Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Ao longo da história, os mapas foram utilizados como instrumentos
de representação dos objetos que ocorrem no espaço geográfico e
de comunicação entre o elaborador do mapa e o leitor. Nesse cenário,
a cartografia se desenvolveu para aprimorar o processo de produção dos
mapas, criando concepções teóricas e técnicas para que eles pudessem
representar os fenômenos geográficos da melhor forma possível e, acima
de tudo, tornar-se um instrumento mais eficiente de comunicação.
Com a evolução tecnológica, ocorreram aprimoramentos nas formas
de produzir mapas, sobretudo com o surgimento do geoprocessamento
e dos sistemas de informação geográfica (SIGs). Os SIGs são instrumentos
capazes de analisar grandes volumes de dados, aplicar operações ma-
temáticas e estatísticas e produzir mapas. O geoprocessamento trouxe
inovações para a produção de mapas, fazendo com que ele e a cartografia
se tornassem interdependentes, visto que os produtos cartográficos
(e as suas concepções técnicas) são fontes de aquisição de dados e produ-
tos para o geoprocessamento. Apresentam-se, ainda, como instrumentos
interdisciplinares, capazes de analisar distintos dados geográficos, sob
uma abordagem integradora. Diante disso, os produtos cartográficos
se tornam fundamentais para os estudos geográficos, que envolvem
variáveis ambientais e socioeconômicas.
2 Cartografia na aquisição de dados
Sistemas de referência
Apesar de dizermos que a Terra é redonda, para representá-la, essa simples
generalização não basta, pois ela não é uma forma perfeita — possui irregu-
laridades na superfície, além de ser achatada nos polos. Segundo Fitz (2008),
a forma que mais se aproxima da Terra é a geoide, que pode ser definida como
uma superfície que coincide com o nível médio dos mares, sendo formada por
um conjunto de pontos em que a medida do potencial do campo gravitacional
da Terra, além de ser constante, possui direção perpendicular.
Diante das irregularidades no formato da Terra, foi definida uma figura
matemática capaz de representar a geoide, denominada elipsoide de revolução
(FITZ, 2008). Desse modo, a elipsoide de revolução é a superfície determinada
matematicamente que mais se aproxima da superfície real da Terra e é utilizada
nos cálculos que auxiliam na elaboração de uma representação cartográfica
(ROSA, 2004). Para compreender melhor a relação entre a superfície terrestre,
a geoide e a elipsoide, observe a Figura 1. A representação inclui três linhas:
Elipsoide
Figura 1. Linhas que representam a diferença de forma entre a superfície terrestre real e
a geoide e a elipsoide.
Fonte: Adaptada de Knippers (2009).
Apesar de o datum SIRGAS 2000 ser utilizado oficialmente no Brasil, até o ano de 2005,
era utilizado o SAD69. Com a publicação de uma resolução do IBGE no ano de 2005,
houve uma alteração do datum oficial. Apesar disso, de 2005 até 2015, passamos por
um período de transição, em que ambos poderiam ser utilizados. De 2015 em diante,
o SIRGAS 2000 se tornou o único datum utilizado nas representações cartográficas
nacionais (IBGE, 2015; IBGE, 2005). Antes disso, ainda na década de 1980, utilizava-se
o Córrego Alegre. Devido a essas mudanças ocorridas ao longo do tempo, devemos
estar sempre atentos aos sistemas de referência em que os dados estão referenciados,
pois podemos encontrar mapas com diferentes datums, dependendo da época em
que foi desenvolvido.
6 Cartografia na aquisição de dados
Escala
A escala é considerada um elemento fundamental do mapa, pois representa
o número de vezes que um objeto real foi reduzido para ser representado
graficamente. Segundo Fitz (2008, p. 19), a escala pode ser definida como “[...]
a relação ou proporção existente entre as distâncias lineares representadas
em um mapa e aquelas existentes no terreno, ou seja, na superfície real”.
