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Sobremesas

infalíveis
Tem bolo glaçado
de amêndoas
e mais!

Croque
monsieur
Do forno: O clássico numa
arroz caipira de releitura incrível
frutos da terra

Salmão
nórdico
Como curar e
defumar o peixe

Cozinha
ANO II · 2019 · Nº 32 · R$ 18,00 · € 4.00

da emoção
Como transformar
comida em poesia com
Roberta Sudbrack
= EDITORIAL =
DIREÇÃO
PUBLISHER
Christian Burgos – christian@innereditora.com.br

DIRETORA DE OPERAÇÕES
Christiane Burgos – christiane@innereditora.com.br

DIRETOR EDITORIAL

,
Robert Halfoun – robert@sabor.club

CONSELHO EDITORIAL
Christian Burgos, Miguel Cui Filho,

o manifesto: Paulo Bueno, Robert Halfoun

ARTE
DIRETOR DE ARTE
Ricardo Torquetto – ricardo@innereditora.com.br
• Nós comemos ASSISTENTE DE ARTE

• Nós bebemos Aldeniei Gomes – arte@innereditora.com.br

• Nós cozinhamos ESTAGIÁRIO


Joshua Kerry – arte2@innereditora.com.br

• Nós viajamos (para comer) PUBLICIDADE


publicidade@innereditora.com.br
• Nós conversamos (também sobre comida) +55 (11) 3876-8200 – ramal 11

• Nós acreditamos que comer é uma das grandes COLABORADORES

maravilhas da vida – e viva a boa mesa! Pedro Landim (texto); Tomás Rangel (foto)

REPRESENTANTES COMERCIAIS
Renato Scolamieri – renato@rscola.com.br
Carminha Aoki – carminhaaoki.adegasabor@gmail.com

RIO GRANDE DO SUL/SANTA CATARINA


É EMPOLGANTE VER COMO O NOSSO CENÁRIO de gastronomia anda Sônia Machado – sonia@vistamontes.com.br
tão movimentado e em franco crescimento. Todas as semanas surgem novos
INTERNATIONAL SALES
restaurantes, o já estabelecidos lançam novidades, tantos produtos bons, ora Estados Unidos
importados, ora nacionais chegam ao mercado. Inner Publishing – sales@innerpublishing.net
Marketing – marketing@innereditora.com.br
Nesse aspecto, especialmente, começamos a entrar numa fase muito
especial: a do desenvolvimento de itens artesanais, de iniciativa familiar, FINANCEIRO
financeiro@innereditora.com.br
a partir do estudo de mercado e de um investimento que permite um
PRODUÇÃO
crescimento programado – possibilitanto até a venda em escala, uma vez Baunilha Editorial
que há demanda para isso.
ASSINATURAS
Nos mercados mais maduros, é importante frisar, é comum encontrarmos assinaturas@innereditora.com.br
produtos artesanais de enorme qualidade, comercializados num volume +55 (11) 3876-8200
Distribuição nacional pela Total Express
considerável. O que é ótimo, porque nos permite encontrá-los com mais
facilidade. E porque eles criam uma categoria de food service de qualidade. ASSESSORIA JURÍDICA
Machado Rodante Advocacia
Quando há compromentimento, não é porque aumenta-se a qualidade www.machadorodante.com.br
que se abre mão da qualidade. Aquele produtinho feito para um nicho muito FALE CONOSCO
específico, sim, é incrível, ganha status de fetiche gastronômico. Mas num INFO@INNEREDITORA.COM.BR
+55 (11) 3876-8200
momento, como tudo, ele cresce vai buscar mais bocas – e assim deve ser.
Como estamos amadurecendo nos campos, nas cozinhas e nas mesas, IMPRESSÃO
EGB – Editora Gráfica Bernardi
é comum ver gente torcendo o nariz porque aquele queijo que-só-ele-
conhecia foi parar no supermercado. Olha, às vezes, ainda mais especial, DISTRIBUIDOR EXCLUSIVO PARA O BRASIL
Distribuição nacional pela Total Publicações
porque ele passa a ser feito com novos recursos que só valorizam
Revista SABOR.CLUB é uma publicação
o que ele tem de melhor. mensal da INNER Editora Ltda.

A Inner Editora não se responsabiliza por opiniões,


Robert Halfoun e Christian Burgos ideias e conceitos emitidos nos textos publicados
e assinados na revista Sabor.club, por serem
de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

WWW.SABOR.CLUB
TASTING

UM EVENTO PARA QUEM AMA VINHO


E QUEM NÃO VIVE SEM ELE
Centenas de rótulos de todo o mundo para você degustar e comprar
diretamente dos melhores importadores e produtores

19 DE OUTUBRO (SÁBADO)

O maior jornal do país se une à maior


plataforma de conteúdo de vinhos para
estimular a cultura do vinho no país

REALIZAÇÃO: TAÇA OFICIAL:


NESTA EDIÇÃO

Iguaria de ovelha
Queijo com o leite do animal é uma beleza
feita no interior de São Paulo
13
O Brasil da Helô
Heloísa Bacellar, a nossa D. Benta,
lança livro com receitas de norte a sul
18
Denise Guershman
Ela faz a mais pura nova cozinha norueguesa
por aqui: colorida, leve e muito saborosa
20
Elia Schramm
O cozinheiro faz o maior sucesso servindo comida
do mundo todo – ao mesmo tempo!

26
Croque monsieur
Uma nova versão sem perder
a essência do clássico
32
Lina Bo Bardi
A nossa arquiteta-gênia adorava a cozinha
– e projetava os pratos que fazia

34
Roberta Sudbrack
Como a chef transforma comida em poesia
no ano 1 do seu Sud, o pássaro verde

40
Sobremesas infalíveis
Celebrada editora de literatura gastronômica lança livro
com receitas doces incríveis e fáceis de fazer

50
Cerveja medieval
Dois cariocas produzem bebidas históricas,
reproduzindo até a água original

57
Ervilha na cupê
Tacinha ganha drinque com o legume.
Ele é leve e instigante

60
Giovanna Perrone
e Rodrigo Aguiar
Fora do óbvio, eles fazem uma
comida que merece ser notada
66
O pequeno harburgão!
Lanchonete em portinha, inspira-se no clássico
do McDonalds e resgata o melhor do sanduíche
73
O melhor sal do mundo
Se você ainda não conhece o produto que vem da Inglaterra,
prepare-se: a sua comida nunca mais será a mesma
76
DELICATESSEN

Iguaria de ovelha
Queijo com o leite do animal, tão pouco
produzido por aqui, ganha versões impecáveis
no interior de São Paulo
por Robert Halfoun

Sabor club
. [ ed. 32 ] | 13
A Rima produz
Serra da
cinco tipos de Estrela?
queijo
ueijo com A hora de produzí-
leite
e de ovelha lo por aqui ainda
vai chegar

Seria uma sonho


termos um tipo
Serra da Estrela no
Brasil, não? O ritual,
convenhamos, de
abrí-lo pela “tampa”
e literalmente
mergulharmos a
colher na massa
quase líquida, leve
porém extremamente
saborosa é uma dos
Acredite se quiser, mas só há 35 produtores de A Rima não produz queijo há tanto tempo. mais fascinantes da
ovelha no país. Muitos para corte, o que Aproveitou o know how da família do boa mesa.
explica o motivo pelo qual o leite de Ricardo que criava ovelhas para corte Maria Clara Serra e
ovelha e, mais ainda, o queijo sejam tão e reposicionou o processo. Antes, o Ricardo Reitmann
passaram uma bela
raros por aqui. Quem toma o leite tem casal que morava no Rio, buscou uma temporada em
aquela boa surpresa: como ele é leve, consultoria para orientá-los no negócio Portugal desvendando
ligeiramente adocicado, com textura e foi para França, Portugal e Espanha o processo de
tão delicada! mergulhar no mundo do queijo de produção do queijo
mais nobre do país.
Agora, imagine essas características ovelha. Aprenderam muito e começaram Foram recebidos
aplicadas ao queijo. Não à toa, o a aplicar técnicas e práticas com um como familiares pelos
português Serra da Estrela é um Brunch certo grau autoral, o que dá tanta produtores, trouxeram
dos melhores do mundo (veja no campo personalidade para os produtos mudas de cardo
Não dão duas horas da capital (a planta que faz a
quadro). Há outros tipos, no que fazem. Claro, o terroir e o
paulista até a mesa do sítio coagulação natural) e
entanto, que casal Maria produtor de queijo manejo dos animais, criados elas pegaram por aqui!
Clara Serra e Ricardo Num estalo, estamos sentindo aquele
soltos e tratados pelo nome, O terroir bem diferente
Reitmann produzem na cheirinho de mato, ouvindo o “méeee” das também contribuem do que encontramos
pequena e charmosa ovelhinhas e, melhor, não só degustando os demais para o ótimo na Serra da Estrela
queijos da Rima, mas também comendo as HMǰGYPXEQYMXSS
Queijaria Rima, em resultado final. processo – além da
terrines e outras delícias preparadas pela
Porto Feliz, a 100 km da D. Valéria, mãe da Maria Clara Serra. O brunch,
A banqueteira Neka adaptação necessária
capital paulista. escolhido a la carte, só é servido aos sábados Mena Barreto é uma das para duas câmaras de
Há boursin, típico e a gente só paga pelo o que pede. craques da cozinha que maturação. O casal,
IRǰQHM^UYIEMRHE
queijo de cabra francês, Das 10h às 16h, na Estrada Municipal já descobriram o produto. não é hora de investir
que ganha nova e ótima para o bairro Caiacantinga, 13, Quem come realmente se na joia láctea. Mas ela
versão de ovelha. Tem um tipo Porto Feliz – SP surpreende muito com os vai chegar.
camembert (só que também de produtos. A coalhada fresca,
ovelha), com ainda mais cremosidade por exemplo, é firme e uma acidez
e suavidade; tem os maturados como o fascinante. É bem diferente das versões com
tipo pecorino (o parmesão de ovelha) e o Guaianá, a leite de vaca ou de cabra.
prata da casa, prensado a mão, com massa elástica e Se tem roquefort, o rei dos queijos de ovelha?
semi-dura. O sabor dele é presente mas sem encher a Não tem. Porque o fungo usado para a fabricação do
boca demais. A textura permite uma versatilidade de queijo é extremamente invasivo, o que faria com que
utilização tremenda, seja para tábua de queijos, seja a queijaria corresse o risco de, de repente, ver todos
para compor uma lasanha ou um sanduíche. os seus queijos com a cara do francês.

14 | Sabor club
. [ ed.32 ]
COMER FORA
por Robert Halfoun

3
Kuro Gelato no frio?
Claro que sim!
Sã Um das grandes gelaterias da Itália

P
o P o –S
aul
baguettes surge por aqui, com um conceito
“agrícola” no qual a gente come até o
perfeitas copinho de serviço
em SP A Albero dei Gelati foi criada em
1985, em Milão, com um conceito
legítimo do gelato artesanal:
trabalhar com receitas familiares
feitas com produtos absolutamente
frescos. Melhor ainda se forem
orgânicos, adquiridos a partir
de uma rigorosa seleção de
Fale baixo (e ria depois) fornecedores locais.
Tem japa fazendo comida-de-arte no balcão Agora, a segunda filial fora
Embora um tipo de música de balada soe no ar (num
volume aceitável), o clima é austero no pequeno ambiente
1 FAZEMOS PÃO –
A lojinha em Pinheiros
tem vários tipos de pão.
da Itália (há outra em NY) chega
por aqui pelas mãos de Fernanda
Pamplona e Marco Giancola,
que recebe o balcão principal do escondidinho Kuro. Logo
A baguette é tão boa que, ambos gelataios, que trabalharam
que somos acomodados num dos onze lugares, vem a
acredite, bate muitas feitas na matriz italiana – questão
pergunta de qual o modelo de omakase (menu confiança)
em padarias francesas. fundamental para conseguirem
que gostaríamos de degustar. Há de 13 e 21 cursos, o maior
incluindo iguarias como carne de wagyu, king crab, atum exportar a marca.
blue fin e caviar russo.E receitas criadas pelo catalão Gerard Eles seguem rigorosamente
Barberan, que não só segue a mais pura base japonesa os padrões e, mal abriram, já
mas com ideias bem calcadas na nova cozinha espanhola, fazem um dos melhores gelatos
como o beijo de caviar, no qual as ovas são colocadas de São Paulo. Seja em textura,
sobre um tartar de camarão fresquíssimo, por sua vez, em ligeiramente mais firme, seja
cima de um gelo em formato de boca. “O chef recomenda no gosto, realmente natural
que você chupe a composição”, adverte o sushiman. Faz com um toque de açúcar nos
sentido: o gelado no lábio do comensal realça os sabores, padrões europeus (mais leve),
especialmente a acidez – um trampolim para o caviar.
O inusitado encontra o tradicional durante toda a noite,
2 A PADEIRA – As
fornadas que saem
as quartas e as quintas
o que valoriza demais o gosto
dos ingredientes tão especiais
que vai do dashi (caldo de bonito) feito na hora numa acabam em horas. Do que usam. Bobaem citar sabores,
“cafeteira” de dois andares ao peixes selados apenas com o croque ao sabor, tudo no porque o bacana aqui é vir sempre
calor do binchotan, um tipo de carvão rígido como pedra, pão daqui é especial e provar as novidades da semana –
e termina com os sushis, servidos um por um. Aliás, como ou até mesmo do dia.
acontece nas casas escondidinhas que oferecem os melhores Albero dei Gelati –
sushis do mundo, na Terra do Sol Nascente. R. Joaquim Antunes, 391, Pinheiros,
Kuru – R. Padre João Manoel, 712, Jardins, São Paulo – SP
São Paulo – SP. Tel.: (11) 3062-5241

Sobe
TEVA: o bar-restaurante de vegetais que nasceu no
3 CASA SANTA
LUZIA– A baguete
é item must-buy da
Rio e chega a São Paulo. Comida leve e bem feita padaria do supermercado
para compartilhar e fazer a gente bem feliz. mais gastronômico de
São Paulo.

Sabor club
. [ ed. 32 ] | 15
Para
comer com
os olhos O Brasil dos chefs
De Alex Atala a Morena
Leite, muitos cozinheiros

Brasil mostra já deram a sua visão


literária do país

a sua cara Básico, Ana


Maria Trajano (Ed.
Agora é a Helô Bacellar que põe Melhoramentos)
– O primeiro livro
o gosto do país em livro do instituto Brasil
a Gosto, com 512
receitas

Na Mesa da Baiana, Thereza


Paim e Sonia Robato
(Ed. Senac) – Thereza, a
cozinheira baiana com
as mãos mais leves do
mundo, reúne receitas,
histórias e o seu tempero
especial num passeio
do sertão ao litoral.

