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IGREJA COMUNIDADE DE IRMÃOS SOLIDÁRIOS

IGREJA ELETRÔNICA

Irmãos e irmãs, como a Moisés, Deus nos confia e nos envia para uma missão: “Vá. Eu
envio você ao Faraó, para tirar do Egito o meu povo” - Êx 3,10. Para isto, precisamos
de tempo, de disponibilidade, do aprendizado que se faz necessário para desempenhar a
missão particular de cada um.

Nem sempre nossa missão é agradável aos olhos do mundo e não é raro ela
provocar conflitos, discórdia, incompreensão, crítica construtivas e principalmente
destrutivas, por parte dos próprios irmãos, de caminhada até, e mesmo membros da
nossa própria família. Mas, somos confortados pelas palavras do próprio Mestre Jesus,
que já nos advertia dizendo: “O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai
entregará o filho, os filhos se levantarão contra seus pais, e os matarão. Vocês serão
odiados por todos, por causa do meu nome – Mt 10, 21-22b. É possível que alguns dos
presentes, estejam preocupados pelo simples fato de ver-me neste espaço, dirigindo a
palavra a tantos irmãos. Outros, talvez, deixaram de vir para não ter que ouvir coisas
que imaginam não ser agradáveis de se escutar. Porém, irmãos e irmãs, não tenho aqui
outra intenção que não seja cumprir a missão que Deus me confiou. Não pretendo fazer
nenhum esforço para agradar a qualquer pessoa, se ao agradá-la eu deixar de fazer a
vontade de Deus ou fugir do cumprimento de nossa missão de Igreja. Eis que eu envio
vocês como ovelhas no meio de lobos. Tenham cuidado com os homens, porque eles
entregarão vocês aos tribunais, e açoitarão vocês nas sinagogas deles. Vocês vão ser
levados diante de governadores e reis, por minha causa. - Mt 10, 16a,17-18b.

Conforme o que acabamos de ouvir, o que Jesus promete à sua igreja, aos
seus discípulos, é bem diferente do que estamos acostumados a ouvir e buscar na igreja
que comumente queremos (ou que alguns querem que queiramos). A Igreja,
Comunidade de irmãos solidários, vem sendo cada vez mais substituída pelas igrejas
eletrônicas, as igrejas que de forma espetacular oferecem solução fácil, milagrosa ou
mágica para qualquer problema, através de uma simples e alienada reza repetitiva,
cansativa e prejudicial ao caráter racional do homem e da mulher, feitos à imagem e
semelhança do nosso Deus. Querem os adeptos e propagadores das igrejas eletrônicas,
que os problemas de ordem social, econômica, política, até afetiva, etc., sejam
solucionados ao se fazer uma novena ao Espírito Santo ou com a reza de um terço
bizantino, terço da libertação, ou simplesmente fazendo uso de uma medalha, de um
crucifixo enorme no peito, etc. Fazem questão de mostrar através destes objetos
devocionais, que são católicos fervorosos.

No entanto, têm dificuldade em aceitar certas atitudes da Igreja,


principalmente a Doutrina Social da Igreja Católica. Geralmente conhecem os dogmas,
recebem os sacramentos regularmente, rezam com ênfase, colocam no rosto uma
expressão visível de piedade, ajoelham-se e abaixam a cabeça até o chão, fazem ofertas
generosas, mas nem sempre se diferencia de outros católicos e até mesmos ateus, os
quais não servem de exemplo de cristandade. Não suportam quando ouvem a igreja
denunciar as atitudes maléficas da corrupção política, do descaso pelos pobres, querem
que estes assuntos jamais entrem na pauta da Igreja. [citar o exemplo da Rádio
Canção Nova] (a rede de radiodifusão Canção Nova, ao instalar uma de suas emissoras em
Vitória da Conquista, foi procurada pelos padres José Lisboa Moreira de Oliveira e José Ionilton
Lisboa de Oliveira a fim de que pudessem apresentar um programa de meia hora semanal
produzido pela Sub-regional da CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil) naquela emissora.
De início a direção da emissora local não pode atender a solicitação, alegando que por ser uma
Rede de Rádio, sua grade de programação é produzida na cidade de Lorena SP, e distribuída
para as emissoras filiadas, não havendo possibilidade de fazer uma programação regionalizada.
Diante da insistência dos padres religiosos, dias depois, a emissora aceita a proposta e começa-
se difundir o que seria uma série de programas, onde a Sub-regional da CRB dava sua
contribuição para elucidar aos ouvintes alguns pontos da Doutrina Social da Igreja Católica. Após
o quarto programa da série, os padres religiosos, apresentadores do programa, receberam um
telefonema do gerente da emissora, anunciando que o programa deveria sofrer modificações. A
partir de então, não se teria um programa semanal de meia hora, mas sim, algumas frases de
curtíssimas durações – 10 a 15 segundos – e estas, seriam levadas ao ar, esporadicamente,
durante todo o dia no decorrer da programação da emissora. Perguntado o porquê de tal
modificação, os padres foram informados de que o programa fazia o povo pensar de forma
questionadora e, segundo o gerente da emissora, este não é o objetivo da Canção Nova.
Questiona-se: Pode se chamar de emissora católica uma rádio que não permite a difusão, por
suas ondas sonoras, da Doutrina da Própria Igreja Católica?)