Encontramos nos mapas, mais comumente, dois tipos de escala, a numérica
e a gráfica, que se diferenciam quanto à forma de representação.
A escala numérica nos remete a uma fração, em que o numerador é a dis-
tância no mapa e o denominador é a distância real. Assim, quando falamos em
uma escala de 1:1.000, isso significa dizer que 1 cm no mapa equivale a 1.000
centímetros no terreno — ou seja, 10 metros. A escala gráfica é representada
por uma linha ou uma régua, denominada talão, que possui subdivisões. Cada
talão possui um comprimento em centímetros, que corresponde a um deter-
minado comprimento no terreno, indicado de forma numérica (FITZ, 2008).
Devemos sempre pensar que a escala nos mostra o número de vezes que
um objeto real foi reduzido e que, quanto maior for essa redução (ou menor
for a escala), mais generalizado o mapa será. Além disso, um simples mapa
pode nos informar as distâncias e o tamanho dos objetos, sendo a escala o
elemento utilizado para tal definição.
Cartografia na aquisição de dados 7
Orientação
A orientação, representada por uma rosa dos ventos ou por uma seta que
aponta para o norte, também é considerada um elemento essencial de um
mapa. Por convenção, é comum que a orientação ocorra com o sul indicando
a parte inferior do mapa e o norte indicando a parte superior (FITZ, 2008).
Alguns produtos cartográficos, além de indicarem o norte geográfico,
representado por qualquer meridiano que está na direção do eixo de rotação da
Terra, também podem apresentar o norte magnético e o norte da quadrícula.
O norte magnético aponta a direção do polo norte magnético, o mesmo
indicado pelas bússolas e que não é exatamente o mesmo do norte geográfico.
Já o norte da quadrícula é frequentemente utilizado em cartas topográficas,
indicando a direção das quadrículas presentes nas cartas (Figura 2) (FITZ,
2008).
Sistemas de coordenadas
Os sistemas de coordenadas são utilizados para que possamos localizar os
objetos na superfície terrestre, seja por meio de valores angulares, como as
coordenadas esféricas, ou por meio de sistemas lineares, como as coordenadas
planas (FITZ, 2008). Conheceremos dois deles, o sistema de coordenadas geo-
gráficas e o sistema de coordenadas UTM (Universal Transversa de Mercator),
por serem os mais utilizados para localizar os elementos da superfície terrestre.
Nos sistemas de coordenadas geográficas, cada ponto da superfície ter-
restre é localizado com base na intersecção entre um meridiano e um paralelo,
por meio de latitudes e longitudes, contendo uma medida angular, em graus,
minutos e segundos (FITZ, 2008). Nesse sistema, o meridiano de origem é
o Greenwich, representado pela longitude de 0°, que varia de 0 a 180° no
sentido leste e no sentido oeste. O paralelo de origem é a linha do equador,
representada pela latitude 0° e que também subdivide a Terra nos hemisférios
Norte e Sul. Partindo do equador em direção aos polos Norte ou Sul, a latitude
varia de 0 a 90° (D’ALGE, 2001).
O sistema de coordenadas UTM se caracteriza por adotar coordenadas
métricas planas ou planas-retangulares. O globo é dividido em 60 fusos, cada
um com seis graus, partindo do antimeridiano de Greenwich. A origem do
sistema de coordenadas é o cruzamento do equador com um meridiano padrão,
conhecido por meridiano central. As coordenadas variam em metros, sendo
que é estabelecido o valor de 10.000.000 m no equador, em que a coordenada
de referência se reduz no sentido sul do equador. O meridiano central possui
um valor de 500.000 m, em que os valores são crescentes a leste e decrescentes
a oeste (FITZ, 2008). Nesse sistema, a localização precisa dos pontos é dada
pelos valores métricos das coordenadas e pela indicação do fuso ao qual está
se referindo ou a indicação do valor do seu meridiano central (FITZ, 2008).
