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TP 075- Projeto de

Instalações
Industriais e de
Serviços

Prof.ª Nicolle Ramos


UFPR/DEP

2023
Ministério da Educação
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A disciplina TP 075- Instalações Industriais e de Serviços é ofertada ao curso de


Engenharia de Produção na Universidade Federal do Paraná. A disciplina está organizada
em 5 principais módulos, conforme pode ser visualizado no mapa mental.

Cada módulo é composto de um material que sintetiza o tópico abordado e de


questões para testar o aprendizado do aluno. Vale ressaltar que este é um material de
apoio, e não a base para todo o conhecimento sobre estes assuntos. Espera-se que o
discente aproveite este material, mais os materiais complementares apresentados ao fim
de cada módulo, e ainda, que o mesmo a partir do conhecimento adquirido, se sinta
instigado e encorajado a buscar mais fontes para enfim, gerar a aprendizado completo.

Bons estudos!
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INTRODUÇÃO A DISCIPLINA

O estudo de projeto de instalações industriais e de serviço pode ocorrer em dois


momentos ao longo do ciclo de vida de uma unidade produtiva. No primeiro, quando a
empresa está em fase de estruturação das suas atividades. Neste caso, o desafio do
engenheiro de produção é relacionar as demandas da empresa, tais como alinhar
planejamento estratégico, plano de negócio e objetivos de desempenho, com as demandas
do mercado, como tipo de produto/serviço, custos, logística, etc. Nesta situação o
engenheiro não tem limitações da estrutura física, mas possui poucas informações e por
isso, precisa simular dados, tais como previsão de demanda de produtos/serviços e
capacidade produtiva para estabelecer uma estrutura fabril que atenda estas demandas.
No segundo momento, a organização já possui instalações físicas, e neste caso,
ela precisa fazer alguma alteração na sua estrutura em função de demandas internas, tais
como: necessidade de expansão de suas atividades ou redução, novos produtos ou
serviços sendo lançados, redução de custos, variedade da demanda, ajustes no ambiente
de trabalho para atender melhor os colaboradores, entre outras. Ou, em função de
demandas externas, tais como: crises financeiras, novas legislações ambientais, mudanças
mercadológicas, entre outras.
O estudo de reestruturação de empresas é bem mais simples que os estudos para
implantação, uma vez que a própria indústria já dispõe de elementos que permitem
determinar a procura do produto do projeto (VILLAR e NOBREGA, 2014).
Os tópicos relacionados com a definição do planejamento estratégico e da unidade
de negócio de uma empresa, essenciais para estruturação de uma unidade fabril, não serão
abordados nesta disciplina, visto que estes tópicos são vastamente explorados nas
disciplinas de Sistemas de Produção I e Administração de Empresas.
Nesta disciplina, o objetivo será apresentar as etapas, bem como as principais
ferramentas e métodos utilizados para implantação das instalações de uma unidade
produtiva, seja ela uma estrutura totalmente nova ou uma estrutura já existente, mas que
precise ser modificada em função de fatores internos ou externos à organização.

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MÓDULO 1- ESTRUTURAÇÃO DO PROJETO

Orientações gerais:
Neste módulo serão apresentados os principais fatores que devem ser
considerados por uma organização no momento de estruturação de suas instalações. Uma
vez que os elementos estratégicos já foram determinados pela empresa e o engenheiro de
produção já os considerou para condução da unidade fabril.

Introdução
O estudo de projeto de instalações, ou também denominado, projeto de fábrica é
um tema que vem sendo difundido desde 1950. E segundo Neumann e Scalice (2015) é

“Um conjunto de questões estruturais que devem ser


projetadas pelos engenheiros de produção, visando
criar uma vantagem competitiva de longo prazo para
a empresa, uma vez que os elementos principais do
projeto de fábrica podem ser, nesta fase, projetadas e
reprojetadas para melhor posicioná-la no mercado. ”

Oliveira (1985) destaca a importância das empresas buscarem continuamente


melhorarias nas suas instalações a fim de ganhar vantagens competitivas. Empresas que
não se reestruturam, tendem a ser suplantadas por suas concorrentes, seja devido à falta
de competitividade de seus produtos, ou, a tecnologia ultrapassada de seus processos, o
que resulta em um produto final ao cliente com baixa atratividade de mercado.
Neste sentido é preciso estudar fatores que irão auxiliar na decisão estrutural que
formam o escopo do projeto de fábrica. Dentre os elementos que devem ser considerados,
foram elencados 5 para serem explorados com mais profundidade neste módulo, são eles:
Projeto de produtos/serviços, o Projeto de processos, a Seleção de tecnologia, a Previsão
de demanda e a Capacidade instalada.

