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1.1,...,..I "A V mtnteira" - - N.

° 1

EDITORIAL "A SEMENTEIRA" Maria Lacerda de Moura

Aos revendedores das nossas edições fazemos os se-


guintes descontos:

de 5 a 20 exemplares . . . . 20% Serviço militar obrigatório


" 20 para mais 30%

para a mulher ?
Aceitamos pedidos e encomendas de qualquer livro,
jornal ou revista.

Pedidos, informações e valores

RODOLPHO F E L I P P E Recuso-me !
Caixa Postal, 195
Denuncio !
S. Paulo - Brasil

Nota — Todas as nossas edições obedecerão ao for-


mato e tipo desta.

U m exemplar desta brochura 1$000


Editorial "A S E M E N T E I R A "
Caixa P o s t a l 19 5
S. Paulo - Brasil

F E V E R E I R O D E 1938
Editorial "A S E M E N T E I R A "

Semear ... para colher.

O jornal é o arado que sulca a terra — O folheto


é a semente que fecunda o solo.
Tomamos a iniciativa de publicar mensalmente uma
brochura, ou um folheto de divulgação dos ideaes de
emancipação humana.
Queremos semear o principio de solidariedade, de
justiça e de harmonia social consubstanciados na dou-
trina libertaria.
O êxito deste empreendimento, a regularidade das
nossas edições dependerão do concurso e da bôa vontade
dos amigos c camiradas na difusão das nossas publi-
cações.

O próximo folheto será de autoria de Errico Mala-


testa — intitulado

PALESTRAS LIBERTARIAS
E M T E M P O D E ELEIÇÕES
Editorial " A Sementeira" N.° 1

Maria Lacerda de Moura

DA A U T O R A

A M U L H E R E ' UMA D E G E N E R A D A — 3.' edição.


LIÇÕES D E P E D A G O G I A — (exgotado).
RELIGIÃO DO AMOR E DA B E L E Z A — 2 / edição. Serviço militar obrigatório
D E AMUNDSEN A D E L P R E T E .

para a mulher ?
CLERO E ESTADO.
CIVILIZAÇÃO — T R O N C O D E E S C R A V O S .
AMAI E . . . NÃO VOS M U L T I P L I Q U E I S .

S A í R

C L E R O E FASCISMO.
Recuso-me !
O P R O B L E M A DA EDUCAÇÃO NO P E N S A M E N T O E
NO I D E A L I S M O D E F E R R E R , O MÁRTIR DO E N - Denuncio I
SINO L E I G O .
HAN R Y N E R E O AMOR P L U R A L .
A G R A N D E ALMA — ESBOÇO DA F I L O S O F I A P R A T I -
CA D E GANDHI.
G U E R R A A' G U E R R A ! Sccsl
P S I C O L O G I A PEDAGÓGICA ( 1 / e 2 / volume» de LIçõea
de Pedagogia).

Editorial "A S E M E N T E I R A "


Caixa Postal 195
S. Paulo - Brasil

F E V E R E I R O D E 1933
Sem Patria, sem Fronteiras, sem Familia e sem Re-
ligião. . . "Afirmando" a Humanidade, tenho que "negar
a Cidade" . . . Fora da Lei: recuso os direitos de Cida-
dania. O Estado, como a Igreja, são de origem divina . . .
Patriotismo, nacionalismo, fronteira, pavilhão nacional
são corolários.
ídolos vorazes, os Deuses dos exércitos e dos autos
de fé exigem vitimas em massa.
A minha familia sou eu quem a escolhe.
A Lei impede o direito da escolha e os costumes
solidificam as leis.
A Lei nada tem que vêr com as minhas predileções
afetivas.
Aliás, podemos definir a Lei com as palavras de
Rafael Barrett:
" A Lei se estabelece para conservar e robustecer as
posições da maioria dominante; assim, nos tempos pre-
sentes, em que a arma das maiorias é o dinheiro, o obje-
to principal das leis consiste em manter inalterável a
riqueza do rico e a pobreza do pobre."
A prova cabal está na queima do trigo, do café, da
super-produção — quando ha no mundo 75.000.000 de
famintos sem trabalho: para manter o preço alto das
mercadorias, em beneficio, não do produtor, mas, do ca- defesa do Estado — que é o partido dos que o i . m <lr
pitalista, que se apoderou do produto — inutiliza-se o cima.
trabalho do produtor e deixamo-lo a braços com a mi-
Caminhamos, também nós, no Brasil, para o Fá* •
séria e a falta de ocupação.
mo cruel e teatral.
Uma sociedade capaz de organizar perversamente,
Ainda ha pouco (12 de Dezembro de 1932), no bati
legalmente, de tal modo, os costumes bárbaros de acu-
quete oferecido ao Gen. Góes Monteiro, o heróe do dia s<-
mular riquezas á custa da fome, é de tal requinte de
refere á "famosa" entrevista de Mussolini a Luavig:
crueldade que não merece absolutamente nenhuma con-
cessão. " A organização militar é uma síntese da organização
nacional. Sem nação organizada e disciplinada não pode
Sejamos objector de conciencia, agora que, no Bra-
haver Exercito. Sem Exercito não pode haver soberania.
sil, discutem-se os projetos de uma Constituição moder-
Sem soberania, não ha Estado."
níssima, tocando ás raias do Fascismo . . .
Porque, si para as trincheiras, é feita a selecção (ás E o Gen. Góes Monteiro acrescenta que "a tendên-
avessas!) e são escolhidos os fortes e os jovens — para cia da Constituição politica brasileira deve orientar-se
os serviços militares da retaguarda, nas próximas guer- incessantemente para a unidade total, politica, social,
ras de extermínio, serão todos aproveitados — homens, moral, jurídica, económica e espiritual."
mulheres, velhos, enfermos e crianças. E' a disciplina a que se refere M u s s o l i n i . . . A "ação
integralista" . . . E mais, diz o Gen. Góes Monteiro:
E não façamos como os padres e religiosos congre-
gados que organizam batalhões e os mandam para as "Toda liberdade concedida contra os interesses do
trincheiras, conservando-se, aliás, prudentemente, á dis- Estado será um foco de onde podem brotar germens
tancia e, depois, recusam-se ao serviço militar obrigató- perigosos. Toda liberdade para fortalecer a segurança
rio, sob a alegação de motivo de crença religiosa... do Estado c um bem para a coletividade que deve viver
N ã o nos apoiemos em nenhuma espécie de mule- sob permanente equilíbrio social — o que só a justiça
tas e muito menos na muleta de qualquer religião — incorruptível alcançará, guiada pelo senso das nossas rea-
revelada ou positiva. lidades e necessidades." ("O Estado de São Paulo" —

Sejamos objector de conciencia — por humanida- 13-12-32).


