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Coordenadas retangulares no espaço

No Cálculo I estudamos funções reais de uma variável real x. Os


gráficos de tais funções são curvas no plano R2 . Em Cálculo II
ainda estamos interessados em curvas no plano, mas também em
superfı́cies no espaço tridimensional R3 .
Todo ponto do plano é determinado por suas coordenadas
cartesianas (retangulares), dado por um par (x, y ). De maneira
análoga, os pontos do espaço são determinados por 3 coordenadas,
(x, y , z).
Note que podemos considerar vários planos contidos dentro do R3 .
Destacamos abaixo os planos coordenados:
Assim como os eixos coordenados do plano dividem o R2 em 4
quadrantes, os planos coordenados dividem o R3 em 8 octantes.

O conjunto de pontos (x, y , z) com x ≥ 0, y ≥ 0 e z ≥ 0 é dito


primeiro octante.
Distância entre pontos do R3
Pergunta: qual o comprimento da diagonal de uma caixa de lados
de comprimento a, b, c?

Podemos fazer isto aplicando o teorema de Pitágoras duas vezes.


Primeiro encontramos a diagonal da base e depois escrevemos
qp p
d= ( a2 + b 2 )2 + c 2 = a2 + b 2 + c 2
Pergunta: e se quisermos calcular a distância entre dois pontos
quaisquer? Note que isso se reduz ao problema da diagonal de
uma caixa:

Daı́ concluı́mos que


q
d(P1 , P2 ) = (x2 − x1 )2 + (y2 − y1 )2 + (z2 − z1 )2
q
d(P1 , P2 ) = (x2 − x1 )2 + (y2 − y1 )2 + (z2 − z1 )2

Pergunta: escolha um ponto do espaço P = (a, b, c) ∈ R3 . O que


é o conjunto de todos os pontos à distância R do ponto P? Tais
pontos (x, y , z) satisfazem
q
(x − a)2 + (y − b)2 + (z − c)2 = R

ou seja,
(x − a)2 + (y − b)2 + (z − c)2 = R 2

O conjunto de todos os pontos (x, y , z) que satisfazem tal equação


é a esfera centrada em P e raio R.
Exercı́cio. Obtenha uma equação para a esfera abaixo.

Exercı́cio. Descreva o conjunto de todos os pontos que satisfazem


tais equações em R3 .
Exercı́cio. Determine o centro e o raio da esfera

x 2 + y 2 + z 2 − 2x − 4y + 8z + 17 = 0

Teorema. Uma equação da forma

x 2 + y 2 + z 2 + Gx + Hy + Iz + J = 0

representa uma esfera, um ponto, ou não possui gráfico.


Pergunta: sob quais condições tal equação não possui gráfico?
Pergunta: quais são os pontos que satisfazem a equação

x 2 + y 2 = 1?

Note que ainda não especificamos se estamos falando de pontos do


plano ou do espaço. Se esta é uma equação do R2 , então temos
um cı́rculo. Mas e se tal equação for do R3 ? Temos um cilindro:
são os pontos (x, y , z) tais que (x, y ) estão em um cı́rculo, e z é
qualquer.
Exemplo. Esboce o gráfico de x 2 + z 2 = 1 em R3 . Note que
como y não aparece na equação, o eixo y será o eixo principal (ou
seja, y pode ser qualquer). No plano xz tal equação é um cı́rculo.
Vetores

Em R2 e R3 , um vetor é qualquer seta: a direção e o sentido da


seta especificam a direção e sentido do vetor e o comprimento da
seta determina a magnitude do vetor. Grandezas como força,
velocidade, aceleração podem ser descritas por vetores. A noção de
vetor permeia toda a matemática e suas aplicações como as
engenharias, fı́sica, computação, economia, etc.
A cauda da seta indica o ponto inicial e a ponta indica o ponto
final. Vamos dizer que dois vetores v e w são iguais (ou
equivalentes) se tiverem o mesmo comprimento, direção e
sentido. Neste caso escreveremos v = w. Ou seja, dois vetores são
iguais se um for translação do outro.
Ora, mas então todo vetor é equivalente a um vetor cujo ponto
inicial coincide com a origem (o ponto (0, 0) no caso de R2 e o
ponto (0, 0, 0) no caso de R3 ). Portanto podemos especificar um
vetor pelas coordenadas do plano (ou espaço) do ponto final.
Se v e w são vetores, a soma v + w é o vetor de ponto inicial de v
ao ponto final de w quando os vetores estiverem posicionados de
tal forma que o ponto inicial de w é o ponto final de v.

Figura: Soma de v e w. Note que v + w = w + v.

