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infalíveis
Tem bolo glaçado
de amêndoas
e mais!
Croque
monsieur
Do forno: O clássico numa
arroz caipira de releitura incrível
frutos da terra
Salmão
nórdico
Como curar e
defumar o peixe
Cozinha
ANO II · 2019 · Nº 32 · R$ 18,00 · € 4.00
da emoção
Como transformar
comida em poesia com
Roberta Sudbrack
= EDITORIAL =
DIREÇÃO
PUBLISHER
Christian Burgos – christian@innereditora.com.br
DIRETORA DE OPERAÇÕES
Christiane Burgos – christiane@innereditora.com.br
DIRETOR EDITORIAL
,
Robert Halfoun – robert@sabor.club
CONSELHO EDITORIAL
Christian Burgos, Miguel Cui Filho,
ARTE
DIRETOR DE ARTE
Ricardo Torquetto – ricardo@innereditora.com.br
• Nós comemos ASSISTENTE DE ARTE
maravilhas da vida – e viva a boa mesa! Pedro Landim (texto); Tomás Rangel (foto)
REPRESENTANTES COMERCIAIS
Renato Scolamieri – renato@rscola.com.br
Carminha Aoki – carminhaaoki.adegasabor@gmail.com
WWW.SABOR.CLUB
TASTING
19 DE OUTUBRO (SÁBADO)
Iguaria de ovelha
Queijo com o leite do animal é uma beleza
feita no interior de São Paulo
13
O Brasil da Helô
Heloísa Bacellar, a nossa D. Benta,
lança livro com receitas de norte a sul
18
Denise Guershman
Ela faz a mais pura nova cozinha norueguesa
por aqui: colorida, leve e muito saborosa
20
Elia Schramm
O cozinheiro faz o maior sucesso servindo comida
do mundo todo – ao mesmo tempo!
26
Croque monsieur
Uma nova versão sem perder
a essência do clássico
32
Lina Bo Bardi
A nossa arquiteta-gênia adorava a cozinha
– e projetava os pratos que fazia
34
Roberta Sudbrack
Como a chef transforma comida em poesia
no ano 1 do seu Sud, o pássaro verde
40
Sobremesas infalíveis
Celebrada editora de literatura gastronômica lança livro
com receitas doces incríveis e fáceis de fazer
50
Cerveja medieval
Dois cariocas produzem bebidas históricas,
reproduzindo até a água original
57
Ervilha na cupê
Tacinha ganha drinque com o legume.
Ele é leve e instigante
60
Giovanna Perrone
e Rodrigo Aguiar
Fora do óbvio, eles fazem uma
comida que merece ser notada
66
O pequeno harburgão!
Lanchonete em portinha, inspira-se no clássico
do McDonalds e resgata o melhor do sanduíche
73
O melhor sal do mundo
Se você ainda não conhece o produto que vem da Inglaterra,
prepare-se: a sua comida nunca mais será a mesma
76
DELICATESSEN
Iguaria de ovelha
Queijo com o leite do animal, tão pouco
produzido por aqui, ganha versões impecáveis
no interior de São Paulo
por Robert Halfoun
Sabor club
. [ ed. 32 ] | 13
A Rima produz
Serra da
cinco tipos de Estrela?
queijo
ueijo com A hora de produzí-
leite
e de ovelha lo por aqui ainda
vai chegar
14 | Sabor club
. [ ed.32 ]
COMER FORA
por Robert Halfoun
3
Kuro Gelato no frio?
Claro que sim!
Sã Um das grandes gelaterias da Itália
P
o P o –S
aul
baguettes surge por aqui, com um conceito
“agrícola” no qual a gente come até o
perfeitas copinho de serviço
em SP A Albero dei Gelati foi criada em
1985, em Milão, com um conceito
legítimo do gelato artesanal:
trabalhar com receitas familiares
feitas com produtos absolutamente
frescos. Melhor ainda se forem
orgânicos, adquiridos a partir
de uma rigorosa seleção de
Fale baixo (e ria depois) fornecedores locais.
Tem japa fazendo comida-de-arte no balcão Agora, a segunda filial fora
Embora um tipo de música de balada soe no ar (num
volume aceitável), o clima é austero no pequeno ambiente
1 FAZEMOS PÃO –
A lojinha em Pinheiros
tem vários tipos de pão.
da Itália (há outra em NY) chega
por aqui pelas mãos de Fernanda
Pamplona e Marco Giancola,
que recebe o balcão principal do escondidinho Kuro. Logo
A baguette é tão boa que, ambos gelataios, que trabalharam
que somos acomodados num dos onze lugares, vem a
acredite, bate muitas feitas na matriz italiana – questão
pergunta de qual o modelo de omakase (menu confiança)
em padarias francesas. fundamental para conseguirem
que gostaríamos de degustar. Há de 13 e 21 cursos, o maior
incluindo iguarias como carne de wagyu, king crab, atum exportar a marca.
blue fin e caviar russo.E receitas criadas pelo catalão Gerard Eles seguem rigorosamente
Barberan, que não só segue a mais pura base japonesa os padrões e, mal abriram, já
mas com ideias bem calcadas na nova cozinha espanhola, fazem um dos melhores gelatos
como o beijo de caviar, no qual as ovas são colocadas de São Paulo. Seja em textura,
sobre um tartar de camarão fresquíssimo, por sua vez, em ligeiramente mais firme, seja
cima de um gelo em formato de boca. “O chef recomenda no gosto, realmente natural
que você chupe a composição”, adverte o sushiman. Faz com um toque de açúcar nos
sentido: o gelado no lábio do comensal realça os sabores, padrões europeus (mais leve),
especialmente a acidez – um trampolim para o caviar.
O inusitado encontra o tradicional durante toda a noite,
2 A PADEIRA – As
fornadas que saem
as quartas e as quintas
o que valoriza demais o gosto
dos ingredientes tão especiais
que vai do dashi (caldo de bonito) feito na hora numa acabam em horas. Do que usam. Bobaem citar sabores,
“cafeteira” de dois andares ao peixes selados apenas com o croque ao sabor, tudo no porque o bacana aqui é vir sempre
calor do binchotan, um tipo de carvão rígido como pedra, pão daqui é especial e provar as novidades da semana –
e termina com os sushis, servidos um por um. Aliás, como ou até mesmo do dia.
acontece nas casas escondidinhas que oferecem os melhores Albero dei Gelati –
sushis do mundo, na Terra do Sol Nascente. R. Joaquim Antunes, 391, Pinheiros,
Kuru – R. Padre João Manoel, 712, Jardins, São Paulo – SP
São Paulo – SP. Tel.: (11) 3062-5241
Sobe
TEVA: o bar-restaurante de vegetais que nasceu no
3 CASA SANTA
LUZIA– A baguete
é item must-buy da
Rio e chega a São Paulo. Comida leve e bem feita padaria do supermercado
para compartilhar e fazer a gente bem feliz. mais gastronômico de
São Paulo.
Sabor club
. [ ed. 32 ] | 15
Para
comer com
os olhos O Brasil dos chefs
De Alex Atala a Morena
Leite, muitos cozinheiros
2SGSXºSTEMSǰPLS
e o restaurante,
7SHVMKS4PMZIMVE (Ed.
Melhoramentos) – A
cozinha sertaneja
clássica que o chef
aprendeu com
o Seu Zé Almeida. E que foi
aperfeiçoando ao longo do
tempo.
Cozinha de Origem,
Thiago Castanho
(Publifolha) – O chef mais
badalado do Norte do
país megulha na cozinha
amazônica.
Eu Sou do Camarão
Ensopadinho com
Chuchu, Roberta
Sudbrack (Ed.
Tapioca) – Uma obra
de arte que vai além
das receitas e das
dicas da chef. Desde o projeto
KV§ǰGSSYWEHSEX¯EETPMGE©S
dele em papeis com texturas
inusitadas.
16 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
– Almanaque –
11
Depois de
engarrafada,
Borbulhas apenas um
homem realiza
o processo de girar as
8 12
Cada uma reproduz o Ele trabalha na
5
rótulo da época e uma Maison há mais
Foi pelas de trinta e cinco
1
cópia do autógrafo do
Foi Claude Moët, de mãos deles anos e gira em
piloto. A garrafa vem
uma família tradicional que nasceu a média cinquenta mil
numa caixa de madeira,
na comercialização de HIǰRMXMZE2S±X garrafas por dia.
com uma a
vinhos, em Épernay, região & Chandon Imperial
placa
de Champagne na França, Brut – lançada
de prata
13
quem fundou a Maison em 1869, em
onde Até hoje, a Moët
Moët et Cie., em 1743. homenagem
estão & Chandon é a
aos 100 anos
cravadas champagne
do nascimento
as provass SǰGMEPP
de Napoleão
2
que o da rainha
Rapidamente a bebida Bonaparte.
