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Dishonourable seduction
Angela Wells
O plano de Steel Anastasi para ajudar Ginny a salvar sua empresa era perfeito. Difícil
mesmo era suportar o cinismo daquele grego arrogante, que julgava ser o dono do
mundo. Porém, Ginny não podia recusar sua oferta, afinal, cabia a ela assegurar que a
companhia sobrevivesse. Mas Ginny tinha o pressentimento de que Steel poderia não
jogar limpo... Ele era um mestre na arte da manipulação... e da sedução, e faria o que
precisasse para atender aos próprios interesses!
Querida leitora,
Para mim, primavera é época de cuidar do jardim, de encontrar os amigos. Verão é
época de voltar tarde para casa, ir à piscina, a praia. Outono é época de organizar coisas,
de rever coisas que ficaram faltando fazer. Inverno é época de ficar em casa, tomar
chocolate quente, ver' tevê. Porém, todas as estações do ano são estações do amor.
Qualquer que seja a estação do ano, é estação dos Romances Nova Cultural.
Projeto Revisoras 2
Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
CAPÍTULO I
O que pensa que está fazendo? A voz masculina furiosa interrompeu os pensamentos
de Ginny, ao mesmo tempo em que a porta do escritório se abriu, com a força de um
furacão. Soltando um grito de susto, ela se levantou e afastou-se da mesa para confrontar
o intruso.
Seus olhos registraram a presença de um homem de trinta e poucos anos, cabelos
curtos, escuros e encaracolados, e traços bem definidos. Consciente de que estava
sozinha com ele na pequena sala isolada a um canto do imenso terreno que cercava os
armazéns da Sullivan's, o senso de auto-preservação fez com que Ginny arquivasse na
mente detalhes do estranho. Em circunstâncias normais, ele seria atraente, percebeu,
mas era evidente que a situação estava longe de ser normal, pois os lábios generosos
formavam uma linha dura, assim como os olhos escuros fitavam-na com ar pouco
amigável.
Ainda atenta ao registro da aparência dele, para o caso de precisar fornecer uma
descrição completa à polícia, Ginny baixou os olhos cinzentos para os sapatos de couro
feitos à mão. Então, deixou que subissem pelas pernas longas envoltas pela calça verde-
escura, muito bem acabada, e pelo corpo elegante vestido em trajes formais: camisa sob
medida, gravata de seda e paletó de linho.
Definitivamente, não era o uniforme de um ladrão. Por outro lado, também não era o
tipo de roupa usada por um homem modesto. A palavra "máfia" passou pela cabeça de
Ginny, mas ela logo a descartou como fantasiosa. A Sullivan's era uma companhia
pequena, no subúrbio, e era pouco provável que atraísse a atenção de criminosos. Ainda
assim, a ansiedade inicial tornou-se mais intensa.
Por que não fechara o escritório e saíra, juntamente com os demais funcionários, às
cinco e meia? Nem sequer usara as horas extras de maneira produtiva. Tudo o que fizera
desde o momento em que se vira sozinha, fora pensar nos problemas crescentes que
envolviam a companhia de seu pai, sem ser capaz de encontrar uma solução para eles.
Agora, via-se diante da tarefa de livrar-se de um visitante hostil, antes de poder fechar
tudo e ir para casa. E todos os sentidos lhe diziam que não seria fácil envolvê-lo numa
conversa civilizada e, muito menos, persuadi-lo a sair dali.
— Em que posso ajudá-lo? — ela finalmente conseguiu falar com voz calma e, ao
mesmo tempo, manter os olhos fixos no rosto beligerante, com um sorriso impessoal.
Talvez, pensou com otimismo, ele tenha errado de porta, e seu problema não seja
comigo.
— Onde está Leo Sullivan? — ele perguntou com voz profunda, fitando-a com a
mesma hostilidade.
Ginny sentiu o otimismo dissipar-se.
— Sinto muito, mas meu pai não se encontra no momento— respondeu com firmeza,
afastando da mente a lembrança cruel da última vez em que vira o pai, muito pálido e
magro, numa cama de hospital. — Na ausência dele, sou eu quem responde pela
companhia. No entanto, já fechamos hoje. Se quiser voltar amanhã, às nove horas...
— Vim buscar minha encomenda. Trepadeiras, cana escarlate, dois pés de romãs e
vinte e cinco arranjos florais de mesa — ele interrompeu Ginny como se a explicação dela
tivesse tanta importância quanto um comentário sobre o tempo, falando pausadamente,
como se estivesse se dirigindo a uma criança, e não das mais brilhantes. — Cara Srta.
Sullivan, paredes nuas e nichos vazios não fazem parte da nova decoração do Keys of
Corfu. — E, mais importante, se eu não voltar com os arranjos de mesa, com sua
iluminação integral, o restaurante ficará fechado esta noite. Talvez fique surpresa ao
saber que nossos clientes gostam de ver o que estão comendo!
Projeto Revisoras 3
Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
— Se todos pagassem em dia, tais medidas não seriam necessárias — ela retrucou.
— Exatamente. Devia ter castigado os devedores, aqueles que pagam aos poucos,
bem como grandes empresas que efetuam pagamentos atrasados por princípios. Não
podia ter sacrificado pequenos restaurantes que pagam seus compromissos em dia. E,
certamente, não pode tomar qualquer atitude desse tipo, sem dar um aviso prévio aos
seus clientes.
— Obrigada pelo conselho — Ginny agradeceu, batendo o pé no chão ao ver que ele
não fazia menção de ir embora. — Não disse que estava com pressa?
— Vejo que tem boa memória — ele aprovou, guardando o recibo e o troco no bolso,
sem conferir nenhum dos dois. — O que é uma excelente qualidade para os negócios.
Talvez ainda haja esperança para você! Venha comigo para Londres, e discutiremos o
assunto durante o jantar.
— O quê?
Surpresa, Ginny observou-o recolocar a lista de credores na mesa e sair do escritório,
como se a aceitação dela fosse certa. Lá fora, um Lotus Carlton preto o aguardava. Com
a mão na maçaneta da porta do carro potente, ele se virou para fitá-la.
Temporariamente sem palavras, Ginny limitou-se a fitá-lo. Metade dela sentia-se
furiosa pelo comportamento atrevido. A outra metade queria rir. Era histeria, decidiu,
enquanto lutava para conter o riso. Ele não podia pensar que era tão irresistível!
Aparentemente, podia, pois continuou a fitá-la com uma sobrancelha erguida.
— E então?
— Obrigada, mas já tenho planos para esta noite. Consciente das batidas irregulares
de seu coração, ela consultou o relógio. Não mentira, pensou. Afinal, havia decidido
passar a noite tentando encontrar uma solução para as calamidades que haviam assolado
a Sullivan's, durante sua estada na universidade. Calamidades que seu pai e a pequena
equipe que trabalhava para ele haviam tratado de esconder dela até agora.
Somente a entrega de um pedido enorme para a prefeitura local, dois dias depois da
internação de seu pai, esvaziando os estoques da companhia e deixando-os com um
prazo de vinte e oito dias para resolver o problema, quebrara a conspiração do silêncio.
Até então, Ginny não fazia idéia de que o pai enfrentava um processo judicial, ou de que o
estoque encontrava-se baixíssimo porque um caminhão trazendo produtos para reposição
ficara preso num bloqueio na Europa, ou de outros pequenos problemas que vinham
dificultando os negócios.
Apesar da irritação, tentou falar com delicadeza:
— E, para ser franca, estou esperando você sair para fechar.
Ele a examinou da cabeça aos pés.
— Posso esperar dez minutos, se quiser se aprontar — anunciou como se ela não
houvesse dito nada. — Tem uma teia de aranha nos cabelos.
— Ah!
Esquecendo-se de tudo mais, Ginny reprimiu um grito, levando a mão apressada ao
ponto de seus cabelos que ele fitava com olhar solene. ,
— Está melhor agora — ele falou, observando-a passar os dedos pelos cabelos, em
gestos ansiosos. — Acho que era só poeira.
— Quer, por favor, ir embora? — Cansada e estressada, ela só queria fechar o
escritório e caminhar os poucos metros até a confortável casa de seu pai. — Não tenho a
menor intenção de ir a lugar algum com você.
— Nem mesmo para falar de negócios? Pelo que vi, está precisando. Gostaria de ver
folhetos e listas de preços de todos os produtos disponíveis. Estou pensando em expandir
meus negócios, e preciso atualizar meu arquivo de fornecedores.
Embora o olhar que ele lhe lançasse fosse inocente, o tom das palavras traía a ameaça
velada de que a Sullivan poderia perder o cliente, caso ela não cooperasse.
Ginny contou até dez, na tentativa de acalmar-se.
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
Steel Anastasi estava apoiado no carro, à sua espera. Ginny caminhou com passos
firmes até ele.
— Fui o mais rápida possível! — Para sua própria surpresa, as palavras que ensaiara
para dizer quando ele reclamasse da demora, escaparam de seus lábios sem controle.
— Surpreendente. — Os olhos escuros a examinaram em detalhe, enquanto ela
entrava no carro. — Mas, mesmo que tivesse demorado o dobro do tempo, qualquer
homem digno do próprio nome a perdoaria pelo esforço feito em benefício dele.
Deu a partida no motor e pôs o carro em movimento, enquanto os olhos de Ginny ainda
se arregalavam pela resposta suave.
— Posso lhe garantir, Sr. Anastasi... — ela começou a falar, mas logo notou pelo
sorriso que curvava os lábios dele, que o comentário fora feito de propósito, para provocá-
la.
— Steel — ele falou com simplicidade. — Já que este pode ser o começo de uma
associação longa e proveitosa, prefiro que use meu nome de batismo.
CAPÍTULO II
jantarmos juntos.
— Nesse caso, lamento desapontá-lo. — Ora, ele não poderia mantê-la ali à força! —
No que me diz respeito, foram os negócios que me trouxeram até aqui. Já lhe mostrei o
que a companhia pode oferecer. Portanto, já posso ir embora.
— Mas não vai — Steel insistiu em tom suave. — Ginny, o que estou oferecendo é
apenas um jantar, não uma noite de amor. Imagino que não pretenda desagradar um
cliente valioso.
O tom suave não escondeu a ameaça que brilhou nos olhos escuros.
— Não cancelaria as encomendas por uma razão tão banal — ela retrucou. —
Principalmente se é mesmo um amigo de meu pai.
— E sou. No plano pessoal, considero Leo um excelente amigo. Porém, já deve ter
ouvido falar que, no mundo dos negócios, não existe compaixão.
— Nem integridade, pelo que estou entendendo! Ninguém sabia melhor que Ginny que
existiam outros
fornecedores entrando no mercado, dispostos a tomarem os clientes da Sullivan's.
Somente a eficiência de sua companhia, somada ao respeito pessoal que os clientes
tinham por Leo, os impediam de mudar. Além disso, havia ainda a qualidade superior dos
produtos que importavam do Oriente, dos quais eram representantes exclusivos na
Inglaterra.
Sentiu-se subitamente insegura, furiosa consigo mesma por desconhecer a exata
extensão da influência de Steel Anastasi. Ele mencionara diversos restaurantes
espalhados pelo país. Quantos seriam? E a menção a uma noite de amor não escapara à
atenção de Ginny. Deveria sentir-se grata por ele não exigir favores sexuais em troca da
perspectiva de negócios futuros?
— Não estou blefando, Ginny — ele declarou, percebendo-lhe os temores. — Quando
me conhecer melhor, verá que não é assim que costumo trabalhar.
— Não quero conhecê-lo melhor. Não estou impressionada com a sua chantagem.
Embora tremesse por dentro, Ginny recusou-se a aceitar as exigências arrogantes de
Steel passivamente. Ele ergueu as sobrancelhas com ar divertido.
— Chantagem? Que maneira horrorosa de descrever uma simples troca de favores:
sua companhia no jantar, por um aumento substancial nas encomendas que faço à
Sullivan's.
Foi então que Ginny percebeu que ele estava lhe pagando com a mesma moeda,
utilizando os métodos que ela mesma usara, e que ele detestara. .
— Tudo bem, Ginny. Pagamento no ato da entrega.
Um conceito muito simples, mas desagradável e inconveniente, especialmente quando
se tem outros planos. Mas, nesse aspecto, acho que já concordamos, não é? Ou, quando
falou em falta de integridade nos negócios, estava se referindo ao seu próprio
comportamento?
Ele estava comprovando o que Ginny já suspeitava. Steel Anastasi não era um bom
perdedor. E havia muita coisa em jogo, para que ela pudesse arriscar em suas apostas.
Ele não lhe deixara escolha.
— Certo — Ginny cedeu da maneira mais digna possível. — Já que significa tanto para
você, aceito seu convite.
— Ótimo! Vamos para a mesa.
Mantendo a cabeça erguida, ela tentou ignorar o brilho de triunfo nos olhos dele. Ao
sentar-se à mesa, não pôde deixar de notar a diferença que os arranjos iluminados
faziam.
Algumas mesas já se encontravam ocupadas, e Ginny ouviu o som das consoantes
arrastadas do sotaque grego. Deu-se conta de que o restaurante não era somente para
turistas, mas sim, um dos favoritos dos gregos residentes em Londres. Também notou a
qualidade da toalha de linho, dos talheres de prata e o cristal finíssimo dos copos.
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
CAPÍTULO III
— Vai dar uma carta de referência para que ela possa conseguir emprego em outro
lugar? — Ginny inquiriu.
— Não.
— Ora, mas...
— Não será necessário, pois depois de profunda consideração, decidi readmiti-la.
— Um ato de compaixão, Steel? — Ginny não escondeu a surpresa, nem o sarcasmo.
— Pensei que fosse incapaz de um sentimento tão humano.
— E acertou, Ginny. — Ele sorriu. — A moça foi readmitida por ser muito boa no que
faz. Será uma grande perda de tempo e dinheiro treinar outra pessoa para a função. Além
disso, como está em dívida comigo, o comportamento dela será exemplar daqui por
diante.
— E o gatinho?
— Acha que eu deveria colocá-lo na folha de pagamento? Ou está com medo que ele
se transforme em ingrediente da sua moussaka?
— Só acho que, uma vez que o expulsou daqui, deveria preocupar-se em encontrar um
lugar onde ele possa viver.
— Se tal promessa vai apagar essa ruga entre seus olhos, então, tem a minha palavra
de que atenderei seu pedido. Agora que já discutimos nossos negócios e já encontramos
uma solução para a sua consciência sentimental, podemos apreciar a refeição e nos
conhecermos melhor.
Por sorte, o garçom chegou naquele exato momento, trazendo entradas gregas. Os
pratos pareciam deliciosos, o que facilitaria a tarefa de atender a um dos pedidos de
Steel. Quanto a conhecê-lo melhor...
Para surpresa de Ginny, Steel não fez outra tentativa de puxar conversa, até ambos
terem terminado o prato principal.
— Foi um golpe de sorte você já estar em casa, quando seu pai ficou doente — ele
falou em tom casual. — Leo deve se sentir bem melhor, sabendo que a Sullivan's está em
suas mãos.
Ginny percebeu a ironia do comentário e ficou profundamente irritada. Só porque
cometera um erro de julgamento, isso não queria dizer que era totalmente incompetente.
— É verdade — concordou. — E pretendo provar que sou merecedora de sua
confiança. — Lembrou-se do horror que experimentara quando o pai tivera a crise. —
Mais alguns dias, e eu estaria com Howard em Roma, me divertindo, sem saber...
— Howard? — Steel repetiu, estreitando os olhos. — Quem é Howard?
— Ele... Eu... — Ginny começou, dando-se conta de que não devia explicação alguma
de sua vida particular. Além do mais, como poderia discutir Howard com Steel Anastasi?
Não poderia esquecer que por trás da aparência cortês e elegante, havia um ditador frio e
calculista, capaz de atirar um gatinho na rua, no meio da noite.
