Você está na página 1de 7

22a Aula

Produto interno e ortogonalidade


Dados u; v 2 Rn ; u = (u1 ; :::; un ) ; v = (v1 ; :::; vn ) de…ne-se o produto interno (usual) de
u por v; como sendo o valor real

u v = u1 v1 + ::: + un vn :

Considerando os vectores coluna


2 3 2 3
u1 v1
u = 4 ::: 5 ; v = 4 ::: 5 ;
un vn

o produto interno pode descrever-se em termos de um produto matricial:

u v = uT v:

O produto interno possui as seguintes propriedades:

i) u v = v u (comutatividade).

ii) u (v + w) = u v + u w (distributividade).

iii) u ( v) = (u v) ; 8 2 R:

iv) u u > 0 e u u = 0 se e só se u = 0:

À custa do produto interno de…nimos a norma de um vector u 2 Rn ; kuk ; através da relação


q
1=2
kuk = (u u) = u21 + ::: + u2n :

São válidas as seguintes propriedades da norma:

i) kuk > 0 e kuk = 0 se e só se u = 0:

ii) k uk = j j kuk ; 8 2 R:

iii) ju vj 6 kuk kvk (desigualdade de Cauchy-Schwarz).

iv) ku + vk 6 kuk + kvk (desigualdade triangular).

A distância entre dois vectores u e v é de…nida pelo valor

d(u; v) = ku vk :

O ângulo, = ] (u; v), entre dois vectores não nulos u e v de…ne-se como sendo o único
ângulo que satisfaz
u v
2 [0; ] e cos =
kuk kvk
(note-se que por iii) existe um só ângulo nestas condições).

1
Exercício 1 Para os casos a seguir indicados calcule u v e cos ( = ] (u; v)) :
a) u = ( 1; 1; 0) ; v = (0; 0; 1) :
b) u = (1; 2; 1) ; v = (3; 1; 0) :
c) u = ( 2; 1; 1) ; v = (3; 1; 2 ) :

Resolução: b) Como
p p p
kuk = (1; 2; 1) (1; 2; 1) = 1 + 4 + 1 = 6,
p p p
kvk = (3; 1; 0) (3; 1; 0) = 9 + 1 + 0 = 10
e
u v = (1; 2; 1) (3; 1; 0) = 3 + 2 + 0 = 5,
temos p
5 15
cos = p p = :
6 10 6
Vectores e subespaços ortogonais
Dois vectores u; v 2 Rn são ditos ortogonais (u ? v) se u v = 0:
Teorema de Pitágoras: Se dois vectores u e v 2 Rn são ortogonais então

ku + vk2 = kuk2 + kvk2 .

Demonstração: Por de…nição de norma tem-se

ku + vk2 = (u + v) (u + v)
= (u + v) u + (u + v) v
= u (u + v) + v (u + v)
= u u+u v+v u+v v
= u u + 2 (u v) + v v
= kuk2 + kvk2 .

Exercício 2: Prove a regra do paralelogramo:

ku vk2 + ku + vk2 = 2 kuk2 + 2 kvk2 :

Dois subespaços U e V de Rn dizem-se ortogonais se

u v = 0; 8u 2 U; 8v 2 V:

Dado um subespaço U de Rn ; toma o nome de complemento ortogonal de U; o conjunto

U ? = fv 2 Rn : v u = 0; 8u 2 U g :

2
Complemento
ortogonal de um
subespaço de R2 Complemento ortogonal de um Complemento ortogonal de um
(dim U = 1) subespaço de R3 (dim U = 2) subespaço de R3 (dim U = 1)

A respeito deste conceito são válidas as seguintes a…rmações:

U ? é um subespaço de Rn :
U e U ? são subespaços ortogonais.
U \ U ? = f(0; :::; 0)g :
Se U = L fu1 ; :::; up g então U ? = fv 2 Rn : u1 v = 0; :::; up v = 0g :

Dada uma matriz real, A; n p então (ColA)? = NulAT :


dim U + dim U ? = n:
U + U ? = Rn
?
U? = U:

Dada uma matriz real, A; p n então (NulA)? = ColAT :

Exercício 3: Determine uma base do complemento ortogonal do subespaço U de R4 quando:


a) U = L f(1; 0; 1; 1); (1; 0; 1; 0)g
b) U = L f(1; 0; 1; 1); (1; 0; 1; 0); (1; 2; 2; 0)g
Resolução: a) Basta notar que
(x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) 2 U ? , (x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) (1; 0; 1; 1) = 0 ^ (x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) (1; 0; 1; 0) = 0
, x1 + x3 + x4 = 0 ^ x1 + x3 = 0
1 0 1 1
, (x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) 2 Nul .
1 0 1 0
Ou seja
1 0 1 1
U ? = Nul
1 0 1 0
1 0 1 1
= Nul
0 0 0 1
= f( x3 ; x2 ; x3 ; 0) : x2 ; x3 2 Rg
= L f( 1; 0; 1; 0); (0; 1; 0; 0)g ,

