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BRUXARIA

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Carlo Ribas

BRUXARIA
O DESVENDAR DE SEGREDOS OCULTOS

5ª Reimpressã o

Rio de Janeiro/RJ, 2018

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Ribas, Carlo
Bruxaria - O Desvendar de Segredos Ocultos
2ª Ediçã o - Paraná - Brasil
Carlo Ribas Ministries - 130p

1. Vida Cristã - Libertaçã o - 2. Batalha Espiritual - 1. Tıt́ulo

Copyright © 2015 - Carlo Ribas Ministries

CATEGORIA:
Batalha Espiritual - Espiritualidade - Vida Cristã

DIAGRAMAÇÃO, EDITORAÇÃO e CAPA:


Ministé rio Carlo Ribas

DIREÇÃO EXECUTIVA:
Francine Gava de Morais Ribas

AUTOR:
Carlo Ribas

REVISÃO DE TEXTO:
Anderson Cruz

TERCEIRA EDIÇÃO:
Setembro de 2015
Todos os direitos sã o reservados.
E proibida a có pia ou reproduçã o parcial deste livro
sem autorizaçã o do autor ou do Carlo Ribas Ministries,
exceto por citaçõ es breves em crıt́icas, revistas ou artigos.

MINISTÉRIO CARLO RIBAS


www.carloribas.com.br
carloribas@carloribas.com.br

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Não te espantes diante deles, porque o SENHOR,
teu Deus, está no meio de ti, Deus grande e temível.
(Deuteronô mio 7:21)

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Luiz, estou orando por sua conversão

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Agradecimentos

A gradeço, primeiramente, ao Senhor, o Deus da


minha salvaçã o, que pela Sua infinita misericó rdia
livrou-me das garras do inferno. A minha amada
esposa Francine, que mesmo em meio à s batalhas, tem sido
companheira e amiga. Aos meus filhos, Thalles e Matheus, que
sã o meus maiores presentes.
Aos irmã os do Projeto Chapecó , tanto os que participam
presencialmente, quanto os que assistem pelo YouTube, meu
amor e gratidã o a cada um de você s.
Aos pastores, obreiros e irmã os das igrejas Unçã o e Poder,
por manterem acesa a visã o do Reino de Deus.
Ao pastor Alvaro L. Maleski e famıĺia, da Igreja Batista
Independente de Chapecó , por nos ter acolhido como filhos.
Aos irmã os do projeto Ovelhas Fié is, que tem sido
companheiros em tantos lugares do mundo.
Ao meu amigo e ovelha Giovani Correia e famıĺia, por ser
um grande abençoador da minha vida e ministé rio.

Deus abençoe todos você s!

Pastor Carlo Ribas

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PREFACIO

Q uando li pela primeira vez o livro Bruxaria, fiquei


extremamente impactado com o conteú do da
narrativa, e acima disso, em como o poder de Deus é
grandioso para resgatar, salvar e transformar um satanista em um
profeta para as naçõ es. A leitura nã o é só fá cil de absorver, mas
també m é extremamente cativante à medida que evolui o contexto
de açõ es do personagem Carlo Ribas. Este livro nos prende,
dominando a nossa atençã o racional e emocional, pois a guerra
espiritual é ferrenha e intensa em todas as suas pá ginas.Ser servo
de Sataná s, com o poder de pactos inimaginá veis, e depois ser um
candidato a servo de Deus, faz qualquer histó ria sofrer uma
reviravolta em 180 graus de direçã o. E literalmente um roteiro de
açã o hollywoodiano, uma “missã o possıv́el” para Deus, e uma
questã o de honra para o inferno nã o perder um investimento tã o
alto. Graças a Deus por meio de Cristo Jesus que essa histó ria real
tem um desfecho glorioso, poré m ainda muito longe de acabar,
pois a guerra só começou para estes que foram resgatados
literalmente do inferno. Carlo Ribas nã o só nos transmite seu
testemunho atravé s do livro BRUXARIA, mas també m nos
transporta passo a passo nessa aventura com a maestria de um
excelente escritor que narra com letras, as artimanhas e ciladas de
Sataná s contra o homem neste planeta. Tenho certeza que este
livro irá te impactar como me impactou. A Deus toda a honra e
gló rias, ao autor, agora pastor Carlo Ribas, minha gratidã o por
dividir o milagre de Cristo em sua vida.
Pastor José Mauricio - Editora Palavra Viva

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Introduçã o

Q uando escrevi o livro Bruxaria, há mais de uma dé cada,


eu era um jovem novo convertido, cansado de contar a
todo mundo a minha histó ria. Escrevi na é poca em um
caderno de dez maté rias, a mã o, e a histó ria explodiu. Nã o havia
muitos no Brasil com coragem de dizer o que eu disse. Tudo
aconteceu tã o rá pido que, quando dei conta, já era um livro e eu já
estava viajando o mundo todo, falando sobre o tema.
Hoje, vinte anos apó s minha conversã o, sou um homem
maduro, casado, pai de dois filhos e pastor de uma igreja. Por isso,
resolvi reescrever esta obra, que impactou o Brasil e o mundo.
Muitas coisas descrevi sem riquezas de detalhes, outras deixei
de mencionar, por medo de retaliaçõ es, por imaturidade e, talvez,
por falta de direcionamento, portanto, se você já leu o livro Bruxaria
- O Desvendar de Segredos Ocultos há Milê nios (Editora Naó s,
2003), você precisará ler esta nova ediçã o, ampliada, reescrita e
condicionada de uma forma linda, valorizando a obra da Salvaçã o
que só Jesus Cristo pode fazer na vida de uma pessoa.
Espero que as pá ginas que seguem possam levá -lo ao
conhecimento da natureza pecaminosa do homem distante de Deus,
fazendo-o capaz de coisas terrıv́eis e desprezıv́eis; mas també m
almejo que você conheça a Obra da Redençã o que o Senhor Deus
gerou ao enviar seu Pró prio Filho Jesus, fazendo-se sacrifıćio em
nosso lugar. A ELE, toda honra e gló ria.

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CAPITULO UM

O Inıćio

A os doze anos de idade, eu já era um menino muito


atıṕ ico, em relaçã o aos garotos da minha idade, na
dé cada de oitenta. Gostava das coisas mıśticas e da
magia. Nã o tinha muitos amigos, poré m um grupinho da minha
rua é oque restringia meu mundo. Jogava bola com eles
constantemente em um campinho pró ximo à minha casa, na rua
principal da cidade.
Vivıámos em uma cidade de interior, no estado do Paraná ,
sul do Brasil. A cidade, apesar de pequena, era um dos principais
polos do satanismo em nossa naçã o. Ali, grandes rituais eram
realizados secretamente em uma mata, atrá s de um morro que
estava no acesso principal da cidade. Eu vim de uma tradicional
famıĺia satanista, de vá rias geraçõ es de sacerdotes superiores.
Apesar de muita gente nã o saber, vivi uma infâ ncia diferente,
prometido a Sataná s, reservado ao sacerdó cio.
No satanismo existem trê s linhas de força: Tradiçõ es, que
sã o responsá veis por manter o ensino e conhecimento da magia
atravé s dos sé culos, de forma hierá rquica, passando de geraçã o
em geraçã o; Irmandades, que sã o responsá veis pelos cultos
satâ nicos, por organizar a liturgia e os locais especıf́icos para
rituais; Organizaçõ es, que sã o responsá veis por sustentar o
satanismo, atravé s de comé rcios no mercado negro, como o
trá fico de pessoas, sequestros de crianças, vendas de ó rgã os,
armas, drogas etc.
Meu avô materno era Sacerdote Superior de uma Tradiçã o

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Satâ nica, responsá vel em passar os conhecimentos
organizacionais do satanismo para novos membros. Alé m de um
mestre em conhecimentos, ele era um grande mago, termo
usado por sacerdotes que desenvolvem a magia ativamente.
Fazia rituais, encantamentos e muitas açõ es má gicas.
Sem que eu soubesse, minha mã e tinha um chamado
dentro da Tradiçã o: gerar um descendente para o meu avô , uma
vez que os filhos dele, meus tios, nã o haviam sido aceitos pelos
demô nios designados por Sataná s naquela é poca, para dar
continuidade à Tradiçã o em nossa famı́ l ia. Na ordem
numeroló gica, da cabala, o nú mero 3 é um nú mero que
simboliza a maldiçã o, impureza. No satanismo nã o se utiliza
quatro dıǵitos, apenas trê s. Nasci no dia 6-1-76, que sã o quatro
dıǵitos. Subtraindo os dois nú meros do meio (1-7) tê m o nú mero
666, que todo satanista precisa ter, de alguma forma, em seu
nome ou data de nascimento. E a identificaçã o espiritual.
Desde muito cedo, eu sentia que era diferente. Havia em
mim uma sensibilidade espiritual muito maior do que nas outras
pessoas. Certa vez, com apenas cinco anos de idade, minha mã e
levou meu irmã o mais velho e eu a uma curandeira, para fazer
alguns encantamentos que pudessem nos curar de problemas
de saú de. Eu tinha asma e bronquite e fiquei esperando a
curandeira realizar os encantamentos em meu irmã o, que na
é poca estava sofrendo com interferê ncias espirituais que o fazia
ver vultos e imagens que o impediam de dormir. Na salinha em
que eu estava, comecei a cantar uma cançã o antiga, que havia
aprendido com um “amigo imaginá rio” (hoje sei que era um
demô nio), da Tradiçã o, que abria uma portinha bem pequena e
me possibilitava olhar para outro lugar, no planeta, como se
fosse um portal para ir a qualquer lugar. Como estava muito
chato esperar ali, comecei a cantar aquela cançã o, na esperança
de abrir aquela portinha pequenina, pró ximo a mim, e eu

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O INICIO

pudesse correr para outro lugar. Os espı́ritos que estavam


possuindo aquela mulher começaram a ficar agitados a tal ponto
que minha mã e veio até mim e ordenou que parasse de cantar.
Fiquei intrigado e, quando minha mã e saiu novamente, cantei
com mais força e a portinha apareceu! Todos os demô nios que
estavam na feiticeira foram sugados por aquela porta e jogados
em algum lugar que nenhum de nó s fazia ideia de onde fosse.
A feiticeira, extremamente assustada, mandou minha mã e
me chamar para conversar com ela, a só s, na salinha de
encantamentos. Lembro como se fosse hoje: ela abaixou-se na
minha altura e disse:
- Para onde foi que você mandou os espıŕitos da tia?
Eu realmente nã o fazia ideia e respondi:
- Nã o sei, tia.
Ela, visivelmente irritada disse:
- Eu sei quem você é . Sei do que você é capaz. Entã o devolva
os meus espıŕitos!
Como eu nã o fazia ideia do que ela estava dizendo, corri
assustado para minha mã e, que prontamente me levou até meu
avô .
Era o ú ltimo ano de vida do meu avô Carlo, de quem herdei
o nome e todos os seus demô nios. Ele contou para minha mã e
que o que eu tinha estava começando a se manifestar aos poucos
e que a abertura desses portais, até espontaneamente, seria
normal. Meu avô foi até a casa da feiticeira e trouxe os seus
espıŕitos de volta, sei lá de onde.

Perto da minha casa havia um estacionamento usado por


um hotel, que tinha uma grande á rea gramada. Lá , era nosso
campinho. Todos tinham entre doze e treze anos e jogá vamos
todos os dias.
Certa vez, em um final de tarde, notei que um homem

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permanecia no portã o olhando para nó s. Ao vê -lo senti algo
perturbador, diferente, apesar de sua aparê ncia ser normal.
Continuei jogando, mas sem deixar de notar a sua presença. Nã o
demorou muito para que fizesse um gesto com a mã o, me
chamando até ele. Seu nome era Luiz e era o dono de um
pequeno jornal da cidade. Disse que sempre nos via jogando ali e
perguntou se nã o está vamos interessados em montar um time
para jogar no campeonato infantil da cidade, com um jogo de
camisas do jornal dele. Reuni meus amigos e aceitamos,
empolgados! Seria ó timo! Eu nã o sabia que aquilo era apenas
uma isca para que ele pudesse se aproximar de mim: Luiz era um
mestre da Tradiçã o e havia sido enviado para minha iniciaçã o,
que deveria ser feita aos doze anos.
Passou uma semana e decidi ir até o jornal conversar com o
Luiz. Queria acertar com ele alguns detalhes sobre nosso time de
futsal e conhecê -lo melhor. Como eu estudava à tarde, passaria lá
depois da aula, porque o jornal ficava perto da escola. Ao
té rmino da aula, como se houvé ssemos combinado, Luiz estava
na frente da escola me esperando. Espantei-me:
- Luiz? – Disse.
- Eu sei, você estava indo lá me ver, nã o é ? Eu estava
passando aqui perto e resolvi te buscar. - Ele disse sorrindo.
Fiquei impressionado, mas como coisas muito estranhas
aconteciam comigo sempre, deixei simplesmente acontecer e fui
até o jornal.
O jornal era em um quarto de hotel, de baixa qualidade, no
centro da cidade. Ali també m era sua casa. Tudo muito
desorganizado e sujo. A primeira coisa que vi quando entrei foi
uma coleçã o de discos de vinil do Iron Maiden, e gastei um tempo
olhando capa por capa. Apesar de ter imagens diabó licas e
satâ nicas, eram extremamente bem desenhadas e atraiu minha
atençã o.

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O INICIO

- Quero um dia poder desenhar como esse artista. –


Comentei.
- Olha, é perfeitamente possıv́el, desde que você encontre
essa habilidade dentro de si. – Afirmou sorrindo.
Sentamo-nos e começamos a falar sobre tudo, menos de
futebol. Ele me disse que era carioca, mas que amava o Paraná .
Tinha trinta anos e era um prodıǵio. Seu QI era alto para pessoas
da idade dele e sempre teve facilidade para aprender as coisas.
Nunca soube nada mais sobre ele, apenas que seus pais eram
separados e sua mã e havia casado novamente com um homem
por quem o Luiz nutria um ó dio mortal. Sonhava em poder vê -lo
morto. Ele també m tinha uma namorada, chamada Cris, que era
especial! Ativa, dinâ mica, esperta. Sempre há um passo a frente
de tudo. Ela era extremamente liberal, ao ponto de andar nua no
quarto, mesmo comigo lá dentro.
O tempo foi passando e fui me apegando a eles. Era um
casal modelo para mim e eu queria ser como o Luiz era.
Obviamente a falta de um pai presente em casa gerava esta
necessidade em mim. Meu pai e minha mã e separaram-se
quando eu tinha seis anos de idade e, depois disso, nunca mais
tive uma presença paterna real em casa.
Luiz sempre sabia algo sobre tudo. Qualquer assunto, ele
sabia o que falar. Quando eu tinha alguma dú vida, era ao Luiz a
quem eu recorria. Pouco a pouco fui passando cada vez mais
tempo no hotel com ele e sempre aprendendo alguma coisa
nova. Sua sabedoria assustava, apesar da aparê ncia desleixada
que tinha. Ele tocava violã o e disse que gostaria de aprender, mas
via o sacrifıćio do meu irmã o, que estava estudando guitarra,
que me fazia desistir antes mesmo de tentar. Ele sorriu
singelamente, como sempre fazia, e me disse:
- Seu irmã o sofre porque faz do jeito errado. Você precisa
buscar isso dentro de você . E fá cil! Pegue o violã o todos os dias,

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sente-se em uma cadeira e comece a conversar com ele. Passe
suas mã os sobre ele e sinta a madeira, as cordas... peça a ele que
te ensine a tocar. Diga que gostaria de lembrar-se disso, porque
todo conhecimento e toda a sabedoria já está inserida dentro de
nó s. – Ensinou.
Confesso que achei meio ridıćulo ficar conversando com
um violã o, mas a forma com que ele falava era tã o viva e
convincente que resolvi tentar. Eu sentava todos os dias e mexia
no violã o, deslizava os dedos pelas cordas e dizia ao meu
cé rebro: “eu ordeno a você que me mostre como tocá -lo!”. Em
poucos dias já estava tocando violã o, sem nunca haver feito
aulas.

ISSO TUDO SE TRATA DE UMA AÇAO DIABOLICA E


SATA N I C A E NAO D E V E S E R F E I TO P O R N I N G U E M .
OBVIAMENTE, AS AÇOES DESCRITAS NESTE LIVRO NAO SAO
ACOMPANHADAS DE PALAVRAS MISTICAS DE INVOCAÇOES,
POR NAO SER ESTE O OBJETIVO DO LIVRO.

Quando percebi que em poucos dias já estava tocando


violã o, aquilo me fez confiar ainda mais nas coisas que Luiz me
dizia e ensinava. Passei a ir todos os dias ao hotel e sempre
buscava aprender mais alguma coisa. Eu via nele a possibilidade
de ser algué m.
Luiz começou aos poucos demonstrar suas habilidades
com a magia. Primeiro, ele pregava peças, fazendo objetos se
moverem (telecinese) sem o uso de suas mã os. Ele era realmente
muito bom nisso. Copos, talheres, lá pis, tudo vinha até suas
mã os por um simples olhar. Certa vez, ele me ensinou a fazer
algo. Era simples. Tudo consistia em espetar uma borracha de
escola com um alfinete e colocar um papel amassado em cima.
Disse-me para focar minha força naquele papel e ordenar que se

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O INICIO

movesse. Tentei uma, duas, vá rias vezes até que se moveu. Senti-
me o “Superman”! Eu, uma criança pobre, sem amigos, agora
fazendo coisas fantá sticas que ningué m fazia! Comecei a treinar
em tudo o que podia. Movia folhas, pequenos objetos. Minha
autoestima aumentava a cada dia e eu, cada vez mais, queria ser
como o Luiz. Eu queria saber o que ele sabia e ter o que ele tinha.
Em uma noite, enquanto desenhá vamos algumas tirinhas
de histó rias em quadrinhos para o jornal, Luiz me mostrou algo
muito interessante. Ele me pediu para pegar um lá pis da cor azul.
Quando o segurei na mã o, ele me perguntou:
- Tem certeza que é o azul que você pegou?
Eu tinha!
- Olhe novamente! - Disse ele.
E o lá pis estava com a cor amarela e o azul estava na mã o
dele. Era impossıv́el! Fiquei estarrecido e perguntei como ele
havia feito aquilo. Mais uma vez, o olhar sereno dele,
acompanhado de um sorriso trouxe uma resposta simples:
- Você só precisa desejar! E simples, apenas queira o lá pis
azul na sua mã o.
Fechei meus olhos e desejei de todo o meu coraçã o.
Quando abri os olhos, o lá pis azul novamente estava comigo.
Outro dia, ao chegar ao hotel notei que o quarto estava
escuro, porque o sol já havia se posto. Luiz, que olhava para fora
da janela em um momento contemplativo, me pediu para
acender as luzes. Quando fui tocar no interruptor ele disse:
- Nã o com a mã o. Acenda com o seu pensamento.
Forcei muito a minha mente e nada aconteceu e ele me
explicou:
- Quanto mais força mental você fizer, mais pesado o
interruptor ficará . Tente ser suave e imaginar sua mã o saindo do
interruptor, ao invé s de tocá -lo.
Imediatamente imaginei minha mã o tocando suavemente,

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como se estivesse flutuando. A luz do quarto se acendeu.
Luiz fazia todas essas coisas para me cativar, para me
convencer de que a magia era o meu destino. Passei a trabalhar
com ele no jornal, ajudando com a arte. Cada dia de trabalho era
muito mais um dia de aula do que qualquer outra coisa. Ele me
ensinava sobre a magia, sobre os mestres do universo e sobre a
manipulaçã o das coisas. Sentá vamos na varanda do hotel e ele
movia as nuvens com movimentos das suas mã os. Fazia buracos
no meio delas e cortava outras em dois pedaços.
Algumas vezes eu o vi levitar levemente do chã o, quando
ficava muito feliz, como no dia em que seu time de futebol
ganhou o campeonato brasileiro. Ele vibrou tanto, gritou,
festejou, pulou tanto que, em determinado momento pude notar
que seus pé s nã o estavam tocando o chã o.
Desde criança eu era fascinado pela magia. Assistia aos
desenhos animados e imaginava ter superpoderes e isso, de
certa forma, auxiliou no desenvolvimento psıq ́ uico e mıśtico em
mim. Agora, vendo Luiz ali na minha frente, eu sabia que tinha a
chance de ter tudo o que sempre sonhei. Eu queria ter um poder
que ningué m tivesse. Sentei com Luiz no tapete do quarto e pedi:
- Luiz, quero ser como você . Quero ter o que você tem e
quero fazer o que você faz. Ensine-me!
Ele, entã o, passou a me contar tudo, sobre quem ele era,
sobre a Tradiçã o, sobre minha famıĺia e o poder que meu avô
Carlo havia deixado para mim. Ele me disse sobre os graus que
havia no satanismo e o que seria necessá rio para eu alcançar a
iluminaçã o. Ele disse que eu era um escolhido e que a missã o
dele era me treinar e me preparar para ser um sacerdote
superior, um dia. Ele seria meu mestre. Levantei dali com uma
certeza em meu coraçã o: eu seria um sacerdote da Tradiçã o.

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CAPITULO DOIS

A TRADIÇAO

A alta magia antiga é dividida em trê s seguimentos:


Tradiçõ es, responsá veis pelo ensino da magia;
Irmandades, responsá vel pelos cultos e liturgias e
as Organizaçõ es, responsá vel pelo sustento e logı́stica das
demais.

A Tradiçã o a que pertenci veio das raıźes mais antigas do


satanismo e, infelizmente, de um dos personagens mais
emblemá ticos da Bıb ́ lia: o rei Salomã o. A Bıb
́ lia Sagrada diz que
Salomã o casou-se com mil mulheres e dentre elas, vá rias
mulheres que adoravam demô nios cananeus. Com o passar do
tempo, Salomã o se contaminou com a idolatria das suas
mulheres e se distanciou de Deus. Com o passar do tempo
passou a ser influenciado por má gicos, mıśticos e feiticeiros que
ajudaram Davi, seu pai, a construir o Templo como artıf́ices,
como Hiran Abiff e Tubalcaim, e escreveu livros de magia, que se
tornaram referê ncia para o ensino da "antiga religiã o", como era
chamada.
Salomã o escreveu alguns livros usados pela Tradiçã o: o
Lemegeton, també m chamado de "A Chave Menor de Salomã o",
em que há os nomes dos demô nios, oraçõ es necessá rias para
invocá -los e fazê -los obedecer ao bruxo. Lá , existe a descriçã o
dos 72 demô nios das ordens antigas. Outro livro atribuıd ́ o ao rei
Salomã o é "A Chave de Salomã o", onde existem 36 liçõ es sobre
como ligar o mundo fıśico ao espiritual, abrindo portais má gicos.

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A TRADIÇAO

A Tradiçã o fazia uso de outro livro má gico, o Heptameron


que, dividido em duas partes, ensinava a se comunicar com os
demô nios do ar com invocaçõ es especıf́icas durante os sete dias
da semana e també m a realizar rituais para forçar os demô nios a
mostrar o lugar de coisas valiosas, fazer pessoas escravas, atrair
amor de pessoas, mover coisas etc.

Em 1487, a Europa estava dominada pela bruxaria, e


dentro da Igreja Cató lica havia muitos bruxos e satanistas
infiltrados. Dois bruxos, passando por inquisitores, chamados
Heinrich Kraemer e James Sprenger escreveram um manual de
caça à s bruxas, onde era possıv́el saber quais tipos de pessoas
eram bruxas (como as mulheres que nã o choravam, por
exemplo) e quais as formas de condená -las a morte e executá -
las. Esse livro se chamou Mallevs Malleficarvm e foi apoiado por
uma bula papal de Inocê ncio VIII, o principal documento
cató lico sobre bruxaria. O livro era uma jogada da Tradiçã o para
desviar o foco dos inquisitores das verdadeiras bruxas. Como a
Tradiçã o se chamava Mallevs Malleficarvm, o livro nunca foi
aprovado pela Igreja Cató lica e entrou para a lista de livros
restritos, ou Index Librorum Prohibitorum. Kraemer foi
condenado pela inquisiçã o e morto em 1490. No Brasil ele foi
lançado em 1976, exatamente no ano em que nasci.

A funçã o da Tradiçã o era administrar o ensino da magia.


Passar para as geraçõ es futuras os tratados má gicos e a cultura
mı́stica que tı́nhamos. Comunicaçã o com demô nios, uso de
poderes sobrenaturais, favorecimento à s custas de forças
ocultas. Como toda religiã o, a bruxaria desenvolve formas de
ligar o mundo espiritual ao plano fıśico e tirar proveito disso.
Dentre as muitas coisas ensinadas, havia o uso do poder dos
sonhos, també m chamado de energia onıŕica, que nos dava

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condiçõ es de dominar completamente o que sonhá vamos, e até
com o que querıámos sonhar.
Tı́nhamos o poder de entrar nos sonhos dos outros.
Vinculá vamos algué m no mundo espiritual atravé s de um
demô nio que agia na pessoa. Com isso podı́amos dominar
completamente os sonhos dele, fazendo-o até mudar decisõ es
tomadas, pensando ser um "aviso divino" ou algo assim.

DEMONIO DOS SONHOS


Quando eu estava na Tradiçã o conheci um demô nio dos
sonhos, també m chamado de Alphar, que era capaz de invadir a
mente de qualquer pessoa enquanto dormia. Nã o me lembro de
ter perguntado a ele se podia entrar na mente dos "crentes",
porque só fiquei sabendo da existê ncia de um povo chamado
"evangé lico" anos depois, mas era incrıv́el o que ele fazia. Muitas
vezes colocava tanto medo em uma pessoa que a levava à
loucura.
Ele tinha uma porta de entrada muito simples no sonho: o
estado que antecede ao sono, chamado de sono NREM, está gio 1.
Ali, naquele ponto, o espıŕito humano (també m chamado de
corpo espiritual) se eleva acima do corpo fıśico e deixa uma
brecha para o demô nio invadir a á rea de mente que fica ativa
durante o sono. Como nessa fase as atividades onıŕicas ficam
mais sucessıv́eis aos acontecimentos recentes, o demô nio entra
em imagens geradas por legalidades espirituais, como filmes de
terror, livros de ocultismo, mú sicas profanas etc.
Quando Alphar entrava, chamava os Incubos e Sú cubos,
demô nios sexuais que atuam apenas nos sonhos. Eles tinham
uma açã o conjunta: os Sú cubos, demô nios femininos apareciam
nos sonhos de homens, com aparê ncia sedutora, para fazê -los
ter uma poluçã o noturna, a fim de recolher o sê men deles,
passando assim para os Incú bus, demô nios masculinos, para

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A TRADIÇAO

que pudessem ter legalidade de manter relaçõ es sexuais com


mulheres e, em alguns casos, até engravidando-as. Como o
sê men era humano, obviamente as crianças provenientes dessas
profanaçõ es eram seres humanos legıt́imos, poré m com uma
terrıv́el maldiçã o sobre suas vidas.

Outra atividade bastante usada na Tradiçã o é o poder


sobre os elementos naturais, fogo, á gua, terra e ar. Esse poder se
tornava absurdo, com o passar dos anos e graus alcançados na
escala evolutiva. A energia telú rica é amplamente utilizada, por
entender-se que a terra é um ser vivo, energé tico, que abastece
os bruxos. Por essa razã o a grande maioria das invocaçõ es ou
rituais sã o realizados na natureza, aproveitando essa energia.
O poder de mover o vento é atribuıd ́ o ao prın ́ cipe do
inferno Belial. E atravé s dele, que os bruxos podem fazer ventar,
chover, mover nuvens etc. O poder de mover as á guas é trazido
pelo prıń cipe Leviatã , o demô nio das á guas. O fogo é gerenciado
por Sataná s e a terra por Lú cifer. Cada um dos quatro prın ́ cipes
do inferno, com seu poder, entrega ao bruxo a possibilidade de
manipular os elementos naturais.

Dentro da Tradiçã o era comum a realizaçã o de rituais onde


esses demô nios eram invocados e adorados. Em alguns rituais
os bruxos ofereciam seus corpos cortados, sangrando, a essas
entidades. Em outros, oferendas ritualıśticas eram feitas, que
variavam de pratos com fezes até a entrega do sangue de um
holocausto sacrificado vivo, humano ou animal.
A magia branca, també m chamada de teurgia, era utilizada
para curar fisicamente pessoas que procuravam os bruxos e
pagavam grandes quantias para isso. A magia negra, chamada de
maleficia, era a mais utilizada. Tanto para promoçã o pró pria
como para obter benefıćios, os bruxos sempre usavam a magia

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negra, o tempo todo. Palavras má gicas de encantamentos, gestos
mıśticos, liberaçã o do prana, substâ ncia espiritual criadora do
universo e que está nos seres vivos, segundo os mıśticos. E usada
para canalizaçã o da vontade do feiticeiro em algum lugar, como
uma demarcaçã o. Acredita-se, erroneamente, que os demô nios
sã o seres neutros, portanto podem praticar tanto o bem quanto
o mal, dependendo apenas da motivaçã o e ordem do bruxo.

O crescimento fundamental e filosó fico na Tradiçã o era


muito grande e poderoso. Havia nove graus necessá rios para
cada membro. Nem todos atingiam os ú ltimos trê s graus, mas
todos deviam iniciar o primeiro.

PRIMEIRO GRAU - APRENDIZ


E aqui que tudo começa. Um mestre de sé timo grau é
enviado a um escolhido, descendente de algum grande
sacerdote, para iniciá -lo. Tudo começa com demonstraçõ es de
sinais e prodıǵios, para gerar o desejo da pessoa a ser iniciada
em seguir os caminhos da magia. O perıo ́ do inicial demora meio
ano e é um prazo em que a pessoa escolhida deve,
espontaneamente, pedir para ser iniciado. Nada é forçado neste
primeiro grau. Acredita-se que o caminho da magia passa
apenas uma vez na vida de uma pessoa. Se a pessoa perdê -lo,
nunca mais ele volta. Portanto, no primeiro grau tudo é
espontâ neo e tranquilo, para que a pessoa escolhida tenha
certeza do que quer.
Apó s o escolhido desejar ser um iniciado, ele precisa
passar pelo perıó do de um ano lunar (treze meses de vinte e oito
dias) mais um dia de treinamentos sobre magia. E o tempo em
que aprende a filosofia da Tradiçã o, a psicologia e demonologia.
A espiritualidade do aprendiz é aguçada ao má ximo e a
sensibilidade espiritual muito trabalhada.