Se precisasse de um confidente, o que começava a achar necessário, aquele grego
autoritário seria a última pessoa a ocupar tal posição. Por outro lado, a introdução de um
noivo na conversa o faria consciente de que ela não era uma mulher sozinha.
— Howard é o homem com quem pretendo me casar — Ginny declarou.
— Você nem usa aliança!
— Não é obrigatório — ela retrucou, decidindo não dizer que o noivado não fora
oficializado, que se tratava de um entendimento particular entre o casal.
— Se fosse minha noiva, Ginny, certamente usaria um anel.
— Acontece que não sou! — ela protestou, horrorizada pela constatação de que
começava a achar Steel Anastasi atraente.
— E onde está o tal de Howard? Não me diga que está em Roma, sozinho.
— Claro que está. Por quê? — Ginny tentou falar com entusiasmo, mas seu tom soou
forçado. — Howard é um professor, não um comerciante. Não havia nada que ele
pudesse fazer aqui.
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Aflita, fixou os olhos no prato vazio. Como ele previra, a moussaka não lembrava em
nada a torta de carne inglesa. Ginny refletiu que, talvez, a reação que estava tendo ao
homem dominador sentado à sua frente fosse mero efeito das ervas fortes do tempero.
— Quer mais?
— O quê?
— Moussaka. Estava olhando para o prato com ar tão faminto, que achei que poderia
querer mais um pouco.
— Não, não... Obrigada. — Ela tratou de se recompor depressa. — Gostaria de um
café.
Steel estalou os dedos, e o garçom aproximou-se. Naquele momento, as luzes
diminuíram de intensidade e três cadeiras foram colocadas no centro do salão.
— Não sabia que apresentavam shows aqui — Ginny comentou. — Deixe-me
adivinhar. Um garçom dança, enquanto quebramos pratos.
— Não — Steel respondeu em tom condescendente.
— Esse é um costume grego que já se tornou banal, com turistas quebrando pratos,
sem um bom motivo.
— Precisa haver um motivo?
— Claro. — Ele a fitou com intensidade. — Chama-se kefi. Trata-se de um fenômeno
mágico, difícil de traduzir. É algo que toma conta de nós sem aviso, depois desaparece. E
como estar tomado pelo espírito da felicidade. Não pode ser trazido à força, e existem
pessoas que jamais o experimentam. Mas, ficar possuído pelo kefi. é saber que a vida
deve ser vivida com alegria, é ser um espírito livre, unido aos deuses mais antigos.
— E isso permite às pessoas quebrarem pratos e copos por simples prazer?
Negando a estranha excitação que tomara conta de seu corpo, Ginny esforçou-se para
não se mostrar impressionada. Incapaz de compreender a necessidade que sentia de
provocar Steel Anastasi, percebeu que aquela seria uma boa oportunidade para fazê-lo.
— Acho que só os gregos são capazes de compreender
— ele falou, dando de ombros. — É uma coisa simbólica, realizada num ritmo interno.
Jamais poderá ser realmente simulada como um show para turistas.
A proximidade do rosto de Steel, os lábios sensuais entreabertos num convite
silencioso, poderiam ser mero resultado da iluminação fraca. Ainda assim, era como se o
corpo dele se comunicasse com o de Ginny, mesmo estando do outro lado da mesa.
Consciente de que seus sentimentos por Steel tornavam-se mais e mais confusos,
Ginny fez um esforço supremo para voltar à realidade. Disse a si mesma que suas
reações bizarras eram produto do cansaço.
Tratou de usar o ataque como defesa.
— O que há de tão grego nisso? — inquiriu em tom zombeteiro. — Temos um
fenômeno semelhante aqui, na Inglaterra. Chama-se vandalismo.
Houve um longo silêncio, durante o qual Steel estudou-a sem pressa.
— Desculpe — ele finalmente falou, com voz totalmente desprovida de emoção. A
tentativa de Ginny funcionara, mas, para sua surpresa, ela não sentiu o menor prazer
nisso. Ao contrário, foi invadida por uma profunda sensação de vazio. — É evidente que
não há nada no meu país, ou na minha cultura, que desperte o seu interesse. Termine o
seu café e eu a levarei para casa.
Ginny corou. Quisera rebelar-se, atacá-lo pela forma como invadira sua vida. E
conseguira. Então, por que se sentia tão devastada pela reação dele?
Arrependida, desviou os olhos para o centro do salão, onde dois músicos tomavam
seus lugares, empunhando bouzoukis, um tipo de bandolim. Uma mulher os seguiu,
parando atrás da cadeira do meio, segurando com firmeza no encosto. Era pequena é
roliça, de cabelos escuros, e vestia um traje preto muito simples.
Assim que o burburinho de conversa se dissipou, os bouzoukis ganharam vida e a
mulher começou a cantar. Sua voz rouca tornava desnecessário a Ginny compreender as
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palavras, para saber que a música contava uma tragédia tão intensa, que a dor era
insuportável para quem a vivera.
Steel observava a cantora atentamente, permitindo af Ginny que o estudasse, sem ser
notada.
Sim, ela havia criado preconceitos baseados na fúria com que ele aparecera na
companhia, irritara-se com a arrogância dele, mas tinha de admitir que o rosto à sua
frente era atraente, sensível e solene. E provocava-lhe 1 as reações mais estranhas,
prejudicando-lhe a capacidade! de julgamento.
Quando as lágrimas embaçaram seus olhos, vieram como chuva de verão: inesperadas
e intensas. Ginny chorou em silêncio... porque seu pai estava gravemente doente, porque
os negócios que ele tanto amava estavam correndo sério risco, porque ela estava
cansada, porque se enganara ao acreditar que amava Howard... Agora, sabia que, fosse
qual fosse o sentimento que tinha por ele, não era suficiente, jamais seria suficiente...
Também chorou porque, de um modo muito estranho, o homem sentado à sua frente
agira como catalisador daquela constatação, e Ginny gostaria de nunca tê-lo conhecido.
Um soluço escapou-lhe dos lábios, fazendo Steel virar-se e mudar de lugar, sentando-
se ao lado dela. Então, passou um braço forte em torno dos ombros frágeis e trêmulos e,
com a outra mão, apanhou um guardanapo limpo e secou-lhe as lágrimas.
Os aplausos romperam o silêncio, quando a canção triste chegou ao fim. Ginny teve de
fazer um esforço brutal para não sucumbir ao impulso de soltar-se nos braços de Steel,
em busca de consolo para a sua dor.
— Afinal — ele falou com expressão enigmática —, você não é indiferente à dor e à
paixão do ribetico. Talvez ainda exista esperança para você, Ginny.
— Talvez — ela tentou sorrir, mas quando ergueu os olhos para fitá-lo, deparou com
uma suavidade tão profunda, que ficou paralisada pela surpresa.
Quando Steel puxou-a para si, envolvendo-a nos braços, Ginny não encontrou forças
para resistir. Naquele momento, estava consciente apenas do conforto que ele lhe
oferecia, da força e do calor do corpo masculino que lhe davam apoio.
Quando a mão de Steel afastou os cabelos de seu rosto, Ginny soube que chegara o
momento de partir. Abriu a boca para dizer a ele que voltaria sozinha para casa, mas as
palavras não foram pronunciadas, pois os lábios dele cobriram os seus, calando-a.
Sentindo a cabeça girar, Ginny sabia que deveria protestar, mas os aplausos morreram,
os bouzoukis recomeçaram a tocar, e o ritmo do ribetico misturou-se às batidas firmes do
coração de Steel. Ela se deu conta de que era tarde demais para palavras.
Já era tarde quando o Keys fechou. Ginny não fazia idéia da hora, pois estava sem
relógio. Porém, sabia que, encorajada pela platéia entusiástica, a cantora apresentara um
repertório extenso. Além disso, muito depois de Ginny ter terminado seu café, Steel a
apresentara a mais uma especialidade de seu país: uma bebida alcoólica chamada raki,
uma mistura de fogo e gelo que havia lhe tirado o fôlego.
Pela primeira vez desde que o pai ficara doente, e que ela descobrira a verdadeira
situação de seus negócios, Ginny sentiu-se relaxar, como se flutuasse livre no ar. No
entanto, por trás daquela letargia, havia uma sensação de excitação, como se algo
totalmente novo houvesse acabado de acontecer em sua vida. O olhar de Steel, bem
como seu sorriso, deixavam claro que ele sabia o que ela pensava e sentia, o que
provocou em Ginny uma sensação ainda mais nova e excitante. .
— Está na hora de irmos embora, querida — Steel anunciou e levantou-se. — Tenho
certeza de que vai concordar comigo numa coisa: a noite não foi perdida.
Ginny decidiu que aquele não era um bom momento para discutir ou protestar,
especialmente depois da expressão de seus sentimentos, que certamente havia dado; a
ele uma vitória.
Ao sentar-se no banco do passageiro do Lotus, Ginny estremeceu. A reação de Steel
ao seu comentário comparando o kefi ao vandalismo mostrara que ele não era do tipo que
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aceitava provocação passivamente. Agora, só lhe restava esperar que as palavras dele
sobre a noite não ter sido perdida significassem que ela não havia perdido o cliente.
Quando ele estacionou o carro diante da casa de seu pai, Ginny fez questão de
mostrar-se educada.
— Quer entrar? — convidou. O mínimo que poderia fazer seria oferecer-lhe uma xícara
de café.
O brilho que iluminou os olhos escuros fizeram-na lembrar-se dos animais que vivem
movidos exclusivamente por seus instintos. Por um instante, Ginny foi invadida pelo medo
do perigo iminente.
— Não esta noite, Ginny. Esta noite, o convite foi apenas para o jantar, não para uma
noite de amor, lembra-se?
Ora, como ele podia interpretar o seu convite de maneira tão errada? Furiosa, Ginny
saiu do carro, retirou a chave da bolsa e entrou depressa, ainda ouvindo os ecos da
risada suave de Steel. Só voltou a sentir-se segura, quando fechou a porta atrás de si.
Na manhã seguinte, acordou pouco antes de o relógio despertar, às oito horas. Foi até
o banheiro, onde se olhou no espelho e emitiu um gemido de desprezo.
Envergonhada era uma palavra fraca demais para descrever o modo como se sentia.
Ao mesmo tempo, o reflexo no espelho indicava que a primeira noite de sono tranqüilo em
uma semana havia lhe feito muito bem. Seu rosto mostrava-se menos pálido e seus olhos
exibiam um brilho que não lhe permitiria alegar que o comportamento bizarro que tivera
na noite anterior fora mero resultado do vinho e do raki.
Tomou banho, vestiu-se e preparou uma torrada, mal acreditando que era capaz de
sentir fome, depois do espetáculo que dera no restaurante. Como se não bastasse ter
chorado em público, a lembrança do beijo que Steel lhe dera a fazia encolher-se de
vergonha e embaraço. E nem sequer tinha o consolo de saber que tentara evitar o
ocorrido.
Ao contrário, acusou a si mesma, fizera exatamente o oposto, aceitando o ataque
sensual dos lábios experientes. E, se tudo aquilo não fora o bastante, ela ainda cometera
o erro de tentar ser gentil, e ter seu convite mal compreendido. Steel acreditara que ela o
convidara para partilhar sua cama e, pior, rejeitara o convite! No futuro, Ginny teria de se
certificar de que seus caminhos jamais voltassem a se cruzar.
No futuro. O embaraço de Ginny ficou esquecido. Que futuro teria a Sullivan's, caso ela
não conseguisse levantar em vinte e oito dias o dinheiro suficiente para evitar o
fechamento obrigatório dos armazéns?
O som da correspondência sendo atirada no capacho da porta de entrada animou-a.
Quem sabe recebesse algum cheque de clientes. Apressada, apanhou os envelopes,
separou rapidamente os folhetos de propaganda e abriu as cartas uma a uma. Nada.
Nenhum pagamento. E o único envelope restante apresentava um carimbo do Oriente.
Orchid International, o maior e mais prestigiado fornecedor da Sullivan's. Seria mais uma
conta a pagar? Não. Duncan assegurara que todo o estoque já fora pago.
Abriu o envelope e sentiu o mundo girar ao ler a mensagem: "A menos que uma
garantia de vendas maiores, a ser honrada nos termos de nosso contrato, nos possa ser
dada, seremos obrigados a encerrar nossa exclusividade de fornecimento para a sua
companhia.
Com a mente girando em disparada, Ginny sentou-se trêmula. Mesmo que
conseguisse o dinheiro para impedir o fechamento dos armazéns, a menos que
conseguisse . expandir as vendas imediatamente, não haveria estoque ; para atender os
clientes.
CAPÍTULO IV
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
Já estava escuro quando Ginny estacionou o Renault de seu pai na garagem de casa.
Permitiu-se relaxar por um momento no conforto do banco do motorista, repassando na
mente os sucessos do dia. Fora mesmo uma grande inspiração a idéia de ir a Midlands,
uma região que se tornara familiar para ela durante os anos de faculdade. Lá, descobrira
seis restaurantes e os transformara em novos clientes da Sullivan's, sem ter tido metade
do desgaste exigido pelo proprietário do Keys of Corfu.
Fora o primeiro passo na direção do reaquecimento dos negócios da companhia, e
Ginny estava satisfeita com o resultado de seus esforços. Decidiu que no dia seguinte,
examinaria os arquivos de clientes, faria uma lista daqueles que não faziam encomendas
há algum tempo, e tentaria recuperá-los.
Sentindo-se exausta, saiu do carro e entrou em casa. Sem a presença de Leo, parecia
fria e vazia. Mesmo assim, Ginny ficou contente ao chegar ao aconchego de seu quarto,
para uma boa noite de sono, depois de um dia duro de trabalho.
Às oito e meia da manhã seguinte, seu entusiasmo e otimismo haviam retornado.
Vestindo jeans e camisa amarrada na cintura, um traje confortável para mais um dia de
trabalho árduo, comia uma torrada com café, quando a campainha tocou.
Ainda segurando a xícara, foi abrir a porta.
— Finalmente voltou para casa — Steel Anastasi declarou e entrou, mesmo sem ser
convidado. Vestia traje informal: uma calça esporte de algodão cinza, e camiseta listrada
de verde e cinza. Apesar de não se parecer em nada com o homem de gravata da noite
anterior, ainda exibia um ar de elegante autoconfiança. — Teve sucesso em sua
campanha para tirar a Sullivan's da falência?
— O que faço não é da sua conta! — ela respondeu furiosa, dando-se conta de que ele
certamente interrogara os funcionários sobre o paradeiro dela. — O que está fazendo
aqui? O escritório só abre às nove e não costumo tratar de negócios em minha casa.
— Nem mesmo negócios pessoais? — ele perguntou calmamente. — Esqueceu uma
coisa no Keys.
— O quê?
— Está no carro. Venha.
Com um suspiro resignado, Ginny obedeceu, seguindo-o até onde ele estacionara o
Lotus.
— Receio que não viaje muito bem — Steel falou, bloqueando-lhe a visão, ao inclinar-
se para dentro do carro.
Viajar bem? Do que ele estava falando? Apesar dos sentimentos de antipatia que ele
lhe despertava, Ginny não pôde evitar a curiosidade.
Steel virou-se para encará-la. Em seus braços, uma pequena bola de pêlos negros
fitou-a com olhos verdes ariscos.
— Prometi encontrar um lar para ele — falou com um sorriso maroto e indicou a porta
da casa com um gesto da cabeça. — Aqui está.
— É o gatinho do Keys? Quer que eu fique com ele?
— Achei que seria a melhor maneira de mostrar-lhe que cumpri minha promessa — ele
falou com ar inocente, desafiando-a a recusar o presente.
Invadida pela compaixão, Ginny ignorou a provocação.
— É claro que vou ficar com ele. Tem nome?
