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Curso de Introdução ao QGIS

Módulo I - Introdução ao software QGIS

Sistemas de Referência e Projeção

Sistemas Geodésicos de referência

Os Sistemas Geodésicos de referência são necessários para expressar


a posição de pontos sobre uma superfície, seja ela um elipsoide, esfera ou um
plano. Um Sistema Geodésico de Referência é composto pelo Datum (origem) e
o Sistema de Coordenadas.
O sistema de coordenadas pode ser um sistema de coordenadas
geodésicas (geográficas) ou um sistema de coordenadas projetadas (planas ou
cartesianas). O sistema geodésico consiste em um conjunto de linhas verticais
(meridianos) e horizontais (paralelos) sobre a Terra. Já o sistema de projeção
consiste na superfície aproximada da Terra sobre um plano.
Para o elipsoide, ou esfera, usualmente é empregado um sistema de
coordenadas geográficas e para o plano, usualmente é aplicável um sistema de
coordenadas planas. Um sistema de projeção leva em consideração o sistema
geodésico de referência. Ele necessita de uma origem ou modelo de referência
para minimizar distorções decorrentes das transformações matemáticas quando
uma superfície curva passa a ser representada no plano.
Uma analogia empregada para entender projeções é a da casca de
laranja. Se você imaginar que a terra é uma laranja, a maneira como você
descasca e depois tenta planificar, ou alisar, a casca é semelhante como as
projeções são feitas. Um Datum é a escolha da fruta a ser usada (nossa
referência). No nosso exemplo vamos utilizar uma Laranja, Figura 1.
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Figura 1. Distorção da projeção Webmercator com uma casca de laranja.

Fonte: https://i.redd.it/hqire1ng5d531.png

Para amarrar a posição de um ponto no espaço necessitamos ainda


complementar as coordenadas bidimensionais (X e Y), com uma terceira
coordenada que é denominada Altitude (Z). A altitude de um ponto qualquer está
ilustrada na Figura 2, onde o primeiro tipo (H), altitude ortométrica, é a distância
contada a partir do geoide (que é a superfície de referência para as altitudes) e
o segundo tipo (h), denominado altitude geométrica é contada a partir da
superfície do elipsoide.

Figura 2. Altitudes ortométrica (H) e geométrica (h).

Fonte: Adaptado de National Land Survey of Finland


https://www.maanmittauslaitos.fi/en/research/interesting-topics/geoid
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Na Figura 2 também aparece a ondulação geoidal, representada pela letra


N. A ondulação geoidal é a diferença entre as superfícies, sendo positiva quando
o geoide está acima do elipsoide e negativa quando a situação é oposta (Figura
3).

Figura 3. Modelo de Ondulação Geoidal considerando as diferenças para o SIRGAS2000.

Fonte: IBGE (2014)


http://www.sirgas.org/fileadmin/docs/Boletines/Bol19/39_IBGE_2014_SIRGAS_Brazil.pdf
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O Datum é um sistema de referência utilizado para o cômputo ou


correlação dos resultados de um levantamento. Existem dois tipos de datum: o
vertical e o horizontal. O vertical é uma superfície de nível utilizada no
referenciamento das altitudes tomadas sobre a superfície terrestre. O horizontal,
por sua vez, é utilizado no referenciamento das posições tomadas sobre a
superfície terrestre.
Em projetos de engenharia usa-se em geral a altitude ortométrica, como
em obras de drenagem e hidráulicas, nestes casos a referência adequada é o
geoide, já que fluxo dos fluídos será determinado pela gravidade do local, e não
o elipsóide (correspondente à altitude geométrica). Porém é possível realizar
projetos com a altitude geométrica, tudo depende do escopo do projeto. Para
converter uma altitude geométrica para ortométrica você pode utilizar o software
MAPGEO2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Sistema de referência oficial do Brasil


O Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) e o Sistema Cartográfico Nacional
(SCN), com base na resolução nº 1 de fevereiro de 2005 do IBGE, passaram a
utilizar o Datum horizontal SIRGAS 2000 (Sistema de Referência Geocêntrico
para as Américas) como Datum oficial do Brasil. A resolução estabeleceu o prazo
de dez anos para a transição, período no qual o Datum SIRGAS 2000 poderia
ser utilizado concomitantemente ao Datum SAD-69 (South American Datum of
1969) e ao Datum Córrego Alegre (IBGE, 2015).
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Classificação dos sistemas de referência

