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Sabrina Destinos 07 – Kim Lawrence – Uma atração

irresistível

Uma Atração
Irresistível
(Kim Lawrence)
Titulo Original: Relentless Seduction

“Você será minha... quando eu quiser...”


Nathan Audley era um homem poderoso. Geralmente conseguia o que queria... e
ele queira Annie! Ele acreditava que ela era uma aproveitadora, uma jovem viúva à
procura de marido rico. Mas estava derterminado a dominá-la, arrebatando-lhe
tanto o adorado lar quanto o coração apaixonado.
Annie estava decidida a não se tornar amante de nenhum homem, e sabia que não
podia permitir que a sensualidade e o charme irresistíveis de Nathan a

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cativassem. Mas resistir a uma sedução implacável como aquela era uma tarefa
quase impossivel!

Digitalização: Polyana
Revisão: Valéria O.

Querida leitora,
Você não pode perder as novas séries que estão nas bancas. Romances
deliciosos, sensuais, repletos de aventura e paixão. Julia Verão, Sabrina Destinos
e Bianca Sonhos: três séries que chegaram para trazer mais amor a sua vida!

Janice Florido - Editora Executiva

Copyright © 1995 by Kim Lawrence


Originalmente publicado em 1995 pela Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra
Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial,
sob qualquer forma.
Esta edição é publicada através de contrato com a Mills & Boon Ltd.
Esta edição é publicada por acordo com a Mills & Boon Ltd.
Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas
vivas ou mortas terá sido mera coincidência.
Título original: Relentless Seduction
Tradução: Marcelo Penn
EDITORA NOVA CULTURAL
uma divisão do Círculo do Livro Ltda.
Alameda Ministro Rocha Azevedo, 346 – 11º andar
CEP: 01410-901 - São Paulo - Brasil
Copyright para a língua portuguesa: 1997 CÍRCULO DO LIVRO LTDA.
Fotocomposiçào: Círculo do Livro
Impressão e acabamento: Gráfica Círculo

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CAPITULO I
Annie sentiu o choque da água gelada. Com a respiração presa e um grito
travado na garganta, ela emergiu ao lado do companheiro de natação. A água lhe
escorria pelo rosto. Annie afastou os cabelos que lhe caíram nos olhos.
Geralmente vermelho acobreados, os cachos haviam escurecido em contato com a
água.
— Não é uma delícia?! — Josh exclamou.
Annie esboçou um sorriso de ironia.
— Você acha mesmo? — perguntou, fitando o rosto bronzeado. Com os
cabelos escuros escorridos para trás, Josh se parecia muito com uma lontra.
Essa analogia se intensificou ainda mais quando ele começou a cortar as águas
com o corpo esguio, soltando um grito de triunfo, que ecoou no ar vespertino.
Lentamente, Annie o acompanhou. Era isso ou morrer de frio; o sol do fim
de maio podia dar uma ilusão do calor mediterrâneo, mas a piscina sem
aquecimento deixava claro que estavam na Inglaterra e no dia seguinte o frio
poderia ser de matar.
Annie atravessou a piscina, de costas. A sensação era agradável e ela ficou
feliz por ter sido convencida a largar os livros. Josh talvez estivesse certo; quem
sabe estivesse estudando demais. Mesmo assim, os exames finais estavam se
aproximando e ela precisava se sair bem. Devia isso a David.
Annie estava divagando quando Josh arrastou-a para baixo da água. Ela
contra-atacou e uma briga barulhenta se seguiu. Por fim, derrotada e às
gargalhadas, ela nadou para a beira da piscina.
Seus braços e pernas estavam, porém, muito cansados de tanta atividade
física e se recusaram a obedecê-la quando ela quis sair da água. Estava prestes a
se virar e a pedir ajuda a Josh, quando foi puxada pelo pulso.
Annie ficou de pé na borda da piscina. A água escorria por seu corpo alvo,
elegantemente vestido em um maio negro. Com uma expressão interrogativa, ela
fixou os olhos cinzentos no dono das mãos que ainda lhe apertavam os pulsos.
Ficou aturdida com o fato de um estranho ter invadido a privacidade de Chausey.
— Boa tarde, e obrigada. Devo estar fora de forma — acrescentou
zombeteiramente. — Posso ajudá-lo?
Ela se afastou um pouco e pela primeira vez conseguiu vê-lo com clareza.
Ele era alto, forte e tinha ombros largos. Estava usando um terno escuro
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alinhado e uma camisa branca. O tecido leve era a única concessão que ele fazia
ao calor. — É provável que sim.
Annie se surpreendeu, não apenas pela resposta mas também pelo fato de
a voz ter soado grave, profunda, demasiado formal. Certamente o fato de ela
estar usando traje de banho não dava a nenhum homem o direito de examiná-la
de alto a baixo. Havia uma espécie de cinismo naqueles olhos cor de absinto. —
Sua forma física parece ótima — ele concluiu. Annie deu um suspiro de alívio
quando viu Josh saindo da piscina. Ele balançou a cabeça, lançando uma chuva de
gotas geladas em torno de si. Ela estremeceu, pois algumas atingiram sua pele,
que já havia se aquecido sob os raios solares.
Josh passou rapidamente os olhos pelo visitante, olhou por cima dos
ombros de Annie e emitiu uma exclamação de boas-vindas. Josh adiantou-se e ela
viu a figura magricela do enteado vindo pelo terraço.
Matthew Selby, o enteado de Annie, cumprimentou Josh calorosamente,
plantou um beijo no rosto da jovem madrasta, e se afastou um pouco.
— Está se alimentando direito? — ele perguntou, franzindo a testa. Os
óculos deslizaram para a ponta do nariz.
Annie sentiu vontade de rir. De algum modo a relação mãe-filho havia se
tornado bastante confusa, mas, considerando-se que Matthew tinha dois anos a
mais do que ela, o fato não era de todo surpreendente. Annie sorriu com
profunda afeição para o jovem. Legado de seu casamento, a amizade entre ambos
era um algo que ela prezava mais do que tudo na vida.
Matthew poderia ter ficado ressentido com ela, a garota que conhecera
por tantos anos e que de repente se casara com o pai; mas, embora ele
desaprovasse a união e nunca tivesse fingido o contrário, também continuara a
ser seu amigo de todas as horas.
— A culpa é de meu metabolismo irregular, que me faz ficar magricela.
— Você está molhada — ele continuou com um tom severo, olhando para as
manchas que ela deixara no terno. Escuro como o do desconhecido, o traje de
Matthew estava amarrotado, como sempre. A presença do estranho devia estar
ligada à do enteado, imaginou, consciente do olhar fixo que o estranho lhe dirigia.
De repente, o desconhecido se virou para Matthew. O queixo anguloso se
enrijeceu, e Annie se deleitou em observar os músculos e os nervos que lhe
pulsavam no pescoço.
— Vejo que já conhece Nathan — Matthew acrescentou. — Eu estava
vasculhando a casa à sua procura, Annie.
— Convenci Annie a dar uma parada. É a única pessoa que conheço que está

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indo bem nos estudos e mesmo assim se impõe uma disciplina rígida. — Josh deu
uma palmadinha afetuosa em Annie. — Todo esse trabalho intelectual vai direto
para os quadris, querida.
Annie virou-se e mostrou a língua para Josh, arrancando risadas dos dois
jovens e um sorriso de desdém do homem misterioso.
— Deixe que eu me preocupo com os meus quadris — Na verdade, Matthew,
ainda não fomos apresentados — ela corrigiu.
— Pensei que... Desculpe-me, querida. Este é Nathan Audley — ele anunciou
com um floreio. — Esta é Annie Selby.
Annie arregalou os olhos. Aquele era o patrão de Matthew, o esquivo
empresário que, entre numerosas possessões, tinha uma rede de hotéis
internacionais para a qual Matthew havia ido trabalhar assim que se formou. O
fato desapontara o pai, que queria que o filho seguisse seus passos ilustres e
académicos.
A idade provou não ser uma barreira na ascensão até certo ponto
meteórica de Matthew dentro da empresa. Annie, que conhecia bem o intelecto
do enteado, ficara mais feliz do que surpresa. Mesmo assim, impressionou-a o
fato de o próprio patrão tê-los vindo visitar.
— Que ótimo. Se quiserem vir para dentro, vou preparar o chá.
Annie e Nathan Audley apanharam o roupão de banho ao mesmo tempo.
Depois de uma breve e desajeitada disputa, ela soltou a vestimenta e permitiu
que ele lhe a colocasse sobre os ombros.
— Que gentil — ela murmurou, sabendo que o tom implicava o oposto.
Matthew lançou-lhe um olhar surpreso.
— Bem pessoal, infelizmente vou ter de ir andando. Tenho de participar
de um seminário em uma hora — Josh anunciou.
Ele despediu-se de Nathan com um gesto de cabeça, deu um tapinha nas
costas de Matthew e beijou Annie no rosto.
Ela deu o braço a Matthew e o repreendeu com um tom firme:
— Você deveria ter me avisado.
— A previsibilidade não é o ponto forte de Nathan, Annie; eu nem mesmo...
— Este deve ser um belo jardim quando está bem-cuidado. — A observação
indolente interrompeu o apressado colóquio. Annie tropeçou em uma pedra solta.
— É tão difícil de se conseguir ajuda hoje em dia — ela retrucou em tom
grave, esboçando um sorriso insincero. Sabia muito bem quantos reparos

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precisavam ser feitos na propriedade, mas ser lembrada disso por aquele homem
a fez trincar os dentes.
— Tem muitos criados, sra. Selby?
— Se considerarmos que sou a única moradora, sr. Audley, seria tolice ter
uma grande criadagem.
— Mas eles poderiam ajudá-la a resolver o problema das ervas-daninhas,
sra. Selby — ele retrucou com suavidade, dando-lhe a passagem. Annie entrou na
casa. — Para ser sincero, estava pensando mais na estrutura da construção do
que no seu conforto. Tenho certeza de que a senhora é mais do que capaz de
tomar as medidas necessárias para resolver essa segunda questão.
O insulto foi proferido de um modo suave que mais lembrou um
cumprimento. Por uma fração de segundo ela pensou que havia entendido mal. No
entanto, o brilho de desprezo que ainda cintilava naqueles olhos verdes desfez a
ilusão. A antipatia que sentia certamente era recíproca. Havia se acostumado a
não ligar para provocações.
— Leve Nathan à sala de estar, Annie — pediu Mattew. — Vou preparar o
chá.
Ela o olhou pelo canto do olho e muito a contragosto conduziu o visitante à
sala de estar.
Os aposentos de Chausey não eram grandes, o que conferia charme à
antiga propriedade rural. A sala de visitas que dava para o sul, parte da
construção elisabetana original, era deslumbrante. As janelas, de parapeitos de
pedra e treliças de chumbo, estavam abertas, deixando entrar os doces aromas
do jardim, que se misturavam ao odor de madeira e de flores secas que emanava
de delicados recipientes de porcelana. Sem dúvida, aquele homem torceria o
nariz para as cortinas de cores esmaecidas e para a tapeçaria que cobria as
cadeiras. Ela indicou com um gesto de cabeça o lugar em que ele devia sentar.
— Agora, se me der licença, preciso trocar de roupa. — Annie alisou o
tecido do roupão. Ficava aborrecida só de pensar que o visitante a estava
submetendo à mesma análise que antes dirigira ao aposento. Parecia estar ava-
liando uma provável compra, ela pensou, desgostosa.
— Que não seja por minha causa. — Ele lentamente ergueu uma
sobrancelha.
— Não é isso... — ela começou e então mordeu o lábio para não fazer
nenhum comentário indiscreto. Lembrou-se de como aquele homem era
importante para Matthew. Não precisava gostar dele, apenas tinha de tolerá-lo
por algum tempo. — ... mas, como Matthew disse, estou molhada.

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Ele abaixou a cabeça, como se sua tolerância já estivesse se esgotando.
— Matthew fala muito bem de você... apaixonadamente — ele gracejou. —
Mas não mencionou o fato de que é uma das felizes mulheres que fica melhor com
pouca roupa. Você deve ser muito inteligente — acrescentou, ignorando sua
expressão atônita. Ele semicerrou os olhos verdes e esticou as longas pernas,
acomodando-se no sofá.
Annie sentiu-se como se estivesse sendo entrevistada, ou, melhor,
interrogada. Era como se tivesse entrado no meio de uma conversa, sem saber do
que se tinha falado antes.
— Você acha que Matthew admira minha inteligência ou minha habilidade
de tirar a roupa? — ela perguntou, em tom zombeteiro.
Resolveu se sentar. Seus joelhos tremiam. Ele estava procurando provocá-
la, ou seria aquele seu modo natural de conversar? Será que achava que tinha o
direito de insultar os outros?
— O que quero dizer é que se Matthew tem uma opinião tão favorável a
seu respeito, você deve ter pelo menos um pouco de sagacidade natural para
fazer frente a tão abundantes atributos físicos.
Nathan sorriu ao enfatizar a palavra "atributos". Annie não podia
acreditar. Ele dirigiu os olhos verdes para as pernas dela. Um som de protesto
escapou da garganta de Annie.
— Está com algum problema? — ele indagou, maliciosamente.
— Quem sabe você possa me contar qual é o seu problema? Você pode ser
o patrão de Matthew, mas há limites para o que eu tenho de aguentar, mesmo por
causa dele. — Ela respirou profundamente, procurando conter a raiva.
— Claro, Matthew é quem a sustenta. Não seria bom se ele perdesse o
emprego, não é?
Ela não se importou com o primeiro comentário, mas o segundo a incomodou
muito. Aquele homem não seria realmente capaz de despedir Matthew, seria?
— Acho que ele merece cada centavo que ganha, considerando-se para
quem trabalha — ela retorquiu.
— E a senhora sabe muito bem como gastá-los.
A resposta a deixou boquiaberta. Annie nunca havia aceitado um único
centavo de Matthew. De fato, ela insistia em dividir as despesas da casa, mesmo
quando isso estava acabando com o dinheiro que David havia lhe deixado. Seu
emprego de meio período no jardim-de-infancia não era lá muito rentável.
— Não consigo entender o que minhas finanças têm a ver com o senhor —
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Annie retrucou friamente.
— Então posso ser franco? Quando quero algo, costumo remover os
obstáculos que ficam em meu caminho, e não me importo com a forma que eles
tenham. Você é um obstáculo. Por isso estou interessado em conhecê-la melhor.
Um pânico indefinido estava começando a se instalar dentro dela. Aquele
homem era totalmente louco? Nathan era perigoso: podia ver isso nos olhos dele.
— Não tenho a menor idéia do que está falando.
— Quero comprar Chausey, Annie. — Ele pronunciou seu nome como se o
estivesse saboreando. O som fez com que os músculos do estômago de Annie se
apertassem em protesto.
Ela cravou os olhos nele.
— Chausey não está à venda.
— Essa é uma resposta muito ingênua, vinda de sua parte. Não há sempre
um preço? Quero dizer, você não pagou para viver aqui? Deve ter ficado furiosa
quando o velho deixou a propriedade para Matthew — ele a provocou. — Mesmo
assim, admiro o modo como fez o melhor de um mau negócio. Você age como a
dona da casa, recebendo belos jovens na piscina.
O vaso não era legítimo, mas muito bonito. E foi de fato uma pena
desperdiçar aquelas rosas tão adoráveis, colhidas havia pouco, mas valeu a pena
ver o rosto de Nathan Audley quando a água encharcou-lhe o caro terno italiano.
Os olhos-chamejavam. De repente, Annie sentiu um frio na espinha. Ficou
surpresa com o fato de que alguém, capaz de mostrar emoções tão violentas,
conseguisse disfarçá-las tão bem.
— Espero que tenha gostado de fazer isso — ele disse com um tom que ela
achou vagamente perturbador.
— Gostei muito — confirmou. Ele a havia insultado mais vezes em poucos
minutos do que qualquer pessoa durante toda sua vida. Annie estava tremendo de
raiva.
— Lembre-se disso quando estiver pagando pelo que fez.
— Mal posso esperar — ela assegurou. Estava confusa. Adorava cada pedra
de sua casa, cada inconveniente, cada ar encanado que por ali passava. E
Matthew? Ele venderia Chausey? O pensamento surgiu, mas ela conseguiu
reprimi-lo.
— Sei que deveria ficar assombrada por causa de suas táticas grosseiras,
mas nunca me deixei impressionar por garotos mimados, acostumados a ter tudo
o que querem, não importa a idade que tenham. Chausey, sr. Audley, não está à
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venda e, mesmo se estivesse, o senhor seria a última pessoa a quem eu a
venderia.
A idéia de ver a propriedade cair nas mãos de um homem com a alma de um
chip de computador a fez ficar arrepiada. A expressão de Nathan era
indecifrável.
— Mas Chausey não é sua propriedade — ele disse suavemente.
O comentário a fez corar. Sua ligação com a casa havia se aprofundado
tanto no decorrer dos anos que costumava esquecer-se do detalhe de que ela de
fato não lhe pertencia.
Quando criança, havia morado com a tia na casa próxima ao portão de
entrada. Tia Mirrie havia sido a cozinheira da família. Não era uma tarefa difícil,
pois Matthew estudava no colégio interno e o pai dele estava sempre viajando
pelos Estados Unidos a convite de alguma universidade, ou supervisionando
escavações em partes remotas do planeta.
O lugar tinha ficado à sua disposição. Aquele fascínio precoce se
aprofundara com o tempo. Houve uma época, é claro, que ela se tornara dona da
casa. A dor, porém, que estava associada àquela experiência foi tão grande que
Annie dificilmente podia se lembrar do período sem se entristecer.
— Tenho o direito de morar aqui — defendeu-se. Annie sentiu um frio no
estômago quando ele se levantou, tirando as folhagens úmidas que haviam
grudado na roupa. Ela procurou encontrar a causa daquela sensação de des-
conforto. Era o modo como ele se movia: suavemente, com uma coordenação quase
felina, que expunha mais do que escondia o vigor de seu corpo alto e musculoso.
Ela refreou o impulso de dar um passo para trás, de fugir da ameaça que a
presença física de Nathan representava.
— O testamento especifica que Chausey é usufruto meu. Matthew não
pode vendê-la enquanto eu viver, ou até que me case. E ele não suportaria vê-lo
transformar essa casa em um hotel. Ele é muito ligado à tradição familiar.
— Acho que quer dizer que não suportaria a idéía de ser chutada por Matt.
Mas a verdade é que está se divertindo demais para se preocupar com outro
casamento. — Os olhos verdes brilhavam de desprezo. — Quantos anos tinha
quando se casou pela primeira vez... dezenove?
— Dezoito — ela o corrigiu com frieza.
— Perdoe-me, dezoito. Se foi capaz de uma decisão tão pragmática
naquela idade, imagine agora, que adquiriu tanta experiência. Creio que acha que
merece um descanso depois de ter tido de aturar um velho idiota.