- 27 -
A TRADIÇAO

Na Tradiçã o só há duas formas de ingresso:


O hierá rquico, quando um membro a partir do sé timo grau
tem um parente de até quarta geraçã o que deve dar seguimento
ao nome da sua famıĺia nos tratados má gicos. Entã o, ele é o
escolhido.
Por escolha, quando um sacerdote de oitavo ou nono grau
precisa de certa pessoa da sociedade dentro de seu grupo, por
ser muito rico ou entã o muito influente em determinada á rea.
Entã o é realizada uma assembleia e o nome é colocado à
aprovaçã o. No perıo ́ do de vinte e oito dias a um ano, o candidato
é vigiado por membros da Tradiçã o. Nesse perıo ́ do, tudo o que a
pessoa faz é vigiado. Passado o tempo de aná lise, reú ne-se
novamente a assembleia e discutem-se os pareceres. Uma
votaçã o é realizada na qual treze mestres decidem: cada um tem
em sua mã o uma bolinha branca e outra preta, que a seu tempo, é
depositada em uma salva de tecido aveludado. A branca significa
"sim" e a preta "nã o". No fim da votaçã o, contam-se quantas
bolas brancas e pretas há e a que tiver maior nú mero ganha.
Um membro escolhido por votaçã o será apenas usado
para favores. Sã o considerados seres inferiores e jamais chegam
a graus elevados. Morrem antes disso.
No primeiro grau o aprendiz começa a realizar pequenos
prodı́gios, desde o primeiro dia. Mover pequenos objetos
atravé s da telecinese, com ou sem a ajuda de seu mestre.
Logo apó s a metade do ano, o aprendiz começa a se
preparar para a iniciaçã o, que o fará ingressar na antiga religiã o:
a magia.

SEGUNDO GRAU – INICIAÇÃO


Nesse está gio, a pessoa faz o primeiro grande pacto com
demô nios. Até entã o tudo girava em torno de encantamentos e
pequenos pactos, como os de “aceitaçã o”, també m chamados de

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“pactos involuntá rios”, como ir até algum mé dium que lê tarô ,
mã o etc. E nisso que o inimigo coloca escondido legalidades para
poder entrar na vida das pessoas. Muitos acreditam que nã o
passa de uma curiosidade ou brincadeira, mas é uma armadilha
terrıv́el.
Veja, por exemplo, o horó scopo: tecnicamente é uma
fraude! Pessoas comuns escrevem nos jornais o que querem em
cima dos signos. Mas o simples fato de uma pessoa desejar saber
o seu futuro, faz uma “troca” da sua pureza espiritual por uma
informaçã o sobrenatural (saber o futuro está acima do natural,
por isso é operado por forças espirituais que manipulam essas
informaçõ es. Nã o é algo natural). Isso gera o direito legal do
demô nio que manipulou as informaçõ es entrar na vida da
pessoa.

NOTA: todo ser humano é formado por espıŕito (corpo


espiritual), alma e corpo. O espıŕito humano é ligado a Deus, caso
a pessoa tenha uma vida cristã ativa. Quando uma porta
espiritual, ou brecha, é aberta por legalidade, como no caso dos
pactos involuntá rios, o Senhor se distancia do ser humano, como
diz em Isaıás 59:2. Com isso o demô nio tem direito legal de
entrar na vida da pessoa, criando um vın ́ culo com o espıŕito
humano. A isso chamamos “opressã o maligna”.

Os grandes pactos sã o levados muito a sé rio dentro da


Tradiçã o e tê m diversas finalidades. Alguns sã o feitos para selar
acordos entre demô nios e pessoas. Outros ainda sã o gerados no
mundo espiritual, para entregar a vida de pessoas da mesma
famı́lia. Nesses grandes pactos existe a assinatura de um
contrato, feito em papel especial e assinado com o sangue de

- 29 -
A TRADIÇAO

quem está pactuando com os demô nios. E extremamente


necessá ria a assinatura com o sangue, que simboliza a vida e
identidade bioló gica da pessoa que assinou.
Para a realizaçã o de um pacto é necessá rio um ritual, que
serve de ambiente para o acontecimento. Os rituais sã o
cerimô nias que abrem os portais má gicos, permitindo a entrada
de demô nios especıf́icos no plano fıśico e, com isso, selando os
pactos. Pequenos rituais sã o realizados diariamente, para
liberar demô nios de proteçã o, auxıĺio etc. Sã o tã o comuns entre
os bruxos que fazem parte da vida deles.
Hoje em dia, a internet está , infelizmente, lotada de sites
que ensinam as pessoas a fazerem pactos com demô nios e rituais
de vá rias formas. Nas livrarias as seçõ es de livros espiritualistas
e exoté ricos estã o cada vez maiores. Mesmo uma pessoa
aprendendo na internet um pacto ou ritual, isso nã o significa que
nã o haja demô nios ligados a ele.

TODO PACTO OU RITUAL E SATANICO!

Nã o entrem nisso de forma alguma! Vou demonstrar neste


livro alguns rituais de que participei, excluindo, claro, as
palavras ritualıśticas ditas neles. Muitas seitas modernas nã o
aceitam o nome “Sataná s” ou “diabo” ou ainda “demô nio”, mas
tê m o mesmo poder maligno e nocivo espiritualmente. Nã o se
iluda com “bruxinhas do bem” ou “magia branca”. Todas essas
formas de magia sã o malignas e satâ nicas, nã o importando o
nome que tenham.
Na Tradiçã o, o segundo grau é també m chamado de grau da
consciê ncia, porque a partir dele o iniciado passa a conhecer a
magia. O mundo má gico fica muito mais aguçado e sensıv́el e o
iniciado desenvolve o cıŕculo má gico, que é representado por um
cıŕculo de oito metros de diâ metro ao redor da pessoa. Este

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cıŕculo má gico faz com que o bruxo domine tudo o que entra
nele: pessoas, animais, objetos etc. Com o passar do tempo, um
bruxo desenvolve isso de uma forma absurda, fazendo-o crescer
ao ponto de absorver casas, ruas, montanhas, cidades.
O iniciado precisa passar por um perıo ́ do de um ano e um
dia, aprendendo encantamentos, rituais, pactos e outras
atividades espirituais, até fazer um segundo ritual de “votos”,
nos quais declara que deseja continuar no caminho da magia e
que nã o será um peso para a Tradiçã o. Só entã o ele está pronto
para o terceiro grau.

O MENSAGEIRO
O inferno envia a cada pessoa que nasce um demô nio,
chamado de “demô nio pessoal”. Sua funçã o é aprender tudo
sobre aquela pessoa, independente se ela é satanista ou nã o.
Quando a criança aprende a andar, aquele demô nio aprende
junto com ela. Quando fala as primeiras palavras, aquele
demô nio aprende junto. Quando começa a escrever o demô nio
aprende també m e passa a ter a mesma letra.
A medida que a pessoa cresce o demô nio desenvolve todas
as caracterıśticas do indivıd
́ uo e passa a ter um temperamento e
personalidade parecidos. Por isso quando morre um parente,
algué m tem uma experiê ncia de tê -lo visto depois de morto. Na
verdade nã o foi o morto quem apareceu, mas sim o demô nio
pessoal que, com a morte da pessoa passa a dar um direito dele
se manifestar com a mesma imagem, voz, letra e assinatura. Os
mé diuns que psicografam livros, afirmando que um morto
incorporou neles e escreveu, fazendo a mesma assinatura
inclusive, estã o fazendo uso desses demô nios, que
acompanharam a vida toda da pessoa e sabem imitá -lo em tudo.
Na bruxaria, utilizam-se esses demô nios para outros fins.
O demô nio pessoal passa a se chamar “mensageiro”, a partir da

- 31 -
A TRADIÇAO

iniciaçã o. E uma das primeiras experiê ncias com demô nios. E


necessá rio uma sé rie de rituais e invocaçõ es para ter direito à
presença dele todo o tempo.

O MENSAGEIRO E UM DEMONIO E, COMO TODO


DEMONIO, PRECISA SER EXPULSO EM NOME DE JESUS CRISTO!

A Tradiçã o sempre ensinou que os demô nios mensageiros


eram neutros e que cabia ao bruxo dominá -lo e direcioná -lo no
que fazer. Caso um iniciado nã o conhecesse seu mensageiro,
poderia correr o risco de ser morto pelo mesmo. Por isso, o
mensageiro deveria se tornar o melhor amigo do iniciado.
Esta é uma artimanha para manter a mente do iniciado
presa aos princıp ́ ios da Tradiçã o. Com o envolvimento cada vez
maior do iniciado com o mensageiro, sem perceber ele se
distancia da realidade, da famıĺia, da sociedade e se aprofunda
no mundo sombrio do satanismo. Sempre é bom frisar que a
bruxaria se apoia em uma sé rie de seduçõ es, ilusõ es e mentiras,
tentando com isso preencher o vazio existencial e espiritual que
sentem, fazendo as pessoas iniciadas acreditarem nos enganos
do inimigo.
O nome do demô nio mensageiro é muito importante e
passa a ser o nome má gico do iniciado. Ningué m deveria sabê -lo,
para que nã o fosse destruı́ d o por outros bruxos que,
conhecendo o nome do mensageiro, poderiam invoca-lo em um
ritual e fazer um pacto com ele, matando a pessoa em que ele
trabalhava. O mensageiro que habitou em mim por muitos anos
se chamava Stinuts. Ele já foi expulso pelo Poder do Nome de
Jesus.
No perıó do da iniciaçã o o iniciado passa a sentir coisas que
nunca sentiu antes, devido a sensibilidade espiritual que está
aumentando a cada dia. Passa a ver espıŕitos malignos, que

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mesmo sendo demô nios aparecem com a forma de santos,
pessoas, luzes. Em algumas, situaçõ es é possıv́el ouvi-los e até
conversar com eles.
No inıćio, é necessá rio invocar o mensageiro quando se
quer ter um contato. Passado certo tempo, o iniciado gera tanta
afinidade e intimidade com o mensageiro que passa a se
comunicar com ele todos os momentos, in rapport, que é uma
forma de harmonizaçã o, onde liga a mente ao mundo espiritual.
O mensageiro opera inclusive nos sonhos do iniciado.
Um mensageiro é utilizado em tudo na vida de um bruxo.
Ele é o demô nio pessoal. Nada é decidido sem que haja um
parecer dele primeiro. Atravé s dele acontece a transferê ncia de
sensibilidade (muito usada no Voodoo), quando a sensibilidade
fıśica de algué m é transferida para um objeto, em geral um
boneco, atravé s da magia negra. Tudo o que se faz ao objeto é
acometido na pessoa. També m é o mensageiro que auxilia nos
projecionismos, ou viagens astrais, quando o espıŕito sai do
corpo e viaja por regiõ es aonde deseja ir. Feitiços,
encantamentos, magias, rituais... Tudo é auxiliado pelo
mensageiro, que é o representante do bruxo no mundo
espiritual.
Muitos infelizmente pensam, como eu també m pensava,
que dominam seus mensageiros. Acham que estã o no controle,
mas nã o estã o. Mensageiros sã o demô nios perigosıśsimos e
terrıv́eis. Eles dominam as pessoas e as levam ao inferno.

CARO LEITOR, se você ainda é satanista, ou feiticeiro,


bruxo, wiccan e tem um mensageiro, faça um teste: pergunte ao
mensageiro quem é Jesus Cristo! Ele se irritará com você , porque
nã o aceita o Salvador do Mundo. Procure uma igreja evangé lica,
conte sua histó ria a um pastor ou pastora e peça que ore por
você . Eu tinha muito medo de ir até uma igreja e fugia de todos os

- 33 -
A TRADIÇAO

convites, mas foi isso que salvou a minha vida. Tome coragem e
vá ! Sua vida depende disso!

Quando passa o perıo ́ do de iniciaçã o e o iniciado tem já um


contato ıń timo com seu mensageiro, é necessá rio passar para o
terceiro grau, fazendo seus votos. Antes, poré m, precisa ter um
contato, com seu livro da vida, onde – supostamente – estaria
escrito o seu futuro. O nome é «rito da catedral». Vou contar
como funciona:
Era necessá rio entrar em um estado de meditaçã o muito
grande e fazer o projecionismo, tirando o espıŕito do corpo e
subindo em direçã o ao cé u o mais alto que pudesse. Vá rias
tentativas eram feitas até que, em pleno espaço sideral
encontraria uma catedral gó tica flutuando, em cima de uma
pedra. A pessoa devia, em espıŕito, entrar na catedral e fazer
algumas açõ es lá dentro, que nã o vem ao caso contar aqui.
Muitas vezes, dentro da catedral havia “pessoas” do nosso
convıv́io, amigos e parentes, que já morreram e (claro que nã o
eram eles, eram demô nios pessoais se passando por eles) se
apresentavam em aparê ncia decomposta. No lado direito da
porta principal da nave da catedral havia uma porta que levava a
uma escada em espiral para baixo, onde se encontrava uma
biblioteca enorme. Cada um que entrava lá precisava encontrar
um livro com o seu nome na capa. Todos estavam dispostos em
ordem alfabé tica nas prateleiras rú sticas feitas com madeira de
lei. Lembro que o meu nã o foi difıćil de achar e, logo apó s
encontrá -lo, pude sentar pró ximo a uma mesa muito grande, de
madeira. No livro continha minha vida, coisas do meu passado e
algumas coisas que aconteceriam no meu futuro (lembrando
que Sataná s nã o tem poder para ver o futuro entã o sã o
previsõ es, ou seja, coisas que poderiam acontecer). Notei que,
em determinado ponto do meu futuro as pá ginas começaram a

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ficar em branco. Eu folheava avidamente para saber o que
aconteceria nos anos vindouros mas, depois de certa data, nã o
tinha mais nada lá ! Apenas pá ginas em branco. Perguntei ao
Stinuts a razã o daquilo e ele respondeu que seria um momento
da minha vida que eu deveria traçar meu pró prio caminho. Hoje,
acredito que eles só tinham permissã o de Deus para escrever
coisas ali até o dia em que eu entregaria minha vida ao Senhor
Jesus. A partir daı́ demô nio nenhum teria mais legalidade sobre
mim.
Quando volta da catedral e o ritual é finalizado, o mestre do
iniciado pergunta se ele deseja realmente seguir o caminho da
magia, um caminho difıćil e injustiçado por milhares de anos. O
iniciado responde que sim e, entã o, o mestre fura a ponta do
dedo indicador esquerdo do iniciado e, com o pró prio sangue,
desenha no peito dele o sı́ m bolo má gico da Tradiçã o, o
hexagrama de Salomã o. Depois o iniciado assina com o pró prio
sangue o pacto do voto à Tradiçã o que é queimado, logo apó s,
pelo mestre. Começa assim o terceiro grau.

ATENÇAO, INICIADOS: Nã o importa em qual está gio você


esteja! JESUS CRISTO é Poderoso para livrar sua vida do engano.
ELE TE AMA e quer salvar a sua vida!

TERCEIRO GRAU – ÁGUA


O está gio da á gua é chamado de está gio da intuiçã o. E o
primeiro dos está gios com perıo ́ dos definidos pelos mestres e
nã o por um tempo especıf́ico. Depende muito da desenvoltura,
aprendizado e també m do poder adquirido de cada iniciado. Na
maioria dos casos, leva anos para a pessoa desenvolver todas as
habilidades necessá rias para avançar. Eu passei em poucos

- 35 -
A TRADIÇAO

meses.
E um grau cientıf́ico. O mestre ensina tarô egıp ́ cio e de
Marselha, quiromancia, que é a leitura de mã os, a numerologia,
ciê ncias e organizaçõ es ocultas, como rosa crucianismo,
maçonaria, catolicismo negro etc, reconhecimento e visã o de
aura, visualizaçõ es espirituais, contemplaçã o ativa e passiva,
transferê ncia de sensibilidade entre outras coisas.
Nesse perıo ́ do é muito maior o contato com os demô nios e
a comunicaçã o com eles aumenta significativamente. O iniciado
passa a ouvir quando os demô nios chamam. Quando passei por
esse está gio lembro que eu ouvia como um assobio do vento.
Quando ouvia isso, sabia que era algum demô nio chamando,
entã o concentrava minha atençã o na esfera espiritual e permitia
que o demô nio aproximasse. No inıćio, me assustava porque,
logo apó s ouvir o sinal e autorizar a aproximaçã o visıv́el deles,
quando os via, a imagem de cada um era ainda terrıv́el e
abominá vel aos meus olhos. Infelizmente, com o tempo fui me
acostumando e se tornou um há bito tã o normal que nada mais
me assustava.
No terceiro grau, Leviatã , um dos quatro prın ́ cipes do
inferno, comanda o iniciado durante todo o tempo, atravé s dos
seus demô nios especıf́icos para isso. Por ser o demô nio da á gua,
o poder dele é passado à pessoa que, com isso, ganha um
aumento de poder e uma evoluçã o maior na magia, dominando a
á gua e a intuiçã o.
Intuiçã o na magia é a capacidade de “saber” ou “prever”
acontecimentos significativos a cerca de um assunto. Quando o
bruxo precisa, por exemplo, invadir uma casa em seu corpo
espiritual, ele faz uso do poder que Leviatã lhe dá para, atravé s
da intuiçã o espiritual, saber exatamente quais sã o os portais
abertos. Podem ser eles os pecados de um dos moradores
daquela casa ou ainda objetos amaldiçoados dentro da casa.

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Talvez o antô nimo espiritual disso seja a revelaçã o ou o
discernimento espiritual, descrito em 1 Corın
́ tios 12:10.
A partir daı́ começa uma grande mudança na vida da
pessoa. O ocultismo seduz de tal forma que passa a mudar
há bitos. Personalidade, modo de vestir, de falar sã o
transformados. As pessoas notam que algo está acontecendo,
porque sua mente fica alterada, devido a grande quantidade de
demô nios que passam a habitá -la.

QUARTO GRAU – AR
Belial, outro dos quatro prın ́ cipes do inferno, comanda
este treinamento e envia seus demô nios para ensinar ao iniciado
tudo sobre comunicaçã o extrassensorial. Neste perı́ o do,
aprendi a leitura dos pensamentos dos outros. Vale ressaltar que
só é permitido a leitura de pensamentos de pessoas que estejam,
no mın ́ imo, oprimidas por algum demô nio. Os crentes em Jesus
tê m suas mentes cativas no Espı́ r ito Santo e, portanto,
bloqueadas para qualquer tipo de invasã o. Mas isso nã o impede
que demô nios astutos façam os crentes falarem demais e, assim,
entregarem todos os seus tesouros.
Quando fui instruıd ́ o a primeira vez sobre como ler a
mente de uma pessoa, achei que seria impossıv́el, mas como eu
tinha muita facilidade em aprender coisas mıśticas, foi bem fá cil.
Primeiro fazıámos um teste com cartazes. Luiz escrevia uma
letra ou nú mero, a certa distâ ncia, de forma que nã o podia ver,
em um papel que segurava em sua mã o. Ele ficava olhando para
aquele papel e repetindo mentalmente aquele nú mero ou letra
vá rias vezes. Eu fazia alguns exercıćios mentais e pronunciava
algumas palavras de invocaçã o do mensageiro e fazia com que
ele, o demô nio, potencializasse a minha percepçã o mental,
conseguindo entã o ouvir – literalmente – o que o Luiz estava
repetindo mentalmente.

- 37 -
A TRADIÇAO

Depois os nú meros e letras foram sendo substituıd ́ os por


palavras e datas e, com o passar do tempo, por frases inteiras.
Quando eu já conseguia ler um pensamento de frase inteira
passei a focar a leitura de pensamentos aleató rios, ou seja,
aqueles em que a pessoa nã o ficava repetindo mentalmente
vá rias vezes. Essa foi a etapa mais difıćil, mas, enfim, consegui.
Depois disso, se tornou fá cil olhar para qualquer pessoa (sem
Jesus em sua vida, claro) e distinguir linhas de pensamentos que
estava tendo.
També m nesse está gio, aprendemos a levitaçã o, nã o
apenas de objetos como de nó s mesmos. Essas experiê ncias
fantá sticas sã o forçadas logo no inıćio da caminhada de um
iniciado para seduzi-lo de tal forma que nunca venha a
abandonar a magia. Na levitaçã o, é usada a força telú rica, ou seja,
energia emanada da Terra. E atravé s dessa energia que os
antigos encontravam terras fé rteis, fontes de á guas e també m
locais apropriados para adoraçã o. Acredita-se que ao redor do
planeta Terra fluam feixes de energia telú rica, desde o nú cleo até
a crosta terrestre. Na levitaçã o, os demô nios potencializam o
campo eletromagné tico que todo ser vivo possui ao ponto de
criar um campo positivo. A energia telú rica passa a ser positiva
també m, repelindo assim o bruxo que está energizado, fazendo-
o levitar. E como dois ıḿ ã s que se repelem ao chegarem perto um
do outro, se os campos magné ticos forem os mesmos. A funçã o
dos demô nios, neste caso, é aumentar a energia do bruxo e
convertê -la na mesma polaridade da energia telú rica que estiver
no local.
A levitaçã o de objetos ocorre da mesma forma, poré m
havendo a transferê ncia de sensibilidade do bruxo para o objeto
primeiro, quando atravé s de uma palavra liberada no mundo
espiritual, chamado de “palavra-forma”, uma determinada
quantia de prana é liberada sobre o objeto. Com isso, o campo

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eletromagné tico do bruxo fica sobre o objeto e aı́ acontece a
levitaçã o.
Belial era chamado de “o demô nio mais bonito do inferno”,
porque era mestre em persuasã o. Nesse está gio, aprendıámos a
regra das trê s etapas para convencer algué m: a primeira era
atravé s de elogios exagerados e honras; a segunda era atravé s do
choro, comoçã o, emoçã o; a terceira era atravé s de ameaças sutis
e chantagens. Sempre que querıámos algo de algué m, usá vamos
essa regra das trê s etapas. Convencıámos a pessoa atravé s de
suntuosos elogios e presentes. Se a pessoa ainda nã o se dobrasse
à nó s, fazıámos com que ficasse com pena, sentindo dó . Se isso
ainda nã o mudasse a opiniã o ou vontade de algué m, entã o
encontrá vamos um meio de chantagear, intimidar, ameaçar e
oprimir a pessoa, até que fizesse por medo.
Nesse está gio, aprendi a me comunicar. Eu era um menino
tıḿ ido, acanhado. Nã o tinha amigos e sempre era motivo de
chacotas na escola. Magro, pobre, feio. Comecei a usar todas as
té cnicas aprendidas e me destaquei, tornando-me querido pelas
pessoas. Nessa é poca, desenvolvi um senso de liderança muito
grande, porque nos ensinaram que sempre é melhor você tomar
as decisõ es. Um satanista nunca deve ficar apoiado em
pensamentos ou decisõ es alheias. Ele deve ir à frente e avançar!
Por isso me tornei um lıd ́ er a partir daı,́ com boa orató ria, leitura
dinâ mica e facilidade em outros idiomas.

QUINTO GRAU – TERRA


O quinto grau é dominado pelo prın ́ cipe Lú cifer, demô nio
da altivez e astú cia. E o grau da transmutaçã o, onde comecei a
estudar muito a alquimia, de Hermes Trismegisto, o deus da
magia. Eu nessa é poca me apaixonei por isso. Era uma forma de
magia cientıf́ica, onde usá vamos elementos naturais para criar
formas espirituais. Toda magia alquım ́ ica é gerada atravé s da

- 39 -
A TRADIÇAO

combinaçã o de elementos que, em determinada proporçã o e


posicionamento reagem espiritualmente. De certa forma, na
baixa magia, isso acontece com as oferendas no candomblé . Na
alta magia aprendi a usar plantas, madeiras, pedras, á gua.
Lú cifer, o deus da terra inspirava a utilizar elementos naturais.
Com trê s pedras semipreciosas colocadas em certo lugar, de uma
forma bem peculiar, eu conseguia alterar o equilıb ́ rio de quem
entrasse ali. Colocando lado a lado alguns gravetos, combinados
com um pouco de areia branca em forma de cıŕculo, conseguia
gerar uma claridade no ambiente. Aquilo era muito fascinante.

Meu objetivo aqui neste livro nã o é ensinar receitas


má gicas para ningué m, por isso nã o coloco as palavras má gicas e
tampouco a ordem correta dos elementos ritualıśticos. Relato
para que você , leitor, saiba que muitas coisas do ocultismo sã o
muito mais avançados do que possa imaginar.

No grau da transmutaçã o, o iniciado consegue mudar a


ordem natural das coisas. Eu conseguia mudar a cor dos meus
olhos, cor do cabelo. Quando queria passar despercebido em um
local com pessoas, conseguia mudar a aparê ncia do meu rosto,
parecendo outra pessoa. També m é nesse está gio que aprendi a
transformar cabelo humano em fios de prata, ou outro metal.
Isso me deixou bem conhecido por onde passei. Eu já conseguia
fazer com que o meu prana ficasse sobre objetos, fazendo-os
desaparecer.
Lú cifer liberava um poder especıf́ico para a realizaçã o de
curas fıśicas. També m era possıv́el adoecer pessoas. Tudo no
satanismo é uma troca. Nã o havia como curar uma pessoa de
uma enfermidade sem que, de alguma forma, outra pessoa nã o
passasse a ter a mesma doença. Por esta razã o muitas pessoas
morrem, porque sã o usadas como hospedeiras de uma

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maldiçã o, para que outras permaneçam vivas.
A manipulaçã o espiritual era tã o usada que é ramos
ensinados a conquistar amigos, namoradas para se ter muitas
pessoas em nosso cıŕculo má gico e, caso precisá ssemos nos
curar de algum mal, poderıámos enviar este mal para qualquer
uma dessas pessoas pró ximas, sem qualquer piedade ou
remorso. Ouve-se que aqueles que entram para seitas e
irmandades má gicas passam a conviver com a morte de
parentes, amigos e funcioná rios. E exatamente isso!

SEXTO GRAU – FOGO


O está gio do poder, por que nele os quatro elementos
naturais, juntamente com os quatro prın ́ cipes do inferno se
unificam. A partir desse grau Sataná s passa a comandar o
iniciado até sua formatura no sé timo grau e ao seu sacerdó cio no
oitavo e nono graus. O tıt́ulo de “feiticeiro” é usado a partir daqui,
pois com o conhecimento adquirido em cada uma das etapas, ao
longo dos anos, já tem domın ́ io em usar os feitiços abertamente.
O poder que está sobre este grau é muito grande, onde um
feiticeiro pode somar vá rias fontes de magia e até matar uma
pessoa apenas com um gesto de sua mã o.
Lembro-me de quando eu estava nessa fase, sofria muito
com crises de ó dio e raiva. Quando eu canalizava toda a energia
má gica que havia em mim, e atravé s de um acesso de ira gritasse,
portas e janelas pró ximas abriam e batiam contra as paredes.
Vasos caıám das estantes e outros objetos, porque havia a soma
da força telú rica, do poder dos quatro prın ́ cipes do inferno e
ainda da habilidade má gica que tinha desenvolvido, atravé s do
ensinamento e sensibilidade espiritual.
Eu passei a ser pior a cada dia da minha vida. No sexto grau
já achava que nã o precisava de mais ningué m, alé m do meu
mestre Luiz e do demô nio Stinuts, meu mensageiro. Tornei-me

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A TRADIÇAO

arrogante, boçal e presunçoso.

SÉTIMO GRAU – BRUXO (MESTRE DE ALTA MAGIA)


Os bruxos sã o os verdadeiros membros da Tradiçã o. Eles
sã o os responsá veis por levar adiante a magia e todo o
conhecimento milenar que lhes é confiado. Foi o grau aonde
cheguei e, para isso, passei por rituais feitos a base de sangue
humano e de animais, que contarei mais detalhadamente no
decorrer do testemunho.
Cada bruxo, quando formado, recebe um tıt́ulo honorıf́ico,
nomeado por Sataná s. Sã o vá rios tı́ t ulos, como “Sá bio”,
“Conselheiro”, “Valente”, “Conquistador” etc. O que recebi foi
“Homem da Palavra”. A escolha era feita previamente por
Sataná s para cada um, de acordo com o que ele precisava usar do
potencial de cada um. Quando o bruxo recebe seu tıt́ulo, precisa
passar pelo “ritual de purificaçã o”, parecido com outros rituais,
poré m com maior duraçã o, de seis dias e seis noites. Deixe-me
explicar como é : prepara-se um quarto onde o chã o, paredes e
teto precisam ser pintados de preto. A janela tem que ser
trancada e lacrada, para que nã o entre nenhuma luz externa. No
chã o é desenhado, com giz, um pentagrama (estrela de cinco
pontas, que simboliza a magia) com um cıŕculo ao redor. Em cada
uma das cinco pontas do pentagrama há o simbolismo dos
quatro elementos naturais, alé m de uma vela negra para a
invocaçã o de cada um dos demô nios, representados por seus
prın ́ cipes do inferno, fogo (Sataná s), terra (Lú cifer), ar (Belial) e
á gua (Leviatã ), alé m do quinto elemento, espiritual, chamado
Ether. Fora do cıŕculo, em disposiçã o triangular, invocando os
demô nios do tempo, chamados de “senhores do tempo passado,
presente e futuro”. Nos quatro cantos do quarto, norte, sul, leste e
oeste, sã o colocadas quatro velas, uma verde, outra azul, outra
amarela e outra laranja (ou marrom), invocando os demô nios

- 42 -
chamados “guardiõ es das torres cardeais”. Em frente a cada uma
dessas velas coloridas é colocado um prato com a oferenda
especıf́ica de cada um. Em frente ao pentagrama, fora do cıŕculo,
centralizada fica a vela branca, do demô nio mensageiro, que
conduzirá o espıŕito do bruxo neste ritual. O bruxo fica deitado
no centro do pentagrama, de onde nã o poderá sair durante os
seis dias e seis noites. O mestre, em sua ú ltima funçã o sobre ele,
faz a oraçã o em latim e abre o ritual. Todos os demô nios que
estã o no bruxo vã o sendo invocados e se manifestam no quarto,
um a um. Esses demô nios sã o os que o bruxo adquiriu até aquele
dia. No meu caso, ficamos quase dois dias inteiros invocando-os,
pois eram muitos, devido a herança espiritual que meu avô havia
deixado.
O demô nio mensageiro fica o tempo todo sentado no chã o,
pró ximo à parede, em frente à vela branca, colocada
especialmente para ele. Durante esse tempo todo, a ú nica coisa
que o bruxo pode se alimentar é de sangue de galinha e carne
crua (que no dia ele nã o sabe que carne é aquela). Entã o, apó s
todos os demô nios estarem manifestos, o mestre faz com que o
bruxo entre em transe e permaneça assim até o ultimo dia do
ritual. Nesse perıo ́ do, seu corpo espiritual é expulso do seu
corpo fıśico e ele passa a ser habitado por todos os demô nios,
que antes apenas o seguiam. Sã o dias de pesadelos terrıv́eis,
dores fıśicas e sensaçõ es nauseantes. A pele é rasgada e os
ó rgã os internos afetados. Apó s este perıo
́ do de quase morte, o
bruxo acorda do coma no sexto dia, com dores, respiraçã o
ofegante, arritmia cardı́aca. Seu corpo coberto por sangue
podre, coagulado. O cé rebro nã o consegue ordenar bem os
pensamentos e, tampouco, demandar movimentos aos ó rgã os
inferiores. Daquele dia até um perıo ́ do de uns trê s meses, a
pessoa fica com um retardo considerá vel, até que tudo volte ao
normal.