1. Projeto de produtos/serviços
Uma empresa para se manter competitiva no mercado deve possuir um ritmo
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contínuo de novidades de produtos/serviços para o mercado. Muitos são os casos de


empresas que acabaram fracassando em suas atividades por acabarem ignorando as
mudanças do mercado e/ou pela falta de adoções de novas tecnologias. Um exemplo é a
Kodak, que foi líder mundial de câmeras fotográficas, e que decretou falência em 2012.
Ela teve parte das suas instalações demolidas e parte vendida a uma empresa alimentícia.
Um elemento chave para manter o ritmo de desenvolvimento de produtos/serviço
é a empresa ter seu próprio modelo de desenvolvimento de produto. Este modelo é
formado por etapas sistemáticas que auxiliam na construção continua do portfólio. Para
o bom gerenciamento destas atividades Neumann e Scalice (2015) recomendam que este
modelo passe por revisões, otimizações de conceitos, especificações de atribuições,
seleção de tecnologia, processo de fabricação e montagem física ou de prestação de
serviço a fim de atender os objetivos tanto organizacionais como do mercado em que atua.
Estes tópicos são abordados de forma detalhada na disciplina TP078- Projeto de Produto.
A equipe de PDP (projeto de planejamento de produto) e a equipe PF (projeto de
fábrica) trabalham em conjunto no desenvolvimento do portfólio de produtos/serviços
que serão desenvolvidos em um período. Cabe a PF estruturar as instalações e o sistema
de produção para atender a demanda, prevendo mão de obra necessária, maquinários,
equipamentos e espaços para produção, conforme o calendário de lançamento. Para que
o engenheiro de produção consiga atender todas as demandas no ambiente fabril, sejam
elas de produtos já em andamento ou de produtos que serão lançados, é necessário que
ele tenha conhecimento a respeito do ciclo de vida dos produtos e de sua fábrica.
ACV (ciclo de vida do produto) é um método apresentado pela ISO (14000), de
gestão ambiental, para realização de análise do impacto ambiental. O conhecimento do
assunto tem ajudado a empresa a comparar diferentes cenários de produção (NEUMANN
E SCALICE, 2015). Um ACV envolve a análise da extração do material, transformação
do material, manufatura, uso e descarte. Ao ser descartado o produto pode ainda ser
reciclado, remanufaturado e reutilizado. Cabe o engenheiro de produção conhecer estes
ciclos para atender a dinâmica da indústria. Duas situações podem ser ilustradas:
• Um produto que não é mais fabricado, por exemplo, precisa que peças sejam ainda
produzidas para sua manutenção, logo, é preciso prever espaço no ambiente fabril
para manter esta atividade até o fim do ciclo de vida deste produto.
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• Um mesmo produto, mas com uma nova tecnologia modificará o fluxo fabril,
logo, é preciso adaptar o espaço para atender a nova demanda.

A Figura 1, mostra a relação entre o ciclo de vida do produto, do processo, das


instalações e das áreas utilizadas.

FIGURA 1-RELAÇÃO ENTRE CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS E O LAYOUT


DE FÁBRICA

Fonte: adaptado de IFA 9901ASW_B (IFA Institut für Fabrikanlagen und Logistik,
Leibniz Universität Hannover, Garbsen, Germany, http://www.ifa.uni-hannover.de/)

O ciclo de vida dos produtos (A) torna-se cada vez menor, devido as exigências
do mercado consumidor e a necessidade de maior diversificação de produtos.
Frequentemente um produto é dividido em módulos, os quais permitem atualizações
apenas pela variação de seus componentes. Somente quando um produto necessita de
atualização tecnológica ou de função, é realizado um reprojeto.
O ciclo de vida do processo (B) também necessita de atualização. Usualmente o
ciclo de processo é mais longo que o ciclo do produto, cobrindo todo um ciclo de
alterações, visando os custos de depreciação. Ou seja, o processo já é pensado para
absorver e permitir pequenas e médias alterações no produto, sem que com isto, o
processo se torne obsoleto.

