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Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia Ciências e Letras


Departamento de Computação e Matemática

Processo 2020/11292-6:
Análise de Fourier e o comportamento
assintótico de soluções do problema de Cauchy
para Equações Diferenciais Parciais

Bolsista: Isadora Zanato Leite


Orientador: Marcelo Rempel Ebert

Ribeirão Preto
Agosto de 2021
Resumo
Este relatório é referente às atividades realizadas durante o perı́odo de Novembro de 2020
a Julho de 2021, as quais foram compostas de exposições semanais de seminários, de estudos
individuais e de discussões com o orientador e com outros membros do grupo de pesquisa.
Na primeira parte do projeto, usando como referência base [11], contemplamos o estudo da
transformada de Fourier, dando uma atenção especial ao espaço de Schwartz das funções de
decrescimento rápido, tendo em vista seu papel central na teoria moderna da transformada de
Fourier. Na segunda parte do projeto, de forma resumida, estendemos o conceito da transfor-
mada de Fourier para outros espaços e fizemos o estudo dos espaços de funções teste e dos seus
respectivos duais.
Sumário

Introdução 1

1 A transformada de Fourier em R 3
1.1 Teoria elementar da transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.1 Integração de funções em R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.2 Definição da transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1.3 O espaço de Schwartz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.1.4 A transformada de Fourier em S . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.2 A inversão de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.3 A Fórmula de Plancherel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.4 Extensão para funções de decrescimento moderado . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.5 O teorema de aproximação de Weierstrass . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

2 A transformada de Fourier em Rd 31
2.1 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1.1 Simetrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2 Integração em Rd . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.3 Teoria elementar da transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

3 A transformada de Fourier em L1 + L2 45
3.1 A Transformada de Fourier em Lp , 1 < p ≤ 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.2 O Teorema de Interpolação de Riesz-Thorin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

4 A classe de distribuições temperadas 63


4.1 Espaços de funções teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.2 Espaços de funcionais em funções teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.3 O espaço de distribuições temperadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.3.1 Teoria dos espaços de Sobolev em L2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

v
Sumário

5 Aplicações a algumas equações diferenciais parciais 79


5.1 A equação do calor dependente do tempo em R . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
5.2 A equação de onda em Rd × R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
5.2.1 Solução em termos da transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . 85
5.3 Análise do espaço de fase para modelos de onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5.3.1 O modelo de onda clássico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
5.3.2 O modelo clássico de onda amortecida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

Referências Bibliográficas 109

vi
Introdução

Este relatório tem como objetivo apresentar o conteúdo estudado ao longo dos nove
meses de iniciação cientı́fica. Resumidamente, estudamos a transformada de Fourier e, após
isso, observamos como essa teoria se aplica ao estudo de equações diferenciais parciais, em
especial, à equação do calor e à equação da onda.
O Capı́tulo 1 trata da teoria elementar da transformada de Fourier em R. Primeiramente,
estendemos a noção de integral de uma função em um intervalo compacto para funções contı́nuas
em R e mostramos que, para essa integral convergir, precisaremos considerar funções de decres-
ciemento moderado. Feito isso, definimos a transformada de Fourier para funções no conjunto
de funções de decrescimento moderado em R, o qual denotamos por M(R). Em seguida, in-
troduzimos o espaço de Schwartz em R, denotado por S(R), e estudamos a transformada de
Fourier nesse espaço. Por último, vimos alguns resultados importantes como a fórmula de
inversão de Fourier, o teorema de Plancherel e o teorema de aproximação de Weierstrass.
No Capı́tulo 2, estudamos a transformada de Fourier em Rd . Iniciamos com uma seção
de preliminares, na qual abordamos três importantes grupos de simetrias: as translações, as
dilatações e as rotações. Além disso, estudamos a integração em Rd e introduzimos coordenadas
polares em Rd de forma conveniente após analisarmos exemplos correspondentes aos casos d = 2
e d = 3. Vale destacar que também desenvolvemos resultados análogos aos do Capı́tulo 1 para
a transformada de Fourier em Rd .
No Capı́tulo 3, é feita uma extensão da definição de transformada de Fourier para espaços
p
L , com 1 < p ≤ 2. A segunda metade do capı́tulo trata de um estudo detalhado do Teorema
de Interpolação de Riesz-Thorin, assim como de resultados importantes relacionados a ele.
No Capı́tulo 4, estudamos os espaços de funções teste, dando atenção para as definições de
convergência de sequências nesses espaços. Também estudamos os espaços de funcionais lineares
contı́nuos nos conjuntos de funções teste e fornecemos uma série de exemplos para facilitar o
entendimento do assunto. Dedicamos o fim do capı́tulo para um estudo mais aprofundado do
espaço de distribuições temperadas.
Por fim, no Capı́tulo 5, aplicamos o estudo desenvolvido nos capı́tulos anteriores a algumas
equações diferenciais parciais. Primeiramente, estudamos a existência e a unicidade da equação

1
Sumário

do calor dependente do tempo em R e, em seguida, estudamos a equação de onda em Rd × R,


encontrando sua solução u em termos da transformada de Fourier e verificando que sua energia
é conservada. Na segunda parte deste capı́tulo, fizemos uma análise do espaço de fase para
modelos de onda, tendo como principal objetivo verificar o comportamento da solução na
presença de termo de dissipação.

2
Capı́tulo 1

A transformada de Fourier em R

A série de Fourier de uma função periódica associa uma sequência de números, chamados
de coeficientes de Fourier, a essa função. Por outro lado, dada uma função adequada f em R, o
objeto análogo associado a f será outra função fˆ em R, chamada de Transformada de Fourier
de f .
A grosso modo, a Transformada de Fourier é uma versão contı́nua dos coeficientes de Fourier.
Lembre que os coeficientes de Fourier de uma função periódica f são dados por

ˆ 1
an = f (x)e−2πinx dx (1.1)
0

e, de forma apropriada, temos


X
f (x) = an e2πinx . (1.2)
n=−∞

Agora, considere a seguinte analogia em que substituı́mos todos os sı́mbolos discretos (como
os inteiros e as somas) por suas contrapartes contı́nuas (como números reais e integrais). Em
outras palavras, dada uma função f em todo R, definimos a sua transformada de Fourier
alterando o domı́nio de integração [0, 1] para todo R e substituindo n ∈ Z por ξ ∈ R em (1.1),
isto é, definindo

ˆ ∞
fˆ(ξ) = f (x)e−2πixξ dx. (1.3)
−∞

Levamos nossa analogia mais adiante e consideramos a seguinte versão contı́nua de (1.2):
substituindo a soma por uma integral e an por fˆ(ξ), temos a fórmula de inversão de Fourier

ˆ ∞
f (x) = fˆ(ξ)e2πixξ dξ. (1.4)
−∞

3
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

As propriedades especiais da transformada de Fourier a tornam uma importante ferramenta


no estudo de EDP’s. Por exemplo, devemos ver como a fórmula de inversão de Fourier nos
permite analisar algumas equações que são modeladas na reta, em particular, resolvemos a
equação do calor dependente do tempo para uma barra infinita.
Nossa exposição das propriedades elementares da transformada de Fourier é estabelecida
em termos do espaço de Schwartz S. As funções em S são indefinidamente diferenciáveis e,
juntas com suas derivadas, estão decrescendo rapidamente no infinito. O estudo neste espaço
de funções nos permite chegar rapidamente às principais conclusões, formuladas de forma direta
e transparente.

1.1 Teoria elementar da transformada de Fourier


Começaremos estendendo a noção de integração para funções que são definidas em todo R.

1.1.1 Integração de funções em R


Dada a noção de integral de uma função em um intervalo fechado e limitado, a extensão
mais natural dessa definição para funções contı́nuas sobre R é:
ˆ ∞ ˆ N
f (x)dx = lim f (x)dx.
−∞ N →∞ −N

É claro que este limite pode não existir. Por exemplo, é claro que se f (x) = 1 ou até se
1
f (x) = (1+|x|)
, então o limite acima é infinito.
Um momento de reflexão sugere que o limite existirá se impormos a f um decaimento
suficiente, a medida |x| tende a infinito. Uma condição útil é a seguinte.
A função f definida em R é considerada de decrescimento moderado se f é contı́nua e
se existe uma constante A > 0 tal que
A
|f (x)| ≤
, ∀x ∈ R.
1 + x2
Essa situação diz que f é limitada e também que decai no infinito pelo menos tão rápido
1 A A
quanto x2
, desde que 1+x2
≤ x2
.
1
Por exemplo, a função f (x) = 1+|x|n
é uma função de decrescimento moderado para n ≥ 2.
Note que para n ≥ 2 e x ∈ [−1, 1]

|x|n ≤ |x|2 = x2
⇔ 1 + |x|n ≤ 1 + x2
1 1
⇔ ≥ .
1 + |x|n 1 + x2

4
1.1. Teoria elementar da transformada de Fourier

Seja 0 < B < 1/2, então

1 + |x|n ≥ 1 ≥ B(1 + x2 )
1 1
⇒ ≤ .
1 + |x|n B(1 + x2 )
Tomando A = B −1 , temos,

1 A
n
≤ .
1 + |x| 1 + x2
Para x ∈ [−1, 1]C ,

|x|n ≥ |x|2 = x2
⇔ 1 + |x|n ≥ 1 + x2
1 1 A
⇔ n
≤ 2
≤ ,
1 + |x| 1+x 1 + x2

para o A escolhido acima.


Outro exemplo é dado pela função e−a|x| , para a > 0. Note que se |x| ≤ 1, e−a|x| , para
a > 0, é limitada por 1. Por outro lado, se |x| ≥ 1,

lim x2 e−ax = 0.
x→∞

Logo, existe ε > 0 tal que


x2 e−ax ≤ ε
ε
e−ax ≤ 2 .
x
Portanto, como ambas as funções acima são contı́nuas e existe A > 0 tal que

A
|f (x)| ≤ , ∀x ∈ R,
1 + x2
temos que 1
1+|x|n
e e−a|x| são consideradas de decrescimento moderado.
Denotaremos por M(R) o conjunto das funções de decrescimento moderado em R. Sob a
adição usual de funções e multiplicação por escalar, M(R) forma um espaço vetorial sobre C.
A seguir, veremos que sempre que f pertencer a M(R), podemos definir
ˆ ∞ ˆ N
f (x)dx = lim f (x)dx (1.5)
−∞ N →∞ −N
´N
e este limite sempre existe. De fato, para cada N , a integral IN = −N
f (x)dx está bem definida
porque f é contı́nua. Agora, é suficiente mostrar que {IN } é uma sequência de Cauchy e isso
segue porque se M > N ,

5
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

ˆ M ˆ N

|IM − IN | =
f (x)dx − f (x)dx
−M −N
ˆ −N ˆ M

=
f (x)dx + f (x)dx

−M N
ˆ −N ˆ M
≤ |f (x)|dx + |f (x)|dx
−M N
ˆ −N ˆ M
1 1
≤ A 2
dx + A 2
dx
−M x N x
 −N  M
1 1
≤ A − +A −
x −M x
   N 
1 1 1 1
= A − +A −
N M N M
 
1 1
= 2A −
N M
2A
≤ −→ 0, quando N −→ ∞.
N
Observe que,
ˆ ˆ −N ˆ ∞
f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx −→ 0 se N −→ ∞.
|x|≥N
| −∞ {z } | N
{z }
−→0 se N −→∞ −→0 se N −→∞

Neste ponto, observamos que podemos substituir o expoente 2 na definição de decrescimento


moderado por 1 + ε onde ε > 0, isto é,
1
|f (x)| ≤ , ∀x ∈ R.
1 + |x|1+ε
Esta definição funcionaria muito bem para o propósito da teoria desenvolvida neste capı́tulo.
Escolhemos ε = 1 apenas por questão de conveniência.
Resumimos algumas propriedades elementares de integração sobre R em uma proposição.

Proposição 1.1.1. A integral de uma função de decrescimento moderado definida por (1.5)
satisfaz as seguintes propriedades:

(i) Linearidade: se f, g ∈ M(R) e a, b ∈ C, então


ˆ ∞ ˆ ∞ ˆ ∞
(af (x) + bg(x))dx = a f (x)dx + b g(x)dx.
−∞ −∞ −∞

(ii) Translação invariante: ∀h ∈ R, temos


ˆ ∞ ˆ ∞
f (x − h)dx = f (x)dx.
−∞ −∞

6
1.1. Teoria elementar da transformada de Fourier

(iii) Se δ > 0, então


ˆ ∞ ˆ ∞
δ f (δx)dx = f (x)dx.
−∞ −∞

(iv) Continuidade: se f ∈ M(R), então


ˆ ∞
|f (x − h) − f (x)|dx −→ 0, se h −→ 0.
−∞

Demonstração. (i)

ˆ ∞ ˆ N
(af (x) + bg(x))dx = lim (af (x) + bg(x))dx
−∞ N →∞ −N
 ˆ N ˆ N 
= lim a f (x)dx + b g(x)dx
N →∞ −N −N
ˆ N ˆ N
= lim a f (x)dx + lim b g(x)dx
N →∞ −N N →∞ −N
ˆ N ˆ N
= a lim f (x)dx + b lim g(x)dx
N →∞ −N N →∞ −N
ˆ ∞ ˆ ∞
= a f (x)dx + b g(x)dx.
−∞ −∞

(ii) Queremos mostrar que


ˆ ∞ ˆ ∞
f (x − h)dx = f (x)dx,
−∞ −∞

equivalentemente, temos

ˆ N ˆ N
lim f (x − h)dx = lim f (x)dx
N →∞ −N N →∞ −N
ˆ N ˆ N 
⇔ lim f (x − h)dx − f (x)dx = 0
N →∞ −N −N
ˆ N ˆ N
⇔ f (x − h)dx − f (x)dx −→ 0 se N −→ ∞.
−N −N

Fazendo a mudança de variáveis x − h = y, temos que

ˆ N ˆ N −h ˆ N −h
f (x − h)dx = f (y)dy =
|{z} f (x)dx.
−N −N −h −N −h
fazendo y=x

7
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

Logo,
ˆ N ˆ N



f (x − h)dx − f (x)dx
−N −N
ˆ N −h ˆ N

= f (x)dx − f (x)dx
ˆ−N −h −N
ˆ N −h   ˆ N −h  ˆ N
−N 

= f (x)dx + f (x)dx −

f (x)dx − f (x)dx
 

−N −h  
−N −N N −h
 
ˆ −N ˆ N 

= f (x)dx − f (x)dx
−N −h N −h
ˆ −N ˆ N

≤ f (x)dx + f (x)dx
−N −h N −h
ˆ −N ˆ N
≤ |f (x)|dx + |f (x)|dx
−N −h N −h
ˆ −N ˆ N
A A
≤ 2
dx + 2
dx
−N −h x N −h x
 −N  N
1 1
= A − +A −
x −N −h x N −h
1 1 1 1
= A  −A −A  +A
N
 N +h N N −h
1 1
= A −
N −h N +h
N + h − (
 N − h)
= A
(N − h)(N + h)
2hA
= −→ 0, se N −→ ∞.
N 2 − h2

(iii) Queremos mostrar que

ˆ ∞ ˆ ∞
δ f (δx)dx = f (x)dx.
−∞ −∞

De modo equivalente,

ˆ N ˆ N
lim δ f (δx)dx = lim f (x)dx ⇔
N →∞ −N N →∞ −N
 ˆ N ˆ N 
lim δ f (δx)dx − f (x)dx = 0 ⇔
N →∞ −N −N
ˆ N ˆ N
δ f (δx)dx − f (x)dx −→ 0 se N −→ ∞.
−N −N

Fazendo a mudança de variáveis δx = y, temos que

8
1.1. Teoria elementar da transformada de Fourier

ˆ N ˆ δN
dy
δ f (δx)dx = δ f (y)
−N −δN δ
ˆ δN
= f (y)dy
−δN
ˆ δN
=
|{z} f (x)dx.
−δN
f azendo y=x

Logo
ˆ N
ˆ δN
ˆ N ˆ N

δ
f (δx)dx − f (x)dx = f (x)dx − f (x)dx .
−N −N
| −δN {z −N }
(∗)

Se 0 < δ < 1

ˆ
 ˆ −δN ˆ δN  ˆ N

δN
− − −
 
(∗) = f (x)dx f (x)dx f (x)dx f (x)dx
 
 
−δN
 −N −δN
 δN
ˆ −δN ˆ N



=
f (x)dx + f (x)dx .
−N δN

Se δ ≥ 1

ˆ −N ˆ N  ˆ δN ˆ N 
 
(∗) = f (x)dx + f
(x)dx + f (x)dx − f
(x)dx
−δN

−N N

−N
ˆ −δN 
ˆ N 

= − f (x)dx − f (x)dx
−N δN
ˆ −δN ˆ N

= f (x)dx + f (x)dx .
−N δN

O que implica que

9
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

ˆ N ˆ N
ˆ −δN ˆ N

δ
f (δx)dx − f (x)dx ≤
|f (x)|dx + |f (x)|dx
−N −N −N δN
ˆ −δN ˆ N
A A
≤ dx + dx
−N x2 δN x
2
 −δN  N
1 1
= A − +A −
x −N x δN
A A A A
= − − +
δN N N δN
2A 2A
= −
δN N
2A − 2Aδ
=
δN
2A(1 − δ)
= −→ 0, se N −→ ∞.
δN

(iv)
ˆ ∞
|f (x − h) − f (x)|dx
−∞
ˆ N ˆ
= |f (x − h) − f (x)|dx + |f (x − h) − f (x)|dx
−N |x|≥N
ˆ N ˆ ˆ
≤ |f (x − h) − f (x)|dx + |f (x − h)|dx + |f (x)|dx .
−N |x|≥N |x|≥N
| {z }
(∗∗)

Dado ε > 0, existe N suficientemente grande tal que

ˆ ˆ
ε ε
|f (x)|dx ≤ e |f (x − h)|dx ≤ .
|x|≥N 4 |x|≥N 4

Agora, com N fixo, usaremos o fato de que como f é contı́nua, f é uniformemente contı́nua
em um compacto. Consequentemente, sup|x|≤N |f (x − h) − f (x)| −→ 0 se h −→ 0. Assim,
ε
podemos tomar h tão pequeno tal que o supremo é menor que 4N
. Isso implica que

ˆ N
ε ε
(∗∗) ≤ sup |f (x − h) − f (x)|dx + +
−N 4 4
ˆN
ε ε
≤ dx +
−N 4N 2
ε ε
= (N − (−N )) +
4N 2
= ε.

10
1.1. Teoria elementar da transformada de Fourier

Assim,

ˆ ∞
|f (x − h) − f (x)|dx −→ 0 se h −→ 0.
−∞

1.1.2 Definição da transformada de Fourier


Se f ∈ M(R), definiremos a Transformada de Fourier para ξ ∈ R por
ˆ ∞
fˆ(ξ) = f (x)e−2πixξ dx.
−∞

É claro que |e−2πixξ | = 1, então o integrando é de decrescimento moderado e a integral faz


sentido. Na verdade, esta última observação implica que fˆ é limitada e, além disso, podemos
mostrar que fˆ é contı́nua e tende a 0 quando |ξ| −→ ∞. Para isso, é necessário enunciar um
resultado importante.

Teorema 1.1.2 (Convergência Dominada). Seja fn uma sequência de funções contı́nuas, de-
finidas na reta, que converge localmente uniformemente para uma função f . Suponha existe
uma função real não-negativa g(x), definida na reta, tal que |fn (x)| ≤ g(x), para todos n ∈ N
´∞ ´∞
e x ∈ R, e, além disso, satisfazendo −∞ g(x)dx < ∞. Então, as integrais −∞ fn (x)dx < ∞ e
´∞
−∞
f (x)dx < ∞ existem e vale a igualdade
ˆ ∞ ˆ ∞
lim fn (x)dx = f (x)dx.
n→∞ −∞ −∞

Agora, podemos mostrar que fˆ é contı́nua. Observe que

ˆ ∞ ˆ ∞
|fˆ(ξ + h) − fˆ(ξ)| = −2πix(ξ+h) −2πixξ

f (x)e dx − f (x)e dx
ˆ−∞ −∞


f (x)e−2πixξ (e−2πixh − 1)dx .

=
−∞

Note que o termo dentro da integral converge a zero quando h −→ 0, portanto, utilizando
o teorema da convergência dominada,

|fˆ(ξ + h) − fˆ(ξ)| −→ 0 se h −→ 0.

Resta mostrar que fˆ tende a 0 quando |ξ| −→ ∞. Para isto, vamos provar que
ˆ ∞
  
1 1
fˆ(ξ) = f (x) − f x − e−2πixξ dx.
2 −∞ 2ξ

11
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

De fato,

ˆ ∞ ˆ ∞
fˆ(ξ) = f (x)e −2πixξ
dx = − −f (x)e−2πixξ dx
−∞
ˆ−∞

= − e−πi f (x)e−2πixξ dx
ˆ−∞

1
= − f (x)e−2πi(x+ 2ξ )ξ dx
ˆ−∞
∞  
1
= − f x− e−2πixξ dx,
−∞ 2ξ

o que implica que


ˆ ∞ ˆ ∞   
−2πixξ 1 1
f (x)e dx = f (x) − f x− e−2πixξ dx.
−∞ 2 −∞ 2ξ
| {z }
fˆ(ξ)

Portanto, pelo teorema da convergência dominada, fˆ −→ 0 quando |ξ| −→ ∞.


No entanto, nada na definição acima garante que fˆ é de decrescimento moderado ou tem
uma queda especı́fica. Em particular, não é claro, neste contexto, como dar sentido à integral
ˆ ∞
f (x) = fˆ(ξ)e2πixξ dx
−∞

e à fórmula de inversão de Fourier resultante. Para remediar isto, apresentaremos um espaço


de funções mais refinado considerado por Schwartz, que é muito útil para estabelecer as pro-
priedades iniciais da transformada de Fourier.
A escolha do espaço de Schwartz é motivada por um importante princı́pio que vincula o
decaimento de fˆ às propriedades de continuidade e diferenciabilidade de f (e vice-versa): quanto
mais rápido fˆ(ξ) diminui à medida que |ξ| → ∞, mais suave f deve ser.

1.1.3 O espaço de Schwartz


O espaço de Schwartz em R consiste no conjunto de todas as funções f indefinidamente
diferenciáveis tal que f e todas as derivadas f 0 , f 00 , . . . , f (l) , . . . , estão diminuindo rapidamente,
no sentido de que

sup |x|k |f (l) (x)| < ∞, ∀K, l ≥ 0.


x∈R

Denotaremos este espaço por S = S(R) e, de fato, S é espaço vetorial sobre C. Além disso,
se f ∈ S(R), temos que

12
1.1. Teoria elementar da transformada de Fourier

df
f 0 (x) = ∈ S(R) e xf (x) ∈ S(R).
dx
Isso exprime o importante fato de que o espaço de Schwartz é fechado sobre diferenciação e
multiplicação por polinômios.
Um exemplo simples de uma função em S(R) é a Gaussiana definida por

2
f (x) = e−x ,

que desempenha um papel central na teoria da transformada de Fourier, assim como em outros
campos (por exemplo, teoria da probabilidade e fı́sica). Note que

2
f 0 (x) = −2xe−x
2 2
f 00 (x) = −2e−x + (−2x)2 e−x
2 2 2
f 000 (x) = 4xe−x + 8xe−x − 8x3 e−x
..
.

2
Portanto, as derivadas de f são da forma P (x)e−x em que P é um polinômio e isso mostra
imediatamente que f ∈ S(R).
2
De fato, e−ax pertence a S(R) sempre que a > 0. Posteriormente, normalizaremos a
Gaussiana escolhendo a = π.

2
Figura 1.1: A Gaussiana e−πx .

Uma outra importante classe de funções em S(R) são as “ bump functions ”, as quais
desaparecem fora de intervalos limitados.
Por fim, note que embora e−|x| diminua rapidamente no infinito, não é diferenciável em 0 e,
portanto, não pertence a S(R).

13
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

1.1.4 A transformada de Fourier em S


A transformada de Fourier de uma função f ∈ S(R) é definida por
ˆ ∞
fˆ(ξ) = f (x)e−2πixξ dx.
−∞

Algumas propriedades simples da transformada de Fourier são reunidas na seguinte pro-


posição. Usaremos a notação f (x) −→ fˆ(ξ) para dizer que fˆ denota a transformada de Fourier
de f .

Proposição 1.1.3. Se f ∈ S(R), então

(i) f (x + h) −→ fˆ(ξ)e2πihξ sempre que h ∈ R.

(ii) f (x)e−2πixh −→ fˆ(ξ + h) sempre que h ∈ R.

(iii) f (δx) −→ δ −1 fˆ(δ −1 ξ) sempre que δ > 0.

(iv) f 0 (x) −→ 2πiξ fˆ(ξ).


d ˆ
(v) −2πixf (x) −→ dξ
f (ξ).

Demonstração. (i)
ˆ ∞
ˆ
f (ξ)e2πihξ
= e2πihξ
f (x)e−2πixξ dx
ˆ ∞ −∞
= f (x)e−2πiξ(x−h) dx
ˆ−∞

= f (x + h)e−2πixξ dx.
−∞

(ii)
ˆ ∞
fˆ(ξ + h) = f (x)e−2πix(ξ+h) dx
ˆ−∞

= f (x)e−2πixh e−2πixξ dx.
−∞

(iii)
ˆ ∞
−1 ξ
δ fˆ(δ ξ)
−1 −1
= δ −1
f (x)e−2πixδ dx
ˆ−∞∞
−1 ξ
=
|{z} δ −1 δ f (δx)e−2πiδxδ dx
−∞
(iii) da prop (1.1.1)
ˆ ∞
= f (δx)e−2πixξ dx.
−∞

14
1.1. Teoria elementar da transformada de Fourier

(iv) Integrando por partes, temos que

ˆ N ˆ N
0 −2πixξ
f (x)e dx = [f (x)e−2πixξ ]N
−N + 2πiξ f (x)e−2πixξ dx.
−N −N

Agora, note que |e−2πixξ | = 1 e |f (x)| ≤ A


xk
para todo k ∈ N e x ∈ R.

Assim,

[f (x)e−2πixξ ]N
−N −→ 0

a medida que N −→ ∞.