2SGSXºSTEMSǰPLS
e o restaurante,
7SHVMKS4PMZIMVE (Ed.
Melhoramentos) – A
cozinha sertaneja
clássica que o chef
aprendeu com
o Seu Zé Almeida. E que foi
aperfeiçoando ao longo do
tempo.

Cozinha de Origem,
Thiago Castanho
(Publifolha) – O chef mais
badalado do Norte do
país megulha na cozinha
amazônica.

Eu Sou do Camarão
Ensopadinho com
Chuchu, Roberta
Sudbrack (Ed.
Tapioca) – Uma obra
de arte que vai além
das receitas e das
dicas da chef. Desde o projeto
KV§ǰGSSYWEHSEX¯EETPMGE­©S
dele em papeis com texturas
inusitadas.

Art in The Kitchen,


Romero Britto e Morena
Leite (Boccato Books)
– As receitas da baiana
Cozinha Brasileira – Histórias e receitas, do lendário restaurante
Capim Santo, ilustradas
Heloísa Bacellar (Ed. DBA, R$ 40) com os traços do mais ilustre
A Helô Bacellar, sabemos, tem mãos mágicas para assinar com talento artista brasileiro da pop art.
toda e qualquer receita que ela faz. Desde um simples bolo de fubá *WGSDzEREW
com erva-doce até um acarajé com vatapá cremoso. Na sua mais 'VEWMPIMVEW&PI\&XEPE
recente obra, ela passeia por pratos fundamentais da cozinha de Norte (Ed. Larousse) – Um
clássico fundamental
a Sul do Brasil, apresentando-os de forma prática e muito educativa. no qual o maior chef
Para completar, contextualiza tudo com textos gostosos sobre as do Brasil conta a sua
história e, claro, passa
características de cada região. Para a sua biblioteca básica. por receitas e dicas da cozinha
brasileira moderna que pratica.

16 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
– Almanaque –

11
Depois de
engarrafada,

Borbulhas apenas um
homem realiza
o processo de girar as

de amor garrafas, colocadas


em estantes de
madeira com o
gargalo levemente
Como se faz a champagne inclinado para baixo.
mais vendida do mundo

8 12
Cada uma reproduz o Ele trabalha na

5
rótulo da época e uma Maison há mais
Foi pelas de trinta e cinco

1
cópia do autógrafo do
Foi Claude Moët, de mãos deles anos e gira em
piloto. A garrafa vem
uma família tradicional que nasceu a média cinquenta mil
numa caixa de madeira,
na comercialização de HIǰRMXMZE2S±X garrafas por dia.
com uma a
vinhos, em Épernay, região & Chandon Imperial
placa
de Champagne na França, Brut – lançada
de prata

13
quem fundou a Maison em 1869, em
onde Até hoje, a Moët
Moët et Cie., em 1743. homenagem
estão & Chandon é a
aos 100 anos
cravadas champagne
do nascimento
as provass SǰGMEPP
de Napoleão

2
que o da rainha
Rapidamente a bebida Bonaparte.
Ayrton Elizabeth II
que fazia caiu no gosto venceu. e também
dos aristocratas, incluindo das cortes
o imperador Luis XIII. da Bélgica,
É dito, aliás, Holanda,
que foram Dinamarca e
a forma e

6
Suécia.
o tamanho Dali para
dos seios frente,
da sua amante, vieram a
Madame Pompadour,adour, famosa

14
que inspiraram o gravata
formato da taça que O papa também bebe
Moët & Chandon.

9
tradicional de adorna a garrafa e
champagne. fortes campanhas de Hoje, depois de
marketing, incluindo renovada, a Maison
os embaixadores está aberta para
como a bela atriz visitação, incluindo

3
Ela dizia: “Champagne Scarlett Johansson um tour pelas caves
é o único vinho que e, antes dela, com 28 quilômetros
torna as mulheres Ayrton Senna. (!) de extensão
mais bonitas e
os homens mais
engenhosos”.

7
Em 2014, a Maison
lançou uma
edição limitada No Brasil
com as icônicas Foi nos anos 1950 que
garrafas de 3 litros a Maison instalou adegas

10
que marcaram A equipe que faz
e vinhedos fora da França.
as 41 vitórias do a champagne
nosso tricampeão conta com Primeiro em Mendoza, na
mundial de F1. apenas treze Argentina; depois em Garibaldi,

4
A Maison só passou a se pessoas que fazem a no Brasil. Então foi para Napa
chamar Moët & Chandon assemblage que dá Valley, nos EUA, e
em 1832, quando origem a bebida. É um Yarra Valley, na Austrália. A
seguiu administrada por único chef de cave marca usada em todas
Victor Moët, bisneto do que prova mais de 100 elas é Chandon.
fundador, e Pierre-Gabriel vinhos por ano para
Chandon, genro dele. fazer a escolha perfeita.

18 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
produto? Ovos no
purgatório
A receita típica do campo
vai no café da manhã,
almoço ou jantar – e de
aperitivo também!
INGREDIENTES
5 ovos
30 ml de molho de
tomate
1 dente de alho fatiado
1 colher de chá de azeite
3 colheres de sopa de
parmesão ralado
Orégano para temperar
Sal a gosto
PREPARO
D. Carmem e os seus Refogue o molho em uma
tomates. A fruta está boa
quando o “olho” dela
frigideira com o alho e
está vermelhinho, tempere com o sal e o
quase da cor da pele
orégano
Quando estiver em ponto
de fervura, adicione o
azeite e quebre os ovos
sobre o molho, sem
estourar as gemas
Deixe cozinhar, mexendo
Os tomates levemente
Com as gemas ainda

da D. Carmem moles, polvilhe o


parmesão ralado sobre
tudo
Primeiro eles viraram molhos incríveis.
Leve a frigideira direto à
Depois inspiraram uma linha inteira de joias da Bota – mesa e coma chuchando
absolutamente naturais pão italiano dentro dela

Dica: Para paladares mais


“Me traz uns bom tomate senão te Agora para uma linha enorme de parrudos, você pode
furo os olho”, assim a nonna falava para produtos, sem perder a essência com a adicionar filezinhos de
o nonno, minutos antes dele sair para ir a qual os molhos de tomate começaram a anchova ao molho, antes
feira. Como sabemos, tomate é tudo para ser produzidos, 35 anos atrás. Eles são de colocar os ovos
os italianos, incluindo a D. Carmem De encorpados e ligeiramente adocicados,
Tommaso, de Santa Isabel, na região do como todo tomate maduro deve ser – o
Alto Tietê, interior de São Paulo. que os deixa leves, sem aquela sensação
Ela começou escolhendo elas mesmas de pegar no paladar. Essa, aliás, é
os tomates com os quais fazia os molhos característica fundamental de toda a linha
para família, porque queria que eles da De Tommaso, desde a abobrinha ou
fossem absolutamente naturais e saudáveis. a berinjela grelhadas até a alicella, uma
Os amigos gostaram e eles foram parar pastinhas dos deuses feita apenas com
no potes. Assim como antepastos como a filé de sardinha anchovada, salsa, óleo de
sardella e a caponata, e também um pesto soja, alho e temperos. Sem qualquer
de comer de joelhos. As receitas vêm da tipo de conservantes.
Calábria, para onde a D. Carmem ainda
vai, em busca de inspiração. www.detommaso.com.br

Sabor club
. [ ed. 32 ] | 19
A Noruega
é aqui
Denise Guershman faz a leve, colorida e delicada
nova cozinha nórdica com o maior talento
por Robert Halfoun

É DIVERTIDO PARAR DIANTE DA CASINHA do outro lado da rua, onde


fica o Escandinavo, o restaurante de comida nórdica que você precisa
conhecer. Ele tem apenas uma plaquinha na porta e não há o passante que
pare, olhe, transmita a dúvida numa clara linguagem corporal até seguir
caminho com a cara de quem quer descobrir o que é aquele lugar.
Durante a noite, o ambiente com paredes brancas e luzes quentes, nos
remete exatamente a imagem que fazemos de uma casinha gostosa nas geladas
terra do norte do planeta. A longa mesa de madeira, de uso coletivo, com
cadeira cobertas com pelegos de ovelha reforçam o imaginário, sem falar
da presença de um chapéu viking aqui, de um machado acolá. Mas não,
definitivamente o lugar não é um restaurante temático... É fruto da imersão
que a cozinheira Denise Guershman fez na Noruega.
Quando menina, ela foi para lá fazer intercâmbio e aprendeu a falar a
língua com a ajuda da família norueguesa que colocava etiqueta nas coisas,
escrevendo o nome delas. Muito mais tarde, depois de fazer estágios nas
cozinhas daqui, resolveu voltar para lá para descobrir a nova gastronomia
local, que começava a despontar mundialmente. Acabou ficando por 8 anos,
com atuação também num estrela Michelin local.
Hoje, aplica por aqui o conceito e as técnicas que a permitem fazer
curados, defumados, fermentados. E também a extrair o máximo sabor dos
alimentos, quase sem temperá-los. “Essa é a essência dessa nova culinária
nórdica, que vai muito além do peixe com batatas”, diz.
Esta é a mesa coletiva do Escandinavo, em São Paulo. Ao lado, o prato com salmão curado e defumado, uma joia de suculência e sabor, cujos acompanhamentos mudam sempre
Byggryn é
um cozido com
legumes e creme
azedo, muito leve
e saboroso

Bora para
a Noruega?
A Denise
Guershman leva
pequenos grupos
para lá

A ideia da cozinheira
é oferecer uma
vivência de quem
realmente conhece
o país, numa
experiência rica O resultado é fascinante. A comida da Denise é muito leve, colorida, fresca e saborosa.
culturalmente Nos revela gostos que estamos muito pouco acostumados, absolutamente confortáveis,
e acessível
aconchegantes. Aliás, está escrito numa das paredes, logo na entrada do restaurante:
economicamente
– uma vez que “Velkommen, aqui nós praticamos o hygge, que significa aconchego. Então, tenha calma,
os custos na sinta-se em casa e aproveite”.
Escandinávia, de De fato, no Escandinavo, ouvimos e comemos as histórias e os hábitos noruegueses, desde
uma maneira geral, a simpática falta de pompa no serviço até o pão no galho, com massa enrolada num graveto.
são muito altos. O
roteiro inclui uma Na Noruega, explica Denise, os nativos têm uma vida ativa fora de casa, independentemente
imersão no país, que do tempo. Saem para caminhar e acabam fazendo o que conseguem pelo caminho, comendo
vai muito além da na beira do rio ou diante de uma fogueira no campo – ou na neve! O pão no galho é feito
capital, com muita com uma sorte de grãos levada nos bolsos que é misturada com água fluvial ou com a neve
beleza natural e...
comida boa! Desde
derretida e então vira massa. Ela é enrolada na ripa de madeira e assada na fogueira.
os laticínios de Aros, O ritual com o fogo inclui também o café defumado (e de-li-ci-o-so!) com a fumaça da
a cidade que inspirou lenha que queima sob a chaleira com furinhos que capturam os gases fumegantes. E ainda o
os produtores da inesperado café do marinheiro. Da floresta para o oceano, ele é uma representação da bebida
animação Frozen,
até o aquavit (a
aguardente local) “Velkommen, aqui nós praticamos o hygge, que significa aconchego.
de uma destilaria, Então, tenha calma, sinta-se em casa e aproveite”
num ponto perfeito
(quase infalível) para
que os marujos fazem em alto mar, quando saem para capturar caranguejos gigantes. Lá,
observar a aurora
boreal. Claro, o com pouca água potável no barco, fazem a infusão com a água salgada mesmo. O sal acaba
roteiro passa pelas potencializando o sabor dos grãos, como acontece num caramelo com flor de sal.
vilas vikings e pelos Como se vê, tudo aqui tem muita boca e é muito natural. O que dizer então do salmão
mercados de peixes curado e defumado que até os noruegueses que frequentam a casa dizem que é melhor do
com os caranguejos
gigantes. que muitos que já comeram na terra natal? A cozinheira ralou muito na fumaça até chegar
num peixe realmente suculento com muuuito sabor. Como não temos salmão norueguês por
aqui, Denise poderia usar o peixe selvagem do Alasca ou exemplares de qualidade que vêm
do Chile (sim, também há bons salmões por lá). Ficou com a segunda opção, por causa da
garantia de padrão e de procedência do pescado.
As duas palavras mais o frescor são o mantra que dão origem ao cardápio enxuto do
Escandinavo, com poucas entradas e apenas quatro pratos, um deles trocado a cada 15 dias.
Tudo feito com ingredientes comprados dia sim, dia não, produzido na própria cozinha, sem
qualquer desperdício – mesmo. O Escandinavo fica no bairro de Pinheiros, em São Paulo,
mas, sem estereótipos, é um norueguês de verdade.

Escandinavo – R. Dep. Lacerda Franco, 141, Pinheiros, São Paulo –SP. Tel.: (11) 96451-3670

24 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Byggryn
(4 porções)
INGREDIENTES
½ brócolis cru [caldo] PREPARO
laminado finamente 1 alho poró Junte os ingredientes e deixe
4 rabanetes cozidos e 1 cebola roxa com cozinhar por cerca de 5 horas
assado com manteiga casca em fogo baixo
e sal 1 cenoura [cevadinha]
1 cebola roxa cozida e 50 g de cogumelo
assada com manteiga e desidratado
Cozinhe os grãos na pressão
xarope de alcaçuz por cerca de três horas (até
5 l de água ficarem bem macias)
50 g de cogumelos
laminados puxados na [cevadinha]
[creme azedo]
manteiga 800 g de cevadinha
Bata o creme de leite em
100 g de macarrão [creme azedo]
pré cozido al dente ponto de chantilly e acrescente
500 ml de creme o suco de limão siciliano
(a gente usou um de leite fresco
macarrãozinho sueco Tempere com o sal e o dill.
em formato de alce) Suco de um limão
siciliano Mexa delicadamente e reserve
Um punhado de nozes
pecan defumadas Uma pitada de sal
Brotos de beterraba e Dill desidratado ou MONTAGEM
de cenoura fresco picadinho Monte cumbucas com cerca
4 ovos cozidos com de 200 gramas de cevadinha,
gema mole brócolis, rabanete, cebola
roxa, cogumelo, macarrão,
nozes pecan, brotos e
ovo cozido
Coloque um pouco de creme
azedo e complete com o
caldo bem quente
Cheio
de fome
Quem é o irreverente
Elia Schramm, o jovem
chef que tem feito sucesso
servindo, de uma só vez,
boa cozinha da França,
Itália e até da Grécia
por Pedro Landim
Destaque do agradável L’Atelier Mimolette, o Canard Grande Mère é um dos nossos queridinhos da casa, desde que ela surgiu em Ipanema
DAS CAÇADAS DE COGUMELOS chanterelles raízes, meu estilo intuitivo, o prazer de receber
com o pai nos bosques suíços às rodas de samba pessoas, proporcionar alegria. Cozinhar para mim
cariocas na histórica Pedra do Sal – momentos de sempre foi sobre isso”, afirma Elia.
alegria separados por três décadas, receitas de toda Perguntamos a razão da escolha da temática do
sorte passaram por baixo das pontes construídas litoral italiano para o novo Posì, que tem varanda
mundo afora por Elia Schramm, antes que o chef ‘positana’ coberta de limões sicilianos decorativos e
de 36 anos, nascido em Genebra, se tornasse um menu de mozzarellas frescas, localizado em frente
jovem monarca no reino gastronômico de Ipanema. ao aclamado Gero, o italiano austero de Rogério
Mas o trono podemos esquecer, porque a vida Fasano. A resposta vem com o senso de humor
atual é um caminhar intenso pelas ruas do bairro, carioca que lhe é peculiar:
vestindo o dólmã despojado que mandou fazer em “Piemonte é para quem é cult. Puglia, para
corte de camisa social, e atento aos movimentos quem é roots. Sicilia, para quem é foda. Sardenha,
da engrenagem que serve 50 mil clientes por mês para quem é cascudo. A Costa Amalfitana é para
em sete restaurantes de culinárias distintas, sendo todo mundo. É o primeiro balneário de destino na

