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Um Acordo Arriscado

Dishonourable seduction

Angela Wells

"Toda mulher tem seu preço."

O plano de Steel Anastasi para ajudar Ginny a salvar sua empresa era perfeito. Difícil
mesmo era suportar o cinismo daquele grego arrogante, que julgava ser o dono do
mundo. Porém, Ginny não podia recusar sua oferta, afinal, cabia a ela assegurar que a
companhia sobrevivesse. Mas Ginny tinha o pressentimento de que Steel poderia não
jogar limpo... Ele era um mestre na arte da manipulação... e da sedução, e faria o que
precisasse para atender aos próprios interesses!

Disponibilização: Priscila RBD


Digitalização: Ana Cris
Revisão: Cynthia
Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells

Querida leitora,
Para mim, primavera é época de cuidar do jardim, de encontrar os amigos. Verão é
época de voltar tarde para casa, ir à piscina, a praia. Outono é época de organizar coisas,
de rever coisas que ficaram faltando fazer. Inverno é época de ficar em casa, tomar
chocolate quente, ver' tevê. Porém, todas as estações do ano são estações do amor.
Qualquer que seja a estação do ano, é estação dos Romances Nova Cultural.

Copyright © 1995 by Angela Wells

Originalmente publicado em 1995


pela Mills Boon Ltd., Londres, Inglaterra

Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou


parcial, sob qualquer forma.

Esta edição é publicada através de contrato com a Mills Boon Ltd.


Esta edição é publicada por acordo com a
Mills Boon Ltd.

Todos os personagens desta obrarão fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas
terá sido mera coincidência.

Título original: Dishonourable seduction


Tradução: Cristina Sangiuliano

EDITORA NOVA CULTURAL


uma divisão do Círculo do Livro Ltda.

Alameda Ministro Rocha Azevedo, 346 - li2 andar


CEP: 01410-901 - São Paulo - Brasil

Copyright para a língua portuguesa: 1997


CÍRCULO DO LIVRO LTDA.

Fotocomposição: Círculo do Livro


Impressão e acabamento: Gráfica Círculo

Projeto Revisoras 2
Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells

CAPÍTULO I

O que pensa que está fazendo? A voz masculina furiosa interrompeu os pensamentos
de Ginny, ao mesmo tempo em que a porta do escritório se abriu, com a força de um
furacão. Soltando um grito de susto, ela se levantou e afastou-se da mesa para confrontar
o intruso.
Seus olhos registraram a presença de um homem de trinta e poucos anos, cabelos
curtos, escuros e encaracolados, e traços bem definidos. Consciente de que estava
sozinha com ele na pequena sala isolada a um canto do imenso terreno que cercava os
armazéns da Sullivan's, o senso de auto-preservação fez com que Ginny arquivasse na
mente detalhes do estranho. Em circunstâncias normais, ele seria atraente, percebeu,
mas era evidente que a situação estava longe de ser normal, pois os lábios generosos
formavam uma linha dura, assim como os olhos escuros fitavam-na com ar pouco
amigável.
Ainda atenta ao registro da aparência dele, para o caso de precisar fornecer uma
descrição completa à polícia, Ginny baixou os olhos cinzentos para os sapatos de couro
feitos à mão. Então, deixou que subissem pelas pernas longas envoltas pela calça verde-
escura, muito bem acabada, e pelo corpo elegante vestido em trajes formais: camisa sob
medida, gravata de seda e paletó de linho.
Definitivamente, não era o uniforme de um ladrão. Por outro lado, também não era o
tipo de roupa usada por um homem modesto. A palavra "máfia" passou pela cabeça de
Ginny, mas ela logo a descartou como fantasiosa. A Sullivan's era uma companhia
pequena, no subúrbio, e era pouco provável que atraísse a atenção de criminosos. Ainda
assim, a ansiedade inicial tornou-se mais intensa.
Por que não fechara o escritório e saíra, juntamente com os demais funcionários, às
cinco e meia? Nem sequer usara as horas extras de maneira produtiva. Tudo o que fizera
desde o momento em que se vira sozinha, fora pensar nos problemas crescentes que
envolviam a companhia de seu pai, sem ser capaz de encontrar uma solução para eles.
Agora, via-se diante da tarefa de livrar-se de um visitante hostil, antes de poder fechar
tudo e ir para casa. E todos os sentidos lhe diziam que não seria fácil envolvê-lo numa
conversa civilizada e, muito menos, persuadi-lo a sair dali.
— Em que posso ajudá-lo? — ela finalmente conseguiu falar com voz calma e, ao
mesmo tempo, manter os olhos fixos no rosto beligerante, com um sorriso impessoal.
Talvez, pensou com otimismo, ele tenha errado de porta, e seu problema não seja
comigo.
— Onde está Leo Sullivan? — ele perguntou com voz profunda, fitando-a com a
mesma hostilidade.
Ginny sentiu o otimismo dissipar-se.
— Sinto muito, mas meu pai não se encontra no momento— respondeu com firmeza,
afastando da mente a lembrança cruel da última vez em que vira o pai, muito pálido e
magro, numa cama de hospital. — Na ausência dele, sou eu quem responde pela
companhia. No entanto, já fechamos hoje. Se quiser voltar amanhã, às nove horas...
— Vim buscar minha encomenda. Trepadeiras, cana escarlate, dois pés de romãs e
vinte e cinco arranjos florais de mesa — ele interrompeu Ginny como se a explicação dela
tivesse tanta importância quanto um comentário sobre o tempo, falando pausadamente,
como se estivesse se dirigindo a uma criança, e não das mais brilhantes. — Cara Srta.
Sullivan, paredes nuas e nichos vazios não fazem parte da nova decoração do Keys of
Corfu. — E, mais importante, se eu não voltar com os arranjos de mesa, com sua
iluminação integral, o restaurante ficará fechado esta noite. Talvez fique surpresa ao
saber que nossos clientes gostam de ver o que estão comendo!
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O tom falsamente cuidadoso e benevolente não serviu para aquietar o desconforto de


Ginny. Ao contrário, só fez piorar sua inquietação. Ao ouvir o nome do restaurante, ela
sentiu um arrepio na nuca.
Sem pensar, afastou os cabelos castanho-claros do rosto, prendendo-os atrás das
orelhas, num gesto que traía sua tensão. Em silêncio, amaldiçoou a própria impulsividade.
Ao que parecia, Duncan tinha razão e, agora, o plano dinâmico que ela havia elaborado
para arrancar a Sullivan's da falência voltava-se contra ela. O contador do pai a advertira
de que uma mudança arbitrária no procedimento dos negócios, alterando o pagamento
mensal para pagamento à vista, no ato da entrega exacerbaria os problemas da
Sullivan's.
Era possível que ela houvesse agido com precipitação, ao insistir que o entregador,
Sam, retornasse aquele pedido ao armazém, quando ele lhe telefonara informando que o
gerente do Keys não tinha dinheiro disponível para pagamento à vista, naquele momento.
Mas, então, como ela poderia saber que o restaurante situava-se num porão?
— Ah, já ia me esquecendo! Quer pagamento à vista, não é?
As feições de Ginny certamente espelharam seu embaraço, quando o homem enfiou a
mão no bolso do paletó e retirou um pacote de notas, antes de estendê-las para ela com
um gesto impaciente.
Ginny pegou-as, recolhendo a mão depressa, ao sentir o toque de seus dedos nos
dele, o que lhe provocou a sensação de um choque elétrico. Disfarçando a reação
inesperada ao calor da pele masculina, ela baixou os olhos para o pacote de notas de
vinte libras. Era mais que suficiente para pagar pelo pedido.
— Agora... o meu pedido!
O tom impaciente exigia ação.
— Muito bem, nas atuais circunstâncias, verei o que posso fazer.
Enfrentando o inevitável, lançou-lhe um olhar frio, apanhou as chaves do armazém, e
caminhou com passos controlados até lá. O tempo todo, sentia o desconforto de ser
seguida pelo cliente irado, cuja energia contida era quase palpável.
Diante daquele olhar intolerante, não era de admirar que ela não conseguisse
encontrar a chave certa.
Sem pedir permissão, ele arrancou o molho de chaves da mão de Ginny, examinou-o
rapidamente, escolheu uma e enfiou-a no cadeado, que se abriu imediatamente.
— Onde guarda os pedidos?
— Ainda precisam ser colocados sobre o estrado, para entrega após o pagamento. —
Irritada pelo suspiro impaciente dele, Ginny acrescentou em tom ácido: — Nada disso
teria acontecido se o senhor houvesse atendido aos nossos termos.
— Seus novos termos. Termos dos quais eu, como proprietário do Keys, não tinha o
menor conhecimento, uma vez que acabo de chegar de Atenas. — Ele lhe lançou um
olhar de desprezo. — O que meu velho amigo Leo está tentando fazer? Ir à falência,
oferecendo contratos menos favoráveis que os concorrentes? E sem aviso prévio,
também?
As palavras acusadoras funcionaram como um golpe físico para Ginny, que se sentiu
mortificada.
— A decisão foi minha — confessou, lançando-se na defesa da integridade dos
negócios do pai, e perguntando-se até aonde iria a professada amizade dos dois, se é
que existia. — Meu pai outorgou-me completa autonomia durante sua ausência...
— Ausência?
As sobrancelhas escuras franziram-se, enquanto Ginny experimentava um profundo
remorso por ter se deixado levar no caminho da indiscrição.
Quatro dias antes, Leo Sullivan sucumbira a uma úlcera perfurada, e ainda se
recuperava de uma cirurgia de emergência. Porém, Ginny não planejara discutir a saúde
do pai com qualquer pessoa fora da companhia. Era um grande erro deixar que
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conhecessem suas fraquezas, pois era então que os predadores atacavam...


— Quer dizer que Leo entregou os negócios nas mãos da querida filhinha? — o
oponente perguntou, lançando-lhe um olhar de reprovação. — Espero, pelo bem dele, que
seja por um curto período de tempo, enquanto ele está ocupado com outra atividade mais
lucrativa. Do contrário, sua indulgência vai lhe custar muito caro.
— Isso não é da sua conta — Ginny falou depressa.
— Tem razão. Só estou interessado em manter o Keys of Corfu aberto. Escute, moça.
Já paguei pelo pedido. Agora, quero o produto.
— Tudo bem — Ginny concordou, profundamente ressentida, e consciente de que tal
sentimento não se devia ao fato de os comentários dele serem justificados. — Está ali.
Só deu-se conta de que ele a seguia bem de perto quando, ao levantar a tampa de
papelão, deparou com uma aranha negra. O grito que soltou já ecoava pelo armazém,
muito antes de Ginny ter tempo para pensar e, muito menos, reprimi-lo. Sempre tivera
pavor de aranhas e, no espaço confinado do armazém, sua fobia tornava-se sufocante.
Em pânico, virou-se para correr, mas deu de encontro com o peito largo, ao mesmo
tempo em que um par de mãos fortes a segurava pelos ombros.
— Fique onde está. Ela se foi — ele instruiu. — Deve estar surda, se não morreu do
susto.
— Não consigo suportá-las — Ginny explicou, incapaz de controlar o tremor e os
arrepios de repulsa.
— Está mesmo apavorada... — O freguês inesperado pareceu esquecer-se da pressa,
enquanto mantinha as mãos nos ombros dela. — E melhor você esperar lá fora, enquanto
apanho o que preciso. Vou levar apenas os arranjos de mesa. O resto pode ser entregue
amanhã.
Ao menos, o descontrole de Ginny produzira um efeito positivo sobre a agressividade
do homem, diminuindo-a. Sabendo que o formato das caixas tornava seu transporte difícil,
ela se preparou para pagar o preço pela inconveniente que causara ao cliente.
— Vou ajudá-lo — ofereceu-se.
— De jeito nenhum! — Os dentes brancos apareceram num sorriso repentino e breve.
— Mais uma aranha e outro grito seu, e os vizinhos pensarão que está sendo atacada. Já
me causou dores de cabeça demais por hoje, moça. Não pretendo terminar a noite na
delegacia.
Embora o brilho nos olhos escuros não denotasse nada de impróprio, as maneiras e o
comportamento dele eram másculos e agressivos demais para Ginny sentir-se à vontade
na sua presença. Especialmente, estando ele tão perto.
— Nesse caso, vou buscar o seu recibo.
Lançou um olhar indignado para as mãos que continuavam em seus ombros e respirou
aliviada quando ele a soltou, e ela pôde esgueirar-se pelo corredor estreito, sem esbarrar
no corpo musculoso.
Ginny ainda preenchia o recibo, quando ele entrou no escritório. Pela rapidez com que
voltara, concluiu que ele possuía os músculos de Tarzan escondidos debaixo do paletó.
Assinou o recibo e virou-se para entregar a ele, quando descobriu horrorizada, que ele lia
a lista de I credores que Duncan havia deixado sobre a mesa.
— Por favor! — pediu, sentindo as faces arderem de indignação, mergulhada no dilema
entre reprová-lo pela interferência e a impossibilidade de ofendê-lo uma segunda vez, a
menos que desejasse perder o cliente de vez. — Isso é confidencial.
— Sabe quanto dinheiro está listado aqui? — ele agitou a folha de papel, ignorando-lhe
os protestos.
Mordendo a língua, Ginny forçou-se a permanecer em silêncio, determinada a não
discutir a situação financeira da companhia com um estranho.
— É claro que sabe. E foi por isso que determinou as alterações tiranas e
potencialmente letais nos seus termos de crédito.
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— Se todos pagassem em dia, tais medidas não seriam necessárias — ela retrucou.
— Exatamente. Devia ter castigado os devedores, aqueles que pagam aos poucos,
bem como grandes empresas que efetuam pagamentos atrasados por princípios. Não
podia ter sacrificado pequenos restaurantes que pagam seus compromissos em dia. E,
certamente, não pode tomar qualquer atitude desse tipo, sem dar um aviso prévio aos
seus clientes.
— Obrigada pelo conselho — Ginny agradeceu, batendo o pé no chão ao ver que ele
não fazia menção de ir embora. — Não disse que estava com pressa?
— Vejo que tem boa memória — ele aprovou, guardando o recibo e o troco no bolso,
sem conferir nenhum dos dois. — O que é uma excelente qualidade para os negócios.
Talvez ainda haja esperança para você! Venha comigo para Londres, e discutiremos o
assunto durante o jantar.
— O quê?
Surpresa, Ginny observou-o recolocar a lista de credores na mesa e sair do escritório,
como se a aceitação dela fosse certa. Lá fora, um Lotus Carlton preto o aguardava. Com
a mão na maçaneta da porta do carro potente, ele se virou para fitá-la.
Temporariamente sem palavras, Ginny limitou-se a fitá-lo. Metade dela sentia-se
furiosa pelo comportamento atrevido. A outra metade queria rir. Era histeria, decidiu,
enquanto lutava para conter o riso. Ele não podia pensar que era tão irresistível!
Aparentemente, podia, pois continuou a fitá-la com uma sobrancelha erguida.
— E então?
— Obrigada, mas já tenho planos para esta noite. Consciente das batidas irregulares
de seu coração, ela consultou o relógio. Não mentira, pensou. Afinal, havia decidido
passar a noite tentando encontrar uma solução para as calamidades que haviam assolado
a Sullivan's, durante sua estada na universidade. Calamidades que seu pai e a pequena
equipe que trabalhava para ele haviam tratado de esconder dela até agora.
Somente a entrega de um pedido enorme para a prefeitura local, dois dias depois da
internação de seu pai, esvaziando os estoques da companhia e deixando-os com um
prazo de vinte e oito dias para resolver o problema, quebrara a conspiração do silêncio.
Até então, Ginny não fazia idéia de que o pai enfrentava um processo judicial, ou de que o
estoque encontrava-se baixíssimo porque um caminhão trazendo produtos para reposição
ficara preso num bloqueio na Europa, ou de outros pequenos problemas que vinham
dificultando os negócios.
Apesar da irritação, tentou falar com delicadeza:
— E, para ser franca, estou esperando você sair para fechar.
Ele a examinou da cabeça aos pés.
— Posso esperar dez minutos, se quiser se aprontar — anunciou como se ela não
houvesse dito nada. — Tem uma teia de aranha nos cabelos.
— Ah!
Esquecendo-se de tudo mais, Ginny reprimiu um grito, levando a mão apressada ao
ponto de seus cabelos que ele fitava com olhar solene. ,
— Está melhor agora — ele falou, observando-a passar os dedos pelos cabelos, em
gestos ansiosos. — Acho que era só poeira.
— Quer, por favor, ir embora? — Cansada e estressada, ela só queria fechar o
escritório e caminhar os poucos metros até a confortável casa de seu pai. — Não tenho a
menor intenção de ir a lugar algum com você.
— Nem mesmo para falar de negócios? Pelo que vi, está precisando. Gostaria de ver
folhetos e listas de preços de todos os produtos disponíveis. Estou pensando em expandir
meus negócios, e preciso atualizar meu arquivo de fornecedores.
Embora o olhar que ele lhe lançasse fosse inocente, o tom das palavras traía a ameaça
velada de que a Sullivan poderia perder o cliente, caso ela não cooperasse.
Ginny contou até dez, na tentativa de acalmar-se.
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— Compreendo — falou com voz controlada, permitindo-se examiná-lo com o mesmo


olhar insolente que ele usara para examiná-la pouco antes. Seus olhos passearam
calmamente pelos mais de um metro e oitenta, começando pelo rosto indiscutivelmente
bonito, passando pelo paletó elegante e a calça imaculada, antes de voltarem a fixar-se
no convite que brilhava por entre os cílios espessos. — E como vou saber que é mesmo
quem diz ser? Nem mesmo sei o seu nome.
— Steel Anastasi. Se seus arquivos estiverem atualizados, vai encontrar meu nome lá,
não só como dono do Keys of Corfu, mas de muitos outros restaurantes espalhados pelo
país.
Anastasi? O nome soava vagamente familiar para Ginny, mas ela não sabia de onde o
conhecia. Evidentemente, vira nos arquivos.
— Bem? — ele falou com impaciência diante da hesitação dela. — Quer discutir
negócios, ou não?
No plano pessoal, era a última coisa que ela queria. Porém, no aspecto comercial, que
opções tinha?
— Acho que posso cancelar meus compromissos — ela falou, tentando não parecer
ansiosa para fazê-lo.
— Ótimo! — Ele sorriu. — Posso sugerir que lave o rosto e apanhe seus folhetos sem
mais discussões, Srta. Sullivan? Se não chegarmos em Londres antes da hora do Keys
abrir, minhas perspectivas de futuros negócios podem ser menos brilhantes do que
planejei.
Em vez de responder, Ginny limitou-se a assentir, antes de fechar os escritórios e
armazéns. Então, entrou na casa do pai pelo portão dos fundos, que ligava o quintal à
companhia. Precisou de uns poucos minutos para telefonar para o Keys e obter a
confirmação do gerente desolado de que o patrão, o Sr. Anastasi, realmente fora em seu
próprio carro, um Lotus Carlton, apanhar o pedido vital.
Satisfeitas com as precauções tomadas para garantir sua segurança, foi para o
banheiro e quase gemeu ao olhar-se no espelho. Estava precisando mesmo lavar o rosto.
Depois do almoço, Cathy, a secretária de seu pai, saíra para levar o neto à escola. E
Ginny vira-se sozinha diante da tarefa de troca a fita da máquina de escrever, o que
deixara suas próprias impressões digitais estampadas em preto em suas faces. Fora por
isso que o mau humor do Sr. Anastasi se transformara em divertimento!
Pois bem, ele não riria de sua aparência de novo! Despiu-se com rapidez, tomou um
banho de dez segundos, trocou as roupas de baixo, realçou Os olhos cinzentos com um
pouco de sombra e muito rimei, transformando os cílios naturalmente longos numa
moldura escura. Felizmente, os cabelos eram fáceis. Algumas escovadas, uma sacudida
de cabeça, e os cachos castanho-claros caíram soltos em torno de seu rosto.
Não estava se arrumando para um encontro, repetiu para si mesma. Na verdade, não
tinha a menor intenção de jantar no Keys, se pudesse evitar. Por ter passado a manhã
inteira à cabeceira do pai, no hospital, e a tarde na companhia, tentando compreender um
sistema de trabalho totalmente estranho para ela, a casa estava uma bagunça. Cuidaria
de garantir sua próxima venda ao Sr. Anastasi e, então, arranjaria uma desculpa para
escapar.
Lançando um olhar crítico para o guarda-roupa, decidiu que desejava algo fresco e
prático. A saia azul-marinho, curta o bastante para estar na moda, sem revelar muito de
suas pernas, combinada com a blusinha listrada de azul e branco, folgada e sem mangas,
seria perfeita. O toque final foi dado por um elegante cinto azul-marinho.
Como teria de voltar ao subúrbio de trem, à brisa noturna, apanhou o casaquinho que
fazia conjunto com a saia e meteu os pés, já envoltos por meias finas, em confortáveis
sapatilhas marinho. Desceu a escada correndo, apanhou a bolsa e uma pasta com
folhetos, e saiu, parando apenas quando chegou no jardim, para respirar fundo e se
recompor.
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Steel Anastasi estava apoiado no carro, à sua espera. Ginny caminhou com passos
firmes até ele.
— Fui o mais rápida possível! — Para sua própria surpresa, as palavras que ensaiara
para dizer quando ele reclamasse da demora, escaparam de seus lábios sem controle.
— Surpreendente. — Os olhos escuros a examinaram em detalhe, enquanto ela
entrava no carro. — Mas, mesmo que tivesse demorado o dobro do tempo, qualquer
homem digno do próprio nome a perdoaria pelo esforço feito em benefício dele.
Deu a partida no motor e pôs o carro em movimento, enquanto os olhos de Ginny ainda
se arregalavam pela resposta suave.
— Posso lhe garantir, Sr. Anastasi... — ela começou a falar, mas logo notou pelo
sorriso que curvava os lábios dele, que o comentário fora feito de propósito, para provocá-
la.
— Steel — ele falou com simplicidade. — Já que este pode ser o começo de uma
associação longa e proveitosa, prefiro que use meu nome de batismo.

CAPÍTULO II

— Steel? — Ginny repetiu, decidindo ignorar o último comentário. Se alguém teria um


longo e proveitoso relacionamento com aquele homem, seria seu pai, assim que estivesse
em condições de voltar ao trabalho. — Que tipo de nome é esse?
— Apenas uma abreviação do original grego. Meus amigos ingleses têm dificuldades
em pronunciar Stylianus. O que você acha?
— Não é difícil — ela comentou com indiferença, lançando um olhar para o
velocímetro.
Se o nome dele tivesse origem inglesa, ela o associaria a alguém muito pretensioso, já
que steel, em inglês, quer dizer "aço". Porém, como poderia fazer um comentário
sarcástico, se o apelido resultará justamente da incapacidade de seus conterrâneos em
pronunciar o nome original?
Ele simplesmente ignorou-lhe as reservas.
— E você, é claro, chama-se Ginette.
Mudando de posição no espaço limitado deixado pelo cinto de segurança, Ginny
disfarçou sua surpresa. Ao que parecia, ele era mesmo amigo de seu pai.
— Prefiro ser chamada de Ginny — ela falou em tom repressor. Sentindo-se tentada a
perguntar se ele tinha algum problema com a pronúncia de seu nome, uma vez que o "G"
não existe no alfabeto grego.
— Ginny — ele repetiu o diminutivo, balançando a cabeça, como se o fixasse na
memória.
Pronunciou o "G" como se fosse o "ch" de "chá", provocando em Ginny um arrepio que
lhe percorreu a espinha. Como ele conseguira fazer seu nome soar tão sedutor? Ou seria
apenas o timbre da voz profunda que produzia aquela ilusão?
— E, então, Ginny — ele continuou —, qual foi a virada na roda da fortuna que fez Leo
Sullivan abandonar seu navio?
— Deixando-o nas mãos de alguém tão incapacitado para navegá-lo... É isso que está
querendo dizer? — Ginny inquiriu, sem esconder a amargura.
— Não foi essa a minha pergunta.
A resposta tranqüila não dissipou a indignação que ela sentia, pois fora isso mesmo o
que ele quisera dizer, e ambos sabiam. Ginny fixou os olhos na estrada. Fazia apenas
quatro dias que seu pai lhe pedira para cuidar dos negócios e, ao que parecia, sua
inexperiência provocada pela ausência prolongada estava levando a companhia a uma
situação ainda pior do que a anterior.
— Bem? — Steel insistiu, aguardando a resposta. Ele era a última pessoa que ela
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queria para confidente,


mas que escolha tinha? Se Steel era mesmo o amigo que dizia ser, e as evidências
levavam a crer que sim, então, tinha o direito de saber a verdade sobre a doença de seu
pai. Ah, se ao menos, Howard houvesse ficado em Taychapel para lhe dar um pouco de
apoio moral... Provavelmente, ela nem sequer estaria na pouco invejável posição de ser
arrastada para Londres contra sua vontade! Por outro lado, tal pensamento era muito
egoísta. As ruas arborizadas de Surrey possuíam sua própria beleza, mas não se
comparavam à da cidade eterna. Ela não poderia culpar o noivo por ter continuado as
férias que haviam planejado passar juntos em Roma... mesmo que ela não pudesse
acompanhá-lo.
Notando que seu acompanhante franzia o cenho, ainda à espera de uma resposta,
Ginny suspirou e rendeu-se.
— Papai está no hospital. Úlcera perfurada.
— O quê? Quando isso aconteceu? O estado dele é grave?
Quando pararam no semáforo, Steel virou-se para fitá-la com ar preocupado.
Reconfortada por aquela demonstração genuína de amizade, Ginny forçou um leve
sorriso, apesar da dor que ainda apertava seu coração.
— Há quatro dias. Fazia apenas uma semana que eu estava em casa, quando ele
passou mal logo depois do café da manhã. Foi levado para o hospital às pressas e
submetido a uma cirurgia de urgência. 0 especialista disse que está fora de perigo, mas
ainda está muito doente. Precisa de repouso e não deve ter nenhuma preocupação.
— Não é uma tarefa fácil para uma estudante de biblioteconomia — Steel observou
pensativo. — Pelo que vi, a companhia encontra-se numa situação bastante ruim.
— Já me formei — ela o corrigiu depressa. Estava surpresa pelo fato de ele não só
saber de sua existência, mas também do curso que fazia na faculdade. Provavelmente, o
pai falara dela com aquele estranho arrogante, mas os laços que o uniam a ela eram tão
fortes, que Leo Sullivan não precisava de encorajamento para recitar as qualidades, tanto
as reais, quanto as imaginárias, da única filha.
— O que viu é confidencial! — acrescentou furiosa. Felizmente, num momento de
desespero, ela rasgara os avisos de execução que os agentes da prefeitura haviam
afixado às portas do armazém. Fora um ato fútil, é verdade, mas que lhe proporcionara
satisfação momentânea. Ao menos, seu acompanhante condescendente não poderia
fazer idéia da gravidade da situação.
— Tenho certeza de que vou conseguir — declarou com determinação. — Desde que
não se espalhem rumores de que o fluxo de caixa da companhia apresenta problemas.
Isso só pioraria as coisas.
— Assim como exigir dinheiro com ameaças! — ele completou, lançando-lhe um olhar
de reprovação. — Por Deus, Ginny. Se insistir em colocar seus clientes contra a parede,
vai destruir a reputação que Leo construiu ao longo dos anos. É uma pena que não tenha
estudado administração, em vez de ter ser tornado uma bibliotecária.
O semblante de Steel exibia condenação. Tal julgamento era simplista e
deliberadamente insultante. Porém, no fundo, ele estava certo. Ginny deveria ter ficado
em Taychapel, aprendendo a cuidar dos negócios da família, em vez de ter ido para a
universidade. Assim, estaria apta para retribuir ao pai uma parte da devoção que ele lhe
dedicara, de maneira prática e construtiva. Infelizmente, o pai não pensara assim. Como
não.pudera ele mesmo freqüentar um curso superior, ficara maravilhado quando as
habilidades da filha em literatura inglesa e pesquisa haviam resultado na oferta de uma
vaga numa universidade na região de Midlands, e insistira para que ela aceitasse.
Agora, lá estava ela, aos vinte e dois anos, com um diploma e sem qualquer
experiência comercial para auxiliá-la na busca de uma solução para as dificuldades da
Sullivan's. Porém, não estava disposta a admitir para o sujeitinho a seu lado que
concordava com ele. Especialmente depois da crítica injustificada à sua qualificação!
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Percorreram o resto do trajeto em silêncio, até chegarem ao estacionamento de um


