Você está na página 1de 20

Redes de Distribuição de

Energia Eléctrica em Baixa Tensão

Protecção contra choques


eléctricos

Joaquim Tavares da Silva - 2014


Conceitos
Massa
Parte condutora de um equipamento eléctrico susceptível de ser
tocada, em regra, isolada das partes activas mas podendo ficar em
tensão em caso de defeito

Tensão de contacto
Tensão que em caso de defeito do isolamento aparece entre partes
simultaneamente acessíveis

Tensão de defeito
Tensão que no caso de defeito de isolamento aparece entre a massa e
um eléctrodo de terra de referência, isto é, um ponto cujo potencial
não é modificado pela passagem de corrente de defeito
correspondente

Tensão limite convencional de contacto (UL)


Valor máximo da tensão de contacto que é admissível poder manter-
se indefinidamente em condições especificadas de influências externas

Joaquim Tavares da Silva


Conceitos (cont.)
Tensão de passo
Tensão entre dois pontos à superfície da terra, distanciados de 1
metro

Elemento condutor
Elemento susceptível de introduzir um potencial, em regra o da terra e
que não faz parte da instalação eléctrica

Rede de distribuição com “terra pelo neutro”


Rede de distribuição em que a ligação à terra das massas metálicas
das instalações de utilização a ela ligadas é feita por intermédio do
neutro dessa rede

Resistência global de terra


Resistência entre o terminal principal de terra e a terra

Zona de influência de uma terra


Área dentro da qual o potencial do solo sofre uma variação superior a
5% da que experimenta o eléctrodo de terra respectivo quando
percorrido por uma corrente eléctrica
Joaquim Tavares da Silva
Objectivos da protecção contra choques
eléctricos
Protecção principal
Protecção em condições em condições normais (antes
designada por protecção contra contactos directos)

Protecção contra defeitos


Segurança na situação de ocorrência de defeito de
isolamento (antes designada por protecção contra
contactos indirectos)

Protecção reforçada
Protecção simultânea nas duas situações

Regra geral: Nas redes de distribuição deve ser previsto um


esquema de ligação à terra em que o neutro é
directamente ligado à terra (Artº 13º do
ESRDEEBT)

Joaquim Tavares da Silva


Medidas passivas de protecção principal
contra choques eléctricos
Protecção por colocação fora do alcance das pessoas
Afastamento
Interposição de obstáculos

Protecção por isolamento das partes activas


Condutores e cabos com marcação HAR
Resistência à corrosão (agentes atmosféricos ou do solo)
Equipamento em geral com marcação CE

Protecção por selecção de invólucros de características adequadas


Aparelhos de corte, comando e protecção
IP não inferior a IP42 – montagem no interior, quando acessíveis
IP não inferior a IP45 – montagem no exterior, quando acessíveis
IP não inferior a IP22 – montagem no interior, quando não acessíveis
IP não inferior a IP23 – montagem no exterior, quando não acessíveis
Armários de distribuição (portas, painéis)
IP não inferior a IP45

Protecção por utilização de aparelhos classe II de isolamento ou equivalente


Equipamentos com duplo isolamento ou isolamento reforçado (classeII)
Conjuntos de equipamentos montados em fábrica com isolamento total
Utilização de isolamento suplementar para equipamentos das classes 0 e I

Joaquim Tavares da Silva


Medidas de protecção contra defeitos
Situação do neutro
Ligação directamente à terra
Neutro ligado directamente à terra no PT alimentador
Ligações do neutro à terra nos pontos singulares da rede (derivações de
canalizações principais e locais de concentração de ramais) de forma que não
haja troços superiores a 300 m sem ligação à terra, com um mínimo de 1
ligação por cada 1000 m de rede
Resistência máxima global da terra do neutro: 10 Ω (Art.º 136º da RSRDEEBT)