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Houve uma época em que ela temia suposições desse tipo. A diferença de
idade por si já era motivo suficiente para dar trela às más-línguas, mas o desnível
social, mesmo em uma época em que a distinção de classes se dizia morta, fazia
dos dois um alvo fácil dos comentários maledicentes. Ela era a aproveitadora; ele,
o sedutor de menores. David estava mais bem preparado do que Annie para lidar
com essas situações difíceis. Ela, porém, também aprendeu a disfarçar a
insegurança sob o véu da indiferença.
— Duvido que meus planos sejam de seu interesse.
— Já disse, Annie, tudo o que lhe diz respeito me interessa. Pelo menos,
até eu conseguir o que quero. Você se surpreenderia com o que já sei. Matthew
não precisa de encorajamento para falar sobre você. Não fica excitada por ter
tanto o pai quanto o filho a seus pés?
— Matthew é como um irmão para mim — ela protestou.
— E o rapaz na piscina era seu tio, sem dúvida. Que família interessante e
variada você deve ter!
— Se, como imagina, sou a mulher mais calculista e gananciosa que já
existiu, também deve ser bastante óbvio que não tenho a menor intenção de
deixar que compre Chausey. Eu me sinto... muito bem aqui.
— Tinha a intenção de lhe fazer uma proposta irrecusável. — Ele esboçou
um sorriso arrogante. — Não fique excitada, Annie; isso foi antes de ter
percebido o quanto Matt a estimava. Por outro lado, também não acreditei que
você fosse a frágil flor que Matt me pintava. Mulheres como você me enojam —
continuou. — Duvido que possam gostar de alguém. Seu próprio conforto lhes
será sempre prioritário. E se tiverem de machucar uma pessoa só para manter
esse conforto, bem, o que importa?
Annie quase não podia conter a raiva.
— Por que parou? Agora que estava ficando interessante! — gracejou. —
Ficaria fascinada em saber um pouco mais sobre mulheres como eu —
acrescentou, zombeteira.
Ele apertou os olhos verdes.
— Aproveitadoras eróticas, é que são — prosseguiu. — Vêm usando os
homens provavelmente desde quando descobriram que isso é muito mais fácil do
que trabalhar para conseguir o que desejam. Mesmo assim, dormir, com um
homem velho o bastante para ser seu pai deve ser um preço bastante alto, não
estou certo? Mas você é egoísta, pois, do contrário, não ficaria em um lugar que
está acabando com Matthew.
— E seu procedimento é puramente altruístico, suponho? — Ela enfiou os

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punhos cerrados bem dentro dos bolsos do roupão. Na verdade, queria usá-los
para tirar o sorrisinho daquele rosto escultural. — Chausey não é um pouco
insignificante demais para o império Audley? Ou será que vai derrubá-la e
construir alguma coisa com várias centenas de quartos iguais? Para mim, Chausey
é muito importante. Ela foi construída para ser um lar, não um hotel sem alma.
— Lar? — ele retrucou. — O que uma pessoa como você, a não ser é claro
que estejamos falando de ruínas, sabe sobre lares? Você reduz tudo a seu valor
bancário e Chausey, a despeito de seu estado lamentável, é bastante valiosa.
Você devia estar pronta para cometer assassinato, quando o velho deixou
Chausey para Matt. Será que no fim ele percebeu quem você realmente era? Você
não gosta quando alguém a julga pelo que é, não é verdade, Annie? — ele
perguntou com voz pausada, quase com prazer, cravando os gélidos olhos verde-
esmeralda no rosto dela. — Quando alguém a vê como eu a estou vendo agora.
— Eu diria que sua visão é tão distorcida quanto sua estúpida filosofia de
vida. — Ela só tinha esperanças de que Matthew ainda não tivesse se deixado
influenciar por aquele autocrata insípido.
— Essa é a verdadeira Annie Selby, não é? Um gatinha perigosa. Pobre
Matt, você realmente o está levando para o mal caminho, não é?
— Deixe Matthew fora disso! Uma lágrima solitária brilhou na curva de
seu rosto.
— Acho que seria bom para Matt vê-la como realmente é — ele anunciou. —
Duvido que ele continuasse a ser um proprietário tão bondoso se a apresentasse
sem disfarces. É um talento e tanto, o de ser capaz de chorar em momentos
como esse, mas as lágrimas femininas não me comovem. Ao contrário, só me
irritam.
— Você não tem poder para se colocar entre mim e Matthew — ela
afirmou. Sentia-se em terreno seguro: seu relacionamento com Matthew era
inviolável. Nada do que aquele homem odioso representava podia alterar isso.
Quanto a Matthew desejar que ela saísse... não passava de um absurdo total.
Annie estava encarando o agressor com um sorriso confiante, quando ouviu
Matthew assobiar do outro lado da porta de carvalho, que estava fechada. Ela
fez menção de abri-la. Nathan pelo menos fingiria ser civilizado na frente dele,
imaginou.
— O que é isso? — ela esbravejou quando, com notável agilidade, Nathan
agarrou-lhe o braço e a trouxe para junto de si.
— Admiro sua confiança. Queria testá-la. — Seu rosto estava
terrivelmente próximo. — De mais a mais, você me deve uma, por causa das

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flores.
Ela sabia o que se seguiria e em sua mente as palavras "preparai-vos para
vossa sina" flamejou em luzes néon. Ela sentiu a garganta travar. Estava
convencida de que ele iria beijá-la como último esforço para exibir sua su-
perioridade masculina e mostrar a Matthew o tipo de diversão a que ela
costumava se dedicar, quando estava sozinha. Patético, de fato, e previsível.
Nathan Audley parou por um instante. Observou os lábios rosados de Annie
e as minúsculas veias que lhe enfeitavam as pálpebras cerradas. Ela ficou
paralisada, como a vítima de um sacrifício. Então sentiu mais uma vez ser puxada
para perto do algoz. O movimento predatório do rosto de Nathan diminuiu
enquanto ele se aproximava para colher o tributo.
Annie surpreendeu-se com o momento de puro deslumbramento que sentiu
ao ser tocada pelos lábios de Nathan. Ela abriu os olhos, tentando fugir daquela
sutil violação dos próprios sentidos.
No mesmo instante ela deixou escapar um gemido apaixonado e enlaçou os
cabelos negros e grossos da nuca de Nathan. O beijo que deveria ser de
brincadeira, exploratório, mas quase casto, prolongou-se até todos os sentidos
de Annie estarem inebriados pelo calor e pelo sabor dos lábios dele, excitados
pela força dominadora do estranho que a abraçava.
Finalmente, ela conseguiu se desvencilhar. Não sabia quanto tempo havia se
passado. Pálida e ofegante, encarou com fúria aquele olhar enigmático.
— Não precisa bancar a inocente ultrajada. Matthew saiu já faz algum
tempo — ele disse com indiferença.
Matthew! Ela se esquecera. Sentiu-se humilhada. Aquele homem a havia
insultado, duvidado de sua integridade e, mais do que tudo, a fizera agir como
uma idiota, ávida por sexo, na frente do enteado.
— Você é odioso, caluniador, egocêntrico...
— E você fica linda quando está excitada — ele a interrompeu. — De uma
forma um tanto exagerada, é claro.
— Exagerada?
— Eu não a deixo excitada?
O tom afogueado de sua face lentamente foi se desfazendo à medida que
as palavras dele repercutiam em seu cérebro. A palidez aumentou a beleza dos
olhos de Annie.
— A única coisa que sinto por você é total e completo nojo — Annie disse.
Mas aquele desprezo estava parcialmente dirigido para si mesma. Estava chocada

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com os instintos primitivos que possuía; e com o fato de ter escolhido
exatamente aquele momento para revelá-los.
— Você está acostumada a conseguir tudo o que quer, não é verdade, meu
anjo? Pode ser construtivo para seu caráter interagir com alguém que não se
deixa dominar.
— Interagir? — ela disse, contente com o desdém que conseguiu imprimir à
palavra. — Só sonhando, senhor Nathan Audley.
— Eu mesmo já me deparei com muitas mulheres cujo único objetivo na
vida, como o seu, era casar-se com um homem rico. Procuro deixar claro que não
estou no páreo mas, de vez em quando, há benefícios.
— Benefícios! Você é ridículo... absurdo. — A voz soou tremula. — Mesmo
uma aproveitadora como eu tem de manter um certo nível.
— Seu cabelo é realmente dessa cor? Você rivaliza com o outono inglês,
minha querida. — Ele admirou os cachos acobreados que caíam sobre os ombros
de Annie.
Por um momento, ela pensou que ele realmente os fosse pegar na mão,
deixando-os deslizar entre os longos dedos.
— Com uma feiticeira assim como você a meu lado, as outras pretendentes
ficariam realmente aborrecidas.
Como se uma mulher pudesse ser exibida como um carro novo e reluzente!,
ela pensou.
— São tingidos. Implantaram silicone em todos os lugares possíveis. E
estou usando peruca, e cílios postiços. Também faço lipoaspiração todas as
semanas — ela declarou, desafiadora. — Ou faria, se isso me garantisse que
nunca mais o veria novamente. E tem mais — acrescentou. — Creio que a vida
trágica pela qual passou provavelmente é a razão de tanta falta de
personalidade...
De repente, Nathan explodiu em uma risada alta e irritante. Quem disse
que ela o estava insultando? Aquele homem estava gostando daquilo!
— Da próxima vez que Matthew decidir entreter o patrão, por favor, diga
a ele para me avisar, para que eu possa ficar longe. — Bater a porta foi uma
atitude infantil mas a encheu de satisfação. Ela subiu a escada de madeira dois
degraus de cada vez.
Com um suspiro de alívio, ela fechou a porta do quarto. Estava tremendo.
Nada em seu corpo parecia estar funcionando direito, muito menos os joelhos
fracos. Onde estava seu amor-próprio, sua altivez?

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— Estúpido... —Annie gemeu, pontuando cada palavra com um golpe no
travesseiro indefeso.
Não conseguia se lembrar de ter odiado alguém tanto quanto odiava
Nathan Audley naquele momento. Não era nem tanto pelos insultos mas por ele
ter feito emergir uma parte de si própria que ela imaginara totalmente
adormecida.
Annie sabia muito bem que uma pessoa podia viver sem sexo; não era
importante. No fim, ela até mesmo convencera David disso. E ele nunca duvidara
de sua honestidade. O amor fora suficiente e David fora seu amor.
Se ao menos David estivesse lá naquele momento, ela pensou, enlouquecida
pela dor e pela humilhação. Então, Nathan Audley nunca teria ousado tocá-la.

CAPÍTULO II
Matthew interrompeu as recordações de Annie sobre os eventos de uma
hora atrás. Ela mirou-se rapidamente no espelho antes de se virar. Um rosto
sereno olhava para ela. Mas ela conseguiu disfarçar o turbilhão emotivo estava
sentindo.
—Annie? — Ele a observava com uma certa desconfiança.
— Ele já foi embora? — ela perguntou, querendo saber o que Matthew
estava pensando.
— O que aconteceu exatamente? — ele indagou sem rodeios e sentou-se a
seu lado, na cama. Annie sentiu a garganta apertada.
— Não creio que seu patrão tenha gostado muito de mim.
— Para mim, parece que ele gostou até demais. Conhecendo Nathan e
sabendo como ele é controlado normalmente... — Ela podia ver a preocupação
crescendo dentro dos olhos do enteado.
Ela podia ter soltado uma gargalhada. Ele pensaria que fora algo
espontâneo, uma troca de emoção... Os beijos geralmente não são isso? Contar-
lhe a verdade o colocaria em um situação embaraçosa. Nathan tinha a carreira de
Matthew nas mãos.
— Apenas um capricho da parte dele — ela afirmou, evitando os olhos do
enteado.
— Nathan não costuma ter caprichos.
Annie, lembrando-se de como os lábios de Nathan haviam mexido com ela,
recebeu a informação com certo alívio. Tudo o que Nathan fizera foi para puni-la

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Sabrina Destinos 07 – Kim Lawrence – Uma atração
irresistível
por se interpor entre ele e Chausey.
Annie não podia despertar os instintos cavalheirescos do enteado.
— Francamente, Matthew, acho o assunto um pouco embaraçoso. Credite o
incidente ao nervosismo dos exames e... — Ela fez um gesto abrangente. — ... ao
charme de minha personalidade. Verdade, Matthew, não foi nada.
Ele se levantou, esticando as pernas em um movimento desajeitado.
— Nada — ela repetiu com firmeza.
— Fico feliz, Annie. — Ele aprumou os óculos no nariz, uma tática que
costumava usar quando procurava usar as palavras certas. — Já era tempo de
você arranjar um namorado, mas Nathan... gosto dele, é um homem brilhante,
espera milagres e geralmente os produz. As mulheres parecem ficar caídas por
ele.
— Que bom para ele. Espero que você não queira que eu também fique
caída.
— O fato é o seguinte, Annie, você tem vinte e três anos, é viúva, bela
como o sonho da maioria do homens, mas no que diz respeito à experiência...
Sexualmente, uma garota de dezesseis anos está muito mais bem-informada. Sei
disso, você sabe disso, e provavelmente Josh suspeita disso. Mas a maioria das
pessoas, incluindo Nathan, não sabem — acrescentou. — Eles podem achar...
— Você não contaria a ninguém, contaria? Ele fitou-a com ar zangado.
— Como pode achar que eu seria capaz?...
Ela lançou-lhe um olhar de culpa, envergonhada pelo acesso de medo
irracional.
— Ele não tinha o direito. — Ele cuspiu as palavras, apertando a maçaneta
da porta com força. — Você tinha dezoito anos.
A animosidade em sua voz a chocou.
— Eu já não era inocente. Não era como se ele tivesse me enganado — ela
protestou.
— Não era? Annie você tinha dezoito anos, adorava-o; Ele sabia disso e
explorou sua juventude e suas emoções de uma forma que ainda não posso
perdoá-lo.
— Eu amava David — ela explicou rapidamente. — A questão da idade não
era relevante. Uma mulher não deve adorar o marido? — ela acrescentou, numa
tentativa tímida de ser petulante.
O milagre para Annie foi o de David tê-la amado, ter desejado casar-se

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com ela, Annie agira como uma flor sequiosa de sol em reação ao calor que ele
deitava sobre ela. Fora como um delicioso conto de fadas. Contudo, como em
todos os contos de fadas, também aparecera uma nuvem escura no horizonte.
— Ele se aproveitou de você, Annie. Você era influenciável, queria ser
guiada. Tinha o corpo de uma afrodite e o cérebro ávido por informações.
A amargura a fez estremecer. Não fora assim, ela queria protestar.
Odiava aquela visão distorcida.
— Ele parecia tão nobre. — Matthew visivelmente estava tentando conter
a agressividade de seu tom de voz. — Na verdade, Annie, meu pai procurou usar
sua juventude para proteger-se do inevitável.
—Eu queria compartilhar do pouco tempo que lhe restava.
— Ele lhe deu uma chance? — Matthew soltou uma risada irônica. — Você
estava enfeitiçada. — A ingenuidade dela podia ser enfurecedora, ele pensou,
olhando para o rosto impassível, tentando ver além do mistério que havia naqueles
belos olhos. — Você merecia mais — acrescentou com simplicidade. — Por falar
nisso, aceitei por você o convite para jantarmos hoje à noite. Estava um pouco
preocupado, mas como você pareceu não se importar com Nathan... — A rápida
mudança de assunto foi introduzida com um ar casual.
Ela fitou os inocentes olhos azuis.
— Jantar? — perguntou, alarmada.
— No Crown. Nathan está hospedado lá.
— Tenho de fazer uma revisão.
— Você precisa dar uma pausa, Annie. Você parece muito tensa.
— Quero ir bem nos exames; é natural que uma estudante se sinta assim
nessa época do ano,
— Quer ir bem por causa de papai.
— Por minha causa.
— Vamos encarar a verdade: salvo um ato divino, você vai passar com as
melhores notas.
— Você acha?
— Acho — ele afirmou, consolador. — Uma noite agradável com dois
homens devastadoramente belos... boa comida. É disso que você precisa. Vista
uma roupa bem sexy — concluiu, saindo do quarto.
Sexy? Será que ela tinha alguma coisa que se encaixava naquela descrição?