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A TRADIÇAO

Debilitado fıśica e espiritualmente, o bruxo sai do quarto e


toma um banho. Suas roupas sã o queimadas e passa um tempo
em repouso e alimentaçã o, para recuperar-se, pois em breve
participará da sua “festa de nomeaçã o e ordenaçã o”, onde
receberá seu Athame (punhal má gico), como sım ́ bolo da alta
magia.

A festa de ordenaçã o de um bruxo é parecida com qualquer


outra, feita em uma fazenda. Nela estã o, apenas, mestres de
sé timo grau e, acima, sacerdotes de oitavo e nono graus. Como
toda festa, tem mú sicas, comidas e bebidas. Em um determinado
momento, o sacerdote mais antigo ordena que a mú sica pare e
que os recé m-formados fiquem em uma posiçã o, para serem
testados em algumas provas. Para se receber o Athame é
necessá rio passar por isso e provar que o merece.
Na minha vez, fui colocado em um local onde um outro
mestre atiraria algumas facas em mim. Eu deveria ampliar meu
cıŕculo má gico para rebatê -las, com a ajuda de demô nios que
gerariam um campo magné tico muito forte ao redor do meu
corpo. Lembro-me de ter visto outros recé m-formados no
mesmo dia, passando por testes parecidos. Alguns tinham que
levitar coisas, outros fazer brotar á gua do chã o ou fogo de suas
mã os. Eram atitudes má gicas relativamente fá ceis para mim,
poré m difıćeis demais para os despreparados.
Neste dia, sã o feitos os “votos perpé tuos”, mais um pacto de
sangue, onde o bruxo declara a sua entrada na Tradiçã o e
permanê ncia perpetuamente. Segundo eles, depois de haver
feito os votos perpé tuos, nunca mais a pessoa pode deixar a
magia. O sé timo grau é um perıo ́ do muito difıćil para o bruxo,
porque passa a trabalhar sozinho, sem seu mestre que o
acompanhou o tempo todo. A partir daı́ ele passa a agir apenas
com o seu demô nio mensageiro e em cooperaçã o a outros

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mestres e sacerdotes da Tradiçã o.

NOTA: A Cruz de Cristo é superior a qualquer pacto de


sangue! Nã o há maldiçã o, pacto, ritual ou qualquer voto feito na
magia, satanismo, paganismo ou qualquer ordem mıśtica, que
nã o possa ser quebrado pelo Poder do NOME DE JESUS CRISTO!
Tu d o s e f a z n ovo , q u a n d o e n t re g a m o s n o s s a v i d a
completamente ao senhorio de Jesus. Nosso corpo, alma e
espıŕito sã o renovados e, atravé s de Seu Sangue, somos limpos,
purificados e perdoados. O profeta Isaıás nos diz, no capıt́ulo 53
que “o castigo que nos trá s a paz estava sobre ELE e por causa
das suas pisaduras fomos sarados”. Isso por si só é suficiente
para livrar qualquer um da condenaçã o do inferno.

Recebi meu Athame aos 16 anos de idade e fui nomeado o


bruxo mais jovem no Brasil, pela Tradiçã o. Isso gerou certa
repercussã o sobre meu nome e fiquei muito conhecido pelas
pessoas realmente influentes na bruxaria, em meu paıś.

OITAVO GRAU – SACERDOTE


Nã o cheguei neste está gio. Graças a Deus me converti no
sé timo grau, mas sei algumas coisas sobre isso. Para o mestre se
tornar sacerdote é preciso avançar na magia. Existem oito festas
má gicas durante cada ano e, em cada uma delas, um grande
ritual comandado por sacerdotes. Os sacerdotes de oitavo grau
comandam essas festas e realizam seus rituais. Das oito festas
má gicas, quatro delas exigem sacrifı́ c ios humanos. No
satanismo, acredita-se que alguns humanos sã o seres inferiores,
criados para um propó sito maior, que é servir à magia. Por esta
razã o, as pessoas sã o raptadas e mortas em rituais satâ nicos. Os
jornais estã o cheios de notıćias sobre isso. As polıćias já sabem

- 45 -
A TRADIÇAO

da existê ncia de seitas de magia negra sequestrando e matando


pessoas. Entã o porque nã o há uma legislaçã o penal sobre isso?
Porque sacerdotes satanistas estã o infiltrados em todas as
esferas do governo, da polıćia, da sociedade.
Para sustentar vá rios rituais nos quais é necessá rio o
sacrifıćio de crianças, algumas casas em lugares estraté gicos sã o
criadas, por grupos de “angariadores”, satanistas especializados
em adquirir coisas para a Tradiçã o. Nessas casas vivem
mulheres que sã o usadas para rituais sexuais, gerando filhos de
sacerdotes e mestres. Essas crianças nascem nas casas mesmo,
com o auxilio de mé dicos satanistas que fazem os partos. Sem
que haja registro do nascimento, essas crianças ficam puras,
sempre enroladas em mantos má gicos ou vestes talares, sendo
alimentadas por leite materno. As “mã es” furam levemente os
bicos dos seios para que as crianças bebam um pouco de sangue
junto com o leite, até se tornar um paladar normal para elas.
Quando crescem e desmamam, uma das refeiçõ es diá ria é uma
mamadeira com sangue, para manter aberto o transe e a
possessã o maligna na criança. Em meu livro “Revelaçã o – O caso
filhas da luz” (Editora Palavra Viva) eu conto sobre esses rituais
malignos com crianças.
Os angariadores també m sequestram crianças nas
cidades, para que sejam mortas em rituais de magia negra. Na
maior parte dos casos, se passam por vendedores de revistas ou
artigos infantis, para terem acesso à s escolas e casas. Assim
podem traçar um perfil de cada famıĺia e criança e, livremente,
escolher as mais fá ceis de sequestrar. As crianças sequestradas
sã o sacrificadas em rituais ou, entã o, mortas para ter seus
ó rgã os vendidos no mercado negro, para transplantes ou para
sodomizaçõ es e deglutiçõ es em rituais malignos.

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NONO GRAU – SACERDOTE SUPERIOR
Este é o ultimo grau da Tradiçã o, onde o sacerdote recebe o
tıt́ulo de Mago. O grau começa quando o sacerdote consegue sua
espada apó s uma peregrinaçã o escolhida pelo conselho da
Tradiçã o. Durante esta peregrinaçã o o sacerdote é submetido a
muitas liçõ es e provas para testar sua fidelidade a magia e a
Tradiçã o. No final, o “rito de entrega” é realizado e entã o sua
caminhada termina. A partir daquele momento riquezas e
honras passam a habitar sua vida. Um mago é tã o poderoso que é
capaz de matar uma pessoa apenas olhando para ela.
Na é poca em que servi ao diabo, havia poucos magos no
Brasil, em relaçã o ao nú mero de mestres de alta magia. Sã o os
magos que dirigem as diretrizes da Tradiçã o. Eles determinam
açõ es má gicas, grandes rituais e tomadas de territó rios para
algum objetivo final. També m eles tem direitos especıf́icos alé m
dos demais membros da Tradiçã o, podendo, por exemplo,
selecionar membros para participarem de alguma invocaçã o
satâ nica. Nos rituais de fertilidade, onde há orgias sexuais,
apenas os sacerdotes podem praticar o sexo ritualı́stico,
gerando filhos para a Tradiçã o. Os demais podem participar dos
rituais e das relaçõ es, poré m as crianças que, por ventura
venham a nascer, serã o abortadas.

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CAPITULO TRES

A Magia

A pó s aquele dia em que Luiz havia me explicado


sobre a Tradiçã o e como eu havia sido escolhido
pela magia, decidi que seria um bruxo. Eu estava
convicto de que era exatamente aquilo que eu buscava. Para
tanto, era necessá rio fazer o ritual de iniciaçã o. Vou descrever
como foi:
Era 31 de outubro de 1989, noite do ritual de Shamain no
hemisfé rio norte e uma importante data de adoraçã o pagã em
todo o mundo. Saım ́ os do apartamento do Luiz à s 21:00h para
irmos até o local escolhido para o ritual, em um carro velho que
ele tinha. Embora eu nã o soubesse onde era, disse para minha
mã e que irıámos acampar, pois ningué m, alé m de mim, deveria
saber o que aconteceria. Era uma terça-feira e ela contestou a
ideia, mas nã o dei ouvidos a ela e saı́ logo.
Luiz, Cris e eu chegamos ao local escolhido, de difıćil
acesso, em um morro na saıd ́ a velha da cidade, de frente à
famosa Ponte do Arco, sobre o Rio Iguaçu. Luiz ia à frente,
abrindo caminho com um facã o e iluminando fracamente a mata
com uma lanterna. Em suas costas havia uma mochila cheia de
utensıĺios que usarıámos no ritual. Andava silencioso o tempo
todo, compenetrado, diferente de seu estado normal, sempre
feliz e falante com todo mundo. Caminhava com rapidez e
agilidade, como se passasse por ali todos os dias. A mata estava
extremamente escura e os sons naturais da noite tornavam
aquela caminhada assustadora. Eu estava imediatamente atrá s

- 48 -
dele e Cris ia atrá s de mim. Era perceptıv́el uma energia
emanando dos dois e passando por mim, deixando meu corpo
completamente arrepiado e fazendo meu coraçã o acelerar.
Depois de meia hora de caminhada, chegamos à clareira
onde o ritual seria feito. Um casal que eu nunca havia visto já
estava lá e tinha arrumado tudo. A clareira era na parte de cima
de um vale feito por pedras muito altas, com um riacho correndo,
uns trinta metros abaixo. No centro dela, estava uma grande
fogueira acesa, rodeada por quatro outras pequenas, també m
acesas, separadas umas das outras por uns cinco metros de
distâ ncia. O casal que arrumou tudo estava lá há um dia,
consagrando o lugar. Eram sacerdotes superiores da Tradiçã o e
vieram de outra cidade para realizar os encantamentos. Outubro
já começava a fazer calor naquela regiã o, mas um vento muito
frio soprava aquela noite. Luiz deixou-me em um canto, pró ximo
a umas á rvores e pedras, onde havia coisas pessoais do casal e,
agora, nossas coisas també m, e foi conversar com os sacerdotes.
Cris ficou comigo, abraçada com carinho. Lembro-me dela me
dizer:
- Fique calmo, tranquilo. Vai ser ó timo. – Encorajando-me.
Luiz voltou depois de uns instantes e me disse que irıámos
iniciar o ritual e, para isso, era necessá rio eu me despir e vestir
uma roupa pura, chamada de tú nica talar. Ela era feita de um
tecido confortá vel, parecido com o veludo, e tinha um
pentagrama finamente estampado em branco, na frente. Com
seu á thame Luiz iniciou o fechamento espiritual do lugar,
fazendo um cı́ r culo má gico no ar. Gestos especı́ f icos,
coreografados, associados a invocaçõ es de alguns demô nios
produzem um ambiente mıśtico ideal para a realizaçã o dos ritos.
Chamou a proteçã o dos guardiõ es das torres cardeais, norte, sul,
leste e oeste. Esses guardiõ es sã o demô nios que ficam
constantemente protegendo os locais de cultos, cerimô nias,

- 49 -
A MAGIA

celebraçõ es e rituais.
Passou, entã o, a chamar a presença dos oito subprın ́ cipes
do inferno, cada um responsá vel por uma á rea na existê ncia
humana: Behemoth (alimentaçã o), Astaroth (religiã o), Belam
(armas), Asmodevs (artes), Belzebú (descendê ncia), Cım ́ erio
(ciê ncia), Belfegor (sexo) e Azazel (oferendas). Chamou també m
a presença do meu demô nio mensageiro Stinvts, que seria o meu
guia para sempre. Logo apó s escreveu palavras ritualıśticas no
ar com seu á thame, um punhal de lâ mina curvada em forma de
serpente, e depois veio e selou meu corpo com vá rios
encantamentos e passes má gicos, repetindo as mesmas palavras
ritualıśticas, que por prudê ncia, nã o vou escrevê -las aqui.
Senti-me incomodado, porque um calor muito grande
invadiu meu corpo e comecei a queimar. Eu suava muito e pensei
que iria desmaiar. Olhei para o lado procurando a Cris e ela fez
um gesto para que eu permanecesse calado. Obedeci e aguardei
o Luiz terminar. Ele saiu e foi até a fogueira menor, a minha
direita a frente. Sentou-se lá em posiçã o de ló tus e ficou
repetindo oraçõ es satâ nicas em um tom grave e baixo.
Veio, entã o, o sacerdote e passou a falar em uma lın ́ gua
estranha. Sua expressã o era temıv́el e quando abriu os braços
em direçã o ao cé u, um vento muito forte soprou no local. Eu
podia sentir uma presença muito maligna e forte. Ele veio em
minha direçã o e olhou profundamente em meus olhos. Possuıd ́ o
por um demô nio, ele deu uma gargalhada alta e estridente. Seus
olhos chamuscavam como se houvesse fogo dentro deles. Fiquei
tã o assustado que nã o contive o choro, entã o ele veio novamente
e, estupidamente me mandou calar a boca. Ameaçou bater na
minha cara e eu passei a sentir muito medo. Pensei realmente
que iria morrer naquela noite. Eu era apenas um garoto de treze
anos. Passado aquele momento, o sacerdote retornou ao seu
lugar, atrá s da fogueira, a minha esquerda, à frente. Sentou-se e

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passou a fazer as oraçõ es satâ nicas que Luiz estava fazendo
també m.
Cris veio até mim dançando sensualmente. Nã o era mais
ela, tinha algo diferente. Sua expressã o nã o era mais meiga e
gentil. Agora ela era algué m possuidora. Colocou sua mã o em
minha face, na altura da testa e eu desabei. Tudo escureceu de
repente e senti ná useas. Tudo estava rodando. Foi horrıv́el.
Quando recobrei os sentidos, Cris já estava sentada a frente da
terceira fogueira pequena, com um cá lice nas mã os. No cá lice,
soube depois, havia meu sê men. Ela o colheu enquanto eu estava
desmaiado, possivelmente atravé s de demô nios sexuais que me
fizeram ter uma ejaculaçã o espontâ nea.
Veio, por fim, a outra mulher, sacerdotisa, e começou a falar
os tratados má gicos comigo, em latim. Embora eu tivesse um
conhecimento bem bá sico do idioma, pelos estudos que havia
feito no decorrer daquele ano, consegui entender perfeitamente
tudo o que ela me dizia, que aquele era o dia mais importante da
minha vida e que eu devia estar ciente disso. Falou que precisava
de um pouco do meu sangue, para poder fazer o ritual de
iniciaçã o e o pacto com os prın ́ cipes. Eu consenti. Ela pegou um
punhal e fez um pequeno corte na minha testa, dizendo:
- Que o sangue daqui jorrado nã o seja para a morte, mas
para o poder e bem da Tradiçã o. Que as bê nçã os do senhor do
sangue possam ser tuas, enquanto viveres na magia.
Como nã o doeu nada e també m nã o escorreu sangue,
pensei que era apenas um ato simbó lico.
Com suas mã os rasgou a tú nica que eu estava usando, na
altura do peito, fazendo um corte e dizendo:
- Que este sangue, vindo do coraçã o, possa combater com
amor e ó dio os interesses má gicos da Tradiçã o e defender com
sua pró pria vida seus irmã os.
Novamente nã o saiu sangue e tampouco senti dor. Ela

- 51 -
A MAGIA

pegou minha mã o esquerda, e no meu dedo mé dio fez um corte
dizendo:
- Que o senhor da maleficia possa usar esta mã o, nã o para
derramamento de sangue, mas para magia.
Pegou, entã o, um cá lice metá lico e colocou minha mã o
esquerda dentro. Senti uma dor muito forte e vi que começou a
escorrer sangue do dedo cortado por ela. Começou a escorrer
sangue da minha testa e, quando escorreu em meu nariz, o
espalhei no rosto com minha mã o direita, pensando ser á gua que
estava caindo de alguma das imensas á rvores ao nosso redor,
naquela clareira. Meu peito começou a arder e sangrar també m.
A sacerdotisa, com o cá lice nas mã os, contendo meu sangue, foi
até a ultima fogueira e sentou-se. Fiquei em pé sangrando muito,
sem saber o que fazer.
Passado vá rios minutos, Luiz veio até mim com um sorriso
no rosto e disse:
- Está na hora de você conhecer papai. – Me conduzindo até
a frente da fogueira maior, que estava bem no centro da clareira,
e começou a pronunciar as palavras principais do ritual de
iniciaçã o.
Imediatamente começou a soprar um forte vento e o cé u
cobriu-se de nuvens. A alegria de Luiz era extrema, fazendo-o
andar de um lado ao outro, gargalhando, saltando
freneticamente. Ele levantou suas mã os aos cé us e invocou a
presença de Sataná s ali, naquele lugar. Sua expressã o começou a
mudar e já nã o era mais a mesma. Sangue começou a escorrer do
seu nariz e seu rosto ficou desfigurado, com os olhos saltando
para fora das ó rbitas.
De repente, algué m apareceu atrá s da fogueira principal.
As chamas agitadas pelo vento iluminavam, deficientemente, a
face daquele que veio do vale, possivelmente levitando, ou
aparecido em meio à poeira que se levantou com o vento que

- 52 -
soprava. Ele, que estava com a cabeça curvada para baixo,
levantou-a e, fixando seus olhos negros em mim sorriu e,
andando por dentro do fogo, veio até mim e abraçou-me
fraternalmente.
Pela primeira vez eu estava vendo Sataná s, materializado,
na minha frente. Ele estava vestido com um fino terno branco,
muito bonito. Apesar de estar sorrindo, seus olhos nã o tinham a
parte branca do globo ocular e isso atribuıá a ele uma expressã o
maligna. Segurando em meus ombros, calorosamente me disse:
- Hoje é um dia muito especial para nó s! Eu passarei a te
amar e proteger como um filho e estarei contigo todos os dias da
sua vida.
Aquilo me deu conforto e acalmou meu coraçã o. O medo
passou e me senti confiante. Ele continuou dizendo:
- Existem coisas que sã o necessá rias, para que ningué m
possa nos separar. Você está tomando uma decisã o muito
corajosa e difıćil, por isso muitas pessoas se levantarã o contra
você , por nã o entenderem a sua decisã o, mas é necessá rio que
você lute! Resista à s ideias divergentes, combata à queles que sã o
contrá rios, porque em toda guerra existe um exé rcito inimigo.
Em algumas batalhas venceremos; em outras, teremos que
recuar, para alcançar uma vitó ria maior no futuro. Mas nã o
esqueça o poder que eu te dou hoje! Use-o, gaste-o a vontade!
Espalhe meus ensinamentos pelo mundo! Converta pessoas ao
nosso propó sito e ensine a magia que está em seu coraçã o desde
quando era uma criança pequena. Ensine as pessoas a deixarem
a fraqueza e se tornarem fortes como você , e sobrevivam! Mas
para isso, é necessá rio que você faça o pacto comigo. Apenas este
pacto impedirá que as pessoas nos separem. Quero poder
celebrar contigo bebendo do cá lice da aliança, onde faço do seu
sangue o meu sangue.
O sacerdote entã o pegou o cá lice onde estava o meu

- 53 -
A MAGIA

sangue, que havia sido colhido pela sacerdotisa, e despejou


algumas gotas em um outro cá lice, cheio de á gua, que estava nas
mã os do Luiz. Ele ofereceu a mim e bebi um pouco. Sataná s
pegou das minhas mã os e bebeu o resto, quebrando o cá lice logo
apó s. Em sua mã o havia uma folha de papel amarelado e
envelhecido, contendo o pacto. Nele havia algumas clá usulas,
como “você deverá seguir a Tradiçã o todos os dias de sua vida,
como seguiram seus antepassados; Deverá recusar e rejeitar
toda e qualquer açã o do Deus de Jesus na sua vida, evitando que
ele possa te influenciar de qualquer maneira; Seu corpo, sua
alma, seu espıŕito e sua vida pertencem a Sataná s, deixando-o
livre para usá -la quando, como e onde bem entender, sendo você
um servo fiel e obediente, tendo em troca o poder e sabedoria
suficientes para ser um sacerdote superior”, entre outras.
Eu acreditava em tudo aquilo e concordei plenamente.
Trouxeram o restante do sangue e molharam uma pena nele.
Assinei com meu nome completo e minha data de nascimento e
entreguei ao demô nio. Ele olhou atentamente, em um silencio
macabro e depois a folha queimou em sua mã o. Luiz se afastou
de mim, bem como os demais que estavam ali. Sataná s disse que
chamaria os cinco elementos para me trazer o poder de bruxo
que eu precisaria. Uma oraçã o em lı́ngua incompreensıv́el
passou a ser feita por ele e o local ficou saturado com uma né voa.
Ao chamar o ar, um vento forte começou a circular ao redor do
local, como se estivé ssemos no centro de um pequeno ciclone;
Ao chamar a terra, houve um tremor tã o forte no chã o, que
parecia que irıámos cair; Ao chamar o elemento á gua, senti que
aquela né voa passou a se tornar densa e ú mida; Com a evocaçã o
do fogo, a fogueira maior, que estava no centro da clareira
explodiu, como se algué m houvesse jogado pó lvora sobre ela.
Sataná s entã o evocou o quinto elemento, o é ther e senti meu
corpo todo mudar de consistê ncia, como se minha pele passasse

- 54 -
a ser gelatinosa, voltando a se tornar prana, a essê ncia que os
mıśticos creem que o universo foi criado. Ele veio novamente até
mim e disse:
- Eu vou liberar sobre você o demô nio mensageiro, para
que ele seja seu guia espiritual. – E soprou nas minhas narinas.
Caı́ desacordado e fiquei ali por um bom tempo. Quando
acordei, meu corpo estava suado e exausto. Sentia muitas dores.
Já era de manhã e todos estavam ali, menos Sataná s. Haviam se
embriagado com o vinho apó s o meu desmaio e cada um dormia
em um canto do acampamento. A exaustã o era tã o grande que
nã o conseguia raciocinar direito. Meu corpo pesava uma
tonelada e quando tentei me levantar, vomitei sangue coagulado.
Olhei para minha mã o esquerda e estava coberta de sangue e
terra. Meu rosto e corpo estavam cheios de sangue e minha
pressã o sanguın ́ ea estava realmente baixa. Consegui rastejar até
Luiz e pedir ajuda. Ele acordou os demais e disse que precisaria
levar-me para casa, o quanto antes.
Em casa minha mã e perguntou o que havia acontecido
comigo, entã o mentiram, dizendo que eu havia caıd ́ o e me
cortado em uma moita de espinhos, que poderiam ser
venenosos. Fui levado ao hospital e internado, mas os mé dicos
nã o sabiam o que eu tinha e nã o conseguiram descobrir. Os
exames de sangue nã o apontavam envenenamento. Eu nã o tinha
fraturas, tampouco hematomas. Apenas trê s pequenos cortes,
na testa, peito e dedo mé dio da mã o esquerda. Os medicamentos
nã o faziam efeito. Meu corpo nã o reagiu ao tratamento. Eu nã o
tinha forças para respirar. Estava tã o debilitado que nã o queria
lutar para isso. Um sono muito profundo tomou conta de mim e
eu só queria dormir. Lentamente, comecei a morrer, aos treze
anos de idade. Até que uma voz veio em minha mente e disse:
- Nã o desista! Lute! Lute com todas as suas forças. Nã o é
para você morrer agora! Você precisa lutar!

- 55 -
A MAGIA

O Senhor estava falando comigo... Mas eu ainda nã o sabia


que era Ele. Senti o conforto daquelas palavras em meu coraçã o e
um calor invadiu meu corpo. Nã o importava de quem era aquela
voz, eu só estava feliz que havia algué m ali comigo e que eu nã o
estava sozinho. Comecei a reagir ao tratamento. Os
medicamentos fizeram efeito e em questã o de uma semana eu já
havia recebido alta e estava em casa.
Lá , em minha casa, tudo estava diferente. Nã o fisicamente,
mas espiritualmente. Tinha algo dentro da minha casa que eu
nã o compreendia. Na verdade, sempre houve essa presença lá ,
apenas eu nã o conseguia discernir e visualizar o que era.
Comentei para minha mã e o que estava sentindo e ela achou que
fosse reaçã o dos remé dios. Disse que me acalmasse, pois logo
aquilo passaria. Nã o passou. Os quadros se moviam, fotos
sorriam para mim. Plantas balançavam em direçã o a mim,
quando eu passava perto delas. Uma samambaia que estava
presa ao teto apontava seus galhos cheios de minú sculas
folhinhas em minha direçã o, como se quisesse me abraçar. Um
Papai Noel de gesso que havia em nossa estante se moveu, certa
noite, e andou até mim para conversar. Comecei a achar que
estava louco. Apesar de ser maduro para minha idade, eu ainda
era um garoto de treze anos e, como todo adolescente, muito
confuso com o mundo ao meu redor.
Na noite em que a imagem de gesso conversou comigo, ela
me disse que “papai” viria conversar em meu sonho. Quando
adormeci tive uma experiê ncia incrıv́el, que nunca havia tido em
toda a minha vida. Entrei em um sono tã o profundo, que meu
espıŕito desgrudou do meu corpo. Eu podia ver a mim mesmo
deitado na cama, adormecido, e podia ver minhas coisas no
quarto. Uma né voa avermelhada começou a se formar no chã o
do quarto e comecei a sentir ná useas muito fortes. Olhei para
meu corpo espiritual e vi que estava nu. Quando percebi isso,

- 56 -
notei que vá rias pessoas estavam olhando para mim e rindo,
apontando suas mã os em minha direçã o e gargalhando. Notei
que já nã o estava mais em meu quarto e procurei saber onde
estava, olhando em todas as direçõ es. Ao olhar para o lado vi que
estava na clareira do ritual de iniciaçã o e pude ver as cenas que
vivenciei há alguns dias atrá s, só que desta vez eu era o
expectador. Vi quando Sataná s veio flutuando do fundo daquele
vale, de um abismo escuro, até a grande fogueira colocada no
meio da clareira. Pude ver quando ele atravessou o fogo e me
abraçou. Senti nesse momento a presença de algué m ao meu
lado e voltei-me para ver, e deparei-me com o rosto sorridente
de Sataná s, com sua feiçã o meiga e gentil, contrastando com
olhos negros e escuros, refletindo maldade e ó dio.
- Como você está , filho? – Perguntou-me ele.
- Bem, eu acho. E o senhor? – Respondi, sem jeito, meio
acanhado.
- Vim aqui te ver, quero que saiba que me importo com
você . – Respondeu.
- Foi o senhor quem falou comigo lá no hospital? –
Perguntei com muito interesse.
- Sim querido, era eu ao seu lado o tempo todo. – Ele
mentiu.
Sataná s sempre foi mestre na mentira. Ele é o pai da
mentira. Mente sem remorso, sem demonstrar emoçã o. Ilude,
engana com naturalidade. Tira proveito de mé ritos dos outros,
dizendo ser seus. Eu estava fragilizado, confuso. Nã o tinha
condiçõ es de discernir se a voz que eu ouvira era dele ou nã o,
entã o acreditei. Senti-me confiante com suas palavras e decidi
prosseguir no projeto de me tornar um sacerdote da Tradiçã o.
Minha vida mudou radicalmente apó s aquele dia. O mundo
espiritual se abriu para mim de tal maneira que tudo o que
acontecia ao meu redor, me afetava e eu nã o entendia. Havia dias

- 57 -
A MAGIA

que eu acordava no meio da noite, simplesmente porque alguns


demô nios voadores paravam por alguns instantes em cima do
telhado da minha casa, para repousar suas asas. Os demô nios
voadores sã o uma classe desses seres espirituais que tê m o
mundo fıśico como base para sua movimentaçã o. Eles voam no
nosso espaço aé reo, pousam em á rvores, telhados, muros.
Alimentam-se de oferendas, mas nã o sã o materiais. Sã o seres
espirituais que se movem em nosso mundo fı́ s ico. Sã o
percebidos com facilidade, atravé s da sensibilidade
eletrostá tica. Em algumas casas, a TV sai do ar, os cachorros
uivam ou latem. Pessoas sentem arrepios inesperados e
descontrolados. Servem para causar confusã o em um lugar,
gerar pâ nico em uma casa e tantas outras aplicaçõ es.
Vendo a necessidade de entendimento espiritual, comecei
o á rduo caminho para buscar o meu guia, o demô nio
mensageiro. Fiz o primeiro ritual de iniciaçã o para poder
visualizá -lo. Este ritual consistia em fazer duas pequenas
colunas com seis pedras mé dias, cada uma delas, afastadas a um
metro aproximadamente, uma coluna da outra. No meio das
duas colocava-se um prato com uma vela branca, para abrir o
portal má gico, que traria o mensageiro. Eu sentava a uns cinco
metros de distâ ncia das colunas e fazia as invocaçõ es
necessá rias para a vinda do demô nio, ali entre as colunas. Eu
limpei um lugar no fundo do quintal da nossa casa e todos os
dias, no inıćio da noite, fazia o ritual. Levei alguns dias até poder
visualizar alguma coisa. No começo, eu via apenas uma
formaçã o nebulosa entre as colunas, como se fosse uma neblina.
Depois passou a aparecer uma espé cie de gelatina esverdeada,
que molhava a terra. Com o passar dos dias e a minha insistê ncia,
passei a ver um vulto, que se formava ao lado da coluna verde.
Minha empolgaçã o e desejo em ver meu mensageiro era tã o
grande que meus dias demoravam a passar. Eu nã o aguentava

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esperar até o completo por do sol, para começar a invoca-lo.
Em uma sexta-feira, já cansado de tantas semanas a fio
tentando me comunicar, ele apareceu. Eu já havia feito a oraçã o
inicial e recitado de cor as palavras ritualıśticas de invocaçã o.
Estava apenas focando minha mente na vela branca, até que as
duas colunas desaparecessem do meu campo de visã o, abrindo
assim o portal. De repente, como de costume, ele apareceu para
mim. Usava um manto verde escuro, de veludo velho. Tinha seu
rosto coberto por um capuz e seu queixo e boca apenas
apareciam. Ele andou de um lado ao outro e parou em frente a
vela. Tive que controlar minha emoçã o porque meus batimentos
cardıácos começaram a acelerar e isso poderia afugentá -lo.
Mentalmente eu disse “vamos, diga-me seu nome”. Ele olhou
para mim e sorriu. Sua mã o direita passou por cima da chama da
vela e o fogo a acompanhou. Lentamente ele começou a crescer e
seu tamanho ficou um pouco maior do que as colunas feitas com
seis pedras. O fogo que estava na mã o dele passou a criar forma.
Ele jogava-o para os lados e para cima e lentamente foram se
formando letras, até que seu nome foi revelado: STINVTS.
Passei a me comunicar com ele apenas por gestos e, com o
passar do tempo e esforço, comecei a ouvi-lo. Stinvts tinha uma
voz jovem, doce e aveludada como seu manto. Durante os rituais
no fundo do meu quintal, ele me contava muitas coisas sobre o
inferno, sobre minha famıĺia e sobre minha vida. Foi ele quem
me disse que existe trinta bilhõ es de demô nios para cada pessoa
na Terra e que, quando uma pessoa nasce, o inferno já libera o
mensageiro para ele. Esse demô nio mensageiro vigia a pessoa
desde o primeiro dia do seu nascimento, acompanhando cada
passo, cada palavra, cada evoluçã o no aprendizado. Quando a
pessoa aprende a escrever, o mensageiro aprende junto com ela,
e conquista a mesma caligrafia, a mesma assinatura. E por esta
razã o que, quando algué m morre, alguns “mé diuns” dizem