Ayrton Elizabeth II
que fazia caiu no gosto venceu. e também
dos aristocratas, incluindo das cortes
o imperador Luis XIII. da Bélgica,
É dito, aliás, Holanda,
que foram Dinamarca e
a forma e
6
Suécia.
o tamanho Dali para
dos seios frente,
da sua amante, vieram a
Madame Pompadour,adour, famosa
14
que inspiraram o gravata
formato da taça que O papa também bebe
Moët & Chandon.
9
tradicional de adorna a garrafa e
champagne. fortes campanhas de Hoje, depois de
marketing, incluindo renovada, a Maison
os embaixadores está aberta para
como a bela atriz visitação, incluindo
3
Ela dizia: “Champagne Scarlett Johansson um tour pelas caves
é o único vinho que e, antes dela, com 28 quilômetros
torna as mulheres Ayrton Senna. (!) de extensão
mais bonitas e
os homens mais
engenhosos”.
7
Em 2014, a Maison
lançou uma
edição limitada No Brasil
com as icônicas Foi nos anos 1950 que
garrafas de 3 litros a Maison instalou adegas
10
que marcaram A equipe que faz
e vinhedos fora da França.
as 41 vitórias do a champagne
nosso tricampeão conta com Primeiro em Mendoza, na
mundial de F1. apenas treze Argentina; depois em Garibaldi,
4
A Maison só passou a se pessoas que fazem a no Brasil. Então foi para Napa
chamar Moët & Chandon assemblage que dá Valley, nos EUA, e
em 1832, quando origem a bebida. É um Yarra Valley, na Austrália. A
seguiu administrada por único chef de cave marca usada em todas
Victor Moët, bisneto do que prova mais de 100 elas é Chandon.
fundador, e Pierre-Gabriel vinhos por ano para
Chandon, genro dele. fazer a escolha perfeita.
18 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
produto? Ovos no
purgatório
A receita típica do campo
vai no café da manhã,
almoço ou jantar – e de
aperitivo também!
INGREDIENTES
5 ovos
30 ml de molho de
tomate
1 dente de alho fatiado
1 colher de chá de azeite
3 colheres de sopa de
parmesão ralado
Orégano para temperar
Sal a gosto
PREPARO
D. Carmem e os seus Refogue o molho em uma
tomates. A fruta está boa
quando o “olho” dela
frigideira com o alho e
está vermelhinho, tempere com o sal e o
quase da cor da pele
orégano
Quando estiver em ponto
de fervura, adicione o
azeite e quebre os ovos
sobre o molho, sem
estourar as gemas
Deixe cozinhar, mexendo
Os tomates levemente
Com as gemas ainda
Sabor club
. [ ed. 32 ] | 19
A Noruega
é aqui
Denise Guershman faz a leve, colorida e delicada
nova cozinha nórdica com o maior talento
por Robert Halfoun
Bora para
a Noruega?
A Denise
Guershman leva
pequenos grupos
para lá
A ideia da cozinheira
é oferecer uma
vivência de quem
realmente conhece
o país, numa
experiência rica O resultado é fascinante. A comida da Denise é muito leve, colorida, fresca e saborosa.
culturalmente Nos revela gostos que estamos muito pouco acostumados, absolutamente confortáveis,
e acessível
aconchegantes. Aliás, está escrito numa das paredes, logo na entrada do restaurante:
economicamente
– uma vez que “Velkommen, aqui nós praticamos o hygge, que significa aconchego. Então, tenha calma,
os custos na sinta-se em casa e aproveite”.
Escandinávia, de De fato, no Escandinavo, ouvimos e comemos as histórias e os hábitos noruegueses, desde
uma maneira geral, a simpática falta de pompa no serviço até o pão no galho, com massa enrolada num graveto.
são muito altos. O
roteiro inclui uma Na Noruega, explica Denise, os nativos têm uma vida ativa fora de casa, independentemente
imersão no país, que do tempo. Saem para caminhar e acabam fazendo o que conseguem pelo caminho, comendo
vai muito além da na beira do rio ou diante de uma fogueira no campo – ou na neve! O pão no galho é feito
capital, com muita com uma sorte de grãos levada nos bolsos que é misturada com água fluvial ou com a neve
beleza natural e...
comida boa! Desde
derretida e então vira massa. Ela é enrolada na ripa de madeira e assada na fogueira.
os laticínios de Aros, O ritual com o fogo inclui também o café defumado (e de-li-ci-o-so!) com a fumaça da
a cidade que inspirou lenha que queima sob a chaleira com furinhos que capturam os gases fumegantes. E ainda o
os produtores da inesperado café do marinheiro. Da floresta para o oceano, ele é uma representação da bebida
animação Frozen,
até o aquavit (a
aguardente local) “Velkommen, aqui nós praticamos o hygge, que significa aconchego.
de uma destilaria, Então, tenha calma, sinta-se em casa e aproveite”
num ponto perfeito
(quase infalível) para
que os marujos fazem em alto mar, quando saem para capturar caranguejos gigantes. Lá,
observar a aurora
boreal. Claro, o com pouca água potável no barco, fazem a infusão com a água salgada mesmo. O sal acaba
roteiro passa pelas potencializando o sabor dos grãos, como acontece num caramelo com flor de sal.
vilas vikings e pelos Como se vê, tudo aqui tem muita boca e é muito natural. O que dizer então do salmão
mercados de peixes curado e defumado que até os noruegueses que frequentam a casa dizem que é melhor do
com os caranguejos
gigantes. que muitos que já comeram na terra natal? A cozinheira ralou muito na fumaça até chegar
num peixe realmente suculento com muuuito sabor. Como não temos salmão norueguês por
aqui, Denise poderia usar o peixe selvagem do Alasca ou exemplares de qualidade que vêm
do Chile (sim, também há bons salmões por lá). Ficou com a segunda opção, por causa da
garantia de padrão e de procedência do pescado.
As duas palavras mais o frescor são o mantra que dão origem ao cardápio enxuto do
Escandinavo, com poucas entradas e apenas quatro pratos, um deles trocado a cada 15 dias.
Tudo feito com ingredientes comprados dia sim, dia não, produzido na própria cozinha, sem
qualquer desperdício – mesmo. O Escandinavo fica no bairro de Pinheiros, em São Paulo,
mas, sem estereótipos, é um norueguês de verdade.
Escandinavo – R. Dep. Lacerda Franco, 141, Pinheiros, São Paulo –SP. Tel.: (11) 96451-3670
24 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Byggryn
(4 porções)
INGREDIENTES
½ brócolis cru [caldo] PREPARO
laminado finamente 1 alho poró Junte os ingredientes e deixe
4 rabanetes cozidos e 1 cebola roxa com cozinhar por cerca de 5 horas
assado com manteiga casca em fogo baixo
e sal 1 cenoura [cevadinha]
1 cebola roxa cozida e 50 g de cogumelo
assada com manteiga e desidratado
Cozinhe os grãos na pressão
xarope de alcaçuz por cerca de três horas (até
5 l de água ficarem bem macias)
50 g de cogumelos
laminados puxados na [cevadinha]
[creme azedo]
manteiga 800 g de cevadinha
Bata o creme de leite em
100 g de macarrão [creme azedo]
pré cozido al dente ponto de chantilly e acrescente
500 ml de creme o suco de limão siciliano
(a gente usou um de leite fresco
macarrãozinho sueco Tempere com o sal e o dill.
em formato de alce) Suco de um limão
siciliano Mexa delicadamente e reserve
Um punhado de nozes
pecan defumadas Uma pitada de sal
Brotos de beterraba e Dill desidratado ou MONTAGEM
de cenoura fresco picadinho Monte cumbucas com cerca
4 ovos cozidos com de 200 gramas de cevadinha,
gema mole brócolis, rabanete, cebola
roxa, cogumelo, macarrão,
nozes pecan, brotos e
ovo cozido
Coloque um pouco de creme
azedo e complete com o
caldo bem quente
Cheio
de fome
Quem é o irreverente
Elia Schramm, o jovem
chef que tem feito sucesso
servindo, de uma só vez,
boa cozinha da França,
Itália e até da Grécia
por Pedro Landim
Destaque do agradável L’Atelier Mimolette, o Canard Grande Mère é um dos nossos queridinhos da casa, desde que ela surgiu em Ipanema
DAS CAÇADAS DE COGUMELOS chanterelles raízes, meu estilo intuitivo, o prazer de receber
com o pai nos bosques suíços às rodas de samba pessoas, proporcionar alegria. Cozinhar para mim
cariocas na histórica Pedra do Sal – momentos de sempre foi sobre isso”, afirma Elia.