Logo,

ˆ ∞ ˆ ∞
0 −2πixξ
f (x)e dx = 2πiξ f (x)e−2πixξ dx,
−∞
| −∞ {z }
fˆ(ξ)

o que implica que


ˆ ∞
2πiξ fˆ(ξ) = f 0 (x)e−2πixξ dx.
−∞

(v) Para provar esta propriedade precisamos mostrar que fˆ é diferenciável e encontrar sua
derivada. Tome ε > 0 e considere

fˆ(ξ + h) − fˆ(ξ)
− (−2πixf
\ )(ξ)
hˆ ˆ ∞  ˆ ∞

1 −2πix(ξ+h) −2πixξ
= f (x)e dx − f (x)e dx − −2πixf (x)e−2πixξ dx
h −∞ −∞ −∞
ˆ ∞  −2πixh 
e −1
= f (x)e−2πixξ + 2πix dx.
−∞ h

Como f (x) e xf (x) são de decrescimento rápido, existe um inteiro N tal que
ˆ ˆ
|f (x)|dx ≤ ε e |x||f (x)|dx ≤ ε.
|x|≥N |x|≥N

Além disso, para |x| ≤ N , existe h0 tal que |h| < h0 implica

15
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

−2πixh
1 − 2πixh + (−2πixh)2 /2 + (−2πixh)3 /6 + ... − 1

e − 1
+ 2πix = + 2πix
h |{z} h
(1.1.4)
2

2 h 3 h
= −2πix
 + (−2πix)

+ (−2πix) + · · · + 2πix
 

2 6
2

(−2πix)2 h + (−2πix)3 h + . . .

= 2 6
< c(x)h
ε
< .
N
∞ n
X z z2
Observação 1.1.4. ez = =1+z+ + ...
n=0
n! 2

Consequentemente, para |h| < h0 temos


fˆ(ξ + h) − fˆ(ξ)
ˆ ∞  −2πixh 
−2πixξ e −1
− (−2πixf )(ξ) ≤
\ f (x)e + 2πix dx

h h

−∞
ˆ ∞
ε
≤ |f (x)e−2πixξ |dx
N −∞
≤ c0 ε,
´∞
em que c0 = 1
N −∞
|f (x)e−2πixξ |dx.
Logo,

dfb fˆ(ξ + h) − fˆ(ξ)


(ξ) = lim = (−2πixf
\ )(ξ)
dξ h→0 h
ˆ ∞
dfb
⇒ (ξ) = −2πixf (x)e−2πixξ dx
dξ −∞

dfb
⇒ −2πixf (x) −→ (ξ).

Teorema 1.1.5. Se f ∈ S(R), então fb ∈ S(R).

Demonstração. Note que, como f ∈ S(R) sua transformada de Fourier é limitada. Então, para
cada par de inteiros não negativos l e k, a expressão
 l
k d
ξ fb(ξ) (1.6)

16
1.1. Teoria elementar da transformada de Fourier

é limitada, visto que é a transformada de Fourier de


 k
1 d
[(−2πix)l f (x)]. (1.7)
(2πi)k dx

Assim, para concluir a prova resta mostrar que


 l ˆ ∞  k
d 1 d
ξ k
fb(ξ) = [(−2πix)l f (x)]e−2πixξ dx.
dξ (2πi)k −∞ dx

d k
Integrando por partes sendo u = e−2πixξ e dv =

dx
[(−2πix)l f (x)]dx, temos que du =
d k−1
−2πiξe−2πixξ dx e v = dx

[(−2πix)l f (x)]. Então,

ˆ k
∞ 
1 d
[(−2πix)l f (x)]e−2πixξ dx
(2πi)k −∞ dx
ˆ ∞  k−1
1 d
= k
2πiξ [(−2πix)l f (x)]e−2πixξ dx
(2πi) −∞ dx
ˆ ∞  k−2
1 d
= k
(2πiξ) 2
[(−2πix)l f (x)]e−2πixξ dx
(2πi) −∞ dx
= ... ˆ ∞
1
= k
(2πiξ)k (−2πix)l f (x)e−2πixξ dx
(2πi) −∞
ˆ ∞
= ξ k
(−2πix)l f (x)e−2πixξ dx
−∞
ˆ
l∞ 
d
= ξ k
[f (x)e−2πixξ ]dx
−∞ dξ
 l ˆ ∞ 
k d −2πixξ
= ξ f (x)e dx
dξ −∞
 l
d
= ξ k
fˆ(ξ).

A prova de que a fórmula de inversão

ˆ ∞
f (x) = fb(ξ)e2πixξ dξ para f ∈ S(R),
−∞

2
a qual será feita na próxima seção, é baseada em um estudo cuidadoso da função e−ax , a qual,
como já observamos, está em S(R) se a > 0.

17
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

A Gaussiana

Começaremos considerando o caso a = π, obtendo da normalização da função, a saber,


ˆ ∞
2
e−πx dx = 1. (1.8)
−∞

Para ver que (1.8) é verdade, usaremos a propriedade da exponencial para reduzir o cálculo
para uma integral em duas dimensões. Mais precisamente,

ˆ ∞ 2 ˆ ∞ ˆ ∞
−πx2 −πx2 2
e dx = e dx e−πy dy
−∞
ˆ ∞ˆ
−∞

−∞

−πx2 2
= e dxe−πy dy
∞ ˆ ∞
ˆ−∞ −∞
2 +y 2 )
= e−π(x dxdy
−∞ −∞
ˆ 2π ˆ ∞
2
= e−πr rdrdθ
ˆ0 ∞ ˆ 02π
2
= e−πr rdθdr
ˆ0 ∞ 0
2
= 2πre−πr dr
0
2
= [−e−πr ]∞
0 = 1,

onde resolvemos a integral em duas dimensões usando coordenadas polares.


A propriedade fundamental da Gaussiana que é de interesse para nós e que segue de (1.8)
2
é que e−πx é igual a sua transformada de Fourier.
2
Teorema 1.1.6. Se f (x) = e−πx , então fb(ξ) = f (ξ).

Demonstração. Defina
ˆ ∞
2
F (ξ) = fb(ξ) = e−πx e−2πixξ dx
−∞
e observe que F (0) = 1, pelo nosso cálculo prévio. Pela propriedade (v) da proposição (1.1.3)
e pelo fato de f 0 (x) = −2πxf (x), obtemos que

ˆ ∞
0 dfb
F (ξ) = (ξ) = −2πixf (x)e−2πixξ dx

ˆ
−∞

= i −2πxf (x) e−2πixξ dx
−∞ | {z }
f 0 (x)
ˆ ∞
= i f 0 (x)e−2πixξ dx.
−∞

18
1.1. Teoria elementar da transformada de Fourier

Pelo item (iv) da mesma proposição, vemos que

F 0 (ξ) = i(2πiξ)fb(ξ) = −2πξ fb(ξ).


2
Se definirmos G(ξ) = F (ξ)eπξ , então, pelo que vimos acima, segue que
2 2 2 2
G0 (ξ) = F 0 (ξ)eπξ + F (ξ)2πξeπξ = −2πξeπξ fb(ξ) + 2πξeπξ fb(ξ) = 0.
2
Consequentemente, G é constante. Como F (0) = 1 e G(0) = F (0)eπ0 = 1, concluı́mos que
2
G é identicamente igual a 1, portanto fb(ξ) = F (ξ) = e−πξ . Logo, fb(ξ) = f (ξ).

Algumas propriedades da transformada de Fourier sob dilatações renderá a seguinte impor-


tante lei de transformação.
2 /δ
Corolário 1.1.7. Se δ > 0 e Kδ (x) = δ −1/2 e−πx cδ (ξ) = e−πδξ2 .
, então K

Demonstração. Procederemos da mesma forma da demonstração do teorema (1.1.6).


Defina
ˆ ∞ ˆ ∞
−2πixξ 2 /δ
F (ξ) = K
cδ (ξ) = Kδ (x)e dx = δ −1/2 e−πx e−2πixξ dx.
−∞ −∞

Agora, note que


ˆ ∞ ˆ ∞ √
−1/2 −πx2 /δ 1 2
F (0) = δ e dx |{z}
= √ e−πy δdy = 1.
√ −∞  δ
−∞

y=x/ δ

−2πx 2 /δ
Pela propriedade (v) da Proposição (1.1.3) e pelo fato de que Kδ0 (x) = √1 e−πx

δ δ
=
−2πx

δ
Kδ (x), obtemos que

ˆ ∞
0 dK

F (ξ) = (ξ) = −2πixKδ (x)e−2πixξ dx

ˆ
−∞

= i −2πxKδ (x)e−2πixξ dx
ˆ−∞
∞  
−2πx
= i δ Kδ (x)e−2πixξ dx
δ
ˆ−∞

= i δKδ0 (x)e−2πixξ dx.

Pelo item (iv) da mesma proposição, vemos que

F 0 (ξ) = iδ2πiξ K
cδ (ξ) = −2πξδ K
cδ (ξ).

19
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

2
Se definirmos G(ξ) = F (ξ)eπδξ , então

2 2
G0 (ξ) = F 0 (ξ)eπδξ + F (ξ)2πδξeπδξ
cδ (ξ)eπδξ2 + 2πδξ K
= −2πδξ K cδ (ξ)eπδξ2

= 0.

Logo, G é constante e, como F (0) = 1, temos que


2
G(0) = F (0)eπδ0 = 1.

Portanto, G é identicamente igual a 1 e, assim,


cδ (ξ) = F (ξ) = e−πδξ2
K

isto é,
cδ (ξ) = e−πδξ2 ,
K
como querı́amos mostrar.

Definição 1.1.8. Uma famı́lia de núcleos {Kδ }δ>0 é dita ser uma famı́lia de núcleos bons se
satisfaz as seguintes propriedades:
(i) Para todo δ > 0, ˆ ∞
Kδ (x)dx = 1.
−∞

(ii) Existe M > 0 tal que, para todo δ > 0,


ˆ ∞
|Kδ (x)|dx ≤ M.
−∞

(iii) Para todo η > 0, ˆ


|Kδ (x)|dx −→ 0
|x|>η
quando δ −→ 0.
Teorema 1.1.9. A coleção {Kδ }δ>0 é uma famı́lia de núcleos bons quando δ −→ 0.
Demonstração. (i) Fazendo a mudança de variáveis y = √x ,
δ

ˆ ∞ ˆ ∞
2 /δ
Kδ (x)dx = δ −1/2 e−πx dx
−∞
ˆ−∞
∞ √
1 2
= √ e−πy  δdy
ˆ−∞  δ


2
= e−πy dy |{z}
= 1.
−∞
(1.8)

20
1.1. Teoria elementar da transformada de Fourier

(ii) Note que Kδ (x) ∈ S(R) e, além disso, Kδ (x) ≥ 0. Assim |Kδ (x)| = Kδ (x) e
ˆ ∞
|Kδ (x)|dx ≤ M.
−∞

(iii) Fazendo a mudança de variáveis y = √x ,


δ

ˆ ˆ
2 /δ
|Kδ (x)|dx = δ −1/2 e−πx dx
|x|>η |x|>η
ˆ −η ˆ ∞
−1/2 −πx2 /δ 2 /δ
= δ e dx + δ −1/2 e−πx dx
−∞ η
ˆ √ ˆ ∞
1 −πy2 √
−η/ δ
1 2

= √ e  δdy + √ √ e−πy δdy
δ η/ δ  δ
−∞
 
ˆ −η/√δ ˆ ∞
−πy 2 2
= e dy + √
e−πy dy
ˆ−∞ η/ δ
2
= √
e−πy dy −→ 0
|y|>η/ δ

quando δ −→ 0.

Em seguida, aplicamos esses núcleos bons por meio da operação de convolução, que é dada
como segue. Se f, g ∈ S(R), sua convolução é definida por

ˆ ∞
(f ∗ g)(x) = f (x − t)g(t)dt. (1.9)
−∞

Para um valor fixo de x, a função f (x − t)g(t) possui um rápido decrescimento em t.


Consequentemente, a integral converge.

Corolário 1.1.10. Se f ∈ S(R), então (f ∗ Kδ )(x) −→ f (x) uniformemente em x quando


δ −→ 0.

Demonstração. Primeiro, afirmamos que f é uniformemente contı́nua em R. De fato, dado


ε
ε > 0 existe R > 0 tal que |f (x)| < 4
sempre que |x| ≥ R. Além disso, f é contı́nua, portanto,
uniformemente contı́nua no intervalo compacto [−R, R], e junto com a observação anterior,
podemos encontrar η > 0 de modo que |f (x) − f (y)| < ε sempre que |x − y| < η.
Agora, usando a primeira propriedade de núcleos bons, podemos escrever

21
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

ˆ ∞ ˆ ∞
(f ∗ Kδ )(x) − f (x) = f (x − t)Kδ (t)dt − f (x) Kδ (t)dt
−∞ −∞
| {z }
ˆ ∞ ˆ ∞
=1

= f (x − t)Kδ (t)dt − Kδ (t)f (x)dt


ˆ−∞

−∞

= Kδ (t)[f (x − t) − f (x)]dt
−∞

e, como Kδ ≥ 0, encontramos

ˆ ∞
|(f ∗ Kδ )(x) − f (x)| ≤ Kδ (t)|f (x − t) − f (x)|dt
ˆ −∞
ˆ
= Kδ (t)|f (x − t) − f (x)|dt + Kδ (t)|f (x − t) − f (x)|dt .
|t|>η |t|≤η
| {z } | {z }
(I) (II)

Agora, note que f é limitada, pois f ∈ S(R). Assim, existe L > 0 tal que

|f (x − t) − f (x)| ≤ |f (x − t)| + |f (x)| < L.

Então ˆ
(I) < L Kδ (t)dt −→ 0
|t|>η

quando δ −→ 0, pela propriedade (iii) de núcleos bons.


Observe que se |t| = |(x − t) − x| < η então |f (x − t) − f (x)| < ε. Logo
ˆ ˆ ∞
(II) ≤ ε Kδ (t)dt ≤ ε Kδ (t)dt = ε.
|t|≤η −∞
| {z }
=1

Portanto, (f ∗ Kδ )(x) −→ f (x) uniformente em x quando δ −→ 0.

1.2 A inversão de Fourier


O próximo resultado é uma identidade às vezes chamada de fórmula de multiplicação.

Proposição 1.2.1. Se f, g ∈ S(R), então


ˆ ∞ ˆ ∞
f (x)b
g (x)dx = fb(y)g(y)dy.
−∞ −∞

22
1.2. A inversão de Fourier

Para provar a proposição, precisamos fazer uma breve digressão para discutir o intercâmbio
da ordem de integração para integrais duplas. Suponha que F (x, y) é uma função contı́nua no
plano (x, y) ∈ R2 . Vamos assumir a seguinte condição de decaimento em F :

A
|F (x, y)| ≤ .
(1 + x2 )(1 + y2)
Então, podemos afirmar que para cada x a função F (x, y) é de decrescimento moderado
em y e, da mesma forma, para cada y fixo, a função F (x, y) é decrescimento moderado em
´∞
x. Além disso, a função F1 (x) = −∞ F (x, y)dy é contı́nua e de decrescimento moderado. O
´∞
mesmo ocorre para a função F2 (y) = −∞ F (x, y)dx. Finalmente,
ˆ ∞ ˆ ∞
F1 (x)dx = F2 (y)dy.
−∞ −∞

A prova desse fato pode ser encontrada no apêndice de [11].


Agora, aplicaremos isso a F (x, y) = f (x)g(y)e−2πixy . Então,

ˆ ∞ ˆ ∞
F1 (x) = F (x, y)dy = f (x)g(y)e−2πixy dy = f (x)b
g (x)
ˆ−∞
∞ ˆ−∞

F2 (y) = F (x, y)dx = f (x)g(y)e−2πixy dx = fb(y)g(y).
−∞ −∞

Logo, ˆ ˆ
∞ ∞
f (x)b
g (x)dx = fb(y)g(y)dy
−∞ −∞

que é a afirmação da proposição.


A fórmula de multiplicação e o fato de que a Gaussiana é sua própria transformada de
Fourier leva a uma prova do primeiro teorema principal.

Teorema 1.2.2 (Inversão de Fourier). Se f ∈ S(R), então


ˆ ∞
f (x) = fb(ξ)e2πixξ dξ.
−∞

Demonstração. Primeiro, afirmamos que


ˆ ∞
f (0) = fb(ξ)dξ.
−∞

2
Seja Gδ (x) = e−πδx então G
cδ (ξ) = Kδ (ξ). Pela fórmula de multiplicação, obtemos

ˆ ∞ ˆ ∞
f (x)Kδ (x)dx = fˆ(ξ)Gδ (ξ)dξ.
−∞ −∞

Observe que

23
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

ˆ ∞ ˆ ∞
2 /δ
f (x)Kδ (x)dx = f (x)δ −1/2 e−πx dx
−∞
ˆ−∞
∞ √ √
1 2
= f ( δy) √ e−πy  δdy

|{z}
√ 
−∞
y=x/ δ
ˆ ∞ √
2
= f ( δy)e−πy dy.
−∞

Pelo Teorema da Convergência Dominada

ˆ ∞ √ ˆ ∞ √ 
−πy 2 2
lim f ( δy)e dy = lim f ( δy)e−πy dy
δ→0 −∞ δ→0
−∞
ˆ ∞
2
= f (0) e−πy dy = f (0).
| −∞ {z }
=1

Além disso,

ˆ ∞ ˆ ∞
2
lim fb(ξ)Gδ (ξ)dξ = lim fb(ξ)e−πδξ dξ
δ→0 δ→0
−∞
ˆ ∞ −∞
2
= fb(ξ) lim e−πδξ dξ
|{z}
−∞ δ→0
Teo. Convergência Dominada | {z }
ˆ ∞ =1

= fb(ξ)dξ.
−∞

O que implica que ˆ ∞


f (0) = fb(ξ)dξ.
−∞

Tomando F (y) = f (y + x), temos que


ˆ ∞ ˆ ∞
f (x) = F (0) = Fb(ξ)dξ =
|{z} fb(ξ)e2πixξ dξ.
−∞ −∞
item (i) da Prop (1.1.3)

Como o nome do Teorema (1.2.2) sugere, ele fornece uma fórmula que inverte a transformada
de Fourier. Na verdade, vemos que a transformada de Fourier é a própria inversa, exceto pela
mudança de x para −x. Mais precisamente, podemos definir dois mapeamentos F : S(R) −→
S(R) e F ∗ : S(R) −→ S(R) por
ˆ ∞ ˆ ∞
−2πixξ ∗
F(f )(ξ) = f (x)e dx e F (g)(x) = g(ξ)e2πixξ dξ.
−∞ −∞

24
1.3. A Fórmula de Plancherel

Assim, F é a transformada de Fourier, e o Teorema (1.2.2) garante que F ∗ ◦ F = I em


S(R), onde I é o mapeamento identidade. Além disso, como as definições de F e F ∗ diferem
apenas por um sinal na exponencial, vemos que F(f )(y) = F ∗ (f )(−y), então também temos
F ◦ F ∗ = I. Como consequência, concluı́mos que F ∗ é o inverso da transformada de Fourier
em S(R) e obtemos o seguinte resultado.

Corolário 1.2.3. A Transformada de Fourier é um mapeamento bijetivo no espaço de Schwartz.

1.3 A Fórmula de Plancherel

Precisamos de mais alguns resultados sobre as convoluções das funções de Schwartz.

Proposição 1.3.1. Se f, g ∈ S(R), então:

(i) f ∗ g ∈ S(R).

(ii) f ∗ g = g ∗ f .

\
(iii) (f ∗ g)(ξ) = fb(ξ)bg(ξ).

Demonstração. (i) Para provar que f ∗ g está decrescendo rapidamente, observe primeiro
que, para todo l ≥ 0, temos que

sup |x|l |g(x − y)| ≤ Cl (1 + |y|)l , (1.10)


x

porque g decresce rapidamente. Para verificar esta afirmação, note que

25
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

|x|l |g(x − y)| = (|x| − |y| + |y|)l |g(x − y)|


≤ (|x − y| + |y|)l |g(x − y)|
|{z}
|x|−|y|≤|x−y|
l  
!
X l
= |x − y|l−k |y|k |g(x − y)|
k=0
k
l
X l
= |x − y|l−k |g(x − y)||y|k
k=0
k
l
X
≤ Cl,k |y|k
|{z}
g∈S(R) k=0

l
X
=
|{z} Cl |y|k
Cl = max Cl,k k=0
k=1,...,l

≤ Cl (1 + |y|)l .

A partir disso, vemos que

|f (y)| sup |x|l |g(x − y)| ≤ |f (y)|Cl (1 + |y|)l


ˆ ∞ x
ˆ ∞
l
⇒ sup |x| |f (y)g(x − y)|dy ≤ Cl |f (y)|(1 + |y|)l dy
−∞ x
ˆ ∞ ˆ−∞

l
⇒ sup |x| |f (y)g(x − y)|dy ≤ Cl |f (y)|(1 + |y|)l dy
x −∞
ˆ−∞

⇒ sup |x (f ∗ g)(x)| ≤ Cl
l
|f (y)|(1 + |y|)l dy
x −∞

então, xl (f ∗ g)(x) é uma função limitada para todo l ≥ 0. Essas estimativas são trans-
portadas para as derivadas e f ∗ g, porque

 k  k !
d d
(f ∗ g)(x) = f∗ g (x), para k = 1, 2, . . .
dx dx

d k

Como f ∈ S(R) e dx g ∈ S(R), pois
g ∈ S(R), temos que para todos k, l ≥ 0,
d k l d k
supx |x| f ∗ dx g (x) = supx |x| dx (f ∗ g)(x) < ∞. Portanto, f ∗ g ∈ S(R).
l


(ii) Para um x fixo, considere

26
1.3. A Fórmula de Plancherel

ˆ ∞
(f ∗ g)(x) = f (x − t)g(t)dt
−∞
ˆ −∞
=
|{z} −f (u)g(x − u)du
x−t=u ∞
ˆ ∞
= f (u)g(x − u)du
−∞
= (g ∗ f )(x).

(iii) Note que

ˆ ∞
∗ g)(ξ) =
(f[ (f ∗ g)(x)e−2πixξ dx
ˆ−∞
∞ ˆ ∞
= f (x − t)g(t)dte−2πixξ dx
ˆ ∞ˆ ∞
−∞ −∞

= f (x − t)g(t)e−2πixξ dtdx
ˆ−∞
∞ ˆ ∞
−∞

= f (x − t)g(t)e−2πixξ dxdt
ˆ−∞
∞ ˆ ∞
−∞

= f (x − t)g(t)e−2πi(x−t)ξ e−2πitξ dxdt


ˆ−∞

−∞
ˆ ∞
−2πitξ
= g(t)e f (x − t)e−2πi(x−t)ξ dxdt
ˆ−∞
∞ ˆ−∞∞
= g(t)e−2πitξ f (x)e−2πixξ dxdt
ˆ−∞
∞ ˆ ∞
−∞

−2πitξ
= g(t)e dt f (x)e−2πixξ dx
−∞ −∞

= gb(ξ)fb(ξ).

Agora, usaremos as propriedades das convoluções das funções de Schwartz para o provar o
principal resultado desta seção.
O espaço de Schwartz pode ser equipado com um produto interno Hermitiano
ˆ ∞
(f, g) = f (x)g(x)dx,
−∞
cuja norma associada é
ˆ ∞ 1/2
2
||f || = |f (x)| dx .
−∞

27
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

O segundo teorema principal da teoria afirma que a transformada de Fourier é uma trans-
formação unitária em S(R).

Teorema 1.3.2 (Plancherel). Se f ∈ S(R) então ||fb|| = ||f ||.

Demonstração. Se f ∈ S(R), defina f b (x) = f (−x). Então,

ˆ ∞
bb
f (ξ) = f b (x)e−2πixξ dx
ˆ−∞

= f (−x)e−2πixξ dx
ˆ−∞

= f (−x)e2πixξ dx
ˆ−∞

= f (y)e−2πiyξ dy
−∞

= fb(ξ).

Tomando h = f ∗ f b , temos que


ˆ ∞ ˆ ∞
h(0) = (f ∗ f )(0) =
b b
f (y)f (0 − y)dy = f (y)f b (−y)dy
−∞
ˆ ∞ ˆ−∞

= f (y)f (y)dy = |f (y)|2 dy.
−∞ −∞

Mas, pela fórmula de inversão de Fourier,

ˆ ∞
h(x) = h(ξ)e2πixξ dξ
b
ˆ−∞

= ∗ f b(ξ)e2πixξ dξ
f\
ˆ−∞

= fb(ξ)fbb (ξ)e2πixξ dξ
ˆ−∞

= fb(ξ)fb(ξ)e2πixξ dξ
ˆ−∞

= |fb(ξ)|2 e2πixξ dξ,
−∞

o que implica que


ˆ ∞
h(0) = |fb(ξ)|2 dξ.
−∞

Logo,

28
1.4. Extensão para funções de decrescimento moderado

ˆ ∞ ˆ ∞
|fb(ξ)|2 dξ = |f (y)|2 dy
−∞ −∞
ˆ ∞ 1/2 ˆ ∞ 1/2
⇒ |fb(ξ)|2 dξ = 2
|f (y)| dy
−∞ −∞

⇒ ||fb|| = ||f ||.

1.4 Extensão para funções de decrescimento moderado


Nas seções anteriores, limitamos nossa afirmação das fórmulas de inversão de Fourier e
Plancherel para o caso em que a função envolvida pertencia ao espaço de Schwartz. Para
estender esses resultados para funções de decrescimento moderado precisaremos fazer uma
suposição adicional de que a transformada de Fourier da função sob consideração também é
de decrescimento moderado. A observação principal é que a convolução f ∗ g de duas funções
f e g de decrescimento moderado é de decrescimento moderado. Além disso, f[ ∗ g = fbgb.
Assim, deduzimos as fórmulas de inversão de Fourier e Plancherel quando f e fb são ambas de
diminuição moderada.
Essa generalização será útil em algumas circunstâncias.

1.5 O teorema de aproximação de Weierstrass


Agora, faremos uma breve digressão explorando ainda mais nossos bons kernels para provar
o teorema de aproximação de Weierstrass.

Teorema 1.5.1. Seja f uma função contı́nua no intervalo fechado e limitado [a, b] ⊂ R. Então,
para todo ε > 0, existe um polinômio P tal que

sup |f (x) − P (x)| < ε.


x∈[a,b]

Em outras palavras, f pode ser aproximada uniformemente por polinômios.

Demonstração. Seja [−M, M ] qualquer intervalo que contenha [a, b] em seu interior, e seja g
uma função contı́nua em R igual a 0 fora de [−M, M ] e igual a f em [a, b]. Por exemplo, estenda
f da seguinte forma: de b a M , defina g por um seguimento de linha reta indo de f (b) a 0 e de
a a −M por um segmento de linha reta de f (a) também a 0. Considere B um limite para g,
isto é, |g(x)| ≤ B para todos os x. Então, uma vez que {Kδ } é uma famı́lia de núcleos bons e

29
Capı́tulo 1. A transformada de Fourier em R

g é contı́nua com suporte compacto, podemos argumentar como na prova do Corolário (1.1.10)
para ver que g ∗ Kδ converge uniformemente para g quando δ tende a 0. De fato, escolhemos
δ0 tal que

|g(x) − (g ∗ Kδ0 )(x)| < ε/2, ∀x ∈ R.



