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FRUTAS NATIVAS

Bel Coelho ensina


como usá-las

CERVEJA
DE ABÓBORA
Ótima para
climas amenos

BOLO DE
ABELHA
Mel, especiarias
e muito conforto

FELIPE BRONZE
A comida casual
do chef da TV

Peixe vivo
ANO II · 2019 · Nº 28 · R$ 18,00 · € 4.00

A essência do
chef André Mifano:
“Pescar, cozinhar
e respeitar”
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A produção da Zalto é totalmente artesanal, sendo cada peça única. Sopradas, moldadas e meticulosamente inspecionadas, as taças
são feitas pelos mais qualificados sopradores de vidro que trabalham somente com as melhores matérias-primas. O resultado são
taças que proporcionam uma experiência sensorial que beira à perfeição.

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Chef
Sabor.club,
um grande
chef por mês,
toda edição.

www.sabor.club
desde dez’ 2016
= EDITORIAL =

DIREÇÃO
PUBLISHER
Christian Burgos – christian@innereditora.com.br

DIRETORA DE OPERAÇÕES

, Christiane Burgos – christiane@innereditora.com.br

DIRETOR EDITORIAL
Robert Halfoun – robert@sabor.club

o manifesto: CONSELHO EDITORIAL


Christian Burgos, Miguel Cui Filho,
Paulo Bueno, Robert Halfoun

• Nós comemos ARTE


DIRETOR DE ARTE
• Nós bebemos Ricardo Torquetto – ricardo@innereditora.com.br

• Nós cozinhamos ASSISTENTE DE ARTE


Aldeniei Gomes – arte@innereditora.com.br

• Nós viajamos (para comer) FOTO DE CAPA

• Nós conversamos (também sobre comida) Marcus Steinmeyer

PUBLICIDADE
• Nós acreditamos que comer é uma das grandes publicidade@innereditora.com.br

maravilhas da vida – e viva a boa mesa! +55 (11) 3876-8200 – ramal 11

COLABORADORES
Ana Rita Martins, Luisa Mattos, Matheus Vieira, Thiago
Lotufo (texto) Henrique Peron, João Masini, Marcus
Steinmeyer, Tomás Rangel (foto)
FICAM A SAUDADE E A HOMENAGEM. Saudade de encontrar a D.Zenaide
REPRESENTANTES COMERCIAIS
Raw, a Dona Z, toda vez que a gente sentava numa das mesinhas do Renato Scolamieri – renato@rscola.com.br
agradável Z Deli, na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, em São Paulo. Carminha Aoki – carminhaaoki.adegasabor@gmail.com

Não falhava, até os 88 anos, quando partiu cerca de um mês atrás, lá RIO GRANDE DO SUL/SANTA CATARINA
Sônia Machado – sonia@vistamontes.com.br
estava ela, comandando o caixa, circulando entre a freguesia. E conversava.
Tinha tiradas geniais e uma desenvoltura de dar gosto. Certa vez, como todo INTERNATIONAL SALES
Estados Unidos
mundo, escolheu o que iria comer na atraente vitrine da casa que introduziu Inner Publishing – sales@innerpublishing.net
a verdadeira culinária judaica na capital paulista, faz 40 anos. E, enquanto Marketing – marketing@innereditora.com.br

a comida era aquecida, pediu uma água mineral e indicou para uma das FINANCEIRO
financeiro@innereditora.com.br
atendentes onde iria sentar. Então, foi até a cozinha ver alguma coisa.
Quando voltou, encontrou a funcionária com a bandeja em mãos e os PRODUÇÃO
Baunilha Editorial
olhos arregalados. Congelada. A mesa que havia escolhido fora ocupada –
embora houvesse a indicação que estava reservada. Ela foi até a posição, ASSINATURAS
assinaturas@innereditora.com.br
sorriu, comprimentou a moça que ali estava sentada e dirigiu-se a garçonete: +55 (11) 3876-8200
“Aqui, a casa é dos meus amigos”. Distribuição nacional pela Total Express

A D.Lucinha não era diferente. Foi uma desbravadora, até nos deixar um ASSESSORIA JURÍDICA
Machado Rodante Advocacia
dia antes da redação desta carta. Maria Lucia Clementino Nunes, cresceu na www.machadorodante.com.br
região do Serro, em Minas. Comeu bem a beça, como povo das redondezas,
FALE CONOSCO
e foi investigar fundo a cultura e a culinária mineiras. Colocou tudo num INFO@INNEREDITORA.COM.BR
bufê memorável, que cuidava de perto, em cada restaurante que abriu, em +55 (11) 3876-8200

Belo Horizonte e depois em São Paulo. IMPRESSÃO


Nos anos 1990, na capital paulista, ela era quem explicava o que era cada EGB – Editora Gráfica Bernardi

iguaria servida e induzia o freguês a provar o que ele não conhecia. “Come isso DISTRIBUIDOR EXCLUSIVO PARA O BRASIL
Distribuição nacional pela Total Publicações
aqui, meu filho. Ah, está uma delícia...” Nos ensinou a valorizar o que é nosso,
foi uma precursora da brasilidade orgulhosa que hoje temos nas nossas mesas. Revista SABOR.CLUB é uma publicação
mensal da INNER Editora Ltda.
O chef mineiro Eduardo Maya declarou com propriedade ao jornal O Tempo,
de BH, em depoimento sobre a morte da mestra: “Hoje vai ter torresmo no céu”. A Inner Editora não se responsabiliza por opiniões,
ideias e conceitos emitidos nos textos publicados
Com charosset de frutas secas para sobremesa. e assinados na revista Sabor.club, por serem
de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

Robert Halfoun e Christian Burgos WWW.SABOR.CLUB


NESTA EDIÇÃO
A quinta das delícias
Restaurante faz comida do campo à mesa,
nas montanhas capixabas

12
Porcos com asas
A nossa tradicional carne na lata
sai de Goiás para o mundo

14
Bel Coelho
Em novo cardápio, chef ensina
a usar frutas nativas

22
Marcia Garbin
Como surgiu a grande especialista brasileira
na produção de gelatos

28
Bolo de abelha
Mel, especiarias e muito sabor

34
Gosto de preservar
O sítio que cultiva e garante a existência
das nossas frutas nativas

35
André Mifano
A essência do chef: pescar, cozinhar
e respeitar os produtos

36
Belas artes
Os pôsteres que ajudaram o mundo a descobrir
grandes destilados e fermentados

44
Sheila Mann
Ela usa a comida para promover
a paz entre judeus e palestinos

50
Thom York e o vinho
Autor do guia Descorchados explica
qual é a relação de um com o outro

57
Sei Shiroma
O rigor, a precisão e a boa comida
do millennial que faz

64
Tremor na língua
Você precisa conhecer o versátil licor
que dá a maior onda nos drinques

71
Milton Nascimento
A canjica do Clube da Esquina

76
COMER FORA
por Robert Halfoun

3
io Quin
tór
Nesse dia dos Namorados, desfrute

Fac

tal
Sã com seu Amor o Aroma e Sabor
o P o –S

P
aul novos menus inigualável deste vinho Orgânico,
de chef envelhecido por 3 meses em barrica.

Safra 2015
1 EVVAI, SP– O chef
Luiz Filipe acaba
de lançar um novo
Tostadas no quintal menu-degustação, o
Oriundi. Nele, explora as
Que delícia é o jardim da loja
da Adriana Barra! influências da imigração
italiana para cá,
Quer me fazer feliz? Me coloca num quintal gostoso, estabelecendo paralelos
com gente bacana, comida boa e uma bebidinha. interessantes entre
Assim é o Factório Quintal, no jardim da gostosa Brasil e Itália.
loja da Adriana Barra, em São Paulo. O lugar é
uma delícia. Colorido, bem ao estilo das roupas da
estilista, alto astral. Da cozinha saem comidinhas o
dia todo, do pão na chapa, para o café da manhã ao
ótimo. No almoço tem apenas dois pratos que variam
sempre. Os destaques aqui, no entanto, são tostadas
e os sandubas. Muito ricos. Muito bem apresentados.
Muito gostosos. A maioria em sourdough de
qualidade. A Regador tem queijo de cabra, pimentão
assado e folhas de beterraba. Tudo pingadinho com a
2 FASANO AL
MARE, RJ – O chef
toscano Nicola Fedeli põe
degastada redução de balsâmico que, às favas com o mais frutos do mar no
preconceito!, aqui fica bom a beça. cardápio. Agora são 15
Para beber, a carta de drinques é do Alê pratos que assumem a
D’agostino, um cara cheio de referências, que dá vocação “ao mar” sugerida
pitadas legais em bases clássicas. E não erra. no nome da casa.
O Factório Quintal fica aberto até as 22h
(domingo até as 16h).
Rua Haddock Lobo, 1077, Jardins, São Paulo – SP.
Tel.: (11) 3064-4712

A junção das uvas Tempranillo,

Sobe 3 ANIMA MEA, SP –


De segunda a quarta,
o chef peruano Alex
Graciano e Merlot, faz com
que este vinho seja excepcional,
McGregor serve menu
KO BA IZAKAYA, RJ de nove tempos, num
macio e redondo.
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verdade e carta com 20 rótulos de saquê. contemporânea feita Chácara Santo Antônio - São Paulo
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DELICATESSEN

A quinta das delícias


Chef americano no Espírito Santo faz comida do
campo à mesa – e que campo, e que mesa!

No meio das montanhas capixabas, esconde- como da hortinha com feijões, pepino-melancia,
se um refúgio gastronômico com jeitinho de tomate-cereja, abobrinha amarela e tanta coisa
interior da França. É friozinho o ano inteiro – linda que vai para a panela.
são 1.200m de altitude! E lá tem horta e granja A Quinta dos Manacás é uma propriedade
que servem pratos e menus degustação de alta de quatro alqueires, próxima a BR-262, que liga
gastronomia. É a Quinta dos Manacás, um Vitória a Belo Horizonte. A dona, Cida Gomes,
verdadeiro paraíso na região da Pedra Azul, com decidiu abrir a porteira primeiro para família e
cenários belíssimos, tanto dos campos floridos amigos, até que em 2016 escolheu inaugurar

12 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
O chef
americano
Duaine
Clements faz
dois menus:
um sete e
outro, ainda
mais autoral, Friozinho
de nove
cursos gostoso
Quinta ganha
pousada no
inverno

O clima geladinho
da montanha vai
ǻGEVEGSRGLIKERXI
na Pousaa da
Quinta. Bolada
com o mesmo
GLEVQIIVMKSVHS
VIWXEYVERXIƸ:EM
WIVYQEHIP¸GME
TEVEHSVQMVXSHS
HMEHIIHVIHSQƹ
*XEQF³QǻGEV
ªZSRXEHIWIQ
JE^IVREHE4YTEVE
GEQMRLEVQI\IV
RELSVXEIXEQF³Q
EGSQTERLEVE
TVSHY±­SHIE^IMXI
UYIGSQI±EEWIV
JIMXEEPM4XIVVIRS
também ganhou
um restaurante para receber o público. Sonho raio de 50 quilômetros da Quinta. “Aqui só ZMHIMVEW
antigo, Cida? “Que nada! Olhei ao redor e vi que temos hortifrutigranjeiros, mas ao redor temos :MR¸JIVEWUYI
era importante dividir a beleza desse lugar onde fornecimento de novilhos e de coelhos”, explica HEV­SSVMKIQE
YQZMRLSPSGEPRS
vivo com outras pessoas. Quando me aposentei, o chef. Tem galinha d’angola, broto de milho JYXYVS
percebi que seria uma oportunidade, já que verde, e outros insumos que gritam “comida do
sempre fui meio vegetariana e tinha uma horta interior”.
sem venenos. Aqui alimentamos corpo e alma.” A outra opção, em nove tempos, é o menu
A ideia ganhou corpo quando a proprietária do chef, em que Duaine deixa mais evidente a
conheceu o chef americano Duaine Clements, sua assinatura. “Essa opção é mais elaborada,
nascido no Colorado e radicado em Nova com ingredientes do Brasil inteiro. Temos
York – ele já trabalhou com lendas da cozinha chocolate da Bahia, frutos do mar vindos
francesa como Joël Robuchon e Jean-Georges de Vitória e cogumelos porcini que provei
Vongerichten. Ele morava por aqui fazendo recentemente no Rio Grande do Sul.” Como
jantares cerimoniais, já que a família da esposa quem rege a mesa é o que sai da terra, o
brasileira mora na região. Ele diz: “Tive carta cardápio muda rigorosamente toda semana.
branca para fazer o que acredito. E tem dado “O que não muda é a excelência”, garante o
muito certo”. cozinheiro.
Os quitutes podem ser saboreados à la carte
ou em dois formatos de menu degustação. Quinta dos Manacás – O restaurante recebe para
O das montanhas é servido em sete tempos, almoços às sextas, sábados, domingos e feriados,
e tem apenas ingredientes encontrados no das 11h30 às 17h.