alegria separados por três décadas, receitas de toda Perguntamos a razão da escolha da temática do
sorte passaram por baixo das pontes construídas litoral italiano para o novo Posì, que tem varanda
mundo afora por Elia Schramm, antes que o chef ‘positana’ coberta de limões sicilianos decorativos e
de 36 anos, nascido em Genebra, se tornasse um menu de mozzarellas frescas, localizado em frente
jovem monarca no reino gastronômico de Ipanema. ao aclamado Gero, o italiano austero de Rogério
Mas o trono podemos esquecer, porque a vida Fasano. A resposta vem com o senso de humor
atual é um caminhar intenso pelas ruas do bairro, carioca que lhe é peculiar:
vestindo o dólmã despojado que mandou fazer em “Piemonte é para quem é cult. Puglia, para
corte de camisa social, e atento aos movimentos quem é roots. Sicilia, para quem é foda. Sardenha,
da engrenagem que serve 50 mil clientes por mês para quem é cascudo. A Costa Amalfitana é para
em sete restaurantes de culinárias distintas, sendo todo mundo. É o primeiro balneário de destino na
“Topei um desafio que reflete o meu estilo intuitivo, o prazer de receber pessoas,
proporcionar alegria. Cozinhar para mim sempre foi sobre isso”
quatro situados no espaço de três quarteirões Itália. Trouxemos o verão europeu à Ipanema.”
do bairro. O mapa da cidade de Elia, porém, se inverte na
São três horas da tarde e lá vem ele pela rua hora da folga. E quem o encontra no Circo Voador,
Redentor, virando a esquina da Garcia D’Ávila para na Lapa, curtindo um show da Nação Zumbi,
adentrar o salão do francês L’Atelier Mimolette, após ou num bloco do Centro cheio de hematomas e
provar o ragu da Pici Trattoria, ajustar o bernaise ataduras (fantasia de “Sistema Único de Saúde”),
de iogurte no grego Oia, e conferir no Posì Mozza não acredita que ali está um chef premiado. Vai
& Mare o preparo do Carbonara di Polpo: a versão pensar que aquele cara gingando com estilo no
da receita famosa feita com espaguete negro e polvo asfalto, no máximo, deve bater um açaí para comer
grelhado tornou-se um dos pratos mais comentados com banana de manhã.
no inverno na cidade. “Vivo num ambiente de elite mas gosto
“Trabalhei em estrelados na Europa, realizei é de me misturar. Meu Rio é a Lapa, a Glória e
no Laguiole o sonho da estrela Michelin, e topei Santa Teresa, as rodas de samba, os blocos e a
um desafio que reflete a minha história de muitas democracia das ruas.”
A cozinha variada do irreverente Elia Schramm (na foto ao lado, com a mulher,
antes do bloco de Carnaval) é conceituada no clima cosmopolita dos restaurantes
de culinária estrangeira em Nova York. Nessa linha, ele pensa e faz comida para
as massas. Mas não abandonou a cozinha autoral que o colocou no mapa quando
pilotava as caçarolas do chique Laguiole, no Museu de Arte Moderna, no Rio. Em
uma única noite por mês, o chef promove um menu harmonizado em cada casa
que atua. É quando pode dar uma pirada. E servir, por exemplo, um creme de
inhame defumado com brócolis no missô, manteiga dourada e castanhas do Pará.
Risotto de aspargos, prosciutto, avelãs e gema de ovo
Na trajetória desse menino do Rio sui generis que do texto, que faz sucesso no restaurante Posì. Ou do
fala francês, inglês, italiano, espanhol e arranha o risotto verde de aspargos, prosciutto, avelãs e uma
alemão, descobrimos muitos carnavais por trás da gema de ovo, oferecido para a aprovação dele, durante
cultura, do talento e jogo de cintura que lhe fizeram a entrevista no L’Atelier Mimolette. Depois ele prova (e
alçar voo entre os grandes da profissão. aprova novamente) o stinco de vitela com canjiquinha.
Nascido na Suíça francesa e criado na italiana, “É assim que eu almoço”, diz, atacando por último
à base de “massas, brasatos e polentas”, viveu o Frango Claridge’s, a clássica receita britânica que
a guerra civil em Angola com a mãe brasileira, simula a torta, com disco de massa folhada por cima
médica da Unicef nos anos 1980, “com toque da carne branca em ambiente cremoso, sustentando
de recolher, carros blindados e minas terrestres”. uma salada de ervas frescas.
Cursou dois anos de Direito no Rio, brincou de DJ “Olha aí o crremoso, o ‘crrocante’ e a acidez
30 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Risoto de aspargos
INGREDIENTES
[caldo]
Escorra, esprema bem até
2 cebolas sem casca cortadas em
rodelas finas ficarem bem secas
1 cenoura cortada em rodelas finas Bata as folhas no liquificador com
2 ramos de tomilho três pedras de gelo até ficar em
consistência de purê. Reserve
1 ramo de alecrim
3 folhas de louro [aspargos]
100 ml de vinho branco Cozinhe os aspargos em água
1 dente de alho amassado fervente e salgada e depois
1 cravo da índia branqueie em água gelada
3 sementes de erva doce [risoto]
2,5 l de água Separe 4 fatias de presunto de
[purê de espinafre] parma. O restante do presunto de
5 maços de espinafre, apenas as
parma pique em cubos pequenos
folhas Em uma panela, aqueça a manteiga
[aspargos]
e refogue o presunto de parma
em cubos
10 aspargos cortados em rodelas
Acrescente a cebola sem deixar
[risoto] dourar. Acrescente o arroz e toste
400 g de arroz arbóreo até que os grãos fiquem bem envolto
100 g de manteiga sem sal na gordura
100 ml de vinho branco seco Acrescente o vinho branco seco e
1 cebola média picada finamente deixe secar completamente
2 litros de caldo de legumes Coloque uma concha de fundo
100 g de queijo grana padano e mexa sempre. Quando secar,
4 gemas caipiras acrescente mais uma concha e
100 g de avelã tostadas assim sucessivamente, sem parar
150g de purê de espinafre de mexer até que o arroz esteja al
dente
10 aspargos cortados em rodelas
10 fatias de presunto de Parma Salteie os aspargos branqueados em
frigideira quente e acrescente no
Sal à vontade
risoto
Flores para decorar
Retire do fogo e acrescente o Grana
PREPARO Padano ralado, o purê de espinafre
[caldo] e corrija o sal
Em uma panela, coloque todos os Coloque o risoto em prato fundo,
ingredientes. Quando começar a faça uma ‘flor’ com os presuntos de
ferver, reduza o fogo e cozinhe em parma inteiros aos centro, coloque a
fogo baixo por 30 minutos gema de ovo sobre a flor de parma
Coe e reserve o líquido Salpique com as avelãs tostadas e
decore com flores
[purê de espinafre]
Em água quente e salgada, cozinhe
as folhas por um minuto, retire e
branqueie em água gelada
SIMPLES ASSIM
Meu croque
em Paris
Versão moderna do croque monsieur surpreende,
sem macular a essência do clássico
por Robert Halfoun
Não estava no lendário Gran Café Capucines, de 1875, modo como descreve, pedi licença para pedir um
no Boulevard des Capucines (veja quadro), croque monsieur. Em bom português, o
onde, diz a lenda, o sanduíche mais “senhor mordida” (do verbo croquer, em
famoso da França fora inventado, francês).
por acaso. Num dia que faltou Tem burburinho A garçonete dizia que ele é uma
baguete, o espirituoso chef na Cidade Luz impecável reinterpretação do
Recém reformado pela badalada
local cortou fatias do pain de dupla de arquitetos franceses Toro &
clássico, sem perder a essência
mie (pão de miga), colocou Liutard, o Gran Cafe Capucines transformou original. E é mesmo. No lugar
gruyère e presunto dentro num dos hypes parisienses do momento. do gruyère, o sanduíche ganha
dele e, para deixa-lo crocante, 4PYKEVǰGSYPMRHSGSQYQEMQTVSZ§ZIP queijo brie e um creme de
mistura de dourado, vermelho e azul e móveis
colocou no forno, para tostá- com um quê de art decô. No cardápio, há
emmental que substitui o
lo, besuntado de manteiga. novidades, além dos pratos imortais da casa. bechamel. Em vez do presunto
O molho bechamel viria mais E o melhor: o bar agora faz coquetéis cozido, é feito com presunto
tarde, ninguém sabe dizer incríveis, servidos durante 24 horas. cru, cujo salgadinho causa
de onde. 4, boulevard des Capucines, um contraste perfeito com o
Estava num café menorzinho, L’Opera adocicado do famoso e esburacado
com pegada mais autoral, quando queijo suíço. Enfim, não sou dos mais
resolvi fazer como Marcel Proust, no chegados a reinterpretações, mas
clássico Em Busca do Tempo Perdido e, ao esse é um golaço.
