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TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

DADOS PARA IDENTIFICAÇÃO NO INPG

INFORMAÇÕES A SEREM PREENCHIDAS PELO(A) ALUNO(A)

Nome completo: Cristiano Rodrigo Quarantani

Tema: Modelagem do planejamento de produção em uma empresa do setor sucroenergético.

Unidade: Piracicaba / SP

Curso: Logística Empresarial

INFORMAÇÕES A SEREM PREENCHIDAS PELO(A) ORIENTADOR(A)

Nome completo:

Nota final do artigo:

Data da aprovação:

Turma:
3

Resumo

Este trabalho tem como objetivo abordar a aplicação e a modelagem da


estrutura de planejamento de produção para o setor sucroenergético de forma
didática e intuitiva, propondo uma metodologia para determinação do
planejamento de produção, da disponibilidade de matéria prima e para sua
aplicação.
Buscando evidenciar como a utilização desta ferramenta pode auxiliar no
processo de tomada de decisão dentro do ciclo de Planejamento de Operações e
Vendas (do inglês S&OP) e representar um diferencial dentro do planejamento
estratégico em uma empresa inserida neste mercado dinâmico.

Palavras - chave: Planejamento de Produção, setor sucroenergético,


planejamento estratégico, Planejamento de Operações e Vendas (S&OP),
processo tomada de decisão.
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Sumário

1. Introdução ................................................................................................................................. 4

2. Metodologia .............................................................................................................................. 6

3. Setor sucroenergético e apresentação da empresa do estudo........................................ 7

4. Revisão Bibliográfica............................................................................................................. 10

4.1. Cana-de-açúcar ............................................................................................................. 10

4.1.1. Volume: tonelada de cana por hectare (TCH) .................................................. 11

4.1.2. Brix ........................................................................................................................... 11

4.1.3. Pol da cana ............................................................................................................. 11

4.1.4. Pureza ..................................................................................................................... 12

4.1.5. AR – Açúcar Redutor ............................................................................................ 12

4.1.6. Açúcares redutores totais (ART) ......................................................................... 12

4.2. Eficiência Industrial........................................................................................................ 12

4.3. S&OP ............................................................................................................................... 14

5. Processo industrial ................................................................................................................ 15

6. Modelagem do Planejamento industrial ............................................................................. 19

7. Conclusões e Próximos passos .......................................................................................... 22


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1. Introdução

O Planejamento, Programação e Controle da Produção (PPCP) representa


uma função técnica e administrativa que tem por objetivo fazer os planos que
orientarão a produção e servirão de guia para seu controle. É um conjunto de
funções inter-relacionadas que objetivam comandar o processo produtivo e
coordená-lo com os demais setores da empresa. E representam papel estratégico
dentro das empresas, gerando oportunidades de otimização e melhor
aproveitamento dos recursos cada dia mais restritos.
As aplicações desta técnica são comumente abordadas em diversas
publicações acadêmicas e em literaturas com foco em sistemas de produção por
bateladas, com lotes de produção característicos, com tempos de
processamentos ao longo das etapas com início e fim bem definidos, e temos a
disposição um volume considerável de estudos com essa temática abordando
aplicações nas grandes áreas, como automobilística, alimentícia, etc. Porém,
quando vamos para a área sucroenergética o material é mais restrito e muitas
vezes com uma abordagem pouco didática e orientada a gestão do processo.
Temos características inerentes ao processamento da cana de açúcar que
necessitam tratativas específicas e desta forma, é preciso redefinir algumas
premissas quando falamos de um processo de modelagem para planejamento de
produção.
E é dentro deste contexto que este trabalho objetiva abordar o planejamento
de produção para o setor de forma didática e intuitiva, explorando as
peculiaridades deste setor, que vão desde a própria matéria prima, que trata-se
de um recurso natural regrado pelos tempos de safra, até o processo industrial
propriamente dito, onde podemos distinguir produtos bem característicos e com
tecnologias de produção bem distintas.
Sendo os principais produtos e seus processos característicos:
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Tabela 1. Produtos versus características principais de processo.