de. Contra a tirania. Contra a crueldade. Contra a vio- A concepção fascista do Estado é a de um ser corr.
lência. Contra a Autoridade. Contra todo e qualquer direito a tudo, de origem divina.
despotismo. Contra a tirania da força armada para a O individuo é absorvido pelo Estado: é apenas nu-
_ 9 —

mero, elemento, material humano. E' a nova concepção são ou não justos. Cumpre-lhc enfrentar corajosa-
do Estado não só fascista como bolchevique. mente a luta, irrigar o sólo com o seu sangue, procur.tr
Diz um artigo de Roger Crosti em "UEurope Nou- triunfar sobre o adversário com o máximo de honra c
velle" sobre a concepção fascista do Estado: integridade de brios." ("O Estado de São Paulo" —
"Para os "teóricos do Fascismo, como a Sr. Giovan- 13 de Dezembro, 932).
ni Gentile ou o próprio chefe do governo, o Estado é Foi assim que Mussolini decretou as "espedições pu-
uma atividade moral, uma realidade ética, programa, nitivas" que durante tres anos ensanguentaram a Itália.
missão, espirito." E' assim que a tirania restabeleceu a crueldade nas
"UEtat c'est tnot"... Nada de n o v o . . . O que c prisões fascistas, voltando aos suplícios sistemáticos da
renovado sempre, é o orgulho da "populaça de cima." éra medieval — para disciplinar. . . e pisar por sobre o
Luis X I V . . . M u s s o l i n i . . . Bolchevismo . . . cadáver da deusa liberdade.
Tem razão Mussolini: Também nós, desgraçadamente, caminhamos para o
O qualificativo de "soberano" aplicado ao povo — Fascismo tragi-comico.
não passa de um trágico gracejo . . . Já temos uma policia especializada. Já temos a "Car-
E o Estado moderno pisa por sobre o cadáver mais ta dei Lavoro" e o M i n i s t é r i o . . . policial do Trabalho.
ou menos decomposto da deusa Liberdade e ainda ha Vamos ter o voto obrigatório para homens e mulheres.
de tripudiar por cima dele . . . Teremos o "serviço militar obrigatório total", isto é
A independência individual está sendo substituída — para ambos os sexos!
pela concepção de uma conciencia coletiva. Recuso-me.
Mas, que é conciencia coletiva? — E' a conciencia Denuncio.
dos chefes de Estado: — "UEtat cest moi"... Por que a mobilização "total" do Brasil?
Coincide, com essa concepção, o discurso do Gen. Qual o "inimigo" que nos espreita?
Mariantc, saudando ao Gen. Góes Monteiro na referida Isso é o fascismo: mobiliza-se todo o Estado no
homenagem durante o almoço no Automóvel Club serviço militar obrigatório total; tiram-se todos os mo-
do Rio: vimentos das massas trabalhadoras — através da "Carta
" E ' a alta administração, sobre cujos hombros deve dei Lavoro" e do Ministério do Trabalho; "disciplina-se"
pesar o funcionamento dos demais órgãos constitutivos o individuo por meio de uma mordaça, pela lei de im-
do corpo nacional, que determina a execução de átos de prensa ou por meio das expedições punitivas e do olco
violência. N ã o compete ao Exercito discutir si taes átos de ricino, e tem-se a "ação integralista", a unidade total
— 10 —
— 11 —

— para que a "populaça de cima" possa mover-se á von- um crime inominável cenhecer essa verdade simples que
tade — afim de mais facilmente vender o território e o
os fatos de todos os dias comprovam — e querer per-
povo trabalhador, na vassalagem aos imperialismos in-
petuar a brutalidade e a tirania que vae até a morte da
glês ou yankee, de que já não passamos de colónia e de
conciencia humana — na mobilização da covardia e na
que são os governantes — os gerentes da Sociedade Anó-
tolerância legalizada do crime.
nima Limitada — o Estado, pertencente aos reis do
dólar ou da libra. N ã o podemos pactuar com o canibalismo desta so-
ciedade de vampiros a sugar todo o esforço humano e
A nossa mentalidade, filha do português "da gover-
cuja preocupação absorvente é inventar meios policiaes
nança e da fradaria" não pôde encontrar senão esse ca-
de repressão á coragem heróica da resistência, é criar
minho. Servilmente, ruminamos pelas estradas abertas,
meios cientificos e emprega-los legalmente na técnica da
da força e da violência. E admiramos a brutalidade. E
maldade oficializada.
pedimos o chicote do fe:'tor.
E a mulher, a tutelada milenar desta civilização uni-
Galgámos, em tres meses, um passo de gigante para
sexual, a criadora de vida, a sensibilidade trucidada pela
o Fascismo: é o resultado do movimento chamado "pró-
prepotência masculina, protesta contra a organização sis-
C o n s t i t u i ç ã o . . . encabeçado pelos "patriotas" de São
temática dos meios de destruição do trabalho e dos meios
Paulo. A violência dá força á violência.
de morte da juventude.
Surge, entre nós, outra casta que até aqui não ha-
E o seu lema, a divisa da mulher moderna para um
via: a casta militar.
mundo melhor — não é a violência do vampirismo so-
E tudo agora, no Brasil, vae ser militarizado — para
cial erigido em dogma da Patria ou do bezerro de ouro.
a Gloria de Deus e da Igreja, para a Gloria do Estado
A nossa divisa é um postulado de humanidade:
moderno, para a Gloria das Milícias do Fascismo.
nem carne feminina para os prostíbulos,
Nós, que até aqui fomos pacíficos por temperamen- nem carne masculina para as bocas dos canhões.
to e tradições, de agora em deante acompanharemos o Por isso, lemos, com repugnância muito humana, os
toque de reunir façanhudo da mobilização total — "pron- telegramas do Rio, de 30 de Novembro de 1932, cujos
tos para quaesquer batalhas, seguro auspicio de quaes- tópicos de uma exposição do ante-projéto da Constituição
quer vitorias" — segundo o lema fascista. Brasileira nos alarmaram até as fibras mais intimas,
A atmosfera moral do mundo civilizado está infec- numa repulsa integral.
cionada pelo virus da violência. N ã o se pôde conceber O telegrama diz positivamente: "Pôde afirmar-se,
sociedade mais vil, mais hipócrita e mais perversa. E' desde já, que o serviço militar será obrigatório para todo
— 13 —