32 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Le nouveux croque monsieur
(1 porção) Creme de
INGREDIENTES 40 g de queijo brie 1 colher de café emmental?
de manteiga Ele é uma
[croque] 3 boas fatias de
variação do
2 fatias de pão de presunto cru 3 colheres de sopa de
que fazemos na
forma sem casca (desfiadas) parmesão ralado fino
fondue de queijo
(melhor o integral) 4 colheres de sopa de
creme de emmental*
INGREDIENTES
200 g de queijo
emmental
2
Coloque ralado
as fatias de
1 3
Coloque a queijo brie Cubra tudo 100 ml de
manteiga e o presunto com duas vinho branco
numa HIWǰEHS colheres de seco
assadeira e sobre ela sopa do creme 100 ml de
depois uma de emmental creme de leite
fatia de pão
1 colher de chá
de amido de
milho
1 colher de café
de manteiga
PREPARO
Coloque o
creme de leite
com o vinho
branco para
cozinhar em
fogo médio
Quando
reduzir,
acrescente o
queijo
Misture bem,
acrescente o
amido de milho
misturado com
a manteiga e
mexa até virar
um creme
espesso
4 5
Ceche o Polvilhe
sanduíche com o
com a outra parmesão e
fatia de pão e leve ao forno pré-
cubra com o aquecido 200º
restante do creme C para assar e
de emmental dourar
Sabor club
. [ ed. 32 ] | 33
Comer é
uma arte
Cozinheira de mão cheia, a arquiteta
Lina Bo Bardi projetava a comida simples
– e brasileiríssima – que fazia
por Robert Halfoun
A Casa de Vidro RECENTEMENTE O MASP FOI TOMADO PELO BUZZ TARSILA DO
Ela é uma as joias de Amaral, na maior mostra sobre a artista já feita no mundo. No meio das selfies
Lina Bo Bardi. Você não incontáveis e do borburinho de “onde está a Abaporu?” (além da boa dose de
pode deixar de visitá-la cultura que aquela gente toda levou na veia, sem perceber), pouco se falava da
casa igualmente modernista que abrigava a exposição. Muito menos da grande
Nos anos 1950, o bairro
do Morumbi, em São mulher que a projetou e nos deixou um legado arquitetônico e de design cujo
Paulo, era uma região valor é inestimável.
inóspita ocupa por A romana Lina Bo Bardi (Achilina Bo, 1914-1992) era uma gênia. Ela
fazendas de chá. E foi chegou ao Brasil em 1946, depois de fazer uma resistência ativa ao nazismo na
exatamente ali, num
terreno inclinado que
sua terra, e, já casada com o jornalista, historiador e crítico de arte Pietro Maria
Lina Bo Bardi resolveu Bardi fez muitos amigos e amou o Brasil como poucos. Não só a nossa gente,
construir a sua Casa as nossas coisas mas, acima de tudo, a nossa comida.
de Vidro, seu primeiro Lina era uma comilona confessa e cozinheira de mão cheia, igualmente
projeto erguido no Brasil.
inventiva quando assumia as caçarolas. Numa galáxia muito distante da
Ela é um ícone da
arquitetura moderna no cozinha molecular, já servia o seu carbonara (uma de suas especialidades, vale
Brasil, suspensa sobre lembrar ela era de Roma, o berço do prato) com pedras fumegantes dentro
pilares de apenas 17
cm de diâmetro, num Numa galáxia muito distante da cozinha molecular, Lina já
prenúncio do notável
vão sob o Masp, quer fazia o seu carbonara com pedras fumegantes dentro dele
viria anos depois.
Com janelões de dele, para conferir notas tostadas ao prato. Chegou a colocar corante natural
ponta a ponta, a casa azul no arroz com camarões porque dava a ele um aspecto inusitado, quase
traz ainda outras
ideias arquitetônicas gráfico. Lina projetava a comida. “Onde já se viu comer algo azul? Fica muito
geniais, como a escada harmonioso, não?”, dizia.
levíssima, que parece As receitas e os cardápios do almoços e jantares que servia na sua
flutuar sobre a paisagem espetacular Casa de Vidro (veja quadro) eram todos manuscritos em cadernos,
diante dela.
O lugar hoje abriga
com data e o nome do convidado ou convidados do dia. Pela sua mesa
o Instituto Bardi e, passaram artistas e políticos com postura mais humanista. O cineasta italiano
além de aberto à Roberto Rosselini foi um dos seus comensais, o teatrólogo Zé Celso Martinez
visitação, recebe, Corrêa, amigo de Lina, sempre estava por lá. E declarava: “A mesa dela é linda
esporadicamente,
e cheirosa. A apresentação dos pratos e louças é arquitetônica.”
instalações como a da
artista Lucia Koch, com Foi com a arquiteta-cozinheira que ele descobriu os arrumadinhos, a
malhas colocadas no buchada, a maniçoba (um cozidão brasileiríssimo, criado pelos índios do
lado de fora das janelas. Pará, feito com folhas da maniva e carne de porco). Lina viajava pelo país, se
As cortinas se encantava com os pratos e, de alguma forma, colocava a sua assinatura neles.
movimentam ao sabor
do vento, com leveza Na verdade, ela fazia as suas intervenções em tudo, até em sanduíches. Eles
e múltiplas sensações.
Até 31 de agosto. www.
institutobardi.com.br
36 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Na mesa da Lina Bo Bardi, o rabanete vira carpaccio e o lombo de porco ganha molho de cerveja Malzibier e açúcar mascavo
Versão “careta”
do arroz de
camarão: ao
estilo Lina Bo
Bardi, ele ganha
corante azul
“Pensa num assado de domingo: você abre papel laminado e dá um garfo para alguém.
Todos vamos direto na parte que grudou, o que, tecnicamente, é um erro na
cozinha contemporânea. No RS, a melhor parte quem comia era o cozinheiro”
No Rio Grande do Sul, Roberta descobriu o mel era o cozinheiro. Aqui no Sud levamos na mesa o
branco da cidade de Cambará do Sul, onde também queimadinho, esse defeito maravilhoso.”
colheu cogumelos. Da experiência uma flor nasceu Às 21h, o Pássaro Verde se recolhe, modificando
no jardim do Sud. Como pétalas, lâminas quase também a relação habitual de um restaurante com o
transparentes de cogumelos cardoncello são regadas tempo. Roberta relaxa, e escolhe em casa as frases que
pelo mel perfumado das flores da árvore carne-de- legendam às fotos das redes sociais. Guimarães Rosa
vaca, e o conjunto recebe chuva de queijo parmesão. está lá, é claro. É um de seus preferidos, na forma de
A presença no menu de tal experiência bem subverter as palavras para expressar um Brasil
poderia constar nas coleções forjadas no extinto de raízes profundas: “Eu só preciso de pés livres,
RS, e ilumina o fio condutor de que nos fala a de mãos dadas e de olhos bem abertos”.
cozinheira. “A diferença é que agora é o cliente que
escolhe seu caminho, seu ritual.” Sud, o pássaro verde – R. Visconde de Carandaí, 35,
Solicitamos então a presença do quiabo com Rio de Janeiro – RJ. Tel.: (21) 3114-0464
Barulhinho bom
Por que a casa da Roberta é tão acolhedora
No Sud, os sentidos são despertados de outra forma. áudio e falei: eu quero isso. Ouvir talheres, pessoas.”
Do balé dos cozinheiros à vista, que levam a lenha Na cristaleira ao lado do balcão da cozinha,
ao forno, movimentam as longas pás e conduzem a coleção de imagens de pássaros continua
as panelas, aos aromas que ganham o salão. E um aumentando – muitos, presentes recebidos pela
elemento auditivo festejado pela chef. chef. Assim como os santos e orixás na estante.
“Quando fechei o RS, fui à França e gravei no “As pessoas sabiam o nome da minha avó, do meu
telefone o som ambiente de um bistrô. Depois, em cachorro, mas diziam que nunca poderiam ir no
reunião com pessoas que trabalham comigo, soltei o meu restaurante. Alguma coisa estava errada.”