“Topei um desafio que reflete o meu estilo intuitivo, o prazer de receber pessoas,
proporcionar alegria. Cozinhar para mim sempre foi sobre isso”
quatro situados no espaço de três quarteirões Itália. Trouxemos o verão europeu à Ipanema.”
do bairro. O mapa da cidade de Elia, porém, se inverte na
São três horas da tarde e lá vem ele pela rua hora da folga. E quem o encontra no Circo Voador,
Redentor, virando a esquina da Garcia D’Ávila para na Lapa, curtindo um show da Nação Zumbi,
adentrar o salão do francês L’Atelier Mimolette, após ou num bloco do Centro cheio de hematomas e
provar o ragu da Pici Trattoria, ajustar o bernaise ataduras (fantasia de “Sistema Único de Saúde”),
de iogurte no grego Oia, e conferir no Posì Mozza não acredita que ali está um chef premiado. Vai
& Mare o preparo do Carbonara di Polpo: a versão pensar que aquele cara gingando com estilo no
da receita famosa feita com espaguete negro e polvo asfalto, no máximo, deve bater um açaí para comer
grelhado tornou-se um dos pratos mais comentados com banana de manhã.
no inverno na cidade. “Vivo num ambiente de elite mas gosto
“Trabalhei em estrelados na Europa, realizei é de me misturar. Meu Rio é a Lapa, a Glória e
no Laguiole o sonho da estrela Michelin, e topei Santa Teresa, as rodas de samba, os blocos e a
um desafio que reflete a minha história de muitas democracia das ruas.”

A cozinha variada do irreverente Elia Schramm (na foto ao lado, com a mulher,
antes do bloco de Carnaval) é conceituada no clima cosmopolita dos restaurantes
de culinária estrangeira em Nova York. Nessa linha, ele pensa e faz comida para
as massas. Mas não abandonou a cozinha autoral que o colocou no mapa quando
pilotava as caçarolas do chique Laguiole, no Museu de Arte Moderna, no Rio. Em
uma única noite por mês, o chef promove um menu harmonizado em cada casa
que atua. É quando pode dar uma pirada. E servir, por exemplo, um creme de
inhame defumado com brócolis no missô, manteiga dourada e castanhas do Pará.
Risotto de aspargos, prosciutto, avelãs e gema de ovo

Na trajetória desse menino do Rio sui generis que do texto, que faz sucesso no restaurante Posì. Ou do
fala francês, inglês, italiano, espanhol e arranha o risotto verde de aspargos, prosciutto, avelãs e uma
alemão, descobrimos muitos carnavais por trás da gema de ovo, oferecido para a aprovação dele, durante
cultura, do talento e jogo de cintura que lhe fizeram a entrevista no L’Atelier Mimolette. Depois ele prova (e
alçar voo entre os grandes da profissão. aprova novamente) o stinco de vitela com canjiquinha.
Nascido na Suíça francesa e criado na italiana, “É assim que eu almoço”, diz, atacando por último
à base de “massas, brasatos e polentas”, viveu o Frango Claridge’s, a clássica receita britânica que
a guerra civil em Angola com a mãe brasileira, simula a torta, com disco de massa folhada por cima
médica da Unicef nos anos 1980, “com toque da carne branca em ambiente cremoso, sustentando
de recolher, carros blindados e minas terrestres”. uma salada de ervas frescas.
Cursou dois anos de Direito no Rio, brincou de DJ “Olha aí o crremoso, o ‘crrocante’ e a acidez

“Minhas referências sólidas sempre estiveram na cozinha clássica.


A memória afetiva está presente, mas há sempre um guéri-guéri nos pratos”
em festas, formou-se em gastronomia na Estácio e que o Claude Trosigros ensina”, afirma, imitando
se destacou nas cozinhas de Le Pré Catelan e Térèze, o sotaque do mestre. E revela o que mais lhe faz
de onde saiu como subchef. Voltou para a Europa feliz à mesa: “O que eu gosto de comer se resume
e se ofereceu ao francês Le Taillevent, com carta no pappardelle al ragu boscaiolo que temos na Pici
escrita do próprio punho. Virou chef de partida no Trattoria. Massa fresca com aquele ragu de carne
triestrelado de Paris, cidade que considera a melhor bem reduzido, feito sem tomate e com bastante roti
do mundo para se comer. e cogumelo seco, um negócio bem piemontês, ali já
“Minhas referências sólidas sempre estiveram na perto da Suíça. Me traz o conforto que preciso
cozinha clássica, que apresento agora em linguagem para viver.”
que os clientes reconhecem. A memória afetiva está
presente, mas há sempre um guéri-guéri nos pratos.” Posì Mozza & Mare – R. Aníbal de Mendonça, 158,
É o caso do polvo à carbonara citado no início Ipanema, Rio de Janeiro – RJ. Tel.: (21) 3215-8668

30 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Risoto de aspargos

INGREDIENTES
[caldo]
Escorra, esprema bem até
2 cebolas sem casca cortadas em
rodelas finas ficarem bem secas
1 cenoura cortada em rodelas finas Bata as folhas no liquificador com
2 ramos de tomilho três pedras de gelo até ficar em
consistência de purê. Reserve
1 ramo de alecrim
3 folhas de louro [aspargos]
100 ml de vinho branco Cozinhe os aspargos em água
1 dente de alho amassado fervente e salgada e depois
1 cravo da índia branqueie em água gelada
3 sementes de erva doce [risoto]
2,5 l de água Separe 4 fatias de presunto de
[purê de espinafre] parma. O restante do presunto de
5 maços de espinafre, apenas as
parma pique em cubos pequenos
folhas Em uma panela, aqueça a manteiga
[aspargos]
e refogue o presunto de parma
em cubos
10 aspargos cortados em rodelas
Acrescente a cebola sem deixar
[risoto] dourar. Acrescente o arroz e toste
400 g de arroz arbóreo até que os grãos fiquem bem envolto
100 g de manteiga sem sal na gordura
100 ml de vinho branco seco Acrescente o vinho branco seco e
1 cebola média picada finamente deixe secar completamente
2 litros de caldo de legumes Coloque uma concha de fundo
100 g de queijo grana padano e mexa sempre. Quando secar,
4 gemas caipiras acrescente mais uma concha e
100 g de avelã tostadas assim sucessivamente, sem parar
150g de purê de espinafre de mexer até que o arroz esteja al
dente
10 aspargos cortados em rodelas
10 fatias de presunto de Parma Salteie os aspargos branqueados em
frigideira quente e acrescente no
Sal à vontade
risoto
Flores para decorar
Retire do fogo e acrescente o Grana
PREPARO Padano ralado, o purê de espinafre
[caldo] e corrija o sal
Em uma panela, coloque todos os Coloque o risoto em prato fundo,
ingredientes. Quando começar a faça uma ‘flor’ com os presuntos de
ferver, reduza o fogo e cozinhe em parma inteiros aos centro, coloque a
fogo baixo por 30 minutos gema de ovo sobre a flor de parma
Coe e reserve o líquido Salpique com as avelãs tostadas e
decore com flores

[purê de espinafre]
Em água quente e salgada, cozinhe
as folhas por um minuto, retire e
branqueie em água gelada
SIMPLES ASSIM

Meu croque
em Paris
Versão moderna do croque monsieur surpreende,
sem macular a essência do clássico
por Robert Halfoun

Não estava no lendário Gran Café Capucines, de 1875, modo como descreve, pedi licença para pedir um
no Boulevard des Capucines (veja quadro), croque monsieur. Em bom português, o
onde, diz a lenda, o sanduíche mais “senhor mordida” (do verbo croquer, em
famoso da França fora inventado, francês).
por acaso. Num dia que faltou Tem burburinho A garçonete dizia que ele é uma
baguete, o espirituoso chef na Cidade Luz impecável reinterpretação do
Recém reformado pela badalada
local cortou fatias do pain de dupla de arquitetos franceses Toro &
clássico, sem perder a essência
mie (pão de miga), colocou Liutard, o Gran Cafe Capucines transformou original. E é mesmo. No lugar
gruyère e presunto dentro num dos hypes parisienses do momento. do gruyère, o sanduíche ganha
dele e, para deixa-lo crocante, 4PYKEVǰGSYPMRHSGSQYQEMQTVSZ§ZIP queijo brie e um creme de
mistura de dourado, vermelho e azul e móveis
colocou no forno, para tostá- com um quê de art decô. No cardápio, há
emmental que substitui o
lo, besuntado de manteiga. novidades, além dos pratos imortais da casa. bechamel. Em vez do presunto
O molho bechamel viria mais E o melhor: o bar agora faz coquetéis cozido, é feito com presunto
tarde, ninguém sabe dizer incríveis, servidos durante 24 horas. cru, cujo salgadinho causa
de onde. 4, boulevard des Capucines, um contraste perfeito com o
Estava num café menorzinho, L’Opera adocicado do famoso e esburacado
com pegada mais autoral, quando queijo suíço. Enfim, não sou dos mais
resolvi fazer como Marcel Proust, no chegados a reinterpretações, mas
clássico Em Busca do Tempo Perdido e, ao esse é um golaço.

32 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Le nouveux croque monsieur
(1 porção) Creme de
INGREDIENTES 40 g de queijo brie 1 colher de café emmental?
de manteiga Ele é uma
[croque] 3 boas fatias de
variação do
2 fatias de pão de presunto cru 3 colheres de sopa de
que fazemos na
forma sem casca (desfiadas) parmesão ralado fino
fondue de queijo
(melhor o integral) 4 colheres de sopa de
creme de emmental*
INGREDIENTES
200 g de queijo
emmental

2
Coloque ralado
as fatias de

1 3
Coloque a queijo brie Cubra tudo 100 ml de
manteiga e o presunto com duas vinho branco
numa HIWǰEHS colheres de seco
assadeira e sobre ela sopa do creme 100 ml de
depois uma de emmental creme de leite
fatia de pão
1 colher de chá
de amido de
milho
1 colher de café
de manteiga

PREPARO
Coloque o
creme de leite
com o vinho
branco para
cozinhar em
fogo médio
Quando
reduzir,
acrescente o
queijo
Misture bem,
acrescente o
amido de milho
misturado com
a manteiga e
mexa até virar
um creme
espesso

4 5
Ceche o Polvilhe
sanduíche com o
com a outra parmesão e
fatia de pão e leve ao forno pré-
cubra com o aquecido 200º
restante do creme C para assar e
de emmental dourar

Sabor club
. [ ed. 32 ] | 33
Comer é
uma arte
Cozinheira de mão cheia, a arquiteta
Lina Bo Bardi projetava a comida simples
– e brasileiríssima – que fazia
por Robert Halfoun
A Casa de Vidro RECENTEMENTE O MASP FOI TOMADO PELO BUZZ TARSILA DO
Ela é uma as joias de Amaral, na maior mostra sobre a artista já feita no mundo. No meio das selfies
Lina Bo Bardi. Você não incontáveis e do borburinho de “onde está a Abaporu?” (além da boa dose de
pode deixar de visitá-la cultura que aquela gente toda levou na veia, sem perceber), pouco se falava da
casa igualmente modernista que abrigava a exposição. Muito menos da grande
Nos anos 1950, o bairro
do Morumbi, em São mulher que a projetou e nos deixou um legado arquitetônico e de design cujo
Paulo, era uma região valor é inestimável.
inóspita ocupa por A romana Lina Bo Bardi (Achilina Bo, 1914-1992) era uma gênia. Ela
fazendas de chá. E foi chegou ao Brasil em 1946, depois de fazer uma resistência ativa ao nazismo na
exatamente ali, num
terreno inclinado que
sua terra, e, já casada com o jornalista, historiador e crítico de arte Pietro Maria
Lina Bo Bardi resolveu Bardi fez muitos amigos e amou o Brasil como poucos. Não só a nossa gente,
construir a sua Casa as nossas coisas mas, acima de tudo, a nossa comida.
de Vidro, seu primeiro Lina era uma comilona confessa e cozinheira de mão cheia, igualmente
projeto erguido no Brasil.
inventiva quando assumia as caçarolas. Numa galáxia muito distante da
Ela é um ícone da
arquitetura moderna no cozinha molecular, já servia o seu carbonara (uma de suas especialidades, vale
Brasil, suspensa sobre lembrar ela era de Roma, o berço do prato) com pedras fumegantes dentro
pilares de apenas 17
cm de diâmetro, num Numa galáxia muito distante da cozinha molecular, Lina já
prenúncio do notável
vão sob o Masp, quer fazia o seu carbonara com pedras fumegantes dentro dele
viria anos depois.
Com janelões de dele, para conferir notas tostadas ao prato. Chegou a colocar corante natural
ponta a ponta, a casa azul no arroz com camarões porque dava a ele um aspecto inusitado, quase
traz ainda outras
ideias arquitetônicas gráfico. Lina projetava a comida. “Onde já se viu comer algo azul? Fica muito
geniais, como a escada harmonioso, não?”, dizia.
levíssima, que parece As receitas e os cardápios do almoços e jantares que servia na sua
flutuar sobre a paisagem espetacular Casa de Vidro (veja quadro) eram todos manuscritos em cadernos,
diante dela.
O lugar hoje abriga
com data e o nome do convidado ou convidados do dia. Pela sua mesa
o Instituto Bardi e, passaram artistas e políticos com postura mais humanista. O cineasta italiano
além de aberto à Roberto Rosselini foi um dos seus comensais, o teatrólogo Zé Celso Martinez
visitação, recebe, Corrêa, amigo de Lina, sempre estava por lá. E declarava: “A mesa dela é linda
esporadicamente,
e cheirosa. A apresentação dos pratos e louças é arquitetônica.”
instalações como a da
artista Lucia Koch, com Foi com a arquiteta-cozinheira que ele descobriu os arrumadinhos, a
malhas colocadas no buchada, a maniçoba (um cozidão brasileiríssimo, criado pelos índios do
lado de fora das janelas. Pará, feito com folhas da maniva e carne de porco). Lina viajava pelo país, se
As cortinas se encantava com os pratos e, de alguma forma, colocava a sua assinatura neles.
movimentam ao sabor
do vento, com leveza Na verdade, ela fazia as suas intervenções em tudo, até em sanduíches. Eles
e múltiplas sensações.
Até 31 de agosto. www.
institutobardi.com.br