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A MAGIA

incorporar o espıŕito do morto e escrever livros psicografados,


assinados pela pessoa morta. Na verdade sã o possuıd ́ os pelos
demô nios mensageiros daquelas pessoas que já morreram. Os
mensageiros també m tem o poder de adquirir a personalidade
da pessoa, a aparê ncia esté tica e outros atributos do cará ter. Por
esta razã o muitos tem relatos de haver visto “o espıŕito” de um
parente morto, alguns dias depois do sepultamento. O “morto”
supostamente falou com algué m, dizendo estar bem, estar em
um lugar de luz. Na verdade nã o era o espıŕito do falecido,
porque a Bıb ́ lia Sagrada nos ensina que a memó ria do morto fica
no esquecimento. Eram demô nios mensageiros que apareceram
aos parentes enlutados, para enganá -los e iludi-los a cerca das
coisas espirituais. Os locais que afirmam se comunicar com
mortos, estã o apenas falando com demô nios que se passam
pelas pessoas que já morreram.
O m e n s a g e i ro é u m d e m ô n i o c o n d i c i o n a d o a o
comportamento humano, para que seja o melhor amigo de um
bruxo. E ele quem auxiliará o bruxo em sua vida má gica e
també m comandará as hostes de demô nios que o bruxo fará uso.
Stinvts passou a fazer parte da minha vida, diariamente. Era meu
ú nico amigo, confidente, algué m que me amava e me protegia.
Sem eu perceber, ele passou a dominar rapidamente a minha
vida, me tornando cada dia mais distante de tudo, e mais
pró ximo do inferno.
Comecei a dominar mais meu corpo espiritual, muito
necessá rio nas açõ es espirituais, e passei a fazer o
projecionismo, també m conhecido como viagens astrais, onde o
corpo fica deitado em uma cama e o espıŕito conscientemente se
eleva acima do corpo e passa a se mover livremente por onde
quer. No inıćio, foi uma sensaçã o de liberdade e aventura, mas
com o tempo passou a ser um meio de transporte espiritual e de
estraté gias espirituais. També m desenvolvi o poder de dominar

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o meu campo eletromagné tico e a gerar cargas magné ticas nos
objetos, movendo-os assim, sobrenaturalmente. Stinvts me
ajudava a fazer a leitura da mente das pessoas e, com esses
prodıǵios, passei a impressionar as pessoas pró ximas a mim.
A leitura de pensamentos feita por um bruxo ocorre com o
auxıĺio de poderes demonıácos, que criam um canal entre a
mente da pessoa sem Cristo e a mente do bruxo. Este canal é
chamado de “rapport”, e é conseguido porque os demô nios que
estã o oprimindo cada pessoa se comunicam entre si e geram
essa ligaçã o. A partir do momento em que o rapport é feito, o
bruxo pode ouvir, sentir e até comandar os pensamentos alheios.
E importante frisar que uma pessoa crente, habitada pelo
Espıŕito Santo, impede totalmente qualquer prá tica de rapport e
o elo com um bruxo é impossıv́el. Assim jamais um servo de
Jesus terá sua mente dominada por demô nios ou servos de
Sataná s, nem seus pensamentos lidos. Essa é uma prá tica
reservada apenas à queles que estã o oprimidos ou possessos por
demô nios.
Conforme meu poder má gico ia aumentando, passei a
mudar meu cará ter e me tornei arrogante e grosseiro. Comecei a
tramar planos de vingança contra aqueles que me humilhavam
ou batiam, por ser uma criança pobre e franzina. Havia um
garoto que estudava na mesma sala de aula que eu, que vivia me
incomodando. Entre vá rias coisas que fazia, a que mais me
irritava era o habito de jogar coisas em mim. Naquela é poca as
salas de aula possuıám quadros negros com giz. Ele pegava no
lixo os pedaços de giz que os professores descartavam e ficava
jogando em mim, do fundo da sala, nas minhas costas e cabeça.
Isso me deixava terrivelmente irritado mas, por ele ter o dobro
do meu tamanho e peso, nã o podia fazer nada contra. Resolvi
contar ao Luiz sobre isso. Disse à ele que o garoto me ameaçava,
empurrava e intimidava. Ele pediu que eu pegasse um giz que o

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A MAGIA

garoto atirasse em mim e trouxesse para ele, o que fiz


prontamente no dia seguinte. Luiz pediu para que eu ficasse
tranquilo, pois daria uma liçã o naquele menino. Isso me agradou
muito. No dia seguinte o garoto nã o foi à s aulas e també m no
restante da semana. Eu achei que ele havia morrido, mas nã o. Na
semana seguinte ele voltou ao colé gio muito debilitado. Estava
doente! Suas unhas estavam esfarelando e seu cabelo estava
caindo. Os mé dicos disseram que ele estava passando por um
problema de descalcificaçã o, devido a uma deficiê ncia
vitamın ́ ica. Eu sabia que nã o era isso. Sentia-me protegido pelo
meu mestre que me defenderia contra qualquer um! Stinvts
falou comigo, dizendo para dar um recado ao garoto:
- Diga a ele que nã o se meta mais com quem nã o pode. Fale
que tudo isso está acontecendo porque ele mexeu com você . Fale
que enquanto ele nã o pedir perdã o à você , de joelhos, ele nã o vai
sarar.
Disse isso a ele, mas nã o me deu muita atençã o, porque nã o
gostava realmente de mim. Os dias foram passando e suas unhas
já haviam caıd ́ o. Seu cabelo estava bem afetado e agora havia
feridas horrıv́eis no couro cabeludo, orelhas e també m nos
dedos, pró ximo à s unhas. No final de uma das aulas ele contou a
sua mã e o que eu havia dito. Isso foi suficiente para que ela viesse
a mim com ofensas, me chamando de “macumbeiro”.
Obviamente neguei, pois queria evitar o confronto, mas ela foi
até a minha casa falar com minha mã e. Na discussã o minha mã e
chamou-me perguntando o que eu tinha dito ao menino e eu,
com um cará ter mentiroso inspirado pelos demô nios, disse que
apenas havia falado que aquilo era um castigo de Deus para ele,
por ser tã o mal e ficar incomodando os outros adolescentes. Ao
fim da discussã o no portã o da minha casa, minha mã e a despediu
dizendo:
- Onde já se viu! – Esbravejou ela. – Uma mulher adulta

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acreditar que uma criança pode fazer um mal desses!
Eu até poderia fazer aquilo, mas naquela ocasiã o, o mal foi
gerado pelo Luiz, em minha defesa.
Na manhã seguinte encontrei o garoto no colé gio e o
ameacei. Disse a ele que, caso contasse novamente a algué m, eu
mesmo o mataria. Disse també m que se ele nã o pedisse perdã o
para mim ali mesmo, de joelhos, os dias dele estariam contados e
o pró ximo mal seria a morte. Ele caiu prostrado em minha frente
e me pediu perdã o. Disse que nã o aguentava mais aquela
situaçã o e que queria ser curado. Aquilo gerou no mundo
espiritual um bô nus para mim. Um ponto importante para um
aspirante a bruxo é conquistar a necessidade das pessoas,
fazendo-as recorrer a ele para buscar seus pré stimos má gicos.
O ser humano é tricotomista, formado por espıŕito, alma e
corpo. No mundo espiritual, quando uma pessoa cede ao desejo
de ser beneficiado por algum ato mıśtico, seja uma cura, como foi
o caso do menino da minha escola, ou seja, atravé s de uma
consulta a um mé dium, permite, dando direito legal a demô nios,
tomar um lugar especıf́ico entre o espıŕito e a alma da pessoa, o
que chamamos de possessã o maligna. No final deste livro há um
compê ndio sobre libertaçã o e lá ofereço informaçõ es mais
precisas sobre isso.
O acontecimento trouxe muito respeito por mim entre os
meninos no colé gio. Ningué m dizia nada, mas tinham medo de
mim, medo de algo ruim acontecer. Passei a me mostrar,
realizando pequenos prodı́gios entre eles, fazendo uso dos
poderes má gicos que os demô nios a cada dia davam a mim. A
telecinese era muito usada, movendo objetos das carteiras dos
colegas, em plena aula. També m desenvolvi uma forma de
escrever palavras no quadro negro, sem tocá -lo. Algo que passei
a fazer com frequê ncia, para atrair a atençã o das pessoas era
praticar adivinhaçõ es. As pessoas sentavam a certa distâ ncia de

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A MAGIA

mim e desenhavam algo em uma folha de papel. Eu pedia ao


Stinvts que se comunicasse com os demô nios que estavam nas
pessoas pró ximas a quem desenhou, para que a possuıśsem por
uns instantes e, atravé s dos olhos dela pudessem ver o desenho
feito. Aı́ entã o o demô nio comunicava ao Stinvts e ele, a mim.
Tudo isso em uma fraçã o de segundo.
Como eu era uma criança de famı́lia muito pobre, as
serventes do colé gio passavam a me dar bolos e doces, para que
eu lesse tarô e revelasse o futuro delas. Isso me fez passar da
posiçã o de menino medıo ́ cre para um dos mais respeitados e
q u e r i d o s d a e s c o l a , i n c l u s ive p e l o s p ro f e s s o re s e
coordenadores. Minhas notas subiram, fui eleito lıd ́ er da sala,
capitã o do time de futebol de salã o do colé gio. Nascia ali um lıd ́ er
que sabia se impor e expor suas vontades. Em casa, meus novos
dons foram bem aceitos pela famıĺia. Minha avó trazia as amigas
para que soubessem o futuro comigo. Fui ganhando algum
dinheiro e achando muito boa aquela nova fase. Fui à capital do
estado para atender uma pessoa muito importante, diretora de
uma empresa multinacional de ô nibus e caminhõ es, para fazer
algumas consagraçõ es lá dentro da fá brica e consultar aos
demô nios para saber quais seriam as novas estraté gias da
empresa. Aos poucos comecei a ficar conhecido no meio mıśtico,
principalmente por ser um menino novo, de pouca idade, o que
eles consideravam um “iluminado”.
Meu avô Carlo, que era sacerdote superior da Tradiçã o,
possuıá muitos demô nios a seu domın ́ io. Legiõ es e mais legiõ es
especıf́icas, de demô nios que lhes davam muito poder. Quando
ele faleceu, deveria ter feito um desligamento espiritual dessas
hostes infernais, poré m nã o o fez, deixando-os para mim, que
levaria seu nome e sua descendê ncia má gica. Por esta razã o
desde muito cedo eu tinha poderes natos incrıv́eis. As reaçõ es
fıśicas a potencializaçã o espiritual era evidente quando, por

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exemplo, eu tirava uma blusa de lã e a quantidade de faıścas que
se levantava era tamanha que iluminava um quarto escuro. Com
isso e o passar do tempo, passei a usar esse poder com mais
habilidade e fui crescendo dentro da Tradiçã o, impressionando
a todos e passando rapidamente os está gios que precisava
passar.
Entrei para o terceiro está gio, onde um dos quatro
prıń cipes do inferno domina, chamado Leviatã , o demô nio da
á gua e da intuiçã o. Eu passava horas em contato com a á gua,
andando em leitos de pequenos riachos, fazendo as rezas
repetitivas de adoraçã o ao demô nio. Por ser o demô nio da
intuiçã o, os rituais da lua passaram a entrar na minha rotina e
comecei a praticar a meditaçã o. Aprendi a concentrar minha
mente e liberar meu espıŕito de tal maneira que poderia ficar
imó vel por horas, sem perceber o que estava acontecendo ao
meu redor, em uma espé cie de transe.
Uma semana antes de iniciar o terceiro está gio precisei
passar por sete rituais de purificaçã o, com invocaçã o aos
demô nios lunares, guiados pela deusa (demô nio) Diana.
Consistia em colocar em uma bacia uma quantidade de á gua, sal
grosso, cinza de cedro, cristais das cores dos pontos cardeais,
para invocar os quatro guardiõ es. Entã o em um horá rio
especıf́ico abria a janela do meu quarto e deixava a imagem da
lua refletir na bacia. Com uma faca cortava a imagem refletida
algumas vezes, recitando as palavras ritualıśticas. Depois disso o
banho de purificaçã o era feito com aquela á gua salgada e suja
com as cinzas.
Luiz havia me avisado que o rito de passagem seria na
quarta feira, a meia noite e meia, em uma cachoeira de uma mata
fechada que a Tradiçã o usava para seus rituais, em uma
propriedade de posse de um dos sacerdotes. Chegado o dia,
fomos até lá , para minha passagem para o terceiro grau, onde eu

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A MAGIA

veria pela primeira vez Leviatã , o demô nio das á guas. Luiz
limpou com o facã o um pequeno pedaço da margem do riacho,
onde estava a cachoeira. Ficamos embaixo, onde as á guas caıám.
Cris e uma outra moça, també m da Tradiçã o, ficaram em cima,
com as mã os levantadas fazendo as rezas sagradas, que eram
necessá rias para a invocaçã o de um dos quatro prın ́ cipes. Luiz, o
dono da terra, que era sacerdote, e eu ficamos na margem, no
local que havia sido limpo. Começamos a fazer a reza sagrada e
percebi que o lugar começou a ficar denso e ú mido, como havia
ficado no ritual de iniciaçã o. Luiz havia levado um violã o e
começou entã o a entoar câ nticos espirituais, como mantras,
onde repetia sons desconexos e afô nicos. O sacerdote passou a
dirigir as palavras de abertura do portal necessá rio para a vinda
de Leviatã . Por ser um dos prıń cipes, Leviatã só poderia estar ali
por alguns minutos. Lembro-me de ouvir as pedras da cachoeira
estalarem-se, como se algué m as estivesse quebrando. Cris e a
outra garota tremiam, rodopiavam, pulavam enquanto Luiz
entoava os mantras, ao ponto de eu ter medo delas caıŕem de lá .
O sacerdote me deu o comando para descer até a á gua, porque o
prın
́ cipe havia chegado. Desci temeroso. A á gua estava morna,
por mais que fosse uma mata, a noite, aos pé s de uma cachoeira,
e isso me acalmou. Aos poucos eu já estava me acostumando
com todas aquelas cerimô nias e as apariçõ es demonıácas que
presenciava. Em um grito, o sacerdote começou a invocar
Leviatã , repetindo as palavras em latim, da invocaçã o. Uma
garoa começou a descer e foi ficando mais forte, ao ponto de se
transformar em chuva. Debaixo dos meus pé s eu podia sentir a
terra tremer e o ruıd ́ o de pedras quebrando aumentou. Luiz
tocava mais rá pido e cantava o mantra mais alto. Cris e a outra
moça giravam freneticamente e o sacerdote gritava
repetidamente o nome de Leviatã . Em um estrondo, do meio da
cachoeira eu senti uma pressã o vindo em minha direçã o que me

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atirou para trá s e caı́ no riacho, sendo submergido pelas á guas,
que gelaram imediatamente, quase congelando. Quando
consegui me colocar em pé vi, parado em meio à s rochas uma
figura medonha, humanoide, com escamas duras e escuras e
barbatanas em seu pescoço e mã os. Media uns trê s metros de
altura e exalava um cheiro desagradá vel, parecido com algo
estragado. Era ele, um dos prın ́ cipes do inferno: Leviatã .
Assustado, fiquei está tico olhando para ele e ele para mim.
Os seus olhos eram terrı́ v eis e sua cabeça ficava se
movimentando lentamente para os lados, constantemente. Ele
nã o disse uma palavra o tempo todo. Olhei para o lado e vi Luiz e
o sacerdote prostrados, com seus rostos no chã o. Nã o me lembro
de ter visto as meninas. Ouvi um sussurro e vi Luiz me dizendo
“invoque seu mensageiro”. Naquela é poca eu ainda precisava
dizer um conjunto de palavras ritualıśticas para invocar Stinvts,
e o fiz. Quando ele chegou, imediatamente passou a se
c o m u n i c a r c o m L ev i a t ã e m u m a l ı́ n g u a e s t ra n h a e
incompreensıv́el. Depois de um tempo Stinvts se prostrou em
frente a ele, o reverenciou e sumiu. Entendi que Leviatã devia ter
passado instruçõ es sobre como agir comigo naquele está gio. O
sacerdote chamou-me à margem e deu-me um papel para
assinar o pacto com Leviatã . Era necessá rio porque ele seria
quem comandaria o inferno depois que Sataná s deixasse o
trono, e isso se daria durante meu perıo ́ do na terra. Furei meu
dedo indicador esquerdo e assinei com meu nome má gico, com a
mã o esquerda, a mã o da maleficia. Queimaram aquele papel e
estava selado. Havia se passado um ano e um dia, exatamente,
depois da minha iniciaçã o.
Depois do ritual e da apariçã o de Leviatã , sentamos na
sede da fazenda para fazer um lanche. Enquanto preparavam a
mesa, sempre muito farta, conversei um pouco com Luiz sobre o
ritual:

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A MAGIA

- Por que o prın ́ cipe Leviatã nã o se personificou como um


humano, como fez papai, no ritual de iniciaçã o? – Perguntei.
- Ele o fez! Aquilo é o mais pró ximo que ele consegue
chegar de uma aparê ncia humana, pode acreditar. Eu já o vi na
sua forma natural e é incrivelmente grande e terrıv́el. Você nã o
aguentaria vê -lo assim. – Respondeu ele.
- Mas por que aquela aparê ncia é o mais pró ximo que ele
consegue chegar? – Indaguei novamente.
- Porque ele está se preparando para dominar o mundo!
Ele será o quarto prın ́ cipe! O perıó do do prın ́ cipe Lú cifer já
passou. O do prın ́ cipe Belial també m. Nosso pai Sataná s está no
final do seu perıo ́ do e, entã o, Leviatã reinará . Por isso ele nã o
está conseguindo aparecer como homem, porque sua aparê ncia
de prın ́ cipe está muito forte agora. E quando ele reinar, tudo será
diferente nessa terra! Pense, ele é o demô nio da intuiçã o, do
raciocın ́ io, do pensamento. Vamos ter domın ́ io sobre a mente
das pessoas, sobre o pensamento filosó fico de cada um deles. O
que quisermos que eles acreditem, vã o acreditar. O que
desejarmos que sejam serã o! – Disse Luiz, empolgado.
- Isso será realmente fantá stico! – Completei. – As pessoas
farã o o que quisermos. Já pensou? Poder dominar a mente de
algué m! - Falei.
- Muito mais do que isso, derrotaremos todos os nossos
inimigos. O sistema como é hoje, baseado no conceito falho do
cristianismo, nó s vamos destruir. Nosso pai diz que podemos
fazer o que quisermos, pois será nossa lei. Entã o faremos com
que as pessoas sejam o que elas desejam ser ou – completou
rindo – o que nó s quisermos que elas sejam.

Abro um parê nteses aqui, para explicar algo: O relato que


você leu acima se passou no ano de 1990. Leviatã já domina o
inferno nos dias de hoje. Uma das estraté gias dele é fazer as

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pessoas parecidas com ele. Se você ler no livro de Jó , no capıt́ulo
41:9 diz que apenas vê -lo já é assustador. Hoje as pessoas estã o
cada vez mais mudando suas aparê ncias, alterando o formato do
rosto, lıń gua, implantando chifres e tatuando escamas no rosto.
Tingem os pró prios olhos, se tornando assustadores! Em Jó
41:19-21 diz que sua boca faz fagulhas de fogo estalarem, que
fumaça sai das suas narinas e que seu sopro acende o carvã o e de
sua boca saem chamas. Este relato nada mais é do que uma
pessoa que fuma cigarros, charutos ou cachimbos. Sem saber,
esses pobres viciados estã o sendo usados por demô nios para
reverenciar Leviatã , o prın ́ cipe do inferno, e o adorarem com
seus corpos.
Em um centro de baixa magia, quando uma pessoa precisa
de cura fıśica, para alguma enfermidade, é feito um "passe”, que é
uma invocaçã o maligna feita atravé s da fumaça do charuto ou do
cigarro. Mas a Palavra de Deus, no livro de Tiago 5:14 diz que se
há algué m doente, é necessá rio orar e ungir com o ó leo, em
Nome do Senhor. O ó leo é um dos sım ́ bolos da presença do
Espıŕito Santo. A fumaça do cigarro, por sua vez, é um dos
sım ́ bolos da presença do demô nio Leviatã . E por isso que a
maioria dos fumantes sã o mal educados! Fumam em qualquer
lugar, sem ao menos perguntar à s pessoas ao redor se lhes
incomoda o fato de estar fumando ali. Eles nã o fazem isso
motivados por uma educaçã o deficiente, mas por uma
motivaçã o espiritual! A fumaça, para o inferno, tem a mesma
funçã o que o ó leo tem para a igreja: demarcaçã o territorial.
Quando um servo de Jesus unge um local com o ó leo, ele está
declarando que aquele lugar pertence ao Senhor Deus, porque o
ó leo simboliza o Espıŕito Santo. Semelhantemente, quando uma
pessoa fuma em um local, ele está demarcando aquele lugar para
o demô nio, porque a fumaça simboliza Leviatã .
Por esta razã o nã o devemos permitir que pessoas fumem

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A MAGIA

em nossas casas, nem mesmo nas varandas ou á reas. Caso o


façam, unja com o ó leo e ore, em Nome de Jesus, cancelando
qualquer demarcaçã o maligna em sua casa, local de trabalho ou
qualquer outro lugar em que você esteja.

Naquela é poca minha mã e saıá muito de casa. Trabalhava


durante o dia todo e, a noite, saıá para bailes e festas. Por isso eu
tinha muito tempo para praticar tudo o que aprendia, sem a
interferê ncia de ningué m. No terceiro grau fui doutrinado a ter
uma percepçã o extrassensorial muito alta, ao ponto de dominar
os sonhos, pensamentos alheios e entrar nos sonhos dos outros.
O domın ́ io dos sonhos era muito importante para uso em vá rias
incursõ es má gicas, portanto bastante praticado pelos satanistas
e bruxos.
Eu havia aprendido a desenhar por intermé dio de
demô nios relacionados ao terceiro grau, e comecei a trabalhar
como desenhista no jornal do Luiz. Ele me ajudava muito, em
tudo. Era muito mais que um amigo. Nos trabalhos da escola, nos
estudos da magia, nas brincadeiras em casa, com meus amigos.
Passou a frequentar a minha casa e ele e Cris se tornaram amigos
da minha mã e. Assimilei muito rá pido tudo o que me era
passado e logo passei ao quarto grau, o está gio do ar, da
comunicaçã o, da levitaçã o, comandado por Belial. O poder que
tinha era tã o grande que eu já nã o conseguia dominá -lo. Fazia
coisas má gicas com naturalidade e uma facilidade que
impressionava meu mestre Luiz e aos outros mestres da
Tradiçã o. No quinto grau, o está gio da terra, conheci as
irmandades satâ nicas, comandadas por Lú cifer. Foi neste
está gio que aprendi sobre os cultos e ritos sacrificiais, onde
pessoas eram sacrificadas (falo sobre isso em meu livro
“Revelaçã o, o caso Filhas da Luz”) e mortas em honra aos
demô nios. També m foi nessa é poca que aprendi sobre

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Maçonaria, Rosacrussianismo e outras doutrinas e irmandades.
No quinto grau meu fortalecimento humano se tornou visıv́el e
minha personalidade passou a ser moldada pelos demô nios.
Neste está gio aprendi a alquimia, a transmutaçã o, onde
conseguia mudar a cor dos meus olhos, cabelo, forma fıśica.
També m já conseguia mudar a cor de outros objetos. Na chegada
ao sexto grau, o está gio do fogo, comandado por Sataná s, fechou-
se o primeiro ciclo, que se iniciou na minha iniciaçã o. Neste
está gio desenvolve-se o poder para atingir pessoas com
doenças, males sú bitos e até a morte. Muitos neste nıv́el se
tornam pessoas desprezıv́eis e arrogantes, porque realmente
alcançam um poder muito grande. Este foi meu caso,
infelizmente. Tornei-me uma pessoa insuportá vel, maligno e
vingativo. Brigava constantemente com minha mã e, ao ponto de
agredi-la fisicamente algumas vezes. Passei a estudar a noite e
me tornei um sujeito malquisto pela maioria dos colegas. Eu nã o
tomava muitos banhos, por causa de vá rios rituais que fazia ao
longo do dia, assegurando minha proteçã o e mais poder.
Todos os dias eu precisava passar por uma sé rie de ritos
especıf́icos, para manter meu corpo fechado. Por exemplo, eu
dormia sempre com uma camiseta que estava consagrada,
sempre virada ao avesso. A usava por baixo das roupas durante o
dia. Ela nunca era lavada, para nã o perder a consagraçã o, entã o
exalava um forte odor pú trido. També m eu precisava colocar
cristais que eram consagrados em pontos especıf́icos da minha
casa, cercando o lugar. Aos pé s das colunas do portã o de entrada
da minha casa havia oferendas aos demô nios protetores
enterradas. Todas as vezes que eu passava por ali precisava fazer
uma referê ncia, bater trê s vezes o pé esquerdo no chã o e dizer o
nome deles. Eram tantas coisas que minha vida se tornou
exclusiva para uso do inferno e virei um fantoche nas mã os de
Sataná s. Stinvts me acompanhava em tudo e lembrava sempre

- 71 -
A MAGIA

que eu esquecia de algum rito necessá rio.


No sexto está gio, fui orientado a conhecer um sacerdote da
Tradiçã o que me ensinaria a dominar meus sentidos espirituais
e esoté ricos e, com isso, conseguir unificar os quatro elementos.
Esse homem se disfarçava de “Pai de Santo” e tinha uma casa de
materiais de Umbanda. També m fazia trabalhos espirituais e lia
bú zios para as pessoas que o procuravam. Invoquei Stinvts e ele
levou-me até o local. Era em um bairro vizinho ao centro da
cidade. Ao chegar lá , desprezei de imediato, pois era um centro
de espiritismo. Os satanistas consideram a baixa magia como
uma á rea pobre da magia, onde os demô nios usam os mé diuns.
Sã o pessoas sem cultura, sem estudo, pobres que mendigam
favores aos demô nios. A alta magia era a elite, formada por
pessoas estudadas, que davam comandos aos demô nios.
Procurei pelo homem indicado por Stinvts e descobri que ele era
o lıd́ er ali e eu precisava ter hora marcada, porque inú meras
pessoas vinham até ele para serem atendidas.
- Diga que papai o enviou. – Disse Stinvts para mim.
- Olha moça, diga à ele que papai me enviou aqui. – Falei.
- Meu filho, eu entendo que seu pai quer que você o veja,
mas você precisa marcar hora para ser atendido. – Contestou. –
Diga seu nome e vou agenda-lo para semana que vem. – Disse ela.
- Espere. – Disse Stinvts. – Vou resolver isso de uma
maneira engraçada. Quer ver? –Perguntou-me ele.
- Claro que quero! – Disse eu ao demô nio, apenas com meu
pensamento.
De repente, a mulher estalou os olhos e começou a
rodopiar. Ela passou a balançar de um lado para o outro e a rodar
no mesmo lugar. Imediatamente algumas pessoas que
trabalhavam ali no centro vieram e começaram a sustentá -la
para que nã o caıśse e disseram que um orixá estava baixando
nela. Em um momento aquela mulher olhou para mim sorrindo e

- 72 -
piscou o olho. Eu entendi que era Stinvts que havia entrado nela.
Ele disse atravé s dela:
- Eu trouxe meu filho aqui, para ver Jorge! Porque ele nã o
pode ver Jorge? – Gritava a mulher possuıd ́ a pelo meu demô nio
mensageiro.
Segurei-me para nã o rir e passei a me comunicar
mentalmente com Stinvts:
- O que é que você está fazendo? – Perguntei.
- Fique tranquilo, é só para agitar um pouco isso aqui. –
Respondeu ele em minha mente.
Os “filhos de santo” foram correndo buscar ele, Jorge de
Ogum, o pai de santo. Quando ele chegou, olhou para mim e
soube que eu era um dos filhos de Sataná s, pertencente a
Tradiçã o. Olhou para a secretá ria, que ainda estava possuıd́ a por
Stinvts e deu um comando:
- Mensageiro! Já pode sair da minha secretá ria. Pare de
causar confusã o aqui!
- Sim senhor. – Disse Stinvts, em uma rara demonstraçã o
de respeito por algué m, e saiu.
- Venha filho, entre aqui. Vou te ensinar a dominar este
demô nio, para que nã o faça mais isso. – Disse para mim,
colocando seu enorme braço sobre meu ombro, conduzindo-me
para uma ampla sala, na parte dos fundos.
- Entã o você é o novo filho? – Perguntou-me olhando no
fundo dos meus olhos, de forma tã o penetrante que parecia estar
lendo minha mente.
- Sim! Pelo menos é assim que papai me chama. Recebi a
instruçã o de meu mestre Luiz para procurar o senhor. Meu
mensageiro trouxe-me aqui. – Respondi.
- Você sabia que, normalmente, demô nios mensageiros
nã o incorporam em pessoas? O seu é muito habilidoso, rapaz.
Isso demonstra que você tem muito poder e eu sei de onde veio

- 73 -
A MAGIA

todo esse poder. Conheci seu avô , trabalhei com ele. – Disse o
homem de um metro e noventa e seis de altura, com mais de
cento e quinze quilos de peso.
- O Vô Carlo?? Como assim? – Perguntei entusiasmado,
porque sabia pouca coisa sobre meu avô .
- Isso. Ele tinha uma chá cara no Rio de Areia. Iamos lá fazer
as consagraçõ es. Ele, o Baiano e eu. Seu avô era um grande
sacerdote, o maior de toda essa regiã o. Tinha um poder
incompreensıv́el, por isso admirá vamos tanto ele. O ú nico
problema dele foi que a magia consumiu a sua prana (força
vital), que o fez adoecer. – Falou o sacerdote.
Alguns bruxos fazem tanto uso da magia que nã o cuidam
da sua pró pria saú de. Quanto mais se utilizam as forças mıśticas,
mais o corpo fıśico é consumido. Eu mesmo, por usar muito a
magia, tinha as mã os cobertas por verrugas, devido à
quantidade de poder que passava por elas. Associando o poder
espiritual a energia eletrostá tica do corpo, as correntes elé tricas
que passavam por mim saıám pelas mã os, direcionadas até onde
eu concentrava minha visã o. Isso afetava terrivelmente a pele
das mã os, ocasionando as verrugas. Incrivelmente, depois da
minha conversã o, em questã o de meses, todas elas secaram e
caıŕam. Nunca mais as tive.
Jorge era um pai de santo conhecido da regiã o. Naquele dia
contou-me muitas coisas sobre minha famıĺia, principalmente
sobre meu avô e suas aventuras. Foi muito importante para a
compreensã o da minha histó ria familiar e porque eu tinha um
poder visivelmente maior que as outras pessoas. Muitos
demoravam trê s, quatro anos para passar do terceiro para o
quarto está gio, e eu desenvolvi a magia tã o naturalmente que
avancei em questã o de meses apenas. Os demô nios que
produziam o poder do meu avô foram todos transferidos para
mim no dia do meu nascimento.