Sabor club
. [ ed. 32 ] | 47
Ovo caipira no forno Arroz de frutos da terra
à lenha com bottarga (4 porções)
brasileira
(2 porções) INGREDIENTES
[caldo]
200 g de brócolis
INGREDIENTES Cascas da abóbora orgânico, com as
50 g de manteiga assada folhas
4 ovos caipiras 1 talo de alho-poró 200 g de milho
1 bottarga 2 talos de salsão orgânico
1 cenoura cortada em 200 g de couve-flor
PREPARO pedaços orgânica
Aqueça uma frigideira de 1 cebola cortada em [arroz]
ferro, acrescente a manteiga pedaços 600 g de arroz branco
e espere derreter, sem dourar [legumes] 2 cebolas batidas
Coloque os ovos 100 g de tomatinhos 4 dentes de alho
delicadamente dentro da orgânicos batidos
frigideira e empurre para a 200 g de abóbora Azeite extravirgem à
parte mais quente do forno orgânica, cortada em vontade
cubos grandes
Espere até a clara estar
firme e retire com a gema
PREPARO
ainda bem mole. O calor
da frigideira continuará Refogue as cascas da abóbora em um pouco de
cozinhando os ovos azeite. Junte o alho-poró, o salsão, a cenoura e a
Rale imediatamente uma cebola
generosa quantidade de Refogue bem e cubra com 3 litros água filtrada.
bottarga por cima dos Cozinhe, em fogo bem baixinho, por pelo menos
ovos e sirva 2 horas. Coe e reserve o caldo
[legumes]
Asse todos os legumes cortados em pedaços
grandes no forno à lenha até ficarem dourados
[arroz]
Refogue a cebola e o alho no azeite, até ficarem
bem dourados, quase queimados
Lave o arroz, seque bem e refogue nessa mistura
por alguns minutos
Junte o caldo da casca de abóbora e cozinhe o
arroz até ficar cozido e soltinho
Na hora de servir, acrescente os legumes assados
e leve ao forno à lenha para aquecer e gratinar
ligeiramente
Regue com o azeite e sirvacapuchinha? Quanto
mais cor tamanho e texturas melhor!
48 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Tortinha de pera e tapioca (desde 1995)
(8 porções)
INGREDIENTES PREPARO
[peras] [peras] Feche como um
6 peras bem firmes envelope
Descasque as peras e
Manteiga sem sal corte em fatias finas Repita esse processo
Açúcar de confeiteiro com os outros
Aqueça uma frigideira
[toffee] antiaderente, quadrados de massa e
300 ml de creme de acrescente um pouco o restante da pera
leite fresco de manteiga sem sal Pincele com manteiga
100 g de açúcar e salteie as fatias de derretida por fora e
40 ml de água pera rapidamente leve ao forno quente,
[torta] Polvilhe com açúcar pré-aquecido, até
200 g de massa filo de confeiteiro e doure ficarem bem douradas
Manteiga derretida ligeiramente. Deixe e crocantes
500 ml de óleo de esfriar em uma
canola peneira para eliminar [tapioca]
[tapioca] o excesso de umidade Aqueça o óleo
100 g de tapioca de de canola e frite
caroço [toffee] rapidamente a
Açúcar Aqueça o creme de tapioca. Assim que
Canela em pó leite fresco. Coloque subir à superfície,
o açúcar e a água em retire com a ajuda de
uma panela e leve ao uma escumadeira.
fogo até adquirir cor O processo é
de caramelo extremamente rápido
Acrescente aos poucos Coloque a tapioca
o creme de leite e frita em papel-
cozinhe em fogo toalha para eliminar
moderado até atingir qualquer excesso de
uma consistência gordura
cremosa Retire quando estiver
bem sequinha e
[torta] tempere com açúcar e
canela
Corte as folhas Polvilhe a tortinha
de massa filo em com açúcar de
quadrados de 20 x confeiteiro assim que
20 cm. Pincele cada retirar do forno. Sirva
um dos quadrados com o toffee quente e
de massa filo com a tapioca frita
manteiga derretida
Disponha um por
cima do outro e
recheie com a pera.
Sabor club
. [ ed. 32 ] | 49
1 2 3
4 5 6
Sobremesas
infalíveis
É com essa promessa que a maior marca de
literatura gastronômica do mundo põe um livro
genial nas prateleiras
por Robert Halfoun
1 2
>> >>
Bata a manteiga, o açúcar e a farinha de amêndoa Incorpore os ovos um a um, depois a farinha de trigo,
EX¯EQMWXYVEǰGEVGVIQSWE a geleia e 50 ml de rum
3 4
>> >>
5 6
>> >>
FiqueDespeje
de olho: sobre o queijo edourar
se a superfície volte demais, Misture o rum restante com o açúcar de confeiteiro
ao fogo
cubra para
com engrossar
papel alumínio formando um glacê e espalhe sobre o bolo frio
1 2
>> >>
Ferva o leite com a fava de baunilha cortada ao meio e a manteiga Bata o açúcar com a farinha e os ovos e, depois, junte o rum
3 4
>> >>
Retire a fava do leite e despeje-o, pouco a pouco, Leve à geladeira por 1 hora
sobre a mistura, mexendo bem
5 6
>> >>
Despeje
Unte com manteiga sobre o queijo
as forminhas e volte Disponha a massa
para canelé. Sirva
Reduzacom pão italiano para
a temperatura dormido
180ºcortado em cubos.
C e continue a assar por 1h10
ao preaquecido
e leve ao forno fogo para engrossar
(210º C) por 10 minutos &GSQTERLEIQFYXMHSWǰREQIRXIJEXMEHSW
52 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
3
Merengue de framboesa
45 min. 15 min. 6 porções
1 2
>> >>
'EXEEJVYXERSPMUYMHMǰGEHSVIGSIEWWIQIRXIW 'EXEEWGPEVEWIQRIZIǰVQIMRGSVTSVERHS
o açúcar aos poucos, em três levas
3 4
>>
Adicione a essência de baunilha e bata por mais alguns minutos Forre uma assadeira com papel-manteiga e disponha nela
pequenos montinhos de merengue
5 6 7
Despeje ½ colher de chá da Com uma faca, forme, Leve ao forno preaquecido (110º C) por 45 minutos
polpa da fruta sobre cada um delicadamente, um pequeno
redemoinho na superfície Dica: Se a temperatura mínima do seu forno for 180º C, matenha
a porta semi-aberta, com a ajuda de uma colher de pau
50 g de açúcar
120 g de manteiga (em 1 fava de baunilha
ponto de pomada)
1 2
>> >>
Bata a manteiga com o açúcar e as sementes de baunilha Junte a farinha de uma só vez e forme dois rolos com a massa
3 4
>> >>
5 6
>> >>
Despeje
Corte-os em fatias sobre
de 2 cm de o queijo e volte
espessura e disponha-os em uma Sirva com
Levepão italiano
ao forno dormido cortado
preaquecido (180º C)em
porcubos.