Geocêntrico: é um sistema cartesiano tridimensional (X, Y, Z) com


origem no centro de massa da Terra (Figura 4). É compatível com as técnicas
de posicionamento espacial 3D e possibilita levantamentos de melhor precisão
e acurácia. Por exemplo, os Sistemas Globais de Navegação por Satélite (Global
Navigation Satellite System, GNSS), nome genérico dado a todos sistemas de
navegação por satélite, dentre os quais destaca-se o Global Positioning System
(GPS). Para o GPS, o sistema de referência é o World Geodetic System 1984
(WGS 84) e para o Brasil é o Sistema de Referência Geocêntrico para as
Américas (SIRGAS2000).
Topocêntrico: considera que o centro do elipsoide (ou origem dos eixos)
não está localizado no centro de massa da Terra, mas sim no ponto de origem
(vértice) escolhido na superfície da Terra (Figura 4). No Brasil, por exemplo, os
sistemas geodésicos regionais utilizados foram: Chuá-Astro Datum; South
American Datum 1969 (SAD 69) e Córrego Alegre.

Figura 4. Elipsoides Geocêntrico (SIRGAS2000) e Topocêntrico (SAD-69).

Fonte: Santiago & Salviano (2005).

https://www.if.ufrgs.br/oei/santiago/fis2005/livro_v1.pdf
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Tipos de Datum

Há diferentes modelos matemáticos da forma da Terra (elipsoides) para


representar diferentes regiões da superfície terrestre, entre eles pode-se citar os
mais conhecidos no Brasil: SAD-69, SIRGAS2000, WGS-84 e Córrego Alegre
(Tabela 1).

Tabela 1. Principais Datum e suas características


Datum Descrição

 Sistema de referência topocêntrico.


Córrego Alegre
 Elipsóide Internacional de Hayford 1924

 South American Datum of 1969.


 Sistema de referência topocêntrico.
 Objetiva a unificação do referencial para trabalhos
geodésicos e cartográficos no continente Sul-Americano.
SAD 69  Definição do sistema por meio de coordenadas
geodésicas do ponto de origem e do azimute geodésico
da direção inicial Chuá-Uberaba.
 Elipsóide de Referência Internacional de 1967.

 World Geodetic System of 1984.


 Sistema de referência geocêntrico.
WGS 84  Adotado pelo sistema Global Navigation Satellite System
(GNSS) e pelo Global Positioning System (GPS).

 Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas.


 Permite maior precisão no mapeamento do território
SIRGAS 2000 brasileiro e na demarcação de suas fronteiras.
 Sistema Oficialmente adotado no Brasil.

Internacionalmente e devido a popularização de Sistemas de Navegação


por Satélite como o GPS, Galileo, GLONASS e Beidou é comum a adoção do
sistema de referência geocêntrico WGS-84.
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Projeções cartográficas

O problema básico das projeções cartográficas é a representação de uma


superfície curva em um plano. Isso pode ser rapidamente compreendido se por
exemplo, tentarmos fazer coincidir uma casca de uma laranja com a superfície
plana de uma mesa. Para alcançar um contato total entre as duas superfícies, a
casca de laranja teria que ser distorcida. Embora esta seja uma simplificação
grosseira do problema das projeções cartográficas, ela expressa claramente a
impossibilidade de uma solução perfeita que diz respeito à existência de uma
projeção livre de deformações.
Todas as representações de superfícies curvas em um plano envolvem
"extensões" ou "contrações" que resultam em distorções. Diferentes técnicas de
representação são aplicadas no sentido de se alcançar resultados que possuam
certas propriedades favoráveis para um propósito específico. Nesse contexto, o
ideal seria construir uma carta que reunisse todas as propriedades,
representando uma superfície rigorosamente semelhante à superfície da Terra,
onde fossem mantidas a área, a forma e a distância entre os pontos. A solução
será, portanto, construir uma carta que, sem possuir todas as condições ideais,
possua aquelas que satisfaçam a determinado objetivo. Assim, é necessário ao
se fixar o sistema de projeção escolhida considerar a finalidade da carta que se
quer construir.
Pode-se dizer então, que a melhor projeção para uma carta depende da
escala em que se deseja construir essa carta e dos objetivos para os quais ela
será utilizada. Por exemplo, algumas projeções são indicadas para pequenas
áreas, outras são indicadas para representar áreas com uma grande extensão
Leste-Oeste, e outras são mais apropriadas para representar áreas com uma
grande extensão Norte-Sul.
Para a visualização do problema envolvendo distorções vamos acessar
um link que nos leva até um portal que ilustra o tamanho real de cada país
quando comparado a outro. Basta digitar o país de interesse, para nós será
“Brazil”, clicar com botão esquerdo do mouse, segurar e arrastar até o país ou
região que queremos fazer a comparação. No link a seguir o Brasil está
sobreposto a Europa. Percebam o tamanho do nosso país em relação aos países
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europeus. Pode-se também escolher um país europeu e sobrepor ao Brasil.