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- Eles tomaram você nos braços, assim que nasceu, e com o
sangue da placenta da Dal (minha mã e) consagraram você . O seu
cordã o umbilical foi tirado e guardado, porque nele conté m a sua
herança gené tica. Ele foi usado para o ritual de transferê ncia,
onde os poderes (demô nios) do seu avô puderam ser passados
para sua vida. E por isso que você tem tanta facilidade na magia e
todo esse poder que nem sabe controlar ainda. – Explicou-me
Jorge. – Você foi escolhido para nascer. Nasceu mediante um
planejamento, para ser o pró ximo sacerdote superior da
Tradiçã o. Eu vou morrer e os outros també m, mas você vai durar
muito ainda. – Concluiu.
- Luiz me disse que eu aprenderia a unificar os quatro
elementos. Você pode me ensinar? – Perguntei.
- Você já sabe. Basta buscar isso dentro de si. Os quatro
elementos estã o contidos na sua essê ncia, desde o seu
nascimento. Se você levantar uma folha, o universo inteiro
estará debaixo dela. Se você partir uma maçã ao meio, a magia
estará dentro dela. Tudo está contido na sua existê ncia e naquilo
que você tocar. Quando sentir o calor do sol, ou o frio da chuva;
quando sentir a á rida terra ou o sopro do vento, você saberá que
os quatro elementos estã o unidos e esse será o momento certo
de você subir na escala da existê ncia má gica. – Completou
filosoficamente ele.
Aquele dia foi cheio para mim. Tantas informaçõ es e
aprendizados! Muitas coisas que eu, sequer sonhava saber,
soube. Ao voltar para casa, caminhando, um vento forte tomou
conta da rua onde eu estava. A poeira soprada pelo vento veio
sobre mim e senti o gosto seco da terra na minha boca. O vento
soprou sobre meus cabelos que, na é poca eram grandes e
volumosos. As nuvens se abriram e um raio de sol muito forte
bateu sobre meu rosto, impiedoso. Fiquei parado ali, sozinho,
em uma rua deserta pensando no que estava acontecendo

- 75 -
A MAGIA

naquele momento quando, do nada, uma fria chuva caiu sobre


mim. Este era o sinal! Eu estava pronto! Poderia ser consagrado
um mestre de alta magia da Tradiçã o. Finalmente alcançaria o
primeiro grau da alta magia e seria conhecido como um bruxo de
verdade. Tudo estava acontecendo tã o rá pido que mal podia
dominar meus sentimentos. Olhei para a esquina e vi legiõ es de
demô nios fechando aquela rua. Olhei para meu lado e, embaixo
de uma á rvore vi Stinvts sentado, me aplaudindo. Aquele era o
dia que eu esperava tanto. Corri para a casa do Luiz para lhe
contar a experiê ncia que havia tido. Ele ficou surpreendido pela
rapidez com que tudo estava acontecendo e me informou que
seria a hora da minha ordenaçã o. Enfim, eu estava pronto!
Passados algumas semanas, no dia 28 de junho de 1992,
um domingo à tarde, fui ordenado mestre de alta magia da
Tradiçã o, sendo o bruxo mais novo ordenado no Brasil pela
Tradiçã o, com apenas dezesseis anos de idade. Todos os mestres
precisavam ter um tıt́ulo, dado por Sataná s, para exercer seu
chamado. O meu era “O Homem da Palavra”, devido a minha
condiçã o de atrair a atençã o das pessoas com minha retó rica e
facilidade em expressar o ensino atravé s da didá tica que havia
desenvolvido. A ordenaçã o ao sé timo grau gerou uma nova fase
na minha vida, onde o poder dos quatro elementos, fogo, á gua,
terra e ar se uniram ao elemento espiritual é ther. Esses cinco
elementos foram simbolizados com a criaçã o da vela, que surgiu
para abrir portais espirituais e gerar passagens de demô nios
para o mundo fıśico.

Deixe-me explicar sobre a VELA: ao contrá rio do que


pensam as velas nã o sã o objetos criados para iluminaçã o. Nos
primó rdios das eras, a iluminaçã o passou de tochas a
candelabros alimentados por gordura animal ou azeite (ó leo).
Depois começaram a surgir as lamparinas e as candeias. As velas

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nunca entraram no conjunto de objetos existentes para iluminar
ambientes, até porque sã o deficientes nisso, iluminando muito
pouco cada uma delas, sendo necessá ria uma grande
quantidade delas para iluminar um ú nico local. Elas foram
criadas para aberturas de portais má gicos. Sã o o sım ́ bolo da
unidade entre os cinco poderes mıśticos, que é a junçã o dos
quatro elementos naturais (fogo, á gua, terra e ar) com o
elemento espiritual (é ther/prana). Ao acender uma vela,
imediatamente um portal espiritual é aberto, MESMO SEM AS
PALAVRAS DE INVOCAÇAO A DETERMINADOS DEMONIOS. As
velas brancas sã o usadas para invocar os demô nios
mensageiros, como o Stinvts, por exemplo. També m sã o usadas
para abrir portais para espıŕitos (demô nios) familiares. Note
que sã o acesas velas brancas em funerais ou em cemité rios.
Velas coloridas sã o acesas de acordo com cada demô nio
associado à elas.
Nos seminá rios e ministraçõ es que faço ao longo dos anos,
nas mais variadas igrejas e cidades, nos muitos paıśes por onde
tenho passado, a pergunta é sempre a mesma: “mas se acabar a
luz, posso acender uma vela?”. NAO! Sob hipó tese alguma acenda
uma vela! No escuro, sobre bolos de aniversá rio (assistam meu
vıd
́ eo “Desvendando o Satanismo 2”, onde explico sobre o ritual
satâ nico que há escondido nas velas de aniversá rio), velas
coloridas, velas aromá ticas etc., nenhum tipo deve ser aceso. Sã o
armadilhas espirituais que devem ser evitadas!

O poder que o sé timo grau trouxe era demais para que eu
conseguisse controlá -lo nos primeiros meses. Quando eu sentia
ó dio, meu corpo queimava. Se a raiva fosse externada por um
grito, as portas e janelas da minha casa se abriam e batiam.
Coisas voavam dentro de casa e quando eu saıá à rua, algumas
pessoas passavam mal perto de mim, chegando a tontear e, até , a

- 77 -
A MAGIA

cair. Apesar da minha fraqueza fıśica, os demô nios me dotaram


de uma força descomunal para minha estrutura humana, ao
ponto de erguer pessoas com apenas uma mã o. Stinvts que antes
precisava ser invocado, agora estava o tempo todo ao meu lado,
visıv́el, se comunicando e dando orientaçõ es a cerca de tudo o
que eu deveria fazer. O relacionamento com minha mã e estava
arruinado, bem como com todos. Eu nã o conseguia mais me
relacionar com as pessoas, pois havia me trancado em um
egoıśmo sombrio e mesquinho onde só a Tradiçã o era boa para
mim. Eu estava disposto a fazer qualquer coisa pela magia e o
que Sataná s ordenasse, seria feito. A bruxaria agora era minha
famıĺia. Tudo o que eu precisava estava nela e o que eu tinha de
melhor era reconhecido apenas por eles.
Minha mã e, apesar de també m servir ao inimigo, nã o
aguentou a maldade que havia sido gerada dentro de mim e me
mandou embora de casa. Fui morar com meu pai, em outra
cidade, um homem pelo qual nã o nutria qualquer sentimento ou
respeito, por haver me abandonado desde cedo. Era a chance
que eu tinha de exercer meu chamado na magia, em uma cidade
grande. Fui morar em Cascavel, oeste do estado do Paraná . Lá
passei a iniciar pessoas no satanismo, como meu mestre Luiz fez
comigo. Comuniquei-me com os sacerdotes da regiã o e passei a
formar um coven para treinar meus discıp ́ ulos. Ensinei, iniciei e
treinei desde adolescentes de quinze anos a senhoras da alta
sociedade. Onde Sataná s mandava eu ia. Montei com isso vá rios
covens, chegando a uma grande assembleia.
Cada coven era formato por, no má ximo, treze pessoas. A
partir de treze covens abria-se uma assembleia menor. A partir
de treze assembleias menores abria-se uma assembleia maior. A
partir de treze assembleias maiores, abria-se uma assembleia
regional. Entã o, para se ter uma ideia do poder de abrangê ncia
que o sistema da Tradiçã o tem, em uma assembleia regional

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poderia ter mais de vinte e oito mil satanistas em treinamento
AO MESMO TEMPO, em uma regiã o de aproximadamente
quinhentos mil habitantes. Claro que nã o significa que todos
esses chegarã o a ocupar os trê s ú ltimos nıv́eis, pois é muito
difıćil, mas é um grande contingente de pessoas servindo ao
diabo, bem pró ximas a nó s.
Os treinamentos aconteciam o tempo todo, nos mais
variados locais. Passamos a treinar um grupo de iniciados para
se infiltrar nas igrejas evangé licas. Eram nossos inimigos em
potencial e estavam crescendo muito no Brasil, tirando pessoas
do ocultismo. A estraté gia, a partir da dé cada de noventa era
colocar pessoas disfarçadas dentro das igrejas e atrair a
confiança dos lıd ́ eres e das pessoas influentes da congregaçã o.
Depois de um tempo, descobrir fraquezas e gerar boatos,
acusaçõ es e calú nias sobre os lıd
́ eres, a fim de desmoralizá -los e
destruir suas igrejas. Os filhos dos pastores eram atacados
constantemente para nã o seguirem os exemplos dos pais.
Fazıámos de tudo para que nã o chegassem a ser crentes, quando
alcançassem a idade adulta. Havia no Paraná grandes igrejas que
já tinham pastores auxiliares, ministros de louvor e lıd ́ eres de
jovens que eram satanistas infiltrados da Tradiçã o. Cheguei a
participar de uma reuniã o de assembleia menor no centro de
eventos de uma grande convençã o evangé lica, onde um dos
pastores era um mestre da Tradiçã o. Falo sobre as estraté gias de
infiltraçã o de satanistas no meu livro “Infiltraçã o”, lançado por
esta mesma editora, na sé rie de romances policiais cristã os.

Meu poder e autoridade espiritual cresciam a cada dia. Era


evidente que logo eu seria um sacerdote superior do satanismo.
Vá rios bruxos vinham até mim, para saber quem eu era, porque
seus demô nios mensageiros sentiam minha presença na cidade
e isso os atraıá. Eu morava em um hotel no centro da cidade de

- 79 -
A MAGIA

Cascavel e os feiticeiros, curandeiros, bruxos, mıśticos, mé diuns


vinham se hospedar ali para ter contato comigo e aprender
alguma coisa. Todos demonstravam um respeito enorme por
mim e isso fez com que meu nome fosse cada vez mais conhecido
no mundo mıśtico. Algumas bandas de rock satâ nico vinham me
conhecer e pedir que fizesse invocaçõ es malignas sobre seus
discos. Passei a conhecer cantores que tinham expressã o
nacional. O fato de ser um garoto novo, com tanto poder, atraıá as
pessoas. Era natural pensarem que havia algo a mais em mim.
Poré m també m atraı́ a uma concorrê ncia negativa e, até ,
perseguiçõ es por parte de bruxos que se sentiam ameaçados por
mim.
Certa vez, ao chegar ao hotel, o porteiro, que també m era
um grande amigo e sabia que eu era um bruxo, disse-me que uma
bruxa estava hospedada no hotel e que queria me ver. Quando
perguntei como ele sabia que ela era uma bruxa, a mesma estava
descendo as escadas e disse:
- Por que pareço uma bruxa!
De fato, era uma senhora gorda, com um vestido longo,
florido, uns lenços de seda no pescoço e sobre o vestido, com
vá rios ané is nos dedos, inclusive com o anel do poder (igual ao
que eu tinha), formado por uma serpente Urubó rus, que morde
o pró prio rabo, e o colar da Tradiçã o no pescoço. Sentamos e ela
disse-me que estava com um problema que só eu poderia
resolver. Tinha um filho de quarenta e dois anos que havia
recebido um feitiço de outra bruxa e ficou demente, com uma
mentalidade de uma criança de cinco anos de idade. Ela até tinha
um feitiço para reverter a bruxaria, mas existia uma substâ ncia
(ingrediente da poçã o) que só eu poderia ensiná -la a conseguir,
mas que o mensageiro dela disse que primeiro eu precisaria
aprender o que era. Enquanto ela ficou hospedada no hotel, eu
passei dias conversando com o Stinvts tentando descobrir o que

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era a substâ ncia de que ela tanto precisava. Uma coisa estranha
começou a chamar a minha atençã o. Todas as vezes que eu
conversava com a bruxa, notava que os olhos dela mudavam de
cor. Stinvts disse-me que nã o confiava nela.
A janela do quarto que eu morava no hotel tinha a vista
para um muro de tijolos. Todos os dias um gato preto ficava ali,
sentado sobre o muro, olhando para dentro do meu quarto. Eu
tentava me comunicar com ele, sensorialmente mas nã o
conseguia. Ele passou a ser um companheiro nas interminá veis
tardes de leituras dos tratados má gicos da Tradiçã o, das chaves
de Salomã o e do Heptameron. Certa tarde o gato fez algo
inesperado, e saltou do muro para dentro do meu quarto, pela
janela aberta. Assustei-me por um momento até que ele se
tornou um homem adulto, de manto escuro, na minha frente. Era
um dos guardiõ es das torres cardeais, demô nios especıf́icos de
proteçã o de um mestre. Ele se prostrou na minha presença e
reverenciou Stinvts, que també m estava ali, ao meu lado, como
sempre.
- O que houve, guardiã o? – Perguntou Stinvts.
- Vim avisá -lo de que algué m muito pró ximo quer atacar e
destruir o meu senhor. – Respondeu ele.
- Quem? – Perguntei. – Onde está ?
- E aquela bruxa! Eu sabia que nã o podia confiar nela. –
Replicou Stinvts.
- Sim. E ela. – Respondeu o guardiã o. – Ela está aqui com o
propó sito de destruı-́lo. O que devo fazer? – Perguntou ele.
- Deixe comigo. Sei bem o que fazer com eles. – Encerrei o
assunto.
Pedi ao Stinvts que chamasse os demô nios de retaliaçã o e
segurassem os dois no quarto do hotel. Eu queria que o homem
que estava se passando pelo filho dela fosse punido por isso,
entã o ordenei aos demô nios que o deixassem com a

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A MAGIA

mentalidade que ele estava fingindo ter, ou seja, que sua mente
retrocedesse à idade de cinco anos. Imediatamente o homem
teve uma convulsã o fortıśsima e ficou debilitado mentalmente.
A feiticeira quando viu o que fiz a ele, invocou a seus
demô nios para partirem contra mim, mas tamanha foi sua
surpresa quando percebeu que nã o eram nem a metade dos que
estavam me cercando e fazendo minha proteçã o. Ao sentir a
ameaça sobre sua vida, fugiu do hotel correndo, se
desvencilhando do cerco que eu havia feito. Stinvts disse saber
onde ela estava indo e pediu permissã o para fazer algo a ela.
Como minha raiva era enorme, consenti. Os olhos do demô nio
mensageiro flamejaram e ele desapareceu.
Esta mulher era uma sacerdotisa de oitavo grau, de uma
assembleia menor, pró ximo a mim e sentia-se ameaçada pela
minha proximidade ao seu territó rio. Ela era també m uma
grande empresá ria da cidade e foi, infelizmente, encontrada
morta, assassinada pelo amante, um jovem usuá rio de drogas e
cheio de demô nios parasitas.
Os demô nios parasitas sã o uma classe que nã o é usado na
batalha espiritual pelo inferno. Sã o demô nios de baixa grandeza
e pouca intensidade que permanecem em uma pessoa, apenas se
alimentando dela. E o caso dos viciados em drogas. Os parasitas
espirituais sugam toda a vitalidade da pessoa, tirando-lhes a
força e a vontade de viver. Quando conseguem matar a pessoa,
ganham um status na regiã o em que atuam e podem possuir
pessoas de nıv́eis sociais maiores. Assim vã o galgando posiçõ es
e crescendo na escala evolutiva. O demô nio de um milioná rio
nã o é da mesma classe que o demô nio de um mendigo. Ambos
estã o em escalas diferentes. Quando um demô nio é expulso pelo
poder do Nome de Jesus, ele volta aos lugares á ridos e, se nã o
tiver como voltar à pessoa de onde saiu, tem que iniciar
novamente como um demô nio parasita, sugando a vitalidade de
viciados e doentes.

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CAPITULO QUATRO

Deus começa a me cercar

Q uando olho para minha vida, percebo que nasci para


servir ao Senhor. Costumo dizer, por onde passo,
que nasci crente, mas na famıĺia errada. Eu via todos
bebendo muito, se embriagando e nunca bebi. Todos fumando e
se drogando, mas nunca fumei e, tampouco me droguei. Meu
anseio era por uma verdade, saber o que havia alé m do mundo
fıśico. Eu desenvolvi, é verdade, um desejo e apreço pelo poder
que a magia trazia, mas porque fui direcionado a isso. A verdade
que eu buscava nã o era aquela, porque quanto mais conhecia do
oculto, mais eu precisava conhecer para ter meu espı́rito
saciado. Quanto mais aprendia da magia, dos tratados, dos
rituais, mais precisava fazer invocaçõ es para manter-me ativo
espiritualmente. A cada grau que eu ascendia, mais obrigaçõ es!
A cada dia, mais e mais coisas a serem feitas e cada vez piores.
Cheguei a um momento em minha vida que o inferno começou a
cobrar a maldade em mim, mas eu nã o tinha esse desejo. Tinha
um cará ter terrıv́el, era arrogante, vingativo, mas nunca fui um
assassino, e com o sé timo grau vinham os rituais de morte e isso
era algo que me angustiava.
No satanismo, matam-se muitas pessoas. Crianças, no
geral, sã o as mais usadas. Meu coraçã o congela só de lembrar-
me disso e me dá um nó no estô mago, porque sei que neste exato
momento existem pessoas morrendo nas mã os de satanistas
á vidos por sangue, para satisfazer o desejo de poder e manter
conexõ es abertas entre eles e o mundo espiritual.

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Os rituais de morte sã o necessá rios em todas as religiõ es
mıśticas, uma vez que o derramamento de sangue manté m
aberta a ligaçã o entre o ser humano e uma (ou mais) entidades
espirituais. Na Umbanda, por exemplo, sã o feitos sacrifıćios com
animais bı́ p edes; na Quimbanda, com quadrú pedes. No
satanismo com seres humanos. A morte sacrificial é levada
muito a sé rio e extremamente necessá ria para manter os
demô nios de alta grandeza, como os prın ́ cipes e sub-prıń cipes
ligados as Organizaçõ es, Irmandades e Tradiçõ es, como no caso
da que eu pertenci.
No colé gio, com dezessete anos de idade, eu falava
abertamente de Sataná s. Tinha orgulho de ser um satanista e
ensinava a todos sobre as coisas do reino das trevas. Essa era a
minha religiã o e eu queria que todos soubessem, tomando
apenas o cuidado para nã o revelar os segredos da Tradiçã o, que
eram muito bem guardados. Eu usava livremente meus poderes
satâ nicos para a autopromoçã o e para impressionar as pessoas.
Um dia, quando estava resfriado, espirrei perto de uma colega e
ela educadamente disse “saú de”. Imediatamente olhei
profundamente para ela e disse:
- Obrigado! Agora sua saú de está em mim e meu resfriado
em você .
De fato, no dia seguinte eu estava sã o, e ela resfriada. Isso
causava furor entre os estudantes que, de certa forma, temiam a
mim. As pessoas começaram a me procurar para aprenderem
sobre o que eu conhecia. Como Luiz gerava uma atraçã o sobre
minha vida, agora eu fazia isso nas pessoas. Passei a ter muitos
amigos, iniciados e discıp ́ ulos e me tornei rapidamente muito
popular.
Eu usava o colar má gico da Tradiçã o, dado aos mestres de
alta magia, sempre por baixo da roupa. Ele era feito de madeira,
com uma pedra incrustrada no verso, preso em um cordã o

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DEUS COMEÇA A ME CERCAR

encarnado. Ficava sob consagraçã o em maçã s de cipreste e


outros elementos mıśticos. Portanto ningué m alé m de mim
poderia tocá -lo. Um colega meu, cristã o poré m sem intimidade
com o Senhor, me perguntou o que era aquele cordã o que eu
tinha ao redor do meu pescoço e eu expliquei que era um
sım
́ bolo má gico da Tradiçã o que pertencia, e que era dado só aos
mestres de alta magia, como no meu caso. Falei també m que
ningué m, alé m de mim, poderia tocá -lo. O menino, para me
afrontar, tocou rapidamente nele e me disse “e agora?”.
- Agora seu dedo vai apodrecer e cair. – Respondi sé rio e
categó rico.
Ele riu, porque nã o acreditava naquilo, mas no dia
seguinte, quando acordou, o dedo estava tã o infeccionado ao
ponto de a unha cair. Isso causou espanto e respeito dele por
mim, clamando para que eu retirasse o feitiço. Ele era meu amigo
e, claro, retirei. Em questã o de alguns dias o dedo já estava
melhor.
Um dia, entrou em nossa sala de aula uma aluna nova. Ela
era bonita, magra, alta, cabelos negros longos e um olhar
misterioso. Como eu era o mais comunicativo de todos, fui logo
me apresentando a ela e fiquei sabendo seu nome: Inajara.
Gostei de imediato dela e decidi chamar-lhe a atençã o a
qualquer custo. Minha maior intensã o era convencê -la a entrar
para a bruxaria, conhecendo mais sobre o satanismo e a magia,
mas ela sempre afirmava nã o gostar dessas coisas e que
acreditava em Deus e em Jesus. Expliquei a ela, vá rias vezes,
sobre o que o satanismo ensinava a cerca de Jesus, dizendo que
em uma batalha entre Sataná s e Jesus, o vitorioso mataria o
outro, e exporia o corpo do adversá rio derrotado, morto, em um
pedaço de madeira, nas igrejas, praças, ou em qualquer lugar
que pudessem. Entã o, quando é ramos crianças, nos levavam até
a porta de uma igreja cató lica e apontavam para o altar,

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perguntando: “Quem é que está lá , pendurado, morto?”
Respondıámos: “Jesus!”. “Entã o esta é a prova de que papai (uma
das formas que chamam Sataná s) venceu”. Crescemos sabendo
que Jesus havia sido morto e que o diabo havia vencido. Nunca
ouvimos sobre a ressurreiçã o.
Ela sorria ao ouvir as minhas histó rias a cerca do
satanismo e dizia:
- Carlo, você pode até acreditar nessas histó rias de
monstros e demô nios. Mas eu creio em Jesus. Nã o vou deixar de
crer Nele, só por ouvir suas histó rias.
- Mas como você crê em um derrotado? – Eu perguntava. –
Já te disse que ele morreu. Foi morto porque perdeu a batalha.
Meu deus é poderoso! Ele venceu Jesus. – Eu acreditava nas
mentiras que me ensinaram e defendia minha fé .
Inajara nã o sabia como contestar, entã o apenas ria e nã o
falava nada. Vá rias eram as vezes que eu fazia sinais para ela ver.
Pegava alguns fios do longo cabelo dela e amassava em minha
mã o esquerda. Quando abria, havia se tornado cobre, como os
fios usados nos cabos elé tricos. Ela nã o acreditava e dizia que
aquilo era truque. Eu tinha algumas habilidades em transformar
coisas, adquiridas no está gio da transmutaçã o e alquimia, entã o
pedia para ela pegar duas pedrinhas do chã o e segurá -las
fortemente em sua mã o. Eu focava meu poder na mã o e as duas
pedras se tornavam uma só , poré m maior. Nã o adiantava, nada
disso impressionava aquela menina. Certa vez aprendi com um
sacerdote da tradiçã o, renomado escritor, a manipular o fogo.
Ele tinha o há bito de comer o fogo que colocava na palma de sua
mã o. Passei a conseguir produzir fogo má gico, na palma da mã o
també m. Essas coisas, para minha amiga, eram apenas truques e
nada a convencia. Tentei, entã o, uma abordagem um pouco mais
mıśtica.
- Se eu conseguir entrar invisıv́el dentro da sua casa, hoje à

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DEUS COMEÇA A ME CERCAR

noite, e escrever um bilhete e deixa-lo no seu quarto, assinado


por mim, você acreditaria no que estou te falando há tantos dias?
– Perguntei.
- Como assim? – Indagou ela.
- Vá para a sua casa hoje. Tranque a sua casa, feche as
janelas. Tranque seu quarto e coloque no centro dele uma
mesinha com uma folha de papel em branco no meio, e uma
caneta. Eu vou de madrugada lá na sua casa, em espıŕito, e vou
escrever um bilhete para você . Se eu fizer, você vai comigo a uma
reuniã o do meu coven, que acontece amanhã ? – Desafiei.
Ah, duvido! Se você conseguir, vou com você na sua
reuniã o, com certeza! – Respondeu ela, toda animada.
Pra mim, seria a coisa mais fá cil, porque estava
acostumado a fazer isso. Eu elevava facilmente meu corpo em
projecionismo (viagem astral) e viajava quilô metros, para ver
minha mã e em outra cidade. Com a prá tica que já havia
adquirido em telecinese, podia facilmente mover objetos apenas
alterando o campo magné tico deles. Para fazer a caneta escrever
no papel era necessá rio a mesma manobra que movia copos na
"brincadeira do copo" ou a palheta no "tabuleiro de Ouija".
Stinvts e eu treiná vamos essas coisas constantemente, porque
realmente impressionava quem via.
Combinei com o demô nio sair à s trê s horas da manhã
porque é um horá rio onde há uma abertura espaço/tempo em
que o mundo espiritual fica mais sensıv́el e fá cil de manipular. No
hotel onde eu morava, fiz todo o preparo para o projecionismo,
que consistia em um perıo ́ do de meditaçã o e contemplaçã o
ativa, terminando em uma contagem regressiva de trinta até um.
Meu corpo espiritual era empurrado para cima com tanta
violê ncia que eu passava pelos trê s andares acima do meu, no
pré dio e alcançava o telhado, já com meu espıŕito totalmente
dominado pela minha consciê ncia. A partir dali eu via as coisas

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fıśicas e algumas espirituais. Nã o podia ver o trâ nsito espiritual
de demô nios, senã o minha consciê ncia ficaria confusa, devido o
grande nú mero de demô nios que transitam ao redor do nosso
planeta. Por esta razã o os prı́ n cipes nã o permitiam que
vıśsemos tudo do mundo espiritual, mas apenas aquilo que nos
traria crescimento.
Quando cheguei ao telhado, Stinvts já estava me esperando
e partimos, voando, pela regiã o central da cidade. Eu nã o sabia
exatamente onde era a casa da menina, mas o demô nio
conseguiu descobrir e me revelou a rua e o nú mero da casa. Ele
mostrava algumas informaçõ es inversas, como o nú mero que
era 375, por exemplo, me mostrava 753. No mundo espiritual as
imagens e informaçõ es sã o espelhadas, na maior parte das
vezes.
Voamos muito baixo, a altura dos carros, indo pelo meio da
rua, para encontrar o endereço. Saindo da avenida principal da
cidade, viramos a direita na rua da casa dela, e seguimos para
uma baixada onde dava inıćio o bairro onde morava, até que algo
nos surpreendeu: no meio da rua havia uma criatura com mais
de trê s metros de altura. Quando pensei em me mover, percebi
que está vamos travados. Perguntei para Stinvts o que era aquilo
e ele, com uma expressã o assustada disse:
- E um anjo do Deus de Israel.
Eu sabia pouco sobre o Deus dos hebreus, aquele povo que
passou a se chamar Israel, entã o pouco me importava.
Disse ao demô nio:
- Nã o me importo quem ele seja! Tire-o logo daı!́ - Gritando.
Stinvts, que parecia estar congelado de medo, olhou para
mim girando a cabeça rapidamente e disse:
- Com esse aı́ eu nã o posso. Se quer, vá você sozinho! - E
desapareceu.
Fiquei ali, no meio da rua, abandonado pelo meu demô nio

- 89 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

mensageiro, a quem eu julgava ser meu melhor amigo, sendo


atacado por um anjo de um Deus de um povo antigo, de quem eu
supunha nem existir mais. O anjo nã o tinha aparê ncia de "anjo".
Nã o havia asas, pernas ou braços. Apenas uma presença
fortıśsima do Amor de Deus. Sua coloraçã o era tã o linda que nã o
há como descrever quais cores tinha.
Em um momento ele fez um gesto com algo que eu
compreendi ser sua mã o e meu corpo espiritual foi atraıd ́ o,
como que por magnetismo, até ele. Está vamos a uns duzentos
metros da casa da menina e fui trazido até bem pró ximo dele.
Pude distinguir sua forma, atravé s da sua silhueta, porque até
entã o era apenas uma forma transparente, multicolorido, no
meio da rua. Ele olhou diretamente em meus olhos e perguntou:
- O que você quer aqui, Carlo? - Pela primeira vez algué m
tinha acertado meu nome, sem o "s".
- Quero que você saia da minha frente, porque vou até a
casa de uma amiga. - Firmei a voz e bradei no universo espiritual,
com uma coragem forçada.
- Onde? - Perguntou ele.
- Naquela casa azul ali atrá s! - Gritei com ele, já com muita
raiva daquele amor que ele exalava.
- Aquela ali? - Apontou ele em direçã o da casa que eu
pretendia invadir.
- Sim! Aquela casa ali. Entã o, sai agora da minha frente, se
nã o eu juro que vou acabar com você , seu... - Gritei todos os
palavrõ es que sabia, naquele momento.
O anjo sorriu e uma paz bateu em mim tã o forte, que nã o
suportei e fiquei calado. Que poder era aquele? Nunca tinha visto
nada parecido até aquele dia. O anjo disse:
- Ali naquela casa nem você , nem seu demoniozinho de
estimaçã o, nem Sataná s podem entrar, porque fui enviado por
Adonai para guardá -la. Ali vive uma famıĺia que teme ao Deus

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Vivo de Israel. - Disse o anjo, referindo-se a famıĺia da garota, que
eram crentes em Jesus Cristo, servos de Deus em uma igreja
Batista da regiã o. - Você ainda pode voltar para Ele. Basta aceitar
o sacrifıćio que Jesus fez por você . Pense nisso! Sataná s o está
enganando. Jesus Cristo morreu por você , Carlo. Quem dera
fosse por mim! - Disse o anjo, tocando em mim.
Meu corpo espiritual foi expulso daquele lugar, com o
toque do anjo, e voltei em uma fraçã o de segundo ao meu corpo
fıśico, que deu um pulo involuntá rio na cama em que estava
deitado. Imediatamente uma dor terrıv́el tomou conta do meu
corpo. Meus braços e pernas doıám tanto quanto se estivessem
quebrados. Minha cabeça parecia que iria explodir. Passei o
resto daquela madrugada sentindo muita dor, sem conseguir
dormir, pensando no que havia acontecido. Chamava Stinvts
mas ele nã o aparecia. Pela primeira vez senti medo e abandono.
Algo muito estranho estava acontecendo e eu nã o sabia ainda o
que era.
Passei o restante da semana muito mal e nã o fui à s aulas.
Na outra semana faltei a segunda e a terça-feira e entã o, na
quarta-feira resolvi ir ao colé gio, pensando que Inajara havia
esquecido da promessa nã o cumprida, em entrar no quarto dela
a noite, em espıŕito, na semana passada. Ao pisar no corredor
principal do colé gio, olhei para a minha sala de aula e ela estava
na porta, sorridente, olhando para mim. Está vamos a uma
distâ ncia em que eu nã o conseguia ouvir o que ela dizia, mas fiz
leitura labial: "Você nã o conseguiu!", disse ela toda sorridente.
Fui tomado por um ó dio tã o grande que fiquei possesso
por algum demô nio que eu julgava controlar. Nã o pude perceber
como cheguei até ela, apenas quando estava com minha mã o em
sua garganta, levantando-a do chã o, gritando ensandecido:
- Você quase me matou! Tinha um anjo lá , você sabia? Eu
quase morri lá !