14 minutos
ao fogo
assadeira para
forrada engrossar
com papel-manteiga &GSQTERLEIQFYXMHSWǰREQIRXIJEXMEHSW
54 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
5
Pavê de ameixa-preta
6h 2h 30 min. 6 porções
1 2
>> >>
Deixe as ameixas de molho por 2 horas Escorra-as e reserve o líquido num prato fundo
num recipiente com o chá e o conhaque
3 4
>>
Embeba nele ¼ dos biscoitos e diponha-os Adicione 1/3 do creme de confeiteiro e 1/3 das ameixas. Repita a
no fundo de uma fôrma de bolo operação duas vezes e termine com uma camada de biscoitos
>> >>
1 2
Coloque as maças decascadas e cortadas em cubos numa Polvilhe-as com o açúcar e deixe caramelizar por 5 a 6 minutos
frigideira, em fogo alto, com 30 g de manteiga
3 4
>> >>
Regue com a bebida e mantenha no fogo alto Espalhe as maçãs sobre os crepes e enrole-os
por mais dois minutos, mexendo sempre
5 6
>>
No momento de servir, derreta 20 g de manteiga numa frigideira. Regue-os com o caramelo e sirva
Disponha os crepes e aqueça-os por 4 ou 5 minutos
* *Crepe (6 porções)
* (EVEQIPSGVIQSWS
>> >>
Em uma panela, aqueça 100 g açúcar em 2 colheres de sopa de água, sem
mexer, até ele formar uma calda com bela cor dourada Com a panela
Em uma tigela, misture 50 g de farinha de trigo com JSVEHSJSKSNYRXIKHIQERXIMKEIQGYFSWIQMWXYVIEX¯EQMWXYVEǰGEV
50 ml de água e 100 ml de leite Acrescente 1 ovo batido homogênea Recoloque a panela em fogo baixo e incorpore 100 ml de
Unte uma frigideira antiaderente e despeje a massa creme de leite fresco, mexendo bem Despeje o caramelo numa tigela e
6YERHSIWXMZIVǰVQIZMVIIHSYVIHSSYXVSPEHS deixe-o esfriar em temperatura ambiente, quando ganhará consistência
56 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
PARA BEBER
Os caçadores
da cerveja perdida
Dois cariocas transformam seus tanques em máquinas
do tempo e recriam estilos milenares ao pé da letra
por Pedro Landim
-IPPE – É uma
Dampfbier feita
com água do
sudeste da
Bavária (recriada
com os mesmos
Os cervejeiros
parâmetros
também promovem
químicos) e sessões bem
maltes de cevada com distintas, como a que
leveduras de cerveja de trigo. exibe o Mágico de Oz
Leve, maltada e aromática, com trilha de
a bebida remete a uma Pink Floyd
situação de pobreza e
escassez de trigo na fronteira
da Alemanha com a atual
República Tcheca: “Um Formado em Relações Internacionais e de professores e historiadores de países como
alemão nos procurou num
evento e agradeceu, dizendo cantor, ele divide com o tio Sérgio Fonchaz, Alemanha, Dinamarca e EUA, destacam-se
que teve que vir ao Brasil doutor em Filosofia e guitarrista, não apenas cervejas veneradas pelos fãs e seguidores da
para beber uma Dampfbier”. o palco nas apresentações de rock da banda Sundog como a Sahti, cujo nome se refere à
que foi o estopim da bebida para a antiga tradição nórdica, e a Hella, uma
Sahti – Receita
milenar com 11%
dupla, mas a criação da Sundog Dampfbier, estilo alemão rural do
de graduação Brewing, cervejaria de feições século 19 (veja quadro).
alcoólica, para inéditas no Brasil. Sundog, aliás, significa
ser bebida de O ‘bappir’ citado no texto “caça ao sol” e remete à lenda
preferência
em cálice. Traz
poético da Suméria, por exemplo, escandinava do dia e da noite,
características é uma espécie de pão, ou barra de onde lobos gigantes perseguem
sensoriais do vinho do cereais de outrora, que era assada o sol e a lua, os fazendo girar.
Porto, como o dulçor, as com mel e misturada na água para Assim como o povo que
especiarias e lembrança
de frutas secas.
a fabricação da bebida. Pois Indianas frequenta as batalhas de
“A receita só foi descoberta saiu outro dia do forno na Jones bandas, promovidas pelo
em 1904, num drakkar viking feitura da cerveja que será A história dos caçadores da Arthur e pelo Sérgio,
naufragado do século 9, lançada na edição 2019 cerveja perdida começou nos no alternativo Cine
através de vestígios num ensaios da banda que tem o mesmo
do Mondial de La nome da cervejaria, e a ideia de Joia, em Copacabana.
barril. Fizemos com água
ǰRPERHIWEIEUYIGIQSWS Bière do Rio. produzir a bebida para os encontros, O programa, não
mosto com pedra quente “Fizemos o pão que passaram a lotar de amigos com raro, inclui misturas
no bagaço do malte, o que sumério com trigo, copos na mão. “Mergulhamos em audiovisuais como a
confere uma caramelização Z´HISWPMZVSWIǰ^IQSWXSHSWSW
cevada e mel, e cursos de fabricação disponíveis”, exibição de O Magico de
diferente, utilizando junípero
(zimbro) e fermento de pão”,
fabricamos o vinho de lembra Arthur Chagas, com a Oz com trilha sonora do
explica Arthur Chagas. tâmaras que também está aprovação do Sergio disco The Dark Side of The
nas inscrições descobertas Fonchaz. Moon, do Pink Floyd.
Pictii – Para os por arqueólogos, adicionando Agora, a próxima série da
degustadores
com ímpeto
especiarias como o açafrão. A cerveja Sundog vai deixar de lado as históricas
medieval, está era semelhante a um mingau. Reduzimos a e focar em criações próprias de extremas
saindo um novo densidade, mas ainda ficou bem encorpada e criatividade. Por exemplo, uma IPA baseada
lote da Sahti com cerca de 7% em rituais de índios norte-americanos, com
fermentada
de teor alcoólico”. sementes de peiote (cacto com propriedades
com hidromel,
no estilo celta Braggot, Entre os estudos da dupla, que na base de alucinógenas) na receita, e uma Stout com
consumido por volta pesquisa, e-mails e Skype despertou o interesse cacau, canela, brandy e pétalas de rosas
do século 10, com seus
“singelos” 20% de álcool.
a c e s s e : w w w. c l u b e a d e g a . c o m . b r
Drinque
Ervilha na cupê
Clássico restaurante paulistano põe o legume
na taça, para comemorar aniversário
A ervilha é o símbolo do Piselli (nome do
legume em italiano), um dos clássicos da
restauração paulistana. A casa foi criada há 15
anos pelo craque Juscelino Pereira, que, antes de
ser dono de restaurante, era agricultor. Advinha
o que ele cultivava no interior de São Paulo?
Com uma cozinha impecável do Piemonte
e um serviço de tirar o chapéu, o Piselli
rapidamente de destacou no cenário da cidade
mais gastronômica do país. Agora, em ano de
celebração, uma das ações especiais da casa
foi criar um menu de drinques clássicos, com
o inusitado presença da ervilha num deles.
O resultado é uma composição fina, com o
inusitado sabor do legume, bem de leve, dentro
dele. É supreendentemente delicioso!
Ervilha na cupê
(1 drinque)
INGREDIENTES
10 ml de vinagre de maçã
5 ml de xarope de maçã
50 ml Jerez Tio Pepe
50 ml gin Beefeater
10 g de ervilhas frescas
PREPARO
Em uma coqueteleira, adicione o vinagre
de maçã junto com a ervilha fresca e
macere os grãos
Em seguida, adicione o xarope de maçã,
o vinho de Jerez, o vinagre de maçã, o gin (VSWXEHIIVZMPLE:
e bata tudo na coqueteleira com gelo Bata a ervilha seca
Depois, faça dupla coagem para retirar a (com um socador) até
parte sólida virar uma farinha
Passe limão na borda da taça e
mergulhe-a num mix de ervilha, sal e
pimenta* até que tenha uma boa adesão
do tempero na borda Triture pimenta do reino
e sal do Himalaia.
Coloque a bebida na taça e sirva Misture
Até R$ 50 De R$ 51 a R$ 100
CONDE FOUCAULD BRUT ROSÉ CASA VALDUGA TERROIR LEOPOLDINA
86
pts
Aurora, Serra Gaúcha, Brasil 90
pts CHARDONNAY 2017
Elaborado pelo método Charmat a partir Casa Valduga, Vale dos Vinhedos, Brasil
de Merlot, Pinotage e Cabernet Franc. Frutado e Sempre muito consistente, nessa versão mostra
cremoso, mostra frutas vermelhas mais maduras abacaxi maduro em profusão, escoltado por notas
envoltas por toques florais e herbáceos. No florais, minerais, de camomila, de ervas e de
palato, confirma esse perfil de maior sensação de especiarias doces, que se confirmam na boca. Tem
dulçor, mas com acidez e estrutura, que trazem gostosa acidez, boa textura e final sedutor, com toques
equilíbrio ao conjunto. R$ 24 | Álcool 11,5% salinos e de frutos secos. R$ 74 | Álcool 12%
62 | Sabor club
. [ ed.32 ]
CLASSIFICAÇÃO PONTOS
Extraordinário ............ 95 a 100
Excelente ..........................91 a 94
Ótimo ..................................89 a 90
Muito Bom ......................87 a 88
Bom ......................................85 a 86
Regular .............................. 82 a 84
Fraco.......................abaixo de 82
Pontuação conferida pela equipe
de degustadores da revista Adega
Sopa
e vinho?
A harmonização pouco aconselhada
não é tão impossível assim
Minestrone
Syrah ou Cabernet
Sauvignon
Sa
Consommé (com breve
Jerez seco
passagem
A estrutura
por
e sabores
delicados do madeira)
caldo de carne A sopa com
(ou de frango; legumes,
ou de legumes) feijão e
vai bem com a m
macarrão é tão
salinidade e a substanciosa que
oxidação do vinho a harmonização
espanhol. suporta até tintos
de médio corpo.