Cartografia na aquisição de dados 9
Projeções cartográficas
As projeções cartográficas se referem às adaptações realizadas para trans-
formar uma superfície curva em uma representação geográfica plana. Desse
modo, ao elaborar um mapa, é necessário escolher um método que relacione
os pontos da superfície terrestre com os seus respectivos pontos no plano de
projeção do mapa, sendo esse o motivo pelo qual escolhemos uma projeção
cartográfica (D’ALGE, 2001). A projeção cartográfica se apoia em funções
matemáticas para realizar esse transporte dos pontos da superfície terrestre
para os mapas, embasados em diferentes figuras geométricas, que são utilizadas
como superfícies de projeção (FITZ, 2008).
Existem diversos tipos de projeções cartográficas, que são classificadas de
acordo com a metodologia utilizada, diferenciando-se em relação ao grau de
deformação, o tipo de superfície adotado, a posição da superfície de projeção,
entre outros. Por se tratar de um assunto extenso, estudaremos de forma
breve alguns desses tipos. Quanto às deformações que apresentam, as proje-
ções cartográficas são classificadas em: conformes, equivalentes, azimutais,
equidistantes e afiláticas. Podem ser classificadas também em relação ao tipo
de superfície de projeção, diferenciando-se em planas, cônicas, poliédricas e
cilíndricas. Em relação à posição da superfície da projeção, são classificadas
em equatoriais, transversas, polares e oblíquas (FITZ, 2008).
Dentre essas projeções, as que são mais comumente utilizadas, segundo o
IBGE (1999), é a de Mercator, a policônica e a cônica de Lambert.
2 Cartografia e geoprocessamento:
interdisciplinaridade e aplicações
O geoprocessamento pode ser definido como uma área de conhecimento
que utiliza matemática e técnicas computacionais para realizar o tratamento
de dados geográficos; uma das técnicas computacionais utilizadas são os
SIGs (CÂMARA; DAVIS, 2001). Já a cartografia, que surgiu muito antes do
geoprocessamento, preocupa-se em criar modelos capazes de representar os
territórios e os fenômenos que ocorrem na superfície terrestre. Desse modo,
na maioria das vezes, o produto final do geoprocessamento é uma represen-
tação cartográfica, o que demonstra a interrelação entre essas duas áreas do
conhecimento.
Leite e França (2009) afirmam que o geoprocessamento é utilizado para
se referir a todas as técnicas que promovem a correlação de informações
espaciais e a cartografia digital. Pelo fato de ter sido desenvolvido com a
contribuição de diversas ciências, como a matemática, a computação e a geo-
grafia, o geoprocessamento se configura como um instrumento interdisciplinar
(LEITE; FRANÇA, 2009). Além de ser interdisciplinar na sua criação, por
ter sido desenvolvido por diferentes áreas do conhecimento, pode-se dizer
que o geoprocessamento é considerado uma tecnologia interdisciplinar, pois
possibilita a convergência de diferentes áreas do conhecimento para estudar
fenômenos ambientais e socioeconômicos. Desse modo, podemos dizer que o
espaço é uma linguagem comum para diferentes disciplinas do conhecimento
(CÂMARA; MONTEIRO, 2001).
Assim como o próprio geoprocessamento, a cartografia também possui
uma proposta interdisciplinar, uma vez que as suas técnicas são utilizadas na
representação de diferentes tipos de dados, provenientes de diversas áreas
do conhecimento. Além disso, os produtos cartográficos não são somente
meios de representação, mas podem ser instrumentos para a resolução de
problemas. Para compreender melhor, vamos pensar no exemplo da análise
espacial, muito utilizada para resolver problemas quando se trabalha com
os SIGs. Os procedimentos da análise espacial envolvem a representação
espacial do fenômeno por meio de um mapa, de modo que se possa verificar
a distribuição geográfica do fenômeno. A partir do mapa, é observado como
o fenômeno se distribui espacialmente (se existem padrões); então, passa-se
a levantar hipóteses sobre a causa do problema. Note que, nesse processo,
a representação cartográfica (o mapa) é um dos principais instrumentos uti-
lizados para compreender o problema na análise espacial.