Somos o maior país católico do mundo, temos 3 redes de TVs católicas,


mais de 300 emissoras de rádios também católicas, como a Canção Nova; os
movimentos pentecostais tanto da Igreja Católica quanto de outras igrejas, mais que
duplicaram o número de seus adeptos nos últimos dez anos. Agiganta-se o número de
pessoas que se reúnem para rezar em encontros de movimentos pentecostais, católicos
ou evangélicos, em finais de semanas; lotam-se estádios e praças para expressar sua
força mobilizadora de multidões; celebram-se missas em galpões com capacidade para
30, 40 mil pessoas; enfatizam de forma espetacular o hábito de rezar, de dar esmolas,
etc.

Ao mesmo tempo em que cresceu o número de adeptos de tais movimentos,


cresceu também de maneira assustadora a corrupção, a miséria, a fome, a violência, o
desemprego, o número de miseráveis, os roubos, estupros, o tráfico de drogas, a
imoralidade, a concentração da riqueza, do latifúndio, as doenças - crianças morrem de
gripe, de desnutrição -, falta assistência médica, sobra desemprego, e a política se
deteriora, apodrece dia após dia além de tantos outros males.

Será que com tanta gente rezando pelos pobres, pelos governantes... Deus
ainda não se dignou a atender as necessidades do povo? Ou estamos hoje repetindo as
atitudes denunciadas por Deus através do profeta Amós como ouvimos na I Leitura?
(Am 5, 21-24 ) - E o que nos disse Jesus no Evangelho que ouvimos há pouco? (Mt 23,
13-23) - Será que Jesus não repete hoje as mesmas palavras que foram dirigidas aos
fariseus e doutores da lei, que com profunda hipocrisia; rezavam, contorciam o rosto
quando jejuavam para que todos vissem que eles estavam jejuando, e não se
importavam com a justiça que o Reino de Deus exige para que ele aconteça? “Ai de
vocês fariseus e doutores da lei hipócritas! Vocês percorrem o mar e a terra para
converter alguém, e quando conseguem, o torna, duas vezes mais merecedor do inferno
do que vocês”. – Mt 23,15.(Citei um fato, sem identificar os personagens, ei-lo:Há
pouco, uma pessoa procurou o pároco dizendo-lhe: - Padre, a senhora...fulana, é uma pessoa
muito caridosa, ela troca uma cédula de R$ 50,00, em cédulas de menor valor e distribui com os
pobres. Precisamos evangelizar esta pessoa. Permita-me realizar círculos bíblicos na casa dela!
- O curioso, é que esta pessoa tão caridosa, demitiu diversos funcionários, ou subordinados,
porque desconfia que estes não votaram nos seus candidatos a deputado. A última vítima dessa
pessoa caridosa, foi uma senhora de mais de 50 anos de idade que foi demitida há uma semana.
– neste momento, repeti o versículo 13 do capítulo 23 de Mateus. Essa pessoa, apesar de vir à
Igreja só ocasionalmente, paga mensalmente R$ 80,00 reais de dízimo. Considero uma quantia
alta demais para uma pessoa ofertar mensalmente na condição de Dízimo, porque isto significa
que enquanto a maioria dos irmãos e irmãs passa fome, outros ganham o salário que possibilite
pagar esta quantia. Citei o versículo 23 do capítulo 23 do evangelho de Mateus ).

Como ouvimos a pouco (Am 5, 21-24), Deus não se alegra com qualquer
oração e chega a ternojo dos nossos cânticos, quando deixamos de lado a justiça e o
direito. Deus vira o rosto para não ver as nossas ofertas, porque sem a Justiça e o direito
nossas ofertas e orações se tornam uma tentação a Deus, e Jesus nos diz: “Não tentarás
o Senhor teu Deus” - Mt 4, 7b.