Creme
de vegetais
Pinot Grigio ou
Alvarinho Sopa de
A maioria das tomate
sopas cremosas Sauvignon Blanc
seja com palmito, ou Riesiling ou
abóbora, milho ou
Alvarinho
QERHMSGEǰGEQ
Se considerarmos
bem acompanhadas
apenas o tomate
de brancos secos e
Caldo verde Sopa de e a temperatura
leves.
Vinho verde ou de serviço (fria), a
cebola grande acidez do
Rhône (branco) ou Chardonnay prato pede para
Douro (branco) ou Aligoté ser contraposta
O leve amargor Como costuma com acidez.
da couve, o ser servida com
dulçor da batata queijo derretido,
e o defumado da os franceses
linguiça pedem costumam
algo potente mas combiná-la com
que lava a boca. brancos leves.
64 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Cerveja
Hocus
Pocus
Pandora
Bem feito no estilo,
com o corpo leve
e os aromas e
Spaten sabores de cereais,
Munchen Hell com uma notinha Paulaner
Da cervejaria que é de caramelo. Munchner Hell
a mãe da criança. Feita com leveduras
Claro, segue a “Lei exclusivas, malte de
da Pureza Alemã”. A cevada leve e lúpulo
receita de malte, água
e lúpulo é realmente
A boa de ǰRSIEVSQ§XMGS
Na boca, revela um
impecável.
Munique pequeno e instigante
toque condimentado.
Cidadee
Imperial Tupiniquim
Helles Helles
É muito legal Segue a receita
ver uma Helles original à risca,
vendida em o que é ótimo,
larga escala. especialmente
E ela é ótima! para quem está
Com tudo o descobrindo
que o estilo deve ter. o estilo.
Como é leve, a versão
de 330 ml pode ser
tranquilamente sorvida
no gargalo.
Foi a cervejaria Spaten quem criou o estilo, em 1895. De lá para cá, a cerveja
pouco mudou, exceto a sua popularidade. O cervejeiro que adquire a boca
para apreciar o malte vai nela, quando pensa numa cerveja leve porém
com sabor marcantes, sem amargor pronunciado. A característica
maltada revela até um certo dulçor, bem pequeno, quando as
notas nos levam ao pão e aos biscoitos. Na terra Natal do Bamberg
Helles
Blondinee estilo, há quem beba a Helles no café da manhã! Aqui o malte surge
Jackpot com tudo na boca,
O diferencial aqui assim como um
é um certo aroma amargor extra
DZSVEPÁRMGSHS para o estilo: o
rótulo. O malte, Coruja VIWYPXEHSǰREP¯
o pão e o leve Strix bem interessante
amargor seguem Malte, pão, mel e e envolvente, por
a cartilha. fermento: assim é causa da média
essa cerveja muito carbonatação.
bem feita e muito fácil
de tomar. Ela enche a
nossa boca a
cada gole.
Sabor club
. [ ed. 32 ] | 65
Olho neles
Fora do óbvio, os jovens
Giovanna Perrone e Rodrigo
Aguiar usam a perseverança e a
ousadia para fazer uma comida
que merece ser notada
por Robert Halfoun
Magret de pato
defumado,
feijão branco,
sour cream e
compota de
cebola roxa
DIZ O DITADO QUE SE CONSTRUIR a montanha, vai ter de escalá-la.
E é isso o que o casal de cozinheiros Giovanna Perrone e Rodrigo Aguiar vêm
fazendo, no restaurante deles, o Rios, no bairro do Tatuapé, na zona leste
paulistana. Numa conversa com eles, é inevitável fazer a pergunta, já feita um
milhão de vezes: o-que-é-que-vocês-estão-fazendo-num-bairro-com-tão-pouca-
tradição-gastronômica?
O casal, explica-se, opta por fazer uma cozinha contemporânea moderna e
inventiva, normalmente aplicada num circuito restrito das metrópoles.
Ou muito longe dele, pelo cozinheiros estrelados que mudam para o campo,
Top chef para ficar mais próximo da matéria-prima fresca com as quais trabalham.
Aos 23 anos, Giovanna O Tatuapé, bairro em ascensão sócio-econômica não é uma coisa, nem
Perrone tem muita
outra. E isso explica porque os talentosos Giovanna e o Rodrigo vêm, há três
lenha para queimar
anos, doutrinando a clientela local, pouco acostumada com o imprevisto no
Giovanna Perrone exitou prato – característica que é o grande o barato da comida deles.
ao ser convidada para Exemplo marcante disso foi o freguês que insistiu em colocar parmesão
participar do Top Chef num risoto feito com queijo Tulha, uma joia de massa dura, feita na Fazenda
Brasil, na Record. “Entrei
porque queria promover Atalaia, em Amparo, no interior paulista. O homem não sossegou mesmo
o restaurante”, diz. E quem diante do produto in natura, muito parecido com o primo italiano. Acabou
a viu atuar, percebeu
a clara obsessão pela Eles querem liberdade para fazer alta gastronomia, termo
perfeição que buscam no
restaurante. No programa, que, durante uma hora de papo, foi citado inúmeras vezes
chorou ao quase ser
eliminada (na verdade trocando de prato até que voltou, dias depois, arrependido. Não sobrou
foi e voltou) e sorriu ao risoto para contar história.
levantar o caneco diante
No primeiro ano do restaurante, o casal volta e meia fazia concessões e
dos aplausos clamorosos
dos jurados Felipe Bronze, adaptava os pratos. Até spaghetti à bolonhesa fez. Então veio o basta: “Claro,
Emmanuel Bassoleil e preparávamos com o maior rigor. O molho de carne, por exemplo, tinha língua e
da Ailin Aleixo, jornalista costela na receita. Mas, definitivamente, não era a cozinha que queríamos fazer.”
de gastronomia. Diz, Giovanna e Rodrigo querem liberdade para fazer alta gastronomia, termo
hoje, que a experiência
valeu muito a pena, que, durante uma hora de papo, foi dito por ela inúmeras vezes. Isso significa
embora ache a edição trabalhar não só com uma criatividade fora dos padrões mas, principalmente,
da TV poderia ter dado com uma precisão e uma perfeição notáveis. Apesar de muito jovens, ela
mais foco à cozinha e tem 23, ele tem 30, o que colocam na mesa é, de fato, o que propõem. Seja
menos às intrigas que
naturalmente rolam entre na concepção, como na ótima execução – mas que pode (e deve!) chegar ao
os participantes. excepcional. Seja na prosaica coxinha que ganha forma perfeita, recheio de
galinha defumada e caldosa, acompanhada de uma fonduta de queijo cremoso,
delicadamente servida dentro de uma casca de ovo – milimetricamente
quebrada da extremidade. No cupim defumado no pit smoker cujo o destaque
é o demi-glace impecável servido com ele. No chorizo com vinagrete de carne,
cogumelo eringui grelhado e azeite de brasa – salve, salve Ferran Adrià.
Rios – Rua Itapura, 1480, Tatuapé, São Paulo – SP. Tel.: (11) 3213-9030
70 | Sabor club
. [ ed. 32 ]
Chorizo com uarini, cogumelos e mostarda
(2 porções)
INGREDIENTES [cogumelos eringue] [Uarini]
[chorizo] 300g cogumelos eringue Comece hidratando o Uarini com a água
2 peças de chorizo de Hereford 50g manteiga Depois pique bem a cebola, a salsa, o
200 g manteiga [folha de mostarda] orégano e a pimenta sem as sementes
2 ramos de alecrim 1 maço folha de mostarda Misture tudo com o azeite
2 dentes de alho 50 ml vinagre de vinho branco Numa panela, coloque o caldo de carne e
50 ml azeite extravirgem o chimichurri. Tempere com sal e pimenta
Sal Por último junte o Uarini hidratado e
PREPARO
Pimenta do reino mexa apenas para incorporar tudo junto
[chorizo]
[uarini] [cogumelos eringue]
200 g Uarini
Tempere a carne com sal e pimenta do
reino dos dois lados Abra os cogumelos ao comprido e com a
200 ml de água ajuda de uma faca de legumes, risque o
½ cebola Em uma frigideira bem quente, coloque
a manteiga e o azeite. Coloque as interior deles formando um “xadrez”
½ maço salsa Numa frigideira quente, coloque a
carnes e em seguida o alecrim e o alho
½ maço orégano fresco manteiga e sele rapidamente os cogumelos
Com a ajuda de uma colher vá
50 ml de azeite
regando a carne com a gordura até que com a parte riscada para baixo
1 pimenta dedo-de-moça chegue no ponto desejado Finalize com sal e pimenta
100ml caldo de carne [folha de mostarda]
Numa frigideira bem quente, coloque as
folhas de mostarda e em seguida o vinagre
Retire-as rapidamente do fogo para que
fiquem ainda crocantes. Tempere com sal
Sabor club
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DELICATESSEN
Hamburguinho, não...
