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Unijuí - Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS

COLEÇÃO CADERNOS UNIJUÍ

 1999, Editora Unijuí


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Editor: Gilmar Antonio Bedin
Editor-Adjunto: Joel Corso
Capa: Elias Ricardo Schüssler
Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa:
Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)
A revisão do texto é de inteira responsabilidade do autor.

INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
DO PROJETO DE PRODUTOS INDUSTRIAIS
Antonio Carlos Valdiero

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO:
BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA MARIO OSORIO MARQUES — UNIJUÍ
P964 Programa de incentivo à produção docente / Ed. Unijuí. -- Ijuí : Ed.
Unijuí, 2008. -- (Cadernos Unijuí)
1. Produção intelectual - Unijuí 2.Produção docente - Unijuí
3.Ensino Superior - Textos 4.Trabalho intelectual - Unijuí.
CDU: 001(075.8)
SUMÁRIO
PREFÁCIO .......................................................................................... 5
I - INTRODUÇÃO ................................................................................ 7
1.1 - GENERALIDADES .................................................................. 7
1.2 - MORFOLOGIA DO PROCESSO DE PROJETO ............................ 7
1.3 - CICLO DE VIDA DO PRODUTO ............................................... 8
II - TREINAMENTO DE PROJETISTAS .................................................. 10
2.1 - PROCESSO DA ATIVIDADE CRIATIVA .................................... 10
2.2 - ESTÍMULO DA ATIVIDADE CRIATIVA ..................................... 11
III - ANÁLISE DAS NECESSIDADES ..................................................... 13
3.1 - INTRODUÇÃO ...................................................................... 13
3.2 - QUADRO DE IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA ....................... 13
3.3 - CASA DA QUALIDADE: QFD NO PROJETO ............................ 14
3.3.1 - ATRIBUTOS DO CONSUMIDOR (CA’s) .......................... 15
3.3.2 - CARACTERÍSTICAS DE ENGENHARIA (EC’s) ................. 15
3.3.3 - CORPO DA CASA DA QUALIDADE .............................. 16
3.3.4 - TELHADO DA CASA DA QUALIDADE .......................... 16
3.3.5 - INFORMAÇÕES SUPLEMENTARES .............................. 17
3.3.6 - EXEMPLO DE CASA DA QUALIDADE .......................... 18
IV - PROJETO CONCEITUAL .............................................................. 19
4.1 - INTRODUÇÃO ...................................................................... 19
4.2 - TÉCNICA DE ANÁLISE FUNCIONAL DE SISTEMAS (FAST) ....... 19
4.3 - MÉTODO DE MUDGE ........................................................... 22
4.4 - BUSCA POR PRINCÍPIOS DE SOLUÇÃO ................................. 24
4.5 - MATRIZ MORFOLÓGICA ....................................................... 29
4.6 - SÍNTESE DE CONCEPÇÕES ................................................... 31
4.7 - AVALIAÇÃO E ESCOLHA DA MELHOR CONCEPÇÃO ............. 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 35
PREFÁCIO
Esta publicação surgiu de uma necessidade observada durante as aulas de
Projeto, ministradas a alunos do curso de engenharia (Unijuí) e do curso técnico
(CTM/CEP), onde a Metodologia de Projeto de Produtos Industriais é abordada de
maneira criativa e inovadora. Para muitos destes alunos, a metodologia estudada
serve de orientação e auxílio no desenvolvimento de seus projetos de engenharia.
Nos últimos anos, muitos artigos e estudos novos sobre a Metodologia de
Projeto foram publicados no exterior, mas infelizmente existem poucas publica-
ções em português sobre o assunto. Isto motivou e despertou o interesse em
escrever este trabalho. Inicialmente, tem-se a apresentação de alguns conceitos
e aspectos importantes na metodologia de projeto, e então, uma visão geral das
primeiras fases do processo de projeto: a Análise das Necessidades e o Projeto
Conceitual.
O objetivo é complementar este material com o passar dos anos, atualizan-
do-o e acrescentando novos capítulos e temas relacionados com a Metodologia de
Projeto. Quaisquer críticas ou sugestões para melhoramento deste trabalho
podem ser enviadas para:

Prof. Antonio Carlos Valdiero


Laboratórios de Projeto e Automação - Divisão Projeto do Produto
Unijuí - Campus Panambi
Caixa Postal 14 ou FONE-FAX: (0__55) 3375-4466
98280-000 PANAMBI-RS
e-mail: valdiero@detec.unijui.tche.br

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I - INTRODUÇÃO

1.1 - Generalidades

Diante da competitividade existente, tanto no mercado mundial como no


nacional, o aumento da produtividade e da qualidade é muitas vezes uma questão
de sobrevivência para o empresário. PORTER (1985) e DRUCKER (1987)
relatam a experiência de várias empresas americanas que, na prática da
inovação, venceram a competitividade. Neste contexto, segundo BACK (1993),
as primeiras fases do desenvolvimento do produto são de fundamental importância
para o sucesso do projeto, pois avaliando os detalhes de projeto, fabricação,
montagem, inspeção, transporte, venda, assistência técnica, descarte e outros,
desde o início do desenvolvimento, problemas podem ser detectados e resolvidos
de maneira mais fácil, rápida e barata. A metodologia de projeto procura orientar
e ajudar o projetista na sistematização das informações de forma organizada,
lógica e criativa, combinando os conhecimentos científicos e tecnológicos já
adquiridos, e de diversas áreas do conhecimento, num projeto de engenharia.

