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AS FONTES ESCRITAS

Lucius Junius Moderatus Columella, (Inícios da Era Cristã - 60 e 70 d. C).


Ver: De arboribus e Res rustica
Vergílio (70 a. C. - 21 A 19 a. C., Geórgicas
Marcus Gavius Apicius (25 a. C. - 37 d. C.). De Re Coquinaria
Ovídio (43 a. C. - 17 ou 18 d. C.) Arte de Amar
AS FONTES ESCRITAS
«O que mais perturbação traz ao homem é o
ventre, para o qual vive a maioria dos mortais.
Umas vezes não deixa passar os alimentos, outras
vezes não os retém, outras não os aceita, outras
vezes não os digere. Os costumes chegaram a tal
ponto que é pela comida que se dá a maioria das
mortes. A pior das entranhas do corpo é exigente
como um credor e insiste várias vezes ao dia. É
sobretudo por causa dele que a ganância se agita,
qua a luxúria se espevita, por ele se navega até ao
Fásis, por ele são devassados os abismos do mar. E
ninguém avalia a sua baixeza pela imundice do
resultado. Por isso, é também ele que dá mais
Friso de sarcófago do banquete, proveniente de Troia trabalho à medicina».
MNA Nº Inv. 994.21.1
Século IV d.C Plínio (N.H. 26.43 )
Fotografia: José Pessoa Localização: DDF-DGPC A partir de: Francisco Oliveira, “Gastronomia em Plínio-o-Velho”, in Convivium: el arte
de comer en Roma (1993). Associacion de Amigos del Museo – Mérida.
http://www.matriznet.dgpc.pt/…/Obje…/ObjectosCo
nsultar.aspx…
A ALIMENTAÇÃO EM ROMA
• A imagem de luxúria alimentar em Roma é muito
exagerada.
• Até ao Século II a.C., a base alimentar dos grupos
sociais pouco diferia, e só gradualmente se
começa a verificar uma grande diferenciação.
• Na Roma Antiga, o ideal da culinária tradicional
era uma dieta de base fundamentalmente
vegetariana: cereais, legumes, hortaliças, leite e
ovos faziam parte da dieta elementar.
• Os frutos mais comuns eram os figos, as romãs,
as laranjas, as peras, as maçãs e as uvas.
1 - Natureza Morta. Pompeios (63-79 d. C.)
Museu Nacional de Nápoles
2 - Fresco com representação de ovos e tordos. Villa
Julia Felix. Século I. Pompeios
A ALIMENTAÇÃO EM ROMA

• As papas (puls) de cereais torrados ou


em farinha eram o prato mais típico dos
Romanos pobres.

• Puls - mistura ou papa de água, cevada,


aveia, ou trigo, podendo juntar-se, para
enriquecer, vinho e miolos de animais e
ser acompanhada com azeitonas, feijão,
figos, queijo ou mesmo porco.

Fresco com representação de pão e figos. Fresco de Pompeios


AS PAPAS (PULS) DE CEREAIS

Variantes de puls:
• puls fabata (feita com favas);
• puls punica (que continha queijo,
mel e uma gema de ovo);
• puls iuliana (que
continha mioleiras e carne e
vinho e liquamen). Apício. De re
coq., 5.1.1).
O PÃO

• Na sua origem, o pão era fabricado


pelas mulheres em casa, situação que,
com o crescimento das cidades e do
Império, se alterou.
• Foi com os Gregos que os Romanos
aprenderam a melhorar o pão e,
durante o Império, os padeiros eram
geralmente Gregos.
• Consta que, em 100 a.C.. haveria em
Roma cerca de 258 padeiros, tendo a
técnica sido difundida por todo o Mó proveniente das Ruínas de Troia

Império.
O PÃO
• O pão mais comum era um pão
redondo, feito de farro (Emmer), um
cereal da família do trigo.
• Com o tempo, os romanos
melhoraram o processo de moagem,
e, como resultado disso, foram os
primeiros a produzir pão branco.
• Anteriormente, faziam-se pães
escuros, de grãos integrais.
• Por volta de 100 a.C., Roma possuía
mais de 200 padarias comerciais.

Fresco da Casa Juliae Felicis. Pompeios. Museu


Arqueológico Nacional de Nápoles.
O PÃO
• Panis quadratus - pese o nome, este pão não é quadrado, mas circular. O nome deve-se às barras no topo do
pão que o dividem em quartos. Este pão era comumente consumido em casamentos e festas, daí as quantidades
maiores de ingredientes.
• Panis farreus - pão feito de farinha de espelta grossa para ser quebrado e partilhado pelos noivos durante a
cerimónia do casamento por “confarreatio”.
• Panis adipatus - uma espécie de pizza ou pão achatado, que continha uma boa quantidade de bacon e gordura
de bacon.
• Panis militaris - pão usado pelos soldados.
✓ Castrensis - pão usado nos acampamentos militares.
✓ Mundus - pão de marcha.
✓ Ambos foram um tipo de biscoito seco duro que teve que ser embebidos antes de comer. (N.H. Pliínio. XVIII-
68)
• Panis nauticus - Muito parecido com o pão - soldado. Conhecido como biscoitos - navio. (XXII-Plínio. N.H.)
• Panis Picentinus- Outro tipo de pão duro que exigia a imersão, geralmente no leite ou mulsum antes de se
comer.
✓ Picentino era um pão de luxo feito de alica, encharcado nove dias e depois amassado com uvae passae (o sumo
doce de uvas secas ou sumo de uva).
✓ Era moldado com um rolo de comprimento, colocada num vaso de argila e cozido no forno até a rutura do
pote. (Plínio. N.H. XVIII)
O PÃO
• Panis boletus - pão que aparenta a forma de um cogumelo. Era coberto com sementes
de papoila. Este pão era da cor do queijo defumado.
• Panis alexandrinus - pão popular, frequentemente mencionado em receitas e textos.
Continha cominho egípcio e foi importado de Alexandria, daí o nome.
• Panis cappadocianus - um pão estilo 'turco' que foi produzido com massa de farinha e
leite. A isto era adicionada uma grande quantidade de sal. Era cozido em forno muito
quente durante um curto período de tempo e tinha uma crosta suave.
• Panis secundarius - um tipo comum de pão branco. Durante a República, comer pão
branco era considerado um luxo, pois era caro.
✓ No auge da Época Imperial, o pão branco tornou-se comum e, portanto, conhecido
como uma segunda escolha ou secundus.
✓ Com o imperador Augusto, veio a popularidade do pão integral, usando produtos
menos refinados e pães mais pesados ​foram de novo confecionados.
• Pane sordidus – pão de má qualidade.
• Orindes - pão, feito de farinha de arroz
• Mazas - biscoitos de cevada
PÃO COM QUEIJO E ESPECIARIAS
• Cybus Cube - pão feito em forma com anis, queijo
de ovelha fresco e azeite de oliva.
• Cribana - pão feito com queijo coalho. Tinha uma
forma que se assemelhava ao peito de uma mulher.
• Panis mustaceus - pão comumente cozido em
forma de anel, com uma coroa de louros no topo.
Catão dá-nos uma lista de ingredientes: 660g.
gordura, 330g. queijo fresco, 8,7 litros farinha, anis,
cominho. (Cat. RR CXXI). Este pão era comumente
consumido em casamentos e festas - daí as
quantidades maiores de ingredientes.
OS MOINHOS DE CEREAIS E OS
FORNOS DE PÃO