restaurante no coração de Londres. Foram cumprimentados por um homem de meia-
idade, com um farto bigode, que surgiu à porta com ar agitado.
— Kyrie Anastasi... doksa to Theo!
— Acalme-se, Kostas! Não só trouxe seus arranjos de mesa, como também a moça
que se recusou a entregá-los para você, para que possa dizer para ela o que pensa de
sua atitude.
Ginny suspirou. Não lhe dariam uma trégua nas condenações a que a submetiam?
— Kyrie Anastasi... — 0 homem parecia embaraçado.
— Mas — Steel abriu a porta do passageiro e ajudou Ginny a sair do carro —, como a
beleza dela suplanta sua ignorância, vamos perdoá-la desta vez, ne? — Em tom
autoritário, acrescentou: — Enquanto você descarrega tudo isso, a Srta. Sullivan e eu
vamos tratar de negócios.
Lá dentro, Ginny descobriu que o ambiente era mais escuro do que ela havia
imaginado, e deu-se conta da importância dos arranjos de mesa com iluminação própria
na complementação da iluminação de parede. Não era de admirar que Steel houvesse se
mostrado tão ácido, ela admitiu com relutância. E não se sentia nem um pouco ansiosa
pelo que o resto da noite traria. Suspeitava que ele pretendia humilhá-la ainda mais por
causa da sua falta de experiência. E o comentário sobre sua beleza! Ora, fora puro
sarcasmo. Ginny tinha consciência de que fazia um tipo mais que comum: estatura
mediana, compleição mediana e, do ponto de vista dele, inteligência abaixo da média!
Meia hora depois, sentada no pequeno escritório nos fundos do restaurante, a opinião
de Ginny sobre seu acompanhante era ainda pior. Ele esquadrinhara todos os folhetos e a
enchera de perguntas detalhadas sobre a companhia. Como seria de se esperar, ela não
possuía respostas satisfatórias para muitas delas. Se a intenção de Steel era destruir de
vez sua autoconfiança, estava , se saindo muito bem.
Seja positiva, ela pensou, buscando uma determinação que não sentia, quando ele fez
ainda mais uma pergunta, para a qual ela não tinha uma resposta pronta.
— Escute — falou com energia, inclinando-se sobre a mesa, as faces coradas e os
olhos brilhantes pelo esforço j de salvar uma venda que parecia escorregar por entre seus
dedos rapidamente. — Se conhece meu pai tão bem, deve saber que Duncan, nosso
contador, está com ele há mais de quinze anos, e sabe tudo sobre a companhia. Anotei
todas as suas perguntas e prometo procurá-lo amanhã de manhã, trazendo respostas
detalhadas para cada uma delas.
— E, enquanto seu pai continuar no hospital, você ainda pretende substituí-lo? — Steel
inquiriu em tom cético, provocando-a para um combate.
— Claro!
Ginny fitou-o com irritação. Sabia que não era perfeita. Afinal, estava atuando sem ter
ensaiado antes. E pretendia mudar tais circunstâncias o mais breve possível.
Especialmente agora, que seu pai se encontrava fora de perigo, e ela dispunha de mais
tempo para dedicar-se ao trabalho.
— Nesse caso, tem muita lição de casa a fazer — ele replicou, como se pudesse ler
seus pensamentos.
— Sei disso — ela respondeu determinada, sem a menor intenção de ouvir um sermão
daquele grego elegante e arrogante. — E, uma vez que é óbvio que não vai me fazer
pedido algum, pretendo ir para casa agora mesmo e me dedicar aos meus deveres.
Levantando-se, Ginny apanhou os folhetos e guardou-os na pasta. Suas mãos tremiam
em conseqüência do nervosismo e do cansaço.
— Não, acho que não. — Steel também se pôs de pé, bloqueando a porta. — Convidei-
a para jantar comigo, e você aceitou.
— Somente para discutirmos negócios, o que já fizemos.
— Ao contrário, só concordei em discutir negócios com você, diante da perspectiva de
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jantarmos juntos.
— Nesse caso, lamento desapontá-lo. — Ora, ele não poderia mantê-la ali à força! —
No que me diz respeito, foram os negócios que me trouxeram até aqui. Já lhe mostrei o
que a companhia pode oferecer. Portanto, já posso ir embora.
— Mas não vai — Steel insistiu em tom suave. — Ginny, o que estou oferecendo é
apenas um jantar, não uma noite de amor. Imagino que não pretenda desagradar um
cliente valioso.
O tom suave não escondeu a ameaça que brilhou nos olhos escuros.
— Não cancelaria as encomendas por uma razão tão banal — ela retrucou. —
Principalmente se é mesmo um amigo de meu pai.
— E sou. No plano pessoal, considero Leo um excelente amigo. Porém, já deve ter
ouvido falar que, no mundo dos negócios, não existe compaixão.
— Nem integridade, pelo que estou entendendo! Ninguém sabia melhor que Ginny que
existiam outros
fornecedores entrando no mercado, dispostos a tomarem os clientes da Sullivan's.
Somente a eficiência de sua companhia, somada ao respeito pessoal que os clientes
tinham por Leo, os impediam de mudar. Além disso, havia ainda a qualidade superior dos
produtos que importavam do Oriente, dos quais eram representantes exclusivos na
Inglaterra.
Sentiu-se subitamente insegura, furiosa consigo mesma por desconhecer a exata
extensão da influência de Steel Anastasi. Ele mencionara diversos restaurantes
espalhados pelo país. Quantos seriam? E a menção a uma noite de amor não escapara à
atenção de Ginny. Deveria sentir-se grata por ele não exigir favores sexuais em troca da
perspectiva de negócios futuros?
— Não estou blefando, Ginny — ele declarou, percebendo-lhe os temores. — Quando
me conhecer melhor, verá que não é assim que costumo trabalhar.
— Não quero conhecê-lo melhor. Não estou impressionada com a sua chantagem.
Embora tremesse por dentro, Ginny recusou-se a aceitar as exigências arrogantes de
Steel passivamente. Ele ergueu as sobrancelhas com ar divertido.
— Chantagem? Que maneira horrorosa de descrever uma simples troca de favores:
sua companhia no jantar, por um aumento substancial nas encomendas que faço à
Sullivan's.
Foi então que Ginny percebeu que ele estava lhe pagando com a mesma moeda,
utilizando os métodos que ela mesma usara, e que ele detestara. .
— Tudo bem, Ginny. Pagamento no ato da entrega.
Um conceito muito simples, mas desagradável e inconveniente, especialmente quando
se tem outros planos. Mas, nesse aspecto, acho que já concordamos, não é? Ou, quando
falou em falta de integridade nos negócios, estava se referindo ao seu próprio
comportamento?
Ele estava comprovando o que Ginny já suspeitava. Steel Anastasi não era um bom
perdedor. E havia muita coisa em jogo, para que ela pudesse arriscar em suas apostas.
Ele não lhe deixara escolha.
— Certo — Ginny cedeu da maneira mais digna possível. — Já que significa tanto para
você, aceito seu convite.
— Ótimo! Vamos para a mesa.
Mantendo a cabeça erguida, ela tentou ignorar o brilho de triunfo nos olhos dele. Ao
sentar-se à mesa, não pôde deixar de notar a diferença que os arranjos iluminados
faziam.
Algumas mesas já se encontravam ocupadas, e Ginny ouviu o som das consoantes
arrastadas do sotaque grego. Deu-se conta de que o restaurante não era somente para
turistas, mas sim, um dos favoritos dos gregos residentes em Londres. Também notou a
qualidade da toalha de linho, dos talheres de prata e o cristal finíssimo dos copos.
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells

Steel percebeu que ela examinava cada detalhe do ambiente.


— Ficamos fechados por uma semana, para reformas na cozinha e redecoração do
salão. Ficará ainda melhor quando recebermos o restante da encomenda que fiz à
Sullivan's. — Apontou para a divisória de treliça nua, à entrada do bar, e aos nichos
vazios. — Plantas naturais seriam melhores, mas como não dispomos de iluminação
natural, é impossível mantê-las. Por isso, decidimos utilizar as artificiais. É uma pena que
não tenham sido entregues. — Ele sorriu e mudou de assunto. — Quer examinar o
cardápio, ou prefere escolher na cozinha?
Ginny deu de ombros.
— Não estou com fome. Imagino que sirvam moussaka.
— Claro. — Steel inclinou a cabeça num gesto cortês, mas o brilho em seus olhos e a
linha dura de seus lábios indicavam que a indiferença estudada de Ginny o irritava. — E o
único prato grego do qual a maioria dos ingleses já ouviu falar.
— O que não me surpreende. Pelo que sei, a cozinha grega não é famosa por sua
variedade ou excelência — ela replicou em tom falsamente suave, começando a gostar
daquela guerra fria de palavras. — Moussaka é um tipo de torta de carne, não é? Como
era o prato que eu planejava comer no jantar, em minha casa, por que não comer o
mesmo aqui?
— Espero que não fique decepcionada. O que vai querer como acompanhamento?
Batatas fritas?
O brilho de desprezo nos olhos quase negros fez Ginny sentir-se tentada a aceitar a
sugestão só para irritá-lo. Poderia até pedir catchup, pensou com maldade. Porém,
começava a sentir-se desencorajada pelo olhar duro. Talvez não fosse uma boa idéia
provocá-lo tão abertamente.
— Prefiro salada — respondeu com um sorriso falso.
— Pois não. Se me der licença, vou à cozinha escolher o meu prato.
Ginny observou-o afastar-se por entre as mesas e desaparecer na cozinha. Em outras
circunstâncias, teria gostado de jantar no Keys. Porém, seus planos haviam sido tão
afetados nos últimos dias, que ela se sentia um pouco desorientada, incapaz de exercer o
costumeiro controle sobre sua vida. Distraída, observou o arranjo de flores de seda no
centro da mesa, estudando os efeitos da lâmpada à pilha que iluminava a beleza frágil.
Perguntou-se o que Howard estaria fazendo, sozinho em Roma. Havia esperado que
ele telefonasse ao chegar lá, dois dias antes, mas não recebera nenhuma ligação. Seus
lábios curvaram-se num sorriso, quando a figura dele se fez nítida em sua mente. Howard
sempre lhe parecera uma torre de força e poder: tanto na mente, quanto no corpo. Era
uma pessoa positiva, bem sucedido em sua carreira de instrutor de esportes numa das
melhores e mais caras escolas particulares, excelente remador e jogador de tênis, bem
como dono de uma lista interminável de realizações acadêmicas. Era um homem que
controlava todos os aspectos de sua vida com a eficiência de um bom contador...
Então, por que aquela necessidade de listar todos os seus pontos positivos? Por que,
apesar de compreender a atitude dele, Ginny ainda estava ressentida? Afinal, o velho
conceito de que a mulher deveria buscar no homem o consolo e apoio necessário em
situações difíceis, pertencia ao passado. E ela concordava plenamente com isso. Porém,
se a situação fosse o contrário, se alguém chegado a Howard caísse doente, ela não
pensaria duas vezes antes de cancelar seus planos de férias e ficar ao lado dele, dando-
lhe toda ajuda e apoio possíveis, tanto no plano prático, quanto no emocional.
Por outro lado, seu relacionamento nunca se baseara na proximidade física.
Perguntou-se pela centésima vez se o autocontrole de Howard seria resultado de ele a
considerar socialmente aceitável, mas não fisicamente atraente.
Até então, Ginny imaginara que o respeito de Howard por sua falta de experiência
sexual se devesse à consideração pelos ideais e princípios que haviam sido ensinados a
ela durante a infância. E, também, à noção de que a paixão inata que ela possuía
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pudesse florescer naturalmente dentro dos limites do casamento.


Quando adolescente, fora tímida e apreensiva em companhia masculina. Não serviam
para ela os relacionamentos casuais e passageiros que suas amigas perseguiam com
tanto entusiasmo. Em retrospecto, calculou que se a mãe não houvesse morrido quando
ela era tão jovem, certamente teria se sentido mais à vontade com relação à sua própria
sexualidade. Porém, as aulas de educação sexual na escola, somadas às explicações
gerais e eufemísticas oferecidas por seu pai, não haviam sido nada encorajadoras.
Assim, ela se esquivara ao contato físico com os adolescentes que a haviam cortejado
sem muita sofisticação, e encontrara alívio na leitura e nos estudos.
Era uma grande ironia que ela houvesse, finalmente, abandonado princípios que suas
amigas consideravam insustentáveis, só para descobrir que Howard preferia dormir
sozinho em Roma, a tornar-se seu amante em Taychapel!
— Kyrie Anastasi pediu que eu servisse este vinho à senhorita. Devo servir agora?
Perdida em pensamentos, Ginny não percebera a aproximação do garçom.
Assentiu e observou o copo encher-se da garrafa já aberta. Não havia dúvida de que
Steel já provara e aprovara o vinho.
— O patrão pede desculpas, pois teve de cuidar de assuntos urgentes, mas voltará à
sua companhia assim que puder.
Ginny voltou a assentir e bebericou o vinho. Era delicioso.
Envolvida na tentativa de analisar seus sentimentos por Howard, ela não se dera conta
de que estava sozinha já fazia tempo. Bem, quanto mais tempo fosse poupada da
companhia de Steel, melhor. Ele podia exigir sua presença, mas não podia exigir que ela
tivesse prazer nisso. E, quando ele voltasse a sentar-se a seu lado, trataria de deixar isso
bem claro.
Bebeu mais vinho, sentindo o corpo relaxar.
— Vejo que aprova a minha escolha.
Ginny sobressaltou-se quando o comentário foi pronunciado em voz macia, próximo ao
seu ouvido. Como estivera olhando fixamente para o arranjo floral, não percebera a
chegada de Steel. Agora, seria impossível fingir não gostar do vinho.
— E bom — falou no tom mais indiferente que pôde fingir.
— Tivemos uma crise na cozinha — ele explicou ao sentar-se. — Uma das ajudantes
afeiçoou-se a um gatinho. Quando soube que eu me encontrava no restaurante, ficou com
medo da minha reação e escondeu-o num armário. Infelizmente, o animal não gostou de
se sentir preso, e armou uma grande confusão.
O tom rígido em que ele relatou o fato deixava claro que conseqüências sérias haviam
se seguido ao incidente.
Olhando horrorizada para os dedos longos e fortes que levaram o copo aos lábios de
Steel, Ginny sentiu uma onda de tontura ao imaginá-lo torcendo o pescoço do pobre
gatinho, antes de voltar à mesa.
— O que você fez? — perguntou num sussurro.
— O que poderia fazer? Dispensei os serviços de ambos: da garota e do gato.

CAPÍTULO III

— Você despediu a moça? — Ela me desobedeceu — Steel respondeu com


simplicidade.
— Um crime imperdoável, eu imagino — ela falou com frieza.
— Sim. Especialmente quando o resultado pode fazer com que as autoridades fechem
o Keys por infringir normas de higiene.
O argumento não deixava lugar para discussão. Ainda assim, a punição parecia
exagerada.
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— Vai dar uma carta de referência para que ela possa conseguir emprego em outro
lugar? — Ginny inquiriu.
— Não.
— Ora, mas...
— Não será necessário, pois depois de profunda consideração, decidi readmiti-la.
— Um ato de compaixão, Steel? — Ginny não escondeu a surpresa, nem o sarcasmo.
— Pensei que fosse incapaz de um sentimento tão humano.
— E acertou, Ginny. — Ele sorriu. — A moça foi readmitida por ser muito boa no que
faz. Será uma grande perda de tempo e dinheiro treinar outra pessoa para a função. Além
disso, como está em dívida comigo, o comportamento dela será exemplar daqui por
diante.
— E o gatinho?
— Acha que eu deveria colocá-lo na folha de pagamento? Ou está com medo que ele
se transforme em ingrediente da sua moussaka?
— Só acho que, uma vez que o expulsou daqui, deveria preocupar-se em encontrar um
lugar onde ele possa viver.
— Se tal promessa vai apagar essa ruga entre seus olhos, então, tem a minha palavra
de que atenderei seu pedido. Agora que já discutimos nossos negócios e já encontramos
uma solução para a sua consciência sentimental, podemos apreciar a refeição e nos
conhecermos melhor.
Por sorte, o garçom chegou naquele exato momento, trazendo entradas gregas. Os
pratos pareciam deliciosos, o que facilitaria a tarefa de atender a um dos pedidos de
Steel. Quanto a conhecê-lo melhor...
Para surpresa de Ginny, Steel não fez outra tentativa de puxar conversa, até ambos
terem terminado o prato principal.
— Foi um golpe de sorte você já estar em casa, quando seu pai ficou doente — ele
falou em tom casual. — Leo deve se sentir bem melhor, sabendo que a Sullivan's está em
suas mãos.
Ginny percebeu a ironia do comentário e ficou profundamente irritada. Só porque
cometera um erro de julgamento, isso não queria dizer que era totalmente incompetente.
— É verdade — concordou. — E pretendo provar que sou merecedora de sua
confiança. — Lembrou-se do horror que experimentara quando o pai tivera a crise. —
Mais alguns dias, e eu estaria com Howard em Roma, me divertindo, sem saber...
— Howard? — Steel repetiu, estreitando os olhos. — Quem é Howard?
— Ele... Eu... — Ginny começou, dando-se conta de que não devia explicação alguma
de sua vida particular. Além do mais, como poderia discutir Howard com Steel Anastasi?
Não poderia esquecer que por trás da aparência cortês e elegante, havia um ditador frio e
calculista, capaz de atirar um gatinho na rua, no meio da noite.
Se precisasse de um confidente, o que começava a achar necessário, aquele grego
autoritário seria a última pessoa a ocupar tal posição. Por outro lado, a introdução de um
noivo na conversa o faria consciente de que ela não era uma mulher sozinha.
— Howard é o homem com quem pretendo me casar — Ginny declarou.
— Você nem usa aliança!
— Não é obrigatório — ela retrucou, decidindo não dizer que o noivado não fora
oficializado, que se tratava de um entendimento particular entre o casal.
— Se fosse minha noiva, Ginny, certamente usaria um anel.
— Acontece que não sou! — ela protestou, horrorizada pela constatação de que
começava a achar Steel Anastasi atraente.
— E onde está o tal de Howard? Não me diga que está em Roma, sozinho.
— Claro que está. Por quê? — Ginny tentou falar com entusiasmo, mas seu tom soou
forçado. — Howard é um professor, não um comerciante. Não havia nada que ele
pudesse fazer aqui.
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Aflita, fixou os olhos no prato vazio. Como ele previra, a moussaka não lembrava em
nada a torta de carne inglesa. Ginny refletiu que, talvez, a reação que estava tendo ao
homem dominador sentado à sua frente fosse mero efeito das ervas fortes do tempero.
— Quer mais?
— O quê?
— Moussaka. Estava olhando para o prato com ar tão faminto, que achei que poderia
querer mais um pouco.
— Não, não... Obrigada. — Ela tratou de se recompor depressa. — Gostaria de um
café.
Steel estalou os dedos, e o garçom aproximou-se. Naquele momento, as luzes
diminuíram de intensidade e três cadeiras foram colocadas no centro do salão.
— Não sabia que apresentavam shows aqui — Ginny comentou. — Deixe-me
adivinhar. Um garçom dança, enquanto quebramos pratos.
— Não — Steel respondeu em tom condescendente.
— Esse é um costume grego que já se tornou banal, com turistas quebrando pratos,
sem um bom motivo.
— Precisa haver um motivo?
— Claro. — Ele a fitou com intensidade. — Chama-se kefi. Trata-se de um fenômeno
mágico, difícil de traduzir. É algo que toma conta de nós sem aviso, depois desaparece. E
como estar tomado pelo espírito da felicidade. Não pode ser trazido à força, e existem
pessoas que jamais o experimentam. Mas, ficar possuído pelo kefi. é saber que a vida
deve ser vivida com alegria, é ser um espírito livre, unido aos deuses mais antigos.
— E isso permite às pessoas quebrarem pratos e copos por simples prazer?
Negando a estranha excitação que tomara conta de seu corpo, Ginny esforçou-se para
não se mostrar impressionada. Incapaz de compreender a necessidade que sentia de
provocar Steel Anastasi, percebeu que aquela seria uma boa oportunidade para fazê-lo.
— Acho que só os gregos são capazes de compreender
— ele falou, dando de ombros. — É uma coisa simbólica, realizada num ritmo interno.
Jamais poderá ser realmente simulada como um show para turistas.
A proximidade do rosto de Steel, os lábios sensuais entreabertos num convite
silencioso, poderiam ser mero resultado da iluminação fraca. Ainda assim, era como se o
corpo dele se comunicasse com o de Ginny, mesmo estando do outro lado da mesa.
Consciente de que seus sentimentos por Steel tornavam-se mais e mais confusos,
Ginny fez um esforço supremo para voltar à realidade. Disse a si mesma que suas
reações bizarras eram produto do cansaço.
Tratou de usar o ataque como defesa.
— O que há de tão grego nisso? — inquiriu em tom zombeteiro. — Temos um
fenômeno semelhante aqui, na Inglaterra. Chama-se vandalismo.
Houve um longo silêncio, durante o qual Steel estudou-a sem pressa.
— Desculpe — ele finalmente falou, com voz totalmente desprovida de emoção. A
tentativa de Ginny funcionara, mas, para sua surpresa, ela não sentiu o menor prazer
nisso. Ao contrário, foi invadida por uma profunda sensação de vazio. — É evidente que
não há nada no meu país, ou na minha cultura, que desperte o seu interesse. Termine o
seu café e eu a levarei para casa.
Ginny corou. Quisera rebelar-se, atacá-lo pela forma como invadira sua vida. E
conseguira. Então, por que se sentia tão devastada pela reação dele?
Arrependida, desviou os olhos para o centro do salão, onde dois músicos tomavam
seus lugares, empunhando bouzoukis, um tipo de bandolim. Uma mulher os seguiu,
parando atrás da cadeira do meio, segurando com firmeza no encosto. Era pequena é
roliça, de cabelos escuros, e vestia um traje preto muito simples.
Assim que o burburinho de conversa se dissipou, os bouzoukis ganharam vida e a
mulher começou a cantar. Sua voz rouca tornava desnecessário a Ginny compreender as
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palavras, para saber que a música contava uma tragédia tão intensa, que a dor era
insuportável para quem a vivera.
Steel observava a cantora atentamente, permitindo af Ginny que o estudasse, sem ser
notada.
Sim, ela havia criado preconceitos baseados na fúria com que ele aparecera na
companhia, irritara-se com a arrogância dele, mas tinha de admitir que o rosto à sua
frente era atraente, sensível e solene. E provocava-lhe 1 as reações mais estranhas,
prejudicando-lhe a capacidade! de julgamento.
Quando as lágrimas embaçaram seus olhos, vieram como chuva de verão: inesperadas
e intensas. Ginny chorou em silêncio... porque seu pai estava gravemente doente, porque
os negócios que ele tanto amava estavam correndo sério risco, porque ela estava
cansada, porque se enganara ao acreditar que amava Howard... Agora, sabia que, fosse
qual fosse o sentimento que tinha por ele, não era suficiente, jamais seria suficiente...
Também chorou porque, de um modo muito estranho, o homem sentado à sua frente
agira como catalisador daquela constatação, e Ginny gostaria de nunca tê-lo conhecido.
Um soluço escapou-lhe dos lábios, fazendo Steel virar-se e mudar de lugar, sentando-
se ao lado dela. Então, passou um braço forte em torno dos ombros frágeis e trêmulos e,
com a outra mão, apanhou um guardanapo limpo e secou-lhe as lágrimas.
Os aplausos romperam o silêncio, quando a canção triste chegou ao fim. Ginny teve de
fazer um esforço brutal para não sucumbir ao impulso de soltar-se nos braços de Steel,
em busca de consolo para a sua dor.
— Afinal — ele falou com expressão enigmática —, você não é indiferente à dor e à
paixão do ribetico. Talvez ainda exista esperança para você, Ginny.
— Talvez — ela tentou sorrir, mas quando ergueu os olhos para fitá-lo, deparou com
uma suavidade tão profunda, que ficou paralisada pela surpresa.
Quando Steel puxou-a para si, envolvendo-a nos braços, Ginny não encontrou forças
para resistir. Naquele momento, estava consciente apenas do conforto que ele lhe
oferecia, da força e do calor do corpo masculino que lhe davam apoio.
Quando a mão de Steel afastou os cabelos de seu rosto, Ginny soube que chegara o
momento de partir. Abriu a boca para dizer a ele que voltaria sozinha para casa, mas as
palavras não foram pronunciadas, pois os lábios dele cobriram os seus, calando-a.
Sentindo a cabeça girar, Ginny sabia que deveria protestar, mas os aplausos morreram,
os bouzoukis recomeçaram a tocar, e o ritmo do ribetico misturou-se às batidas firmes do
coração de Steel. Ela se deu conta de que era tarde demais para palavras.
Já era tarde quando o Keys fechou. Ginny não fazia idéia da hora, pois estava sem
relógio. Porém, sabia que, encorajada pela platéia entusiástica, a cantora apresentara um
repertório extenso. Além disso, muito depois de Ginny ter terminado seu café, Steel a
apresentara a mais uma especialidade de seu país: uma bebida alcoólica chamada raki,
uma mistura de fogo e gelo que havia lhe tirado o fôlego.
Pela primeira vez desde que o pai ficara doente, e que ela descobrira a verdadeira
situação de seus negócios, Ginny sentiu-se relaxar, como se flutuasse livre no ar. No
entanto, por trás daquela letargia, havia uma sensação de excitação, como se algo
totalmente novo houvesse acabado de acontecer em sua vida. O olhar de Steel, bem
como seu sorriso, deixavam claro que ele sabia o que ela pensava e sentia, o que
provocou em Ginny uma sensação ainda mais nova e excitante. .
— Está na hora de irmos embora, querida — Steel anunciou e levantou-se. — Tenho
certeza de que vai concordar comigo numa coisa: a noite não foi perdida.
Ginny decidiu que aquele não era um bom momento para discutir ou protestar,
especialmente depois da expressão de seus sentimentos, que certamente havia dado; a
ele uma vitória.
Ao sentar-se no banco do passageiro do Lotus, Ginny estremeceu. A reação de Steel
ao seu comentário comparando o kefi ao vandalismo mostrara que ele não era do tipo que
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aceitava provocação passivamente. Agora, só lhe restava esperar que as palavras dele
sobre a noite não ter sido perdida significassem que ela não havia perdido o cliente.
Quando ele estacionou o carro diante da casa de seu pai, Ginny fez questão de
mostrar-se educada.
— Quer entrar? — convidou. O mínimo que poderia fazer seria oferecer-lhe uma xícara
de café.
O brilho que iluminou os olhos escuros fizeram-na lembrar-se dos animais que vivem
movidos exclusivamente por seus instintos. Por um instante, Ginny foi invadida pelo medo
do perigo iminente.
— Não esta noite, Ginny. Esta noite, o convite foi apenas para o jantar, não para uma
noite de amor, lembra-se?
Ora, como ele podia interpretar o seu convite de maneira tão errada? Furiosa, Ginny
saiu do carro, retirou a chave da bolsa e entrou depressa, ainda ouvindo os ecos da
risada suave de Steel. Só voltou a sentir-se segura, quando fechou a porta atrás de si.
Na manhã seguinte, acordou pouco antes de o relógio despertar, às oito horas. Foi até
o banheiro, onde se olhou no espelho e emitiu um gemido de desprezo.
Envergonhada era uma palavra fraca demais para descrever o modo como se sentia.
Ao mesmo tempo, o reflexo no espelho indicava que a primeira noite de sono tranqüilo em
uma semana havia lhe feito muito bem. Seu rosto mostrava-se menos pálido e seus olhos
exibiam um brilho que não lhe permitiria alegar que o comportamento bizarro que tivera
na noite anterior fora mero resultado do vinho e do raki.
Tomou banho, vestiu-se e preparou uma torrada, mal acreditando que era capaz de
sentir fome, depois do espetáculo que dera no restaurante. Como se não bastasse ter
chorado em público, a lembrança do beijo que Steel lhe dera a fazia encolher-se de
vergonha e embaraço. E nem sequer tinha o consolo de saber que tentara evitar o
ocorrido.
Ao contrário, acusou a si mesma, fizera exatamente o oposto, aceitando o ataque
sensual dos lábios experientes. E, se tudo aquilo não fora o bastante, ela ainda cometera
o erro de tentar ser gentil, e ter seu convite mal compreendido. Steel acreditara que ela o
convidara para partilhar sua cama e, pior, rejeitara o convite! No futuro, Ginny teria de se
certificar de que seus caminhos jamais voltassem a se cruzar.
No futuro. O embaraço de Ginny ficou esquecido. Que futuro teria a Sullivan's, caso ela
não conseguisse levantar em vinte e oito dias o dinheiro suficiente para evitar o
fechamento obrigatório dos armazéns?
O som da correspondência sendo atirada no capacho da porta de entrada animou-a.
Quem sabe recebesse algum cheque de clientes. Apressada, apanhou os envelopes,
separou rapidamente os folhetos de propaganda e abriu as cartas uma a uma. Nada.
Nenhum pagamento. E o único envelope restante apresentava um carimbo do Oriente.
Orchid International, o maior e mais prestigiado fornecedor da Sullivan's. Seria mais uma
conta a pagar? Não. Duncan assegurara que todo o estoque já fora pago.
Abriu o envelope e sentiu o mundo girar ao ler a mensagem: "A menos que uma
garantia de vendas maiores, a ser honrada nos termos de nosso contrato, nos possa ser
dada, seremos obrigados a encerrar nossa exclusividade de fornecimento para a sua
companhia.
Com a mente girando em disparada, Ginny sentou-se trêmula. Mesmo que
conseguisse o dinheiro para impedir o fechamento dos armazéns, a menos que
conseguisse . expandir as vendas imediatamente, não haveria estoque ; para atender os
clientes.