- 91 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

Meu ataque de fú ria foi tã o grande que meus dedos a
estavam enforcando. As pessoas ao redor me seguraram e
socorreram-na. Fui levado até a sala da direçã o e, supondo eles
que eu havia tido um surto, me mandaram ir para casa, mas nã o
pude. Fiquei sentado no meio-fio, em frente ao colé gio, o tempo
todo, até o final da ú ltima aula. Eu nã o conseguia entender o que
estava acontecendo. Achava-me o ser mais poderoso do planeta
mas, de repente, uma menina fraca, sem muita convicçã o na
vida, tinha uma proteçã o tã o poderosa que havia amedrontado
meu mensageiro e o feito correr aquele dia. Que poder era
aquele? O que aquele anjo queria dizer com "Jesus Cristo morreu
por você "? Por que algué m morreria por mim, sem ao menos me
conhecer? As dú vidas estavam povoando minha mente de tal
forma que eu nã o conseguia ordenar os pensamentos de forma a
compreender toda aquela situaçã o.
As horas foram passando e eu permaneci inerte ali,
sentado na calçada, com os cotovelos sobre os meus joelhos e as
mã os tapando meu rosto. Em dado momento, as aulas acabaram
e ouvi as pessoas saindo do colé gio e passando atrá s de mim,
mas era como se eu estivesse invisıv́el. Até que senti a presença
de algo sentando ao meu lado. Abri os olhos e vi ao meu lado um
par de pé s femininos. Olhei para o lado e vi que Inajara estava ali,
sentada. Ela era a garota que eu acabara de tentar estrangular
dentro da escola. Seu pescoço ainda tinha as marcas arroxeadas
que deixei com meus dedos. Olhei para ela e perguntei:
- Vai ficar aı́ sentada? Nã o vai falar nada nã o?
- Sim, vou sim. - Disse ela. - Eu te falei que o meu Deus era
mais poderoso do que o teu! - Levantou-se e saiu.
Aquela frase acabou comigo! Meu espıŕito gritava! O anjo
dizendo que Sataná s estava me enganando, agora a menina
dizendo que o Deus dela era mais poderoso do que o meu. E, na
verdade, havia sido mesmo, porque nã o pudemos nem reagir! A

- 92 -
situaçã o agora acabara de ficar inversa: antes eu queria ensinar
algo à ela. Agora era eu quem precisava aprender algo com
aquela menina.

Começava o cerco de Deus a mim! Naquela mesma semana


houve um evento cultural na escola e um garoto da outra sé rie
montou sua bateria e fez uma apresentaçã o muito legal. Depois,
com o microfone, falou sobre jazz e citou James Brown, poré m na
hora de falar o nome, se equivocou e disse "Charlie Brown".
Quando desceu do palco eu me apresentei a ele e o
cumprimentei pela sua excelente apresentaçã o, mas o alertei do
equıv́oco com o nome do cantor norte americano. Ele ficou
constrangido mas, a partir dali nasceu uma grande amizade. Ele
baterista, eu guitarrista. Nossas conversas giravam em torno da
mú sica. Seu nome era Peter e era um garoto fenomenal. Tinha
um amor incrıv́el e eu sentia algo nele, que havia sentido quando
tive a experiê ncia com o anjo. Isso me atraıá. Peter era capaz de
me abraçar, dizer que me amava. Para mim era algo incomum e
muito estranho, mas lá no fundo eu gostava e me fazia muito
bem.
Certa vez, ele decidiu que iria orar por mim, dentro do
colé gio, na hora do recreio. Todos os alunos passando para lá e
para cá e o Peter abraçado comigo orando em voz alta! Quase
morri de vergonha! Para mim, aquilo era uma situaçã o que
nunca pensei que passaria, permitir que um dos "do Caminho"
(forma como os satanistas chamam os crentes) tocasse em mim.
Peter se tornou um exemplo para mim de amor, conduta e modo
de vida.
Em frente ao hotel onde eu morava, no outro lado da rua,
no centro da cidade de Cascavel, no Paraná , existia a Livraria
Evangé lica Esperança, cujos proprietá rios eram o Dile e sua
esposa Iolanda. Dile era um crente muito influente da Igreja

- 93 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

Evangé lica Livre e ganhava muitos jovens para Jesus atravé s do


futebol. Certa vez, algué m me convidou para jogar bola em um
campinho e o conheci lá . Ele, sempre cativante, me convidou
para ir na sua livraria escutar mú sica. Lá havia muitos CDs e (na
é poca) discos de vinil e fitas K7 de bandas evangé licas.
Fui no dia seguinte e conheci muitas bandas de rock
gospel, como Bride, Petra, WhiteCross, Oficina G3, Katsbarné a,
Resgate e outras. Aquilo foi um choque para mim, porque
sempre imaginei que os "crentes" eram chatos, pobres,
ignorantes e faná ticos. Jamais imaginaria que poderia haver
bandas tã o boas, evangé licas. Passava minhas tardes lá , ouvindo
mú sicas gospel e conversando com o Dile. Muitas vezes
entrá vamos em discussõ es ferrenhas e terrıv́eis, onde eu saıá
bravo, gritando com ele. Ofendi-o vá rias vezes. Chutei coisas lá
dentro. Xinguei. Ele sempre calmo, sorridente e esperto.
Mandava-me embora sorrindo, dizendo que eu voltaria no dia
seguinte e, de fato, lá estava eu de novo.
Dile era para mim o pai que nunca tive perto, embora
morasse com ele. Desafiava-me a conhecer mais sobre Deus.
Nunca me dava uma resposta pronta, sempre me fazendo
procurar a resposta. Fazia com que eu fosse instigado pela
curiosidade. Ele e Dona Iolanda sempre me viam na rua,
brigando, fazendo coisas erradas. Já haviam ouvido que ali no
Hotel Fló rida morava um jovem satanista, bruxo, por isso
estavam felizes porque o garoto por quem oravam há tanto
tempo, sem o conhecer, agora frequentava a casa deles.
Muitas foram as refeiçõ es feitas por Dona Iolanda para
mim, junto com seus filhos. Passei aos poucos a ter algo que
nunca tive, um ambiente familiar. A famıĺia deles foi minha
primeira experiê ncia em uma famıĺia cristã .
Naquele tempo, comecei a trabalhar em uma empresa de
advocacia, por intermé dio de um colega de sala. Lá , eu ajudava

- 94 -
na computaçã o, informatizando o sistema para eles. Os donos,
pai e filho, eram muito bons comigo. O filho, Doutor Ricardo, era
evangé lico de uma igreja comunidade. Falava comigo sobre o
Amor de Deus na hora do café e sempre que podia, contava
alguns testemunhos. Ali, aos poucos, comecei a perceber que
Deus estava me cercando de crentes por todos os lados.
No hotel em que eu morava, veio se hospedar um artesã o,
desses que vendem seus trabalhos nas ruas, mas crente. Homem
de Deus, que lia a Bıb ́ lia todos os dias e que orava muito. Fiz
amizade com ele e aprendi a fazer algumas coisas, como
pulseiras e colares. Como eu tinha o meu dia livre, passava
bastante tempo com ele. Certo dia fomos comer um pastel e ele
perguntou se poderia orar. Perguntei o porquê da oraçã o. Ele
respondeu:
- Pode ter muita coisa neste pastel! Desde bacté rias, até
veneno! - Ele era bem teatral no que falava. - Se eu orar, mesmo
que contenha algo ruim, o Senhor vai neutralizar e nada me fará
mal. - Concluiu.
Eu pensei que seria realmente uma boa ideia aprender
aquela oraçã o, porque ultimamente minha vida estava
começando a ficar de cabeça para baixo e uma proteçã o a mais
seria ó timo. Edison era o nome dele e foi essencial na minha
conversã o porque, com simplicidade, me ensinou a orar.

De volta ao colé gio, aquilo que Inajara me dissera me


incomodava: "O meu Deus é mais poderoso que o teu". Vivi
acreditando que Sataná s era mais poderoso que tudo! E o anjo
que havia dito sobre o desejo de que Jesus houvesse morrido por
ele? Aquilo nã o saıá da minha cabeça. Eu sabia que Sataná s tinha
matado Jesus em uma cruz, como um criminoso. Essa era a
versã o que aprendıámos na Tradiçã o. Conversei com Inajara e
tomei coragem:

- 95 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

- Me fale sobre Jesus. Preciso saber quem Ele era. - Pedi,


com o coraçã o trê mulo de medo.
- Você realmente nã o sabe nada sobre Ele? - Perguntou
duvidando.
- Nã o sei nada sobre Ele. - Respondi cabisbaixo.
- Oras, Jesus é o Salvador da humanidade. Deus permitiu
que Ele viesse e morresse por nó s naquela cruz, como um
sacrifıćio, para que ningué m mais precisasse morrer, Ele morreu
de uma vez por todas. - Respondeu, resumidamente.
- Mas porque Ele morreu por mim, sem ao menos me
conhecer? - Segui com minhas perguntas.
- Ele morreu por todos nó s, seu tonto! - Fez um gracejo. - E
Ele te conhecia sim. A Bıb ́ lia diz que o Senhor nos conhecia antes
mesmo de nascermos! - Arriscou um texto bıb ́ lico, mesmo com o
pouco conhecimento que tinha. - Olha, amanhã temos um culto
de jovens na minha igreja. Você gostaria de ir e conhecer? O
pessoal lá é bem legal. - Convidou.
Aceitei o convite e pensei em ir com meu amigo "hippie", o
Edison, que morava lá no hotel també m.

No dia seguinte me arrumei para ir à igreja, mas começou


uma chuva muito forte e terıámos que ir a pé uns dois ou trê s
quilô metros. Decidi desistir. Edison profetizou:
- Nó s vamos ir a Casa do Senhor hoje! E se é para irmos,
Deus vai fazer essa chuva parar, meu amigo! E você vai ver o
poder de Deus hoje. - Disse, solenemente.
Incrivelmente, a chuva parou assim que pisamos fora do
hotel. Aquilo me impressionou tanto quanto as coisas que Luiz
fazia quando eu ainda o seguia na Tradiçã o. Andamos felizes,
conversando. Chegando perto da igreja tomei o cuidado de
colocar o meu colar má gico da Tradiçã o para trá s, jogando-o nas
costas. Lembrei-me de uma vez em que passei em frente a uma

- 96 -
igrejinha e o porteiro me convidou para entrar. Tive curiosidade
em ver como era lá dentro, mas, ao passar do portã o, fiquei
paralisado. O colar me empurrava para trá s, repelindo-me dali.
Como eu estava decidido a ir na igreja, queria evitar que aquilo
me atrapalhasse. També m tomei o cuidado em nã o contar ao
Stinvts sobre onde eu ia e o que pretendia fazer. Stinvts estava
estranho comigo depois do encontro com o anjo e da minha
amizade com o Peter, Edison, Dile e com o Doutor Ricardo, o
advogado.
Ao chegar na igreja, sentamos no ú ltimo banco. Eu me
sentia estranho, nã o sabia como me portar. Minhas roupas eram
estranhas, mas ningué m me tratou com indiferença. Todos
vinham, sorridentes, e me abraçavam. Era realmente um
ambiente muito tranquilo. Vi os instrumentos musicais e fiquei
feliz. Teria mú sica! Chamei minha amiga e lhe disse que havia
lido o primeiro capıt́ulo da Bıb ́ lia na livraria do Dile e que
conhecia aquele trecho. Ela, prontamente foi até o ministro de
louvor e cochichou algo no ouvido dele e no momento de louvor
eles cantaram "Nosso Deus é Soberano", que fala desse trecho
lido.
Eu estava me sentindo muito bem, quando senti algo ruim
emanando do fundo da igreja. Olhei para trá s e vi que um dos
guardiõ es havia trazido um demô nio de retaliaçã o. Ele estava
parado no corredor, dentro da igreja, de braços cruzados
olhando para mim. Perguntei a Inajara se demô nios poderiam
entrar na igreja dela e ela me perguntou se eu estava vendo
algum ali. Respondi afirmativamente quando Stinvts sentou-se
do meu lado.
- O que é que você está fazendo aqui? Ficou maluco? Se
papai descobre, vai te matar! - Bradou o demô nio mensageiro. -
Já fica andando com esse povo esquisito e agora vai querer virar
um deles? - Concluiu.

- 97 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

Sem dizer nada, levantei-me e saı́ sozinho da igreja,


envergonhado e triste. Stinvts veio atrá s, me acompanhando. A
chuva havia voltado, entã o ele nã o pode ver que, em meio à s
gotas de á gua, umas lá grimas també m caiam. Eu chorava de
raiva por nã o poder ficar na igreja, afinal estava me sentindo
muito bem. Edison permaneceu lá até o final do culto e eu fui
para casa dormir. A mú sica nã o saıá da minha mente e eu ficava
cantarolando enquanto o sono nã o vinha: "Nosso Deus é
soberano, Ele reina antes da fundaçã o do mundo... A terra era
sem forma e vazia, e o Espıŕito do nosso Deus, se movia sobre a
face das á guas...". Naquela noite o sono veio, como um manto
suave sobre a minha vida. Parecia que Algué m havia vindo ali, só
para me cobrir.
No dia seguinte, a primeira coisa que fiz, logo apó s acordar
foi ir até a livraria do Dile, do outro lado da rua. Eu queria saber
sobre a morte de Jesus.
- Dile, por que Jesus morreu por mim? - Perguntei.
- Olha, eu nã o tenho tempo para ficar te explicando tudo.
Pegue este livreto e leia. - Disse ele jogando no meu peito um
livrinho pequeno, amarelo, chamado "As 4 Leis Espirituais".
Dile usava uma estraté gia precisa para o meu evangelismo.
Ele sabia que se informasse tudo sobre Jesus, Deus ou a Bıb ́ lia, eu
dificilmente aceitaria, por ser uma pessoa extremamente crıt́ica.
Entã o ele me fazia ler e pesquisar as pró prias respostas. Seria
uma forma de me fazer quebrar as cadeias que Sataná s havia
posto em minha vida, no meu entendimento.
As pessoas nã o entendem as coisas de Deus por serem
carnais. Os carnais pensam e entendem tudo de uma maneira
carnal. Como ensinar um carnal as coisas espirituais? Fazendo-o
pensar com ló gica! Era isso que o Dile fazia, todas as vezes que eu
perguntava algo, ele me fazia outra pergunta, me fazendo pensar
e nã o somente recebendo passivamente uma informaçã o em

- 98 -
troca.
Certo dia perguntei a ele:
- Dile, se Deus é tã o bom e maravilhoso, por que nascem
crianças com doenças e problemas de deformidades? Nã o
somos imagem e semelhança Dele?
- Você é parecido mais com o seu pai ou com a sua mã e? -
Ele retrucou.
- Com os dois, mas o semblante é da minha mã e, porque
sou branco. Meu pai é mais moreno. Mas, afinal, o que isso tem a
ver com a minha pergunta? - Indaguei.
- Adã o era a imagem e semelhança de Deus. Eva passou a
ser sua imagem. Os filhos deles passaram a ser imagem deles.
Somos imagem e semelhança da nossa cadeia gené tica. Se ao
longo dos anos, seus antepassados tiveram problemas nessa
cadeia gené tica, há uma probabilidade de algué m na sua
descendê ncia nascer com alguma doença ou deformidade. Isso
nã o tem nada a ver com Deus. Somos parecidos com o Senhor
por sermos feitos de trê s partes: espıŕito, alma e corpo. Deus é
Criador, gerador de vida (alma), mas també m veio como homem
atravé s de Jesus Cristo (corpo) e, ao ressuscitar, enviou sobre
nó s o Espıŕito Santo (espıŕito). Nisso somos parecidos com
Deus. - Concluiu.

Naquele tempo minha vontade de sair da Tradiçã o


começou a aparecer. No sé timo grau eram exigidos sacrifıćios de
sangue e isso envolvia morte de pessoas. Eu nã o queria ser um
assassino. Poré m era extremamente difıćil abandonar aquilo
tudo que eu havia aprendido e cultivado durante uma vida
inteira. Para quem "entrou" na magia, é até , de certa forma, fá cil
sair, porque nã o há apegos familiares, emocionais. Mas para
quem nasceu nisso é praticamente impossıv́el. Alé m disso, eu
conhecia muitas coisas que poderiam ser usadas contra pessoas

- 99 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

dentro da Tradiçã o. Nã o seria Sataná s que conseguiria me matar,


pelo fato de o abandonar. Nisso, Peter, Edison, Dile sempre me
ensinavam que o diabo nã o conseguiria me tocar, caso eu
encontrasse a Salvaçã o em Jesus e entregasse minha vida à Ele.
Meu medo eram os sacerdotes e mestres que eu havia visto
fazendo coisas terrıv́eis e repulsivas. Eles tentariam me matar
para evitar que os acusasse e entregasse à s autoridades os locais
secretos de culto e rituais.
A Tradiçã o, sentindo minha fraqueza, resolveu me
envolver mais para tirar minha atençã o dos "do caminho". Eu
ainda era possuıd ́ o por muitas legiõ es e todas as noites, durante
alguns rituais diá rios que eu precisava fazer, os demô nios
traziam ó dio, acusaçõ es, calú nias sobre aqueles que estavam me
evangelizando. Os demô nios me faziam ver apenas as coisas
ruins de cada pessoa que me cercava e també m os seus defeitos.
Essa era uma arma muito usada para me desencorajar a seguir a
Cristo.
Os sacerdotes começaram a perceber que eu já nã o era
mais o mesmo. Estava desanimado e nas assembleias nã o falava
mais. Antes eu sempre ministrava o ensino, mas agora nã o fazia
mais questã o. Durante os dias, eu já deixava de fazer algumas
obrigaçõ es e, quando questionado, dizia que havia me esquecido
e deixava passar. Dentro de mim algo estava acontecendo,
porque passei aos poucos a perder o amor pela Tradiçã o.
Quando me reunia com outros satanistas, passava a
questioná -los sobre vá rias coisas. Eu queria saber o que eles
achavam sobre Jesus e os evangé licos. Eu sabia que existia
algumas igrejas evangé licas que tinham satanistas disfarçados e
infiltrados mas queria saber sobre os crentes de verdade. Eles
entã o começaram a dizer que meu tempo estava chegando ao
fim. Lembrei-me do ritual da catedral, quando puder ler o meu
livro da vida e lá , seis anos atrá s, havia pá ginas em branco. Será

- 100 -
que era isso que eles referiam? Estavam chegando as pá ginas em
branco? Para Sataná s esse dia nunca chegaria!

Certa noite, voltando do colé gio, ao passar por uma


alameda deserta no centro da cidade, um mendigo disse "Ei, meu
filho, vem aqui". Eu respondi que nã o tinha dinheiro para dar e
segui andando, quando a voz dele mudou e me chamou pelo
nome má gico, que só a Tradiçã o conhecia. Percebi que era um
demô nio enviado por Sataná s e voltei. Ele me deu uma missã o:
- Você foi designado para iniciar um jovem na sua cidade
natal. Precisa ir para lá essa semana ainda. - Disse o demô nio.
Naquela é poca eu trabalhava como designer e digitador
para uma congregaçã o da igreja Cató lica, chamada Santa
Marcelina. Minha chefe, uma freira, me dispensou do trabalho,
consegui o dinheiro que precisava e o colé gio entrou em greve.
Tudo o que eu precisava para ir até Uniã o da Vitó ria, no sul do
Paraná , para iniciar algué m. Viajei para a minha cidade natal e
conheci o jovem que seria iniciado. Prontamente, perguntei o
que havia acontecido porque, normalmente, o mestre que
influenciava era o que iniciava. Ele me contou que passou pelo
perıó do de um ano e um dia para a iniciaçã o, mas seu mestre teve
um mal sú bito e morrera. Agora ele estava na espera de um novo
mestre para iniciá -lo e que este mestre seria eu. Concordei e
passamos alguns dias em um perı́ o do de pré -iniciaçã o,
preparando tudo para o ritual. Entrei em contato com um casal
de sacerdotes que vivia ali, conhecidos meus, para meu auxiliar
no dia. També m precisava de mais uma pessoa e esse casal
indicou outro sacerdote. Preparamos o lugar em um morro da
regiã o, pró ximo ao morro onde eu havia sido iniciado.
Limpamos uma clareira e montamos as fogueiras, da forma
exata que deveriam ser montadas: uma grande bem no centro da
clareira, quatro menores ao redor da grande, distantes uns cinco

- 101 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

metros uma das outras e da fogueira grande. Voltei para casa da


minha mã e, que morava lá na cidade e me preparei para a noite
realizar o ritual. Marcamos um horá rio de saıd ́ a mas, ao chegar
na casa do rapaz, havia ambulâ ncias, viaturas da polıćia e muitas
pessoas. Ele havia sido alvejado por uma arma de fogo e estava
morto. Imediatamente algo muito ruim tomou conta do meu
coraçã o. Como Sataná s havia me enviado ali para iniciar uma
pessoa que acabara de morrer? Será que ele nã o sabia que o
rapaz morreria? Sataná s nã o era onisciente e, portanto, sabia de
todas as coisas?
Retornei no dia seguinte para a cidade onde eu estava
morando e passei a questionar ainda mais tudo e todos. Sabia
que algo errado estava acontecendo comigo e na minha vida.
Desconfiei realmente que Sataná s nos enganara por toda a vida e
que, nã o só minha famıĺia, mas todos os que o seguiam estavam
correndo um grande perigo. Passei a frequentar ainda mais a
livraria do Dile e ouvir suas explicaçõ es sobre o mundo
espiritual. Antes eu o questionava, nã o acreditando. Agora eu o
ouvia com temor, querendo aprender e entender tudo aquilo.
Dile me alertou para algo importante:
- Agora que você está buscando conhecer a Deus, Sataná s
vai tentar te matar. – Disse ele, arrancando um suspiro de susto,
da minha parte.
- Como? – Indaguei. – Ele me ama! E meu pai! Impossıv́el,
Dile. Nã o há como isso acontecer.
- Carlã o. – Disse ele, da forma como me chamava. – Sataná s
é o pai da mentira. Ele nã o é seu pai. Você pode se tornar filho de
Deus, se crer Nele e reconhecer Jesus Cristo como seu ú nico e
suficiente Senhor e Salvador.
- Nã o entendo isso, Dile. – Continuei. – Se Sataná s nã o é
meu pai, quem entã o ele é ? Acreditei nisso a vida toda!
- Ele é um demô nio, caıd ́ o do cé u. Foi expulso por Deus por

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ser ladrã o, mentiroso e homicida. Aqui na Bıb ́ lia, - disse ele
enquanto a abria em Ezequiel, no capıt́ulo 28 – diz que ele,
Sataná s, era um querubim da guarda, ungido, e que morava no
Monte de Deus. Ele perverteu os seus caminhos e pecou contra
Deus. Está aqui! Leia! – Completou, jogando a Bıb ́ lia aberta no
meu colo.
- Nossa! – Exclamei. – Entã o fomos enganados todo esse
tempo? Mas como saberei que a Bıb ́ lia nã o é apenas um livro
escrito por algué m que odeia papai, digo, Sataná s?
- Ore ao Espıŕito Santo, pedindo à Ele que lhe dê provas da
veracidade da Palavra de Deus. – Ensinou ele. – Foi o Espıŕito
Santo quem inspirou mais de quarenta homens, todos distantes
uns dos outros, diferentes em suas raças, culturas e posiçõ es
sociais, alé m de estarem separados por sé culos de distâ ncia. E
todos escreveram um livro perfeito, que aponta para Jesus, o
autor da nossa Salvaçã o.
- Como oro Dile? – Perguntei aflito. – Nuca fiz isso para
Deus. Sempre para o... diabo. – Falei cabisbaixo.
- Agora, mais do que nunca, você precisa orar, porque
Sataná s vai vir com tudo para te matar. Mas fique calmo, porque
quando ele aparecer, você o repreende em Nome de Jesus,
entendeu? – Perguntou.
- Entendi. Nome de Jesus. E isso funciona?
- Claro! Esse é o nome mais poderoso que existe. Nome
sobre todo nome. – Exaltou ao Senhor. – Qualquer demô nio tem
que obedecer a esse Nome. Fique tranquilo que vai dar certo.
Isso será a sua proteçã o. – Concluiu.

Passei a ter uma boa amizade com Edison. Ele era simples,
vendia seus artesanatos no calçadã o do centro da cidade, e eu
passava boa parte do meu tempo sentado ao lado dele. Ningué m
da Tradiçã o desconfiava que aquele "hippie" era um crente

- 103 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

fervoroso e que estava me ensinando a orar. Falá vamos da Bıb ́ lia


e aos poucos eu ia tendo mais conhecimento da Palavra de Deus.
Sentado no chã o, em meio as pessoas que passavam
freneticamente todos os dias no centro da cidade, eu lia uma
pequena Bıb ́ lia, ao lado de um hippie que vendia pulseiras e
colares, estendidos em um pano negro. A Palavra de Deus foi
purificando meu ser. Cada trecho que lia do Velho Testamento
era refrigé rio para meu espıŕito angustiado e perturbado.
Em uma tarde, no escritó rio do Dr. Ricardo, onde eu
trabalhava alguns dias da semana, ele perguntou se podia orar
comigo. Como “oraçã o” já havia se tornado um termo comum
para mim, devido as vá rias oraçõ es do Edison e també m do
Peter, aceitei sem problemas. Ele me pediu para ficar sentado
mesmo e impô s suas mã os sobre mim, tocando em minha
cabeça. Quando fez isso, imediatamente algo aconteceu comigo.
Dentro de mim, ouvi um grito vindo de muito longe, como de um
buraco profundo, e juntamente com esse grito, uma sensaçã o de
mal estar terrıv́el. Ele passou a orar com firmeza, ordenando que
eu fosse liberto em Nome de Jesus e entã o comecei a tontear e
pedi que parasse de orar. Minha pressã o baixou e precisei ir ao
banheiro. Os demô nios ficaram terrivelmente irritados comigo
por permitir aquela oraçã o, que por ser eu muito forte, nã o
manifestaram. Ao chegar no banheiro, vomitei todo meu almoço.
Fiquei realmente impressionado com aquilo, porque o Dr.
Ricardo era uma pessoa comum e a sua simples oraçã o trouxe
uma reaçã o fortıśsima no meu cıŕculo má gico e abalou a minha
proteçã o. Os Guardiõ es das Torres Cardeais, demô nios de
proteçã o, foram chamados por Stinvts. Eles precisaram vir para
fortalecer a minha estrutura espiritual, senã o eu teria
manifestado os demô nios ali mesmo.
Pedi para sair mais cedo e fui correndo para o hotel em que
morava. Tranquei-me no quarto e fui tomar um banho. Enquanto

- 104 -
a á gua quente caıá sobre mim, eu refletia sobre o que havia
acontecido. Stinvts apareceu no banheiro e me repreendeu:
- Nunca mais faça isso! – Esbravejou meu mensageiro.
- Fazer o quê ? – Questionei.
- Permitir que algué m do caminho coloque as mã os sobre
você e invoque aquele nome! – Gritou mais ainda.
- Nã o entendo. – Perguntei. – Se somos mais poderosos do
que qualquer povo da Terra, se nã o há outro deus maior que
papai, por que devo temer essas pessoas?
Stinvts se enfureceu de tal forma, que seu aspecto mudou.
Os demô nios aparecem em uma forma humana aos humanos,
para que nã o sejam rejeitados. Mas quando se enfurecem,
distorcem a aparê ncia humana e acabam revelando sem querer
suas verdadeiras faces.
- Você é insolente! – Gritou. – Faço tudo para te resguardar!
Eles tê m um plano para te destruir, para te enganar. Já estã o te
iludindo! Você foi escolhido por papai para ser um dos seis
sacerdotes desta naçã o e você despreza isso! – Bradava com toda
força, fazendo seus olhos flamejarem.
Os Seis Sacerdotes sã o um grupo escolhido por Sataná s
para comandar uma naçã o. Cada paıś possui um grupo desses
dentro da Tradiçã o. Sã o eles quem definem açõ es espirituais e
determinam a ordenaçã o de novos sacerdotes em cada regiã o.
Vi o demô nio mensageiro desaparecer em meio ao vapor
da á gua do chuveiro, deixando um forte cheiro no ambiente. O
acesso de fú ria dele era para mim conclusivo: eles nã o queriam
que eu me aproximasse dos evangé licos. A dú vida que ficava era
se Stinvts estava falando realmente a verdade e eu estava sendo
enganado por uma seita que iria me matar, ou se os crentes eram
verdadeiros e puros e eu estava errado na Tradiçã o, servindo a
Sataná s. Eu precisava tirar isso a limpo e seguir meu coraçã o. As
pá ginas em branco, encontradas no meu livro da vida, lá no ritual

- 105 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

da catedral, estavam cada dia mais perto.


