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Resumo: O presente artigo tem o objetivo apresentar a importância da ferramenta S&OP aplicada
a uma mineradora que alterou a estratégia de vendas e passou por uma grande expansão no
processo produtivo. Esta ferramenta auxiliou no planejamento de tomada de decisões estratégicas,
consequentemente, no melhor atendimento aos clientes e fornecedores. A metodologia deste trabalho
consiste na apresentação deste estudo de caso no qual a mineradora obteve resultados satisfatórios
graças ao alinhamento da visão tática à operacional, gerenciando os riscos através de um
acompanhamento diário de cada etapa produtiva
1. INTRODUÇÃO
2. CARACTERIZAÇÃO OPERACIONAL
A atividade de mineração começa com a extração na mina, sendo o minério uma massa não
homogênea em teores, características mecânicas, químicas entre outras. Tais aspectos dependem, por
exemplo, da frente de lavra na qual está acontecendo a extração de minério. As características
mineralógicas da assembleia mineral também podem resultar em locais que necessitarão de um
tratamento/beneficiamento com mais procedimentos do que em outras regiões da mina. São vários os
fatores que influenciam no processo concentração do produto mineral final, na Fig. (1) é apresentado
o processo adotado na mineradora estudada.
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Por meio da Fig. (1) pretende-se ilustrar como há variabilidade de entradas dentro do processo,
além de permitir visualizar quem são os clientes internos que necessitam do material processado
dentro de cada etapa do fluxograma, mas que na totalidade trabalham para entregar um material
homogêneo para clientes finais e externos.
O planejamento de operação inicia-se com a caracterização das frentes de minério que estão
disponíveis a serem encaminhados para a britagem e posteriormente para as usinas de beneficiamento
(Usina A e B). Uma das alternativas adotadas pela empresa para otimizar o material proveniente da
lavra é a blendagem, que consiste em misturar minérios com características de teores e durezas
diferentes, resultando em um minério mais homogêneo e dentro dais faixas de concentração
estipuladas para a operação nas usinas.
Os indicadores de performance a serem monitorados na usina, em termos de planejamento são a
disponibilidade, utilização, teor do elemento útil, taxa de alimentação nas plantas e recuperação,
sendo esse essencialmente dependente do material processado, logo, a importância da definição de
um bom planejamento e dos indicadores chave de processos, resulta numa melhor performance da
planta de beneficiamento, consequentemente na quantidade e qualidade do produtos final para seus
clientes internos (a etapas de produção) e externos, para fins de exportação.
O produto final disponibilizado para os clientes externos possui restrições quantitativas e
qualitativas, visto que suas rotas tecnológicas posteriores não são capazes de remover determinados
contaminantes, dentre eles o SiO2 (óxido de silício) e o enxofre oriundo de minerais sulfetados, como
o produto final desta empresa que é uma liga metálica destina-se a indústria siderúrgica, justificando
a necessidade das etapas de lixiviação, calcinação, e etapas associadas, conforme Fig. (1).
Na lixiviação, o objetivo é a retirada de fósforo presente no material concentrado entregue pelas
usinas de beneficiamento. Na etapa de calcinação o produto já está em conformidade com as
características químicas requeridas pelo cliente externo final, e segue para as etapas de metalurgia,
britagem de liga e expedição cujos os indicadores chave de processos são: recuperação por etapa,
utilização, disponibilidade e taxa de alimentação.
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Fundamentado no trabalho de Tomas et al., (2012) o S&OP esta alicerçado em cinco fases,
conforme apresentado na Fig. (2), as apresentação dos conceitos de tais fases será concomitante com
o relato de implementação do S&OP na mineradora em questão.
Fase 5:
Plano S&OP mensal
Reunião de
S&OP
Fase 4: Reunião
Recomendações dos gerentes
de Pré-S&OP
Fase 3:
Planejamento Restrições de Materiais
de materiais e de capacidades
capacidade
Fase 2:
Planejamento Previsão estatística
da demanda
Fase 1:
Levantamento Previsão estatística
de dados
Final do Mês
Fig. (2) – Etapas do processo mensal de S&OP. (Fonte: Tomas et al., 2012)
O processo de S&OP, de uma forma geral, pode ser definido como um processo de planejamento
cíclico que busca, de forma consensual e em coerência com a estratégia da empresa, a tomada de
decisões sobre capacidade, as quais focam o equilíbrio entre a demanda e a oferta de produtos dentro
de um horizonte de tempo considerado (TOMAS et al., 2012).