X xn
Agora, lembramos que ex é dado pela expansão da série de potências ex = que
n=0
n!
converge uniformemente em cada intervalo compacto de R. Portanto existe um número inteiro
N para que

ε
|Kδ0 (x) − R(x)| ≤ , ∀x ∈ [−2M, 2M ]
4M B
N
−1/2
X (−πx2 /δ0 )n
onde R(x) = δ0 . Então, lembrando que g desaparece fora do intervalo
n=0
n!
[−M, M ], temos que ∀x ∈ [−M, M ]

ˆ M
|(g ∗ Kδ0 )(x) − (g ∗ R)(x)| =

g(t)[Kδ0 (x − t) − R(x − t)]dt
−M
ˆ M
≤ |g(t)||Kδ0 (x − t) − R(x − t)|dt
−M
= 2M B sup |Kδ0 (z) − R(z)|
z∈[−2M,2M ]
ε ε
= 2M B = .
4M B 2
Portanto, a desigualdade triangular implica que |g(x) − (g ∗ R)(x)| < ε sempre que x ∈
[−M, M ], portanto |f (x) − (g ∗ R)(x)| < ε quando x ∈ [a, b].
Finalmente, note que g ∗ R é um polinômio na variável x. Na verdade, por definição, temos
´M
(g ∗ R)(x) = −M g(t)R(x − t)dt, e R(x − t) é um polinômio em x, uma vez que pode ser
X
expresso, após várias expansões como R(x − t) = an (t)xn onde a soma é finita.
n

30
Capı́tulo 2

A transformada de Fourier em Rd

O capı́tulo anterior introduziu a teoria de transformada de Fourier em R e ilustrou algumas


de suas aplicações a equações diferenciais parciais. Aqui, nosso objetivo é apresentar uma teoria
análoga para funções de várias variáveis.
Após uma breve revisão de algumas noções relevantes em Rd , começamos com alguns fatos
gerais sobre a transformada de Fourier no espaço de Schwartz S(Rd ). Felizmente, as principais
ideias e técnicas já foram consideradas no caso unidimensional. Na verdade, com a notação
apropriada, as afirmações e provas dos teoremas chave, como a inversão de Fourier e as fórmulas
de Plancherel, permanecem inalteradas.
Por fim, destacamos a conexão com alguns problemas de dimensões superior em fı́sica ma-
temática e, em particular, investigamos a equação da onda em d dimensões.

2.1 Preliminares
O centro da discussão deste capı́tulo é o Rd , o espaço vetorial de todas as d − uplas de
números reais (x1 , . . . , xd ), com xi ∈ R. A adição de vetores é componente a componente,
assim como a multiplicação por escalares reais. Dado x = (x1 , . . . , xd ) ∈ Rd , definimos
q
|x| = x21 + · · · + x2d ,
de modo que |x| é simplesmente o comprimento do vetor x dado pela norma euclidiana usual.
Na verdade, equipamos o Rd com o produto interno padrão definido por

xy = x1 y1 + · · · + xd yd ,
de modo que |x|2 = x · x.
Dada uma d-upla α = (α1 , . . . , αd ) de inteiros não negativos (às vezes chamada de multi-
ı́ndice), o monômio xα é definido por

31
Capı́tulo 2. A transformada de Fourier em Rd

xα = xα1 1 · xα2 2 . . . xαd d .


∂ α

Similarmente, definimos o operador diferencial ∂x por
α α1   α2 αd
∂ |α|
  
∂ ∂ ∂ ∂
= ... =
∂x ∂x1 ∂x2 ∂xd ∂xα1 1 . . . ∂xαd d
onde |α| = α1 + · · · + αd é a ordem do multi-ı́ndice α.

2.1.1 Simetrias
A análise em Rd e, em particular, a teoria da transformada de Fourier, é moldada por três
grupos importantes de simetrias do espaço subjacente

(i) Translações;

(ii) Dilatações;

(iii) Rotações.

Vimos que as translações x 7→ x + h, com h ∈ Rd , e as dilatações x 7→ δx, com δ > 0,


desempenham um papel importante na teoria unidimensional. Em R, as únicas duas rotações
são a identidade e a multiplicação por −1. No entanto, em Rd , com d ≥ 2, há mais rotações e
a compreensão da interação entre a transformada de Fourier e as rotações levam a percepções
produtivas com relação às simetrias esféricas.
A rotação em Rd é uma transformação linear R : Rd → Rd a qual preserva o produto interno.
Em outras palavras,

• R(ax + by) = aR(x) + bR(y), ∀x, y ∈ Rd e a, b ∈ R.

• R(x)R(y) = x · y, ∀x, y ∈ Rd .

Equivalentemente, esta última condição pode ser substituı́da por |R(x)| = |x| para todo
x ∈ Rd , ou Rt = R−1 onde Rt e R−1 denotam a transposta e a inversa de R, respectivamente.
Em particular, temos det(R) = ±1, onde det(R) é o determinante de R. Se det(R) = 1 dizemos
que R é uma rotação própria; caso contrário, dizemos que R é uma rotação imprópria.

Exemplo 2.1.1. Em R existem duas rotações: a identidade, a qual é própria, e a multiplicação


por −1, que é imprópria.

Exemplo 2.1.2. As rotações no plano R2 podem ser descritas em termos de números comple-
xos. Nós identificamos R2 com C atribuindo o ponto (x, y) ao número complexo z = x + iy.
Além disso, seja θ o argumento de z, podemos escrever z = |z|(cos(θ) + i sin(θ)).

32
2.2. Integração em Rd

Sob estas identificação, as rotações próprias são da forma z 7→ zeiϕ , para algum ϕ ∈ R, pois
eiϕ = cos(ϕ) + i sin(ϕ) e
zeiϕ = |z|(cos(θ + ϕ) + i sin(θ + ϕ)).

Ademais, as rotações impróprias são da forma 7→ zeiϕ para algum ϕ ∈ R, onde z = x − iy


denota o conjugado de z, pois z = |z|(cos(−θ) + i sin(−θ)) e

zeiϕ = |z|(cos(ϕ − θ) + i sin(ϕ − θ)).

Exemplo 2.1.3. Euler deu a seguinte descrição geométrica para rotações em R3 . Dada uma
rotação própria R, existe um vetor unitário γ tal que

(i) R fixa γ, isto é, R(γ) = γ;

(ii) Se P denota o plano que passa pela origem e que é perpendicular a γ, então R : P → P
e a restrição de R para P é uma rotação em R2 . Geometricamente, o vetor γ fornece a
direção do eixo de rotação. Finalmente, se R é imprópria, então −R é própria (pois em
R3 det(−R) = − det(R)), então R é a composição de uma rotação própria e uma simetria
com respeito à origem.

Exemplo 2.1.4. Dadas duas bases ortonormais {e1 , . . . , ed } e {e01 , . . . , e0d } em Rd , podemos
definir a rotação R por R(ei ) = e0i para i = 1, . . . , d. Por outro lado, se R é uma rotação e
{e1 , . . . , ed } é uma base ortonormal, então {e01 , . . . , e0d }, onde e0j = R(ej ), é outra base ortonor-
mal.

2.2 Integração em Rd
Uma vez que estaremos lidando com funções em Rd , vamos precisar discutir alguns aspectos
da integração de tais funções.
Uma função contı́nua f : Rd → C é dita de decrescimento rápido se, para cada multi-ı́ndice
α, a função |xα f (x)| é limitada. Equivalentemente, uma função contı́nua é de decrescimento
rápido se

sup |x|k |f (x)| < ∞, para cada k = 0, 1, 2, . . .


x∈Rd

Dada uma função de decrescimento rápido, definimos


ˆ ˆ
f (x)dx = lim f (x)dx,
Rd N →∞ QN

33
Capı́tulo 2. A transformada de Fourier em Rd

onde QN denota o cubo fechado centrado na origem com lados de comprimento N paralelos
aos eixos das coordenadas, ou seja,
 
d N
QN = x ∈ R : |xi | ≤ , para i = 1, 2, . . . , d .
2

A integral sobre QN é uma integral mútipla no sentido usual da integral de Riemann. Que
´
o limite existe decorre do fato de que as integrais IN = QN f (x)dx formam uma sequência de
Cauchy a medida que N vai para infinito.
Precisamos fazer algumas observações. Primeiro, podemos substituir o quadrado QN pela
bola BN = {x ∈ Rd : |x| ≤ N } sem alterar a definição. Em segundo lugar, não precisamos de
toda a força do decrescimento rápido para mostrar que o limite existe. Na verdade, é suficiente
assumir que f é contı́nua e

sup |x|d+ε |f (x)| < ∞


x∈Rd

para algum ε > 0.


Por exemplo, funções de decrescimento moderado em R correspondem a ε = 1. De acordo
com isso, definimos funções de decrescimento moderado em Rd como aquelas que são contı́nuas
e satisfazem a desigualdade acima com ε = 1.
A interação da integração com os três grupos importantes de simetrias é que se f é de
decrescimento moderado, então
´ ´
(i) Rd
f (x + h)dx = Rd
f (x)dx, ∀h ∈ Rd .
´ ´
(ii) δ d Rd
f (δx)dx = Rd
f (x)dx, ∀δ > 0.
´ ´
(iii) Rd
f (R(x))dx = Rd
f (x)dx, para toda rotação R.

Coordenadas Polares

Será conveniente introduzir coordenadas polares em Rd e encontrar a fórmula de integração


correspondente. Começaremos com dois exemplos que correspodem aos casos d = 2 e d = 3.

Exemplo 2.2.1. Em R2 , as coordenadas polares são dadas por (r, θ), com r ≥ 0 e 0 ≤ θ ≤ 2π.
O Jacobiano da mudança de variáveis é igual a r, de modo que
ˆ ˆ 2π ˆ ∞
f (x)dx = f (r cos(θ), r sin(θ))rdrdθ.
R2 0 0

Agora, podemos escrever um ponto no cı́rculo unitário S 1 como γ = (cos(θ), sin(θ)) e dada
uma função g no cı́rculo, definimos sua integral sobre S 1 por

34
2.2. Integração em Rd

ˆ ˆ 2π
g(γ)dσ(γ) = g(cos(θ), sin(θ))dθ.
S1 0

Com essa notação, temos então que

ˆ ˆ ∞ ˆ 2π
f (x)dx = f (r cos(θ), r sin(θ))rdθdr
R2
ˆ 0

0
ˆ
= r f (rγ)dσ(γ)dr
ˆ 0
ˆ ∞S1

= f (rγ)rdrdσ(γ).
S1 0

Exemplo 2.2.2. Em R3 , usamos coordenadas esféricas dadas por



 x1 = r sin(θ) cos(ϕ)


x2 = r sin(θ) sin(ϕ)


 x = r cos(θ)
3

em que 0 < r, 0 ≤ θ ≤ π e 0 ≤ ϕ ≤ 2π. O Jacobiano da mudança de variáveis é r2 sin(θ), então

ˆ ˆ 2π ˆ π ˆ ∞
f (x)dx = f (r sin(θ) cos(ϕ), r sin(θ) sin(ϕ), r cos(θ))r2 dr sin(θ)dθdϕ.
R3 0 0 0

Se g é uma função na esfera unitária S 2 = {x ∈ R3 : |x| = 1}, e


γ = (sin(θ) cos(ϕ), sin(θ) sin(ϕ), cos(θ)), definimos o elemento de superfı́cie dσ(γ) por
ˆ ˆ 2π ˆ π
g(γ)dσ(γ) = g(γ) sin(θ)dθdϕ.
S2 0 0

Como resultado,
ˆ ˆ ˆ ∞
f (x)dx = f (rγ)r2 drdσ(γ).
R3 S2 0

Em geral, é possı́vel escrever qualquer ponto em Rd − {0} unicamente como

x = rγ,

x
onde γ encontra-se na esfera unitária S d−1 ⊂ Rd e r > 0. De fato, tome r = |x| e γ = |x|
.
Assim, pode-se proceder como nos casos d = 2 ou d = 3 para definir coordenadas esféricas. A
fórmula que devemos usar é
ˆ ˆ ˆ ∞
f (x)dx = f (rγ)rd−1 drdσ(γ),
Rd S d−1 0

35
Capı́tulo 2. A transformada de Fourier em Rd

sempre que f é de decrescimento moderado. Aqui, dσ(γ) denota o elemento de superfı́cie na


esfera S d−1 , obtido pelas coordenadas esféricas.
Agora, vamos utilizar a fórmula acima para provar algumas propriedades descritas anteri-
ormente,

(i) ˆ ˆ ˆ ˆ

d−1
f (x + h)dx = f (rγ)r drdσ(γ) = f (x)dx
Rd S d−1 0 Rd

pois x + h ∈ Rd e pode ser representado na forma x + h = rγ.

ds
(ii) Abaixo, utilizaremos a mudança de variáveis δr = s. Isso implica que dr = δ
e que
(δr)d−1 = sd−1 , portanto
ˆ ˆ ˆ ∞
d d
δ f (δx)dx = δ f (δrγ)rd−1 drdσ(γ)
ˆ S ˆ ∞0
Rd d−1

ds
= f (sγ)sd−1 δ dσ(γ)
δ
ˆS ˆ0 ∞
d−1

= f (sγ)sd−1 dsdσ(γ)
ˆS
d−1 0

= f (x)dx.
Rd

(iii) ˆ ˆ ˆ ˆ

d−1
f (R(x))dx = f (rγ)r drdσ(γ) = f (x)dx.
Rd S d−1 0 Rd

2.3 Teoria elementar da transformada de Fourier


O espaço de Schwartz S(Rd ) (às vezes abreviado como S) consiste em todas as funções f
em Rd , indefinidamente diferenciáveis, de tal modo que
 
β
α ∂

sup x f (x) < ∞

x∈Rd ∂x

para todos os multi-ı́ndices α e β. Em outras palavras, f e todas as suas derivadas são de


rápido decrescimento.

Exemplo 2.3.1. Um exemplo de uma função em S(Rd ) é a Gaussiana d-dimensional dada por
2
e−π|x| . A teoria do capı́tulo anterior já deixou claro o papel desempenhado por esta função no
caso d = 1.

A transformada de Fourier de uma função de Schwartz f é definida por

36
2.3. Teoria elementar da transformada de Fourier

ˆ
fb(ξ) = f (x)e−2πixξ dx, para ξ ∈ Rd .
Rd

Observe a semelhança com a fórmula de dimensão 1, exceto que agora estamos integrando
em Rd e que o produto de x e ξ é substituı́do pelo produto interno de dois vetores.
Agora, listaremos algumas propriedades simples da transformada de Fourier. Na próxima
proposição, a seta indica que tomamos a transformada de Fourier, então F (x) −→ G(ξ) significa
que G(ξ) = Fb(ξ).

Proposição 2.3.2. Seja f ∈ S(Rd ),

(i) f (x + h) −→ fb(ξ)e2πiξh sempre que h ∈ Rd .

(ii) f (x)e−2πixh −→ fb(ξ + h) sempre que h ∈ Rd .

(iii) f (δx) −→ δ −d fb(δ −1 ξ) sempre que δ > 0.

∂ α

(iv) ∂x
f (x) −→ (2πiξ)α fb(ξ).

Demonstração. (i)
ˆ
fb(ξ)e2πiξh = f (x)e−2πixξ dxe2πiξh
ˆRd

= f (x)e−2πixξ e2πiξh dx
ˆR
d

= f (x)e−2πiξ(x−h) dx
ˆR
d

= f (x + h)e−2πiξx dx.
Rd

(ii)
ˆ
fb(ξ + h) = f (x)e−2πix(ξ+h) dx
ˆR
d

= f (x)e−2πixh e−2πixξ dx.


Rd

(iii)
ˆ
−1 ξ
δ fb(δ −1 ξ)
−d
= δ −d
f (x)e−2πixδ dx

d

−1 ξ
=
|{z} δ −d δ d f (δx)e−2πiδxδ dx
Rd
prop.(ii) simetrias
ˆ
= f (δx)e−2πixξ dx.
Rd

37
Capı́tulo 2. A transformada de Fourier em Rd

(iv) Primeiramente, vamos utilizar integração por partes para resolver a integral

ˆ   αj

fb(x1 , . . . , xj , ξj+1 , . . . ξd )e−2πixj ξj dxj = (∗).
R ∂xj

  αj
−2πixj ξj ∂
Tomando u = e e dv = ∂xj
fb(x1 , . . . , xj , ξj+1 , . . . , ξd )dxj , temos que du =
 αj −1
−2πiξj e−2πixj ξj dxj e v = ∂
∂xj
fb(x1 , . . . , xj , ξj+1 , . . . , ξd ).

Logo,

" αj −1 # ∞

(∗) = fb(x1 , . . . , xj , ξj+1 , . . . , ξd )e−2πixj ξj

∂xj
−∞
ˆ ∞  αj −1

− (−2πiξj ) fb(x1 , . . . , xj , ξj+1 , . . . , ξd )e−2πixj ξj dxj
−∞ ∂x j
ˆ ∞ αj −1

= 2πiξj fb(x1 , . . . , xj , ξj+1 , . . . , ξd )e−2πixj ξj dxj
−∞ ∂xj
= ... ˆ ∞
= (2πiξj ) αj
fb(x1 , . . . , xj , ξj+1 , . . . , ξd )e−2πixj ξj dxj
−∞
αj
= (2πiξj ) fb(x1 , . . . , ξj , ξj+1 , . . . , ξd ).

Portanto,

38
2.3. Teoria elementar da transformada de Fourier

ˆ  α

f (x)e−2πixξ dx
Rd ∂x
ˆ ∞ ˆ ∞  α

= ... f (x)e−2πixξ dxd . . . dx1
−∞ −∞ ∂x
ˆ ∞ ˆ ∞ α1  αd
∂ ∂
= ... ... f (x)e−2πixξ dxd . . . dx1
−∞ −∞ ∂x 1 ∂x d
ˆ ∞ α1 ˆ ∞  αd−1 ˆ ∞   αd  
∂ ∂ ∂ −2πixξ
= ... f (x)e dxd dxd−1 . . . dx1
−∞ ∂x1 −∞ ∂xd−1 −∞ ∂xd
ˆ ∞ α1

= ...
−∞ ∂x1
ˆ ∞  αd−1 ˆ ∞  αd  
∂ ∂ −2πixd ξd −2πixd−1 ξd−1
f (x)e dxd e dxd−1 . . . e−2πix1 ξ1 dx1
−∞ ∂x d−1 −∞ ∂x d
ˆ ∞ α1

= ...
−∞ ∂x1
ˆ ∞  αd−1 
∂ −2πixd−1 ξd−1
αd b
(2πiξd ) f (x1 , . . . , xd−1 , ξd )e dxd−1 . . . e−2πix1 ξ1 dx1
−∞ ∂xd−1
ˆ ∞ α1

= ...
−∞ ∂x1
ˆ ∞  αd−1 
∂ −2πixd−1 ξd−1
(2πiξd) αd
f (x1 , . . . , xd−1 , ξd )e
b dxd−1 . . . e−2πix1 ξ1 dx1
∂x d−1
ˆ ∞ α−∞
1

= . . . (2πixd ξd )αd (2πixd−1 ξd−1 )αd−1 fb(x1 , . . . , xd−2 , ξd−1 , ξd ) . . . e−2πix1 ξ1 dx1
−∞ ∂x1
ˆ ∞ α1

= αd
(2πixd ξd ) (2πixd−1 ξd−1 ) αd−1
. . . (2πix2 ξ2 ) α2
fb(x1 , ξ2 , . . . , ξd )e−2πix1 ξ1 dx1
−∞ ∂x 1
αd αd−1 α1 b
= (2πixd ξd ) (2πixd−1 ξd−1 ) . . . (2πix1 ξ1 ) f (ξ)
= (2πixξ)α fb(ξ).

Teorema 2.3.3. Seja f ∈ S(Rd ). Então


ˆ
f (x) = fb(ξ)e2πixξ dξ.
Rd
Demonstração. Substituindo a fórmula da transformada de Fourier, temos que
ˆ ˆ ˆ 
2πixξ −2πiyξ
f (ξ)e
b dξ = f (y)e dy e2πixξ dξ
Rd
ˆ ˆ
Rd Rd

= f (y)e2πi(x−y)ξ dydξ.
Rd Rd
Observe que não podemos trocar a ordem de integração da expressão acima, já que
f (y)e2πi(x−y)ξ não é integrável em ξ quando f (y) 6= 0. Para evitar esta dificuldade, intro-
duzimos uma função de ξ que dará um decaimento a nossa expressão e permitirá trocar a

39
Capı́tulo 2. A transformada de Fourier em Rd

ordem de integração. Depois, faremos essa função convergir a 1. Serve a este propósito a
função

φε (x) = φ1 (εx), (2.1)

2
onde φ1 (x) = e−π|x| .
Utilizando o item (iii) da Proposição (2.3.2), temos que

φbε (z) = ε−d φb1 (ε−1 z). (2.2)

Além disso, é claro que

ˆ
φb1 (w) = φ1 (x)e−2πixw dx
ˆ Rd
2
= e−π|x| e−2πixw dx
ˆR ˆ ˆ
d

2 2 2
= ... e−πx1 e−πx2 . . . e−πxd e−2πix1 w1 e−2πix2 w2 . . . e−2πixd wd dx1 dx2 . . . dxd
ˆR ˆR R ˆ 
−πx22 −πx2d −2πix2 w2 −2πixd wd −πx21 −2πix1 w1
= ... e ...e e ...e e e dx1 dx2 . . . dxd
ˆ R
ˆ R R
2 2 2
= . . . e−πx2 . . . e−πxd e−2πix2 w2 . . . e−2πixd wd e−πw1 dx2 . . . dxd
R ˆR ˆ
2 2 2
= e−πw1 . . . e−πx2 . . . e−πxd e−2πix2 w2 . . . e−2πixd wd dx2 . . . dxd
ˆR R
ˆ 
−πw1 2 −πx2d −2πixd wd −πx22 −2πix2 w2
= e ...e ...e e e dx2 . . . dxd
ˆ R R
−πw12 2 2
= e . . . e−πxd . . . e−2πixd wd e−πw2 . . . dxd
R ˆ
−πw1 −πw22
2 2
= e e . . . e−πxd . . . e−2πixd wd . . . dxd
R ˆ
−πw12 −πw22 −πwd−12 2
= e e ...e e−πxd e−2πixd wd dxd
R
−πw12 −πw22 2
−πwd−1 −πwd2
= e e ...e e
2
= e−π|w|
= φ1 (w).

Definamos a função
ˆ
Iε (x) = φε (ξ)fb(ξ)e2πixξ dξ.
Rd

40
2.3. Teoria elementar da transformada de Fourier

Note que
ˆ
Iε (x) = φε (ξ)fb(ξ)e2πixξ dξ
Rd
ˆ ˆ 
−2πiyξ
= φε (ξ) f (y)e dy e2πixξ dξ
ˆR ˆ
d Rd

= φε (ξ)f (y)e2πi(x−y)ξ dydξ


ˆR R ˆ
d d

= f (y) φε (ξ)e2πi(x−y)ξ dξdy


ˆR
d R d

= f (y)φbε (y − x)dy
ˆRd

=
|{z} f (x + z)φbε (z)dz
z=y−x Rd
ˆ
=
|{z} f (x + z)ε−d φb1 (ε−1 z)dz
Rd
por (2.2)
ˆ
=
|{z} f (x + εw)φb1 (w)dw
Rd
w=ε−1 z
ˆ
= f (x + εw)φ1 (w)dw.
Rd

Agora, observe que φε (ξ) −→ 1 quando ε −→ 0. Portanto, pelo teorema da convergência


dominada, temos que
ˆ ˆ
2πixξ
Iε (x) = φε (ξ)fb(ξ)e dξ −→ fb(ξ)e2πixξ dξ
Rd Rd
quando ε −→ 0.
Por outro lado, f (x + εw) −→ f (x) quando ε −→ 0. Aplicando novamente o teorema da
convergência dominada, temos que
ˆ ˆ
Iε (x) = f (x + εw)φ1 (w)dw −→ f (x) φ1 (w)dw = f (x)
Rd Rd

quando ε −→ 0, pois

ˆ ˆ
2
φ1 (w)dw = e−π|w| dw
Rd ˆR ˆ ˆ
d

2 2 d
= ... e−πw1 e−πw2 . . . e−πw1 dw1 dw2 . . . dwd
ˆR R R
ˆ ˆ  
−πw1d −πw22 −πw12
= e ... e e dw1 dw2 . . . dwd
R R R
= 1.

Logo,

41
Capı́tulo 2. A transformada de Fourier em Rd

ˆ
f (x) = fb(ξ)e2πixξ dξ.
Rd

Proposição 2.3.4. Seja f ∈ S(Rd ),


 α

(i) (−2πix)α f (x) −→ ∂ξ fb(ξ).

(ii) f (R(x)) −→ fb(R(ξ)) sempre que R é uma rotação.

Demonstração. (i) Queremos mostrar que


 α ˆ

fb(ξ) = (−2πix)α f (x)e−2πixξ dx.
∂ξ R d

De modo equivalente, podemos mostrar, utilizando a transformada inversa, que


ˆ  α
α ∂
(−2πix) f (x) = fb(ξ)e2πixξ dξ.
Rd ∂ξ

Observe que, procedendo do mesmo modo que no item (iv) da Proposição (2.3.2), obtemos
o resultado.

(ii) Como Rt = R−1 , temos que


y.Rξ = Rt y.ξ = R−1 y.ξ.

Portanto,
ˆ
f\
(R(x)) = f (R(x))e−2πixξ dx
ˆR
d

−1 (y)ξ
=
|{z} f (y)e−2πiR |J(y)|dy
Rd
y=R(x)
ˆ
t
= f (y)e−2πiR (y)ξ | det(y)|dy
ˆR
d

t
= f (y)e−2πiR (y)ξ dy
ˆR
d

= f (y)e−2πiyR(ξ) dy
Rd
= fb(R(ξ)).

Corolário 2.3.5. A transformada de Fourier mapeia S(Rd ) nele mesmo.