Situação das massas


Ligadas directamente ao neutro
Ligadas directamente ao neutro (excepto para os equipamentos de classe II de
isolamento ou equivalente)
Massas directamente ligadas ao neutro
Duplicação do condutor de ligação das massas ao neutro quando a secção do
neutro for inferior a 10 mm2
As massas simultaneamente acessíveis devem ser ligadas a um mesmo condutor
de protecção (equipotencialização)
Necessária precaução adicional no estabelecimento dos sistemas de terra do
neutro (eléctrodos, condutores) e suas ligações na proximidade de instalações
de MT/AT (zona de influência de terras das instalações de MT/AT e de pára-raios
de protecção de edifícios)

Joaquim Tavares da Silva


Redes de distribuição em “terra pelo
neutro” [Sistema TN]
Variante [TN-C] Variante [TN-C-S]

Joaquim Tavares da Silva


Regras gerais de estabelecimento de redes de
distribuição em “terra pelo neutro”
Condutor neutro
Não é permitida a interrupção do neutro seja por aparelho de corte
seja de protecção
Secção do neutro (Artº 151 RSRDEEBT)

Ligação do neutro à terra


Nas canalizações principais de comprimento superior a 200m além das
ligações previstas atrás, deverá efectuar-se uma ligação suplementar
em cada extremidade ou na sua proximidade
Redes subterrâneas: ligação do neutro à terra obrigatória em todos os
armários de distribuição
A ligação do neutro à terra é proibida em locais próximos de apoio de
linhas MT/AT e de estabelecimento de sistemas de terra de pára-raios
de protecção de edifícios e outras estruturas

Resistência global máxima do neutro


Canalizações principais e ramais: não superior a 10 Ω/km ou fracção
Valor global máximo de resistência de terra do neutro: 5 Ω

Joaquim Tavares da Silva


Secção do neutro em redes subterrâneas
com “terra pelo neutro”
Regras técnicas complementares
Os eléctrodos de terra das instalações de utilização alimentadas
podem ser usadas como eléctrodos de terra da rede de distribuição;
nesta opção, a ligação do neutro à terra deve ser efectuada na
portinhola ou a montante do aparelho de corte de entrada
A utilização de aparelhos diferenciais não é permitida no esquema
equivalente TN-C (um só condutor desempenhando as funções de N e
PE)
No sistema equivalente TN-C-S
(separação de condutores N e Secção das Secção do
2
fases SL (mm ) neutro Sn (mm2)
PE) é possível a utilização de
diferenciais mas não é permitida 6≤SL≤16 SL=Sn
a existência do condutor PEN a 25≤SL≤35 16
jusante daqueles aparelhos 50 25
70 35
Regras de exploração 95 50
Controlo frequente das condições 120≤SL≤150 70
de funcionamento dos sistemas
185 95
de terra
240 120

Joaquim Tavares da Silva


Comprimentos máximos (metros) protegidos
contra defeitos indirectos (contactos indirectos)
Secções Intensidades estipuladas dos fusíveis (A)
(mm2) 32 40 50 63 80 100 125 160 200 250 315 400
10 127 104 78 64 51 38 30 22 17 13 9,5 8
16 203 167 125 103 81 61 48 37 28 21 15 12
25 261 196 161 127 97 75 58 43 33 25 19
35 226 178 135 105 81 61 48 35 28
50 254 194 151 117 88 67 50 40
70 212 163 124 95 70 57
95 221 168 129 96 77
120 213 163 121 98
150 241 184 136 110
185 201 149 121
240 245 181 146

Valores para redes com “terra pelo neutro” com Almas de cobre, m=1, UL=50V e
protecção por fusíveis gG (IEC/CEI 60269-a)

Joaquim Tavares da Silva


Comprimentos máximos protegidos
contra defeitos (contactos indirectos)
Para almas de alumínio, os comprimentos máximos a considerar
devem ser obtidos multiplicando os valores do quadro por 0,62