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2. Metodologia

Para delineamento deste trabalho foram utilizadas algumas referências


bibliográficas disponíveis para o setor e trabalhos acadêmicos disponíveis sobre o
tema bem como do processo de aprendizado operacional.
O tema central abordado e discutido é baseado nos trabalhos desenvolvidos
em uma empresa do setor, consolidando conhecimentos in loco dos processos
industriais e de sua forma de operação.
Abordando inicialmente uma visão geral do setor e das características
principais da empresa referida no estudo dentro do mesmo.
Logo em seguida introduzimos o embasamento teórico de algumas métricas
utilizadas na modelagem e o inter-relacionamento entre elas, bem como as
noções que permeiam o Planejamento de Operações e Vendas (S&OP) e a
dependência dessa ferramenta para com um planejamento de produção sólido e
bem definido.
Após definida a base teórica descreve-se o processo industrial característico
desse setor industrial e suas principais características.
Na sequência é introduzida a proposta de modelagem para o planejamento
de produção e seus resultados esperados, seguindo para a conclusão e os
próximos passos projetados para evolução.
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3. Setor sucroenergético e apresentação da empresa do estudo

O setor sucroenergético Brasileiro passou por profundas alterações nos


últimos 30 anos, as quais atingiram todos os segmentos econômicos relacionados
com o mesmo. O agente gerador destas transformações foram, sem sombra de
dúvida, agentes externos de mercado.
Apesar de antes de 1975 o governo do Estado de São Paulo ter criado um
programa de incentivos ao setor sucroalcooleiro, quando apareceram as primeiras
usinas de grande porte e com estrutura industrial, a maioria das usinas existentes
na época estavam voltadas quase que exclusivamente para a produção de
açúcar, sendo o setor constituído basicamente por empresas familiares de
pequeno e médio porte, as quais mantinham uma estrutura administrativa e
técnica não muito diferente daquela empregada no início do século XX por seus
fundadores. Em meados da década de 70, com a necessidade de redução de
importações, o governo Brasileiro criou o Proálcool1, o qual provocou o primeiro
grande impacto no setor sucroalcooleiro Brasileiro, gerando a primeira grande
onda transformista.
O Proálcool teve por objetivo criar uma fonte alternativa de combustível para
veículos providos de motor a explosão com ciclo Otto e fomentar a criação de
emprego no Brasil. Este programa, apesar de suas falhas, injetou considerável
soma de capital no setor fomentando, o início do desenvolvimento tecnológico em
todos os segmentos econômicos relacionados com a produção de álcool a partir
da cana de açúcar, principalmente. Durante o programa Proálcool foram
pesquisadas outros tipos de biomassa para a produção de álcool combustível,
dentre as quais se destacaram as experiências realizadas com a mandioca pela
PETROBRAS e com a hidrolise da madeira na COALBRA, estas experiências
demonstraram a viabilidade técnica dos processos e a supremacia econômica da
cana-de-açúcar em relação as demais matérias primas estudadas, consagrando
esta última como praticamente imbatível no Brasil, com a vantagem da cana ter
um balanço energético positivo, se considerarmos todo o processo produtivo. As
demais matérias primas, atualmente utilizadas, apresentam um balanço
energético negativo.
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Durante a década de 90, após o fim do Proálcool, o setor sucroalcooleiro