Na Fig. (2) pode ser identificado que o início proposto ao S&OP é logo após o término do mês
corrente, no qual é analisado e compilada todas as informações de desempenho alcançadas no mês
que está finalizando (ZATTAR E MATHEUS, 2016). Tais dados devem ser divulgados a todos os
setores envolvidos na definição da demanda e insumos necessários a execução e criticidade da
atividade em questão.
Na mineradora estudada, as informações de produção são compiladas pelo próprio setor de S&OP,
assim os dados do mês recém terminado servem de base para a divulgação de relatórios de
desempenhos. Além disso nesta empresa os estoques de cada setor são monitorados pois servem de
base ao planejamento do mês que se inicia.
O planejamento da demanda é uma etapa de responsabilidade do departamento de vendas e
marketing, consiste no processo de previsão da empresa, que indicará o que a companhia está disposta
a oferecer (ZATTAR E MATHEUS, 2016).
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Uma parte crucial de qualquer plano de negócio é o plano de marketing que desenvolve os
objetivos e estratégias amplas de marketing baseados em análise da situação e das oportunidades
atuais de mercado. O plano de marketing define as táticas específicas de marketing para o período,
incluindo propaganda, merchandising, fixação de preço, canais, serviço etc. (NAVARRO, 2006).
A geração de informações a respeito de Vendas e de Marketing para uso na preparação da nova
previsão são compiladas pelos próprios departamentos. Isto pode incluir os dados das análises de
vendas, relatórios estatísticos das previsões e planilhas para o pessoal de vendas. Por fim estas
informações são divulgadas as gerências e diretorias de S&OP, Produção e Comercial.
A terceira etapa do processo mensal do S&OP, refere-se à elaboração de planos alternativos para
as áreas de produção, manufatura ou operações e suprimentos, para suportar o planejamento de
vendas, gerar níveis de estoques desejados e fazer com que sejam viáveis em termos de capacidade,
como em termos de materiais críticos (ZATTAR E MATHEUS, 2016).
Na empresa, essa etapa recebeu o nome de planejamento de suprimentos e capacidades. Nessa
etapa foi realizada uma reunião com os gerentes de produção, manutenção e diretoria de produção
que pode ser denominada de reunião de riscos e restrições no sistema.
O foco foi delinear o que era possível de ser assistido e o que não poderia ser atendido. Ações
para viabilizar o atendimento das propostas que foram postas como solução: horas extras, contratos
temporários, deslocamento de colaboradores de um setor para outro, possibilidade de adiamento de
manutenções programadas, força tarefa junto a fornecedores de materiais primas e empresa de
escoamento do produto final também foram colocadas na pauta, tendo em vista que a entrega dos
lotes é o foco.
Nessa quarta etapa, discute-se as alternativas existentes de maneira a criar um plano de vendas
factível, ou seja, apresenta-se as alternativas para eliminar os obstáculos que tornam o plano não
executável: disponibilizar os recursos escassos, eliminar gargalos etc. (NAVARRO, 2006).
Conforme literatura consultada, são ações recomendadas nessa fase, a “antecipação da produção,
aquisição de materiais críticos em menores tempos, ampliação de capacidade por meio de horas extras
de trabalho e terceirização, desenvolvimento de novos fornecedores para suprir a restrição de
fornecimento, gerando custos adicionais à organização (ZATTAR E MATHEUS, 2016). Pode-se
concluir que as etapas seguem as recomendações da literatura técnica.
A quinta etapa trata-se de uma reunião pré executiva do S&OP, que segundo Zattar e Matheus
(2006) são caracterizadas por duas fases: a primeira é a discussão de todos os pontos de
distanciamento entre o planejamento da demanda e a produção e suprimentos, que possam vir a gerar
impactos na receita da organização. A segunda fase, segundo os mesmos autores citados, é a pré
executiva, na qual a média administração é a responsável pela elaboração de recomendações que
serão discutidas e decididas pelos executivos da companhia.
