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Uma Proposta de Plano Municipal de mobilização social para o

enfrentamento da COVID-19

Dr. Ion de Andrade

Natal, Junho de 2020


Um Plano Municipal para o enfrentamento da COVID-19

I. Como a doença se transmite

II. Uma visão de conjunto de forças e fragilidades

a. Quem morre mais e se interna mais

b. Isolamento Social e redução do contágio

c. Atenção Primária e Covid-19

d. Mobilização Social

III. Um Plano Municipal de Ataque

a. Atenção primária: (a) proteção a idosos e crônicos, (b) promoção do Isolamento Social
e de medidas de redução do contágio e (c) mobilização social

b. Sociedade Civil: (a) proteção a idosos e crônicos, (b) promoção do Isolamento Social e
de medidas de redução do contágio e (c) mobilização social

c. O papel da gestão no monitoramento e realimentação do plano e na vigilância dos


indicadores chave que queremos reduzir (a) mortes, (b) internamentos e (c) Taxa de
reprodução da doença

I. Como a doença se transmite

• Na rua (local que ganha importância quando o Isolamento Social é desrespeitado)

• Em casa, através: (a) da pessoa que faz as compras e os pagamentos da família ou (b)
do familiar que é descuidado e indisciplinado diante da doença e

• No local de trabalho (no isolamento social para os serviços essenciais e fora do


Isolamento Social para qualquer serviço)

II. Uma visão de conjunto de forças e fragilidades

a. Quem morre mais e se interna mais

Idosos

 Com menor mobilidade que os mais jovens, os idosos contraem proporcionalmente a


Covid mais em casa dos que as outras faixas etárias.

 Eles representam 12 a 14% da nossa população e correspondem segundo diversas


séries a mais de 80% dos óbitos e a mais da metade dos internamentos;

 Cada ponto percentual da população idosa protegida reduz a mortalidade do


município em 6 a 7 % e os internamentos em 5 a 6%.

Pacientes com doenças crônicas


Representam, juntamente com os idosos que são também crônicos na maioria dos casos,
cerca de 20 a 25% da população, metade da qual idosa. E correpsondem hoje no Brasil
80% dos óbitos (sobrepostos aos dos idosos que têm doença crônica). Dentre os doentes
que mais morrem estão os diabéticos e os cardiopatas.

• A população a ser protegida do contágio é, portanto, composta por:

- Idosos

- Diabéticos e Cardiopatas

b. Isolamento Social e redução do contágio

 Não há ferramenta que substitua o Isolamento Social, os países que não o


implementaram tiveram que implementar depois;

 A situação relativamente mais branda da pandemia no RN se deve às medidas de


isolamento Social tomadas precocemente;

 No RN ele vem sendo decrescente e há uma desobediência sem fiscalização (o bar da


esquina abre, a lanchonete abre, a loja de roupas abre)

c. Atenção Primária e Covid-19

 Boa cobertura da Atenção Primária em muitas cidades;

 Milhares de agentes de saúde distribuídos de maneira capilarizada;

 Famílias com idosos cadastradas devido à vacinação contra a gripe;

 Relação consolidada entre as equipes e suas comunidades

d. Mobilização Social

 Uma Sociedade Civil variada e presente nas comunidades (Igrejas, Associações locais,
escoteiros, clubes desportivos, etc)

 Um acesso à informação suficiente para a boa recepção de material educativo e para


a boa compreensão das mensagens da saúde pública;

 Famílias com mais cômodos em casa do que moradores e, por isso capazes, se
orientadas, de destinar ambientes prioritariamente para quem deve ser protegido
(idosos e crônicos)
III. Um plano Municipal de Ataque
Atores/Ações I Isolamento Social I Proteção a Idosos e Crônicos I Produção e uso de Máscaras I Espaços Públicos

Prefeitura Municipal 1. Monitorar o 1. Decretar horário 1. Encomendar 1. Redefinir


cumprimento do específico para idosos localmente a produção quando
Decreto Estadual nas Unidades de Saúde de máscaras para os necessário os
2. Decretar e Reaprtições Públicas; munícipes a espaços de
medidas mais 2. Decretar a costureiras locais; destinados às
rígidas quando obrigatoriedade de 2.Decretar a feiras e a
necessárias; fluxo específico de obrigatoriedade do necessidade ou
3. Ter política de pacientes com uso de máscaras não de rodízio de
comunicação social sintomas respiratórios produtos para
local de incentivo nas Unidades de Saúde evitar
ao Isolamento do município aglomerações;
Social (carros de 3. Cadastrar e 2. Decretar a
som, rádios, monitorar a população obrigatoriedade
cartazes) idosa do município e do uso de
criar juntamente com a máscaras nos
socieade civil serviços espaços públicos
de seguimento para os e assemelhados;
mais vulneráveis 3. Fiscalizar o
(sistemas disque) cumprimento do
Decreto Estadual
no município
III. Um plano Municipal de Ataque
Atores/Ações I Isolamento Social I Proteção a Idosos e Crônicos I Produção e uso de Máscaras I Espaços Públicos