CAPÍTULO IV

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Já estava escuro quando Ginny estacionou o Renault de seu pai na garagem de casa.
Permitiu-se relaxar por um momento no conforto do banco do motorista, repassando na
mente os sucessos do dia. Fora mesmo uma grande inspiração a idéia de ir a Midlands,
uma região que se tornara familiar para ela durante os anos de faculdade. Lá, descobrira
seis restaurantes e os transformara em novos clientes da Sullivan's, sem ter tido metade
do desgaste exigido pelo proprietário do Keys of Corfu.
Fora o primeiro passo na direção do reaquecimento dos negócios da companhia, e
Ginny estava satisfeita com o resultado de seus esforços. Decidiu que no dia seguinte,
examinaria os arquivos de clientes, faria uma lista daqueles que não faziam encomendas
há algum tempo, e tentaria recuperá-los.
Sentindo-se exausta, saiu do carro e entrou em casa. Sem a presença de Leo, parecia
fria e vazia. Mesmo assim, Ginny ficou contente ao chegar ao aconchego de seu quarto,
para uma boa noite de sono, depois de um dia duro de trabalho.
Às oito e meia da manhã seguinte, seu entusiasmo e otimismo haviam retornado.
Vestindo jeans e camisa amarrada na cintura, um traje confortável para mais um dia de
trabalho árduo, comia uma torrada com café, quando a campainha tocou.
Ainda segurando a xícara, foi abrir a porta.
— Finalmente voltou para casa — Steel Anastasi declarou e entrou, mesmo sem ser
convidado. Vestia traje informal: uma calça esporte de algodão cinza, e camiseta listrada
de verde e cinza. Apesar de não se parecer em nada com o homem de gravata da noite
anterior, ainda exibia um ar de elegante autoconfiança. — Teve sucesso em sua
campanha para tirar a Sullivan's da falência?
— O que faço não é da sua conta! — ela respondeu furiosa, dando-se conta de que ele
certamente interrogara os funcionários sobre o paradeiro dela. — O que está fazendo
aqui? O escritório só abre às nove e não costumo tratar de negócios em minha casa.
— Nem mesmo negócios pessoais? — ele perguntou calmamente. — Esqueceu uma
coisa no Keys.
— O quê?
— Está no carro. Venha.
Com um suspiro resignado, Ginny obedeceu, seguindo-o até onde ele estacionara o
Lotus.
— Receio que não viaje muito bem — Steel falou, bloqueando-lhe a visão, ao inclinar-
se para dentro do carro.
Viajar bem? Do que ele estava falando? Apesar dos sentimentos de antipatia que ele
lhe despertava, Ginny não pôde evitar a curiosidade.
Steel virou-se para encará-la. Em seus braços, uma pequena bola de pêlos negros
fitou-a com olhos verdes ariscos.
— Prometi encontrar um lar para ele — falou com um sorriso maroto e indicou a porta
da casa com um gesto da cabeça. — Aqui está.
— É o gatinho do Keys? Quer que eu fique com ele?
— Achei que seria a melhor maneira de mostrar-lhe que cumpri minha promessa — ele
falou com ar inocente, desafiando-a a recusar o presente.
Invadida pela compaixão, Ginny ignorou a provocação.
— É claro que vou ficar com ele. Tem nome?
— Não. Que tal Kefi? — ele sugeriu em tom seco. — J Afinal, ele agiu como um vândalo
em minha cozinha, ontem à noite. E, também, não se comportou muito bem durante a
viagem até aqui. Sabia que gatos podem ficar enjoados dentro de automóveis?
— Ah, não! —Ginny lançou um olhar para o interior do carro.
— Não foi nada. Pegue-o.
Depositando o gatinho nos braços de Ginny, Steel voltou a inclinar-se e retirou do carro
uma cesta forrada de jornal, bem como duas latas de ração para gatos.
— Pelo menos, ele teve a decência de permanecer na cesta até se sentir melhor.
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells

Amassou o jornal e jogou-o na lata de lixo, ao lado da porta da garagem.


Embora estivesse ansiosa para livrar-se da presença perturbadora de Steel, Ginny
sabia que a etiqueta exigia que ela o convidasse para entrar, mesmo que seus instintos
lhe dissessem que havia imenso perigo em tal atitude.
Tratou de deixar suas intenções bem claras:
— Imagino que queira lavar as mãos. Se quiser usar o banheiro, farei um pouco de
café.
— Obrigado — ele sorriu, aceitando o convite. Depois de mostrar-lhe o banheiro, Ginny
levou o gatinho à cozinha, descobrindo que ele já se recuperara da viagem e estava
ansioso para reconhecer seu novo terreno.
Alguns minutos depois, Steel voltou do banheiro e sentou-se num dos bancos da
cozinha, as pernas esticadas, parecendo totalmente à vontade.
Ao passar por trás dele para apanhar a cafeteira, Ginny sobressaltou-se ao ver a
mancha em sua camiseta.
— Você está sangrando! — exclamou.
— Eu disse que Kefi não foi um bom passageiro. Depois de se recuperar dos
problemas digestivos, insistiu em passar o resto da viagem pendurado em meu ombro.
Infelizmente, tive de dar uma freada brusca, e ele teve dificuldade em manter o equilíbrio.
— Ah, meu Deus! — Ginny teve vontade de rir ao imaginar a cena. Então, ficou séria,
concluindo que as garras de Kefi deviam ter causado um ferimento razoavelmente
profundo, pelo tamanho da mancha de sangue. — É melhor cuidar do ferimento, antes
que infeccione.
— Endaxii.
Sem saber o que a palavra significava, Ginny deu um passo para trás e ficou
boquiaberta ao ver Steel tirar a camiseta prontamente, exibindo as costas musculosas e
bronzeadas.
— Obrigado — ele falou. — E muita gentileza sua. Ginny hesitou. Não sabia se tal
atitude fora deliberada, ou se ele realmente estava inocente, como seu sorriso sugeria. E,
embora a última coisa que desejasse fosse tocar aquela pele dourada e tentadora, não
poderia recusar aplicar-lhe o tratamento. Afinal, quem podia saber onde o gatinho fincara
suas garras antes?
— Será um prazer — murmurou com ironia.
Steel sentou-se imóvel, os cotovelos apoiados no balcão, o queixo nas mãos, enquanto
Ginny procedia na tarefa que, sem querer, impusera a si mesma. Ainda bem que ele não
podia ver seu rosto, ela pensou. Assim, se percebesse o tremor em suas mãos, não seria
tão fácil concluir que era o contato com sua pele quente que a deixava tão perturbada.
Depois de limpa e seca, a área arranhada parecia melhor, mas ainda inflamada. Ginny
aplicou um pouco de pomada anti-séptica e cobriu o ferimento com uma atadura.
— Pronto — declarou, afastando-se. — Já pode se vestir. Espero que seus anticorpos
estejam em forma.
Steel pôs-se de pé.
— Estou todinho em forma, Ginny.
O comentário, bem como o festival de músculos diante de seus olhos, deixou Ginny
atordoada.
— Vá sentar-se na sala — sugeriu com um sorriso forçado. — Levarei o café para lá.
Ele se moveu e, por um instante, Ginny pensou que ele fosse obedecer. Tarde demais,
deu-se conta de seu erro. Steel parou ao seu lado, abaixou a cabeça e beijou-lhe os
lábios, antes que ela pudesse pronunciar uma palavra de protesto.
Ao sentir as pernas vergarem, Ginny ergueu as mãos num gesto automático, em busca
de equilíbrio. E foi nos ombros largos que o encontrou. A reação de Steel foi imediata e
instantânea. Os braços nus a envolveram, puxando-a para um contato mais próximo, mais
íntimo.
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells

Por um momento de indulgência, Ginny permitiu-se desfrutar do conforto proporcionado


por aquele porto-seguro. Então, o corpo poderoso e másculo pressionou-se contra o dela,
trazendo-a de volta à realidade num sobressalto.
— Steel... — Ela tentou empurrá-lo, em vão. — Steel!
— Gritou desesperada.
Ele a fitou com olhos ainda mais escuros, e não fez menção de soltá-la.
— Este foi apenas um beijo de agradecimento, Ginny
— murmurou. — Mas, este outro, não.
Foi diferente de tudo o que ela havia experimentado antes. Os lábios experientes
clamaram seu domínio viril, derrubando por terra todas as resistências de Ginny. Sem
perceber, ela passou os braços em torno dos ombros largos, e deixou-se beijar e abraçar,
entregando-se às sensações maravilhosas que a envolveram. . — Ginny...?
O hálito quente de Steel aqueceu-lhe a face, quando ele descolou os lábios dos dela,
para cobrir de beijos seu queixo, nariz, e faces.
Chocada, ela ouviu e compreendeu a pergunta. Como se um copo de água gelada
fosse atirado em seu rosto, Ginny despertou de sua letargia. Com um gemido de agonia,
afastou-se de Steel, reconhecendo o convite que persistia nos olhos quase negros, e
lutando para recuperar o controle sobre as próprias emoções.
— Como ousa abusar de minha hospitalidade desta forma? — A raiva da própria
reação transformou-se em acusação. Ginny deu-se conta de que sua vida jamais seria a
mesma. — Só porque ofereci café, não quer dizer que o convidei para... — Parou de falar,
pois não pôde encontrar palavras para descrever o que ele havia feito.
— Para beijar você? — ele completou a frase interminada. — Foi só isso o que
aconteceu, Ginny. E, quanto ao convite... Você pareceu não ter objeções naquela noite.
— Quando eu estava exausta e infeliz demais para me importar com o que pudesse
acontecer comigo? — ela inquiriu em tom ácido. — Sentiu-se encorajado?
— Intrigado — Steel corrigiu-a. — Fico me perguntando se você reage com o mesmo
ardor ao seu noivo.
Ginny decidiu aproveitar a deixa.
— Como adivinhou que eu estava sentindo tanta falta dele? Lamento dizer que minha
reação foi automática. De olhos fechados, simplesmente, imaginei que você era Howard.
— Verdade? Mesmo depois de ele ter abandonado você de maneira tão brutal?
— Não foi assim! Ele estava ansioso para ir a Roma, fazia muito tempo. E não havia
nada que ele pudesse fazer aqui... — a voz de Ginny falhou, à medida que a dura
constatação tomava lugar.
Steel estava certo. Fora isso mesmo o que acontecera. Ginny já não podia enganar a si
mesma quanto às prioridades de Howard, nem evitar a dor provocada por elas.
— Você sabe que foi exatamente como eu disse, Ginny — Steel insistiu. — Assim
como sabe que Howard foi a última pessoa em que pensou, quando se entregou em
meus braços com tamanha paixão.
Vendo-se privada de uma desculpa, Ginny encontrou outra:
— Você me forçou!
— Forcei? Posso admitir, no máximo que persuadi você. Não preciso usar força com as
mulheres. Se seus favores não são dados de livre e espontânea vontade, podem ser
comprados!
A resposta humilhante fez Ginny fechar os olhos. Não os meus, ela pensou, sentindo o
fervor feminista tomar conta de seu ser.
— Nem toda mulher tem um preço — declarou. — E nem todas se impressionam com
a figura do macho agressivo e dominador. Posso lhe assegurar que o dinheiro não pode
comprar o que eu não estaria preparada para dar de graça nas circunstâncias adequadas.
— E quanto ao dinheiro necessário para impedir o fechamento da Sullivan's?
Ginny nem se esforçou para esconder o ressentimento que brilhou em seus olhos.
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Chocada com a aparente indiferença de Steel, ela o observou atirar a camiseta sobre o
ombro e virar-se para fitá-la, com ar de quem esperava uma resposta.
— Como se atreve a bisbilhotar nossos negócios? — inquiriu.
Ele deu de ombros.
— Não há nada de confidencial em pedidos de falência e concordata. Os detalhes
foram publicados no jornal de ontem. Além disso, não faz sentido rasgar as evidências, e
simplesmente deixá-las no cesto de papéis, para quem quiser ver.
— Meu pai não sabe... e não deve saber.
— Gostaria de saber como pretende prolongar a ignorância dele. O tempo não está a
seu favor, está?
— Encontrarei um meio.
— Que dizer que não está interessada em minha oferta de ajuda financeira?
— Nada do que possa me oferecer desperta o menor interesse.
— Está errada, Ginny. E vou provar isso a você.
Com estas palavras, Steel voltou a aproximar-se e segurou-lhe o queixo entre as mãos,
forçando-a a encará-lo. Amaldiçoando o impulso de provocá-lo, Ginny viu-se incapaz de
fugir àquele olhar penetrante.
— Sei exatamente quanto a situação é desesperadora — ele falou. — Além da ameaça
de fechamento imposta pela prefeitura, porque os armazéns foram originalmente
construídos como garagens, e o armazenamento de produtos neles é ilegal, você tem
milhares de libras em haver, de clientes que não podem, ou não vão pagar. Não bastando
tudo isso, o principal fornecedor da Sullivan's está ameaçando romper o contrato de
exclusividade por falta de garantia de venda.
— Como pode saber sobre a Orchid?
— Ora, acorde, Ginny! A Sullivan's não existe num vácuo. Trata-se de um mercado
muito competitivo. As notícias correm. — Steel suavizou a voz, embora continuasse a fitá-
la por entre olhos estreitos. — Nessas circunstâncias, eu diria que posso oferecer muito à
Sullivan's. Não só ajuda financeira para impedir o fechamento dos armazéns, mas
também para instalar um sistema computadorizado de controle de crédito, bem como
contratar ao menos dois bons vendedores para promover os produtos com o estilo que
eles merecem.
— Não! Papai jamais aceitaria ficar nas mãos de um agiota!
— Mas aceitaria um sócio — Steel sugeriu, ignorando o ataque à sua integridade.
— Nunca. Papai sempre disse que jamais aceitaria um sócio, pois a Sullivan's sempre
foi e, segundo ele, sempre será uma firma familiar. Ele quer que eu herde o negócio.
— Mesmo que o negócio deixe de existir? — Steel segurou-lhe os ombros, quando ela
ameaçou virar-se. — Vai gostar de saber que conversei com ele e o persuadi a mudar de
idéia.
— Foi visitar meu pai no hospital? — Ginny inquiriu incrédula. — Foi capaz de invadir a
vida de um homem doente...
— Um amigo doente — ele a corrigiu. — Leo e eu somos amigos. Ele gostou de me
ver. Pode estar fisicamente doente, mas não é bobo, Ginny. Quando o deixei, estava se
sentindo muito melhor. A principal causa daquela úlcera foi o fato de ele estar trabalhando
vinte e quatro horas por dia, na tentativa de salvar o que ele vê como sendo a sua
herança. Acredite, ele agarrou a oportunidade de uma injeção de capital. Atordoada,
Ginny recuou um passo.
— Está mentindo — acusou-o. — Nada convenceria meu pai a vender parte da
Sullivan's.
— Está enganada. Eu disse uma coisa que, não só o fez mudar de idéia, como também
trouxe um sorriso de pura felicidade àquele rosto pálido.
— O que foi?
Steel deu de ombros, num gesto de indiferença.
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— Ora, que você e eu estamos perdidamente apaixonados um pelo outro, e que


pretendemos nos casar assim que ele estiver em condições de levar você até o altar.
CAPÍTULO V

A surpresa deixou Ginny boquiaberta, e ela precisou de alguns segundos para


conseguir falar.
— Mas... mas ele jamais acreditaria nisso! Sabe que estou apaixonada por Howard e
que pretendemos nos casar...
— Ele sabe o que você disse a ele. Mas Leo me confidenciou que nunca acreditou que
você fosse levar essa história até fim. Achava que, mais cedo ou mais tarde, você
perceberia o erro que estava cometendo. E ele apostou na esperança de que, depois da
viagem a Roma, tendo sido forçada a conviver com Howard por dias e dias, você se
desse conta de que ele não passa de um machão egoísta.
— Papai disse isso?
Ginny sentiu a mente girar. Embora seu pai nunca houvesse demonstrado oposição
aos seus planos de casamento, ela sempre desconfiara que ele não gostava muito de
Howard. Só não se dera conta de que tal sentimento era tão profundo.
— Sim. Pode imaginar a felicidade dele, quando eu lhe disse que você já havia visto a
luz, e que estávamos apenas esperando que ele se recuperasse por completo, para
envolvê-lo em nossos planos?
— Mas, nós... você e eu... mal nos conhecemos!
Ela passou as mãos pelos cabelos. Era como se estivesse vivendo um pesadelo.
— Isto poderia ter sido um problema, eu admito — Steel falou, dando mostras de que
arquitetara muito bem o seu plano. — Felizmente, consegui convencê-lo de que nós dois
nos conhecemos há seis meses, numa feira de fornecedores em Birmingham, e que
nossa amizade continuou durante seu último semestre na universidade, até se
transformar em amor. Então, era apenas uma questão de você livrar-se de Howard de
maneira sutil, o que você fez, antes de deixar Birmingham. Ginny engoliu seco.
— Disse ao meu pai que eu já havia cancelado minhas férias, antes de ele ficar
doente?
— Foi o que me pareceu a melhor opção. Disse a ele que você não tinha encontrado
coragem para dar a notícia a ele.
Ginny sentiu-se ameaçada por uma crise histérica.
— Como soube que eu estive naquela feira? Tem poderes paranormais?
Steel sorriu.
— Eu estava com outras coisas na cabeça, quando estive aqui, naquela primeira noite.
Mas seu rosto me pareceu familiar, e não demorei a me lembrar onde a vira antes.
— Eu estava lá, mas não vi você. Nunca conversamos.
— Você estava envolvida numa venda, e eu tinha outros compromissos. Mas o vestido
vermelho que você usava ficou gravado na minha memória. Se eu não estivesse tão
ocupado, teria convidado você para jantar.
— Eu teria recusado! — ela respondeu de pronto, fazendo uma anotação mental para
doar o vestido vermelho ao bazar de caridade. — Está me dizendo que papai engoliu toda
essa... essa asneira?
— Sim, e com muita facilidade.
Os olhos escuros zombavam da expressão indignada no rosto de Ginny.
— Nesse caso, quanto antes ele souber que foi feito de bobo, melhor! Se pensa que
vou fazer parte dessa farsa absurda...
— Ah, vai sim, Ginny — Steel interrompeu-a com voz dura e autoritária. — E a sua
única chance de fazer com que a Sullivan's não vá a falência. Sabe disso tão bem quanto
eu.
— Por que está fazendo isso? — ela inquiriu.
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— Tenho minhas razões, mas elas não são da sua conta, por enquanto. Tudo que
peço a você, é que represente o papel da noiva apaixonada e feliz.
— E se eu recusar?
— Será a responsável pela falência da Sullivan's... e de um possível colapso de seu
pai. — Steel enfiou a mão no bolso da calça, ignorando o olhar maligno de Ginny.
— A fim de tornar a ilusão mais real, use isto.
Ela observou-o abrir uma caixinha de joalheria, revelando um anel de diamante e
safira. As palavras que ele pronunciara no restaurante ecoaram em sua mente: "Se fosse
minha noiva, Ginny, usaria um anel."
— Pronto — ele declarou, depois de colocar o anel em seu dedo. — Nada mau.
Ginny baixou os olhos para a mão, sentindo "um profundo vazio, onde seu coração
deveria estar batendo. Desde o primeiro encontro, Steel Anastasi dera-se conta de que
ela faria qualquer coisa para ajudar o pai. Mas, quando decidira armar aquela farsa
terrível? E, por quê?
— Por quanto tempo terei de sustentar essa mentira?
— perguntou com voz desprovida de emoção.
— Até que ela atinja seu propósito. — Sem mais, Steel consultou o relógio. — Agora,
acho que está na hora de me apresentar aos funcionários e colocá-los a par da nova
situação.
— Voltarei num instante.
Ansiosa para movimentar-se, a fim de dissipar parte da tensão que se acumulara em
seus músculos, Ginny encaminhou-se para a porta, mas logo sentiu a mão forte segurar-
lhe o ombro.
— Sua presença não faz parte dos meus planos, Ginny
— Steel informou-a com voz suave... demais. — Sou perfeitamente capaz de explicar
tudo a eles e prefiro fazer, isso sozinho.
— Mas eu preciso estar lá...
— Correção. Você precisa ficar aqui, Ginny. Parte do meu acordo com Leo foi que você
ficaria fora da administração direta dos negócios. Tenho certeza de que terá muito com o
que se ocupar por aqui. Para começar, tenho certeza de que Kefi está louco para
conhecer seu novo lar, bem como para fazer sua primeira refeição do dia. Depois,
imagino que vá querer visitar seu pai no hospital, e receber a bênção dele.
— Mas... — Ginny começou a falar, mas logo parou, consciente de que ele não lhe
deixara escolha.
— Então, até a noite, agape mou. Mas, antes que eu me vá, acho que precisamos de
um ensaio para pôr um pouco de brilho nos seus olhos e maior convicção na
representação que fará para Leo.
O passo que Ginny recuou ao perceber as intenções de Steel, foi pequeno demais e
muito tardio, pois ele já a tomara nos braços e pousava os lábios exigentes nos dela,
selando assim o acordo ao qual a forçara. Então, por que o que ele planejara ser uma
lição, estava lhe proporcionando tanto prazer? Sem encontrar resposta, Ginny
abandonou-se às carícias, deixando o corpo buscar sua complementação nos músculos
fortes e viris.
Foi o gemido profundo de Steel que a trouxe de volta à realidade, quando ele a soltou
de maneira abrupta, empurrando-a como se o contato o tivesse contaminado.
Ao vê-lo virar-se para sair, Ginny sentiu a vergonha e o desprezo por si mesma
acenderem sua ira.
— Saia de minha casa! — ordenou. — Não vou delatar seu plano sórdido, mas isso
não lhe dá o direito de ir e vir como bem entender. Quanto menos eu ver você, melhor.
— Ah, já ia me esquecendo — ele falou, parando na soleira da porta. — Leo estava
muito preocupado com o fato de você morar sozinha nesta casa, pois soube de assaltos e
ataques a mulheres sozinhas na vizinhança, recentemente. Então, prometi a ele que me
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mudaria para cá e a protegeria. Trarei minhas coisas ainda hoje.