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O beijo, motivado pela malícia, havia destruído todas as barreiras que ela
cuidadosamente construíra. Annie não estava preparada para lidar com aqueles
sentimentos. Fechou os olhos, lembrando-se da cena, dos braços de Nathan
segurando-a por um breve instante. Ela pensou que era capaz de sufocar os
apelos do corpo, mas a ilusão foi despedaçada por um homem que a desprezava.
Que situação bizarra aquela! Uma viúva, sem o menor conhecimento,
teórico e muito menos prático, do jogo sexual. David nunca procurou esconder a
verdade dela, pelo menos não depois de lhe ter confessado os sentimentos. Ela
sentiu que não tinha nada a perder e muito a ganhar. Ser totalmente
inexperiente no campo do sexo provavelmente veio a calhar. O fato de que David
estava, ao menos temporariamente, impotente, por causa dos medicamentos, nada
importava se comparado com o amor que ele dizia sentir.
Annie se sentira confusa: aquele homem inacreditável, talentoso, dissera
que ela era a pessoa mais importante do mundo. A doença fatal havia sido o único
obstáculo à felicidade futura de ambos.
De início, os efeitos foram mínimos, passaram quase despercebidos. Ela
sentiu-se otimista. Juntos, poderiam vencer a enfermidade. Seis meses depois, a
triste realidade a fez duvidar de sua habilidade de alterar o futuro. De um dia
para outro, ele se tornou um inválido. Annie começou a assisti-lo. A mudança de
papéis a deixou atemorizada, mas ela sabia que não havia tempo para sentir medo.
Mais tarde poderia cuidar da própria dor.
Somente o conhecimento de que não podia ter um filho a lembrava da união
não consumada. No entanto, naquelas circunstâncias, o fato lhe pareceu
irrelevante.
Sua inexperiência não lhe pareceu um problema nos dois anos de sua
viuvez. Nenhum dos pretendentes, que ela mantinha a distância, desafiou sua
profunda convicção de que o sexo não lhe interessava muito. Os estudos a
consumiam. David a havia encorajado mesmo antes do interesse dele ter se
tornado mais pessoal. Matthew não havia seguido o caminho que o pai escolhera e,
de certo modo, ela havia ficado em seu lugar. O fato sempre a fizera sentir um
pouco desconfortável.
Annie não podia deixar de pensar na ironia: estava se arrumando para ir
ter com o homem que queria expulsá-la de sua própria casa. A lembrança daqueles
olhos verdes a fizeram estremecer. No entanto, ela disse a si mesma que estava
salva de qualquer comportamento mais ofensivo. Mesmo assim, não conseguia
deixar de ficar tensa.
O hotel em que Nathan estava hospedado se localizava em um parque
extenso, um estabelecimento exclusivo que Annie não visitava desde a morte de

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David. A comida, ela sabia, era excelente, mas o nervosismo fizera seu apetite
habitual desaparecer.
Acima da estatura média, com um corpo esguio, escultural, ela chamou a
atenção de todos, quando entrou no restaurante ao lado de Matthew. A
simplicidade do vestido negro realçava-lhe a beleza. A compleição alva
resplandecia em contraste com a cor sóbria do longo. Os cachos acobreados que
caíam ao lado do rosto ganharam vida sob as luzes das velas que estavam
postadas nos candelabros de parede.
Ao ver Nathan, Annie sentiu uma emoção que não conseguia definir. Seria
de prazer ou de dor? As velas conferiram cintilações âmbar àqueles olhos verdes.
Ele vestia um terno Armani e uma camisa creme abotoada até o pescoço. Não
estava usando gravata. O porte atlético se impunha. Nathan não tirava os olhos
dela. Sem dúvida, estava calculando o preço de suas roupas baratas, ela imaginou.
Annie sentiu-se feliz quando o proprietário veio cumprimentá-la.
— Sentimos a sua falta, senhora Selby. É um prazer vê-la de novo.
Annie permitiu-se abrir um sorriso por um momento.
— Estudantes pobres não podem pagar seus preços exorbitantes — ela
respondeu em tom de brincadeira.
— O professor faz muita falta.
— Sim, muita — ela disse com tristeza. Sem seu brilhante esposo ela se
sentia, como sempre, deslocada.
Os dois homens falaram muito sobre negócios enquanto ela bebericava um
suco e divagava. Aquele era somente um jantar de negócios, ela disse a si mesma,
zangada. Ela provavelmente fora chamada apenas para pegar um copo com mão
firme e sorrir nos momentos adequados.
— Você parece ser bem conhecida por aqui — Nathan comentou
inesperadamente.
Ela derramou um pouco do suco no colo. Sentiu-se terrivelmente
atrapalhada.
— David gostava de vir aqui, às vezes — ela admitiu, recuperando a
compostura.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Imaginei que com uma casa como Chausey...
— Annie é uma péssima cozinheira — Matthew interveio, com um sorriso
afetuoso.

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Ela aceitou o insulto com bom humor. "Mediana" teria sido mais preciso.
— Não há uma cozinheira permanente?
— Minha tia era a cozinheira; depois que ela morreu, David não contratou
outra.
— Ela nunca chegou a vê-la como a dona da casa, então. — Havia um brilho
diferente em seu olhar. — Estou certo de que se orgulharia ao ver até onde você
conseguiu chegar.
Annie não se deixava enganar pelo tom suave. A crítica implícita à sua
adorada tia aumentou sua raiva. Ela se orgulhava de Mirrie. A mulher idosa
cuidara dela desde criança, depois de seus pais terem morrido tragicamente em
um acidente de carro. Fitando-o, ela se perguntou se devia acrescentar a
soberba à lista das características desprezíveis de Nathan.
— Não fui muito longe na verdade, menos de um quilómetro seguindo a
entrada de carros.
— Não estava pensando em termos geográficos, minha querida.
Naquele momento, o garçom, desculpando-se pela interrupção, anunciou que
havia um telefonema urgente para o sr. Selby. Matthew, que estivera observando
a tensão que crescia à mesa, pediu licença e se retirou.
— Em fim, sós — Nathan murmurou.
— Não por muito tempo, espero — ela respondeu rispidamente. — Não
consigo entender por que fui convidada. A presença de Matthew não diminui seu
desejo de me insultar?
— Mas Matthew não está aqui — ele observou. Ela levantou a cabeça.
— Uma situação apenas temporária.
Nathan não despregava os olhos verdes dos lábios de Annie.
— Creio que a presença de Matthew será requisitada com urgência.
Annie ficou estupefata quando compreendeu a extenção daquele
comentário. Não podia imaginar que ele seria capaz de uma manipulação tão
descarada.
— Você parece ter pensado em tudo.
— Pelo prazer de sua companhia.
— Fico lisonjeada — ela retrucou bruscamente.
Nathan aproximou-se. Parecia estar procurando descobrir o que se passava
por baixo do calmo exterior da sra. Selby. Será que ele podia ler sua mente?

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Annie afastou a idéia, reprovando-se por ser tão vulnerável aos modos
imperiosos daquele homem. Ele provavelmente pratica essa expressão de mau
todos os dias em frente ao espelho, Annie pensava, tentando se libertar do
charme opressor que sentia pairar sobre ela.
— Vocês vão ter de me desculpar, mas preciso ir a Reading — Matthew
disse, ao voltar. — Fizeram uma confusão burocrática por lá. A não ser que queira
ir em meu lugar, chefe.
— Delegar, Matt, é a chave do sucesso. Pensei que tivesse administrado
bem as coisas em Reading — Nathan estava dizendo, em um tom quase de
censura. Matthew se mostrava embaraçado.
Ele deu um beijo distraído no rosto de Annie. Certamente seus
pensamentos estavam todos voltados para o problema.
— Preciso do carro, Annie.
— Eu levo a dama para casa.
Annie, atenta para todas as nuances, ouviu a inflexão com que ele disse
"dama".
— Sou perfeitamente capaz de ir para casa sozinha. Não se preocupe,
querido. — Ela deslizou os dedos pelo casaco de Nathan, relutante em quebrar o
contato. Posso lidar com Nathan Audley, ela disse a si mesma, com severidade. —
Você deve estar muito cansado para dirigir — ela concluiu, furiosa com o fato de
Nathan estar se divertindo com tudo aquilo.
Matthew apertou o queixo de Annie com afeição.
— Essas feições delicadas — ele disse a Annie — escondem uma
constituição de ferro. — Ele se virou para trocar algumas palavras sobre
detalhes técnicos com o patrão, antes de sair.
— Tão preocupado com você, que tocante!
— Somos como irmãos — ela retrucou.
— Posso imaginar.
— Sinta-se livre para imaginar tolices. Posso calcular a vida estéril que
você deve ter. Viver sozinho deve ser tão triste... Sinto que devo salientar que
nenhuma pressão de sua parte vai alterar minha decisão de não me mudar de
Chausey — continuou. — Na verdade, o fato de que você a deseja só aumenta
minha determinação de não sair de lá.
Annie jogou a cabeça para trás. Um sorriso malicioso enfeitava seus lábios.
Ela deu um suspiro de satisfação. Havia se saído bem.

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Nathan desviou o olhar de suas madeixas de fogo e os conduziu para o colo
de Annie. Não tinha intenção de continuar sendo analisada de um modo tão
indecente.
— Sua afirmação é surpreendente, considerando-se que se preocupa tanto
com Matt.
Annie, que estava se preparando para uma saída rápida, parou.
— Que quer dizer com isso?
— Pensei que fossem muito unidos. Ele não lhe contou? — Um brilho de
desafio cintilava nos olhos de Nathan, o que a fez emudecer por alguns instantes.
— Contou-me o quê?
— Ofereceram uma parceria para Matt... nas Bahamas, em um hotel de
férias.
Ela ficou imensamente feliz, pois estava esperando alguma notícia
tenebrosa.
— É maravilhoso, é tudo o que ele sempre quis! — exclamou. Seus olhos
brilhavam de genuíno prazer. Então, estreitou os olhos. Matthew não havia lhe
contado nada. Por quê?
— Tudo o que ele precisa é de dinheiro — ele salientou. Pouco a pouco a
notícia foi se insinuando como uma nuvem negra nos olhos de Annie. Ele franziu o
cenho, como se a transparência da reação dela estragasse o equilíbrio de uma
equação mental.
— Chausey?—A voz de Annie não passou de um sussurro.
— Uma usufrutuária não é bem do que ele precisa, ou é, minha querida?
Ela arregalou os olhos.
— Matthew ama Chausey — ela argumentou, balançando a cabeça. — A
família dele morou lá por gerações; houve uma época em que possuíam toda a
terra em torno. Você vê uma pilha de tijolos e pedras. O que sabe sobre o
coração de um lar?
— Eu costumava saber, querida... Acho engraçado o modo como você usa a
palavra "coração" e "lar", quando ambos sabemos como os dois conceitos são
estranhos a você. Matt não liga a mínima para a casa. Ele só pensa no futuro.
— O que você sabe sobre isso?
— De que raízes estamos falando aqui, minha querida? Não vejo nenhum
sangue azul circulando em suas veias docemente oportunistas. Pode ser que se
surpreenda em saber que fui criado em uma casa que não era de todo diferente

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de Chausey.
— Então volte para ela — ela esbravejou, odiando a petulância que
imprimira na voz.
— Isso não é possível — ele retrucou. Seus olhos estavam carregados de
animosidade. — Mas a questão é outra. Matt vai saber que um dia esteve com o
sonho bem ali, ao alcance da mão. Hoje pode ser que seu sorriso, Annie, sirva
como um bálsamo. Mas, no fim, ele acabará culpando-a por isso. Ele ficará
magoado por você ter sido o obstáculo. Mas, quem sabe, até lá você já tenha se
mudado — ele prosseguiu. — Você é uma garota inteligente que, sem dúvida, já
sabe que seu apelo é transitório. Melhor escolher os que estão para morrer, pois
não há tempo de a desilusão se instalar. Se eu fosse generoso eu diria que uma
garota como você não possui nenhuma emoção honesta e por isso não pode ser
acusada de destruir o próprio chão em que pisa. — Os olhos verdes brilhavam
com desprezo. — Mas não me sinto especialmente generoso quando trato com
mulheres como você.
— Dois anos com alguns homens valem mais do que a vida inteira com
outros — ela retrucou —, e quanto a viver com pessoas cínicas e vingativas como
você, prefiro uma prisão perpétua com o demônio.
Ele havia tocado, sem saber, em um ponto sensível. A dúvida sempre a
atormentou. Será que David teria casado com ela se não soubesse que estava
morrendo?
— Você é um cínico de marca maior — ela concluiu. — Dificilmente
esperaria que um homem como você entendesse o conceito de amor.
A gargalhada que ele emitiu feriu-a como estilhaços de vidro.
— O amor é a ficção que alguns assumem para manter o status quo. — Ele a
fitou com desdém. — Não tenho dúvidas de que, ocupada com seu grande amor,
você ainda reservou energia suficiente para espremer o que podia do velho Selby.
Não acha que já é hora de dar uma folga para o filho? Não é segredo que David
estava muito bem de vida; agora, o dinheiro desapareceu. Eu me pergunto: para
onde foi?
Ela havia dissipado a fortuna de David? Se ele ao menos soubesse da
verdade! Seu marido amava desesperadamente a vida. As dietas, os remédios e
toda sorte de tratamentos alternativos sempre eram iniciados com esperança e
descartados com tristeza.
Os últimos tostões foram gastos em uma clínica mexicana que apregoava
um novo tratamento radical. Ao contrário das outras terapias, que pelo menos
haviam dado esperança, essa se mostrou de natureza tão punitiva que ela, após

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muitos tormentos, convenceu o marido a desistir. O esgotamento psicológico foi
ainda maior do que o financeiro, e David nunca mais retomou a luta depois disso.
— Uma garota precisa cuidar do futuro — ela disse. — Você mesmo
salientou que meu charme um dia acabará.
— E se eu pagar para você se mudar?
— Você é extremamente rico, então?
— Extremamente — ele concordou, de cara fechada. Ele parecia obter uma
espécie de prazer perverso de a considerar uma aproveitadora à caça de marido
rico, que conhece muito bem seu valor no mercado.
— Mas o que você ganha com isso? — ela perguntou.
— Acho que não lhe interessa...
— Então tente — ela sugeriu.
— Odiaria ver a carreira de Matt ser estragada por uma aproveitadora da
sua espécie.
— Então você vê em Matthew o jovem que você já foi um dia! Mas que
gesto mais nobre, esse de aplainar o caminho para ele. — Ele havia subestimado a
intuição dela e por um instante Annie percebeu isso nos olhos verdes.
— Fico surpresa de você mesmo não o financiar, ou será que sua afinidade
não vai até esse ponto?
— Matthew não precisa de um patrocinador, apenas de uma chance de
provar seu valor.
— Quanto?
A soma que ele mencionou só serviu para aumentar o ultraje de Annie. Ele
sorriu, desdenhoso.
— Pensei que eu devia ser punida, não recompensada — ela disse.
— O tempo pune mulheres como você — Nathan retrucou, fazendo pouco.
Ele estendeu o braço e olhou para o relógio.
— Contudo, meu preço será sempre alto demais para você. Você é o tipo
mais arrogante que conheci. Esnobismo intelectual, mentalidade restrita,
realmente pensei já ter visto tudo. — Ela ficou imensamente feliz por tê-lo pego
de surpresa. — Você, porém, é o pior de todos. Eu não estou a venda por nenhum
preço. — Ela se levantou, altiva, tremendo de indignação.
Depois de ter liberado a raiva, ela se sentiu nauseada. Uma dor de cabeça
aflorou com toda a força. Ela não podia exibir fraqueza na frente daquele homem

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bárbaro. Ele não possuía nenhum dos sentimentos nobres que ela tanto admirava
nos homens. Não estava acostumado a ser desafiado; aquela devia ser uma
experiência nova para ele, ela imaginou.
— Como você vai para casa?
— Imagino que seja perfeitamente capaz de pegar um táxi — ela
respondeu com sarcasmo.
Ela se dirigiu para a recepção, mas ele se recusou a desistir. Segurou-lhe o
braço.
— Você é... — Ela sentiu a garganta travar. Ele irradiava um vigor tão
masculino, tão tangível, que o gesto a atingiu como se fosse um soco. Como um sol
quente a derreter as inibições, parecia que ele a desnudava das camadas prote-
toras que tanto trabalho tivera para tecer em torno de si.
Não desmorone, Annie, ela disse a si mesma, aprumando-se. Tenho certeza
de que ele exerce esse poder sobre todas as mulheres.
— Você está me machucando. — A voz soou frágil. Com um sorriso
embaraçado, ele tirou as mãos dela. Annie refreou uma risada quando percebeu,
pela expressão dele, que Nathan pensava que o contato físico lhe era desagra-
dável. Então, de uma maneira brusca, ela pediu ao jovem que aparecera na
recepção que lhe chamasse um táxi.