brasileiro que completar 21 anos. Quanto a essa parte,


E, si a igualdade de direitos supõe a identidade de
na futura Constituição haverá um pormenor interessan-
encargos, e que as mulheres, em virtude desse principio,
te: as mulheres também serão obrigadas ao alistamente
se acreditam obrigadas a participar dos encargos milita-
militar para que possam ficar integralizadas na comu-
res, pergunto — por que espécie de meios contam per-
nhão politico-social. U m a vez chamadas, serão distribuí-
mitir aos homens participar, por sua vez, dos encargos
das pelos diversos serviços auxiliares, como a Cruz Ver-
maternaes?"
melha, Administração, Arsenaes, etc."
A superioridade manifesta da mulher como a cria- E é uma injuria gratuita e cruel pretender que a
dora de vida para perpetuar a espécie, a maternidade, o Mãe humana se faça deshumana e bestial — tornando-
aleitamento, os cuidados para com a criança e todas as se patriota e enviando o filho ás trincheiras — num gesto
consequências dessa escravidão que a sociedade faz pe- spartano que é a aberração de todas as leis naturaes.
sar, por isso mesmo, sobre os frágeis hombros femininos E' o que diz Leon Werth em "Ciarei Soldai", esse
— deveriam bastar para dar á mulher o direito a viver livro da guerra que é uma dor e um poema dc desespe-
integralizada na comunhão politico-social. rança e dc humanidade.
Faço minhas as nobres palavras de Nelly Roussel, E' a sua ultima pagina e a transcrevo em homena-
uma das grandes mulheres de talento e de coração a
gem á verdadeira maternidade:
serviço da emancipação humana:
" O que ha de grandeza e de pena em a missão ma- "Clavel visitou a mãe de um dos seus colegas de
terna, não será nunca demais repetir aos homens incon- escritório, morto na floresta de Apremont. Encontrou
cientes e incompreensíveis. E pretender que aquela que uma dama, instalada no seu luto patriótico. H a mães
já suporta, só, o mais pesado e o mais sublime dos encar- burguesas que não amam bastante os seus filhos, para
gos naturaes e sociaes, deva ainda, para tornar-se "igual os chorar si eles morrem numa época em que o uso quer
ao homem em direito e em valor", partilhar com ele que morram os meços. Ela o interroga pelo seu sector,
outros encargos, que ele teve a triste loucura de inventar; um pouco espantada, decepcionada talvez porque também
admitir que seja o seu concurso á obra de morte que lhe ele não tenha morrido. Saindo da sua casa, Clavel sen*
assegure emfim o salário material e moral sempre re- tiu-se mais descoroçoado do que quando sob um hom-
cusado á sua obra de vida . . . , isso me aparece como bardeamsnto cu deante dos cadáveres.
uma espécie de blasfémia. U m a velha costureira que fazia os vestidos dc sua
Si todo direito é a consequência de um dever, ne- mãe, o impediu de desesperar. Seu filho dc vinte anos
nhum ser no mundo tem mais direitos que a M ã e . fora morto, saindo da trincheira. Ela lhe mostrou a sua
— 15 —

ultima carta: " O que eu vejo é por demais horrível, hor- que se contam por números. N ã o raciocina, sente. E sen-
rível! Eu não desejaria ser ferido, curar-mc, voltar, re-
te não com o sentimento: sente com o instinto animal ou
ver isso. Prefiro morrer. Obrigado pelo que você tem
COO) o sentimentalismo da folha de p a r r a . . . aprendido
.sido para mim."
no moraliteismo de epiderme. E' apaixonada. N ã o passa
E ella disse a Clavel: alem da emoção primaria. N ã o chegou ao sentimento,
— Para que ele não morresse, eu daria a França e embora toda a literatura académica. Está mais próxima
a Alemanha . . . da emoção animal: é rancorosa, odienta, vingativa, per-
— E . . . pensou Clavel, quem a vingará? . . . E so- severante nas suas intenções. N ã o se domina. N ã o con-
bre quem recairá a vingança? . . . " trola as suas paixões. N ã o quer aprender a ser calma, a
Uma mãe burguesa, patriota; uma mãe conciente, realizar-se. D á largo curso a todos os seus impulsos. En-
uma carta dc horror, da trincheira. volve um cachorrinho de estimação em flanelas e o deita
E' isso a guerra. Aí está toda a tragedia das con- na sua almofada ao mesmo tempo que enxota uma crian-
venções sociacs. Aí está — "o grande drama da guerra ça miserável para que não suje os seus tapetes.
e da paz", pensa Clavel.
Mme. Duchêne, uma verdadeira pacifista, conta que
Os fatos revelam a mulher igual ao homem no re-
ouviu de uma mãe com seus filhos e seu genro no "front"
quinte da ferocidade e destruição animal e humana. E é
— (1914-1918):
lógico. A educação dos sexos está standardizada na dire-
ção dos mesmos sentimentos de classe ou de partidos. — Fui a Soissons. Ouvi o canhão, cétait três amu-
Mas, com uma profunda diferença que deveria ictnt!" B continua:
constituir vantagem para o homem burguês: nas escolas "Lembro-me de um film mostrando cenas atrozes
superiores e nas academias cientificas o sexo masculino, da guerra. De repente passa um cãozinho na tela. E mui-
aí como na escola da vida, encontra campo vasto para tas vozes femininas gritam: "Oh! pobre animalzinho!"
dar trabalho á sua razão. Isso não quer dizer que o ho- "Assinalei o fato a Romain Rolland; ele foi ao cinema,
mem se aproveite dessa vantagem. N ã o . Ele se instrúe na mesma cena, ouviu o mesmo grito saído de outras
para saber melhor representar o tartufo. "Vencer na bocas."
vida social" c a sua divisa e, para lá subir, abaixa-se até
Vale a pena continuar. Diz Mme. Duchêne: "Re-
reduzir a espinha dorsal a um simbolo . . .
cebi um dia a visita de Mme. Margarita Sarfati, uma
E a mulher burguesa, onde quer que estude, não italiana, numa época em que a Itália ainda não havia
vae além das emoções. São quasi divinas as exceções entrado na guerra. Ela me diz: "Como é que as france-
— 10 —