Secretaria Municipal de 1. Mobilizar a 1. Mobilizar os Agentes 1. Mobilizar a Atenção 1. Reforçar as


Saúde Atenção Primária à Comunitários de Saúde Primária à Saúde para orientações da
Saúde para difundir para visitar a totalidade difundir sobretudo Prefeitura
sobretudo através das famílias com idosos através dos Agentes quanto ao uso
dos Agentes em casa para (a) Orientar Comunitários de Saúde dos Espaços
a proteção ao idoso no
Comunitários de a necessidade do uso Públicos do
domicílio e (b) Colher
Saúde a da máscara; Município
número atualizado de
necessidade do telefone para a
Isolamento Social; organização de grupos de 2. Exigir que a cada
acompanhamento consulta ou
2. Exigir que a cada (monitoramento clínico e atendimento
consulta ou ações educativas de individualizado na APS
atendimento prevenção à Covid) via resulte também em
individualizado na whatsapp monitoramento da
APS resulte adesão e mensagem
também em 2. Aumentar o volume de de reforço ao uso da
monitoramento da consultas domiciliares e máscara
adesão e de telemedicina a idosos
e vulneráveis evitando
mensagem de
consultas desnecessárias
reforço ao
na Unidade de Saúde
Isolamento Social
III. Um plano Municipal de Ataque
Atores/Ações I Isolamento Social I Proteção a Idosos e Crônicos I Produção e uso de Máscaras I Espaços Públicos

Secretaria Municipal de 1. Monitorar as 1. Mobilizar a 1. Juntamente com a 1. Juntamente


Ação Social situações de Sociedade Civil para a Prefeitura Municipal com a prefeitura
miséria e fome e organização de Redes encomendar a monitorar o
mobilizar a cidade de Vizinhança e produção de máscaras cumprimento do
para ações Solidariedade para a junto às costureiras Decreto Estadual
solidárias que colaboração com existentes na e de eventuais
viabilizaem o idosos que vivem sós comunidade gerando Decretos
respeito por todos para evitar saídas renda familiar com Municipais e as
do isolamento desnecessária à rua serviços para a recomendações
Social (compras e pandemia; locais na
pagamentos) organização das
feiras e outros
2. Colaborar com a espaços públicos
Sociedade Civil para a capazes de
criação de um serviço produzir
"disque" para aglomerações
enfrentar as situações
individuais e coletivas
de interesse da
pandemia
III. Um plano Municipal de Ataque
Atores/Ações I Isolamento Social I Proteção a Idosos e Crônicos I Produção e uso de Máscaras I Espaços Públicos

Sociedade Civil Organizada A Sociedade Civil As entidades podem A produção de As entidades


(Igrejas, Associações, Clubes deve ser mobilizada criar grupos de máscaras pode ser podem, por
de futebol, escoteiros, pelo Poder Público voluntários em redes realizada no contexto e mobilização do
bombeiros voluntários, etc) para, nos seus de solidariedade que por estímulo da Poder Público
círculos de podem contribuir para: Sociedade Civil. O cumprir papel de
inluência mobilizar 1. levar a Poder Público pode dar vigilância em
a sociedade a conhecimento do alcance a essas relação ao
respeitar o Poder Público as iniciativas cumprimento das
Isolamento Social. situações extremas de encomendando-as aos recomendações
interesse da pandemia artesãos e costureiras que tocam aos
(vulneráveis, famílias locais. Espaços Públicos,
mergulhadas na comunicando à
miséria, aglomerações, prefeitura às
etc) e situações que
exijam a sua
2. Dar suporte a idosos intervenção.
ou vulneráveis e pessoas
vivendo sozinhas para
evitar que tenham que
sair à rua para compras,
pagamentos, etc.
CARTILHA
Orientações para o
dia-a-dia das famílias e
sugestões para a ação
educativa em saúde do
Agente Comunitário de
Saúde sobre a Proteção
ao Idoso no domicílio em
tempos de COVID-19
Caro Agente Comunitário de Saúde

O seu importante trabalho de acompanhamento,


monitoramento e educação em saúde, sobretudo
agora, no contexto da atual pandemia de COVID-19,
pode ser a diferença entre a vida e a morte de muitas
pessoas, principalmente de idosos, que são vulneráveis
e nessa doença se internam e morrem mais do que os
mais jovens.