Fotografia a partir de: https://www.historiacocina.com/es/historia-del-pan-en-roma


A ALIMENTAÇÃO EM ROMA
• A circulação de artigos de todo o Império
origina um crescente consumo de carne,
de peixe fresco e de pão.
• A carne usada era geralmente de
carneiro, burro, porco, ganso, pato ou
pombo.
• Sabe-se que existiam talhantes ou
carniceiros em Roma e em outras
cidades.
• O queijo e o mel passa a ser consumido
1 - Mosaico com representação de alimentos. Século II. Museu do Vaticano.
de forma regular e entra em uso a 2 - Mosaico com representação de peixes. Pompeios. Museu Arqueológico de
Nápoles.
3 - Relevo encontrado em Óstia, datado do século II d.C..
alimentação sofisticada e agridoce.
AS REFEIÇÕES EM ROMA

Ientaculum
• A primeira refeição do dia fazia-se logo que se
levantavam, sendo composta por pão, queijos,
ovos e leite de cabra ou ovelha, nas casas
mais abastadas. O pão era embebido em vinho
ou regado a azeite, e o leite era o de cabra ou
de ovelha.
• Durante o período imperial, devido a preceitos
médicos, o ientaculum caiu em desuso e esta 2 - Pão proveniente de Pompeios
refeição era constituída apenas por pão e
água.
AS REFEIÇÕES EM ROMA
Prandium
• Por volta do meio-dia, tomava-se
uma refeição mais substancial,
geralmente em pé (sine mensa).
• Os alimentos eram as sobras
da cena do dia anterior: carnes frias,
peixe, queijos e frutas e, para bebida,
o chamado mulsum, um vinho
1 - Mosaico com representação de refeição. Século IV.
Uzitta, Henchir El Machceba, Tunísia. Detalhe: um escravo
misturado com mel, pois ela era
serve um visitante consumida durante as horas de
trabalho.
AS REFEIÇÕES EM ROMA
Cena
• Era a principal refeição do dia e iniciava-se entre a nova e a
décima hora, no inverno, que corresponde às três/quatro
horas da tarde, como nos informa Plínio (Ep. III, 1)
e Cícero (Fam. IX 26), prolongando-se pela noite.
• Os mais ricos convidavam os amigos e clientes e, por vezes,
tornavam-se verdadeiros banquetes.
• A cena dividia-se em três partes:
✓gustatio (ou gustus ou promulsio);
✓prima mensa;
✓secunda mensa.
• A gustatio era composta por aperitivos: cogumelos, saladas,
Pintura de Pompeios com representação de um banquete em família, Museo
rábanos, couve, ovos, trufas, atum, ostras e queijo. Archeologico Nazionale (Nápoles).
my scan.Unknown painter before 79 AD - Theodore H. Feder, Great Treasures of Pompeii
and Herculaneum (Abbeville, 1978) pp. 24-25
A IMAGEM DA LUXÚRIA ALIMENTAR:
As Fontes Arqueológicas e Arqueológicas
«O prato seguinte foi pastéis de queijo frios, com uma cobertura de mel
quente, regado por um vinho hispânico de excelente qualidade. Em boa
verdade, aos pastéis nem os provei, mas de mel até me besuntei. À volta
havia grãos-de-bico, tremoços, nozes descascadas à discrição e uma
maçã para cada pessoa. Mesmo assim, eu agarrei em duas e tenho-as
aqui escondidas no guardanapo; é que se não levo algum presente ao
meu escravito, tenho logo algazarra. Mas em boa hora a minha
patroa mo recorda: puseram à nossa disposição uns nacos de carne de
urso; sem pensar, Cintila provou-a e esteve quase a ponto de vomitar as
próprias entranhas. Eu, pelo contrário, despachei mais de uma libra, pois
tinha o mesmo sabor que o javali. No que me toca é assim: se o urso
devora o pobre do homem, muito mais deve o pobre do homem devorar
o urso! No final, tivemos queijo fresco, vinho recozido, um caracol por
pessoa, tripas aos bocados, fígado no prato, ovos embarretados,
rábanos, mostarda e um prato cheio de merda — e pára, Palamedes!
Circularam ainda, numa tina, azeitonas picantes, das quais alguns
descarados sacaram umas boas três punhadas. Ao presunto, deixámo-lo
ir em liberdade.»
Petrónio, Satíricon, Edições Europa América. Livros de Bolso Fresco com cena de Banquete. C. 50 a. C. Herculano.
A IMAGEM DA LUXÚRIA ALIMENTAR:
As Fontes Arqueológicas
Para nos apercebermos bem do
que era a alimentação dos
romanos de condições elevadas,
vejam-se alguns mosaicos, que
espelham a "mesa farta“, como é
o exemplo do Mosaico de um
Triclinium de uma villa da época
de Adriano, no Aventino.
Costuma denominar-se este tema
como “chão sem varrer”.
Mosaico "chão sem varrer" do Triclinium da villa da época de Adriano,
Aventino.
A ALIMENTAÇÃO EM ROMA
• Para a maioria dos romanos, nem
sempre era possível consumir
alimentos frescos, pelo que os
mesmos eram fumados, salgados,
secos ou conservados em vinagre.
• O célebre molho que se misturava
em praticamente todos os
alimentos, o garum, bem como os
condimentos e ervas, ajudavam a
disfarçar o sabor que os menos
frescos pudessem ter. Em território atualmente português são conhecidas inúmeras
unidades fabris de conserva de peixe e de produção de garum, a
exemplo de Lisboa, Setúbal, Troia, Ilha do Pessegueiro e muitas do
Algarve.
ASARÔTOS OÏKOS – Mosaico “Chão sem varrer”
• Segundo o escritor Plínio-o-Velho (23/24-
79), na sua História Natural XXXVI, 184,
terá sido o artista greco Sosos de
Pérgamo, que viveu no século II a.C., que
representou, de forma extremamente
naturalística, um chão com as sobras de
comida que ficou conhecido como
asarôtos oïkos (chão não varrido). O
modelo foi reproduzido no mundo
romano.
• Esse tipo de representação coaduna-se
com a tradição que proibia que se
apanhassem os restos de uma refeição
que tivessem caído no chão, porque os
detritos eram considerados alimentos dos O mosaico da fotografia faz parte do acervo do museu do Chateau de Boudry
(foto copiada do site “http://www.chateaudeboudry.ch”) e é um dos
mortos. mais extraordinários mosaicos romanos que sobreviveram. Data do século V d.C.
e acredita-se que seja originário da Síria.
O PESCADO
• Em época romana, verificou-se uma evolução na
importância dada ao peixe como fonte de
alimentação. Sabemos que o peixe era
componente essencial da gastronomia romana.
• Fresco, ou em conserva, chegava praticamente a
todas casas, sendo também de consumo habitual
entre as classes menos favorecidas.
• A captura massiva dos recursos piscícolas
possibilitava a existência de excedentes, levando à
sua conservação para um posterior consumo.
• A indústria de salga de peixe desenvolveu-se e
tornou-se uma actividade de âmbito económico
mais amplo.
• O pescado era muito apreciado, e alguns tipos de
peixe eram bastante caros no período romano.
• Servir um bom peixe e de grandes dimensões
Mosaico romano da casa do Fauno. Pompeios. Mostra uma enorme variedade
de vida marinha. Museo archeologico Nazionale di Napoli. inteiro era uma manifestação de estatuto.
O PEIXE
• Confirmam a importância do peixe, em
Época Romana, as fontes escritas, as
iconográficas – recordamos, por exemplo
frescos e mosaicos, bem como de
numismas – que ajudam muito à
compreensão sobre as presenças do peixe
no Mundo Romano.
• Conhecidos são também muitos objectos
arqueológicos ligados à pesca: O elevado
número de artefactos relacionados com a
pesca, tais como anzóis, pesos de rede,
chumbadas e agulhas para a confecção de
redes, bem como restos faunísticos.
• A utilização de redes de pesca
generalizou-se por todo o Mediterrâneo
em período clássico.
O PEIXE E A PESCA