Nesse exemplo o sistema de projeção é equivalente preservando as áreas dos
países.

Link e QR Code para acesso ao site Tretruesize.com

Acesse:
https://thetruesize
.com/#?borders=
1~!MTcyNzY5Nz
Q.MjEzMDQ5MQ
*MzYwMDAwMD
A(MA~!BR*OTYx
MTYwNw.MjIwM
DAwMTY)NA

Classificação das projeções cartográficas

Os sistemas de projeções cartográficas podem ser classificados pelo


método, pelo tipo de superfície de projeção adotada, pela posição da
superfície de projeção, pelo tipo de contato entre as superfícies de projeção
e de referência e pelas propriedades de deformação que as caracterizam.

Quanto ao método:
a) Geométricas: baseiam-se em princípios geométricos projetivos.
Podem ser obtidos pela interseção, sobre a superfície de projeção,
do feixe de retas que passa por pontos da superfície de referência
partindo de um centro perspectivo (ponto de vista);
b) Analíticas: baseiam-se em formulação matemática obtidas com o
objetivo de se atender condições (características) previamente
estabelecidas (é o caso da maior parte das projeções existentes).

Quanto à superfície de projeção:


a) Planas: quando a superfície é plana. Este tipo de superfície pode
assumir três posições básicas em relação a superfície de
referência: polar, equatorial e oblíqua;
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b) Cônicas: quando a superfície é um cone. Pode ser desenvolvida


em um plano sem que haja distorções, e funciona como superfície
auxiliar na obtenção de uma representação. A sua posição em
relação à superfície de referência pode ser: normal, transversal e
oblíqua;
c) Cilíndricas: quando a superfície é um cilindro. Tal qual a superfície
cônica, pode ser desenvolvida em um plano e suas possíveis
posições em relação a superfície de referência podem ser:
equatorial, transversal e oblíqua;
d) Polissuperficiais: se caracterizam pelo emprego de mais do que
uma superfície de projeção (do mesmo tipo) para aumentar o
contato com a superfície de referência e, portanto, diminuir as
deformações. Ex: plano-poliédrica; cone-policônica; cilindro-
policilíndrica.

Fonte: D'Alge
http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/introd/cap6-cartografia.pdf

Quanto à posição da superfície de projeção:


a) Equatoriais: quando o centro da superfície ocorre no Equador;
b) Polares: quando o centro da projeção ocorre em um dos polos;
c) Oblíquas: quando ocorre em qualquer posição, exceto no Equador ou
nos polos;
d) Transversais: quando o eixo da superfície de projeção se encontra
perpendicular ao eixo de rotação da Terra.
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Quanto ao tipo de contato entre as superfícies:


a) Tangentes: a superfície de projeção é tangente à de referência
(plano- um ponto; cone e cilindro- uma linha);
b) Secantes: a superfície de projeção secciona a superfície de
referência (plano- uma linha; cone- duas linhas desiguais; cilindro-
duas linhas iguais).

Quanto à propriedade de deformação:


a) Equidistantes: que não apresentam deformações lineares para
algumas linhas em especial. Os comprimentos são representados
em escala uniforme. Isto é, conservam a proporção entre as
distâncias, em determinadas direções na superfície representada.
Não é uma característica global de toda a área mapeada;
b) Conformes ou isogonais: representam sem deformação, todos os
ângulos em torno de quaisquer pontos, e decorrentes dessa
propriedade, não deformam pequenas regiões. Nesse caso,
mantêm as formas, mas deformam o tamanho de objetos;
c) Equivalentes ou isométricas: têm a propriedade de não alterar as
áreas, conservando assim, uma relação constante com as suas
correspondentes na superfície da Terra. Seja qual for a porção
representada num mapa, ela conserva a mesma relação com a
área de todo o mapa. Porém, a forma (ângulos) é deformada;
d) Afiláticas: não possui nenhuma das propriedades dos outros tipos,
isto é, equivalência, conformidade e equidistância, ou seja, as
projeções em que as áreas, os ângulos e os comprimentos não são
conservados.