1.2 - Morfologia do Processo de Projeto

O processo de projeto de um produto, segundo PAHL e BEITZ (1992),


pode ser dividido nas seguintes fases:
⇒ Análise das Necessidades;
⇒ Projeto Conceitual;
⇒ Projeto Preliminar;
⇒ Projeto Detalhado;
⇒ Construção do Protótipo;
⇒ Testes e Modificações do Protótipo;
⇒ Documentação do Projeto.
Em cada uma destas fases, aplicam-se técnicas e ferramentas para melhor
desempenho do processo de projeto.
Na fase da Análise das Necessidades é formulada uma proposta de projeto
ou a identificação de um problema de engenharia, a qual deve representar com
o máximo de fidelidade os desejos do cliente ou público alvo, levando em conta as

7
peculiaridades de cada etapa do ciclo de vida do produto. Desta fase, resulta uma
lista de requisitos e restrições de projeto que serviram de base para o Projeto
Conceitual.
O Projeto Conceitual parte, então, de uma necessidade bem definida e,
através de uma exaustiva geração de idéias, síntese e avaliação de diversas
proposições de concepções, chega em uma concepção inicial para solução do
problema. Esta fase, exige do projetista uma intensa atividade criativa no
desenvolvimento de produtos inovadores.
Uma vez definida uma concepção inicial viável, faz-se no Projeto Preliminar
os cálculos, dimensionamentos, análise estáticas e dinâmicas, simulações numéri-
cas e/ou otimizações necessários; e no Projeto Detalhado são definidas as
especificações de materiais, componentes padronizados e peças a serem fabricadas,
assim como a elaboração dos desenhos técnicos para manufatura e da lista de
componentes para compra. Estas duas fases são feitas quase que simultaneamen-
te; e em qualquer fase do projeto, pode-se voltar à fase anterior ou ao início, caso
a concepção escolhida torna-se inviável ou surjam novas e melhores idéias durante
o projeto, num processo de contínua realimentação de informações.
Finalmente, detalhado o projeto, tem-se as fases de Construção do
Protótipo, Testes e Modificações, onde a idéia concebida nas fases anteriores se
concretiza.
Na fase de Documentação do Projeto, deve-se organizar todos os documen-
tos, relatórios, croquis e desenhos gerados desde a Análise das Necessidades.
Nesta fase, também termina-se a elaboração dos manuais de montagem, de
manutenção, e de uso e operação. O projeto das embalagens para acondiciona-
mento e transporte deve ser realizado de acordo com as exigências e normas do
mercado.
Em empresas de produção seriada ou em lotes, cujo volume de produção
do produto é grande e viabiliza a utilização de ferramentas para injeção de plástico,
fundição, estampagem e/ou outros processos, pode-se incluir outras fases no
processo de projeto tais como: Projeto do Cabeça de Série ou Piloto, Projeto do
Ferramental, etc.

1.3 - Ciclo de Vida do Produto

O ciclo de vida do produto pode ser definido como o período que


compreende desde o surgimento ou a concepção do produto até seu descarte ou
reciclagem. As principais etapas do ciclo de vida do produto são:

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⇒ Produção;
⇒ Distribuição;
⇒ Uso e Operação;
⇒ Descarte.
A etapa de produção é composta das atividades de Projeto e Manufatura
do produto, onde o produto é concebido e fabricado.
A distribuição começa no momento em que o produto acaba de ser
fabricado e vai até o instante em que o cliente começa a utilizá-lo. Engloba a
armazenagem ou o estoque do produto acabado, o transporte, o apoio logístico,
a assistência técnica na montagem e treinamentos para o usuário.
Quando o cliente inicia a utilização do produto no ambiente de trabalho,
então tem-se a etapa de Uso e Operação. Esta etapa termina quando o produto
perde a utilidade, fica ultrapassado, estragado ou em condições de risco e perigo.

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II - TREINAMENTO DE PROJETISTAS

2.1 - Processo da Atividade Criativa

O homem sempre encontra problemas que exigem criatividade para


serem resolvidos de maneira original. Cada homem tem certo dom de
criatividade. Durante a vida, o homem tem a capacidade de maximizar ou
minimizar sua criatividade. Atitudes positivas em frente à vida, liberdade de ação
e senso de responsabilidade podem aumentar a criatividade e as chances de
sucesso em relação aos seus projetos. Por outro lado, o homem pode ser dominado
por atitudes negativas, subjetivas e limitadoras de sua liberdade de ação. Em
conseqüência, sua criatividade será minimizada, diminuindo suas possibilidades de
sucesso.
Características pessoais como:
otimismo,
mente aberta,
autoconfiança,
descontentamento construtivo,
paciência,
ambição,
firmeza,
concentração,
perseverança,
adequadamente desenvolvidas maximizam o grau de criatividade.
Ao contrário, as características pessoais que minimizam o desenvolvimento
da criatividade são:
atitude pessimista
ceptismo (dúvida de tudo)
falta de fé na conclusão do projeto
incerteza
fanatismo
medo de críticas
medo de fracasso
preguiça.

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Um ambiente que alimente essas características negativas durante a vida
de uma pessoa obviamente estará diminuindo a sua criatividade, não permitindo
pleno uso da experiência e conhecimento acumulados durante a vida.