Ginny bateu a porta e foi sentar-se numa poltrona na sala, sentindo-se como se
houvesse sido arrancada da segurança de um mundo familiar, e atirada numa paisagem
bizarra e totalmente estranha.
Ao menos, consolou-se, por mais aliviada que se sentisse pela operação de resgate da
companhia que fora montada, ela não devia nada a Steel em termos de gratidão. Afinal,
ele a atirara num cenário, onde as falas e a natureza de seu co-ator eram desconhecidas.
Não era de admirar que ele não lhe permitira acompanhá-lo ao escritório. Porém, ela
não tinha a menor intenção de obedecê-lo. Cathy e Duncan estariam ansiosos para vê-la
e lhe dar os parabéns pelo noivado inesperado, e Ginny não pretendia desapontá-los.
Ainda assim, talvez fosse melhor dar-lhes tempo para se recuperarem da série de
choques que Steel estava prestes a lhes dar.
Passou a hora seguinte tentando ocupar a mente com a arrumação da casa, embora
desde que sua mãe morrera de meningite, quando Ginny tinha quatro anos, Leo houvesse
assumido a administração doméstica com determinação, deixando pouco para a filha
fazer.
Leo era um pai espetacular: afetuoso, tolerante e leal. A proximidade entre eles
desafiava o chamado conflito de geração, apesar de ele já ter quarenta e três anos
quando Ginny nascera. E ela faria qualquer sacrifício por ele, até mesmo preparar o
quarto de hóspedes para o novo sócio, se isso fosse ajudar na recuperação da saúde de
Leo. Porém, como ele reagiria quando soubesse que fora enganado? Ginny afastou o
pensamento, decidindo que haveria tempo de sobra para pensar nisso, depois que Steel
alcançasse seus objetivos, e a Sullivan's estivesse em condições de igualdade com a
concorrência.
Já era quase meio-dia, quando Ginny atravessou o pátio e entrou no escritório,
preparada para guerrear com Steel, caso fosse necessário. Porém, não havia o menor
sinal dele, e Cathy correu para ela com um grande sorriso.
— Ginny, querida! Que notícia maravilhosa! — Os olhos da mais velha encheram-se de
lágrimas, embora fosse difícil dizer se a emoção se devia ao resgate da companhia, ou à
suposta felicidade de Ginny. — E que surpresa!
— Não é mesmo? — Ginny falou com falsa animação. — Nem eu mesma acredito!
Continuou sorrindo, quando Cathy a soltou e Duncan aproximou-se para cumprimentá-
la. A secretária, continuou:
— É claro que compreendemos sua preocupação em esperar que Leo se recuperasse,
para dar-lhe a notícia. Foi uma grande ironia ele acabar forçando você a revelar o seu
segredo, justamente por recusar ajuda financeira do homem que, na verdade, já era seu
noivo! Gostaria de ter visto a cara de Leo quando o Sr. Anastasi... Steel, contou a ele!
— Também gostaria de ter estado lá — Ginny falou, mal conseguindo disfarçar o tom
ácido do comentário.
Ao que parecia, Steel já dera todas as explicações e, evidentemente, esbanjado seu
charme. Era estranho pensar que Cathy e Duncan conheciam seu "noivo" há muito mais
tempo que ela.
— Imagino que Steel já tenha colocado vocês dois inteiramente a par da situação.
— Exatamente, querida.
Ginny não ouvira a aproximação de Steel. Ao ouvir a voz profunda, virou-se e ergueu o
queixo, num gesto que o desafiava a reprovar sua presença ali.
— Pensei que fosse visitar seu pai — ele falou, passando um braço em torno de seus
ombros.
— E vou, querido — Ginny respondeu com um sorriso tenso. — Só passei por aqui
para perguntar a Cathy se ela precisa de alguma ajuda.
— Não — Steel recusou a oferta em tom suave. — Está tudo sob controle. O que a
Sullivan's precisa agora é de mais ajuda "profissional". E é exatamente o que estou
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organizando. Além disso, estou usando a mesa de Leo, e não haveria lugar para você.
Por que não vai até o hospital agora mesmo? Imagino que Leo tenha mil perguntas a lhe
fazer. Depois, pode aproveitar para fazer algumas compras. Não é mais uma bibliotecária,
querida, e não precisa continuar se vestindo como tal.
Ginny sentiu uma onda de calor tomar conta de seu corpo.
— Mas... — começou a protestar, mas lembrou-se de que tinham companhia.
— Não se preocupe em preparar o almoço — Steel falou em tom tranqüilizador. —
Terei um dia muito ocupado. Conversaremos durante o jantar.
Com firmeza, levou-a para fora do escritório. Assim que se encontravam a uma
distância segura de ouvidos curiosos, ele acrescentou:
— Já lhe disse que não há lugar para amadores nesta companhia. Não gosto de ser
desobedecido, Ginny.
— E eu não gosto de receber ordens, como se fosse uma criança! Pode ter convencido
meu pai que é algum tipo de herói, mas eu sei que não é e não confio em você. Virei ao
escritório quantas vezes quiser, para ficar de olho no que você está fazendo.
Decidida a ter a última palavra, girou nos calcanhares.
— Vai fazer o que eu mandar.
O comentário de Steel chegou aos ouvidos de Ginny no momento em que ele a tirava
do chão, carregando-a sobre o ombro.
Raiva, indignação e um pouco de medo mesclaram-s no grito que ela soltou.
— Ponha-me no chão, seu bruto!
Esmurrou-lhe as costas em vão, durante o curto trajeto até a porta dos fundos da casa
de Leo.
Ao chegar lá, Steel retirou a chave do bolso de trás da calça de Ginny e abriu a porta.
— Ponha-me no chão! — ela repetiu aflita.
Sem dizer uma palavra, Steel subiu a escada, escolheu uma porta qualquer e entrou.
Emitiu um som de aprovação ao deparar com a cama enorme de Leo, onde depositou seu
fardo, sem a menor preocupação com a dignidade dela.
Ginny engoliu seco, chocada com as sensações conflitantes que agitavam seu corpo,
bem como pela constatação de que não era a única a sofrer os efeitos do contato corporal
tão íntimo, partilhado até segundos antes. Steel a examinava com expressão tensa,
também perturbado pela torrente de emoções e sensações que envolvia a ambos.
Tudo o que ela pôde fazer, foi fitá-lo com um pedido desesperado no olhar para que ele
não a tocasse.
Quando finalmente se moveu, Steel estendeu o braço para tocá-la com suavidade
surpreendente, acariciando-lhe a face com imensa ternura.
— Não lute contra mim, Ginny. Estamos do mesmo lado.
— Verdade? Se é assim que trata seus aliados, o que acontece a seus inimigos?
— Comporte-se, e não precisará se preocupar com isso. E não se esqueça de mandar
lembranças minhas a Leo.
Foi somente no começo da tarde que Ginny sentiu-se preparada para visitar o pai. Até
então, ensaiara cuidadosamente o papel que lhe fora imposto. Não poderia deixar Leo
perceber que seu "noivado" com Steel não passava de uma farsa, embora detestasse
enganá-lo. Era evidente que seu pai tinha em altas contas o homem que o levara a
acreditar que seriam parentes em breve.
Tudo aquilo era muito estranho, pensou, enquanto estacionava o carro no hospital. Leo
costumava ser ótimo no julgamento do caráter das pessoas. Talvez a doença houvesse
perturbado sua capacidade de discernir o falso do genuíno.
Respirou fundo antes de bater na porta do quarto.
— Ginny, querida! — ele a recebeu com um sorriso largo. — Foi a melhor notícia que
recebi nos últimos anos! Antes que possa dizer qualquer coisa, quero deixar claro que
Steel me explicou tudo e que eu compreendo perfeitamente a sua hesitação inicial. Para
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ser honesto, nunca acreditei que Howard fosse o homem certo para você, mas sempre
achei que não cabia a mim criticar a sua escolha.
— E aprova a minha escolha de Steel? — Ginny inquiriu, tratando de disfarçar a ironia
em sua voz.
— Completamente! Nós nos conhecemos há uns dois anos, desde que ele começou a
comprar restaurantes que operavam no vermelho, reformá-los e transformá-los em
negócios de sucesso. Nada mal para um jovem que deu as costas à sua terra natal e à
família aos dezoito anos, para traçar seu próprio destino, não é? — Sem esperar pela
resposta, Leo mudou de assunto. — Tenho de ser honesto com você, filha. Durante os
últimos seis meses, a Sullivan's tem enfrentado problemas intermináveis. Em certos
momentos, tive dúvidas quanto ao futuro da companhia. Agora, ao menos, posso
descansar em paz, sabendo que tanto o seu futuro, quanto o da companhia, estão em
boas mãos.
— Claro que pode, papai. Tudo o que tem de fazer agora é ficar bom o mais depressa
possível, para me levar ao altar.
Ginny detestava mentir para o pai, mas valia a pena ver o sorriso luminoso atenuar as
linhas naquele rosto cansado. Quando chegasse o momento de desiludi-lo, ela tinha
certeza de que seria perdoada. Então, poderia recomeçar sua vida do ponto em que
parará. Quem sabe, até fizesse o curso de pós-graduação que havia planejado. Sua vida
voltaria a ser a mesma... exceto por Howard, que jamais a perdoaria por participar
daquela farsa.
Disfarçando os conflitos interiores, Ginny fez companhia ao pai por mais de uma hora,
até notar que ele começava a demonstrar cansaço. Então, despediu-se e foi embora.
Passou as horas seguintes dirigindo pelo campo, tentando compreender os eventos
que haviam agitado a vida tranqüila e estável que tivera até então.
O ponto central de seu dilema era Steel Anastasi. Era óbvio que ele planejava obter
altos lucros com a negociação da Sullivan's. Do contrário, não iria tão longe para atingir
seus objetivos.
Distraída pelos pensamentos, não se deu conta de que dirigira por tanto tempo, e já
escurecia quando chegou em casa. Encontrou o Lotus estacionado na garagem e viu as
luzes acesas dentro da casa.
— Como entrou aqui? — ela inquiriu com voz trêmula de raiva, ao abrir a porta.
— Calma, querida — ele respondeu com a maior calma. — Fiquei com a chave,
lembra-se? Além disso, quem deve explicações é você. Onde esteve até agora?
— Passeando — ela retrucou com insolência. — Por quê? Esperava que eu
preparasse o seu jantar, além de lhe oferecer uma cama?
— Como seu pai me designou seu protetor "oficial, eu esperava ao menos a cortesia
de ser informado sobre o seu paradeiro. Telefonei para o hospital e me disseram que
você havia saído há horas.
— Estava apenas passeando... Tinha muito no que pensar. — Era difícil para Ginny
esconder a mágoa e a raiva que toda a situação lhe provocava. — Pretende me manter
em cárcere privado?
— A idéia de domar seu temperamento irascível e, ao mesmo, ensinar-lhe a arte de
agradar um homem não é nada má — ele comentou com um sorriso. — Talvez eu deva
pensar melhor no assunto. Já comeu?
— Só almocei. — Aliviada por ele ter mudado para um tom mais ameno, Ginny decidiu
tratá-lo com civilidade, — Não estou com muita fome.
— Planejei levá-la para jantar num restaurante, mas, no seu estado de ânimo, vamos
ser expulsos de qualquer ambiente decente. Que tal pedirmos comida?
Ginny deu de ombros com ar indiferente. A raiva inicial passara e o bom senso lhe dizia
que não faria sentido provocá-lo. Estava presa a um homem decidido a conseguir o que
queria a qualquer custo. Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Poderia ele querer algo mais
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que um simples noivado falso? Não, tal receio tinha um quê de melodrama. Nenhum
homem normal iria tão longe em seus jogos. Por outro lado, o que havia de normal num
homem que acreditava que toda mulher tinha um preço?

CAPÍTULO VI

— Posso pedir uma pizza por telefone — Ginny sugeriu.


— Boa idéia. Estarei esperando na sala.
Ginny demorou apenas alguns segundos para fazer o pedido, mas como estava
determinada a não receber mais ordens de Steel, decidiu subir para tomar um banho e
trocar de roupa.
A lembrança do comentário de Steel sobre suas roupas fez com que procurasse no
armário um traje mais sofisticado para usar durante o jantar. Escolheu um vestido
simples, porém elegante, e sandálias de salto alto. A estatura aumentada a ajudaria a
sentir-se mais confiante.
— Acho que vai se sentir melhor com isto — Steel falou, assim que ela entrou na sala,
oferecendo-lhe uma taça de champanhe.
— Champanhe? Não acha que é muita ostentação? — ela inquiriu em tom irônico,
sabendo que o estoque limitado de bebidas mantido pelo pai não incluiria champanhe.
— Sou tradicional. Haveria melhor maneira de comemorarmos a ascensão da
Sullivan's e o nosso noivado?
— Brindarei à Sullivan's. — Ginny apanhou o copo e virou-o de uma vez. Quando
conseguiu respirar de novo, estendeu o copo vazio, mantendo a cabeça erguida e um
olhar imperioso.
Steel voltou a encher o copo.
— Deve estar planejando obter grandes lucros na Sullivan's, para ser capaz de ir tão
longe por uma simples sociedade — Ginny acusou-o sem preâmbulos.
— E eu que pensei que você me agradeceria de joelhos pelo resgate de última hora
dos negócios de seu pai!
Steel parecia divertir-se com a atitude dela. Encheu uma taça de champanhe para si,
antes de sentar-se confortavelmente no sofá.
— Pensou que eu me deixaria manipular com facilidade? — ela voltou a atacar. — Não
lhe ocorreu que poderíamos resolver o problema sem a sua ajuda? Howard tem dinheiro
guardado, e teria nos emprestado o necessário para impedir o fechamento dos
armazéns...
— Não diga bobagens, querida. Um homem que viaja em férias quando a mulher que
diz amar encontra-se numa situação como essa, não vai arriscar suas economias para
salvar os negócios do pai dela. Leo sabe disso, assim como você. Mesmo para um
estranho, como eu, é evidente que os seus interesses, bem como os de seu pai, não
fazem parte das prioridades de Howard.
Por mais que se sentisse magoada pelas palavras, Ginny viu-se forçada a admitir que
Steel estava certo. Porém, não queria dar o braço a torcer.
— Como você mesmo disse, é o que parece para um estranho como você.
— Não sou mais um estranho, Ginny. — Steel pôs-se de pé e tirou o copo da mão de
Ginny. — Está se esquecendo de que sou o futuro genro de Leo Sullivan, o que me
transforma em parente próximo.
— Só nas aparências! Quero saber a verdade, Steel. Qual é o seu interesse nessa
história?
— Além de ensinar a lição sobre os perigos da negligência? E assim que ganho a vida,
Ginny. Resgatando e ressuscitando. Assumo o comando de negócios enfraquecidos e
cheios de falhas e os transformo em investimentos de sucesso. É um desafio. A Sullivan's
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é uma companhia de primeira linha, com grande potencial para expansão futura. Além
disso, é do meu interesse manter o fornecimento de produtos de alta qualidade para os
meus restaurantes. O que acha que eu deveria ter feito? Devia aceitar a recusa de Leo
em receber ajuda? Já lhe disse que o considero um grande amigo. E você conhece o
modo dele encarar as coisas. Por causa de você, Ginny, Leo estava prestes a levar a
companhia à falência de uma vez. — Depois de observá-la em silêncio por alguns
instantes, Steel acrescentou: — Se quiser voltar ao hospital e desiludir seu pai, não posso
impedi-la. Mas sugiro que pense bastante antes de tomar uma decisão.
— Sabe muito bem que não posso contar a verdade agora, depois de ele ter ficado
tão...
— Feliz é a melhor palavra para descrever os sentimentos de Leo.
Para alívio de Ginny, a campainha tocou, dando-lhe uma desculpa para fugir da
conversa. Apressada, foi receber a pizza na porta, levou-a para a cozinha e pôs-se a
arrumar a bandeja. Enquanto isso, seus pensamentos vagaram até a primeira vez em que
vira Howard.
Haviam se conhecido durante um campeonato inter-universidades de tênis, quando
Ginny cursava o segundo ano da faculdade. O porte atlético e os fartos cabelos loiros
haviam chamado a atenção de todas as amigas dela. Ah, e como se sentira lisonjeada,
quando Howard demonstrara estar interessado em sua companhia! Ginny estava sempre
à disposição quando ele a procurava, e era sempre muito compreensiva quando ele
desmarcava um encontro por causa de outro compromisso qualquer.
Fora um relacionamento fácil, repleto de tolerância, mesmo que às vezes ela preferisse
ser tratada como uma mulher irresistível, do que como irmã. Porém, dissera a si mesma
que a aparente distância de Howard devia-se ao respeito que ele tinha por ela.
E, como Ginny jamais desejara relacionamentos conturbados, que terminariam em
lágrimas e desespero, a associação era perfeita. Os amigos os viam como um casal
estável, que certamente chegaria ao casamento.
Com um suspiro profundo, Ginny refletiu que Howard jamais lhe propusera casamento.
Haviam deixado que a situação se fizesse por si mesma, sendo o casamento o desfecho
mais lógico a se esperar. Tinha de admitir que tal união jamais seria um casamento cheio
de aventuras e novidades. Formariam um casal conformista e sossegado, partilhando
respeito mútuo, dando um excelente exemplo para os garotos, alunos de Howard. Quem
precisava de aventura e paixão, afinal?
Ginny deu-se conta de que seus pensamentos estavam se formulando no tempo
passado. Enquanto cortava a pizza, aceitou a constatação inevitável: Howard estava fora
de sua vida para sempre. Não só porque ficaria furioso ao saber de sua participação na
conspiração de Steel, mas também porque ela descobrira uma verdade da qual não
poderia fugir: não amava Howard. Porém, essa verdade jamais seria admitida diante de
Steel, que agira como catalisador de tal revelação.
Assim que ela entrou na sala, o arrogante destruidor de seus sonhos levantou-se para
tirar a bandeja de suas mãos.
— Parece deliciosa — ele sorriu com aprovação. — Mas acho que você subestimou
meu apetite!
— Duvido. Além do mais, não estou com fome. Descobrir que estou noiva de dois
homens ao mesmo tempo tirou meu apetite.
— Isso é fácil de resolver. Basta telefonar para Roma e dizer a Howard que ele voltou a
ser um homem livre.
— Não posso fazer uma coisa dessas! Não é tipo de notícia que se dá por telefone.
— Não só pode, como vai fazer isso, Ginny. Se não ligar, eu mesmo ligarei, pois Leo
pensa que você já conversou com Howard. Além disso, não é do meu feitio dividir uma
mulher.
— Já que a questão de me "dividir" não está em pauta, cabe a mim decidir como e
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quando contar as novidades a Howard. Mais uma Steel, estou farta de sua interferência
em minha vida, e detesto quando se refere a mim como se eu fosse uma pizza!
— Quente, saborosa, suculenta... para ser apreciada no restaurante, ou levada para
casa e desfrutada com tranqüilidade? — Ele sorriu. — Não foi isso o que eu quis dizer,
mas já que você tocou no assunto, não é má idéia.
— Não estou brincando — ela protestou. — O fato de ter me forçado a assumir um
papel falso, não lhe dá o direito de me dar ordens.
— Ah, não sei — Steel comentou pensativo, enquanto saboreava um pedaço de pizza.
— Depois de ter investido uma quantia de seis dígitos num negócio nem um pouco
estável, acho que comprei o direito de fazer isso e muito mais.
— Está mencionando o valor em moeda grega? — Ginny inquiriu alarmada.
— Não. Não faço negócios em dracmas. Nem paguei em dólares, mas sim, em libras
esterlinas.
— Mas... Só precisamos de alguns milhares de libras para os custos legais...
— Acorde, Ginny! Pode ter passado os últimos anos vivendo a irrealidade dos
corredores acadêmicos, mas não pode ser tão ingênua. Sabe muito bem que há muito
mais em jogo, no caso da Sullivan's, do que simples burocracia. A companhia precisa de
uma reciclagem completa, incluindo a aquisição de um sistema de computadores para
controlar compras, vendas, movimento de estoque, emissão de notas fiscais... E isso
custa muito dinheiro.
Ele estava certo. Afinal, a própria Ginny chegara a essa conclusão, dias antes. Mesmo
assim, a quantia que ele sugeria era assustadora. Não era de admirar que Leo houvesse
recusado a oferta, inicialmente.
— Portanto — Steel continuou com sua calma inabalável —, não podemos correr o
risco de ter o seu namoradinho voltando e esperando recomeçar o relacionamento do
ponto em que parou.
— Por acaso, é um hábito seu andar por aí, destruindo as vidas das pessoas? — Ginny
inquiriu com amargura.
— Transformando seria uma palavra melhor. Por outro lado, eu não desperdiçaria
lágrimas com Howard. Se ele for metade do homem que imagino que seja, vai superar
com facilidade o seu abandono.
— E quanto aos meus sentimentos? Eles não contam nada, afinal?
— Não devia ter feito essa mesma pergunta a Howard, quando ele decidiu sair de
férias sem você? Esqueça-o, Ginny. Duvido que ele esteja pensando muito em você,
enquanto desfruta os prazeres da Itália. Além do mais, não posso deixar que você
carregue dramas emocionais. Quero que esteja em boas condições, quando eu a
apresentar ao meu pai, como minha noiva.
— Seu pai? — Ginny repetiu com voz fraca, cada vez mais confusa.
— Pensou que eu fosse órfão? — Steel perguntou com um sorriso zombeteiro. —
Relaxe! Não vai ser tão difícil. Tudo o que terá de fazer será sorrir com cortesia quando
for apresentada a ele, e agir como uma garota prestes a entrar para uma das famílias
mais ricas da Grécia, desde Onassis. Terá de mostrar-se entusiasmada, como todas as
mulheres que se descobrem muito próximas da carteira de um milionário.
Milionário? Ginny fitou-o boquiaberta, a mente em disparada. Finalmente lembrou por
que o nome Anastasi lhe soara familiar. Era um nome que aparecia com freqüência nas
páginas de finanças de todos os jornais. E, também, explicava muito sobre Steel, e seu
modo autoritário de resolver as coisas.
— Pandelis Anastasi — ela declarou, irritada por não ter se lembrado antes —, o
magnata dos ramos de hotelaria e imobiliária... é seu pai?
— Está dizendo que só se deu conta disso agora?
— É claro que já ouvi falar dele, mas Anastasi é um sobrenome comum na Grécia, não
é? Pensei que...
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— Que minhas origens eram mais humildes?


— Sim — ela admitiu, ainda lamentando não ter percebido antes. O Lotus Carlton, o
terno sob medida, a arrogância nata... — Mas o Keys of Corfu não pertence à Anastasi
Holdings. Meu pai vem tentando vender para eles há anos!
— Vejo que não se manteve em completa ignorância, enquanto se divertia em outro
lugar. Meus interesses são totalmente diferentes dos de meu pai. Meus negócios não têm
nada a ver com a Anastasi Holdings. Nem quero que seja assim.
— Então, por que está fazendo tudo isso? Mais precisamente, por que me escolheu?
Imagino que existam muitas mulheres em sua vida, todas mais que dispostas a fazer o
papel de sua noiva, sem que você precisasse investir tanto dinheiro na compra de uma!
— É verdade que muitas delas estão loucas para partilhar a minha cama, mas
nenhuma serve aos meus propósitos.
— Que propósitos? — Ginny perguntou, encolhendo-se na poltrona, enquanto
esperava a revelação do verdadeiro preço que teria de pagar.
— Pretendo destruir os planos que meu pai vem construindo cuidadosamente, sobre a
idéia falsa de que eu o resgataria de qualquer dificuldade, independentemente do custo
pessoal que isso representaria para mim.
Não era o que Ginny esperava. Confusa, ela se lembrou da visita ao pai, no hospital.
— Meu pai comentou que você deu as costas à sua família quando era mais jovem...
— Um conflito que Pandelis prefere ignorar. Sua longa associação a mulheres vadias
fez com que criasse a impressão de que todos podem ser comprados pelo preço correto.
Não questiono tal opinião no que diz respeito às mulheres, mas a minha integridade não
está à venda.
A vida certamente desferira algum golpe erguei contra Steel, quando ele era ainda
muito jovem. Do contrário, ele não seria capaz de tamanho cinismo e amargura. De
repente, Ginny desejou saber mais sobre a história dele.
— Você se recusa a cooperar com seu pai por causa de algo que aconteceu há anos?
— arriscou.
— Há quinze anos, precisamente. Eu tinha dezessete. Ela se chamava Louli, era
alguns anos mais velha que eu, muito bonita e boa... excelente na cama. Eu era jovem e
arrogante, mas apaixonei-me perdidamente. Queria me casar com ela... até o dia em que
a encontrei com meu pai, em circunstâncias que deixavam poucas dúvidas quanto à
intimidade do relacionamento dos dois.
— Oh!
Por mais que tentasse, Ginny não pôde conter a indignação, ao imaginar a cena
sórdida. Era fácil imaginar o choque e a desilusão de Steel.
— Louli explodiu em lágrimas, mas meu pai caiu na risada. Disse que Louli era sua
amante havia dois anos, e que ele pagara para ela me iniciar nos ritos do que ele gostava
de chamar de amor. — Steel fitou Ginny com cinismo. — Não vai rir? Não acha a história
engraçada?
— Eu acho... Acho que, seja qual for o papel de seu pai no que aconteceu, Louli não
teria se tornado sua amante, se não gostasse nem um pouco de você. — Como ele
continuasse calado, Ginny arriscou: — O que quero dizer é que é possível que ela
gostasse e admirasse em você as mesmas qualidades que a haviam atraído para o seu
pai. Do contrário, fosse qual fosse a recompensa oferecida por seu pai, ela não teria sido
capaz de...
— De fazer sexo comigo? — Steel soltou uma risada amarga. — Como você é
ingênua, Ginny! Sexo é simplesmente uma função do corpo, um apetite que exige
satisfação, uma sede que tem de ser aplacada, um truque da natureza para garantir a
continuidade da espécie humana. De qualquer maneira, saí de casa, abandonei a
faculdade e trabalhei em tavernas para turistas, economizando tudo o que podia para me
sustentar durante o serviço militar. Depois, voltei ao mesmo trabalho, sempre
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economizando, até poder comprar minha própria taverna. O resto, como dizem, é história.
Tenho restaurantes em todas as capitais livres da Europa.
— E Louli? — Ginny perguntou em voz baixa. Ele riu.
— Um ano depois de minha partida, Pandelis livrou-se dela, pois havia encontrado uma
jovem que não se contentaria com nada menos que um casamento. Aquela altura, ele já
estava viúvo há dez anos e, sem dúvida, sua resistência e seu apetite começavam a
diminuir. Pandelis precisava de algo mais permanente que o interminável desfile de
mulheres que haviam tomado o lugar de minha mãe.
Sensível o bastante para saber que ele não suportaria o sentimento de piedade que
tomara conta de Ginny, ela permaneceu em silêncio, esperando que ele continuasse.
— Demorei cinco anos para perceber que meu pai havia me ensinado uma lição muito
mais valiosa do que mera experiência sexual: toda mulher tem seu preço! Algumas são
mais difíceis, outras querem dinheiro e jóias, enquanto muitas esperam fama e posição
social. Ambição, Ginny. Esta é uma emoção que consigo respeitar, uma moeda com a
qual sei lidar, mas nos meus termos. E a recompensa que me disponho a pagar tem de
justificar os meus esforços.
— Ao menos, é honesto com relação à sua atitude.
— Assim, ninguém sai magoado.
— Exceto seu pai? Ainda não me explicou como o falso noivado comigo vai destruir os
planos de seu pai.
— Meu pai, com sua audácia costumeira, decidiu, mais uma vez, escolher uma mulher
para aquecer minha cama. Só que, desta vez, decidiu-se por uma de virtude impecável:
Irene Stavrolakes, filha do magnata dos estaleiros gregos, Manolis Stavrolakes. Ao que
parece, Pandelis está enfrentando alguns problemas de impostos com o governo grego, e
seu fardo seria imensamente aliviado se ele pudesse se associar ao pai de Irene.
Stavrolakes está disposto a colaborar, desde que as duas famílias se unam pelo
casamento.
— E quanto a Irene? — Ginny inquiriu, incapaz de acreditar que algo tão arcaico
pudesse existir nos dias de hoje. — Com certeza, o pai dela não pode obrigá-la a um
casamento sem amor?
— Acha que sou tão pouco atraente que uma mulher tenha de ser forçada a partilhar
minha vida e minha cama?
— Acho que sua atitude está muito longe de ser cativante. E não acredito que qualquer
mulher moderna concorde em casar-se por conveniência.
Ginny o considerava mais que atraente, é claro, mas jamais lhe daria a satisfação de
admitir tal opinião.
— Depende de quanto conveniente a situação pareça a ela. Não seria a primeira vez
que duas famílias uniriam seus interesses comerciais no leito nupcial. — Steel havia se
levantado e, segurando as mãos de Ginny, a havia puxado para si. — Irene é jovem e
bonita. Tenho de admitir que para muitos homens, a isca seria mais que apetitosa.
— Mas não para você?
— Não contrato terceiros para cuidarem dos meus negócios, sejam comerciais ou
pessoais.
— Você tem muito sangue frio — Ginny comentou, estremecendo de leve.
— Está redondamente enganada — ele murmurou. — Assim como meu pai, que
também parece ter esquecido de que sou bem mais velho do que da última vez em que
ele decidiu escolher uma mulher para mim. Agora, prefiro cuidar dos meus próprios
negócios.