Piazza Armerina, Villa del Casale (Sicília)


Mosaicos proveniente de Lod, Tel-Aviv. Israel https://www.corriere.it/.../piazza-armerina-tornano...
FRUTOS DO MAR, MOLUSCOS E MARISCOS

• O gastrónomo Apicius deixou-nos


em De re coquinaria inúmeras
receitas de refeições com base em
peixe (mais de uma centena),
alimento presente em todos os
banquetes, ao ponto de os
patrícios terem piscinae privadas,
ou seja, viveiros, onde, entre
outros, cresciam enguias e
moreias. Os moluscos e os
mariscos faziam também parte
das mesas mais fartas, sendo 1- Mosaico proveniente da Villa romana de Milreu. MNA
elaborados os seus recheios. 2 – Mosaico com representação de vários “frutos do mar”. Bulla Regia. Detalhe. Século
IV d. C. Tunísia.

• (Ornellas e Castro. 2015: 37). 3 – Mosaico de Populonia. Museu Britânico. https://domus-


romana.blogspot.com/2016/04/pisces-in-mensa-el-pescado-como.html
4 – Mosaico da Villa de Dar Buc Ammera, (150-300 )Tripoli. Líbno. National Museum.
O SALMONETE

Preparado para salmonetes

Sabe-se que o salmonete era muito apreciado em


Roma e símbolo de estatuto social.
Também o seu fígado era usado no fabrico do
allec, um delicioso molho de peixe, para acompanhar
qualquer prato.