2.2 - Estímulo da Atividade Criativa

O desenvolvimento das características pessoais não é a única maneira de


maximizar as atividades criativas. Existem técnicas especiais que podem ser
usadas para estimular a criatividade.
Muitas pessoas, ao enfrentar problemas que precisam ser resolvidos de
maneira original, têm dificuldades em encontrar o ponto de partida para a solução.
Não se deve esperar por uma luz de genialidade que, de repente, mostre a
solução. Para se ultrapassar uma absoluta falta de idéias sobre a solução do
problema, é necessário estimular a criatividade usando ferramentas adequadas.
Por exemplo, a ambição pessoal pode ser agitada para dar início ao processo de
criatividade. É necessário um esforço concentrado para se criar pelo menos uma
solução pobre. Depois da formulação da solução inicial, outras técnicas de
estimulação precisam ser introduzidas para a criação de novas idéias. Vale a pena
lembrar que idéias novas podem ser inspiradas por soluções velhas, isto é, é
necessário a procura de soluções já testadas de problemas parecidos e, depois de
análise, rejeitá-las ou adaptá-las como solução inicial.
Para o início de um processo criativo de um projeto de máquina, pode ser
aplicada a técnica da Caixa Preta, dividida nas seguintes etapas:
1o passo) Estabelecer de uma maneira resumida as condições básicas do
problema, tais como:
a) resumo das exigências de saída da máquina, do ponto de vista das
funções que ela desempenhará;
b) resumo das exigências de entrada da máquina baseada nas considera-
ções de viabilidade e aceitação do sistema total;
c) resumo dos constrangimentos intermediários da máquina que precisam
ser preenchidos, tais como espaço, peso, possibilidade de fabricação,
etc.;
d) resumo das exigências funcionais a serem preenchidas, tais como
eficiência elevada, alta rigidez, vida pré-determinada, baixo custo, etc.

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2o passo) Escolher componentes simples que satisfaçam, no mínimo, parte
das condições e exigências resumidas no 1o passo. Várias concepções precisam
ser criadas sem considerações finais de montagem e produção. Isso exige
experiência, conhecimento e gasta-se bastante tempo para a concepção da idéia
básica.
3o passo) O último passo é a síntese. Utilizando-se algumas concepções,
previamente analisadas, ligar da maneira mais simples e lógica a entrada com a
saída da máquina, lembrando-se dos constrangimentos e das exigências.
Freqüentemente, nesse ponto do projeto a concepção da máquina ou mecanismo
aparece naturalmente.
Para o sucesso desse procedimento, exigem-se perseverança e precisão na
execução de todas as etapas. Para estímulo da criatividade, pode ser usada a
implicância proposital e o descontentamento construtivo, implicando com a
validade da concepção, sua configuração e a forma de certos elementos.

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III - ANÁLISE DAS NECESSIDADES

3.1 - Introdução

Esta é a primeira fase do processo de projeto, onde se identifica uma


oportunidade de mercado ou um problema de engenharia. A Análise das
Necessidades merece uma especial atenção, pois nela são definidos os desejos do
cliente e o que deve ser projetado. Além disso, para um bom projeto, deve-se
prever uma minuciosa análise do ciclo de vida do produto. A seguir, apresenta-
se duas técnicas que auxiliam na Análise das Necessidades.

3.2 - Quadro de Identificação do Problema

O objetivo do Quadro de Identificação do Problema é analisar todas as


etapas ciclo de vida do produto, identificando descritores de entradas e saídas. A
figura 1 mostra a estrutura do Quadro de Identificação e as considerações que
devem ser feitas.
O primeiro passo é determinar as saídas desejadas, ou seja, tudo que é
requerido e desejado do produto em cada etapa. Em geral, são descritores das
necessidades das respectivas fases do ciclo produção-consumo e refletem os
resultados de um sistema completo e com sucesso. Quando um sistema é
desenvolvido, ao lado das saídas desejadas sempre surgem saídas indesejadas. Se
as suas características são apropriadamente antecipadas, seus efeitos poderão ser
minimizados.
Definidas as saídas desejadas e indesejadas, inicia-se a definição das
entradas de recursos e meio ambiente. As entradas de Recursos e Meio Ambiente
são aquelas características ou tangíveis que são disponíveis ou que influenciam o
projeto, tais como condições, facilidades, equipamentos, ambiente de produção
e trabalho, pessoal e etc.
Por último, depois de definidas todas as outras entradas para as diversas
fases do ciclo de produção-consumo, pode-se elaborar um Planejamento Estraté-
gico, respondendo a pergunta: “quais são as necessidades para iniciar o processo
e o que pode ser feito de maneira que as saídas sejam alcançadas em cada etapa
do ciclo de vida?”

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ENTRADAS SAÍDAS
PLANEJAMENTO RECURSOS E
DESEJADAS INDESEJADAS
ESTRATÉGICO MEIO AMBIENTE
PRODUÇÃO Quais as recomen- Que tipo de empre-sa, Resultados dese- Problemas inde-
(projeto e dações para pro-jeto máquinas e mão de jáveis no projeto e sejáveis durante o
fabricação) e fabricação? obra disponíveis? na fabricação. projeto e a
fabricação.
DISTRIBUIÇÃO Qual a estratégia Como será transpor- Resultados dese- Problemas inde-
(transporte, apoio para o apoio tado e estocado? E a jáveis no trans- sejáveis de trans-
logístico, estoque) logístico? assistência técnica? porte, estoque e porte, estoque e
assistência técnica. assistência técnica.
CONSUMO E Quais ações de-vem Por quem e em que Resultados, Resultados e
OPERAÇÃO ser seguidas para condições o produto desempenho e problemas
(produto em serviço alcançar os desejos será utilizado? (con- qualidades dese- indesejáveis
e/ou uso) do cliente? dições ambientais, jáveis no Produto durante o uso e a
características do durante o uso e a operação.
trabalho) operação.
DESCARTE Quais os Em que condições de Facilidades e con- Problemas inde-
(fim da vida do produto, procedimentos de estado ou tempo de uso dições desejáveis sejáveis de reci-
qdo. ultrapassado,
projeto para facilitar deve-se descartar o no descarte. clagem e descarte.
estragado ou em
condições de risco e o descarte e a produto?
perigo) reciclagem?