CAPÍTULO VII

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O fogo frio da vingança iluminou os olhos de Steel, ao mesmo tempo que um sorriso
curvou-lhe os lábios.
— Por que me escolheu, então? — Ginny inquiriu consternada. — Não acredito que
não exista uma mulher em sua vida, disposta a ajudá-lo.
— Ah, mais que uma. Muito dispostas e muito difíceis de me livrar, quando seus
serviços não forem mais necessários. E muito caras, também.
Steel parou de falar, deixando que os olhos passeassem sem pressa pela curva dos
seios de Ginny, delineados pelo vestido colante.
— Com você é diferente — continuou. — Sua cooperação vem de graça, pois você é
parte do acordo que fiz com seu pai. Já paguei o preço de sua ajuda. Não lhe devo nada,
nem agora, nem no futuro. E a solução perfeita.
— E o meu futuro não importa? Acha que Howard, algum dia, vai me perdoar por isto?
— Ginny perguntou, tentando libertar os punhos.
— Pelo seu bem, espero que não. Quando eu terminar com você, vai ter ideais bem
mais altos que um simples professorzinho provinciano, doçura.
— Não compreendo seus motivos. Por que não pode, simplesmente, recusar-se a
casar com Irene Stavrolakes?
— Porque me agrada tirar cavalos negros de cartolas.
— Está misturando as metáforas — Ginny comentou, referindo-se ao inglês imperfeito
de Steel.
Ele sorriu.
— Prefere ser chamada de coelho? Ah, não, Ginny! Você não é um coelhinho cabeça-
oca e frágil. Está mais para um cavalo selvagem, que precisa de mão firme nas rédeas. —
Steel fez uma breve pausa, a fim de examiná-la da cabeça aos pés. — Assim como os
cuidados de um cavalariço experiente, antes de entrar na pista.
— Não há nada errado com a minha aparência! — Ginny protestou indignada. — Não
tenho crédito ilimitado na Harrods!
— Agora tem. Um bom cabeleireiro e um costureiro vão transformá-la. Acho que nem
vai precisar de um curso de etiqueta. Seu porte é excelente, embora seja um pouco baixa,
e tem uma graça de movimentos natural, quando não se comporta como uma menina
mimada.
— Também sei que talheres usar num jantar formal, comer aspargos com os dedos e
partir o pão com as mãos, em vez de cortá-lo! — ela acrescentou furiosa. — Você pode
ter um pai milionário, mas não tem a prerrogativa de uma boa educação ou boas
maneiras! Posso não ter escolha quanto a participar do seu jogo absurdo, mas vou fazê-lo
do meu jeito. Pode ficar com seus cabeleireiros e costureiros. Você me escolheu, mas
terá de me suportar exatamente como eu sou!
Em vez de se mostrar irritado, Steel parecia divertido.
— Tem razão — ele comentou pensativo. — Pandelis vai ficar ainda mais confuso e
afrontado se eu aparecer com uma garota comum, com teias de aranhas nos cabelos e
manchas de carbono nas faces. Será uma boa substituição para a bela Irene. E, também,
será um assunto a mais para os convidados do jantar de amanhã.
Ginny entrou em pânico.
— Amanhã? Quer que eu conheça seu pai amanhã?
— Claro. Naturalmente, ele espera conhecer a mulher que vai se tornar sua nora o
quanto antes. Ele enviou um fax para o meu escritório em Londres, assim que soube da
notícia, informando que nós dois estamos convidados para á festa de amanhã, no hotel
Iliad.
— Não creio que eu seja capaz de desempenhar o meu papel de maneira convincente
tão cedo. Não pode dizer a ele que não poderemos ir?
— Depois de ele ter transferido a comemoração de Atenas para Londres, sem a menor
antecedência? Não se preocupe, cuidarei para que seja bem treinada. Tendo sido
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ensinado por uma boa professora, também me tornei um bom instrutor.


Com um sorriso sensual, Steel deu um passo na direção de Ginny.
— Não me toque! — ela ordenou, recuando um passo. Mas Steel ignorou-lhe a reação
e tomou-a nos braços.
— Relaxe, agape. Lição número um. Lembre-se da noite no Keys. Não foi difícil
relacionar-se comigo, então.
— Não, porque...
Steel interrompeu-a com um beijo, que Ginny tentou evitar, mas não pôde. Embora
lutasse, as sensações descontroladas provocadas pelo contato venceram a batalha, e ela
se viu privada de sua força de vontade.
Sentiu as mãos firmes passeando por seu corpo, descendo por suas costas, seguindo
as curvas de seus quadris. Ondas de calor acompanhavam cada movimento daquelas
mãos, espalhando-se por seu corpo com a intensidade de um vulcão em erupção.
Como se tivessem vontade própria, as mãos de Ginny também fizeram seu próprio
passeio, deslizando pelos músculos fortes dos braços de Steel.
Os lábios dele abandonaram os seus, para percorrerem uma trilha de fogo por suas
faces. Então, Steel murmurou algo incompreensível em seu ouvido, segurou-lhe as mãos
por um momento, antes de soltá-las.
Por um momento, ela permaneceu imóvel, atordoada pela própria reação. Então
começou a tremer de vergonha e arrependimento, furiosa consigo mesma poster se
comportado de maneira tão descontrolada, por ter revelado sua vulnerabilidade para um
homem totalmente indiferente a ela como pessoa.
— Não há necessidade de agir como um animal! — acusou-o, tentando proteger seu
orgulho.
— Acontece que eu sou um animal, Ginny, além de ser um verdadeiro filho de meu pai.
— Isso é uma ameaça? Ele sorriu.
— Não preciso de ameaças com você, Ginny. Pediu treinamento, e estou lhe dando
um. E não faz sentido você bancar a virgem indignada, pois nós dois sabemos que não é
nenhuma das duas coisas. Assim que pus os pés no escritório de Leo, senti a eletricidade
no ar. Por que acha que eu a convidei para jantar? E por que você aceitou? Devia saber
que eu já possuía todos os catálogos da Sullivan's.
— É claro que havia eletricidade no ar — ela falou, cada vez mais furiosa —, mas era
por causa das suas péssimas maneiras e...
—- Se prefere pensar assim, tudo bem. Mas, se eu não tivesse certeza da sua
cooperação, não teria mentido para Leo. Portanto, vamos acabar com essa bobagem.
Telefone para Howard e diga-lhe que é um homem livre, antes que ele leia a notícia nos
jornais e tome alguma atitude idiota.
— Farei isso amanhã. Estou muito cansada.
— Devo entender que já vai se retirar?
— Com sua permissão — ela falou em tom sarcástico. — Preparei o quarto de
hóspedes para você. É o primeiro à direita... mas imagino que já tenha descoberto por si
mesmo.
— Leo me disse para ficar à vontade — ele confirmou com um sorriso. — Mas suas
obrigações da noite ainda não terminaram, agape mou.
Ginny parou a meio caminho da porta. A insinuação de Steel com relação à atração
mútua entre eles ainda ecoava em seus ouvidos.
— Quero deixar uma coisa muito clara — ela falou com voz controlada. — Concordei
em fazer parte do jogo que você inventou só porque a paz de espírito de meu pai está em
jogo. Conhecerei Pandelis e me comportarei até como sua empregada, se for necessário.
Mas, qualquer outra tarefa que você tenha em mente, não vai incluir minha obrigação de
partilhar minha cama com ninguém.
— Como quiser. Na verdade, eu estava pensando em comida.
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— Mas você já jantou...


— Não estou falando de mim. Kefi também tem de comer. Mortificada pelo engano,
Ginny foi para a cozinha. Como
deixara Steel perturbá-la tanto, a ponto de esquecer-se do pobre gatinho a quem abrira
seu coração e sua casa?
Porém, ao entrar na cozinha, encontrou Kefi dormindo profundamente na cesta, o que
não deixava dúvida de que ele fora devidamente alimentado. Então, concluiu que a
advertência de Steel fora feita exclusivamente para provocá-la.
As seis horas da manhã seguinte, Ginny desceu a escada para preparar seu café com
torradas e dar a Kefi o seu desjejum, antes de soltá-lo no quintal.
A previsão do tempo prometia mais calor e sol. Determinada a não cometer o mesmo
erro da noite anterior, quando seu vestido justo chamara mais atenção do que ela
desejara, Ginny vestira calça jeans e uma camisa simples, com as mangas arregaçadas.
Como podia ter reagido daquela maneira ao assalto , inesperado de Steel? Era irônico
que a preocupação de. seu pai com sua segurança a houvesse colocado numa I situação
mais ameaçadora que as ruas escuras de Surrey. I
Era a primeira vez que seu corpo se recusava a obedecer os limites impostos por sua
mente. E a experiência I era irritante. Um sorriso maroto curvou-lhe os lábios,' quando ela
fez uma comparação ridícula: talvez, aprender a controlar hormônios até então
adormecidos, fosse igual a aprender a dirigir. Mais difícil à medida que se ficava mais
velho.
Olhou para o anel em seu dedo. Um símbolo caríssimo de uma união mercenária, sem
o menor significado. Steel deixara clara sua atitude perante as mulheres. Ele era o
caçador, e elas, as presas voluntárias. Ah, mas não Ginette Sullivan!
Mordiscou a torrada, adiando o telefonema para Roma. Não imaginara dar a notícia a
Howard daquela maneira. Embora houvesse constatado que não o amava, achava que
ele merecia algo melhor que um telefonema. Porém, Steel estava certo. Howard tinha de
ser informado da situação o quanto antes, pelo bem de todos.
Ao ouvir um ruído no andar de cima, levantou-se de um pulo. Apesar de sua hesitação,
ligaria para Howard naquele instante. A última coisa que desejava, era que Steel ouvisse
a conversa que, provavelmente, seria dolorosa e humilhante para ambos os lados.
Apanhou o folheto com o telefone do hotel em Roma, foi até o corredor, onde ficava o
telefone e discou. Sentiu um arrepio de ansiedade ao pedir para falar com Howard
Sinclair.
— Alô?
Ginny sobressaltou-se ao ouvir a voz feminina com sotaque inglês.
— Desculpe, devem ter ligado para o quarto errado. Pedi para falar com Howard
Sinclair. Poderia...
— Quem está falando? Não é a idiota do serviço de quarto de novo, é?
Ginny teve um segundo sobressalto ao ouvir a voz irritada de Howard.
— Dê-me o telefone, Coralie. Vou resolver isso de uma vez por todas!
Momentaneamente incapaz de falar, Ginny apertou o fone contra a orelha.
— Escute, nós queremos exatamente o que comemos ontem de manhã. Será que é
tão difícil de entender?
— Claro que não, Howard — ela finalmente encontrou a voz. — Mesmo para alguém
tão burra quanto eu.
— Ginny? É você, Ginny?
— Eu mesma — Ginny confirmou, surpresa pela própria capacidade de soar tão
controlada. Teve vontade de rir ao reconhecer o horror na voz de Howard. — Não pode
imaginar como estou contente por saber que você está se divertindo sem mim.
— Escute, Ginny, não é o que parece...
— E claro que é. Nós dois sabemos que é exatamente o que parece, portanto, não
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perca tempo negando.


O silêncio que se seguiu apagou qualquer vestígio de dúvida que ela ainda pudesse
ter.
— Acho que, mesmo antes de planejarmos as férias juntos em Roma, nós dois
começávamos a suspeitar que nosso futuro tinha os dias contados, não é?
— Diabos, Ginny! Não pode me condenar! Afinal, nunca foi livre em seus favores, não
é? A palavra que me vem à cabeça é frígida. Quando concordou em viajar para Roma
comigo, pensei que fosse crescer, livrar-se da influência vitoriana de seu pai. Posso
compreender que esteja chocada, mas essas coisas acontecem...
— Eu sei, Howard. — Sentindo a culpa diminuir sobre seus ombros, Ginny descobriu
que contar a Howard sobre Steel tornava-se cada vez mais fácil. — E não acontecem só
com os homens. Na verdade, é por isso que estou ligando. Também conheci alguém,
Howard. Queria que você fosse o primeiro a saber.
Pronto, estava feito. Ginny sentiu uma sensação de perda. Seus sonhos podiam ter
sido ingênuos, mas eram, tudo o que tinha. Agora, ela não tinha nada.
— Compreendo — Howard murmurou. — Ginny, não está dizendo isso só para se
vingar? Conheceu mesmo um outro homem?
— O nome dele é Steel Anastasi.
Após um momento de silêncio, Howard voltou a falar.
— Coralie ao banheiro. Agora posso falar com maior privacidade. Eu a conheci na
Piazza Navona, na noite em que cheguei aqui. Estava com um grupo de estudantes,
todas muito amigáveis...
— Posso imaginar.
— Você tem razão, Ginny. Nosso relacionamento não estava dando certo. Quando
você decidiu ficar em Taychapel, em vez de vir comigo...
— Você se deu conta de que não queria se casar comigo.
— Descobri que você tinha outras prioridades na sua vida.
— Tem razão — ela concordou. — Fico contente que não esteja zangado. Não queria
lhe causar qualquer embaraço.
— Ao contrário, Ginny. É bom saber que você chegou à mesma conclusão que eu.
Apenas... Bem, eu pretendia esperar até voltar à Inglaterra, para termos uma conversa
cara a cara.
— Nem eu queria lhe falar por telefone, mas Steel insistiu que você tinha o direito de
saber.
— Bem, espero que não esteja cometendo um erro, Ginny — Howard falou em tom
paternalista. — Há quanto tempo conhece esse cara, afinal? Já considerou a
possibilidade de ele ser um caçador de fortunas?
— Não.
Ginny teve de reprimir uma gargalhada, assim como o impulso de contar que Steel era
filho de um milionário.
— Escute, Ginny, preciso desligar. Há mais alguma coisa?
— Sim. Tenho certeza de que ficará satisfeito em saber que meu pai está se
recuperando muito bem da cirurgia e que aprovou Steel sem restrições. — O som de
passos na escada deu a Ginny a desculpa que ela precisava para encerrar a conversa: —
Preciso desligar. Steel acaba de acordar e, certamente, vai querer tomar seu café. Estou
feliz que tenhamos resolvido tudo sem brigas, e espero que ainda possamos ser amigos.
Aproveite o resto de suas férias, Howard. E mande lembranças minhas a Coralie.

CAPITULO VIII

Ao desligar o telefone, Ginny deu-se conta de que o coração batia acelerado. Apoiou-
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se na parede e fechou os olhos. Onde estavam a depressão e a tristeza do final de um


relacionamento? Em vez dos sentimentos de culpa e infelicidade que ela havia
antecipado, descobriu-se aliviada e embriagada por um forte senso de liberdade.
— Como ele recebeu a notícia?
Ginny abriu os olhos e deparou com Steel parado à sua frente, vestindo um robe de
seda e de pés descalços.
— Ficou desolado, é claro! — ela respondeu, recusando-se a contar-lhe que os planos
de Howard, aparentemente, já não a incluíam há tempos. — Foi por isso que levantou tão
cedo? Para verificar se eu estava mesmo cumprindo as suas ordens?
— Sim, essa foi uma das razões. Além do mais, não é tão cedo assim — ele falou com
tranqüilidade. — A propósito, você não parece desolada.
Ginny desviou o olhar, sentindo-se despreparada para enfrentar seu predador.
— Já que Howard jamais me perdoaria, pelo que considerou uma traição, e que fui
forçada a fazer as coisas de uma maneira pouco humana, só me resta conviver com os
fatos. — Mediu-o dos pés à cabeça. — Se já está satisfeito com a minha obediência,
acredito que possa subir e vestir-se.
Ele sorriu.
— Meus pés descalços a ofendem? Prefere que eu use meias?
— Você não tem sapatos? — Ginny inquiriu, embora o que a incomodasse de verdade
fosse a suspeita de que ele não usava mais nada por baixo do robe fino.
— Engraçado — Steel comentou com ar divertido. — Minhas namoradas sempre
comentaram quanto é ridículo um homem nu de meias ou sapatos. Mas, se você prefere
assim...
— Quem falou em andar nu? Se nosso relacionamento se restringe aos negócios,
espero ser tratada com maior consideração do que uma...
— Uma o quê, Ginny?
Embora a pergunta soasse inocente, o brilho nos olhos de Steel deixavam claros seus
pensamentos maliciosos.
— Uma distração passageira — ela respondeu com dignidade. — Prefiro que desça
para o café vestindo roupas decentes.
— Verdade? Está bem. Prometo pensar no assunto. Por enquanto, posso assegurá-la
de que estou usando mais roupas do que vestiria na praia. Que tal uma xícara de café?
— Claro — ela concordou, recusando-se a aceitar o desafio para um novo confronto. —
Aonde vai querer?
— De preferência, não em cima de mim, agape mou. Pode ser na sala.
Com essas palavras, Steel afastou-se assobiando baixinho.
Bem, aquele parecia ser o padrão com o qual ela teria de conviver por algum tempo,
Ginny pensou. Impedida de se ocupar no escritório, obrigada a dar satisfações de todos
os seus atos, fora reduzida à posição de doméstica complacente. E, pior, teria de
aprender a ser chamada de agape mou dali por diante.
Steel encontrava-se parado diante da janela, quando Ginny entrou na sala com uma
xícara de café.
— Obrigado — ele agradeceu e examinou-a atentamente. — Ainda não vejo lágrimas
pelo seu amor perdido — comentou.
— De que adiantariam as lágrimas? O mal está feito e nada pode desfazê-lo.
— Às vezes, é melhor deixar as coisas assim, Ginny.
— Se você pensa assim... Vou buscar mais café. Ansiosa para escapar àquela
presença perturbadora, ela apanhou a xícara apressadamente, mas Steel segurou-lhe o
braço.
— Muito bom. Parece que estamos entrando em acordo
— ele falou, fitando-a nos olhos.
Ginny teve de esforçar-se para não sair correndo. A proximidade dele deixava-a
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nervosa.
— Relaxe, agape mou. Fez o melhor para si mesma.
— Steel murmurou, acariciando4he a face. — Você tem um rosto muito bonito. Acho
que vou encontrar outras compensações neste arranjo comercial.
— Não, se espera que eu as proporcione — Ginny defendeu-se, tentando ignorar os
efeitos que aquele sorriso exerciam sobre suas emoções.
— Trata-se de um desafio?
Apesar da tentativa de fuga de Ginny, Steel foi mais rápido e, passando um braço em
torno de sua cintura, puxou-a para si.
— Na noite em que a levei para jantar, e você pareceu desprezar tudo o que me dizia
respeito, prometi a mim mesmo que faria você mudar de idéia.
— Foi só uma brincadeira — Ginny protestou em tom de falsa alegria.
— Não achei graça.
— Mas... — ela não conseguiu encontrar palavras, pois a mão quente passeando por
suas costas afetou-lhe a capacidade de raciocínio.
E descobriu-se incapaz de resistir quando os lábios de Steel pousaram nos seus, ao
mesmo tempo em que ele erguia uma das mãos para acariciar-lhe os seios. Embriagada
pelas sensações que percorriam seu corpo como correntes de eletricidade, Ginny
entregou-se à sensualidade do contato com o corpo viril, deleitando-se com seu calor e
firmeza.
— Ah, Ginny, você é como ambrosia e néctar.
Steel tomou-a nos braços e levou-a até o sofá. Arrastada pela paixão e pelo desejo,
Ginny estremeceu com um gemido de puro prazer quando, mais uma vez, a mão dele
pousou sobre um de seus seios. A descoberta do mamilo rijo também arrancou um
gemido dos lábios de Steel.
Aceitando por fim as sensações eróticas que ele lhe despertava, Ginny deslizou as
mãos pelas costas musculosas, deliciando-se com a reação que suas carícias
provocavam nele.
De repente, Steel afastou-se, passando a mãos pelos cabelos, levantou-se e foi para o
outro lado da sala.
Envolvida por um súbito sentimento de vergonha, Ginny sentou-se, abotoando a
camisa. Em vez de ter ficado indignada com as liberdades que Steel tomara, participara
de boa vontade daquele interlúdio. Em vez de se ressentir das atitudes dele, só sentira
ressentimento quando ele as interrompera.
—. Bela.atuação, Ginny! Merece os parabéns. — Steel virou-se para fitá-la com um
leve sorriso. — Qualquer um teria acreditado que você realmente gostou da experiência.
Exceto por um leve rubor nas faces, ele parecia totalmente indiferente ao que acabara
de acontecer.
— Ou percebido que você não passa de um gigolô experiente — Ginny contra atacou,
desesperada para recuperar a dignidade. — Afinal, você teve treinamento profissional,
não foi?
Dando-se conta de que, sem pensar, havia usado a traição de Louli para atingi-lo,
Ginny levou a mão aos lábios.
— Verdade — ele falou tenso. — E se eu não tivesse mudado de idéia no último
instante, você teria sucumbido à minha experiência, não é mesmo, agape mou?
— Isto faz parte do acordo, Steel? Sou parte dos lucros que você espera obter, depois
de assinada a sua sociedade com meu pai?
— E uma proposta interessante, mas posso assegurá-la de que não há nenhuma
cláusula em nosso contrato que me dê o direito a desfrutar do seu corpo delicioso.
Acredite, Ginny, o dia em que você acordar em minha cama, será porque foi até lá de livre
e espontânea vontade. Jamais será forçada ou coagida.
Apesar do pânico, Ginny conseguiu manter a expressão impassível.
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— E, agora que já estabelecemos o que eu não quero de você, talvez possa ouvir o
que tenho a pedir.
— Por favor — ela o convidou a continuar, com voz inexpressiva.
— Tenho muito trabalho para fazer hoje.
Ele assumiu postura profissional, enquanto recitava seus compromissos com precisão
militar. Distraída, Ginny concluiu que ele parecia uma mistura de Alexandre, o Grande e
Marco Antônio. Uma combinação formidável e assustadora. Alexandre havia conquistado
metade do mundo quando chegara aos trinta anos de idade. E, todos que haviam lido
Shakespeare sabiam o que Marco Antônio fizera com a rainha Cleópatra. Quantas
conquistas teria Steel realizado em seus trinta e dois anos?
— Ginny, está me ouvindo?
O som de seu nome despertou-a.
— Claro — ela respondeu depressa. — Está falando do que tem para fazer hoje.
— Estava dizendo que já contratei um advogado para apelar contra a ordem de
fechamento dos armazéns. É o melhor na área e, depois de ler toda a documentação,
garantiu que não teremos dificuldades em resolver a questão de uma vez por todas. Além
disso' espero ter o documento formal me dando plenos poderes na administração da
Sullivan's durante a ausência de Leo, amanhã, no máximo.
Impressionada, Ginny assentiu.
— Dei instruções precisas a Duncan e Cathy quanto ao trabalho que vou precisar no
escritório — ele falou, enumerando cada item com os dedos de uma das mãos. Ginny
estremeceu ao lembrar-se da capacidade daqueles dedos em despertar-lhe sensações
totalmente novas para ela. — E pedi um controle total do estoque, o que deverá manter
todos os funcionários ocupados. Também já encomendei um sistema de computadores.
Existem excelentes programas à disposição no mercado, mas quero que sejam
adaptados às necessidades específicas da Sullivan's. Tenho a intenção de contratar dois
recém-formados em computação, com excelente currículo, para aprenderem o novo
sistema e...
— Vai se livrar de Duncan! — Ginny pôs-se de pé, horrorizada. — Duncan trabalha na
Sullivan's desde que papai assumiu os negócios de meu avô!
— Minha querida, Duncan já está com sessenta e três anos! E, de qualquer maneira,
ele não será dispensado tão cedo, uma vez que teremos de operar os dois sistemas,
manual e computadorizado, por algum tempo, até termos certeza de que tudo está
funcionando direito.
— Papai não vai permitir isso! Vai deixar Duncan trabalhar até quando quiser.
— Já perguntou a ele quando isso vai ser? — Steel inquiriu, mas não esperou pela
resposta. — E claro que não. Afinal, você nunca ficou por aqui tempo bastante para
inteirar-se dos negócios, ou de seus funcionários. Pois, acredite, Duncan não vê a hora de
aposentar-se para ir viver perto da filha casada, na costa, e ver os netos todos os dias. Só
não fez isso ainda porque, até agora, a Sullivan's nem podia ficar sem ele, nem
proporcionar-lhe a condição financeira necessária para isso.
Steel estava zangado. Ginny não saberia dizer se era com ela, ou porque a Sullivan's
encontrava-se em condições piores do que ele havia imaginado. E, embora a explicação
dele soasse mais que razoável, ela não confiava nele.
— E quanto a Cathy? — perguntou, mantendo a voz controlada. — Suponho que vá se
livrar dela, também.
— Ela tem planos de se casar.
— Cathy? Casar? Mas ela já é avó!
— Também é mulher e viúva. Ou você acha que as chamadas alegrias do casamento
devem ser exclusivas das jovens bonitas?
-— Não, claro que não. Mas Cathy é uma excelente secretária, uma assistente na
verdade. Papai se dá muito bem com ela. Confia nela. Vai ficar perdido sem Cathy. —
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Ginny pensou depressa. — Talvez, eu possa tomar o lugar de Cathy. Embora não tenha
experiência como secretária, estou familiarizada com computadores e aprendo rápido...
— Não. O tempo em que você poderia ter ocupado um lugar que não fosse meramente
decorativo na Sullivan's já passou. Os dias de amadorismo estão terminados por aqui,
Ginny. Estamos na era dos profissionais. Quanto antes você aceitar o fato, mais feliz será.
Apesar de furiosa, Ginny também estava consciente de que não teria nada a ganhar
opondo-se ao sócio condescendente de seu pai.
— Muito bem — declarou, de mãos na cintura. — Já sei que funções estou proibida de
desempenhar. Importa-se de me dizer que planos tem para mim, hoje?
— Nada de importante, agape mou. Pode preparar uma' torrada para mim, enquanto
me visto. Depois, pode se ocupar como quiser, desde que suas atividades não tenham
nada a ver com o dia-a-dia do escritório, e que esteja pronta às oito horas, para irmos à
festa de Pandelis.
— Seu pedido é uma ordem, oh, todo poderoso! — Ginny declarou sarcástica, fazendo
uma reverência. — O patrão deseja alimentar-se na hora do almoço, ou antes de sair para
a festa? — perguntou com ar inocente.
— Tenha certeza de que, se ele desejar, a senhorita será a primeira a saber — Steel
respondeu em tom sugestivo, antes de subir a escada.
Finalmente aliviada pela saída de Steel, Ginny dedicou-se aos afazeres domésticos.
Surpreendeu-se ao entrar no quarto de hóspedes e descobrir que Steel arrumara a cama
e deixara o aposento na mesma ordem em que o encontrara.
Depois disso, brincou com Kefi no jardim por meia hora, antes de regar a pequena
horta de seu pai. Quando terminou, constatou que o horário de visitas no hospital já se
iniciara. E era lá que ela pretendia passar o resto da manhã.
Quando entrou no quarto do pai e viu a melhora em sua aparência, sentiu o coração
alegrar-se.
— O médico está muito satisfeito comigo — ele confirmou animado. — Mais alguns
dias, e já poderei voltar a comer alimentos sólidos. Não vai demorar para que eu possa
voltar para casa, querida.
A voz de Leo carregava um novo otimismo, mas por trás da alegria que Ginny sentia,
surgiu a dúvida: quantos dos planos de Leo para o futuro Steel partilhava?
Sem saber se devia sequer insinuar que poderiam haver mudanças adiante, Ginny
concentrou-se no sorriso entusiasmado do pai, enquanto ele continuava:
— Meu futuro genro tem grandes planos para a empresa, filha. Está decidido a torná-la
reconhecida, transformando-a num negócio do século vinte e um. Eu jamais teria o capital
necessário para as modificações. E pensar que eu estava preocupado com você,
achando que acabaria se casando com Howard e relegando-se a ser nada mais que um
apêndice das ambições dele, a esposa do diretor, a mãe dos filhos do diretor...
— Não sabia que você detestava Howard tanto assim, papai.
Leo segurou-lhe a mão.
— Eu não o detestava, Ginny. Apenas não o considerava bom o bastante para a minha
filha. Mas, como todos os pais pensam assim, fiquei de boca fechada.
— Você aprova Steel, não é? — Ginny inquiriu, pensando na ironia da pergunta.
Leo assentiu.
— É um homem íntegro, Ginny. Venho fazendo negócios com ele já faz tempo, para
saber disso. Ele até é capaz de guardar segredos!
— Está se referindo ao fato de termos escondido de você até agora, que já nos
conhecíamos?
— Tudo bem, querida. Compreendo seus motivos. Steel me explicou que não se sentiu
à vontade para me contar que estava visitando você em Birmingham porque você ainda
não havia tomado uma decisão definitiva com relação a Howard. Depois, é claro, você
estava esperando Steel voltar à Inglaterra, para que os dois pudessem me dar a notícia
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juntos. E eu adiei ainda mais os seus planos, quando fiquei doente. — Ele riu. — Se eu
não houvesse recusado a ajuda financeira de Steel e explicado minhas razões a ele,
imagino que ainda não saberia que vocês dois estão apaixonados!
— Provavelmente — Ginny confirmou com um sorriso.
— Foi o melhor tônico que você poderia ter me dado. Até o especialista está surpreso
com a velocidade da minha recuperação.
— Bem, ainda não precisa reservar a igreja, papai. — Ginny sentiu uma pontada de
culpa ao pensar na decepção que Leo teria quando Steel houvesse terminado de se
divertir às custas dela. — Ainda não marcamos a data.
O sorriso de Leo revelou a profunda felicidade de um homem cuja visão do futuro
envolvia sonhos realizados. Ao mesmo tempo, encheu o coração de Ginny de tristeza.
— Conhecendo Steel tão bem como conheço, garanto que vai se casar antes do
invernos, filha — ele falou em tom confidencial. .