— Não. Que tal Kefi? — ele sugeriu em tom seco. — J Afinal, ele agiu como um vândalo
em minha cozinha, ontem à noite. E, também, não se comportou muito bem durante a
viagem até aqui. Sabia que gatos podem ficar enjoados dentro de automóveis?
— Ah, não! —Ginny lançou um olhar para o interior do carro.
— Não foi nada. Pegue-o.
Depositando o gatinho nos braços de Ginny, Steel voltou a inclinar-se e retirou do carro
uma cesta forrada de jornal, bem como duas latas de ração para gatos.
— Pelo menos, ele teve a decência de permanecer na cesta até se sentir melhor.
Projeto Revisoras 18
Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
Chocada com a aparente indiferença de Steel, ela o observou atirar a camiseta sobre o
ombro e virar-se para fitá-la, com ar de quem esperava uma resposta.
— Como se atreve a bisbilhotar nossos negócios? — inquiriu.
Ele deu de ombros.
— Não há nada de confidencial em pedidos de falência e concordata. Os detalhes
foram publicados no jornal de ontem. Além disso, não faz sentido rasgar as evidências, e
simplesmente deixá-las no cesto de papéis, para quem quiser ver.
— Meu pai não sabe... e não deve saber.
— Gostaria de saber como pretende prolongar a ignorância dele. O tempo não está a
seu favor, está?
— Encontrarei um meio.
— Que dizer que não está interessada em minha oferta de ajuda financeira?
— Nada do que possa me oferecer desperta o menor interesse.
— Está errada, Ginny. E vou provar isso a você.
Com estas palavras, Steel voltou a aproximar-se e segurou-lhe o queixo entre as mãos,
forçando-a a encará-lo. Amaldiçoando o impulso de provocá-lo, Ginny viu-se incapaz de
fugir àquele olhar penetrante.
— Sei exatamente quanto a situação é desesperadora — ele falou. — Além da ameaça
de fechamento imposta pela prefeitura, porque os armazéns foram originalmente
construídos como garagens, e o armazenamento de produtos neles é ilegal, você tem
milhares de libras em haver, de clientes que não podem, ou não vão pagar. Não bastando
tudo isso, o principal fornecedor da Sullivan's está ameaçando romper o contrato de
exclusividade por falta de garantia de venda.
— Como pode saber sobre a Orchid?
— Ora, acorde, Ginny! A Sullivan's não existe num vácuo. Trata-se de um mercado
muito competitivo. As notícias correm. — Steel suavizou a voz, embora continuasse a fitá-
la por entre olhos estreitos. — Nessas circunstâncias, eu diria que posso oferecer muito à
Sullivan's. Não só ajuda financeira para impedir o fechamento dos armazéns, mas
também para instalar um sistema computadorizado de controle de crédito, bem como
contratar ao menos dois bons vendedores para promover os produtos com o estilo que
eles merecem.
— Não! Papai jamais aceitaria ficar nas mãos de um agiota!
— Mas aceitaria um sócio — Steel sugeriu, ignorando o ataque à sua integridade.
— Nunca. Papai sempre disse que jamais aceitaria um sócio, pois a Sullivan's sempre
foi e, segundo ele, sempre será uma firma familiar. Ele quer que eu herde o negócio.
— Mesmo que o negócio deixe de existir? — Steel segurou-lhe os ombros, quando ela
ameaçou virar-se. — Vai gostar de saber que conversei com ele e o persuadi a mudar de
idéia.
— Foi visitar meu pai no hospital? — Ginny inquiriu incrédula. — Foi capaz de invadir a
vida de um homem doente...
— Um amigo doente — ele a corrigiu. — Leo e eu somos amigos. Ele gostou de me
ver. Pode estar fisicamente doente, mas não é bobo, Ginny. Quando o deixei, estava se
sentindo muito melhor. A principal causa daquela úlcera foi o fato de ele estar trabalhando
vinte e quatro horas por dia, na tentativa de salvar o que ele vê como sendo a sua
herança. Acredite, ele agarrou a oportunidade de uma injeção de capital. Atordoada,
Ginny recuou um passo.
— Está mentindo — acusou-o. — Nada convenceria meu pai a vender parte da
Sullivan's.
— Está enganada. Eu disse uma coisa que, não só o fez mudar de idéia, como também
trouxe um sorriso de pura felicidade àquele rosto pálido.
— O que foi?
Steel deu de ombros, num gesto de indiferença.
Projeto Revisoras 21
Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
— Tenho minhas razões, mas elas não são da sua conta, por enquanto. Tudo que
peço a você, é que represente o papel da noiva apaixonada e feliz.
— E se eu recusar?
— Será a responsável pela falência da Sullivan's... e de um possível colapso de seu
pai. — Steel enfiou a mão no bolso da calça, ignorando o olhar maligno de Ginny.
— A fim de tornar a ilusão mais real, use isto.
Ela observou-o abrir uma caixinha de joalheria, revelando um anel de diamante e
safira. As palavras que ele pronunciara no restaurante ecoaram em sua mente: "Se fosse
minha noiva, Ginny, usaria um anel."
— Pronto — ele declarou, depois de colocar o anel em seu dedo. — Nada mau.
Ginny baixou os olhos para a mão, sentindo "um profundo vazio, onde seu coração
deveria estar batendo. Desde o primeiro encontro, Steel Anastasi dera-se conta de que
ela faria qualquer coisa para ajudar o pai. Mas, quando decidira armar aquela farsa
terrível? E, por quê?
— Por quanto tempo terei de sustentar essa mentira?
— perguntou com voz desprovida de emoção.
— Até que ela atinja seu propósito. — Sem mais, Steel consultou o relógio. — Agora,
acho que está na hora de me apresentar aos funcionários e colocá-los a par da nova
situação.
— Voltarei num instante.
Ansiosa para movimentar-se, a fim de dissipar parte da tensão que se acumulara em
seus músculos, Ginny encaminhou-se para a porta, mas logo sentiu a mão forte segurar-
lhe o ombro.
— Sua presença não faz parte dos meus planos, Ginny
— Steel informou-a com voz suave... demais. — Sou perfeitamente capaz de explicar
tudo a eles e prefiro fazer, isso sozinho.
— Mas eu preciso estar lá...
— Correção. Você precisa ficar aqui, Ginny. Parte do meu acordo com Leo foi que você
ficaria fora da administração direta dos negócios. Tenho certeza de que terá muito com o
que se ocupar por aqui. Para começar, tenho certeza de que Kefi está louco para
conhecer seu novo lar, bem como para fazer sua primeira refeição do dia. Depois,
imagino que vá querer visitar seu pai no hospital, e receber a bênção dele.
— Mas... — Ginny começou a falar, mas logo parou, consciente de que ele não lhe
deixara escolha.
— Então, até a noite, agape mou. Mas, antes que eu me vá, acho que precisamos de
um ensaio para pôr um pouco de brilho nos seus olhos e maior convicção na
representação que fará para Leo.
O passo que Ginny recuou ao perceber as intenções de Steel, foi pequeno demais e
muito tardio, pois ele já a tomara nos braços e pousava os lábios exigentes nos dela,
selando assim o acordo ao qual a forçara. Então, por que o que ele planejara ser uma
lição, estava lhe proporcionando tanto prazer? Sem encontrar resposta, Ginny
abandonou-se às carícias, deixando o corpo buscar sua complementação nos músculos
fortes e viris.
Foi o gemido profundo de Steel que a trouxe de volta à realidade, quando ele a soltou
de maneira abrupta, empurrando-a como se o contato o tivesse contaminado.
Ao vê-lo virar-se para sair, Ginny sentiu a vergonha e o desprezo por si mesma
acenderem sua ira.
— Saia de minha casa! — ordenou. — Não vou delatar seu plano sórdido, mas isso
não lhe dá o direito de ir e vir como bem entender. Quanto menos eu ver você, melhor.
— Ah, já ia me esquecendo — ele falou, parando na soleira da porta. — Leo estava
muito preocupado com o fato de você morar sozinha nesta casa, pois soube de assaltos e
ataques a mulheres sozinhas na vizinhança, recentemente. Então, prometi a ele que me
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
organizando. Além disso, estou usando a mesa de Leo, e não haveria lugar para você.
Por que não vai até o hospital agora mesmo? Imagino que Leo tenha mil perguntas a lhe
fazer. Depois, pode aproveitar para fazer algumas compras. Não é mais uma bibliotecária,
querida, e não precisa continuar se vestindo como tal.
Ginny sentiu uma onda de calor tomar conta de seu corpo.
— Mas... — começou a protestar, mas lembrou-se de que tinham companhia.
— Não se preocupe em preparar o almoço — Steel falou em tom tranqüilizador. —
Terei um dia muito ocupado. Conversaremos durante o jantar.
Com firmeza, levou-a para fora do escritório. Assim que se encontravam a uma
distância segura de ouvidos curiosos, ele acrescentou:
— Já lhe disse que não há lugar para amadores nesta companhia. Não gosto de ser
desobedecido, Ginny.
— E eu não gosto de receber ordens, como se fosse uma criança! Pode ter convencido
meu pai que é algum tipo de herói, mas eu sei que não é e não confio em você. Virei ao
escritório quantas vezes quiser, para ficar de olho no que você está fazendo.
Decidida a ter a última palavra, girou nos calcanhares.
— Vai fazer o que eu mandar.
O comentário de Steel chegou aos ouvidos de Ginny no momento em que ele a tirava
do chão, carregando-a sobre o ombro.
Raiva, indignação e um pouco de medo mesclaram-s no grito que ela soltou.
— Ponha-me no chão, seu bruto!
Esmurrou-lhe as costas em vão, durante o curto trajeto até a porta dos fundos da casa
de Leo.
Ao chegar lá, Steel retirou a chave do bolso de trás da calça de Ginny e abriu a porta.
— Ponha-me no chão! — ela repetiu aflita.
Sem dizer uma palavra, Steel subiu a escada, escolheu uma porta qualquer e entrou.
Emitiu um som de aprovação ao deparar com a cama enorme de Leo, onde depositou seu
fardo, sem a menor preocupação com a dignidade dela.
Ginny engoliu seco, chocada com as sensações conflitantes que agitavam seu corpo,
bem como pela constatação de que não era a única a sofrer os efeitos do contato corporal
tão íntimo, partilhado até segundos antes. Steel a examinava com expressão tensa,
também perturbado pela torrente de emoções e sensações que envolvia a ambos.
Tudo o que ela pôde fazer, foi fitá-lo com um pedido desesperado no olhar para que ele
não a tocasse.
Quando finalmente se moveu, Steel estendeu o braço para tocá-la com suavidade
surpreendente, acariciando-lhe a face com imensa ternura.
— Não lute contra mim, Ginny. Estamos do mesmo lado.
— Verdade? Se é assim que trata seus aliados, o que acontece a seus inimigos?
— Comporte-se, e não precisará se preocupar com isso. E não se esqueça de mandar
lembranças minhas a Leo.
Foi somente no começo da tarde que Ginny sentiu-se preparada para visitar o pai. Até
então, ensaiara cuidadosamente o papel que lhe fora imposto. Não poderia deixar Leo
perceber que seu "noivado" com Steel não passava de uma farsa, embora detestasse
enganá-lo. Era evidente que seu pai tinha em altas contas o homem que o levara a
acreditar que seriam parentes em breve.
Tudo aquilo era muito estranho, pensou, enquanto estacionava o carro no hospital. Leo
costumava ser ótimo no julgamento do caráter das pessoas. Talvez a doença houvesse
perturbado sua capacidade de discernir o falso do genuíno.
Respirou fundo antes de bater na porta do quarto.
— Ginny, querida! — ele a recebeu com um sorriso largo. — Foi a melhor notícia que
recebi nos últimos anos! Antes que possa dizer qualquer coisa, quero deixar claro que
Steel me explicou tudo e que eu compreendo perfeitamente a sua hesitação inicial. Para
Projeto Revisoras 25
Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
ser honesto, nunca acreditei que Howard fosse o homem certo para você, mas sempre
achei que não cabia a mim criticar a sua escolha.
— E aprova a minha escolha de Steel? — Ginny inquiriu, tratando de disfarçar a ironia
em sua voz.
— Completamente! Nós nos conhecemos há uns dois anos, desde que ele começou a
comprar restaurantes que operavam no vermelho, reformá-los e transformá-los em
negócios de sucesso. Nada mal para um jovem que deu as costas à sua terra natal e à
família aos dezoito anos, para traçar seu próprio destino, não é? — Sem esperar pela
resposta, Leo mudou de assunto. — Tenho de ser honesto com você, filha. Durante os
últimos seis meses, a Sullivan's tem enfrentado problemas intermináveis. Em certos
momentos, tive dúvidas quanto ao futuro da companhia. Agora, ao menos, posso
descansar em paz, sabendo que tanto o seu futuro, quanto o da companhia, estão em
boas mãos.
— Claro que pode, papai. Tudo o que tem de fazer agora é ficar bom o mais depressa
possível, para me levar ao altar.
Ginny detestava mentir para o pai, mas valia a pena ver o sorriso luminoso atenuar as
linhas naquele rosto cansado. Quando chegasse o momento de desiludi-lo, ela tinha
certeza de que seria perdoada. Então, poderia recomeçar sua vida do ponto em que
parará. Quem sabe, até fizesse o curso de pós-graduação que havia planejado. Sua vida
voltaria a ser a mesma... exceto por Howard, que jamais a perdoaria por participar
daquela farsa.
Disfarçando os conflitos interiores, Ginny fez companhia ao pai por mais de uma hora,
até notar que ele começava a demonstrar cansaço. Então, despediu-se e foi embora.
Passou as horas seguintes dirigindo pelo campo, tentando compreender os eventos
que haviam agitado a vida tranqüila e estável que tivera até então.
O ponto central de seu dilema era Steel Anastasi. Era óbvio que ele planejava obter
altos lucros com a negociação da Sullivan's. Do contrário, não iria tão longe para atingir
seus objetivos.
Distraída pelos pensamentos, não se deu conta de que dirigira por tanto tempo, e já
escurecia quando chegou em casa. Encontrou o Lotus estacionado na garagem e viu as
luzes acesas dentro da casa.
— Como entrou aqui? — ela inquiriu com voz trêmula de raiva, ao abrir a porta.
— Calma, querida — ele respondeu com a maior calma. — Fiquei com a chave,
lembra-se? Além disso, quem deve explicações é você. Onde esteve até agora?
— Passeando — ela retrucou com insolência. — Por quê? Esperava que eu
preparasse o seu jantar, além de lhe oferecer uma cama?
— Como seu pai me designou seu protetor "oficial, eu esperava ao menos a cortesia
de ser informado sobre o seu paradeiro. Telefonei para o hospital e me disseram que
você havia saído há horas.
— Estava apenas passeando... Tinha muito no que pensar. — Era difícil para Ginny
esconder a mágoa e a raiva que toda a situação lhe provocava. — Pretende me manter
em cárcere privado?
— A idéia de domar seu temperamento irascível e, ao mesmo, ensinar-lhe a arte de
agradar um homem não é nada má — ele comentou com um sorriso. — Talvez eu deva
pensar melhor no assunto. Já comeu?
— Só almocei. — Aliviada por ele ter mudado para um tom mais ameno, Ginny decidiu
tratá-lo com civilidade, — Não estou com muita fome.
— Planejei levá-la para jantar num restaurante, mas, no seu estado de ânimo, vamos
ser expulsos de qualquer ambiente decente. Que tal pedirmos comida?
Ginny deu de ombros com ar indiferente. A raiva inicial passara e o bom senso lhe dizia
que não faria sentido provocá-lo. Estava presa a um homem decidido a conseguir o que
queria a qualquer custo. Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Poderia ele querer algo mais
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
que um simples noivado falso? Não, tal receio tinha um quê de melodrama. Nenhum
homem normal iria tão longe em seus jogos. Por outro lado, o que havia de normal num
homem que acreditava que toda mulher tinha um preço?