Hamburgão!!!
Lanchonete faz hambúrguer old school, inspirada
no clássico americano, e vira hype em São Paulo
por Robert Halfoun
O Seu Elânio é um senhor com uma fisionomia – Hamburguers and Fries, numa portinha onde só
simpática, mais ainda quando adornada com a cabem apenas a cozinha e o balcão. Por que tanto
boina estilos anos 1940, usada pelos funcionários sucesso? Porque a mínima lanchonete vende os
de 10 de 10 lanchonetes americanas daquele burgers feitos na época da boina do Seu Elanio.
tempo. Ele fica na calçada de uma rua fora da Eles são pequenos, fininhos, simples e deliciosos.
rota gastronômica da paulicéia orientando a fila Não à toa fizeram o McDonalds o que é. A rede
parruda que se forma diante do novíssimo Patties ianque, aliás, é declaradamente a grande inspiração
Sabor club
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Old school
Concorrente
do McDonalds
ŝŲäûäŲěƙÿΰŲ
pequena, com
ÿī°ŷäĸńŲĴäŷ
4;LMXI2ERREǰGE
em New Jersey e é
um tiro obrigatório
para quem está
em Nova York. A
lojinha estilosa,
como um trailer,
plantada no meio
do trio Jean Ponce, um dos o burger e as fritas fininhas do quarteirão, está
nossos maiores mixologistas; e... ocupar o espaço urbano. no mesmo lugar,
Greigor Caisley, cozinheiro Numa época em que as pessoas servindo a mesma
de mão boa, premiado pelos entendem que entretenimento comida, desde
Arqueologia 1939. É o burguer
quitutes do bar Guarita, está no shopping center, esse
do hambúrguer old school que não
e Henrique Azeredo, os tipo de ação tem muito sai de moda, feito
A primeira loja do McDonald’s
donos do lugar. ƲěŲńƙƙĴĴƙŷäƙĸÄńńÿÎě°ī valor, pode crer. com tudo certo, de
Ao ir na Não vai demorar, grande qualidade,
*PEǰGEIQER'IVREVHMRSEYQELSVEHI e fazia o nosso
contramão da onda carro de Los Angeles, na famosa Rota 66. claro, a Patties deve se
Anthony Bourdain
dos hambúrgueres Não é mais um McDonald’s, mas um fast food espalhar pela cidade. comer três, quatro,
gourmetizados, de frango frito. O dono, no entanto, separou O modelo do negócio de uma vez,
preparados com uma área especial e ali faz, com doações, um parece ter sido feito sem dó.
museu que homenageia a marca lendária. O 358 River St.,
com combinações prédio, importante dizer, não é mais o mesmo, para ser rapidamente
Hackensack
esdrúxulas e discos o que vale é o local onde ele foi erguido. escalável. Então o Seu
de carne enormes (e Ali, os irmãos Mc Donald’s começaram Elânio, que começou
normalmente grelhados vendendo churrasco e outros 25 itens. na chapa, ganhará
Até descobrir que o que mais
fora do ponto, crus), eles rendia eram mesmos os companhia. Com a resposta
acertaram na mosca, com a hambúrgueres. na ponta da língua:
velha essência do menos é mais. – Senhor, o que é o
Inclusive no preço. O sanduíche do hambúrguer Original?
Patties custa menos da metade do preço de – Pão de leite (muito macio),
um hamburgão fru-fru. E, sim, é mais gostoso. A cheeseburguer fininho, cebola picada, picles,
tal fila parruda não desmente a informação. Há catchup e mostarda.
mais uma questão louvável na fórmula do Patties. Ao dar a primeira mordida nessa maravilha,
O ponto onde está fica próximo a uma pracinha este velho lobo comilão foi catapultado no tempo
gostosa e arborizada com umas mesas de alvenaria, em que provou pela primeira vez o principal
feitas para jogos de dama (sim, São Paulo ainda sanduíche do tal do Ronald, que chegara o
tem dessas coisas). E a lanchonete incentiva a Brasil na loja da rua Hilário de Gouveia, em
clientela a pegar o seu simpático saquinho com Copacabana, a primeira do país.
negócio no campo
Rosi e Raphael fazem doce de leite e provam que
o êxodo urbano não é só viável, mas lucrativo
por Robert Halfoun
Sabor club
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Produto
Garantido
pela Rainha
A caixa com logo
e design clássicos,
sem alterações
desde a sua criação,
anuncia: “Garantido
pela Rainha” (Royal
Warrant of the Queen
of England). Fora dela,
O melhor o sal Maldon deve
ser acondicionado
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. [ ed. 32 ]
Para
AMAR
Molesquine de receitas
O objeto de desejo cujo nome virou
sinônimo de caderno de anotações tem
a sua versão para cozinheiros
Nos tempos em que nós tanto escrevemos e também) lá dentro. Com a maior organização,
fazemos anotações em smartphones, tablets incluindo ícones que nos induzem a colocar
e computadores, a indefectible Moleskine o tempo de preparo, o número de porções,
virou aquele prático item de charme, que o tempo de cozimento e até a harmonização
nos conecta – graças-a-Deus! – com a forma com o vinho ideal. Tudo isso, com orelhas
mais orgânica de escrever. Mais do que isso, que separam aperitivos, pratos principais,
guardar memórias, coisas da vida… Atire o acompanhamentos e sobremesas. Tem mais: o
primeiro lapis quem nunca teve pena de jogar caderninho com capa dura e estojo rígido para
fora um caderninho lotado de informações – guardá-lo traz curiosidades sobre culinária,
mesmo que elas tenha ficado perdidas tabela de conversões e até adesivos fofos que o
no tempo? transforma numa espécie de scrapbook.
O modelo descoladíssimo para cozinheiros,
foi feito de forma muito bem pensada para R$ 149 no Mercado Livre ou US$ 27 em amazon.
colocarmos as nossas receitas (e a dos outros com (sim, o produto é entregue no Brasil).
Sabor club
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clássicos
Charme
que aquece
Famoso na Argentina, o Submarino (barra de chocolate mergulhada no
leite fervendo) ganha contornos especiais em tempos de bean to bar
por Robert Halfoun
No momento em que finalizamos esta edição, a tombados pelo Patrimônio Histórico de lá.
temperatura em São Paulo é de 9ºC e a sensação térmica Para fazer o Submarino, atenção, é preciso leite gordo
lambe os 6ºC. Quando o frio pega firme, como esquentar e uma mistura de chocolate amargo com chocolate ao
o corpo? Os argentinos sabem bem a forma de fazê-lo, leite. Hoje, com a profusão de produtos bean to bar, o
caso contrário não teriam popularizado o Submarino, mais legal é que cada um vai temperar o Submarino de
leite fervendo com uma barra de chocolate mergulhada uma maneira diferente – sem macular o sabor original.
dentro dele. A bebida é comum em toda casa na Para tomar a bebida e banho de charme, selecionamos
Argentina e um hit nos cafés notáveis de Buenos Aires, alguns cafés obrigatórios na capital de los hermanos.
La Poesía – Em San
Café Tortoni
Telmo, foi reduto
– De 1858, é o
da intelectualidade
mais tradicional
local. Depois foi
de Buenos
fechada e reabriu
Aires. Av. de
restaurada,
Mayo, 853.
mantendo as
características
originais.
Rua Chile, 502
*P+IHIVEP – No 1E:MSPIXEW –
boêmio bairro Criado para ser
de San Telmo, um templo de
é rústico, todo WSǰWXMGE©SIQ
em madeira, 1884. Aqui não
decorado com faltam mármore
fotos e objetos italiano e móveis
que remontam os franceses, numa
anos de ouro da glamourosa viagem
cidade. Rua Carlos no tempo. Av.
Calvo, 595 Rivadavia, 3899
*P,EXS3IKVS – Mantém a
*P&XIRIS – Fica no fundo
decoração original, de 1927.
do antigo teatro que
Tem uma ótima carta de
virou livraria. E toma um
cafés e vende especiarias
glamour do lugar para si.
num clima de botica.
Av. Santa Fé, 1860
Av. Corrientes, 1669.
1E,MVEPHE – É simples e charmosa,
de 1951. Há quem diga que serve o
melhor churros de Buenos Aires.
Av. Corrientes, 1453
Arroz com camarão Pernil assado ao molho Ovo frito com bottarga
de Malzibier e açúcar
O rei, recém-casado com Rosemari, durante a lua de mel, em Munique, em fevereiro de 1966
82 | Sabor club
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