“Escame-os, lave-os, deite-os numa caçarola. Junte


azeita, liquamen, vinho e, enquanto coze, um
molhinho de alhos-porros. Deixe cozer. Moa
pimenta, ligústica e orégãos; adicione o caldo da
cozedura (isto é, o do tachinho), misture vinho, vinho
de passas, deite numa panela, leve a ferver, ligue
com fécula e depois deite sobre o tachinho. Polvilhe
1 - Casa de los Castos Amantes. Pompeios. Pormenor
com pimenta e sirva.
2 - Detalhe de fresco. Pompeios. Apicius. XV (seg. Inês de Ornellas e Castro. 2015)
O PEIXE
• As costas as costas atlânticas, mais
especificamente as algarvias
possuem uma abundante e variada
existência de pescado (sardinha,
pescada, goraz, safio, besugo,
cavala, corvina, pargo, etc.).
• Também o atum, uma espécie
migratória sazonal, surge na costa
algarvia de forma constante.
• As ostras, mariscos e outros frutos
do mar constituíam igualmente
iguarias importantes nas refeições
da elite. Mosaico com representação de Cena de Pesca
P6DKE2
Alamy Stock Photo
O PEIXE E OS PREPARADOS
• Estrabão refere que o rio Tejo era rico em
peixe e ostras (3, 3, 1).
• Sabe-se que, no seu auge (entre 225 - 250
d.C. e o princípio do século V d.C.), a
produção lusitana de preparados de peixe foi
uma das mais importantes do império,
superando a vizinha Bética, até então a
principal produtora peninsular. As condições
naturais da Lusitânia favoreceram o
florescimento de uma indústria especializada
em preparados de peixe.
• A indústria de salga de peixe constituiu-se
como uma das mais desenvolvidas e
rentáveis.
• Um extenso litoral atlântico, estuários ricos
em recursos marinhos, recursos de sal e um
clima quente e seco favoreceram o
desenvolvimento de uma poderosa indústria 1 – Mapa a partir de:As Oficinas de Preparados de Peixe da Lusitânia:
de preparados de peixe na Lusitânia. arquiteturas e dinâmicas econômicas da sua produção (séculos I – VI
d.C.) https://www.canthecan.net/2021/01/27/as-oficinas-de-
• Quatro regiões da Lusitânia desenvolveram
preparados-de-peixe-da-lusitania/
2 - Mosaico romano com peixes diferentes Roman National Museum em
centros produtores: os Vales do Tejo e do Roma
Sado, o Litoral Alentejano e o Litoral Algarvio. 3 – Mosaico. Basílica de Aquileia. Santa Maria Assunta.
O PEIXE
“Escame e limpe quaisquer peixes.
Numa caçalora pique cebolas de
Ascalão secas ou de outro género e
coloque os peixes em cima. Junte
liquamen e azeite. Quando estiver
cozinhado, ponha no meio peixe
salgado cozido. Acrescente vinagre.
Polvilhe também com oregãos bravos”.
Apicius, Livro IV. 24
“Retirados os tentáculos, bata o choco
no cepo da cozinha, como de costume.
A carne deve ser muito bem pisada
com liquamen num almofariz e
confecionam-se com ela as
almôndegas”
Apicius, Livro II. 43 Mosaico de Hadrumetum. - Representação de várias formas de pesca de mar conhecidas
na Antiguidade. Mosaico romano de Hadrumetum (Sousse), Século. III. .Museu do Bardo –
Tunes. AHG-IMAGES GILLES MERMET.
Mosaico de cena de pesca à linha, Dougga
A PESCA
• A pesca era fundamentalmente
praticada usando diferentes tipos
de redes.
• No actual território português
conhecem-se inúmeros
instrumentos de pesca, quer junto
ao mar, quer dos rios,
designadamente anzóis, pesos de
rede, estando a si associada ainda 1 -Representação de cena de pesca com navas,
mosaico recolhido na Tunísia, segundo Mcann,
1987a – nava
toda uma série de instrumentos 2 - Representação de cena de pesca com arpão,

(agulhas, lançadeiras, ‘navettes’, mosaico recolhido na Tunísia, segundo Mcann,


1987. (fotografias 1 e 2 e 5 a partir de: A pesca
na antiguidade - O caso de Monte Molião
pesos de rede). 3 - Anzol proveniente de Troia. Grândola
4 – Armadilha de pesca
5 – Distintas paretes de um anzol (a partir de: A
pesca na antiguidade - O caso de Monte Molião
A Pesca

Basílica de Santa Maria Assunta (Baslica de Aquileia) (314-320)

https://www.pinterest.pt/pin/435301120229825855/
A Pesca

• O tema da pesca era tão


recorrente que aparece
figurado nas lutas de
gladiadores do Império
Romano. O retiarius estava
armado com um tridente e
uma rede de pesca. O seu
oponente era o secutor,
cujo capacete cobria todo o
rosto e lembrava muito a
cabeça de um peixe. Mosaico da Villa do Nilo, Lepcis Magna, Museu Nacional de
Trípoli, por volta do século I dC.
OS PESCADORES
• Embora marginalizados por alguns autores
clássicos, a exemplo de Plauto, no século III
a.C., que satirizava a condição social dos
pescadores, representando-os como
“famintos e sedentos” e como uma
“ninhada de seres esfomeados”, e de
Cícero em De Officiis: "As atividades de
menos valor são aquelas que se
relacionam com os prazeres sensuais:
'peixeiros, açougueiros, cozinheiros,
vendedores de galinhas e pescadores',
como diz Terêncio" (De Officiis, 1, 150), os
dados epigráficos sugerem que os
pescadores, unidos em associações
(collegia), tinham condições de financiar
espetáculos e a construção de Mosaico com cena de pesca datado do século III d.C.
monumentos, e participavam da vida procedente de Hadrumetum (actual Sousse, Tunísia). Musée
política de certas comunidades Archéologique de Sousse. Fonte: Wikimedia Commons
Unidade de produção de preparados píscicolas
(Avenida da Liberdade / Rua da Fortaleza)
Testemunhos de actividades ligadas ao mar, em Época
Romana, são várias, em Sesimbra.
Podemos referir a existência, na zona do Cabo Espichel, de
mais de metade dos cepos de âncora em chumbo
identificados até ao momento na costa portuguesa.
É conhecido, em Sesimbra, um complexo de transformação
de pescado constituído por de sete tanques e um poço.
As cetárias, com as medidas internas de 2,40 m de
comprimento, 2,60 m de largura e 1,20 m de altura, foram
construídas com um aparelho composto por pequenas
pedras de calcário e arenitos e consolidado por um
revestimento interior de opus signinum de grande
resistência, feito à base de cal, areia e pedra calcária
triturada. Num dos tanques foi possível observar vestígios
de restos dos ingredientes que compunham os preparados
de peixe que ali eram produzidos, designadamente
Fotografia a partir de: mariscos, moluscos e peixes de pequeno porte.
Em associação com estas estruturas encontraram-se
https://www.youtube.com/watch?v=vKoURbrjhvA&t=52s diversos materiais cerâmicos como fragmentos de tégulas e
de ânforas Beltran II, Dressel 20, Dressel 14 e Almagro 51C,
que permitiram balizar a ocupação do sítio entre os séculos
I e III d.C., momento em que se estabelecem outras
unidades fabris no litoral da Lusitânia
ONDE COMER E BEBER: AS TABERNAE
A maioria dos habitantes das
cidades viviam em prédios de
apartamentos, as insulae, desprovidos de
fogões e havia lojas que ofereciam, entre
tantos produtos, alimentos quentes para
levar, salsichas, caldo de ervilhas e
variedades de salgados.