sas puderam chegar a este estado? Só vi duas mulheres nestes termos: — "Vista saias. Seja homem. <\>v.in!r!"
reagir como todas deviam reagir, é Mme. Cruppi e você." E outros mais exigentes. Houve damas que (-.shoirit-.ir.un
"Algum tempo depois, continua docemente Mme. oficiaes da policia em plena rua, gritando "Traidor!"
Duchêne, a Itália entra na guerra. Mme. Margarita Sar- Outras diziam: — "Quando morrerem os homens, ire-
fati escreve um volume, com uma ilustração na capa mos nós."
que, por si só é um símbolo: o sangue corre a jorros. E' E mais doloroso: as mães e as professoras mobili-
um livro de entusiasmo guerreiro. E hoje Mme. Marga- zaram as paradas infantis com os estandartes: — " S i
rida Sarfati dirige uma revista fascista." fôr preciso, também nós iremos." E hoje, nas escolas
Embora a conclusão de Mme. Duchêne não seja dc paulistas, as professoras continuam a "educação" mili-
absoluto desanimo, ela chega a dizer: "Creio que, si os tar e guerreira dos pequeninos paulistas para uma re-
homens não tivessem medo das mulheres, seriam menos vanche contra os seus próprios irmãos brasileiros.
belicosos."
Durante a grande guerra, mulheres francesas fura-
Mme. Séverine, Mme. Duchêne, Nelly Roussel, as ram os olhos de prisioneiros alemães. E Leon Werth em
poucas mulheres intelectuaes, burguesas ou proletárias "Clavel Soldat" conta que uma "dura burguesa, rosto de
que se opuseram á guerra no momento da guerra, pro- Juno, sombrancelhas graves e peito em proa" dizia: —
testando peia palavra, recusando-sc a contribuir para o Eu era enfermeira em uma estação. Pediram-me merenda
massacre, não indo trabalhar nas oficinas c fabricas cio para os feridos boches. Respondi: " D o u p ã o . . . guardo
munições — são essas as verdadeiras heroinas. a manteiga para os feridos franceses."
Mas, a mulher se exalta, com o homem, no desper- As melhores, fazem assim . . .
tar do instinto animal dc agressão. E' centra essa men- A mulher limita o seu raio de ação aos entes que
talidade de açougueiros que devemos protestar — em dela estão mais próximos. E' a defensora da cidadela fe-
nome da humanidade. chada e egoista da familia de sangue dentro da lei. Ou
A crueldade, o odio, o sentimento de vingança fo- a defensora da "Cidade". E', portanto, reacionaria, a
ram sempre atributos do escravo social — que se não defensora incondicional dos prejuisos sociaes e dos pre-
deixa vencer. conceitos patrióticos e religiosos — as colunas básicas
em que se apoiam os forjadores das guerras.
E, si fossemos joeirar nos fatos dos últimos acon-
tecimentos de São Paulo? A mulher é tão deshumana quanto o homem. A sua
Foram diversas as senhoras da alta burguesia que
davam na rua aos homens não fardados um bilhetinho
— 18 — — 19 —

lógica sentimentalista é lamentável, de um ridículo in-


ticipação ativa das mulheres nas principaes frentes co-
fantil tão característico que chega a atrair a simpatia.
muns: a frente do trabalho, a frente vermelha, aniqui-
Assim, em todas as classes sociacs, dentro do qua-
lou os últimos prejuisos que entretinham essa desigual
dro geral de todas as culturas intelectuaes femin nas, i
dade."
sua lógica é subordinada ao a feto, é uma lógica de par-
tidos, apaixonada, emotiva, exaltadissima, acompanhan- Kollontai se esquece da desigualdade da escravidão
do os seres que mais de perto lhe tocam o coração ou domestica e da desigualdade bem maior da maternida-
acompanhando a familia legal, embora todas as discór- d e . . . Diz ainda:
dias intestinas... " A partir do momento em que a mulher é chamada
Daí a sua crueldade, o seu indifercntismo ou a no exercito, a opinião, do que ela é na sociedade, forma-
sua ferocidade contra aqueles que podem prejudicar aos se definitivamente como sendo a c!e um membro do Es-
seus ou contra os que pensam de maneira diversa. tado, igual ao homem em direito e valor."
Quando intelectual, si se íecha»dentro do seu parti- Assim na Rússia bolchevique, assim na Itaha fascis-
do — é a mesma cousa. Daí a palavra de Kollontai: ("La ta: enquanto dura o perigo.
Voix des Femtnes" — 16, março, 1922): Passado esse, são obrigadas, como ha pouco, na
" A participação das operarias e camponesas na ar- Itália fascista, a se retirar dos empregos — para ceder
mada soviética não deve ser apreciada somente sob o o lugar aos desocupados masculinos, que teem direitos
ponto de vista do auxilio pratico que as mulheres já de- adquiridos pela força secular do sexo . . .
ram no exercito e no front, mas, segundo a transfor- Assim, proletárias comunistas, burguesas fascistas,
mação que arrasta inevitavelmente á questão da parti- burguesas democratas — a mulher deve estar contente!
cipação da mulher na obra militar."
Dentro da lei, pode furar os olhos do inimigo.
E Alexandra Kollontai é dura como o homem do Si, até aqui, fez por prazer, a sua própria mobiliza-
seu partido, e, como o homem, de quaesquer partidos, ção, agora será um numero legalizado no grande re-
quer arrastar a mulher ás mesmas crueldades ferozes do banho da carnifxina cm defesa da Patria e da Religião.
instinto guerreiro. Destoe toda a grandeza delicada da
H a tres meses, neste Brasil pacifista, de parte á
missão feminina de paz e amor — querendo torna-la
parte, as burguesas de São Paulo ou as feministas do
"igual" ao homem nos direitos á ferocidade exigida pelo
Rio de Janeiro movimentaram-se para a guerra, prestan-
Estado. Diz Kollontai:
do "conforto moral" aos soldados, d atribuindo sorrisos,
"Si a revolução de outubro estabeleceu as bases da "bonbons" e cigarros.
supressão da desigualdade passada, entre os sexos, a par- Fizeram jús á defesa n a c i o n a l . . .
— 20 — — 21 —