Figura 1 - Considerações do ciclo de vida do produto no Quadro de Identificação do


Problema.

3.3 - Casa da Qualidade: QFD no Projeto

Esta seção apresenta uma visão sumária da Casa da Qualidade dentro do


processo de projeto. Os elementos fundamentais da Casa da Qualidade são
descritos. Discute-se como desenvolver produtos com sucesso considerando a voz
do consumidor.
Segundo RAMASWAMY e ULRICH (1992), para desenvolver produtos
com sucesso, deve-se considerar a “Voz do Consumidor” explicitamente no
processo de projeto.
HAUSER e CLAUSING (1988) apontam algumas empresas que estão
tomando este caminho, empresas como a Digital Equipment, Hewlett-Packard,
AT&T, Ford e General Motors; também mostram como a Casa da Qualidade tem
sido utilizada com sucesso pelas empresas japonesas, exemplificando com o caso
da Toyota. As empresas japonesas, ao investirem em QFD (Quality Function
Deployment), aumentam os chamados custos pré-produção, mas diminuem
drasticamente os custos de reprojeto e modificações durante a produção, pois
90% das mudanças e modificações dos projetos japoneses ocorrem na fase inicial,
com a aplicação da Casa da Qualidade.

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A Casa da Qualidade é uma metodologia estruturada para organização de
informações do consumidor, ajuda os projetistas a identificarem explicitamente os
requisitos do consumidor, relacioná-los com características de engenharia, encon-
trar soluções de compromisso (“trade offs”) e avaliar as características potenciais
do produto com relação aos produtos concorrentes.
Para obtenção destas informações, requer-se ajuda do setor de “Marketing”,
pois, de acordo com RAMASWAMY e ULRICH (1992), está ficando evidente, na
prática industrial, que desejos do consumidor são obtidos do contato real com os
mesmos e que projetistas freqüentemente erram quando tentam prever o que os
consumidores querem. Assim, o pessoal de mercado obtém os dados relativos aos
clientes e produtos concorrentes, comunicando-os aos projetistas.
Os projetistas definem as variáveis de projeto, ou melhor, as características
de engenharia que são quantidades mensuráveis, que eles podem controlar.
Para simplificar e facilitar a compreensão, descreve-se a Casa da Qualidade
dividindo-a em cinco principais elementos: atributos do consumidor (CA’s, “Customer
Attributes”), características de engenharia (EC’s, “Engineering Characteristics”),
corpo (relação de CA’s com EC’s), telhado (relação entre EC’s) e informações
complementares (mercado e objetivos).
Aproveitando-se a análise das necessidades e os parâmetros definidos para
o projeto de um microtrator, discute-se um exemplo de Casa da Qualidade para
este caso. A figura 2 deve ser consultada, à medida que cada elemento da Casa
da Qualidade for descrito.

3.3.1 - ATRIBUTOS DO CONSUMIDOR (CA’s)


Os CA’s são frutos do convívio com os consumidores, de entrevistas e
levantamentos. A forma como são colocados na Casa da Qualidade, em termos
de declarações do tipo “microtrator é potente” (figura 2), representa um conjunto
de desejos do consumidor, agrupados e refinados a partir de declarações brutas
feitas no dia-a-dia do consumidor. As declarações originais são guardadas para
posterior uso, ao se incrementar a Casa da Qualidade. O peso relativo entre os
CA’s pode ser colocada em uma coluna adjacente ao corpo da Casa da Qualidade,
geralmente em porcentagem somando um total de 100. Os atributos do consumi-
dor constantes da figura 2 foram estimados, já que não se dispunha, como seria
desejado, de um levantamento adequado de mercado.

3.3.2 - CARACTERÍSTICAS DE ENGENHARIA (EC’s)


As EC’s são as variáveis de projeto ou as características de desempenho do
produto ou sistema técnico, que influenciam os atributos do consumidor. Muitas
vezes é necessário selecionar uma concepção básica para depois completar a lista
de EC’s.

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A cada uma das EC’s associa-se um valor numérico e uma unidade de
medida, mostrados nas linhas abaixo do corpo da Casa da Qualidade, juntamente
com as importâncias relativas.
O sinal de “+” ou “-” junto da declaração da EC indica se esta variável de
projeto deve ser maximizada ou minimizada, respectivamente. Na figura 2, o sinal
“-” antes da EC “massa” e o sinal “+” antes de “potência adequada”, significa que
se deseja uma solução de compromisso que minimize a massa e maximize a
potência adequada.

3.3.3 - CORPO DA CASA DA QUALIDADE


O corpo é uma matriz que relaciona os CA’s com as EC’s através de notas
representadas por símbolos ou números. Nas linhas desta matriz têm-se os CA’s
e nas colunas as EC’s, e a nota indica o quanto o projetista afeta a satisfação do
consumidor através da modificação de uma característica de engenharia.
No caso da figura 2, a satisfação do consumidor em relação a “é fácil de
manobrar” é mais influenciada pelo “raio de giro” (peso 9), comparativamente
com a “otimização do vão livre vertical” (peso 3).