CAPÍTULO VI
é uma companhia de primeira linha, com grande potencial para expansão futura. Além
disso, é do meu interesse manter o fornecimento de produtos de alta qualidade para os
meus restaurantes. O que acha que eu deveria ter feito? Devia aceitar a recusa de Leo
em receber ajuda? Já lhe disse que o considero um grande amigo. E você conhece o
modo dele encarar as coisas. Por causa de você, Ginny, Leo estava prestes a levar a
companhia à falência de uma vez. — Depois de observá-la em silêncio por alguns
instantes, Steel acrescentou: — Se quiser voltar ao hospital e desiludir seu pai, não posso
impedi-la. Mas sugiro que pense bastante antes de tomar uma decisão.
— Sabe muito bem que não posso contar a verdade agora, depois de ele ter ficado
tão...
— Feliz é a melhor palavra para descrever os sentimentos de Leo.
Para alívio de Ginny, a campainha tocou, dando-lhe uma desculpa para fugir da
conversa. Apressada, foi receber a pizza na porta, levou-a para a cozinha e pôs-se a
arrumar a bandeja. Enquanto isso, seus pensamentos vagaram até a primeira vez em que
vira Howard.
Haviam se conhecido durante um campeonato inter-universidades de tênis, quando
Ginny cursava o segundo ano da faculdade. O porte atlético e os fartos cabelos loiros
haviam chamado a atenção de todas as amigas dela. Ah, e como se sentira lisonjeada,
quando Howard demonstrara estar interessado em sua companhia! Ginny estava sempre
à disposição quando ele a procurava, e era sempre muito compreensiva quando ele
desmarcava um encontro por causa de outro compromisso qualquer.
Fora um relacionamento fácil, repleto de tolerância, mesmo que às vezes ela preferisse
ser tratada como uma mulher irresistível, do que como irmã. Porém, dissera a si mesma
que a aparente distância de Howard devia-se ao respeito que ele tinha por ela.
E, como Ginny jamais desejara relacionamentos conturbados, que terminariam em
lágrimas e desespero, a associação era perfeita. Os amigos os viam como um casal
estável, que certamente chegaria ao casamento.
Com um suspiro profundo, Ginny refletiu que Howard jamais lhe propusera casamento.
Haviam deixado que a situação se fizesse por si mesma, sendo o casamento o desfecho
mais lógico a se esperar. Tinha de admitir que tal união jamais seria um casamento cheio
de aventuras e novidades. Formariam um casal conformista e sossegado, partilhando
respeito mútuo, dando um excelente exemplo para os garotos, alunos de Howard. Quem
precisava de aventura e paixão, afinal?
Ginny deu-se conta de que seus pensamentos estavam se formulando no tempo
passado. Enquanto cortava a pizza, aceitou a constatação inevitável: Howard estava fora
de sua vida para sempre. Não só porque ficaria furioso ao saber de sua participação na
conspiração de Steel, mas também porque ela descobrira uma verdade da qual não
poderia fugir: não amava Howard. Porém, essa verdade jamais seria admitida diante de
Steel, que agira como catalisador de tal revelação.
Assim que ela entrou na sala, o arrogante destruidor de seus sonhos levantou-se para
tirar a bandeja de suas mãos.
— Parece deliciosa — ele sorriu com aprovação. — Mas acho que você subestimou
meu apetite!
— Duvido. Além do mais, não estou com fome. Descobrir que estou noiva de dois
homens ao mesmo tempo tirou meu apetite.
— Isso é fácil de resolver. Basta telefonar para Roma e dizer a Howard que ele voltou a
ser um homem livre.
— Não posso fazer uma coisa dessas! Não é tipo de notícia que se dá por telefone.
— Não só pode, como vai fazer isso, Ginny. Se não ligar, eu mesmo ligarei, pois Leo
pensa que você já conversou com Howard. Além disso, não é do meu feitio dividir uma
mulher.
— Já que a questão de me "dividir" não está em pauta, cabe a mim decidir como e
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
quando contar as novidades a Howard. Mais uma Steel, estou farta de sua interferência
em minha vida, e detesto quando se refere a mim como se eu fosse uma pizza!
— Quente, saborosa, suculenta... para ser apreciada no restaurante, ou levada para
casa e desfrutada com tranqüilidade? — Ele sorriu. — Não foi isso o que eu quis dizer,
mas já que você tocou no assunto, não é má idéia.
— Não estou brincando — ela protestou. — O fato de ter me forçado a assumir um
papel falso, não lhe dá o direito de me dar ordens.
— Ah, não sei — Steel comentou pensativo, enquanto saboreava um pedaço de pizza.
— Depois de ter investido uma quantia de seis dígitos num negócio nem um pouco
estável, acho que comprei o direito de fazer isso e muito mais.
— Está mencionando o valor em moeda grega? — Ginny inquiriu alarmada.
— Não. Não faço negócios em dracmas. Nem paguei em dólares, mas sim, em libras
esterlinas.
— Mas... Só precisamos de alguns milhares de libras para os custos legais...
— Acorde, Ginny! Pode ter passado os últimos anos vivendo a irrealidade dos
corredores acadêmicos, mas não pode ser tão ingênua. Sabe muito bem que há muito
mais em jogo, no caso da Sullivan's, do que simples burocracia. A companhia precisa de
uma reciclagem completa, incluindo a aquisição de um sistema de computadores para
controlar compras, vendas, movimento de estoque, emissão de notas fiscais... E isso
custa muito dinheiro.
Ele estava certo. Afinal, a própria Ginny chegara a essa conclusão, dias antes. Mesmo
assim, a quantia que ele sugeria era assustadora. Não era de admirar que Leo houvesse
recusado a oferta, inicialmente.
— Portanto — Steel continuou com sua calma inabalável —, não podemos correr o
risco de ter o seu namoradinho voltando e esperando recomeçar o relacionamento do
ponto em que parou.
— Por acaso, é um hábito seu andar por aí, destruindo as vidas das pessoas? — Ginny
inquiriu com amargura.
— Transformando seria uma palavra melhor. Por outro lado, eu não desperdiçaria
lágrimas com Howard. Se ele for metade do homem que imagino que seja, vai superar
com facilidade o seu abandono.
— E quanto aos meus sentimentos? Eles não contam nada, afinal?
— Não devia ter feito essa mesma pergunta a Howard, quando ele decidiu sair de
férias sem você? Esqueça-o, Ginny. Duvido que ele esteja pensando muito em você,
enquanto desfruta os prazeres da Itália. Além do mais, não posso deixar que você
carregue dramas emocionais. Quero que esteja em boas condições, quando eu a
apresentar ao meu pai, como minha noiva.
— Seu pai? — Ginny repetiu com voz fraca, cada vez mais confusa.
— Pensou que eu fosse órfão? — Steel perguntou com um sorriso zombeteiro. —
Relaxe! Não vai ser tão difícil. Tudo o que terá de fazer será sorrir com cortesia quando
for apresentada a ele, e agir como uma garota prestes a entrar para uma das famílias
mais ricas da Grécia, desde Onassis. Terá de mostrar-se entusiasmada, como todas as
mulheres que se descobrem muito próximas da carteira de um milionário.
Milionário? Ginny fitou-o boquiaberta, a mente em disparada. Finalmente lembrou por
que o nome Anastasi lhe soara familiar. Era um nome que aparecia com freqüência nas
páginas de finanças de todos os jornais. E, também, explicava muito sobre Steel, e seu
modo autoritário de resolver as coisas.
— Pandelis Anastasi — ela declarou, irritada por não ter se lembrado antes —, o
magnata dos ramos de hotelaria e imobiliária... é seu pai?
— Está dizendo que só se deu conta disso agora?
— É claro que já ouvi falar dele, mas Anastasi é um sobrenome comum na Grécia, não
é? Pensei que...
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
economizando, até poder comprar minha própria taverna. O resto, como dizem, é história.
Tenho restaurantes em todas as capitais livres da Europa.
— E Louli? — Ginny perguntou em voz baixa. Ele riu.
— Um ano depois de minha partida, Pandelis livrou-se dela, pois havia encontrado uma
jovem que não se contentaria com nada menos que um casamento. Aquela altura, ele já
estava viúvo há dez anos e, sem dúvida, sua resistência e seu apetite começavam a
diminuir. Pandelis precisava de algo mais permanente que o interminável desfile de
mulheres que haviam tomado o lugar de minha mãe.
Sensível o bastante para saber que ele não suportaria o sentimento de piedade que
tomara conta de Ginny, ela permaneceu em silêncio, esperando que ele continuasse.
— Demorei cinco anos para perceber que meu pai havia me ensinado uma lição muito
mais valiosa do que mera experiência sexual: toda mulher tem seu preço! Algumas são
mais difíceis, outras querem dinheiro e jóias, enquanto muitas esperam fama e posição
social. Ambição, Ginny. Esta é uma emoção que consigo respeitar, uma moeda com a
qual sei lidar, mas nos meus termos. E a recompensa que me disponho a pagar tem de
justificar os meus esforços.
— Ao menos, é honesto com relação à sua atitude.
— Assim, ninguém sai magoado.
— Exceto seu pai? Ainda não me explicou como o falso noivado comigo vai destruir os
planos de seu pai.
— Meu pai, com sua audácia costumeira, decidiu, mais uma vez, escolher uma mulher
para aquecer minha cama. Só que, desta vez, decidiu-se por uma de virtude impecável:
Irene Stavrolakes, filha do magnata dos estaleiros gregos, Manolis Stavrolakes. Ao que
parece, Pandelis está enfrentando alguns problemas de impostos com o governo grego, e
seu fardo seria imensamente aliviado se ele pudesse se associar ao pai de Irene.
Stavrolakes está disposto a colaborar, desde que as duas famílias se unam pelo
casamento.
— E quanto a Irene? — Ginny inquiriu, incapaz de acreditar que algo tão arcaico
pudesse existir nos dias de hoje. — Com certeza, o pai dela não pode obrigá-la a um
casamento sem amor?
— Acha que sou tão pouco atraente que uma mulher tenha de ser forçada a partilhar
minha vida e minha cama?
— Acho que sua atitude está muito longe de ser cativante. E não acredito que qualquer
mulher moderna concorde em casar-se por conveniência.
Ginny o considerava mais que atraente, é claro, mas jamais lhe daria a satisfação de
admitir tal opinião.
— Depende de quanto conveniente a situação pareça a ela. Não seria a primeira vez
que duas famílias uniriam seus interesses comerciais no leito nupcial. — Steel havia se
levantado e, segurando as mãos de Ginny, a havia puxado para si. — Irene é jovem e
bonita. Tenho de admitir que para muitos homens, a isca seria mais que apetitosa.
— Mas não para você?
— Não contrato terceiros para cuidarem dos meus negócios, sejam comerciais ou
pessoais.
— Você tem muito sangue frio — Ginny comentou, estremecendo de leve.
— Está redondamente enganada — ele murmurou. — Assim como meu pai, que
também parece ter esquecido de que sou bem mais velho do que da última vez em que
ele decidiu escolher uma mulher para mim. Agora, prefiro cuidar dos meus próprios
negócios.
CAPÍTULO VII
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O fogo frio da vingança iluminou os olhos de Steel, ao mesmo tempo que um sorriso
curvou-lhe os lábios.
— Por que me escolheu, então? — Ginny inquiriu consternada. — Não acredito que
não exista uma mulher em sua vida, disposta a ajudá-lo.
— Ah, mais que uma. Muito dispostas e muito difíceis de me livrar, quando seus
serviços não forem mais necessários. E muito caras, também.
Steel parou de falar, deixando que os olhos passeassem sem pressa pela curva dos
seios de Ginny, delineados pelo vestido colante.
— Com você é diferente — continuou. — Sua cooperação vem de graça, pois você é
parte do acordo que fiz com seu pai. Já paguei o preço de sua ajuda. Não lhe devo nada,
nem agora, nem no futuro. E a solução perfeita.
— E o meu futuro não importa? Acha que Howard, algum dia, vai me perdoar por isto?
— Ginny perguntou, tentando libertar os punhos.
— Pelo seu bem, espero que não. Quando eu terminar com você, vai ter ideais bem
mais altos que um simples professorzinho provinciano, doçura.
— Não compreendo seus motivos. Por que não pode, simplesmente, recusar-se a
casar com Irene Stavrolakes?
— Porque me agrada tirar cavalos negros de cartolas.
— Está misturando as metáforas — Ginny comentou, referindo-se ao inglês imperfeito
de Steel.
Ele sorriu.
— Prefere ser chamada de coelho? Ah, não, Ginny! Você não é um coelhinho cabeça-
oca e frágil. Está mais para um cavalo selvagem, que precisa de mão firme nas rédeas. —
Steel fez uma breve pausa, a fim de examiná-la da cabeça aos pés. — Assim como os
cuidados de um cavalariço experiente, antes de entrar na pista.
— Não há nada errado com a minha aparência! — Ginny protestou indignada. — Não
tenho crédito ilimitado na Harrods!
— Agora tem. Um bom cabeleireiro e um costureiro vão transformá-la. Acho que nem
vai precisar de um curso de etiqueta. Seu porte é excelente, embora seja um pouco baixa,
e tem uma graça de movimentos natural, quando não se comporta como uma menina
mimada.
— Também sei que talheres usar num jantar formal, comer aspargos com os dedos e
partir o pão com as mãos, em vez de cortá-lo! — ela acrescentou furiosa. — Você pode
ter um pai milionário, mas não tem a prerrogativa de uma boa educação ou boas
maneiras! Posso não ter escolha quanto a participar do seu jogo absurdo, mas vou fazê-lo
do meu jeito. Pode ficar com seus cabeleireiros e costureiros. Você me escolheu, mas
terá de me suportar exatamente como eu sou!
Em vez de se mostrar irritado, Steel parecia divertido.
— Tem razão — ele comentou pensativo. — Pandelis vai ficar ainda mais confuso e
afrontado se eu aparecer com uma garota comum, com teias de aranhas nos cabelos e
manchas de carbono nas faces. Será uma boa substituição para a bela Irene. E, também,
será um assunto a mais para os convidados do jantar de amanhã.
Ginny entrou em pânico.
— Amanhã? Quer que eu conheça seu pai amanhã?
— Claro. Naturalmente, ele espera conhecer a mulher que vai se tornar sua nora o
quanto antes. Ele enviou um fax para o meu escritório em Londres, assim que soube da
notícia, informando que nós dois estamos convidados para á festa de amanhã, no hotel
Iliad.
— Não creio que eu seja capaz de desempenhar o meu papel de maneira convincente
tão cedo. Não pode dizer a ele que não poderemos ir?
— Depois de ele ter transferido a comemoração de Atenas para Londres, sem a menor
antecedência? Não se preocupe, cuidarei para que seja bem treinada. Tendo sido
Projeto Revisoras 32
Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
CAPITULO VIII
Ao desligar o telefone, Ginny deu-se conta de que o coração batia acelerado. Apoiou-
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
nervosa.
— Relaxe, agape mou. Fez o melhor para si mesma.
— Steel murmurou, acariciando4he a face. — Você tem um rosto muito bonito. Acho
que vou encontrar outras compensações neste arranjo comercial.
— Não, se espera que eu as proporcione — Ginny defendeu-se, tentando ignorar os
efeitos que aquele sorriso exerciam sobre suas emoções.
— Trata-se de um desafio?
Apesar da tentativa de fuga de Ginny, Steel foi mais rápido e, passando um braço em
torno de sua cintura, puxou-a para si.
— Na noite em que a levei para jantar, e você pareceu desprezar tudo o que me dizia
respeito, prometi a mim mesmo que faria você mudar de idéia.
