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Estudo de

Caso

Introdução à Higiene
Ocupacional
Professor Esp. Edinei Ap. Furquim dos Santos
Unicesumar
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estudo de
caso

AVALIAÇÃO OCUPACIONAL DE SOBRECARGA


TÉRMICA - FRIO

Em um frigorífico, na região sul do país, são produzidos inúmeros produtos de origem animal.
As matérias-primas são recebidas e seguem um fluxo:

1. Receber os animais ainda vivos.

2. Proceder a insensibilização.

3. Proceder a sangria.

4. Etapa de escaldagem.

5. Etapa de depenagem.

6. Etapa de evisceração.

Posterior a evisceração, as aves passam para o pré-resfriamento e resfriamento seguindo


dois caminhos:

1. Frangos inteiros
a) embalagem;
b) resfriamento ou congelamento.

2. Frangos particionados
a) cortes;
b) desossa;
c) embalagem;
d) resfriamento ou congelamento.
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estudo de
caso

Após estes processos, os produtos são destinados à área de armazenamento e câmaras frias
com temperaturas de até - 40 º C. Conforme o fluxo anterior descrito e demostrado na figura
1 a seguir:

ABATE DE AVES

Receber os animais
ainda vivos

Proceder a
insensibilização

Proceder a sangria

Etapa de escaldagem

Etapa de depenagem

Etapa de evisceração

Frango inteiro Frango particionado

Embalagem Cortes

Resfriamento ou
Desossa
congelamento

Embalagem

Resfriamento ou
congelamento

Figura 1- Fluxo de processo de abate de aves


Fonte: o autor.
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estudo de
caso

O processo de armazenamento do produto acabado funciona da seguinte forma: são desti-


nados via esteira transportadora do setor de embalagens em caixas, fardos, bags, pacotes e
etc., devidamente etiquetados por lote e produtos, são, na sua maioria, colocados em paletes,
para posteriormente, serem conduzidos às câmaras de estocagem. Os produtos em fardos
são, na sua maioria, transportados por trabalhadores que os pegam na área de entrada da
estocagem e os transportam até o interior da câmara frigorífica, acondicionando os produ-
tos sobre as paletes para posterior expedição.

Figura 2 - Câmara frigorífica/paletes


Fonte: Shutterstock.
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Para o trabalho com produtos em fardos, há um determinado trabalhador adequadamente


vestido com os seguintes EPIs (Equipamentos de Proteção Individual):

1. Botas - CA 37677.

2. Meia de segurança - CA 18412 para - 35 º C.

3. Calça térmica 400 g/m2 - CA 28668 para - 45 º C.

4. Japona térmica 400 g/m2 - CA 25725 para - 45 º C.

5. Luva térmica - CA 18415 para - 35 º C.

6. Capuz térmico - CA 38726 para baixa temperatura.

Esse trabalhador executa as suas atividades em áreas climatizadas artificialmente chamadas


de docas (figura 3) onde há entradas para as câmaras frigoríficas, ambiente conhecido com
antecâmara, que possui temperatura de até 10 º C. O trabalhador também vai para a área
de cargas e descargas (expedição).

Figura 3 - Área de docas/antecâmara


Fonte: Shutterstock.
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Durante a execução de suas atividades nestes ambientes, o trabalhador reveza entre o am-
biente com temperatura de até 10 º C e o ambiente com temperaturas de até - 40º C. Ele
também necessita realizar o transporte de 200 fardos de 25kg para o interior da câmara fria
por dia de trabalho, de segunda a sexta-feira, sendo que essa câmara é climatizada a uma
temperatura de -21º C.
Mantida esta temperatura sempre, serviço esse realizado diariamente, o que faz o traba-
lhador gastar 1,5 minutos no transporte de cada fardo e descansando 10 minutos após cada
lote de 50 fardos, a empresa, com pensamento prevencionista, solicitou à área de saúde e
segurança que realize uma avaliação dessa atividade para que o enquadramento legal fosse
realizado, evitando que o trabalhador pudesse adquirir algum tipo de doença ocupacional
ou do trabalho, e, também, que a empresa não corra o risco de sofrer sanções disciplinares
(multas). Porém, para que o trabalho não seja prejudicado, em vista da necessidade de os
fardos estarem bem acomodados na câmara fria para não estragarem os produtos e gerar
prejuízos à empresa.
Diante de tal solicitação, os profissionais da empresa passam a estudar, por meio da
higiene ocupacional, antecipação e reconhecimento do ambiente laboral, como agir para
que fosse atendida a solicitação da empresa.
O engenheiro de segurança do trabalho, juntamente com o técnico em segurança do
trabalho, após irem ao local e realizarem vistoria qualitativa, passam à fase de análise da le-
gislação pertinente para, enfim, fazerem o enquadramento legal da situação e adotarem
medidas de controle caso necessário, sendo que, para isto, esses profissionais realizaram as
seguintes análises.

1. Estudo da Consolidação das Leis do Trabalho - Decreto-lei n° 5.452/43 Decreto-lei nº


5.452, de 1º de maio de 1943.
SEÇÃO VII
DOS SERVIÇOS FRIGORÍFICOS
Art. 253 - Para os empregados que trabalham no interior das câmaras frigoríficas e para os
que movimentam mercadorias do ambiente quente ou normal para o frio e vice-versa, depois
de 1 (uma) hora e 40 (quarenta) minutos de trabalho contínuo, será assegurado um período
de 20 (vinte) minutos de repouso, computado esse intervalo como de trabalho efetivo.
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Parágrafo único - Considera-se artificialmente frio, para os fins do presente artigo, o que
for inferior, nas primeira, segunda e terceira zonas climáticas do mapa oficial do Ministério
do Trabalho, Indústria e Comércio, a 15º (quinze graus), na quarta zona a 12º (doze graus), e
nas quinta, sexta e sétima zonas a 10º (dez graus).