É importante que você saiba que cada ponto percentual


de população idosa protegida do contágio, usando as
medidas simples e factíveis, que vamos explicar nessa
cartilha, resultará numa letalidade 5% a 6% menor e em
internamentos de 3,5 a 4% a menos pela Covid-19. Isso
decorre do fato de que a população idosa corresponde
a 13,8% da população, mas representa mais da metade
dos internamentos (52%) e mais de 75% dos óbitos.
Então proteger os idosos significa também proteger o
Sistema de Saúde.

Esse trabalho de Monitoramento e Educação em


Saúde deve começar imediatamente, pois não temos
tempo a perder numa doença que avança de forma
exponencial!

Mãos à obra! Leia a cartilha! O trabalho começa agora!

1
Que cuidados devemos tomar com a
nossa pessoa idosa em casa?

SEMPRE, oriente o ido-


so a lavar as mãos ou hi-
gienizá-las com álcool a
70%. Caso ele não possa,
o cuidador deve fazer por
ele.

Respeite e pratique
o isolamento social. O
isolamento social é uma
importante medida para
reduzir o contágio do
idoso.

Lembre-se que o maior risco para a pessoa idosa, no


contexto do isolamento social, é de ser contaminado pelo
novo coronavírus em casa.

Evite o contato da pes-


soa idosa com os netos.
Os jovens e as crianças,
embora costumem na
maioria das vezes não ter
sintomas ou ter sintomas
leves, podem transmitir a
doença ao idoso.

Mesmo adultos sem


sintomas podem trans-
mitir a Covid-19. Se você
tem pessoas idosas em casa, comporte-se na relação com
esses idosos com o cuidado que você teria se estivesse

2
doente e transmitindo o
coronavírus.

Mantenha a distância
da pessoa idosa de pelo
menos 1,5m em todos os
momentos do dia.

No trato com ele nas


ocasiões em que em que
o contato mais próximo
for necessário, para banho
ou higiene pessoal, você
deve usar uma máscara para protegê-lo.

Reserve os utensílios que ele usa, (garfo, faca, colheres,


copo, xícara) só para ele.

Se esforce para manter a saúde mental da sua pessoa


idosa, lhe dê atenção e respeito e tente preencher o seu dia
com atividades diversas, TV, rádio, jogos individuais, jogos
no smartphone, palavras cruzadas, banhos de sol e quando
possível, atividade física, tudo isso sempre com os cuidados
recomendados.

Se você tiver um cô-


modo extra em casa, (um
espaço pouco usado, um
quarto, arejado e ilumina-
do), que permita que per-
maneça adequadamente,
sugerimos que a sua pes-
soa idosa possa passar
boa parte do dia nele para
reduzir o contato com os
familiares e diminuir as
chances de contaminação.

3
Mantenha contato com
a Unidade de Saúde ou
com o médico de referên-
cia e peça para que criem
um grupo de whats app
para que a comunidade
de pacien tes e os profis-
sionais de saúde possam
ter um espaço de diálogo,
acompanhamento e mon-
itoramento.

Se a sua pessoa idosa


for acamada, todos os que tiverem contato com ele
no momento dos cuidados devem ter lavado as mãos cor-
retamente e utilizar máscaras, pois a sua fragilidade é ainda
maior;

Se a sua pessoa idosa é autônoma e tem vida social fora


de casa, esse comportamento é de alto risco para ela e a
família deve informar que por alguns meses essas ativi-
dades devem ser suspensas.

As visitas aos idosos, exceto a do pessoal de saúde, utili-


zando máscaras, devem ser suspensas, mesmo a de famili-
ares próximos e amigos.

Se há idosos que
moram sozinhos na sua
vizinhança, crie uma rede
de solidariedade na sua
comunidade para ajudá-
los a resolver os problemas
fora de casa, como
compras ou pagamentos,
permitindo que eles não
se exponham.

4
Mantenha a doença
crônica da sua pessoa
idosa tratada e converse
com a equipe da
Unidade de Saúde ou
médico de referência
para acompanhá-lo em
atenção domiciliar prati-
cando também a validade
prolongada do receituário
dos medicamentos de uso
contínuo.