42
2.3. Teoria elementar da transformada de Fourier

Neste ponto partimos para observar um fato simples sobre a interação entre a transformada
de Fourier e as rotações. Dizemos que uma função f é radial se existe uma função f0 (u), definida
para u ≥ 0, tal que f (x) = f0 (|x|). Notamos que f é radial se e somente se f (R(x)) = f (x)
para cada rotação R. Em uma direção isso é óbvio. Note que se f é radial, então existe uma
função f0 tal que f (x) = f0 (|x|) e f (R(x)) = f0 (|R(x)|), mas como |R(x)| = |x| temos que
f (R(x)) = f (x) para cada rotação R. Por outro lado, se f (R(x)) = f (x) para cada rotação R,
então f (x) só depende de |x| e, portanto, f é radial.
Podemos definir f0 por

f (0) se u = 0,
f0 (u) =
f (x) se |x| = u.

Observe que f0 está bem definida, pois se x e x0 são pontos com |x| = |x0 |, sempre há uma
rotação R tal que x0 = R(x).

Corolário 2.3.6. A transformada de Fourier de uma função radial é radial.

Demonstração. Isso decorre imediatamente da propriedade (vi) da última proposição. De fato,


como f é radial, então f (R(x)) = f (x) para toda rotação R. Mas, vimos que f\
(R(ξ)) = fb(R(ξ)),
o que implica que fb(R(ξ)) = fb(ξ), para toda rotação R. Logo, fb é radial.

2
Um exemplo de função radial em Rd é a Gaussiana e−π|x| . Além disso, observamos que
quando d = 1, as funções radiais são precisamente funções pares, isto é, aquelas para as quais
f (x) = f (−x).
Após essas preliminares, vamos refazer os passos do capı́tulo 1 para obter o teorema de
Plancharel para Rd .

Teorema 2.3.7. Suponha que f ∈ S(Rd ).


ˆ ˆ
2
|fb(ξ)| dξ = |f (x)|2 dx.
Rd Rd

Demonstração. Primeiramente, nos voltamos para a convolução, definida por


ˆ
(f ∗ g)(x) = f (y)g(x − y)dy, f, g ∈ S.
Rd

Utilizando um argumento similar ao caso unidimensional, podemos mostrar que f ∗ g ∈


S(Rd ), f ∗ g = g ∗ f e (f
\ ∗ g)(ξ) = fb(ξ)bg(ξ).
Seguindo o mesmo argumento do caso unidimensional, vamos obter a fórmula de Plancherel
d−dimensional.

43
Capı́tulo 2. A transformada de Fourier em Rd

Defina f b (x) = f (−x). Então,

ˆ
fbb (ξ) = f b (x)e−2πixξ dx
ˆR
d

= f (−x)e−2πixξ dx
ˆ Rd

= f (−x)e2πixξ dx
ˆ Rd

= f (y)e−2πiyξ dy
Rd

= fb(ξ).

Tomando h = f ∗ f b , temos que


ˆ ˆ
h(0) = (f ∗ f )(0) =
b b
f (y)f (0 − y)dy = f (y)f b (−y)dy
Rd ˆ ˆR
d

= f (y)f (y)dy = |f (y)|2 dy.


Rd Rd

Mas, pela fórmula de inversão de Fourier,

ˆ
h(x) = h(ξ)e2πixξ dξ
b
ˆR
d

= ∗ f b(ξ)e2πixξ dξ
f\
ˆR
d

= fb(ξ)fbb (ξ)e2πixξ dξ
ˆRd

= fb(ξ)fb(ξ)e2πixξ dξ
ˆRd

= |fb(ξ)|2 e2πixξ dξ,


Rd

o que implica que


ˆ
h(0) = |fb(ξ)|2 dξ.
Rd
Logo,
ˆ ˆ
|fb(ξ)|2 dξ = |f (y)|2 dy,
Rd Rd
o que conclui a prova do teorema.

44
Capı́tulo 3

A transformada de Fourier em L1 + L2

Definimos a transformada de Fourier em S(Rn ). Agora, estenderemos essa definição ao


espaço L1 (Rn ) + L2 (Rn ).
Começaremos observando que a transformada de Fourier de f , dada por
ˆ
fb(ξ) = f (x)e−2πixξ dx,
Rn

faz sentido como uma integral convergente para funções f ∈ L1 (Rn ). Isso nos permite estender
a definição da transformada de Fourier em L1 .
Agora, estudaremos algumas propriedades da transformada de Fourier em L1 . Antes de
fazermos isso, apresentaremos algumas notações. Para uma função mensurável f em Rn , x ∈ Rn
e a > 0, definimos a translação, a dilatação e a reflexão de f por

(τ y f )(x) = f (x − y), (δ a f )(x) = f (ax), fe(x) = f (−x),

respectivamente.

Proposição 3.0.1. Sejam f, g ∈ L1 (Rn ), y ∈ Rn , b ∈ C, α um multi-ı́ndice e t > 0, temos que

1. k fb kL∞ ≤k f kL1 ;

2. f[
+ g = fb + gb;

3. bf
c = bfb;

4. fe = fb;
b e

5. fb = fb;
e

y f (ξ) = e−2πiyξ fb(ξ);


6. τd

2πixy f (ξ) = τ y (fb)(ξ);


7. e\

45
Capı́tulo 3. A transformada de Fourier em L1 + L2

t f (ξ) = t−n δ t−1 fb(ξ);


8. δc

∗ g(ξ) = fb(ξ)bg(ξ);
9. f[

◦ A(ξ) = fb(Aξ), onde A é uma matriz ortogonal e ξ um vetor coluna.


10. f[

Demonstração. 1. Seja f ∈ L1 (Rn ), queremos mostrar que

k fb kL∞ ≤k f kL1 .

Primeiramente, note que ˆ


k f kL1 = |f (x)|dx.
Rn

Além disso,
ˆ
k fb kL∞ = k f (x)e−2πixξ dx kL∞
Rn
  ˆ  
−2πixξ

= inf B > 0 : µ ξ : f (x)e dx > B =0 .
Rn

Assim, observe que


ˆ
−2πixξ

k fb kL∞ ≤
n f (x)e dx

ˆ R

≤ |f (x)e−2πixξ |dx
ˆR
n

= |f (x)| |e−2πixξ | dx
Rn | {z }
≤1
ˆ
≤ |f (x)|dx
Rn
= k f kL1 .

2.
ˆ
f[
+ g(ξ) = (f + g)(x)e−2πixξ dx
ˆR
n

= [f (x) + g(x)]e−2πixξ dx
ˆR
n

= [f (x)e−2πixξ + g(x)e−2πixξ ]dx


ˆ Rn ˆ
−2πixξ
= f (x)e dx + g(x)e−2πixξ dx
Rn Rn
= fb(ξ) + gb(ξ).

46
3.
ˆ
bf
c(ξ) = bf (x)e−2πixξ dx
ˆ
Rn

= b f (x)e−2πixξ dx
Rn
= bfb(ξ).

4.
ˆ
fe(ξ) = f\
(−x)(ξ) = f (−x)e−2πixξ dx
b
ˆRn

=
|{z} f (y)e2πiyξ dy
y=−x Rn
ˆ
= f (y)e−2πiy(−ξ) dy
Rn
= fb(−ξ)
= fb(ξ).
e

5.
ˆ
fb(ξ) = f (x)e−2πixξ dx
ˆ
Rn

= f (x)e2πixξ dx
Rn
ˆ
= f (x)e2πixξ dx
Rn
ˆ
= f (x)e−2πix(−ξ) dx
Rn

= fb(−ξ)

= fb(ξ).
e

6.
ˆ
y f (ξ)
τd = τ y f (x)e−2πixξ dx
ˆ Rn

= f (x − y)e−2πixξ dx
ˆ Rn

=
|{z} f (z)e−2πi(z+y)ξ dz
x−y=z Rn
ˆ
−2πiyξ
= e f (z)e−2πizξ dz
Rn
= e−2πiyξ fb(ξ).

47
Capı́tulo 3. A transformada de Fourier em L1 + L2

7.
ˆ
2πixy f (ξ) =
e\ e2πixy f (x)e−2πixξ dx
ˆR
n

= f (x)e−2πix(ξ−y) dx
Rn
= fb(ξ − y)
= τ y fb(ξ).

8.
ˆ
t f (ξ)
δc = δ t f (x)e−2πixξ dx
ˆRn

= f (tx)e−2πixξ dx
ˆR
n

−1 yξ
=
|{z} f (y)e−2πit t−n dy
y=tx Rn

= fb(t−1 ξ)t−n
−1
= t−n δ t fb(ξ).

9.
ˆ
∗ g(ξ)
f[ = (f ∗ g)(x)e−2πixξ dx
ˆ ˆ Rn

= f (x − y)g(y)dye−2πixξ dx
ˆR ˆR
n n

= f (x − y)g(y)e−2πixξ dydx
ˆR ˆR
n n

= f (x − y)g(y)e−2πi(x−y)ξ e−2πiyξ dydx


ˆR ˆR
n n

= f (x − y)g(y)e−2πi(x−y)ξ e−2πiyξ dxdy


ˆR R ˆ
n n

= g(y) f (x − y)e−2πi(x−y)ξ dxe−2πiyξ dy


ˆR ˆR
n n

=
|{z} g(y) f (z)e−2πizξ dze−2πiyξ dy
z=x−y Rn Rn
ˆ
= g(y)fb(ξ)e−2πiyξ dy
Rnˆ
= f (ξ)
b g(y)e−2πiyξ dy
Rn
= fb(ξ)b
g (ξ).

48
3.1. A Transformada de Fourier em Lp , 1 < p ≤ 2

10.
ˆ
◦ A(ξ) =
f[ f (Ax)e−2πixξ dx
ˆR
n

−1 yξ
= f (y)e−2πiA dy
ˆR
n

t
= f (y)e−2πiA yξ dy
ˆR
n

= f (y)e−2πiyAξ dy
Rn
= fb(Aξ).

Definição 3.0.2. Seja f ∈ L1 (Rn ), definimos

f ∨ (x) = fb(−x),

para todo x ∈ Rn .
A operação
f 7→ f ∨

é chamada de transformada inversa de Fourier.

Notamos que as propriedades da transformada inversa de Fourier em L1 (Rn ) são análogas às
propriedades da transformada inversa de Fourier em S(Rn ). Um problema nessa generalidade
é que quando f é integrável, não necessariamente, teremos que (fb)∨ = f q.t.p. Essa inversão é
possı́vel quando fb também é integrável.

3.1 A Transformada de Fourier em Lp, 1 < p ≤ 2


Se f ∈ Lp , 1 ≤ p ≤ ∞, então f pode ser identificada com uma distribuição temperada:
para φ ∈ S defina ˆ
hf, φi = T f (φ) = f φ.
Rn
Claramente esta integral é finita.

Definição 3.1.1. Seja p ∈ (1, ∞], existe um único q ∈ (1, ∞] tal que
1 1
+ = 1, (3.1)
p q
p
a saber q = . Chamamos o q de expoente conjugado de p. Pela simetria da condição (3.1),
p−1
q é expoente conjugado de p ⇔ p é expoente conjugado de q. Diz-se que p e q são conjugados.

49
Capı́tulo 3. A transformada de Fourier em L1 + L2

Teorema 3.1.2 (Desilgualdade de Hölder). Sejam p e p0 expoentes conjugados (finitos ou não).


Dadas duas funções mensuráveis f e g, temos

k f g k1 ≤k f kp k g kp0 .

Para ver que T f é contı́nua, suponha que φk → 0 em S quando k → ∞. Queremos mostrar


que T f (φk ) → T f (0) = 0. Pela desigualdade de Hölder,

|T f (φk )| ≤k f kp k φk kp0 .
0
Como S ⊂ Lp , temos que φk → 0 em Lp0 quando k → ∞. Consequentemente, o lado direito
tende a 0 quando k → ∞, mostrando que T f é contı́nua.
Além disso, quando 1 ≤ p ≤ 2, temos que fb é uma função.

Teorema 3.1.3. A transformada de Fourier é uma isometria em L2 , isto é, fb ∈ L2 e k fb k2 =k


f k2 . Além disso, ˆ
fb(ξ) = lim f (x)e−2πixξ dx
R→∞ |x|<R
e ˆ
f (x) = lim fb(ξ)e2πixξ dξ,
R→∞ |ξ|<R
2
onde os limites estão em L .

A identidade k fb k2 =k f k2 já foi vista no teorema de Plancherel.

Demonstração. Seja φn ∈ S(Rn ) tal que φn → f ∈ L2 (Rn ), então

cn → fb ∈ L2 (Rn ).
φ

Suponha que k f kL2 − k fb kL2 ≥ 0. O caso em que k f kL2 − k fb kL2 ≤ 0 é análogo.

k f kL2 − k fb kL2 = k f − φn + φn kL2 − k fb − φ cn kL2


cn + φ

≤ k f − φn kL2 + k φn kL2 −(− k fb − φ


cn kL2 + k φ
cn kL2 )
cn kL2 + k fb − φ
≤ k f − φn kL2 + k φn kL2 − k φ cn kL2
| {z }
=0,pois φn ∈S

≤ k f − φn kL2 + k fb − φ
cn kL2
 
< + = , se n > max{n0 , n1 }
2 2
pois

k f − φn kL2 < , se n > n0
2
e
cn kL2 <  , se n > n1 .
k fb − φ
2
50
3.2. O Teorema de Interpolação de Riesz-Thorin

Como  > 0 é arbitrário, temos que

k f kL2 =k fb kL2 .

Finalmente, a continuidade da transformada de Fourier implica que


ˆ
f (ξ) = lim
b f (x)e−2πixξ dx
R→∞ |x|<R
e ˆ
f (x) = lim fb(ξ)e2πixξ dξ,
R→∞ |ξ|<R

uma vez que fbχB(0,R) → fb em L2 e f χB(0,R) → f em L2 .

Se f ∈ Lp , 1 < p < 2, então podemos escrever f = f1 + f2 , onde f1 ∈ L1 e f2 ∈ L2 (Por


exemplo, tome f1 = f χ{x:|f (x)|>1} e f2 = f − f1 ). Portanto fb = fb1 + fb2 ∈ L∞ + L2 .
No entanto, aplicando um teorema de interpolação, podemos obter um resultado mais nı́tido.

3.2 O Teorema de Interpolação de Riesz-Thorin


Definição 3.2.1. Sejam (X, µ) e (Y, ν) espaços de medida σ-finitos. Fixamos um espaço
vetorial D de funções de valor complexo µ-mensuráveis em X que contém funções simples com
suporte de medida finita. Também assumimos que D é fechado sob truncamento, isto é, se
f ∈ D, então a função
(
f (x) se r1 < |f (x)| ≤ r2
gr1 ,r2 (x) = (3.2)
0 caso contrário
definida para cada 0 < r1 ≤ r2 , também está em D. Dados 1 ≤ p, q ≤ ∞, dizemos que um
operador linear T : D → M (Y, ν), em que M (Y, ν) é o espaço vetorial de funções de valor
complexo ν-mensurável em Y , é do tipo (p, q) se houver uma constante k > 0 de tal modo que

k Tf kq ≤ k k f kp

para toda f ∈ D ∩ Lp (X, µ). O ı́nfimo de todos esses k é referido como (p, q) norma de T e é
denotado por k T kLp →Lq .

Seja T um operador do tipo (p0 , q0 ). Primeiro observamos que podemos restringir o contra-
domı́nio de T : D ∩ Lp0 (X, µ) → M (Y, ν) para Lq0 (Y, ν), que é um espaço de Banach. Como
D ∩ Lp0 (X, µ) é denso em Lp0 (X, µ) podemos construir uma única extensão que preserva a
norma T : Lp0 (X, µ) → Lq0 (Y, ν). Se, além disso, T for do tipo (p1 , q1 ), então um argumento
semelhante produz a extensão T : Lp1 (X, µ) → Lq1 (Y, ν).
Enunciaremos agora o teorema de interpolação, devido a M. Riesz e O. Thorin.

51
Capı́tulo 3. A transformada de Fourier em L1 + L2

Teorema 3.2.2 (Interpolação de Riesz-Thorin). Sejam 1 ≤ p0 , p1 , q0 , q1 ≤ ∞. Se T é um


operador linear simultâneamente do tipo (p0 , q0 ) e do tipo (p1 , q1 ), então T é do tipo (pθ , qθ )
com a estimativa da norma

k T kLpθ →Lqθ ≤k T kL1−θ θ


p0 →Lq0 k T kLp1 →Lq1 ,

para cada θ ∈ [0, 1], onde p−1 −1 −1 −1 −1 −1


θ = (1 − θ)p0 + θp1 e qθ = (1 − θ)q0 + θq1 .

Observamos que o resultado da interpolação pode ser descrito pictoricamente em um cha-


mado diagrama de Riesz de T, que é a coleçao de todos os pontos ( p1 , 1q ) no quadrado unitário
de modo que T é do tipo (p, q). Neste contexto, o teorema acima implica que o diagrama de
Riesz de um operador linear é um conjunto convexo: para quaisquer dois pontos no diagrama
de Riesz, o teorema de interpolação de Riesz-Thorin garante que a linha que os conecta também
está no diagrama de Riesz.

Figura 3.1: O diagrama de Riesz.

O teorema de interpolação foi, originalmente, descrito por M. Riesz. No artigo, o teorema


foi feito apenas para o triângulo inferior no diagrama de Riesz, ou seja, para pn ≤ qn . Uma vez
que a prova do teorema fez uso de resultados de convexidade para formas bilineares, o teorema
de interpolação é frequentemente referido como teorema de convexidade de Riesz. A extensão
do teorema para todo o quadrado é devido a O. Thorin, publicado originalmente em seu artigo
de 1938 e explicado mais adiante. A prova moderna do teorema foi fornecida primeiro por J.
Tamarkin e A. Zygmund e faz uso de uma extensão do prı́ncipio do módulo máximo da análise
complexa:

Definição 3.2.3. Sejam A ⊂ C aberto e f : A −→ C uma função complexa. Dizemos que f é


holomorfa em A se f 0 (z) existe para todo ponto z ∈ A. Se f é holomorfa em C, f é chamada
de função inteira.

52
3.2. O Teorema de Interpolação de Riesz-Thorin

Teorema 3.2.4 (Teorema do Módulo Máximo). Seja U aberto e conexo em C, e seja f holo-
morfa. Se existir D(a; r) ⊂ U tal que

|f (z)| ≤ |f (a)|, para todo z ∈ D(a; r),

então f é constante.

Corolário 3.2.5. Seja U aberto e limitado em C, e seja f : U → C contı́nua em U e holomorfa


em U . Então
max{|f (z)| : z ∈ U } = max{|f (z)| : z ∈ ∂U }.

Teorema 3.2.6 (Teorema das três linhas de Hadamard). Seja φ uma função holomorfa no
interior da faixa fechada
S = {z ∈ C : 0 ≤ Re(z) ≤ 1}

e limitada e contı́nua em S. Se |φ(z)| ≤ k0 na linha Re(z) = 0 e |φ(z)| ≤ q1 na linha Re(z) = 1,


então, para cada 0 ≤ θ ≤ 1, temos a desigualdade

|φ(z)| ≤ k01−θ k1θ

na linha Re(z) = θ.

Demonstração. Definimos as funções holomorfas


φ(z) (z 2 −1)/n
ψ(z) = 1−z z e ψn (z) = ψ(z)e ,
k0 k1

de modo que ψn → ψ quando n → ∞. Queremos mostrar que |ψ(z)| ≤ 1 em S.


Para este fim, primeiro observamos que

• Se Re(z) = 0 então
z
z log(k ) iy log(k )
|φ(z)| k0 |k
0 | |k0 | e 0
= e
0
|ψ(z)| = 1−z z ≤ 1−z z ≤ 
−z z
= = = 1.
|k0 k1 | |k0 k1 | 
|k
0 ||k0 k1 | |k1z | ez log(k1 ) eiy log(k1 )

• Se Re(z) = 1 então

|k11−z | e(1−z) log(k1 ) e−iy log(k1 )



|φ(z)| k1 |k1 |
|ψ(z)| = 1−z z ≤ 1−z z ≤ 1−z z = 1−z = (1−z) log(k0 ) = iy log(k0 ) = 1.
|k0 k1 | |k0 k1 | |k0 ||k1 | |k0 | e e

Além disso, por hipótese, φ é limitada sobre S, isto é, existe m ∈ R tal que |φ(z)| ≤ m em
S. Logo,

m k0z m ez log(k0 ) m e(x+iy) log(k0 )



|φ(z)| m m
|ψ(z)| = 1−z z ≤ 1−z z = z = = =
|k0 k1 | |k0 k1 | k
|k0 | k1z |k0 | k1z |k0 | ez log(k1 ) |k0 | e(x+iy) log(k1 )
0

53
Capı́tulo 3. A transformada de Fourier em L1 + L2

m ex log(k0 ) eiy log(k0 ) m ex log(k0 )



= = ≤ M < ∞.
|k0 | ex log(k1 ) eiy log(k1 ) |k0 | ex log(k1 )
| {z } | {z }
=1 limitada em S

em S. Observando a desigualdade
2 −1)/n 2 −1)/n 2 −1)/n 2 /n 2 2 /n 2 /n
|ψn (z)| = |ψ(z)||e(z | ≤ M |e(z | = M |e(x ||e−y −1)/n −y
| |e2ixy | = M e|(x {z }e ≤ M e−y ,
| {z }
=1 ≤1 em S

vemos que ψn (x + iy) converge uniformemente a 0 quando |y| → ∞. Podemos, portanto,


encontrar Cn tal que |ψn (x + iy)| ≤ 1 para todo |y| ≥ Cn e 0 ≤ x ≤ 1.
Agora, observe que

• Se Re(z) = 0 então

(−y2 −1)/n −(y2 +1)/n
|ψn (z)| = |ψ(z)| e ≤ e ≤ 1.
| {z }
≤1

• Se Re(z) = 1 então

2 2 2
|ψn (z)| = |ψ(z)| e(−y +2iy)/n ≤ |e−y /n | |e2iy/n | = |e−y /n | ≤ 1.

| {z } | {z }
≤1 =1

Pelo corolário do teorema do módulo máximo, temos que |ψn (z)| ≤ 1 no retângulo

{z = x + iy : 0 ≤ x ≤ 1 e − Cn ≤ y ≤ Cn }.

Segue que |ψn (z)| ≤ 1 em S para cada n ∈ N e, fazendo n → ∞, temos que |ψ(z)| ≤ 1 em
S. Isto implica que

|φ(z)| ≤ |k01−z k1z |


 z
k1
= |k0 |
k0
 
k x+iy
1
= |k0 |

k0


 
(x+iy) log k1
= |k0 | e k0

     
x log k1 k1 k1
= |k0 | e

cos y log k0 + i sin y log k0
k0

| {z }
=1
 x
k1
= |k0 |
k0
= |k01−x k1x | = k01−θ k1θ .

54
3.2. O Teorema de Interpolação de Riesz-Thorin

Demonstração. (Teorema 3.2.2) Fixe 0 ≤ θ ≤ 1. Por conveniência de notação, tomaremos


1 1 1 1 1 1
α0 = , α1 = , αθ = , β0 = , β1 = , βθ = .
p0 p1 pθ q0 q1 qθ
Com essa notação, definimos

α(z) = (1 − z)α0 + zα1 e β(z) = (1 − z)β0 + zβ1 ,

então
α(0) = α0 , α(1) = α1 , α(θ) = αθ , β(0) = β0 , β(1) = β1 , β(θ) = βθ .

Devemos, primeiro, provar o teorema para funções simples com suporte de medida finita,
que, evidentemente, pertencem a D ∩Lpθ (X, µ). Pelo teorema da representação de Riesz, temos
que ˆ

kTf kqθ = sup (T f )gdν

Y
para cada função f , onde o supremo é tomado sobre todas as funções simples g com Lqθ -norma,
no máximo, 1. Portanto, basta mostrar que
ˆ

(T f )gdν ≤ k01−θ k1θ kf kp
θ
Y

para cada função g. Se kf kpθ = 0, então não há o que provar, se kf kpθ 6= 0 podemos assumir
por renormalização de f que kf kpθ = 1. Assim, decidimos estabelecer
ˆ

(T f )gdν ≤ k01−θ k1θ ,

Y

para toda g, em especial, para todas as funções simples g com kgkqθ0 = 1.


Agora, supomos que
m
X n
X
f= aj χEj e g = bk χFk
j=1 k=1

são duas funções simples satisfazendo as condições acima. Assumiremos, sem perda de genera-
lidade 1 , que pθ < ∞ e qθ > 1 , então αθ > 0 e βθ < 1. Escreva aj = |aj |eiθj e bk = |bk |eiϕk e
defina m n
X X
α(z)/αθ iθj
fz = |aj | e χEj e gz = |bk |(1−β(z))/(1−βθ ) eiϕk χFk
j=1 k=1

para cada z ∈ C. Então ˆ


φ(z) = (T fz )gz dν
Y
é uma função tal que ˆ
φ(θ) = (T f )gdν.
Y
1
pois para pθ = ∞ e qθ = 1 já temos o resultado.

55
Capı́tulo 3. A transformada de Fourier em L1 + L2

Notamos, em particular, que φ é holomorfa no interior de S e contı́nua em S. Como T é


linear, vemos que

ˆ " m
X
!# n
X
α(z)/αθ iθj
φ(z) = T |aj | e χEj |bk |(1−β(z))/(1−βθ ) eiϕk χFk dν
Y j=1 k=1
ˆ m
X
! n
X
= |aj |α(z)/αθ eiθj T (χEj ) |bk |(1−β(z))/(1−βθ ) eiϕk χFk dν
Y j=1 k=1
ˆ X
m X
n
= |aj |α(z)/αθ eiθj |bk |(1−β(z))/(1−βθ ) eiϕk T (χEj )χFk dν
Y j=1 k=1
m X
X n  ˆ 
α(z)/αθ (1−β(z))/(1−βθ ) i(θj +ϕk )
= |aj | |bk | e (T χEj )χFk dν .
j=1 k=1 Y

Agora, fornecemos um limite para φ nas linhas Re(z) = 0 e Re(z) = 1. Primeiro, note que

ˆ

|φ(z)| = (T fz )gz dν

ˆY
≤ |(T fz )gz |dν
Y
= k(T fz )gz k1
≤ kT fz kq0 kgz kq00 .
|{z}
Desigualdade de Hölder

Observando as identidades α(z) = α0 + z(α1 − α0 ) e 1 − β(z) = (1 − β0 ) − z(β1 − β0 ) e


lembrando que os Ej são disjuntos, temos que, na linha Re(z) = 0,

p 0
|fz |p0 = |aj |α0 /αθ |aj |z(α1 −α0 )/αθ ei arg(f )

p 0 p 0
= |aj |α0 /αθ |aj |z(α1 −α0 )/αθ ei arg(f )

| {z }
=1
α /α z (α −α )/α
p 0
= |aj | 0 θ
(|aj | ) 1 0 θ
α /α z log |a | (α −α )/α p0
= |aj | 0 θ (e j
) 1 0 θ
p 0
= |aj |α0 /αθ (eiy log |aj | )(α1 −α0 )/αθ

p 0 (α1 −α0 )p0 /αθ
= |aj |α0 /αθ eiy log |aj |

| {z }
=1
p0
= |aj |pθ /p0 

= |aj |pθ
= |f |pθ .