3
pelo que f( 1; 0; 1; 0); (0; 1; 0; 0)g é base de U ? . b) Basta notar que
2 3
1 1 1
6 0 0 2 7
U = Col 64 1
7
1 2 5
1 0 0
para obter
2 3
1 0 1 1
U? = Nul 4 1 0 1 0 5
1 2 2 0
2 3
1 0 1 1
= Nul 4 0 2 2 1 5
0 0 0 1
= f( x3 ; x3 ; x3 ; 0) : x3 2 Rg
= L f( 1; 1; 1; 0)g ,
donde se conclui que f( 1; 1; 1; 0)g é base de U ? .

Exercício 4: Encontre uma base do complemento ortogonal do subespaço U de R4 nos


seguintes casos:
a) U = f(x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) 2 R4 : x1 + 2x2 + x3 + 2x4 = 0 ^ x1 + 2x2 x3 = 0g
4
b) U = f(x1 ; x2 ; x3 ; x4 ) 2 R : x1 x2 + x3 x4 = 0 ^ 2x2 x3 = 0 ^ x1 + x2 + x4 = 0g
Resolução: a) Como
1 2 1 2
U = Nul ,
1 2 1 0
temos 2 3
1 1
6 2 2 7
U ? = Col 6
4 1
7,
1 5
2 0
donde se conclui que f(1; 2; 1; 2) ; (1; 2; 1; 0)g é base de U ? . b) Como
2 3
1 1 1 1
U = Nul 4 0 2 1 0 5;
1 1 0 1
temos 2 3
1 0 1
6 1 2 1 7
U ? = Col 6
4 1
7,
1 0 5
1 0 1
e por eliminação de Gauss,
2 3 2 3 2 3
1 0 1 1 0 1 1 0 1
6 1 2 7
1 7 6 0 2 2 77 6 0 2 2 7
6 !6 !6 7;
4 1 1 0 5 4 0 1 1 5 4 0 0 2 5
1 0 1 0 0 2 0 0 0
vemos que f(1; 1; 1; 1) ; (0; 2; 1; 0) ; (1; 1; 0; 1)g é base de U ? .

4
Bases ortogonais e ortonormadas
Um conjunto fu1 ; :::; up g Rn diz-se ortogonal se não contiver o vector nulo e os seus
vectores forem ortogonais dois a dois. Isto é, se

uj 6= 0 8j e uj uk = 0; 8j 6= k:

Se além disso, se tiver


kuj k = 1; 8j;
diremos que fu1 ; :::; up g é um conjunto ortonormado.
Relativamente a estes conjuntos é possível obter as seguintes conclusões:

São linearmente independentes os vectores de qualquer conjunto ortogonal.

Se U é um subespaço de Rn com dim U = p, qualquer conjunto ortogonal de p vectores,


B = fu1 ; :::; up g U , é uma base de U . Diz-se neste caso que B é uma base ortogonal
de U .

Se U é um subespaço de Rn com dim U = p, qualquer conjunto ortonormado de p


vectores, B = fu1 ; :::; up g U , é uma base de U . Diz-se neste caso que B é uma base
ortonormada de U .

Coordenadas de um vector numa base ortogonal


Se E designa a base canónica de Rn , vemos que B = fu1 ; :::; un g é uma base ortogonal
de Rn se e só se se a matriz de mudança de base ME B satisfaz
T
(ME B) ME B = D,

com 2 3
u1 u1 0 0 ::: 0
6 0 u2 u2 0 ::: 0 7
6 7
D=6
6 0 0 u3 u3 ::: 0 7.
7
4 ::: ::: ::: ::: ::: 5
0 0 0 ::: un un
Em particular, a base B é ortonormada se e só se a matriz ME B é ortogonal, isto é
1 T
(ME B) = (ME B) :

Assim, as coordenadas de um vector v 2 Rn numa base ortogonal B = fu1 ; :::; un g são dadas
por
2 3 2 vu 3
1
v u1 u1 u1
6 7 6 7
[v]B = MB E [v]E = (ME B ) [v]E = D 1 (ME B ) [v]E = D 1 4 ... 5 = 4 ... 5 ,
1 T

v un
v un un un

ou seja
v u1 v un
v= u1 + + un .
u1 u1 un un

5
Se em particular a base B é ortonormada, então

v = (v u1 ) u1 + + (v un ) un :

As mesmas igualdades são válidas para uma base ortogonal B = fu1 ; :::; up g de um subespaço
U Rn , isto é
u u1 u up
u= u1 + + up 8u 2 U , (0.1)
u1 u1 up up
tendo-se ainda
u = (u u1 ) u1 + + (u up ) up 8u 2 U ,
quando B é base ortonormada de U .

