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CAPÍTULO II
VETORES NO R2 E NO R3
INTRODUÇÃO
Neste capítulo estudaremos as nomenclaturas e operações nos Espaços Vetoriais R2 e R3
procurando, sempre que possível, unir a teoria e a prática.
ESPAÇOS VETORIAIS R, R2 E R3
Espaço vetorial é um conjunto de elementos chamados vetores. A caracterização de um
vetor é feita através do seu número de coordenadas no espaço vetorial.
Dizemos que o espaço vetorial é R se apenas uma coordenada real define um vetor.
Exemplo:
Posicionar no espaço R o vetor 3 unidades na direção x.
OBS.:
Um ponto no espaço R2 é conhecido por dupla ou par ordenado. Já no R3 um ponto é
conhecido por tripla ou terno ordenado. O R do espaço vetorial significa que cada uma das
coordenadas é um número real.
Embora não possamos representar geometricamente, existem espaços vetoriais com mais de
três dimensões onde os vetores são caracterizados pelo seu conjunto de coordenadas.
Exemplo:
Se estivermos tratando com o espaço vetorial R5, cada ponto ou vetor é definido por:
(x 1 , x 2 , x 3 , x 4 , x 5 )
VETORES DA BASE
O posicionamento de um vetor num espaço vetorial precisa da definição dos vetores básicos
em cada uma das direções existentes.
No R2, como posicionamos qualquer ponto através de duas coordenadas, devemos definir
dois vetores básicos que chamaremos de i e de j . O vetor i possui comprimento igual a 1 na
direção x e o vetor j possui comprimento igual a 1 na direção y.
OBS.:
Alguns autores representam os vetores i , j e k como e1 , e 2 e e 3 respectivamente.
Ao conjunto dos vetores unitários i e j chamamos de base canônica (natural) do espaço R2.
Ao conjunto dos vetores unitários i , j e k chamamos de base canônica do espaço R3.
REPRESENTAÇÃO VETORIAL
Um vetor pode ser representado de várias formas:
• Forma matricial:
v = [ x y] no R2
v = [x y z] no R3
Ou:
x
v = no R2
y
x
v = y no R3
z
• Forma vetorial:
v = x i + yj no R2
v = x i + yj + zk no R3
Ou:
v = xe1 + ye 2 no R2
v = xe1 + ye 2 + ze 3 no R3
ADIÇÃO DE VETORES
Sejam u e v dois vetores do espaço vetorial R2 com as seguintes duplas:
u = (u 1 , u 2 )
v = (v1 , v 2 )
A soma u + v é definida por:
u + v = (u1 , u 2 ) + (v1 , v 2 ) = (u1 + v1 , u 2 + v 2 )
A soma de dois vetores no R3 é igual a:
u + v = ( u 1 , u 2 , u 3 ) + ( v1 , v 2 , v 3 ) = ( u 1 + v1 , u 2 + v 2 , u 3 + v 3 )
Geometricamente falando, a soma de dois vetores produz um outro vetor que é a diagonal do
quadrilátero (quadrado, retângulo ou paralelogramo) formado pelos vetores u e v . Na Física, a
soma vetorial significa encontrar a força resultante entre os dois vetores.
Exemplo:
Suponha que a produção de uma lata de refrigerante envolva os seguintes custos:
Alumínio = $0,10/lata
Tinta = $0,05/lata
Mão-de-obra = $0,20/lata
Qual seria o custo para a produção de 100.000 latas de refrigerante?
Primeiramente, podemos definir um vetor custo por lata igual a:
Custo por lata de refrigerante = (0,10 , 0,05 , 0,20)
O custo total de produção de 100.000 latas é a operação de multiplicação do escalar 100.000
pelo vetor custo por lata:
Custo total = 100.000 x (0,10 , 0,05 , 0,20) = ($10.000 , $5.000 , $20.000)
VETORES ESPECIAIS
Existem dois vetores especiais que são necessários para definirmos as operações em espaços
vetoriais. São eles: o vetor nulo e o vetor simétrico (ou oposto).
O vetor nulo no R3 é definido por:
0 = (0,0,0)
Esse vetor tem a finalidade de ser o elemento neutro da soma vetorial e possui direção e
sentido arbitrário.
Agora, no R3 ,consideremos o vetor u :
u = (u 1 , u 2 , u 3 )
O vetor simétrico a u é o vetor definido por:
− u = ( − u 1 ,− u 2 ,− u 3 )
Esse vetor é útil, pois a soma dos vetores u e − u é igual ao vetor nulo.
