Tipo: Esboços e estudos bíblicos / Autor: Melquisedec C. Nascimento
O LIVRO DE APOCALIPSE
O Novo Testamento é a fundamentação doutrinária da Igreja de Cristo. Devemos
interpretá-lo conforme a confissão de Westminster de 1647 nos ensinou, a saber: Os textos mais obscuros devem ser interpretados à luz dos mais claros. O leitor do Novo Testamento, ao interpretá-lo, deve estar cônscio da época em que cada um de seus vinte sete livros foram escritos. Apesar de possuirmos o Cânon Neo- Testamentário iniciado pelos Evangelhos, estes não foram os primeiros a serem escritos, tampouco Mateus foi o primeiro Evangelho a ser escrito. O primeiro Evangelho a ser escrito foi Marcos, e isso por volta do ano 60 DC, ou seja, antes da destruição do Templo Judaico, que ocorreu no ano 70 DC, enquanto que Lucas e Mateus o foram após a destruição do Referido Templo, porém bem antes do Evangelho de João, que teria sido escrito por volta do ano 100 DC. O livro de Apocalipse teria sido escrito entre os anos 80-90 DC, segundo alguns durante a perseguição do Imperador Romano Domiciano. Entretanto, atualmente, alguns Teólogos têm aventado a hipótese do livro de Apocalipse Ter sido escrito antes da destruição do templo. No entanto, o que não pode deixar de ser levado em conta pelo leitor e intérprete do Novo testamento é que o conteúdo de seus livros, principalmente os Evangelhos, foram pregados bem antes de serem escritos. O que queremos dizer com isso? Vejam bem os leitores. Imagine um ouvinte do Senhor Jesus Cristo durante o ano de 30 DC, tendo por volta de seus vinte anos de idade ouvindo Jesus dizer: “ Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz( de Cristo) e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição da condenação.” - João 5:28,29. Como será que aquele ouvinte entenderia essa afirmação do Senhor Jesus? Atente o leitor que esse mesmo ouvinte tinha uma expectativa de vida de cerca de quarenta anos, ou seja, é bem provável que a maioria dos ouvintes dos discursos de Cristo estariam mortos quando os Evangelhos fossem escritos. Bem se isso parece ao leitor um tanto exagerado, lembre-se que no início do século XX a expectativa de vida no Brasil, apesar de todo o avanço da medicina, era bem inferior a cinqüenta anos. Se isso não convence o leitor, então mudaremos a forma de argumentação. O ouvinte de Cristo certamente estaria morto quando o livro de Apocalipse foi escrito. Ademais, não se esqueça o estimado leitor que naquela época não havia imprensa, tampouco avião ou televisão para disseminar por todo o mundo mediterrâneo o conteúdo do Livro de Apocalipse, haja vista que ele foi escrito em Patmos, bem longe da Palestina. Quanto tempo não teria levado para chegar ao conhecimento de todos os Cristãos? Voltando ao ouvinte de Cristo, que teria cerca de vinte anos, observe que estamos calculando por baixo. Quando o livro de apocalipse pudesse chegar às suas mãos ele já teria por volta de, no mínimo, setenta anos de idade, isso se tão logo o Livro assim que escrito lhe tivesse sido encaminhado, ou sendo mais otimista, o conteúdo da mensagem lhe tivesse chegado aos ouvintes por algum dos membros de uma das Igrejas da Ásia que tivesse acesso ao referido Livro. Afinal, aonde quer chegar esse irmão com estes argumentos, deve o leitor está pensando? Ora, amado leitor, um ouvinte de Cristo jamais entenderia aquela passagem registrada por João como sendo uma declaração que contivesse uma divisão de mil anos. Se Apocalipse ensina, como afirmam os pré-milenistas, que a ressurreição física será dividida em duas partes, e que há um ínterim de mil anos entre ambas, podemos chegar a uma das seguintes conclusões: 1- Cristo não sabia o que estava dizendo, pois sua afirmação contida em João 5:28,29 não permite que ninguém que ouça esta Sua declaração ou