Na empresa esta etapa marcada como reunião pré-S&OP e tem o foco de dialogar as ideias
exaustivamente, até a conclusão em consenso de todos os pontos destacados pelo setor de supply
chain, ainda nesta fase pontos de atenção foram sinalizados pela equipe de suprimentos, comercial e
operação, apontando possíveis soluções e ferramentas para contornar ou minimizar os riscos
associados.
Em suma, a reunião de pré-S&OP é uma reunião de alinhamentos, de preparação para a reunião
do S&OP Executivo. Porém, segundo Wallace (2011), ela é mais do que isso, pois o Pré-S&OP é um
encontro para tomada de decisões. Segundo o autor, a reflexão a ser feita pelos participantes desta
reunião deve ser: “Se esta fosse nossa empresa, o que nós decidiríamos? ”
A última fase é a reunião executiva do S&OP, realizada com os altos executivos da empresa
(ZATTAR E MATHEUS, 2006). Segundo os autores, o objetivo de tal reunião é a análise do
desempenho, a revisão das hipóteses assumidas e dos planos e restrições importantes, também é feita
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4. RESULTADOS
Na Tab. (1) está disponível o painel de controle gerado a partir do monitoramento diário, ou seja,
um reporte diário no qual é possível visualizar quais são os riscos de não alcançar o plano S&OP. Em
MTD (month to date) ou performance até a data atual, na qual as percentagens são acumulativas,
nessa é pode-se verificar a aderência do plano com a operação. Já no rolling forecast estão
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representados a performance consolidada, tomando os resultados atuais com a perspectiva até o final
do mês, não considerando atividades extras ao plano S&OP.
Tab. (1) – Painel de controle S&OP em relação as etapas (Fonte: Dados da pesquisa)
Este painel é uma ferramenta que permite identificar os riscos de não atingimento do plano, por
exemplo, o gap da Usina A é de 20% em relação ao plano, representa o risco de a falta concentrado
impactar as etapas seguintes, como lixiviação, calcinação, metalurgia e consequentemente a entrega
do produto final ao cliente interno (embarque) ou mesmo o cliente externo.
Toda a concatenação do ciclo de produção se dá tendo em vista a entrega do plano de vendas, ou
seja, definir que 240 toneladas de metal serão vendidas representa que toda a cadeia produtiva
antecessora ao embarque também assumiu os riscos e a responsabilidade pela entrega, competindo
dentro das usas atribuições no processo de concentração desse metal.
Deve-se considerar que em cada etapa existem transformações do minério até a o ponto de venda,
e associado a isto, existem perdas por ineficiência do processo, pela característica dos minérios,
limitações de processos que geram perdas metalúrgicas entre outros aspectos. Portanto, definir o
S&OP significa assumir que existem ineficiências no processo, e estas são assumidas pelo plano,
competindo ao S&OP o gerenciamento das atividades.
O reporte diários das informações permite o alinhamento e correções na rota produtiva,
justificando a sua publicação diária. Por exemplo, zonas empobrecidas nas frentes de lavra
condicionarão a atividades de blendagem para garantir o volume de produção, consequentemente,
tais regiões podem estar enriquecidas com contaminantes, e isso irá requerer mais esforços das etapas
subsequentes, tais como a lixiviação e a metalurgia. Tais ajustes na produção são funções definidas
pelo S&OP.
O S&OP é uma metodologia de gerenciamento de risco, é a relação mais próxima entre as
hipóteses de projeto com a real situação da produção, ou seja, é um mecanismo de auxílio na tomada
de decisões frente as condições normais de operação e das mais diversas anomalias que possam atuar
durante o mês, possibilitando a atuação rápida correção da rota produtiva. Ou seja, possui natureza
corretiva, a fim de propiciar aderência entre o estipulado e o real.
Na Tab. (2) está apresentado um plano detalhado de cada etapa produtiva com sua respectiva
performance. Como a produção é em just in time, a formação de estoques não é recorrente, entretanto,
existem estoques intermediários para fins estratégicos da produção, sendo localizados entre as etapas
de calcinação e metalurgia, entre a metalurgia e a britagem de liga e entre a britagem de liga e a
expedição.