CAPITULO III

— Nevoeiro, que nevoeiro? — O jovem sentado atrás da mesa da recepção


olhou perplexo para Annie, que não se deixara abalar por sua informação tão
gentilmente oferecida.
— A visibilidade não é das melhores por aqui e nenhuma das companhias de
táxi está aceitando pegar passageiros no momento — ele reiterou, desculpando-
se.
— Não havia nenhum nevoeiro há uma hora — Annie disse. — Matthew
partiu faz meia hora.
— O nevoeiro pode descer de repente e acredito que a previsão do tempo
realmente informou que havia essa possibilidade — Nathan observou. O jovem
olhou-o com gratidão, e Annie cerrou os dentes.
— Por que você não vai embora? — ela perguntou.
Ao olhar para ele, Annie viu uma sutil mudança em suas feições, uma

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cintilação que ela interpretou como sendo de zombaria.
— Sem dúvida, isso encerra a noite maravilhosamente, do seu ponto de
vista — ela disse, acusando-o. — Você me insultou, envolveu Matthew em uma
farsa ridícula... e ele provavelmente vai acabar batendo o carro. Nevoeiro!
— Não tenho nenhum poder sobre o clima.
— Tenho certeza de que resolveria isso, se pudesse,
— Oh, não sei. Creio que a imprevisibilidade do clima britânico dá um certo
gostinho à vida.
— Você pode me levar, então — ela anunciou de repente, quase sem
conseguir olhar para Nathan.
Ele balançou a cabeça.
— Não seria uma boa idéia. Odiaria ser o responsável por quebrar um
pescoço tão bonito.
A respiração de Annie tornou-se mais acelerada.
— Mas não seria uma solução para seu problema?
— Jamais poderia estragar deliberadamente uma obra de arte — ele
respondeu. Por um instante, os olhares de ambos se encontraram. Ela nunca havia
visto uma expressão como aquela antes. O fogo que dilatava as pupilas de Nathan
expressava tanta ferocidade, tanto desdém que ela levou alguns segundo para se
recuperar.
Onde estava a Annie calma, segura de si, dos velhos tempos?, ela se
perguntou. A Annie que nunca deixava as emoções transparecer, que nunca
embaraçava os outros?
Fora assim quando David falecera. Ela agira como se estivesse obedecendo
a algum roteiro de cinema; exterior sereno; por dentro, sentindo-se despedaçar.
— Não há quartos.
As palavras a tiraram de seus pensamentos.
— Não quero um quarto. Quero ir para casa. — A última palavra foi
proferida com tanta força, veio carregada com tanto sentimento, que ela
rapidamente adicionou outra frase para diminuir-lhe o impacto. — Vou andando.
— Oito quilómetros?
— Não é muito.
— Por ruas sem nenhuma visibilidade. Com esses?... — Ele apontou a cabeça
para os sapatos de salto alto.

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Annie enrijeceu os maxilares. Ele adorava salientar o óbvio, especialmente
quando isso a fazia parecer estúpida.
— Não tenho outra escolha.
— Eu estou em uma suíte.
— Bem adequado a seu estilo de vida.
Ele respirou fundo, estreitando os olhos.
— Naturalmente. Como eu estava dizendo, tenho um quarto vago, o qual
você pode fazer uso, se quiser. Por outro lado, acredito que sua presença na
recepção está causando um certo embaraço.
— Esperarei até o nevoeiro se dissipar, ou pedirei carona.
— Uma decisão ajuizada. Creio que você acredita que sou potencialmente
mais perigoso do que o tipo que vai oferecer carona a uma mulher sozinha,
vestida como está?
— O proprietário me conhece. Tenho certeza de que poderá me indicar
algo.
— Já pensei nisso. Acredite-me, livrar-me de você foi minha primeira
opção. Seu amigo... já foi para casa, para a esposa que está prestes a ter um
bebê. Os empregados não podem expulsar ninguém para acomodá-la. Fique
olhando pela janela a noite toda se quiser, chame um táxi no instante que o
nevoeiro se dissipar, mas pare de agir como uma prima donna — ele disse
severamente.
A censura a fez corar.
— Tive um dia difícil.
— Teve uma tarde aconchegante com... como é mesmo o nome dele... Jack?
Meus pêsames... :
— Josh — ela respondeu rapidamente. — Josh tinha de estudar, assim
como eu.
— Ele é estudante também?
— Você faz a idéia, soar bastante desagradável. Na verdade — ela o
corrigiu —, Josh é bolsista. — A expressão de desagrado só fez confirmar o
desprezo que ela percebera em sua voz. — Será que notei uma certa aversão à
faculdade? Você não se formou?
— Estive ocupado montando meus negócios.
— Um homem que se fez por si próprio, que maravilha — ela gracejou, feliz

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por ver um leve rubor de raiva emergir sob a pele bronzeada. — Mas você está
sendo injusto consigo mesmo. Provavelmente deve estar se referindo ao império?
— Ela foi a primeira a desviar o olhar quando ele a fitou com ar zangado.
— Isso é ridículo — ele resmungou. — Recuso-me a trocar insultos infantis
com uma mulher claramente acostumada a ser mimada por todos os homens para
quem sorri. Se você quiser teorizar a respeito de meus preconceitos, pelos menos
vamos fazê-lo em particular.
Annie era uma mulher alta, mas o tamanho de Nathan a subjugou, quando a
arrastou pelos corredores sem se importar muito se ela queria subir para seus
aposentos, ou não.
O Crown tinha poucos quartos, mas os que oferecia eram ricamente
mobiliados, aconchegantes e luminosos o suficiente para agradar ao turista, e
românticos o bastante para uma lua-de-mel, inclusive com a obrigatória cama com
dosséis.
Annie ficou fitando a cama, por alguma razão não conseguia tirar os olhos
do baldaquino luxuosamente bordado. Quando conseguiu desviar o olhar, viu que
seu anfitrião estava abrindo um computador portátil, colocando-o sobre uma
mesa de carvalho. O fato de ele a estar ignorando a irritou.
Ele tirou os olhos da tela, que havia acabado de ligar.
— Tenho de trabalhar.
— E eu também, de certo modo, mas não achava que deixava de dormir por
causa disso.
— Os estudos não interferem com sua vida social?
Annie deixou escapar um sorriso jocoso.
— Vivo uma vida cheia e variada e procuro não negligenciar nenhuma área.
Com sorte, não preciso dormir com todos os professores para tirar boas notas.
— Nunca duvidei de seu intelecto, Annie, apenas de suas intenções. É o seu
cérebro que a torna tão perigosa.
Os olhos de Annie escureceram. Intenções! Ela podia dizer uma ou duas
coisas sobre isso.
— Meu marido acreditava em mim. Se não fosse por ele, depois da morte
de minha tia eu teria deixado a escola e me enfurnado em algum emprego sem
futuro; mas ele... — A voz dela, grave e intensa, tornou-se ainda mais rouca
quando Annie se lembrou do ex-marido. — Por Deus, eu jurei me tornar a mulher
que ele queria que eu fosse.
Nathan tinha tanto autocontrole que não moveu um músculo, embora a
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expressão apaixonada que surgiu no rosto de Annie o tivesse surpreendido.
— Será que é saudável ser guiada pelo desejo de agradar aos mortos?
Quero dizer, quando tiver feito o que ele quer, e daí? Terá de organizar uma
sessão espírita para saber qual será seu próximo passo?
— Estou fazendo o que quero também.
A atitude de menosprezo de Nathan a magoou.
— Sabe o que o incomoda? É não conseguir o que quer. Você faz pouco de
minha moral, mas homens como você só se deixam levar pela ganância, pelo desejo
de acumular fortunas e pelo poder que conseguem com o dinheiro. Você quer
Chausey, e eu não acredito por um só momento que se importe com o futuro de
Matthew. Essa é só uma desculpa. Talvez...
Sua voz ficou embargada. Ela abominava tudo o que Nathan representava.
No entanto, ele investia tamanha força e audácia nos negócios que até mesmo as
finanças tornavam-se atraentes. Na verdade, ela ficava confusa na presença
daquele homem, que emanava uma sensualidade tão predatória. Annie apreciava
outras qualidades, menos portentosas.
Nathan cruzou as pernas. Parecia estranhamente relaxado, considerando-
se os insultos que ela havia despejado sobre ele. Depois de algumas piscadelas, a
tela do computador escureceu novamente.
— É à minha riqueza que se opõe, Annie, ou a mim? Está tentando me dizer
que foi o amor que a fez se casar com um homem que tinha a segurança
financeira que a maior parte das pessoas invejariam? Será que foi o sutil
intelecto desse homem, ou você se deixou influenciar pela coisas que ele
representava, pelas coisas que ele tinha a oferecer. — Posso lhe dizer — ele con-
tinuou — que o mundo acadêmico pode ombrear até mesmo com a política, no que
diz respeito aos truques sujos. O professor ingênuo é uma coisa do passado.
Recuso-me a acreditar que esteve casada com um santo tão irretocável.
— Por que você valoriza tanto o dinheiro? — Annie perguntou, irônica.
— Para mim, o dinheiro tem muito pouco valor — ele concluiu. — Ele me dá a
liberdade de levar a vida a meu modo e, por mais desgastado que isso lhe pareça,
dá-me a oportunidade de sustentar algumas pessoas mais necessitadas do que eu.
Também gosto de comandar, mas isso quer dizer que aceito as derrocadas. No
final, a responsabilidade é minha. Posso suportar a solidão.
— Ao contrário dos meros mortais — ela zombou. Annie não queria ouvir
mais nenhuma revelação, aquela arrogância humanitária lhe dava enjôo.
Ele rodou ligeiramente a cadeira e meteu a mão nos bolsos.

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Sabrina Destinos 07 – Kim Lawrence – Uma atração
irresistível
— E possível. Eu lido com pessoas cruéis, de modo que, para sobreviver,
preciso me igualar a elas. — Ele exibiu um sorriso irônico. — É por isso que o
casamento, para mim, está fadado ao fracasso. Nunca conseguiria abandonar
minhas defesas.
— Quanto a Matt — ele continuou —, gosto do garoto. Ele tem potencial.
Eu também me surpreendi quando percebi que estava disposto a me empenhar,
pelo menos um pouco, para abrandar-lhe o caminho.
Ela passou a mão na cabeça, bem no ponto onde a dor parecia mais
insuportável. Essa aparente franqueza seria mais um de seus truques, para pegá-
la desprevenida?
— Se está querendo transformá-lo em alguém como você, eu farei de tudo
para impedi-lo.
Mesmo enquanto falava, ela sabia que não havia possibilidade de isso
acontecer: Matthew não se deixaria moldar pelos mesmos instintos predatórios
daquele homem. Não conseguia raciocinar direito. Será que Matthew realmente
precisava do dinheiro que a venda de Chausey poderia render? Seria ela um
obstáculo?
— Você se interessava mais pela casa ou pelo homem? — ele perguntou
repentinamente, fazendo-a engasgar-se.
— Creio que disse que não me interessava por nada, a não ser eu mesma.
— Estou preparado para acreditar que é um pouco mais complexa do que
eu tinha imaginado.
— Não posso entender em que medida minha personalidade pode lhe
interessar.
Ele deu uma risada seca, desprovida de humor.
— Agora sua pretensa ingenuidade passou dos limites.
Sua cabeça parecia estar prestes a se partir no meio. Enxaqueca. Em casa,
tinha um remédio. Mas Chausey estava longe...
— Realmente, não entendo aonde quer chegar.
— Estava sugerindo que adiássemos nossa briga e explorássemos outras
possibilidades. — Ele franziu a testa ao perceber que ainda não era
compreendido. — Você não pode negar o fato de que se sentiu atraída por mim,
como homem, desde a primeira vez que nos encontramos.
— Veja bem — ele disse um instante depois, com ar resignado —, posso até
concordar que você não estava somente sendo guiada por motivos materiais
quando se casou. Estou preparado a assumir que foi fiel enquanto durou o
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Sabrina Destinos 07 – Kim Lawrence – Uma atração
irresistível
casamento.
Annie finalmente entendeu: ele estava se insinuando, de um modo irritante,
é verdade, mas era o que estava fazendo.
— Mas agora estou no páreo — ela disse. — A viúva frustrada.
— Alegre teria sido o termo exato. — Ele esboçou um sorriso.
— Pensei que você fosse o monge das finanças — ela zombou, provocadora.
— Casado com a sua arte refinada de acumular riquezas.
Nathan se ergueu, e ela teve de empregar todas as forças para não correr
para o outro canto do aposento.
— Eu disse que o casamento não está nos meus planos, não que havia me
tornado celibatário. Você não vai querer que eu acredite que sou velho demais
para você.
— Tenho certeza de que possui uma libido invejável, mas aceito sua palavra
quanto a isso.
A dor de cabeça estava progredindo a passos largos, começando a afetar-
lhe a visão. O quarto parecia mover-se. O próximo estágio seria!... O que podia
fazer?, perguntou-se, desesperada.
— Para onde está indo? — Nathan gritou, quando ela saiu correndo.
O banheiro estava, graças a Deus, bem perto. Contudo, mal suportava a
idéia de expor sua fraqueza física. David também odiava qualquer sinal de
debilidade, em parte, foi por isso que achou a própria tão difícil de aceitar.
— Estou com enxaqueca. — Ela ainda estava de joelhos, mas conseguiu se
levantar. O esforço foi tremendo e ela quase caiu. Nathan abriu a água da pia.
Annie molhou o rosto e lavou a boca.
— Por que não disse antes?
— Para quê? — A voz soou frágil. Ela não teve forças para protestar
quando ele a carregou nos braços. A dor latejante e a náusea a consumiam tanto
que mal notou quando ele a levou para o quarto.
Cinco minutos depois, Annie estava deitada na cama, com as luzes
apagadas. O vestido lhe havia sido retirado com uma presteza que, em outra
ocasião, teria achado uma afronta, mas, naquele momento, só podia agradecer.
— Devo chamar o médico? — ele indagou.
— Não vai durar muito mais. Sairei logo. — Ele devia estar amaldiçoando-a.
A última coisa que devia querer era uma inválida nas mãos.

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Sabrina Destinos 07 – Kim Lawrence – Uma atração
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Ela tentou abrir os olhos por alguns instantes. A luz parecia dançar à sua
frente. O cérebro cansado devia estar lhe pregando peças, pois ela podia jurar
que vira um vestígio de compaixão nos duros olhos verde-esmeralda. Ridículo. Não
podia ser. Ele apenas tomara as medidas práticas, ela disse a si mesma.
— Quero dormir um pouco — pediu.
O silêncio continuou, escuro e confortante, e o toque que sentiu em sua
testa fazia parte de seu sonho.
— Chá, quente e doce.
— Matthew — Annie balbuciou, olhando em torno de um quarto totalmente
desconhecido. Então se lembrou. — Onde está?...
— Nathan tinha um compromisso bem cedo em Edinburgo. Ele me ligou e
me chamou de volta. Na verdade, não sei por que aqueles idiotas estavam tão
apavorados. Nem precisavam de mim. Pobre Annie! Está evitando os chocolates?
Foi gentil da parte de Nathan tê-la deixado ficar aqui; aposto que ele ficou
apavorado.
— Na verdade, ele foi bastante prestativo — Annie afirmou, com voz
distante. Ela apanhou a xícara de chá e tomou um gole. Sentiu a boca seca e
amarga. — Me dê cinco minutos, Matthew, estarei pronta — disse, sorrindo.
Depois de olhar desconfiado para seu rosto pálido, ele concordou. Ela
afastou a roupa de cama e deu um gemido de consternação. O sutiã negro e a
calcinha de seda era tudo o que estava vestindo. Sentiu o estômago se contrair
ao se lembrar de quem havia lhe tirado a roupa.
De repente, sentiu necessidade de se cobrir, querendo esquecer-se do
incidente... de banir aquele homem de sua mente. Sabia que o último desejo não
parecia ser muito realista.
Será que ele se descartava de todas as mulheres sem nenhum remorso?
Ignorando a vontade de tomar um banho, ela apenas lavou as mãos e o
rosto, e vestiu o vestido preto. Ao colocar as meias, teve uma súbita visão de
dedos longos e morenos retirando aquelas mesmas peças de roupa. Sentiu uma
sensação estranha e desconfortável.
Ela balançou a cabeça e praguejou quando a unha desfiou o tecido fino.
Homem maldito! O pior era que, apesar do comportamento abominável que exibira
durante a noite, quando ela precisou de sua ajuda, ele fez tudo o que precisava
ser feito, com eficiência clínica.
Durante o trajeto de volta a Chausey, Annie permaneceu algum tempo em
silêncio, embora sua mente continuasse fervilhando.

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irresistível
— Estive pensando, Matthew. Você ficaria muito chateado se eu me
mudasse para a casa próxima à entrada? Quero dizer, Chausey é tão enorme só
para mim, e custa uma fortuna para mantê-la aquecida.
— Annie, posso ajudá-la mais financeiramente. Sei que você está ficando
sem dinheiro. Se ao menos papai não tivesse caído na lábia de todo charlatão que
lhe prometeu uma recuperação milagrosa.
— Ele nunca perdeu as esperanças.
— Sim, só uma imensa quantia em dinheiro.
— Na verdade, Matthew, fico nervosa lá, sozinha.
— Nervosa... você? Desde quando?
— A velha casa me traz muitas recordações.
— Mas, Annie, você ama aquele lugar.
Eu amo, ela queria ter gritado; ela amava cada pedra, cada rachadura, cada
cano enferrujado.
— E só uma casa. Afinal, você viveu lá muito mais tempo do que eu... e sua
família também.
— Na verdade, Annie, não iria mencionar isso, mas recebi uma oferta pela
casa, e você nunca vai adivinhar quem fez a proposta.
"Não vou?" ela pensou com tristeza, olhando para o rosto alegre do
enteado.
— Para ser franco, o capital viria em boa hora. E a proposta é magnífica.
Annie?
Ela recompôs-se e sorriu.
— Conte-me sobre isso — ela disse educadamente. Ouvia uma palavra em
dez, o suficiente para saber que Nathan lhe dissera a verdade.
Ela começou a se perguntar para onde o futuro a levaria. A maior parte dos
pensamentos pareciam assustadores, mas ela divisou, em algum lugar, um pequeno
filete de esperança...
Após o fim do primeiro exame, Annie evitou os amigos e saiu do prédio da
faculdade. Não sabia se estava feliz ou deprimida. Seria normal a amnésia que
sentia com relação às páginas que havia completado com letra bonita? Ela não
conseguia se lembrar de uma sílaba do que havia escrito.
Distraída, foi de encontro a uma pessoa que andava na direção oposta.
— Me desculpe.

