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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0000957319

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1003102-24.2018.8.26.0441, da Comarca de Peruíbe, em que é apelante INSTITUTO DE
EDUCAÇÃO E CULTURA UNIMONTE S.A, é apelada LUANA MACIEL DE SOUZA
(JUSTIÇA GRATUITA).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 15ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MENDES PEREIRA


(Presidente sem voto), ELÓI ESTEVÃO TROLY E KLEBER LEYSER DE AQUINO.

São Paulo, 14 de novembro de 2019.

RAMON MATEO JÚNIOR


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 19600
Apelação nº 1003102-24.2018.8.26.0441
Apelante: Instituto de Educação e Cultura Unimonte S.A.
Apelada: Luana Maciel de Souza
Comarca: Peruíbe 1ª Vara
Juiz sentenciante: Dr. Anderson José Borges da Mota

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C.


INDENI ZAÇÃO POR DANOS MORAI S E TUTELA
ANTECIPADA Pres tação de ser viços educacionais
Aluna beneficiada pelo FI ES e PROUNI, que não
conseguiu renovar o FIES por i nconsi stênci a em s eu
sis tem a, sendo impedi da de realizar sua remat rícula no
curso de Engenhar ia de Produção Ir regularidade
apenas do s ist ema el etr ôni co e que não im pede a
autor a de perm anecer no pr ogr ama Univers idade que
exigi u o pagam ent o de valores não pagos pelo FI ES
par a dar continuidade à prestação do servi ço
Inadm iss ibi lidade Débi to inexigível Ins tit uição de
ens ino que não pode cobr ar da aluna as mensal idades
apenas porque não houve o repass e em r azão das
incons ist ências no si stema do programa FIES
Por tar ia 10/ 2010 do M EC Im pos sibili dade, ainda, de
im pedir a aluna de f azer s ua rem atr ícula, fr equent ar as
aul as ou de realizar os exames Sent ença m ant ida
RECURSO IM PROVIDO.

Trata-se de apelação interposta contra a r.


sentença de fls. 185/190, que julgou parcialmente procedente a
ação de obrigação de fazer c.c. indenização por danos morais e
tutela antecipada, fundada em contrato de financiamento
estudantil (FIES), que LUANA MACIEL DE SOUZA ajuizou em
face de INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CULTURA UNIMONTE
S.A., nos termos do art. 487, I, do CPC, para determinar que a
ré ofereça regularmente os semestres restantes do curso à
autora, procedendo com sua rematrícula e abstendo-se de
impedi-la de frequentar as aulas ou realizar as provas, sob
pena de multa diária de R$100,00 limitada a R$5.000,00, bem
como declarar a inexigibilidade do valor de R$2.375,00, relativo
às mensalidades devidas pela autora, e condenar a ré ao
pagamento de custas, despesas processuais e honorários
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advocatícios de 10% sobre o valor da causa atualizado.


Apela a ré alegando, em síntese, que todas as
intercorrências havidas são oriundas de atos não concretizados
entre aluna e financeira, de modo que a universidade, que não
recebeu o repasse, tem direito de cobrar pelos valores não
recebidos. Isso porque, a autora não conseguiu formalizar a
continuidade da contratação do financiamento estudantil junto
ao FIES, por motivos alheios ao seu conhecimento. Negou a
rematrícula da autora para 2018/01 porque não houve o
cumprimento da obrigação de pagamento. Dai porque, requer a
inversão do julgado.
Apresentadas as contrarrazões (fls. 203/207),
subiu o recurso a esta Corte.
É o relatório.
O recurso não comporta provimento.
A autora é aluna do 5º ano do curso de Engenharia de
Produção da Faculdade São Judas UNIMONTE, sendo beneficiária de
bolsa de 50% do FIES e de 50% do PROUNI. Alega que tais benefícios são
renovados semestralmente junto à entidade de ensino. No entanto, por
conta de falhas no sistema do FIES, a aluna não conseguiu proceder à sua
renovação, o que resultou no impedimento de realizar rematrícula do
curso, antes de pagar o valor de R$2.375,00, relativo às mensalidades não
pagas pelo FIES. Assim, para proceder à continuidade do curso teria que
pagar referido valor. Pugnou pela realização de rematrícula,
independentemente de pagamento de quaisquer valores, bem como pela
concessão do direito de assistir às aulas, abonando-se suas faltas, e
realizando os exames normalmente, a fim de que possa concluir seu
curso.
É certo que a autora buscou resolver a pendência junto
ao FIES, que se deu por motivos alheios à sua vontade (fls. 121/133), mas
não obteve êxito.
Sabendo-se que se aplicam à hipótese as regras do
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Código de Defesa do Consumidor, cabia à requerida, dada a inversão do