— Foi só uma brincadeira — Ginny protestou em tom de falsa alegria.
— Não achei graça.
— Mas... — ela não conseguiu encontrar palavras, pois a mão quente passeando por
suas costas afetou-lhe a capacidade de raciocínio.
E descobriu-se incapaz de resistir quando os lábios de Steel pousaram nos seus, ao
mesmo tempo em que ele erguia uma das mãos para acariciar-lhe os seios. Embriagada
pelas sensações que percorriam seu corpo como correntes de eletricidade, Ginny
entregou-se à sensualidade do contato com o corpo viril, deleitando-se com seu calor e
firmeza.
— Ah, Ginny, você é como ambrosia e néctar.
Steel tomou-a nos braços e levou-a até o sofá. Arrastada pela paixão e pelo desejo,
Ginny estremeceu com um gemido de puro prazer quando, mais uma vez, a mão dele
pousou sobre um de seus seios. A descoberta do mamilo rijo também arrancou um
gemido dos lábios de Steel.
Aceitando por fim as sensações eróticas que ele lhe despertava, Ginny deslizou as
mãos pelas costas musculosas, deliciando-se com a reação que suas carícias
provocavam nele.
De repente, Steel afastou-se, passando a mãos pelos cabelos, levantou-se e foi para o
outro lado da sala.
Envolvida por um súbito sentimento de vergonha, Ginny sentou-se, abotoando a
camisa. Em vez de ter ficado indignada com as liberdades que Steel tomara, participara
de boa vontade daquele interlúdio. Em vez de se ressentir das atitudes dele, só sentira
ressentimento quando ele as interrompera.
—. Bela.atuação, Ginny! Merece os parabéns. — Steel virou-se para fitá-la com um
leve sorriso. — Qualquer um teria acreditado que você realmente gostou da experiência.
Exceto por um leve rubor nas faces, ele parecia totalmente indiferente ao que acabara
de acontecer.
— Ou percebido que você não passa de um gigolô experiente — Ginny contra atacou,
desesperada para recuperar a dignidade. — Afinal, você teve treinamento profissional,
não foi?
Dando-se conta de que, sem pensar, havia usado a traição de Louli para atingi-lo,
Ginny levou a mão aos lábios.
— Verdade — ele falou tenso. — E se eu não tivesse mudado de idéia no último
instante, você teria sucumbido à minha experiência, não é mesmo, agape mou?
— Isto faz parte do acordo, Steel? Sou parte dos lucros que você espera obter, depois
de assinada a sua sociedade com meu pai?
— E uma proposta interessante, mas posso assegurá-la de que não há nenhuma
cláusula em nosso contrato que me dê o direito a desfrutar do seu corpo delicioso.
Acredite, Ginny, o dia em que você acordar em minha cama, será porque foi até lá de livre
e espontânea vontade. Jamais será forçada ou coagida.
Apesar do pânico, Ginny conseguiu manter a expressão impassível.
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— E, agora que já estabelecemos o que eu não quero de você, talvez possa ouvir o
que tenho a pedir.
— Por favor — ela o convidou a continuar, com voz inexpressiva.
— Tenho muito trabalho para fazer hoje.
Ele assumiu postura profissional, enquanto recitava seus compromissos com precisão
militar. Distraída, Ginny concluiu que ele parecia uma mistura de Alexandre, o Grande e
Marco Antônio. Uma combinação formidável e assustadora. Alexandre havia conquistado
metade do mundo quando chegara aos trinta anos de idade. E, todos que haviam lido
Shakespeare sabiam o que Marco Antônio fizera com a rainha Cleópatra. Quantas
conquistas teria Steel realizado em seus trinta e dois anos?
— Ginny, está me ouvindo?
O som de seu nome despertou-a.
— Claro — ela respondeu depressa. — Está falando do que tem para fazer hoje.
— Estava dizendo que já contratei um advogado para apelar contra a ordem de
fechamento dos armazéns. É o melhor na área e, depois de ler toda a documentação,
garantiu que não teremos dificuldades em resolver a questão de uma vez por todas. Além
disso' espero ter o documento formal me dando plenos poderes na administração da
Sullivan's durante a ausência de Leo, amanhã, no máximo.
Impressionada, Ginny assentiu.
— Dei instruções precisas a Duncan e Cathy quanto ao trabalho que vou precisar no
escritório — ele falou, enumerando cada item com os dedos de uma das mãos. Ginny
estremeceu ao lembrar-se da capacidade daqueles dedos em despertar-lhe sensações
totalmente novas para ela. — E pedi um controle total do estoque, o que deverá manter
todos os funcionários ocupados. Também já encomendei um sistema de computadores.
Existem excelentes programas à disposição no mercado, mas quero que sejam
adaptados às necessidades específicas da Sullivan's. Tenho a intenção de contratar dois
recém-formados em computação, com excelente currículo, para aprenderem o novo
sistema e...
— Vai se livrar de Duncan! — Ginny pôs-se de pé, horrorizada. — Duncan trabalha na
Sullivan's desde que papai assumiu os negócios de meu avô!
— Minha querida, Duncan já está com sessenta e três anos! E, de qualquer maneira,
ele não será dispensado tão cedo, uma vez que teremos de operar os dois sistemas,
manual e computadorizado, por algum tempo, até termos certeza de que tudo está
funcionando direito.
— Papai não vai permitir isso! Vai deixar Duncan trabalhar até quando quiser.
— Já perguntou a ele quando isso vai ser? — Steel inquiriu, mas não esperou pela
resposta. — E claro que não. Afinal, você nunca ficou por aqui tempo bastante para
inteirar-se dos negócios, ou de seus funcionários. Pois, acredite, Duncan não vê a hora de
aposentar-se para ir viver perto da filha casada, na costa, e ver os netos todos os dias. Só
não fez isso ainda porque, até agora, a Sullivan's nem podia ficar sem ele, nem
proporcionar-lhe a condição financeira necessária para isso.
Steel estava zangado. Ginny não saberia dizer se era com ela, ou porque a Sullivan's
encontrava-se em condições piores do que ele havia imaginado. E, embora a explicação
dele soasse mais que razoável, ela não confiava nele.
— E quanto a Cathy? — perguntou, mantendo a voz controlada. — Suponho que vá se
livrar dela, também.
— Ela tem planos de se casar.
— Cathy? Casar? Mas ela já é avó!
— Também é mulher e viúva. Ou você acha que as chamadas alegrias do casamento
devem ser exclusivas das jovens bonitas?
-— Não, claro que não. Mas Cathy é uma excelente secretária, uma assistente na
verdade. Papai se dá muito bem com ela. Confia nela. Vai ficar perdido sem Cathy. —
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Ginny pensou depressa. — Talvez, eu possa tomar o lugar de Cathy. Embora não tenha
experiência como secretária, estou familiarizada com computadores e aprendo rápido...
— Não. O tempo em que você poderia ter ocupado um lugar que não fosse meramente
decorativo na Sullivan's já passou. Os dias de amadorismo estão terminados por aqui,
Ginny. Estamos na era dos profissionais. Quanto antes você aceitar o fato, mais feliz será.
Apesar de furiosa, Ginny também estava consciente de que não teria nada a ganhar
opondo-se ao sócio condescendente de seu pai.
— Muito bem — declarou, de mãos na cintura. — Já sei que funções estou proibida de
desempenhar. Importa-se de me dizer que planos tem para mim, hoje?
— Nada de importante, agape mou. Pode preparar uma' torrada para mim, enquanto
me visto. Depois, pode se ocupar como quiser, desde que suas atividades não tenham
nada a ver com o dia-a-dia do escritório, e que esteja pronta às oito horas, para irmos à
festa de Pandelis.
— Seu pedido é uma ordem, oh, todo poderoso! — Ginny declarou sarcástica, fazendo
uma reverência. — O patrão deseja alimentar-se na hora do almoço, ou antes de sair para
a festa? — perguntou com ar inocente.
— Tenha certeza de que, se ele desejar, a senhorita será a primeira a saber — Steel
respondeu em tom sugestivo, antes de subir a escada.
Finalmente aliviada pela saída de Steel, Ginny dedicou-se aos afazeres domésticos.
Surpreendeu-se ao entrar no quarto de hóspedes e descobrir que Steel arrumara a cama
e deixara o aposento na mesma ordem em que o encontrara.
Depois disso, brincou com Kefi no jardim por meia hora, antes de regar a pequena
horta de seu pai. Quando terminou, constatou que o horário de visitas no hospital já se
iniciara. E era lá que ela pretendia passar o resto da manhã.
Quando entrou no quarto do pai e viu a melhora em sua aparência, sentiu o coração
alegrar-se.
— O médico está muito satisfeito comigo — ele confirmou animado. — Mais alguns
dias, e já poderei voltar a comer alimentos sólidos. Não vai demorar para que eu possa
voltar para casa, querida.
A voz de Leo carregava um novo otimismo, mas por trás da alegria que Ginny sentia,
surgiu a dúvida: quantos dos planos de Leo para o futuro Steel partilhava?
Sem saber se devia sequer insinuar que poderiam haver mudanças adiante, Ginny
concentrou-se no sorriso entusiasmado do pai, enquanto ele continuava:
— Meu futuro genro tem grandes planos para a empresa, filha. Está decidido a torná-la
reconhecida, transformando-a num negócio do século vinte e um. Eu jamais teria o capital
necessário para as modificações. E pensar que eu estava preocupado com você,
achando que acabaria se casando com Howard e relegando-se a ser nada mais que um
apêndice das ambições dele, a esposa do diretor, a mãe dos filhos do diretor...
— Não sabia que você detestava Howard tanto assim, papai.
Leo segurou-lhe a mão.
— Eu não o detestava, Ginny. Apenas não o considerava bom o bastante para a minha
filha. Mas, como todos os pais pensam assim, fiquei de boca fechada.
— Você aprova Steel, não é? — Ginny inquiriu, pensando na ironia da pergunta.
Leo assentiu.
— É um homem íntegro, Ginny. Venho fazendo negócios com ele já faz tempo, para
saber disso. Ele até é capaz de guardar segredos!
— Está se referindo ao fato de termos escondido de você até agora, que já nos
conhecíamos?
— Tudo bem, querida. Compreendo seus motivos. Steel me explicou que não se sentiu
à vontade para me contar que estava visitando você em Birmingham porque você ainda
não havia tomado uma decisão definitiva com relação a Howard. Depois, é claro, você
estava esperando Steel voltar à Inglaterra, para que os dois pudessem me dar a notícia
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juntos. E eu adiei ainda mais os seus planos, quando fiquei doente. — Ele riu. — Se eu
não houvesse recusado a ajuda financeira de Steel e explicado minhas razões a ele,
imagino que ainda não saberia que vocês dois estão apaixonados!
— Provavelmente — Ginny confirmou com um sorriso.
— Foi o melhor tônico que você poderia ter me dado. Até o especialista está surpreso
com a velocidade da minha recuperação.
— Bem, ainda não precisa reservar a igreja, papai. — Ginny sentiu uma pontada de
culpa ao pensar na decepção que Leo teria quando Steel houvesse terminado de se
divertir às custas dela. — Ainda não marcamos a data.
O sorriso de Leo revelou a profunda felicidade de um homem cuja visão do futuro
envolvia sonhos realizados. Ao mesmo tempo, encheu o coração de Ginny de tristeza.
— Conhecendo Steel tão bem como conheço, garanto que vai se casar antes do
invernos, filha — ele falou em tom confidencial. .
CAPÍTULO IX
Duas horas depois, Ginny deixou o hospital, com a sensação de que estivera patinando
sobre gelo fino Para uma noiva às vésperas do casamento, ela sabia muito pouco sobre o
seu futuro marido. Felizmente, seu pai parecia não se dar conta de suas respostas
reticentes e se mostrara feliz em falar da amizade que tinha com o futuro genro. E era
evidente que havia uma profunda empatia entre os dois. Ah, que decepção Leo teria,
quando sua confiança fosse destruída!
Ao chegar em casa no meio da tarde, Ginny surpreendeu-se com o caminhão enorme
que bloqueava a entrada dos armazéns. A carga atrasada, mas muito bem vinda,
finalmente chegara do continente.
A cena insinuava um ligeiro caos, enquanto Sam descarregava as caixas maiores, e
Cathy e Duncan, as menores.
Era tudo o que Ginny precisava. Com tanta energia represada, e mais que satisfeita
pela oportunidade de envolver-se numa atividade física, ela estacionou o carro e pôs-se a
trabalhar.
Eram seis horas, quando a última caixa foi descarregada, e os outros partiram,
deixando Ginny sozinha no escritório. Antes de afundar-se numa cadeira, ela apanhou
uma lata de refrigerante na pequena geladeira e matou a sede provocada pelo esforço.
Fechou os olhos, entregando-se ao prazer proporcionado pelo líquido fresco que desceu
pela garganta seca.
— Tinha certeza de que a encontraria aqui.
O tom levemente ameaçador de Steel fez Ginny abrir os olhos sobressaltada.
— Alguém tinha de ajudar Sam — ela se defendeu.
— O carregamento europeu chegou e, se eu não estivesse aqui, a esta hora você teria
uma porção de caixas espalhadas por aí, em vez de estarem catalogadas e guardadas
nos armazéns.
Steel examinou-a da cabeça aos pés e sorriu.
— Essa desordem nos trajes combina com você, Ginny. Suas faces coradas e sujas,
os cabelos despenteados e a camisa desabotoada são encantadores. Tão encantadores,
que vou perdoá-la por ter desobedecido às minhas ordens.
— Devo me sentir grata por um perdão tão generoso? — ela falou, fechando a blusa.
— Ao contrário, sou eu quem deve sentir-se grato, ágape mou. Se você não tivesse
aparecido para. ajudar, eu teria de fazer o trabalho, o que atrapalharia nossos planos para
esta noite.
— Ah, a festa... — Por mais incrível que pudesse parecer, durante as últimas horas,
Ginny esquecera-se completamente da festa que tanto a apavorava. Sentindo os
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fortuna intacta, nem se vergaria diante de ninguém. Ali estava um homem que conhecia o
exato significado da vingança. Por alguma razão, Ginny duvidou que o fato de Steel
partilhar seu sangue o imunizasse contra os efeitos da ira do pai, caso o desafiasse.
— Sim — ela conseguiu responder com aparente tranqüilidade. — Steel pediu-me que
usasse este anel. — O que era verdade, ela pensou, sem esconder o brilho de
divertimento que iluminou seus olhos. — E me sinto orgulhosa e feliz em usá-lo —
acrescentou. Aquilo era uma mentira, mas que fora pronunciada com imensa facilidade
por alguém que não costumava mentir.
Ginny surpreendeu-se consigo mesma.
— Compreendo — Pandelis comentou, examinando o anel. — Não posso negar que
estou surpreso. Confesso que suspeitei que meu filho estava apenas se divertindo às
minhas custas, quando li a notícia nos jornais.
— Não espere que eu chore por você, pateras mou — Steel declarou em tom seco,
passando um braço reconfortante em torno dos ombros de Ginny. — O governo grego só
está lhe cobrando o que você lhe deve. Todo homem deve pagar suas dívidas. Tenho
certeza de que você pagará as suas, mesmo que o esforço seja mais doloroso, sem a
conivência da família Stavrolakes.
O mais velho deu de ombros.
— Minha política é explorar todas as possibilidades nos negócios. Nunca se sabe o que
se pode encontrar.
— Estou impressionado com sua filosofia.
A inclinação da cabeça de Steel demonstrava admiração, mas o brilho frio em seus
olhos não exibia o menor respeito para confirmá-la.
— E eu admiro a rapidez e determinação com que você passou de passivo a ativo, no
desafio de minha sugestão. — Pandelis observou o filho com olhar sombrio. — Eu o teria
provocado antes, se soubesse que sua rebeldia tomaria formas tão atraentes.