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O sorriso que abrira desaparecera imediatamente quando reconheceu os
traços inesquecíveis de Nathan Audley. As três semanas que se passaram desde
que o vira pela última vez poderiam ter sido trinta anos; mesmo assim, ela se
recordaria das feições morenas, felinas, que o adornavam.
— Você! — ela exclamou.
O coração começou a bater apressado, fazendo sua cabeça girar. Ele
parecia ter sugado toda sua vitalidade, como uma espécie de feiticeiro sinistro.
— Que está fazendo aqui? — ela perguntou, quase com agressividade.
— Nesses recintos santificados? Vai chamar o porteiro para me expulsar
daqui? O lugar está cheio de visitantes.
— Você não é turista.
—Apenas um invasor. — Ele se adiantou e beliscou-lhe a bochecha. Annie
estremeceu como se Nathan houvesse atirado nela.
Ele estava certo: era um invasor. Ele invadira sua vida e, num período de
vinte e quatro horas, havia mudado toda sua vida. Em casa, ela já estava
começado a empacotar seus pertences, os quais, na verdade, não eram muitos.
— Se puder me dar licença, sr. Audley — ela disse, petulante. — Estou
com pressa.
— Eu percebi.
Ele não lhe deu passagem.
— Gostaria de dar uma olhada na casa, se não for inconveniente.
— Fique à vontade, quando eu não estiver lá.
— Você não é uma boa perdedora, Annie?
— Nada do que você disse ou fez influenciou minha decisão — ela
retorquiu. — Poderia me deixar passar? Você comprou a casa, não a inquilina,
— Faça um preço.
Ele estava brincando, embora o olhar duro fosse enigmático demais para
ser decifrado. Ela fitou-o com uma expressão de desdém.
— Seu humor chega às raias do bizarro.
— Por acaso estou rindo? — O ar de inocência ultrajada pareceu tão
absurdamente impróprio que ela se permitiu sorrir.
— O que está fazendo aqui?
— Estou dando uma palestra, como convidado, em administração. — Ele

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sorriu ao notar sua reação de surpresa. — A educação formal, ou a falta dela, é
perdoada, quando se obtém certo grau de sucesso. Você ficaria chocada com a
quantidade de graus honoríficos a que fui oferecido por instituições que antes
não teriam me recebido pela porta dos fundos.
— Você as recusou.
— Não carrego excesso de bagagem.
— Isso inclui uma família e os badulaques que a maioria dos mortais
deseja?
— Você quer uma família?
Annie corou, arrependendo-se de ter se metido em outra discussão com
ele.
— Quero ir para casa — protestou, olhando por cima dos ombros de
Nathan. — Acabei de fazer um exame e estou cansada.
— Você seguiu os passos de seu marido? Arqueologia?
— História — ela disse, olhando para o relógio. Como se ele estivesse
interessado!
— Quase disse "pai" agora há pouco. Quero dizer, geralmente são os pais
que inspiram a carreira dos filhos. Siga os passos do Grande Paizão: é muito
tocante, de fato!
Aquilo fora demais. Ela se adiantou o braço para acertá-lo. Nathan
rapidamente segurou-a pelo pulso.
— Deixe-me ir embora!
— Será que é você que está envergonhada pela falta de ortodoxia do
próprio casamento?
— Eu casei com um moribundo porque estava atrás do dinheiro e do status
— ela esbravejou. — Por que ficaria envergonhada? Sou como todas as outras,
lembra-se? E se não me largar, vou gritar. Ficaria ótimo nos jornais de fofocas:
"Milionário ataca viúva. Polícia envolvida."
— Que tal proporcionarmos uma boa matéria para eles? Nathan juntou os
lábios sobre a boca de Annie. Odiava-o com a mesma violência que o desejava.
De repente, um grupo de turistas japoneses passou, saudando-os com
muitas mesuras.
— O que eles vão pensar?
— Eles provavelmente tiraram uma foto. O casal ocidental no ritual da

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corte.
— Isso não é engraçado.
— Concordo. — Ele olhou para o relógio. — Precisamos conversar. Digamos,
dentro de duas horas, em Chausey?
— Conversar? Não temos nada para conversar. Além disso, tenho outro
compromisso. — Na verdade, ela prometera passar no jardim de infância, onde
também tinha um emprego de meio período.
— É preciso que eu a faça se lembrar do que precisamos conversar? — Ela
só teve tempo de enrubescer. — Será essa noite, então — ele disse, e se virou
em seguida. Provavelmente já estava se concentrando em algum outro negócio
urgente, ela pensou.
Annie o observou afastar-se. Quando finalmente o perdeu de vista, olhou
para a camisa amarrotada, ajeitou-a e abotoou os dois botões do pescoço.

CAPITULO IV

— Os exames a estão deixando preocupada, Annie? — Maggie, a dona do


jardim de infância, observava a jovem ajudante com um ar de preocupação.
Annie, que estava apanhando os brinquedos espalhados pelo carpete, riu
quando um garoto lhe plantou um beijo molhado e lhe golpeou a cabeça com um
brinquedo macio.
— Talvez seja uma gripe — Annie sugeriu.
— Nem brinque, minha filha... Sem sua ajuda...
— Sempre se pode recorrer à agência — Annie lembrou-a. Ao mesmo
tempo, era bom sentir-se... querida, pensou. Ela adorava cuidar das crianças e a
atmosfera daquele pequeno estabelecimento era familiar, calorosa.
— Mas as crianças a conhecem... sem dúvida, você tem jeito para lidar com
elas — a proprietária salientou. Então, foi entregar a criança à última mãe, que
havia chegado. Ao voltar, abriu um sorriso.
— Vá para casa, minha filha, nós cuidamos do resto. Sinto-me culpada de
abusar de suas aptidões naturais, quando você está bem no meio dos exames.
Annie se levantou e retirou o avental.
—Você sabe que eu amo isso aqui. A vida enclausurada é tediosa. Esse
emprego me ajuda a desanuviar. Além disso, acabei me tornando uma babá

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perfeita para os filhos de meus amigos, com toda essa experiência — disse,
pensando na sua melhor amiga, que recentemente havia dado à luz a uma menina.
— Uma pena que você não tenha tido filhos. Mesmo assim, você ainda é
jovem.
— Tenho visto como é difícil para as mulheres conciliar o papel de mãe com
a carreira — ela observou, em tom neutro.
— Não acredite em quem diz que é impossível. Temos provas do contrário
aqui mesmo, todos os dias. Apenas não deixe o tempo passar — Maggie
recomendou.
— Você ainda quer que eu venha trabalhar por algumas horas na sexta,
Maggie?
— Se puder, seria maravilhoso.
Annie concordou com um gesto de cabeça e lhe acenou um adeus. Andando
de volta para o carro, sentiu a marca úmida em seu pescoço, onde o garoto a
havia beijado. Ela sorriu. Então, apressou o passo e se recriminou por se deixar
levar por aqueles impulsos... Bebês são ótimos, meu problema são os pais, pelo
menos os adequados, ela se lembrou.
A horta de Chausey, que estava um pouco negligenciada, lhe servia como
uma distração terapêutica e, após duas horas de trabalho duro, Annie sentiu-se
livre da tensão que sentira durante o dia. Ela se espreguiçou, observando os
resultados de seu esforço. Nos tempos de David, tinham um jardineiro em tempo
integral e um ajudante. A tarefa a que se impunha, de quando em quando, não
alterava muito o fato de que a natureza estava gradualmente se rebelando contra
a ordem do cultivo.
Ironicamente, ela já não se importava mais com os exames, os quais
durante tanto tempo haviam sido seu objetivo principal. Tentava inutilmente
afastar Nathan de sua mente. Por mais que procurasse sufocar esses
pensamentos, Annie não podia negar que sentia algo por ele. Ela estava
desapontada consigo mesma. Como podia pensar tanto nele?
Sabia muito bem que sua receptividade não havia escapado a Nathan, e ele
provavelmente estava disposto a explorar as possibilidades que sua fraqueza lhe
oferecia. Por outro lado, como poderia se livrar de um homem como Nathan
Audley, determinado em atingir seus objetivos? Annie sentiu-se frustrada.
Nathan obviamente imaginava que ela estava tão acostumada quanto ele a
satisfazer seus apetites. Mas fora ela mesma quem o encorajou a pensar assim.
O que Nathan diria se conhecesse a triste realidade da sedutora virgem?
Como era possível encontrar um homem tão odioso e mesmo assim sentir

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irresistível
por ele um desejo tão ardente? Sentiu um arrepio nos seios e um tremor nas
coxas, enquanto caminhava de volta para casa.
— Mãos sujas. Você sempre consegue me surpreender, Annie. Não pensava
que fosse do tipo que não se importava em estragar as unhas.
Ela se virou, derrubando os legumes recém-colhidos. Nathan estava
sentado na beirada de uma longa mesa de pinho, observando-a com um ar
impassível.
— E um rosto sujo também — ele observou. Sua expressão tornou-se ainda
mais cínica quando ela se esquivou do dedo com que ele pretendia tocá-la.
— O que acha que está fazendo?
— Esperando você. Nós tínhamos um... encontro, se está lembrada.
— Lembro-me de você ter dado uma espécie de ordem. Por outro lado,
encontro-me na feliz posição de poder ignorar seus decretos. E você também
está invadindo minha propriedade. E eu ainda não fui expulsa — ela o lembrou,
cheia de ressentimento.
— Sob as circunstâncias, supus que você concordasse. Quanto à expulsão,
você mesma me disse que eu não tinha nada a ver com sua decisão.
Annie se enfureceu ainda mais ao ver que ele se divertia com a situação.
— Pode ser que você transforme esse lugar em algum tipo de caça-níqueis
para ricaços mas, nesse momento, ele ainda é minha casa, e gosto de manter
minha privacidade.
— Entendo — ele disse. — Mas tomei seu silêncio como sinal positivo. E, se
quiser mesmo manter-se segura, sugiro que tranque as portas. Não tive de abrir
essa, ou mesmo de usar as chaves que Matt prontamente me forneceu.
Annie fitou com um silêncio mortificado o molho de chaves que pendiam
dos dedos de Nathan.
— Matthew não tinha esse direito... — ela começou.
— A posse pode representar noventa por cento da lei, mas Matt é o
proprietário. E seu período de usufruto já está se expirando.
Ela engoliu em seco, determinada a não deixá-lo perceber a humilhação que
sentia.
— Pensei que mesmo você poderia esperar duas semanas. Não posso ficar
aqui se você estiver passeando por aí com uma fita métrica, mentalmente
derrubando paredes. Ficarei em um hotel até o final dos exames.
— Você sabe muito bem que as cláusulas do contrato me impedem de

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derrubar qualquer coisa. Além disso, vim aqui para ver você. Por que está tão
zangada?
— Não quero ver você, falar com você, fazer... coisa nenhuma com você.
Nathan a observou com os olhos verdes, que exibiam uma curiosidade fria
misturada com uma ponta de irritação. Annie procurava exibir o que lhe restava
de serenidade, que não era muito.
— Não gosto de você, acho que até odeio você — ela disse em voz baixa, —
Nunca quis dar a impressão...
Ele emitiu um som de aborrecimento, interrompendo o discurso pouco
convincente.
— Ora, Annie. As negativas ingênuas e previsíveis são desnecessárias
entre nós. Não estou aqui porque gostamos um do outro. Sei que você se sente
atraída por mim tanto quanto eu por você. Como uma mulher com sua experiência
e desembaraço pode bancar a tímida?
— Obrigada por se explicar, eu poderia não ter percebido. Posso imaginar
que o dinheiro lhe dá o direito de passar por cima das convenções. Creio que essa
seja sua maneira pitoresca de me convidar para ir para a cama? Me diga,
geralmente a tática funciona?
— As coisas belas geralmente têm defeitos — ele observou, ignorando o
que ela dissera. — Mas, se a tivesse visto assim, da primeira vez, teria quase
acreditado que você era a exceção. Nesse momento, não se parece nada com a
tarimbada sedutora. — Ele passeou os olhos por um momento sobre os lábios de
Annie, cheios e trêmulos. — Esse é o segredo de seu sucesso? A rainha do
fingimento?
— Se sou um tipo tão desprezível, realmente não entendo por que perde
tempo me procurando. Você já deixou claro que não posso esperar nada de você.
Com certeza, posso conseguir acordos mais rendosos.
— Esse é o problema? Tenho certeza de que vai encontrar compensações
na minha cama; poderia lhe fazer esquecer de todos os outros homens.
— Está querendo dizer que sou uma mercenária do amor? — ela perguntou
com voz entrecortada. Nathan como amante: só de pensar nisso ela sentia a
cabeça girar.
— Tenho certeza de que é muito mais sutil do que isso, Annie.
— Caia fora! Isso é sutil o bastante para você? — ela esbravejou.
— Não me entenda mal; não sou um amante mesquinho, mas não serei
manipulado. Pelo menos, não por uma pistoleira gananciosa, por mais incomum e

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cruel que seja sua beleza.
— Você está me ouvindo? Não quero manipulá-lo, dormir com você, ou
mesmo vê-lo novamente.
Ele apanhou as mãos de Annie.
— Uma vez na vida, Annie, faça algo que deseja, precisa, anseia fazer. Sei
que acha que se dá bem ficando sob controle, observando os homens se
enrolarem todos para obter sua atenção. Siga seus instintos. Sinto o desejo
quando olho para você.
Ele deslocara as mãos, fortes e quentes, para a curva da cintura dela,
tocando com os dedos uma faixa de pele descoberta, entre o jeans e a camiseta.
Uma explosão suave, silenciosa, inacreditável, ocorreu dentro da mente confusa
de Annie. O sentimento se tornou grande demais para suportar.
— Não diga que... — Annie foi perdendo os sentidos. Nathan conseguiu
ampará-la, porém. Ele levou o corpo indolente de Annie para junto do seu. O
calor, o perfume de Nathan, desconhecidos, mas agradáveis, bloqueavam todas as
outras sensações, com exceção do desejo e da frustração que queimavam dentro
de Annie.
— Eu a quis desde a primeira vez que a vi; em geral, tenho mais senso de
discernimento, mas... —ele sussurrou.
As palavras lhe deram forças e ela conseguiu falar, ofegante:
— Neste caso você tem de estar preparado para aceitar meus defeitos.
— Gosto de um desafio. Mas não exageraria no ar de mistério, se fosse
você. Annie, você está tão fascinada pela idéia de ser minha amante que...
— Que idéia absurda! — ela protestou.
— Estou simplesmente tornando claro o que ambos sabemos desde a
primeira vez que nos encontramos. Simplesmente traduzindo em palavras o
desejo irremediável que sentimos. Não me importa mais o modo como você deseja
levar a vida... Já tenho Chausey, e Matt, a liberdade. Creio que nossa hostilidade
mútua diminuiria bastante se dormíssemos juntos.
— Ficarei com a hostilidade, muito obrigada.
— Por que tem tanto medo de mim, Annie?
A pergunta insinuante fez com que as pupilas de Annie se dilatassem com
violência.
— Mas não tenho.
— O sexo pode ser uma excelente forma de expressão. Também eu sou

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atormentado por mulheres cuja missão na vida aparentemente é a de se tornarem
indispensáveis para mim...
— Será que devo ser uma espécie de talismã contra essas mulheres que
anseiam para escorregar para dentro de seus lençóis, ou devo dizer, de seu talão
de cheques? Vamos encarar os fatos, Nathan Audley, no que tange à
personalidade, você não se qualifica pela simpatia.
O insulto não causou nenhum impacto, ela percebeu.
— No entanto, você continua dizendo que não há futuro para mim — Annie
continuou, quase sem fôlego. — Acho patético o modo como você espera que eu
fique caída de desejo por você, e me entregue.
— E disso que você tem medo? Sinto-me lisonjeado.
— Saia já daqui... agora — ela disse sem rodeios. Estava tremendo de raiva.
— Você é quem vai sair — ele lembrou. — Por que está agindo como uma
virgem ultrajada? Tem alguma aversão à verdade, Annie? Gosta de manter seus
casos amorosos em belos embrulhos sentimentais?
— Gosto de um pouco de calor, um pouco de vida. Não de um peixe morto
como você.
Por que Annie ficou surpresa com a reação a suas palavras? Elas bem
poderiam ter sido escolhidas para atiçá-lo. Nathan capturou vorazmente a boca
de Annie. O corpo dele estava teso, tomado por uma fúria que a subjugava. Então
a soltou. Com olhar atônito, ela o observou passar os dedos nos cabelos e abotoar
a camisa pólo, que havia se desabotoado.
Nathan parecia estar sob controle. Ao contrário dele, não podia se dar a
tal luxo; as sensações que ele despertara não podiam ser apagadas com tanta
facilidade?.
— 0 que há, Annie? Não gosta de ser controlada pelo sexo? Essa é uma
prerrogativa sua?
— Está falando tolices.
— Você vai ser minha. Do jeito que eu quiser. Eu vi meu pai ser destruído
por uma mulher como você. Ela consumiu o corpo e a alma do velho. E, quando não
restava mais nada, foi embora.
O ataque proferido com voz macia a fez entender a profundidade do
desprezo que ele sentia por ela. Sentiu-se ferida.
— Talvez ele tenha achado que valeu a pena.
— E você, vale?