Sabor club
. [ ed. 28 ] | 13
Produto

Porcos com asas


Goiano astuto transforma a receita de carne na lata
da família em negócio. E começa a ganhar o mundo
por Ana Rita Martins

Desde moleque, o jovem rapaz fez um perfil para vender a


empresário Heittor Valladares, carne na lata nas redes sociais e
20 anos, era fã de carne suína em poucos dias já tinha recebido
enlatada, feita à moda antiga. A 40 pedidos.
receita, que chegou ao Brasil com Correu para aprontá-los e
os imigrantes europeus, já foi entregá-los, mas ainda de forma Via aérea
muito popular de bastante #amiódupraneta.
É com esse
norte a sul, mas mambembe.
slogan que o
foi se perdendo Ele não tinha porco na lata
ao longo do nenhuma vai decolar
tempo com a estrutura física
popularização dos ou mesmo O marketing
digital é peça
refrigeradores. O fornecedores
chave para o
segredo do sucesso o de confiança. porco na lata
da iguaria é que a Mas, diante o Empório
carne é preparada do sucesso Fazendão. E
ele vem sendo
e também instantâneo,
feito pelo Daniel
conservada o rapaz Arpigio, sócio
na banha de percebeu que do negócio, de
porco, como no sua intuição apenas... 17 anos!
passado, antes do estava certa A estratégia
ajudou no
eletrodoméstico e começou crescimento de
existir. E como a culinária a trabalhar duro para 260% no último
francesa ainda faz, o confit. profissionalizar a ano. Agora vem
No entanto, o prato ainda brincadeira e criou o fábrica grande
em Anápolis e a
resiste nas casas de muitos Empório Fazendão. Hoje exportação de
brasileiros, principalmente os são 6 mil latas produzidas 20 mil latas do
que moram em regiões mais interioranas, que mensalmente, entre os três cortes suínos produto.
costumam manter acesa certas tradições por disponíveis: lombo, costela e pernil. No
mais tempo, principalmente processo de fabricação, a carne é cortada e
tratando-se de comida. imersa em tempero durante um dia completo,
É o caso da família do Heittor, em em seguida é frita durante cerca de três horas,
Porangatu, no interior do Goiás. Com faro de até que perca totalmente a água. “A friturara
empreendedor desde muito cedo, ele resolveu acontece na própria banha do porco,
transformar a iguaria em negócio, começou a que tem propriedades que garantem a
produzir em maior escala e decidiu arriscar – total conservação da carne na lata por
ainda que de forma despretensiosa. cerca de seis meses”, explica Heittor,
Em 2017, quando tinha apenas 18 anos, o que atualmente é o CEO da empresa.

14 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
A reconhecida vinícola chilena
Arboleda agora está na World Wine

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– Almanaque –

9
As propagandas então
defendiam que a Hellmans

“A verdadeira era prática, não desandava


e podia ser guardada no
próprio pote. Mais do que

maionese”
Até os anos 1960, ela era
isso, dava origem a pratos
que iam muito além da
salada de batata.

sinônimo de salada de batata!


10
Então surgiram os livros
GSQJSXSKVEǻEWPMRHEW
de canapés, sanduíches

1
frios e da clássica torta feita
A história da maionese mais famosa
com pão de forma inteiro,
do mundo nasce, em Nova York,
cortado longitudinalmente com
pelas mão do alemão Richard

6
maionese, geleia e presunto
Hellmann e da sua Hellmann’s Ele voltaria para Nova ou algum
Delicatessen, que vendia saladas, York na embarcação, tipo de peixe
guarnecidas com um tal “molho quando mudou de processado,
maionese” feito pela sua mulher. ideia e resolveu seguir como atum e
num navio menor, que sardinha.
chegaria ao destino

2
O sucesso foi tanto que mais rápido.
ele começou a envasar

7
o tal molho que era
vendido para ser usado Hellmann tinha
como manteiga. muito o que fazer
na América, onde
lançara grandes

3
campanhas de
Na época, comecinho do século
marketing, que
SYWSHIXV´WǻXEWE^YMWIQ

11
incluiam receitas
embalagens era sinal de produtos As publicações,
atraentes como
de excelência. E claro, Hellman distribuídas
produtos.
colocou as tiras na sua maionese. gratuitamente nos
supermercados, viraram

8
objeto de desejo e hoje

4
Foram as viraram ítens de colecionador.
O processo industrial receitas,
de fabricação vem aliás, que

12
em seguida: devido a popularizaram
Je parle español demanda, a distribuição *EǻREPUYEP³SWIKVIHS
Dita como francesa, a maionese “a verdadeira
com bicicletas e carrinhos da “verdadeira maionese”?
maionese”, no
teria origem na Espanha HIQ­SGLIKEESǻQI Em concurso, nos anos
Brasil. Nos anos
as entregas passam a 1920, no qual três importantes
1756, ilha de Menorca, Espanha: o 1960, maionese
serem feitas de caminhão. chefs franceses indicam a
I\³VGMXSHI2ELSRS)YUYIHI7MGLIPMIY era sinônimo
celebrava a tomada do porto. E, na falta Pequenas fábricas da marca como a mais saborosa
de salada de
de creme de leite para as receitas, o maionese começam a para fazer molho de salada,
batata, como
cozinheiro da tropa utilizou um molho fabricar o produto por toda análises revelaram que a
creme de ovos
com ovos e óleo bem emulsionados. os Estados Unidos. mágica se faz nos 84% de óleo
e óleo feito em
Ficou tão bom que decidiu batizá-lo que compõem o produto.
numa homenagem ao líder da casa, sempre.
tropa: mahonnaise.
-«UYIQHMKETSV³QUYIQIWXVIGYGE
aprendera a receita com os caiçaras
locais, espanhóis por supuesto.

5
E se os americanos adoravam
o produto, os europeus
fariam o mesmo, certo?
E lá foi Hellman para a
Ai, meu Deus!
Em 2014, espalhou-se nas redes sociais a notícia de que
Europa, quando quase o pastor Waldemiro Santiago, líder da Igreja Mundial, teria
virou estatística no trágico TIHMHSUYIWIYWǻ³MWTEVEWWIQHIGSRWYQMVEQEMSRIWI
naufrágio do Titanic. TSVUYI-IPPQERRƶWWMKRMǻGEVMEƸLSQIRWHSMRJIVRSƹ

1616| |Sabor
Saborclub
.club[
. [ ed.
ed. ] ]
28 28
Para
comer com
os olhos
Vegetais na mesa
Obras para ler e esquecer que existe picanha – pelo menos por
algumas centenas de páginas

Biblioteca
básica

Six Seasons – a
new way with
Fermented vegetables
Vegetables Joshua McFadden
Kirsten e Christopher (Artisan, R$ 107)
Shockey (Storey, R$ 73) Está na penúltima
Quem guarda tem. Esse página. P.S.: não
é um dos preceitos da Vegan On vegetables compre tomates no
arte da fermentação, Gena Hamshaw Jeremy Fox inverno. A advertência,
que transforma (10 Speed Press, R$ 84) (Phaidon, R$ 178) Jamie em casa feita pelo autor, faz
alimentos frescos em A turma do site “Já comi grandes Jamie Oliver (Globo, R$ 50) todo sentido: tomates
conservas que podem americano de pratos protagonizados Jamie Oliver ganhou no inverno têm mais
ser utilizadas em gastronomia Food52 é por vegetais no o mundo a bordo de ou menos o mesmo
épocas de escassez. daquelas que capricha mundo todo, mas sua lambreta, fazendo gosto que o chuchu é
A essência deste livro em serviço. Gena, que ninguém mudou programas de tevê, capaz de proporcionar
não foge à regra: mantém uma coluna minha visão sobre abrindo restaurantes, o ano inteiro. Joshua,
receitas criativas para no site sobre o novo esses ingredientes ensinando os jovens como dá para perceber,
fermentar 64 vegetais veganismo, escreveu como Jeremy”. A ingleses a comer direito, é defensor ardoroso do
e ervas em krauts, esse livro não somente afirmação vem do lançando centenas local e sazonal.
kimchis, pickles, para essa comunidade celebrado chef popstar de produtos e, claro, Em seu primeiro
chutneys, relishes e específica como também David Chang e revela escrevendo dezenas de livro, ele aborda o
pastas. Escrito por um para os onívoros em a importância de livros. Jamie em casa é reino vegetal de forma
casal de fazendeiros geral. Há receitas para o Fox nas pesquisas mais um deles, mas não didática e abrangente
do Oregon, nos EUA, café da manhã, como um sobre o mundo dos qualquer um. A edição, com receitas e textos
ensina os princípios bolo de tâmaras, e snacks, vegetais. Ele fez com 400 páginas, é específicos sobre alguns
da fermentação e como chips de kale (um fama no restaurante caprichada, com fotos vegetais. Em tempo:
fornece uma lista tipo de couve). Sugestões vegetariano Ubuntu, e ilustrações. O mais para o chef, o verão se
de equipamentos de sopas, saladas, pratos no Vale do Napa, bacana, porém, é a divide em três estações
básicos. Em suas principais e sobremesas na Califórnia. Em divisão por estações do distintas. Assim, o ano
quase 400 páginas, os também fazem parte seu livro de estreia, ano, tanto de receitas teria seis estações
dois mostram passo a da obra. A edição, um o chef, que não é como de ingredientes: e não somente as
passo como acertar no pouco menor e mais vegetariano, apresenta aspargos, na primavera, habituais quatro.
kimchi e sauerkraut e fina que os tradicionais 75 receitas autorais e beterrabas no verão,
explicam, de a até z, livros de cozinha, é ótima 75 preparos para se cogumelos no outono
as características de companhia para ser ter na despensa. Leia e abóboras no inverno.
fermentação de cada folheada em qualquer e esqueça que existe Bravo, Jamie!
vegetal. lugar. picanha – pelo menos
por algumas centenas
de páginas.
18 | Sabor club. [ ed. 28 ]
O grande evento de vinhos do ano.
Os melhores vinhos do mundo,
apresentados por seus criadores.

São Paulo Rio de Janeiro


27 e 28 de Maio 29 de Maio
Hotel Grand Hyatt Belmond Copacabana Palace

Reservas e informações
(11) 3372-3400 - encontro@mistral.com.br
www.mistral.com.br/encontro

Ingressos limitados! É essencial reservar com antecedência.


Não haverá vendas de ingressos no local.

Sabor club
. [ ed. 28 ] | 19
CONTEÚDO PATROCINADO
- VPJ ALIMENTOS
apresenta -

A arte do
marmoreio
É a boa gordura entre as fibras que
qualifica a carne e garante a maciez
e um sabor inigualável

A carne linda como você vê ilustrando esta 2 anos está pronto para ser abatido e entregar
página não é fruto de um milagre da natureza. uma carne com marmoreio de altíssima
Ela está totalmente ligada a três pilares que qualidade. Ele é avaliado numa escala americana
garante um bom grau de gordura de qualidade de 6 a 1. Quanto menor o valor, maior a
entre as fibras. Eles são: genética, precocidade quantidade de gordura. Mas gordura demais não
(idade de abate) e nutrição. deixa carne pesada? Não quando falamos de
O primeiro é o que o Sr. Valdomiro animais jovens cuja a gordura tem pouca
Poliselli Jr., presidente da VPJ, vem ou nenhuma saturação.
introduzindo há anos no Brasil, Assim ela só ajudará a garantir
no desenvolvimento do gado a maciez e o sabor de peças com
Black Angus meio sangue (isto é, cortes altos, que ficam suculentos
misturado com o nosso Nelore). e macios como manteiga, quando
Ele é um animal que aguenta firme assados da forma correta.
as condições dos nossos pastos A carne Black Angus da VPJ tem
(hoje muito melhores do que anos atrás, essas características e por isso é muito
com a introdução de manejo com características procurada por restaurantes de primeira linha.
de lavoura) e que engorda em pouco tempo. É o marmoreio que assegura um preparo
Isto é, pode ser abatido mais jovem, o que mais simples para um resultado superior,
garante a tal da precocidade. Ela, por sua vez, que encanta a clientela. Em casa ou para o
está diretamente ligada a nutrição. O animal churrasco-nosso-de-todo-fim-de-semana as
bem alimentado no pasto, adquire estrutura peças bem marmorizadas encantam os olhos
para ganhar peso no cocho, muito bem tratado, antes o preparo (viram estrelas do evento) e o
comendo fundamentalmente milho triturado. paladar depois de prontas. Dá água na boca só
Quando chega aos 500 kg com menos de de pensar na suculência e gosto dessas peças.

20 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
Bel nativa
Bel Coelho mergulha no caleidoscópios de
sabores das nossas frutas mais brasileiras.
E nos dá uma aula sobre elas
por Thiago Lotufo fotos Henrique Peron
ZONA DA MATA É A FAIXA LITORÂNEA da região Lá pelo meio do menu, depois que a boca tenta se
nordeste do Brasil, paralela ao Oceano Atlântico, que se acostumar com o caleidoscópio de sabores, surge uma
estende do Rio Grande do Norte até a Bahia, passando asinha crocante de frango orgânico com chutney de
pelos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. butiá. “O butiá tem um pouco de pequi e de cagaita.”
Zona da Mata é também o nome de uma sobremesa, Bel provou a fruta pela primeira vez quando foi ao
que leva uma dezena de frutas nativas, o gran finale do Sul do país, num Natal. “Coloquei butiá no caldo do
cardápio com 10 etapas, no qual a Bel Coelho passeia peru e ficou foda.”
por esses produtos brasileiríssimos que ela tanto adora. No itinerário das frutas nativas ela destaca também
“É uma prova do amor”, diz a chef que completa o tartar de carapau servido com maionese de araticum.
40 anos em 17 de maio. “É uma fruta desprezada no Cerrado, que combinou
E olha só quanto amor concentrado numa sobremesa: legal com o peixe.”
sorbet de cambuci, espuma de bacuri, coulis de umbu, Okay, okay, você já teve que googlear sabe-se lá
pastilha de grumixama, pastilha de açaí, raspadinha quantas vezes ao longo desse texto para saber o que
de pitanga, coulis de goiaba, bolo de fubá e milho, é araticum, butiá, cagaita, sapucaia, grumixama e
gelatina de uvaia, creme de pequi e baunilha do cerrado, afins. Não se sinta com repertório limitado. Boa parte
caramelo de caju e especiarias (puxuri, amburana, dos milhões de filhos da nossa mãe gentil também
cumaru e fava de aridã) e farofa de sapucaia, jatobá e não tem nem ideia da cor da casca do araticum ou da