3.3.4 - TELHADO DA CASA DA QUALIDADE


O telhado permite visualizar as relações entre as EC’s, mostrando como elas
interagem, por exemplo, melhorando-se uma característica de engenharia, como
são afetadas as outras EC’s.
Perguntas como “ao diminuir a massa que efeito terá sobre a potência
adequada?” são elaboradas e as respostas registradas no quadrículo do telhado
que relaciona estas duas características.
Nota-se que o telhado tem a forma de uma matriz meia banda e as notas
são dadas por símbolos. HAUSER E CLAUSING (1988) utilizam os símbolos X e
 quando as relações entre as EC’s são negativas e positivas, respectivamente.
Como exemplo, observe no telhado da figura 2, que a otimização do vão
livre vertical e a estabilidade (máximo ângulo) interagem negativamente, ou seja,
ao melhorar o vão livre vertical, a estabilidade tende a piorar, o que não se deseja.
De acordo com HAUSER E CLAUSING (1988), “Engenheiros muitas vezes
tem que balancear soluções de compromisso (trade off) quando se discutem os
benefícios do consumidor”.

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3.3.5 - INFORMAÇÕES SUPLEMENTARES
Muitas informações úteis são armazenadas na parte de baixo do corpo da
Casa da Qualidade. Valores de meta para cada EC, unidades, e os valores da EC
para produtos concorrentes (não representados na figura 2), visando propósitos
de “benchmarking” (a busca pelo melhor dos melhores) (CAMP, 1989), e
importância relativa de cada EC são informações ali contidas.
Os valores das importâncias relativas calculados para as EC’s ajudam o
projetista a verificar qual melhoramento produz maior satisfação na percepção do
consumidor.
A região à direita do corpo da Casa da Qualidade pode conter outros dados,
como o desempenho dos concorrentes para cada CA (esta região não foi
representada na figura 2) e é, também, chamada de mapa de percepção, em gíria
de “Marketing”.
Uma dificuldade encontrada ao se aplicar a Casa da Qualidade é quanto ao
relacionamento entre as EC’s, que pode ser complexo, com o telhado da Casa
da Qualidade não conseguindo armazenar todas as informações. Numa situação
típica, duas EC’s podem possuir várias variáveis em comum e as relações entre
essas EC’s com respeito a estas variáveis, podem ser diferentes. Logo, de acordo
com RAMASWAMY E ULRICH (1992), não é possível caracterizar a relação
verdadeira entre EC’s com um único símbolo representando positivo ou negativo.
A Casa da Qualidade traz muitos benefícios, entre eles como e por quanto
os projetistas podem influenciar qualidades desejadas pelo consumidor.
As importâncias relativas das EC’s, obtidas na Casa da Qualidade, são
utilizadas como critério de avaliação e escolha da melhor concepção para o projeto
do produto.

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3.3.6 - Exemplo de Casa da Qualidade

Figura 2 - Casa da Qualidade para o projeto do microtrator.

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IV - PROJETO CONCEITUAL

4.1 - INTRODUÇÃO

O projeto conceitual é aquela parte do processo de projeto onde as técnicas


de criatividade, a elaboração de estruturas de funções, a procura por princípios
de solução, suas combinações na síntese de concepções e as técnicas de avaliação
são aplicadas com o propósito de se chegar a uma solução conceitual viável e capaz
de resolver o problema.
Neste trabalho, apresenta-se a Técnica de Análise Funcional de Sistemas
(FAST), Método de Mudge, Busca por Princípios de Solução, Matriz Morfológica,
Síntese de Concepções, Avaliação Segundo Critérios Técnicos e Escolha de uma
concepção inicial.

4.2 - TÉCNICA DE ANÁLISE FUNCIONAL


DE SISTEMAS (FAST)

FAST é uma técnica de hierarquia que induz o pensamento lógico. Parte-


se da função de mais alto nível (função desejada no produto) até se chegar em
funções de nível mais baixo, as quais tornam possível a função de alto nível, ou
também chamada de função básica. A função deve ser definida por duas palavras:
um verbo e um substantivo.
Uma função é o objetivo de uma ação ou de uma atividade que está sendo
desempenhada; não é a própria ação. Visa a um resultado que deve ser
conseguido, enquanto a ação é um método para realizar o objetivo.
O diagrama FAST (Técnica de Análise Funcional de Sistemas), é muito
utilizado na Engenharia e Análise do Valor e também na fase inicial do projeto de
um produto.
Na elaboração do diagrama FAST define-se inicialmente uma função (de
alto nível), que represente bem a necessidade do usuário. E deve ser composta de
duas palavras, um verbo e um substantivo, evitando-se a utilização dos verbos que
representem o fim de uma ação (por exemplo os verbos ser, haver e acontecer).
A partir desta função chega-se nas funções de nível mais baixo fazendo-se a
pergunta “como?”, para verificar se as funções de baixo nível estão adequa-
das faz-se a pergunta “porque?”. Como resultado do diagrama FAST, tem-se um
conjunto de baixo nível que serão utilizadas na busca por princípios de solução.