leia apenas o Evangelho de João chegue a “brilhante dedução” dos pré-milenistas sem que tenha lido o livro de Apocalipse; 2- Cristo sabia o que estava dizendo, mais deliberadamente ensinou seus pobres ouvintes erradamente, mesmo sabendo Ele que “a verdade” só seria manifesta sessenta anos depois, quando a maioria de seus ouvintes já teria falecido, levando consigo um erro doutrinário; 3- Os Pré-Milenistas estão definitivamente equivocados no modo de interpretar o Livro de Apocalipse. Bem, caro leitor, qual das três opções o senhor julga mais plausível? È óbvio que o livro de Apocalipse não pode servir de base para estabelecer doutrinas. Conforme citamos no início, os textos mais obscuros, no caso, Apocalipse, deve ser interpretado À luz dos mais claros, no caso, os evangelhos, Atos dos Apóstolos e as Epístolas. Citamos ainda a Parábola do Joio e do trigo, descrita em Mateus 13, na qual o Senhor Jesus diz claramente a seus ouvintes que “ A ceifa é o fim do mundo e por ocasião da ceifa Ele dirá aos Ceifeiros que recolham primeiro o Joio e que estes sejam lançados na fornalha, ENTÃO os Justos resplandecerão”. Ora, todos os ouvintes de Cristo entenderam que se tratava de um Juízo Final que ocorreria na Sua vinda, quando então cada um receberia o seu galardão. Podemos citar também a parábola dos Bodes e das Ovelhas, descrita em Mateus 25, a qual qualquer ouvinte de Cristo, ou leitor de Mateus sem acesso ao Livro de Apocalipse, ou melhor, sem acesso a qualquer livro pré-milenista, vai entender que se trata de um Juízo Final na vinda de Cristo e não de um estapafúrdio Juízo de Nações, pois até mesmo os signatários da Confissão de Westminster, possuidores do livro de Apocalipse, entendiam a passagem dos Bodes e das Ovelhas como se referindo ao Juízo final. Será que todas essas passagens claras devem ser deturpadas para poder se adequar ao livro de Apocalipse, ou devemos(para não dizer deveis) rever a forma de se interpretar o livro de Apocalipse? Lembrem-se que Cristo sabia muito bem o que dizia e que Ele jamais ensinaria deliberadamente o erro a seus ouvintes. Os Pré-Milenistas devem ficar cientes que a bíblia não é um romance, mas sim a palavra de Deus e como tal, qualquer um que ler qualquer um de seus evangelhos terá que Ter a total revelação da finalidade da vinda de Cristo, ou seja, saberá que Cristo veio para salvar o homem do pecado, da morte, do inferno, e do diabo, mediante sua morte na cruz do calvário; qualquer que ler, ainda que seja um só de seus Evangelhos, terá que também ficar ciente que Cristo veio estabelecer um Reino Espiritual, e que Ele ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e há de vir para julgar os vivos e os mortos, na sua vinda. Portanto, este conteúdo que é o cerne do plano de Deus, estava claro a qualquer ouvinte de Cristo, ou leitor dos Evangelhos, sendo desnecessário outro qualquer enigma, que somente os mirabolantes pré-milenistas poderiam entender a partir do século XIX. A suma, caros leitores, é que o livro de Apocalipse deve ser estudado e interpretado à luz do restante do Novo Testamento e não vice-versa. Os que assim procedem perceberão que a Babilônia de Apocalipse não é uma cidade que existiu ou voltará a existir no território hoje pertencente ao Iraque. Isto é só um exemplo. Ademais, antes que alguém venha a dizer que muitas revelações estão contidas no Antigo Testamento, quero lembrar aos leitores o que Paulo disse em Romanos 15: 4, onde lemos: “ Porquanto, TUDO que dantes foi escrito, PARA NOSSO ENSINO FOI ESCRITO, para que, pela constância e pela consolação provenientes das Escrituras, tenhamos esperança.” Vejam os leitores que Paulo diz tudo, repito, tudo, mais uma vez, tudo. Todo o conteúdo do Antigo Testamento foi escrito para a igreja, mas isso é assunto para outro artigo.