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— Meu preço sempre vai estar fora do seu alcance, já lhe disse. — Ela
colocou-se ao lado da porta. — Por favor, saia.
Nathan a encarou sem piscar.
— Da próxima vez, a casa será minha e você estará de volta de onde veio.
Isso vai colocar as coisas em uma perspectiva mais realista.
— Espero que trate melhor dessa casa do que lida com as pessoas.
— Certamente não vou negligenciá-la como você o fez.
— Pensei que fosse transformá-la em um hotel...
— Não, virei morar aqui, com meu filho.
— Filho?
Filho, ele tinha um filho! A idéia lhe parecia absurda. Seria casado? Ela
lembrou-se de como ele tinha se mostrado avesso ao casamento... Qual a opinião
da mãe dessa criança sobre o assunto? Ou será que ela não teve o direito de se
pronunciar?
— Matthew nunca me disse nada.
— Por que deveria?
— Fico feliz que Chausey vá continuar sendo um lar — ela disse com voz
embargada. Chausey não seria um hotel. Suas piores premonições não se
confirmaram...
— Posso ver que a idéia a enche de alegria — ele disse, ainda perplexo com
a reação dela. — Está se perguntando por quanto tempo ainda vai conseguir me
evitar? — ele provocou.
A raiva afogueou as faces de Annie.
— Melhor esperar sentado — ela retrucou. Ele saiu andando, logo depois,
virou-se.
— Eu tinha uma proposta para lhe fazer, mas creio que você não está no
melhor estado de ânimo. Da próxima vez, quem sabe.
Ela esfregou a nuca, onde sentiu uma pontada, e fechou a porta,
trancando-a dessa vez. Proposta? Que mais ele queria? Abaixou-se para apanhar
os legumes que ainda estavam espalhados no chão.
Provavelmente a idéia de ficar na casa da entrada fora um erro. No
começo, pensou que ela lhe serviria como um ancoradouro, um porto seguro. Isso
também diminuiria a preocupação de Matthew com relação a seu futuro. No en-
tanto, será que suportaria viver lá, presenciando a família de Nathan residindo na

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irresistível
casa que um dia fora sua?
Nas duas semanas seguintes, todos os que notavam a perda de serenidade
por parte de Annie a atribuíam às provas finais. Como essa era uma aflição da
qual a maioria de seus colegas compartilhava, eles provavelmente não perceberam
nada de anormal. Ela, porém, sentiu os dias dos exames passarem como se
estivesse sonhando, estranhamente distanciada de tudo.
Ela não voltara a ver Nathan e ficara feliz com isso; então por que saltava
agitada toda vez que o telefone ou a campainha tocava? Seria medo? Então, os
sintomas, parecidos com os da gripe, instalaram-se nela. De início, quase
imperceptíveis, mas quando a última prova acabou, ela quase não conseguia
caminhar. Todos os músculos de seu corpo doíam.
Chá, aspirinas e uma hora de soneca na poltrona e ficaria bem, Annie
pensou com otimismo. A maior parte de seus pertences já estavam na casa da
entrada; apenas ela e poucos objetos pessoais ficaram para trás. Esses também
sairiam antes de Nathan tomar posse, no dia seguinte. Com a cabeça apoiada no
encosto, ela caiu em um sonho febril, murmurando em voz baixa, quando os
sonhos a atormentavam.
A próxima coisa de que teve consciência foi uma mão sacudindo seu braço.
Com a vista embaralhada, ela abriu os olhos. A primeira imagem que viu foram
olhos verdes e zangados, e uma cara amarrada. Ela se sentou, imediatamente se
arrependendo do movimento.
— Vá embora, o lugar só será seu amanhã. — A voz soou rascante.
— Quinta-feira, dia vinte, é hoje — ele disse, notando a palidez de sua pele
e o brilho febril e desorientado em seus olhos. — Acho que você dormiu a noite
toda.
Annie gemeu.
— Oh, não, eu não posso... — Tomada pela angústia de se sentir intrusa e
de imaginar que ele provavelmente estava pensado que tudo aquilo era uma farsa
para prolongar sua estada na casa, ela pulou da poltrona. O suor começou a
brotar em sua testa. Debilmente, recusou a tentativa de ajuda de Nathan.
— Sou perfeitamente capaz... — ela disse com voz baixa.
— De se esborrachar no chão. Sente-se, mulher. Indignada por receber
ordens daquele homem, mas incapaz de fazer outra coisa, ela desabou na
poltrona.
— Não se preocupe, sairei daqui em um minuto. Devo estar com gripe — ela
procurou explicar-se.

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— Deus, Matt me ligou hoje cedo para perguntar onde você estava. Ele
tentou falar com você desde ontem.
— Eu devia ter ligado para ele. — Ela passou a mão pela testa. — Pegarei o
resto de minhas coisas e você poderá se apropriar da casa.
— Não poderia ter telefonado para um dos seus jovens amigos, Josh, por
exemplo, para ajudá-la? Ou, talvez, ele não goste de ser exposto a micróbios tão
virulentos.
— Josh está dando uma palestra em... Estocolmo, acho. Sou perfeitamente
capaz...
— Você já disse isso — ele a interrompeu. — Por que não chamou um
médico?
— É apenas um resfriado — ela protestou, tentando reunir o resto de suas
forças e se levantar... Como ela podia ter dormido por tanto tempo?
— Vamos deixar o médico decidir, certo?
— Para onde está indo?
— Quem é seu clínico-geral? É melhor que me diga, pois não vai sair daqui
antes de ser examinada.
— Não achava que se importasse.
— É a publicidade que me preocupa. Tenho certeza de que os jornais, se
tivessem a oportunidade, adorariam me retratar como o malvado vilão vitoriano a
enxotar a heroína doente para fora de casa.
Ela afundou na poltrona, dando-lhe a informação que queria. Estava
cansada demais para discutir. Cada centímetro de seu corpo doía terrivelmente,
e sua garganta arranhava cada vez que engolia.
— Em meia hora — ele anunciou. Ela fechou os olhos.
— É uma perda de tempo.
— Bem diferente de sofrer em silêncio; uma tática comum dos que querem
chamar a atenção.
— Não quero chamar a atenção — ela protestou. "Deus, eu devo estar mais
doente do que pensei", ela concluiu, apavorada, procurando limpar a face com o
dorso da mão. — Espero que pegue o vírus, seu insensível.
— Essa atitude lhe cai melhor do que sua farsa de mártir cristã — ele
retrucou. — Agora tenho de ligar para meu arquiteto.
— Você não perde tempo, não é?

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— Jamais — ele disse, e saiu do quarto.
O médico foi pontual, e a tratou com presteza. Duranto o estágio terminal
da enfermidade de David, ele fez de tudo para aliviar a dor do doente, o que fez
os últimos dias serem bem mais suportáveis para ambos.
Ele realizou um exame completo e fez algumas perguntas apropriadas.
Nathan entrou no quarto. Os dois homens começaram a discutir como se ela não
estivesse ali. Ela os observou com uma raiva crescente, enquanto expressões
como "exaustão" e "repouso absoluto" lhe chegavam ao ouvido.
— Eu agradeceria, dr. Gregory, se o senhor discutisse meus sintomas
comigo. Não sou tola nem inválida ... — Ela gemeu ao se endireitar no sofá, no qual
se deitara para o exame. Nathan estendeu o braço para ajudá-la. Ela se esquivou
de seu toque.
— A não ser que queira terminar em um hospital, minha jovem, sugiro que
comece a aceitar a ajuda de seus amigos — o médico observou.
Annie passou os olhos de um homem para outro, sentindo um grande senso
de desamparo. Amigo, que ironia! Nathan não passava de um vil inimigo. Ele a
odiava, e a estava ajudando. Sua mente lutava para descobrir a razão por trás
daquele comportamento.
— Realmente não me sinto tão mal agora — ela afirmou.
— Não se engane, mocinha. Estou falando sério. Pensei que tinha mais juízo
e tomava mais cuidado com a saúde.
— Talvez devamos deixá-la dormir um pouco, doutor — Nathan interveio,
salvando-a do sermão.—Eu lhe prepararei uma xícara de chá e o senhor me dirá
do que ela precisa. — Ele falou de modo tão decidido que Annie não se sur-
preendeu ao ver o médico aceitar a sugestão, sem discutir.
Ignorando o corpo dolorido, ela se levantou, trêmula. O resto de suas
coisas estavam empilhadas no saguão interno. Ela iria escapar enquanto ainda
tinha forças, decidiu com determinação febril.

CAPITULO V

— Para onde vai?


Annie se aprumou, mas o gesto foi muito rápido. Uma tontura a deteve.
Sentiu um aperto no peito, que não sabia se atribuía à gripe ou à presença
predatória do novo proprietário de Chausey. Ele se encostava na porta,
impedindo-a de sair.
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— Vou para a casa da entrada. — Ela reprimiu um acesso de tosse e
apanhou uma caixa de papelão que continha alguns de seus tesouros.
— Boa idéia.
A resposta, que deveria ser aquela que estava esperando, fez a garganta
de Annie se estreitar e os olhos se encherem de lágrimas. Sentiu pena de si
mesma. Ele estava querendo se ver livre dela.
Nathan se aproximou. Annie imediatamente agarrou a caixa no peito, como
se ela fosse um salva-vidas.
— Não preciso de ajuda, obrigada. Prefiro morrer de fome na sarjeta.
— Um situação improvável — ele murmurou. — Contudo, se sente a
necessidade de levar suas bugigangas, tudo bem — ele disse amavelmente
enquanto erguia ela e à caixa de papelão nos braços.
Annie soltou um grito.
— Ponha-me já no chão! Espero que não ache que estou gostando desta
absurda exibição de controle machista.
O cabelo na nuca dele terminava em cachos rebeldes, ela percebeu,
estranhamente fascinada pelo detalhe. Ele também tinha um belo pescoço, forte,
como o resto do corpo.
— Quietinha, seja um boa menina. — Ela fechou os olhos quando sentiu a
respiração de Nathan perto de seu rosto. — Escute, se tivesse fantasias de
carregar uma bela mulher no colo, ela não estaria com nariz vermelho e olhos
injetados. — Ele respirou fundo ao conduzi-la pelas escadas que levavam para o
jardim, onde havia estacionado o carro. —Além disso, peso faz mal às costas.
Sem forças, ela se deixou carregar para a parte de trás do carro.
— Pelo menos não sou gorda...
— Um comportamento tipicamente feminino, preocupando-se com a forma
quando mal consegue andar.
— Você é quem estava preocupado com minha forma.
— Eu e metade da Inglaterra.
Nathan acomodou-a no assento e fechou a porta. Então entrou no carro,
ligou a ignição e fitou-a pelo espelho retrovisor. Annie estava furiosa.
— Tenho certeza de que, sendo um homem inteligente, você sabe como o
que aconteceu com seu pai fez que ficasse com uma visão preconceituosa. Mesmo
assim, não tem direito de me tratar como se fosse uma oportunista. Nunca lhe
pedi nada e jamais lhe pedirei — ela disse, com voz rouca, trêmula de emoção. —

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Sinto pena da criança educada por um homem com uma visão tão amarga da vida...
— concluiu.
— Quando precisar de sua opinião, eu peço. É sempre um erro emitir juízo
de valor quando não se sabe nada sobre o assunto.
— Então não há nenhum problema quanto ao fato de você traçar um estudo
definitivo de minha personalidade, ou da falta dela, mas eu devo permanecer
calada ante a presença de tão ilustre figura.
O carro parou, guinchando os pneus e espalhando pedregulhos para os
lados.
— Não se meta com meu filho, ou com a educação dele. — Ele se virou,
fuzilando-a com os olhos. — Ele não vai ser exposto a uma mulher como você até
ser maduro o bastante para não ter ilusões. E preciso certa experiência para
vislumbrar quem você é na verdade.
— E quanto à mãe dele? Ela não tem nada a dizer sobre a educação do
filho?
—A mãe preferiu o dinheiro à inconveniência de cuidar de um bebê. — Os
olhos de Nathan se estreitaram.
— Por que está tão chocada, Annie? Pensei que estivesse acostumada com
transações desse tipo.
— Você não pode comprar uma criança — ela exclamou, horrorizada. Ele
realmente estava pensando que seria capaz de trocar uma vida, a dela, ou pior, a
de um filho, por dinheiro?
— Pode-se comprar qualquer coisa — ele afirmou. — Não é esse o princípio
pelo qual você vive? Tenho certeza de que, na mesma situação, não se importaria
em usar as mesmas táticas. Na verdade, creio que seria até mais imaginativa.
Annie permitiu que ele a carregasse para fora do carro. Sentia-se muito
fraca, de corpo e espírito, para lutar. Aquele cinismo brutal havia lhe tirado os
últimos vestígios de resistência.
A pequena casa próxima ao portão, que fora alegre e luminosa nos dias em
que a tia a havia ocupado, naquele momento parecia vazia e apertada,
considerando-se o espaço ao qual se havia acostumado.
— Muito obrigada — ela disse, mais por educação. Olhando em torno, ele a
colocou no chão.
— O lugar é úmido — ele constatou, em tom acusatório. — Você não pode
morar aqui.
— Que sorte que você não a comprou, então. — Ela fez um gesto de
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impaciência e deu uma tossidinha seca.
— Pode ir embora, por favor? De mais a mais, não tenho a intenção de
residir aqui por muito tempo. A vizinhança não me agrada.
Naquele momento, Annie só precisava dormir, e ficar em paz. Ela tocou o
corrimão da escada íngreme que separava a sala dos dois pequenos quartos que
havia em cima.
Ele ficou parado observando-a subir a escada. Era óbvio que o movimento
lhe custava esforço considerável, embora ela estivesse determinada a não
demonstrá-lo. Um brilho de admiração cintilou nos olhos de Nathan quando ele a
viu chegar no alto.
Eles se entreolharam e Annie sentiu vontade de chorar. Será que ele
estava sorrindo para ela? Não, devia estar delirando. Antes que pudesse se
decidir, ela viu que Nathan se fora, deixando-a sozinha.
A cama parecia fria e não muito convidativa, e ela demorou um tempo para
remover o agasalho e insinuar-se para dentro das cobertas. Então, dormiu
intermitentemente, atacada por acessos de tremor e de tosse.
Mais tarde, ainda meio adormecida, Annie abriu os olhos e examinou as
rachaduras no teto, perto de uma mancha escura de umidade, por onde a chuva
havia entrado no inverno anterior. Ela nunca tivera dinheiro para consertar o
estrago. Então, ao se virar, levou um susto.
— Você é real ou fruto da alucinação — ela perguntou. — Você tinha saído.
— Voltei. — Ele pôs a mão na testa de Annie. — O médico mandou comprar
uma porção de remédios.
— Você não precisava ter se incomodado.
— Possivelmente não, mas tenho essa natureza generosa que me impele a
tomar atitudes nobres.
— Só quando está na frente dos outros.
Mas ela não acreditou no que afirmava. Nathan podia ser tudo, menos
preocupado com o que as pessoas iriam pensar. O homem era arrogante e pouco
se importava com a reação dos outros. Portanto, por que estava sendo delicado
com ela?
— Não acho que você esteja em condições de me criticar. Tudo o que tenho
de fazer é informar ao seu amigo médico de que não está cooperando, e ele a
levará imediatamente para o hospital.
— Me dê logo essas pílulas e vá embora...

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Annie abaixou os olhos, temendo que aqueles olhos frios e desapaixonados,
pudessem detectar o que estava sentindo por dentro. Surpreendentemente,
nenhum comentário punitivo sobreveio:
— Sente-se; não vai conseguir engolir os remédios, deitada. — Ele a
segurou com uma das mãos enquanto a outra ajeitava os travesseiros.
Ela ficou surpresa demais, e só conseguiu estender a mão obedientemente
quando ele lhe ofereceu uma coleção de pílulas.
— Antibióticos, e um analgésico — ele explicou, colocando um copo de suco
fresco na outra mão. — Muito bem, não é tão difícil quando nos acalmamos, é?
Ela bateu o copo no pequeno criado-mudo ao lado da cama.
— Não pedi a sua ajuda. Você é a última pessoa do mundo por quem quero
ser ajudada.
—Você continua fazendo essas declarações grandiosas, Annie... Ao ouvi-la
falar assim, tenho o forte desejo de fazê-la engolir cada sílaba... um refeição um
pouco indigesta para alguém tão teimosa quanto você.
Ele pegou a jarra do aparador e voltou a encher o copo.
— Beba bastante... ordens do médico, não minhas, se isso faz diminuir sua
rebeldia.
As intenções que estavam por trás de gestos tão cavalheirescos,
escapavam ao entendimento de Annie.
— Suponho que devo agradecer-lhe.
— Nunca banquei o enfermeiro antes. — Um sorriso tímido surgiu em seus
lábios.
— Nem mesmo para seu filho? — ela disse, virando a cabeça para
encontrar um ponto mais fresco no travesseiro. Esse estranho fascínio que ele
exercia sobre ela tinha uma intensidade que a alarmava.
— Outras pessoas, muito mais competentes, geralmente estavam
disponíveis para cuidar disso.
O cansaço se abatia sobre Annie e ela teve de lutar para manter os olhos
abertos.
— Talvez ele quisesse você — ela sugeriu com voz sonolenta.
— Ao contrário de você.
— Você não é meu pai — Annie observou secamente. "Vou fechar os olhos
só por alguns instantes", ela decidiu.

