Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Autora
Maria Firmina dos Reis (São Luís, Maranhão, 11 de março de 1822- 1917) foi
uma escritora do século XIX, considerada a primeira romancista
afrodescendente brasileira.
NARRADOR
A narrativa é em terceira pessoa. O narrador é um observador que se posiciona
com intenções oniscientes. O ponto-de-vista é declaradamente antiescravista.
Apoiado enfaticamente nos conceitos religiosos e amenizado no discurso
social. Percebe o narrador sem radicalismo buscando a harmonia, mas
revelando a situação do escravo como a maior injustiça perante Deus e os
homens. O exemplo da escrava Susana é um flagrante libelo acusatório da
agressão à liberdade. Da publicação do livro (1859) até a Lei Aurea (1888) é
um longo percurso para a situação de milhões que viviam situações as mais
diversas até a libertação
ESPAÇO/TEMPO / CONTEXTO
Embora o espaço e o tempo sejam indeterminados na obra, percebe-se que a
narrativa e contextualizada à época da publicação do livro - 1859 em ambiente
rural do Maranhão e um convento que presume-se na capital, destacando-se
sobremaneira o contexto da escravidão. A narrativa é linear, isto é, de tempo
cronológico, apesar da presença do flashback para contar sobre Adelaíde.
PERSONAGENS
As personagens não tem aprofundamento psicológico. São movimentadas mais
do ponto de vista externo, mas alguns momentos expressam atitudes de
sentimentos marcantes como narração da velha preta Susana, que expressa
sentimentos internos profundos.
Úrsula
Filha de Luísa e Paulo, tem o pai morto pelo tio materno, o comendador, por
não aceitar o casamento. Cuida de Tancredo, que é levado enfermo à sua
casa, apaixonando-se por este, sendo retribuída. Busca escapar da fúria do fio
que a deseja por esposa Morre louca com o assassinato de Tancredo. E o foco
principal do triangulo amoroso entre Tancredo e o comendador.
Tancredo
Jovem bacharel que, após ser iludido por Adelaide, a prima que amara, e seu
pai, foge. Conhece Úrsula, a quem se apaixona e se casa. É morto na noite do
casamento pelo vilão, tio e pretendente de Úrsula, o comendador Fernando.
Fernando (o comendador)
É um típico vilão romântico: traiçoeiro, misterioso-aquele tipo "capa e espada".
Fazendeiro cruel e prepotente. É extremamente perverso (sádico) para com
seus escravos: explora a mão-de obra cativa até o limite de suas forças.
Assassino. Como não concordara com o casamento da irmã, mata o cunhado,
Paulo. Fica completamente apaixonado Úrsula. Capaz de provocar muitas
mortes e sofrimentos para obtê-la. Ela enlouquece e morre. Ele, termina
remoendo suas culpas em um convento, onde morre. É a encarnação do mal
sobre a terra e passa a ocupar o plano principal das ações.
Túlio
É um bom momento de dignidade, solidariedade e elevação moral. Escravo da
decadente fazenda de Luísa, mãe de Úrsula, que tivera a morte da mãe
precocemente pelo comendador. Socorre Tancredo e consegue deste a
amizade, a confiança e a alforria. Morre tentando alertar o amigo da
emboscada que Fernando preparara para ele e Úrsula. Simboliza a
humanidade sofrida do afrodescendente que não reflete rancor, que suporta os
mais diferentes sofrimentos. Tem o marido morto a mando do irmão. Tem uma
vida de privações: paralitica e doente. Morre com ao saber que seu irmão
malvado pretende casar-se à força com sua filha.
Antero
É escravo do comendador. A autora faz o contraponto do caráter elevado de
Túlio com o escravo Antero, marcado pelo vício da bebida, quebrando o
aspecto da idealização de que o branco é ruim e o negro é bom.
Susana
Preta da casa de Úrsula que criou Túlio quando da morte de sua mãe. É morta
impiedosamente pelo cruel comendador. Narra a sua captura na África e de
como foi trazida e vendida como escrava. É um bom exemplo de dignidade
esforça de caráter. E ela que explica a Túlio o sentido da verdadeira liberdade.
Susana é o melhor exemplo do foco individual que reflete o coletivo. E o
discurso do outro fazendo ouvir pela primeira vez na literatura brasileira a voz
dos escravizados. É o momento mais politizado do romance. É o ponto alto do
discurso antiescravista de que relativiza a conquista da alforria de Túlio. A voz
dessa personagem é a voz da autora. A negra Susana é, de certa forma,
espécie de alter ego de Maria Firmina dos Reis.
Pais de Tancredo
O pai de Tancredo era uma pessoa extremamente despótica e patriarcal.
Dominador que impõe à sua esposa, uma mulher passiva e resignada, seus
desejos e vontades. Após a morte desta, desposa a noiva do filho que provoca-
lhe inúmeros desgostos. Morre arrependido de ter se casado com Adelaide.
Adelaide
Materialista, não consegue encontrar a felicidade ao lado de nenhum homem.
Considerações Finais
O romance Úrsula teve sua primeira publicação em 1859, é primeiro romance
escrito por uma mulher no Brasil. Ao publicar Úrsula em 1859, a autora, Maria
Firmina dos Reis, assinou com o pseudônimo “Uma Maranhense”, estratégia
muito utilizada por mulheres naquela época, por várias razões, entre elas
porque deviam ficar com mais liberdade para expressar suas idéias, sem se
preocupar tanto com as opiniões da sociedade.
No prólogo da obra, a autora afirma saber que “pouco vale este romance,
porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e
sem o trato e conversação dos homens ilustrados.” Por trás dessa declaração
de modéstia, a escritora revelou sua condição social: o fato de não ter
estudado na Europa, nem dominar outros idiomas, como era comum entre os
homens educados de sua época, por si só indicava o lugar que ocupava na
sociedade em que nasceu. É desse lugar intermediário, mais próximo da
pobreza que da riqueza, que Maria Firmina corajosamente levantou sua voz
através do que chamou “mesquinho e humilde livro”. E, mesmo sabendo do
“indiferentismo glacial de uns” e do “riso mofador de outros”, desafiou: “ainda
assim o dou a lume”.
No caso de Maria Firmina, as novas idéias eram não somente sobre a condição
feminina, mas também sobre a condição do negro. Úrsula não é apenas o
primeiro romance abolicionista da literatura brasileira, é também o primeiro
romance da literatura afro-brasileira, entendida esta como produção que
temática o“negro” a partir de uma perspectiva comprometida politicamente em
recuperar e narrar a condição do ser negro no Brasil. Logo se nota, pelo
tratamento dado aos personagens negros, às mulheres e à escravidão, que as
preocupações presentes em Úrsula destoa da literatura produzida em sua
época em muitos aspectos. Era 1859, momento em que a prosa de ficção dava
seus primeiros passos na literatura brasileira. Com seu gesto, sob muitos
aspectos inaugural, Maria Firmina apontou o caminho do romance romântico
como atitude política de denúncia de injustiças.
Do ponto de vista formal, o texto marca-se pela linearidade narrativa e por
personagens romantizados. Situando Úrsula no contexto da narrativa
folhetinesca.