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Para clarear a idéia, considere o exemplo de uma máquina agrícola com
um implemento de preparo de sulcos. A máquina possui duas funções básicas,
essenciais às necessidades, que são “produzir tração” e “preparar sulco”. Fazendo
a pergunta “Como?” chega-se às funções de baixo nível, com a pergunta
“Porque?” é possível voltar à função de nível mais alto e verificar se a associação
está correta.
As figuras 3 e 4 mostram o diagrama FAST para as funções “produzir
tração” e “preparar sulco”, vitais ao funcionamento do microtrator e do implemento
de preparo de sulcos.
CSILLAG (1991) comenta que o mérito da técnica FAST está na discussão
gerada durante sua aplicação e não no diagrama mudo, frio e pronto tal qual visto
no papel.

Figura 3 - Diagrama FAST do sistema de tração.

20
Figura 4 - Diagrama FAST do sistema de preparo de sulcos.

21
4.3 - MÉTODO DE MUDGE

Em seguida, através da técnica de avaliação numérica de relações funcio-


nais (método de Mudge) (CSILLAG, 1991), pode-se analisar as funções de baixo
nível e saber quais as mais necessárias.
Ao se aplicar o método para o exemplo anterior, primeiramente as funções
são listadas nas figuras 5 e 6, e depois avaliadas nas figuras 7 e 8, onde a última
coluna representa a necessidade relativa de cada função.
A Prover Estrutura
B Prover Ligação
C Prover Comando (Direção)
D Mudar Direção
E Produzir Potência
F Transmitir Potência
G Prover Engate (Potência)
H Prover Comando (Frenagem)
I Parar Máquina
J Regular Aceleração
K Mudar Velocidade
L Prover Apoio
Figura 5 - Lista de funções do sistema de tração.

M Regular Profundidade
N Prover Engate (Preparo de Sulcos)
O Interromper Preparo
P Prever Proteção
Q Prover Adubo
R Dosar Adubo
S Direcionar Adubo
T Agregar Adubo
U Cortar Palha
V Desagregar Terra
X Conter Terra
Figura 6 - Lista de funções do sistema de preparo de sulcos.

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Nas figuras 7 e 8, as funções (figuras 5 e 6) estão representadas por letras
e são comparadas duas a duas. Por exemplo, na 2a. linha e 2a. coluna, “B3”
significa que comparando-se a função “A” com a “B”, esta é mais importante num
grau de importância de peso 3. Assim, na 2a. linha tem-se a comparação entre
a função “A” e todas as outras; na 3a. linha, compara-se a função “B” com as
outras, e assim por diante. Na penúltima coluna, obtém-se o total de pontos para
cada função, e na última, a porcentagem de pontos que corresponde a necessi-
dade relativa de cada função. Este método é muito importante, pois permite
ponderar quais das funções são mais necessárias.
As necessidades relativas, entre as funções, serão utilizadas no método
COMPARE (CSILLAG, 1991), aplicado no final do projeto, com o objetivo de
indicar pontos de redução de custos para futuros reprojetos.
Fun- B C D E F G H I J K L SO- %
ções MA
A B3 A1 A1 E3 F2 A1 A3 A1 A2 K3 A1 10 7,1
B B3 B2 E2 F1 B3 B3 B2 J3 K2 B2 18 12,8
C D2 E3 F2 G1 C3 I2 C2 K2 L3 5 3,6
D E1 D1 D2 D3 D2 D3 K1 D1 14 9,9
E E1 E3 E3 E1 E3 E1 E3 24 17
F F3 F3 I1 F3 F2 F3 19 13,5
G G3 G1 G2 K3 G1 8 5,7
H I2 H2 K3 L3 2 1,4
I I2 K2 L2 7 5
J K3 L2 3 2
K K2 21 14,9
L 10 7,1
TOTAL 141 100

Figura 7 - Método de Mudge para o sistema de tração.

23
Fun- N O P Q R S T U V X SO- %
ções MA
M N1 O1 M1 Q2 R3 S2 T2 U3 V2 X2 1 0,9
N N1 P1 Q2 R3 S1 T3 U3 V2 X2 2 1,9
O P2 Q3 R3 S2 T2 U3 V2 X2 1 0,9
P Q2 R2 S1 T2 U3 V2 X2 3 2,8
Q R3 S2 T2 U3 V2 Q1 10 9,3
R R3 R1 U1 R1 R2 21 19,4
S T1 U2 V2 X1 8 7,4
T U1 T2 T1 15 13,9
U U2 U3 24 22,2
V V2 14 13
X 9 8,3
TOTAL 108 100

Figura 8 - Método de Mudge para o sistema de preparo.

4.4 - BUSCA POR PRINCÍPIOS DE SOLUÇÃO

Esta é a etapa de procura por princípios, mecanismos e elementos de


máquinas que satisfaçam e solucionem as necessidades representadas pelas
funções encontradas no diagrama FAST. Para cada função são sugeridas três ou
mais alternativas, para futuramente serem analisadas e então darem origem às
concepções. A partir desta fase, é aconselhável agrupar as funções que possui um
relacionamento maior, formando os chamados módulos, e partindo-se desde já
para um projeto modular.
Seguindo o exemplo, as funções obtidas pela técnica FAST são agrupadas
em quatro módulos: estrutural, transmissão de potência, comando e operação,
preparo de sulcos. A figura 9 mostra um esquema dos diferentes módulos e as
interações entre eles, o solo e o porta-implemento.