Excelente instrumento nas mãos da reação a que "Constituamos uma frente única contra i guerra<
vamos dando o nome de "revolução." Sob essa bandeira devemos formar um exercito de ho
Tanto se postou ostensivamente ao lado da violên- mens e de mulheres dc toda a terra, para declarar, para
cia, tanto aplaudiu, tanto homenageou os "heróes", tan- impor a paz no mundo. Nossa campanha tem um obj
to endeusou aos "vitoriosos", tanto se pôs ao serviço vo concreto — guerra á guerra — e o que menos
do massacre humano, tanto mostrou as suas qualidades nos importa é o uniforme de nossos confederados. A
varonis que — conquistou o direito do voto, e, com ele única cousa que nos interessa é a sua franqueza, sua in-
— o dever de matar. trepidez, sua abnegação absoluta á causa que nos une."
Porque, o homem forte e varonil, vitorioso c heróe (Mensagem ao Congresso mundial contra a Guerra —
— acha que a sua própria mãe não subiu ate ele . . . Para Amsterdam — 27-28-29 de Agosto, 932).
que tenha direito aos seus direitos — deve nivelar-se a E mais: em entrevista recente, Romain Rolland de-
ele na sua bestialidade. clara: " A guerra ameaça de todos os lados. E' preciso
Os sexos se equivalem nas "imbecilidades especi- levantar-se contra ela e contra os que a convertem cm
ficas . . . " industria. Guerra á guerra!"
Mas, ambos pacifistas, da "raça ovina dos pacifis- E começamos, protestando a nossa revolta contra a
tas passivos " — na frase pitoresca de Romain Rolland. mobilização feminina e masculina nos serviços da guerra.
Como os homens, as mulheres organizam embaixa- A guerra é a bestialidade acordada no homem: en-
das da p a z . . . tal qual como o homem na Sociedade das quanto os seres humanos não souberem resolver os seus
Nações ou nas Conferencias do Desarmamento. problemas ou as suas necessidades pela razão, enquanto
E, tal qual como o homem, batisa trens blindados os seus recursos de animalidade se limitarem á força
ou vae prestar "conforto moral" aos combatentes e pri- bruta e erigirem em lei o principio da violência carni-
sioneiros. ceira, estraçalhando-se como animaes ferozes sem mesmo
As exceções, homens ou mulheres, burgueses ou pro- o objetivo da luta pela nutrição imediata — inútil fa-
letários, merecem todas as homenagens dos corações bem lar em razão, espiritualidade, fraternismo, solidariedade,
altos dos que subiram além da violência e da crueldade. sentimento de amor ao próximo, verdade, justiça ou evo-
A humanidade merece outras glorificações de amor e lução humana.
solidariedade — muito além dos festins canibalescos dos N ã o passamos de bestas carniceiras. Por isso. Cem
prostíbulos ou das trincheiras. razão Einstein:
Por isso, subscrevo as palavras de Romain Rolland: "Parece-me ridículo, para não dizer trágico, que se
— 22 — — 23 —

espere que os técnicos ponham fim a essa barbaria que demónio capaz de aprovar semelhantes loucura! d l per-
é a guerra. O desarmamento não é uma questão de técni- versidade bestial da sociedade capitalista — p o r que 1.1
ca, mas, de boa vontade. zão não se pensa, antes, na neutralidade absoluta - etfl
E' uma banalidade falar do maravilhoso resurgimen- face da tragedia macabra que o mundo civilizado, pcj;'<li>
to da técnica nos últimos cem anos. Esses inventos são de ciência, prepara para os nossos dias desgraçados?
tão perigosos nas mãos das atuaes gerações, como uma E si não for tomada a resolução decisiva de com-
navalha de barba nas mãos de uma criança de tres anos: bater a guerra, si povos inteiros e individuos isolados
— em vez de libertar o homem, o que fazem é aumentar não desafiarem a guerra pela neutralidade absoluta em
as suas preocupações e reduzi-lo á fome. face de quaesquer contendas, desencadeadas pelos go-
Os armamentos modernos conduzem ás guerras e o vrnos — cúmplices da Internacional Armamentista, —
desenvolvimento do maquinismo nas fabricas, á super- a luta se generalisará automaticamente pelo mundo to-
produção, isto é, á fome. do, e gazes e micróbios, a peste, a fome e os raios da
morte não deixarão mais ninguém para brigar outra
Graças aos aperfeiçoamentos da técnica, chegaremos
vez...
a suprimir, em um abrir e fechar de olhos, milhares
de vidas humanas e o fruto de um trabalho imenso. "Não Matarás."
E' preciso declarar a guerra fora da lei." "Ama ao teu próximo como a ti mesmo."
O mundo inteiro está ás portas do fascismo. O ini- "Não faças a outrem o que não queres que te fa-
migo comum tem dois nomes: — guerra e fascismo. A çam a ti."
nossa bandeira tem dois lemas: A sociedade cristã, piedosa, caridosa, é o Anti-Cris-
Guerra á guerra! to do Apocalipse . . .
Guerra ao Fascismo!
E não se suponha que a guerra seja ainda uma hi-
pótese e que pode ser afastada. De modo algum. E' Joseph de Maistre quem abre as paginas do l i -
H a já dois anos que a guerra — sem declaração de - vro de Fernand Corços, no seu inquérito documentado
guerra — é efetiva entre Japão e China. e doloroso: "As Mulheres em Guerra." Diz Joseph dc
A índia assiste diariamente, ha dois anos, ao mas- Maistre:
sacre de hindus a gazes e a metralhadoras. " N o vasto dominio da natureza viva, reina uma
N a America do Sul, sabemo-lo de sobra . . . violência manifesta, uma espécie de raiva que arin.i
Em vez da "mobilização total" do Brasil, si não ha todos os seres... Assim, ha insetos de presa, reptil dc
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espere que os técnicos ponham fim a essa barbaria que demónio capaz de aprovar semelhantes loucuras da per
c a guerra. O desarmamento não é uma questão de técni- versidade bestial da sociedade capitalista — por que ra-
ca, mas, de boa vontade. zão não se pensa, antes, na neutralidade absoluta — em
E' uma banalidade falar do maravilhoso resurgimcn- face da tragedia macabra que o mundo civilizado, pejado
to da técnica nos últimos cem anos. Esses inventos são de ciência, prepara para os nossos dias desgraçados?
tão perigosos nas mãos das atuaes gerações, como uma E si não for tomada a resolução decisiva de com-
navalha de barba nas mãos de uma criança de tres anos: bater a guerra, si povos inteiros e individuos isolados
— em vez de libertar o homem, o que fazem é aumentar não desafiarem a guerra pela neutralidade absoluta em
as suas preocupações e reduzi-lo á fome. face de quaesquer contendas, desencadeadas pelos go-
Os armamentos modernos conduzem ás guerras e o vrnos — cúmplices da Internacional Armamentista, —
desenvolvimento do maquinismo nas fabricas, á super- a luta se generalisará automaticamente pelo mundo to-
produção, isto é, á fome. do, e gazes e micróbios, a peste, a fome e os raios da
Graças aos aperfeiçoamentos da técnica, chegaremos morte não deixarão mais ninguém para brigar outra
a suprimir, em um abrir e fechar de olhos, milhares vez . . .
de vidas humanas e o fruto de um trabalho imenso. "Não Matarás"
E' preciso declarar a guerra fora da lei." "Ama ao teu próximo como a ti mesmo."
O mundo inteiro está ás portas do fascismo. O ini- "Não faças a outrem o que não queres que te fa-
migo comum tem dois nomes: — guerra e fascismo. A çam a ti."
nossa bandeira tem dois lemas: A sociedade cristã, piedosa, caridosa, é o Anti-Cris-
Guerra á guerra! to do Apocalipse . . .
Guerra ao Fascismo! *
E não se suponha que a guerra seja ainda uma hi-
pótese e que pode ser afastada. De modo algum. E ' Joseph de Maistre quem abre as paginas do l i -
H a já dois anos que a guerra — sem declaração de vro de Fernand Corços, no seu inquérito documentado
guerra — é efetiva entre Japão e China. e doloroso: "As Mulheres em Guerra." Diz Joseph de
A índia assiste diariamente, ha dois anos, ao mas- Maistre:
sacre de hindus a gazes e a metralhadoras. " N o vasto domínio da natureza viva, reina uma
N a America do Sul, sabemo-lo de sobra . . . violência manifesta, uma espécie de raiva que arma
Em vez da "mobilização total" do Brasil, si não ha todos os seres... Assim, ha insetos de presa, reptis de
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presa, aves de rapina, peixes de rapina, e quadrúpedes do numero da sua documentação interessantíssima, en-
de rapina. N ã o ha um instante da duração em que o sêr contramos este conceito admirável de Charles Cide:
vivo não seja devorado por outro. Acima dessas nume- "Embora economista de profissão, não partilho .1
rosas raças de animaes está colocado o homem cuja mão doutrina na moda, de que a guerra não é senão o resul-
destruidora nada poupa do que vive. Mata para se nu-
tado de fatores económicos. São as paixões, muito ma l :