Irmãos e irmãs, a nossa missão é a mesma de Moisés enviado ao Faraó, no


Egito, que mantinha o povo oprimido e escravizado da mesma forma com se faz ainda
hoje. Quantas pessoas perderam o emprego neste país por causa de uma política
econômica cruel e mentirosa que hoje já recebe um índice de rejeição de 66% dos
brasileiros? (A Tarde, 10/08/1999), (Pausa). Há um ano atrás, a igreja de Irmãos
solidários de Riachão denunciava esta política econômica, e alguns cristãos que se
negaram a votar nos candidatos a deputado que apoiam e promovem, através deste
modelo econômico, o desemprego, a fome, a miséria a violência e a corrupção que este
governo causou; esses cristãos estão hoje desempregados ou lhes roubaram, até 3 meses
de seus salários; salários roubados pelo Poder Executivo deste município que continua
repetindo os mesmos erros dos seus antecessores. O chefe do Poder Legislativo fez
discursos na Tribuna da Câmara e nas praças públicas dizendo que o funcionário da
Prefeitura tem que votar em quem o prefeito MANDAR, e nenhum vereador se
manifestou. Ninguém acionou a Justiça e ainda esperamos (nós, igreja) que os
ameaçados pelos políticos fariseus e hipócritas de hoje, se manifestassem e perdessem
seu emprego como aconteceu aos nossos irmãos Veto, Samuel, João e a este que vos
fala e talvez a outros. (no momento ainda acrescentei: E o Poder Executivo ainda foi para
a Rádio Sisal dizer eu havia desviado material da Prefeitura para escrever coisas contra o seu
governo. Utilizei 9 folhas de papel ofício, porque há dois meses a prefeitura não pagava a
nenhum funcionário ou servidor, e por isso não tive dinheiro para comprá-las numa papelaria. No
dia seguinte ao das denúncias que foram feitas aqui na Igreja há um ano atrás o prefeito pagou a
todos os funcionários, com exceção daquele que o denunciou e ainda deixou de pagar-lhe mais
um mês trabalhado após a denúncia.) - ( Neste momento, incitado pela sua
companheira, o Prefeito, o Presidente da Câmara de Vereadores e seus
“advogados amadores” e incondicionais, dirigiram-se aos berros para o altar,
para tomar o microfone ou para agredir-me. Nada porém aconteceu-me. Nunca
me senti tão tranqüilo e tão sereno, tenho convicção de que em momento
algum demonstrei rancor. Simplesmente pedi aos ofendidos que me
processassem se puderem provar o contrário. O restante da palestra não foi
proferido, mas está escrito abaixo. )

Estas são as algemas utilizadas pelos faraós de hoje e que os Moisés,


também de hoje, precisam libertar, libertar das algemas da opressão, da perseguição,
libertar do desemprego, libertar todos os esquecidos e marginalizados pela estrutura de
poder da sociedade atual. Deus envia-nos como profetas, não para fazer previsões
futurísticas do que vai acontecer amanhã, que dia o mundo vai se acabar, etc., mas para
alertar que o futuro da humanidade está ameaçado pelas atitudes dos poderes terrestres
que ignoram o bem maior, a vida. Vida é o sentido primeiro e último da proposta de
Deus Pai aos seus filhos. Tanto valorizou a vida dos homens e mulheres, que se tornou
também homem, nascendo de uma mulher para dar a sua vida em defesa da humanidade
prejudicada pelo pecado com a conseqüência deste, que é a morte.

Deus, vivendo entre nós como homem, na pessoa de Jesus Cristo, nos
ensinou que se a justiça não for uma realidade entre os homens e mulheres, não será
possível experimentar, sentir a intensidade da maravilha de viver. Por isso ele condenou
toda a injustiça, hipocrisia, a cegueira do sistema político, social, e principalmente
religioso, além de frustrar as expectativas dos que esperavam um messias rei, poderoso,
capaz de expulsar com a espada a dominação estrangeira. Também foi frustração
àqueles que imaginavam resolver seus problemas sociais através da oração alienada,
separada da ação libertadora, questionadora e chegou a dizer a estes: “Não pensem que
eu vim trazer paz à terra; e sim a espada”- (Mt 10,34). E disse também qual era a sua
missão: “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância (Jo 10,10)”.

Diante das ameaças que são apresentadas à humanidade ainda hoje, somos
enviados como Moisés, encorajados por Jesus: “Não tenham medo deles, pois não há
nada escondido que não venha a ser revelado, e não existe nada oculto que não venha a
ser conhecido. O que digo a vocês na escuridão, repitam à luz do dia, e o que vocês
escutam em segredo, proclamem sobre os telhados. (Mt 10,26-27). Seguindo as
orientações de Jesus, a Igreja convida você caro irmão, cara irmã a entrar na defesa da
vida anunciando a paz como fruto da justiça. Por isso esta paróquia, como Igreja de
Irmãos solidários, convoca a todos e todas para a missão que Jesus nos confia e envia
com as seguintes palavras: Toda a autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra.
Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os
em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que
ordenei a vocês. Eis que eu estarei convosco até o fim do mundo”( Mt 28, 18b-20)

VITAL MARTINHO CARNEIRO DE OLIVEIRA, 14 de agosto de 1999, 71º


aniversário de emancipação política de R. do Jacuípe.

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