Imagens:
1 - https://www.pinterest.com/pin/562809284657398791/

2 - Fotografia a partir de: http://histgeo6.blogspot.pt/2012/12/olaria-romana-da-quinta-do-


rouxinol-2.html
3 - Tentativa de reconstituição:
Historia y Roma antigua
AS TABERNAE
• A palavra Tabernae designa as lojas onde
se podiam comprar todos os tipos de
produtos:
- sutoria, vinaria, argentaria, libraria, carnaria.
• Quando era um quiosque desmontável,
denominava-se tentorium, nome que
também se dava às tendas de campanha
militares.
• Tabernarius é o homem que se dedica ao
pequeno comércio, Tenuis Mercatura,
enquanto a Magna Mercatura é o grande
comércio.
Imagens a partir de: http://romewiki.wikifoundry-
mobile.com/m/page/Housing+in+Ancient+Rome
COMER E BEBER
Era comum consumir alimentos fora de casa, pelo
que existem vários tipos de locais onde se
vendiam alimentos:
• as cuppediae, frequentadas por clientes
mais ricos;
• as popinae, as mais populares, onde se
podia comer ou comprar para levar;
• as cauponae, similares às popinae, onde
se vendia vinho e se podia também
pernoitar ;
• as "tascas", thermopolia, normalmente mal
afamadas, onde se podia comer e beber
vinho .
• as tabernae, lojas onde se podia comprar
todos os tipos de produtos.
1 - Termopolium de Pompeios
2 - Taberna. Pompeios. Imagem a partir de: De bares por la Roma
antigua. Texto de Javier Ramos/ La vida en la antigua Roma.
AS TABERNAE e os Taberneiros
1 - Baixo relevo de uma sepultura com representação de carro puxado a
bois, para venda de vinho.
Museu Romano de Augsburgo

2 - Placa emeritende conservada no MNAR de Mérida. Representa uma


taberna ou Termopolium e uma taberneira que enche um jarro de vinho
num tonel (certamente alusão à profissão da defunta).
No frontão está a dedicatória aos Manes. Debaixo, gravou-se a cartela.

Inscrição funerária de Sentia Amarantis


Inscripción: D(is) M(anibus) S(acrum) / Sent(iae) Amarantis /ann(orum)
XLV Sent(ius) / Victor uxori / carissimaef(aciendum)
c(uravit) cun cua vix(it) ann(os) XVII

Tradução: Consagrado aos Deuses Manes, Sencio Victor mandou


fazer para sua querida mulher Sencia Amarantis de 45 anos com a qual
viveu 17 anos.
TRANSPORTE E VENDA DE VINHO.
Taberna vinaria

1 – Relevo com cena de Taberna e transporte de barris. Detalhe de um monumento funerário. Saint Maximin, França. Século II.
Treviri Museum. Imagem a partir de: https://www.pinterest.com/pin/524669425318490088/
2 - Baixo relevo de embarcação transportando barris. Século I. Rome, Museo della Civiltà Romana
Macellum, o Mercado
• Gradualmente, foram-se
desenvolvendo os grandes
Mercados, onde se podiam
comprar os produtos que os
camponeses traziam às cidades,
bem como carne e peixe.
• Localizavam-se junto do fórum,
para facilitar o seu acesso.

1 - Fotografia a partir de:


http://gladiatrixenlaarena.blogspot.pt/2015/07/mercado-en-la-antigua-
roma-macellum.html
2 - Macellum, ou mercado de Pompeios
ALGUNS ALIMENTOS: O QUEIJO
• O fabrico do queijo é muito anterior à
Época Romana, havendo indícios do seu
fabrico já há 8.000 anos.
• Inicialmente, era fabricado apenas a partir
de leite de cabra e de ovelha, mas
gradualmente, em Época Romana, passa a
ser usado o leite de vaca.
• Era já utilizando o cardo como coalho que
produz a primeira etapa de formação do
queijo, a coagulação. Fresco pompeiano representando a coalhada feita com moldes de
• Os Gregos eram muito apreciadores desta junco.
iguaria que era dada a comer, em
banquetes, a classes privilegiadas e aos
desportistas.
ALGUNS ALIMENTOS: O QUEIJO
• Os Gregos foram os pioneiros da
introdução de ervas aromáticas nos
queijos.
• Os Romanos foram os responsáveis
pela sua difusão pelo Império,
fabricando inúmeras variedades.
Fresco da Villa Adriana, Pompeios, com • Existem muitas referências latinas ao
representação de queijos e espargos Museu queijo, salientando que Plínio-o-Velho
Arqueológico de Nápoles. menciona o queijo proveniente da
Grécia, dos Alpes e da Gália.
ALGUNS ALIMENTOS: O QUEIJO
• O queijo era usado na alimentação
dos soldados e atletas, mas também
transformado em iguaria
indispensável nos grandes banquetes
imperiais.
• Era, ainda, usado como sobremesa e
misturado com pão.
• Em Portugal, na Villa Romana do
Rabaçal, foram encontrados vestígios
arqueológicos que indiciam o fabrico
de queijo desde remotas alturas.
ALGUNS ALIMENTOS: O QUEIJO
Muitos escritores da Época Romana deram
a conhecer vários tipos de queijo ou de
pratos confecionados com queijo:
Catão, (234 a.C. - 149 a.C.), que escreveu
um tratado, uma espécie de manual
chamado De Agri Cultura no qual se
podem encontrar orientações para os
cuidados médicos que deviam ser
adotados para os escravos e para o gado.;
Varrão ( 116 a.C. - 27 a.C.), autor de De Re
rustica;
Columela, autor de Re Rustica, no século I
d. C.;
Plínio-o-Velho (23 - 79 d. C.), na sua Marco Pórcio Catão, (234 a.C. - 149
História Natural. a.C.),
ALGUNS ALIMENTOS: O QUEIJO E OUTRAS ESPECIARIAS
Os Romanos costumavam acrescentar sumo de
figo e nozes para aromatizar os queijos.
• Columela, autor de Res Rustica, no século I d.
C.; descreveu que se colocavam as nozes
picadas no balde de ordenha da vaca, enquanto
outros trituravam as nozes e misturavam com o
leite fresco antes de colocar o coalho.
• Descreveu, também, o processo usado para a
fabricação do queijo prensado à mão (‘caseus
manu pressus’).
• Quando a massa estava coagulada, deixava
descansar sendo, depois, cortada em fatias
(‘rescinditur’) e colocada em água quente.
• As fatias eram retiradas da água e moldadas à
mão e prensadas.
1 - Cesto com figos. Pintura parital. Oplontis, Século I d.C. Torre Annunziata, Nápoles.
2 - Mosaico com representação de noz e rato. Villa Adriano. Museu do Vaticano
ALGUNS ALIMENTOS: O QUEIJO
No célebre banquete descrito por
Petrónio, na sua obra Satíricon,
escrita no século I da nossa era, é
referido o uso do queijo
confecionado de diferentes
formas: prensado à mão, bem
como em «pastéis de queijo frios,
com uma cobertura de mel
quente, regado por um vinho
hispânico de excelente qualidade 2 - Mosaico com representação de Escravos servindo um banquete.
Proveniente de Cartago. Século III.
(...).» e ainda queijo fresco. A partir de:
http://novahistorianet.blogspot.pt/2009/01/roma-antiga.html
ALGUNS ALIMENTOS: O QUEIJO
A maioria das referências ao queijo são do
gastrónomo Apício (25 a. C - 37 d. C.) :