24
ESTRUTURAL
PREPARO
DE
PORTA COMANDO SULCOS
IMPLEMENTO E SOLO
OPERAÇÃO
TRANSMISSÃO
DE
POTÊNCIA

ENERGIA INFORMAÇÃO MATERIAL

Figura 9 - Os diferentes módulos e suas interações.

O módulo estrutural é composto das funções “prover estrutura (A)” e


“prover ligação (B)” com implemento. Os objetivos deste módulo são servir de
sustentação estrutural para os outros módulos e permitir uma interface adequada
com o porta-implemento.
A função “mudar velocidade (K)” é realizada por componentes em dois
módulos diferentes, assim foi dividida nas funções “K1” e “K2”.
O módulo de transmissão de potência, formado pelas funções: “produzir
potência (E)”, “transmitir potência (F)”, “prover engate (G)”, “parar máquina (I)”,
“prover apoio (L)” e “mudar velocidade (K1)”, tem a finalidade de proporcionar
uma velocidade de deslocamento adequada, e fornecer a rotação e o torque
necessários ao preparo de sulcos.
O módulo de comando e operação, representado pelas funções: “prover
comando de direção (C)”, “mudar direção (D)”, “prover comando de frenagem
(H)”, “regular aceleração (J)” e o comando de “mudar velocidade (K2)”, controla
as tarefas executadas pela máquina e serve de interface com o operador.
O módulo de preparo de sulcos, constituído das funções: “regular profun-
didade (M)”, “interromper preparo (O)”, “prover engate (N)”, “prover adubo (Q)”,
“dosar adubo (R)”, “direcionar adubo (S)”, “agregar adubo (T)”, “cortar palha (U)”,
“desagregar terra (V)”, “conter terra (X)” e “prever proteção (P)”, é responsável
pelo fornecimento de sulcos adubados e prontos para o plantio.
A seguir, são listados os princípios de solução para cada um destes módulos.

25
Módulo Estrutural
A - Prover estrutura
A -1 - chassis com avanço dianteiro para fixação de implementos
A -2 - chassis sem avanço dianteiro
A -3 - chassis com parte traseira mais larga
A -4 - chassis tubular
B - Prover ligação (consultar a figura 10)
B -1 - rótula tipo 1
B -2 - rótula tipo 2
B -3 - rótula tipo 3
B -4 - rótula tipo 4
Módulo de Transmissão de Potência
E - Produzir potência
E -1 - motor à combustão
E -2 - motor elétrico
F - Transmitir potência
F -1 - engrenagens e eixos
F -2 - correias e correntes
F -3 - eixos flexíveis
F -4 - sistema hidráulico
G - Prover engate
G -1 - embreagem de correia
G -2 - embreagem com acoplamento
G -3 - embreagem de discos
G -4 - válvula hidráulica
I - Parar máquina
I -1 - travamento da transmissão
I -2 - barra sobre rodas
I -3 - peso sobre solo
I -4 - freio a disco
I -5 - freio de tambor

26
L - Prover apoio
L -1 - rodas de microtrator
L -2 - rodas de aço com garras
L -3 - roda de esteiras
L -4 - garras
L -5 - colchão de ar
K1 - Mudar velocidade
K1 -1 - variador escalonado de engrenagens
K1 -2 - variador contínuo de polias
K1 -3 - variador escalonado de polias
K1 -4 - variador contínuo tipo cone-prato
K1 -5 - válvula hidráulica
Módulo de Comando e Operação
K2 - Mudar velocidade (comando)
K2 -1 - alavanca na vertical
K2 -2 - alavanca na horizontal
K2 -3 - punho
K2 -4 - manivela
K2 -5 - câmbio automático
C - Prover comando de direção
C -1 - volante na vertical
C -2 - volante inclinado e unido por junta universal
C -3 - alavancas
C -4 - manetes
C -5 - manivela
D - Mudar direção
D1 -1 - articulação nas rodas
D1 -2 - articulação na ligação com o porta implemento
D1 -3 - travando uma roda
D2 -1 - sem diferencial na tração
D2 -2 - diferencial de correias
D2 -3 - diferencial de engrenagens cônicas

27
H - Prover comando de frenagem
H -1 - manete
H -2 - alavanca
H -3 - pedal
J - Regular aceleração
J -1 - manete
J -2 - alavanca
J -3 - punho
J -4 - pedal
Módulo de Preparo de Sulcos
M - Regular profundidade
O - Interromper preparo
MO -1 - roda pequena auxiliar
MO -2 - mecanismo de alavanca
MO -3 - mecanismo hidráulico
N - Prover engate
N -1 - embreagem de correia
N -2 - embreagem com acoplamento
N -3 - embreagem de discos
N -4 - válvula hidráulica
Q - Prover adubo
Q -1 - reservatório tronco-piramidal
Q -2 - reservatório cúbico-piramidal
Q -3 - reservatório cilíndrico-tronco cônico
Q -4 - reservatório tronco cônico
Q -5 - reservatório de forma adaptada
R - Dosar adubo
R -1 - dosador tipo rotor canelado
R -2 - dosador tipo engrenagem

28
S - Direcionar adubo
S -1 - queda livre sobre mecanismo de incorporação
S -2 - rampa direcionada sobre mecanismo de incorporação
S -3 - queda livre na frente do mecanismo de incorporação
S -4 - direcionado, por mangueira, na frente do mecanismo de
incorporação
T - Agregar adubo
U - Cortar palha
V - Desagregar terra
TUV -1 - enxadas rotativas com eixo na horizontal
TUV -2 - cultivador de facas com eixo na vertical
TUV -3 - cultivador na forma de hélice com eixo na vertical
TUV -4 - discos lisos e dentados
X - Conter terra
P - Prever proteção
XP -1 - pára-lama de forma circular
XP -2 - pára-lama de forma trapezoidal