deixou de receber recursos subsidiados pelo Governo Brasileiro, provocando uma
nova e grande transformação. Neste período o setor iniciou a sua efetiva
profissionalização e modernização, visando sobreviver competitivamente no
mercado nacional e internacional, sem subsídio governamental.
No início deste século, com a conscientização a nível mundial da
necessidade de uma nova fonte renovável de energia para substituir o Petróleo e
do Protocolo de Kyoto para a preservação do meio ambiente, aparece um novo
agente externo que deverá provocar profundas alterações no Setor
Sucroalcooleiro Brasileiro, pois se considerarmos todo o processo agroindustrial,
a cana-de-açúcar gera créditos de carbono.
A grande maioria das usinas que estão operando comercialmente na
atualidade, já possuem administrações que atuam de forma profissional ou estão
em fase de profissionalização, utilizando ferramentas e conceitos administrativos
atualizados, tanto nas questões econômicas, como nos aspectos de preservação
do meio ambiente e de segurança e higiene do trabalho.
A logística de distribuição do álcool para combustível está estruturada de
forma consolidada no País, todavia carece de investimentos na construção de
"etanoldutos", para distribuição interna e nas instalações portuárias para a
exportação do produto. A PETROBRAS é a empresa que lidera este setor e
possui incontestável experiência internacional nesta área.
O setor industrial das usinas está estruturado para atender competitivamente
a produção de açúcar e de etanol. Algumas usinas já implantaram ou estão em
fase de implantação de sistemas de cogeração de energia elétrica, sendo estas
últimas as que possuem um projeto mais otimizado energeticamente.
Destacam-se como fatores indutores para o desenvolvimento ainda
esperado para o setor:
• Inicialmente a expansão do consumo interno de etanol combustível;
• Aumento da demanda internacional de açúcar;
• Consolidação do aproveitamento energético da cana de açúcar como fonte
de energia renovável.
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Abaixo segue distribuição da matéria prima cana-de-açúcar ao longo


do Brasil:

Figura 1. Distribuição da cana-de-açúcar no Brasil.

A empresa em estudo foi fundada em 1946 e hoje atua na produção de


açúcar cristal, etanol hidratado, etanol anidro e energia elétrica em sua unidade
de negócio sucroenergético. Tendo como característica a estratégia de
diversificação atua também no setor da biotecnologia com sua unidade de
ingredientes naturais para alimentação humana e animal, tendo como matéria
prima a levedura. Abaixo alguns números sobre a empresa, referência safra:

• Moagem de cana-de-açúcar: 11.000.000 toneladas;


• Produção açúcar: 600.000 toneladas;
• Produção Etanol: 450.000 m³;
• Cogeração Energia Elétrica: 580.000 MWh.
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4. Revisão Bibliográfica

Neste tópico iremos introduzir algumas definições técnicas de métricas


utilizadas dentro do processo industrial sucroenergético.
Essas métricas serão utilizadas dentro da modelagem para planejamento de
produção e servem para determinação da quantidade de matéria prima
disponível, uma vez que a quantidade de cana por si só é insuficiente para definir
esse input, sendo necessário conhecer a quantidade de açúcar presente neste
volume.

4.1. Cana-de-açúcar

A cana-de-açúcar é conhecida por suas características peculiares: uma


planta fina de formato cilíndrico, folhas grandes e pode alcançar até seis metros
de altura.
É com ela que se faz dois produtos essenciais para a economia mundial: o
açúcar, parte indispensável da alimentação humana, e o álcool, utilizado nas
bebidas alcoólicas como a cachaça, o vinho e a cerveja, ou como combustível
para abastecer os carros, também conhecido como etanol.
Como o Brasil é o maior produtor de cana, muitos acreditam que se trata de
uma cultura genuinamente nacional, mas não é verdade. A planta surgiu na ilha
de Nova Guiné, no meio do oceano pacífico e se espalhou para o mundo
gradualmente, junto com a migração humana. No Brasil a cana-de-açúcar só
chegou em 1520, logo após os portugueses. Praticamente toda cana-de-açúcar
que o mundo produz vira álcool ou açúcar. Esse processo é relativamente
simples, basta moer a cana para fazer escorrer o açúcar em estado líquido, o
famoso caldo de cana. Se este caldo for fervido, o excesso de água evapora e ele
se transforma em açúcar. Se ele for fermentado, vira álcool. Essa fermentação
nada mais é, que o uso de microrganismos (leveduras) para quebrar as moléculas
do caldo e ajudar na fabricação do álcool.
As usinas que trabalham com a cana-de-açúcar aproveitam praticamente
tudo da planta. Após retirar o caldo da cana, o que sobra é chamado de bagaço.
Atualmente ele é utilizado pelas usinas para gerar energia elétrica e, em menor
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escala, biogás. Pesquisas promissoras mostram que este bagaço pode também
virar álcool, o famoso etanol celulósico ou etanol de 2ª geração.
Nos tópicos seguintes introduziremos termos e cálculos para determinação
completa da matéria prima cana-de-açúcar.