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Na carta de controle da Fig. (3) estão dispostos dados planejados pelo S&OP para os meses de
junho, julho e agosto. Note que a produção planejada para esses três meses é diferente, e que no mês
de agosto existe uma quebra do padrão do gráfico em decorrência de um ajuste de rota para fins de
atendimento do volume produção, tais ajustes são obtidos por exemplo, com a entrada de um minério
com maior recuperação, horas extras de funcionários na usina, entre outros.
Fig. (3) – Valores mensais planejados pelo S&OP para a produção de metal (Fonte: Dados da pesquisa)
Os pontos fora dos limites de controle do processo podem ser tratados como desvios ou causas
especiais, não rotineira/ não crônica no sistema. A fig. (3) está representando a produção da usina A
e essa análise é repetida para cada uma das etapas descritas nas colunas da Tab. (2).
Na Tab. (3) estão dispostos dados sobre o desvio padrão, a média e o coeficiente de variação, note
que o mês de agosto é o que apresenta dados menor dispersão dos dados, do que em relação aos
demais meses, que possuem alta dispersão dos dados
Tab. (2) – Plano S&OP detalhado por etapas do processo de produção (Fonte: Dados da pesquisa)
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Na Fig. (4) está disponível à análise de capabilidade do sistema, foi escolhido o mês de julho para
verificação tendo em vista que o próprio coeficiente de variabilidade, pois fica evidente as
dificuldades encontradas para o atendimento da produção planejada pelo S&OP. Para o exame de
capabilidade foi feita previamente a análise da distribuição, na qual ficou determinado um p-value
maior que 0,05 indicando que o comportamento estatísticos dos dados é de uma distribuição normal.
O S&OP do mês de julho estipulou uma produção de 12,2 toneladas de metal. Pelo DPMO ficou
estipulado que dentro de 1.000.000 de oportunidades aproximadamente 366.000 não são alcançadas.
Se tratando de uma análise de mineração essa variação é esperada por conta da própria variabilidade
do corpo mineral e todos os processos associados à sua gênese, litologia, aos processos de recuperação
na usina de beneficiamento por conta interações físico-químicas e atendimento às especificações de
qualidade.
Por conta dessas condições de contorno o planejamento de produção do S&OP pode não ser
alcançado em detrimento da qualidade. Os ajustes na lixiviação e metalurgia são mínimos,
modificações nas características vindas da lavra são praticamente inflexíveis, igualmente espera-se
do produto final ofertado ao mercado.
Compete ao estágio de beneficiamento a adequação de todas as características citadas às etapas
subsequentes até o cliente final. Tendo em vista os recursos existentes dentro de uma usina, tais como
aumento ou redução de taxa de processamento, diferentes rotas de concentração por conta da
utilização de diversos reagentes (em concentração ou tipo), e demais artifícios (britagem, moagem,
deslamagem, etc.) que permitem ajustes em função da qualidade solicitada.
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5. Conclusão
Tendo em vista as contribuições da metodologia S&OP, ficou evidente para a empresa uma
melhor gestão, através do gerenciamento de riscos mais efetivo, além de critérios como demandas,
produção e suprimentos. Entende-se que esta ferramenta tem um impacto significativo sobre o
desempenho de toda a cadeia e deve ser visto como uma atividade que envolve todos os parceiros,
sejam eles internos ou externos.
A metodologia de S&OP pode ser aplicada nos mais diversos segmento da indústria, como por
exemplo mineração, têxtil, eletrônica, dentre outras. A cada mês o ciclo do S&OP agrega mais
conhecimento em relação aos riscos com os concorrentes, suprimentos e em relação aos gargalos
produtivos, possibilitando que a empresa se mantenha competitiva no mercado e possa trabalhar com
maior previsibilidade.
A retroalimentação acontece de forma natural dentro da metodologia S&OP, que ocasiona um
maior entendimento das capacidades e limitações e consequentemente maior aderência entre o
planejado e o executado, resultando em maior conhecimento do processo.
6. Referências
WALLACE, T. F. Planejamento de Vendas e Operações: Guia Prático. 3. ed. São Paulo: IMAN,
2011.
7. DIREITOS AUTORAIS
Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo do material impresso incluído no seu
trabalho.