Ginny sentiu-se péssima, sendo o centro da batalha entre duas potências como
aquelas.
— Quer dizer que aprova Ginny?
Ginny ergueu os olhos para Steel, ao sentir o braço dele apertá-la num gesto
possessivo. Teve de admitir que ele mereceria um Oscar pela atuação. Seria engraçado
se Pandelis de mostrasse feliz pelo filho estar noivo de uma Cinderela suburbana. Porém,
Ginny estava decidida a não aceitar passivamente a avaliação do mais velho, como se ela
fosse uma peça em leilão.
— Estou muito interessada em ouvir sua opinião, Sr. Anastasi — ela falou com ar
tranqüilo, embora não houvesse nada de tranqüilo, nem subserviente, no olhar frio com
que ela o encarou.
— Como eu poderia não aprovar? — ele falou, sustentando-lhe o olhar. Não havia o
menor sinal de prazer nos olhos dele, apenas cortesia. — Meu filho herdou mais
características minhas do que está disposto a admitir. Seu gosto para mulheres é
impecável. Sempre foi.
— Ah... — Ginny murmurou, respirando fundo.
Ao mesmo tempo em que o comentário de Pandelis elogiava sua aparência, deixava
claro que ela não era a primeira mulher a ocupar o coração de Steel. E, também,
lembrava o filho que, um dia, os dois haviam partilhado a mesma amante.
— Deve perdoar a meu pai, Ginny — Steel falou em tom ligeiramente divertido,
acariciando-lhe o braço. — Infelizmente, o domínio que ele tem do inglês não inclui as
nuances mais refinadas. Tenho certeza de que ele não quis insinuar que você é apenas
mais uma numa longa lista de mulheres em minha vida. Apenas comentou que somos
ambos admiradores da beleza feminina.
— Claro — Pandelis confirmou em tom suave. — Meu filho está certo. Meu inglês é
mais adequado aos negócios do que ao amor. Se eu disse alguma coisa que a magoou,
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peço desculpas. Meu filho é um homem de discernimento — ele continuou, deixando claro
que seu comando do inglês era tão bom quanto qualquer nativo. — A mulher que se casar
com meu filho poderá esperar a recompensa de uma relação longa e gratificante. Disso
eu tenho certeza.
Ele enviava a mensagem de que Ginny não o enganara nem por um momento. Sabia
que ela fora comprada e usada. A maneira como Pandelis se referira à "mulher que se
casasse com o filho" indicava que ele sabia que não seria Ginny a ocupante de tal
posição.
Uma pontada de dor atingiu o coração de Ginny, inesperada e desmoralizante, uma
vez que ela pouco se importava com o homem atraente parado p seu lado com um sorriso
enigmático nos lábios. Com muito esforço, manteve o sorriso claro, enquanto Pandelis
desviava os olhos para o filho e se dirigia a ele em grego.
Aos ouvidos de Ginny, a língua não possuía a musicalidade do italiano, nem a cadência
rítmica do espanhol.
Relegada a observar as expressões do rosto de Steel enquanto ele parecia estar sendo
submetido a uma série de perguntas, tentou decifrá-las. Ele, às vezes, parecia divertido.
Outras, zangado. O tom da conversa parecia duro e pouco amigável.
— Perdoe-me, agape mou — Steel finalmente voltou a atenção para ela. — Meu pai
não quis ser descortês ao excluí-la de nossa conversa. Como ele mesmo disse, seu
inglês não é bom o bastante, para que ele possa expressar todas as suas emoções.
Embora o rosto de Steel não desse o menor sinal do que se passava em sua mente,
Ginny sabia muito bem que Pandelis expressara-se em grego por saber que ela não
compreendia a língua. O que significava que suas últimas palavras deviam ter sido ainda
menos agradáveis que as anteriores.
— É claro que compreendo — ela falou, decidindo que era perfeitamente capaz de
fazer o jogo dos dois. Utilizando uma habilidade de representação que, até então, ela
mesma ignorava possuir, assumiu ar dócil e meigo. — O inglês é uma língua muito
limitada, mas os gregos sempre têm uma palavra para tudo! Não é assim o ditado?
— Exatamente, minha querida! — Steel sorriu com evidente aprovação. — Neste caso,
as palavras que meu pai encontrou com maior facilidade em grego, foram de boas vindas
à família, aliada ao pedido de desculpas de sua esposa, minha madrasta, por não ter
podido voar para Londres para conhecê-la. Mas ela diz que pretende corrigir a situação
muito em breve.
— Quanta gentileza! — Ginny canalizou a dor para um prazer perverso, estendendo a
mão para Pandelis. — Espero que a notícia de nosso noivado tenha contribuído para a
alegria de sua festa.
Em vez de falar, Pandelis tomou-lhe a mão e beijou-a. Quando voltou a fitá-la, Ginny
teve a nítida impressão de ver um brilho de respeito nos olhos escuros como os do filho.
As duas horas seguintes passaram-se sem que Ginny percebesse. Steel tirou-a da
companhia desconcertante do pai e apresentou-a a amigos e conhecidos, cujos nomes
ela jamais lembraria. Com um sorriso inabalável, ela apertou mãos, conversou
amenidades e aceitou congratulações que pareciam sinceras, embora incrédulas. E quem
poderia culpá-los? Quem imaginaria que Steel Anastasi poderia apaixonar-se pela filha de
Leo Sullivan, quando seu próprio mundo encontrava-se povoado de mulheres tão lindas,
ricas e glamourosas?
Quando Steel finalmente levou-a até o bufê preparado num dos cantos do salão, Ginny
descobriu, para sua própria surpresa, que o esforço das últimas horas havia aumentado
seu apetite. Ao contrário do que esperava, não encontrou dificuldade em comer a comida
deliciosa, nem em beber o forte vinho grego.
Foi bem mais tarde, quando a banda bouzouki começou a tocar e os casais a
dançarem, que o frágil controle de Ginny começou a escapar-lhe. A música era romântica,
as luzes suaves, quando Steel tomou-a nos braços, apertando-a contra si, e levou-a para
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CAPÍTULO X
— O quê? Ginny ficou chocada, aquilo era absurdo. Do ponto de vista de Pandelis, a
pergunta era mais que pertinente. Não era de admirar que ele houvesse falado em grego!
— Espero que o tenha desiludido! — ela declarou com seriedade.
— Acalme-se, Ginny. Eu disse a ele que você continua tão pura como no dia em que a
conheci — Steel esclareceu, dando ênfase às últimas palavras. — Também disse que ele
vai ter de esperar algum tempo, antes que possamos presenteá-lo com o primeiro neto.
A última coisa em que Ginny queria pensar era num filho de Steel. Mesmo assim, a
sugestão de intimidade nas palavras dele trouxeram à sua mente imagens indesejadas.
Reunindo o que lhe restava de respeito por si mesma, Ginny ergueu uma sobrancelha
e fingiu um bocejo, cobrindo delicadamente a boca com a mão.
— Teria sido mais honesto se dissesse "muito tempo"! Francamente, Steel, não acha
que já exageramos por hoje? Estou exausta e gostaria de ir para casa.
— Era exatamente no que eu estava pensando. Como não esperava uma
concordância tão imediata,
Ginny ficou surpresa e deliciada quando, poucos minutos depois, após despedir-se de
Pandelis, ela se viu longe da festa, sentada no Lotus.
Foi somente quando Steel deu a partida no motor, que Ginny notou a eletricidade que
pairava no ar, e deu-se conta do erro que havia cometido. Aflita, fez a primeira pergunta
que lhe veio à cabeça, só para puxar conversa.
— Não devíamos ter levado um presente para o seu pai?
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— Não sei — ela respondeu com voz trêmula. — Já é tarde e tive um dia muito longo.
Portanto, se me der licença, vou para o meu quarto.
— Ótima idéia, agape mou. Vamos juntos?
— Não foi isso que eu quis dizer... — Sentindo-se afundar no mar de sensações
produzidas pelos braços fortes e o olhar penetrante que a mantinham cativa, Ginny lançou
mão de seu último artifício: a mentira na qual insistia em que Steel acreditasse. — Você
jamais tomará o lugar de Howard. Destruiu o meu futuro com ele, mas não vai destruir o
meu amor.
Por um momento, a tensão tomou conta de Steel. Então, ele segurou-lhe o queixo,
forçando-a a fitá-lo.
— Não tem importância, Ginny — falou entre dentes. — O que tenho em mente não
tem nada a ver com amor. Não estou pedindo para substituir Howard no seu coração,
mas ficarei muito satisfeito se puder substituí-lo em sua cama.
Ignorando o gesto de rejeição de Ginny, puxou-a para si e beijou-a.
De nada adiantaria resistir, Ginny concluiu, sentindo o desejo tomar conta de seu
corpo, sua mente, sua alma. Entregou-se ao beijo com paixão, respondendo com toda a
intensidade às reações que só Steel sabia provocar.
Hipnotizada pelos hormônios que se espalhavam em seu sangue, nem sequer
protestou quando a mão firme buscou seus seios. Ao contrário, Ginny arqueou as costas,
facilitando o contato, desejando a satisfação que aquele toque lhe prometia.
— Ginny... — Steel murmurou, sem descolar os lábios dos dela. — Seria melhor
subirmos.
Embora ouvisse as palavras, Ginny não pôde responder.
— Ginny?
De repente, ela foi tomada pelo pânico. Pousou as mãos no peito de Steel, numa
tentativa desesperada de afastar-se dele.
— Não — respondeu com voz estrangulada.
— Por que não? Você me deseja tanto quanto eu te desejo. Confie em mim, Ginny. Eu
jamais faria qualquer coisa para colocá-la em perigo.
Embora todas as células de seu corpo pedissem para serem possuídas por Steel, o
orgulho impediu Ginny de atendê-las. Ele nem sequer gostava dela, quanto menos amá-
la! Howard jamais demonstrara um desejo ardente de possuir seu corpo. Steel, que
descartara seu intelecto e personalidade como não merecedores dele, mostrava-se
ansioso para desfrutar de seu corpo. A amargura tomou conta de Ginny. Steel prometera
protegê-la contra o perigo, mas só poderia cumprir sua promessa com relação ao perigo
físico. Proteção nenhuma repararia os danos que ele já infligira ao seu coração.
Consciente de que ele ainda esperava pela resposta, Ginny tentou ordenar os
pensamentos. Então, constatou que a lógica não seria suficiente, que havia apenas uma
resposta.
— Porque — falou com simplicidade — meus joelhos tremem tanto, que eu não
conseguiria subir a escada.
Steel aceitou o convite como ela sabia que aconteceria. Tomou-a nos braços e levou-a
escada acima com velocidade surpreendente. Ao deparar com a porta do quarto . de
Ginny entreaberta, abriu-a com um golpe do ombro.
Com excitação e nervosismo crescentes, ela o observou desabotoar-lhe a blusa com
dedos experientes. Não reprimiu um gemido ao ver a blusa escorregar para o chão.
A respiração acelerada de Steel ao ver a forma arredondada dos seios parcialmente
escondidos pelo sutiã sem alças, funcionou como um poderoso afrodisíaco para Ginny,
que aproximou-se dele ansiosa, oferecendo-se para a conquista final. Com o semblante
alterado pelo desejo, Steel abaixou-se para beijar com reverência a pele quente que ele
mesmo revelara.
Hesitante, Ginny cedeu às exigências de seu próprio corpo, estendendo as mãos para
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recebê-lo, deslizando-as por baixo do paletó. O fervor em seu sangue tornou-se ainda
mais intenso quando ela ouviu o gemido profundo de Steel, expressando o prazer que o
toque dos dedos delicados lhe proporcionava.
— Espere — ele murmurou, ao mesmo tempo em que tirava o paletó e o atirava no
chão.
Então, com mãos trêmulas, Steel soltou o fecho do sutiã. Em seguida, pôs-se a
acariciá-la e beijá-la com adoração, seus lábios passeando pelas curvas fartas dos seios,
subindo devagar até o pescoço, o queixo.
— Diga que me quer, Ginny. Toque-me, mostre-me o quanto me quer...
O pedido rouco teve um efeito arrasador sobre Ginny, que se viu envolta por uma onda
de emoções poderosas e intensas. Ela se descobriu a desejar com desespero que
aqueles lábios quentes cobrissem cada centímetro de seu corpo. Queria com ardor que
ele a amasse como nenhum homem ainda havia feito.
Por um momento, seus olhares se cruzaram. E foi o rosto de um estranho que Ginny
viu, transfigurado pelo desejo. Uma pontada de medo atingiu-lhe o coração. Não queria
que seu corpo inexperiente o decepcionasse, deixando-o insatisfeito e, a ela, humilhada.
Porém, o amor por ele crescera numa chama devoradora, queimando-a num fogo
intenso que somente ele seria capaz de aplacar. Que diferença fazia se ele não a amava?
Steel a desejava e Ginny o amava. E isso era mais que suficiente.
Portanto, quando Steel desabotoou a camisa, Ginny ajudou-o a tirá-la com mãos
ansiosas. Quando ele a deitou na cama, ela moldou o corpo ao dele, arqueando-se para
facilitar-lhe a tarefa de despi-la do restante de suas roupas, oferecendo-se para ele com
sinceridade e alegria.
A princípio, as carícias suaves foram reconfortantes. Porém, logo se tornaram
profundamente perturbadoras, aumentando o fogo que ardia dentro dela, levando-a a
apertá-lo contra si com força.
Apoiando-se num cotovelo, Steel ergueu-se para fitá-la.
— Quer que eu faça amor com você, Ginny? Se não quiser, este é o momento para
dizer.
— Eu quero — ela respondeu sem pensar, movida pelos impulsos do próprio corpo.
— Então, mostre-me, agape mou. Se me quer tanto quanto eu quero você, mostre-
me...
Talvez Steel ainda não confiasse nas reações dela. Ou, então, gostava que suas
mulheres tomassem a iniciativa. De um jeito ou de outro, ali estava um convite que Ginny
não tinha a menor intenção de recusar. Deslizou as mãos pelo ventre firme e musculoso,
até encontrar o fecho da calça. Depois de abri-lo, Ginny pôs-se a lutar com o zíper,
resistentes aos seus esforços. Impaciente, Steel ajudou-a, removendo as últimas
barreiras que os separavam.
Como se ouvisse a própria voz a uma distância imensa, Ginny ouviu-se repetir o nome
dele muitas e muitas vezes, quando Steel posicionou-se sobre ela, substituindo a dor da
expectativa pela da satisfação.
Em sua ignorância, Ginny não havia se preparado para a violência e o poder de Steel
sobre ela. O ato de amor, primitivo e criativo, envolveu todos os seus sentidos, bem como
suas fantasias, concentrando-os no vigor do belo corpo masculino que pairava sobre ela.
Seu prazer naquela primeira vez resumiu-se em saber quanto Steel apreciara o calor
úmido de seu corpo, assim como na alegria de sentir-se unida ao homem que amava,
enquanto seu corpo seguia o ritmo do dele, até levá-lo à satisfação e ao êxtase.
Quando Steel deitou-se a seu lado, Ginny continuou a senti-lo dentro de si, e rezou
para que tal sensação permanecesse. Assim, quando estivesse sozinha, poderia lembrar-
se do prazer e paixão que proporcionara ao seu amado.
— Por que eu, Ginny? Por que se entregou para mim, se nenhum outro homem a amou
antes? — a voz dura de Steel arrancou-a de seus devaneios e letargia.
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
Ainda envolta pelo brilho da felicidade, ela não estava preparada para a reação de
Steel, quando ele se ergueu num cotovelo, para fitá-la com seriedade.
Que tipo de pergunta era aquela, afinal? Ginny sentou-se e, subitamente embaraçada
pela própria nudez, cobriu-se com a saia de chiffon. Estava surpresa por ele ter percebido
sua virgindade, pois ela mesma não se lembrava de ter sentido qualquer desconforto.