36 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Na mesa da Lina Bo Bardi, o rabanete vira carpaccio e o lombo de porco ganha molho de cerveja Malzibier e açúcar mascavo
Versão “careta”
do arroz de
camarão: ao
estilo Lina Bo
Bardi, ele ganha
corante azul

Paola e a ganhavam desenhos legendados com os ingredientes e a forma de prepará-los.


arquiteta Eram chamados de “pãezinhos grávidos”.
Em março de 2019, Apesar das frases ácidas como a célebre “tenho horror a projetar casas
Paola Carosella
fez um menu
para madames e sua conversa insípida de onde a piscina deve estar. Gosto é
especial, inspirado de fazer casas para o povo”, Lina tinha um bom humor impagável. Durante a
nas receitas da construção do projeto que viria a ser o Sesc Pompéia, na capital paulista, houve
Lina Bo Bardi, para uma rebelião dos 400 operários que trabalhavam na obra. Motivo: a empresa
arrecadar fundos
que fornecia marmitas havia trocado o feijão pela soja, alegando que ela é rica
para o Instituto
Bardi. O Tropitália em proteínas. O que se falava entre os peões, no entanto, é que o grão causa
teve salada impotência sexual. Ao saber da situação, Lina tratou de reincorporar o feijão
waldorf, braseado ao cardápio e mais: promoveu um culto ecumênico “para tirar o mau-olhado
de cordeiro com da impotência sexual”.
berinjela, ravióli alla
panna com creme Mais tarde, na inauguração da primeira parte do projeto, a arquiteta
e tomates, entre
outros pratos. Lina fazia as suas intervenções em tudo, até em sanduíches.
Eles eram chamados de “pãezinhos grávidos”
preparou uma festa lista, transformando tapumes em mesas sobre cavaletes e
decorando-os com flores catadas nos jardins da região. Sobre elas havia um
banquete de comidas regionais do Brasil, com cores variadas e nomes poéticos
– uma verdadeira instalação.
A comida, como se vê, tinha espaço nobre na agenda da Lina. Ela dizia
que era parte da sua abordagem antropofágica, referindo-se ao emblemático
movimento da Antropofagia, criado por Oswald de Andrade, a partir da
obra Abaporu (antropófago, em tupi-guarani), de Tarsila do Amaral. Está no
Manifesto Antropófago, de 1928: “…somos capazes de deglutir as formas
importadas para produzir algo genuinamente nacional…”
Como as poesias do Mario de Andrade, os quadros da Tarsila, os projetos
marcantes da nossa Lina Bo Bardi naturalizada brasileira em 1952. Não só em
ferro e concreto como em comida, na face pouco conhecida da autora de pratos
como o pernil ao molho de Malzibier e açúcar mascavo.

38 | Sabor club. [ ed. 32 ]


Arroz com Pernil assado ao molho Mix de folhas de
camarão de Malzibier e açúcar carpaccio de rabanete
(2 porções) mascavo ao molho de erva-doce
INGREDIENTES (8 porções) (2 porções)
200 g de arroz INGREDIENTES INGREDIENTES
agulhinha
1 pernil de 1,8 kg (salada)
10 camarões médios
2 folhas de louro ½ maço de alface crespa roxa
20 gotas de
corante azul 2 ramas de alecrim ½ maço de radicchio
2 dentes de alho 200 ml de azeite ½ maço de alface frisê
2 unidades de 4 dentes de alho ½ maço de rúcula
anis-estrelado 300 ml de vinho branco ½ maço de agrião
100 ml de azeite Pimenta-do-reino branca a gosto 2 rabanetes
Sal a gosto 600 ml de Malzibier (molho)
100 g de açúcar mascavo 150 ml de azeite
PREPARO 1 cebola cortada em cubos ½ cebola em cubos pequenos
pequenos
Doure o alho no 50 g de semente de erva-doce
½ ciboulette para decorar
azeite, acrescente o Sal a gosto
arroz, o anis, o sal e Sal a gosto
o corante. Depois de
PREPARO
cozido, reserve PREPARO
Tire apenas a cabeça (salada)
Marine o pernil com louro,
dos camarões e alecrim, azeite, sal, pimenta, vinho Higienize as folhas e reserve
salteie no alho e branco e alho por 2 horas Corte o rabanete em rodelas bem
azeite. Reserve Asse o pernil em forno 180º C por fininhas
Coloque o arroz no aproximadamente 1 hora, coberto Coloque os rabanetes numa tigela
prato e os camarões com papel-alumínio com gelo e deixe por 15 minutos
por cima dele Passada 1 hora, retire o papel- (molho)
alumínio para dourar. Tire quando Junte o azeite, a cebola, a erva-doce
Dica: para incrementar, achar que está no ponto e o sal
rasgue folhas de Retire o caldo que restou na
couve, frite em (montagem)
assadeira e coe com o chinois
imersão e disponha Coloque o rabanete como um
Numa panela, refogue a cebola carpaccio e disponha as folhas como
sobre o prato em azeite, junte o caldo coado do um buquê, sobre ele
pernil, acrescente a Malzibier e o
açúcar mascavo Regue com o molho e sirva
Deixe ferver em fogo baixo por
20 minutos. Se preferir, engrosse o
molho com um pouco de amido de
milho
Finalize regando o pernil, já no
prato. Decore com a ciboulette
picadinha por cima de tudo
A cozinheira
é poeta
Roberta Sudbrack faz da colher
a pena e com encanto chega a
primeiro ano de vida do seu
Sud, o pássaro verde
por Pedro Landim fotos Tomas Rangel
Ovos fritos no
forno à lenha com
bottarga brasileira
EM VERDE COR DE FLORESTA, A FOLHA uma criança entre as panelas”, diz a chef, sentada
de couve chamuscada parece abraçar os minitomates com seu avental azul em mesa do restaurante Sud,
acesos em vermelho no galho. Pequenas cenouras o Pássaro Verde. “A poesia está mais livre e aberta.
têm a pele morena e os talos tostados, tom sobre tom Continuo sendo perfeccionista, mas minha rigidez
entre pedaços caramelizados de abóbora. Couve flor está mais doce.”
e brócolis criam jardim de talos crocantes enquanto Sabor.Club teve o prazer de almoçar com Roberta
o quiabo se ouriça, guardando as sementes em ponto numa sexta-feira animada, onde o barulho de vozes,
explosivo de caviar. Os grãos de milho são como risadas e talheres que hoje lhe serve de alimento não
pingos dourados do sol entrando pelo teto de vidro cessou durante a tarde, na casa que fica aberta até
sobre o arroz que se esparrama no ferro da panela, de noite. Uns beliscando, outros almoçando. Alguns
guiada pelo fogo vivo da lenha. Iluminada pela bebendo vinho. E duas moças que sentaram para
chama que à mesa chega em forma de poesia dividir uma Clafoutis fumegante de cerejas, preparo
para se comer. típico da nova fase. Muita calma nessa hora porque a
Resumo de um reaprendizado em versos livres beleza está quente. E a chef é a primeira a dizer que
ao redor do grande forno de barro, a imagem do devemos respeitar o fogo.
arroz de frutos da terra foi postada pela cozinheira Na nossa mesa, aliás, descem cogumelos shitake
na internet com palavras da escritora Lygia Fagundes bronzeados e de sabor intenso, com pó de ervas

“O prazer é inegociável na cozinha. Tem que ter curiosidade, obsessão.


Encontrei um jeito de me expressar que me deixou feliz de novo.
Voltei a ser uma criança entre as panelas”
Telles: “A beleza não está nem na luz da manhã nem queimadas manchando o prato branco e uma colher
na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse meio de molho bernaise que é nuvem amanteigada na
tom, nessa incerteza”. boca. Pausa na prosa para um suspiro inevitável.
A poeta Roberta Sudbrack faz da colher a pena, “A primeira coisa que falei nessa casa foi: eu
sempre foi assim. Escreve em sabores sua história quero um forno à lenha. Mas eu sei cozinhar num
do Brasil, o ponto onde tudo começa. Sabe que forno a lenha? Não, e isso é o mais bacana”, diz
a emoção reside em palavras simples, coloquiais. Roberta. “Não podemos subestimar o fogo. É ele
Mas também no jeito de pronunciá-las. Há um ano, quem manda e traz essa impressão selvagem, mas
quebrou as estrofes e dispensou as rimas numa casa sendo algo que você controlou. É como um balão,
branca sem placa na porta, ou parede separando a saindo para voar sem saber onde vai cair. Mas você
cozinha da sala, em rua pequena do bairro carioca do pode ir gerenciando o voo.”
Jardim Botânico. Prefere as vicinais, costuma dizer. No avanço da prosa, notamos que é na “incerteza”
“Cozinhar é meu dom, um sacerdócio. Mas e no “meio tom” citados na frase literária inicial que
o prazer é inegociável na cozinha. Tem que ter mora não apenas o direito, mas um certo dever de
curiosidade, obsessão. Encontrei um jeito de me errar que está na linha evolutiva do trabalho. Depois
expressar que me deixou feliz de novo. Voltei a ser de deixar para trás o RS, após 12 anos, restaurante

Encontro das segundas


A chef reserva o primeiro dia da semana para fazer jantares especiais
Liberdade para poder estar perto das pessoas que livres para os encontros”, diz.
comungam de seus pensamentos. É dessa forma Além dos jantares de aniversário de um ano da
que Roberta define, no Sud, as noites de convidados casa, feito a quatro mãos com Sei Shiroma, do South
especiais onde encontra um paralelo de “vibração e Ferro, foi noite concorrida o menu degustação que
energia” com os antigos lançamentos das ‘coleções’ reuniu os produtos orgânicos do mercado carioca
que promovia no RS, dedicadas a suas pesquisas com Acolheita, os pães da Slow Bakery, e os vinho vivos
ingredientes brasileiros. “Deixei as segundas-feiras da gaúcha Vivente.
Cogumelos com mel branco e parmesão e lagostim com tomates
Arroz de
frutos da terra
pioneiro no Brasil no formato de menus degustação lardo brasileiro e broa de milho (tostada e desfeita
fechados e visitados apenas mediante reserva, o como farofa), trama sudbrackeana de outros
pássaro verde parece voar de volta para o futuro. tempos. E fomos em seguida surpreendidos por um
“Fomos muito longe no RS. Se a gente não desse lagostim que saiu do forno à lenha e aprumou-se
um passo para trás, não chegaríamos na essência, no em maionese e raspas de limão caipira, pó de capim
sa-bor (ressalta as sílabas). Continuamos conectados limão e folhas de limoeiro secas, um profundo aroma
e coerentes com tudo o que sempre fizemos, mas de cítrico de pomar. Por cima do crustáceo, lâminas
maneira mais confortável. Eu acho que isso aqui está de tomates frescos no corte finísimo que subverte
na frente do tempo, porque é onde todos nós vamos texturas e está na assinatura da chef. Fechando
temos que chegar.” a sequência, lindo trecho de costela bovina com
A possibilidade de mudar o cardápio a cada dia canjiquinha amanteigada e acelga.
permanece, e o garimpo de produtos artesanais “Pensa num assado de domingo, você abre papel
ganhou exposição permanente na tábua Embutidos laminado e dá um garfo para alguém. Todos vamos
Brasileiros, assim como o queijo estilo Saint direto na parte que grudou, aquela referência afetiva
Marcellin produzido pela família Sudbrack em que, tecnicamente, na cozinha contemporânea,
Pomerode (SC). é um erro. No RS, a melhor parte quem comia

“Pensa num assado de domingo: você abre papel laminado e dá um garfo para alguém.
Todos vamos direto na parte que grudou, o que, tecnicamente, é um erro na
cozinha contemporânea. No RS, a melhor parte quem comia era o cozinheiro”

No Rio Grande do Sul, Roberta descobriu o mel era o cozinheiro. Aqui no Sud levamos na mesa o
branco da cidade de Cambará do Sul, onde também queimadinho, esse defeito maravilhoso.”
colheu cogumelos. Da experiência uma flor nasceu Às 21h, o Pássaro Verde se recolhe, modificando
no jardim do Sud. Como pétalas, lâminas quase também a relação habitual de um restaurante com o
transparentes de cogumelos cardoncello são regadas tempo. Roberta relaxa, e escolhe em casa as frases que
pelo mel perfumado das flores da árvore carne-de- legendam às fotos das redes sociais. Guimarães Rosa
vaca, e o conjunto recebe chuva de queijo parmesão. está lá, é claro. É um de seus preferidos, na forma de
A presença no menu de tal experiência bem subverter as palavras para expressar um Brasil
poderia constar nas coleções forjadas no extinto de raízes profundas: “Eu só preciso de pés livres,
RS, e ilumina o fio condutor de que nos fala a de mãos dadas e de olhos bem abertos”.
cozinheira. “A diferença é que agora é o cliente que
escolhe seu caminho, seu ritual.” Sud, o pássaro verde – R. Visconde de Carandaí, 35,
Solicitamos então a presença do quiabo com Rio de Janeiro – RJ. Tel.: (21) 3114-0464

Barulhinho bom
Por que a casa da Roberta é tão acolhedora
No Sud, os sentidos são despertados de outra forma. áudio e falei: eu quero isso. Ouvir talheres, pessoas.”
Do balé dos cozinheiros à vista, que levam a lenha Na cristaleira ao lado do balcão da cozinha,
ao forno, movimentam as longas pás e conduzem a coleção de imagens de pássaros continua
as panelas, aos aromas que ganham o salão. E um aumentando – muitos, presentes recebidos pela
elemento auditivo festejado pela chef. chef. Assim como os santos e orixás na estante.
“Quando fechei o RS, fui à França e gravei no “As pessoas sabiam o nome da minha avó, do meu
telefone o som ambiente de um bistrô. Depois, em cachorro, mas diziam que nunca poderiam ir no
reunião com pessoas que trabalham comigo, soltei o meu restaurante. Alguma coisa estava errada.”