Entre as 20 frutas mais consumidas pelos brasileiros, apenas três são nativas:
o abacaxi, a goiaba e o maracujá
nibs de cacau. Belezura. O nome, Zona da Mata, a chef polpa da cagaita. Diz a Empresa Brasileira de Pesquisa
explica que tem muito mais o sentido de zona (bagunça) Agropecuária (Embrapa) que “entre as 20 frutas mais
do que exatamente uma homenagem a uma determinada consumidas pelos brasileiros, apenas três são nativas:
região. “É uma mistura de frutas de todos os biomas.” o abacaxi, a goiaba e o maracujá”.
A criação surgiu em 2011, quando o embrionário Diz aí, Bel, por que isso acontece? “Tem a ver com
Clandentino, o seu restaurante, em São Paulo, o mercado e a indústria alimentícia que decidiram que
funcionava no segundo andar do hoje extinto Dui. “Eu iríamos comer determinadas frutas. Custo, logística e
queria uma sobremesa de impacto em relação a essas lucratividade contribuíram para essa escolha.
frutas [brasileiras], sabe?”. É uma pena.”
Mas não só isso. O Frutas Nativas, que terá Diz aí, Douglas Bello, fornecedor de frutas nativas
temporadas ao longo do ano, conta ainda com pratos para Bel Coelho e outros chefs como Mara Salles e
inéditos, não menos instigantes. “Pensei em colocar Rodrigo Oliveira: “Hoje, as muito consumidas, como
no mínimo uma fruta em cada prato”, diz. “Escolhi as o abacaxi, já eram cultivadas pelos índios em 1500.
proteínas que usaria e fui fazendo associações com as Por outro lado, pupunha, o fruto, é consumido há muito
frutas, testando, provando e mudando.” tempo pelos índios da Amazônia e todavia não tem uso
O amuse bouche é um shot de cajá-manga e fora de lá”.
cachaça. Na sequência, vem a ostra caju amigo, que Douglas, as frutas nativas são mais difíceis de
traz o molusco fresco acompanhado da polpa de caju serem cultivadas? “Há desde frutas com grande
em cubos, cajuína e raspadinha de caipirinha de caju. produtividade, como o jenipapo ou o cambuci, que

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. [ ed. 28 ]
A cozinheira e as Kayapós, da aldeia Moykarakô, de São Félix do
Xingu. “Essas comunidades são as guardiãs das nossas matas, águas,
biodiversidade e do nosso bem-estar”

nunca viraram sucesso nos mercados, e frutas de universo quando fez uma viagem para Belém,
baixa produtividade, como a cambucá e a sapucaia. em 2004. Conheceu Paulo Martins, figura
Mas são espécies que ainda não passaram pelo importantíssima na difusão da cozinha amazônica,
aperfeiçoamento técnico. A laranja, por exemplo, há e bacuri. “Minha grande fruta”, diz a chef. “Essa
100 ou 200 anos era diferente do que é hoje”. viagem foi um divisor de águas.”
E existem fatores culturais envolvidos Outro divisor de águas ou turning point, como
nessas escolhas? “Certamente. Muitas frutas são ela prefere chamar, foram as viagens feitas para
consideradas ‘do mato’, ‘coisa de pobre’... Jenipapo, gravar Receita de Viagem, programa que foi ao ar
por exemplo, faz parte da cultura indígena e de no Brasil em 2015 pelo TLC. “Agora, gostaria de ir
negros no sul da Bahia. Não chegou na cozinha a São Gabriel da Cachoeira conhecer os Baniwa e,

“Muitas frutas nativas são consideradas ‘do mato’ e não chegaram na


cozinha de rico. Por que usamos tanto morango nas sobremesas?”
de rico. Por que usamos tanto morango nas também, ao Xingu.”
sobremesas ?” Os Kayapó, da aldeia Moykarakô, de São Félix
Douglas é químico e cuida com carinho de uma do Xingu (PA), ela conheceu por acaso no dia
área de 10 hectares em Paraibuna, cidade do Vale da entrevista para esta reportagem. Pertinho do
do Paraíba a 124 quilômetros de São Paulo. Trata-se Clandestino, no caminho para tomar um café com o
do Sítio do Bello, uma antiga área degradada que foi repórter da Sabor.club, se deparou com membros da
recuperada e atualmente abriga mais de 60 frutas tribo, que faziam pinturas e expunham artesanato
diferentes das diversas regiões brasileiras. Como ele enquanto esperavam para se apresentar no Sesc
diz são “frutas que um dia você comeu e hoje não Pompeia. “Essas comunidades são as guardiãs
encontra mais. Frutas que você já ouviu falar, mas das nossas matas, águas, biodiversidade e do
nunca provou. Frutas que você nem conhece”. nosso bem-estar”, escreveu a chef em seu post no
Bel abriu a boca, o nariz e a cabeça para esse Instagram logo após o encontro.

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Um pé de quê?
Conheça as frutas nativas que moram no coração
e na memória da chef Bel Coelho

Jabuticaba – É a nossa fruta Bacuri – “É inebriante, tem um gosto


ƸI\¾XMGEƹX¸TMGEUYIGSWXYQEǻWKEVSW que sobe pelo nariz”, diz a chef. “É
estrangeiros desavisados, como o chef a minha grande fruta.” Nativa da
Claude Troisgros que ao aportar por Amazônia oriental e comum também
aqui nos anos 1980 caiu de amores no Cerrado e em algumas áreas da
pelo formato arredondado de polpa Mata dos Cocais, do Maranhão e
dulcíssima. É originária da Mata Atlântica do Piauí. Os frutos podem chegar
e costuma ter apenas uma safra por a 1 quilo. Aromáticos, têm caroços
ano, de agosto a novembro. “É a grandes cobertos de polpa branca
QMRLEQIQ¾VMEHIMRJ¬RGMEǻGEV que deve ser raspada com os
chupando jabuticaba do pé no dentes. No Pará, são colhidos
sítio dos meus pais, no interior de dezembro a maio.
de São Paulo”, conta Bel
Coelho.

Cabeludinha –
Encontrada na região
sudeste, principalmente Cambuci – A fruta que tem
nos estados de São Paulo, jeito de disco voador já foi tão
Rio de Janeiro e Minas Gerais. farta que até batizou bairro em
É da família das mirtáceas e São Paulo. Em tupi-guarani,
também chamada de jabuticaba WMKRMǻGETSXIHƶ«KYEVIQIXIRHS
amarela, fruta cabeluda, café à sua semelhança com um
cabeludo e vassourinha da praia. vaso de cerâmica. Tem perfume
A fruta aparece de outubro intenso e adocicado, mas sabor
a dezembro. É amarela, com ácido. “O perfume é realmente
casca grossa e peluda. Tem incrível”, diz a chef. É cheia de
pouca polpa, com traços de vitamina C e costuma aparecer
acidez. “Não consigo explicar no pé de janeiro a março.
racionalmente porque gosto Cachaça de cambuci é bebida
dela.” frequente nos alambiques do
interior. Seus principais usos são
em geleias, doces e sucos.
Quem quer faz
É inspirador o caminho percorrido pela
Márcia Garbin até se transformar no
maior nome do gelato no Brasil
por Robert Halfoun fotos João Masini

NÃO FAZ MUITO TEMPO QUE A MÁRCIA GARBIN


pilotava o seu carrinho de gelato, na rua Oscar Freire, a
do comércio mais chique da capital paulista. Ela começou,
como se diz, na manha, com um sorriso simpático no rosto
e um puta produto na caçamba refrigerada. Foi descoberta
num estalar de dedos. Até que as filas sem fim que se
formavam migraram para loja do que seria a gelateria mais
premiada da cidade.
Muita água passou por debaixo da ponte dessa
paulistana, com sangue índio e português. E uma garra que
dá gosto de ver. Marcia fazia fisioterapia na USP, quando
quis mudar de vida. Mas não sabia o que fazer. pensou em
fazer. “Estava no segundo ano e, olha, eu detestava.
Não tinha nada a ver comigo.”
A mãe, D. Shirley, que sempre admirou o interesse da Marcia pela cozinha sugeriu
que ela fizesse gastronomia. Sim, até que era uma boa, pensou. E tome fazer contas e
juntar dinheiro para seguir para a França e mergulhar no tema comme il faut – uma
vez que não havia cursos profissionalizantes relevantes no Brasil.
Ela tinha 19 anos quando chegou em Paris, sem falar francês, porque o programa
da famosa Le Cordon Bleu prometia que as aulas contavam com tradução simultânea
para o inglês. “Mas era horrível, o cara mal sabia falar outra língua”, lembra. E mesmo
assim só nas aulas teóricas. Nas práticas, ela via o rigoroso professor francês pegar
pesado com os alunos, sem entender patavinas.
Agora, pensa numa pessoa obstinada? Ela é a Márcia Garbin que, quase menina,
teve força para entrar num curso da Aliança Francesa e sair de lá arranhando a língua.
Estava apta para encarar o rígido curso, da maneira como precisava ser. “Foi difícil
mas mudou toda a minha base.”
Voltou para o Brasil uma craque. Mas não conseguiu emprego porque era boa
demais. A confeitarias a via como uma futura concorrente e não como uma ótima mão
de obra. E lá foi ela para Europa novamente, porque não se via pronta para começar um
negócio. Aprendeu no velho mundo que, depois da escola, a gente precisa ralar muito,
antes de assumir a direção de algo. Em outras palavras, direcionadas para os nosso
tantos estudantes de gastronomia: ninguém deixa a sala de aula chef de cozinha, ok?

Ela se formou na Europa e voltou para o Brasil em


busca de emprego de confeiteira. Não conseguiu: diziam que
ela era boa demais para o cargo
Na Itália, onde foi recebida de forma mais calorosa do que na França, descobriu
um outro jeito de confeitar, com menos técnica, porém com muito mais foco no
produto. Adorou.Passou por confeitarias, ralou muito. Tirou a cidadania europeia,
conheceu o futuro marido e acabou abrindo um ateliê para atender ao mercado de
casamentos na linda região da Versília, entre a praia e a montanha, na Toscana.
Aqui entra o gelato. Porque é o doce que o italiano quer comer. De novo, foi
obstinada no sentido de fazer o produto como os grandes mestres locais faziam.
E não é que conseguiu. O seu gelato começou a ser falado até que a Carpigiani, a
maior marca de máquinas para gelato do mundo, a chamou para a sua prestigiada
universidade, onde a Márcia foi ainda mais fundo, em dois meses de profunda
imersão. Algo como um Big Brother, no qual ela não saía da escola.
Saiu de lá melhor ainda. Entrou no concurso de gelato mais importante da Itália.
Levou um prêmio de revelação e, no ano seguinte, o de me-lhor-ge-la-to-da-i-tá-lia!
Estava pronta, enfim, para abrir o próprio negócio – no Brasil, que parecia tão
promissor, pouco antes da Copa e das Olimpíadas. Por aqui, enquanto criava a sua
Gelato Boutique, foi quando pegou um dos carrinhos de gelato que usava na Itália,
para conquistar uma clientela bacana, que acabou migrando para a loja, pouco
depois. Então veio o reconhecimento nacional.
Não é à toa: Márcia é uma das poucas que realmente fazem gelato artesanal.
Melhor ainda: com um pensamento de confeiteira que mistura técnicas francesas

30 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
(uma das grandes escolas de sorvete do mundo, embora fale-se pouco disso) com
a da gelateria. E, de novo, uma ralação sem fim. Explicação: a gelateria fina é feita
apenas com produtos in natura, de preferência frescos, que são manipulados de uma
forma muito especial todos os dias.
Para dar um exemplo, o caffé-lime, o tal me-lhor-ge-la-to-da-i-tá-lia é resultado
de dois dias de extração de café expresso. Depois, Marcia reduz o líquido com açúcar
caramelizado para ressaltar as notas do café. Aí, entra suco de limão espremido na
hora. Essa calda é anexada a uma base, numa proporção que só ela conhece para que
o gelato tenha ainda mais a essência do sabor proposto, sem desandar.
Convenhamos, trata-se de um preparo muito daquele que usa calda
industrializada, com selo de “artesanal”. O resultado é compatível ao esforço.

Por aqui, tudo começou com uma carrocinha de gelato, com a


qual vendia o seu produto na rua mais chique de São Paulo

Não só em termos de sabor mas em textura também. Vamos raciocinar: um gelato de


chocolate pode ter a mesma textura de uma gelato de fruta? Claro que não. E por que
a gente vai em determinadas cadeias de gelato e as massas nas cubas parecem – e são!
– todas iguais? Porque esse gelato é feito com produtos industrializados que simulam
o gosto. E todo o resto fica de fora. Sacou?
O trabalho da Marcia é um exemplo. E que honra é termos profissionais
como ela no nosso mercado.

Gelato Boutique – Rua Pamplona, 1023, Jardins, São Paulo – SP. Tel.: (11) 3541-1532

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Crepe soufflé com gelato
(6 porções)

INGREDIENTES PREPARO

(crepe) Bata no liquidificador todos os ingredientes do crepe


150 g de farinha Forme panquecas grandes e finas em uma frigideira,
2 ovos fritando pequenas quantidades da massa de crepe
4 colheres de sopa açúcar Para o recheio de soufflé, bata os ovos com o
50 g de manteiga derretida açúcar até que fiquem com aspecto de uma
100 ml água morna massa de pão de ló
200 ml de leite Adicione a farinha peneirada e o suco de laranja
Raspas da casca de 1 limão com delicadeza
Misture bem e recheie imediatamente as panquecas
(soufflé) com aproximadamente 3 colheres de sopa do soufflé
5 ovos Leve as panquecas recheadas ao forno pré-aquecido
55 g de açúcar a 180°C por 15 minutos
25 g de farinha Os crepes devem crescer e ficar bem fofos
100 ml de suco de laranja Sirva imediatamente polvilhado com açúcar de
Uma pitada de sal confeiteiro é uma bola de gelato artesanal à escolha
Simples
assim

3
Adicione os

1
Misture com um fuet ingredientes secos

2
os ovos, o açúcar, o Peneire a farinha aos líquidos aos
óleo, o mel, o leite e de trigo com poucos, misturando
as raspas de limão o fermento, o delicadamente com uma
bicarbonato, o sal espátula, para evitar a
e as especiarias formação de grumos

INGREDIENTES
(6 porções)
4 ovos grandes

4
Cubra a tigela com
100 g de ǻPQITP«WXMGSI
açúcar refinado coloque na geladeira
160 ml de por 30 minutos
óleo de canola
480 g de mel
80 ml de
leite integral

5
450 g de )IWTINIE
massa numa
farinha de trigo
forma tipo
2,5 g de tabuleiro, untada
canela em pó e polvilhada com
2 g de gengibre farinha de trigo
em pó
15 g de
fermento
em pó
5 g de

6
Asse por 30
bicarbonato minutos em forno
de sódio preaquecido
1 g de sal a 180º C
refinado
1 g de cravo
em pó
Raspas
de limão

O famoso
bolo de abelha
Meio pão de mel, meio gingerbread, ele ganhou
o mundo feito em formato de favo
Tudo começa no século 10, quando um monge armênio mundo com as suas formas que transformam bolos em obras
chega na França com a receita do pão de especiarias, com de arte fofas – e ainda mais apetitosas. O pão de especiarias
mel, melaço, trigo e gengibre. De lá, o pain d’épice se espalha então ganha formato de favo, com abelhinhas em alto relevo.
pela Europa até virar o lebkuchen, no qual a mesma receita Nós descobrimos as formas da Nordic Ware faz pouco
ganha cobertura de chocolate bem amargo, que mantém a tempo, assim como os chineses, que passaram a copiar os
parte interna do pão fresca e molhadinha. Da Alemanha, cruza modelos, daquele jeito que a gente sabe muito bem qual é.
o oceano e chega aos Estados Unidos. Lá, a massa ganha o É fato, no entanto, que o molde de favo já é vendido a
formato por bonecos de Natal até que, séculos depois, em meros R$ 60. E até menos, se for feito em silicone. Mas nada
1946, surge a Nordic Ware. A empresa ganha os EUA e o valem sem a velha e boa receita do famoso bolo de abelha.