• BVBVLVS CASEVS, ou seja, o queijo de leite bovino;


• CASEUS CAPRINUS, queijo de cabra;
• LIBUM, era como um cheesecake, a primera torta
de queijo, elaborada com farinha, queijo, ovos e
mel.
• OXYGALA: Coalhada. Queijo aromatizado com
ervas;
• PLACENTA: Um tipo de bolo de queijo;
• SCRIBILITA: Pastelaria, ou um tipo de panqueca,
muito quente. Pastel de queijo. Torta de queijo;
• TORTA ALBA: bolo de queijo;
• Também é referido o seu uso em pratos de peixe
como TYROTARICVS, feito de queijo, sal, peixe,
ovos, temperos;
• MORETVM: Moreto, iguaria feita de ervas, alho,
queijo e vinho.
ALGUNS ALIMENTOS: O QUEIJO
• Típico era um prato para os dias de
casamento, mesmo entre a plebe: o chamado
Moretum, cujos principais ingredientes eram
queijo de ovelha, aipo, cebola e vinho.
• Este prato mereceu um célebre poema com o
mesmo nome.
• Atribuído precariamente a Vergílio, como um
dos poemas de sua juventude, o Moretum é a
narrativa de um camponês que, ao levantar-
se pela manhã, prepara, com sua escrava
africana, a própria refeição. Trata-se de um
pão chato, sem fermento, sobre o qual são
espalhados queijo seco, alho, ervas diversas e
azeite.

Requeijão. Pintura Mural Templo de Ísis. Pompeia


UM POEMA: Moretum

[Símulo] «tinha adentrado a horta; e em primeiro lugar, afundando quatro dedos na terra revolta, retira com
leveza uns alhos e suas fibras espessas. Daí, com uma linha fina, arranca os pequenos ramos do aipo, a arruda
molhada e o coentro que treme. No lugar onde os colheu, sentou-se alegre ao fogo e pediu com voz clara um
pilão à escrava. Então retira uma a uma as folhas de seus ramos, despe as vagens de suas cascas, e as
abandona espalhando os restos ali pelo chão, lava no tanque de pedra os bulbos selecionados, deixando
escorrer, através de uma abertura, a água pela relva; salpica a porção com uma pitada de sal, que se
acrescenta também ao queijo rústico e acaba sobre ditas ervas, e enquanto com a mão esquerda segura sua
veste sob a perna de pelos eriçados, a direita mói com o soquete, primeiro outras ervas, depois mói tudo por
igual na mesma seiva. A mão mantém o giro: aos poucos a mistura perde as próprias características, e dentre
todas resulta uma só cor, nem verde de todo, pois as porções de queijo não o permitem, nem brilhante como
o leite, porque já muito modificada pelas ervas. Às vezes o odor amargo alcança-lhe as narinas e este
condena sua refeição com uma careta, às vezes esfrega com a mão os olhos lacrimejantes e, furioso, insulta o
odor inocente. O trabalho avançava (…) Então finalmente circunda todo o prato com dois dedos e junta as
partes distantes ao conjunto, para que o resultado obtenha a aparência e o nome de moretum (v. 85-116).
Atribuído a Vergílio
AS BOLACHAS DE QUEIJO E MEL
• Os pastéis romanos, assim como
as bolachas, costumavam conter
queijo e mel, como adoçante, e
adquirem o nome de placenta.
• A palavra placenta vem do latim
e significa ‘pastel folhado’.
• Placenta era também uma torta
redonda, constituída com vários
Mosaico procedente de Cartago discos de massa, recheados de
queijo, mel, ervas ou frutas.
ALGUNS ALIMENTOS: o azeite
• Sobre o azeite, existem inúmeras
referências, como as de Plínio - «Há
também azeitonas muito doces que se
secam por si, mais doces que uvas
passas; são bastante raras e produzem-
se na África e próximo de Emérita, na
Lusitânia», Plínio, NH, XV, 17.

• Este autor latino refere que a Bética


obtinha as suas mais ricas colheitas das Trapetum ou mó de azeite Museo de
Boscoreale
oliveiras e que o solo cascalhoso era
muito apto para plantar olivais.
O MEL
O mel é citado em inúmeras fontes clássicas, e
era usado para fins medicinais, como
condimento, ou mesmo comido ao natural.
Segundo Plínio (Plínio NH XI), as abelhas fazem
cera com as flores das plantas, exceto algumas;
«é erróneo exceptuar o esparto, pois na
Hispânia há muitos meles que procedem de
espartos e têm gosto a esta planta. Julgo
igualmente engano esquecer a oliveira, porque
é certo que a abundância de oliveiras favorece
a multiplicação dos enxames», Plínio, N.H., XI e
XXI, 74.
Estrabão diz-nos que «Da Turdetânia exporta-
se trigo, muito vinho e azeite; este, para mais,
não só em quantidade, como de qualidade
insuperável», bem como «cera, mel, pez». Estr.
III, 2, 6.
ALGUNS ALIMENTOS
• Em Apício, na sua obra De Re Coquinaria, são
referidas inúmeras receitas com porco,
centrando-se aliás a maioria delas neste
alimento. Poderíamos ainda referir o
faustoso Banquete de Petrónio, onde o
porco recheado tem marcada a sua
presença.
• Em contrapartida, os legumes eram
utilizados nos pratos vulgares, tal como as
couves. Em grande parte eram cultivadas
nos jardins, sendo apenas minoritariamente
adquiridas nos mercados. Mas a couve era
usada com fins digestivos.
• Também a abóbora era muito consumida e
só Apício refere 9 receitas.

1 - Porca alimentando os filhos. Proveniente da colina do Viminal em Roma. Museu Vaticano.