Sabor club
. [ ed. 32 ] | 47
Ovo caipira no forno Arroz de frutos da terra
à lenha com bottarga (4 porções)
brasileira
(2 porções) INGREDIENTES
[caldo]
200 g de brócolis
INGREDIENTES Cascas da abóbora orgânico, com as
50 g de manteiga assada folhas
4 ovos caipiras 1 talo de alho-poró 200 g de milho
1 bottarga 2 talos de salsão orgânico
1 cenoura cortada em 200 g de couve-flor
PREPARO pedaços orgânica
Aqueça uma frigideira de 1 cebola cortada em [arroz]
ferro, acrescente a manteiga pedaços 600 g de arroz branco
e espere derreter, sem dourar [legumes] 2 cebolas batidas
Coloque os ovos 100 g de tomatinhos 4 dentes de alho
delicadamente dentro da orgânicos batidos
frigideira e empurre para a 200 g de abóbora Azeite extravirgem à
parte mais quente do forno orgânica, cortada em vontade
cubos grandes
Espere até a clara estar
firme e retire com a gema
PREPARO
ainda bem mole. O calor
da frigideira continuará Refogue as cascas da abóbora em um pouco de
cozinhando os ovos azeite. Junte o alho-poró, o salsão, a cenoura e a
Rale imediatamente uma cebola
generosa quantidade de Refogue bem e cubra com 3 litros água filtrada.
bottarga por cima dos Cozinhe, em fogo bem baixinho, por pelo menos
ovos e sirva 2 horas. Coe e reserve o caldo
[legumes]
Asse todos os legumes cortados em pedaços
grandes no forno à lenha até ficarem dourados
[arroz]
Refogue a cebola e o alho no azeite, até ficarem
bem dourados, quase queimados
Lave o arroz, seque bem e refogue nessa mistura
por alguns minutos
Junte o caldo da casca de abóbora e cozinhe o
arroz até ficar cozido e soltinho
Na hora de servir, acrescente os legumes assados
e leve ao forno à lenha para aquecer e gratinar
ligeiramente
Regue com o azeite e sirvacapuchinha? Quanto
mais cor tamanho e texturas melhor!

48 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Tortinha de pera e tapioca (desde 1995)
(8 porções)

INGREDIENTES PREPARO
[peras] [peras] Feche como um
6 peras bem firmes envelope
Descasque as peras e
Manteiga sem sal corte em fatias finas Repita esse processo
Açúcar de confeiteiro com os outros
Aqueça uma frigideira
[toffee] antiaderente, quadrados de massa e
300 ml de creme de acrescente um pouco o restante da pera
leite fresco de manteiga sem sal Pincele com manteiga
100 g de açúcar e salteie as fatias de derretida por fora e
40 ml de água pera rapidamente leve ao forno quente,
[torta] Polvilhe com açúcar pré-aquecido, até
200 g de massa filo de confeiteiro e doure ficarem bem douradas
Manteiga derretida ligeiramente. Deixe e crocantes
500 ml de óleo de esfriar em uma
canola peneira para eliminar [tapioca]
[tapioca] o excesso de umidade Aqueça o óleo
100 g de tapioca de de canola e frite
caroço [toffee] rapidamente a
Açúcar Aqueça o creme de tapioca. Assim que
Canela em pó leite fresco. Coloque subir à superfície,
o açúcar e a água em retire com a ajuda de
uma panela e leve ao uma escumadeira.
fogo até adquirir cor O processo é
de caramelo extremamente rápido
Acrescente aos poucos Coloque a tapioca
o creme de leite e frita em papel-
cozinhe em fogo toalha para eliminar
moderado até atingir qualquer excesso de
uma consistência gordura
cremosa Retire quando estiver
bem sequinha e
[torta] tempere com açúcar e
canela
Corte as folhas Polvilhe a tortinha
de massa filo em com açúcar de
quadrados de 20 x confeiteiro assim que
20 cm. Pincele cada retirar do forno. Sirva
um dos quadrados com o toffee quente e
de massa filo com a tapioca frita
manteiga derretida
Disponha um por
cima do outro e
recheie com a pera.

Sabor club
. [ ed. 32 ] | 49
1 2 3

4 5 6

Sobremesas
infalíveis
É com essa promessa que a maior marca de
literatura gastronômica do mundo põe um livro
genial nas prateleiras
por Robert Halfoun

SE TEM UM PESADELO QUE RONDA a cozinha, ele chama-se confeitaria.


Como ela, fundamentalmente, é feita de medidas exatas e muita técnica não é
nada difícil deixar um doce desandar. É por isso que o Larrousse das
Sobremesas Infalíveis (Ed. Alaúde, R$ 170) caiu com mel nas nossas mãos.
Ele traz 200 receitas descomplicadas desde bolos e biscoitos até folhados,
pavês e mousses e sorvetes. Todas têm poucos ingredientes (apenas seis, em
média) e um modo de preparo que até uma criança pode executar. Tudo lindo,
gostoso, dá vontade de passar o dia na cozinha, fazendo várias delas.
O que garante tanta precisão, é a bagagem da instituição que assina a obra.
Desde 1938, quando laçou a enciclopédia Larousse Gastronomique, ela se
transformou na referência básica de todo cozinheiro. Em qualquer lugar do
mundo. Na França, por exemplo, não ter uma é quase o mesmo que não ter
uma boa faca. Aqui, selecionamos alguma receitas que exemplificam essa
obra para iniciantes e, sim, para iniciados também.
1
Bolo glaçado de amêndoa
50 min. 10 min. 6 porções

125 g de manteiga com sal 125 g de açúcar


(em ponto de pomada)
3 ovos
100 g de farinha
de amêndoa

40 g de farinha 2 colheres de 100 g de açúcar


de trigo sopa de geléia de confeiteiro
de damasco 100 ml de rum

1 2

>> >>

Bata a manteiga, o açúcar e a farinha de amêndoa Incorpore os ovos um a um, depois a farinha de trigo,
EX¯EQMWXYVEǰGEVGVIQSWE a geleia e 50 ml de rum

3 4

>> >>

(SRXMRYIEFEXIVEX¯ETVITEVE­©SǰGEVIWTYQERXI Disponha a massa numa fôrma redonda untada com manteiga e


leve ao forno preaquecido (180º C) por 40 a 50 minutos.

5 6

>> >>

FiqueDespeje
de olho: sobre o queijo edourar
se a superfície volte demais, Misture o rum restante com o açúcar de confeiteiro
ao fogo
cubra para
com engrossar
papel alumínio formando um glacê e espalhe sobre o bolo frio

Sabor club . [ ed. 32 ] | 51


2
Canelé de Bordeaux
1h 1h20 20 min. 6 porções

1 fava de 250 g de açúcar 100 g de farinha


500 ml de leite baunilha de trigo

2 ovos inteiros 30 g de manteiga 1 colher de sopa


+ 2 gemas de rum

1 2

>> >>

Ferva o leite com a fava de baunilha cortada ao meio e a manteiga Bata o açúcar com a farinha e os ovos e, depois, junte o rum

3 4

>> >>

Retire a fava do leite e despeje-o, pouco a pouco, Leve à geladeira por 1 hora
sobre a mistura, mexendo bem

5 6

>> >>

Despeje
Unte com manteiga sobre o queijo
as forminhas e volte Disponha a massa
para canelé. Sirva
Reduzacom pão italiano para
a temperatura dormido
180ºcortado em cubos.
C e continue a assar por 1h10
ao preaquecido
e leve ao forno fogo para engrossar
(210º C) por 10 minutos &GSQTERLEIQFYXMHSWǰREQIRXIJEXMEHSW

52 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
3
Merengue de framboesa
45 min. 15 min. 6 porções

125 g de framboesa 5 claras 1 colher de chá de


fresca (se não achar, use 340 g de essência de baunilha
morangos) açúcar

1 2

>> >>

'EXEEJVYXERSPMUYMHMǰGEHSVIGSIEWWIQIRXIW 'EXEEWGPEVEWIQRIZIǰVQIMRGSVTSVERHS
o açúcar aos poucos, em três levas

3 4

>>

Adicione a essência de baunilha e bata por mais alguns minutos Forre uma assadeira com papel-manteiga e disponha nela
pequenos montinhos de merengue

5 6 7

Despeje ½ colher de chá da Com uma faca, forme, Leve ao forno preaquecido (110º C) por 45 minutos
polpa da fruta sobre cada um delicadamente, um pequeno
redemoinho na superfície Dica: Se a temperatura mínima do seu forno for 180º C, matenha
a porta semi-aberta, com a ajuda de uma colher de pau

Sabor club . [ ed. 32 ] | 53


4
Biscoito diamante
1h 14 min. 25 min. 6 porções

50 g de açúcar
120 g de manteiga (em 1 fava de baunilha
ponto de pomada)

160 g de farinha 1 gema 4 colheres de


de trigo sopa de açúcar
demerara

1 2

>> >>

Bata a manteiga com o açúcar e as sementes de baunilha Junte a farinha de uma só vez e forme dois rolos com a massa

3 4

>> >>

*RZSPZESWIQǰPQI5:(IPIZI¦KIPEHIMVETSVLSVE 4 Pincele ligeiramente os rolos com gema e passe-os


no açúcar demerara, pressionando bem

5 6

>> >>

Despeje
Corte-os em fatias sobre
de 2 cm de o queijo e volte
espessura e disponha-os em uma Sirva com
Levepão italiano
ao forno dormido cortado
preaquecido (180º C)em
porcubos.
14 minutos
ao fogo
assadeira para
forrada engrossar
com papel-manteiga &GSQTERLEIQFYXMHSWǰREQIRXIJEXMEHSW

54 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
5
Pavê de ameixa-preta
6h 2h 30 min. 6 porções

300 g de 250 ml de chá 30 ml de 20 biscoitos 150 g de creme


ameixa-preta preto (Earl conhaque champagne de confeiteiro*
Grey)

1 2

>> >>

Deixe as ameixas de molho por 2 horas Escorra-as e reserve o líquido num prato fundo
num recipiente com o chá e o conhaque

3 4

>>

Embeba nele ¼ dos biscoitos e diponha-os Adicione 1/3 do creme de confeiteiro e 1/3 das ameixas. Repita a
no fundo de uma fôrma de bolo operação duas vezes e termine com uma camada de biscoitos

5 6 * *Creme de confeiteiro (150 g)

>> >>

Leve ao fogo 500 ml de leite, 1 colher de chá de essência de baunilha e ½ xícara


de açúcar até começar a ferver Bata 3 gemas com ¼ de xícara de açúcar e
3 Cubra a superfície com junte ½ xícara de amido de milho Aos poucos, despeje o leite sobre a mistura
ǰPQI5:(IPIZI¦KIPEHIMVE de gemas, para elas não cozinharem, mexendo sempre Leve de volta
por 6 horas ao fogo médio e bata com batedor de arame até engrossar Desligue
Desenforme e sirva o fogo e junte 1 colher de sopa de manteiga

Sabor club . [ ed. 32 ] | 55


6
Crepe de maça com calda de caramelo*
25 min. 30 min. 4 porções

4 maçãs 50 g de 40 g de açúcar 30 ml de calvados 8 crepes* Caramelo


manteiga (ou sidra de boa cremoso*
qualidade)

1 2

>> >> >>

Coloque as maças decascadas e cortadas em cubos numa Polvilhe-as com o açúcar e deixe caramelizar por 5 a 6 minutos
frigideira, em fogo alto, com 30 g de manteiga

3 4

>> >>

Regue com a bebida e mantenha no fogo alto Espalhe as maçãs sobre os crepes e enrole-os
por mais dois minutos, mexendo sempre

5 6

>>

No momento de servir, derreta 20 g de manteiga numa frigideira. Regue-os com o caramelo e sirva
Disponha os crepes e aqueça-os por 4 ou 5 minutos

* *Crepe (6 porções)

* (EVEQIPSGVIQSWS

>> >>
Em uma panela, aqueça 100 g açúcar em 2 colheres de sopa de água, sem
mexer, até ele formar uma calda com bela cor dourada Com a panela
Em uma tigela, misture 50 g de farinha de trigo com JSVEHSJSKSNYRXIKHIQERXIMKEIQGYFSWIQMWXYVIEX¯EQMWXYVEǰGEV
50 ml de água e 100 ml de leite Acrescente 1 ovo batido homogênea Recoloque a panela em fogo baixo e incorpore 100 ml de
Unte uma frigideira antiaderente e despeje a massa creme de leite fresco, mexendo bem Despeje o caramelo numa tigela e
6YERHSIWXMZIVǰVQIZMVIIHSYVIHSSYXVSPEHS deixe-o esfriar em temperatura ambiente, quando ganhará consistência

56 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
PARA BEBER

Os caçadores
da cerveja perdida
Dois cariocas transformam seus tanques em máquinas
do tempo e recriam estilos milenares ao pé da letra
por Pedro Landim

“VOCÊ É A ÚNICA QUE MANEJA A MASSA com fermentado recentemente em Saquarema, no


uma grande pá, misturando na cova o bappir com estado do Rio, por dois cariocas que transformam
tâmaras ou mel”. Gravado há cerca de 5 mil anos seus tanques em máquinas do tempo e recriam
com escrita cuneiforme, em placas de argila que cervejas milenares ao pé da letra.
descansam em museus como o Louvre, na França, “Estudamos para reproduzir desde a água
o Hino à Ninkasi - a deusa suméria da cerveja - é de cada lugar até os ingredientes e métodos
considerado a primeira receita da amada bebida ancestrais. Já fizemos cerveja viking com fogueira
fermentada na história. Um caldo nascido na e pedras quentes dentro do tanque”, conta o
região da Mesopotâmia, no Oriente Médio, e cervejeiro Arthur Chagas.