Por meio da composição das diferentes características apresentadas


nestas classificações das projeções cartográficas, podemos especificar
representações cartográficas cujas propriedades atendam as nossas
necessidades em cada caso específico.
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Exercício - Sistemas de Referência e


Projeção

Acesse o link abaixo e perceba, de maneira interativa, as distorções


presentes em alguns sistemas de projeção. Mantenha pressionado a
tecla Ctrl e clique com o botão esquerdo mouse para acessar o link. No
site basta clicar com o botão esquerdo do mouse deixar pressionado e
arrastar para visualizar as distorções. Acesse.
http://cartography.oregonstate.edu/demos/AdaptiveCompositeMapProje
ctions/

Projeções mais usuais e suas características

Na Figura 5 está o resumo do processo para se chegar a uma superfície


de projeção. a) Sistema Geodésico de Referência, b) Superfície de Projeção e
c) Propriedade de deformação. Perceba que sempre existirá a necessidade de
um sistema de referência geodésico associado a um sistema de projeção. As
exceções são projetos locais onde o georreferenciamento não é relevante, como
em projetos que considerem somente as coordenadas topográficas que utilizam
um Sistema de Coordenadas Terrestres Local. Para essas situações existem
maneiras adequadas de se converter coordenadas topográficas para um sistema
de projeção que leve em conta coordenadas geocêntricos, mas não serão
abordadas neste curso. Na Tabela 2 estão apresentadas as principais projeções,
suas características e aplicações.
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Figura 5. Processo para se chegar a um sistema de projeção.

Fonte: Kaiserscience
https://kaiserscience.wordpress.com/earth-science/maps/map-projections/

Tabela 2. Principais projeções, suas classificações, características e aplicações


Projeção Classificação Características Aplicações
Albers Cônica Preserva área. Mapeamentos temáticos.
Equivalente Substitui com vantagens Mapeamento de áreas com
todas as outras cônicas extensão predominante Leste-
equivalentes Oeste
Gauss-Krüger Cilíndrica Altera área (porém Cartas topográficas
Conforme as distorções não antigas.
ultrapassam 0,5%).
Preserva os ângulos.
Estereográfica Azimutal Preserva ângulos. Mapeamento das
Polar Conforme Tem distorções de regiões polares.
escala. Mapeamento da Lua,
Marte e Mercúrio.
Lambert Cônica Preserva ângulos. Mapas temáticos.
Conforme Mapas políticos.
Cartas militares.
Cartas aeronáuticas.
Mercator Cilíndrica Preserva ângulos. Cartas náuticas.
Conforme Mapas geológicos.
Mapas magnéticos.
Mapas Mundi.
UTM Cilíndrica Preserva ângulos. Mapeamento básico em
Conforme Altera áreas (porém escalas médias e grandes.
as distorções não Cartas topográficas
ultrapassam 0,5%).
Fonte: Adaptado de D'Alge
http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/introd/cap6-cartografia.pdf

Se você tiver a curiosidade de conhecer, de uma forma interativa e visual


as projeções cartográficas e ainda compará-las. Acesse o portal Compare Map
Projections (https://map-projections.net/imglist.php). Lá você pode escolher duas
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projeções e compará-las entre si. Selecione as projeções Albers e Mercator e as


compare. Perceba as distorções no tamanho, orientação, forma etc.

Tabela 3. Comparação das projeções de Albers e Mercator.


Projeção Albers Mercator

O Criador Heinrich C. Albers (1805) Gerardus Mercator (1569)

Superfície de projeção Cônica Cilíndrica

Propriedade Área igual - Equal Area Conforme

Outros nomes Projeção cônica de área -


igual de Albers

Observações Paralelos padrão na Corte em 84 ° Norte e Sul


imagem: 10 ° e 70 ° Norte.

Link e QR Code para acesso ao portal Compare Map Projections

Acesse:
https://map-
projections.net/c
ompare.php?p1
=albers-equal-
area-
conic&p2=merc
ator-84&w=1

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