Fotografia obtida de: https://www.facebook.com/pages/Traianvs-Ingenier%C3%ADa-
Romana/151487124895824
2 – Mosaico de homem com leitão na mão. Museu Monográfico de Conímbriga.
ALGUNS ALIMENTOS:
as fontes escritas e arqueológicas
• Na sua obra, Apício dá-nos também
conta do uso do vinho como
tempero em múltiplas receitas,
lembrando que se confecionavam
omoletes, entre as quais destacamos
uma feita com espargos, vinho, alho,
pimenta, azeite e liquamen.
• Mas podemos ainda ver uma receita
levando pêssegos, pimenta,
cominho, menta, aipo, coentro,
poejo, tâmara, mel, vinho, liquamen,
azeite e vinagre.
Mosaico com representação de peixes e espargos (Museums Rome-
Mosaico de Lod (Lida), Israel. Detalhe. Família de Lácio )
perdizes. Mosaico com representação de pato . Século III d.C. Piazza della
Stazione Termini, RomaMosaico com representação de pato . Século
Mosaico com representação de perdizes. Carrenque, III d.C. Monte della Giustizia in Piazza della Stazione Termini, Roma.
Córdova. Museo Arqueológico National de Madrid. ttps://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mosaic_ducks_Massimo.jpg
.
ALGUMAS RECEITAS DE APICIUS
Numa das suas receitas, SALA CATTABIA,
assim é referido por Apicius:

“pimenta, hortelã, aipo, poejo seco, queijo,


pinhões, mel, vinagre, liquamen, gemas de
ovo, água fresca. Escorra o pão demolhado
em água avinagrada, ponha numa panela
com queijo de vaca e pepinos, alternando
com pinhões. Deite alcaparras bem
cortadinhas com fígados de galinha. Regue
com o molho, coloque sobre um recipiente
com água fria e sirva assim” Apício. De re
coq., 4.1.1).
ALGUNS ALIMENTOS

“Apanhe os caracóis, limpe-os com uma


esponja, retire-lhes a membrana para
poderem sair. Deite-os num recipiente
com leite e sal durante um dia, apenas
leite nos dias seguintes, e limpe de hora a
hora a sujidade. Quando estiverem
gordos de modo a não entrarem na
concha (…) frite-os em azeite. Junte
garum de vinho. Podem ser igualmente
engordados com papas.”
Apício. De re coq., 7.14.1). In Livro de Cozinha de
Apício – Um breviário do gosto imperial romano, Detalhe de mosaico paleocristão, século IV d.C., Basílica Patriarcal de
Inês de Ornellas e Castro. Relógio d'Água, 2015 Aquileia, Itália.
Fotografia: https://www.pinterest.pt/pin/363595369898284541/
ALGUNS ALIMENTOS: Abóbora
ALGUMAS RECEITAS DE APICIUS COM
LIQUAMEN
Numa das suas receitas, SALA CATTABIA,
assim é referido por Apicius:

“pimenta, hortelã, aipo, poejo seco, queijo,


pinhões, mel, vinagre, liquamen, gemas de
ovo, água fresca. Escorra o pão demolhado
em água avinagrada, ponha numa panela
com queijo de vaca e pepinos, alternando
com pinhões. Deite alcaparras bem
cortadinhas com fígados de galinha. Regue
com o molho, coloque sobre um recipiente
com água fria e sirva assim” Apício. De re
coq., 4.1.1).
O VINHO:
as fontes escritas (Políbio)

Passum

• É um vinho de passas (Vinho de Uva-Passa), muito


doce, supostamente originário de Cartago, e foi usado
pelos Romanos como molho adoçante nos seus
alimentos.

• O autor grego Políbio referia-se-lhe do seguinte modo:


"entre os romanos as mulheres estão proibidas de
beber vinho, e podem beber o que é chamado
passum".
(Políbio, Histórias , Fragmentos, 4.6.2)
Copo. Vidro. Época Romana, século I d.C.
Necrópole da Rua da Lavoura, Beja. Fotografia: Miguel Serra
O VINHO:
as fontes escritas (Apício) e arqueológicas

Vindima e prensa das uvas. Mosaico da Igreja de Santa Constança, Roma. Século IV
O VINHO:
as fontes escritas (Apício) e
arqueológicas

Ânfora bética Haltern 70 de Cerro da Vila


O VINHO: Fontes Arqueológicas

Erotes, aqui representados como mercadores de vinho, ilustram Erotes procedendo à degustação do vinho, garantindo desse
a fase final da produção do vinho, verificando se se encontra em modo a qualidade do produto.
condições de ser vendido. Casa de Vettii, Pompeios. Casa de Vettii, Pompeios
A ALIMENTAÇÃO: Fontes Arqueológicas e escritas
“Todos os montanheses são frugais: bebem só
água, dormem no chão….”
“Os montanheses durante dois terços do ano
alimentam-se de lande de carvalho. Secam-nas,
trituram-nas, moem-nas e fazem com elas pão
que pode guardar-se durante muito tempo.
Bebem também cerveja. Vinho, Têm falta dele, e o
pouco que logram, rapidamente o consomem nos
banquetes…”
“Em vez de azeite, usam manteiga.”
(ESTRABÃO, III, 3, 6-7)
Sítula de bronze decorada com Erotes vindimando.
Procede da antiga Nertobriga (Fregenal de la Sierra,
Badajoz).
Museo Arqueológico Provincial de Badajoz.
Fotografia José Manuel Jérez Linde
O VINHO e o serviço de mesa

1 - Vasilhame para vinho, Museu Nacional de Arte Romano, Mérida


A CERÂMICA DOMÉSTICA E AS ÂNFORAS
• Os romanos fabricavam objetos em cerâmica
com várias utilidades: havia a cerâmica comum
de mesa, cozinha e despensa destinada a servir,
cozinhar, armazenar e transportar, como pratos,
vasos, taças e garrafas
• No Forno romano da Quinta do Rouxinol foi
possível identificar o fabrico de pratos, tigelas,
jarros, potes, tachos, muito possivelmente
destinados às populações locais, para a
preparação, consumo e acondicionamento de
alimentos.
• Por sua vez, as ânforas destinavam-se a
ser enchidas com conservas de peixe, vinho e
azeite.