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Produto
Gosto de
preservar
Sítio cultiva frutas nativas para o brasileiro
provar e não deixá-las desaparecer
por Luisa Mattos

Foi em 1997 que Douglas Bello, um químico apaixonado massa: tratou do solo para que ele pudesse receber
pela natureza, começou a pesquisar maneiras sementes de diversos ecossistemas brasileiros,
economicamente viáveis para reflorestar áreas devastadas começou a plantá-las e a desenvolver produtos
e preservar espécies vegetais. Durante seus estudos, a partir do que colhia.
ele encontrou diversas sementes de árvores A ideia deu certo. Hoje, a produção do
frutíferas, várias delas em extinção sítio abastece restaurantes, confeitarias e
atualmente. A busca, no entanto, sorveterias do Rio e São Paulo.
não foi fácil, já que o avanço do Terra brasilis E também conta com uma linha
desmatamento deixou tais árvores, O projeto reúne vários de doces para o público final,
ecossistemas brasileiros em um
que antes eram comuns em várias como as geleias que levam o
único sítio
regiões, isoladas em pequenos nome do sítio. Com apenas um
pontos de florestas pouco O Sitio do Bello conta com mais de 60 pouco de açúcar e muita fruta
variedades de frutas da Mata Atlântica, da
acessíveis. Ele percebeu que Caatinga, do Serrado e da Amazônia. Entre
– e mais nada. Entre os sabores
frutas como cagaita, uvaia e elas há algumas em extinção como cambucá, mais requisitadas estão os de
cambuci se tornaram escassas cagaita, grumixama, jenipapo, pequi, umbu jabuticaba, uvaia, cambuci e
e que o desconhecimento das e uvaia. Algumas delas viraram geleia e cupuaçu. “Nosso trabalho é o
estão no Clube Sabor.club, cuja missão
novas gerações sobre a existência também é divulgar e fomentar
de promover o sabor das frutas
delas acaba colaborando para a trabalhos com tanto valor, como entre os consumidores brasileiros
não-preservação. o do Douglas Bello. e colaborar com a manutenção das
Após dois anos, Douglas adquiriu espécies nativas”, explica Douglas, que
um sítio na cidade de Paraibuna, que acredita que o conhecimento é a melhor
batizou de Sítio do Bello, e pôs a mão na maneira de preservar as árvores.

Sabor club
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O pescador
Antes da cozinha, a essência do
André Mifano passa pelo peixe vivo
e pelo respeito com o produto
por Robert Halfoun fotos Marcus Steinmeyer produção Thais Lutti
ANDRÉ MIFANO É UM CARA QUE DIZ TER POUCAS PEÇAS DE ROUPA.
Duas bermudas, duas calças que-estão-com-ele-desde-sempre e umas camisetas.
Por outro lado, tem dezenas de pares de tênis, centenas de pares de meias (ele
reforça: “cen-te-nas!”) e... roupas de pesca. Uma bermuda e quase 20 camisas de
manga longa com FPS 50 com marca e tudo estampada no peito. “Eu não resisto
a uma tralha de pesca. Chego na loja e os vendedores ficam ouriçados.”
Na conversa com um empolgado amante do mar e de tudo o que está
relacionado a ele, não demora para a gente perceber que o chef é um pescador
antes mesmo de aprender a pescar. Fácil de entender porque o mundo das varas,
iscas e carretilhas o encanta tanto. “Eu sempre tive uma relação muito íntima
e apaixonada com o mar. Se ficar muito longe por muito tempo, eu sonho com
a água, essas coisas.”
Foi essa atração que o levou a embarcar pela primeira vez num barquinho
(com motor central que jogava óleo na perna dele), para pescar num dia de chuva
(quando os peixes não fisgam por nada), depois de um trabalho em Vitória,
Espírito Santo. Antes de ir, falaram efusivamente para ele que o lugar é um ponto
de pesca daqueles e que ele não podia voltar sem fisgar um bagrinho.
Isso faz uns 10 anos. “Aí, eu fui para a loja de pesca sem ter a menor ideia do
que queria e saí de lá com um equipamento curinga, com tubo para colocar vara
e tudo. Coisa estúpida”, ri. Chegou em casa apenas com a experiência de ver o
guia encher a cara com latas de meio litro de cerveja e tirar sarro da cara dele.
O “pior dia de pesca da vida”, no entanto, o fez querer ir pescar todo fim de
semana, no canal de Bertiga, litoral paulista. Começou sem orientação alguma.
E sozinho. Comprou um caiaque para pescar e remava mais do que pescava. Até
que foi aprendendo as técnicas e também a usar as iscas. Buscou um guia que o
ensinou a pescar, de fato. “Fui ficando viciado, como todo pescador esportivo.”
Hoje, viaja para pescar ou também pesca quando viaja. Foi Flórida, uma Disney
para pescadores, na região dos Everglades; foi para Noruega constatar que o
bacalhau (na verdade, o cod fish) tem cabeça, sim.
“A coisa vai tomando conta da sua vida. O que para mim faz todo sentido: ao
ir pescar e fazer essa tão falada conexão com alimento, você percebe que o meu
mundo de cozinheiro e de pescador é praticamente a mesma coisa.” Mas é raro ele

Menos é mais
André Mifano ensina: “Tudo o que um peixe bom e fresco precisa é de sal e calor”
Vá na melhor pescaria que você conhece Na cozinha, o filé vai receber apenas
e deixe o peixeiro te dizer o que está um pouco de sal na parte da carne
melhor e mais fresco A parte da pele vai direto para a chapa,
Os olhos do animal devem estar melhor antiaderente. Se não for pingue
realmente brilhantes, as guelras bem uma gota de óleo só para não grudar
vermelhas e a pele firme O calor deve estar em torno de 200º
Faça o teste com o dedo: aperte C, 240º C. Nessa temperatura, o peixe
levemente o corpo do peixe. A parte vai cozinhar entre três e cinco minutos
pressionada deve afundar e voltar para Para saber se está bom, basta
o lugar. Se isso não acontecer, melhor observar a cor da carne. Ela vai ficando
escolher outro bicho branca quando está no ponto
Peça para tirar as escamas, as vísceras Não deixe passar porque seca
e aproveite para solicitar o peixeiro que já e vai tudo por água abaixo
corte as peças para você

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Julia Rodrigues
Julia Rodrigues

USE O PEIXE TODO 1 – Cabeça: há carne aqui também, que pode ir ao forno ou para a chapa. O olho bem assadinho também é
um delícia. O resto pode enriquecer um caldo. | 2 – Nadadeiras: empane, frite e coma sem dó. 3 Ƴ)SVWSETEVXIHSǻP³EPGLETE
e pronto! | 4 – Parte inferior: carne mole, com alguma gordura. Vai bem na chapa e para enriquecer caldos. | 5 – Dorso posterior:
TV¾\MQSEGEYHE“GSQSYQǻP³^MRLS` 6 – Cauda e nadadeira caudal – Empane, frite e coma. Ou também enriquece caldos.
pescar para comer. André Mifano, é importante ressaltar, pratica a pesca esportiva,
na qual os peixes são fisgados (sem prejuízos físicos para o animal, garantem os
biólogos). Então “posam” para fotos e são devolvidos para a água. É tal do
catch and release tão divulgado pelos americanos há décadas e que hoje pauta
a pescaria esportiva no mundo todo.
“O peixe tem de ser tratado com respeito”, diz o chef-pescador, efusivamente.
Principalmente quando ele dá a vida dele para virar alimento. Por isso, ele tem de
ser preparado da melhor forma possível. Sem invencionices. De forma simples e
correta, que valorize todo o sabor que ele pode nos dar. “Eu infelizmente ainda
vejo gente cortar o peixe em postas, espremer limão em cima dele, colocar na
geladeira de um dia para o outro e depois fritar aquela coisa com farinha. Não
tem gosto de nada, né? Nem textura, nem coisa nenhuma... O sujeito está tirando
um bicho do seu habitat para fazer merda com ele.” Quando a pessoa tem contato
como peixe direto na água e tudo o que o cerca, reflete André, entende as coisas,
a cadeia toda. Então vai virando ativista e alerta para esse tipo de absurdo. E

“O peixe tem de ser tratado com respeito. Afinal, ele


dá a vida dele para virar o nosso alimento”

também para pesca predatória, sem controle. Como ele tanto vê por aí.
“Enquanto não regulamentam e fiscalizam, eu, por exemplo, não sirvo robalo no
meu restaurante. E nem polvo fora de temporada.”
Hoje, o cardápio novo do seu Lilu, em São Paulo, conta apenas com manjuba
frita, sem passar do ponto, porque a concorrência pelos grandes pescados de
qualidade anda violenta.
“As pessoas romantizam a gastronomia no Brasil e, em vez de compartilhar
produtos e conhecimento, como deve ser, criam nichos, para ter determinadas
exclusividades. Isso é uma asneira sem tamanho. É um pensamento que encolhe o
mercado, que não faz ninguém crescer.”
Por vários motivos, ele queria que todos os cozinheiros pescassem para mudar
a relação com o produto. Aí, fala para todo mundo: o peixe é muito mais do que
o filé. Tem carne na cabeça, próximo da cauda. Até o olho é uma delícia. “Eu
demorei para comer, porque achava que a textura ia ser horrorosa e o gosto teria
um amargor daqueles. Não é nada disso! É doce, só tem uma bolinha dura, sem
sabor, que a gente cospe quando encontra.”

Sabor club
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Não importa o peixe ou a parte dele, frisa, o importante é entender que como
peixe, o clichê de menos é mais é realmente verdadeira: quanto menos você
expuser a carne do peixe a qualquer coisa, melhor. “Os japoneses, vamos lembrar,
sabem bem o que fazem, né? Por que eles comem peixe cru desde sempre?
Não foi porque não descobriram o fogo, certo? Alguma coisa tem ali.”
Peixe bom e fresco, ensina, deve ser feito apenas com sal e calor em contato
apenas como a pele do bicho (veja quadro). Forno apenas para assar o peixe todo,
mas por pouco tempo. “Eu gosto de colocar o peixe com escama e tudo direto
na brasa. Ela serve como proteção e o calor vai penetrando aos poucos na carne,
assando delicadamente.”
Recentemente, na viagem para a Noruega, André teve um estalo e
experimentou uma nova forma de preparo: cozido na gordura, quase um confit.
Ele alugara uma casinha de pescador, dessas de Airbnb. Ao fim de um dia de
pesca, levou partes de um cod para casa e, enquanto fazia uma sopa de cogumelos,
encontrou um naco de manteiga deixado pelo hóspede anterior. Colocou na
panela pequena como a cozinha da casa e cozinhou o cod, com pele e tudo, lá
dentro. “Foi o melhor peixe que já comi na minha vida.” Gostou tanto que chegou
a fazer vídeos do prato, coisa que nunca faz. “Precisava registrar como as pétalas
de carne se soltavam uma das outras. Coisa linda.”
Ficou mais encantado ainda com o que comeu durante a pescaria. Era inverno
na terra do bacalhau, quando não há operações turísticas ativas. Deu um jeito
então de ir para o mar num barco de pesca comercial. “Pegou cod com vara, como
é a lei nessa época do ano, durante as únicas três horas de sol nesse período.
“É impressionante, a isca não sai da água sem peixe.”
Embarcado, o bicho já tem a cabeça cortada, que é dada para as aves que pululam
em torno do barco. Na Noruega, o peixe não pode chegar em terra com com sangue.
Aí, o pescado vai para galões com a própria água do mar, geladíssima. Ela também
enche a panela que recebe pedaços de cod. É colocada no fogo e, quando ferve, dá
origem a um caldão delicioso. “Foi a coisa mais louca que eu já vi e já comi.
Peixe, água do mar e mais nada. Gostoso para c...”

Pirarucu em lata
Projeto de pesquisador e cozinheiro é feito
com pescadores nativos, na Amazônia

André Mifano não pesca na água doce, mal conhece os peixes de rio e, por
isso, não cozinha com eles. Exceto o tal pirarucu em lata. “Vou abrir uma para
você... Velho, é de-li-ci-o-so!” Ele conheceu o produto por acaso e ao investigá-
lo, descobriu que é feito com o peixe selvagem, pescado com manejo, que
depois é mergulhado em óleo de castanha feito por moradores locais ou em
tucupi com pimenta baniwa, também da região. “É uma iguaria! E eu vou vender
no meu restaurante. Deixa eu te dizer: quando a coisa é boa, eu sirvo. Não
tenho essa de querer produzir tudo aqui. Prefiro explicar o que é, conscientizar.”
O pirarucu, bem no conceito menos é mais, então para uma salada niçoise com
o peixe, regado com o caldinho de tucupi com pimenta.