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O ciclo da infraestrutura (C) trata dos prédios construídos, e pode durar em


média entre 30 e 50 anos. Enquanto o ciclo de infraestrutura de serviços técnicos, como
hidráulico e pneumático, por exemplo, tem um ciclo de vida em torno de 10 a 15 anos.
O ciclo de vida de arrendamento, ou licença de uso de uma área (D) pode
chegar a várias décadas, podendo ser maior que o ciclo da infraestrutura, dependendo das
condições de utilização, de questões ambientais ou regimentais de cada região.
Com estas informações em mente o engenheiro de produção precisa tomar suas
decisões para melhor adaptar a infraestrutura. Dependendo do mercado em que a
organização atua estas modificações podem ser mais rápidas ou mais lentas. As empresas
de roupas por exemplo, desenvolvem produtos em função das estações do ano
(primava/verão e outono/inverno), isso quer dizer que a cada seis meses, pelo menos, as
fábricas precisam adaptar suas instalações para receber novos produtos e ainda atender
aqueles que estão no mercado.

2. Projeto de processos produtivos


Para que os projetos de produtos sejam efetivos é preciso assegurar um processo
produtivo adequado. Por isso, é necessário a inter-relação entre produto, processo e
recursos produtivos (NEUMANN E SCALICE, 2015).
Cabe ao engenheiro de produção conhecer como os processos podem ser
organizados (processos de produção por projeto, por jobbing, por lote ou bateladas, por
produção em massa ou linha e processos de produção contínuos) e como estes podem ser
gerenciados, afim de tomar decisões que possam atender o objetivo estabelecido. Estes
conceitos também são temas estudados em Sistemas de Produção I e II e Processos de
Fabricação.
Resumidamente Villar e Nobrega (2014) dizem que a escolha dos processos
produtivos deve ser feita a partir de dois aspectos. Técnico, que faz referência as
tecnologias envolvidas, tais como os recursos físicos e humanos, e do aspecto econômico,
comparando alternativas financeiras. Estes aspectos são influenciados pelos objetivos que
a empresa pretende alcançar e principalmente pelo capital disponível para investir nas
novas instalações ou nas instalações que estão sendo modificadas.

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Outro fator a ser considerado é escolher a forma de condução do processo


produtivo levando em consideração princípios que a própria empresa considera
importante, como por exemplo, aplicar a produção enxuta ou fatores relacionados com a
Indústria 4.0.

3. Seleção da tecnologia de processos


Na engenharia de produção o termo tecnologia faz referência as máquinas,
equipamentos e dispositivos que ajudam a empresa a transformar materiais, informações
e consumidores de forma a agregar valor e atingir os objetivos da organização
(NEUMANN E SCALICE, 2015).
Basicamente as tecnologias selecionadas fazem parte das operações que deverão
fabricar o produto, tais como: torneamento, fresamento, furação, usinagem, pintura,
montagem, entre outras. Ou os serviços, tais como: softwares, hardwares, entre outros.
Em função da expansão tecnológica e digital o sistema de manufatura ganhou
novas alternativas de fabricação que vem proporcionando resultados significativos ao
mercado. Um bom exemplo, são as impressoras 3D que estão sendo substituídas por
grandes máquinas de usinagem.1 As principais tecnologias de fabricação no século XX
são apresentadas a seguir:
a) Controle numérico computacional (CNC): é uma tecnologia que é empregada
em máquinas permitindo a sequência de movimentos e operações que gera um
determinado perfil de peça. É considerada uma tecnologia de alta precisão e
repetitividade do processo.
b) Robótica: é uma tecnologia, assim como a CNC que utiliza de programação,
computação e máquina para realizar processos. A máquina no caso é um robô.
c) Células flexíveis de manufatura (FMC): é uma tecnologia que combina várias
máquinas (usualmente operadas por controle numérico) associadas a recurso
de manipulação de peças e ferramentas (robôs e sistemas pneumáticos,
eletropneumáticos e eletrônicos) para realização de um processo.