Note também que se 0 = (0, 0) e 0 = (0, 0, 0) são os vetores nulos


em R2 e R3 , respectivamente, então v + 0 = 0 + v para qualquer
vetor v.
Se v for um vetor não nulo e k um número real qualquer (também
dito escalar), então o múltiplo escalar kv é definido como sendo
o vetor cujo comprimento é |k| vezes o comprimento de v, cuja
direção é a mesma de v e cujo sentido é o mesmo de v se k > 0 e
o oposto a v se k < 0. Definimos kv = 0 se k = 0 ou v = 0.
Observe que se k e v forem não nulos então v e kv são vetores
paralelos. Ainda, o vetor (−1)v tem o mesmo comprimento de v,
mas sentido oposto. E temos que v − w significa v + (−1)w
Antes, comentamos brevemente que vetores podem ser descritos
em termos de suas coordenadas. Escreveremos um vetor v em
termos de suas coordenadas (também ditas componentes) na
forma v = (v1 , v2 ) ∈ R2 ou v = (v1 , v2 , v3 ) ∈ R3 , onde vi ∈ R.
Finalmente, temos o seguinte resultado básico.
Teorema. Dois vetores são equivalentes se, e somente se, seus
componentes correspondentes são iguais.
Por exemplo, se (a, b, c) = (−3, 6, 2), isto significa que a = −3,
b = 6, c = 2.
Operações com vetores

Se v = (v1 , v2 ) e w = (w1 , w2 ) forem vetores no espaço


bidimensional R2 e k for um escalar qualquer então

1 v + w = (v1 + w1 , v2 + w2 )

2 v − w = (v1 − w1 , v2 − w2 )

3 kv = (kv1 , kv2 )

O resultado análogo vale para vetores do R3 .


Exemplo. Se v = (−3, 5, 2) e w = (0, 1, 1) então

v + w = (−3, 6, 3), 4w = (0, 4, 4)


Exemplo. (Vetores com ponto inicial não na origem). Lembre que
definimos os componentes de um vetor como sendo as coordenadas
de seu ponto final, quando ponto inicial estiver na origem. E se
quisermos as coordenadas quando o ponto inicial não estiver na
origem?
Sejam P1 = (x1 , y1 ) e P2 = (x2 , y2 ) pontos no espaço
bidimensional e que estamos interessados em encontrar os
−−−→
componentes do vetor P1 P2 (ponto inicial P1 e final P2 ). Note que

−−→ −−−→ −−→


OP1 + P1 P2 = OP2 =⇒

−−−→ −−→ −−→


P1 P2 = OP2 − OP1 = (x2 , y2 ) − (x1 , y1 ) = (x2 − x1 , y2 − y1 )
−−−→ −−→ −−→
P1 P2 = OP2 − OP1 = (x2 , y2 ) − (x1 , y1 ) = (x2 − x1 , y2 − y1 )

Portanto concluı́mos que dois pontos distintos determinam um


−−−→ −−−→
vetor, dado por P1 P2 . Pergunta: o que é P2 P1 ?
−−−→
Exercı́cio. Se P1 = (4, 2) e P2 = (−3, −3), calcule P1 P2 .
Teorema. Para quaisquer vetores u, v, w e quaisquer escalares a e
b, as seguintes relações são válidas.

1 u+v =v+u

2 (u + v) + w = u + (v + w)

3 u+0=0+u=u

4 u + (−u) = 0

5 a(bu) = (ab)u

6 a(u + v) = au + bv

7 (a + b)u = au + bu

8 1u = u

Prova: Exercı́cio.
A norma de um vetor v = (v1 , v2 ) (também dita magnitude ou
comprimento) é dada por
q
kvk = v12 + v22

Definimos norma de um vetor do R3 de maneira análoga. Se


v = (v1 , v2 , v3 ),
q
kvk = v12 + v22 + v32

Exemplo. Calcule a norma de v = (−3, −5).


Pergunta: se k ∈ R, e v é um vetor, quanto vale kkvk?
Vetores unitários
Se |vk = 1, dizemos que o vetor é unitário. No R2 , definimos dois
vetores, dados por

i = (1, 0), j = (0, 1)

Estes vetores são unitários, sendo que o primeiro deles aponta na


direção do eixo x e o segundo na direção do eixo y .
Analogamente, no R3 definimos 3 vetores, dados por

i = (1, 0, 0), j = (0, 1, 0), k = (0, 0, 1)

que apontam na direção dos eixos coordenados x, y , z,


respectivemente, do R3 . Estes também são unitários (confira).
i = (1, 0), j = (0, 1)

i = (1, 0, 0), j = (0, 1, 0), k = (0, 0, 1)

Agora note que

v = (v1 , v2 ) = (v1 , 0) + (0, v2 ) = v1 (1, 0) + v2 (0, 1) = v1 i + v2 j

w = (w1 , w2 , w3 ) = (w1 , 0, 0) + (0, w2 , 0) + (0, 0, w3 )

= w1 (1, 0, 0) + w2 (0, 1, 0) + w3 (0, 0, 1) = w1 i + w2 j + w3 k

Ou seja, qualquer vetor do plano é combinação linear de i e j, e


analogamente para o espaço. Os vetores i, j e k são ditos vetores
canônicos.
Exercı́cio. (Normalizando um vetor). Seja v um vetor (digamos
do R2 ) não nulo qualquer. Seja

v
u=
kvk

Quanto vale kuk? Dizemos que u é a normalização de v.


Exercı́cio. Determine o vetor unitário com a mesma direção e
sentido que v = −2i − 2j + k.
Exemplo. (Vetores determinados por comprimento e ângulo). Seja
v um vetor não nulo com ponto inicial na origem e θ o ângulo
entre o eixo x positivo e a reta radial através de v. Então podemos
escrever v = (kv k cos(θ), kv k sin(θ)) = kv k cos(θ)i + kv k sin(θ)j

Exercı́cio. Determine o vetor de comprimento 2 que faz um


ângulo de π/4 com o eixo x positivo.

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