42 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
Agradecimentos: Pesca Pinheiros (Tel.:11/3816-8099); Sugoi Big Fish (11/3329-8600); Mar e Rio Oficina de Pesca (11/ 98884-3805)
Belas artes
As obras que vendiam bebidas no início
do século 20 viram objeto de desejo
– com versões gratuitas na internet
por Thiago Lotufo fotos Henrique Peron
NO FINAL DO SÉCULO 19, ENTRANDO NO século 20, a Europa estava
mergulhada na revolução industrial. As fábricas produziam muito, queriam
vender muito. Mas o povo não sabia o que queria, não sabia o que comprar.
O conceito de publicidade ainda não era exatamente claro e quem
acabava fazendo esse papel dos publicitários eram os artistas. As ruas, vielas
e esquinas de cidades como Roma, Paris, Amsterdã e Londres estavam
apinhadas de cartazes, o principal veículo de divulgação em massa da
época. Com eles, em segundos, o autor precisava capturar a atenção do
passante e passar uma mensagem entre o lúdico e objetivo, para convencer
os consumidores de que moda, status e conveniência eram razões
suficientes para fazer da compra algo realmente necessário – incluindo
bebidas alcoólicas.
Como tudo no mundo a arte, o desafio deu origem a peças lendárias
criadas por gênios como Jules Cheret (o precurssor do movimento),
Leonetto Capiello, T.A Steinlen, Alphonse Mucha e, claro, Toulouse-

46 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
Lautrec. Ainda há os discípulos como René Vincent, Jean D’Ylen
e Marcello Dudovich.
Muitos deles usavam as formas femininas para seduzir o público
masculino, o principal consumidor de destilados e fermentados, na ocasião.
Até os anos 1940, beber era algo rude e indelicado demais
para as mulheres.
É nesse movimento que nascem obras hoje cobiçadíssimas como os
cartazes feitos para Cinzano, Campari, Isolabella, Robette. Originais são
vendidos apenas em leilões e cópias bem feitas, impressas em litografia,
como quando foram lançadas, são igualmente vendidos a preço de ouro.
A boa notícia é que parte dessas obras já caiu em domínio público, o
que deu origem a páginas como a Free Vintage Posters, que disponibilizam
downloads em alta resolução – de graça! Quando descobrimos esse canal,
não exitamos em criar um espaço lúdico e lindo, para trazer esses ícones
da arte e da gastronomia mundial.

www.freevintageposters.com

Sabor club
. [ ed. 28 ] | 49
“Faça hummus,
não faça guerra”
É com o slogan que Sheila Mann usa a
comida pela paz entre judeus e palestinos
por Ana Rita Martins fotos João Masini
Hummus
com beterraba
Babaganuj
e alho

Hummus
tradicional, Hummus
só com grão com pimentão
de bico Hummus com
e alho
abóbora e pimenta
dedo de moça
QUANDO SHEILA MANN CHEGOU A SÃO PAULO EM 1973, AOS 18 ANOS
de idade, ela não falava sequer uma palavra em português. Nascida em Beirute e
criada parte da vida em Israel, veio casada para morar na casa da sogra, que não
era lá muito fã de cozinha. Saudosa dos pratos do Líbano, entre elas as abobrinhas
recheadas com alho, hortelã e limão, começou a trocar cartas com a mãe, pedindo
as receitas e contando do espanto de os brasileiros usarem tanto garfo e faca – na
terra natal, bastava a colher e o pão árabe para se mergulhar na comida.
Além de assumir as rédeas da cozinha de casa, Sheila dominou o português por
conta própria, assistindo a novela Mulheres de Areia. A adaptação sempre foi uma
questão presente na vida de Sheila, cuja família, de origem judaica, saiu do Líbano
Para ir além em 1967 para escapar da Guerra dos Seis Dias, conflito entre Israel e os países
Sheila Mann árabes por causa da criação do Estado de Israel. “Eu via mais semelhanças do que
conta a sua diferenças entre os palestinos e os judeus, no entanto, mesmo no Brasil, o padrão
história em livro
se repetia: não havia relacionamento entre as comunidades.”
Culinária do Foi na cozinha que Sheila achou os ingredientes para estabelecer o diálogo
Líbano a Israel entre as partes: “Tanto os israelenses quanto os palestinos consomem hummus,
(168 páginas, R$90) salada quente de favas secas, falafel... Então me veio a ideia de homenagear
foi publicado
de maneira
independente
“Tanto os israelenses quanto os palestinos comem hummus,
pela autora. Nele, salada de favas secas, falafel... Devem partilhar a mesma mesa”
ela conta as suas
memórias vividas o embaixador brasileiro que ia para a Palestina e chamar rabinos e outras
desde a infância
em Beirute até personalidades das duas comunidades para partilharem uma refeição e conversar.”
as experiências Nasceu assim, em 2010, o projeto Peace on the table (Pot), que usa a culinária
político-pacifistas comum para promover, num evento mensal, a integração cultural entre árabes e
à mesa. No meio israelenses, sobretudo de diferentes religiões.
do caminho, há
o processo de
Hoje, o projeto conta com o encontro mensal As mulheres do Pot, que
adaptação em acontece em São Paulo e também em Salvador. “Em São Paulo, o grupo é
Israel e a chegada composto por sessenta mulheres, entre judias, muçulmanas e cristãs. Cada uma
ao Brasil. Além traz um prato e fala da experiência em sua comunidade, compartilhando valores
trazer histórias,
e tradições. Nada melhor que a comida para criar uma atmosfera amistosa e de
a autora revela
88 receitas da abertura às diferenças.”
culinária árabe. Dos Conhecida nas comunidades árabe e israelense pelo primor de suas receitas e
pratos principais à pela facilidade de transitar entre os dois mundos – Sheila fala fluentemente árabe
bebidas, sempre e hebraico –, ela resolveu dar um passo a mais em 2015, quando lançou a marca
ligados a narrativa
que conduz a obra. de hummus Com.Pot com seu genro, Marcos Shayo. “Inspirada no As mulheres do
Pot, resolvi que só contrataríamos mulheres de religiões diversas e que daríamos
preferência às refugiadas sírias e as ajudaríamos em sua adaptação ao Brasil.
Inclusive, algumas vêm de entidades acolhedoras como o Lar Sírio. Faço reuniões
periódicas com elas e discutimos temas como a compreensão e aceitação das

52 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
Frango com arroz
marroquino
Subjetividades
inspiradoras
Mostra de fotos
revela o mundo
árabe em sua Almôndegas com molho de jabiticabas: união de povos
diversidade plena

Taswir, a
fotografia árabe
contemporânea, em
cartaz no Instituto
diferenças”, conta Sheila.
Tomie Ohtake, em São dela as receitas de babaganuj e dos quatro hummus oferecidos pela
São Paulo, traz 78 marca, que pode ser encontrada em supermercados de São Paulo e Rio de
imagens produzidas Janeiro. Entre os hummus há o tradicional; com abóbora e pimenta dedo de
por 14 fotógrafos de
moça; com pimentão e alho e também o com wasabi. “Uso 100% de grão de bico
12 países árabes e
europeus. importado da Argentina e do México nas receitas e não coloco gordura vegetal
Silvia Antibas, para dar volume. Utilizamos poucos ingredientes para ressaltar o sabor de cada
organizadora da um e uma dose mínima de conservante. Gostaria que o hummus não fosse
mostra, ressalta que olhado somente como uma iguaria árabe, mas como um alimento saudável que
o olhar dos artistas
vai além dos temas pode substituir, por exemplo, a margarina e a maionese.”
da violência e da
guerra, trazendo “O hummus não é apenas como uma iguaria árabe. Ele pode
subjetividades
inspiradoras.
substituir, por exemplo, a margarina e a maionese”
Na pequena fábrica, Sheila olha para o passado e vê em suas doze
funcionárias um pouco de si mesma quando saiu do Líbano para Israel e de lá
para o Brasil. Aseel, refugiada síria de 28 anos, comanda a produção há dois
anos, desde que largou seu emprego como gerente no Hotel Four Seasons,
em Damasco, para fugir do conflito que, desde 2011, soma 360 mil mortos
de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. Sheila reflete:
“Sentir-se bem recebida em outro país pode significar um recomeço que coloca ao
menos um bálsamo nos horrores de quem viveu a guerra. Também ajuda quem
chega aqui e se depara com uma língua e uma cultura completamente diferentes.
Acredito que a valorização da diversidade e o partilhar da comida sejam potentes
movimentos integradores”.

54 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
Almôndegas com Frango com arroz marroquino
molho de jabuticabas (6 porções)
(6 porções) INGREDIENTES
5 colheres de sopa de óleo 1 colher de café de canela
INGREDIENTES 1 copo de arroz cru lavado
2 sobrecoxas de frango
[Almôndegas] 1 cebola grande picada Pinoles fritos
250g de coxão mole limpo sal a gosto Amêndoas sem pele
e moído duas vezes 2 colheres de café de Pistaches
2 fatias de pão de forma Forme bolinhas do pimenta síria Damasco seco
com casca, molhadas em tamanho de um tomate
água e espremidas cereja PREPARO
1 ovo batido Numa frigideira, aqueça o Numa panela média não o caldo do frango
Sal e pimenta síria a gosto óleo e frite as almôndegas muito funda, aqueça 3 e deixe ferver
Óleo de milho para fritar até ficarem douradas. colheres de sopa de óleo e Acrescente o sal, a pimenta
Coloque-as em papel doure o frango (com pele e síria, a canela, o arroz
[geleia de jabuticaba] absorvente e reserve ossos) de todos os lados cru e metade do frango
400g de jabuticabas
sem caroço Acrescente ao mesmo óleo Quando estiver bem desfiado
150 g de açúcar
da fritura duas colheres dourado, cubra com água Abaixe o fogo e deixe
de sopa de óleo de milho e fervendo e tempere com cozinhar até o arroz
Suco de ½ limão doure as cebolas sal e 1 colher de café de estiver pronto. Acrescente
[molho] Junte as almôndegas e pimenta-da-Jamaica aos pouco mais água
½ cebola média bem picada a geleia de jabuticaba e Cozinhe em fogo baixo até quente se necessário
Água fervente despeje água fervente que a carne fique macia. Numa frigideira pequena,
Sal e pimenta síria a gosto até cobrir Não deixe secar, reserve o aquece um fio de óleo
Suco de ½ limão Tempere com uma colher caldo do frango para uso e doure ligeiramente os
de chá de sal e ½ colher posteriormente pinoles, as amêndoas, os
[finalização]
de chá de pimenta síria. Deixe esfriar e retire o pistaches, e os damascos
2 colheres de sopa Mexa delicadamente
de salsinha picada frango da panela, remova picados, separadamente.
½ xícara de pinoles fritos Quando ferver, junte o a pele e os ossos e desfie Reserve
suco de ½ limão e corrija o a carne do frango em Sirva o arroz quente com
Triângulos de pão sírio tempero, se necessário pedaços grandes. Reserve o restante do frango por
PREPARO Deixe cozinhar até que À parte, frite a cebola cima e finalize com as
[geleia] as almôndegas estejam picada no restante do óleo, sementes douradas
macias e o molho um até ficar bem escura, junte e o damasco
Leve ao fogo o açúcar
e as jabuticabas pouco grosso. Não deixe
secar
Quando o açúcar estiver
bem incorporado e a [montagem]
jabuticaba soltando água, Arrume numa travessa
adicione o suco de limão e redonda triângulos de pão
cozinhe até que as frutas sírio com a ponta para
formem uma calda grossa fora formando um sol
Enquanto isso, prepare as Coloque as almôndegas e
almôndegas: misture bem o molho sobre eles e decore
a carne, o pão, o ovo e os com salsinha e pinoles
temperos fritos
PARA BEBER

Thom York sabe das coisas


A genialidade do cantor do Radiohead pode apontar o novo caminho
do vinho? Patricio Tapia junta as pontas e explica na nova edição
do maior guia de vinhos sul-americanos do mundo

Frase do escultor inglês Henry Moore: “Nunca veja em 2007 já fazia bom tempo que tinha demostrado
uma superfície, exceto como um volume”. estar muito acima de seus pares graças a obras
Assim, sem anestesia, não é preciso conhecer o imprescindíveis como OK Computer, Amnesiac ou Hail
trabalho de Moore para se dar conta de que essa é of Thief, fica-se espantado. Não é verdade que Yorke
uma verdade que vai muito além da sua escultura, falava sério?
uma ideia possível de aplicar a quase qualquer coisa. À Na superfície de Moore, “Videotape” é uma balada
música e ao vinho, por exemplo – simples e melancólica, com uma base de quatro tons
o que me leva a Radiohead e a uma canção em ao piano; uma canção preciosa, lenta, muito lenta, e
particular: “Videotape”. mínima. Graças ao canal de YouTube de Warren Lain,
Ela está no disco In Rainbows, de 2007. Thom um músico e professor baseado em Los Angeles – e,
Yorke, vocalista da banda, disse em muitas ocasiões também, fã de Radiohead – é que consigo entender o
que esta canção o toca. “Pessoalmente, creio que é que acontece realmente aqui.
o melhor que, como banda, já fizemos. Tem essa Lain diz que por trás desse tipo de marcha fúnebre,
inexpressiva substância que acontece por trás da por trás dessa canção triste e mínima em seus recursos,
música. Estou profundamente orgulhoso dela”, há outra coisa subjacente, algo completamente
confidenciou à revista New Musical Express, dias distinto. Então recorre a teorias musicais que estão
antes de In Rainbows ser lançado. Quando se escuta muito fora do meu alcance, mas também a vídeos
essa frase, sobretudo no contexto de uma banda que que mostram como uma canção que parece ser uma