Sabor club . [ ed. 32 ] | 57


Caldos medievais
Receitas milenares
usam até água com as
características dos lugares
onde foram criadas

-IPPE – É uma
Dampfbier feita
com água do
sudeste da
Bavária (recriada
com os mesmos
Os cervejeiros
parâmetros
também promovem
químicos) e sessões bem
maltes de cevada com distintas, como a que
leveduras de cerveja de trigo. exibe o Mágico de Oz
Leve, maltada e aromática, com trilha de
a bebida remete a uma Pink Floyd
situação de pobreza e
escassez de trigo na fronteira
da Alemanha com a atual
República Tcheca: “Um Formado em Relações Internacionais e de professores e historiadores de países como
alemão nos procurou num
evento e agradeceu, dizendo cantor, ele divide com o tio Sérgio Fonchaz, Alemanha, Dinamarca e EUA, destacam-se
que teve que vir ao Brasil doutor em Filosofia e guitarrista, não apenas cervejas veneradas pelos fãs e seguidores da
para beber uma Dampfbier”. o palco nas apresentações de rock da banda Sundog como a Sahti, cujo nome se refere à
que foi o estopim da bebida para a antiga tradição nórdica, e a Hella, uma
Sahti – Receita
milenar com 11%
dupla, mas a criação da Sundog Dampfbier, estilo alemão rural do
de graduação Brewing, cervejaria de feições século 19 (veja quadro).
alcoólica, para inéditas no Brasil. Sundog, aliás, significa
ser bebida de O ‘bappir’ citado no texto “caça ao sol” e remete à lenda
preferência
em cálice. Traz
poético da Suméria, por exemplo, escandinava do dia e da noite,
características é uma espécie de pão, ou barra de onde lobos gigantes perseguem
sensoriais do vinho do cereais de outrora, que era assada o sol e a lua, os fazendo girar.
Porto, como o dulçor, as com mel e misturada na água para Assim como o povo que
especiarias e lembrança
de frutas secas.
a fabricação da bebida. Pois Indianas frequenta as batalhas de
“A receita só foi descoberta saiu outro dia do forno na Jones bandas, promovidas pelo
em 1904, num drakkar viking feitura da cerveja que será A história dos caçadores da Arthur e pelo Sérgio,
naufragado do século 9, lançada na edição 2019 cerveja perdida começou nos no alternativo Cine
através de vestígios num ensaios da banda que tem o mesmo
do Mondial de La nome da cervejaria, e a ideia de Joia, em Copacabana.
barril. Fizemos com água
ǰRPERHIWEIEUYIGIQSWS Bière do Rio. produzir a bebida para os encontros, O programa, não
mosto com pedra quente “Fizemos o pão que passaram a lotar de amigos com raro, inclui misturas
no bagaço do malte, o que sumério com trigo, copos na mão. “Mergulhamos em audiovisuais como a
confere uma caramelização Z´HISWPMZVSWIǰ^IQSWXSHSWSW
cevada e mel, e cursos de fabricação disponíveis”, exibição de O Magico de
diferente, utilizando junípero
(zimbro) e fermento de pão”,
fabricamos o vinho de lembra Arthur Chagas, com a Oz com trilha sonora do
explica Arthur Chagas. tâmaras que também está aprovação do Sergio disco The Dark Side of The
nas inscrições descobertas Fonchaz. Moon, do Pink Floyd.
Pictii – Para os por arqueólogos, adicionando Agora, a próxima série da
degustadores
com ímpeto
especiarias como o açafrão. A cerveja Sundog vai deixar de lado as históricas
medieval, está era semelhante a um mingau. Reduzimos a e focar em criações próprias de extremas
saindo um novo densidade, mas ainda ficou bem encorpada e criatividade. Por exemplo, uma IPA baseada
lote da Sahti com cerca de 7% em rituais de índios norte-americanos, com
fermentada
de teor alcoólico”. sementes de peiote (cacto com propriedades
com hidromel,
no estilo celta Braggot, Entre os estudos da dupla, que na base de alucinógenas) na receita, e uma Stout com
consumido por volta pesquisa, e-mails e Skype despertou o interesse cacau, canela, brandy e pétalas de rosas
do século 10, com seus
“singelos” 20% de álcool.

58 | Sabor club. [ ed. 32 ]


Os melhores vinhos das melhores
importadoras em um clube único:
Mistral, World Wine, Winebrands, Qualimpor,
Adega Alentejana, Portus, Grand Cru,
Vinci entre outras.

Sempre vinhos pontuados por Robert Parker, ADEGA,


Wine Spectator e Descorchados.

a c e s s e : w w w. c l u b e a d e g a . c o m . b r
Drinque

Ervilha na cupê
Clássico restaurante paulistano põe o legume
na taça, para comemorar aniversário
A ervilha é o símbolo do Piselli (nome do
legume em italiano), um dos clássicos da
restauração paulistana. A casa foi criada há 15
anos pelo craque Juscelino Pereira, que, antes de
ser dono de restaurante, era agricultor. Advinha
o que ele cultivava no interior de São Paulo?
Com uma cozinha impecável do Piemonte
e um serviço de tirar o chapéu, o Piselli
rapidamente de destacou no cenário da cidade
mais gastronômica do país. Agora, em ano de
celebração, uma das ações especiais da casa
foi criar um menu de drinques clássicos, com
o inusitado presença da ervilha num deles.
O resultado é uma composição fina, com o
inusitado sabor do legume, bem de leve, dentro
dele. É supreendentemente delicioso!

Piselli – R. Padre João Manuel, 1253, Jardins,


São Paulo – SP. Tel.: (11) 3081-6043

Ervilha na cupê
(1 drinque)
INGREDIENTES
10 ml de vinagre de maçã
5 ml de xarope de maçã
50 ml Jerez Tio Pepe
50 ml gin Beefeater
10 g de ervilhas frescas

PREPARO
Em uma coqueteleira, adicione o vinagre
de maçã junto com a ervilha fresca e
macere os grãos
Em seguida, adicione o xarope de maçã,
o vinho de Jerez, o vinagre de maçã, o gin (VSWXEHIIVZMPLE:
e bata tudo na coqueteleira com gelo Bata a ervilha seca
Depois, faça dupla coagem para retirar a (com um socador) até
parte sólida virar uma farinha
Passe limão na borda da taça e
mergulhe-a num mix de ervilha, sal e
pimenta* até que tenha uma boa adesão
do tempero na borda Triture pimenta do reino
e sal do Himalaia.
Coloque a bebida na taça e sirva Misture

60 | Sabor club . [ ed. 31 ]


Best buy!
Ótimos brancos, tintos e espumantes para todos os gostos e bolsos

Até R$ 50 De R$ 51 a R$ 100
CONDE FOUCAULD BRUT ROSÉ CASA VALDUGA TERROIR LEOPOLDINA
86
pts
Aurora, Serra Gaúcha, Brasil 90
pts CHARDONNAY 2017
Elaborado pelo método Charmat a partir Casa Valduga, Vale dos Vinhedos, Brasil
de Merlot, Pinotage e Cabernet Franc. Frutado e Sempre muito consistente, nessa versão mostra
cremoso, mostra frutas vermelhas mais maduras abacaxi maduro em profusão, escoltado por notas
envoltas por toques florais e herbáceos. No florais, minerais, de camomila, de ervas e de
palato, confirma esse perfil de maior sensação de especiarias doces, que se confirmam na boca. Tem
dulçor, mas com acidez e estrutura, que trazem gostosa acidez, boa textura e final sedutor, com toques
equilíbrio ao conjunto. R$ 24 | Álcool 11,5% salinos e de frutos secos. R$ 74 | Álcool 12%

ESTREIA BRANCO 2017 DON GUERINO RESERVA TEROLDEGO 2017


87
pts
Adega Cooperativa de 90
pts
Don Guerino, Alto Feliz, Brasil
Ponte da Barca, Minho, Portugal Metade desse vinho fica 6 meses em
Aroma aberto com notas cítricas e florais frescas e barricas de carvalho francês. É frutado e de ótima
agradáveis. Com corpo leve para médio no paladar. tipicidade, com notas terrosas e de couro, seguidas
Destaca-se pela acidez marcante e efervescente, com de ameixas e de amoras. Chama atenção pelos
notas de limão tahiti. A textura é macia e delicada, taninos de ótima textura e pelo final carnudo.
apresentando ligeiro dulçor final. R$ 39 | Álcool R$ 75 | Álcool 13,8%
11,5% | Conceito Português

SAN TELMO MALBEC 2018 MARIANA TINTO 2018


88
pts
San Telmo, Mendoza, Argentina 90 Herdade do Rocim, Alentejo, Portugal
pts
Sem passagem por madeira, é acessível e Blend de Touriga Nacional, Alicante
fácil de entender, mostra aromas de frutas vermelhas Bouschet e Trincadeira. Seu aroma mostra
e negras maduras acompanhados de notas florais frutas vermelhas e negras maduras e suculentas
e de especiarias doces, que se confirmam na boca. acompanhados de baunilha. Na boca, destaque
De corpo médio, tem acidez na medida, taninos para os taninos equilibrados, domados por 6
macios e final com toques de ameixas e de violetas. meses em madeira. Final com leve tostado.
R$ 44 | Álcool 13,5% | Cantu R$ 80 | Álcool 14% | World Wine
BARDOT PROSECCO VIDUSSI PINOT GRIGIO 2017
89
pts
Famiglia Zanlorenzi, Serra Gaúcha, Brasil 89
pts Montresor, Friuli, Itália
As borbulhas são finas e rápidas e a Sem madeira, dorme em cubas de inox
cor é palha. No nariz, notas florais, típicas dos por 4 meses antes de ser engarrafado. Mostra
proseccos, pera, pêssego e pão torrado. Na boca, frutas brancas e de caroço acompanhadas de notas
tem boa cremosidade, frescor e sabor agradável florais, que se confirmam no palato. Fresco e de
repetindo os aromas sentidos no nariz. Tem boa médio corpo, tem acidez vibrante, ótima textura e
persistência e um leve amargor no final. final cativante, com toques de pêssego e de limão.
R$ 48 | Álcool 11,5% | Livimport R$ 93 | Álcool 13% | Cantu
ALDEIA DAS SERRAS DOC TINTO 2015 CONO SUR RESERVA ESPECIAL PINOT NOIR 2016
89
pts
Adega de Silgueiros, Dão, Portugal 90
pts
CONO SUR, SAN ANTONIO, CHILE
Com 40% Touriga Nacional, 20% Os aromas de cereja e framboesa com
Tinta Roriz, 20% Alfrocheiro e 20% Jaen, sem um sutil toque de madeira surgem forte no nariz.
passagem por madeira. Gastronômico por Na boca mal percebemos os 14% de álcool, muito
natureza, tem taninos de boa textura e vibrante bem integrados à bebida. Enfim, traz taninos
acidez, que trazem sustentação a toda sua fruta macios e camadas de sabores vão aparecendo ao
negra e vermelha fresca. Tem final persistente, degustar. O final é longo e equilibrado.
com toques terrosos, de ervas e de especiarias. R$ 96 | Álcool 14% | La Pastina
R$ 50 | Álcool 13,% | Adega Alentejana

62 | Sabor club
. [ ed.32 ]
CLASSIFICAÇÃO PONTOS
Extraordinário ............ 95 a 100
Excelente ..........................91 a 94
Ótimo ..................................89 a 90
Muito Bom ......................87 a 88
Bom ......................................85 a 86
Regular .............................. 82 a 84
Fraco.......................abaixo de 82
Pontuação conferida pela equipe
de degustadores da revista Adega

De R$ 101 a R$ 200 Acima de R$ 200


VIVANCO BLANCO 2017 KELMAN ALFROCHEIRO 2016
90 Vivanco, Rioja, Espanha 92
pts
Kelman, Dão, Portugal
pts
Viura (50%), Tempranillo Blanca (35%) e Depois de 6 meses em barrica de carvalho
Maturana Blanca (15%) sem passagem em madeira. francês de terceiro uso e em aço inoxidável,
Revela aromas frescos mesclando frutas ácidas, mostra aroma de frutas vermelhas silvestres frescas
como ameixa amarela e a casca da lima-da-pérsia. e notas balsâmicas. Vinho encorpado e suculento,
Tem bom corpo na boca, com as notas do nariz bem com boa acidez e taninos finos.
integradas a acidez, ao frescor e a persistência do R$ 289 | Álcool 14,5% | Portus
conjunto. R$ 103 | Álcool 13% | World Wine
MATAOJO RESERVA TANNAT 2016 CONCRETO MALBEC 2017
91
pts
Mataojo, Sierra Oriental, Uruguai 94
pts
Zuccardi, Mendoza, Argentina
Suas bagas são colhidas em 3 diferentes Aqui, as uvas são fermentadas em cachos
níveis de maturação. Depois dormem numa mescla inteiros, sem leveduras adicionadas, em tanques de
de barricas de carvalho francês, americano e húngaro concreto. Mostra perfil de fruta exuberante, com
durante 8 meses. Resultado: um Tannat elegante, com muito volume de boca. E ainda frescor e textura
tabaco e frutas negras maduras no nariz; potência e nervosa e granulada dos taninos. Uma delícia de
taninos equilibrados na boca. Tem acidez deliciosa! vinho, que se bebe perigosamente fácil.
R$ 110 | Álcool 14% | Winebrands R$ 359 | Álcool 14% | Grand Cru
BALTHASAR RESS LANDWEIN RIESLING BADIA A COLTIBUONO CHIANTI CLASSICO
92 TROCKEN 2016 93
pts
RISERVA 2012
pts Balthasar Ress , Rheingau, Alemanha Badia a Coltibuono, Toscana, Itália
É um fenômeno, com pêssego fresco, além Orgânico, fruto do blend de Sangiovese, Canaiolo,
de boa mineralidade à caminho do petróleo. Prova Ciliegiolo e Colorino, com fermentação espontânea
que dá para ser multidimensional sem madeira. Em e estágio de 24 meses em botti de carvalho austríaco
boca, confirma a fruta limpa e elegante. Um Rielsing e francês. Austero, mostra cerejas, especiarias doces e
de carteirinha, tão difícil de encontrar no Brasil nesta ervas. Taninos firmes, boa acidez e final profundo.
faixa de preço. R$ 113 | Álcool 11,5% World Wine US$ 98 | Álcool 13,5% | Mistral

POÇAS VALE DE CAVALOS TINTO 2016 CHÂTEAU MANGOT TODESCHINI SAINT-


91
pts
Poças, Douro, Portugal 93
pts ÉMILION GRAND CRU 2012
Gastronômico, com Touriga Nacional, Château Mangot Todeschini, Bordeaux, França
Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca, com Com 40% Cabernet Franc, 30% Cabernet Sauvignon
estágio de 20% do vinho em barricas de carvalho e 30% Merlot, com fermentação integral e estágio
francês. Mostra exuberantes notas florais, de ervas em barricas novas de carvalho francês entre 16 e 18
e de especiarias acompanhando ameixa e amora. É meses. Refinado e preciso, alia com maestria potência,
estruturado, com ótima acidez e final com toques de untuosidade, firmeza e profundidade. Final é carnudo
alcaçuz e de grafite. R$ 115 | Álcool 13,5% | Cantu com toques de tabaco. R$ 590 | Álcool 15% | PNR
MAXIMO BOSCHI BIOGRAFIA GRAMONA CELLER BATLLE
92
pts
EXTRA BRUT 2012 96
pts
GRAN RESERVA BRUT 2009
Maximo Boschi, Serra Gaúcha, Brasil Gramona, Penedès, Espanha
Elaborado pelo método tradicional com 60% A melhor edição desse espumante branco brut
Chardonnay e 40% Pinot Noir, mantido, pelo menos, elaborado pelo método tradicional com 75% Xarel-
36 meses em contato com as leveduras antes da lo e 25% Macabeo, com estágio de 10 anos sob as
degola. Austero, impressiona tanto pela qualidade leveduras. Dê tempo a ele na taça para que mostre toda
da fruta quanto pela das borbulhas e também pela sua exuberância, com frutas cítricas e brancas, anis,
cremosidade. R$ 170 | Álcool 12,5% ervas frescas, damasco e baunilha. Sim, tem tudo isso.
R$ 920 | Álcool 12% | Grand Cru

Sabor club . [ ed. 32 ] | 63


Adega

Sopa
e vinho?
A harmonização pouco aconselhada
não é tão impossível assim
Minestrone
Syrah ou Cabernet
Sauvignon
Sa
Consommé (com breve
Jerez seco
passagem
A estrutura
por
e sabores
delicados do madeira)
caldo de carne A sopa com
(ou de frango; legumes,
ou de legumes) feijão e
vai bem com a m
macarrão é tão
salinidade e a substanciosa que
oxidação do vinho a harmonização
espanhol. suporta até tintos
de médio corpo.