trir, mata para se vestir, mata para se adornar, mata


que os interesses, que desencadeiam as guerras; as mu-
para atacar, mata para se defender, mata para se ins-
lheres, mais ainda que os homens, estão sujeitas ao im-
truir, mata para se divertir — mata por m a t a r . . . "
pulso das paixões."
E Joseph de Maistre raciocina com amargura: " H a O problema não foi posto nos devidos termos: os :n-
no homem, apesar da sua imensa degradação, um ele- dustriaes de armamentos, o capitalismo, o mundo politi-
mento de amor que o leva para junto dos seus semelhan- co e económico aproveitam-se das paixões, excitam os ins-
tes; a compaixão lhe é tão natural como a respiração. tintos belicosos do patriotismo, lançam mão do prejuízo
Por que magia inconcebível está ele sempre pronto, ao nacionalista e desencadeiam as guerras — em proveito dos
primeiro rufo do tambor, a se despojar desse caráter seus interesses de chacaes que se nutrem dos campos de
sagrado para marchar, sem resistência, muitas vezes mes- batalha e assentam os seus milhões por sobre montanhas
mo com certo regosijo, afim de reduzir a pedaços, no de cadáveres.
campo de batalha, a seu irmão que nunca lhe ofendeu E a Internacional Armamentista é, verdadeiramen-
e que, por sua vez, avança para lhe fazer o mesmo, si
te, a única Internacional sem Patria, sem fronteiras, sem
puder?"
Familia e sem Religião . . .
Fernand Corços, nesse livro, sujeita a mulher a um E defendida, ferozmente, pela Patria, pelos inte-
interrogatório documentadissimo; concorda com de Mais- resses de fronteiras, de Familia e de R e l i g i ã o . . .
tre e pergunta: E é a conciencia coletiva forte, reacionaria, para per-
"Sim, o homem, mas — a mulher?" seguir, exilar, martirizar, executar, fuzilar, os indesejá-
Dada, poios fá>os, rigorosamente catalogados^ a veis humanos, os, objectores de conciencia, cuja Patria
equivalência das "imbecilidades especificas...", a mu- é o Universo, cuja Familia é a Humanidade.
lher, arrastada pela bestialidade do homem, standaidi-
zada a educação na voracidade dos idolos sangrentos da
Patria e da Religião, — entre as cartas de intelectuaes H a tres maneiras diversas de idealizar o termo d i l
guerras.
— 26 — — 27 —

1. " — Aumentando os exércitos. Multiplicando os ar- " N ã o é somente na Rússia soviética, mas tamtam
scnaes. Fazendo crescer cm qualidade e quantidade as na Polónia, Estados Unidos e Inglaterra que se dá [fll
maquinas de guerra. Mobilização geral: homens, mulhe- trução militar ás mulheres."
t res, velhos, enfermos e crianças. Exércitos gigantes abran- O Japão segue a mesma div sa. E, na China mo-
:

gendo toda a população civil. A gigantanasia no sentido dernizada, nacionalista-sovietica, sabemos que as mulhe-
militar. res irão ás trincheiras, como as russas, quando neces-
2. ° — Limitação dos armamentos. sário.
3. " — Desarmamento. J á se vê que o primeiro argumento está sendo apo a
Enquanto discutem em Genebra a 1'mitação dos ar- do fortemente — para a paz g e r a l . . .
mamentos ou o desarmamento geral na farça trágica da Os contrários ao primeiro método de idealizar a
Sociedade das Nações, os governos se armam até os paz, sabendo que a "defesa da pátria" está acima da
dentes. maternidade e da natalidade;
E' o primeiro postulado que está vigorando. A Rús- certos dc que toda a população civil será milita-
sia bolchevique mobilizou permanentemente a mulher
rizada;
— para a próxima defesa dos seus princípios: a chama-
cientes de que, quando as nações entram nesse ca-
da Ditadura Proletária.
minho, a casta militar guerreira e destruidora dominará,
A Itália Fascista organizou o faseio feminino e as e, todos os créditos lhe serão outorgados para o massa-
competições atléticas para a mulher. cre — em prejuizo de tudo mais (instrução, saúde, assis-
Tenho em mãos a ed ção alemã " A Luta pelo des-
;
tência, etc;
armamento", em quatro linguas — inglês, alemão, fran- que será o advento do crime, do saque, da peste, da
cês e castelhano, na qual ha fotografias de moças cm miséria, sem resultado, sem beneficio algum para o gé-
trajos militares e até munidas de mascaras para gazes, nero humano, porque "a ciência matou a conciencia";
outras em exercícios de tiro, marchas, etc. E as legendas: e que "a força de cada nação não será proporcio-
"Homens, mulheres, crianças. — nalmente aumentada, mas as perdas cm vdas humanas
"Em vez de envernizar os bancos escolares, os estu- e em riquezas serão singularmente engrandecidas";
dantes poloneses aprendem a montar como soldados de e, em virulência o ardor guerreiro, despertos os ins-
cavalaria e as moças a atirar na infantaria." tintos bestiacs dc carnagem. mais difielmente serão apa-
E mais: ziguados:
"Homens, mulheres, crianças. —
— 28 — — 29 —

