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Yousef AlRafaeli

Prelúdio (Resumido)
As batidas rítmicas do velho relógio de torre ao canto da sala quebram o silêncio sepulcral daquele salão tão
confinado e protegido do exterior. “Asfixiante” foi essa a palavra que o jovem Naeem usou quando configurou o
sistema de troca de ar e controle de humidade que mandara instalar para preservar as antiguidades que ali
preservava. Mas nada disso importava hoje. Finalmente tinha conseguido que seu estabelecimento fosse
reconhecido como seu Domínio e agora poderia levar adiante seu plano de abrir um Hostel & Bar. Naguib Tahar

Yousef levantou a caneta por um instante. A tempos isso o preocuparia, a tinta poderia pingar das velhas canetas de
pena e manchar a caligrafia cuidadosa. Mas já havia se acostumado com as novas tecnologias que retêm e sabia que
poderia se permitir alguns segundos e lembrar mais uma vez do amor que perdeu quando seu tio ‘convenceu’ o pai a
mandá-lo ao internato na Bretanha

Décadas passaram por sua mente, vozes gritaram em seu subconsciente e a dor de almas que não lhe pertenciam o
lembraram o porquê estava ali, sentado em sua velha, mas confiável escrivaninha de mogno Congolês, atualizando
seu jornal. Para que tantas personalidades que disputavam aquela mente, pudessem saber o que se passara naquele
dia, e a direção que deveriam tomar...

Continuou seu último parágrafo para aquela noite: todas as providências legais e burocráticas estavam finalizadas,
os funcionários alinhados, contratados e treinados iriamos abrir as portas como sempre estivéssemos ali. Os
símbolos cuidadosamente colocados e os nomes escolhidos para os menus e drinks deveriam ser suficiente para um
bom entendedor perceber do que se trata sem chamar demasiada atenção.

Yousef fechou o já envelhecido caderno. Sua capa ainda de couro com seus adornos dourados e fechadura deveria
ter algumas décadas e já estava perto do fim. Yousef o trancou como o fazia todas as noites, mas antes de engolir as
chaves parou e lentamente se levantou. Caminhou no mesmo ritmo e se esforçou para não dar atenção a graça que
sentiu ao perceber que mesmo as vozes em sua cabeça silenciaram com aquela súbita mudança de hábito, curiosas e
surpresas, até mesmo ele, seu demônio pessoal, seu fardo eterno silenciara, curioso.

Yousef se apercebia que estava finalmente, naquela noite, encerrando uma era em sua existência, encerrava um
ciclo de dependências e servitude. A gargalhada que ouviu em sua cabeça, mesmo que não produzisse qualquer
som exterior era ensurdecedora. Um ímpeto de celebrar e dançar tomava conta de Yousef mesmo sendo ele no
controle aquela noite, mas mesmo ele tinha que reconhecer os motivos de celebração.

Pegou uma pequena tigela de metal, um acendedor de lareira, colocou dentro da tigela de metal e então se permitiu
entregar a chave de cobre à mão manchada pela síndrome de Sturge-Weber, e como se direcionasse seus
pensamentos para tempos passados;

Antes era seus pais e tios da família AlRafaeli que mal o reconheciam por conta de sua deformidade, que sempre o
relegaram às sombras dos aposentos mais escondidos de suas propriedades, e que na primeira oportunidade o
enviaram para a Bretanha do dito Internato para Rapazes sem nunca terem sequer pesquisado a qualidade do
estabelecimento. Local onde conheceu Bartolomeu, Malkaviano, seu sire que por um fetiche bizarro ficou fascinado
pela ‘dualidade’ de Youssef. O treinou de forma relaxada e desprovida de método. Tinha mais interesse em
demonstrar as diferentes personalidades os diferentes conceitos para experimentar com seu cérebro. Grande foi a
decepção de Bartolomeu quando descobriu que Yousef desenvolvera um método para que todas as personalidades
se alinhassem, seu interesse se tornou repulsa e ‘largado’ Youssef passou décadas tendo apenas acesso a bibliotecas
e pouco contato com visitas que eventualmente chegavam ao domínio de Bartolomeu. Aprendeu o que pode da
sociedade oculta e começou a arquitetar seus planos de retornar a sua terra natal, reunir seus pertences, sua
herança.
Aprendeu a conviver com seu defeito pois percebeu que não havia psicologia humana ou sobrenatural que o curaria.
Foi já no novo milênio que as coisas se colocaram em movimento. Gritos, emoções de desespero entre outros
varreram a mente de todos os Malkavianos que tínhamos conhecimento. Yousef, acostumado a tantas vozes e à
loucura da mente barulhenta apenas conseguia se esgueirar a um canto em posição fetal e usar de todo o auto
controle e força de vontade que tinha para manter-se protegido e escondido. Cada personalidade mantendo a outra
controlada.