56
3.2. O Teorema de Interpolação de Riesz-Thorin

De modo análogo,
q 0
|gz |q00 = |bk |(1−β0 )/(1−βθ ) |bk |−z(β1 −β0 )/(1−βθ ) ei arg(g) 0

q 0 q 0
= |bk |(1−β0 )/(1−βθ ) |bk |−z(β1 −β0 )/(1−βθ ) 0 ei arg(g) 0

| {z }
=1
(1−β )(1−β ) −z (β −β )/(1−β )
q00
= |bk | 0 θ
(|bk | ) 1 0 θ

(1−β )/(1−β ) −z log |b | (β −β )/(1−β ) q00


= |bk | 0 θ
(e k
) 1 0 θ

q 0 (β1 −β0 )q00 /(1−βθ )


= |bk |(1−β0 )/(1−βθ ) 0 e−iy log |bk |

| {z }
=1
q 0
= |bk |(1−β0 )/(1−βθ ) 0
q00
= |bk |qθ0 /
q
00 

= |bk |qθ0
= |g|qθ0 .

Como T é do tipo (p0 , q0 ), segue que

|φ(z)| ≤ kT fz kq0 kgz kq00


≤ k0 kfz kp0 kgz kq00
ˆ  p1 ˆ  q1
0 00
p0 q00
= k0 |fz | dµ |gz | dν
X Y
ˆ  p1 ˆ  q1
0 00
pθ qθ0
= k0 |f | dµ |g| dν
X Y
= k0 kf kppθθ /p0 kgkqqθθ00 /q00
| {z } | {z }
=1 =1
= k0

na linha Re(z) = 0. Um cálculo semelhante estabelece o limite |φ(z)| ≤ k1 na linha Re(z) = 1,


de onde, pelo teorema das três linhas de Hadamard, temos a desigualdade

|φ(z)| ≤ k01−θ k1θ

na linha Re(z) = θ. Tomando z = θ, temos que


ˆ

(T f )gdν = |φ(θ)| ≤ k01−θ k1θ ,

Y

que é a desigualdade desejada.


Tendo estabelecido o teorema para funções simples, agora provaremos o teorema para a
função geral f ∈ D ∩ Lpθ (X, µ).

57
Capı́tulo 3. A transformada de Fourier em L1 + L2

Seja {fn } uma sequência de funções simples mensuráveis tal que |fn | ≤ |f |, para
todo n ∈ N, e fn → f pontualmente. Agora, seja E = {x : |f (x)| > 1}, definimos
0
f = f χE , fn0 1
= fn χ E , f = f − f e 0
fn1 = fn − fn0 . Pelo teorema da convergência do-
minada, temos que ˆ ˆ

lim |fn | dµ = |f |pθ dµ
n→∞ X X
o que implica que
ˆ  p1 ˆ  p1
θ θ
pθ pθ
lim |fn | dµ = |f | dµ ,
n→∞
| X {z } | X {z }
kfn kpθ kf kpθ

ou seja,
kfn kpθ → kf kpθ .

Além disso, temos que |f 0 | ≤ |f |, então

|f 0 |p0 ≤ |f |p0
ˆ ˆ
⇒ |f 0 |p0 dµ ≤ |f |p0 dµ
X
| X {z }
limitada pois f ∈Lp0
ˆ
⇒ |f 0 |p0 dµ é limitada
X
⇒ f ∈ Lp0 .
0

Sabemos também que |f 1 | ≤ |f | e f ∈ Lp1 . Assim, procedendo do mesmo modo, temos


f 1 ∈ Lp 1 .
Como D contém todos os truncamentos de f , f 0 ∈ D ∩ Lp0 (X, µ) e f 1 ∈ D ∩ Lp1 (X, µ).
Ademais, como |fn0 | ≤ |f 0 | e |fn1 | ≤ |f 1 | temos, novamente pelo teorema da convergência
dominada, que kfn0 kp0 → kf 0 kp0 e kfn1 kp1 → kf 1 kp1 .
Se T é do tipo (p0 , q0 ) e (p1 , q1 ), então existem c0 e c1 tais que

kT (fn0 − f 0 )kq0 = kT fn0 − T f 0 kq0 ≤ c0 kfn0 − f 0 kp0

e
kT (fn1 − f 1 )kq1 = kT fn1 − T f 1 kq1 ≤ c1 kfn1 − f 1 kp1 .

Logo,
lim kT fn0 − T f 0 kq0 ≤ c0 lim kfn0 − f 0 kp0 = 0
n→∞ n→∞

e
lim kT fn1 − T f 1 kq1 ≤ c1 lim kfn1 − f 1 kp1 = 0.
n→∞ n→∞

Assim, temos que


kT fn0 − T f 0 kq0 → 0 e kT fn1 − T f 1 kq1 → 0.

58
3.2. O Teorema de Interpolação de Riesz-Thorin

Então, T fn0 → T f 0 em medida, visto que, para todo  > 0,


kT fn0 − T f 0 kqq00
µ( x : |T fn0 − T f 0 | >  ) ≤

q0
pela desigualdade de Chebyshev. Isso implica que existe uma subsequência (T fn0j )j de (T fn0 )n
que converge para T f 0 em quase todo ponto (T fn0j → T f 0 qtp). Similarmente, existe uma
subsequência (T fn1j )j de (T fn1 )n tal que T fn1j → T f 1 qtp. Disso, temos que

T fn0j + T fn1j = T (fn0j + fn1j )


= T fnj → T f 0 + T f 1 = T (f 0 + f 1 ) = T f qtp.

Pelo lema de Fatou, ˆ ˆ



|T f | dν ≤ lim inf |T fnj |qθ dν,
Y j→∞ Y
então
ˆ  q1 ˆ  q1
θ θ
qθ qθ
|T f | dν ≤ lim inf |T fnj | dν
Y j→∞ Y
⇒ kT f kqθ ≤ lim inf kT fnj kqθ ≤ lim inf k01−θ k1θ kfnj kpθ = k01−θ k1θ kf kpθ .
j→∞ j→∞

Portanto, T é do tipo (pθ , qθ ).

0
Corolário 3.2.7 (Desilgualdade de Hausdorff-Young). Se f ∈ Lpθ , 1 ≤ pθ ≤ 2, então fb ∈ Lpθ
e
k fb kp0θ ≤k f kpθ .

Demonstração. Pelo teorema de Plancherel, temos que

k fb k2 =k f k2 .

Ademais, pelo item (1) da Proposição (3.0.1), temos que

k fb k∞ ≤k f k1 .

Portanto, aplicando o Teorema (3.2.2), obtemos que

k fb kqθ ≤k f kpθ

em que
1 1−θ 1+θ
= +θ =
pθ 2 2
e
1 1−θ θ 1−θ
= + = .
qθ 2 ∞ 2

59
Capı́tulo 3. A transformada de Fourier em L1 + L2

Então
1 1 1 + θ 1 − θ
+ = + =1
pθ qθ 2 2
e assim,
1 1 pθ − 1 pθ
=1− = e qθ = = p0θ .
qθ pθ pθ pθ − 1
Logo, para cada f ∈ Lp , temos que

k fb kp0θ ≤k f kpθ ,

sempre que 1 ≤ pθ ≤ 2.

Corolário 3.2.8 (Desigualdade de Young). Se f ∈ Lp e g ∈ Lq então f ∗ g ∈ Lr , onde


1 1 1
+1= + e
r p q
k f ∗ g kr ≤k f kp k g kq .

Antes de demonstrar este corolário, enunciaremos um resultado que será necessário para a
realização da prova.

Teorema 3.2.9 (Desilgualdade de Minkowski). Seja 1 ≤ p ≤ ∞. Para f ∈ Lp e g ∈ L1 , temos


que
k f ∗ g kp ≤k f kp k g k1 .

Demonstração. (Corolário 3.2.8) Pelo teorema acima (desigualdade de Minkowski), temos que

k f ∗ g kp ≤k f kp k g k1 .

Além disso,

k f ∗ g k∞ ≤ |f ∗ g|
ˆ

= f (x − y)g(y)dy
ˆR
n

≤ |f (x − y)g(y)|dy
Rn
≤ k f (· − y) kp k g kp0
= k f kp k g kp0 .

Utilizando o teorema de interpolação de Riesz-Thorin, temos que T = f ∗ e kj =k f kp ,


j = 0, 1. Assim,
1 θ 1 1−θ θ 1 1−θ
=1−θ+ 0 e = + ⇒ = .
q p r p ∞ r p

60
3.2. O Teorema de Interpolação de Riesz-Thorin

Ademais, sabemos que


1 1
+ 0 =1
p p
1 p0 − 1
⇒ =
p p0
1 −p0 + 1
⇒− =
p p0
θ −θp0 + θ
⇒− =
p p0
θ θ
⇒ − = −θ + 0
p p
1 θ 1 θ
⇒ +1− = +1−θ+
p p p p
1−θ 1 θ
⇒ +1 = + 1 − θ + 0
p p p
| {z } | {z }
1 1
r q
1 1 1
⇒ +1= + .
r p q
Logo,
k f ∗ g kr ≤k f kp k g kq .

61
Capı́tulo 4

A classe de distribuições temperadas

A ideia fundamental da teoria das distribuições é que, geralmente, é mais fácil trabalhar
com funcionais lineares atuando em espaços de funções ”agradáveis”do que trabalhar com
funções “ruins” diretamente. O conjunto de boas funções que consideramos é fechado sob
operações básicas em análise, e essas operações são estendidas às distribuições por dualidade.
Esta interpretação provou ser uma ferramenta indispensável que esclareceu muitas situações
em análise.

4.1 Espaços de funções teste


Definição 4.1.1. O suporte de uma função contı́nua f : X → R é definido por

supp f = {x ∈ X : f (x) 6= 0}.

Lembremos as seguintes notações:

- C0∞ (Rn ): espaço das funções suaves definidas em Rn com suporte compacto.

- S(Rn ): espaço das funções de Schwartz.

- C ∞ (Rn ): espaço das funções suaves definidas em Rn .

Estamos principalmente interessados nesses três espaços de boas funções no Rn que estão
relacionados da seguinte forma:

C0∞ (Rn ) ⊆ S(Rn ) ⊆ C ∞ (Rn ).

Definição 4.1.2. Definimos convergência de sequências nesses espaços. Dizemos que

63
Capı́tulo 4. A classe de distribuições temperadas

• fk → f em C ∞ se, e somente se, fk , f ∈ C ∞ e

lim sup |∂ α (fk − f )(x)| = 0,


k→∞ |x|≤N

para todo multi-ı́ndice α e para todo N = 1, 2, . . . .

• fk → f em S se, e somente se, fk , f ∈ S e



lim sup xα ∂ β (fk − f )(x) = 0,
k→∞ x∈Rn

para todos os multi-ı́ndices α, β.

• fk → f em C0∞ se, e somente se, fk , f ∈ C0∞ , supp(fk ) ⊆ B, para todo k, B compacto e

lim k∂ α (fk − f )kL∞ = 0,


k→∞

para todo multi-ı́ndice α.

Segue que convergência em C0∞ (Rn ) implica convergência em S(Rn ) e convergência em S(Rn )
implica convergência em C ∞ (Rn ).

Exemplo 4.1.3. Seja ( 1


e x2 −1 , se x ∈ (−1, 1)
ϕ(x) = (4.1)
0, caso contrário .
Assim, ϕ ∈ C0∞ (R) (essa função é chamada de smooth bump). Defina a sequência ϕk da
seguinte forma
ϕ(x − k)
ϕk (x) = .
k
Lembrando que kf kL∞ = inf {B : µ ({x : |f (x)| > B}) = 0}, como ϕ(x) ≤ 1e , ∀x ∈ R, temos
kϕkL∞ = 1e . Além disso, kϕk kL∞ = k1 kϕkL∞ = 1
ke
.
1
Assim, vemos que limk→∞ kϕk kL∞ = limk→∞ ke
= 0. O problema é que, para concluir que
ϕk → 0 em C0∞ (R) com a convergência definida anteriormente, precisamos mostrar que

lim k∂ α ϕk kL∞ = 0, ∀α.


k→∞

Isso não é verdade. Note que, para k = 1, temos


( 1
−2x
0 (x2 −1)2
e x2 −1 , se x ∈ (−1, 1)
ϕ (x) = (4.2)
0, caso contrário .

Observe que essa função é ilimitada e não pertence a L∞ . Logo, ϕk não converge para 0 em
C0∞ (R), mesmo que ϕk → 0 uniformemente.

64
4.1. Espaços de funções teste

Além disso, ϕk não converge para nenhuma função em S(R), pois

sup xα ∂ β (ϕk − f ) = ∞, paraβ ≥ 1


x∈R

e para qualquer f ∈ S(R). Por outro lado, como sup|x|≤N |∂ α ϕ(x)| < ∞, para qualquer
α = 1, 2, 3, . . . , e N = 1, 2, 3, . . . , segue-se que

lim sup |∂ α ϕk (x)| = 0,


k→∞ |x|≤N

ou seja, ϕk → 0 em C ∞ (R).

Definição 4.1.4. Uma seminorma em X é uma função ρ : X → R tal que

1. ρ é positivo;

2. ρ(tx) = |t|ρ(x), ∀t;

3. ρ(x + y) ≤ ρ(x) + ρ(y).

Definição 4.1.5. Um espaço localmente convexo é um espaço vetorial X munido de uma


famı́lia de seminormas definidas em X.

Definição 4.1.6. Se X é um espaço vetorial e P é uma famı́lia de seminormas em X, então


o subconjunto D ⊂ P é chamado de base de seminormas para P se, para toda ρ ∈ P, existe
δ ∈ D e um real r > 0 tal que ρ ≤ rδ.

O espaço C ∞ (Rn ) é munido com a famı́lia de seminormas

α
α,N (f ) = sup |(∂ f )(x)|,
ρg
|x|≤N

em que α é um multi-ı́ndice e N , um inteiro positivo.


Afirmação: C ∞ (Rn ) é um espaço completo em relação à famı́lia de seminormas definida
acima.

Demonstração. Seja {fk } ⊂ C ∞ (Rn ) uma sequência de Cauchy. Assim, dado  > 0, existe
K ∈ N tal que, se m, n ≥ K,
sup |∂ α (fn − fm )(x)| < ,
|x|≤N

para qualquer multi-ı́ndice α e N = 1, 2, 3, . . . .


Dessa forma, se n, m ≥ K,

|∂ α (fn − fm )(x)| = |∂ α fn (x) − ∂ α fm (x)| < ,

65
Capı́tulo 4. A classe de distribuições temperadas

para todo multi-ı́ndice α, |x| ≤ N . Isto é, {∂ α fk (x)} é de Cauchy em R. Em particular, tomando
α como sendo o vetor nulo, {fk (x)} é de Cauchy em R e, portanto, converge uniformemente
para alguma f . Como {∂ α fk (x)} também converge uniformemente, temos

∂ α fk (x) → ∂ α f (x)

uniformemente, então
|∂ α fk (x) − ∂ α f (x)| < , |x| ≤ N.

Isso implica que


sup |∂ α fk (x) − ∂ α f (x)| < 

e, portanto,
lim sup |∂ α (fk − f )(x)| = 0.
k→∞ |x|≤N

4.2 Espaços de funcionais em funções teste


Os espaços duais, isto é, os espaços de funcionais lineares contı́nuos nos conjuntos de funções
teste que introduzimos são denotado por

(C0∞ (Rn ))0 = D0 (Rn ), (S(Rn ))0 = S 0 (Rn ) e (C ∞ (Rn ))0 = ε0 (Rn ).

Pelas definições das topologias nos espaços duais, temos

Tk → T em D0 ⇔ Tk , T ∈ D0 e Tk (f ) → T (f ), para toda f ∈ C0∞ .

Tk → T em S 0 ⇔ Tk , T ∈ S 0 e Tk (f ) → T (f ), para toda f ∈ S.

Tk → T em ε0 ⇔ Tk , T ∈ ε0 e Tk (f ) → T (f ), para toda f ∈ C ∞ .

Como C0∞ (Rn ) ⊆ S(Rn ) ⊆ C ∞ (Rn ) segue-se que ε0 (Rn ) ⊆ S 0 (Rn ) ⊆ D0 (Rn ).

Definição 4.2.1. Elementos do espaço D0 (Rn ) são chamados distribuições. Elementos do


espaço S 0 (Rn ) são chamados distribuições temperadas. Elementos do espaço ε0 (Rn ) são chama-
dos distribuições com suporte compacto.

Observação 4.2.2. As aplicações dos espaços C0∞ (Rn ), S(Rn ) e C ∞ (Rn ) são chamadas funções
teste.

66
4.2. Espaços de funcionais em funções teste

Antes de discutir alguns exemplos, daremos caracterizações alternativas de distribuições,


que são muito úteis do ponto de vista prático. A ação de um distribuição u em uma função de
teste f é representada em qualquer uma das seguintes maneiras:

hu, f i = u(f ).

Proposição 4.2.3. a) Um funcional linear u em C0∞ (Rn ) é uma distribuição se, e somente
se, para todo compacto K ⊆ Rn , existe C > 0 e um inteiro m tal que
X
|hu, f i| ≤ C k∂ α f kL∞ , para toda f ∈ C0∞
|α|≤m

com suporte em K.

b) Um funcional linear u em S(Rn ) é uma distribuição temperada se, e somente se, existe
C ∈ R, C > 0 e inteiros k, m tais que
X
|hu, f i| ≤ C ρα,β (f ), para toda f ∈ S(Rn ).
|α|≤m, |β|≤k

c) Um funcional linear u em C ∞ (Rn ) é uma distribuição com suporte compacto se, e somente
se, existe C > 0 e inteiros N, m tais que
X
|hu, f i| ≤ C ρ̃α,N (f ), para toda f ∈ C ∞ (Rn ).
|α|≤m

Demonstração. Provaremos o item (b).


(b) (⇐) Suponha que u seja um funcional linear u : S(Rn ) → C tal que
X
|hu, f i| ≤ C ρα,β (f ), para toda f ∈ S(Rn ).
|α|≤m, |β|≤k

Seja {fk } ⊂ S(Rn ) sequência tal que fk → f ∈ S(Rn ) . Assim, temos


X
|hu, fk − f i| ≤ C ρα,β (fk − f ) → 0, k → ∞.
|α|≤m, |β|≤k

Logo hu, fk i → hu, f i, o que implica que u é contı́nuo e, portanto, u ∈ S 0 (Rn ).


(⇒) Vamos mostrar que, se u é contı́nuo, existem inteiros k e m e um δ > 0 tal que

|α| ≤ m, |β| ≤ k e ρα,β (f ) < δ ⇒ |hu, f i| ≤ 1.

De fato, sabemos que a coleção

Wα,β,δ := {f ∈ S(Rn ) : ρα,β (f ) < δ} ,

67
Capı́tulo 4. A classe de distribuições temperadas

em que α e β são multi-ı́ndices e δ > 0, é uma sub-base para a topologia de S. Isso quer
dizer que todo aberto de S se escreve como união arbitrária de interseção finita de elementos
de {Wα,β,δ }. Dessa forma, se A é um aberto em S que contém a origem
[
A= Bi
i∈Ω
Tni
em que Bi = j=1 Wαj ,βj ,δj . Logo, temos
[
f ∈A⇔f ∈ Bi ⇔ f ∈ Bi ,
i∈Ω
Tni
para algum i ∈ Ω. Então, f ∈ j=1 Wαj ,βj ,δj ⇔ f ∈ Wαj ,βj ,δj , ∀j = 1, . . . , ni , ⇔ ραj ,βj (f ) <
δj , ∀j = 1, . . . , ni .
Defina

δ = min {δ1 , . . . , δni } , m = max{|α1 |, . . . , |αni |} e k = max{|β1 |, . . . , |βni |}.

Assim, f ∈ A se, e somente se, existem k, m ∈ N e δ > 0 tal que ρα,β (f ) < δ, |α| ≤ m, |β| ≤ k.
Agora, como u é contı́nuo na origem, dado  = 1, existe um aberto A ⊂ S(Rn ) que contém
a origem tal que
f ∈ A ⇒ |hu, f i| ≤ 1,

ou seja, existem k, m ∈ N, δ > 0 tal que

|α| ≤ m, |β| ≤ k, ρα,β < δ ⇒ |hu, f i| ≤ 1.


P
Seja k ∈ R tal que k |α|≤m, |β|≤k ρα,β (f ) ≥ δ, temos que
X δ 1 k
ρα,β (f ) ≥ ⇒P ≤ , f 6= 0.
k |α|≤m, |β|≤k ρα,β (f ) δ
|α|≤m, |β|≤k

Assim,
|hu, f i| 1 k
P ≤P ≤ ,
|α|≤m, |β|≤k ρα,β (f ) |α|≤m, |β|≤k ρα,β (f ) δ
o que implica que
X
|hu, f i| ≤ c ρα,β (f ),
|α|≤m, |β|≤k

em que c = kδ .

Exemplo 4.2.4. 1. A massa de Dirac na origem, δ0 . δ0 é definida da seguinte forma

hδ0 , ϕi = ϕ(0), ϕ ∈ C ∞ (Rn ).

68
4.2. Espaços de funcionais em funções teste

Afirmamos que δ0 está em ε0 . Para provar essa afirmação, precisamos verificar a conti-
nuidade de δ0 . Seja {ϕk } ⊂ C ∞ uma sequência tal que ϕk → ϕ, temos que

hδ0 , ϕk i = ϕk (0) → ϕ(0) = hδ0 , ϕi.

Logo δ0 ∈ ε0 .

A massa de Dirac em um ponto a ∈ Rn é definida similarmente por

hδa , ϕi = ϕ(a), ϕ ∈ C ∞ (Rn ).

2. Algumas funções g podem ser vista como uma distribuição por meio da identificação
g 7→ Lg , em que Lg é o seguinte funcional
ˆ
Lg (ϕ) = ϕ(x)g(x)dx.
Rn
´
Observação 4.2.5. Nem sempre Lg define um funcional, pois Rn
ϕ(x)g(x)dx pode ser
infinita.

Alguns exemplos:

3. Seja 1 a função constante e igual a 1. Para ϕ ∈ S(Rn ) temos


ˆ
L1 (ϕ) = ϕ(x)dx.
Rn

Mostraremos que a integral acima não é infinita. Para isso, precisamos lembrar que
uma função ϕ ∈ C ∞ está em S(Rn ) se, e somente se, para todo natural N e para todo
multi-ı́ndice α, existe uma constante positiva Cα,N tal que

|(∂ α ϕ)(x)| ≤ Cα,N (1 + |x|)−N .

Tomando α = (0, 0, . . . , 0) e N = n + 1, temos

C0,n+1
|ϕ(x)| ≤ .
(1 + |x|)n+1

Voltando à integral, temos


ˆ ˆ ˆ ∞
L1 (ϕ) = ϕ(x)dx = ϕ(rγ)rn−1 drdγ
Rn S n−1 0

69
Capı́tulo 4. A classe de distribuições temperadas

e portanto
ˆ ˆ ∞
|L1 (ϕ)| ≤ |ϕ(rγ)|rn−1 drdγ
ˆ0
S n−1
ˆ ∞
1
≤ C0,n+1 n+1
rn−1 drdγ
(1 + r)
ˆS
n−1 0
rn ∞
= C0,n+1 dγ

n
S n−1 n(r + 1) 0
ˆ  n
C0,n+1 r ∞
= dγ
n r+1 0
ˆ S n−1
C0,n+1
= dγ
n S n−1
C0,n+1
= Vol(S n−1 ).
n
Além disso, L1 é contı́nuo. De fato, seja {ϕk } ⊂ S uma sequência tal que ϕk → ϕ,
com ϕ ∈ S. Então, ϕk (x) → ϕ(x) uniformemente em Rn , porque, como ϕk → ϕ em S,
segue-se que limk→∞ supx∈Rn |X α ∂ β (ϕk − ϕ)(x)| = 0 para quaisquer multi-ı́ndices α, β.
Dessa forma, tomando α = β = 0, dado  > 0, existe N ∈ N tal que

sup |(ϕk − ϕ)(x)| < , ∀k ≥ N.


x∈Rn

Isso implica que


|ϕk (x) − ϕ(x)| < , ∀k ≥ N, ∀x ∈ Rn ,
ou seja, ϕk → ϕ uniformemente em Rn .
Logo, ˆ ˆ
ϕn (x)dx → ϕ(x)dx,
Rn Rn
o que implica que
L1 (ϕn ) → L1 (ϕ)
e, portanto, L1 é contı́nuo.
´
Observe, no entanto, que se ϕ ∈ C ∞ (Rn ), então L1 (ϕ) = Rn
ϕ(x)dx pode ser infinita.

4. Funções integráveis com suporte compacto podem ser identificadas com funcionais em
ε0 (Rn ). De fato, seja g uma função integrável com suporte compacto e considere

K = supp g = {x : g(x) 6= 0} ⊂ Rn .

Assim, se ϕ ∈ C ∞ (Rn ), temos


ˆ ˆ
Lg (ϕ) = ϕ(x)g(x)dx = ϕ(x)g(x)dx.
Rn K

Como essa integral converge e Lg é contı́nuo, segue que Lg ∈ ε0 (Rn ).

70
4.2. Espaços de funcionais em funções teste

2
5. e|x| pode ser identificada com um funcional em D0 , mas não com um funcional em S 0 . A
explicação é análoga às anteriores.
Antes de analisarmos o próximo exemplo, vejamos a seguinte definição:

Definição 4.2.6. Para 0 < p < ∞, o espaço Lploc (Rn , | · |), ou simplesmente Lploc (Rn ), é o
conjunto de todas as funções Lebesgue mensuráveis f ∈ Rn que satisfazem
ˆ
|f (x)|p dx < ∞ (4.3)
K

para qualquer compacto K de Rn . Funções que satisfazem (4.3) com p = 1 são chamadas
de funções localmente integráveis em Rn .

A união de todos os espaços Lp (Rn ), 1 ≤ p ≤ ∞ está contida em L1loc (Rn ).