4.1.1. Volume: tonelada de cana por hectare (TCH)

Define a quantidade de cana que está presente em determinada área de


plantio. Ou seja, podemos ter a previsão do volume esperado para ser colhido por
unidade de área plantada ou representar o resultado real da colheita da cana. Por
convenção as unidades utilizadas para o volume de cana é a tonelada (t) e para a
área de plantio o hectare (ha).

4.1.2. Brix

É uma escala numérica do índice de refração (o quanto a luz desvia em


relação ao desvio provocado por água destilada) de uma solução, comumente
utilizada para determinar, de forma indireta, a quantidade de compostos solúveis
numa solução de sacarose, no caso do caldo da cana-de-açúcar.
Segundo FERNANDES (2003) a quantidade de compostos solúveis
corresponde ao total de todos os compostos dissolvidos em água, começando
com açúcar, sal, proteínas, ácidos e etc. e os valores de leitura medido
representam a soma de todos eles. Uma solução de 25 °Bx tem 25 gramas de
sólidos solúveis diluídos (inclusive sacarose, frutose e glicose) para cada 100
gramas de solução líquida.
O instrumento usado para medir a concentração de soluções aquosas é o
refratômetro.

4.1.3. Pol da cana

Pol é a porcentagem em massa de sacarose aparente contida em uma


solução açucarada de peso normal determinada pelo desvio provocado pela
solução no plano de vibração da luz polarizada.
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4.1.4. Pureza

É determinada pela relação POL/Brix x 100. Quanto maior a pureza da cana,


melhor a qualidade da matéria-prima para se recuperar açúcar. Todas as
substâncias que apresentam atividade óptica podem interferir na POL, como
açúcares redutores (glicose e frutose), polissacarídeos e algumas proteínas.

4.1.5. AR – Açúcar Redutor

Segundo RIPOLI (2004) é a quantidade de glicose e de frutose presentes na


cana, que afetam diretamente a sua pureza, já que refletem em uma menor
eficiência na recuperação da sacarose pela fábrica de açúcar.

4.1.6. Açúcares redutores totais (ART)

Indicador que representa a quantidade total de açúcares da cana (sacarose,


glicose e frutose). O ATR é determinado pela relação POL/0,95 mais o teor de
açúcares redutores. A concentração de açúcares na cana varia, em geral, dentro
da faixa de 13 a 17,5%. Entretanto, é importante lembrar que canas muito ricas e
com baixa percentagem de fibras estão mais sujeitas a danos físicos e ataque de
pragas e microrganismos

4.2. Eficiência Industrial

Consiste em uma métrica que relaciona a quantidade de açúcar entregue


nos produtos finais do processo industrial com a quantidade de açúcar entrada
com a cana de açúcar.
Por convenção de cálculo consideram-se todos os totais de açúcar na base
em açúcar redutor total (ART).
Desta forma, podemos calcular a entrada de açúcar ART na cana de açúcar
obtendo as informações de POL, AR e volume de cana. Ex.:
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POL: 14%, AR: 0,65% e volume de cana de 21.000t;


Temos ART = 14%/0,95 + 0,65% = 15,40%;
ART Total Cana = 15,4% * 21.000t = 3.234t ART.