Exercício 5: Dos casos seguintes indique aqueles em que B = fu1 ; u2 ; u3 g é uma base
ortogonal de R3 . Nos casos a…rmativos transforme B numa base ortonormada.
a) u1 = ( 1; 4; 3) ; u2 = (5; 2; 1) ; u3 = (3; 4; 7) :
b) u1 = (1; 2; 1) ; u2 = (0; 1; 2) ; u3 = ( 5; 2; 1) :
Resolução: a) Neste caso a base não é ortogonal, já que a matriz
2 3T 2 3
1 5 3 1 5 3
(ME B)
T
ME B = 4 4 2 4 5 4 4 2 4 5
3 1 7 3 1 7
2 32 3
1 4 3 1 5 3
= 4 5 2 1 54 4 2 4 5
3 4 7 3 1 7
2 3
26 0 2
= 4 0 30 0 5
2 0 74

não é diagonal. b) Neste caso a base é ortogonal, já que


2 3T 2 3
1 0 5 1 0 5
(ME B)
T
ME B = 4 2 1 2 5 4 2 1 2 5
1 2 1 1 2 1
2 32 3
1 2 1 1 0 5
= 4 0 1 2 54 2 1 2 5
5 2 1 1 2 1
2 3
6 0 0
= 4 0 5 0 5.
0 0 30

Para transformar esta base ortogonal numa base ortonormada, bastará multiplicar cada um
dos seus vectores pelo inverso da respectiva norma, ou seja a base de R3 formada pelos
vectores
u1 1 2 1 u2 1 2 u3 5 2 1
= p ; p ;p ; = 0; p ; p ; = p ; p ;p
ku1 k 6 6 6 ku2 k 5 5 ku3 k 30 30 30
é ortonormada.

6
Exercício 6: Veri…que que os vectores b1 = (1; 1; 0), b2 = (1; 1; 1), b3 = (1; 1; 2)
formam uma base ortogonal de R3 e determine as coordenadas do vector v = (3; 2; 1) nesta
base.
Resolução: Para veri…car que a base é ortogonal basta notar que
2 3T 2 3 2 3
1 1 1 1 1 1 2 0 0
(ME B)
T
ME B
4
= 1 1 1 5 4 1 1 1 5 = 4 0 3 0 5.
0 1 2 0 1 2 0 0 6

Assim, como 2 3
1
0 0 2
MB E = (ME B)
1
= 4 0 13 0 5 (ME B)
T
,
0 0 61
as coordenadas de v nesta base são dadas por
2 1 32 32 3 2 5 3
2
0 0 1 1 0 3 2
4
[v]B = MB E [v]E = 0 3 0 1 5 4 1 1 1 5 4 2 5 = 4 0 5.
0 0 61 1 1 2 1 1
2

Exercício 7: Mostre que os vectores

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
b1 = ; ; ; ; b2 = ; ; ; ; b3 = p ; 0; p ; 0 ; b4 = 0; p ; 0; p
2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

formam uma base ortonormada de R4 e determine as coordenadas do vector v = (2; 3; 1; 2)


nesta base.
Resolução: Para veri…car que a base é ortonormada basta notar que
2 1 1
3T 2 3
p1 0 1 1 p1 0
2 2 2 2 2 2
6 1 1
0 p1 7 6 1 1
0 p1 7
T 6 2 2 2 7 6 2 2 2 7
(ME B) ME B =6 1 1 p1
7 6 1 1 p1
7 = I.
4 2 2 2
0 5 4 2 2 2
0 5
1 1 p1 1 1 p1
2 2
0 2 2 2
0 2

Assim, como
1 T
MB E = (ME B) = (ME B) ,
as coordenadas de v nesta base são dadas por
2 1 1
3 2
1 1
32 3
2 2 2 2 2
4
6 1 1 1 76 7 6
1
1 7
[v]B = MB [v]E = 6 2p 2 2 76 3 7 = 6
p
2 p 7.
E 4 1
2 1
0p 2 2 p 0 54 1 5 4 1
2 5
2 2p
1 1 2 1
0 2
2 0 2
2 2
2

Você também pode gostar