6. Funções em L1loc são distribuições. Para ver isso, primeiro observe que, se g ∈ L1loc , então
a integral ˆ
Lg (ϕ) = ϕ(x)g(x)dx
Rn

é bem definida para todo ϕ ∈ C0∞ (Rn ), pois ϕ se anula fora de um compacto e g é
localmente integrável, isto é,
ˆ
|g(x)|dx < ∞, ∀K ⊂ Rn compacto.
K

Além disso, se K = supp f , temos

ˆ

|Lg (ϕ)| = ϕ(x)g(x)dx

ˆK
≤ |ϕ(x)g(x)|dx
K ˆ
≤ kϕkL∞ |g(x)|dx.
K
|{z}
Hölder

Note que Lg é contı́nuo. De fato, dada uma sequência {ϕn } ⊂ C0∞ (Rn ) tal que ϕn → ϕ ∈
C0∞ , temos ˆ
|Lg (ϕn ) − Lg (ϕ)| ≤ kϕn − ϕkL∞ |g(x)|dx → 0.
K

Isso implica que Lg (ϕn ) → Lg (ϕ), uma vez que

ϕn → ϕ ⇔ ϕn , ϕ ∈ C0∞ (Rn ), supp(ϕn ) ⊂ B, ∀n, B compacto

e limn→∞ k∂ α (ϕn − ϕ)kL∞ = 0, ∀α multi-ı́ndice.

71
Capı́tulo 4. A classe de distribuições temperadas

7. As funções em Lp , 1 < p ≤ ∞ também podem ser identificadas com distribuições tempe-


radas. De fato, seja g ∈ Lp e defina
ˆ
Lg (ϕ) = ϕ(x)g(x)dx, ϕ ∈ S(Rn ).
Rn
Assim, ˆ
1 1
|Lg (ϕ)| ≤ |ϕ(x)g(x)|dx ≤ kϕkq kgkp < ∞, + = 1.
Rn p q
No entanto, a função g não pode ser identificada com uma distribuição em ε0 , a menos
que g tenha suporte compacto.

8. Seja µ uma medida de Borel finita (isto é, µ é uma medida definida na σ-álgebra de
Borel e µ(A) < ∞, para qualquer A numa σ-álgebra). Podemos identificar µ com uma
distribuição temperada da seguinte maneira
ˆ
Lµ (ϕ) = ϕ(x)dµ(x).
Rn

Para mostrar que Lµ é contı́nuo, considere uma sequência {ϕk } ⊂ S tal que ϕk → ϕ em
S. Observe que ϕk → ϕ uniformemente em Rn e, assim,
ˆ ˆ
ϕk (x)dµ(x) → ϕ(x)dµ(x).
Rn Rn
Portanto,
Lµ (ϕk ) → Lµ (ϕ),
o que implica na continuidade de Lµ .
No entanto, medidas finitas de Borel nem sempre podem seer identificadas com distri-
buições com suporte compacto.

9. Toda função g que satisfaz


|g(x)| ≤ c(1 + |x|)k ,
para algum k ∈ R, pode ser identificada com uma distribuição temperada. Para demons-
trar este fato, precisamos lembrar que ϕ ∈ S(Rn ) se, e somente se, para qualquer natural
N e α multi-ı́ndice, existe uma constante Cα,N tal que |(∂ α ϕ)(x)| ≤ Cα,N (1 + |x|)−N .
´
Dessa forma, temos Lg (ϕ) = Rn g(x)ϕ(x)dx e

ˆ
|Lg (ϕ)| ≤ |g(x)ϕ(x)|dx
Rn
ˆ
≤ C (1 + |x|)k C0,N (1 + |x|)−N dx
Rn ˆ
= C · C0,N (1 + |x|)k−N dx.
Rn

Tomando N > k, a integral acima converge.

72
4.3. O espaço de distribuições temperadas

4.3 O espaço de distribuições temperadas


As distribuições temperadas são muito úteis na Análise Harmônica. A razão para esse fato
está relacionada à importância de operadores invariantes por translações limitadas na Análise
Harmônica. Os operadores de Lp (Rn ) para Lq (Rn ) que têm essa propriedade são dados por
uma convolução com uma distribuição temperada.
Suponha que f e g são funções de Schwartz e α um multi-ı́ndice. Integrando por partes |α|
vezes, temos
ˆ ˆ
α |α|
(∂ f )(x)f (x)dx = (−1) f (x)(∂ α g)(x)dx. (4.4)
Rn Rn

Observação 4.3.1. Se f e g são funções de Schwartz de R, temos


k dN f (x) N

< ∞ e xk d g(x) < ∞

x
dxN dxN
para quaisquer k e N naturais. Assim, integrando por partes, temos
ˆ ˆ
0

g 0 (x)f (x)dx.

 −∞ −

f (x)g(x)dx = f (x)g(x)

R R

Logo, ˆ ˆ
0
f (x)g(x)dx = − g 0 (x)f (x)dx.
R R

Se quiséssemos definir a derivada de uma distribuição temperada u, terı́amos que dar uma
definição que estende a definição da derivada de uma função e que satisfaz (4.4) para g ∈ S 0
e f ∈ S, se as integrais em (4.4) são interpretadas como ações de distribuições em funções.
Simplesmente usamos a equação (4.4) para definir o derivada de uma distribuição.

Definição 4.3.2. Sejam u ∈ S 0 e α um multi-ı́ndice. Defina

h∂ α u, f i = (−1)|α| hu, ∂ α f i.

Se u é uma função, as derivadas de u no sentido de distribuição são chamadas de derivadas


distribucionais.

Definição 4.3.3. Seja u ∈ S 0 . Definimos a transformada de Fourier u


b e a transformada inversa
de Fourier u∨ de uma distribuição temperada u por

u, f i = hu, fbi e hu∨ , f i = hu, f ∨ i.


hb

Exemplo 4.3.4. Considere δ0 ∈ S 0 . Sabemos que hδ0 , ϕi = ϕ(0). Para ϕ ∈ S, temos


ˆ ˆ
−2πix0
hδb0 , ϕi = hδ0 , ϕi
b = ϕ(0)
b = ϕ(x)e dx = ϕ(x)dx.
Rn Rn

73
Capı́tulo 4. A classe de distribuições temperadas

Logo, δb0 pode ser identificada com a função constante 1.


Lembremos a seguinte propriedade da transformada de Fourier,

(∂ α fb)(ξ) = ((−2πix)
\ α f (x))(ξ).

Assim, dado ϕ ∈ S, temos

\
h(∂ α δ ), ϕi = h∂ α δ , ϕi
0 0 b

= (−1)|α| hδ0 , ∂ α ϕi
b
= (−1)|α| hδ0 , ((−2πix)
\ α ϕ(x))i

= (−1)|α| ((−2πix)
\ α ϕ(x))(0)
ˆ
= (−1)|α| (−2πix)α ϕ(x)dx
Rn ˆ
|α| |α|
= (−1) (−1) (2πix)α ϕ(x)dx
ˆ Rn

= (2πix)α ϕ(x)dx.
Rn

\
Isso mostra que (∂ α δ ) pode ser identificada com (2πix)α .
0

Exemplo 4.3.5. Para x0 ∈ Rn , lembremos que δx0 (f ) = hδx0 , f i = f (x0 ). Então, se h ∈ S(Rn ),
temos ˆ
hδc
x0 , hi = hδx0 , hi = h(x0 ) =
b b h(x)e−2πixx0 dx,
Rn

−2πixx0
x0 pode ser identificada com a função x 7→ e
isto é, δc . Em particular, δb0 = 1.
2
Exemplo 4.3.6. A função e|x| não pode ser identificada com uma distribuição em S 0 , logo sua
transformada de Fourier não está definida como distribuição.
Agora seja g ∈ L1loc (Rn ) que tem crescimento polinomial no infinito, isto é, existem k ∈ N e
c > 0 tais que |g(x)| ≤ c(1 + |x|)k , ∀x ∈ R. Mostramos que g pode ser identificada com uma
distribuição temperada. De fato, dada ϕ ∈ S, temos
ˆ
|Lg (ϕ)| = | |g(x)ϕ(x)|dx|
ˆ R n

≤ |g(x)ϕ(x)|dx
ˆ
R n

≤ c (1 + |x|)k−N |ϕ(x)|(1 + |x|)N dx


ˆR
n

≤ c (1 + |x|)k−N ρα,β (ϕ)dx


Rn
´
para algum α e algum β multi-ı́ndices e N tal que a integral Rn
(1 + |x|)k−N dx seja convergente.

74
4.3. O espaço de distribuições temperadas

Assim, temos
|Lg (ϕ)| ≤ c0 ρα,β (ϕ),
em que c0 é uma constante. Dada uma sequência {ϕk } ⊂ S tal que ϕk → ϕ, temos

|Lg (ϕk − ϕ)| ≤ c0 ρα,β (ϕk − ϕ) → 0.

Portanto, Lg (ϕk ) → Lg (ϕ), o que implica que Lg é contı́nuo. Logo, g pode ser identificada com
um funcional em S 0 , isto é, uma distribuição temperada.

Sejam f, g ∈ S, temos, para todo t ∈ Rn e a > 0,


´ ´
(I) Rn g(x)f (x − t)dx = Rn g(x + t)f (x)dx;
´ ´
(II) Rn g(ax)f (x)dx = Rn g(x)a−n f (a−1 x)dx;
´ ´
(III) Rn ge(x)f (x)dx = Rn g(x)fe(x)dx.

Note que todas essas igualdades resultam do teorema de mudança de variáveis para integrais.

Definição 4.3.7. A translação τ t u, a dilatação δ a e a reflexão u


e de uma distribuição temperada
u são definidas da seguinte forma:

• hτ t u, f i = hu, τ −t f i

• hδ a u, f i = hu, a−n δ 1/a f i

• he
u, f i = hu, fei

para todo t ∈ Rn e a > 0. Seja A uma matriz invertı́vel. A composição de uma distribuição u
com uma matriz invertı́vel A é a distribuição
−1
huA , ϕi = | det A|−1 hu, ϕA i,
−1
em que ϕA (x) = ϕ(A−1 x).

Observação 4.3.8. As operações de translação, dilatação, reflexão e derivação são contı́nuas


nas distribuições temperadas.
Mostraremos apenas que a translação é contı́nua. Todos os outros casos são análogos.
Afirmação: O operador τ t : S 0 (Rn ) → S 0 (Rn ) dado por u 7→ τ t u : S(Rn ) → C, com
hτ t u, f i = hu, τ t f i é contı́nuo.
Com efeito, seja {uk } ⊂ S 0 (Rn ) tal que uk → u ∈ S 0 (Rn ), isto é, uk (ϕ) → u(ϕ), ∀ϕ ∈ S.
Queremos mostrar que τ t uk → τ t u, equivalentemente, hτ t uk , f i → hτ t u, f i, para toda f ∈ S.
Note que
hτ t uk , f i = huk , τ −t f i → hu, τ −t f i = hτ t u, f i.
|{z}
∈S(Rn )

Portanto, τ t é contı́nuo.

75
Capı́tulo 4. A classe de distribuições temperadas

Exemplo 4.3.9. Consideremos a massa de Dirac δ0 . Temos

hδe0 , f i = hδ0 , fei = fe(0) = f (0) = hδ0 , f i.

Logo, a massa de Dirac na origem é igual a sua reflexão. Além disso, temos
 
−n a1 −n a1 −n 1
a
hδ δ0 , f i = hδ0 , a (δ f )i = a (δ f )(0) = a f 0 = a−n f (0) = a−n hδ0 , f i.
a
Isso mostra que δ a δ0 = a−n δ0 , então

hτ x δ0 , f i = hδ0 , τ −x f i = (τ −x f )(0) = f (0 + x) = f (x) = hδx , f i.

4.3.1 Teoria dos espaços de Sobolev em L2


Definição 4.3.10. Para um número inteiro não negativo k, o espaço de Sobolev H k é definido
como sendo o espaço de todas as distribuições temperadas cujas derivadas de ordem menor ou
igual a k estão em L2 .

Então,

H k = {f ∈ S 0 : Dα f ∈ L2 (Rn ) para 0 ≤ |α| ≤ k}.


Da definição, notamos que f ∈ H k se, e somente se, ξ α fˆ(ξ) ∈ L2 para 0 ≤ |α| ≤ k.

Proposição 4.3.11. f ∈ H k se, e somente se, (1 + |ξ|2 )k/2 fˆ ∈ L2 .

Demonstração. (⇐) Primeiro, assumiremos que (1 + |ξ|2 )k/2 fˆ ∈ L2 . Para |ξ| ≥ 1,

|ξ α | ≤ |ξ|k ≤ (1 + |ξ|2 )k/2 para todo |α| ≤ k.

Para |ξ| < 1,


|ξ α | ≤ 1 ≤ (1 + |ξ|2 )k/2 para todo |α| ≤ k.
Assim, temos que
|ξ α fˆ(ξ)| ≤ (1 + |ξ|2 )k/2 fˆ(ξ)
e, consequentemente, ξ α fˆ ∈ L2 para |α| ≤ k, o que implica que f ∈ H k .
(⇒) Agora, assumiremos que f ∈ H k . Para |ξ| =
6 0, temos
 Xn 
2 k/2 k k
(1 + |ξ| ) ≤ c0 (1 + |ξ| ) ≤ c0 1 + c |ξj | .
j=1

Assim,
n
X
2 k/2
k(1 + |ξ| ) fˆk2 ≤ c0 kf k2 + c0 c k∂jk f k2 ,
j=1

o que mostra que (1 + |ξ|2 )k/2 fˆ ∈ L2 .

76
4.3. O espaço de distribuições temperadas

A caracterização de H k dada na proposição acima sugere imediatamente uma generalização


para valores não inteiros de k, o que vem a ser muito útil.

Definição 4.3.12. Para s ∈ R, definimos o operador Λs : S −→ S por

(Λs f )ˆ(ξ) = (1 + |ξ|2 )s/2 fˆ(ξ).


 s/2
Em outras palavras, Λs = I − 4π∆2 . Claramente, Λs mapeia S continuamente sobre si
mesmo. Podemos, portanto, estender Λs continuamente de S 0 sobre si mesmo.

O espaço de Sobolev de ordem s é definido por

H s = {f ∈ S 0 : Λs f ∈ L2 }.

Equiparemos o espaço H s com a norma kf k(s) = kΛs f k2 . Se s é um inteiro positivo, a prova


da Proposição (4.3.11) mostra que a norma k k(s) é equivalente à norma
X
kf k = kDα f k2 .
0≤|α|≤s

77
Capı́tulo 5

Aplicações a algumas equações


diferenciais parciais

5.1 A equação do calor dependente do tempo em R


Considere uma haste infinita, que modelamos pela linha real, e suponha que recebemos
uma distribuição de temperatura inicial f (x) na haste no tempo t = 0. Desejamos determinar
a temperatura u(t, x) no ponto x, no tempo t > 0. Considerações mostram que quando u é
normalizado apropriadamente, ele resolve a seguinte equação diferencial parcial:

∂u ∂ 2u
= (5.1)
∂t ∂x2

chamada de equação do calor. A condição inicial que impomos é u(0, x) = f (x).


A solução é dada em termos de uma convolução. Na verdade, defina o kernel de calor em
R por
Ht (x) = Kδ (x), com δ = 4πt,

então
x2 x2
e−π δ e−π 4πt 1 x2
Ht (x) = 1 = 1 = 1 e− 4t
δ 2 (4πt) 2 (4πt) 2

e, pelo corolário (1.1.7), H cδ (ξ) = e−4π2 tξ2 .


ct (ξ) = K
Note que, pela proposição (1.1.3), item (iv), se f ∈ S(R), então

f 0 (x) −→ 2πiξ fb(ξ).

∂u
Aqui faremos f (x) = ∂x
(t, x) e então

79
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

∂ 2u ∂u
c
(t, x) −→ 2πiξ (t, ξ) = 2πiξ(2πiξb u(t, ξ))
∂x2 ∂ξ
= −4π 2 ξ 2 u
b(t, ξ).

Além disso,
ˆ ∞
∂u
c ∂u
(t, ξ) = (t, x)e−2πixξ dx
∂t ∂t
ˆ−∞


= (u(t, x)e−2πixξ )dx
−∞ ∂t
ˆ
∂ ∞
= u(t, x)e−2πixξ dx
∂t −∞
∂b
u
= (t, ξ).
∂t
Assim, tomando a transformada de ambos os lados em (5.1), temos

∂bu
(t, ξ) = −4π 2 ξ 2 u
b(t, ξ).
∂t
Fixando ξ, esta é uma equação diferencial ordinária na variável t (com u
b(·, ξ) desconhecida),
então existe uma constante A(ξ) tal que

2 ξ2 t
b(t, ξ) = A(ξ)e−4π
u . (5.2)

Podemos também tomar a transformada de Fourier da condição inicial e obter u


b(0, ξ) = fb(ξ).
Logo, por (5.2),

fb(ξ) = A(ξ).

Isso leva ao seguinte teorema.

Teorema 5.1.1. Dada f ∈ S(R), seja

u(t, x) = (f ∗ Ht )(x), para t > 0

em que Ht é o kernel do calor. Então:

(i) A função u é C 2 quando x ∈ R e t > 0, e u resolve a equação do calor.

(ii) u(t, x) −→ f (x) uniformemente em x quando t → 0. Portanto, se definirmos u(0, x) =


f (x), então u é contı́nua no fecho do semiplano superior R2+ = {(t, x) : x ∈ R, t ≥ 0}.
´∞
(iii) −∞
|u(t, x) − f (x)|2 dx −→ 0 quando t −→ 0.

80
5.1. A equação do calor dependente do tempo em R

Demonstração. (i) Como u = f ∗ Ht , tomando a transformada de Fourier na variável x,


∗ Ht(ξ) = fb(ξ)H
b(t, ξ) = f\
temos que u ct (ξ). Então, u 2 2
b(t, ξ) = fb(ξ)e−4π ξ t . A fórmula de
inversão de Fourier nos fornece

ˆ ∞
2 2
u(t, x) = fb(ξ)e−4π ξ t e2πixξ dξ.
−∞

Derivando a expressão acima em relação a t, encontramos

ˆ ∞ 
∂u ∂ −4π 2 ξ 2 t 2πixξ
(t, x) = f (ξ)e
b e dξ
∂t ∂t −∞
ˆ ∞
∂ hb 2 2
i
= f (ξ)e−4π ξ t e2πixξ dξ
∂t
ˆ−∞

2 2
= −4π 2 ξ 2 fb(ξ)e−4π ξ t e2πixξ dξ.
−∞

Agora, derivando duas vezes em relação à variável x, obtemos


ˆ ∞
∂ 2u ∂2

−4π 2 ξ 2 t 2πixξ
(t, x) = f (ξ)e
b e dξ
∂x2 ∂x2 −∞
ˆ ∞ 2
∂ b −4π 2 ξ 2 t 2πixξ
= 2
[f (ξ)e e ]dξ
−∞ ∂x
ˆ ∞
2 2
= −4π 2 ξ 2 fb(ξ)e−4π ξ t e2πixξ dξ.
−∞

Portanto,

∂u ∂ 2u
(t, x) = (t, x)
∂t ∂x2
e, assim, u soluciona a equação do calor.
Note que u é de classe C 2 . Mais que isso, u é indefinidamente diferenciável.

(ii) Do corolário (1.1.10), temos que u(t, x) = (f ∗ Ht )(x) −→ f (x) uniformemente em x


quando t −→ 0.
Além disso, em (i) vimos que u é de classe C 2 para x ∈ R e t > 0, logo, u é contı́nua para
t > 0. Agora, precisamos ver que u é contı́nua em t = 0. Sabemos que

lim u(t, x) = f (x),


t→0

portanto, se definirmos u(0, x) = f (x), temos que

lim u(t, x) = u(0, x),


t→0

81
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

o que implica que u é contı́nua em t = 0. Dessa forma, se u(0, x) = f (x), então u é


contı́nua em R2+ = {(x, t) : x ∈ R, t ≥ 0}.

(iii) Pela fórmula de Plancherel, temos que

ˆ ∞ ˆ ∞
2
|u(t, x) − f (x)| dx = u(ξ, t) − fb(ξ)|2 dξ
|b
−∞
ˆ−∞

= ct (ξ) − fb(ξ)|2 dξ
|fb(ξ)H
ˆ−∞

= ct (ξ) − 1)|2 dξ
|fb(ξ)(H
ˆ−∞

2 tξ 2
= |fb(ξ)|2 |e−4π − 1|2 dξ.
−∞

Para ver que a integral vai para zero quando t −→ 0, argumentaremos o seguinte:
2 tξ 2 2
Como |e−4π − 1| ≤ |e−4πtξ | + |1| ≤ 1 + 1 = 2 e f ∈ S(R), podemos encontrar N ∈ R
tal que ˆ
2 tξ 2
|fb(ξ)|2 |e−4π − 1|2 dξ < ε
|ξ|≥N

e para um t pequeno temos que

2 tξ 2 ε
sup |fb(ξ)|2 |e−4π − 1|2 <
|ξ|≤N 2N

visto que fb é limitada. Então,


ˆ ˆ
2 −4πtξ 2 2 ε ε ε
|f (ξ)| |e
b − 1| dξ < = (N − (−N )) = 2N = ε
|ξ|≤N |ξ|≤N 2N 2N 2N

para um t pequeno.

Portanto, ˆ ∞
|u(t, x) − f (x)|2 dx −→ 0
−∞

quando t −→ 0.

O teorema acima garante a existência de uma solução para a equação do calor com a
condição inicial u(0, x) = f (x). Esta solução também é única, se a unicidade for formulada
apropriadamente. A este respeito, notamos que u = f ∗ Ht , f ∈ S(R), satisfaz a seguinte
propriedade adicional.

82
5.1. A equação do calor dependente do tempo em R

Corolário 5.1.2. Seja u = f ∗ Ht , com f ∈ S(R), então u(t, ·) pertence a S(R) uniformemente
em t, no sentido de que para todo T > 0
l
k

sup |x| l u(t, x) < ∞, para cada k, l ≥ 0. (5.3)
x∈R ∂x
0<t<T

Demonstração. O resultado é consequência da estimativa seguinte:

ˆ ∞
u(t, x) = (f ∗ Ht )(x) = f (x − y)Ht (y)dy
ˆ−∞

⇒ |u(t, x)| ≤ |f (x − y)||Ht (y)|dy
−∞
ˆ ∞
⇒ |x|k |u(t, x)| ≤ |x|k
|f (x − y)| |Ht (y)| dy
−∞ | {z }
≥0
ˆ ∞
= |x|k |f (x − y)|Ht (y)dy
ˆ ∞
−∞

k 1 2
− y4t
= |x| |f (x − y)| 1 e dy
−∞ (4πt) 2
ˆ ∞
1 y2
= 1 |x|k |f (x − y)|e− 4t dy
(4πt) 2 −∞
ˆ ∞
1 2
k − y4t
≤ 1 C k (1 + |y|) e dy
|{z} (4πt) 2 −∞
(1.10)
ˆ ∞ √
Ck s2 √
= 1 (1 + |s t|)k e− 4 tds
|{z}
√ (4πt) 2 −∞
s=y/ t
ˆ ∞ √
Ck s2
= 1 (1 + |s t|)k e− 4 ds
(4π) 2 −∞
< ∞.

Consequentemente, vemos que u(x.t) está decrescendo rapidamente e uniformemente para


0 < t < T.
O mesmo argumento pode ser aplicado às derivadas de u na variável x, uma vez que podemos
derivar sob o sinal da integral e aplicar a estimativa acima substituindo f por f 0 .

Isso leva ao seguinte teorema de unicidade.

Teorema 5.1.3. Suponha que u(t, x) satisfaz as seguintes condições:

(i) u é contı́nua no fecho do semiplano superior.

(ii) u satisfaz a equação do calor para t > 0.

83
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

(iii) u satisfaz a condição de fronteira u(0, x) = 0.

(iv) u(t, ·) ∈ S(R) uniformemente em t, como em (5.3).

Então, concluı́mos que u = 0.


∂lu ∂u
A seguir usaremos as abreviações ∂xl u e ∂t u para denotar ∂xl
e ∂t
, respectivamente.

Demonstração. Definiremos a energia no tempo t da solução u(x, t) por

ˆ
E(t) = |u(t, x)|2 dx.
R

Claramente E(t) ≥ 0. Como E(0) = 0, para mostrar que E(t) = 0 é suficiente mostrar que
dE
E é uma função não crescente, e isso é obtido provando que dt
≤ 0. As suposições em u nos
permite derivar E(t) sob o sinal de integral.

ˆ ˆ
2
E(t) = |u(t, x)| dx = u(t, x)u(x, t)dx
R
ˆ R

dE(t) d
⇒ = u(t, x)u(t, x)dx
dt dt R
ˆ
d
= [u(t, x)u(t, x)]dx
dt
ˆR

= [∂t u(t, x)u(t, x) + u(t, x)∂t u(t, x)]dx.


R

Mas u satisfaz a equação do calor para t > 0, portanto ∂t u = ∂x2 u e ∂t u = ∂x2 u. Assim,

ˆ
dE
(t) = [∂t u(t, x)u(t, x) + u(t, x)∂t u(t, x)]dx
dt
ˆR
= [∂x2 u(t, x)u(t, x) + u(t, x)∂x2 u(t, x)]dx
ˆR ˆ
= ∂x u(t, x)u(t, x)dx + u(t, x)∂x2 u(t, x)dx = (∗)
2
R R

A seguir, integraremos por partes, utilizando o fato de que u e suas derivadas em x decrescem
rapidamente quando |x| → ∞.

84
5.2. A equação de onda em Rd × R

ˆ ˆ
(∗) = u∂x u |∞
− ∂x u∂x udx + u∂x u
−∞ |∞
−∞ − ∂x u∂x udx
ˆ R R

=
|{z} −2 ∂x u∂x udx
R
por (iv)
ˆ
= −2 ∂x u∂x udx
ˆR
= −2 |∂x u|2 dx
| R {z }
≥0
≤ 0,

como querı́amos. Consequentemente, E(t) = 0 para todo t. Assim, u(t, x) = 0 em quase todo
ponto, mas, por (i), u é contı́nua no fecho do semiplano superior, o que implica que u = 0.

5.2 A equação de onda em Rd × R


Nosso próximo objetivo é aplicar o que aprendemos sobre a transformada de Fourier ao
estudo das equações de onda. Aqui, mais uma vez, simplificamos o assunto nos restringindo a
funções da classe de Schwartz S. Observamos que, em qualquer análise posterior da equação
da onda, é importante falar de funções que têm um comportamento muito mais geral e, em
particular, que podem ser descontı́nuas. Entretanto, o que perdemos em generalidade por ape-
nas considerar funções de Schwartz, ganhamos em transparência. Nosso estudo neste contexto
restrito nos permitirá explicar certas ideias básicas em suas formas mais simples.