Sabor club
. [ ed. 28 ] | 57
canção, na realidade é outra. E não só podia ttom
tomar. Tudo estava à vista: as cores, as texturas,
distinta, senão oposta. as forma as Fogos de artifício, luminosos de neon.
formas.
Em um desses vídeos (gravado no 93 Impossív
Impossível se perder no caminho.
Feet East, um clube em Londres), Yorke Mas à medida que alguém vai se embrenhando
está sentado ao piano. A canção começa tem do vinho, ou em qualquer tema que requeira
neste tema
e o que se escuta é isso: quatro notas. No certa atenção,
aten vai aprendendo a apreciar certas coisas
entanto, Yorke move a cabeça em um ritmo que pode ser que estejam um pouco além do mero
contraditório ao que sai do piano. Sua sensacion n
sensacionalismo.
cabeça se agita dez vezes mais rápido que Porr eex
exemplo, se realmente gosto de cinema e passo
o ritmo dessas quatro notas. É como se sua a ver filmes
film
fi como louco – e, além disso, tenho um certo
mente estivesse em outro lugar, em outro nível
vel de ssensibilidade, obviamente – vou perceber que
universo muito mais frenético. as explosõ
explosões e perseguições automobilísticas pela ruas
A chave é o contratempo de Phil Selway, congestion
congestionadas não me entretêm tanto como no começo e,
o baterista da banda, que marca o ritmo certamente quando aparecem a toda hora, acaba cansando.
certamente,
de uma canção que, mais que em um funeral, Felizmente, não foram necessários muitos anos após
deveria estar em uma festa rave. Mas esse hi-hat é um som quase meu início no vinho para me encontrar com uma nova geração
oculto. A teoria de Moore, o iceberg de Hemingway (“descreve de produtores que começou a evitar o efeito e a buscar a sutileza.
só a ponta do iceberg; o importante não deve ser escrito, senão Muitos dos melhores Malbec hoje na Argentina, muitos dos
translucidado”), o volume, o que dá densidade, o não evidente, o melhores Cabernet Sauvignon do Chile, muitos dos melhores Tannat
que, finalmente, importa, não se vê aqui, ainda que se intua nesse do Uruguai, começaram – talvez sem saber – respondendo a essa
contratempo. ideia de mostrar algo, mas também de esconder algo; mostrar só
Quando comecei a escrever sobre vinhos, em meados dos anos a ponta da pirâmide, economizar nos recursos; a superfície como
90, as garrafas que passaram a aparecer no mercado eram o oposto ponte, como um convite, como um sinal sutil.
ao que Radiohead pretenderia anos mais tarde com “Videotape”. Graças ao YouTube, vi muitas versões ao vivo de “Videotape”.
Tintos (sobretudo tintos) evidentes, mostrando tudo de uma vez; Minha favorita é a que a banda fez em 2007, na Saitama Arena, 30
vinhos onde não era preciso pensar nem intuir nada. Tudo estava ali, quilômetros ao norte de Tóquio. Minuto 51:05. Veja como se move
à vista: super madurez, super concentração, toneladas de madeira. Jonny Greenwood, ao sintetizador, enquanto Yorke toca apenas
Mas gostava desses vinhos. quatro notas em seu piano. Alguma coisa está picando Greenwood
Gostava porque, basicamente, eram o caminho mais fácil que para ele se mover tão rápido?
uma pessoa como eu – com zero de conhecimento do tema – Sejam todos bem-vindos a uma nova edição de Descorchados.

Melhor tinto Melhor branco Melhor espumante Melhor rosado Melhor laranja Melhor Melhor
99 pontos 98 pontos 94 pontos 93 pontos 95 pontos blend tinto blend branco
Finca Piedra Adrianna Vineyard Sur lie 30 Meses Old Vine Pale Naranjo 98 pontos 94 pontos
.RǻRMXEYTIVGEP White Bones Nature Chardonnay, Truquilemu Torontel 2018, Old Vines Vistalago Mezcla
Malbec 2016, Chardonnay 2016, Pinot Noir N/V, Vineyard Lot Maturana Series Las Blanca
Zuccardi Valle de Catena Zapata Casa Valduga 73 Carignan, Wines Cruces Malbec, Chardonnay,
Uco Monastrell 2017, Carménère 2016, Riesling, Sémillon,
Garage Wine Co. De Martino Torontel 2018,
Leberinto
58 | Sabor club. [ ed. 28 ]
Sabor club
. [ ed. 28 ] | 59
Best buy!
Ótimos brancos, tintos e espumantes para todos os gostos e bolsos

Até R$ 50 De R$ 51 a R$ 100
SALTON INTENSO TANNAT 2017 COLONIA LAS LIEBRES BONARDA CLASICA
89 
Salton, Campanha Gaúcha, Brasil
90
pts
2017 • Alto Las Hormigas, Mendoza, Argentina
pts Com 6 meses em barricas de carvalho, é Consistente safra após safra, este é um belo
frutado e muito gostoso de beber. Esbanja exemplo de Bonarda sem passagem por madeira e
ameixas e amoras de perfil mais fresco seguidas de um verdadeiro precursor desse estilo fresco, frutado
notas de ervas e de especiarias, que se confirmam e fluido. Cheio de tipicidade, é suculento, direto e
na boca. Ótimo exemplo de que menos é mais. muito gostoso de beber. Mostra ameixas seguidas de
R$ 45 | Álcool 12% notas florais e herbáceas.
R$ 70 | Álcool 13% | World Wine

RAR COLLEZIONE SAUVIGNON BLANC 2017 TABALÍ PEDREGOSO SAUVIGNON BLANC


88
pts
RAR Vinhos, Campos de Cima da Serra, Brasil 91
pts
 2017 • Tabalí, Limarí, Chile
Sem madeira, é fácil de agradar. Tem ótima É um porto seguro para quem quer tomar
acidez e notas de ervas, que escoltam suas frutas um vinho da cepa, que ofereça qualidade acima da
brancas e cítricas. Tem final com toques salinos e média para o seu preço. Vibrante e tenso, impressiona
de limão, que pedem a companhia de frutos do pelo estilo mineral, com muita textura, sempre envolto
mar. por deliciosa acidez e frutas cítricas, terminando com
R$ 49 | Álcool 11,5% toques salinos e de ervas, que pedem mais um
gole. R$ 76 | Álcool 13,5% | World Wine
BORSAO GARNACHA 2016 ANAKENA TAMA VINEYARD SELECTION
88
pts
Bodegas Borsao, Campos de Borja, Espanha 89 CABERNET SAUVIGON 2015
pts
Campos de Borja é uma DO localizada na província Anakena, Cachapoal, Chile
de Zaragoza e de onde vem as uvas 70% Garnacha, 20% Com estágio entre 9 e 12 meses em barricas de
Cabernet Sauvignon e 10% Tempranillo para elaborar este tinto carvalho, mostra aromas de frutas negras seguidas de
sem passagem por madeira. Frutado, redondo e suculento, notas florais, de ervas secas e de especiarias doces.
com notas de violeta e leves toques especiados e minerais. Puro É frutado e estruturado. Tem acidez na medida,
suco de framboesas e cerejas, boa acidez, taninos de boa textura taninos de ótima textura e final carnudo, com toques
e final persistente.R$ 50 | Álcool 13,5% | World Wine minerais. R$ 87 | Álcool 13,5% | Winebrands
SETTESOLI NERELLO MASCALESE 2016 KAIKEN ESTATE SAUVIGNON BLANC
88
pts
 Settesoli, Sicília, Itália 89
pts
 SÉMILLON • Kaiken, Mendoza, Argentina
A Nerello Mascalese não passa por madeira As duas uvas são usadas em partes iguais,
mas dorme por 6 meses em tanques de inox. Boa sem passagem por madeira. O vinho traz o frescor
oportunidade de conhecer essa cepa, típica da da Sauvignon com a estrutura e a cremosidade da
região do Etna. Mostra perfil de frutas vermelhas Sémillon, tudo envolto por ótima acidez e muita fruta
mais frescas escoltadas por notas terrosas, florais e branca e de caroço madura. Tem bom volume de boca e
de ervas. De médio corpo com final agradável. final médio/longo, com toques de ervas e de mel.
R$ 50 | Álcool 13% | Cantu R$ 91 | Álcool 12,5% | Qualimpor
BORGO SAN LEO PRIMITIVO SALENTO 2015
88
pts

TROFEO CARMÉNÈRE 2017
Viña del Triunfo, Vale Central, Chile
89
pts
Borgo San Leo, Puglia, Itália
Carnudo e redondo, é gostoso de beber e
De boa tipicidade, mostra as notas
fácil de agradar. Tem acidez na medida, muita fruta
de ervas e de pimenta preta envolvendo suas
negra, taninos macios e final sedutor, pedindo mais
frutas negras. De médio corpo, fácil de entender
uma taça. Versátil, pode acompanhar desde massas
e gostoso de beber, tem taninos macios, acidez
ao molho tipo ragu ou carnes vermelhas.
na medida e final com toques especiados
R$ 93 | Álcool 13% | Devinum
e de ameixas. US$ 14 | Álcool 13%| Vinci

60 | Sabor club
. [ ed.28 ]
CLASSIFICAÇÃO PONTOS
Extraordinário ............ 95 a 100
Excelente ..........................91 a 94
Ótimo ..................................89 a 90
Muito Bom ......................87 a 88
Bom ......................................85 a 86
Regular .............................. 82 a 84
Fraco.......................abaixo de 82
Pontuação conferida pela equipe
de degustadores da revista Adega

De R$ 101 a R$ 200 Acima de R$ 200


MORGADO DE SILGUEIROS CH BRANCO 2016
90
pts
RESERVA TINTO 2011 93  Quinta de Chocapalha, Lisboa, Portugal
pts
Morgado de Silgueiros, Dão, Portugal De vinhas muito antigas de Arinto, este
Com Touriga Nacional e Tinta Roriz que dormem vinho é uma aula de estilo para brancos. Revela nariz
em barricas de carvalho francês. fruta amarela madura e delicioso floral. Mas em boca
Os anos a mais de garrafa fizeram muito bem a esse despista e surpreende. É seco, elegante e estruturado,
vinho, aportando maciez aos seus taninos de boa com ervas, uma mordida de pêssego fresco e vibrante
textura, trazendo ainda mais equilíbrio ao conjunto. de acidez.Um branco inesquecível que faz. R$ 232 |
R$ 108 | Álcool 13,5% | La Pastina Álcool 12,5% | Adega Alentejana

LES LARMES DU VOLCAN ROUGE 2016 VACHERON SANCERRE ROUGE 2016


90
pts
 La Cave La Fontésole, Languedoc-Roussillon, França 93
pts
Domaine Vacheron, Loire, França
Mostra aromas de frutas vermelhas em Com Pinot Noir de vinhas entre 30 e 50 anos
compota, delicado herbáceo e especiarias. No paladar, que dormem em barricas usadas de carvalho francês.
tem peso, fruta preta gorda e generosa, acompanhada de Mostra a força e a verticalidade típica da cepa de modo
bastante extrato, mostrando muita qualidade de fruta. sutil e cheio de fruta. Impressiona pelos taninos de fina
Há ainda o frescor de ervas, que lembram tomilho. Sua textura e pelo final com toques terrosos e de cerejas.
acidez alta é salivante e traz equilíbrio e balanço Muito R$ 330 | Álcool 12,5% | Clarets
gastronômico. R$ 110 | Álcool 13% | Adega Alentejana
ICARDI TABAREN BARBERA D’ASTI 2015 CASTELLO DEL TERRICCIO TASSINAIA 2014
91
pts
Icardi, Piemonte, Itália 93
pts
Castello del Terriccio, Toscana, Itália
Orgânico e biodinâmico, é cheio de vida Com Cabernet Sauvignon (50%) e Merlot
e muito gostoso de beber. Esbanja frutas vermelhas (50%), impressiona pelo equilíbrio do conjunto e
como cerejas e morangos acompanhadas de notas pelos taninos de grãos finos e de ótima textura. Eles
florais, terrosas e de ervas. Tenso e vibrante, tem envolvem frutas vermelhas e negras e notas florais,
taninos de boa textura, gostosa acidez e final terrosas e de couro. É refinado, com final longo e
suculento e persistente, confirmando o nariz.R$ toques de ervas secas e de grafite.
139 | Álcool 13% | World Wine US$ 110 | Álcool 13,5% | Mistral

VILLARD EXPRESIÓN RESERVE SYRAH 2015 MAZZEI PHILIP 2014


91
pts
Villard, Casablanca, Chile 93
pts
Mazzei, Toscana, Itália
De boa tipicidade, apresenta pura fruta A Cabernet Sauvignon e a Chianti Classico
negra de perfil mais fresco acompanhada de dormem por 18 meses em barricas de carvalho. É
notas de especiarias picantes e de ervas, tudo refinado e macio, com notas especiadas, terrosas e de
num contexto de rica acidez e gostosa textura, flores. Elas envolvem fruta vermelha e negra madura. Tem
com notas, minerais, defumadas e de carne taninos de fina textura e final longo com toques de grafite.
acompanhando seu final persistente e agradável. Está ótimo agora, mas tem tudo para ficar ainda melhor
R$ 142 | Álcool 13,5% | Decanter nos próximos 10. R$ 430 | Álcool 14,4% | Grand Cru
ZORZAL GRAN TERROIR PINOT NOIR 2016 DOMAINE DU CLOS-FRANTIN VOSNE-
91  Zorzal Wines, Mendoza, Argentina 95
pts
742&3“*c
pts Albert Bichot, Borgonha, França
Terroso, com muita cereja, ótimo volume e
deliciosa textura de taninos, projetando-se pela na Revelação que já começa jogando na premier
boca e espalhando frescor por onde passa. As notas league. O nariz encanta com alecrim e pimenta
florais e de especiarias doces trazem complexidade ao branca. A boca exala nobreza e é deliciosamente
conjunto. Tenso e vibrante, tem tudo para ficar ainda elegante. Suco de cereja batido com a caroço e
melhor nos próximos 5 anos. menta. Compre agora e guarde para celebrar uma
R$ 170 | Álcool 14% | Grand Cru data muito especial, daqui a 20 anos.
R$ 1.058 | Álcool 13% | Winebrands

Sabor club . [ ed. 28 ] | 61


Cerveja
Baum Hardt Bier
Monster Mash
Abóbora, canela, noz moscada
e cravo: tudo misturado para
dar origem a uma cerveja muito
equilibrada. Alta dinkability.