Para valores de m=SF/SPE(N), diferentes de 1, os comprimentos


indicados no quadro devem ser multiplicados, respectivamente
por 0,5 (m=2) e 0,36 (m=3)

Em canalização com diversas secções poderá ser aplicada a regra


do triângulo para verificação das condições globais de protecção

O nível de curto-circuito previsível (função da secção e do


comprimento das canalizações) assume uma importância
fundamental na garantia de protecção

Para cada tipo de aparelho de protecção e composição da


canalização que protege, podem ser estabelecidos comprimentos
máximos protegidos contra contactos indirectos

Joaquim Tavares da Silva


Redes de Distribuição para Iluminação
Pública
Protecção contra defeitos: Sistema TN
(Terra pelo neutro)
Situação do neutro
Ligado directamente à terra (Art.º 13 do RSRDEEBT)
Situação das massas
Todas as massas são ligadas ao neutro – TN
(incluindo fuste da coluna, se metálica, e armaduras
dos cabos
A ligação à terra deve ser feita no terminal de terra
do fuste da coluna

Joaquim Tavares da Silva


Redes de distribuição para iluminação de
exteriores
Aplicação em condomínios fechados, jardins, parques e praças
não ligadas à rede IP – Serviço Público
Protecção contra defeitos: Sistema TT
Situação do neutro
Ligado directamente à terra de serviço no PT alimentador
Situação das massas
Ligadas directamente à terra de protecção das massas
Sistema de terra
Terra separada para protecção das massas

Neste caso, a utilização de aparelhos diferenciais (selectivos ou não) é


uma opção fundamental para a protecção contra defeitos
Os aparelhos diferenciais podem ser colocados de forma centralizada
nos quadros/armários de alimentação de iluminação de exteriores ou
individualmente em cada coluna
As massas não devem ser ligadas aos condutores de protecção do
sistema TN mas sim a eléctrodos específicos com resistência de terra
compatível com a sensibilidade dos aparelhos diferenciais a instalar
(ex. IΔn=30mA; UL=50 V; RT(massas)=1670 Ω)
A utilização de aparelhos de alta sensibilidade (IΔn≤30mA) poderá ser
um meio complementar de protecção contra contactos directos
Joaquim Tavares da Silva
Ligação à terra de candeeiros
Quando acessíveis ou estabelecidos em locais de permanência habitual de
pessoas (jardins, parques de divertimento), as colunas dos candeeiros e
outros apoios de suporte, se metálicos, devem ser ligados à terra
Em todas as colunas de iluminação deve efectuada a ligação à terra
A ligação à terra pode ser efectuada individualmente a eléctrodo de terra
no local (E. T. interligados com o terminal de terra do fuste de coluna
através de cabos VV 1x35 mm2, com bainha exterior preta e isolação
azul:RT≤10 Ω), ou realizada a partir de um sistema distribuído de
eléctrodos de terra a partir do condutor de protecção inserido no cabo de
alimentação do candeeiro
A ligação do neutro do quadro do candeeiro instalado dentro do fuste da
coluna com o terminal de terra do fuste, é feita por cabo H07V-R de 16
mm2 de secção, com bainha exterior preta e isolação a cor azul
Para estas ligações recomenda-se a utilização de condutores isolados
A ligação à terra das armaduras dos cabos que entram e saem das
colunas (no terminal de terra do fuste da coluna) deve ser feita através de
trança de cobre estanhado de 16 mm2 de secção (14x5,1 mm)
Nos troços da rede estabelecidos entre colunas, as armaduras dos cabos
devem ser ligadas à terra nas duas extremidades

Joaquim Tavares da Silva


Redes Subterrâneas de IP

As redes subterrâneas de IP são redes de


distribuição em baixa tensão que alimentam
exclusivamente luminárias montadas em colunas
de betão ou metálicas.