Creme
de vegetais
Pinot Grigio ou
Alvarinho Sopa de
A maioria das tomate
sopas cremosas Sauvignon Blanc
seja com palmito, ou Riesiling ou
abóbora, milho ou
Alvarinho
QERHMSGEǰGEQ
Se considerarmos
bem acompanhadas
apenas o tomate
de brancos secos e
Caldo verde Sopa de e a temperatura
leves.
Vinho verde ou de serviço (fria), a
cebola grande acidez do
Rhône (branco) ou Chardonnay prato pede para
Douro (branco) ou Aligoté ser contraposta
O leve amargor Como costuma com acidez.
da couve, o ser servida com
dulçor da batata queijo derretido,
e o defumado da os franceses
linguiça pedem costumam
algo potente mas combiná-la com
que lava a boca. brancos leves.

64 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Cerveja
Hocus
Pocus
Pandora
Bem feito no estilo,
com o corpo leve
e os aromas e
Spaten sabores de cereais,
Munchen Hell com uma notinha Paulaner
Da cervejaria que é de caramelo. Munchner Hell
a mãe da criança. Feita com leveduras
Claro, segue a “Lei exclusivas, malte de
da Pureza Alemã”. A cevada leve e lúpulo
receita de malte, água
e lúpulo é realmente
A boa de ǰRSIEVSQ§XMGS
Na boca, revela um
impecável.
Munique pequeno e instigante
toque condimentado.

A Helles nasceu da Pilsen: mais maltada


e com pouco amargor. Não há quem
não se encante por ela

Cidadee
Imperial Tupiniquim
Helles Helles
É muito legal Segue a receita
ver uma Helles original à risca,
vendida em o que é ótimo,
larga escala. especialmente
E ela é ótima! para quem está
Com tudo o descobrindo
que o estilo deve ter. o estilo.
Como é leve, a versão
de 330 ml pode ser
tranquilamente sorvida
no gargalo.
Foi a cervejaria Spaten quem criou o estilo, em 1895. De lá para cá, a cerveja
pouco mudou, exceto a sua popularidade. O cervejeiro que adquire a boca
para apreciar o malte vai nela, quando pensa numa cerveja leve porém
com sabor marcantes, sem amargor pronunciado. A característica
maltada revela até um certo dulçor, bem pequeno, quando as
notas nos levam ao pão e aos biscoitos. Na terra Natal do Bamberg
Helles
Blondinee estilo, há quem beba a Helles no café da manhã! Aqui o malte surge
Jackpot com tudo na boca,
O diferencial aqui assim como um
é um certo aroma amargor extra
DZSVEPÁRMGSHS para o estilo: o
rótulo. O malte, Coruja VIWYPXEHSǰREP¯
o pão e o leve Strix bem interessante
amargor seguem Malte, pão, mel e e envolvente, por
a cartilha. fermento: assim é causa da média
essa cerveja muito carbonatação.
bem feita e muito fácil
de tomar. Ela enche a
nossa boca a
cada gole.

Sabor club
. [ ed. 32 ] | 65
Olho neles
Fora do óbvio, os jovens
Giovanna Perrone e Rodrigo
Aguiar usam a perseverança e a
ousadia para fazer uma comida
que merece ser notada
por Robert Halfoun

Magret de pato
defumado,
feijão branco,
sour cream e
compota de
cebola roxa
DIZ O DITADO QUE SE CONSTRUIR a montanha, vai ter de escalá-la.
E é isso o que o casal de cozinheiros Giovanna Perrone e Rodrigo Aguiar vêm
fazendo, no restaurante deles, o Rios, no bairro do Tatuapé, na zona leste
paulistana. Numa conversa com eles, é inevitável fazer a pergunta, já feita um
milhão de vezes: o-que-é-que-vocês-estão-fazendo-num-bairro-com-tão-pouca-
tradição-gastronômica?
O casal, explica-se, opta por fazer uma cozinha contemporânea moderna e
inventiva, normalmente aplicada num circuito restrito das metrópoles.
Ou muito longe dele, pelo cozinheiros estrelados que mudam para o campo,
Top chef para ficar mais próximo da matéria-prima fresca com as quais trabalham.
Aos 23 anos, Giovanna O Tatuapé, bairro em ascensão sócio-econômica não é uma coisa, nem
Perrone tem muita
outra. E isso explica porque os talentosos Giovanna e o Rodrigo vêm, há três
lenha para queimar
anos, doutrinando a clientela local, pouco acostumada com o imprevisto no
Giovanna Perrone exitou prato – característica que é o grande o barato da comida deles.
ao ser convidada para Exemplo marcante disso foi o freguês que insistiu em colocar parmesão
participar do Top Chef num risoto feito com queijo Tulha, uma joia de massa dura, feita na Fazenda
Brasil, na Record. “Entrei
porque queria promover Atalaia, em Amparo, no interior paulista. O homem não sossegou mesmo
o restaurante”, diz. E quem diante do produto in natura, muito parecido com o primo italiano. Acabou
a viu atuar, percebeu
a clara obsessão pela Eles querem liberdade para fazer alta gastronomia, termo
perfeição que buscam no
restaurante. No programa, que, durante uma hora de papo, foi citado inúmeras vezes
chorou ao quase ser
eliminada (na verdade trocando de prato até que voltou, dias depois, arrependido. Não sobrou
foi e voltou) e sorriu ao risoto para contar história.
levantar o caneco diante
No primeiro ano do restaurante, o casal volta e meia fazia concessões e
dos aplausos clamorosos
dos jurados Felipe Bronze, adaptava os pratos. Até spaghetti à bolonhesa fez. Então veio o basta: “Claro,
Emmanuel Bassoleil e preparávamos com o maior rigor. O molho de carne, por exemplo, tinha língua e
da Ailin Aleixo, jornalista costela na receita. Mas, definitivamente, não era a cozinha que queríamos fazer.”
de gastronomia. Diz, Giovanna e Rodrigo querem liberdade para fazer alta gastronomia, termo
hoje, que a experiência
valeu muito a pena, que, durante uma hora de papo, foi dito por ela inúmeras vezes. Isso significa
embora ache a edição trabalhar não só com uma criatividade fora dos padrões mas, principalmente,
da TV poderia ter dado com uma precisão e uma perfeição notáveis. Apesar de muito jovens, ela
mais foco à cozinha e tem 23, ele tem 30, o que colocam na mesa é, de fato, o que propõem. Seja
menos às intrigas que
naturalmente rolam entre na concepção, como na ótima execução – mas que pode (e deve!) chegar ao
os participantes. excepcional. Seja na prosaica coxinha que ganha forma perfeita, recheio de
galinha defumada e caldosa, acompanhada de uma fonduta de queijo cremoso,
delicadamente servida dentro de uma casca de ovo – milimetricamente
quebrada da extremidade. No cupim defumado no pit smoker cujo o destaque
é o demi-glace impecável servido com ele. No chorizo com vinagrete de carne,
cogumelo eringui grelhado e azeite de brasa – salve, salve Ferran Adrià.

68 | Sabor club. [ ed. 32 ]


Coxinha de galinha caipira defumada; beterrada marinada com creme de Saint Marcelin da Mantiqueira e PANCs;
chorizo com uarini (farinha popular no norte do Brasil), cogumelo eringui e azeite de brasa e sorbet de banana
&VVS^HITEXSǰREPM^EHSGSQNEQSRHITEXSJIMXSREGEWE
TYVYVYGEHITEXSIQM\HIIVZEWXSWXEHS

Os pratos fazem parte de um novo e looongo cardápio que Giovanna e


Rodrigo praticam atualmente. Por que tão extenso? Ele diz que é para oferecer
variedade à uma clientela que está “em fase de descoberta gastronômica”. Este
velho lobo comilão que aqui escreve, por outro lado, vê uma inquietação latente
e uma incontinência criativa, típica da juventude. Vai passar.
O desafio imposto pelos jovens cozinheiros forjados pelas mãos rigorosas de
chefs como Jefferson Rueda é enorme. Por todos os lados. E eles sabem disso.
Para vencê-lo fazem do restaurante a extensão da própria casa e vice-e-versa.
O pit smoker onde tanta coisa que usam é defumada fica no quintal de onde
moram. E, não raro, é acionado madrugada a dentro, mesmo depois da labuta
que, invariavelmente, começa as 8 da manhã e termina depois da meia-noite.

Aqui, a inspiração mediterrânea que se transformou numa cozinha


muito autoral, com um sotaque brasileiro bem marcante
O trabalho inclui uma tarefa bacana: ir até o Centro de Atendimento ao
Trabalhador, também no Tatuapé, onde acontece uma feira com pequenos
produtores. “É a garantia que temos para ter um produto sempre fresco e
incentivar a agricultura familiar.” Lá encontraram um fubá de moinho de
pedra incrível e selecionam as verduras que vão parar na salada do Ceret, com
vinagrete de limão cravo e salsa verde. De um pouco mais longe, vêm os queijos
do interior paulista e os embutidos da Mantiqueira.
Tudo isso, enfim, é usado com uma forte inspiração mediterrânea que se
transformou numa cozinha muito autoral, agora com um sotaque brasileiro
bem marcante. Não à toa, Rodrigo Aguiar foi eleito chef revelação pela revista
Veja São Paulo e Giovanna foi a vencedora da primeira edição do reality Top Chef
Brasil. Às vezes, sabemos, é preciso olhar além do arco-íris para encontrarmos
o pote de ouro onde menos se espera.

Rios – Rua Itapura, 1480, Tatuapé, São Paulo – SP. Tel.: (11) 3213-9030

70 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Chorizo com uarini, cogumelos e mostarda
(2 porções)
INGREDIENTES [cogumelos eringue] [Uarini]
[chorizo] 300g cogumelos eringue Comece hidratando o Uarini com a água
2 peças de chorizo de Hereford 50g manteiga Depois pique bem a cebola, a salsa, o
200 g manteiga [folha de mostarda] orégano e a pimenta sem as sementes
2 ramos de alecrim 1 maço folha de mostarda Misture tudo com o azeite
2 dentes de alho 50 ml vinagre de vinho branco Numa panela, coloque o caldo de carne e
50 ml azeite extravirgem o chimichurri. Tempere com sal e pimenta
Sal Por último junte o Uarini hidratado e
PREPARO
Pimenta do reino mexa apenas para incorporar tudo junto
[chorizo]
[uarini] [cogumelos eringue]
200 g Uarini
Tempere a carne com sal e pimenta do
reino dos dois lados Abra os cogumelos ao comprido e com a
200 ml de água ajuda de uma faca de legumes, risque o
½ cebola Em uma frigideira bem quente, coloque
a manteiga e o azeite. Coloque as interior deles formando um “xadrez”
½ maço salsa Numa frigideira quente, coloque a
carnes e em seguida o alecrim e o alho
½ maço orégano fresco manteiga e sele rapidamente os cogumelos
Com a ajuda de uma colher vá
50 ml de azeite
regando a carne com a gordura até que com a parte riscada para baixo
1 pimenta dedo-de-moça chegue no ponto desejado Finalize com sal e pimenta
100ml caldo de carne [folha de mostarda]
Numa frigideira bem quente, coloque as
folhas de mostarda e em seguida o vinagre
Retire-as rapidamente do fogo para que
fiquem ainda crocantes. Tempere com sal

Terroir fazenda atalaia


[2 porções]

INGREDIENTES [montagem] [purê de figo]


[risoto] Tulha para ralar Numa frigideira bem quente, doure os
300 g arroz arbóreo ou Nibs de cacau figos
carnaroli Pó de café Rale as especiarias e deixe cozinhar
500 ml vinho branco PREPARO Bata no mixer ou liquidificador e penere
½ cebola
[risoto]
100 g manteiga
300 ml leite Corte o queijo tulha em pequenos [figo grelhado]
pedaços Corte cada figo em 4 meias luas
300 g queijo tulha
3 grãos pimenta do reino preta Em um bowl, coloque o leite, as Em uma frigideira bem quente, coloque o
pimentas e o queijo para infusionar azeite e doure bem os figos dos dois lados
500 ml caldo de legumes
em banho maria durante 1h
[purê de figo e especiarias] Retire da frigideira e por cima coloque o
Processe no liquidificador e passe pela tomilho desfolhado
100 g figo maduro peneira
20 g manteiga
Doure a cebola picada com manteiga
1 cumaru [montagem]
em uma panela, junte o arroz.
1 canela Coloque o vinho branco e mexa bem Coloque o risoto nos pratos, por cima
1 zimbro rale o queijo tulha
Aos poucos, vá adicionando o caldo de
1 cravo legumes quente até cozinhar o arroz Coloque as gotas de purê de figo, o nibs e
[figo grelhado] o pó de café
Quando estiver quase pronto, entre
6 figos com a infusão de queijo e mexa sem Finalize com os figos grelhados
3 ramos de tomilho parar até dar o ponto. Acerte o sal
20 ml azeite

Sabor club
. [ ed. 32 ] | 71
DELICATESSEN

Hamburguinho, não...
Hamburgão!!!
Lanchonete faz hambúrguer old school, inspirada
no clássico americano, e vira hype em São Paulo
por Robert Halfoun
O Seu Elânio é um senhor com uma fisionomia – Hamburguers and Fries, numa portinha onde só
simpática, mais ainda quando adornada com a cabem apenas a cozinha e o balcão. Por que tanto
boina estilos anos 1940, usada pelos funcionários sucesso? Porque a mínima lanchonete vende os
de 10 de 10 lanchonetes americanas daquele burgers feitos na época da boina do Seu Elanio.
tempo. Ele fica na calçada de uma rua fora da Eles são pequenos, fininhos, simples e deliciosos.
rota gastronômica da paulicéia orientando a fila Não à toa fizeram o McDonalds o que é. A rede
parruda que se forma diante do novíssimo Patties ianque, aliás, é declaradamente a grande inspiração

Sabor club
. [ ed. 32 ] | 73
Old school
Concorrente
do McDonalds
ŝŲäûäŲěƙÿΰŲ
pequena, com
ÿī°ŷäĸńŲĴäŷ