2. Estudo NR 15
NR 15 - ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES
ANEXO IX - FRIO
1. As atividades ou operações executadas no interior de câmaras frigoríficas, ou em locais
que apresentem condições similares, que exponham os trabalhadores ao frio, sem a prote-
ção adequada, serão consideradas insalubres em decorrência de laudo de inspeção realizado
no local de trabalho.

3. Estudo NR 29

29.3.16.1. A jornada de trabalho em locais frigorificados deve obedecer a seguinte tabela.


FAIXA DE TEMPERATURA MÁXIMA EXPOSIÇÃO DIÁRIA PERMISSÍVEL PARA PESSOAS ADEQUADAMENTE
DE BULBO SECO (°C) VESTIDAS PARA EXPOSIÇÃO AO FRIO.
+15,0 a -17,9 * Tempo total de trabalho no ambiente frio de 6 horas e 40 minutos, sendo
+12,0 a -17,9 ** quatro períodos de 1 hora e 40 minutos alternados com 20 minutos de
+10,0 a -17,9 *** repouso e recuperação térmica fora do ambiente de trabalho.
Tempo total de trabalho no ambiente frio de 4 horas alternando-se 1 hora
-18,0 a -33,9
de trabalho com 1 hora para recuperação térmica fora do ambiente frio.
Tempo total de trabalho no ambiente frio de 1 hora, sendo dois períodos
-34,0 a -56,9 de 30 minutos com separação mínima de 4 horas para recuperação térmica
fora do ambiente frio.
Tempo total de trabalho no ambiente frio de 5 minutos sendo o restante da
-57,0 a -73,0
jornada cumprida obrigatoriamente fora de ambiente frio.
Não é permitida a exposição ao ambiente frio, seja qual for a vestimenta
Abaixo de -73,0
utilizada.
Tabela 1 - Máxima exposição diária permissível ao frio para trabalhadores adequadamente vestidos.
Fonte: Guia Trabalhista, NR 29 (1978).
(*) faixa de temperatura válida para trabalhos em zona climática quente, de acordo com o mapa oficial do IBGE.
(**) faixa de temperatura válida para trabalhos em zona climática sub-quente, de acordo com o mapa oficial do IBGE.
(***) faixa de temperatura válida para trabalhos em zona climática mesotérmica, de acordo com o mapa oficial do IBGE.
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Após a realização dos estudos descritos, os profissionais realizam uma interpretação dos dados
levantados no ambiente ocupacional, sendo que os resultados são mensurados avaliando
o ambiente, aferindo a temperatura efetiva e os tempos de atividades, que, veridicamente,
são informados de modo preliminar. Assim, os profissionais fazem a interpretação da atual
condição.
Condição atual:
è 200 fardos x 1,5 minutos p/fardo = 300 minutos = 5 horas de trabalho.
è 200 fardos / 50 = 4 ciclos de trabalho.
è 50 fardos x 1,5 minutos p/fardo = 75 minutos = 1 hora e 15 minutos por ciclo.
è Descanso – 1 x 10 minutos = 10 minutos a cada ciclo.
è 10 minutos a cada 50 fardos = 10 x 4 = 40 minutos descanso.

Total da jornada 5 horas de trabalho e 40 minutos de descanso. (Não conformidade com o


limite legal).
Condição proposta:
è 200 fardos x 1,5 minutos p/fardo = 300 minutos = 5 horas de trabalho.
è 200 fardos / 40 = 5 ciclos de trabalho.
è 40 fardos x 1,5 minutos p/fardo = 60 minutos = 1 hora por ciclo.
è Descanso – 1 x 60 minutos = 60 minutos a cada ciclo.
è 60 minutos a cada 40 fardos = 60 x 4 = 240 minutos = 4 horas de descanso.

Entrada trabalho Saída trabalho


40 fardos 40 fardos 40 fardos 40 fardos 40 fardos

60 - descanso 60 - descanso 60 - descanso 60 - descanso

1 - ciclo 2 - ciclo 3 - ciclo 4 - ciclo

Figura 2 - Análise de ciclos de trabalho


Fonte: o autor.

Parecer técnico dos profissionais da saúde e segurança da empresa.


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A condição proposta está balizada no Art. 253 da CLT, e no quadro 1 da NR 29, sendo
que o trabalhador está a uma temperatura de -21°C e necessita realizar o trabalho. Assim, o
quadro 1 nos remete à seguinte situação:

Tempo total de trabalho no ambiente frio de 4 horas alternando-se 1 hora de


-18,0 a -33,9
trabalho com 1 hora para recuperação térmica fora do ambiente frio.
Quadro 1 - Máxima exposição diária permissível ao frio para trabalhadores adequadamente vestidos
Fonte: Guia Trabalhista, NR 29 (1978).

Diante deste novo rearranjo, o trabalhador, ao entrar, faz o trabalho carregando 40 fardos,
na sequência, descansa 60 minutos em ambiente com temperatura mais amena, realizar
outros três ciclos revezando 60 minutos de trabalho por 60 minutos de descanso, sendo que
ao final do quarto ciclo, o de descanso, ele faz o último carregamento, ou seja 40 fardos (60
minutos) e encerra seu expediente.
Desta forma, a empresa está em conformidade com as questões legais e proporciona
um ambiente laboral adequado, sem riscos ao trabalhador.

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