— Eu... não entendo o que está tentando dizer... — ela gaguejou e, então, deu-se
conta do que passava pela cabeça de Steel. — Não pode estar pensando que eu tentaria
obrigá-lo a alguma coisa!
— Pensei que você e Howard eram amantes. Diabos, Ginny... Eu não esperava
descobrir que você nunca foi tocada antes!
— Para o inferno com suas expectativas! Quem lhe deu o direito de tirar conclusões
sobre mim?
— Ora, Howard era seu noivo e vocês iam juntos para Roma. O que mais eu poderia
pensar?
— Como eu vou saber? — Ginny fitou-o consternada, magoada por ele estar
destruindo a lembrança de uma experiência que ela desejara guardar em seu coração
para sempre. — Que meu pai me criou para seguir princípios antiquados? Que valorizo a
integridade de meu corpo a ponto de não sair me oferecendo por aí, como se oferecesse
um bolo numa festa? Que Howard respeitava os meus sentimentos? Sinto muito, Steel,
mas eu não esperava uma análise da minha performance. Se o decepcionei, só me resta
me desculpar.
Começou a levantar-se, mas Steel puxou-a de volta para a cama, prendendo-a com o
próprio corpo.
— Quem falou em análise, Ginny? Seu pai é meu amigo. No meu país, um homem não
tira a virgindade da filha de um amigo. Seu eu soubesse da verdade, jamais teria tocado
em você.
A culpa transformou o semblante de Steel. A rejeição fria provocou uma onda de raiva
em Ginny.
— Bem, como você não sabia de nada, não precisa se sentir culpado. É pouco
provável que eu conte ao meu pai o que aconteceu. Além disso, tem de existir uma
primeira vez na vida de toda mulher. E, como você roubou o privilégio de Howard, tornou-
se o candidato mais óbvio para assumir o lugar dele. Especialmente depois de você
alegar ter sido muito bem instruído nas artes do amor.
Furioso, Steel levantou-se e vestiu-se. Quando voltou a olhar para Ginny, falou com
voz dura:
— Espero que minha performance tenha alcançado as suas expectativas, Ginny. A
partir do momento em que violei você, toda a farsa terminou entre nós. Só nos resta,
agora, marcar a data do nosso casamento.
— Não seja ridículo! Não vou admitir...
— Vai, sim, Ginny! Porque eu temo que você não escape às conseqüências de sua
curiosidade. Vou cumprir com minhas obrigações para com você e sua família e torná-la
minha esposa assim que Leo esteja em condições de acompanhá-la ao altar.
— Isso é absurdo! — Ginny protestou horrorizada. Ele só podia estar brincando. — Não
vou me casar com você só porque foi o meu primeiro amante.
— Seu único amante — ele a corrigiu. — A virgindade de uma mulher é um prêmio que
eu valorizo e que não. pretendo tratar de maneira diferente. Cometeu um grande erro ao
me escolher para substituir o seu Howard, Ginny, e vai ter de aprender a viver com as
conseqüências. — Após uma breve pausa, Steel acrescentou em tom aveludado: — Mas
prometo torná-las tão prazerosas quanto puder.
— Terá de passar por cima do meu cadáver! — Ginny insistiu desesperada.
— O que não seria nada difícil, mas tornou-se desnecessário. Afinal, seu pai acabaria
aceitando uma decisão tomada por nós dois, em comum acordo, de nos separarmos, mas
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
CAPÍTULO XI
Ginny esperou que Steel saísse do quarto para, então, atirar-se nos travesseiros.
Ninguém lhe contara que o amor, assim como um diamante bem lapidado, possuía
diversas facetas. Como era possível sentir raiva e ressentimento de um homem e, ao
mesmo tempo, querer derreter-se em seus braços?
Encolheu-se na cama, tentando pensar nas coisas boas em sua vida: a recuperação do
pai, o futuro da Sullivan's. Porém, não conseguiu manter afastados os pensamentos sobre
Steel e as emoções que ele lhe despertava. Até então, participara do jogo arquitetado por
ele, saindo-se bem no papel. Mas, agora que estava apaixonada por ele, não sabia por
quanto tempo mais seria capaz de suportar aquela convivência.
Exausta, tanto no plano físico, quanto no emocional, puxou as cobertas e acomodou-se
na escuridão reconfortante. Mais tarde, tomaria um banho e vestiria a camisola. No
momento, só queria ficar ali, quieta, ainda sentindo Steel em seu corpo, num misto de
agonia e êxtase.
Mergulhou num sono agitado, povoado de sonhos assustadores, onde ela corria por
labirintos subterrâneos, sem encontrar a saída. Quando despertou ao som de uma batida
na porta, descobriu que já amanhecera. Foi imediatamente invadida por profundo alívio,
pela constatação de que estava sã e salva. Ao mesmo tempo, sentiu-se apreensiva, uma
Projeto Revisoras 50
Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
vez que as lembranças da noite anterior fizeram-se claras. E, é claro, Steel encontrava-se
na porta, querendo entrar.
— Espere um instante! — gritou e sentou-se na cama, ao mesmo tempo em que
puxava as cobertas até o pescoço. Lamentou não ter se levantado logo que Steel saíra do
quarto, na noite anterior. Agora, ele veria os restos da maquiagem em seu rosto e,
certamente, perceberia quanto ela ficara perturbada pelo que acontecera entre eles. —
Entre!
— Bom dia. — Steel entrou, trazendo uma xícara de café, com expressão neutra, como
se nada de extraordinário houvesse acontecido.
— Obrigada — Ginny agradeceu o café de má vontade.
— Você está bem, Ginny?
A pergunta carregava uma estranha ternura, que fez o coração de Ginny apertar.
— Perfeitamente — a mentira brotou em seus lábios, antes mesmo de ela pensar na
resposta.
— Bom, porque receio que tenha de deixá-la por sua conta, hoje, agape mou. Terei de
cuidar de várias questões envolvendo negócios. Pretendo resolver tudo o mais depressa
possível, para cuidar das providências para o nosso casamento. — Ignorando o suspiro
frustrado de Ginny, ele continuou: — Como vê, estou começando o dia cedo, mas Duncan
e Cathy já receberam instruções detalhadas e, se algum imprevisto ocorrer, basta deixar
um recado no Iliad. Eles saberão onde me encontrar.
Ele fez uma pausa, franzindo o cenho.
— Havia mais alguma coisa... Ah, sim! Já alimentei Kefi e o soltei no jardim. Você
também parece estar precisando de sol e ar fresco, Ginny. Por que não vai até a costa e
pega um bronzeado, para o dia do nosso casamento?
Ginny fitou-o, sentindo o suor gelado banhar-lhe o corpo. A razão lhe dizia para opor-se
veementemente àqueles planos absurdos de casamento. Por outro lado, a proximidade
dele, bem como sua postura autoconfiante, colocavam-na em desvantagem.
Assim, ela forçou um sorriso, calculando que a concordância seria o meio mais rápido e
eficiente de livrar-se dele. Ao menos, temporariamente.
— Talvez eu faça isso — concordou com suavidade. A sombra que obscureceu as
feições de Steel indicou que ele não se deixara enganar por tamanha docilidade.
— Garota esperta.
Tarde demais, Ginny percebeu-lhe as intenções, quando ele se sentou na beirada da
cama e puxou-a para si.
— Não... — Ginny começou a protestar, dividida entre proteger a nudez e submeter-se
ao beijo de Steel. — Não tomei banho e... — As palavras morreram quando os lábios dele
pousaram nos dela.
No mesmo instante, a resistência cedeu, e as mãos de Ginny deslizaram pelo terno
impecável, num abraço de abandono.
Momentos depois, Steel interrompia o beijo e levantava-se, para fitá-la com olhar
penetrante.
— Seu cheiro e seu sabor são deliciosos, Ginny. De uma mulher de verdade. Vejo que
tem muito a aprender, se pensa que um homem prefere uma mulher banhada e
arrumada, a uma envolvida em seu próprio perfume. Mas esta poderia ser uma aula muito
longa, e terá de esperar até que eu tenha mais tempo para ensiná-la.
Envergonhada e confusa com as reações que, definitivamente, não era capaz de
controlar, Ginny limitou-se a fitá-lo.
— Tentarei não passar muito tempo longe.
Ela ainda lutava para dominar as emoções, quando Steel saiu do quarto e fechou a
porta atrás de si.
No início do dia, Ginny não tinha a menor intenção de aceitar a sugestão de Steel de ir
à praia. Porém, depois de algumas horas na companhia do pai, que se mostrava muito
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entusiasmado, não só com sua pronta recuperação, mas principalmente com os planos de
casamento da filha, ela se sentia exausta e a idéia pareceu-lhe boa.
Agora, dirigindo de volta a Taychapel, podia lembrar-se das horas passadas em
Worthing com prazer. Ao menos, fora melhor do que ficar em casa, remoendo
pensamentos sombrios, ou embaraçando Duncan e Cathy com sua presença indesejada
no escritório.
Amaldiçoou Steel por tê-la colocado numa posição da qual só poderia escapar com a
maior dificuldade, para não mencionar a decepção que teria de causar ao pai. Mesmo
assim, ela encontraria um meio de escapar. Afinal, mal descobrira a verdade sobre seus
sentimentos por Howard, e não estava disposta a entrar em outro relacionamento
desastroso, só porque o orgulho grego de Steel Anastasi assim o exigia.
Se ele queria uma fêmea de perfume sensual em sua cama, que fosse procurar em
outro lugar, pensou irritada. E nem seria difícil encontrar. Afinal, era pouco provável que
ela engravidasse depois de uma única relação. Bem, Steel lhe garantira que ela estaria
protegida contra todos os perigos, exceto aquele.
Cansada da linha repetitiva de seus pensamentos, ligou o rádio e pôs-se a procurar por
uma música animada, que lhe alegrasse o espírito. Na terceira tentativa, sintonizou uma
estação que dava as últimas notícias. Já ia mudar, quando as palavras do repórter
chamaram-lhe a atenção:
— Depois da notícia surpreendente de que a rede concordatária de supermercados
Marsons acaba de ser encampada pela Anastasi Holdings, temos o Sr. Pandelis Anastasi,
presidente do conglomerado, aqui em nosso estúdios... Sr. Anastasi, o senhor é
conhecido como um grande empreendedor no ramo de lazer, mas supermercados... trata-
se de um investimento totalmente novo para o senhor, não?
Uma estranha sensação de desastre iminente tomou conta de Ginny, e ela se esforçou
para manter a calma enquanto ouvia a voz grave de Pandelis.
— Trata-se de uma expansão lógica. A Maksons tem um excelente potencial, mas,
infelizmente, sofre de falta de capital e complacência, dois problemas que pretendo
erradicar imediatamente. Uma das primeiras mudanças será reformar os centros de
jardinagem, introduzindo uma nova linha de produtos para decoração de ambientes,
fornecidos por uma companhia de renome, a Orchid.
Orchid! Impossível! A Sullivan's possuía a exclusividade de distribuição dos produtos
na Inglaterra. Se perdessem seu principal fornecedor estariam liquidados. O prazo para a
garantia de vendas maiores podia estar se expirando, mas ainda não chegara ao fim. Até
lá, a franquia continua a lhes pertencer.
Ginny foi atacada por profunda náusea, enquanto o grego empolgado continuava a
falar.
— Temos um mercado pouco desenvolvido de plantas, árvores e flores artificiais, cuja
qualidade somente a Orchid International pode fornecer. Vejo a expansão desse elemento
não só como um projeto lucrativo, mas também como uma oportunidade de melhorar o
meio-ambiente.
Ora, o que estava acontecendo? Se Pandelis tinha algum tipo de contrato com a
Orchid, só poderia ser ilegal. O entrevistador foi adiante:
— Apesar dos rumores ligando o seu nome ao de Irene Stavrolakes, herdeira de
estaleiros gregos, seu filho anunciou recentemente seu noivado com uma inglesa
desconhecida. O senhor está desapontado com a escolha dele?
Como eles se atreviam a discuti-la no ar, como se ela fosse um produto à venda num
balcão qualquer? Furiosa, Ginny pisou mais fundo no acelerador, ouvindo a resposta de
Pandelis.
— De maneira alguma. Estou satisfeitíssimo com a escolha que meu filho fez para sua
esposa. Ginette Sullivan é uma jovem muito bonita, que trará para a família, além de
muitas outras vantagens, sangue novo e vitalidade.
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Outras vantagens, Ginny empalideceu ao dar-se conta das implicações das duas
palavras. Havia apenas uma maneira de Pandelis ter chegado à Orchid: através do filho.
Assumindo uma posição de confiança, Steel informara a Orchid de que a Sullivan's não
teria condições de cumprir o contrato, e Pandelis estivera esperando para agarrar sua
oportunidade.
De um momento para o outro, tudo ficou muito claro. Fora por isso que Steel estivera
preparado para investir uma quantia tão grande na conquista da confiança de Leo. E,
quando este recusara a oferta de sociedade, Steel vira como única saída a farsa sobre o
noivado com Ginny.
Lágrimas provocadas pela dor da traição rolaram livres por suas faces. Seu pai fora
usado da maneira mais inescrupulosa, e ela fizera parte da trama, de livre e espontânea
vontade.
Como pudera ser tão cega, a ponto de não perceber as intenções de Steel? Ele não
tinha nada a perder. Quando a Sullivan's falisse, o que agora seria apenas uma questão
de tempo, ele poderia recuperar parte do investimento com a venda dos estoques. E, sem
dúvida, Pandelis o reembolsaria a quantia restante.
Ginny começou a tremer, sem nem sequer ouvir as vozes que continuavam a sair do
auto-falante do carro. Steel, certamente, vira a oportunidade na primeira vez em que
entrara na Sullivan's e percebera o caos à sua volta. Dono de tino afiado para os
negócios, dera-se conta da vulnerabilidade da empresa, e tirara vantagem imediata da
situação.
Não só a vulnerabilidade da companhia, mas também a de Ginny. Na noite anterior, ele
planejara fazer o mesmo com ela: conquistar, usar e jogar fora. Somente o pequeno .
detalhe técnico da virgindade de Ginny atrapalhara seus planos. Que tipo de homem era
aquele? Sentia remorsos por ter seduzido uma virgem, mas era capaz de violentar uma
empresa sem se importar com mais nada!
Secando as lágrimas com a mão, Ginny tomou uma decisão. A guerra terminara e a
Sullivan's perdera. O que não a impediria de lutar a sua última batalha. Assim que se
visse cara a cara com Steel Anastasi, rataria de dizer-lhe com todas as palavras o que
pensava dele. E se certificaria de que ele jamais se esquecesse de seu discurso. Jogaria
o maldito orgulho grego no chão e pisaria em cima.
Respirou fundo e forçou-se a relaxar. O volante de um carro não era o melhor lugar
para histeria. Sua decisão estava tomada. Iria direto para Londres, ao hotel Iliad e, se
Steel não estivesse lá, descobriria seu paradeiro. Nada a impediria de confrontá-lo.
Uma vez às portas imponentes do Iliad, a coragem quase lhe falhou. Porém, usando a
raiva como combustível, Ginny marchou até a recepção.
— Poderia verificar se o Sr. Anastasi encontra-se na suíte de cobertura, por favor? —
falou em tom seco, porém controlado.
— O Sr. Anastasi tem visitas esta noite — informou o recepcionista, estudando com
olhos críticos o vestido simples que Ginny escolhera para passar o dia na praia.
— Ótimo! — ela fingiu ter entendido errado. — Vou subir, então. Sou Ginette Sullivan,
noiva dele. Ele está à minha espera.
Virou-se e dirigiu-se apressada para os elevadores.