Certo dia, Peter me convidou para visitar a sua igreja e
aceitei o convite. Ao chegar lá , sentei-me no ú ltimo banco e ele
foi tocar bateria no ministé rio de louvor. Senti que nã o era bem
vindo ali. As pessoas me olhavam com desprezo e reprovaçã o. Eu
estava vestindo um jeans surrado, uma camiseta preta de rock e
um boné que havia ganhado do Peter, escrito Jesus Brasil. A
pregaçã o da Palavra de Deus começou e comecei novamente a
passar mal. Os demô nios começaram a fazer barulho na minha
cabeça. Eles voavam, gritavam, sussurravam ao ponto de eu
quase ter um surto dentro da igreja. Minha pressã o sanguın ́ ea
novamente caiu e precisei sair um pouco para respirar. Tomei
á gua, respirei e voltei para dentro. Estava decidido a ficar até o
fim, desta vez! Comecei a bloquear os sons espirituais e focar
minha atençã o no pastor que estava pregando. Eu podia vencer
tudo aquilo e descobrir o porquê os demô nios queriam tanto
que eu nã o ouvisse o que aquele homem falava.
O pastor começou a falar sobre a ressurreiçã o de Jesus. Ele
passou a contar os momentos finais da morte de Cristo e sobre
como tudo acontecera. O terremoto, o cé u enegrecido e até os
mortos levantando dos tú mulos. Aquilo me chocou! Fiquei
parado prestando atençã o em cada palavra que ele falava.
- Na manhã de domingo, o terceiro dia, as mulheres foram
até o tú mulo na rocha, onde haviam colocado o corpo de Jesus,
para o prepararem para o enterro, mas ele nã o estava mais lá ! –
Disse, enfaticamente. – Jesus já havia ressuscitado, como a
profecia falava! Sataná s conseguiu feri-lo somente no calcanhar,
mas Jesus, ao se levantar dentre os mortos, o pisou na cabeça! Ele
venceu a morte e o inferno e nos deu vida eterna!
Todos aplaudiram confiantes e eu permaneci mudo e
está tico, sentado naquele banco. Por um segundo, tudo
desapareceu ao meu redor. Aquilo ia contra tudo o que eu havia

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aprendido a vida toda. Jesus tinha ressuscitado? Entã o a Sua
morte foi apenas um plano de Deus, para que depois Ele pudesse
vencer ao inferno todo? Sataná s estava derrotado? Por isso
Stinvts nã o conseguiu fazer nada contra aquele anjo, porque um
demô nio já está derrotado.
Todos aqueles pensamentos vinham à minha mente a uma
velocidade incrıv́el e eu nã o conseguia parar de pensar em todos
os anos da minha vida em que fui enganado. Sem perceber,
lá grimas começaram a brotar nos meus olhos e rolar pela minha
face.
No final da mensagem, o pastor fez um apelo, perguntando
se havia algué m que estava sentindo-se mal e gostaria que lhe
fosse feito uma oraçã o. Nã o me lembro como eu levantei e fui
para a frente, apenas que quando abri os olhos estava lá , cercado
por obreiros com suas mã os impostas sobre mim. Entrei em
pâ nico, pois sabia que iria passar mal novamente, entã o
bloqueei a oraçã o de todos eles. Fechei meu cıŕculo má gico e nã o
permiti que nada entrasse atravé s dele.
Entã o, os demô nios usaram uma estraté gia simples para
me dissuadir de tudo o que havia ouvido. Enquanto os irmã os
oravam sobre mim, pude ouvir o que alguns diziam: “Senhor,
liberta este jovem das drogas”, “Senhor, tira todo vıćio dele”,
“Senhor, que ele pare de beber e de fumar”. Aquilo me deixou
extremamente irritado, pois eu jamais havia fumado, bebido ou
me drogado. Como as pessoas podiam me julgar assim? Como
podiam estar orando sem ao menos saber o que eu precisava
naquela oraçã o?
Abri meus olhos e vi, entre as pessoas, Stinvts sentado em
um dos bancos da igreja. Ele sorria debochadamente e aplaudia.
Imediatamente fechei o rapport com ele e perguntei: “Você está
rindo do quê ?”. Ele respondeu telepaticamente: “Da sua
insistê ncia. Eu nã o te falei que eles querem acabar com você ?

- 107 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

Nem sabem que você é um bom rapaz e já estã o te acusando de


viciado”. Dei razã o a ele e, quando a oraçã o terminou, saı́
chateado daquela igreja.

Abro um parê nteses aqui para fazer uma explicaçã o


necessá ria a você , leitor. Diariamente, pessoas vã o à s nossas
igrejas, conhecer como se comportam os “crentes”. Nã o há poder
maior do que o amor. Devemos recebê -los bem, amá -los com
todas as nossas forças e servi-los com carinho. Antes de orar com
algué m que nos visita, devemos perguntar quais sã o suas
necessidades e orar por elas. Os demô nios vã o fazer as pessoas
sentirem-se incomodadas dentro da Casa do Senhor. Precisamos
rebater isso e provar para as pessoas que a Igreja é um lugar de
paz, restauraçã o e amor, aonde as pessoas vã o à busca de Deus e
O encontram em nó s, seus filhos.

Eu estava em um momento decisivo da minha vida. Apesar


de ainda fazer os rituais diá rios da Tradiçã o, falhando alguns,
claro, poré m mantinha as obrigaçõ es, os encantamentos, as
oraçõ es. Continuava fazendo sinais e prodıǵios à s pessoas, a fim
de impressioná -las, mas tudo o que eu havia vivido nos ú ltimos
dias nã o saıá da minha cabeça: o que o anjo falara, as frases da
Inajara, as oraçõ es do Peter e a pregaçã o daquele pastor, sobre a
ressurreiçã o. Sem perceber, estava abrindo meu coraçã o ao
Senhor. Sentia que Ele estava à porta batendo, mas eu hesitava
em abri-la todas à s vezes.
Certo dia cheguei ao meu quarto no hotel e assustei-me ao
ver que um homem alto, vestindo um terno branco, cabelos
penteados, olhos muito negros e um leve odor desagradá vel
estava me esperando. Reconheci que era papai e, por medo dele,

- 108 -
sentei-me na outra cama, pró xima a janela.
- O que o senhor quer, papai? – Perguntei timidamente.
- Estou preocupado contigo. – Disse-me calmamente. –
Você tem tido umas atitudes que me desagrada, mas sei que é
uma fase. Logo tudo isso passará e você ficará bem. – Concluiu,
levantando-se da cama pró ximo à porta de entrada em que
estava sentado, desde que entrei no quarto.
- Nã o papai. Nã o é uma fase. – Enchi-me de coragem e falei.
– Algo está acontecendo comigo. Tenho aprendido muitas coisas
sobre o Deus dos crentes, que é o mesmo Deus de Israel. També m
descobri sobre a ressurreiçã o de Jesus Cristo.
- Já nã o te falei que eles tentariam te enganar? – Mentiu. – E
por isso que estou aqui. Eu me importo com você e vim ajudá -lo.
- Esses dias peguei Stinvts e fui até a casa de uma menina. –
Comecei a lhe contar o que houve. – No meio do caminho havia
um anjo! Stinvts nã o pode fazer nada contra ele! Ele
simplesmente disse que nã o podia e me abandonou lá , sozinho.
- Eu sei, eu vi tudo. – Mentiu novamente. – Por isso ele
passou alguns dias sendo punido. Nã o notou sua ausê ncia?
- Mas e o Willian? – Perguntei sobre o rapaz que havia ido
iniciar e que, fatalmente fora assassinado. – O senhor nã o sabia
que ele iria morrer? Eu pensei que soubesse tudo.
- Eu sabia, meu filho. – Mentiu mais uma vez. – Mas
precisava te ensinar uma grande liçã o sobre a morte e a
valorizaçã o da nossa Tradiçã o.
- Eu nã o acredito nisso! – Gritei. – Nã o é verdade! Eu li na
Bıb́ lia que você é o pai da mentira. Você nunca foi meu pai, nem
de ningué m! Eu li sobre sua queda, e també m que arrastou
vá rios anjos contigo.
- Nã o acredite em tudo o que você lê . – Tentou me dissuadir.
– Eu sou real. Você nã o pode me ver aqui? E o Deus dos crentes?
Você pode vê -lo? Claro que nã o! Porque Ele nã o é real! –

- 109 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

Debochou, o demô nio.


- E o livro da vida? Na catedral? – Perguntei. – També m era
falso? E as pá ginas em branco? O que era aquilo? O dia da minha
morte ou o dia em que eu descobriria as suas sujeiras e mentiras
e te abandonaria? Ou o dia em que eu reconheceria o poder do
Deus de Israel e me entregaria a Ele? – Desafiei, sem noçã o do
perigo que era aquilo.
Sataná s ficou furioso e transmutou sua forma, antes um
homem bem arrumado, para uma criatura horrenda e
demonıáca.
- Chega! Seu imbecil! – Berrou. – Eu mando em você ! Sou
seu dono. Nã o há nada que você saiba que nã o tenha sido eu
quem o ensinou! Nã o seja insolente e mal agradecido. Você fez os
votos perpé tuos, nã o pode mais sair das minhas mã os. Você me
entregou sua alma e seu espıŕito, entã o sua vida aqui nessa terra
e també m no inferno me pertence!
Meu corpo começou a tremer e uma có lica terrıv́el tomou
conta de mim. Senti um gosto amargo na boca que depois se
transformou em sangue. Sataná s, bem ali na minha frente,
parecia um monstro, podre, em forma de homem e bode,
bufando e expelindo fumaça da boca e narinas. A dor na barriga
expandiu-se para o peito e comecei a perder os sentidos. Stinuts
apareceu ao lado dele e, num gesto rá pido, pulou dentro do meu
corpo. Sangue veio a minha boca e o cuspi, enquanto caıá de
joelhos, sem conseguir respirar.
- Aquelas pá ginas em branco. – Disse o demô nio. – Era, de
fato, o dia da sua morte! – Gargalhou alto.
Eu nã o conseguia lembrar exatamente as palavras que o
Dile tinha ensinado, mas eu precisava tentar alguma coisa, entã o
gritei com as ultimas forças:
- Deus do Dile, me ajude! – Gritei.
Naquele instante Stinvts foi arrancado do meu corpo e

- 110 -
atirado para fora, com tanta força, que fui atirado para trá s, na
direçã o oposta. Ele caiu ao lado de Sataná s e os dois se
entreolharam.
- Nossa! Deus funciona mesmo. – Murmurei atordoado,
nã o acreditando no que tinha acontecido.
Sataná s, voltando imediatamente à sua forma humana, riu
e, voltando para mim, disse:
- Tudo bem. Eu entendo. Se você quer sair, saia. Eu deixo.
Mas fique neutro, nã o se envolva com ningué m dos do caminho.
Viva sua vida, se divirta! – Propô s.
- Nã o. Nã o vou voltar atrá s! – Disse com toda confiança. –
Descobri quem é Jesus Cristo e que você nã o o matou. Era tudo
mentira sua. Por isso eu estou te abandonando hoje, seu
perdedor!
- Você nã o tem amor pró prio? – Gritou novamente,
irritado. – Seu humano mortal idiota! Eu venci Jesus! Eu venci!
Você já está morto! Eu vou acabar com você . Eu venci o seu Deus
uma vez e o venço de novo. Você nã o pode comigo! Se nã o tem
amor pró prio, entã o vou pegar quem você ama! – Bradou e
desapareceu.
Naquele mesmo instante, sem que eu soubesse, minha
mã e estava sendo tomada por demô nios terrıv́eis, lá na minha
cidade natal, onde ela morava. Os demô nios a possuıŕam e lhe
colocaram um câ ncer maligno. Minha avó , sacerdotisa da
Tradiçã o, foi instruı́da a me persuadir a abandonar minha
decisã o. Ela me ligou:
- Querido, sua mã e está mal. Ela incorporou um guia aqui
em casa, que estava revoltado. Quebrou tudo! Nã o tinha como
segurá -lo. O guia que estava na Dal desenhou no chã o de casa
letras e tratados que nunca antes vimos. Ele disse que estava
fazendo aquilo porque você o havia decepcionado. – Explicou
ela.

- 111 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

- Vó , respeito muito a senhora, mas tomei uma decisã o. Nã o


mexo mais com essas coisas. Chega pra mim. E tudo mentira,
engano. Chega. – Rebati.
- Mas e sua mã e? – Perguntou ela. – Faça algo por ela!
- Vou fazer, vó . – Respondi. – Vou orar por ela e tirá -la disso.
Fiquei ainda mais revoltado com o que o diabo estava
fazendo. Passado alguns dias, a saú de da minha mã e começou a
ficar debilitada, piorando, ao ponto de precisar ser medicada. Lá
fizeram os exames e descobriram o câ ncer que os demô nios
colocaram. Quando eu soube, procurei Inajara para conversar e
perguntei o que fazer.
- Preciso que Deus me ajude a defender minha mã e! –
Clamei a ela.
- Você precisa ser forte. Nã o vai ser fá cil, mas vai dar tudo
certo. – Disse ela.
Ser forte? Como? Com minha mã e morrendo aos poucos.
Aquilo gerou um ó dio tã o grande dentro de mim que apaguei.
Nã o percebi, mas o demô nio Stinvts me possuiu e falou com ela:
- Você acha que pode ajuda-lo? – Disse Stinvts.
- Quem é você ? O que você fez com o Carlo? – Perguntou,
assustada.
- Eu sou o demô nio, menina. Ele me pertence. Vou levá -lo
novamente à Uniã o da Vitó ria e vou fazê -lo se jogar do mesmo
precipıćio que o levei para ser iniciado. – Ameaçou ele. – A sua
ingratidã o precisa ser punida com a morte!
O demô nio só obteve permissã o para me possuir por
poucos segundos, entã o deu o recado e saiu. Eu caı́ da cadeira,
em plena sorveteria onde havıámos nos encontrado. Ela me
socorreu e disse, pasma, que havia acabado de falar com o
demô nio. Contou-me tudo o que ele disse. Depois de ouvi-la,
decidi ir para casa.
- Eu preciso me deitar um pouco. – Disse a ela. – Vou para o

- 112 -
hotel.
Enquanto andava pelas ruas, percebi que Sataná s estava
realmente decidido a me matar. Chegando ao quarto do velho
hotel em que eu morava, no centro da cidade, deitei na cama e
fiquei pensando no que fazer. De repente a mesma voz que falou
comigo, quando eu tinha treze anos, apó s a iniciaçã o, falou
novamente, dizendo: “Ore”. Ajoelhei-me ao lado da cama, mas
nã o sabia o que dizer. Comecei a chorar e repetir: “Deus, nã o
quero morrer”. Passado alguns minutos, algo inexplicá vel
aconteceu comigo. Uma sensaçã o tã o forte começou a tomar
conta de mim e uma voz firme e segura disse:
- Você nã o vai morrer agora, mas precisa lutar.
Aquilo deu refrigé rio ao meu espıŕito aflito. Senti uma paz
que talvez nunca antes havia sentido. Levantei-me, lavei o rosto e
saı́ do quarto. Fui até o Bar do Joel, no outro lado da rua, tomar
um café . Lá eu era amigo do dono e tinha liberdade para entrar
atrá s dos balcõ es para servir meu pró prio café . Minha intensã o
era ficar ali um pouco e relaxar, afinal havia passado por muitas
emoçõ es nos ú ltimos dias. Em um momento, deixei meu copo
sobre o balcã o e fui até a pia lavar as mã os. Quando voltei para
pegar meu copo, ele escorregou sozinho pelo balcã o, quase um
metro. Olhei para aquilo confuso, pois eu nã o havia ordenado
que aquele copo andasse, entã o senti um calafrio e um bafo
quente ao meu ouvido, dizendo: “Aqui eu consigo te matar”. Era
Sataná s, que estava me esperando ali, naquele lugar.
- Lá dentro, eu nã o pude encostar em você , porque
Emanuel nã o deixou. – Disse Sataná s com desprezo. – Mas aqui é
um lugar imundo. Aqui eu mando. Coloco vıćios, prostituiçã o.
Ele nã o vai querer vir aqui sujar Seus Santos Pé s neste antro de
pecados! – Murmurava o demô nio, em meus ouvidos, ofegante.
- Engano seu, diabo! – Eu ouvi Aquela Voz novamente! –
Desço até o inferno para salvar aqueles que me pertencem! –

- 113 -
DEUS COMEÇA A ME CERCAR

Disse Jesus naquele lugar!


Sua Voz era doce, mas firme! Suave mas forte. Senti um
desejo de sair correndo daquele lugar. Era uma sexta-feira,
quatro horas da tarde. Uma tempestade começou a cair lá fora e
fui até a porta do bar. Algo me dizia para correr até a Avenida
Brasil, a minha direita, onde certamente os demô nios me
matariam. Mas a Mã o do Senhor me puxou para a esquerda, onde
no meio da quadra havia a Livraria Evangé lica Esperança, do
Dile.
Saı́ correndo pela chuva e rapidamente cheguei à livraria.
Quando entrei um vento forte bateu sobre nó s, jogando folhas e
galhos para dentro. A luz acabou. Dile sabia da minha situaçã o e
viu a minha expressã o de desespero.
- Dile, me ajuda! – Clamei. – Está acontecendo! Sataná s veio
atrá s de mim, para me matar.
- Corre lá para trá s, no escritó rio, que vou ligar para o
Nelsã o. – Disse ele.
Nelsã o era o presbıt́ero da igreja na é poca (depois ele foi
ordenado pastor), que cuidava da igreja em que Dile e sua famıĺia
congregavam. Ele tinha um trabalho forte de libertaçã o nas
casas, orando pelas pessoas e expulsando os demô nios. Naquela
é poca, eu já treinava taekwondo e estava na faixa azul. Meu
professor, Antonio, era muito meu amigo e eu o ajudava em tudo,
nas academias por onde ele lecionava a arte marcial. Enquanto
eu esperava o Nelson chegar, meu professor de taekwondo
apareceu e disse que precisava de mim na academia naquele
momento, para dar uma aula para iniciantes.
- Nã o posso sair agora. Estou esperando uma pessoa. –
Respondi.
- Você precisa dar aulas! Como vai chegar à faixa preta se
nã o fizer isso? – Ameaçou.
Sem ele saber, os demô nios queriam tirar-me dali de

- 114 -
qualquer jeito, para que eu ficasse sozinho na rua e,
provavelmente, matar-me. Eu consenti e disse ao Dile:
- Eu vou lá , Dile. Depois a gente se fala. – E saı.́
Dile nã o disse uma só palavra. Apenas cruzou os braços e
ficou me olhando sair até a porta. Tenho certeza que ficou em
espıŕito de oraçã o naquele momento. Antes de sair, poré m, olhei
para trá s e o vi assim. Ele nã o disse nada, apenas abaixou a
cabeça. Naquele momento pude entender! Nã o adiantava ele
falar nada, porque era uma atitude minha. Lembrei-me da
Inajara me dizendo que o Deus dela era mais poderoso que o
meu, e disse ao meu mestre:
- Nã o posso ir, Antonio. Preciso ficar aqui e resolver meu
assunto com Deus.
Ele entendeu e foi embora. No mesmo momento Nelsã o
entrou pela porta! Fomos à sala dos fundos, onde ficava o
escritó rio do Dile. Lá , naquele escritó rio, centenas de vidas já
haviam sido entregues ao Senhor Jesus. Nelsã o pediu para orar
por mim e disse:
- Querido Deus, bondoso Pai, Tu sabes que este dia estava
escrito muito antes da fundaçã o do mundo. Tu tens guardado a
vida do Carlã o até aqui e nã o deixou que nada acontecesse a ele.
Agora peço-Te, receba-o na Salvaçã o em Cristo Jesus e perdoa-
lhe todos os pecados. Escreva o nome dele no livro da vida e o
aceite na vida eterna, em Nome de Jesus Cristo, o Senhor. Amé m!
– Orou.
Depois desta oraçã o simples, poré m poderosa, ele me fez
repetir uma oraçã o renunciando todos os pactos, maldiçõ es,
encantamentos, rituais que eu havia feito. Todas as alianças
malignas foram quebradas e portas espirituais foram fechadas.
Todo o poder do diabo foi anulado e desfeito em minha vida e
convidei o Espıŕito Santo para morar dentro de mim, de onde
nunca mais saiu.
Hoje posso dizer també m:

O MEU DEUS É O
MAIS PODEROSO!
- 115 -
CAPITULO CINCO

Naquela noite...

N ã o consegui dormir aquela noite toda. Pesadelos


assolaram meu sono me fazendo acordar
assustado vá rias vezes. Eu sabia que estava sendo
atacado por demô nios que orbitavam meu campo espiritual e
que queriam, a qualquer custo, entrar em mim novamente. Eu
ainda nã o tinha o conhecimento bıb ́ lico ensinado em Mateus
12:43-45 onde diz que quando um espıŕito imundo sai de uma
pessoa, ele passa a habitar lugares á ridos, mas em determinado
momento volta, querendo entrar novamente na pessoa de onde
foi expulso. Se ele encontrar essa pessoa vazia, sem proteçã o,
alé m de ter o poder para voltar, leva consigo outros sete
demô nios piores. Durante a noite eu fechava meus olhos,
insistentemente, querendo dormir, mas imagens de pessoas
vinham até mim, como se voassem em minha direçã o a uma
velocidade absurda e parassem há alguns centım ́ etros do meu
rosto. Ficava ouvindo vozes e sons desconexos. Assistia
mentalmente a cenas de mortes, rituais, ouvia os gritos das
vıt́imas. Era horrıv́el, mas felizmente, tudo o que estava dentro
de mim, toda maldade, todos os atos pecaminosos, toda uma
vida longe do Senhor estava explodindo, sendo expelida do meu
corpo, que acabara de se tornar tempo do Espıŕito Santo. Agora
eu era uma nova criatura e precisava de libertaçã o.
Esses pesadelos duraram a noite toda e me fizeram ter
medo de dormir, pois sabia que a luta seria ferrenha. Dile havia
me dito que eu poderia repreender todas as hostes malignas em

- 116 -
Nome de Jesus. Ensinou-me a ler o Salmo 4:8 antes de deitar e
orar por um sono tranquilo, mas a luta era tã o grande que,
naquele primeiro dia parecia que nã o surtiu efeito.
Em um momento, já nã o suportando ficar acordado,
levantei da cama no meio da madrugada e fui até a portaria do
hotel, pegar uma garrafa de á gua. Meu amigo porteiro estava
dormindo em uma poltrona e preferi nã o acordá -lo, pois eram
trê s e meia da manhã . Fui até a porta do hotel, mas a rua estava
deserta. Apenas o guarda noturno que cuidava dos carros e das
lojas estava na esquina, conversando com um vendedor de
cachorros-quentes. Voltei para a recepçã o e sentei-me em uma
das vá rias poltronas. Uma tristeza muito grande se apossou de
mim e uma sensaçã o de solidã o tomou conta do meu coraçã o. Eu
havia abandonado tudo, toda minha vida, toda minha famıĺia,
tudo o que sabia. Estava sozinho, sem ningué m, em um mundo
completamente diferente daquele que havia vivido até ali.
Literalmente precisava aprender a andar novamente. A ausê ncia
do Stinvts estava me matando. Eu realmente sentia a sua falta e,
confesso, desejei que ele estivesse ali comigo naquela
madrugada, mas ele nã o veio.
Olhei para o balcã o do hotel e vi uma pequena Bıb ́ lia cinza,
daquelas com apenas o Novo Testamento, Salmos e Prové rbios,
dos Gideõ es Internacionais (bendito seja esse ministé rio).
Tomei-a nas mã os e pedi:
- Senhor, fale comigo nessa madrugada. Eu estou me
sentindo tã o sozinho. Nã o sei o que fazer... Só sei que tomei a
decisã o correta. – E abri aleatoriamente a pequena Bıb ́ lia.
O texto aberto foi Atos 9:15-16 onde diz: “Mas o Senhor lhe
disse: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para
levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os
filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer
pelo meu nome”.

- 117 -
NAQUELA NOITE...

Será que Deus estava falando que eu era um instrumento


escolhido?! Imediatamente pensei em tudo o que passei na
minha vida. As pessoas ao meu redor prostituıám-se, drogavam-
se, bebiam e fumavam, mas eu nunca participei de nenhuma
dessas coisas. Nã o havia provado um copo de cerveja sequer. Por
quê ? Se era tã o normal e aceitá vel onde eu vivia!
Li novamente o texto e meus olhos pararam em “sofrer
pelo meu nome”. Meu corpo gelou de alto a baixo. Nã o seria fá cil,
realmente. Continuei lendo e encontrei a parte em que Ananias
chama Saulo de irmã o. Era o que estava acontecendo comigo! Eu
tinha a missã o de destruir os cristã os, mesmo que
indiretamente. Imediatamente apó s eu ter aceitado a Jesus
como Salvador da minha vida, o Dile me abraçou e disse “agora
posso te chamar de irmã o”. Fechei meus olhos e abri novamente
a Bıb́ lia aleatoriamente. Eu precisava de uma confirmaçã o de
que era Deus quem falava comigo. Abri em Mateus 5:11-12:
“Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem,
e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.
Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus;
pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”.
Perseguiçã o, sofrer pelo nome do Senhor. Gelei novamente. Uma
confirmaçã o estava acontecendo ali. Os profetas antes de mim
que foram perseguidos! E o texto anterior falava de Saulo, que
era matador dos cristã os. Ele foi perseguido depois que se
converteu. Nunca imaginei que isso estaria acontecendo comigo
e essa confirmaçã o na Bıb ́ lia era algo realmente surpreendente
para mim, que estava tã o novo na fé . Sentei-me no banco e fiquei
pensando como seria minha vida a partir dali. Eu teria que ser
uma pessoa comum, como todos os outros. Precisaria trabalhar
da forma certa para manter meu sustento. Lembrei-me da
Janete, uma garota que eu estava namorando, apenas por
conveniê ncia, porque ela era uma garota bonita.

- 118 -
- Você nã o a ama. – Ouvi algué m falar.
Levantei, assustado.
- Quem disse isso? – Perguntei, olhando para todos os
lados.
Nã o houve resposta e o silê ncio da madrugada imperou
soberano novamente. Olhei para meu amigo que ainda dormia
na poltrona da recepçã o do hotel. Nã o podia ser ele. Nã o tinha
mais ningué m ali, alé m de mim. Sentei-me novamente e decidi
falar com a Janete no dia seguinte, para acabar o namoro. Agora
eu era uma nova criatura. Via coisas que nã o via antes. Podia
discernir e entender o que era errado. Precisava reparar,
consertar muitas á reas da minha vida e precisava começar o
quanto antes. Eu sabia que tinha recebido perdã o dos meus
pecados naquela tarde, mas precisava corrigir a iniquidade que
havia dentro de mim. O perdã o veio pela Graça Salvadora de
Jesus. Mas a mudança partiria de mim. Eu precisava mudar e
sabia que nã o seria nada fá cil. Precisava dominar meus ım ́ petos,
meu temperamento, mudar há bitos e costumes.
Lembrei-me Daquela Voz que ouvi no hospital, quando era
criança e havia decidido morrer. Sataná s mentiu dizendo ser ele
quem falava comigo naquela ocasiã o mas quando ele mesmo
quis me matar dentro do Bar do Joel eu ouvi novamente Aquela
Voz dizendo ser Jesus! Eu acabara de ler tudo aquilo na Bıb ́ lia e
sentia a Sua Presença, ali naquele banco de hotel, no meio da
madrugada. Eu nã o sabia se estava preparado para lutar.
Enfrentar a Tradiçã o sozinho nã o seria fá cil. Provavelmente eles
conseguiriam me matar em alguns dias e seria da forma mais
terrıv́el. Eu mesmo já tinha presenciado o que eles faziam com os
desertores. As retaliaçõ es a quem traıá a Ordem eram as piores
possıv́eis. O medo tomou conta de mim e me senti angustiado
novamente. Talvez eu quisesse lutar, mas tinha medo naquele
momento de aceitar o chamado. Fiquei debruçado sobre meus

- 119 -
NAQUELA NOITE...

joelhos, chorando em silê ncio.


- Nã o tenha medo! – Ouvi novamente.
Nã o levantei meu rosto, porque senti algué m sentar ao
meu lado. Senti que a pessoa colocou sua mã o nas minhas costas
e fez um carinho.
- As vezes nã o sei o que fazer da minha vida. – Solucei.
- Eu compreendo. Já passei por isso uma vez. Mas saiba de
uma coisa, nã o vou deixá -lo só . – Respondeu.
Achei tã o estranho aquela resposta que levantei o rosto
para ver quem era e nã o tinha absolutamente ningué m. Foi
muito estranho! Nã o sei se peguei no sono e sonhei ou se
realmente algué m veio ali e falou comigo. Uma coisa tenho
certeza: era Jesus o tempo todo.
Meu amigo acordou e me viu ali, desligado do mundo.
- Tudo bem com você ? – Perguntou.
- Sei lá meu. Tem tanta coisa acontecendo comigo nesse
instante. – Respondi e lhe contei tudo o que estava acontecendo.
- Você vai largar a bruxaria? Vai deixar de ser mestre? –
Perguntou estarrecido. – Cara, foi tudo o que você lutou na vida e
vai abandonar agora?
“E... foi tudo o que eu lutei a minha vida toda”, pensei.
- Vou sim. – Respondi, levantando-me e indo para o quarto.
– Vou largar tudo.

Abri meus olhos e o quarto estava todo iluminado. Minha


cabeça doıá. Olhei para o reló gio e tomei um susto.
- Meio dia! – Gritei.
Levantei correndo e fui até a livraria do Dile, do outro lado
da rua, para conversar sobre o acontecido. Eu tinha muitas
dú vidas para esclarecer e só lá , na livraria dele e em sua casa, eu
me sentia seguro. Lá era o ponto de encontro das pessoas da
igreja e sempre estava cheia de pessoas, tomando o delicioso chá

- 120 -
da Dona Iolanda e conversando sobre tudo, desde futebol até
assuntos da Bıb ́ lia. Quando cheguei, tinham alguns irmã os e
també m o Nelson, que havia orado comigo no dia anterior. Senti-
me protegido ao vê -lo ali. Todos me chamaram de irmã o e me
abraçaram e, embora eu ficasse um pouco desconfortá vel com
aquela demonstraçã o de carinho, no fundo eu gostava.
Nelson me chamou em um canto e conversou sobre
maldiçõ es que poderiam estar na minha vida. Explicou-me a
necessidade de irmos a meu apartamento fazer um “pente fino”
e tirar todos os objetos ligados à magia, para que nã o gerassem
pontos de apoio na minha vida espiritual, atrapalhando assim a
minha conversã o. Concordei prontamente e montamos uma
equipe com alguns irmã os, liderados pelo Nelson e Dile, para
fazer isso.
Os rapazes que foram junto acreditavam que encontrariam
lá alguns CDs de bandas seculares, revistas pornográ ficas ou
outras coisas tıṕ icas de um jovem distante de Deus. Quando
entraram e viram os tratados de magia negra, muitos deles
compilados com sangue, livros e mais livros de rituais satâ nicos,
tratados de alta magia, objetos da Tradiçã o que eram
necessá rios como o colar e o anel da Tradiçã o, que conferiam
poder e proteçã o a mim, elementos ritualıśticos e o Athame, o
punhal que tanto havia lutado para ter, que simbolizava minha
formatura no sé timo grau, como mestre da Tradiçã o.
Tudo estava ali no chã o, bem no centro do meu quarto.
Todos estavam impressionados com o volume de coisas
encontradas e que deveriam ser destruıd ́ as. Eu olhava para o
Athame com profunda tristeza, por ter lutado tanto para
conseguir e agora estava desistindo de tudo. Quando percebi
que algumas lá grimas estavam se formando em meus olhos,
limpei e mudei minha postura. Eu estava decidido! Estava saindo
da Tradiçã o e mudando minha vida. Estava cansado de ser

- 121 -
NAQUELA NOITE...

enganado por Sataná s, por todos aqueles anos.