Não faz idéia quanto tempo levou, mas quando saiu parecia que havia outras vozes, essas ele conseguia ‘desligar’
Yousef preferiu se manter longe delas, jà tinha vozes demais dentro de sua cabeça. Yousef vagou pela noite, ouviu
mais do que falou, caçou como o monstro que era, usou de seus poderes para perseguir e se esconder, com o tempo
aperfeiçoou seu método e já conseguia dominar formas de manipular as emoções de suas vítimas e ameaças.

Certa noite, a besta estava dominando, Yousef descansava e maquinava seus planos nos recônditos da mente,
frequentadora de locais menos refinados ouviu rumores de uma caçada, se interessou como não podia deixar de ser
e perita em não se deixar perceber, seguiu a caçada até um velho casarão em ruínas, acompanhou enquanto lacaios
se esforçavam em defender um domínio e combatiam os caçadores, viu-os se matarem, gastarem suas forças e
quando os últimos caçadores chegaram finalmente ao lair que buscavam foi tão simples manipular as emoções dos
já exaltados e debilitados mortais para que o mais forte matasse o mais fraco de forma que a besta não tivesse
dificuldades para matar o restante, foi até cômico se não trágico.

A besta deu conta de finalizar a retirada do sarcófago pois sabia que quem que estivesse ali estava agora
desprotegido, naquela época não o tinha sido ensinado a ‘arte’ da DIablerie. Uma múmia muito bem vestida jazia no
interior, sem saber exatamente o que fazer A besta começou a derramar litros e litros de sangue dos corpos sobre o
rosto do corpo mumificado e pouco a pouco pode ver a estrutura ganhando forma novamente. Já se parecia um
recém falecido corpo, mas ainda não acordara quando ocorreu a Besta que a vitae poderia ser a diferença e com um
punhal abriu seu pulso e deixou que seu sangue escorresse na boca do corpo. Lambeu a ferida e foi se sentar em um
banco de mármore logo ali ao lado e foi legítimo o susto quando ao se sentar e olhar para cima, o mesmo corpo que
a poucos instantes jazia rijo no caixão estava agora de pé, a sua frente, presas de fora, olhos vermelhos e
ameaçadores, com uma voz que parecia vinda do próprio inferno questionando por que o tinha acordado antes da
hora.

A besta se ajeitou no Banco de mármore, nunca tinha visto tamanha rapidez e se sentia realmente intimidada apesar
de se esforçar em não transparecer, mas conseguiu o suficiente para ser clara quando respondeu. “Tu perdeste tua
proteção- um gesto largo com as mãos mostrando o resultado das batalhas -, os caçadores iam te pegar em torpor –
apontando para os dois corpos dentro da cripta -, achei melhor te acordar para que você possa providenciar novo
grupo.

Os olhos vermelhos passaram de ameaçadores para inquisidores. As capacidades daquela criatura eram imensas
comparadas ao que Yousef ou a própria besta sabiam sobre a sociedade vampírica e o fato de até aquele momento
Yousef não saber o que era uma Diablerie era fascinantemente cômico para Pierre De March, Lassombra Antitribu
que em troca de um laço de sangue ‘adotou’ Yousef em retribuição ao ‘favor’ e assumiu-o como aprendiz por um
longo período até que Yousef se sentiu pleno e capaz de abandonar a proteção de seu mentor e retornar ao Cairo.

Foi nesse momento que Youseff voltou novamente sua atenção a tigela de metal, o fogo já tinha se apagado, o que
uma vez foi uma chave de cobre agora era só um pedaço derretido de metal.

Os primeiros raios de sol já iluminavam Meca quando Yousef se preparou para ceder à maldição do sono, riu de
como fora fácil quebrar o laço de sangue, mesmo que tenha feito questão de não deixar que seu senhor saiba, ainda.
Agradeceu que o que lhe causa tantos problemas também dificulta tanto que percebam o fato de que tenha feito
Diablerie naquele Brujah perdido na Itália.
Adicionou uma nota para se informar sobre o estado da identidade de Ahmad Yassif, sua identidade Secreta que ele
criou aproveitando que fora confundido quando voltou para o Cairo no barco de imigrantes deportados e por fim,
entrou em sua cripta e se permitiu ser tomado pela maldição do sono.

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