1
Para saber mais: um artigo para leitura:
http://sistemaolimpo.org/midias/uploads/bbacbe8ef6d0d56567ffb93d48fca915.pdf

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d) Veículos guiados automaticamente (AGV)2: é uma tecnologia relacionada aos


sistemas de movimentação de uma unidade produtiva, variando em diferentes
graus de automação, desde esteiras e roletes, até espécies de “carrinhos”
guiados.
e) Manufatura integrada por computador (CIM): é a tecnologia que visa
armazenamento e integração de dados de diversos processos, como planilhas
de dados, desenhos do projeto, faturamento do projeto, entre outros. Um
exemplo deste recurso é o ERP (planejamento dos recursos da empresa)

A seleção de tecnologias envolve estudo e planejamento. A escolha assertiva pode


levar a ganhos significativos de produtividade e qualidade, assim como o oposto, levando
a altos prejuízos. Cabe ao engenheiro de produção avaliar quais tecnologias serão
desenvolvidas ou compradas. Isso influenciará o layout e o fluxo do processo. Essa
decisão deve levar em consideração principalmente a estratégia que a empresa
estabeleceu, tais como: mercado atendido (como montadora ou fabricante 100% do
produto), qualidade do produto, preço, variabilidade, entre outros fatores.
Como já colocado por Villar e Nobrega (2014) a tomada de decisão sobre fazer
ou comprar envolve os aspectos técnicos e econômicos. Neumann e Scalice (2015)
destacam outros critérios que devem ser considerados também nesta esfera, são eles: o
grau de flexibilidade dos maquinários para alteração de novos produtos e volumes,
incerteza/confiabilidade do processo, ou seja, grau de manutenção e de possíveis falhas,
não só dos equipamentos, mas do processo como um todo, estabilidade do processo, ou
seja, quão preciso é o processo na sua produção afim de evitar produtos não-conformes,
e por fim, é importante considerar ainda o critério socioambiental, que atende as
políticas de baixo consumo e de conversão de energia, bem como às políticas ambientais
da própria empresa.
Além da seleção das tecnologias e da decisão de fazer ou comprar os componentes
para desenvolvimento do produto é importante que o engenheiro de produção também
selecione os fornecedores. Estes também devem ser considerados nesta etapa de

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http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2013_TN_STO_177_010_22461.pdf
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estruturação de uma empresa, pois eles podem fazer parte das instalações. Como foi o
caso da montadora Jeep3 que ao instalar sua fábrica em Pernambuco decidiu criar um
ambiente para receber seus fornecedores. Eles exercem grande influência também porque
o tipo de equipamentos, transporte e montagem impactam diretamente do produto final
desenvolvido da instalação estudada.

4. Previsão de demanda
Segundo Villar e Nobrega (2014) a previsão de demanda de produto/serviço é
essencial para o dimensionamento de uma unidade fabril, pois ela auxilia na determinação
da quantidade de bens e serviços provenientes de uma unidade produtora. Para isso,
utilizam-se métodos de previsão de demanda, estes podem ser qualitativos, quantitativos
ou mistos. Os primeiros, exclusivamente intuitivos, baseiam-se no julgamento dos
gerentes e vendedores da empresa, bem como na opinião dos consumidores e
fornecedores.
Já as técnicas quantitativas, consistem em analisar os dados passados
objetivamente, empregando-se modelos matemáticos para projetar a demanda futura. Em
virtude da maior aplicabilidade dessas técnicas, e, como para previsão futura de demanda
o modelo da equação linear para a tendência e o Mínimos Quadrados (VILLAR E
NÓBREGA, 2014, p.20) são os mais recomendados pela literatura.
A Figura 2 traz um resumo das técnicas utilizadas para previsão de demanda, para
conhecer estas, de forma detalhada, acesse Corrêa e Corrêa (2019, p. 188).

3
Para saber mais: https://jc.ne10.uol.com.br/economia/2021/05/12121218-polo-automotivo-de-
pernambuco-garante-expansao-e-vai-gerar-milhares-de-empregos-ao-longo-dos-proximos-anos.html

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FIGURA 2- TÉCNICAS QUALITATIVOS E QUANTITATIVOS PARA AUXILIAR


ANÁLISE DE PREVISÃO DE DEMANDA

FONTE: Corrêa e Corrêa (2019, p. 188).