5.2.1 Solução em termos da transformada de Fourier


O movimento de uma corda vibrante satisfaz a equação

∂ 2u 1 ∂ 2u
=
∂x2 c2 ∂t2
que chamamos de equação da onda unidimensional.
Uma generalização natural desta equação para um espaço de d variáveis é

∂ 2u ∂ 2u 1 ∂ 2u
+ · · · + = (5.4)
∂x21 ∂x2d c2 ∂t2
Na verdade, sabe-se que no caso d = 3, esta equação determina o comportamento das ondas
eletromagnéticas no vacúo (com c = velocidade da luz).

85
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

Além disso, esta equação descreve a propagação das ondas sonoras. Assim, (5.4) é chamada
de equação da onda d−dimensional.
Nossa primeira observação é que podemos assumis c = 1, uma vez que podemos redimensi-
onar a variável t se necessário. Ademais, se definimos o Laplaciano em d dimensões por

∂2 ∂2
∆= + ··· + 2,
∂x21 ∂xd
então a equação da onda pode ser reescrita como

∂ 2u
∆u = . (5.5)
∂t2
O objetivo dessa seção é encontrar uma solução para esta equação sujeita às condições
iniciais

∂u
u(0, x) = f (x) e (0, x) = g(x)
∂t
em que f, g ∈ S(Rd ). Isso é chamado de problema de Cauchy para a equação da onda.
Antes de resolver este problema, notamos que embora pensamos na variável t como tempo,
não nos restringimos a t > 0. Como veremos, a solução que obtemos faz sentido para todo
t ∈ R. Esta é uma manifestação do fato que a equação de onda pode ser revertida no tempo
(ao contrário da equação do calor).
Uma fórmula para a solução do nosso problema é dada no próximo teorema. O argumento
heurı́stico que leva a esta fórmula é importante, uma vez que, como já vimos, isso se aplica a
alguns outros problemas de valores de fronteira também.
Suponha que u resolva o problema de Cauchy para a equação de onda. A técnica empregada
consiste tomar a transformada de Fourier da equação e das condições iniciais com relação às
variáveis espaciais x1 , . . . , xd . Isso conduz o problema a uma equação diferencial ordinária na
variável tempo.
Tomando a transformada de Fourier do lado direito da expressão (5.5), obtemos

ˆ
∂d2u ∂ 2u
(t, ξ) = (t, x)e−2πixξ dx
∂t2 Rd ∂t
2
ˆ
∂2
= 2
(u(t, x)e−2πixξ )dx
d ∂t
R

∂2

−2πixξ
= u(t, x)e dx
∂t2 Rd
∂2
= u
b(t, ξ).
∂t2
86
5.2. A equação de onda em Rd × R

Agora, vamos tomar a transformada de Fourier do lado esquerdo de (5.5). Temos, pelo item
(iv) da proposição (2.3.2), que

2u
∂d
(t, ξ) = (2πiξj )2 u
b(t, ξ) = −4π 2 ξj2 u
b(t, ξ), j = 1, . . . , d.
∂x2j

Portanto

2u
∂d 2u
∂d
2
(t, ξ) + · · · + 2
b(t, ξ)( ξ12 + · · · + ξd2 )
(t, ξ) = −4π 2 u
∂x1 ∂xd |{z} |{z}
∈R ∈R
2 2
= −4π ··· +
b(t, ξ)|ξ1 +
u ξd2 |
q 2
2
= −4π ub(t, ξ) ξ12 + · · · + ξd2

= −4π 2 |ξ|2 u
b(t, ξ).

Por fim, podemos notar que

∂ 2u
−4π 2 |ξ|2 u
b
b(t, ξ) = (x, t).
∂t2
Para cada ξ ∈ Rd fixo, esta é uma equação diferencial ordinária em t cuja solução é dada
por

u
b(t, ξ) = A(ξ) cos(2π|ξ|t) + B(ξ) sin(2π|ξ|t) (5.6)

onde, para cada ξ, A(ξ) e B(ξ) são constantes desconhecidas a serem determinadas pelas
condições iniciais. Tomando a transformada de Fourier (em x) das condições iniciais, temos
que

∂b
u
u
b(0, ξ) = fb(ξ) e (0, ξ) = gb(ξ).
∂t
Fazendo t = 0 em (5.6), temos

b(0, ξ) = A(ξ) ⇒ A(ξ) = fb(ξ).


u

Tomando a derivada em t = 0 em (5.6), encontramos

∂b
u
(0, ξ) = 2π|ξ|B(ξ) ⇒ 2π|ξ|B(ξ) = gb(ξ).
∂t
Portanto, descobrimos que

87
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

sin(2π|ξ|t)
u
b(0, ξ) = fb(ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ) .
2π|ξ|
Por fim, a solução u é dada tomando a transformada inversa na variável ξ,
ˆ  
sin(2π|ξ|t) 2πixξ
u(t, x) = f (ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ)
b e dξ.
Rd 2π|ξ|
Esta derivação formal nos leva a um teorema de existência preciso para o nosso problema.

Teorema 5.2.1. A solução do problema de Cauchy para a equação da onda é


ˆ  
sin(2π|ξ|t) 2πixξ
u(t, x) = f (ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ)
b e dξ. (5.7)
Rd 2π|ξ|
Demonstração. Primeiro verificaremos que u resolve a equação de onda. Para isto, note que
podemos diferenciar em x e t sob o sinal da integral (porque f e g são funções de Schwartz) e,
portanto, u é, pelo menos, C 2 .
Por um lado, diferenciando (5.7) com relação às variáveis xj , obtemos

ˆ 
∂ 2u ∂2
 
sin(2π|ξ|t) 2πixξ
(t, x) = fb(ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ) e dξ
∂x2j ∂x2j Rd 2π|ξ|
ˆ
∂2
  
sin(2π|ξ|t) 2πixξ
= 2
f (ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ)
b e dξ
Rd ∂xj 2π|ξ|
ˆ 
sin(2π|ξ|t) ∂ 2 2πixξ

= f (ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ)
b e dξ
Rd 2π|ξ| ∂x2j
ˆ  
sin(2π|ξ|t)
= fb(ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ) (2πiξj )2 e2πixξ dξ
d 2π|ξ|
ˆR  
sin(2π|ξ|t)
= fb(ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ) (−4π 2 ξj2 )e2πixξ dξ.
Rd 2π|ξ|
Logo,

∂ 2u ∂ 2u
∆u(t, x) = (t, x) + · · · + 2 (t, x)
∂x21 ∂xd
ˆ  
sin(2π|ξ|t) 
−4π 2 (ξ12 + · · · + ξd2 ) e2πixξ dξ

= f (ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ)
b
d 2π|ξ|
ˆR  
sin(2π|ξ|t)
= f (ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ)
b (−4π 2 |ξ|2 )e2πixξ dξ.
R d 2π|ξ|

Enquanto, por outro lado, diferenciando (5.7) em relação a t duas vezes, obtemos
ˆ
∂ 2u
 
2 2b 2 2 sin(2π|ξ|t) 2πixξ
(t, x) = −4π |ξ| f (ξ) cos(2π|ξ|t) − 4π |ξ| gb(ξ) e dξ,
∂t2 Rd 2π|ξ|

88
5.2. A equação de onda em Rd × R

o que implica que


∂ 2u
∆u(t, x) = (t, x).
∂t2
Logo, u soluciona a equação de onda.
Tomando t = 0, obtemos
ˆ
u(0, x) = fb(ξ)e2πixξ dξ = f (x),
Rd

pelo teorema de inversão de Fourier.


Diferenciando (5.7) uma vez em relação a t, temos que
ˆ  
∂u cos(2π|ξ|t) 2πixξ
(t, x) = −2π|ξ|f (ξ) sin(2π|ξ|t) + 
b 2π|ξ|b
 g (ξ)
 e dξ.
∂t Rd 2π|ξ|
 

Tomando t = 0 na expressão acima, encontramos


ˆ
∂u
(0, x) = gb(ξ)e2πixξ dξ = g(x)
∂t Rd

pelo teorema de inversão de Fourier.


Assim, u também verifica as condições iniciais e a prova do teorema está completa.

Note que tanto fb(ξ) cos(2π|ξ|t) quando gb(ξ) sin(2π|ξ|t)


2π|ξ|
são funções em S, visto que f e g estão
sin(u)
em S. Isso ocorre porque cos(u) e u
são funções indefinidamente diferenciáveis.
Tendo provado a existência de uma solução para o problema de Cauchy para a equação de
onda, levantamos a questão de unicidade. Existem soluções para o problema

∂ 2u ∂u
∆u = 2
sujeito a u(0, x) = f (x) e (0, x) = g(x)
∂t ∂t
diferentes daquela dada pela fórmula no teorema? Na verdade, a resposta é, como esperado,
não. A prova deste fato, que não será dada aqui, pode ser baseada em um argumento de
conservação de energia. Esta é uma contrapartida local de uma afirmação de uma conservação
global de energia, a qual iremos apresentar agora.
Podemos observar que a energia total da corda vibrante é conservada no tempo. Defina a
energia de uma solução por
ˆ 2
∂u 2 ∂u 2

∂u
E(t) = ∂x1 + · · · + ∂xd dx.
+
Rd ∂t

Lema 5.2.2. Suponha que a e b são números complexo e que α é real. Então,

|a cos(α) + b sin(α)|2 + | − a sin(α) + b cos(α)|2 = |a|2 + |b|2 .

89
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

Demonstração. Isso decorre diretamente porque e1 = (cos(α), sin(α)) e e2 = (− sin(α), cos(α))


são um par de vetores ortonomais, portanto, com z = (a, b) ∈ C2 , temos

|z|2 = |z · e1 |2 + |z · e2 |2 ,

onde · representa o produto interno em C2 .


Considerando θ o ângulo entre z e e1 , note que

 2  2
 π
|z · e1 |2 + |z · e2 |2 = |z| |e1 | cos θ + |z| |e2 | cos θ + 
|{z} |{z} 2
 =1  =1
π 
2 2 2
= |z| cos θ + cos θ +
2
  2 
π π 
= |z|2 cos2 θ + cos θ cos − sin θ sin  
 
| {z 2} | {z2}
=0 =1
= |z|2 [cos2 θ + (− sin θ)2 ]
= |z|2 [cos2 θ + sin2 θ]
= |z|2 .

Teorema 5.2.3. Se u for a solução da equação de onda dada pela fórmula (5.7), então E(t) é
conservada, ou seja,

E(t) = E(0), ∀t ∈ R.

Demonstração. Pelo teorema de Plancharel,

ˆ 2 ˆ c 2
∂u ∂u
dx = dξ
Rd ∂t Rd ∂t

ˆ 2
= −2π|ξ|f (ξ) sin(2π|ξ|t) + g (ξ) cos(2π|ξ|t) dξ.
b
b
Rd

Similarmente,

90
5.2. A equação de onda em Rd × R

ˆ d d ˆ
∂u 2 ∂u 2

X X
dx =
∂xj dx

d
∂xj d
R j=1 j=1 R
d ˆ
2
∂u
X d
= dξ
d ∂xj

j=1 R
ˆ X d d 2

∂u
= dξ
Rd j=1 ∂xj

ˆ X d   2
fb(ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ) sin(2π|ξ|t) 2πiξj dξ

=
Rd j=1
2π|ξ|
ˆ   2 d
sin(2π|ξ|t) 2X
= fb(ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ) 2π |i|
ξj2 dξ
Rd
2π|ξ| j=1
ˆ   2
fb(ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ) sin(2π|ξ|t) 2π |ξ|2 dξ

=
Rd
2π|ξ|
ˆ   2
sin(2π|ξ|t)
= fb(ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ) 2π|ξ| dξ
2π|ξ|
ˆR
d
2
= 2π|ξ|fb(ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ) sin(2π|ξ|t) dξ.

Rd

Agora, aplicaremos o lema (5.2.2) com a = 2π|ξ|fb(ξ), b = gb(ξ) e α = 2π|ξ|t.


Assim, temos como resultado

ˆ 2 2 2
∂u
+ ∂u + · · · + ∂u dx

E(t) =
Rd ∂t ∂x1 ∂xd

ˆ ˆ
∂u 2 ∂u 2 ∂u 2

= ∂x1 + · · · + ∂xd dx
dx +
∂t
ˆR
d R d

= | − 2π|ξ|fb(ξ) sin(2π|ξ|t) + gb(ξ) cos(2π|ξ|t)|2 dξ


Rˆd

+ |2π|ξ|fb(ξ) cos(2π|ξ|t) + gb(ξ) sin(2π|ξ|t)|2 dξ


ˆ R
d

= (|2π|ξ|fb(ξ)|2 + |b g (ξ)|2 )dξ


ˆR
d

= (4π 2 |ξ|2 |fb(ξ)|2 + |b g (ξ)|2 )dξ


Rd

o qual é claramente indepentende de t. Isso implica que E(t) = E(0) para todo t ∈ R.
Dessa forma, o teorema está provado.

91
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

5.3 Análise do espaço de fase para modelos de onda


Esta seção trata em detalhes a análise do espaço de fase para modelos de onda. Começamos
com a prova elementar de resultados bem colocados para soluções do problema de Cauchy para
a equação de onda livre. O modelo clássico de onda amortecida serve como um exemplo de
como provar estimativas de decaimento acentuadas para a energia das soluções usando análise
do espaço de fase.
Destacamos que, nessa parte do relatório, usaremos uma definição equivalente de transfor-
mada de Fourier, a qual será dada por
ˆ
1
F (f )(ξ) := n e−ix·ξ f (x)dx,
(2π) 2 Rn
Pn
com x · ξ = i=1 xi ξi . A transformada inversa de Fourier é definida por
ˆ
−1 1
F (g)(x) := n eix·ξ g(ξ)dξ.
(2π) 2 Rn

5.3.1 O modelo de onda clássico


Estamos interessados no problema de Cauchy

utt − ∆u = 0, u(0, x) = ϕ(x), ut (0, x) = ψ(x), x ∈ Rn , n ≥ 1.



Após a aplicação da transformada parcial de Fourier v(t, ξ) := Fx→ξ (u(t, x)) obtemos o
problema de Cauchy auxiliar

vtt + |ξ|2 v = 0, v(0, ξ) = F (ϕ)(ξ), vt (0, ξ) = F (ψ)(ξ)

para uma equação diferencial ordinária dependendo do parâmetro ξ ∈ Rn . Para ξ 6= 0, temos a


solução geral

v(t, ξ) = c1 (ξ)e−i|ξ|t + c2 (ξ)ei|ξ|t .

As condições de Cauchy implicam

c1 (ξ) + c2 (ξ) = F (ϕ)(ξ), −i|ξ|c1 (ξ) + i|ξ|c2 (ξ) = F (ψ)(ξ).

Assim,
1 1 1 1
c1 (ξ) = F (ϕ)(ξ) − F (ψ)(ξ), c2 (ξ) = F (ϕ)(ξ) + F (ψ)(ξ).
2 2i|ξ| 2 2i|ξ|
Substituindo esses coeficientes na solução geral, temos que
sin(|ξ|t)
v(t, ξ) = cos(|ξ|t)F (ϕ)(ξ) + F (ψ)(ξ).
|ξ|

92
5.3. Análise do espaço de fase para modelos de onda

Supondo, por um momento, a validade da fórmula de inversão de Fourier u(t, x) =


−1
Fξ→x (Fx→ξ (u(t, x)) (a validade deve ser verificado no final de nossas considerações) chegamos
à seguinte representação para u:
 sin(|ξ|t) 
−1 −1

u(t, x) = Fξ→x cos(|ξ|t)F (ϕ)(ξ) + Fξ→x F (ψ)(ξ) .
|ξ|

Em vez disso, devemos usar a representação equivalente

−i|ξ|t 1 −i|ξ|t 1
   
−1 −1
u(t, x) = Fξ→x e F (ϕ)(ξ) − Fξ→x e F (ψ)(ξ)
2 2i|ξ|
i|ξ|t 1 i|ξ|t 1
   
−1 −1
+ Fξ→x e F (ϕ)(ξ) + Fξ→x e F (ψ)(ξ) .
2 2i|ξ|

Esta representação consiste nos chamados multiplicadores de Fourier

−1
eiφ(t,ξ) a(t, ξ) F (u0 )(ξ) .

Fξ→x

Aqui φ = φ(t, ξ) faz parte da chamada função de fase e a = a(t, ξ) é a função amplitude.
Assumimos ϕ ∈ H s (Rn ) e ψ ∈ H s−1 (Rn ) com s ≥ 1. Sabemos que, toda solução, se existir,
possui uma energia para todo t ≥ 0.

Teorema 5.3.1. Seja ϕ ∈ H s (Rn ) e ψ ∈ H s−1 (Rn ), s ≥ 1, n ≥ 1 no problema de Cauchy

utt − ∆u = 0, u(0, x) = ϕ(x), ut (0, x) = ψ(x).



Então existe uma solução de energia unicamente determinada u ∈ C [0, T ], H s (Rn )

∩ C 1 [0, T ], H s−1 (Rn ) .

Demonstração. Uma solução é dada na forma


 sin(|ξ|t) 
−1 −1

u(t, x) = Fξ→x cos(|ξ|t)F (ϕ)(ξ) + Fξ→x F (ψ)(ξ)
|ξ|

se essa solução satisfaz a regularidade desejada. Vamos transferir as suposições para os dados
para a transformada de Fourier dos dados. Então, temos

F (ϕ)(ξ) ∈ L2,s , that is, hξis F (ϕ)(ξ) ∈ L2 ,


F (ψ)(ξ) ∈ L2,s−1 , that is, hξis−1 F (ψ)(ξ) ∈ L2 .

Usamos as seguintes estimativas:

• | cos(|ξ|t)| ≤ 1,

• | sin(|ξ|t)| ≤ |ξ|t ≤ |ξ|T para |ξ| ≤ ε e t ∈ [0, T ],

93
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

• | sin(|ξ|t)| ≤ 1 para |ξ| ≥ ε e t ∈ [0, T ].

Assim, podemos concluir

|F (ψ)(ξ)|
|v(t, ξ)| ≤ |F (ϕ)(ξ)| + C(ε, T ) ,
hξi
hξis |v(t, ξ)| ≤ hξis |F (ϕ)(ξ)| + C(ε, T )hξis−1 |F (ψ)(ξ)|.

Essas estimativas levam a v ∈ L∞ (0, T ), L2,s . Da mesma forma, podemos derivar a proprie-


dade ∂t v ∈ L∞ (0, T ), L2,s−1 . Resta mostrar que v ∈ C [0, T ], L2,s ∩ C 1 [0, T ], L2,s−1 .
  

A propriedade v ∈ C [0, T ], L2,s segue da relação

lim kv(t1 , ·) − v(t2 , ·)kL2,s = 0.


t1 →t2

Usando a representação explı́cita da solução, concluı́mos o seguinte:


ˆ
lim |v(t1 , ξ) − v(t2 , ξ)|2 hξi2s dξ
t1 →t2 Rn
ˆ  |ξ|(t + t )   |ξ|(t − t )  2
1 2 1 2
≤ lim sin sin |F (ϕ)(ξ)|2 hξi2s dξ

t1 →t2 Rn 2 2
ˆ  |ξ|(t + t )   |ξ|(t − t )  2 1
1 2 1 2
+ lim cos sin |F (ψ)(ξ)|2 hξi2s dξ.

2 2 |ξ|2

t1 →t2 Rn

Seja KR (0) ⊂ Rn uma bola suficentemente grande ao redor da origem com raio R. Di-
´ ´ ´
vidiremos a integral Rn em duas integrais KR (0) + Rn \KR (0) . Usando as estimativas acima,
temos
ˆ  |ξ|(t + t )   |ξ|(t − t )  2
1 2 1 2
sin sin |F (ϕ)(ξ)|2 hξi2s dξ

2 2
ˆ
Rn
 |ξ|(t + t )   |ξ|(t − t )  2
1 2 1 2
= sin sin |F (ϕ)(ξ)|2 hξi2s dξ

K (0) 2 2
ˆ R  |ξ|(t + t )   |ξ|(t − t )  2
1 2 1 2
+ sin sin |F (ϕ)(ξ)|2 hξi2s dξ

n
R \KR (0) 2 2
ˆ 2 ˆ
|ξ|2 (t1 − t2 ) 2 2s
≤ |F (ϕ)(ξ)| hξi dξ + |F (ϕ)(ξ)|2 hξi2s dξ
KR (0) 4 Rn \KR (0)

para |t1 − t2 | < ε(R). A primeira integral do lado direito é estimada por CR (t1 − t2 )2 ||F (ϕ)||2L2,s .
Usando a continuidade da medida de Lebesgue, a segunda integral é estimada por εe(R), em
que εe(R) tende a 0 quando R tende ao infinito. Resumindo, obtemos
ˆ  |ξ|(t + t )   |ξ|(t − t )  2
1 2 1 2
lim sin sin |F (ϕ)(ξ)|2 hξi2s dξ

t1 →t2 Rn 2 2
2 2
≤ lim CR (t1 − t2 ) ||F (ϕ)||L2,s + εe(R) = εe(R).
t1 →t2

94
5.3. Análise do espaço de fase para modelos de onda

Levando em consideração que εe(R) → 0 quando R → ∞, concluı́mos que


ˆ  |ξ|(t + t )   |ξ|(t − t )  2
1 2 1 2
lim sin sin |F (ϕ)(ξ)|2 hξi2s dξ = 0.

t1 →t2 Rn 2 2
Repetindo essa abordagem, temos
ˆ  |ξ|(t + t )   |ξ|(t − t )  2 |F (ψ)(ξ)|2
1 2 1 2
lim cos sin hξi2s dξ = 0.

2 2 |ξ|2

t1 →t2 Rn


Resumindo, mostramos que v ∈ C [0, T ], L2,s . A validade da fórmula de inversão de

Fourier para funções de H s implica em u ∈ C [0, T ], H s . Usando o mesmo raciocı́nio, temos
 
que v ∈ C 1 [0, T ], L2,s−1 , u ∈ C 1 [0, T ], H s−1 , respectivamente. Aqui, usamos novamente a
fórmula de inversão de Fourier

As considerações acima implicam que o problema de Cauchy para a equação de onda livre
é H s bem posto, para todo s ∈ R.

Corolário 5.3.2. O problema de Cauchy

utt − ∆u = 0, u(0, x) = ϕ(x), ut (0, x) = ψ(x), x ∈ Rn , n ≥ 1

é H s bem posto, s ∈ R, isto é, seja ϕ ∈ H s (Rn ), ψ ∈ H s−1 (Rn ) existe, em geral, uma
 
solução distribucional unicamente determinada u ∈ C [0, T ], H s (Rn ) ∩ C 1 [0, T ], H s−1 (Rn ) .
A solução depende continuamente dos dados, isto é, para cada ε > 0, existe um δ(ε) tal que
kϕ1 − ϕ2 kH s + kψ1 − ψ2 kH s−1 < δ implica em ku1 − u2 kC([0,T ],H s )∩C 1 ([0,T ],H s−1 ) < ε.

Temos a representação da solução


 1 
−1
u(t, x) = Fξ→x eiξt + e−iξt F (ϕ)(ξ)
2
  1 
−1
+Fξ→x eiξt − e−iξt F (ψ)(ξ) ,
2iξ
a qual também pode ser escrita da seguinte forma
 sin(|ξ|t)   sin(|ξ|t) 
−1 −1
u(t, x) = ∂t Fξ→x F (ϕ)(ξ) + Fξ→x F (ψ)(ξ) .
|ξ| |ξ|
Postanto, só temos que estudar
 sin(|ξ|t) 
−1
Fξ→x F (ψ)(ξ) .
|ξ|
Escolhendo dados dos espaços de Sobolev, não temos perda de regularidade com respeito às
variáveis espaciais. A abordagem é independente da dimensão espacial n. Mas, propriedades
qualitativas especiais de soluções da equação de onda, são muito mais difı́ceis de obter usando
multiplicadores de Fourier na representação da solução.

95
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

5.3.2 O modelo clássico de onda amortecida


Em primeiro lugar, mencionamos que as soluções para as equações clássicas de ondas amorte-
cidas possuem as propriedades qualitativas, como existência de frente de onda direta, velocidade
de propagação finita de perturbações ou existência de um domı́nio de dependência.

Representação de soluções usando multiplicadores de Fourier

Voltemos ao problema de Cauchy

utt − ∆u + ut = 0, u(0, x) = ϕ(x), ut (0, x) = ψ(x).

Passo 1 Transformação do termo de dissipação em um termo de massa.


1
Apresentamos uma nova função w = w(t, x) dada por w(t, x) := e 2 t u(t, x). Então, w satisfaz o
problema de Cauchy

1 1
wtt − ∆w − w = 0, w(0, x) = ϕ(x), wt (0, x) = ϕ(x) + ψ(x).
4 2

Em oposição à equação de Klein-Gordon, agora aparece um termo de massa negativo. Essa


massa negativa precisa de algumas considerações especiais.
Passo 2 Aplicação da transformada parcial de Fourier.
A aplicação da transformada parcial de Fourier fornece a seguinte equação diferencial para
v = v(t, ξ) = Fx→ξ (w(t, x))(t, ξ):
 1
vtt + |ξ|2 − v = 0, v(0, ξ) = v0 (ξ) := F (ϕ)(ξ),
4
1
vt (0, ξ) = v1 (ξ) := F (ϕ)(ξ) + F (ψ)(ξ).
2

Faremos uma distinção de casos para {ξ ∈ Rn : |ξ| > 12 } (o coeficiente |ξ|2 − 1


4
é positivo) e
n 1 2 1
para {ξ ∈ R : |ξ| < 2
} (o coeficiente |ξ| − 4
é negativo).
Caso 1 {ξ : |ξ| > 12 }
Usando |ξ|2 > 41 , definimos uma nova variável positiva |η| por |η|2 := |ξ|2 − 41 > 0. Então, temos
a equação diferencial ordinária vtt + |η|2 v = 0, cuja solução é dada por:
q 
r sin |ξ|2− 1 t
1  4
v(t, ξ) = cos |ξ|2 − t v0 (ξ) + q v1 (ξ).
4 |ξ|2 − 14

Caso 2 {ξ : |ξ| < 21 }

96
5.3. Análise do espaço de fase para modelos de onda

Usando |ξ|2 < 14 , definimos uma nova variável |γ| por |γ|2 := 4|ξ|2 − 1 < 0. Assim, temos a
equação diferencial ordinária 4vtt + |γ|2 v = 0, cuja solução é dada por:
 v (ξ)
0 v1 (ξ)  − 1 √1−4|ξ|2 t
v(t, ξ) = −p e 2
2 1 − 4|ξ|2
 v (ξ)
0 v1 (ξ)  1 √1−4|ξ|2 t
+ +p e2
2 1 − 4|ξ|2
1p  2v1 (ξ) 1p 
= v0 (ξ) cosh 2
1 − 4|ξ| t + p sinh 2
1 − 4|ξ| t .
2 1 − 4|ξ|2 2
Se considerarmos o problema de Cauchy

utt − ∆u + ut = 0, u(0, x) = ϕ(x), ut (0, x) = ψ(x)

com os dados ϕ ∈ H s e ψ ∈ H s−1 , então concluı́mos, das representações das soluções acima,
o próximo resultado após levar em consideração que apenas o comportamento para grandes
frequências é importante para a regularidade das soluções. A continuidade com respeito a t
será provada a seguir.