CAPÍTULO IX

Duas horas depois, Ginny deixou o hospital, com a sensação de que estivera patinando
sobre gelo fino Para uma noiva às vésperas do casamento, ela sabia muito pouco sobre o
seu futuro marido. Felizmente, seu pai parecia não se dar conta de suas respostas
reticentes e se mostrara feliz em falar da amizade que tinha com o futuro genro. E era
evidente que havia uma profunda empatia entre os dois. Ah, que decepção Leo teria,
quando sua confiança fosse destruída!
Ao chegar em casa no meio da tarde, Ginny surpreendeu-se com o caminhão enorme
que bloqueava a entrada dos armazéns. A carga atrasada, mas muito bem vinda,
finalmente chegara do continente.
A cena insinuava um ligeiro caos, enquanto Sam descarregava as caixas maiores, e
Cathy e Duncan, as menores.
Era tudo o que Ginny precisava. Com tanta energia represada, e mais que satisfeita
pela oportunidade de envolver-se numa atividade física, ela estacionou o carro e pôs-se a
trabalhar.
Eram seis horas, quando a última caixa foi descarregada, e os outros partiram,
deixando Ginny sozinha no escritório. Antes de afundar-se numa cadeira, ela apanhou
uma lata de refrigerante na pequena geladeira e matou a sede provocada pelo esforço.
Fechou os olhos, entregando-se ao prazer proporcionado pelo líquido fresco que desceu
pela garganta seca.
— Tinha certeza de que a encontraria aqui.
O tom levemente ameaçador de Steel fez Ginny abrir os olhos sobressaltada.
— Alguém tinha de ajudar Sam — ela se defendeu.
— O carregamento europeu chegou e, se eu não estivesse aqui, a esta hora você teria
uma porção de caixas espalhadas por aí, em vez de estarem catalogadas e guardadas
nos armazéns.
Steel examinou-a da cabeça aos pés e sorriu.
— Essa desordem nos trajes combina com você, Ginny. Suas faces coradas e sujas,
os cabelos despenteados e a camisa desabotoada são encantadores. Tão encantadores,
que vou perdoá-la por ter desobedecido às minhas ordens.
— Devo me sentir grata por um perdão tão generoso? — ela falou, fechando a blusa.
— Ao contrário, sou eu quem deve sentir-se grato, ágape mou. Se você não tivesse
aparecido para. ajudar, eu teria de fazer o trabalho, o que atrapalharia nossos planos para
esta noite.
— Ah, a festa... — Por mais incrível que pudesse parecer, durante as últimas horas,
Ginny esquecera-se completamente da festa que tanto a apavorava. Sentindo os
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músculos doloridos pelo esforço do trabalho, o cansaço pareceu aumentar de repente. —


Não estou em condições de sair esta noite. Estou exausta. Terá de apresentar minhas
desculpas... Diga que não estou bem de saúde.
— Isso seria uma mentira.
— E o que significa uma mentira a mais?
— Depois de um bom banho e roupas limpas, vai se sentir melhor.
— E se eu não concordar em cooperar, imagino que vá usar de força bruta de novo —
ela o desafiou.
— Coerção? — ele falou, erguendo as sobrancelhas. — Está sendo injusta comigo,
Ginny. Se quiser ficar em casa esta noite, nós ficaremos.
A postura rígida do corpo de Steel denunciava que a calma exterior era mero resultado
de um autocontrole a toda prova.
Ginny engoliu seco. Steel Anastasi estava faminto, mas não por comida. O poder era
um afrodisíaco formidável, e ele tinha muito: sobre o futuro da fortuna do pai, sobre a
Sullivan's e todos os seus funcionários. Steel estava pronto para a conquista, o corpo
alerta, os instintos animais e a inteligência humana combinados, criando uma força
irresistível. Ele não a amava, mas queria fazer amor com ela. Tal mensagem era clara e
descomplicada, fundada no simples fato de ela ser uma mulher... e estar disponível.
Todos os instintos de Ginny alertaram-na para lutar, mesmo que a luta envolvesse um
ataque físico. Porém, ela se deu conta de que aquele não era o melhor momento para
opor-se a Steel.
— Dê-me uma hora e estarei pronta — declarou. — Mas só porque a saúde e a
felicidade de meu pai estão em suas mãos.
— Um motivo muito honrado — Steel reconheceu com um sorriso. — Pode ir para
casa. Fecharei o escritório e estarei lá dentro de alguns minutos.
— Não vai dizer o que devo vestir? — Ginny inquiriu com fingida surpresa.
— Você recusou minha ajuda, lembra-se? Vista o que achar melhor. Tenho certeza de
que ficará linda.
Sem responder, Ginny foi para casa, entrou no banheiro e trancou a porta. Embora não
acreditasse que Steel fosse capaz de invadir sua privacidade, não queria arriscar-se.
Um banho de imersão de vinte minutos aliviou as dores e o cansaço, enquanto Ginny
pensava no que vestir. Por um momento de rebeldia, pensou em vestir um abrigo de
moletom. Porém, sabia que seria uma vitória breve e passageira. Embora Steel houvesse
comentado com sarcasmo que sua aparência descuidada serviria para irritar ainda mais o
pai dele, ela sabia que isso não era verdade. Steel estava determinado a contrariar
Pandelis, mas não ao custo de seu próprio orgulho.
A verdade era que Ginny não tinha muita escolha. Seu guarda-roupa não incluía nada
de primeira linha. Teria de apelar para a simplicidade. Antes isso, que vestir-se como se
fosse o brinquedinho de um milionário.
Steel a esperava na sala e pôs-se de pé no momento em que ela entrou, examinando-a
da cabeça aos pés.
Ginny vestia uma blusa de seda colorida, que comprara numa ponta-de-estoque de
griffes famosas, combinando com uma saia de chiffon creme, que esvoaçava levemente
em torno das pernas bem torneadas.
No braço esquerdo, usava o relógio de ouro que o pai lhe dera de presente no seu
décimo-oitavo aniversário. No direito, o delicado bracelete, também de ouro, que Leo lhe
dera no vigésimo-primeiro. A única jóia além dessas, era o anel que Steel lhe dera.
O silêncio era absoluto. Ondas de pânico ameaçaram demolir a precária auto-estima
de Ginny, enquanto Steel a examinava e avaliava.
Ora, o que ele esperava? Ela fizera o melhor possível! Aplicara maquiagem suave nos
olhos e delineara os contornos dos lábios, valorizando-os. Além disso, penteara os
cabelos de maneira que caíssem sedosos em torno de seus ombros.
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Incapaz de esperar mais, inquiriu agressiva:


— E então? Consegui sua aprovação, ou não?
— Está linda... demais. Assim que puser os olhos em você, Pandelis vai se derreter, e
isso não é bem o que eu estava planejando! — Uma leve irritação afetou-lhe a voz. —
Venha tomar o café e comer o sanduíche que preparei para você. Terá um noite muito
longa pela frente.
Uma hora depois, o Lotus parou diante da entrada luxuosa do hotel Iliad. Atirando as
chaves para o manobrista, Steel acompanhou Ginny ao saguão, caminhando com os
passos firmes de um homem que pisa em território conhecido.
— Iremos ao meu apartamento, primeiro, »para que eu possa vestir outro terno —
informou-a, impelindo-a na direção dos elevadores com a mão firmemente pousada em
suas costas.
— Tem um apartamento aqui? Deve custar uma fortuna! — Ginny comentou surpresa,
esquecendo-se por um momento de quem ele realmente era.
— Como você é mercenária! — Steel comentou divertido. — Não posso igualar minha
riqueza com a de meu pai, mas não sou exatamente pobre. Além do mais, se a
extravagância a ofende, alego inocência. O hotel pertence a Pandelis, e a suíte não me
custa nem um centavo. Acho as acomodações muito convenientes, quando estou em
Londres.
— Então, você não é orgulhoso a ponto de recusar os benefícios de ser filho dele?
— Ah, Ginny, você provoca o demônio que existe dentro de mim, quando questiona a
minha integridade. Não fosse pelo fato de eu querer que você esteja em perfeitas
condições quando for apresentada a Pandelis, eu a faria pagar pelo comentário infeliz. O
motivo pelo qual moro aqui não tem nada a ver com eu ser um parasita. Ao contrário, meu
pai fica muito frustrado por eu me encontrar fisicamente tão próximo dele e, ao mesmo
tempo, mentalmente tão distante.
— O que é muito triste para ambos.
O comentário ganhou um olhar irritado, mas nenhuma palavra.
Steel saiu do elevador e abriu a porta da suíte.
— Sinta-se à vontade — falou. — Levarei só alguns minutos para tomar um banho e
me trocar.
Como ele podia abrir mão de tanto luxo e conforto, para instalar-se no medíocre
subúrbio?
Ainda refletindo sobre a própria pergunta, Ginny pôs-se a examinar a decoração de
bom gosto. Era impecável. Estudava os quadros nas paredes, todos originais, quando
Steel retornou, vestindo um terno menos sóbrio, e camisa aberta no colarinho.
Estava magnífico, e Ginny estremeceu ao reconhecer a virilidade contida nos gestos
elegantes.
— Está com frio, Ginny? — Steel inquiriu. — Ou com medo? Se for o primeiro, vai se
sentir aquecida assim que chegarmos à festa. Se for o segundo, devo lembrá-la de que
estarei ao seu lado. Podemos ir?
Sem palavras, ela assentiu. Aquela não era exatamente a segurança de que ela
precisava.
— Ora, é você a jovem que pretende se casar com meu filho?
Pandelis Anastasi não sorriu ao dirigir-se a Ginny, e ela sentiu um arrepio de
desconforto.
Assim que Ginny e Steel puseram os pés no imenso salão, ela reconhecera o pai de
Steel, que se afastara do grupo com que conversava e abrira caminho por entre os
convidados para encontrá-los. O poder que ele emanava era quase palpável.
Pela primeira vez, ela sentiu uma pontada de medo. Até que ponto não seria perigoso
Steel desafiar o pai daquela maneira?
Provavelmente, Pandelis Anastasi não se deteria diante de nada para manter sua
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fortuna intacta, nem se vergaria diante de ninguém. Ali estava um homem que conhecia o
exato significado da vingança. Por alguma razão, Ginny duvidou que o fato de Steel
partilhar seu sangue o imunizasse contra os efeitos da ira do pai, caso o desafiasse.
— Sim — ela conseguiu responder com aparente tranqüilidade. — Steel pediu-me que
usasse este anel. — O que era verdade, ela pensou, sem esconder o brilho de
divertimento que iluminou seus olhos. — E me sinto orgulhosa e feliz em usá-lo —
acrescentou. Aquilo era uma mentira, mas que fora pronunciada com imensa facilidade
por alguém que não costumava mentir.
Ginny surpreendeu-se consigo mesma.
— Compreendo — Pandelis comentou, examinando o anel. — Não posso negar que
estou surpreso. Confesso que suspeitei que meu filho estava apenas se divertindo às
minhas custas, quando li a notícia nos jornais.
— Não espere que eu chore por você, pateras mou — Steel declarou em tom seco,
passando um braço reconfortante em torno dos ombros de Ginny. — O governo grego só
está lhe cobrando o que você lhe deve. Todo homem deve pagar suas dívidas. Tenho
certeza de que você pagará as suas, mesmo que o esforço seja mais doloroso, sem a
conivência da família Stavrolakes.
O mais velho deu de ombros.
— Minha política é explorar todas as possibilidades nos negócios. Nunca se sabe o que
se pode encontrar.
— Estou impressionado com sua filosofia.
A inclinação da cabeça de Steel demonstrava admiração, mas o brilho frio em seus
olhos não exibia o menor respeito para confirmá-la.
— E eu admiro a rapidez e determinação com que você passou de passivo a ativo, no
desafio de minha sugestão. — Pandelis observou o filho com olhar sombrio. — Eu o teria
provocado antes, se soubesse que sua rebeldia tomaria formas tão atraentes.
Ginny sentiu-se péssima, sendo o centro da batalha entre duas potências como
aquelas.
— Quer dizer que aprova Ginny?
Ginny ergueu os olhos para Steel, ao sentir o braço dele apertá-la num gesto
possessivo. Teve de admitir que ele mereceria um Oscar pela atuação. Seria engraçado
se Pandelis de mostrasse feliz pelo filho estar noivo de uma Cinderela suburbana. Porém,
Ginny estava decidida a não aceitar passivamente a avaliação do mais velho, como se ela
fosse uma peça em leilão.
— Estou muito interessada em ouvir sua opinião, Sr. Anastasi — ela falou com ar
tranqüilo, embora não houvesse nada de tranqüilo, nem subserviente, no olhar frio com
que ela o encarou.
— Como eu poderia não aprovar? — ele falou, sustentando-lhe o olhar. Não havia o
menor sinal de prazer nos olhos dele, apenas cortesia. — Meu filho herdou mais
características minhas do que está disposto a admitir. Seu gosto para mulheres é
impecável. Sempre foi.
— Ah... — Ginny murmurou, respirando fundo.
Ao mesmo tempo em que o comentário de Pandelis elogiava sua aparência, deixava
claro que ela não era a primeira mulher a ocupar o coração de Steel. E, também,
lembrava o filho que, um dia, os dois haviam partilhado a mesma amante.
— Deve perdoar a meu pai, Ginny — Steel falou em tom ligeiramente divertido,
acariciando-lhe o braço. — Infelizmente, o domínio que ele tem do inglês não inclui as
nuances mais refinadas. Tenho certeza de que ele não quis insinuar que você é apenas
mais uma numa longa lista de mulheres em minha vida. Apenas comentou que somos
ambos admiradores da beleza feminina.
— Claro — Pandelis confirmou em tom suave. — Meu filho está certo. Meu inglês é
mais adequado aos negócios do que ao amor. Se eu disse alguma coisa que a magoou,
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peço desculpas. Meu filho é um homem de discernimento — ele continuou, deixando claro
que seu comando do inglês era tão bom quanto qualquer nativo. — A mulher que se casar
com meu filho poderá esperar a recompensa de uma relação longa e gratificante. Disso
eu tenho certeza.
Ele enviava a mensagem de que Ginny não o enganara nem por um momento. Sabia
que ela fora comprada e usada. A maneira como Pandelis se referira à "mulher que se
casasse com o filho" indicava que ele sabia que não seria Ginny a ocupante de tal
posição.
Uma pontada de dor atingiu o coração de Ginny, inesperada e desmoralizante, uma
vez que ela pouco se importava com o homem atraente parado p seu lado com um sorriso
enigmático nos lábios. Com muito esforço, manteve o sorriso claro, enquanto Pandelis
desviava os olhos para o filho e se dirigia a ele em grego.
Aos ouvidos de Ginny, a língua não possuía a musicalidade do italiano, nem a cadência
rítmica do espanhol.
Relegada a observar as expressões do rosto de Steel enquanto ele parecia estar sendo
submetido a uma série de perguntas, tentou decifrá-las. Ele, às vezes, parecia divertido.
Outras, zangado. O tom da conversa parecia duro e pouco amigável.
— Perdoe-me, agape mou — Steel finalmente voltou a atenção para ela. — Meu pai
não quis ser descortês ao excluí-la de nossa conversa. Como ele mesmo disse, seu
inglês não é bom o bastante, para que ele possa expressar todas as suas emoções.
Embora o rosto de Steel não desse o menor sinal do que se passava em sua mente,
Ginny sabia muito bem que Pandelis expressara-se em grego por saber que ela não
compreendia a língua. O que significava que suas últimas palavras deviam ter sido ainda
menos agradáveis que as anteriores.
— É claro que compreendo — ela falou, decidindo que era perfeitamente capaz de
fazer o jogo dos dois. Utilizando uma habilidade de representação que, até então, ela
mesma ignorava possuir, assumiu ar dócil e meigo. — O inglês é uma língua muito
limitada, mas os gregos sempre têm uma palavra para tudo! Não é assim o ditado?
— Exatamente, minha querida! — Steel sorriu com evidente aprovação. — Neste caso,
as palavras que meu pai encontrou com maior facilidade em grego, foram de boas vindas
à família, aliada ao pedido de desculpas de sua esposa, minha madrasta, por não ter
podido voar para Londres para conhecê-la. Mas ela diz que pretende corrigir a situação
muito em breve.
— Quanta gentileza! — Ginny canalizou a dor para um prazer perverso, estendendo a
mão para Pandelis. — Espero que a notícia de nosso noivado tenha contribuído para a
alegria de sua festa.
Em vez de falar, Pandelis tomou-lhe a mão e beijou-a. Quando voltou a fitá-la, Ginny
teve a nítida impressão de ver um brilho de respeito nos olhos escuros como os do filho.
As duas horas seguintes passaram-se sem que Ginny percebesse. Steel tirou-a da
companhia desconcertante do pai e apresentou-a a amigos e conhecidos, cujos nomes
ela jamais lembraria. Com um sorriso inabalável, ela apertou mãos, conversou
amenidades e aceitou congratulações que pareciam sinceras, embora incrédulas. E quem
poderia culpá-los? Quem imaginaria que Steel Anastasi poderia apaixonar-se pela filha de
Leo Sullivan, quando seu próprio mundo encontrava-se povoado de mulheres tão lindas,
ricas e glamourosas?
Quando Steel finalmente levou-a até o bufê preparado num dos cantos do salão, Ginny
descobriu, para sua própria surpresa, que o esforço das últimas horas havia aumentado
seu apetite. Ao contrário do que esperava, não encontrou dificuldade em comer a comida
deliciosa, nem em beber o forte vinho grego.
Foi bem mais tarde, quando a banda bouzouki começou a tocar e os casais a
dançarem, que o frágil controle de Ginny começou a escapar-lhe. A música era romântica,
as luzes suaves, quando Steel tomou-a nos braços, apertando-a contra si, e levou-a para
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells

o centro da pista de dança.


Levada por uma torrente de emoções, deixou-se guiar na dança pelos passos
experientes de Steel. E, também, permitiu que suas mãos deslizassem para o pescoço
forte. Quando Steel beijou-lhe a face e mordiscou-lhe o lóbulo da orelha, ela não foi capaz
de conter um suspiro profundo.
Um êxtase inconseqüente e vergonhoso tomava conta de seu corpo traidor, enquanto
ela lutava para manter o autocontrole. O que estava acontecendo, afinal? Como podia
reagir daquela forma a um homem que não se importava com ela? Um homem que
desprezava suas emoções e sentimentos, e que a usava da maneira mais sórdida. Um
homem cujo interesse por ela era carnal e oportunista.
Havia apenas uma resposta, que lhe tirou o fôlego. Steel Anastasi, o grande
manipulador, invadira sua vida, destruindo tudo: suas esperanças, sonhos, valores e
planos. Mas, pior que isso, ele derrubara as barreiras que ela havia erguido contra ele, e
roubado seu coração. Horrorizada pela revelação, Ginny perdeu o ritmo e teve de agarrar-
se aos braços de Steel para recuperar o equilíbrio. Não podia compreender, nem negar,
mas a verdade era evidente. Estava apaixonada por Steel.
A medida que o pânico tomava o lugar do desejo, Ginny lutou para encontrar os meios
de escapar à magia que a fascinava. Conseguiu afastar-se de Steel, ganhando a distância
necessária para fitá-lo.
— O que Pandelis falou a meu respeito? — perguntou.
— Quer mesmo saber? — Como ela assentisse, Steel respondeu: — Exatamente o
que seria de se esperar nas circunstâncias: que sou um homem de muita sorte por
encontrar uma mulher que esteja preparada para tolerar minha obstinação e ingratidão;
que já estava na hora de eu assumir as responsabilidades domésticas... — Parou de falar
com um brilho divertido no olhar.
— O que mais? — Ginny inquiriu, pressentindo que havia mais.
Steel soltou uma risada.
— Perguntou se você estava enghios... esperando um filho meu.