5. Definição da capacidade produtiva


A capacidade produtiva é, segundo Neumann e Scalice (2015), a quantidade de
produtos que um sistema de produção consegue produzir ao longo de um período
específico. Essa capacidade significa o quanto se quer produzir e está diretamente
relacionada ao quanto se pode vender. Deste modo, para chegar a tal valor, é necessário
que antes sejam feitas análises mercadológicas a fim de dimensionar o público alvo e o
market share possível de ser alcançado, e que esteja alinhado com a estratégia da empresa.
Esta capacidade influência diretamente no tamanho da edificação e na sua projeção futura.
Corrêa e Corrêa (2019) mostram que a capacidade produtiva de uma empresa

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varia em função do tipo de natureza das operações (longo, médio e curto prazo) e ao longo
dos níveis de decisões (estratégia, táctica e operacional). O Quadro 1 ilustra as questões
que o gestor deve se fazer para gerenciar a capacidade produtiva.

QUADRO 1-NÍVEIS DIFERENTES DE DECISÕES SOBRE A CAPACIDADE


PRODUTIVA
Inércia Horizonte Questões Nível Decisões
decisão
Longa Meses/ Que nível global de Estratégico Novas unidades
anos capacidade é necessária Expansões
neste horizonte? Que Aquisição/alteraç
padrões devem ser tomados ão de tecnologias
neste nível?
Média Semanas/ Devemos utilizar produção Táctico Turnos de
meses nivelada ou acompanhar a trabalho
demanda da produção? Terceirização
Recursos humanos próprios Aquisição de
ou terceirizados? recursos de porte
menor
Pequena Horas/dia Que recursos alocar para Operacional Alocação de
s/semanas que tarefas? Como pessoal entre
acompanhar flutuação da setores
demanda em prazo curto? Horas extras
FONTE: Adaptado de CORRÊA E CORRÊA (2019).

Deste modo, cabe ao engenheiro de produção considerar esta variável nesta etapa,
a fim de estruturar uma unidade fabril que possa ser flexível para atender a demanda atual
e as possíveis mudanças. Algumas medidas da capacidade podem ajudar durante a
projeção efetuada, são elas:
a) Capacidade de projeto (CP): variável que considera a situação perfeita do
sistema de produção, sem haver manutenções, transportes ou limitações do
fluxo.
b) Capacidade Efetiva (CE): variável que considera as intemperes do sistema,
tais como paradas, mas não o fluxo fabril e tamanho do lote. Ela é calculada
como:
CE = CP – Perdas Programadas
c) Utilização (U): variável que considera as perdas não planejadas no sistema e
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leva em consideração o fluxo fabril e o tamanho do lote.


E = CE – Perdas não Programadas
d) Capacidade operacional (CO): variável que é a capacidade com que de fato, o
administrador da planta pode contar para o seu planejamento

CO = CP X E X U
e) Eficiência (E): variável que é a razão entre a capacidade operacional e a
capacidade efetiva
E = Volume da Produção Real
CE

Para saber mais sobre capacidade produtiva, acesse Corrêa e Corrêa (2019).

É importante reforçar que as variáveis estudadas devem estar alinhadas com a


estratégia da empresa. Para exemplificar, temos as estratégias de inovação. Se uma
organização tem como objetivo desenvolver sempre novos produtos, ela não pode
planejar um processo produtivo engessado, que sirva apenas para uma fabricação em
específica.
Portanto, estas são algumas das variáveis que devem ser consideradas e discutidas
durante a primeira etapa de implantação/estruturação de uma unidade fabril. Dependendo
da mudança que acontecerá nas instalações a equipe precisará de consultores específicos
que poderão trazer mais informações referentes as tecnologias, a parte hidráulica, elétrica,
estruturais da edificação, entre outros.
O ideal dentro de um projeto de fábrica é seguir etapas definidas para chegarmos
ao objetivo. Lee (1998) recomenda começarmos do nível global e irmos detalhando as
ações até chegarmos em um nível sub micro. Por isso, vamos utilizar como base o modelo
de implantação de fábrica do autor Lee (1998) que organiza essa estrutura em 5 níveis,
são elas: global, supra, macro, micro e sub micro. (Figura 3).

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FIGURA 3- MODELO DE PLANEJAMENTO DE INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS E


DE SERVIÇOS

Fonte: Lee (1998).