4.5 - MATRIZ MORFOLÓGICA

A Matriz Morfológica é um quadro no qual são representadas as alternativas


de solução para as funções da máquina (geradas na busca por princípios de
solução), e que visa facilitar a visualização, memorização e combinação dos
princípios para formação das concepções.
As alternativas são representadas por desenhos ou símbolos. Cada repre-
sentação significa uma alternativa.
A síntese de concepções é feita através da combinação apropriada dos
princípios de solução. Estes princípios de solução podem ser representados na
forma de uma matriz, a chamada matriz morfológica.
A matriz morfológica para o exemplo estudado é mostrada nas figuras 10
e 11.

29
Figura 10 - Matriz morfológica para sistema de tração.

30
Figura 11 - Matriz morfológica para sistema de preparo de sulcos.

4.6 - SÍNTESE DE CONCEPÇÕES

Nas etapas anteriores, o projetista abstrai-se procurando princípios de


solução para as funções de baixo nível de seu equipamento, máquina ou produto.
A seguir, começa o processo de síntese de concepções, onde dá-se gradativamente
corpo ao produto mediante a ligação de princípios de solução compatíveis.
A partir da matriz morfológica pode-se obter um conjunto de soluções.
Neste exemplo, foram geradas quatro concepções (figuras 13 e 14), a partir
das combinações de alguns princípios de solução, selecionados de acordo com
a figura 12.

31
Cada concepção gerada deve ser acompanhada de uma descrição minu-
ciosa (não apresentada nos exemplos desta apostila) de suas principais partes,
componentes e funcionamento, além de um esboço que ajude na descrição e
forneça uma imagem clara da idéia pensada.
concepção n° 1 concepção n° 2 concepção n° 3 concepção n° 4
A-1 A-3 A-2 A-4
B-3 B-2 B-4 B-1
E-1 E-1 E-1 E-1
F-2 F-2 F-4 F-2
G-1 G-1 G-4 G-1
I-1 I-1 I-4 I-1
L-1 L-1 L-1 L-1
K1-1 K1-1 K1-5 K1-1
K2-1 K2-1 K2-4 K2-2
C-2 C-2 C-2 C-2
D1-2 D1-2 D1-1 D1-2
D2-3 D2-3 D2-1 D2-3
H-3 H-3 H-2 H-2
J-4 J-2 J-2 J-2
MO-2 MO-2 MO-3 MO-2
N-2 N-1 N-4 N-1
Q-1 Q-1 Q-5 Q-5
R-1 R-1 R-1 R-1
S-4 S-4 S-4 S-4
TUV-1 TUV-1 TUV-1 TUV-1
XP-1 XP-1 XP-1 XP-1
Figura 12 - Combinação dos princípios de solução, com síntese de 4 concepções.

Figura 13 - Esboço das concepções nº1 e nº2.

32
Figura 14 - Esboço das concepções nº3 e nº4.

4.7 - AVALIAÇÃO E ESCOLHA DA MELHOR CONCEPÇÃO

Na avaliação das concepções (figura 15), os critérios adotados são os


atributos dos consumidores (ver exemplo de Casa da Qualidade, seção 3.3.6),
resumidos em características técnicas desejáveis e com os correspondentes pesos
relativos.
Por exemplo, na Casa da Qualidade, o atributo do consumidor “microtrator
é potente” é interpretado como uma característica de potência e tem peso relativo
de 4,2%, o atributo “é bonito” como uma característica de aparência e tem peso
de 3,2%. Assim foi feito para todos os atributos do consumidor, com seus
respectivos pesos relativos somados.
CARACTERÍSTICAS PES CONCEPÇÃO CONCEPÇÃO CONCEPÇÃO CONCEPÇÃO
DESEJÁVEIS O N°1 N°2 N°3 N°4
Potência 4,2 9 6 10 9
Manobrabilidade 13,7 3 7 9 8
Versatilidade 16,8 7 6 9 8
Durabilidade 18,9 7 6 7 9
Manutenibilidade 11,6 8 9 6 8
Segurança 10,6 6 8 8 8
Aparência 3,2 3 5 6 9
Custos 21 7 9 1 8
Pontos 100 641,8 729,5 643,4 826,3
Grau de Satisfação 100 64,18 72,95 64,34 82,63
Relativa (%)

Figura 15 - Avaliação das concepções, segundo critérios de características desejáveis.

33
Para cada uma das concepções, dá-se uma nota em relação às caracterís-
ticas desejadas. Ao final, são multiplicadas as notas pelos pesos, resultando no
número de pontos (penúltima linha). Na última linha, tem-se a porcentagem de
pontos para cada concepção, a qual representa o grau de satisfação.
A concepção nº1 possui o problema de manobrabilidade em terrenos
ondulados, devido ao avanço dianteiro, e má aparência, sendo a concepção de
menor número de pontos. Em seguida, a concepção nº3 tem a grande desvanta-
gem do alto custo de aquisição e manutenção para o sistema hidráulico. A
concepção nº2 tem uma limitação no torque, devido à utilização de um variador
de velocidades do tipo contínuo de correias. Assim, a concepção nº4 obteve o
maior número de pontos, e entre todas, é a que satisfaz melhor às necessidades.

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