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— Uma impossibilidade biológica... do ponto de vista matemático. E eu
também não tenho o hábito de bancar o pai substituto.
— Não quero um pai-substituto. Já tive a experiência. — A auto-ironia
ameaçava a categoria da qual ela fingia fazer parte.
Nathan ficou ao lado da cama por um momento; sua expressão havia
perdido um pouco da agressividade que o dominara antes. Então, se virou e saiu
do quarto com passos inaudíveis.
Annie lentamente emergiu do estado de letargia em que se encontrava e se
deparou com um cenário estranho, mas não totalmente desconhecido; então se
lembrou. Sua mente viajou para um tempo que não voltava mais, um tempo de
inocência do qual sentia muita saudade.
A lembrança das últimas horas no entanto, eram nebulosas. Tinha alguma
recordação de ter sido despertada, sido forçada a tomar líquidos e a engolir
remédios. Com cuidado, ela se espreguiçou. Melhor, muito melhor, ela percebeu,
com certo alívio.
Sentou-se. Nathan estivera ali! Por quanto tempo? A luz que entrava pela
janela a fez perceber que mais uma vez dormira a noite e o dia todo. Qual o
motivo pelo qual ele ficara a seu lado?
Annie tremeu, e esfregou o antebraço. Afastou as cobertas e virou a perna
para o lado. Esticando os tornozelos, ela observou as próprias coxas, longas e
macias. Uma expressão pensativa penetrou em seus olhos. Ele também teria
olhado para sua pele leitosa? Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Sentindo a
garganta seca, ela passou a língua pelos lábios.
Annie olhou para o frasco de antibióticos e leu as instruções.
Infelizmente, não tinha a menor idéia de quando a última dose fora ministrada.
Uma pena que seu enfermeiro indesejado não tenha pensado em deixar uma nota,
ela pensou.
A camiseta que encontrou dobrada sobre uma cadeira mal serviu para
cobrir o alto das coxas, mas ela não se importou em usá-la ao descer descalça a
escada.
Ela piscou e parou apavorada ao chegar embaixo. A porta para a cozinha
estava aberta e um homem alto estava acendendo o fogão e colocando água para
ferver.
— Eu a ouvi andando — ele disse, sem virar-se. — Como está se sentido?
— Que está fazendo aqui?
Ele a supervisionou com olhos ávidos antes de se dirigir para a sala.

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— Amnésia? — sugeriu. — Pensei que fosse me agradecer. Annie procurou
não se deixar abalar pela observação de Nathan mas, para seu constrangimento,
sentiu o bico dos seios endurecerem de encontro à camiseta. Ela afundou os
dentes no lábio para combater a irresistível sensação, que fazia sua cabeça girar.
— Eu não estava em condições de procurar sua ajuda... ou para fugir dela —
ela disse, dando dois passos na direção da sala.
— É por isso que está me olhando com tanta suspeita? Acha que eu tirei
vantagem de seu estado de inconsciência? Deixe lembrá-la que prefiro que
minhas amantes se lembrem do evento.
Annie levou as mãos à cintura.
— Eu dispenso esse prazer, obrigada.
Sentiu um gosto amargo na boca. Tinha dificuldade em manter-se de pé.
Um sintoma da gripe, ela disse a si mesma. Ele apenas queria provocá-la; tudo o
que fazia, dizia, estava voltado para esse objetivo.
Nathan estreitou os olhos, que brilharam como pedaços de cristal
transparente.
— Devo inferir que esse belo corpo pertence a um modelo de virtude e não
a uma devassa?
A intenção que havia em seu tom de voz a atingiu como um golpe.
— Não pretendo me justificar com você — ela retrucou. Como poderia?
Para Nathan, sua culpa já havia sido atestada antes mesmo de ele tê-la
conhecido. — Mas, independente do que pensa de mim, deve admitir que consegui
não me atirar em seus braços.
— A única razão pela qual você se afasta de mim, mesmo quando todas as
fibras de seu corpo clamam pelo meu toque, é que eu sei quem você é. — Nathan
abriu um sorriso cruel, que a fez empalidecer. — Os homens nunca procuram ver
além da sensualidade que você irradia, Annie?
Ele também empalidecera; ela podia ver os músculos pulsando embaixo do
tecido da camiseta de Nathan.
— Você adora cegar os homens — continuou —, torná-los indefesos,
embriagados com a promessa de sua juventude. Ele era velho o bastante para ser
seu pai!
— Eu amava David! — ela gritou.
— Amor! — Nathan zombou. — Ele não podia ter sido capaz de satisfazê-la.
Suponho que queira me fazer crer que foi fiel, mesmo quando ele já estava
decrépito. Podia até acreditar nisso, antes de ver como você é receptiva. Porque,
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minha querida, você é um pedaço de mau caminho. O velho tolo não podia esperar
mais do que a sua discrição.
Annie corou. A dor, causada pela injustiça, também poderia ter sido
provocada pelo reconhecimento da culpa, e Nathan sorriu, interpretando mal a
reação.
— Um ataque do coração matou meu pai. Mas minha madrasta foi a culpada.
Ela o enfeitiçou, o arruinou financeiramente e, quando ele percebeu o quanto tolo
havia sido, ela começou a traí-lo. Ora, até mesmo tentou me seduzir. Sempre me
perguntei até que ponto você e Matt...
Tentou golpeá-lo mas ele prendeu seus braços, arrastando-a para perto de
si.
—Você é doente.. — ela o acusou, ofegante, procurando
escapar.
— Você é quem estava doente. Lembra-se?, e sozinha.
— Preferia ter morrido a dever favores a você.
— Talvez. Mas creio que o tipo de relacionamento ao qual se dedica não
inspirou o lado humanitário de seus companheiros. Nenhum deles veio fazer fila
para limpar a sua testa.
— É isso que eu valho. Eles só me usam e jogam fora.
— Você é quem está dizendo, minha querida, e não fique com essa cara de
vítima. Você entrou no jogo, tem de seguir as regras.
— Devo me sentir agradecida por seu ato caridoso? Nem foi tão
dramático assim. As pessoas não costumam morrer de gripe. É esse o problema,
Nathan? Está nervoso porque, mesmo após tanto esforço, alguém tão fácil como
eu não suporta vê-lo pela frente?
Com um movimento violento, que quase tirou os pés de Annie do chão,
Nathan a trouxe para junto de si. Ele puxou-lhe o cabelo para trás, forçando-a a
aceitar o beijo punitivo. Ela fechou os olhos. O abraço era alimentado pelo ódio.
Mesmo assim, um grande abismo se abriu a seus pés e ela caiu dentro dele.
Annie entreabriu os lábios, receptiva, sequiosa pelos beijos de Nathan. Ele
a enlaçou pelos quadris, enquanto acariciava-lhe as costas com os dedos. Então
passou a beijar seu rosto, lábios, pálpebras cerradas, pescoço. Seus dedos
entravam cada vez mais na camiseta de Annie, e ela sentiu que todas as defesas,
que imaginava fazer parte integral de sua natureza, desapareceram.
Em resposta, como se fosse a coisa mais natural do mundo, ela também
insinuou a mão para dentro da camiseta de Nathan, apalpando os músculos duros
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do estômago dele. A ligeira contração que sentiu e o gemido que ele soltou a
deixaram excitada.
Ele era belo, glorioso, e, naquele momento, lhe pertencia. Oh, como ela o
queria! Annie se movia instintivamente, sentindo as mãos dele tocarem-na com
precisão, arrancando reações violentas e desinibidas de seu corpo indefeso. Ele
levantou a cabeça e Annie viu que os olhos estavam tomados pelo fogo da paixão.
Nathan passou as mãos por suas costas. Ela estremeceu, repetidas vezes. O
desejo a havia tomado por completo, insensível e destruidor.
De maneira lenta, dolorosamente lenta, ele lhe tirou a camiseta. Seus seios
saltaram, livres. Ela mal conseguia respirar. Pela primeira vez na vida, tinha
prazer em exibir o próprio corpo.
Ela ergueu as duas mãos para trazer a cabeça de Nathan para mais perto
de si; a boca dele se fechou em torno de um mamilo. Annie ainda sentiu a firmeza
dos músculos de Nathan antes de ele se afastar, descendo as mãos por sua
espinha e tocando a maciez arredondada de suas nádegas. Então, ela estava
livre... devastada, desolada, mas livre.
— Eu sabia que você tinha um apetite voraz, minha querida, mas mesmo
assim!... — Ele deu um assobio de apreciação, zombeteiro.
Aquelas palavras transformaram o que parecia a mais perfeita forma de
expressão em algo sórdido. Ele sorria com desprezo enquanto espanava a calça
com as mãos, como se estivesse se livrando dos vestígios dela, Annie pensou,
atônita.
A súbita rejeição, e tudo o que a precedera, a arrasou. Ela se sentiu
despedaçar.
— Não consegue me ver pela frente?
Aquela era uma grotesca forma de punição por ela ter ousado negar a
magnitude de seu desejo, da atração que sentia por ele desde o primeiro instante
em que o vira. Sim, ele a desejava. Mas sua necessidade de provar que estava
certo, que tinha a razão e o poder, fizeram-no afastar-se, exibindo o controle
que, como sempre, parecia destoante de sua natureza apaixonada.
Annie apanhou a camiseta e, num gesto inútil, procurou esconder a nudez
com ela.
— Como você notou, eu também tenho necessidade de aplacar meus
apetites. — Ela deu uma risada totalmente artificial, mas que serviu para irritá-
lo. — E você estava tão à mão. — Preferia morrer a deixá-lo ver como estava
humilhada.
— Você estava à minha mercê.

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— Espero que isso o tenha feito sentir-se tão bem quanto parece.
— Vagabunda.
— Pode ser — ela disse com frieza —, mas eu me recuso a ser usada como
substituta para sua madrasta. O que está errado, Nathan? Queria ter dormido
com ela? Dificilmente pode me culpar por isso.
O comentário conseguiu enfurecer Nathan.
— Aquela mulher era patética e vingativa. Quando me recusei a cooperar,
ela disse a meu pai que eu a estava molestando.
— Ele acreditou nela?
— Não ter acreditado teria sido doloroso demais para ele.
— Por que quer me punir pelos pecados de outra pessoa? — ela perguntou,
zangada.
— Vocês são iguais.
Aquela certeza inabalável por parte dele a fez querer gritar.
— Mesmo assim, você me quer. — Ela ergueu o queixo e injetou uma dose
de desdém em sua voz.
— Você será minha. Mas quando eu quiser e como eu quiser,
Lágrimas de raiva e de frustração encheram seus olhos. Furiosa, ela tentou
recobrar um pouco da compostura perdida. Mas, como manter a pose, ali, quase
nua, sendo insultada, aniquilada, por um homem que a odiava?
Nathan a observou com suspeita, como se a reação dela fosse uma espécie
de farsa, pela qual procurava fugir a seus ataques. Mas, dessa vez, Annie não
percebeu esse olhar.
Sentia-se aniquilada. Como poderia ter caído na lábia daquele homem?
Como podia experimentar tamanha atração por ele? Ela o olhou por um momento,
ele também ficou impressionado com a intensidade daquele olhar. Nathan chegou
até a estender a mão para tocar seus cachos acobreados, mas se arrependeu,
cerrando o punho.
Mas o momento passou. Annie conseguiu recuperar a altivez e, com a
camiseta amassada pressionada contra o peito, bradou:
— Como você quiser? De modo algum. O único modo que posso imaginar ir
para cama com você é como marido e mulher. Uma garota precisa ter juízo.
Diversão é diversão e negócios são negócios, e você será sempre a segunda
alternativa.

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— Não vou discutir com você, só me avise quando estiver pronta para
mudar de idéia. Enquanto isso vai ficar nesse casebre e, se ainda estiver com
pneumonia, vai convalescer aqui.
— Pensei que o tinha feito feliz.
— A proposta que eu havia mencionado... Ela fechou os olhos.
— Já lhe disse... — ela começou.
— Vou sair do país.
— A melhor notícia que recebi hoje — ela disse com voz trêmula,
procurando disfarçar a surpresa.
— A mudança chegará em Chausey na semana que vem. Minha governanta,
embora seja uma senhora audaz, está mais acostumada com casas menores... uma
casa de um homem solteiro. Meu filho está em um colégio interno, mas ele... —
Nathan limpou a garganta. — O garoto, Andrew, vai vir morar comigo. Contudo,
ainda não tive tempo de contratar ninguém para trabalhar em tempo integral. Se
pudesse ficar até que eu volte...
— Está me pedindo para tomar conta de seu filho? — Ela não podia
acreditar no que estava ouvindo. Será que alguém havia lhe falado sobre seu
emprego no jardim de infância? Mas as palavras seguintes de Nathan provaram o
contrário.
— A sra. Gilbert vai se ocupar disso. O que lhe peço é para ajudá-la em
outros assuntos, mais mundanos. Creio que cuidar de criança não é bem o seu
forte.
— Não lhe devo favores.
— Pensei que ficaria feliz em residir mais algum tempo em Chausey. Além
disso, você não pode ficar aqui. Vamos encarar os fatos, não imagina que vai usar
seu charme para arranjar um teto melhor, considerando sua condição atual.
Francamente, minha querida, sua aparência não é das melhores.
— Que gentil — ela murmurou. — E que modo adorável de fazer um convite.
— "Por que estou considerando essa proposta absurda?", ela se perguntou. Com
certeza, a idéia de ficar um pouco mais em Chausey não lhe soava mal, mas, com
isso, só ia adiar a dor da partida.
— Alguns empregados vão para lá hoje. Mandarei alguém vir apanhar suas
coisas.
Ela fez um gesto de recusa.
— Você...

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irresistível
— Estarei em um vôo que parte ao meio-dia, com destino a Nova York.
Ficarei fora por dois meses. Tenho certeza de seus conhecimentos do local serão
de valia para a sra. Gilbert.
— Não quer deixar uma mensagem a seu filho? — Ela perguntou, odiando
seus modos apressados.
— Não seria tolo de usá-la como intermediária, seria, Annie?
Então ele partiu e ela caiu de joelhos e chorou. Annie sabia que odiava
Nathan Audley. Era essa emoção, não o amor, que a estava perturbando. Ela iria
livrar-se dele, afastá-lo de sua vida. Nathan Audley era uma fraqueza da qual não
precisava.
Sob as circunstâncias, ter concordado em ficar em Chausey foi uma das
maiores tolices que já fizera. Oito semanas mais tarde e ele retornaria para
expulsá-la de novo. Bem, Annie pensou, erguendo a cabeça em desafio e
afastando o cabelo da testa, por outro lado, ela também podia tirar proveito da
situação.

CAPITULO VI

— É assim que se faz, Andrew. — Annie ensinou como sovar a massa de pão
e se afastou, enquanto o garoto realizava a tarefa. Para alguém determinado a
tirar Nathan Audley da cabeça, ela sabia que se tornar amiga do filho dele era a
atitude menos sábia que podia tomar.
— Está ótimo, finja que é alguém que você não suporta — ela sugeriu,
tirando uma garrafa de limonada da geladeira e servindo dois copos. —Vamos
fazer uma pausa, isso é trabalho pesado.
— Por que você não fica conosco? Não precisa ir embora — ele disse,
aceitando o copo com os olhos verdes faiscando de reprovação.
Annie sentiu uma pontada no peito. Nathan estava ausente havia oito
semanas mas, por causa do modo como o garoto olhava para ela, Annie não
conseguia esquecê-lo.
Ela esboçou um sorriso. Ir embora de Chausey e esquecer aquele menino
iria ser um dos atos mais difíceis de toda sua vida, mas estava determinada a não
deixar a criança percebê-lo.
— Já lhe expliquei que não posso ficar aqui por muito tempo. Além disso,
vou me mudar para o apartamento de um amigo.
No fim, Annie achou bom que Nathan estivesse fora do país naqueles dois
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Sabrina Destinos 07 – Kim Lawrence – Uma atração
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últimos meses. Quando voltasse, os pertences dela já estariam no apartamento
de Josh. Ele realmente tinha razão sobre uma coisa: a casa da entrada não tinha
nenhum charme. E um bocado de umidade.
— Vou ficar com saudades — ele disse.
— A escola vai começar na próxima semana e você vai fazer uma porção de
novos amigos.
Annie procurou conter as lágrimas. Era ótimo que estivesse longe quando
Nathan voltasse. A reação dele frente a essa amizade não seria das melhores.
Quase podia ouvir as coisas horríveis que ele lhe falaria. Precisava recomeçar a
vida sem se envolver com nenhum dos Audley.
No início de seu relacionamento com Andrew, Annie se mantivera distante,
mas isso, em vez de repeli-lo, pareceu tê-lo encorajado a travar amizade com ela.
Rapidamente, os papéis que Nathan determinara que ela e a governanta
assumissem se inverteram, o que, Annie suspeitava, havia sido do agrado da
segunda mulher.
Ela logo viu que Andrew precisava de alguém que o escutasse, e não teve
coragem de virar as costas para ele. Era uma criança adorável... madura para a
idade, mas deliciosamente ingênua. E terrivelmente só.
— Isso foi o que papai também me disse — ele concordou, com cara de
quem ainda não se convencera.
— E amanhã ele já vai estar de volta... — ela brincou, observando-o
esvaziar o copo. Por mais que Annie procurasse se conter, ansiava por cada
migalha de informação que ele lhe fornecia sobre o pai. — Você falou com ele
bastante tempo a noite passada.
O menino pareceu bastante embaraçado pela lembrança.
— Posso ir morar com você? — ele perguntou. Annie emitiu um som de
surpresa, mas não teve tempo de formular uma resposta adequada.
— Vocês dois parecem ocupados...
Annie estremeceu. Virou-se. Nem ouviu o grito de alegria do garoto,
perturbada demais que estava com aquela presença inesperada. Nathan ergueu o
garoto nos braços e o girou no ar. Seu cabelo estava molhado por causa da chuva
que caíra com força a tarde toda. Os ombros de seu paletó também se
mostravam encharcados.
Se estivesse preparada, ela pensou, procurando ignorar as sensações que a
entrada dele despertara, poderia se sentir menos... arrebatada. O abismo em sua
vida havia ressurgido com toda a força. Seu coração estava batendo com tamanha