O nível global e supra serão estudados no Módulo II e fazem referência a


definição do local a ser instalado a unidade produtiva e ao tipo de estrutura arquitetônica
que será estabelecida. O nível macro e micro serão estudados no módulo III. Estes fazem
referência a organização do ambiente fabril como um todo, serão apresentados com
detalhes os tipos de arranjo físico existentes, suas vantagens e desvantagens, e
ferramentas e técnicas para sua implantação. O nível sub micro faz referência a análise
dos postos de trabalho, onde serão apresentados os estudos de tempos e movimentos, no
Módulo IV.
E por fim, no último módulo são estudados os aspectos essenciais para a
implantação final da unidade fabril, tais como normas de segurança e saúde, aspectos
acústicos, iluminação, cores e elementos de movimentação e armazenamento.

Recapitulando o tópico
Neste módulo vimos o que, como e quanto produzir. Esta é a primeira etapa para

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o dimensionamento de uma unidade fabril. Aprendemos que para sua estruturação é


necessário alinharmos o portfólio de produtos com a estrutura industrial, a fim de atender
sua produção ao longo de todo o seu ciclo de vida. Vimos também, que tanto as
tecnologias selecionadas como a organização do sistema de produção precisam ser
estudadas e planejadas para atender não só a demanda atual, mas devem ser estabelecidos,
prevendo possíveis modificações no arranjo físico, visto que uma unidade fabril é um
ambiente dinâmico que recebe influências de fatores internos e externos a ela, e, portanto,
deve ser flexível.
No próximo módulo vamos estudar onde produzir, ou seja, vamos discutir sobre
a escolha e seleção da localização e como os tipos de construções influenciam na
estratégia de negócio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORRÊA, H. L. CORRÊA, C.A. Administração de produção e de operações: manufatura


e serviços: uma abordagem estratégica. 4. ed. – São Paulo : Atlas, 2019.

LEE, Quarterman. Projeto de instalações e local de trabalho. São Paulo, IMAM, 1998.

NEUMANN,C; Scalice, R. K. Projeto de Fábrica. Ed. Campus, 2015.

VILLAR, A de M; NÓBREGA, J. C.L.Planejamento de Instalações Empresariais. Jão


Pessoa. Editora UFPB, 2014.
(livro disponível :
http://www.editora.ufpb.br/sistema/press5/index.php/UFPB/catalog/book/548)

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ATIVIDADE DO MÓDULO 1

1. Imagine que uma nova linha de produtos está sendo proposta pela equipe de
PDP. A equipe de PF está analisando as possibilidades de fazer ou comprar os
componentes. Apresente 2 vantagens e 2 desvantagens ao selecionar a opção de:

a) Fazer seus próprios componentes para desenvolver um produto.


b) Comprar seus componentes de fornecedores e se tornar uma empresa montadora.

2. Sobre os tipos de processos, faça uma revisão deste conceito aprendido em Sistemas
de Produção I:
a) Apresente os 5 tipos, mostrando a definição e exemplos.
b) Mostre a relação variedade e volume para cada tipo de processo.

3. Escolha um produto manufaturado qualquer para análise e responda as questões.


a) Apresente o produto, faça uma descrição técnica e insira imagens para
representação.
b) Na década de 90 como era sua fabricação, mostre maquinários, processos e
matéria-prima.
c) Nos dias atuais, como é sua fabricação.
d) Mostre as vantagens e desafios do processo de manufatura atual deste produto.

4. Descreva 2 vantagens da utilização das tecnologias para uma empresa de peças:

a) Impressora 3D
b) AGV

5. O projeto de fábrica pode ser desenvolvido em cinco níveis, conforme o modelo de


LEE (1998). Assinale o correspondente da coluna A na coluna B.

Coluna A
(1) Seleção da localização
(2) Layout
(3) Células
(4) Posto de Trabalho
(5) Tipos de construção

Coluna B
( ) Determina o tipo de construção arquitetônica, conforme a estratégia de negócio da
empresa.
( ) Neste nível projeta-se o ambiente de trabalho para se obter maior conforto, eficiência,
eficácia e segurança do trabalhador
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( ) Neste nível determina-se a localização de máquinas, equipamentos e móveis.


( )Os projetistas definem e localizam as diversas áreas macro do processo e determinam
o fluxo geral de materiais.
( ) Inclui localização dos prédios, bem como questões de infraestrutura.