Atendendo à especificidade dos equipamentos em


presença (coluna, quadro eléctrico de coluna de
IP e luminária), as ligações à terra devem ser
efectuadas de acordo com o que a seguir se
descreve.

Joaquim Tavares da Silva


Redes Subterrâneas
de IP

RSIP - Ligação do terminal do


fuste da coluna aos eléctrodos
de terra

RT≤10 Ω

Joaquim Tavares da Silva


Redes Subterrâneas
de IP

RSIP - Ligação do borne de


neutro do Quadro IP ao
terminal do fuste da coluna

Joaquim Tavares da Silva


Redes Subterrâneas
de IP
RSIP - Ligação das terminações
dos cabos subterrâneos ao
terminal do fuste da coluna

•Nos troços da rede de IP estabelecidos


entre colunas, as armaduras dos cabos
devem ser ligadas à terra nas duas
extremidades. Exceptua-se a esta regra o
primeiro troço, estabelecido entre o PT e a
primeira coluna, em que a ligação à terra
se fará no quadro eléctrico de coluna de
IP, sendo a extremidade do lado do PT
isolada para o caso geral (equipada com
ponta para pesquisas/ensaios)

• Nos casos particulares de PT dotados de


terra única, as armaduras dos cabos entre
o PT e a primeira coluna serão ligados à
terra nas duas extremidades

Joaquim Tavares da Silva


Boas práticas
1. Para protecção contra choques eléctricos, deverão ser previstas nas redes de
distribuição privadas medidas contra contactos directos e contra contactos
indirectos, estas últimas com opção pela ligação directa do neutro à terra

2. Nas redes de distribuição em condomínios fechados, a protecção contra contactos


indirectos deverá ser realizada com recurso ao esquema TN e nas instalações de
iluminação de exteriores com esquema TT

3. Deve ser prevista a ligação do neutro à terra de modo distribuído ao longo da rede
(cada 300 m), em particular nas derivações das canalizações principais e nos
pontos de concentração de ramais; além da medida anterior, nas redes com terra
pelo neutro e para as canalizações principais com comprimento superior a 200 m o
neutro deve ser ligado à terra na extremidade

4. A ligação do neutro à terra não deve ser efectuada em locais de proximidade com
apoios de linhas de MT/AT e de estabelecimento de sistemas de pára-raios dos
edifícios

5. A resistência global do neutro não deverá ser superior a 10 Ω; nas redes com terra
pelo neutro, o valor global de terra do neutro não deverá ser superior a 5 Ω

6. A resistência de terra prevista deverá ser confirmada no terreno após realização


das redes e instalações

Joaquim Tavares da Silva


Boas práticas (cont.)
7. O controlo do valor da resistência de terra do eléctrodo de terra deverá ser
realizado com frequência, em especial no seguimento de incidentes significativos
associados à rede, recomendando-se uma periodicidade anual

8. Na instalações protegidas por aparelhos diferenciais, a selecção de corrente


diferencial-residual estipulada deverá ser compatível com a natureza e utilização
dos locais e com os valores possíveis da resistência de terra (Secção 531.2.4 das
RTIEBT)

9. A boa exploração das instalações exige uma eficaz selectividade entre aparelhos
diferenciais

10. Na iluminação de exteriores em geral deve ser previsto um sistema de terra para
ligação das massas à terra individual por coluna de iluminação ou de carácter geral
para cada circuito a partir de condutores de protecção do tipo isolado e de secção
adequada; a alimentação das luminárias deverá ser dotada de condutor de
protecção do tipo isolado de secção adequada (Secção 543.1.2 das RTIEBT)

11. Sempre que se preveja a possibilidade de existência de diferenças de potencial


perigosas entre elementos das instalações eléctricas deve ser realizada a sua
equipotencialização (efectuada com condutores de equipotencialização se secção
adequada (Secção 547.1.1 das RTIEBT)

Joaquim Tavares da Silva

Você também pode gostar