— Ah... Srta. Sullivan... Certo! — O respeito substituiu a indiferença na voz do
recepcionista, no momento em que Ginny apertava o botão do elevador.
Furiosa, saiu do elevador e caminhou rapidamente pelo corredor. O que quer que Steel
houvesse providenciado para distrair seus convidados, nada se compararia ao espetáculo
que ela estava prestes a proporcionar. Plantou o dedo na campainha e deixou-o lá.
Ginny pensou que estivesse preparada para qualquer coisa, mas quando a porta
finalmente se abriu e ela deparou com uma loira de trinta e poucos anos, a pontada de
dor que ameaçou destruir seu coração provou que, não importava o que Steel fizesse, o
amor que sentia por ele não morreria com tanta facilidade.
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— Gostaria de falar com Stell – ela falou, sem saber como fora capaz de encontrar a
voz. — Poderia dizer a ele que estou aqui?
Aceitando o convite para entrar, Ginny notou que a loira estava descalça e que havia
um par de sandálias de salto sobre um dos tapetes. Almofadas em desordem indicavam
onde a mulher estivera aparentemente deitada, quando fora incomodada pela campainha.
A sala estava vazia. Steel tinha uma visita apenas. Onde estaria? No quarto,
preparando-se para uma nova conquista, ou então recuperando-se dela.
Deliberadamente, Ginny ignorou o gesto da mulher, convidando-a a sentar-se.
Notou que os olhos azuis pálidos da outra a estudavam atentamente, como se
pudessem ler o tormento que ela tentava com tanto esforço esconder.
— Ele está tomando banho — a loira falou por fim. — Vou dizer a ele que está aqui.
Não perguntou o nome de Ginny e, como esta não o mencionara, a única conclusão
lógica era que Steel a informara sobre o papel de Ginny em sua vida.
— Steel, querido... — a voz melodiosa chamou da porta do quarto. — Está
apresentável? Tem uma visita, e acho que ela desejo vê-lo com urgência. — Em seguida,
ela voltou para a sala. — Ele não deve demorar.
— Ginny! O que aconteceu?
Steel apareceu na sala no instante seguinte, vestindo apenas uma calça de algodão
sobre o corpo molhado. Largando a toalha no chão, avançou para Ginny de braços
estendidos, como se fosse abraçá-la.
— Não me toque! — ela gritou agitada, esquivando-se ao contato.
Não havia se preparado para a torrente de emoções que a envolveu no momento em
que pousou os olhos nele. O que estava acontecendo com ela, afinal? Estava diante de
um monstro criminoso, mas não conseguia deixar de amá-lo... de desejá-lo.
Ele parou no meio do caminho, a expressão preocupada.
— Aconteceu alguma coisa com Leo?
— É o que você estava esperando? Não, meu pai continua muito feliz em seu paraíso
de tolos, no momento, fazendo planos para o futuro, pensando na companhia que deixará
de existir antes do final da semana.
Uma torrente de palavras que só podiam ser obscenidades gregas escapou dos lábios
de Steel, ao mesmo tempo em que a irritação substituía a preocupação em seu
semblante.
Uma tosse suave lembrou Ginny de que tinham platéia. Em seguida, a loira aproximou-
se de Steel e pousou a mão delicada em seu braço.
— E óbvio que minha presença não é desejada no momento. Não se preocupe em me
acompanhar até a porta. Conheço o caminho.
— Ora, Stella... — Steel teve a decência de mostrar-se embaraçado. — Sinto muito por
isto... Eu queria...
Ele não terminou a frase, e nem precisava. Ginny não precisaria ser paranormal para
saber o que Steel queria de uma mulher bonita, sozinha em seu apartamento.
— Não se preocupe, querido — Stella apertou-lhe o braço.— Teremos outra
oportunidade... em breve.
— É o que eu espero! — Steel falou irritado e observou-a sair, antes de virar-se para
Ginny. — Agora, pode me explicar que diabos está acontecendo?
— Imagino que você não faça a menor idéia! Vim lhe dar os parabéns, é claro. Foi um
plano e tanto fingir para o meu pai que você e eu estávamos apaixonados, para
conquistar o poder de roubar a franquia da Orchid e, então, entregá-la à Anastasi
Holdings. Mais esperto ainda, foi me fazer acreditar que tinha algum tipo de rixa antiga
com Pandelis, para que eu não questionasse sua disposição exagerada em se tornar
sócio de meu pai.
Sentindo a raiva espalhar-se por seu corpo, como o fogo numa floresta, Ginny
continuou, ignorando o olhar ameaçador de Steel.
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— E claro que eu sempre soube que você tinha interesses egoístas. Afinal, não fez o
menor esforço para esconder isso. Mas fui burra demais para não perceber que a
Sullivan's seria uma vítima deles... Meu pai é um homem doente! Neste exato momento,
deve estar planejando o futuro, totalmente ignorante do fato de que você entregou seu
principal fornecedor para a Anastasi Holdings.
Ginny respirava com dificuldade, observando Steel ali parado, imóvel, o rosto
inexpressivo, mas conseguiu encerrar seu discurso conforme planejara.
— Você chamou meu pai de amigo. Diga-me, Steel, qual é a tradução hebraica para o
seu nome? Judas?
CAPÍTULO XII
Ginny não sabia o que esperar, mas a imobilidade de Steel era quase tão assustadora,
quanto uma reação violenta.
— Do que mais sou culpado? — ele perguntou em tom suave. — Ou já terminou suas
acusações?
— Não zombe de mim! O que mais há para dizer? Você tomou tudo o que quis e nos
deixou sem nada! — Ginny cerrou os punhos e tomou fôlego para dizer a maior mentira
de sua vida: — Vim para dizer que odeio você e que espero que apodreça no inferno!
Steel moveu-se com a rapidez de um felino selvagem, segurando-a pelos punhos.
— Tem razão, agape mou. Tive tudo o que quis, mas foi tudo oferecido de livre e
espontânea vontade. E, depois, ofereci o preço mais alto que um homem pode oferecer:
casamento.
— Solte-me! — Ginny lutou em vão para escapar aos dedos fortes. — Prefiro morrer a
me casar com um sujeito inescrupuloso como você! E sabe muito bem que não é disso
que estou falando. Talvez você estivesse ocupado demais para ouvir o rádio esta tarde,
mas eu ouvi tudo... dos lábios do próprio Pandelis. Solte-me!
— Não antes de mostrar exatamente quão inescrupuloso eu sou, Ginny.
Steel fitou-a com ar determinado e, então, tomou-a nos braços, apesar de seus
esforços para libertar-se. Virou-se e encaminhou-se para o quarto.
Segundos depois, Ginny foi atirada sobre uma cama enorme, enquanto Steel
continuava de pé a fitá-la, de mãos na cintura, a pele nua e ainda molhada cobrindo os
músculos bem desenhados.
Ginny tinha de sair dali. Desesperada, olhou em volta, absorvendo detalhes do quarto,
que devia servir de escritório, em vista da grande mesa equipada com computadores de
última geração.
— Não tente fazer nada, Ginny — ele advertiu em voz baixa. — Fique exatamente
onde está.
Orgulhosa, ela obedeceu, encarando-o com ar de desafio. Então, Steel foi até a mesa,
onde apanhou três folhas de papel.
— Número um — falou em tom seco. — Uma cópia do contrato que Leo assinou pela
manhã, tornando-me sócio integral. Número dois... uma cópia do fax que enviei à Orcbid,
informando-os de que a Sullivan's encontra-se em franco desenvolvimento, e que
poderiam esperar um grande pedido ainda esta semana, e solicitando uma confirmação
de que o contrato de exclusividade continua válido. Número três... a resposta enviada por
eles, menos de uma hora depois.
Confusa, Ginny leu a terceira folha que ele atirou em suas mãos: "Confirmamos
validade do presente contrato de exclusividade com a Sullivan's e aguardamos seu
pedido com satisfação."
— Quer dizer que a Sullivan's continua sendo distribuidora exclusiva na Inglaterra? —
perguntou incrédula. — Mas eu ouvi seu pai vangloriando-se de que havia comprado o
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que aparência teria aquela filha que possuía todas as virtudes, mas seu os.seu só tinha
uma fotografia dos tempos de escola para me mostrar. Então, um dia, vi uma moça de
vestido vermelho e cabelos castanho-claros e pensei que daria um jeito para que o pai
dela nos apresentasse. Ginny assentiu.
— A feira de Birmingham — murmurou. — Devo ter causado uma grande impressão
em você. Nem me reconheceu quando entrou na Sullivan's.
— Eu lhe disse que tinha outras preocupações na cabeça. Além disso, só a tinha visto
de longe, e não esperava encontrá-la lá, pois Leo havia mencionado seus planos de férias
em Roma.
— Bem, nada disso importa, agora — Ginny declarou sem jeito. — Conseguiu tudo o
que queria: obteve lucros, frustrou seu pai e se divertiu às minhas custas. Espero que
tenha apreciado a experiência!
— Ah, eu adorei, Ginny! — Steel confirmou com um sorriso. — Algumas partes mais
que outras. No todo, foi uma operação muito bem sucedida. Até Pandelis já está se
conformando em não ter o nome dele associado ao de Stavrolakes.
— É claro! Depois de você ter lhe oferecido a Orchid...
— Em parte — Steel admitiu, puxando-a para mais perto. — Mas, provavelmente, foi
mais por causa do meu recente noivado.
— Comigo? Pensei que...
— Segundo Stella, a aprovação de Pandelis foi mesmo genuína. Parece que meu
querido pai decidiu apostar num jogo duplo, desta vez. Calculou que, se eu não aceitasse
me casar com Irene, ficaria tão furioso com a sugestão, que encontraria uma outra noiva
imediatamente. Nos dois casos, ele conseguiria o que realmente desejava: transformar o
filho itinerante num responsável pai de família. Ginny fechou os olhos, tentando esconder
a dor.
— E você venceu, Steel. Conseguimos enganá-lo direitinho! — falou, reprimindo o nó
na garganta.
— Não, Ginny. Eu perdi. Quando menti para Leo sobre o nosso casamento, tive a
melhor das intenções. Queria impedi-lo de ir à falência e, ao mesmo tempo, apresentar
você a pessoas diferentes. Seu pai tinha tanta certeza de que você cometeria um grande
erro casando-se com Howard, que achei que estaria fazendo um favor a todos se a
ajudasse a sair daquele relacionamento.
— È conseguiu.
— E caí na minha própria armadilha — ele completou com amargura. — Ao interferir na
sua relação com Howard, acabei fortalecendo o seu amor por ele. Ao obrigá-la a mentir
para ele, ganhei o seu ódio. Ao seduzi-la, theos mou, tirei de você o que você guardava
para entregar ao homem com quem ia se casar...
— Ah, Steel, não foi nada disso! — Emocionada pela dor do remorso, tão evidente nos
olhos de Steel, Ginny abraçou-o, esquecendo-se do orgulho. — Eu queria você! Queria
muito!
— Mas eu te amo, Ginny — ele replicou com simplicidade. — Essa é a diferença. Eu te
amo e queria me casar com você. Por tudo o que Leo me contou, eu realmente acreditei
que, o que quer que existisse entre você e Howard, não era o bastante. E ainda acredito,
Ginny. A única diferença é que agora percebo que também não sou o que você quer. Eu
poderia tentar mudar seus sentimentos, se você fosse indiferente a mim. Mas, como
posso fazer com que deixe de me odiar? O seu ódio me derrotou.
Amor? Steel acabara de dizer que a amava? Ele dissera uma porção de outras coisas,
mas Ginny mal registrara as palavras.
— O que... o que você disse? — inquiriu sobressaltada.
— Que apostei e perdi. Vou contar tudo a Leo...
— Não! — Ginny tremia. — Disse que me ama?
— Incrível, não é? Imaginei que fosse imune a tal sentimento, mas Leo foi um
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excelente relações públicas da filha generosa e dedicada. Acho que já estava meio
apaixonado antes mesmo de conhecê-la.
Ele a amava. Ginny não havia se enganado. Nem ele precisaria repetir as palavras
gravadas em sua memória. A alegria tomou conta de Ginny. Steel Anastasi a amava!
— Você disfarçou muito bem! — falou, adiando sua confissão.
— Eu não queria acreditar. Já havia passado por isso antes. Ou, ao menos, acreditava
que sim. O amor não fazia parte dos meus planos para o futuro. Mas, quando entrei na
Sullivan's e vi você, lutando para salvar os negócios de seu pai, descobri que não poderia
deixá-la. Disse a mim mesmo que estava interferindo por minha amizade com Leo, mas o
motivo ia muito além. Posso jurar, Ginny, que pretendia fazer as coisas devagar e com
cuidado, mas subestimei a força dos meus próprios sentimentos. E, quando descobri que
era o primeiro homem em sua vida, já era tarde demais.
— Porque homens honrados não seduzem a filha de um amigo?
— Porque eu descobri que te amava, e que meu tempo havia se esgotado.
— Ah, Steel... — ela começou a falar, os olhos brilhando de felicidade, mas Steel fitava
o vazio.
— Tudo bem, Ginny. Sei quando perco uma batalha. Vou contar toda a verdade a Leo,
como chantageei você...
— Ah, não vai, não! — Steel fitou-a incrédulo, quando ela continuou: — Como pode
sequer sugerir tamanho absurdo? Você entra em minha vida, mente para todo mundo,
abre meus olhos para o fato de que eu ia me casar com um homem a quem não amava,
me apresenta ao seu pai, partilha a minha cama e, então, acha que pode sair com
entrou? E, pior que tudo isso... você fez com que eu me apaixonasse por você, Steel
Anastasi, e receio que, agora, eu seja obrigada a insistir no nosso casamento.
Steel não falou, mas seus olhos disseram tudo, quando ele puxou Ginny para si,
abraçando-a com força e beijando-a com paixão, provocando-lhe intensa reação.
De repente, Ginny descobriu-se tendo vertigens, e perguntou-se se o beijo apaixonado
de Steel estava lhe tirando o oxigênio. Ou seria aquela felicidade inebriante, que ela nem
sequer sonhara existir, que a colocara naquela condição?
Quando Steel finalmente descolou os lábios dos dela, Ginny expressou seu medo:
— Estou me sentindo tão... estranha — murmurou e, então, lembrou-se da voz dele,
clara e nítida: "Não pode ser comprado, nem forçado, e existem pessoas que passam a
vida inteira sem experimentá-lo. Mas, estar possuído pelo kefi é saber que a vida existe
para ser vivida com alegria, é ser um espírito livre..."
— Sim, agape mou — Steel murmurou de encontro aos seus cabelos, acariciando-
lhe.as costas e os braços. — Também estou sentindo... Os deuses nos deram sua
bênção. — Depois de beijá-la mais uma vez, ele perguntou: — Ginny, você se importa de
trocar suas férias em Roma, por uma lua-de-mel nas ilhas gregas?
— Por que outra razão acha que vou me casar com você? — ela perguntou com um
sorriso. Então, tornou-se séria. — Sei que é pedir um bocado, mas você se importa se
adiarmos nosso planos, até papai estar totalmente recuperado? Eu não gostaria de deixá-
lo sozinho...
— O que a faz pensar que ele ficaria sozinho? Lembra-se de que eu mencionei o
desejo de Cathy em se casar?
— Cathy! Está dizendo que Cathy e papai...
— Ele estava criando coragem para lhe contar, Ginny, pois não sabia como você
reagiria à idéia de ter uma madrasta, depois de tantos anos.
— Eu não poderia estar mais feliz! — Ginny franziu o cenho. — Você ficou contrariado
por saber que seu pai aprova nosso casamento?
— Como poderia? Pandelis e eu nos compreendemos, apesar de nos desentendermos,
às vezes. Acha que devemos discutir isso agora?
— Claro que não!
Projeto Revisoras 59
Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells
Projeto Revisoras 60