6. Duas notícias da imprensa internacional, em épocas diferentes, ilustram como às


vezes as empresas esforçam-se para aumentar sua capacidade e às vezes se esforçam
para reduzi-la (adaptado de Gaithier e Frazier, 2002).
Notícia 1 (Houston Cronicle, 4 de outubro de 1997): “Os negócios vão tão bem para a
Boeing que ela está perdendo dinheiro. Apenas três anos atrás, The Boeing Co., a maior
fabricante do mundo de aviões, reduziu sua capacidade de produção, cortando 12.000
pessoas de sua força de trabalho por causa de quedas nas vendas. Recentemente, a Boeing
viu-se frente a um aumento repentino de vendas que a fez contratar 32.000 pessoas, com
planos de contratar ainda mais. Ironicamente, a duplicação do volume de pedidos da
Boeing vai fazê-la perder US$ 2,6 bilhões no próximo ano, uma notícia que fez com que
o preço de suas ações caísse mais de 7%. Num esforço de atender a estes novos pedidos,
a Boeing mais que dobrou sua taxa de produção, de 18 aviões por mês para 43. Tentou
aumentar sua capacidade o mais rapidamente possível. Infelizmente, problemas com o
planejamento de capacidade causaram um sem-número de dificuldades: falta de mão de
obra qualificada, falta de peças, uma linha de montagem irregular e entregas atrasadas de
aviões. Tentando resolver estes problemas, a Boeing teve de interromper a produção de
alguns jatos e reduzir a produção de outros. Estima-se que de 6 a 9 meses sejam
necessários para equacionar todos os problemas.”

Notícia 2 (Business Week, 31 de julho de 2000): “Os fabricantes mundiais de automóveis,


fortemente atingidos pela crise econômica recente no Brasil, estão reagindo rápido. Até a
crise econômica, esperava-se que as vendas de veículos fossem disparar no Brasil, no ano
que vem. General Motors, Ford, Daimler-Chrysler, Toyota, Fiat, Honda, Renault e
Mercedes, todas têm novas plantas ou em operação ou sendo finalizadas no Brasil. Agora,
entretanto, as previsões são de queda drástica de vendas. Respondendo a isso, as
montadoras estão tentando rapidamente cortar produção e capacidade produtiva. General
Motors está cortando a produção em 25%. Ford deu férias coletivas por duas semanas.
Volkswagen começou a reduzir a jornada de trabalho em duas de suas fábricas em São
Paulo, operando apenas três dias por semana em vez dos cinco. Os analistas consideram
que as ações das montadoras são sensatas, dada a volatilidade recente da economia
brasileira.”

Responda:

a) Para vocês, quanto tempo levaria para cada tipo de empresa das notícias 1 e 2 se ajustar
em termos de capacidade produtiva a seus níveis de demanda se estes aumentassem muito
de forma repentina?

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b) E quais seriam as consequências que uma empresa enfrentaria se não tivesse a


capacidade produtiva adequada para atender a sua demanda?

VIDEOS PARA ASSISTIR


Fazer uma síntese, de pelo menos 2 páginas, a respeito dos três vídeos assistidos
destacando elementos como: a importância do planejamento para a estruturação de um
projeto de fábrica, a importância de mudar a estrutura para atender o mercado, novas
tecnologias, entre outros. Use da literatura para embasar o argumento de vocês.

1. Fábrica Celulose Unidade Puma

Este vídeo para ilustrar o tamanho de uma unidade fabril e as diversas áreas que devem
ser projetadas por uma equipe, não apenas o ambiente fabril, mas o armazenamento de
matéria-prima, de produto acabado, o transporte interno e externo de produtos,
laboratórios, escritórios, áreas comuns para os colaboradores, entre outras. Tudo isso faz
parte do projeto de fábrica.
https://www.youtube.com/watch?v=D8t0xViDrp4

2. Kodak
Este vídeo mostra um pouco da trajetória da Kodak, das suas instalações e algumas
possíveis razões para que em 2012 a empresa decretasse falência.
https://www.youtube.com/watch?v=JDzQ1gx71EI

3. JEEP
Este vídeo e reportagem mostram a construção da JEEP em Pernambuco. Isso para ilustrar
a estratégia de negócio adotada pela empresa e como sua estratégia está relacionada com
a sua unidade fabril.
https://www.youtube.com/watch?v=o30jZx-rA-w
https://www.youtube.com/watch?v=dWsU4kJLAV0

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