Você está na página 1de 4

11a Aula

Bases de um espaço vectorial


Seja V um espaço vectorial sobre K. Dizemos que um conjunto B = fv1 ; v2 ; :::; vm g V é
uma base de V se L (B) = V e os vectores v1 ; v2 ; :::; vm são linearmente independentes.

Exemplo 1 Os vectores unitários

e1 = (1; 0; 0; 0) ; e2 = (0; 1; 0; 0) ; e3 = (0; 0; 1; 0) ; e4 = (0; 0; 0; 1)

formam uma base do espaço R4 (a que chamamos base canónica de R4 ).

Exemplo 2 As matrizes unitárias

1 0 0 1 0 0 0 0
M1 = ; M2 = ; M3 = ; M4 =
0 0 0 0 1 0 0 1

formam uma base do espaço M2 2 (R) (a que chamamos base canónica de M2 2 (R)).

Exemplo 3 Os polinómios

p1 (t) = 1; p2 (t) = t; p3 (t) = t2 ; p4 (t) = t3

formam uma base do espaço P3 (a que chamamos base canónica de P3 ).

Coordenadas de um vector numa base

Proposição 1 Seja V um espaço vectorial e B = fv1 ; v2 ; :::; vm g uma base de V . Então para
qualquer vector u 2 V existem escalares únicos c1 ; :::; cm 2 K que veri…cam

u = c1 v1 + c2 v2 + + cm vm .

Demonstração: Porque fv1 ; v2 ; :::; vm g é um conjunto gerador de V , conclui-se que para


qualquer vector u 2 V existem escalares c1 ; :::; cm tais que

u = c1 v1 + c2 v2 + + cm vm .

Para mostrar que estes escalares são únicos, basta notar que as igualdades

u = c1 v1 + c2 v2 + + cm vm e u = d1 v1 + d2 v2 + + dm vm

implicam
!
0 = (d1 v1 + d2 v2 + + dm vm ) (c1 v1 + c2 v2 + + cm vm )
= (d1 c1 ) v1 + (d2 c2 ) v2 + + (dm cm ) vm ,

donde se conclui, pela independência linear dos vectores v1 ; v2 ; :::; vm , que di ci = 0 para
qualquer i = 1; :::; m:

1
Aos escalares c1 ; :::; cm chamamos componentes ou coordenadas do vector u na base
B = fv1 ; v2 ; :::; vm g. Para representar as coordenadas do vector u na base B usaremos as
notações 2 3
c1
6 7
[u]B = 4 ... 5 2 Mm 1 (K) (notação matricial),
cm
ou
(u)B = (c1 ; :::; cm ) 2 Km (notação vectorial).
Exemplo 4: Seja B = fe1 ; e2 ; e3 ; e4 g a base canónica de R4 e x = (x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) 2 R4 .
Como
x = (x1 ; x2 ; x3 ; x4 )
= (x1 ; 0; 0; 0) + (0; x2 ; 0; 0) + (0; 0; x3 ; 0) + (0; 0; 0; x4 )
= x1 (1; 0; 0; 0) + x2 (0; 1; 0; 0) + x3 (0; 0; 1; 0) + x4 (0; 0; 0; 1)
= x 1 e1 + x 2 e 2 + x 3 e 3 + x 4 e4 ,
podemos escrever
(x)B = (x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) ,
ou alternativamente 2 3
x1
6 x2 7
[x]B = 6 7
4 x3 5 .
x4

x11 x12
Exemplo 5: Seja B = fM1 ; M2 ; M3 ; M4 g a base canónica de M2 2 (R) e X = 2
x21 x22
M2 2 (R). Como
x11 x12
X =
x21 x22
x11 0 0 x12 0 0 0 0
= + + +
0 0 0 0 x21 0 0 x22
1 0 0 1 0 0 0 0
= x11 + x12 + x21 + x22
0 0 0 0 1 0 0 1
= x11 M1 + x12 M2 + x21 M3 + x22 M4 ,
podemos escrever
(X)B = (x11 ; x12 ; x21 ; x22 ) ,
ou alternativamente 2 3
x11
6 x12 7
[X]B = 6 7
4 x21 5 .
x22
Exemplo 6: Seja B = fp1 (t) ; p2 (t) ; p3 (t) ; p4 (t)g a base canónica de P3 e p (t) = a0 + a1 t +
a2 t2 + a3 t3 2 P3 . Como
p (t) = a0 + a1 t + a2 t2 + a3 t3
= a0 p1 (t) + a1 p2 (t) + a2 p3 (t) + a3 p4 (t) ;

2
podemos escrever
(p (t))B = (a0 ; a1 ; a2 ; a3 ) ,
ou alternativamente 23
a0
6 a1 7
[p (t)]B = 6 7
4 a2 5 .
a3
Proposição 2 Seja B = fv1 ; v2 ; :::; vm g uma base de um espaço vectorial V . Então a
correspondência
( )B : V ! Km
u ! (u)B
é biunívoca e goza das seguintes propriedades:
1) (u + v)B = (u)B + (v)B , para quaisquer u; v 2 V
2) ( u)B = (u)B , para quaisquer u 2 V , 2 K:

Exercício 2: Demonstre a proposição anterior.