ônus da prova (art. 6º, VIII, do CDC), a comprovação de fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos ao direito da autora de refazer sua matrícula e
manter o financiamento do FIES.
Ademais, ao contrário do argumentado pela ré,
ela é sim responsável pela resolução do impasse narrado pela
autora, se ela adere ao programa FIES, o que certamente lhe
comunicará as vicissitudes temporárias a que o aluno se
submete por força da própria deficiência do serviço público.
Por outro lado, de acordo com a Portaria
Normativa do MEC nº 01/2010, artigo 25, não há óbice à
manutenção do programa, uma vez que os adiantamentos
pendentes poderão ser celebrados tão logo a falha seja
resolvida.
Confira-se:
“Art. 25. Em caso de erros ou da existência de
óbices operacionais por parte da Instituição de Ensino Superior
(IES), da CPSA, do agente financeiro e dos gestores do Fies, que
resulte na perda de prazo para validação da inscrição, contratação e
aditamento do financiamento, como também para adesão e
renovação da adesão ao Fies, o agente operador, após o
recebimento e avaliação das justificativas apresentadas pela parte
interessada, deverá adotar as providências necessárias à
prorrogação dos respectivos prazos, observada a disponibilidade
orçamentária do Fundo e a disponibilidade financeira na respectiva
entidade mantenedora, quando for o caso.”
Desta forma, detectada a falha no sistema
eletrônico do FIES, quando o benefício já está contratado pelo
aluno, é vedado à faculdade cobrar do aluno quaisquer
encargos de responsabilidade do financiamento.
Nesse sentido, confira-se o teor do artigo 2º-A,
da Portaria 10/2010, MEC:
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“Art. 2º-A É vedado às instituições de ensino


superior participantes do FIES exigirem pagamento da matrícula e
das parcelas das semestralidades do estudante que tenha concluído
a sua inscrição no SisFIES. (Redação dada pela Portaria Normativa
nº 24, de 20 de dezembro de 2011).”
Esta Corte já teve a oportunidade de se
pronunciar sobre esse tema no seguinte julgado:
“Ação declarat óri a de i nexist ência de débito.
Prestação de ser viços educacionais. I nconsi stênci a
no sist ema FI ES que im pediu a r ematrí cul a da
autora par a cursar o segundo semestre.
I rregul ari dade apenas do sistem a elet rônico e que
não i mpede a autora de per manecer no program a.
Ciênci a da r é a respeito. I nst ituição de ensi no que
não pode cobrar do aluno as m ensali dades, dada a
i rregul ari dade no sist ema do pr ogr ama FI ES.
Portaria 10/2010, MEC. Débito cobrado que é
inexigível. Dever de restit uição dos valor es pagos
pel a autora. Sentença de pr ocedência dos pedi dos.
M anutenção. Apel ação denegada.” (Apel ação nº
1000786-49.2019. 8.26.0038, Rel. Sebastião Flávio,
23ª Câmara de Dir eit o Privado, j . 31/10/2019).

Dessa forma, não poderia a ré cobrar da autora


nenhuma quantia ligada à mensalidade em atraso, pois esse
encargo não é da aluna, enquanto vigente o programa do FIES.
Também não há como impedir a aluna de fazer
sua rematrícula ou de frequentar as aulas e realizar seus
exames.
Por tudo, vê-se que a r. sentença está correta e
fica mantida por seus próprios fundamentos.
Ante o exposto, NEGA-SE PROVIMENTO ao
recurso, majorada a verba honorária para 15% do valor da
causa atualizado, nos termos do art. 85, §11º do CPC.
Em remate, considera-se prequestionada toda matéria
constitucional e infraconstitucional, com a finalidade de viabilizar o
eventual acesso à Superior Instância, mediante as vias extraordinária e
especial, observado o pacífico entendimento do Superior Tribunal de
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Justiça no sentido de que, tratando-se de prequestionamento torna-se


desnecessária a citação numérica dos dispositivos legais, bastando que a
questão posta tenha sido decidida.1
Atentem as partes e desde já se considerem advertidas,
que a oposição de embargos de declaração fora das hipóteses legais e/ou
com efeitos infringentes, lhes sujeitará a imposição da multa prevista pelo
artigo 1026, §2º, do Novo Código de Processo Civil.

RAMON MATEO JÚNIOR


Relator

1STJ EDROMS 18205 / SP, rel. Min. Felix Fischer, DJ 08.05.2006, p. 240.
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