Para calcularmos o equivalente em ART dos produtos produzidos


utilizaremos uma tabela de referência com os conversores para cada tipo de
produto, ressaltando que apesar de termos uma dedução para cada fator não
abordaremos esse nível de detalhe neste trabalho. Abaixo segue a tabela:

Tabela 2. Fatores de conversão de cada produto em base ART.

Com esses conversores podemos calcular o ART total produzido pelo


processo industrial. Ex:

Produções: 30.000sc Açúcar, 300.000L Etanol Anidro, 600.000L


Etanol Hidratado e 5.000L Óleo Fúsel;
ART Produzido Açúcar = 30.000 * 52,47 = 1.575t ART;
ART Produzido Etanol = 300.000 * 1,54 + 600.000 * 1,47 = 462t +
882t = 1.344t ART;
ART Produzido Óleo Fúsel = 5.000 * 1,37 = 6,85t ART;
ART Total Produzido = Σ produtos ART = 1.575 + 1.344 + 6,85 =
2.925,85t ART.

Calculadas já a entrada de açúcar na base ART e as produções em ART


podemos calcular a eficiência industrial. Abaixo segue a fórmula para esse
cálculo:
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ê =

Com os dados calculados temos:

. ,
ê = = , %
.

Essa premissa irá nortear a modelagem do planejamento de produção como


input das entregas finais esperadas.

4.3. S&OP

Na visão de WALLACE (1999), o Planejamento de Vendas e Operações


(S&OP) é um instrumento para a implementação e o desdobramento do
planejamento estratégico (estratégia corporativa), podendo agregar valor ao
negócio ao promover o debate, antecipando as necessidades e restrições da
empresa, criando a partir daí soluções sincronizadas com os requisitos da
demanda e da oferta. Este processo permite o alinhamento entre o “Plano
Estratégico da Empresa” e o “Plano Operacional”, ligado ao dia-a-dia (Plano
Mestre de Produção, Plano de Produção e Compras).
STAHL (2000) define o S&OP como “um processo que liga as necessidades
do mercado à fábrica, através de uma visão consolidada, tendo como principais
entradas: condições de mercado e metas da empresa; e como principais saídas:
plano de vendas, plano de produção, plano financeiro, plano de pesquisas e
desenvolvimento de novos produtos e o plano de entregas”. Segundo OLHAGER
et al. (2001), um poderoso recurso fruto do S&OP, é a análise da capacidade total
da planta, não somente de cada posto de trabalho como é tradicionalmente
conhecido, mas também do ponto de vista estratégico, a ponto de servir como
parâmetro para a tomada de decisão da variedade de produtos que serão
produzidos. São ainda tomadas decisões como aumentar ou diminuir a
capacidade instalada em função do plano aprovado. No topo da estrutura do
S&OP está a previsão de vendas (agregada em famílias), a qual está diretamente
ligada às ações de Desenvolvimento de novos Projetos e de Marketing, que irá
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direcionar todo o processo. O plano estratégico de negócios da empresa


relaciona-se com o processo de S&OP, que por sua vez é gerador de informações
que vão para o plano mestre de produção, considerando as capacidades críticas
e a demanda futura. A partir do plano mestre de produção, inicia-se a fase de
sequenciamento da produção.