CAPÍTULO X

— O quê? Ginny ficou chocada, aquilo era absurdo. Do ponto de vista de Pandelis, a
pergunta era mais que pertinente. Não era de admirar que ele houvesse falado em grego!
— Espero que o tenha desiludido! — ela declarou com seriedade.
— Acalme-se, Ginny. Eu disse a ele que você continua tão pura como no dia em que a
conheci — Steel esclareceu, dando ênfase às últimas palavras. — Também disse que ele
vai ter de esperar algum tempo, antes que possamos presenteá-lo com o primeiro neto.
A última coisa em que Ginny queria pensar era num filho de Steel. Mesmo assim, a
sugestão de intimidade nas palavras dele trouxeram à sua mente imagens indesejadas.
Reunindo o que lhe restava de respeito por si mesma, Ginny ergueu uma sobrancelha
e fingiu um bocejo, cobrindo delicadamente a boca com a mão.
— Teria sido mais honesto se dissesse "muito tempo"! Francamente, Steel, não acha
que já exageramos por hoje? Estou exausta e gostaria de ir para casa.
— Era exatamente no que eu estava pensando. Como não esperava uma
concordância tão imediata,
Ginny ficou surpresa e deliciada quando, poucos minutos depois, após despedir-se de
Pandelis, ela se viu longe da festa, sentada no Lotus.
Foi somente quando Steel deu a partida no motor, que Ginny notou a eletricidade que
pairava no ar, e deu-se conta do erro que havia cometido. Aflita, fez a primeira pergunta
que lhe veio à cabeça, só para puxar conversa.
— Não devíamos ter levado um presente para o seu pai?
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— Se estivéssemos na Grécia, poderíamos ter levado um carneiro, ou cabrito. Mas, no


Iliad, suponho que considerem os tapetes caros demais para receber tal expressão de
gratidão. Por outro lado, pode-se dizer que cumprimos a tradição. Afinal, você é o cabrito
sacrificado nesta história, não acha?
Sem saber o que dizer, Ginny ficou quieta, olhando pela janela. Sentia-se como
Cinderela depois do baile. A diferença era que, no seu caso, o príncipe continuava a seu
lado, e a fantasia de imaginar-se amada por ele tornava-se mais e mais irresistível.
Fechou os olhos e respirou fundo. Logo chegariam em casa e, uma vez fechada em seu
quarto, ela estaria fora do alcance do perigo.
O trajeto até a casa de Leo foi feito em silêncio, pois Ginny fingiu dormir o tempo todo.
Ao chegarem lá, ela decidiu fazer uma última e desesperada tentativa de proteger-se
contra a ameaça que Steel representava.
Fingiu outro bocejo e espreguiçou-se, como se houvesse acabado de acordar.
— Não há a menor necessidade de você passar a noite aqui, Steel — : falou em tom
entediado. — Receio que papai seja um pouco superprotetor em se tratando da minha
pessoa. Os assaltos ocorridos na vizinhança foram tentativas de amadores, sempre
durante o dia. A casa é muito segura, com tantos trincos. Você pode voltar e passar uma
noite confortável no Iliad.
— E quebrar minha promessa ao seu pai? — Steel inquiriu em tom de censura. —
Além do mais, o que Pandelis pensaria se soubesse que você me mandou embora?
Resignada, Ginny decidiu que, se tinha de aceitar a presença dele na casa, ao menos
não havia lei alguma que a obrigasse a fazer-lhe companhia. Assim que Steel estacionou
o carro, ela saiu e foi abrindo a porta da casa e chamando Kefi. Como o gatinho já
estivesse à sua espera, demorou apenas alguns minutos para dar-lhe comida e leite
frescos e verificar se a cesta estiva no local predileto de Kefi. Então, tudo o que tinha a
fazer era dizer boa noite e subir para a segurança de seu quarto. Porém, quando parou na
porta da sala e viu Steel caminhando na sua direção, ficou petrificada por um momento. E
foi o bastante para dar a ele o tempo de aproximar-se, puxá-la para si, segurar-lhe o
queixo com ternura e beijar-lhe os lábios.
— Steel — Ginny ainda murmurou, embora qualquer intenção de resistência já
houvesse se dissipado em sua mente embriagada pelo contato sensual com o corpo
másculo.
— Você esteve ótima na festa, Ginny — ele falou em tom suave. — Pandelis realmente
acreditou na sua representação.
— E reagiu muito bem — ela observou com um sorriso malicioso, embora o coração
batesse acelerado em seu peito.
— Ele sabe que foi derrotado.
— Nesse caso, ele é melhor perdedor do que você me fez acreditar — Ginny falou com
uma risada nervosa, antes de virar o rosto, a fim de evitar mais um beijo de Steel.
Continue conversando, pensou consigo mesma desesperada. Tinha de fazer alguma
coisa para manter alguma distância entre eles. Aquilo não era o que ela queria. Não podia
ser.
— Foi tão simpático com uma inglesinha suburbana, quando esperava uma herdeira
grega para nora — comentou, dando de ombros.
— Assim como você, ele é cheio de surpresas. E nem todas são ruins. Nós, os gregos,
nos orgulhamos de nossa herança, mas a história mostra que nosso sangue foi
enriquecido com freqüência por mulheres de culturas diferentes.
— E quanto aos homens de culturas diferentes? —-
Ginny inquiriu, tentando distraí-lo e, ao mesmo tempo, restaurar a própria resistência.
Steel continuou a mantê-la prisioneira em seus braços.
— Isso raramente acontece. Talvez porque os gregos sejam amantes muito ardentes.
Não acha?
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— Não sei — ela respondeu com voz trêmula. — Já é tarde e tive um dia muito longo.
Portanto, se me der licença, vou para o meu quarto.
— Ótima idéia, agape mou. Vamos juntos?
— Não foi isso que eu quis dizer... — Sentindo-se afundar no mar de sensações
produzidas pelos braços fortes e o olhar penetrante que a mantinham cativa, Ginny lançou
mão de seu último artifício: a mentira na qual insistia em que Steel acreditasse. — Você
jamais tomará o lugar de Howard. Destruiu o meu futuro com ele, mas não vai destruir o
meu amor.
Por um momento, a tensão tomou conta de Steel. Então, ele segurou-lhe o queixo,
forçando-a a fitá-lo.
— Não tem importância, Ginny — falou entre dentes. — O que tenho em mente não
tem nada a ver com amor. Não estou pedindo para substituir Howard no seu coração,
mas ficarei muito satisfeito se puder substituí-lo em sua cama.
Ignorando o gesto de rejeição de Ginny, puxou-a para si e beijou-a.
De nada adiantaria resistir, Ginny concluiu, sentindo o desejo tomar conta de seu
corpo, sua mente, sua alma. Entregou-se ao beijo com paixão, respondendo com toda a
intensidade às reações que só Steel sabia provocar.
Hipnotizada pelos hormônios que se espalhavam em seu sangue, nem sequer
protestou quando a mão firme buscou seus seios. Ao contrário, Ginny arqueou as costas,
facilitando o contato, desejando a satisfação que aquele toque lhe prometia.
— Ginny... — Steel murmurou, sem descolar os lábios dos dela. — Seria melhor
subirmos.
Embora ouvisse as palavras, Ginny não pôde responder.
— Ginny?
De repente, ela foi tomada pelo pânico. Pousou as mãos no peito de Steel, numa
tentativa desesperada de afastar-se dele.
— Não — respondeu com voz estrangulada.
— Por que não? Você me deseja tanto quanto eu te desejo. Confie em mim, Ginny. Eu
jamais faria qualquer coisa para colocá-la em perigo.
Embora todas as células de seu corpo pedissem para serem possuídas por Steel, o
orgulho impediu Ginny de atendê-las. Ele nem sequer gostava dela, quanto menos amá-
la! Howard jamais demonstrara um desejo ardente de possuir seu corpo. Steel, que
descartara seu intelecto e personalidade como não merecedores dele, mostrava-se
ansioso para desfrutar de seu corpo. A amargura tomou conta de Ginny. Steel prometera
protegê-la contra o perigo, mas só poderia cumprir sua promessa com relação ao perigo
físico. Proteção nenhuma repararia os danos que ele já infligira ao seu coração.
Consciente de que ele ainda esperava pela resposta, Ginny tentou ordenar os
pensamentos. Então, constatou que a lógica não seria suficiente, que havia apenas uma
resposta.
— Porque — falou com simplicidade — meus joelhos tremem tanto, que eu não
conseguiria subir a escada.
Steel aceitou o convite como ela sabia que aconteceria. Tomou-a nos braços e levou-a
escada acima com velocidade surpreendente. Ao deparar com a porta do quarto . de
Ginny entreaberta, abriu-a com um golpe do ombro.
Com excitação e nervosismo crescentes, ela o observou desabotoar-lhe a blusa com
dedos experientes. Não reprimiu um gemido ao ver a blusa escorregar para o chão.
A respiração acelerada de Steel ao ver a forma arredondada dos seios parcialmente
escondidos pelo sutiã sem alças, funcionou como um poderoso afrodisíaco para Ginny,
que aproximou-se dele ansiosa, oferecendo-se para a conquista final. Com o semblante
alterado pelo desejo, Steel abaixou-se para beijar com reverência a pele quente que ele
mesmo revelara.
Hesitante, Ginny cedeu às exigências de seu próprio corpo, estendendo as mãos para
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recebê-lo, deslizando-as por baixo do paletó. O fervor em seu sangue tornou-se ainda
mais intenso quando ela ouviu o gemido profundo de Steel, expressando o prazer que o
toque dos dedos delicados lhe proporcionava.
— Espere — ele murmurou, ao mesmo tempo em que tirava o paletó e o atirava no
chão.
Então, com mãos trêmulas, Steel soltou o fecho do sutiã. Em seguida, pôs-se a
acariciá-la e beijá-la com adoração, seus lábios passeando pelas curvas fartas dos seios,
subindo devagar até o pescoço, o queixo.
— Diga que me quer, Ginny. Toque-me, mostre-me o quanto me quer...
O pedido rouco teve um efeito arrasador sobre Ginny, que se viu envolta por uma onda
de emoções poderosas e intensas. Ela se descobriu a desejar com desespero que
aqueles lábios quentes cobrissem cada centímetro de seu corpo. Queria com ardor que
ele a amasse como nenhum homem ainda havia feito.
Por um momento, seus olhares se cruzaram. E foi o rosto de um estranho que Ginny
viu, transfigurado pelo desejo. Uma pontada de medo atingiu-lhe o coração. Não queria
que seu corpo inexperiente o decepcionasse, deixando-o insatisfeito e, a ela, humilhada.
Porém, o amor por ele crescera numa chama devoradora, queimando-a num fogo
intenso que somente ele seria capaz de aplacar. Que diferença fazia se ele não a amava?
Steel a desejava e Ginny o amava. E isso era mais que suficiente.
Portanto, quando Steel desabotoou a camisa, Ginny ajudou-o a tirá-la com mãos
ansiosas. Quando ele a deitou na cama, ela moldou o corpo ao dele, arqueando-se para
facilitar-lhe a tarefa de despi-la do restante de suas roupas, oferecendo-se para ele com
sinceridade e alegria.
A princípio, as carícias suaves foram reconfortantes. Porém, logo se tornaram
profundamente perturbadoras, aumentando o fogo que ardia dentro dela, levando-a a
apertá-lo contra si com força.
Apoiando-se num cotovelo, Steel ergueu-se para fitá-la.
— Quer que eu faça amor com você, Ginny? Se não quiser, este é o momento para
dizer.
— Eu quero — ela respondeu sem pensar, movida pelos impulsos do próprio corpo.
— Então, mostre-me, agape mou. Se me quer tanto quanto eu quero você, mostre-
me...
Talvez Steel ainda não confiasse nas reações dela. Ou, então, gostava que suas
mulheres tomassem a iniciativa. De um jeito ou de outro, ali estava um convite que Ginny
não tinha a menor intenção de recusar. Deslizou as mãos pelo ventre firme e musculoso,
até encontrar o fecho da calça. Depois de abri-lo, Ginny pôs-se a lutar com o zíper,
resistentes aos seus esforços. Impaciente, Steel ajudou-a, removendo as últimas
barreiras que os separavam.
Como se ouvisse a própria voz a uma distância imensa, Ginny ouviu-se repetir o nome
dele muitas e muitas vezes, quando Steel posicionou-se sobre ela, substituindo a dor da
expectativa pela da satisfação.
Em sua ignorância, Ginny não havia se preparado para a violência e o poder de Steel
sobre ela. O ato de amor, primitivo e criativo, envolveu todos os seus sentidos, bem como
suas fantasias, concentrando-os no vigor do belo corpo masculino que pairava sobre ela.
Seu prazer naquela primeira vez resumiu-se em saber quanto Steel apreciara o calor
úmido de seu corpo, assim como na alegria de sentir-se unida ao homem que amava,
enquanto seu corpo seguia o ritmo do dele, até levá-lo à satisfação e ao êxtase.
Quando Steel deitou-se a seu lado, Ginny continuou a senti-lo dentro de si, e rezou
para que tal sensação permanecesse. Assim, quando estivesse sozinha, poderia lembrar-
se do prazer e paixão que proporcionara ao seu amado.
— Por que eu, Ginny? Por que se entregou para mim, se nenhum outro homem a amou
antes? — a voz dura de Steel arrancou-a de seus devaneios e letargia.
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Ainda envolta pelo brilho da felicidade, ela não estava preparada para a reação de
Steel, quando ele se ergueu num cotovelo, para fitá-la com seriedade.
Que tipo de pergunta era aquela, afinal? Ginny sentou-se e, subitamente embaraçada
pela própria nudez, cobriu-se com a saia de chiffon. Estava surpresa por ele ter percebido
sua virgindade, pois ela mesma não se lembrava de ter sentido qualquer desconforto.
— Eu... não entendo o que está tentando dizer... — ela gaguejou e, então, deu-se
conta do que passava pela cabeça de Steel. — Não pode estar pensando que eu tentaria
obrigá-lo a alguma coisa!
— Pensei que você e Howard eram amantes. Diabos, Ginny... Eu não esperava
descobrir que você nunca foi tocada antes!
— Para o inferno com suas expectativas! Quem lhe deu o direito de tirar conclusões
sobre mim?
— Ora, Howard era seu noivo e vocês iam juntos para Roma. O que mais eu poderia
pensar?
— Como eu vou saber? — Ginny fitou-o consternada, magoada por ele estar
destruindo a lembrança de uma experiência que ela desejara guardar em seu coração
para sempre. — Que meu pai me criou para seguir princípios antiquados? Que valorizo a
integridade de meu corpo a ponto de não sair me oferecendo por aí, como se oferecesse
um bolo numa festa? Que Howard respeitava os meus sentimentos? Sinto muito, Steel,
mas eu não esperava uma análise da minha performance. Se o decepcionei, só me resta
me desculpar.
Começou a levantar-se, mas Steel puxou-a de volta para a cama, prendendo-a com o
próprio corpo.
— Quem falou em análise, Ginny? Seu pai é meu amigo. No meu país, um homem não
tira a virgindade da filha de um amigo. Seu eu soubesse da verdade, jamais teria tocado
em você.
A culpa transformou o semblante de Steel. A rejeição fria provocou uma onda de raiva
em Ginny.
— Bem, como você não sabia de nada, não precisa se sentir culpado. É pouco
provável que eu conte ao meu pai o que aconteceu. Além disso, tem de existir uma
primeira vez na vida de toda mulher. E, como você roubou o privilégio de Howard, tornou-
se o candidato mais óbvio para assumir o lugar dele. Especialmente depois de você
alegar ter sido muito bem instruído nas artes do amor.
Furioso, Steel levantou-se e vestiu-se. Quando voltou a olhar para Ginny, falou com
voz dura:
— Espero que minha performance tenha alcançado as suas expectativas, Ginny. A
partir do momento em que violei você, toda a farsa terminou entre nós. Só nos resta,
agora, marcar a data do nosso casamento.
— Não seja ridículo! Não vou admitir...
— Vai, sim, Ginny! Porque eu temo que você não escape às conseqüências de sua
curiosidade. Vou cumprir com minhas obrigações para com você e sua família e torná-la
minha esposa assim que Leo esteja em condições de acompanhá-la ao altar.
— Isso é absurdo! — Ginny protestou horrorizada. Ele só podia estar brincando. — Não
vou me casar com você só porque foi o meu primeiro amante.
— Seu único amante — ele a corrigiu. — A virgindade de uma mulher é um prêmio que
eu valorizo e que não. pretendo tratar de maneira diferente. Cometeu um grande erro ao
me escolher para substituir o seu Howard, Ginny, e vai ter de aprender a viver com as
conseqüências. — Após uma breve pausa, Steel acrescentou em tom aveludado: — Mas
prometo torná-las tão prazerosas quanto puder.
— Terá de passar por cima do meu cadáver! — Ginny insistiu desesperada.
— O que não seria nada difícil, mas tornou-se desnecessário. Afinal, seu pai acabaria
aceitando uma decisão tomada por nós dois, em comum acordo, de nos separarmos, mas
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ficaria arrasado se soubesse que nos unimos para enganá-lo.


— Seria capaz de contar a ele?
— Eu não. Você, Ginny. Que outra opção teria para explicar o motivo da sua mudança
de idéia?
— Posso pensar em alguma coisa. Qualquer coisa para não me casar com um homem
que se sente obrigado a abandonar a condição de solteiro, só para satisfazer seu orgulho.
Tarde demais, ocorreu-lhe que deveria ter dito: "um homem a quem não amo". Porém,
agora, a mentira já nem seria ouvida.
— Ora, se é isso o que a preocupa, agape mou, relaxe. O casamento sempre fez parte
dos meus planos, quando as circunstâncias fossem ideais.
— Chama isso de ideal? — ela inquiriu incrédula. Ele deu de ombros.
— Já está na hora de eu ter minha própria casa e parar de viver em hotéis. Com o
tempo, não tenho dúvida de que você se tornará uma excelente esposa e mãe. Em troca,
farei o possível para ser um bom marido. Muitos casamentos bem sucedidos tiveram
início em bases bem piores que essas.
Ginny sentiu-se sufocar de agonia.
— Mas não o meu — declarou com teimosia. — Se não me casar por amor, não me
casarei com ninguém.
— Você não faz o tipo solteirona, Ginny. E, se está esperando que Howard a aceite de
volta, pode esquecer. Ele não te ama... não como você precisa ser amada. Nunca amou.
Se for honesta consigo mesma, terá de admitir a verdade.
Ginny estremeceu. E claro que admitia, mas Howard não era o único homem em sua
vida que não a amava. Steel a desprezava. Desde o momento em que pusera os pés no
escritório, ela sentira a animosidade que ele lhe dispensava. Steel se divertira, frustrando
cada tentativa que ela fizera para recuperar a Sullivan's, ridicularizando sua presença na
empresa. Então, de forma humilhante, usara seu corpo para o próprio prazer e, em vez de
agir como um playboy experiente, a insultara ao insinuar que ela deveria passar o resto
de sua vida ao lado dele.
— Está perdendo o seu tempo. Estou cansada. Por favor, saia.
Depois de fitá-la em silêncio por um momento, Steel surpreendeu-a ao assentir.
— Está bem. Acho que você precisa mesmo de uma boa noite de sono.

CAPÍTULO XI

Ginny esperou que Steel saísse do quarto para, então, atirar-se nos travesseiros.
Ninguém lhe contara que o amor, assim como um diamante bem lapidado, possuía
diversas facetas. Como era possível sentir raiva e ressentimento de um homem e, ao
mesmo tempo, querer derreter-se em seus braços?
Encolheu-se na cama, tentando pensar nas coisas boas em sua vida: a recuperação do
pai, o futuro da Sullivan's. Porém, não conseguiu manter afastados os pensamentos sobre
Steel e as emoções que ele lhe despertava. Até então, participara do jogo arquitetado por
ele, saindo-se bem no papel. Mas, agora que estava apaixonada por ele, não sabia por
quanto tempo mais seria capaz de suportar aquela convivência.
Exausta, tanto no plano físico, quanto no emocional, puxou as cobertas e acomodou-se
na escuridão reconfortante. Mais tarde, tomaria um banho e vestiria a camisola. No
momento, só queria ficar ali, quieta, ainda sentindo Steel em seu corpo, num misto de
agonia e êxtase.
Mergulhou num sono agitado, povoado de sonhos assustadores, onde ela corria por
labirintos subterrâneos, sem encontrar a saída. Quando despertou ao som de uma batida
na porta, descobriu que já amanhecera. Foi imediatamente invadida por profundo alívio,
pela constatação de que estava sã e salva. Ao mesmo tempo, sentiu-se apreensiva, uma
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vez que as lembranças da noite anterior fizeram-se claras. E, é claro, Steel encontrava-se
na porta, querendo entrar.
— Espere um instante! — gritou e sentou-se na cama, ao mesmo tempo em que
puxava as cobertas até o pescoço. Lamentou não ter se levantado logo que Steel saíra do
quarto, na noite anterior. Agora, ele veria os restos da maquiagem em seu rosto e,
certamente, perceberia quanto ela ficara perturbada pelo que acontecera entre eles. —
Entre!
— Bom dia. — Steel entrou, trazendo uma xícara de café, com expressão neutra, como
se nada de extraordinário houvesse acontecido.
— Obrigada — Ginny agradeceu o café de má vontade.
— Você está bem, Ginny?
A pergunta carregava uma estranha ternura, que fez o coração de Ginny apertar.
— Perfeitamente — a mentira brotou em seus lábios, antes mesmo de ela pensar na
resposta.
— Bom, porque receio que tenha de deixá-la por sua conta, hoje, agape mou. Terei de
cuidar de várias questões envolvendo negócios. Pretendo resolver tudo o mais depressa
possível, para cuidar das providências para o nosso casamento. — Ignorando o suspiro
frustrado de Ginny, ele continuou: — Como vê, estou começando o dia cedo, mas Duncan
e Cathy já receberam instruções detalhadas e, se algum imprevisto ocorrer, basta deixar
um recado no Iliad. Eles saberão onde me encontrar.
Ele fez uma pausa, franzindo o cenho.
— Havia mais alguma coisa... Ah, sim! Já alimentei Kefi e o soltei no jardim. Você
também parece estar precisando de sol e ar fresco, Ginny. Por que não vai até a costa e
pega um bronzeado, para o dia do nosso casamento?
Ginny fitou-o, sentindo o suor gelado banhar-lhe o corpo. A razão lhe dizia para opor-se
veementemente àqueles planos absurdos de casamento. Por outro lado, a proximidade
dele, bem como sua postura autoconfiante, colocavam-na em desvantagem.
Assim, ela forçou um sorriso, calculando que a concordância seria o meio mais rápido e
eficiente de livrar-se dele. Ao menos, temporariamente.
— Talvez eu faça isso — concordou com suavidade. A sombra que obscureceu as
feições de Steel indicou que ele não se deixara enganar por tamanha docilidade.
— Garota esperta.
Tarde demais, Ginny percebeu-lhe as intenções, quando ele se sentou na beirada da
cama e puxou-a para si.
— Não... — Ginny começou a protestar, dividida entre proteger a nudez e submeter-se
ao beijo de Steel. — Não tomei banho e... — As palavras morreram quando os lábios dele
pousaram nos dela.
No mesmo instante, a resistência cedeu, e as mãos de Ginny deslizaram pelo terno
impecável, num abraço de abandono.
Momentos depois, Steel interrompia o beijo e levantava-se, para fitá-la com olhar
penetrante.
— Seu cheiro e seu sabor são deliciosos, Ginny. De uma mulher de verdade. Vejo que
tem muito a aprender, se pensa que um homem prefere uma mulher banhada e
arrumada, a uma envolvida em seu próprio perfume. Mas esta poderia ser uma aula muito
longa, e terá de esperar até que eu tenha mais tempo para ensiná-la.
Envergonhada e confusa com as reações que, definitivamente, não era capaz de
controlar, Ginny limitou-se a fitá-lo.
— Tentarei não passar muito tempo longe.
Ela ainda lutava para dominar as emoções, quando Steel saiu do quarto e fechou a
porta atrás de si.
No início do dia, Ginny não tinha a menor intenção de aceitar a sugestão de Steel de ir
à praia. Porém, depois de algumas horas na companhia do pai, que se mostrava muito
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entusiasmado, não só com sua pronta recuperação, mas principalmente com os planos de
casamento da filha, ela se sentia exausta e a idéia pareceu-lhe boa.
Agora, dirigindo de volta a Taychapel, podia lembrar-se das horas passadas em
Worthing com prazer. Ao menos, fora melhor do que ficar em casa, remoendo
pensamentos sombrios, ou embaraçando Duncan e Cathy com sua presença indesejada
no escritório.
Amaldiçoou Steel por tê-la colocado numa posição da qual só poderia escapar com a
maior dificuldade, para não mencionar a decepção que teria de causar ao pai. Mesmo
assim, ela encontraria um meio de escapar. Afinal, mal descobrira a verdade sobre seus
sentimentos por Howard, e não estava disposta a entrar em outro relacionamento
desastroso, só porque o orgulho grego de Steel Anastasi assim o exigia.
Se ele queria uma fêmea de perfume sensual em sua cama, que fosse procurar em
outro lugar, pensou irritada. E nem seria difícil encontrar. Afinal, era pouco provável que
ela engravidasse depois de uma única relação. Bem, Steel lhe garantira que ela estaria
protegida contra todos os perigos, exceto aquele.
Cansada da linha repetitiva de seus pensamentos, ligou o rádio e pôs-se a procurar por
uma música animada, que lhe alegrasse o espírito. Na terceira tentativa, sintonizou uma
estação que dava as últimas notícias. Já ia mudar, quando as palavras do repórter
chamaram-lhe a atenção:
— Depois da notícia surpreendente de que a rede concordatária de supermercados
Marsons acaba de ser encampada pela Anastasi Holdings, temos o Sr. Pandelis Anastasi,
presidente do conglomerado, aqui em nosso estúdios... Sr. Anastasi, o senhor é
conhecido como um grande empreendedor no ramo de lazer, mas supermercados... trata-
se de um investimento totalmente novo para o senhor, não?
Uma estranha sensação de desastre iminente tomou conta de Ginny, e ela se esforçou
para manter a calma enquanto ouvia a voz grave de Pandelis.
— Trata-se de uma expansão lógica. A Maksons tem um excelente potencial, mas,
infelizmente, sofre de falta de capital e complacência, dois problemas que pretendo
erradicar imediatamente. Uma das primeiras mudanças será reformar os centros de
jardinagem, introduzindo uma nova linha de produtos para decoração de ambientes,
fornecidos por uma companhia de renome, a Orchid.
Orchid! Impossível! A Sullivan's possuía a exclusividade de distribuição dos produtos
na Inglaterra. Se perdessem seu principal fornecedor estariam liquidados. O prazo para a
garantia de vendas maiores podia estar se expirando, mas ainda não chegara ao fim. Até
lá, a franquia continua a lhes pertencer.
Ginny foi atacada por profunda náusea, enquanto o grego empolgado continuava a
falar.
— Temos um mercado pouco desenvolvido de plantas, árvores e flores artificiais, cuja
qualidade somente a Orchid International pode fornecer. Vejo a expansão desse elemento
não só como um projeto lucrativo, mas também como uma oportunidade de melhorar o
meio-ambiente.
Ora, o que estava acontecendo? Se Pandelis tinha algum tipo de contrato com a
Orchid, só poderia ser ilegal. O entrevistador foi adiante:
— Apesar dos rumores ligando o seu nome ao de Irene Stavrolakes, herdeira de
estaleiros gregos, seu filho anunciou recentemente seu noivado com uma inglesa
desconhecida. O senhor está desapontado com a escolha dele?
Como eles se atreviam a discuti-la no ar, como se ela fosse um produto à venda num
balcão qualquer? Furiosa, Ginny pisou mais fundo no acelerador, ouvindo a resposta de
Pandelis.
— De maneira alguma. Estou satisfeitíssimo com a escolha que meu filho fez para sua
esposa. Ginette Sullivan é uma jovem muito bonita, que trará para a família, além de
muitas outras vantagens, sangue novo e vitalidade.
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells

Outras vantagens, Ginny empalideceu ao dar-se conta das implicações das duas
palavras. Havia apenas uma maneira de Pandelis ter chegado à Orchid: através do filho.
Assumindo uma posição de confiança, Steel informara a Orchid de que a Sullivan's não
teria condições de cumprir o contrato, e Pandelis estivera esperando para agarrar sua
oportunidade.
De um momento para o outro, tudo ficou muito claro. Fora por isso que Steel estivera
preparado para investir uma quantia tão grande na conquista da confiança de Leo. E,
quando este recusara a oferta de sociedade, Steel vira como única saída a farsa sobre o
noivado com Ginny.
Lágrimas provocadas pela dor da traição rolaram livres por suas faces. Seu pai fora
usado da maneira mais inescrupulosa, e ela fizera parte da trama, de livre e espontânea
vontade.
Como pudera ser tão cega, a ponto de não perceber as intenções de Steel? Ele não
tinha nada a perder. Quando a Sullivan's falisse, o que agora seria apenas uma questão
de tempo, ele poderia recuperar parte do investimento com a venda dos estoques. E, sem
dúvida, Pandelis o reembolsaria a quantia restante.
Ginny começou a tremer, sem nem sequer ouvir as vozes que continuavam a sair do
auto-falante do carro. Steel, certamente, vira a oportunidade na primeira vez em que
entrara na Sullivan's e percebera o caos à sua volta. Dono de tino afiado para os
negócios, dera-se conta da vulnerabilidade da empresa, e tirara vantagem imediata da
situação.
Não só a vulnerabilidade da companhia, mas também a de Ginny. Na noite anterior, ele
planejara fazer o mesmo com ela: conquistar, usar e jogar fora. Somente o pequeno .
detalhe técnico da virgindade de Ginny atrapalhara seus planos. Que tipo de homem era
aquele? Sentia remorsos por ter seduzido uma virgem, mas era capaz de violentar uma
empresa sem se importar com mais nada!
Secando as lágrimas com a mão, Ginny tomou uma decisão. A guerra terminara e a
Sullivan's perdera. O que não a impediria de lutar a sua última batalha. Assim que se
visse cara a cara com Steel Anastasi, rataria de dizer-lhe com todas as palavras o que
pensava dele. E se certificaria de que ele jamais se esquecesse de seu discurso. Jogaria
o maldito orgulho grego no chão e pisaria em cima.
Respirou fundo e forçou-se a relaxar. O volante de um carro não era o melhor lugar
para histeria. Sua decisão estava tomada. Iria direto para Londres, ao hotel Iliad e, se
Steel não estivesse lá, descobriria seu paradeiro. Nada a impediria de confrontá-lo.
Uma vez às portas imponentes do Iliad, a coragem quase lhe falhou. Porém, usando a
raiva como combustível, Ginny marchou até a recepção.
— Poderia verificar se o Sr. Anastasi encontra-se na suíte de cobertura, por favor? —
falou em tom seco, porém controlado.
— O Sr. Anastasi tem visitas esta noite — informou o recepcionista, estudando com
olhos críticos o vestido simples que Ginny escolhera para passar o dia na praia.
— Ótimo! — ela fingiu ter entendido errado. — Vou subir, então. Sou Ginette Sullivan,
noiva dele. Ele está à minha espera.
Virou-se e dirigiu-se apressada para os elevadores.
— Ah... Srta. Sullivan... Certo! — O respeito substituiu a indiferença na voz do
recepcionista, no momento em que Ginny apertava o botão do elevador.
Furiosa, saiu do elevador e caminhou rapidamente pelo corredor. O que quer que Steel
houvesse providenciado para distrair seus convidados, nada se compararia ao espetáculo
que ela estava prestes a proporcionar. Plantou o dedo na campainha e deixou-o lá.
Ginny pensou que estivesse preparada para qualquer coisa, mas quando a porta
finalmente se abriu e ela deparou com uma loira de trinta e poucos anos, a pontada de
dor que ameaçou destruir seu coração provou que, não importava o que Steel fizesse, o
amor que sentia por ele não morreria com tanta facilidade.
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells

— Gostaria de falar com Stell – ela falou, sem saber como fora capaz de encontrar a
voz. — Poderia dizer a ele que estou aqui?
Aceitando o convite para entrar, Ginny notou que a loira estava descalça e que havia
um par de sandálias de salto sobre um dos tapetes. Almofadas em desordem indicavam
onde a mulher estivera aparentemente deitada, quando fora incomodada pela campainha.
A sala estava vazia. Steel tinha uma visita apenas. Onde estaria? No quarto,
preparando-se para uma nova conquista, ou então recuperando-se dela.
Deliberadamente, Ginny ignorou o gesto da mulher, convidando-a a sentar-se.
Notou que os olhos azuis pálidos da outra a estudavam atentamente, como se
pudessem ler o tormento que ela tentava com tanto esforço esconder.
— Ele está tomando banho — a loira falou por fim. — Vou dizer a ele que está aqui.
Não perguntou o nome de Ginny e, como esta não o mencionara, a única conclusão
lógica era que Steel a informara sobre o papel de Ginny em sua vida.
— Steel, querido... — a voz melodiosa chamou da porta do quarto. — Está
apresentável? Tem uma visita, e acho que ela desejo vê-lo com urgência. — Em seguida,
ela voltou para a sala. — Ele não deve demorar.
— Ginny! O que aconteceu?
Steel apareceu na sala no instante seguinte, vestindo apenas uma calça de algodão
sobre o corpo molhado. Largando a toalha no chão, avançou para Ginny de braços
estendidos, como se fosse abraçá-la.
— Não me toque! — ela gritou agitada, esquivando-se ao contato.
Não havia se preparado para a torrente de emoções que a envolveu no momento em
que pousou os olhos nele. O que estava acontecendo com ela, afinal? Estava diante de
um monstro criminoso, mas não conseguia deixar de amá-lo... de desejá-lo.
Ele parou no meio do caminho, a expressão preocupada.
— Aconteceu alguma coisa com Leo?
— É o que você estava esperando? Não, meu pai continua muito feliz em seu paraíso
de tolos, no momento, fazendo planos para o futuro, pensando na companhia que deixará
de existir antes do final da semana.
Uma torrente de palavras que só podiam ser obscenidades gregas escapou dos lábios
de Steel, ao mesmo tempo em que a irritação substituía a preocupação em seu
semblante.
Uma tosse suave lembrou Ginny de que tinham platéia. Em seguida, a loira aproximou-
se de Steel e pousou a mão delicada em seu braço.
— E óbvio que minha presença não é desejada no momento. Não se preocupe em me
acompanhar até a porta. Conheço o caminho.
— Ora, Stella... — Steel teve a decência de mostrar-se embaraçado. — Sinto muito por
isto... Eu queria...
Ele não terminou a frase, e nem precisava. Ginny não precisaria ser paranormal para
saber o que Steel queria de uma mulher bonita, sozinha em seu apartamento.
— Não se preocupe, querido — Stella apertou-lhe o braço.— Teremos outra
oportunidade... em breve.
— É o que eu espero! — Steel falou irritado e observou-a sair, antes de virar-se para
Ginny. — Agora, pode me explicar que diabos está acontecendo?
— Imagino que você não faça a menor idéia! Vim lhe dar os parabéns, é claro. Foi um
plano e tanto fingir para o meu pai que você e eu estávamos apaixonados, para
conquistar o poder de roubar a franquia da Orchid e, então, entregá-la à Anastasi
Holdings. Mais esperto ainda, foi me fazer acreditar que tinha algum tipo de rixa antiga
com Pandelis, para que eu não questionasse sua disposição exagerada em se tornar
sócio de meu pai.
Sentindo a raiva espalhar-se por seu corpo, como o fogo numa floresta, Ginny
continuou, ignorando o olhar ameaçador de Steel.
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Um Acordo Arriscado – Sabrina Destinos nº 3 – Angela Wells

— E claro que eu sempre soube que você tinha interesses egoístas. Afinal, não fez o
menor esforço para esconder isso. Mas fui burra demais para não perceber que a
Sullivan's seria uma vítima deles... Meu pai é um homem doente! Neste exato momento,
deve estar planejando o futuro, totalmente ignorante do fato de que você entregou seu
principal fornecedor para a Anastasi Holdings.
Ginny respirava com dificuldade, observando Steel ali parado, imóvel, o rosto
inexpressivo, mas conseguiu encerrar seu discurso conforme planejara.
— Você chamou meu pai de amigo. Diga-me, Steel, qual é a tradução hebraica para o
seu nome? Judas?

CAPÍTULO XII

Ginny não sabia o que esperar, mas a imobilidade de Steel era quase tão assustadora,
quanto uma reação violenta.
— Do que mais sou culpado? — ele perguntou em tom suave. — Ou já terminou suas
acusações?
— Não zombe de mim! O que mais há para dizer? Você tomou tudo o que quis e nos
deixou sem nada! — Ginny cerrou os punhos e tomou fôlego para dizer a maior mentira
de sua vida: — Vim para dizer que odeio você e que espero que apodreça no inferno!
Steel moveu-se com a rapidez de um felino selvagem, segurando-a pelos punhos.
— Tem razão, agape mou. Tive tudo o que quis, mas foi tudo oferecido de livre e
espontânea vontade. E, depois, ofereci o preço mais alto que um homem pode oferecer:
casamento.
— Solte-me! — Ginny lutou em vão para escapar aos dedos fortes. — Prefiro morrer a
me casar com um sujeito inescrupuloso como você! E sabe muito bem que não é disso
que estou falando. Talvez você estivesse ocupado demais para ouvir o rádio esta tarde,
mas eu ouvi tudo... dos lábios do próprio Pandelis. Solte-me!
— Não antes de mostrar exatamente quão inescrupuloso eu sou, Ginny.
Steel fitou-a com ar determinado e, então, tomou-a nos braços, apesar de seus
esforços para libertar-se. Virou-se e encaminhou-se para o quarto.
Segundos depois, Ginny foi atirada sobre uma cama enorme, enquanto Steel
continuava de pé a fitá-la, de mãos na cintura, a pele nua e ainda molhada cobrindo os
músculos bem desenhados.
Ginny tinha de sair dali. Desesperada, olhou em volta, absorvendo detalhes do quarto,
que devia servir de escritório, em vista da grande mesa equipada com computadores de
última geração.
— Não tente fazer nada, Ginny — ele advertiu em voz baixa. — Fique exatamente
onde está.
Orgulhosa, ela obedeceu, encarando-o com ar de desafio. Então, Steel foi até a mesa,
onde apanhou três folhas de papel.
— Número um — falou em tom seco. — Uma cópia do contrato que Leo assinou pela
manhã, tornando-me sócio integral. Número dois... uma cópia do fax que enviei à Orcbid,
informando-os de que a Sullivan's encontra-se em franco desenvolvimento, e que
poderiam esperar um grande pedido ainda esta semana, e solicitando uma confirmação
de que o contrato de exclusividade continua válido. Número três... a resposta enviada por
eles, menos de uma hora depois.
Confusa, Ginny leu a terceira folha que ele atirou em suas mãos: "Confirmamos
validade do presente contrato de exclusividade com a Sullivan's e aguardamos seu
pedido com satisfação."
— Quer dizer que a Sullivan's continua sendo distribuidora exclusiva na Inglaterra? —
perguntou incrédula. — Mas eu ouvi seu pai vangloriando-se de que havia comprado o
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controle da Marsons e que ia introduzir os produtos da Orchid...


Ginny calou-se ao ouvir o suspiro irritado de Steel.
— E daí? — ele inquiriu. —A Sullivan's continua sendo distribuidora exclusiva. A
Marsons compra diretamente de nós, a preço de atacado. Não só temos um novo e
grande cliente, como também, ao entregar o pedido diretamente das docas para os
armazéns da Anastasi Holdings, cumprimos o contrato com a Orchid, aumentamos nosso
lucro em quase cem por cento, sem incorrer em custos de armazenamento.
— Oh! — Ginny murmurou desolada, sentindo a raiva dissipar-se, deixando-a vazia e
fraca.
Era tudo tão simples... e nem lhe passara pela cabeça.
— Oh... É tudo o que tem a dizer? — Steel inquiriu, sem esconder a fúria em seus
olhos. — Foi um negócio dos melhores, que beneficiou todas as partes envolvidas. Eu
não esperava que você caísse de joelhos num gesto de gratidão, Ginny. Mas, também,
não esperava ser amaldiçoado à danação eterna.
— Eu sinto muito. — Ginny fitou-o em busca de perdão, mas nada que dissesse ou
fizesse apagaria o transtorno que ela causara. Somente um pensamento trouxe-lhe algum
conforto: depois da cena e das acusações que ela fizera, era óbvio que ele não se sentiria
mais obrigado a casar-se com ela — Ah, Steel... Eu sinto tanto!
Tentou levantar-se, pensando em ir embora dali o mais depressa possível, mas ele pôs
a mão em seu ombro e forçou-a a ficar onde estava.
— Se pensa que pode entrar aqui e me humilhar diante de uma testemunha, para
depois ir embora sem pagar por isso, está muito enganada. — Sentou-se ao lado dela na
cama e beijou-a com ardor. — Você me deve, Ginny. E vai pagar.
— Steel, não! — Horrorizada pelas intenções óbvias no rosto de Steel, Ginny tentou
escapar através da eloqüência. — Eu sinto muito pelo que disse... pelas acusações que
fiz. Mas, tudo parecia tão claro... Farei o que puder para reparar os danos que causei. Sei
que deve estar furioso por eu ter entrado em seu apartamento daquela maneira,
acusando-o de duplicidade e destruindo a noite romântica que você havia planejado com
Stella, mas se me der o telefone dela, ligarei e pedirei desculpas e explicarei...
— Stella! — Steel soltou uma risada. — Meu Deus, Ginny... do que está me acusando
agora? Stella é minha madrasta, esposa de Pandelis! Tive de ir buscá-la no aeroporto de
Heathrow porque meu pai ainda está em Manchester, reorganizando a diretoria da
Marsons. Na verdade, deixei um recado com Cathy explicando tudo.
Ginny sacudiu a cabeça, com dificuldades em compreender exatamente o que havia
acontecido.
— Passei a tarde em Worthing e, na volta, ouvi sobre a Orchid no rádio e vim direto
para cá — explicou.
— E criou uma impressão em minha madrasta, que vai ser difícil de mudar. Stella
queria saber tudo sobre a minha noiva, e eu queria tomar um banho antes de ir para
Taychapel e dar as boas novas sobre a Orchid para você e seu pai. Então, ela ficou à
vontade, enquanto eu gritava as respostas a todas as suas perguntas, do banheiro.
Planejei apresentá-las ainda esta noite, mas, como sempre, agape mou, você fez o
possível para me impedir.
— Só tento impedi-lo quando suas exigências não são razoáveis — Ginny protestou,
aliviada ao perceber que ele recuperava o humor costumeiro.
— Sou sempre razoável, Ginny. — Com olhar cínico, Steel tomou-lhe a mão esquerda
e tocou o anel precioso.
— Ninguém consegue revitalizar uma empresa agonizante, se não for razoável.
Quando tomo uma decisão, dificilmente volto atrás. Você devia saber disso.
— Imagino que muitas mulheres como eu já saibam disso — Ginny comentou, sentindo
uma pontada de dor.
— Está com ciúmes? — ele perguntou num tom diferente, que nunca usara antes.
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— Claro que não! — ela mentiu.


— Escute, Ginny. — Ele apertou a mão dela na sua.
— Não há mulher alguma em minha vida, muito menos em minha cama, desde muito
antes de eu te conhecer. Não é do meu feitio me envolver em casos de uma noite, nem
bancar o consolo para mulheres entediadas com seus casamentos. Ultimamente, tenho
estado ocupado demais com os negócios, para encontrar tempo para um relacionamento
mais estável...
— Até meu pai lhe dizer que qualquer um que quisesse partilhar a Sullivan's, teria de
partilhar a filha dele, também — Ginny interrompeu-o com amargura.
— Não. Até Pandelis me procurar com a perspectiva de eu me casar com Irene
Stavrolakes... e eu pensar seriamente em fazer isso.
— Mas você disse...
— Que não tinha a menor intenção de resgatar meu pai dos problemas que ele bem
merecia? Sim, essa foi a minha primeira reação. Por outro lado, Irene é uma jovem bonita,
que teve uma educação antiquada. Estava disposta a casar-se comigo, e eu não tinha a
menor dúvida de que ela se transformaria numa boa esposa e mãe. Em troca, eu estava
preparado para ser um marido fiel e dedicado. Muitos casamentos se firmam em bases
semelhantes.
— Mas você não sentia nada por ela. Steel deu de ombros.
— O amor não era importante para mim. Eu já tinha aprendido tudo o que havia para
aprender sobre o amor com Louli.
— Não pode basear seu julgamento sobre todas as mulheres numa única e infeliz
experiência — Ginny protestou.
— Mas foi o que eu fiz. Até a noite em que entrei na Sullivan's, disposto a fazer um
escândalo... e descobri que o centro de todo o caos era você, Ginny.
Por alguns momentos, os dois fitaram-se em silêncio.
— Eu havia acabado de chegar de Atenas, quando Kostas me telefonou aflito, dizendo
que o Keys não poderia abrir à noite, porque nosso fornecedor recusara-se a entregar o
pedido, sem pagamento adiantado. Pode imaginar como eu me senti?
Ah, sim, ela podia! E limitou-se a assentir, enquanto Steel continuava:
— Eu havia planejado telefonar para Pandelis e dizer-lhe que aceitava a proposta. Em
vez disso, tive de ir até Taychapel, a fim de descobrir o que estava acontecendo. E lá
estava você, a filha devotada retornando ao ninho, inexperiente, mas entusiasmada,
seguindo o rumo da autodestruição. Não foi o melhor dos encontros, isso eu posso
garantir, agape mou.
— O que você esperava? — Ginny defendeu-se. — Papai estava seriamente doente,
meus planos de férias, destruídos, e você ainda me aparece, disposto a fazer tudo para
me provocar, me trazendo para Londres sob pretextos que você mesmo admitiu serem
falsos. Eu não estava no espírito para comemorações!
— Mas estava no espírito para o amor. Quando a cantora cantou "Como a vida é
;
solitária sem amor", você chorou nos meus braços.
— Não... Eu não sabia o que ela estava cantando. Eu estava cansada e...
— E infeliz porque o homem com quem ia se casar, havia partido sem você.
— Eu não podia culpá-lo...
— Ele foi egoísta. Não merecia o seu amor, nem a sua compaixão. E, quando senti o
seu corpo tremer em meus braços, jurei que ocuparia o lugar dele antes do verão
terminar. É verdade que não sabia exatamente como faria você aprender a gostar das
coisas que gosto, partilhar minhas ambições. Mas, também, não sabia como Leo facilitaria
a minha entrada na sua vida, embora no passado ele houvesse me confidenciado suas
reservas com relação ao seu namorado...
— Papai falou disso com você?
— Eu lhe disse que éramos amigos. E sei ser um boi; ouvinte. Comecei a me perguntar
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que aparência teria aquela filha que possuía todas as virtudes, mas seu os.seu só tinha
uma fotografia dos tempos de escola para me mostrar. Então, um dia, vi uma moça de
vestido vermelho e cabelos castanho-claros e pensei que daria um jeito para que o pai
dela nos apresentasse. Ginny assentiu.
— A feira de Birmingham — murmurou. — Devo ter causado uma grande impressão
em você. Nem me reconheceu quando entrou na Sullivan's.
— Eu lhe disse que tinha outras preocupações na cabeça. Além disso, só a tinha visto
de longe, e não esperava encontrá-la lá, pois Leo havia mencionado seus planos de férias
em Roma.
— Bem, nada disso importa, agora — Ginny declarou sem jeito. — Conseguiu tudo o
que queria: obteve lucros, frustrou seu pai e se divertiu às minhas custas. Espero que
tenha apreciado a experiência!
— Ah, eu adorei, Ginny! — Steel confirmou com um sorriso. — Algumas partes mais
que outras. No todo, foi uma operação muito bem sucedida. Até Pandelis já está se
conformando em não ter o nome dele associado ao de Stavrolakes.
— É claro! Depois de você ter lhe oferecido a Orchid...
— Em parte — Steel admitiu, puxando-a para mais perto. — Mas, provavelmente, foi
mais por causa do meu recente noivado.
— Comigo? Pensei que...
— Segundo Stella, a aprovação de Pandelis foi mesmo genuína. Parece que meu
querido pai decidiu apostar num jogo duplo, desta vez. Calculou que, se eu não aceitasse
me casar com Irene, ficaria tão furioso com a sugestão, que encontraria uma outra noiva
imediatamente. Nos dois casos, ele conseguiria o que realmente desejava: transformar o
filho itinerante num responsável pai de família. Ginny fechou os olhos, tentando esconder
a dor.
— E você venceu, Steel. Conseguimos enganá-lo direitinho! — falou, reprimindo o nó
na garganta.
— Não, Ginny. Eu perdi. Quando menti para Leo sobre o nosso casamento, tive a
melhor das intenções. Queria impedi-lo de ir à falência e, ao mesmo tempo, apresentar
você a pessoas diferentes. Seu pai tinha tanta certeza de que você cometeria um grande
erro casando-se com Howard, que achei que estaria fazendo um favor a todos se a
ajudasse a sair daquele relacionamento.
— È conseguiu.
— E caí na minha própria armadilha — ele completou com amargura. — Ao interferir na
sua relação com Howard, acabei fortalecendo o seu amor por ele. Ao obrigá-la a mentir
para ele, ganhei o seu ódio. Ao seduzi-la, theos mou, tirei de você o que você guardava
para entregar ao homem com quem ia se casar...
— Ah, Steel, não foi nada disso! — Emocionada pela dor do remorso, tão evidente nos
olhos de Steel, Ginny abraçou-o, esquecendo-se do orgulho. — Eu queria você! Queria
muito!
— Mas eu te amo, Ginny — ele replicou com simplicidade. — Essa é a diferença. Eu te
amo e queria me casar com você. Por tudo o que Leo me contou, eu realmente acreditei
que, o que quer que existisse entre você e Howard, não era o bastante. E ainda acredito,
Ginny. A única diferença é que agora percebo que também não sou o que você quer. Eu
poderia tentar mudar seus sentimentos, se você fosse indiferente a mim. Mas, como
posso fazer com que deixe de me odiar? O seu ódio me derrotou.
Amor? Steel acabara de dizer que a amava? Ele dissera uma porção de outras coisas,
mas Ginny mal registrara as palavras.
— O que... o que você disse? — inquiriu sobressaltada.
— Que apostei e perdi. Vou contar tudo a Leo...
— Não! — Ginny tremia. — Disse que me ama?
— Incrível, não é? Imaginei que fosse imune a tal sentimento, mas Leo foi um
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excelente relações públicas da filha generosa e dedicada. Acho que já estava meio
apaixonado antes mesmo de conhecê-la.
Ele a amava. Ginny não havia se enganado. Nem ele precisaria repetir as palavras
gravadas em sua memória. A alegria tomou conta de Ginny. Steel Anastasi a amava!
— Você disfarçou muito bem! — falou, adiando sua confissão.
— Eu não queria acreditar. Já havia passado por isso antes. Ou, ao menos, acreditava
que sim. O amor não fazia parte dos meus planos para o futuro. Mas, quando entrei na
Sullivan's e vi você, lutando para salvar os negócios de seu pai, descobri que não poderia
deixá-la. Disse a mim mesmo que estava interferindo por minha amizade com Leo, mas o
motivo ia muito além. Posso jurar, Ginny, que pretendia fazer as coisas devagar e com
cuidado, mas subestimei a força dos meus próprios sentimentos. E, quando descobri que
era o primeiro homem em sua vida, já era tarde demais.
— Porque homens honrados não seduzem a filha de um amigo?
— Porque eu descobri que te amava, e que meu tempo havia se esgotado.
— Ah, Steel... — ela começou a falar, os olhos brilhando de felicidade, mas Steel fitava
o vazio.
— Tudo bem, Ginny. Sei quando perco uma batalha. Vou contar toda a verdade a Leo,
como chantageei você...
— Ah, não vai, não! — Steel fitou-a incrédulo, quando ela continuou: — Como pode
sequer sugerir tamanho absurdo? Você entra em minha vida, mente para todo mundo,
abre meus olhos para o fato de que eu ia me casar com um homem a quem não amava,
me apresenta ao seu pai, partilha a minha cama e, então, acha que pode sair com
entrou? E, pior que tudo isso... você fez com que eu me apaixonasse por você, Steel
Anastasi, e receio que, agora, eu seja obrigada a insistir no nosso casamento.
Steel não falou, mas seus olhos disseram tudo, quando ele puxou Ginny para si,
abraçando-a com força e beijando-a com paixão, provocando-lhe intensa reação.
De repente, Ginny descobriu-se tendo vertigens, e perguntou-se se o beijo apaixonado
de Steel estava lhe tirando o oxigênio. Ou seria aquela felicidade inebriante, que ela nem
sequer sonhara existir, que a colocara naquela condição?
Quando Steel finalmente descolou os lábios dos dela, Ginny expressou seu medo:
— Estou me sentindo tão... estranha — murmurou e, então, lembrou-se da voz dele,
clara e nítida: "Não pode ser comprado, nem forçado, e existem pessoas que passam a
vida inteira sem experimentá-lo. Mas, estar possuído pelo kefi é saber que a vida existe
para ser vivida com alegria, é ser um espírito livre..."
— Sim, agape mou — Steel murmurou de encontro aos seus cabelos, acariciando-
lhe.as costas e os braços. — Também estou sentindo... Os deuses nos deram sua
bênção. — Depois de beijá-la mais uma vez, ele perguntou: — Ginny, você se importa de
trocar suas férias em Roma, por uma lua-de-mel nas ilhas gregas?
— Por que outra razão acha que vou me casar com você? — ela perguntou com um
sorriso. Então, tornou-se séria. — Sei que é pedir um bocado, mas você se importa se
adiarmos nosso planos, até papai estar totalmente recuperado? Eu não gostaria de deixá-
lo sozinho...
— O que a faz pensar que ele ficaria sozinho? Lembra-se de que eu mencionei o
desejo de Cathy em se casar?
— Cathy! Está dizendo que Cathy e papai...
— Ele estava criando coragem para lhe contar, Ginny, pois não sabia como você
reagiria à idéia de ter uma madrasta, depois de tantos anos.
— Eu não poderia estar mais feliz! — Ginny franziu o cenho. — Você ficou contrariado
por saber que seu pai aprova nosso casamento?
— Como poderia? Pandelis e eu nos compreendemos, apesar de nos desentendermos,
às vezes. Acha que devemos discutir isso agora?
— Claro que não!
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Deitando-se nos travesseiros, Ginny abriu os braços num convite.


Se a primeira vez que haviam feito amor fora memorável, a segunda era indescritível.
Mas, é claro, os gregos teriam uma palavra adequada... sempre tinham. Porém, Ginny
lembraria de perguntar a Steel mais tarde, pois, naquele momento, bastava sentir.

ANGELA WELLS foi educada em um convento em Essex, na Inglaterra, e, mais tarde,


abandonou o agitado mundo da propaganda e marketing para casar-se e constituir família
em um subúrbio de Londres. Escrever começou como hobby, e ela utiliza cenários que
conhece bem de suas viagens, especialmente a região do Mediterrâneo. Sua ambição,
ela diz, além de escrever muitos outros romances, é passar mais tempo na Austrália —
especialmente em Sidney e nas ilhas de Great Barrier Reef.

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