Ugly
Duck Imperial
Pumpkin Ale Abóbora Bier Hoff
É maturada em barrica
TSVQIWIWIǻREPM^EHE
com brettanomyces, um
na garrafa Jerimoon
Pumpkin IPA
tipo de lúpulo daqueles. Famosa no Halloween ianque, É equilibrada com
curiosas notas
Resultado: é intensa a a pumpkin ale é ótima para dias HIPÅTYPSǼSVEPI
beça, com notas claras
de gengibre, canela e de clima ameno YQTIVǻPQEPXEHS
marcante. Ele é fruto
açúcar mascavo. Além da
do uso do malte
abóbora, claro.
de trigo com o de
centeio caramelizado
e cinco outras
variedades. Sim,
tem leve toque de
abóbora. Que cerveja
boa!

Diz a lenda que foi George Washington o primeiro a colocar abóbora na cerveja. É fato,
porém, que ela foi o primeiro legume domesticado nos EUA. E que foi parar no barril,
Suricato para adicionar o açúcar necessário, quando faltava malte. É por isso que o primeiro Loeb’ Bier
No Creo em cervejeiro (ops, primeiro presidente) americano, colocou a abóbora nas receitas que Pumpkin
Brujas desenvolvia. Muitos anos depois, um apaixonado pelo herói ianque seguiu a Ale
Como as receitas
A pimenta síria (do sua trilha e fez o mesmo. Ou quase. No lugar do legume in natura, colocou mais interessantes
Reino, da Jamaica,
torta de abóbora na mistura e criou um novo estilo. Ele explodiu não da terra do Tio
canela, cravo e
faz muito tempo, quando a Brooklin Beer lançou uma pumpkin Sam, aqui a
noz moscada) é o
matadora. Normalmente, cheia de especiarias e com um abóbora surge
elemento que dá
caramelizada e
um toque muito mínimo toque adocicado, o estilo dá origem a um mistura com a
especial para essa caldo denso, sem ser forte, ótimo para dias combinação de
pumpkin com gosto
de temperaturas amenas. um quarteto de
de doce de avó.
maltes. A boca
É deliciosa.
ainda revela
especiarias como
Invicta cravo, canela,
Pump King gengibre e noz
A boca revela caramelo, e moscada.
especiarias (canela, coentro,
noz moscada, cravo),
GSQǻREPUYIEUYIGI4
retrogosto traz as notas de
doce de abóbora.

62 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
Na dele
Rigor e espírito livre são
a receita de sucesso da
cozinha instigante do
ótimo Sei Shiroma
por Matheus Vieira
fotos Tomás Rangel
“PRECISO SABER EXATAMENTE O QUE VAMOS mas sou o tipo de pessoa que precisa fazer o que
fazer.” Shin Shiroma, o nova iorquino com origem gosta. Para um garoto de 24 anos, tinha um salário
japonesa que revolucionou o jeito de fazer pizzas que nunca tinha imaginado, mas não queria que
no Rio e agora de servir comida oriental no seu aquele fosse o trabalho que definia a minha vida.”
hipster South Ferro, é um sujeito do qual não vemos A saída surgiu quando conheceu a mulher,
todos os dias: é absolutamente focado, objetivo, Daniela, neurocientista da Universidade Federal do
perfeccionista. Não é afeito a salamaleques. Rio de Janeiro. “Em Nova York o mais importante é
Ao ouvir o que precisaríamos produzir, se dirige conseguir um trabalho para sobreviver ao ritmo da
ao cozinheiro que fará os prato selecionados para cidade. Um dos motivos que me trouxe para o Brasil
ilustrar a reportagem: “Cada foto leva de 5 a 10 foi querer sair de lá. Quis encontrar o meu caminho
minutos para ser feita. Isto é, assim que me entregar no mundo e tive o privilégio de conseguir.”
o primeiro, pode calcular 10 minutos para trazer o Então empacotou os vinis de funk dos anos 70 e
seguinte.” Ai, do pobre se falhar segundos aqui e ali. 80 (seus xodós), alguns livros raros e chegou no Rio
A precisão no tempo tem como objetivo decidido a viver fazendo pizzas ou ramen.
preservar o melhor aspecto da comida para as Quando o Ferro e Farinha apareceu, no Catete,
imagens. Só assim, diz, podem representar o que elas num formato nunca antes visto, foi mal interpretado

“Em Nova York, o mais importante é conseguir um trabalho para sobreviver ao


ritmo da cidade. Eu quis sair de lá e encontrar o meu caminho no mundo”
realmente são. “Sou a pessoa mais chata que você vai – embora faça umas das melhores redondas da
entrevistar”, diz, referindo-se ao perfil rigoroso. “As cidade. Na opinião desse redator e do júri de várias
pessoas vão ler a minha história e pensar que sou o premiações relevantes, a melhor.
tipo de cara que só trabalha, vai para casa e come.” O comentário geral era que tinha um chinês que
Não é bem assim. Quando ainda morava na fazia pizza igual a um italiano. “Let’s break it down!”
Maçã, o garoto que nasceu no Queens e cresceu (dá um tempo!). “Não é só italiano ou todo italiano
em Midtown pegava pesado, lavando prato no que faz pizza. Mas, não posso negar, isso me torna
restaurante dos pais até ser virar, como diz, um uma figura única na cidade.”
péssimo garçom. O rigor de Shin o fez mergulhar em pesquisas de
Até que formou-se em Literatura Inglesa e ingredientes e também do melhor forno – e como
trabalhou por 3 anos como redator publicitário usá-lo. Então vem o formato do restaurante, um
no ramo farmacêutico. “Escrevia numa linguagem balcão numa loja simples, bem hispter, com conceito
bonita para conseguir vender. Ganhava muito bem, de sushi-ya, o bar de sushi onde o cliente vê o

A pizza e o ramen
Os dois pratos vêm do coração de Sei Shiroma
Quando o Shin põe a mão na massa (em sentido comum. As coberturas são inusitadas. Uma das
literal) é quando ele mais brilha. Afinal, trata-se de um mais gostosas leva grana padano, couve marinada
cozinheiro radicado em Nova York, com pai chinês e em shoyu, mel picante, gengibre e alho confit.
mãe japonesa – fortemente inspirado pelos sabores No South Ferro, a massa do ramen também é
rústica pizzaria Di Farra, no Brooklyn. preparada com caprichos especiais. Os fios são
No Ferro e Farinha é muito comum ver uma levíssimos, preparados com um mix de farinhas
aglomerações de pessoas famintas pela pizza, – para serem comidos ainda quentinhos, antes
feita com fermentação natural mais longa do que o de absorverem a água do caldo.

66 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
Tartare de atum
(Akami Tarutaru)
Os guiozas são famosos no South Ferro. Assim como o katsu karê, uma dos pratos mais pedidos da casa

sushiman trabalhando atrás do balcão. o cozinheiro, fala em inglês. Mas poderia ser
Com esse espírito autoral, livre e anárquico, em japonês ou chinês, línguas que também fala
Sei bola coberturas inimagináveis, como couve fluentemente.
marinada em shoyu e gengibre, mel picante e alho No final das contas, Shin acabou mergulhando
confit. Mas o fluxo criativo tem limites. Afinal, é numa cozinha que condensa referências da milenar
preciso manter a liturgia do ato de comer o prato. culinária asiática, com um toque contemporâneo.
“Não passo de seis ingredientes. A massa, o queijo Funciona. A comida dele é muito marcante, bem
e o molho de tomates entram nessa conta.” feita, e com uma assinatura que vale ser destacada.
Há dois anos, num plano de expansão dos Não à toa, o South Ferro já tem tanta procura
negócios, abraçou o desejo de fazer ramen e de quanto o seu negócio original – o que o faz ter

“If I’m gonna fail, I’m going to fail in style. If I’m going to suceed I’m going to
do it my way... Desculpe, falo em inglês quando é algo que vem do coração”
embarcar nas referências múltiplas da culinária de administrar 21 funcionários, entre a rotina da
oriental. O South Ferro nasceu primeiro como uma pequena Hsia (lê-se Chá), de dois anos.
espécie de “Ferro e Farinha express”, com fatias de E viagens esporádicas a China e ao Japão.
pizza, mas aos poucos encontrou seu lugar noutra “Saio daqui para viver experiências gastronômicas
especialidade. A ideia foi fazer um “ramen de verão”, intensas. Como sentar num banquinho de plástico
que combinasse mais com o estilo carioca. em Hong Kong e comer algo tão incrível tão incrível
“If I’m gonna fail, I’m going to fail in style. If quanto um prato servido em restaurante três
I’m going to suceed I’m going to do it my way.” estrelas.” Rigorosamente impecável, do jeito
Traduzindo: “Se vou falhar, será com estilo. E se for que ele gosta.
bem sucedido, será do meu jeito”. South Ferro – R. Arnaldo Quintela, 23, Botafogo,
Quando diz algo que vem do coração, revela Rio de Janeiro – RJ. Tel.: (21) 3986-4323

68 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
Tartare de Katsu Karê
atum (Akami (1 porção)
Tarutaru) INGREDIENTES
[porco]
PREPARO

(1 porção) [porco]
1 barriga de porco desossada (tire
a cartilagem remanescente) Esfregue a carne de porco com
INGREDIENTES pouco sal. Junte a marinada e
90 g de atum em cubos Sal qb.
deixe marinando por 8 horas
médios [marinada de porco] Asse descoberto, com a pele virada
7 g de shoyu 1 xícara de shoyu para cima e sem amontoar por 3
2 g de vinagre de arroz 1/2 xícara de molho inglês horas em forno a 130º C
4 g de maionese 3/4 de xícara de Nam Pla
Kewpie (à venda em Retire do forno, retire o líquido e
lojas de produtos 1 xícara de açúcar mascavo reserve para o karê
orientais) 1 cebola cortada em 4 Prense bem a carne, com bastante
1 g de nirá picado fino 1 cabeça de alho cortada na peso, numa superfície nivelada
3 g de picles de metade
Leve à geladeira. Depois de
mostarda 3 dedos de gengibre resfriado, retire pele e reserve para
1 pitada de wasabi Raízes de 1 molho de cebolinha o tarê
1 pitada generosa de [para empanar]
katsuobushi [marinada de porco]
130 g de barriga prensada e assada Coloque tudo em uma panela,
1 pitada generosa de
pimenta coreana em Farinha de trigo para empanar junte água suficiente para cobrir
flocos (Gochugaru) Ovos batidos com um pouco de os componentes e ferva
1 gema de ovo curada água
[porco empanado]
(colocar a gema crua Farinha Panko para empanar
em duas colheres de Passe o porco na farinha, depois
[karê] no ovo, novamente na farinha e
sopa de shoyo por duas
horas na geladeira) 2 fios de caldo de porco (se não no ovo, e finalmente na farinha
tiver, substituir por pele de porco Panko
PREPARO cozida por algumas horas em água
Misture todos os suficiente para cobrir a pele, não [karê]
ingredientes. Por deixar reduzir)
Refogue a cebola, o gengibre, a
último, colocar em 1/3 de xícara de curry pimenta, a canela e o anis em
cima uma gema de 1 pau de canela manteiga
ovo curada 2 estrelas de anis Junte curry e refogue mais um
1 pimenta dedo-de-moça sem pouco. Junte caldos e deixe apurar
sementes
2 cebolas médias cortadas
Junte o roux e deixe engrossar
grosseiramente Acrescente o molho inglês e o Nam
80 g de gengibre Pla. Se não atingir consistência
10 conchas de dashi desejada, acrescente mistura de
5 conchas de caldo de galinha fécula aos poucos
1/3 de xícara de Nam Pla
1/3 de xícara de molho inglês
Manteiga qb.
3/4 de xícara de roux escuro de
farinha e óleo
2 colheres de fécula de batata
dissolvida em água qb.
70 | Sabor club
. [ ed.28 ]
DELICATESSEN

Treme-treme
A flor de jamburana, que causa aquela tremedeira na boca,
vai para em licor que vai bem de drinques a receitas

O pessoal do norte do país sabe, desde O resto do país, no entanto, sentiu a língua
sempre, da tremedeira que o jambu causa formigar não faz muito tempo. Primeiro,
quando colocamos as folhas ou bebidas surgiram os produtos amazônicos, a partir do
com elas infusionadas na boca. Ah, trabalho de introdução no Brasil e no mundo
como é famosa a cachacinha com jambu, afora do saudoso mestre Paulo Martins e depois
especialmente em Belém e em Manaus. pelas mãos do seu mais orgulhoso discípulo, o

Sabor club
. [ ed. 28 ] | 71
Banana
flambada
com licor de
jamburana
(1 porção)
INGREDIENTES
2 bananas pratas
½ colher de sopa
de manteiga
1 dose de licor
de jamburana

PREPARO
Corte as
bananas ao meio
no sentido do
comprimento
Em uma
frigideira
coloque a
manteiga e frite
Alex Atala. Foi ele quem levou o espanhol Ferran A bebida é feita à base de cachaça, mel e a as bananas até
que estejam
Adrià, no auge da badalação, para conhecer o florzinha em infusão. Pode ser tomada pura no douradas dos 2
trabalho do Paulo. Diante do jambu, ficou louco: cálice, fresca ou gelada. E também num copo lados
“É eletricidade vegetal!”, definiou. de uísque, on the rocks, se preferir. Mais ainda: Coloque o licor e
Bastaram os chefs festejarem o produto e é um ingrediente e tanto para drinques como o flambe
não demorou para, por exemplo, chegar até em gim-tônica e até para incrementar uma caipirinha. Para servir,
versões mais ousadas do Moscow Mule. O drinque Nesse caso, melhor evitar o açúcar na receita. retire as
com vodca, suco de limão e xarope de açúcar sob Do copo ao prato, o licor com a flor de bananas da
uma espuma de gengibre virou modinha e,claro, jamburana pode ser adicionado a receitas doces frigideira e
coloque no prato
ganhou invencionices. e salgadas, como manda a tradição paraense.
É na espuma que surge a folha do treme- É sempre bom lembrar que os indefectíveis
Acrescente a
calda em cima
treme, responsável por conferir uma onda Tacacá e o Pato no Tucupi contam com jambu da banana e
toda especial para a bebida. entre os ingrediente de preparo. decore como
O efeito jambu, no entanto, é genial, não se A intenção é sempre causar surpresa, fazer quiser
discute. Mas há ressalvas para usar o produto: os lábios pinicarem, causar, digamos,
é preciso ter acesso a matéria-prima, que não é uma textura a mais.
exatamente fácil de encontrar. Também convém O licor com a flor de jamburana vem de
saber aplicá-la. Isto é, na proporção correta, para a Marituba, município da Região Metropolitana de
boca não ficar mole demais. Belém. Lá a bebidinha é famosa que só e a Joanna,
Para não pensar em nada disso, a Manioca, de acordo com a missão da Manioca de Levar a
empresa da Joanna Martins, chef e filha do Paulo todas as pessoas os ingredientes da amazônia de
Martins, desenvolveu o supimpa licor com a flor forma inovadora, natural, num comércio justo que
de jamburana. Ele é uma gostosura só, dá uma gere desenvolvimento sustentável para região, traz
ondinha bacana e é superversátil. o produto para gente.