exasperadas as paixões, ninguém mais poderá conter que seriam precisas para elimina-lo em beneficio d l "po
a onda de delírio e destruição; pulaça de cima."
e o respeito á vida humana, o respeito á liberdade Que o digam Sócrates e Cristo.
individual e ao espirito de independência constituirão um Tudo é anti-Cristo na sociedade Cristã.
mito no seio de uma organização social de canibaes ci- E Gandhi vae morrer voluntariamente para aio
vilizados e intoxicados da ciência de matar; confessar que ainda não é tempo de despertar os
e que essa "loucura planetária" é o suicídio coletivo mortos . . .
do género humano através da gigantanasia da técnica de Dar a outra face á bofetada social, por amor, n.m
guerra cientifica; pode medrar na civilização do bezerro de ouro que res-
— os contrários á gigantanasia dos exércitos e da ponde com o box ou com a guerra cientifica: I n ú t i l . .
mobilização geral de todos os seres utilizados nos depar- Só um povo inteiro de apóstolos á altura de Gandhi.
tamentos da guerra, passam a pedir o limite dos arma- Assim, é a primeira ideia a que predomina sob a
mentos ou o desarmamento total. mascara de paz — com a intenção de hegemonia e in-
As duas ultimas hipóteses são tão absurdas como dependência nacional contra a independência e hege-
a primeira. monia de além fronteiras.
Limitar os armamentos é impossivel no estado agres- Portanto, a "iniciativa ousada do projeto de lei"
sivo e industrial a que chegou a organização social. Cada elaborado sob a presidência de M . Paul Boncour á "Co-
país quer a hegemonia e defende agressivamente o seu missão de estudos do Conselho superior da defesa nacio-
imperialismo contra o imperialismo vizinho. nal" (França,) defendida pelo mesmo Sr., como "rap-
E a industria dos armamentos é a Maquiavelica As- porteur" ante a Camara, "consiste — segundo as con-
sociação Anónima que governa o mundo moderno. sequências da ultima guerra — em declarar que n ã o ha
O desarmamento total é ainda mais utópico. mais distinção entre aqueles que são chamados sob as
Seria preciso primeiro desarmar os espíritos. E a bandeiras e os outros. Sem distinção de idade ou de
humanidade não é composta de Cristos ou de Gandhis. sexo, todos devem servir nos lugares que lhe são assi-
Seria necessário que todos os povos se transformas- nalados, todos os recursos do país devem ser retesados
sem em povos de apóstolos. E, seria mudada a face do para a sua libertação."
m u n d o . . . Mas, um apostolo sozinho é amordaçado ou Desse modo, o que a mulher faz hoje, por prazer,
executado, e, desencadeia mais perseguições, mais ódios de livre e espontânea vontade ou dentro do fatalismo
e mais violências, mais vinganças c mais crueldades do da passividade, ou impelida pela covardia de resistir i«>
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delírio coletivo — Cruz Vermelha, Cruz Azul, Cruz E , desafiando a brutalidade coletiva, cm vez de
Verde, policia, substituição nos serviços públicos, orga- esperar que me venham buscar para a mobilizar.to, eu
nização de obras de assistência e espionagem, — terá me apresentarei voluntariamente afim de ser fuzilada
de fazer pela mobilização geral. logo, poupando a mim mesma a amargura de vêr o de
satino do direito da força, embandeirada em arco 1
Isso significa simplesmente que chegou o momento
extremo de tomar uma deliberação de acordo com os triunfo, a tripudiar por sobre a conciencia humana, ilu-
sonhos de fraternismo, solidariedade humana e não- minada por um Cristo ou dignificada por um Gandhi.
violencia que ha anos vamos idealizando, nós, os avan- E que se não queixem as mulheres. Essa mobiliza-
guardistas, os forjadores do porvir. ção é sua obra. E ' o resultado do seu ardor patriótico
Quanto a mim, recuso-me a contribuir para a car- a serviço dos governos ou dos partidos políticos. E ' a sua
nagem civilizada da próxima guerra cientifica. inconciencia carinhosamente cultivada pela passividade
Recuso-me a me alistar ou a comparecer á chamada mental.
geral de mobilização. E ' o seu servilismo, a domesticidade a repetir a pa-
Recuso-me a cooperar, de qualquer modo, no exer- lavra de ordem da civilização unisexual. São as mulhe-
cito dc extermínio da vida humana e do desrespeito á res que, elegantes, hontem e hoje, enchem as salas dos
liberdade individual. hospitaes da Cruz Vermelha, levando o "conforto" mo-
Desde já me considero alistada ao lado daqueles ral e os "bonbons" e os sorrisos e as promessas aos guer-
que serão sacrificados, voluntariamente, á sanha nacio- reiros.
nalista. São elas que se oferecem ás oficinas militares, aos
Prefiro morrer a matar. arsenaes, ás fabricas de munições c que vão atirar flo-
E prefiro morrer — a cooperar com a loucura mi- res nos soldados que, cm massa, acovardados pelo nu-
litarista e patriótica na destruição da vida e no avilta- mero, passam nos vagons, como carne para o açougue.
mento da dignidade individual.
São elas que, endeusadas pelo Patriotismo c pela
Espero o dia, bem próximo, em que, o mundo intei- Religião, nas estações das estradas de ferro, distribuem
ro conflagrado numa guerra de exterminio, determine o sorrisos e refrescos e gulodices e cigarros, estimulando
fuzilamento em massa dos objectores de conciencia nos os homens ao massacre dos seus irmãos. São elas que
quatro cantos da terra. auxiliam o clero a enviar a carne para canhões — no
— 32 — — 33 —

iraoc patriótico em nome daquele Cristo manso e doce O meu dever, o dever que a minha concirna.i m i
dc coração ( 1 ) . impõe é o dever de me deixar matar, antes que m i
Que amanhã, quando for "legalizada" e declarada obriguem, por uma convenção idiota e util aos podero-
a mobilização feminina, não se queixem ou não venham sos, a me armar para o massacre dos meus irmãos.
dizer, como os homens de hoje, civis e militares, que "são De maneira alguma contribuirei, com o meu esfor-
obrigados", que vão "cumprir um dever". Patriotas ou ço, para essa carnificina odiosa — em nome dos ídolos
passivamente resignadas — são cúmplices dos homens da lei, da pátria ou da civilização.
nesse delirio trágico de gigantanasia militar.
Terei a coragem heróica da abstenção, da resistência,
Cumprir um dever! Cumprir o dever de matar! Mas, do desafio.
não repugna á conciencia a ideia de assassinar ou mu-
Faço minhas as palavras de Einstein, o maior cien-
tilar o semelhante?
tista vivo:
N ã o repugna a destruição dc todos os esforços mi- " E u me recusaria a todo serviço de guerra, direto
lenares do género humano?
ou indireto e procuraria convencer os meus amigos a
E como se pôde harmonizar uma conciencia com a
adotar a mesma atitude, e isso independente de toda
ideia de matar o próximo?
opinião critica sobre as causas das guerras." ( 1 ) .
Quem me poderá convencer dc que devo matar
E mais:
alguém?
"Sou pacifista absoluto. Estou disposto a que me
Que força humana pode armar o meu braço pata
citem como oposicionista ou derrotista, sem nenhuma
que eu tire a vida de meu irmão?
restrição quanto á guerra e aos métodos de violência.
Quem tem o direito dc impor á minha conciencia
Essa atitude não c somente baseada cm uma teoria cien-
o dever de pegar em armas, de fabricar armas ou con-
tifica, mas também na aversão e no desgosto profundo
tribuir para o massacre de uma guerra?'
Esse dever é a covardia coletiva. E' a bestialidade á crueldade c ao odio. " ( 2 ) .
humana. O projeto de M . Paul Boncour, na França, como a
mobilização da mulher russa, polonesa, inglesa, america-
na ou fascista-italiana constituem, desgraçadamente, o
....( 1 ) Agora, mulher de Bauru, eu vim buscar os seus
filhos, os seus maridos ,os seus noivos, os seus netos, os
seus genros. . — (Do "brilhante" discurso de S. Excia.
I). Duarte Costa, Bispo de Botucatu, no dia 25 de Agosto • (1) Entrevista ao diário de Praga "Warheit" (A
em Bauru, quando organizava o Batalhão de Caçadores Verdade).
Diocesano).
(2) Entrevista concedida a pacifistas ameneanos.
— 34 —