12 Cartografia na aquisição de dados
(a) (b)
Figura 5. (A) Imagem de satélite representando uma área agrícola. (B) A mesma imagem
classificada por um sistema de informações geográficas.
Fonte: Meneses e Sano (2012, documento on-line).
ANDERSON, P. (ed.). Princípios de cartografia básica. [S. l.: s. n.], 2004. v. 1. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2612607/mod_resource/content/1/ANDER-
SON%201982%20Principios%20de%20Cartografia%20Basica.pdf. Acesso em: 8 ago.
2020.
CÂMARA, G. et al. Anatomia de sistemas de informação geográfica. Campinas: Instituto
de Computação/UNICAMP, 1996.
Cartografia na aquisição de dados 25
CÂMARA, G.; DAVIS, C. Introdução. In: CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. (org.).
Introdução à ciência da Geoinformação. São José dos Campos, SP: INPE, 2001. cap. 1. p. 1–5.
CÂMARA, G.; MEDEIROS, J. S. Modelagem de dados em geoprocessamento. In: ASSAD,
E.D.; SANO, E. E. (org.). Sistemas de Informação Geográfica: aplicações na agricultura.
Brasília: EMBRAPA, 1998. p. 47–66.
CÂMARA, G.; MONTEIRO, A. M. V. Conceitos básicos em ciência da Geoinformação. In:
CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. (org.). Introdução à ciência da Geoinformação.
São José dos Campos, SP: INPE, 2001. cap. 2. p. 1–35.
COLAÇO, D.; BAUAB, F. P. A Geografia e a Cartografia produzidas na Antiguidade: a
contribuição dos clássicos. Revista Geografia, v. 25, n. 2, p. 60–75, 2016. Disponível
em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/geografia/article/view/23536/20550.
Acesso em: 8 ago. 2020.
D’ALGE, J. C. L. Cartografia para Geoprocessamento. In: CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MON-
TEIRO, A. M. V. (org.). Introdução à ciência da Geoinformação. São José dos Campos,
SP: INPE, 2001.
FELGUEIRAS, C. A.; CÂMARA, G. Modelagem numérica do terreno. In: CÂMARA, G.;
DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. (org.). Introdução à ciência da Geoinformação. São José
dos Campos, SP: INPE, 2001.
FITZ, P. R. Cartografia básica. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.
FLORENZANO, T. G. Imagens de satélite para estudos ambientais. São Paulo: Oficina de
Textos, 2002.
IBGE. Acesso e uso de dados geoespaciais. Rio de Janeiro: IBGE, 2019.
IBGE. Atlas do censo demográfico. Rio de Janeiro: IBGE, 2013.
IBGE. Carta topográfica de Goiânia. Rio de Janeiro: IBGE, 1980. 1 carta topográfica. Escala
1:250.000. Folha SE-22-X-B. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/geociencias/cartas-
-e-mapas/folhas-topograficas/15809-folhas-da-carta-do-brasil.html?=&t=downloads.
Acesso em: 8 ago. 2020.
IBGE. Metodologia do censo demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2016.
IBGE. Noções básicas de cartografia. Rio de Janeiro: IBGE, 1999. (Manuais Técnicos em
Geociências, 8). Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/
GEBIS%20-%20RJ/ManuaisdeGeociencias/Nocoes%20basicas%20de%20cartografia.
pdf. Acesso em: 8 ago. 2020.
IBGE. Ponto de referência, ano 1, n. 1, 2006.
IBGE. Resolução n° 01, de 24 de fevereiro de 2015. Define a data de término do período de
transição definido na RPR 01/2005 e dá outras providências sobre a transformação entre
os referenciais geodésicos adotados no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. Disponível
em: ftp://geoftp.ibge.gov.br/metodos_e_outros_documentos_de_referencia/normas/
rpr_01_2015_sirgas2000.pdf. Acesso em: 8 ago. 2020.
26 Cartografia na aquisição de dados
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.