72 | Sabor club
. [ ed.28 ]
Sabor club
. [ ed. 28 ] | 73
– Na estrada –

Uma osteria
no campo
Pense numa coisa boa: a casa da
D. Odete, na Serra Gaúcha, é tudo
isso e mais um pouco
por Thiago Lotufo

Pense num lugar de gente feliz, mas que não queijos acompanhado de molho de linguiça com
é o Pão de Açúcar. Pense num lugar lindo, tomate. É pelo conjunto da obra. Pelos três esses:
muito lindo, onde o campo mostra toda a sorrisos, serviço, simpatia.
sua essência: mato verdinho, céu azul, bichos Não importa se você está hospedado em
pastando, laguinho, flores e árvores frutíferas por Garibaldi ou em Bento Gonçalves. A estrada, de Estrelas da
todo canto. Pense também numa casa rústica, um lado ou de outro, corta a zona rural da serra. dona Odete
construída em madeira com um porão de É bonita demais. Reserve o dia. Vá sem pressa. O que você não pode deixar
pedra. Pense nas pessoas que moram ali: gente Mastigue pelo menos 30 vezes antes de engolir de comer (e beber!) por aqui
hospitaleira, trabalhadora e de uma simplicidade cada pedaço do que é servido aqui e seja feliz! Salada de folhas com frutas
cativante. Pense na Osteria della Colombina, em da estação – É uma salada
comum #soquenao. É toda
Garibaldi, na Serra Gaúcha. É tudo isso e mais Osteria Della Colombina orgânica, e isso faz toda
um pouco. Dona Odete Bettú e suas quatro filhas: Comunidade Linha São Jorge, Garibaldi – RS. a diferença.
Rosângela, Raquel, Roselaine e Raísa. Tel.: (54) 3464-7755. Almoços aos sábados (só com Sopa de capeletti – A massa
A casa das cinco mulheres serve uma das reservas) e domingos. R$ 70 por pessoa (cardápio à vem da vizinha Monte Belo
refeições mais memoráveis que você pode desejar vontade com 7 pratos e sobremesa) do Sul, mas o caldo vem da
ter na região famosa pelas uvas e vinhos. E não cozinha da dona Odete.
Que caldo!
é somente pela sopa de capeletti com o melhor
caldo do mundo nem pelo nhoque com três Nhoque com linguiça – É
tão bom, seja pela textura,
seja pela combinação de
sabores, que é melhor não
descrever em palavras. Coma
IHIǻREZSG´QIWQS
Carne de panela com
legumes – Assada à moda
antiga, na panela de ferro.
Manja comida de vó que
sabe cozinhar?
Vinho da casa – É a
7SW¬RKIPEǻPLEHE)
Odete, quem faz. Com uvas
biodinâmicas. Prove
o Cabernet Franc.

74 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
Professional Wine
and Spirits Fair

Entre os dias 15 e 17 de outubro,


São Paulo se tornará a capital
dos negócios do vinho
na América Latina

5VSZMRSƳ+IMVE5VSǻWWMSREP
HI:MRLSWI)IWXMPEHSW
Primeira edição

250
15-17
OUT
10
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Direcionado integralmente ao público


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Programe-se e venha fazer bons negócios!


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Clássicos

A canjica
do Milton
Mineiríssima, a receita homenageia uma das
pérolas do antológico Clube da Esquina, Canjica mineira
disco que ganha imperdível turnê revival INGREDIENTES
500 g de milho
para canjica
2 litros de água
Cravo e Canela 1 lata de leite
(Milton Nascimento e condensado
Ronaldo Bastos, 1972)
400 ml de leite de coco
Ê morena quem temperou, 500 ml de leite
Cigana quem temperou 2 paus de canela
O cheiro do cravo
1/2 colher (chá)
de canela em pó
Cigana quem temperou,
Morena quem temperou 10 cravos
A cor de canela 2 colheres (sopa) de
açúcar, ou a gosto
A lua morena 2 xícaras de coco ralado
A dança do vento Amendoim torrado
O ventre da noite picado para decorar
E o sol da manhã (opcional)
PREPARO
A chuva cigana
A dança dos rios Deixe a canjica de molho
na água durante a noite
O mel do Cacau
E o sol da manhã Numa panela grande,
cozinhe a canjica na
mesma água por 50
minutos
Quando a canjica estiver
macia, junte o leite
condensado, o leite de
Você sabia? coco, o leite e misture bem
com uma colher de pau
Acrescente as canelas, o
cravo e o açúcar
Deixe levantar fervura,
depois diminua o fogo e
cozinhe em fogo baixo por
20 minutos, até engrossar
O cravo-da-índia, Eles são o botão Inicialmente, o O eugenol, A canela é nativa
Adicione o coco ralado e,
quem diria, não desidratado cravo era usado principal do antigo Ceilão,
é da Índia, mas, HEǼSVHIYQE em doces por composto do atual Sri Lanka, e
se desejar, adoce mais
sim, das ilhas árvore tropical conta de sua óleo essencial obtida a partir da Sirva quente em xícaras
Molucas, na ação repelente, do cravo, tem casca interna de ou tigelas individuais
Indonésia que impedia propriedades várias espécies Decore com uma pitada de
a invasão de antissépticas e de árvores canela em pó e uma colher
formigas anestésicas do género
de sopa de amendoim
Cinnamomum
picado se desejar
76 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
Produto
Farofa
de família
Receita guardada a sete chaves, em pot
pote,
é um curinga e tanto na cozinha
por Luisa Mattos

Com que
farinha
eu vou?
• Farofa pode
ser feita com
vários tipos.
Tem farinha
Só D. Selma sabe os segredos d’água, farinha
da farofa que virou negócio de mandioca,
nas mão do casal Átila de milho.
e Renata Farhat
• Muito melhor
Há quatro gerações, uma receita de farofa de alho cozinha; o pai cuida da parte comercial, o marido quando usava
em até 20
é guardada a sete chaves pela família da advogada do operacional e da logística, enquanto ela toca o
dias depois de
Renata Farhat Sabbatini. O preparo o do prato, setor administr
administrativo. produzida.
desenvolvido por sua bisavó há mais de cem em anos
anos, Renata explica que o sucesso do produto vem
Ren
vinha sendo ensinado a todas as filhas, netas e muito da farinha de mandioca que o compõe: é • Como não é
bisnetas que vieram. Mas foi ela quem teve a ideia totalmente natural, torrada no fogão à lenha e não fácil ter acesso
ao produto
de comercializá-lo. “Eu cresci comendo essa farofa leva conservantes ou glúten. Mas o que considera com tão pouco
de alho e levando para as festas nas casas dos realmente crucia
crucial é o apelo afetivo de uma marca tempo, saiba
amigos, que sempre pediam mais. Um m dia, familiar. “Minhas lembranças de
fam que a farinha
há três anos, me vi com uma bela carreira
rreira inf
infância e juventude são excelentes, industrializada
costuma ser
de advogada, casada, com dois filhos, s, mas co
com vários bons momentos à mesa mais seca – e
sem tempo para eles e com uma má pa
para comer essa farofa, que antes nem sempre
qualidade de vida. Foi quando eu era algo só da minha família. Meu é um bom
e meu marido, Átila, decidimos ob
objetivo é proporcionar essa mesma produto.
viver o sonho de abrir um negócio experiência para todo mundo.” • Um bom teste
a partir dessa comida que O que a Renata quer dizer para reconhecer
para mim sempre foi muito Farofa
F f é que o gostinho de alho, farinha boa
especial”, conta Renata. não é virado sem exagero, somado a é, primeiro,
Para ser farofa ela tem colocar o dedo
A empresária contou crocância perfeita dão
de ser sequinha dentro dela:
com a ajuda de toda origem a um tipo de se ela grudar
a família para montar A origem da farofa é incerta, mas há farofa que vai bem com é porque tem
correntes de que ela é uma mistura das amido em
a empresa, a Farofa inúmeros pratos.
culturas indígena (que usava a farinha de excesso.
Especial Santa Rita, nome mandioca), com a portuguesa (que usa A chef Tássia
dado em homenagem à alho, cebola e óleo como base para tudo). Magalhães, do riso.e.ria, • Depois, prove.
santa de devoção do clã. Mestres no tema, como a chef Mara por exemplo, usa o Farinha tem
Sua mãe, D. Selma Farhat, Salles, garantem que a farofa deve produto para acompanhar gosto, sim.
ser sequinha. Se for úmida e Não pode ser
que sabe todos os truques – e empapada se torna virado os diversos arrozes que faz.
insossa e deve
não revela – para preparar a – e é outro prato. Ter essa farofinha no armário é encher a boca
farofa com maestria, comanda a um curinga daqueles. de sabor.

Sabor
bor club
. [ ed. 28 ] | 7
77
Para
AMAR

Coisa fofa
Embalagem linda do chocolate da Helô Bacellar
dá origem a descanso de mesa e porta-corpos
Chocolate sempre foi uma das paixões da chef Heloísa Bacellar
– e desenvolver uma receita era um dos seus sonhos. Realizado agora
com o Chocolate 40% Gianduia de Castanha do Pará (R$ 17, 50g), cremoso
que só ele. E, olha que legal, envolvido numa embalagem linda, criada pela
amiga e assessora de imprensa Patrícia Moll. Ela estudou artes plásticas
e, pelo o que se vê, realmente tem talento para a coisa. Tanto que a Helô
transformou o desenho em descanso de mesa e, porta-copos fofíssimos.
Eles podem ser comprados no Lá da Venda, o restaurante-armazém
da Helô. Custam R$ 48 e R$ 55 (a dupla), respectivamente.

Lá da Venda – Rua Harmonia, 161, Vila Madalena,


São Paulo – SP. Tel.: (11) 3037-7702
Harmonia
O que beber com as receitas desta edição

Sobert de cambuci Stinco de porco Gelato de café com


com bolo de fubá com tutu de feijão limão e chocolate
e frutas nativas manteiguinha
Porto Tawny
Late Harvest Vinho Verde tinto
Dubel
Sour Pilsen

Crepe suflée com Bolo de abelha Cherne na chapa


gelato de pistache
Pinot Grigio
Vin Santo
Moscatel brut
Blond Ale
Colorado Appia
Sour

Almondegas com Frango com arroz Hummus variados


jabuticabas marroquino
Viognier Espumante brut
Espumante brut
Lager APA
Saison

Tartar de atum Guiza Shin Shiroma Katsu karê


Gewürztraminer Pinot Griogio
Riesilng
Pilsner Catharina Sour
Pilsner
Surprise box #19
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A bebida é feita à base de
cachaça, mel e a flor de
jamburana em infusão.
Pode ser tomada pura no
cálice, fresca ou gelada.
E também num copo de
uísque, on the rocks. Mais
ainda: é um ingrediente
e tanto para drinques
como o gim-tônica e até
para incrementar uma
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parte do mesmo clube!
Porco na lata, Geleias da Farofa com alho, Biscoitos
Carne na lata Mata Atlântica, Farofa Especial amanteigados,
Sítio do Bello Santa Rita Royal British Butter
A receita que a família Homemade Cookies
do Heittor Valadar fez É no sítio em Paraibuna, Há quatro gerações, a
desde sempre foi parar em São Paulo, que receita de farofa de alho é Os biscoitos amanteigados
numa embalagem bacana, Douglas Bello, um químico guardada a sete chaves pela ingleses, perfeitos para
para a gente sentir aquele apaixonado pela natureza, família da advogada Renata acompanhar o chazinho-
gosto de roça. Há três tratou do solo para que ele Farhat Sabbatini. O preparo nosso-de-cada-dia são uma
cortes suínos disponíveis: pudesse receber sementes do prato, desenvolvido por febre mundial. Não só pelo
lombo, costela e pernil. No de diversos ecossistemas sua bisavó há mais de cem produto excepcional, assim
processo de fabricação, a brasileiros. Então começou anos, vinha sendo ensinado como pela apresentação,
carne é cortada e imersa a plantar as árvores de a todas as filhas, netas e na lata charmosa, repleta
em tempero durante um frutas nativas, para não só bisnetas que vieram. A de peças em diversos
dia completo, em seguida vendê-las em polpa, para receita secreta leva farinha formatos. É um must dos
é frita durante cerca de chefs como a Bel Coelho, de mandioca torrada no free shops, na Europa.
três horas, até que perca mas também para dar fogão à lenha e o precioso Por aqui, não é dos mais
totalmente a água. “A origem a produtos com as toque de alho. É crocante, fáceis de encontrar.
fritura acontece na própria especialíssima geleias de leve e vai bem com tudo. Mas nós encontramos!
banha do porco, que tem amora, cambuci, jabuticaba É inteiramente sem
propriedades que garantem e uvaia, que compõe o kit conservantes.
a total conservação da Mata Atlântica, produzido
carne”, explica o produtor. especialmente para
É aquecer e lamber os Sabor.club.
beiços com o gosto da
nossa tradição.
Food Art

82 | Sabor club
. [ ed. 28 ]
“EU PENSAVA QUE CONHECIA PORTUGAL, MAS PELO VISTO NÃO CONHECIA”
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