Exemplo:
Provar a propriedade
(7):
( + )u = u + u
Primeiro, vamos considerar que:
u = (u 1 , u 2 , u 3 )
( + )u = (( + )u 1 , ( + )u 2 , ( + )u 3 )
( + )u = (u 1 + u 1 , u 2 + u 2 , u 3 + u 3 )
Pela definição de soma de dois vetores:
( + )u = (u 1 , u 2 , u 3 ) + (u 1 , u 2 , u 3 )
Pela definição de multiplicação de vetor por escalar:
( + )u = (u 1 , u 2 , u 3 ) + (u 1 , u 2 , u 3 )
Então:
( + )u = u + u
PRODUTO ESCALAR
O produto escalar é uma operação entre dois vetores que produz um escalar. A sua
utilidade está relacionada ao cálculo de projeções.
Suponha dois vetores u e v . A projeção de u sobre v é igual a zero somente se os dois
vetores são perpendiculares (=90o) ou um dos vetores é nulo:
Note que i e j sendo perpendiculares, a projeção de um vetor sobre o outro é zero.
São relações fundamentais do produto escalar:
i i = j j = k k =1
i j = j k = k i = 0
j i = k j = i k = 0
É importante definir o produto escalar em termo das coordenadas de dois vetores u e v
quaisquer:
u = (u 1 , u 2 , u 3 ) = u 1 i + u 2 j + u 3k
v = ( v1 , v 2 , v 3 ) = v1 i + v 2 j + v 3k
O produto escalar é definido por:
u v = (u1 i + u 2 j + u 3k) ( v1 i + v 2 j + v 3k)
u v = u1 v1 i i + u1 v 2 i j + u1 v 3 i k + u 2 v1 j i + u 2 v 2 j j + u 2 v 3 j k +
+ u 3 v1k i + u 3 v 2 k j + u 3 v 3k k
Pelas relações fundamentais, concluímos que:
u v = u 1 v1 + u 2 v 2 + u 3 v 3
OBS.:
Essa operação é conhecida como produto interno usual.
Exemplo:
Encontrar
o produto escalar dos vetores:
u = (1,0,5)
v = (3,8,2)
Pela definição:
u v = u 1 v1 + u 2 v 2 + u 3 v 3
u v = 1 3 + 0 8 + 5 2 = 13
Caso a norma do vetor v seja igual a 1, então dizemos que o vetor v é unitário ou que v é
um versor. Podemos normalizar qualquer vetor não-nulo, ou seja, tornar o seu módulo igual a 1.
Para isso, basta dividirmos o vetor pelo seu próprio módulo.
Exemplo:
Normalizar
o vetor:
v = (3,2,−4)
Primeiro, calculamos o seu módulo:
v = 3 2 + 2 2 + (−4) 2 = 29
Agora vamos chamar de u o vetor v pelo seu módulo:
v (3,2,−4) 3 2 4
u= = = , ,−
v 29 29 29 29
Calculando o módulo de u :
2 2 2
3 2 4 9 + 4 + 16 29
u = + + − = = =1
29 29 29 29 29
VETORES ORTOGONAIS
Dois vetores são ditos ortogonais se o produto interno desses vetores é igual a zero, ou seja:
uv = 0
Para provarmos essa afirmação, primeiramente vamos definir dois vetores u = (u1 , u 2 ) e
v = (v1 , v 2 ) . Verifique a situação no gráfico:
Se os vetores u e v são ortogonais, então =90o. Isso torna a equação igual a:
DESIGUALDADE TRIANGULAR
Uma das propriedades da norma de um vetor é o que se conhece por desigualdade triangular.
Essa propriedade afirma que o maior lado de um triângulo é sempre menor que a soma dos seus
dois outros lados.
Primeiro, vamos considerar o seguinte cálculo:
2
u = uu
Então:
2
u+v = ( u + v) ( u + v)
Aplicando as propriedades de produto interno:
2
u + v = u u + 2(u v) + v v
2 2 2
u + v = u + 2(u v) + v
Sabemos que o produto escalar é dado por:
u v = u v cos
u v u v , já que − 1 cos 1
Aplicando esse conhecimento na equação temos:
2 2 2
u+v u +2u v + v
Finalmente, agrupando os termos:
u+v (u + v )
2 2
Note que a igualdade só se verifica quando os vetores u e v são colineares (estão sob a
mesma direção):
u+v = u + v
Nesse caso, não conseguimos formar um triângulo. Por outro lado, o requisito necessário
para formarmos um triângulo é que:
u+v u + v
VETORES PARALELOS
Considerando a equação do produto escalar:
u v = u v cos
Sabemos que dois vetores são paralelos se o ângulo entre eles é 0o ou 180o. No primeiro
caso, os dois vetores tem a mesma direção e mesmo sentido. No segundo caso, os dois vetores tem
mesma direção e sentidos contrários.
A expressão do produto escalar se reduz então a:
uv = u v
Outra observação importante é que dois vetores paralelos são proporcionais. Nesse caso:
Se u // v e u = ( x , y, z ) , então v = mu = (mx, my, mz) .