5. Processo industrial

A unidade industrial pode ser dividida nas seguintes seções, que serão
descritas a seguir: recepção/preparo/moagem, tratamento do caldo, fábrica de
açúcar e destilaria de etanol.
Recepção, preparo e moagem da cana tem como finalidade condicionar a
cana (limpeza e abertura das células) e extrair o caldo com um mínimo de perda
de açúcares, bem como reduzir a umidade final do bagaço. A cana recebida é
amostrada aleatoriamente para se aferir sua qualidade (teor de sacarose, fibra,
pureza do caldo, etc.). Da mesa de alimentação, a cana é transportada por
esteiras até os equipamentos de preparo. Na saída do desfibrador, a altura do
colchão de cana é uniformizada por equipamento denominado espalhador,
localizado na descarga da esteira metálica, para uma esteira de borracha de alta
velocidade e que alimenta a calha de alimentação forçada da moenda (chute
Donnely). O nível da cana dentro da calha é utilizado para controlar o fluxo de
cana para a moenda. A moagem é um processo de extração do caldo que
consiste em fazer a cana passar entre dois rolos, com uma pressão pré-
estabelecida aplicada a eles. A moenda deve extrair o caldo, como também
produzir bagaço, no final do processo, com um grau de umidade que permita sua
utilização como combustível nas caldeiras.
A moenda é normalmente formada por ternos, que podem ser de quatro a
sete organizados em série. Após a passagem pelo primeiro destes ternos, a
proporção de caldo em relação à fibra cai de aproximadamente sete para algo
entre 2 a 2,5, ficando difícil extrair este caldo residual. O artifício usado é o que se
chama de embebição, onde a água é injetada na camada de cana entre os dois
últimos ternos. Normalmente, o caldo extraído no primeiro terno é enviado para a
fábrica de açúcar (por ser de melhor qualidade) e o restante do caldo vai para a
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destilaria. A eficiência de extração de açúcares varia de 94,0% a 97,5% e a


umidade final do bagaço é em torno de 50%.
No tratamento do caldo temos o caldo com uma quantidade de impurezas
que tem de ser reduzida para deixá-lo numa qualidade adequada para seu
processamento na fábrica de açúcar e na destilaria. A primeira fase do tratamento
é destinada à remoção, por meio de peneiras, dos sólidos insolúveis (areia, argila,
bagacilho, etc.), cujos teores variam entre 0,1% e 1,0%. A segunda fase é o
tratamento químico, cujo objetivo é remover as impurezas insolúveis que não
foram eliminadas na fase anterior e as impurezas coloidais e solúveis. Este
processo visa à coagulação, floculação e precipitação destas impurezas, que são
eliminadas por sedimentação. É necessário, ainda, fazer a correção do pH para
evitar inversão e decomposição da sacarose.
O caldo tratado pode ser enviado à fabricação de açúcar ou de etanol. Na
fabricação do açúcar, é obrigatória a etapa de sulfitação, que tem como objetivos
principais inibir reações que causam formação de cor, coagulação de coloides
solúveis, e formação do precipitado CaSO3 (sulfito de cálcio) e diminuir a
viscosidade do caldo e do xarope, massas cozidas e méis, facilitando as
operações de evaporação e cozimento.
Após passar pelo tratamento inicial, o caldo deverá passar pela
pasteurização com aquecimento e resfriamento imediato. Um tratamento mais
completo do caldo implica adição de cal, aquecimento e posterior decantação,
tratamento semelhante ao utilizado na fabricação de açúcar.
Após o tratamento temos dois caldos prioritários, caldo para açúcar e caldo
para etanol, diferenciados praticamente pela maior ou menor concentração de
açúcares. Em ambos obtemos um caldo de cana transparente, de cor levemente
amarelada que contem basicamente água, sais minerais e açúcares.
O caldo para açúcar segue para o processo de evaporação que tem como
finalidade a retirada de pelo menos 75% da água presente nesse caldo clarificado
para transformá-lo em um xarope concentrado, com aproximadamente 65° brix (%
de sólidos solúveis). Em seguida seguimos para cozimento onde temos a
cristalização e recuperação de 80% a 85% da sacarose presente no xarope. O
sistema utilizado transforma o xarope em massa que posteriormente será
centrifugada. Na centrifugação a massa passa por um processo de separação
física (centrifugação). O açúcar é centrifugado e lavado com água quente e vapor,
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tendo como subproduto o mel que poderá ser utilizado no processo de fabricação
de etanol. Após a centrifugação, o açúcar é encaminhado ao processo de
secagem e posteriormente peneirado. Na sequência, é envasado em big-bags de
1200Kg e/ou em sacos de 50kg e armazenado para comercialização.
Já o caldo para Etanol é levado a dornas (tanques) nos quais é misturado ao
fermento com leveduras (fungos, sendo mais comum a levedura Saccharomyces
cerevisia) e a uma parcela de mel oriundo do processo de fabricação do açúcar.
Esses microrganismos se alimentam do açúcar presente no caldo. Nesse
processo, as leveduras quebram as moléculas de glicose, produzindo etanol e
gás carbônico. O processo de fermentação dura diversas horas, e como resultado
produz o vinho, chamado também de vinho fermentado, que possui leveduras,
açúcar não fermentado e cerca de 10% de etanol.
Esse vinho segue para o processo de destilação, onde teremos a separação
do etanol, este líquido é colocado em colunas de destilação, nas quais ele é
aquecido até se evaporar. Na evaporação, seguida da condensação
(transformação em líquido), é separado o vinho do etanol. Com isso, fica pronto o
etanol hidratado, usado como etanol combustível, com grau alcoólico em cerca de
96%.
Para produção do Etanol Anidro temos o processo de desidratação, onde
será retirada água do álcool hidratado. Para essa etapa pode-se utilizar diversas
técnicas. Uma delas é a desidratação, em que um solvente adicionado ao etanol
hidratado mistura-se apenas com a água, com os dois sendo evaporados juntos.
Outros sistemas, chamados peneiração molecular e pervaporação, utilizam tipos
especiais de peneiras que retêm apenas as moléculas da água. Após ser
desidratado, surge o álcool anidro, com graduação alcoólica em cerca de 99,5%,
utilizado misturado à gasolina como combustível.
Em seguida os etanóis anidro e hidratado são armazenados em enormes
tanques, até serem levados por caminhões que transportam até as distribuidoras.
Abaixo temos um fluxograma do processo industrial descrito anteriormente:
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Figura 2. Fluxograma da produção de etanol e açúcar.