Fotografias a partir de:


http://histgeo6.blogspot.pt/2012/12/olaria-romana-da-quinta-do-rouxinol-2.html
Bibliografia elementar sobre a alimentação:

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ANDRÉ, Eduardo, Um Banquete Romano

https://historiasderoma.com/2019/05/08/um-banquete-romano/
V.V.A.A. (1984) «À Table avec Cesar», Paris.
BUSTAMANTE, Regina Maria da Cunha, Culinária na Roma Antiga, Além da Alimentação.
http://www.academia.edu/945376/Alimentacao_uma_abordagem_social_e_cultural_do_Egito_Antigo_Food_a_social_and_cultural_approach_of_Ancient_Egypt
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/29146/000775928.pdf?sequence=1
Bibliografia Elementar BUSTAMANTE, R. M. da C. (2005) Banquete romano, comensalidade em tempo de Paz. ANAIS SUPLEMENTAR DO XXIII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA. Londrina, 17- 22/7/2005 – História:

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DESERTO, J. MARQUES (trads.), Estrabão. Geografia, livro III, S. l.: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, p. 37.
RAMOS, Javier, De bares por la Roma antigua, La vida en la antigua Roma
http://historiantigua.cl/wp-content/uploads/2011/07/Apicio-Cocina-Romana-Bilinge.pdf
DIAS, Paula Barata, SOARES, Carmen, (Coord.) Contributos para a história da alimentação na antiguidade. IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA.
https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/29982/6/5-Contributos%20para%20a%20hist%C3%B3ria%20da%20alimenta%C3%A7%C3%A3o%20na%20antiguidade.pdf?ln=eng
EURÍPEDES, As Bacantes, Clássicos Inquérito. Ed. Nº 16 105/0016
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https://www.ucm.es/data/cont/docs/106-2017-05-02-10.%20Gomez%20Martin.pdf

ORNELLAS E CASTRO, Inês, Livro de Cozinha de Apício – Um breviário do gosto imperial romano, Inês de. Relógio d'Água, 2015
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https://www.academia.edu/35953174/O_queijo_e_a_alimenta%C3%A7%C3%A3o_em_Roma
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http://civilizacaoeambiente.blogspot.pt/2011/01/um-pouco-sobre-gastronomia-romana.html
FRAGA DA SILVA, Luís, Preceitos dos agrónomos latinos sobre as villas rurais. Comentários sobre a villa rural romana ideal.
A propósito de uma leitura dos agrónomos e arquitectos latinos
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https://revistas.ufpr.br/clio/article/view/41733/29309
Bibliografia Elementar: V.V.A.A,, Convivium: el arte de comer en Roma (1993). Associacion de Amigos del Museo – Mérida.

Sobre o Azeite:
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https://www.academia.edu/5292474/O_AZEITE_DA_BAETICA_NA_LUSITANIA, Conimbriga, 1993-1994.
FUNARI, . Pedro Paulo A. E GARRAFFONI, Renata Senna, Alimentação, História e Arqueologia, consumo de azeite em Roma.
https://www.academia.edu/10493034/Alimenta%C3%A7%C3%A3o_Hist%C3%B3ria_e_Arqueologia_consumo_de_azeite_em_Roma

Sobre o Vinho:
BERNARDES, João Pedro e OLIVEIRA, Luís Filipe, À descoberta do Vinho
2006, CCDRAlgarve.
Disponível em: https://www.ccdr-alg.pt/…/cc…/files/publicacoes/vv_livro.pdf
FABIÃO, Carlos, 1998, O Vinho na Lusitânia: reflexões em torno de um problema arqueológico. Revista Portuguesa de Arqueologia. Volume I, Número 1.
https://www.academia.edu/1922737/O_vinho_na_Lusit%C3%A2nia_reflex%C3%B5es_em_torno_de_um_problema_arqueol%C3%B3gico
LE GUENNEC, Marie-Adeline , 2017, Les femmes et le vin dans la Rome antique. Bilan documentaire et historiographique.
https://hospitam.hypotheses.org/621
GONÇALVES, Carlos; NUNES, Manuel; SOUSA, Luís, O vinho na antiguidade clássica
Alguns apontamentos sobre Lousada. OPPIDUM. Número 1 - 2006
• Sobre o Pão:

• AZCOYTIA, Carlos, Historia del pan en Roma, https://www.historiacocina.com/es/historia-del-pan-en-roma


https://www.historiacocina.com/es/historia-del-pan-en-roma
CAPEL, José Carlos, “Roma o los antecedentes de la panaderia actual” in Convivium: el arte de comer en Roma (1993). Associacion de Amigos del
Museo – Mérida. Pp 175-184)
• Sobre o peixe :
BERNARDES, João Pedro. “Sal e Pesca no Algarve Romano”. Embarco. Revista de Estudos Marítimos de Algarve. Museu Municipal de Olhão. 2015.
https://www.academia.edu/30450265/Sal_e_Pesca_no_Algarve_Romano
RIGUEIRAS, Lourenço. A pesca na Antiguidade: o caso de Monte Molião (Lagos). Tese de Mestrado. Universidade de Lisboa. 2011
https://repositorio.ul.pt/handle/10451/3731?mode=full
GURGEL PEREIRA, Ronaldo Guilherme. As Oficinas de Preparados de Peixe da Lusitânia: arquiteturas e dinâmicas econômicas da sua produção (séculos I –
VI d.C.). Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Arqueologia, realizada sob a orientação
científica do Prof. Dr. José Carlos Quaresma e co-orientação da Profª Drª Maria Helena T. Lopes
El Salmonete, Rey de las Mesas Romanas.
http://abemus-incena.blogspot.com/2018/08/el-salmonete-rey-de-las-mesas-romanas.html
https://domus-romana.blogspot.com/2016/04/pisces-in-mensa-el-pescado-como.html
• Sobre o Garum:
FABIÃO, Carlos, Garum na Lusitania Rural? Alguns Comentarios sobre o Povoamento Rural do Algarve.
https://www.academia.edu/4232510/GARUM_NA_LUSITANIA_RURAL_Alguns_Comentarios_sobre_o_povoamento_romano_do_Algarve

• Sobre o Queijo
JOLY, O Moretum, a escravidão e o Principado. Romanitas – Revista de Estudos Grecolatinos, n. 4. 2014: 75-89.
https://www.repositorio.ufop.br/bitstream/123456789/5548/1/ARTIGO_MoretumEscravid%C3%A3oPrincipado.pdf . Acedido a 10.10.2021.
Através de muitos outros escritores da Época Romana como Catão (séculos III – II a.C.), Varrão ( 116 a.C. – 27 a.C.), autor De re rustica; Apício, o célebre

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