w
para a ação direta da não-coopcraçào com o mtlM 1
inicio da organização da gigantanasia militar da técnica
canibalesco que a sociedade civilizada preparou p.u.i *>.«.
moderna — para o massacre cientifico. Será o suicídio
coletivo. nossos dias. E me coloco, individualmente, sem nenhum
Acabou-se a paz no mundo. compromisso de associação, junto dos maiores expoente!
Desertemos. N ã o pactuemos com esses crimes abo- do pensamento contemporâneo, com Noman Angell (In-
mináveis. Nesse caso, o fuzilamento equivale á libertação. glaterra) , Natanael Beskow (Suécia), Harry Kessler
Sócrates, Cristo preferiram esse caminho. (Alemanha), o ex-presidente do Reichstag Paul Lobe
Será o nosso, si tal for preciso. (Alemanha), Victor Margueritte (França) Philip Snow-
A ciência matou a conciencia. Ou o massacre huma- den (Inglaterra), Rabindranath Tagore ( í n d i a ) , Bar-
no nas guerras cientificas vencendo a técnica moderna bedette (França), Einstein (Alemanha), Bertrand Rus-
que determinará a extinção da espécie, pela morte ou sel, Georges Duhamei (França), Arnold Zweig, H . G.
pela degenerescência, ou a salvação pela não violência Wells, Sinclair Lewis, H a n Ryner (França), generaes
heróica — na suprema resistência á perversidade orga- Verreaux (França) e von Schonaich (Alemanha) e Bratt
nizada legalmente pela mediocracia de bandidos ou vam- e Bronskog (Suécia), Remarque (Alemanha) — todos
piros sociaes. resolvidos a desafiar a guerra pela não-cooperação com
o massacre, pela suprema resistência á violência organi-
Ou Gandhi e Einstein ou "tanks" e gazes c subma-
zada pelos governos, na degenerescência delirante de ex-
rinos e aviões e raios da morte e aero-foguetes dirigidos
termínio e crueldade.
pela epilepsia da força e do poder.
Ou a bondade evangélica de Gandhi e a sabedoria Recusando-me a pactuar com essa "loucura planetá-
de Einstein ou o reinado das industrias pesadas de ar- ria", apresento testemunhas de cientistas que, tendo si-
mas c munições dos chacaes que acumulam fortunas por do chamados pelos respectivos governos, recusaram-se a
sobre o luto, o martirio e sangue. Ou a violência armada prestar-se ás experiências de gazes asfixiantes para o des-
c o massacre de todo o género humano ou a não-vio- envolvimento macabro da técnica moderna, e são: pro-
lencia c o alvorecer de uma nova madrugada para o fessor Soddy (Grã-Brctanha), professor Cohen (Holan-
despertar da razão e o alvorecer da conciencia — no co- da) , Dra. Gertrud Woker (Suissa) — "La Percé" —
nhecimento do fraternismo — para novos rumos em bus- Runham Brown — "Internacional dos Resistentes á Guer-
ca do pão e do bem estar para todos. ra" — 11, Abbey Road, Enfield (Middlesex) — In-
glaterra.
Desafiando a bestialidade deshumana, eu me alisto
ao lado da "Internacional dos Resistentes á Guerra",
— 37 —

Em conclusão: Como o homem, emotiva, apaixona- trágica da resignação feminina — o que chega a ser tam-
da, a mulher se exalta, standardizada a sua mentalidade
bém cumplicidade.
pelo tipo comum masculino, e é cúmplice dos seus desati-
A luta contra a guerra é uma guerra tremenda, a
nos no delírio planetário das guerras. E' a grande
luta aberta, de vida ou de morte, contra todas as for-
maioria.
ças sociaes reacionarias, é a ação direta, a mais podero-
A outra parte, aceita os fatos consumados, resigna- sa força revolucionaria do mundo moderno.
damente, passivamente, estoicamente, sofrendo-lhe os hor- Todos os governos são cúmplices, conciente ou in-
rores, as lagrimas na garganta, como uma fatalidade so-
concientemente, dos canibaes civilizados, forjadores das
cial, sem protesto, prestando-se aos manejos dc todos,
guerras.
servindo dc instrumentos passivos nas mãos dos patriota*
As Nações nada representam e não são grandes nem
guerreiros, manejadas habilmente pelos tartufos do mo-
se elevam pela infernal estratégia de seus generaes, mas,
raliteismo religioso.
iluminam o mundo pelo génio humano de seus pensa-
E ' necessária uma clarividência heróica paia ver a dores e artistas.
inconciencia ou a perversidade dos que são movidos pe-
Unamo-nos as mãos e os corações, homens e mulhe-
los cordéis desse Guignol voraz do capital e da industria.
res de todas as raças, de todos os credos, todos os se-
Depois, mais coragem para saltar fora desse tram-
res concientes do mundo inteiro — contra a ferocidade
polim social no desafio á crueldade organizada legal-
bestial das próximas guerras de extermínio.
mente.
Proclamemos a nossa humanidade: não ha Pátrias,
Desprêso á vida — para desafiar a corrente e não ha fronteiras para as leis naturaes.
denunciar os histriões macabros dessa farça planetária.
Todos os humanos são, como Sócrates, cidadãos do
E já se contam por números, no mundo inteiro, cs
Universo.
homens e mulheres dispostos a recuar, num supremo
E a Internacional do Pensamento deve suprimir a
exercito de resistência, e apontar o caminho da deserção
e da objecção de conciencia — ás gerações de moços vergonha barbara da Internacional Armamentista.
enganados miseravelmente pelos vampiros da organiza- Dezembro - 1932.
ção social do bezerro de ouro.
A solução do angustioso problema não pôde ser a
passividade sentimental das lagrimas ou a passividade

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