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6. Modelagem do Planejamento industrial

Definida as premissas agora podemos introduzir uma sugestão de


modelagem para definição do planejamento de produção.
Para a modelagem utilizaremos como premissa os volumes para uma safra
fechada e na sequência a programação mensal deste planejamento.
Iniciaremos com a definição do volume de matéria prima disponível para
iniciarmos o planejamento.
Essa informação normalmente é fornecida pela área agrícola. Para essa
demonstração utilizaremos:

Volume de Cana: 3.500.000t;


Pol da cana: 12,18%;
AR da cana: 0,55%.

Como visto anteriormente precisamos calcular o açúcar redutor total (ART)


contido neste volume de cana, assim segue:

ART% da cana: 12,18/0,95 + 0,55 = 13,37%;


ART total da cana: 13,37% * 3.500.000 = 467.950t ART.

Agora é necessário determinar os dias necessários para moermos esse


volume de cana, e para isso precisamos conhecer a capacidade de moagem
nominal e o Aproveitamento médio planejado. Neste caso, temos 21.600t de
moagem diária como nominal e Aproveitamento médio de 80%, o que nos fornece
uma média efetiva de moagem de 17.280t. Ao dividirmos o volume total de cana
pela moagem efetiva chegamos a necessidade de aproximadamente 203 dias
para moagem de todo o volume de cana projetado.
Determinada a quantidade de matéria prima e a extensão da safra o próximo
passo é definir qual a eficiência industrial a ser considerada, pois ela definirá a
quantidade de ART a ser entregue em produtos. Para esse estudo iremos
considerar uma eficiência de 89,0% que representa um valor de referência. Desta
forma temos:
ART total em produtos: 89,0% * 467.950t ART = 416.475,5t ART.
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Para alocarmos essa quantidade de ART nos produtos é necessária a