Proposição 3: Seja B = fv1 ; v2 ; :::; vm g uma base de um espaço vectorial V . Para quaisquer
vectores u1 ; u2 ; :::; un 2 V , são válidas as seguintes a…rmações:
1) Os vectores u1 ; u2 ; :::; un formam um conjunto gerador de V se e só se as correspondentes
coordenadas (u1 )B ; (u2 )B ; :::; (un )B 2 Km formam um conjunto gerador de Km .
2) Os vectores u1 ; u2 ; :::; un são linearmente independentes se e só as correspondentes coor-
denadas (u1 )B ; (u2 )B ; :::; (un )B 2 Km são linearmente independentes.
3) Os vectores u1 ; u2 ; :::; un formam uma base de V se e só as correspondentes coordenadas
(u1 )B ; (u2 )B ; :::; (un )B formam uma base de Km :

Demonstração. 1) Pela proposição anterior temos

u = x1 u1 + x2 u2 + + xn un , (u)B = (x1 u1 + x2 u2 + + xn un )B
, (u)B = x1 (u1 )B + x2 (u2 )B + + xn (un )B ,

para quaisquer x1 ; :::;xn 2 K, u 2 V , donde se conclui que

u 2 L fu1 ; u2 ; :::; un g se e só se (u)B 2 L f(u1 )B ; (u2 )B ; :::; (un )B g :

Logo, porque f(u)B : u 2 V g = Km , podemos escrever

V = L fu1 ; u2 ; :::; un g se e só se Km = L f(u1 )B ; (u2 )B ; :::; (un )B g .

2) Pela proposição anterior temos


! !
0 = x1 u1 + x2 u2 + + x n un , 0 = (x1 u1 + x2 u2 + + xn un )B
B
, (0; :::; 0) = x1 (u1 )B + x2 (u2 )B + + xn (un )B ,

para quaisquer x1 ; :::;xn 2 K. Pela Proposição 1 da aula anterior, isto mostra que os vectores
u1 ; u2 ; :::; un são linearmente independentes se e só o mesmo acontece com as correspondentes
coordenadas (u1 )B ; (u2 )B ; :::; (un )B . 3) É uma consequência imediats de 1) e 2).

3
Exercício 1: Mostre que os polinómios

q1 (t) = 1 + 2t t2 ; q2 (t) = 3 + t2 ; q3 (t) = 5 + 4t t2 ; q4 (t) = 2 + 2t t2

geram P2 :

Resolução: Consideremos a base canónica de P2 , B = fp1 (t) = 1; p2 (t) = t; p3 (t) = t2 g.


Pela proposição anterior, apenas precisamos de mostrar que as coordenadas dos polinómios
q1 (t) ; q2 (t) ; q3 (t) ; q4 (t) na base B,

(q1 (t))B = (1; 2; 1) ; (q2 (t))B = (3; 0; 1) ; (q3 (t))B = (5; 4; 1) ; (q4 (t))B = ( 2; 2; 1) ,

formam um conjunto gerador de R3 , o que facilmente se veri…ca por eliminação de Gauss,


2 3 2 3 2 3 2 3
1 3 5 2 1 3 5 2 1 3 5 2 1 3 5 2
4 2 0 4 2 5!4 0 6 6 6 5!4 0 6 6 6 5!4 0 1 1 1 5 = L,
1 1 1 1 0 4 4 3 0 4 4 3 0 0 0 1

já que nenhuma das linhas de L é nula.

Exercício 2: Mostre que as matrizes

1 1 1 1 1 0 0 1
X1 = ; X2 = ; X3 = ; X4 =
1 0 0 1 1 1 1 1

formam uma base do espaço M2 2 (R):

Resolução: Designemos a base canónica de M2 2 (R) por B. Pela proposição anterior,


apenas precisamos de mostrar que as coordenadas das matrizes X1 ; X2 ; X3 ; X4 na base B,

(X1 )B = (1; 1; 1; 0) ; (X2 )B = (1; 1; 0; 1) ; (X3 )B = (1; 0; 1; 1) ; (X4 )B = (0; 1; 1; 1) ,

formam uma base de R4 , o que facilmente se veri…ca já que a matriz


2 3
1 1 1 0
6 1 1 0 1 7
6 7
4 1 0 1 1 5
0 1 1 1

é invertível.

Você também pode gostar