Teorema 5.3.3. Sejam ϕ ∈ H s (Rn ) e ψ ∈ H s−1 (Rn ), s ∈ R, n ≥ 1 dados no problema de


Cauchy

utt − ∆u + ut = 0, u(0, x) = ϕ(x), ut (0, x) = ψ(x).

Então, para todo T > 0, existe uma solução distribucional unicamente determinada (em
 
geral) u ∈ C [0, T ], H s (Rn ) ∩ C 1 [0, T ], H s−1 (Rn ) .
Temos a estimativa, a priori

ku(t, ·)kH s ≤ C(T ) kϕkH s + kψkH s−1 .

Finalmente, a solução depende continuamente dos dados.

Observação 5.3.4. As afirmações do corolário (5.3.2) e do teorema (5.3.3) coincidem. Os


termos de dissipação têm influência essencial nas estimativas de energia, pois produzem uma
deterioração da energia.

Comportamento de decaimento e taxa de decaimento da energia das ondas

A energia das ondas EW (u)(t) das soluções de Sobolev para o problema de Cauchy

utt − ∆u + ut = 0, u(0, x) = ϕ(x), ut (0, x) = ψ(x)

é uma função decrescente se EW (u)(0) é finita.


A aplicação da análise do espaço de fase nos permite verificar se a energia EW (u)(t) é mesmo
decrescente para t → ∞.

97
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

Teorema 5.3.5. A solução para o problema de Cauchy

utt − ∆u + ut = 0, u(0, x) = ϕ(x), ut (0, x) = ψ(x)

com os dados ϕ ∈ H 1 e ψ ∈ L2 satisfaz as seguintes estimativas para t ≥ 0:



ku(t, ·)kL2 ≤ C kϕkH 1 + kψkL2 ,
1
k∇x u(t, ·)kL2 ≤ C(1 + t)− 2 kϕkH 1 + kψkL2 ,


kut (t, ·)kL2 ≤ C(1 + t)−1 kϕkH 1 + kψkL2 .




Consequentemente, a energia da onda satisfaz a estimativa

EW (u)(t) ≤ C(1 + t)−1 kϕk2H 1 + kψk2L2 .




Observação 5.3.6. Vemos que a energia cinética decai mais rápido que a energia elástica.
Para obter essas estimativas, supomos para os dados a regularidade H 1 × L2 , que é mais forte
que a regularidade Ḣ 1 ×L2 . A última regularidade garante uma solução de Sobolev se tornando
uma solução de energia.

Demonstração. Passo 1 Transformação de energia no espaço de fase.


Seja û a transformada de Fourier u, isto é, û(t, ξ) = Fx→ξ (u(t, x))(t, ξ). Transferimos a
energia no espaço de fase da seguinte forma:
1 
EW (u)(t) = k∇x u(t, ·)k2L2 + kut (t, ·)k2L2
2
1 
= k|ξ|û(t, ·)k2L2 + kût (t, ·)k2L2 .
2
1
Aqui, aplicamos a fórmula de Plancherel. Depois de introduzir u(t, x) = e− 2 t w(t, x) e
1
v(t, ξ) = Fx→ξ (w)(t, ξ), segue que û(t, ξ) = e− 2 t v(t, ξ). Para a energia elástica, usaremos
1
|ξ|û(t, ξ) = e− 2 t |ξ|v(t, ξ),

para a energia cinética, usaremos


1
 1 
ût (t, ξ) = e− 2 t vt (t, ξ) − v(t, ξ) .
2
Passo 2 Estimativa da própria solução.
Dividiremos o espaço de fase Rnξ em várias regiões.
Caso 1 {ξ : |ξ| ≥ 1}
Como neste caso
q 
r sin |ξ|2− 1 t
1  4
v(t, ξ) = cos |ξ|2 − t v0 (ξ) + q v1 (ξ),
4 |ξ|2 − 14

98
5.3. Análise do espaço de fase para modelos de onda

então

1
|û(t, ξ)| = e− 2 t |v(t, ξ)|
q 
r
sin |ξ|2− 1 t
1
  1  4 
≤ e− 2 t cos |ξ|2 − t |v0 (ξ)| + |v1 (ξ)|

q
| {z 4 } |ξ|2 − 14
≤1
q 
2 1
sin |ξ| − 4 t
 
− 21 t
≤e |v0 (ξ)| + q |v1 (ξ)|
|ξ|2 − 41
1
 |v1 (ξ) 
≤ Ce− 2 t |v0 (ξ)| + .
|ξ|
 
Caso 2 {ξ : |ξ| ∈ 14 , 1 }
Dividiremos o estudo em dois subcasos.
Caso 2a Para |ξ| > 1/2, temos que

q 
2 1
r 1  sin |ξ| − 4 t
v(t, ξ) = cos |ξ|2 − t v0 (ξ) + q v1 (ξ),
4 |ξ|2 − 14

1
⇒ |û(t, ξ)| ≤ M e− 2 t (|v0 (ξ)| + |v1 (ξ)|).

Caso 2b Para |ξ| < 1/2, temos que

1p  2v1 (ξ) 1p 


v(t, ξ) = v0 (ξ) cosh 1 − 4|ξ|2 t + p sinh 1 − 4|ξ|2 t .
2 1 − 4|ξ|2 2
1
⇒ |û(t, ξ)| ≤ Ke− 2 t (|v0 (ξ)| + |v1 (ξ)|).

Logo, a representação da solução produz

|û(t, ξ)| ≤ Ce−δt (|v0 (ξ)| + |v1 (ξ)|),

com uma constante positiva adequada δ.


Caso 3 {ξ : |ξ| ≤ 41 }
Neste caso,

√ √ √ √
 e 12 1−4|ξ|2 t
+ e− 2
1
1−4|ξ|2 t 
2v1 (ξ)  e 12 1−4|ξ|2 t 1
− e− 2 1−4|ξ|2 t 
v(t, ξ) = v0 (ξ) +p
2 1 − 4|ξ|2 2

99
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

 2|v1 (ξ)|  1 √1−4|ξ|2 t


⇒ |v(t, ξ)| ≤ |v0 (ξ)| + p e2 .
1 − 4|ξ|2

Logo,

1 1
√  2|v1 (ξ)| 
1−4|ξ|2 t
|û(t, ξ)| ≤ e− 2 t e 2 |v0 (ξ)| + p
1 − 4|ξ|2
1 1
 2|v1 (ξ)| 
≤ e− 2 t e 2 t |v0 (ξ)| + p
1 − 4|ξ|2
2|v1 (ξ)|
= |v0 (ξ)| + p
1 − 4|ξ|2
2
≤p (|v0 (ξ)| + |v1 (ξ)|)
1 − 4|ξ|2
≤ C(|v0 (ξ)| + |v1 (ξ)|).

Resumindo, concluı́mos a primeira estimativa.

Passo 3 Estimativa da energia elástica.

Caso 1 {ξ : |ξ| > 21 }

Primeiro, note que

q 
2 1
1
 r 1  sin |ξ| − 4 t 
|ξ|û(t, ξ) = e− 2 t cos 2
|ξ| − t |ξ|v0 (ξ) + t q |ξ|v1 (ξ) .
4 |ξ|2 − 41 t

Usar a fórmula de Plancherel nos ajuda a estimar a energia elástica k∇x u(t, ·)k2L2 . Temos

100
5.3. Análise do espaço de fase para modelos de onda

que
ˆ
k|ξ|û(t, ξ)k2L2 {|ξ|> 1 } = |ξ|2 |û(t, ξ)|2 dξ
2
|ξ|> 12
ˆ r !
1
≤ e−t cos2 |ξ|2 − t |ξ|2 |v0 (ξ)|2 dξ
1
|ξ|> 2 4
ˆ
q
sin2 ( |ξ|2 − 14 t)
+ q |ξ|2 t2 e−t |v1 (ξ)|2 dξ
|ξ|> 21
( |ξ|2 − 41 t)2
ˆ
q
|ξ|2 − 41 t)
!
sin (
r
1
+ 2 cos 2 2
|ξ| − t |ξ| |v0 (ξ)| q te−t |v1 (ξ)|dξ
|ξ|> 21 4 1
|ξ|2 − 4 t
ˆ r !
−t 2 1
≤ 2 e cos |ξ|2 − t |ξ|2 |v0 (ξ)|2 dξ
|ξ|> 21 4
| {z }
≤1

ˆ
q
sin2 ( |ξ|2 − 14 t) 
+ q |ξ|2 t2 e−t |v1 (ξ)|2 dξ
|ξ|> 21 ( |ξ|2 − 41 t)2

ˆ ˆ
q
sin2 |ξ|2 − 41 t

≤ 2 e−t |ξ|2 |v0 (ξ)|2 dξ + q 2 −t 2
2 t e |ξ| |v1 (ξ)| dξ
2
1 1 1
|ξ|> 2 2
<|ξ|≤1 |ξ|2 − 4 t
| {z }
sin2 α
≤C
α2

ˆ
q
sin2 ( |ξ|2 − 41 t) 
+ q |ξ|2 t2 e−t |v1 (ξ)|2 dξ
|ξ|>1 ( |ξ|2 − 41 t)2
ˆ ˆ
−t
≤ 2 2 2
e |ξ| |v0 (ξ)| dξ + Ct2 e−t |ξ|2 |v1 (ξ)|2 dξ
1 1
|ξ|> 2
<|ξ|≤1
2
|{z}
≤1
ˆ 2
|ξ| −t 2

+ 2 1 e |v1 (ξ)| dξ
|ξ|>1 (|ξ| − 4 )
| {z }
≤C
ˆ ˆ
−t 2 2 2 −t
≤ 2e |ξ| |v0 (ξ)| dξ + 2Ct e |v1 (ξ)|2 dξ
1 1
|ξ|> 2 <|ξ|≤1
ˆ 2

+ 2Ce−t |v1 (ξ)|2 dξ


|ξ|>1
ˆ ˆ ˆ
−t 2 2 2 −t 2 −t
≤ 2e |ξ| |v0 (ξ)| dξ + 2Ct e |v1 (ξ)| dξ + 2Ce |v1 (ξ)|2 dξ.
Rn Rn Rn

Resumindo, obtemos um decaimento exponencial para grandes frequências e


ˆ ˆ
2 2 2 −t
|ξ|2 |v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ.

|ξ| |û(t, ξ)| dξ ≤ 2Ct e
|ξ|> 21 Rn

101
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

Precisamos da regularidade Ḣ 1 × L2 para os dados (ϕ, ψ).


Caso 2 {ξ : |ξ| < 21 }
Para estimar a energia elástica, usaremos
 v (ξ)
10 v1 (ξ)  − 1 √1−4|ξ|2 t
|ξ|û(t, ξ) = |ξ|e− 2 t −p e 2
2 1 − 4|ξ|2
 v (ξ)
0 v1 (ξ)  1 √1−4|ξ|2 t 
+ + p e2
2 1 − 4|ξ|2
1p  1
= v0 (ξ)|ξ| cosh 1 − 4|ξ|2 t e− 2 t
2
2v1 (ξ)|ξ| 1p  1
+p sinh 1 − 4|ξ|2 t e− 2 t .
1 − 4|ξ|2 2

Dividimos o intervalo (0, 12 ) para |ξ| em dois subintervalos.


Caso 2a {ξ : |ξ| ∈ [ 41 , 21 )}:
Aqui, estimamos como segue:
1p  1
|ξ||û(t, ξ)| = v0 (ξ)|ξ| cosh 1 − 4|ξ|2 t e− 2 t

| 2 {z }

3
4
≤ cosh( t)
 p 
sinh 12 1 − 4|ξ|2 t
− 21 t
+ 1
p tv 1 (ξ)|ξ|e
1 − 4|ξ|2t
| 2 {z √ }
3
≤ C cosh( 4
t)
 √3  1  √3  1

−2t
≤ v0 (ξ)|ξ| cosh t e + Cv1 (ξ) |ξ| cosh t te− 2 t

4 |{z} 4
≤1
| {z }
≤ e−δt , δ>0

≤ v0 (ξ)|ξ|e−δt + Cv1 (ξ)te−δt ,

e obtemos, com uma constante positiva adequada δ, a estimativa


ˆ ˆ ˆ 
2 −2δt
2 2
|ξ| |û(t, ξ)| dξ ≤ 2 2
|ξ| |v0 (ξ)| e dξ + C 2 |v1 (ξ)|2 t2 e−2δt dξ
1
≤|ξ|< 21 1
≤|ξ|< 12 1
≤|ξ|< 12
ˆ ˆ
4 4 4

2 2 2 −2δt 2 2 −2δt
≤ 2C |ξ| |v0 (ξ)| e dξ + |v1 (ξ)| t e dξ
1
≤|ξ|< 12 1
≤|ξ|< 12
4
ˆ 4

2 −2δt
|ξ|2 |v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 t2 dξ.

≤ 2C e
Rn

Obtemos um decaimento exponencial e usamos, novamente, a regularidade Ḣ 1 × L2 dos dados


(ϕ, ψ).
Caso 2b {ξ : |ξ| ∈ (0, 41 )}:Usando a propriedade

102
5.3. Análise do espaço de fase para modelos de onda

√ √ y
x+y ≤ x+ √
2 x
para qualquer x > 0 e y ≥ −x, segue a desigualdade
p
−4|ξ|2 ≤ −1 + 1 − 4|ξ|2 ≤ −2|ξ|2 ,

para |ξ| < 21 .


Com esta desigualdade, procedemos da seguinte forma:
ˆ ˆ  |v (ξ)|
0 |v1 (ξ)| 2  − 1 √1−4|ξ|2 t 1
√ 2
2
2 2
|ξ| |û(t, ξ)| dξ ≤ |ξ|2 e−t +p e 2 + e 2 1−4|ξ| t dξ
|ξ|< 41 |ξ|< 14 2 1 − 4|ξ|2
ˆ  |v (ξ)|2
0 |v1 (ξ)|2   −√1−4|ξ|2 t √
1−4|ξ|2 t

≤ |ξ|2 e−t 2 + 2 e + e dξ
|ξ|< 14 4 1 − 4|ξ|2
ˆ √ √

2 2 4 2 2

−t− 1−4|ξ|2 t −t+ 1−4|ξ|2 t

= |v0 (ξ)| |ξ| + |v1 (ξ)| |ξ| e +e dξ
|ξ|< 41 1 − 4|ξ|2
ˆ √ √
 1−4|ξ|2 t −t+ 1−4|ξ|2 t

≤C |v0 (ξ)|2 |ξ|2 + |v1 (ξ)|2 |ξ|2 e|−t− {z + e } dξ
|ξ|< 14
} | {z
≤ e−t ≤ e−2|ξ|
2t
ˆ ˆ
2
≤ Ce−t |v0 (ξ)|2 |ξ|2 + |v1 (ξ)|2 |ξ|2 dξ + C |v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 |ξ|2 e−2|ξ| t dξ.
 
|ξ|< 14 |ξ|< 14

Para t ≥ 1, podemos estimar o segundo termo do lado direito da última desigualdade por
ˆ
2
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 |ξ|2 e−2|ξ| t dξ

C
|ξ|< 41
ˆ
t|ξ|2 −2|ξ|2 t
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ

≤ C sup e
|ξ|< 1 , t≥1 t |ξ|< 14
4
ˆ
1 2
sup t|ξ|2 e−2|ξ| t |v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ

≤C
t |ξ|< 1 , t≥1 |ξ|< 14
| 4 {z }
≤L
ˆ
CL
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ


t |ξ|< 41
ˆ
−1
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ.

≤ 2CL(t + 1)
|ξ|< 41

2
Para t ∈ [0, 1] usamos |ξ|2 e−2|ξ| t ≤ L. Assim,

ˆ
2
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 |ξ|2 e−2|ξ| t dξ

C
|ξ|< 41
ˆ
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ

≤ CL
|ξ|< 41
ˆ
−1
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ.

≤ 2CL(t + 1)
|ξ|< 14

103
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

Resumindo, mostramos que para pequenas frequências


ˆ ˆ
2 2 −t
|v0 (ξ)|2 |ξ|2 + |v1 (ξ)|2 |ξ|2 dξ

|ξ| |û(t, ξ)| dξ ≤ Ce
|ξ|< 14 |ξ|< 14
ˆ
−1
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ

+ 2CL(1 + t)
|ξ|< 41
ˆ
e−t
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ

≤C
16|ξ|< 14
ˆ
−1
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ

+ 2CL(1 + t)
|ξ|< 41
ˆ
≤ 2C(1 + t)−1 |v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ

|ξ|< 41
ˆ
−1
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ

+ 2CL(1 + t)
|ξ|< 41
ˆ
−1
|v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ

≤ K(1 + t)
|ξ|< 1
|{z}
K 4
=max{C,CL}
4
ˆ
≤ K(1 + t)−1 |v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ.

Rn

Neste caso, precisamos da regularidade L2 × L2 para os dados(ϕ, ψ). Resumindo todas as


estimativas dos casos 1 a 2b, podemos concluir a estimativa de decaimento desejado para a
energia elástica.

Passo 4 Estimativa da energia cinética

Usaremos a identidade kut (t, ·)k2L2 (Rnx ) = kût (t, ·)k2L2 (Rn ) com
ξ

− 21 t
 1 
ût (t, ξ) = e vt (t, ξ) − v(t, ξ) .
2

Caso 1 {ξ : |ξ| > 21 }

Usando
r r r
1  1  1 
vt (t, ξ) = − |ξ|2 − sin |ξ|2 − t v0 (ξ) + cos |ξ|2 − t v1 (ξ)
4 4 4

obtemos
q 
2 1
1 sin |ξ| − 4 t 
r

− 21 t
 
2
1 
ût (t, ξ) = e v1 (ξ) cos |ξ| − t − q
4 2 |ξ|2 − 14
1 r 1  r
1 r 1 
− v0 (ξ) cos |ξ|2 − t + |ξ|2 − sin |ξ|2 − t .
2 4 4 4

104
5.3. Análise do espaço de fase para modelos de onda

Repetindo a abordagem para estimar a energia elástica, temos

kût (t, ·)k2L2 {|ξ|> 1 }


2

ˆ
q
2− 1 t 

 r 1  1 sin |ξ| 4 2
≤ e−t |v1 (ξ)|2 cos |ξ|2 − t − q dξ
|ξ|> 21 4 2 |ξ|2 − 14
| {z }
≤ C (1+t)2
ˆ r r
−t 2 1 1 
+ e |v0 (ξ)| |ξ|2 − sin |ξ|2 − t
|ξ|> 21 4 4
r
1  1  2
+ cos |ξ|2 − t dξ.
2| {z 4 }
≤1

Além disso, observe que


r
 1 2  1 
|ξ|2 − sin |ξ|2 − t ≤ |ξ|2
4 4
e isso implica que, para {ξ : |ξ| > 12 },

ˆ ˆ ˆ 1 2
2 2 −t 2 −t
|û(t, ξ)| dξ ≤ C(1 + t) e |v1 (ξ)| dξ + e |v0 (ξ)|2 + |ξ| dξ
|ξ|> 21 |ξ> 12 |ξ> 12 2
| {z }
≤2|ξ|
ˆ ˆ
≤ C(1 + t)2 e−t |v1 (ξ)|2 dξ + 4e−t
|v0 (ξ)|2 kξ|2 dξ
|ξ> 21 |ξ> 12
ˆ ˆ
2 −t 2 2 −t
≤ C(1 + t) e |v1 (ξ)| dξ + 4(1 + t) e |v0 (ξ)|2 kξ|2 dξ
|ξ> 21 |ξ> 12
ˆ
2 −t
|ξ|2 |v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ

≤ L(1 + t) e
|ξ|> 1
|{z}
2
L=max{C,4}
ˆ
≤ L(1 + t)2 e−t |ξ|2 |v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ.

Rn

Precisamos da regularidade Ḣ 1 × L2 para os dados (ϕ, ψ) e assim obtemos um decaimento


exponencial no tempo.
Caso 2 {ξ : |ξ| < 21 }
Temos que
1 1 p 1p  1p 
ût (t, ξ) = e− 2 t 1 − 4|ξ|2 sinh 1 − 4|ξ|2 t − cosh 1 − 4|ξ|2 t v0 (ξ)
2 2 2
1
 1p  1 1p 
+e− 2 t cosh 1 − 4|ξ|2 t − p sinh 1 − 4|ξ|2 t v1 (ξ).
2 1 − 4|ξ|2 2

Novamente, dividiremos o intervalo [0, 1/2) em dois subintervalos.

105
Capı́tulo 5. Aplicações a algumas equações diferenciais parciais

Caso 2a {ξ : |ξ| ∈ [ 14 , 21 )}:

Aqui mostraremos a queda exponencial da energia cinética. Por um lado, usamos

1p  1p   √3 
cosh 1 − 4|ξ|2 t + sinh 1 − 4|ξ|2 t ≤ 2 cosh t ,
2 2 4

por outro lado, usamos

1 1p
2
 1p
sinh 1 − 4|ξ| t ≤ Cε t for 1 − 4|ξ|2 t ≤ ε.

p
1 − 4|ξ|2 2 2

Ambas as estimativas levam a

ˆ
−δt
kût (t, ·)k2L2 {|ξ|∈[ 1 , 1 )} |ξ|2 |v0 (ξ)|2 + |v1 (ξ)|2 dξ

≤ Ce
4 2
Rn

com um δ > 0 adequado. Aqui, precisamos da regularidade Ḣ 1 × L2 para os dados (ϕ, ψ).
Além disso, derivamos um decaimento exponencial no tempo.

Caso 2b {ξ : |ξ| < 41 }:

Neste caso, obtemos

 v (ξ)
0 v1 (ξ)  p  1 1√ 2
ût (t, ξ) = + p 1 − 4|ξ|2 − 1 e− 2 t+ 2 1−4|ξ| t
4 2 1 − 4|ξ|2
 v (ξ)
0 v1 (ξ)  p  1 1√ 2
− − p 1 − 4|ξ|2 + 1 e− 2 t− 2 1−4|ξ| t .
4 2 1 − 4|ξ| 2

Portanto, podemos estimar o seguinte:


v (ξ) v (ξ) p  1 1√ 
v1 (ξ) v0 (ξ)  2
1 0 2
2 − 1 e− 2 t+ 2 1−4|ξ| t ≤ (−2|ξ|2 )e−|ξ| t .

p + 1 − 4|ξ| p +
2 1 − 4|ξ|2 4 2 1 − 4|ξ|2 4

106
5.3. Análise do espaço de fase para modelos de onda

Recordando as estimativas para a energia elástica, uma abordagem semelhante leva a


ˆ  |v (ξ)| √
|v0 (ξ)| 2 p 2 1 1
p 1
2
2
kût (t, ·)kL2 {|ξ|< 1 } ≤ + 1 − 4|ξ|2 − 1 (e− 2 t+ 2 1−4|ξ| t )2 dξ
4
|ξ|< 41 2 1 − 4|ξ|2 4
ˆ  |v (ξ)| √
|v0 (ξ)| 2 p 2 1 1
p 1
2
+ + 1 − 4|ξ|2 + 1 (e− 2 t− 2 1−4|ξ| t )2 dξ
|ξ|< 1 2 1 − 4|ξ|2 4
ˆ 4 
v1 (ξ) v0 (ξ) 2 2
≤ p + 4|ξ|4 e−2|ξ| t dξ
|ξ|< 41 2 1 − 4|ξ| 2 4
ˆ  v (ξ) v0 (ξ) 2 −t
+ p 1 + 4e dξ
|ξ|< 41 2 1 − 4|ξ|2 4
ˆ
2 
2
|v1 (ξ)|2 + |v0 (ξ)|2 e−t + |ξ|4 e−2|ξ| t dξ

≤ C
|ξ|< 1
|{z}
2 4
C=max{1, √ }
1−4|ξ|2
ˆ
2 −t
|v1 (ξ)|2 + |v0 (ξ)|2 dξ

≤ 2C e
|ξ|< 41
ˆ
2
2
|v1 (ξ)|2 + |v0 (ξ)|2 |ξ|4 e−2|ξ| t dξ

+ 2C
|ξ|< 41
ˆ
≤ M e−t |v1 (ξ)|2 + |v0 (ξ)|2 dξ

|ξ|< 41
|{z}
M =2C 2
ˆ
1 2 4 −2|ξ|2 t
|v1 (ξ)|2 + |v0 (ξ)|2 dξ

+M 2 sup t |ξ| e
t |ξ|< 41 , t≥1 |ξ|< 14
| {z }
≤L
= (∗).
2
Para t ∈ [0, 1], usamos |ξ|4 e−2|ξ| t ≤ L. Portanto,
ˆ ˆ
KM L 2 2
 −t 2 2

(∗) ≤ |v 1 (ξ)| + |v0 (ξ)| dξ + M e |v1 (ξ)| + |v 0 (ξ)| dξ
(1 + t)2 |ξ|< 41 | {z }
2M |ξ|< 14

(1+t)2
ˆ
M 2 2

≤ (KL + 2) |v 1 (ξ)| + |v0 (ξ)| dξ
(1 + t)2 |ξ|< 14
ˆ
N
|v1 (ξ)|2 + |v0 (ξ)|2 dξ

= 2
|{z} (1 + t) |ξ|< 14
N =(KL+2)M
ˆ
N 2 2

≤ |v1 (ξ)| + |v0 (ξ)| dξ.
(1 + t)2 Rn

Aqui, precisamos da regularidade L2 × L2 para os dados (ϕ, ψ). Assim, provamos a terceira
desigualdade para a energia cin[etica, o que finaliza a prova do teorema.

107
Referências Bibliográficas

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tics, The University of Chicago, 2013.

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2018.

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damental Research Bombay, Springer-Verlag, Berlin Heidelberg New York, 1983.

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