4;LMXI2ERREǰGE
em New Jersey e é
um tiro obrigatório
para quem está
em Nova York. A
lojinha estilosa,
como um trailer,
plantada no meio
do trio Jean Ponce, um dos o burger e as fritas fininhas do quarteirão, está
nossos maiores mixologistas; e... ocupar o espaço urbano. no mesmo lugar,
Greigor Caisley, cozinheiro Numa época em que as pessoas servindo a mesma
de mão boa, premiado pelos entendem que entretenimento comida, desde
Arqueologia 1939. É o burguer
quitutes do bar Guarita, está no shopping center, esse
do hambúrguer old school que não
e Henrique Azeredo, os tipo de ação tem muito sai de moda, feito
A primeira loja do McDonald’s
donos do lugar. ƲěŲńƙƙĴĴƙŷäƙĸÄńńÿÎě°ī valor, pode crer. com tudo certo, de
Ao ir na Não vai demorar, grande qualidade,
*PEǰGEIQER'IVREVHMRSEYQELSVEHI e fazia o nosso
contramão da onda carro de Los Angeles, na famosa Rota 66. claro, a Patties deve se
Anthony Bourdain
dos hambúrgueres Não é mais um McDonald’s, mas um fast food espalhar pela cidade. comer três, quatro,
gourmetizados, de frango frito. O dono, no entanto, separou O modelo do negócio de uma vez,
preparados com uma área especial e ali faz, com doações, um parece ter sido feito sem dó.
museu que homenageia a marca lendária. O 358 River St.,
com combinações prédio, importante dizer, não é mais o mesmo, para ser rapidamente
Hackensack
esdrúxulas e discos o que vale é o local onde ele foi erguido. escalável. Então o Seu
de carne enormes (e Ali, os irmãos Mc Donald’s começaram Elânio, que começou
normalmente grelhados vendendo churrasco e outros 25 itens. na chapa, ganhará
Até descobrir que o que mais
fora do ponto, crus), eles rendia eram mesmos os companhia. Com a resposta
acertaram na mosca, com a hambúrgueres. na ponta da língua:
velha essência do menos é mais. – Senhor, o que é o
Inclusive no preço. O sanduíche do hambúrguer Original?
Patties custa menos da metade do preço de – Pão de leite (muito macio),
um hamburgão fru-fru. E, sim, é mais gostoso. A cheeseburguer fininho, cebola picada, picles,
tal fila parruda não desmente a informação. Há catchup e mostarda.
mais uma questão louvável na fórmula do Patties. Ao dar a primeira mordida nessa maravilha,
O ponto onde está fica próximo a uma pracinha este velho lobo comilão foi catapultado no tempo
gostosa e arborizada com umas mesas de alvenaria, em que provou pela primeira vez o principal
feitas para jogos de dama (sim, São Paulo ainda sanduíche do tal do Ronald, que chegara o
tem dessas coisas). E a lanchonete incentiva a Brasil na loja da rua Hilário de Gouveia, em
clientela a pegar o seu simpático saquinho com Copacabana, a primeira do país.

74 | Sabor club. [ ed.32 ]


Produto

Por que não


compartilhar?
Ela é maneira que
casal encontrou para
escalar o negócio de
forma rápida
Seguir o modelo de
startups como Uber e
AirBnB foi a maneira
que Rosi e Raphael
encontraram para
crescer com pouca
grana. Formaram uma
joint venture com
uma empresa de
importação no Uruguai
e, lá, encontram
também uma fábrica
que poderá produzir,
com a supervisão
deles (e leite uruguaio,
conhecido pela
qualidade) o doce de
leite em baldinhos,
especialmente para o

Eu quero um food service.

negócio no campo
Rosi e Raphael fazem doce de leite e provam que
o êxodo urbano não é só viável, mas lucrativo
por Robert Halfoun

O pai da Rosi Barbosa já produzia leite há 60 Rocca proporcionam.


anos e vendia o produto para outros laticínios a O crescimento exponencial do negócio tem feito
preço de comodities. Foi avaliando essa situação com que Rosi e Raphael venham se transformando
que ela e o marido, Raphael Figueiredo, viram uma em porta vozes da ideia do êxodo urbano, para uma
oportunidade de sair da metrópole rumo a pequena plateia cada vez maior e mais interessada em ouví-
Pouso Alegre, no Sul de Minas, produzindo ainda los. A chave do negócio é investir em qualidade e
mais recursos do que na cidade grande. sustentabilidade. Pagar melhor o produtor, para
Como o leite do patriarca vem de vacas criadas ter um produto melhor e transformá-lo e algo
soltas e tratadas pelo nome, comendo capim-gordura, melhor ainda. “Esse processo gera a paixão e o
o produto acaba ficando ainda mais sedoso, perfeito comprometimento de toda a cadeira produtiva.
para fazer o doce de leite que a Rosi comeu a vida Eles são os combustíveis para crescer fora do eixo”,
inteira, mas, até então, não havia sacado porque ele é defende Raphael.
tãaaaao bão. Ele se empolga ao dizer que tem visto muita gente
Com o segredo em mãos, o casal passou a boa, das mais variadas áreas, resgatando o negócio
produzir o doce de leite Rocca (utilizando apenas das suas famílias (às vezes de duas gerações passadas)
o leite das próprias vacas), cujo sabor revela uma ou começando algo novo, a partir do que já era feito.
intensidade pouco açucarada, com uma textura O Rocca hoje já é produzido numa escala três
é bem leve e cremosa. Não demorou para ser vezes maior e já pensam em como crescer ainda
descoberta por todo tipo de gente, incluindo chefs, mais, claro, sem perder a essência e a qualidade
que adoram a versatilidade que as características do fundamentais do produto.

Sabor club
. [ ed. 32 ] | 75
Produto

Garantido
pela Rainha
A caixa com logo
e design clássicos,
sem alterações
desde a sua criação,
anuncia: “Garantido
pela Rainha” (Royal
Warrant of the Queen
of England). Fora dela,
O melhor o sal Maldon deve
ser acondicionado

sal do mundo como os pescadores


de Essex fazem:
em potes de
Nós ainda falamos muito pouco dos cristais em forma de pirâmide porcelana. A própria
onipresentes nas mãos dos grandes chefs e dos amantes da boa mesa cooperativa que
vende faz o Maldon
por Robert Halfoun já vende o vasilhame,
encontrado
facilmente na
Se você ainda não usa o sal Maldon (fala-se salgar um bife. E deixa o gosto dele muito melhor. Amazon. Mas
“mál-don”) vai passar a utilizar, depois de ler essa Queremos o produto na nossa loja”. qualquer outro
porquinho com a
reportagem. O produto que vem dos estuários Só muito mais tarde, porém, é que caiu nas
mesma matéria-prima
de Essex, no sudeste da Inglaterra, é inigualável, graças dos grandes cozinheiros, que chegam a recebe o produto
devido a forma e a consistência dos flocos de falar numa era de antes e depois do sal Maldon. muito bem, obrigado.
cristais de sal, em formato de pirâmide. Ele é Ferran Adrià, por exemplo, finalizava todos os Fica a dica para você
suave, limpo e fresco, sem nada de amargor pratos do seu El Bulli com o produto. Na outra colocar o seu
ou qualquer outro after tast. E um enorme ponta, o irreverente Jamie Oliver diz que o
potencializador de sabor. Tanto que a sua Maldon é o iPhone dos sais.
aplicação deve ser feita essencialmente Fato é que ele deve ser usado
na finalização dos pratos. com a maior parcimônia e faz
Por aqui
O sal Maldon existe desde Os assinantes do Clube milagres sobre cozidos ou
1882, produzido artesanalmente, Sabor.club (clubesabor.club) assados, de qualquer origem.
sem qualquer aditivo químico, recebem o produto na caixa Hoje com a onde dos vegetais,
a partir da água do rio que que segue com a presente ele ganha ainda mais valor
edição da revista. No Brasil,
vira mar, fervida, fitrada e aliás, o produto é importado
porque destaque demais o De bolso
aquecida para que o sal seque e pela La Pastina. sabor natural de cada produto. “É minha heroína”.
cristalize. Os pescadores da região, Quanto maior for a qualidade, Noves fora o
mau gosto da
costumavam assar ou cozinhar os mais gosto teremos na boca. Com
comparação feita
seus pescados e temperá-los apenas o Maldon fica clara a importância pela personagem
com o sal local. Não era preciso mais do produto. Há um cozinheiro, cujo Judy King, da
nada. nome não será revelado, que serve série Orange is
Em 1900, ele foi descoberto por uma manteiga de outro mundo The New Black,
há quem só use o
um representante da elegantíssima com o pãozinho-couvert, no seu sal Maldon, depois
loja Harrods e o produtor recebeu restaurante. Ele fala num produtor que o conhece.
a seguinte carta: “Senhor, o seu sal que é o grande-fornecedor-secreto Mesmo fora de
é muito melhor do que muitos que do produto. Na verdade, porém, ele casa. O hábito deu
origem a criação
temos na nossa loja. Precisamos de tempera, sim, uma boa manteiga de uma simpática
uma quantidade muito menor para com... sal Maldon. embalagem de
bolso.

76 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Para
AMAR

Molesquine de receitas
O objeto de desejo cujo nome virou
sinônimo de caderno de anotações tem
a sua versão para cozinheiros
Nos tempos em que nós tanto escrevemos e também) lá dentro. Com a maior organização,
fazemos anotações em smartphones, tablets incluindo ícones que nos induzem a colocar
e computadores, a indefectible Moleskine o tempo de preparo, o número de porções,
virou aquele prático item de charme, que o tempo de cozimento e até a harmonização
nos conecta – graças-a-Deus! – com a forma com o vinho ideal. Tudo isso, com orelhas
mais orgânica de escrever. Mais do que isso, que separam aperitivos, pratos principais,
guardar memórias, coisas da vida… Atire o acompanhamentos e sobremesas. Tem mais: o
primeiro lapis quem nunca teve pena de jogar caderninho com capa dura e estojo rígido para
fora um caderninho lotado de informações – guardá-lo traz curiosidades sobre culinária,
mesmo que elas tenha ficado perdidas tabela de conversões e até adesivos fofos que o
no tempo? transforma numa espécie de scrapbook.
O modelo descoladíssimo para cozinheiros,
foi feito de forma muito bem pensada para R$ 149 no Mercado Livre ou US$ 27 em amazon.
colocarmos as nossas receitas (e a dos outros com (sim, o produto é entregue no Brasil).

Sabor club
. [ ed. 32 ] | 77
clássicos
Charme
que aquece
Famoso na Argentina, o Submarino (barra de chocolate mergulhada no
leite fervendo) ganha contornos especiais em tempos de bean to bar
por Robert Halfoun
No momento em que finalizamos esta edição, a tombados pelo Patrimônio Histórico de lá.
temperatura em São Paulo é de 9ºC e a sensação térmica Para fazer o Submarino, atenção, é preciso leite gordo
lambe os 6ºC. Quando o frio pega firme, como esquentar e uma mistura de chocolate amargo com chocolate ao
o corpo? Os argentinos sabem bem a forma de fazê-lo, leite. Hoje, com a profusão de produtos bean to bar, o
caso contrário não teriam popularizado o Submarino, mais legal é que cada um vai temperar o Submarino de
leite fervendo com uma barra de chocolate mergulhada uma maneira diferente – sem macular o sabor original.
dentro dele. A bebida é comum em toda casa na Para tomar a bebida e banho de charme, selecionamos
Argentina e um hit nos cafés notáveis de Buenos Aires, alguns cafés obrigatórios na capital de los hermanos.

La Poesía – Em San
Café Tortoni
Telmo, foi reduto
– De 1858, é o
da intelectualidade
mais tradicional
local. Depois foi
de Buenos
fechada e reabriu
Aires. Av. de
restaurada,
Mayo, 853.
mantendo as
características
originais.
Rua Chile, 502

*P+IHIVEP – No 1E:MSPIXEW –
boêmio bairro Criado para ser
de San Telmo, um templo de
é rústico, todo WSǰWXMGE­©SIQ
em madeira, 1884. Aqui não
decorado com faltam mármore
fotos e objetos italiano e móveis
que remontam os franceses, numa
anos de ouro da glamourosa viagem
cidade. Rua Carlos no tempo. Av.
Calvo, 595 Rivadavia, 3899

*P,EXS3IKVS – Mantém a
*P&XIRIS – Fica no fundo
decoração original, de 1927.
do antigo teatro que
Tem uma ótima carta de
virou livraria. E toma um
cafés e vende especiarias
glamour do lugar para si.
num clima de botica.
Av. Santa Fé, 1860
Av. Corrientes, 1669.
1E,MVEPHE – É simples e charmosa,
de 1951. Há quem diga que serve o
melhor churros de Buenos Aires.
Av. Corrientes, 1453

78 | Sabor club . [ ed. 32 ]


Harmonia
O que beber com as receitas desta edição

Byggryn Risoto de aspargos Croque Monsieur

Tempranillo Pinot Grigio Pinot Noir

Helles Blond Ale Red Ale

Arroz com camarão Pernil assado ao molho Ovo frito com bottarga
de Malzibier e açúcar

Sauvignon Blanc Riesling Espumante brut

Pilsen Sour Ale Catharina sour

Arroz de frutos da terra Bolo glaçado Creme de maçã


de amêndoas com caramelo

Chardonnay Moscatel de Setúbal Late harvest

Weissbier Dunkel Sour Ale

Chorizo com uarini, Risoto terroir


cogumelos e mostarda

Cabernet Sauvignon Pinot Grigio

Red Ale Weissbier


Surprise box #24
O que temos este mês na caixa surpresa
do clube de assinaturas mais gostoso do Brasil
• O Clube SABOR.club é mais uma iniciativa da
Revista Sabor.club, para contribuir com o desenvolvimento
da gastronomia no Brasil.

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de descobrir novos nomes do nosso cenário gastronômico em
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Cerveja Hella – Doce de leite – Sal marinho – Queijo Guaianá –
Sundog Rocca Maldon Queijaria Rima
Ao estilo medieval, Feito com leite de O produto que vem É a prata da casa da
a cervejaria carioca vacas criadas soltas e dos estuários de queijaria que está dando
produziu esta tratadas pelo nome, Essex, no sudeste o que falar, em Porto
Dampfbier feita comendo capim- da Inglaterra, é Feliz, no interior paulista.
com água do sudeste gordura – o que faz inigualável, devido a Feito com leite de ovelha,
da Bavária (recriada com que o produto forma e a consistência é prensado a mão, com
com os mesmos fique mais sedoso. dos flocos de cristais massa elástica e semi-
parâmetros químicos) A receita mineira de sal, em formato de dura. O sabor dele é
e maltes de cevada da família da Rosi pirâmide. Ele é suave, presente mas sem encher
com leveduras Figueiredo revela limpo e fresco, sem a boca demais. A textura
de cerveja de trigo. intensidade na boca, nada de amargor ou permite uma versatilidade
Leve, maltada e mas com pouco açúcar. qualquer outro after de utilização tremenda,
aromática. A textura é bem leve e tast. E um enorme seja para tábua de queijos,
Peça rara. cremosa. potencializador de seja para compor uma
sabor. Tanto que a lasanha ou um sanduíche.
sua aplicação deve ser
feita essencialmente na
finalização dos pratos.
Food Art

O rei, recém-casado com Rosemari, durante a lua de mel, em Munique, em fevereiro de 1966

82 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
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