A subtração entre os vetores v e u produz o vetor v − u . Conforme a definição de soma
vetorial, temos:
v = ( v1 , v 2 , v 3 )
− u = ( − u 1 ,− u 2 ,− u 3 )
v + ( − u ) = ( v1 , v 2 , v 3 ) + ( − u 1 , − u 2 , − u 3 ) = ( v1 − u 1 , v 2 − u 2 , v 3 − u 3 )
É importante notar que − u é o vetor com a mesma direção e módulo do vetor u , mas com
sentido contrário.
A propriedade desse vetor é que o seu módulo fornece a distância entre os vetores v e u :
v − u = ( v1 − u 1 , v 2 − u 2 , v 3 − u 3 )
2
v − u = ( v1 − u1 ) 2 + ( v 2 − u 2 ) 2 + ( v3 − u 3 ) 2
Note a semelhança da fórmula acima com a fórmula da distância entre dois pontos da
geometria analítica no R2.
Finalmente, O vetor u − v possui a mesma direção e módulo do vetor v − u mas tem
sentido contrário.
Exemplo:
Provar a propriedade (3):
d(u, v) = u − v + w − w
d ( u , v ) = ( u − w ) + ( w − v)
Sabemos que a desigualdade triangular é dada por:
u+v u + v
Aplicando na equação:
d ( u , v) u − w + w − v
d ( u , v) d ( u , w ) + d ( w , v)
Pr ojuv = Pr ojuv e v
Pr ojuv = Pr ojuv eu
Exemplo:
Calcular o tamanho da projeção do vetor u = (1,1,2) sobre o vetor v = (2,2,1) . Encontrar
também a expressão do vetor projeção.
Primeiro calculamos o módulo do vetor v :
v = v12 + v 22 + v 32
v = 2 2 + 2 2 + 12 = 9 = 3
Agora, calculamos o produto escalar entre u e v :
u v = u 1 v1 + u 2 v 2 + u 3 v 3
u v = 1 2 + 1 2 + 2 1 = 6
O tamanho da projeção do vetor u sobre v é dado por:
uv
Pr ojuv =
v
6
Pr ojuv = = 2
3
Precisamos encontrar então o vetor unitário na direção v :
v
ev =
v
(2,2,1) 2 2 1
ev = = , ,
3 3 3 3
O vetor projeção é dado por:
Pr ojuv = Pr ojuv e v
2 2 1 4 4 2
Pr ojuv = 2 , , = , ,
3 3 3 3 3 3
PRODUTO VETORIAL
O produto vetorial é uma operação entre vetores que produz um outro vetor. O
resultado do produto vetorial é sempre um vetor perpendicular aos vetores multiplicados. Essa
operação está relacionada ao cálculo de áreas e volumes.
O produto vetorial é aplicado a vetores no espaço R3 e atende à regra da mão direita.
sen = 1 −
2
u v
u v
uv
sen =
u v
Finalmente, a expressão do módulo do produto vetorial é igual a:
u v = u v sen
O tamanho (módulo) da decomposição do vetor v na direção perpendicular a u ( = v sen )
faz o papel da altura e o tamanho do vetor u faz o papel da base do paralelogramo formado pelos
vetores u e v . Multiplicando os dois valores obteremos a área dessa figura geométrica.
Caso os vetores u e v sejam perpendiculares, então o módulo do produto vetorial fornecerá
a área do quadrado ou retângulo, dependendo se os módulos dos vetores são iguais ou diferentes.
Exemplo:
Calcular a área da figura formada pelos vetores:
u = (2,2,0) e v = (1,2,0)
Dizer se a figura formada pelos vetores é um quadrado, retângulo ou paralelogramo.
PRODUTO MISTO
Definimos o produto misto como sendo:
A (B C) = A B C
Aplicando a definição de produto escalar:
A (B C) = A B C cos = B C A cos
Onde:
B C é a área da base da figura.
A cos é a altura da figura.
Geometricamente podemos verificar o significado do produto misto:
OBS.:
Note que não precisamos definir parênteses no produto misto já que a operação não pode ser
feita da esquerda para a direita, ou seja, não podemos fazer primeiro A B e o resultado fazer o
produto vetorial com C (lembre que o produto vetorial necessita de dois vetores e A B é um
escalar). É correto então fazer primeiro B C e o resultado fazer o produto escalar com o vetor A .
A fórmula do produto misto tem a propriedade de mostrar se os três vetores são coplanares
(estão no mesmo plano). Se o produto misto é igual a zero, então o vetor A (que representa a altura
da figura) está no mesmo plano (região cinza) que os vetores B e C e o volume da figura é igual a
zero, ou seja:
A B C = 0 se os três vetores estão no mesmo plano.
OBS.:
Já que são todos iguais a zero, por questão de simplicidade, não foram mostrados os
produtos escalares em que os vetores unitários são diferentes.