse a se esconder ela se deu por vencida.

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