Mantenha o calendário vacinal da sua pessoa idosa em


dia.

Torne a sua pessoa idosa protagonista dessas


recomendações!

5
Cuidados que o Agente de Saúde
deve ter durante a visita

Segurança da pessoa idosa e do agente comunitário de


Saúde

Nas visitas às famílias onde há idosos os Agentes Comu-


nitários de Saúde deverão considerar as seguintes orien-
tações:

1. Estar portando máscara.

2. Não adentrar o domicílio, fazendo as suas orientações


a um familiar do idoso, na área externa à casa.

3. Respeitar o distanciamento preconizado de pelo


menos 1,5m desse familiar.

4. Caso o idoso viva sozinho ou com um cônjuge também


idoso, assinalar essa condição de risco à equipe ou à
direção da unidade para que essa visita seja realizada
pelo profissional de enfermagem.

Monitoramento

Você deve ser cuidadoso em obter o número de tele-


fone atualizado do idoso ou de alguém da família! O tele-
fone servirá para você manter o contato regular com essa
família, monitorar a saúde do idoso, agendar visitas domi-
ciliares, consultas, exames e para enviar material educativo
por meio de grupos de Whats App sempre que for possível.

O Agente comunitário de Saúde, juntamente com a equi-


pe de saúde deverá construir um mapa físico ou virtual onde
todo esse grupo de pessoas vulneráveis possa ser localiza-

6
do. Isso será feito com os endereços das casas onde há ido-
sos, que você terá cuidadosamente anotado. Isso facilitará
e dará fluidez à comunicação entre a equipe e as famílias.

Situações de risco para o idoso

Muitos idosos são portadores de doenças crônicas como


o diabetes, a hipertensão arterial, e outras. A manutenção
de boas condições de saúde dos idosos e do controle des-
sas doenças ganha uma importância a mais pois a presença
de doenças crônicas torna o idoso ainda mais vulnerável à
COVID-19. O Agente comunitário de Saúde deve assinalar
ao profissional médico ou de enfermagem da sua equipe
quaisquer problemas relacionados à saúde dos idosos que
estão sob seu monitoramento para que as medidas mais
adequadas sejam tomadas.

A equipe deve ter o zelo de evitar que o idoso tenha que


se deslocar até a unidade facilitando agendamentos, exames
e se deslocando até o domicílio sempre que possível. Para
reduzir as necessidades de deslocamento da pessoa idosa,
a equipe deve valorizar o uso do receituário de duração
prolongada para os medicamentos de uso contínuo.

A unidade poderá definir um horário no qual somente os


idosos sejam atendidos.

Instituições de Longa Permanência de Idosos

Se a sua área tiver uma ILPI a equipe deverá ter um zelo


redobrado no sentido de atender as necessidades assisten-
ciais da casa, como também apoiá-la a obter Equipamentos
de Proteção Individual, máscaras, fraldas e material de hi-
giene e limpeza.

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Referências

1. Aplicativo Orienta Coronavirus, um sistema desenvolvido pelo


Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde, LAIS/UFRN (dis-
ponível em https://orientacorona.saude.rn.gov.br/).

2. Ion de Andrade, Nadja Rocha, Vilani Nunes, Kenio de Lima, Sev-


erina Alice Uchoa, Massimo Giangaspero e Paulo Rocha, Proteção
Domiciliar dos idosos sob Distanciamento Social no contexto da
COVID-19, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN,
Natal, março de 2020.

Créditos

Conteúdo

Ion de Andrade - médico epidemiologista da Secretaria


de Estado da Saúde Pública do RN/Cefope/ETSUS, mestre
em Pediatria, doutor em Ciências da Saúde, e pesquisador
do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde LAIS/
UFRN.

Lyane Ramalho - professora do Departamento de Saúde


Coletiva da UFRN, mestre e doutora em Saúde Coletiva,
tutora do PMM pela UFRN, coordenadora geral do PEP-
SUS/UFRN e pesquisadora do Laboratório de Inovação
Tecnológica em Saúde LAIS/UFRN.

Loyse Raboud de Andrade - assistente social, especialis-


ta em gerontologia e responsável pelo Espaço Solidário,
Centro de Convivência de idosos, Instituição de Longa
Permanência e Casa dia de Idosos pertencente ao Centro
Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição em Natal/RN.

Ilustrações

Tarsila Fernandes

Capa e diagramação

John Willian Lopes

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