definição da orientação de mix esperada. Iremos considerar mix para açúcar e
sendo assim alocaremos primeiramente a fábrica de açúcar na máxima
capacidade produtiva.
Para a unidade em estudo o volume nominal de produção de açúcar é de
28.000 sacos por dia, considerando o Aproveitamento de 80%, temos uma
produção efetiva de 22.400 sacos por dia, que com 203 dias chegamos em um
volume total de produção para a safra de 4.547.200 sacos. Convertendo esse
volume em ART, utilizando o fator 52,47, chegamos em 238.591,6t ART.
Calculando o mix em relação ao ART total em produtos temos 57,3% de mix para
açúcar.
A diferença de 177.883,9t ART será direcionada para o Etanol. Agora iremos
definir a ocupação do recurso peneira molecular, responsável para produção de
Etanol Anidro. Consideraremos uma produção nominal da peneira de 600 m³ por
dia, com ativação do recurso em metade da safra (50%) e Aproveitamento de
80%, obtendo assim um volume de produção para a safra de 48.720 m³.
Convertendo em ART pelo fator 1,54 kgART / L Etanol Anidro temos 75.028,8t
ART.
Partimos agora para a definição dos produtos Etanol Hidratado e Levedura.
Temos um ponto interessante neste momento que é quanto a recorrência entre a
produção de Levedura e a produção total de etanol na fermentação, entendida a
dependência da levedura. A relação entre levedura e etanol produzidos é dada na
unidade gramas de massa seca de levedura por litro de etanol base 100%
produzido (g/L).
Para efetuarmos esse cálculo utilizaremos uma planilha eletrônica travando
o valor de produção de Etanol Anidro e definindo como relação de produção de
levedura 28 g/L. Desta forma, para alocar o ART remanescente, chegamos nos
volumes de 65.740 m³ Etanol Hidratado, que utilizando o fator de 1,47 kgART/L
obtemos 96.637,5t ART, e 3.100t de Levedura massa seca que utilizando o
conversor 2 kgART/kg massa seca temos 6.220t ART.
Abaixo apresentamos o resumo para o planejamento demonstrado:
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Tabela 3. Resumo planejamento de produção proposto.

Essas informações seguem para discussão dentro do grupo S&OP e para


cálculos financeiros com base nos cenários de preços para matéria prima e para
os produtos finais.
Com essa mesma modelagem podemos fornecer outras simulações que
podem revelar cenários com melhor margem de contribuição para o negócio.
O desdobramento deste planejamento para o horizonte mensal necessita,
para os parâmetros utilizados, das suas respectivas curvas características para
que seja dada a cadência sazonal.
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7. Conclusões e Próximos passos

Foi demonstrada uma sugestão para modelagem do planejamento de


produção dentro de uma unidade sucroenergética, utilizando uma linha de
raciocínio objetiva, buscando simplificar o entendimento das premissas deste
setor.
Ressaltando a importância que esse processo tem para suporte dentro do
S&OP nas tomadas de decisão e na identificação de oportunidades.
Como próximo passo na evolução do uso desta ferramenta é possível
visualizar uma linha de automatização das rotinas de cálculos buscando maior
agilidade na execução dos cenários de simulação, bem como aumentando a
confiabilidade e consistência das informações.
Segundo HARREL (2002) a simulação é uma poderosa ferramenta para a
tomada de decisões no desenvolvimento de cenários mais eficientes, embasando
a sua importância.
Após a automatização e sistematização do planejamento de produção a
evolução natural seria para uma modelagem baseada em pesquisa operacional
buscando a otimização dos cenários com base nos demais elos da cadeia, como
armazenagem, escoamento de produção, preços de venda, etc.
23

8. Referências Bibliográficas

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Janeiro, 1974.

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