Nelson começou a orar e um frio intenso tomou conta do
quarto. Mesmo com as portas e janelas fechadas, um vento
soprou sobre nó s e os irmã os passaram a orar mais fortemente.
Senti tontura e precisei me segurar em algué m para nã o cair.
Senti uma grande força vindo contra mim, saindo daquela pilha
de materiais que estavam no chã o. Abri entã o meus olhos e pude
ver demô nios rodeando o quarto, como se estivessem fazendo
um cinturã o de isolamento ao nosso redor. També m pude ver
demô nios que voam acima desses e vinham contra nó s, para
atacar os irmã os da equipe que ali estava, mas nã o podiam tocar
neles. Ao ver isso clamei:
- Senhor, eu nã o quero mais fazer parte dessa Tradiçã o.
Quero render-me aos Seus Pé s!
Algo aconteceu! Os demô nios começaram a ser sugados
para fora dali, com uma violê ncia impressionante. Por mais que
lutassem contra isso, eram expulsos, primeiro os que atacavam e
em seguida, os que faziam a barreira ao nosso redor. O vento
cessou e houve paz naquele lugar. Todos estavam suados,
cansados, mas felizes. Alguns sentiram medo, mas
compreenderam que haviam passado por uma experiê ncia
ú nica. Pude perceber que o ambiente havia sido liberto de uma
opressã o maligna que ali existia.
Voltando à livraria, falei com o Dile que precisava de uma
igreja. Eu nã o tinha para onde ir e ele me convidou para ir em
uma programaçã o na sua igreja, Evangé lica Livre, onde um ex-
maçom falaria do seu testemunho de conversã o. Foi o primeiro
culto de que participei nessa igreja, onde passei a congregar. Lá
finalmente eu conseguia entender tudo. Nã o havia mais escamas
nos meus olhos, que impediram tantos anos de ver a verdade.
Decidi naquela noite que queria ser crente em Jesus, servir a
Deus e lutar, nã o importando o quanto fosse difıćil. Eu iria lutar.

- 122 -
Numa tarde, alguns dias apó s minha conversã o, pedi uma
Bı́blia do Dile, pois queria pela primeira vez lê -la. Ele me
presenteou com uma Bıb ́ lia preta, com zıṕ er. Comecei a ler o
evangelho de Mateus e achei impressionante. Li todo ele de uma
vez e passei para Marcos, Lucas e Joã o. Nã o conseguia parar.
Como uma pessoa seca, em um deserto, a Palavra de Deus era
á gua refrigerando-me. Quando percebi já era de noite. Estava tã o
bom ler a Bıb ́ lia que eu nã o queria parar, mas minha barriga doıá
de fome. Fui comer alguma coisa e voltei rá pido ao quarto para
ler de novo o evangelho de Joã o. Jesus revelou sua graça e me fez
ver, somando as narrativas dos quatro evangelhos, a Sua morte,
ressurreiçã o e ascensã o. Parti para Atos dos Apó stolos e fiquei
maravilhado com a açã o do poder de Deus no inıćio da igreja. Era
isso que Sataná s me escondia todos esses anos! Pensei: “Quero
ser como eles, Deus. Quero ter o Teu Poder em minha vida”.
Seguia lendo o livro de Atos e me colocando no lugar dos
discıṕ ulos, que operavam sinais e prodıǵios, no Nome de Jesus.
Finalizei o dia exausto, adormecido sobre o livro de 2 Corın ́ tios.

Nessa minha caminhada em busca de conhecimento


bıb́ lico e teoló gico, li a Bıb
́ lia toda na primeira vez em trê s meses.
Li també m alguns livros cristã os e estudos bıb ́ licos sistemá ticos.
Comecei a me preparar para a batalha. Nã o há arma de guerra
mais importante que o CONHECIMENTO da PALAVRA DE DEUS.
Resolvi fazer, entã o, uma consagraçã o, de alguns dias, para que o
Senhor falasse comigo, como tinha falado antes. Entrei no quarto
e iniciei um jejum de trê s dias. No primeiro dia, a dor de cabeça
tirou um pouco a minha concentraçã o mas segui lendo a Bıb ́ lia,
orando e louvando a Deus. Colocava umas fitas K7 em um
aparelho que tinha e permanecia ali deitado, adorando a Deus.
No segundo dia a dor nã o era tã o intensa e eu podia sentir mais a
presença de Deus. No terceiro dia tive uma visã o: um clarã o

- 123 -
NAQUELA NOITE...

invadiu o quarto com uma luz muito forte e intensa, que mudava
de cor. Da luz ouvi uma voz que dizia “Meu filho, nã o temas
porque eu estou contigo. Fique na minha presença e nã o te
desvies dela, nem para a direita, nem para a esquerda, e estarei
contigo todos os dias da tua vida e farei de ti um vencedor”. Eu
nã o conseguia falar, porque estava maravilhado com aquela
visã o espiritual e com a voz de Deus falando comigo. Aquela voz
continuou: “Quero que pregues a Minha Palavra, que instrua as
pessoas no caminho em que devem andar e desmascares as
trevas, que tantos anos te aprisionaram. Confirmarei esta
palavra a você , ainda outras vezes, para que saibas que sou o
Senhor, teu Deus”.
Apó s esta visã o nã o aguentei e caı,́ desacordado. Fiquei
assim o restante do dia até que ouvi algué m batendo na porta do
quarto. Era a camareira do hotel, querendo limpar, afinal já
estava ali trancado há uns dias. Saı́ muito fraco, com tontura, pois
jamais havia feito um jejum na vida e meu organismo nã o estava
acostumado. Procurei um restaurante e pedi uma vitamina de
frutas com leite. Enquanto esperava, um homem se aproximou
de mim e me cumprimentou. Eu retribui o cumprimento e fiquei
ali, alheio a ele. Poré m ele permaneceu ao meu lado e perguntou:
- Entã o, meu irmã o. Quer dizer que está buscando o
caminho das sombras?
- Quem é você ? – Perguntei assustado.
- Ningué m. – Respondeu. – Apenas um irmã o.
- Quem você pensa que é ? Quer morrer, seu safado? – Falei
rispidamente, pensando que ainda tinha algum poder espiritual.
Ele apenas riu e disse:
- Te vejo no inferno, traidor. – E saiu.
Eu ainda tinha dificuldade em definir uma personalidade.
Por mais que tinha passado trê s dias em jejum, ainda minhas
reaçõ es eram extremamente carnais. Isso levou muito tempo

- 124 -
para ser transformado.
Fiquei ali até que minha vitamina chegasse e logo depois
fui até a livraria do Dile, que tinha se tornado meu quartel
general. Lá aprendia tudo para meu crescimento espiritual, me
nutria da comunhã o com os irmã os e era cercado pelo amor
deles. Claro que ainda tinha conflitos internos, que me
impediam de entender muitas coisas sobre o Reino de Deus.
Tudo isso porque ainda nã o tinha uma consciê ncia espiritual
formada. Com os estudos que estava fazendo fui aos poucos me
fortalecendo e iniciando meu preparo para as batalhas que
viriam no futuro.

Minha mã e estava doente. O câ ncer era maligno e estava


tomando conta de todo o seu corpo. Sataná s estava cumprindo a
promessa em matar algué m que eu amava. O câ ncer já havia
aparecido sob a pele e tinha sido tirado atravé s de uma cirurgia
com mais de cinquenta pontos de sutura. Eu precisava ir até
Uniã o da Vitó ria para visitá -la, mas meu coraçã o temia voltar
para lá . Aquela cidade onde tudo começou, onde conheci o Luiz,
onde foi feito minha iniciaçã o no satanismo e tantos rituais,
pactos e maldiçõ es... Nã o sabia o que encontraria lá , mas
precisava ver minha mã e. Estava confiante em tudo o que o
Senhor já me dissera, que eu seria um vencedor. O que temeria
entã o? Embarquei em um ô nibus e fui até lá .
Quando cheguei, minha mã e já estava melhor e se
recuperando da cirurgia, poré m via-se o sofrimento em seus
olhos. Levei uma Bıb ́ lia de presente para ela e a notıćia: eu agora
era crente! A famıĺia aparentemente reagiu bem à minha nova
vida. Eu sabia que por trá s disso existiam demô nios
descontentes que manipulariam eles, mas era um preço a ser
pago pela minha conversã o.
A nossa casa onde minha mã e morava era ao lado da casa

- 125 -
NAQUELA NOITE...

da minha avó . Em uma noite em que está vamos na casa da minha


avó , notei que minha mã e havia sumido. Fui até nossa casa, no
terreno ao lado, mas nã o a encontrei. Quando olhei para o fundo
do enorme quintal que tın ́ hamos, pude notar um brilho estranho
no chã o, como de uma chama. Forcei minha visã o para adaptar
ao escuro e vi que era uma vela, com um vulto atrá s. Andei
lentamente no escuro, em direçã o à quela luz, quando percebi
que era minha mã e, ajoelhada no chã o, possessa por um
demô nio, fazendo gestos no ar e invocando outras hostes.
- Mã e, o que é isso? – Perguntei.
- Estou cumprindo com minha obrigaçã o, com meus guias.
– Disse ela, com uma voz rouca e estranha.
- A senhora sabe que isso é algo maligno mã e. – Expliquei. –
Nã o faça mais isso.
- Você nã o sabe o que estou fazendo? – Perguntou. – Estou
com meu deus e por isso preciso cumprir com minhas
obrigaçõ es.
Nã o suportei ver aquela cena e, por minha pouca
experiê ncia, chutei a vela que estava mantendo o portal aberto
para o demô nio mensageiro dela e, abaixando-me, abracei-a
com carinho e comecei a chorar. Ela chorou també m. Percebi
como a mente da minha mã e estava confusa e como ela estava
desesperada com aquela doença. Ela sabia que em breve estaria
morta e queria, a todo custo, buscar um conforto espiritual.
Infelizmente, estava procurando no que conhecia, mas que era
completamente errado. Em silê ncio, ficamos sentados ali no
chã o, abraçados, chorando, debaixo de um manto de estrelas no
cé u, naquela noite de verã o.
Em alguns dias, ela melhorou e pude voltar para casa, onde
precisava trabalhar, estudar e frequentar a igreja, poré m em
algumas semanas minha mã e piorou e precisei voltar
rapidamente, pois tinha sido internada e os mé dicos diziam que

- 126 -
nã o sairia mais do hospital com vida, pois o câ ncer já estava
generalizado. Todos estavam preparados para sua morte,
inclusive ela que já havia feito o seu pró prio seguro funerá rio,
para bancar suas pró prias despesas com o funeral. Dividimo-nos
em grupos para permanecer com ela no hospital o tempo todo.
Meu horá rio era das 10:00h à s 14:00h. Comecei entã o a batalha.
Aquela era a minha chance de fazer algo pela minha mã e,
por isso, buscava ao Senhor todos os dias em oraçã o. Lia a
Pa l av ra d e D e u s c o n s t a n t e m e n t e , p e d i n d o a D e u s
fortalecimento espiritual e revestimento de Poder. Todas as
vezes que eu ia ler a Bıb ́ lia ou ministrar a Palavra de Deus para
ela, Sataná s enviava seus servos no hospital, vestidos de
enfermeiros para me atrapalhar. Muitas vezes pude ver
demô nios no quarto, nos vigiando. Cada dia que passava eu
sentia que o tempo era mais curto, até a noite do dia primeiro de
março, quando Deus falou novamente comigo.
Eu estava no meu quarto orando, já fazia umas trê s horas
que eu estava ali, adorando ao Senhor, quando Deus me disse:
- Amanhã , a estas horas, você estará pranteando a morte da
sua mã e.
Fiquei chocado. Sabia que minha mã e estava para morrer,
mas eu nã o estava preparado para isso. Acordei cedo e fui à casa
do meu tio, irmã o mais novo da minha mã e, e escrevi no
calendá rio que estava pendurado na parede da casa: “02 de
março de 1997, o dia em que a minha mã e morreu”. Minha tia ao
ler aquilo brigou comigo dizendo:
- Credo, Carlo! Nã o venha com essas tuas coisas de
adivinhar o futuro!
Ela se esquecera de que agora eu nã o era mais o mesmo.
Nã o tinha mais um dom de adivinhaçã o, mas sim a revelaçã o que
o Espıŕito de Deus dá aos seus filhos.
Chegando minha hora de cuidar da minha mã e no hospital,

- 127 -
NAQUELA NOITE...

pedi ao Senhor que desse um pouco de lucidez a ela, para que


pudesse ouvir o que eu tinha a lhe dizer. O câ ncer já havia
tomado seu cé rebro, por isso estava em coma. Peguei minha
Bıb́ lia, orei ao Senhor pedindo que lacrasse aquele quarto, para
que ningué m entrasse ali. Em alguns minutos minha mã e abriu
os olhos e me reconheceu, fato que já nã o acontecia mais.
Controlei minhas emoçõ es, para nã o chorar, e disse:
- Mã e, hoje você vai partir. Sei que é ruim ouvir isso, mas
nã o tenho muito tempo. Preciso que a senhora renuncie tudo o
que fez na sua vida. Seus pactos, maldiçõ es, participaçõ es em
rituais. Todo o poder de Sataná s e toda a legalidade que ele tem
na sua vida. Quero que a senhora peça a Deus para salvar seu
espıŕito, em Nome de Jesus, e convide o Espıŕito Santo para
habitar dentro da senhora. – Metralhei sem parar.
Ela olhou para mim com ternura com seus olhos mareados,
e me disse:
- Eu quero meu filho. Hoje eu entendo que se nã o fosse o
Senhor, eu nã o aguentaria até aqui.
Glorifiquei ao Senhor! Chorando, abracei-a. Durante o
tempo que fiquei fora, ela passou a ler a Bıb ́ lia que eu havia dado.
Nas noites e madrugadas que ela nã o conseguia dormir, por
causa das terrıv́eis dores de cabeça, ela assistia aos programas
do Missioná rio R. R. Soares na TV e anotava na Bıb ́ lia o que era
pregado por ele.
- Me perdoe, filho, por tudo o que eu fiz de mal a você . Eu
nã o fui uma boa mã e. – Chorou ela, abraçada a mim.
- Esquece isso, mã e. – Respondi. – Só preciso que a senhora
repita uma oraçã o comigo, tudo bem?
Ela concordou com um aceno e foi repetindo todas as
palavras da oraçã o de renú ncia e aceitaçã o do senhorio de Jesus
Cristo sobre sua vida, convidando ao Senhor Jesus para habitar
seu coraçã o. Houve derrota no inferno e jú bilo nos cé us naquela

- 128 -
manhã quente de março.
Voltei para a casa da minha avó feliz, alegre. Aproveitei o
resto do dia para descansar, pois sabia que a noite inteira ficaria
acordado. Pedi a minha avó que chamasse meu irmã o mais novo,
que morava com o outro tio, irmã o mais velho da minha mã e. A
noite, tocando alguns acordes no violã o, comecei a compor
alguma coisa pensando nela, quando minha vó chegou com a
notıćia:
- Ligaram do hospital e sua mã e entrou em colapso.
Ela estava morrendo. Corremos todos para lá e ao chegar
ao hospital fui o primeiro a entrar no quarto. Ela estava com mais
de quarenta e dois graus de febre. Seus olhos já estavam
amarelos, saltados para fora das ó rbitas. Abracei-a e comecei a
chorar. Tentaram me tirar de cima dela em vã o, porque eu nã o
sairia dali. Encostei meu ouvido esquerdo sobre seu peito e
ainda pude ouvir o seu coraçã o batendo lentamente. Com o
ouvido direito ouvia o monitor do equipamento hospitalar.
- Pode ir, mã e. – Disse baixinho. – A senhora está segura.
Deus está aqui para recebê -la.
Lentamente, o seu coraçã o foi parando e se ouviu um som
lâ nguido e contın
́ uo no equipamento que a estava monitorando.
O mé dico veio, analisou suas pupilas, auscultou seu coraçã o e
atestou sua morte, desligando os equipamentos. Ela estava
clinicamente morta, mas espiritualmente havia encontrado a
vida eterna em Jesus Cristo.

- 129 -
CAPITULO SEIS

O Caminho

O inıćio da minha caminhada nã o foi fá cil. Fui vigiado


e perseguido por satanistas o tempo todo. Mantive-
me fiel e confiante no Senhor e isso foi fundamental
para minha segurança. Nunca me escondi, troquei o nome ou
qualquer outro artifıćio. Sempre estive na posiçã o de servo e
ciente que, se Deus nã o me guardasse, em vã o eu me esconderia.
Eu tinha um temperamento muito forte e estava começando a
caminhar com Deus, por isso nã o foi fá cil mudar tã o rá pido, mas
com esforço e dedicaçã o as coisas foram acontecendo.
Algumas vezes, enquanto estava comendo em um
restaurante ou comprando alguma coisa em uma loja, entravam
satanistas enviados pela Tradiçã o para me amedrontar.
Perguntavam com tom ameaçador quando eu iria acordar e
voltar para a luz. Coitados, nem ao menos sabiam que eu estava
na luz e eles, enganados, nas trevas.
Logo nos primeiros meses de conversã o, surgiu a
oportunidade de estudar teologia em um seminá rio. Seria ó timo
para me fortalecer e aprender mais sobre tudo o que era novo
para mim. També m abriria meus olhos para o Reino de Deus.
També m passei a frequentar todos os retiros da Igreja
Evangé lica Livre, onde estava congregando. Certa vez, quando
estava auxiliando meu pastor Nelson, o mesmo usado por Deus
em meu processo de libertaçã o, em um retiro de adolescentes,
Sataná s enviou trê s assassinos profissionais para me executar.
Primeiro foram atrá s de mim na cidade, mas nã o encontraram.

- 130 -
Identificaram-se como policiais federais, mostrando uma
documentaçã o falsa. Entã o sem querer um amigo meu disse que
eu estava em outra cidade, na casa de retiros da igreja. Eles
saıŕam rapidamente em direçã o ao local onde eu estava.
Dile, sabendo disso, ligou imediatamente para a casa de
retiro e me avisou, pedindo que eu saıśse e me escondesse em
algum lugar. Decidi nã o fugir. Se fugisse, eles me perseguiriam
sempre. Eu nã o poderia viver me escondendo como um
derrotado. Resolvi ficar e enfrentar. Mal eu sabia que em
algumas horas passaria pela primeira das grandes provaçõ es
que tive, ao aceitar a Jesus como Salvador da minha vida. Quando
eles chegaram, eu estava no altar do salã o de cultos, na casa de
retiros. Perguntaram sobre o “Carlã o”, forma como me
chamavam quando era jovem. Eu me apresentei e perguntei o
que eles queriam. O lıd ́ er deles disse que precisava conversar
comigo em particular, e eu aceitei. Descemos até um gramado,
pró ximo ao campo de futebol, onde estava escuro e paramos
pró ximo a algumas araucá rias quando, de repente, senti um
empurrã o nas costas e ouvi:
- Vire-se para mim. – Disse o assassino, apontando uma
arma.
Eu fiquei de frente com ele, em espıŕito de oraçã o, pedindo
a Graça de Deus sobre a minha vida e sobre as pessoas que
estavam naquele lugar. Notei que o homem nã o falava nada,
apenas apontava a arma em direçã o a minha cabeça, entã o o
Senhor dotou-me de coragem e ousadia e perguntei:
- Você nã o veio aqui para me matar? Entã o faça logo o
serviço. – Desafiei.
- Você duvida, seu merdinha! – Gritou ele.
- Duvido sim! Deus nã o me trouxe aqui para morrer. –
Respondi com coragem.
Ele deu um passo em minha direçã o e colocou o revó lver

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O CAMINHO

no meu rosto, com o cano encostado na minha boca e disse:


- E o que o seu Deus acha disso aqui?
Por uma fraçã o de segundo olhei para o revó lver e vi que
estava engatilhado. Senti o cheiro de pó lvora e raciocinei que ele
recentemente havia atirado com ele. Senti també m o cheiro de
ó leo lubrificante e percebi que a arma estava limpa e preparada
para ser usada novamente. Ele realmente nã o estava blefando!
Viera até ali para me matar. Enchi-me de coragem e disse:
- Eu te repreendo demô nio, em Nome de Jesus! – Pela
primeira vez havia dito aquilo. – Minha vida está debaixo do
Sangue de Jesus e você nã o vai tirá -la. – Completei.
Fechei meus olhos e comecei a cantar um hino, sem saber o
que estava cantando, apenas esperando o momento do tiro. Algo
aconteceu naquele lugar, pois parei de ouvir minha pró pria voz.
Uma sensaçã o de leveza tomou conta de mim e uma paz
tremenda invadiu meu ser. Quando abri meus olhos, aquele
homem nã o estava mais na minha frente e nem os seus
comparsas parados junto à casa de retiros. Todos haviam ido
embora. Pude glorificar o Nome do Senhor porque, na primeira
vez que repreendi um demô nio usando o poder do Nome de
Jesus, foi para salvar a minha pró pria vida.

Mais ou menos um mê s depois desse acontecimento, fui


tomar um café no centro da cidade com um novo amigo da igreja.
Eu começava a me entrosar com o pessoal e isso estava sendo
muito bom para mim. Novas e abençoadas amizades cristã s.
Quando entramos na lanchonete, deparei-me com um rapaz que
eu havia iniciado na Tradiçã o, há alguns anos. Ao ver-me, veio até
mim e me abraçou alegremente, nos convidando para sentar em
sua mesa, o que aceitamos prontamente. Gaú cho, como o
chamá vamos, já estava em um dos nı́veis sapienciais da

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O CAMINHO

Tradiçã o, onde já conseguia ordenar sua pró pria proteçã o


espiritual, atravé s do seu mensageiro.
- Nossa Carlã o, sinto tanta falta dos velhos tempos, cara! –
Começou ele entusiasmado por me ver.
- Entã o meu, preciso te contar uma coisa: saı́ da Tradiçã o. –
Falei logo de cara.
- Como assim? – Perguntou assustado.
- “Ixi”. – Exclamei. – Descobri tanta coisa, tantas mentiras,
que minha permanê ncia ficou insustentá vel. Você acredita que
tudo o que nos ensinam sobre Jesus é mentira? Deus e Jesus sã o a
mesma pessoa e qualquer um que O sirva é mais poderoso que a
Tradiçã o toda junta. – Declarei.
Ele sorriu e disse:
- Nã o tem como sair. Ningué m sai. Algué m mesmo disse-
me que você estava doente, mas olha, quem vendeu a alma ao
diabo nunca mais a tem de volta. – Falou com um ar sombrio em
sua voz.
- Tem sim, amigo. Jesus Cristo morreu por nó s, justamente
para que ningué m mais precisasse morrer. Ele nos deu essa
liberdade. Chega de sangue. Jesus já derramou o Seu Sangue
para nos salvar. – Evangelizei.
- Carlã o, - sorriu. – Eu també m sou um homem de deus. –
Disse ele.
- Qual deus? – Perguntou meu amigo, sem se conter.
Gaú cho olhou furioso para ele e ficou em silê ncio. Olhou
para uma cadeira vazia ao seu lado e murmurou baixinho
algumas palavras. Em segundos entrou um homem alto e muito
forte, visivelmente endemoninhado e sentou-se ao lado dele.
Havia um cheiro terrıv́el nele e ficava nos olhando e rosnando, o
tempo todo. Era um demô nio que o Gaú cho tinha chamado para
protegê -lo.
- Nã o seja bobo, Carlã o. – Continuou falando. – Quem

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esteve nas mã os de papai um dia, nunca mais sai dos seus dedos.
– Disse isso enquanto levantava-se junto com seu demô nio.
- Gaú cho. – Gritei enquanto ele já estava saindo pela porta.
Ele olhou e completei. – Eu saı,́ graças a Jesus Cristo.
Ele levantou os ombros, em sinal de desprezo, e foi
embora.

Passado dois anos da minha conversã o, os ataques


diminuıŕam um pouco e eu comecei a me preocupar em ter uma
famıĺia. Já tinha conhecido boas garotas cristã s, mas nenhuma
delas era especial. Orei ao Senhor e pedi que revelasse uma
esposa. Lembrei-me de uma profecia entregue pelo Edison,
ainda quando me evangelizava, em que me disse que no dia em
que eu entregasse a minha vida ao Senhor, Ele me daria um
presente, que seria minha esposa, e ela seria bonita, crente e
virgem. Eu acreditava nisso e esperava em Deus. Tın ́ hamos
montado uma banda evangé lica, de rock gospel, chamada
Conhecimento Sagrado e está vamos em processo de gravaçã o do
nosso CD. Dentro do meio evangé lico ficamos bem conhecidos
na regiã o e, por isso, ıámos a todos os eventos das igrejas.
Um dia, fomos chamados para ir a um culto especial na
Igreja Evangé lica Livre do bairro Faculdade, onde teria uma
banda de Foz do Iguaçu tocando. Chegando lá , a igreja estava
muito cheia e decidi ficar em pé , junto a porta, para assistir ao
culto. De repente, ouvi a Voz do Senhor falando comigo, dizendo:
“esta que está ao seu lado, dou-a como esposa a você ”. Assustei-
me em ouvir o Senhor ali, naquele momento, mas olhei para o
lado, e vi a menina mais fantá stica e espetacular que jamais
meus olhos haviam visto. Ela tinha um sorriso lindo e olhos
castanhos vivos e cativantes. Sua face era corada e ela era muito
bonita. Ela sorriu para mim e eu, meio sem jeito, arrisquei um

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“oi”. Fiquei envergonhado e sem jeito de falar com ela, mas
torcendo para vê -la no final do culto. Quando a programaçã o
terminou ela veio me procurar para conversar. Conversamos
muito, sobre tudo. Meus amigos que vieram comigo foram
embora e eu fiquei ali, com ela. Nã o queria ir para nenhum lugar,
que nã o fosse dentro do seu coraçã o. Algo estava acontecendo
comigo que nunca antes havia acontecido: o amor.
Eu tentava parar de olhar para ela, mas nã o conseguia.
Ficou tarde e marcamos para nos ver no dia seguinte, e no outro
e nas semanas seguintes. Começamos a orar um pelo outro e isso
só confirmou o amor que sentı́amos. Falamos com nossos
pastores e com os pais dela e, depois de mais um perıo ́ do de
oraçã o, começamos a namorar. Foi aı́ que demos o primeiro
beijo. Passados dois anos de namoro e noivado, casei-me com a
mulher da minha vida, Francine, no dia 24 de março de 2001.
Hoje, mais de uma dé cada depois, somos uma famıĺia linda
e unida, que se ama e juntos pastoreamos uma igreja, no estado
do Paraná . Desse amor nasceu nosso filho Matheus, que é o selo
da promessa do Senhor sobre nosso casamento.

Depois de tudo o que vivi, de toda a dificuldade que passei


no perıó do em que estava sendo evangelizado. Depois da dor de
perder tudo e começar do zero, servindo a Cristo. Ainda mesmo
depois de haver passado dificuldades incontá veis no inıćio da
minha fé , hoje posso dizer, confiadamente, que até aqui tem me
ajudado e sustentado, o Senhor.
Amo o meu Deus mais que a minha pró pria vida. Minha
famıĺia e eu vivemos para louvor de Sua Gló ria, e a cada manhã ,
quando fazemos nossa oraçã o juntos, lembramos das Suas
Misericó rdias sobre nó s e da Salvaçã o que pela graça recebemos.
Gló ria ao Pai, ao Filho Jesus e ao Espıŕito Santo. Amé m.

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Depoimento

L ouvo a Deus pela vida do meu esposo, esse homem


de Deus que venceu o inferno e todos os demô nios
para servir ao Senhor Jesus. Cada dia ao seu lado,
para mim, é um aprendizado, pois alé m de marido é meu pastor,
em quem confio e me sinto protegida.
Lembro-me que certa vez o Carlo, que na é poca era meu
namorado, perguntou se eu estaria realmente preparada para
viver ao seu lado e para tudo o que poderia acontecer. Eu, uma
jovem apaixonada, nã o tinha noçã o do que estava por vir. Em um
domingo a tarde eu estava sentada pró ximo ao portã o da minha
casa, quando senti um bafo quente em meu pescoço e uma voz
dizendo: «Ele é meu. Você nã o vai tirá -lo de mim, porque ele é
meu!». Quando virei-me para ver quem era, notei que estava
sozinha e que havia presenciado a fú ria do diabo contra meu
namorado. Corri e liguei para ele que, com uma risadinha, me
disse: «Nã o te perguntei se estava preparada?».
Daquele momento em diante, percebi que enfrentaria
forças que nunca imaginava enfrentar e, de uma menina
inexperiente em batalha espiritual, tornei-me uma forte
intercessora e esposa de um dos mais requisitados ministros de
libertaçã o do nosso paıś.
Agradeço muito a Deus pela linda famıĺia que temos hoje,
por nossa casa ser um altar para o Senhor, onde habita o Espıŕito
Santo.
Francine Gava M. Ribas

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Quem é o autor?

C arlo Ribas é paranaense, casado com Francine e pai


de Thalles e Matheus. Teó logo, escritor e
conferencista, viaja o mundo pregando a Palavra de
Deus e ministrando ensino e treinamento nas á reas da batalha
espiritual.
E fundador do CETIBE - Centro de Treinamento
Internacional para Batalha Espiritual, uma escola que forma
libertadores, com extensõ es em vá rios lugares do Brasil e
exterior.
Pastor presidente da Igreja Unçã o e Poder, a qual fundou
em 2004 na cidade de Barracã o, Paraná . Reside na cidade de
Chapecó /SC, onde realiza um grupo de ensino bıb ́ lico semanal,
chamado Projeto Chapecó , que é transmitido ao vivo em seu
canal do YouTube.
Site Oficial: www.carloribas.com.br
Canal do YouTube: www.youtube.com/carloribas
Site do Cetibe: www.cetibe.com.br
Facebook: www.facebook.com/carloribas
Instagram e Twitter: @carloribas

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