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violência que se surpreendeu que pai e filho não o estivessem ouvindo.
Nathan a estava observando por cima dos ombros do filho. Talvez não
tivesse gostado de tê-la encontrado com o garoto. Não queria que o filho fosse
contaminado por alguém de moral duvidosa, ela pensou com amargura. O que diria
quando percebesse o quanto os dois estiveram juntos?
— A casa no final da entrada de carros seria ideal para os empregados,
querido. Sei como gosta de manter sua privacidade. — Uma voz educada e um
tanto alta a arrebatou da imobilidade.
— O proprietário anterior mantém o domínio sobre o lugar, Júlia — Nathan
afirmou, enquanto colocava o garoto no chão.
Se o garoto não estivesse lá, Annie pensou, ela teria cedido ao impulso de
correr para o quarto. Claro que Nathan tinha namoradas. Por que o choque,
então?
O garoto estava fitando a visitante com um olhar carregado de raiva, que
Annie, mergulhada em suas próprias emoções, não percebera até ele falar:
— Se você se casar com ela, eu fujo!
— Andrew! — A voz do pai soou irritada. — Peça desculpas imediatamente.
Com uma expressão muito semelhante a do pai, o garoto corou mas se
manteve impassível.
— Não, não vou, quero que Annie venha morar com a gente — ele disse, e
saiu correndo.
"Ele vai me culpar por isso, é claro", Annie pensou ressentida. Ela limpou as
mãos cobertas de farinha na calça jeans.
— Estávamos fazendo pão. — Ela lançou um olhar na direção na mulher que
Andrew suspeitava ser a futura madrasta. Essa parecia muito à vontade e Annie,
embora a tivesse detestado, invejava-lhe a pose. — Um excelente exercício para
liberar a agressividade.
— Que gentileza, mas a terapia parece não ter funcionado com Drew — ele
retrucou. — Onde está a sra. Gilbert?
— Escondi o corpo no armário — Annie não conseguiu refrear o gracejo,
provocada que fora pelo tom de superioridade que havia na voz de Nathan.
Enquanto isso, a outra mulher vasculhava a cozinha com os olhos. Pequena,
delicada, com feições perfeitas, ela pousou o olhar em Annie e lhe estendeu a
mão. Annie retribuiu o gesto, sentindo-se grande e atrapalhada perto dela. Seria
ela a futura sra. Audley?

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— Júlia Trent, Annie Selby — Nathan apresentou-as.
— Os mesmos Selby que moraram aqui em Chausey. Você é a filha?...
— Esposa, na verdade. David Selby era meu marido — Annie disse, já
acostumada com esse tipo de situação.
— Que tragédia, ter enviuvado tão cedo. Acho que essa velha casa é...
fascinante. Você vai ficar conosco por muito tempo?
Não muito sutil, Annie pensou com desgosto. Ela viu que os olhos de Nathan
estava postos sobre a pilha de malas.
— Vai para algum lugar? — ele perguntou.
— Vou — ela respondeu rapidamente.
— Isso significa que a casa da entrada vai estar a venda? Você realmente
deveria comprá-la, querido.
— A sra. Selby não é dona da casa, Júlia. Ela pertence ao filho.
— Filho?
— Meu enteado, naturalmente — Annie explicou. Filho. A palavra provocou
uma reação em cadeia. A mulher era loira, assim como Andrew. A criatura frágil
parecia tão possessiva!
— Você vai se mudar para longe? — ele perguntou.
— Oxford.
— Pode se sustentar?
Em outras palavras, pode se sustentar sem a ajuda de Matthew?
— Na verdade, Josh não vai cobrar o aluguel. — Annie disse, com um
sorriso charmoso, preferindo omitir o fato de que Josh estaria nos Estados
Unidos pelos próximos seis meses e ela ficaria tomando conta do apartamento
para ele.
— Que bom amigo, esse — Júlia observou.
— Oh, Annie tem uma porção de bons amigos — Nathan ironizou. — Ela é
uma garota muito popular.
A pequena loira estava olhando para o relógio cravejado de brilhantes, que
lhe adornava o pulso.
— O horário, querido. — Ela bateu no mostrador com uma unha.
— Claro, você deve estar exausta... querida. — Ele parou na porta. — Já
volto, Annie. Preciso lhe retribuir o favor que me fez tomando conta de Drew. Só

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vou resgatar minha governanta da adega.
— Na verdade, ela está na sala do lado sul, tentando convencer os
pedreiros a terminarem o serviço antes de sua volta, amanhã, mas creio que sua
chegada prematura deve ter-lhe arruinado os planos.
— Vá ver seu filho, Nathan, que eu terei prazer de falar com os pedreiros
— a loira sugeriu.
— Você se importaria?...
— Por você, meu amor... — Júlia saiu com um sorriso cintilante.
— Ela sabe onde fica a sala? — Annie indagou.
— Pedi a opinião a Júlia sobre a compra da casa. Ela tem um excelente
senso de direção, e tenho certeza de que vai conseguir resolver qualquer
problema de reforma.
— Num piscar de olhos, suponho.
Annie corou quando Nathan fixou os olhos nela. Todos os músculos de seu
corpo doíam com o esforço de se manter sob controle. Andrew provavelmente
estava certo. Por que outro motivo um homem pediria a opinião de uma mulher
antes de comprar uma casa?
— Não se zangue com Andrew — ela disse com tristeza. — Ele estava
ansioso por reencontrá-lo.
— Não parecia. Você sabe que não tive outra escolha a não ser deixá-lo.
Levar uma criança por uma sucessão de hotéis não é uma boa idéia. — ele
comentou, com ar de cansaço. Então, virando-se, saiu da cozinha.
Annie sentou-se em uma cadeira. Por que ele voltara tão cedo? Por que
teve de trazer a bela Júlia a tiracolo? Para supervisionar a reforma de sua nova
casa, concluiu. Finalmente, podia ver com clareza o que se passava. Mas pensar
naquela mulher como dona da casa e mãe de Andrew... Quanto a Nathan, bem, ele
nunca fora seu, de modo que a dor que sentia com relação a esse último ponto não
se justificava.
Meia hora depois, Annie ainda estava sentada, quando a porta se abriu e
Nathan entrou.
— Pela segunda vez no dia me é concedida uma audiência — ela disse,
arregalando os olhos. — Sinto-me honrada.
— Oh, sim? Saiba que você não verá Drew novamente. Esqueça o que quer
que esteja tentando fazer, tornando-se amiga dele. E por que estava querendo
partir antes de eu voltar? Não podia ficar longe de Josh?

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Ela começou a se levantar, mas ele colocou uma mão em cada braço da
cadeira, impedindo-a de sair. Annie sentiu a temperatura de seu corpo subir,
espalhando um formigamento pelo corpo.
— Minha estada aqui era temporária e... sim, eu sinto saudades de Josh —
ela contra-atacou, intrigada por ele se sentir insultado com sua partida. — E que
tocante, você bancando o pai extremoso!
— O que está querendo dizer?
Ela virou a cabeça para ignorá-lo. Ele se abaixou e, com uma mão, ergueu-
lhe o queixo até que ela olhasse diretamente em seus olhos glaciais. — Então?
— Sabe por que seu filho passou tanto tempo comigo?
— Quanto tempo?
— Não fiquei cronometrando. O garoto se sente só, Nathan. — O simples
fato de ter pronunciado seu nome fez com ela abaixasse os olhos, sentindo-se
confusa. — Você o deixou com uma senhora idosa que não tem a menor idéia de
como lidar com crianças.
— E você sabe, eu suponho. Sei muito bem que não era a situação ideal,
mas melhor do que levá-lo comigo.
— Eu gosto dele.
— E fez de tudo para que ele gostasse de você. Tudo o que ouvi foi Annie
isso e Annie aquilo e, quanto à sra. Gilbert, a situação é a mesma. Você realmente
soube se insinuar por aqui. E quanto à risível mentira de que tem um emprego no
jardim de infância? Era uma desculpa para ir ter com seus amantes?
Annie deu um longo suspiro, engolindo a afronta.
— Oito semanas é muito tempo para se ficar celibatária — ela provocou. —
E foi você quem insistiu que eu ficasse por mais tempo.
— Não como babá. Ele logo vai para a escola; não precisa de você. Mas
precisa de educação; ele foi terrivelmente rude com Júlia.
— Exatamente, é uma experiência traumática essa de começar em uma
nova escola. Além disso, ter um pai ausente não ajuda muito.
Ele empalideceu.
— Sou um homem ocupado e o garoto estava em um excelente internato,
eu mesmo fui até lá. Tirei-o de lá porque ele me pediu. Comprei esta casa para ele
ficar perto de uma boa escola. Não posso ficar aqui o tempo todo.
— Sei de tudo sobre o internato — ela retrucou.

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— Que obviamente é mais do que eu... Ter concordado em levá-lo para uma
nova escola foi um capricho com o qual eu não devia ter concordado.
— Um capricho?! — ela gritou. — Os coleguinhas de Andrew o maltrataram
durante todo o semestre — ela o informou. — Ele lhe contou? Não, porque o pai
imagina que um homem deva saber lidar com essas situações difíceis. E foi isso o
que ele fez — Annie continuou. — Lidou com tudo com admirável desenvoltura.
Quando conseguiu superar os obstáculos, e só então, ele pediu para ser trazido
para casa, para ficar com o pai desalmado, o qual, por alguma razão, adora.
Ele estava paralisado.
— Isso tem algum fundo de verdade? — indagou com voz rouca.
— Tudo isso é verdade — ela disse, sentindo prazer em mexer na ferida.
— Por que ele não me contou nada? — ele explodiu.
— Quando ele consegue vê-lo?
— Quem lhe deu o direito de interferir na minha família? O que uma
aproveitadora como você pode saber? Se está tentando usar meu filho para me
manipular, Annie, esqueça.
Ele tinha razão. Por que estava interferindo?
— Conheço uma criança solitária quando a vejo. — Eu era uma. As palavras
mudas repercutiram em sua mente.
— Você gostava de correr por esse bosque, Annie? — A voz dele soou
macia, quase como uma carícia.
— David não se importava... Matthew vinha para casa nas férias. Costumava
fingir que Chausey era minha — ela se lembrou, com um sorriso triste.
A expressão de Nathan endureceu.
— E quando surgiu a oportunidade, você não resistiu.
As palavras afastaram completamente o curto momento de devaneio. Que
tola fora de se abrir com aquele homem, ela pensou. Ela se casara com David, não
com Chausey. Ela amara David, ao menos amara a idéia de amá-lo, mas em seu
coração sabia, sem ao menos Matthew o dizê-lo, que ele nunca teria se casado
com ela se não soubesse que sua hora estava chegando.
Ela se sentia grata por todas as coisas que ele lhe ensinara, mas ficava
feliz por naquele momento poder ver o casamento de um ponto de vista mais
realista, menos defensivo. David não fora um santo; ele tinha seus defeitos, e ela
então podia aceitar o fato sem se sentir uma ingrata.
— Obtive o que queria do casamento e creio que David também. — Ela lhe

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lançou um olhar franco.
Nathan respirou fundo. Ele se levantou e começou a andar pela cozinha.
— Tenho certeza de que é uma especialista. Nesse campo, e não em
educação infantil. Fique longe de Drew; você só vai deixá-lo confuso.
— Talvez seja você quem eu deixe confuso. — Aquela fora uma frase
impensada e a reação dele a deixou surpresa. Nathan parou, passou os dedos pelo
cabelo e se virou. Em seus olhos havia um brilho de espanto.
— É o que você gostaria, não é? — ele perguntou com voz rouca. — Só fico
surpreso com o fato de estar indo morar com seu jovem Adônis. — Nathan
parecia irritado com a própria raiva.
Ela quase sorriu. Pensando bem, ele era muito bonito, se bem que nunca
houvesse pensado sobre isso antes.
— Claro que sim — ela espicaçou.
— Ele não é exatamente um ricaço, ou é? — Nathan continuou com desdém.
— Ele é quase belo o bastante para fazer uma mulher esquecer-se desse
detalhe. —A provocação fora lançada junto com um sorriso doce, e ela viu que ele
rangeu os dentes.
— Já conseguiu outro trouxa para atacar? Ou vai ter de arranjar um
emprego?
— Decidi fazer pós-graduação.
— Outra estudante profissional.
— Para sua informação — ela começou, mas então mudou de idéia. — É
melhor que trabalhar — disse com calma, respirando pausadamente.
— Conseguiu se formar, então?
— Creio que foi por causa de minha sagacidade natural — ela respondeu,
seca, levantando-se.
Na verdade, considerando-se que esse sempre fora seu grande objetivo,
sua motivação por tanto tempo, ter conseguido passar com notas máximas
alcançou menos impacto do que o esperado. Matthew estava no exterior e a
namorada de Josh chegara inesperadamente dos Estados Unidos, de sorte que
ela recusara o convite desenxabido que o segundo lhe fizera de ir jantar com
eles.
— E então, qual é o novo cronograma das catacumbas? Pesquisa sobre
alguma antiga e obscura civilização?

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— Matthew não lhe contou? Estou mudando de departamento. Tenho
intenção de conseguir um cargo de assistente de pesquisa no departamento de
sociologia histórica.
Falar era fácil, mas a decisão fora difícil. Havia mudado nos últimos dois
anos e o que ela e David planejaram juntos não lhe parecia mais relevante. No
entanto, a sensação de o estar traindo, que ela sabia ser irracional, ainda a
perseguia.
— Se conseguir verba — acrescentou com um franzir de testa.
— Josh não poderá sustentá-la, enquanto você procura assombrar a
academia com sua sagacidade?
— Sou perfeitamente capaz de tomar conta de mim mesma.
— Não há planos de casamento para o futuro?
— Na verdade, o casamento é parte essencial de meus planos. — Estava
pensando no tema de uma pesquisa: um estudo histórico do casamento nos últimos
trezentos anos, e o impacto que ele causou sobre várias gerações de mulheres.
O departamento no qual ela esperava ingressar tinha um interesse especial
em história da família e, se houvesse suporte financeiro, ficaria feliz em recebê-
la como pesquisadora.
Ele deu um passo em sua direção.
— É mesmo? — ele disse com voz baixa, e ela estremeceu com a ameaça
implícita.
— Tenho certeza de que não lhe interessam meus planos futuros — ela
disse, esperando que o tom de voz e o queixo erguido disfarçassem o nervosismo.
— Estou ficando — ele retrucou, olhando-a fixamente.
— Você está com ciúme! — Ela riu com a idéia inesperada. Ele a odiava, e a
desejava, de modo que estava possesso com a possibilidade de perdê-la.
Nathan pegou-a pelos ombros.
— Solte-me — ela esbravejou. — Vou gritar e espero que sua namorada
venha ver.
— Você fica excitada, não fica, sabendo que um homem a deseja? Você
gosta de provocar.
— Não o estou provocando. Quero sair de sua vida.
— Porque não gosta de saber o quanto a conheço.
— Ouça bem, Nathan Audley, você acha que eu teria sobrevivido a um

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casamento com David Selby se me importasse com que o que as pessoas pensavam
de mim? Você age como se fosse o único a ter imaginado que sou uma
aproveitadora! Não me importo com o que você, ou qualquer outra pessoa, pensa
de mim — ela declarou com a voz trêmula de paixão.
— Está tentando me dizer que seu casamento não foi de fachada?
— Essa é a única forma de casamento que você parece entender — ela
disse, já perdendo a paciência.
— Não me diga!
— Preferia me casar com o diabo, que teria um melhor conhecimento sobre
o amor!
— Amor e casamento. Você fala como uma garota antiquada.
— Zombe se quiser — ela retrucou. — O seu problema é que tem medo...
muito medo de ser igual a seu pai, e que um dia vai ficar caído por um belo rosto e
um par de pernas, que lhe arrancarão tudo o que tem. Eu tenho pena de você.
— Cale a boca!
Com as mãos acariciando-lhe os contornos do rosto, ele beijou-a na boca,
nas pálpebras cerradas. A ponta da língua deslizou por um caminho traçado por
uma lágrima. Ela sentiu um estremecimento percorrer-lhe o corpo. O desejo a
consumia.
— Você é rancoroso e não permitirei que faça de mim o objeto de sua
vingança. Por que não desconta em Júlia?
— Você nunca dá nada de graça, não é? — ele disse. O reflexo foi forte
demais para ser evitado, e o som do tapa que ela deu no rosto de Nathan ecoou
pelos azulejos da cozinha. Annie deu um passo para trás e cobriu a boca com a
mão.
Ele tocou a face com uma expressão pensativa.
— Mulher — ele estreitou os olhos e aproximou-se ameaçadoramente —
nunca mais faça isso.
— Ou o quê? — ela retrucou, procurando parecer valente. — Vai me bater?
— Dificilmente. Muito mais provável é que terminemos o que começamos.
— Estupro — ela disse com desprezo. Ele pegou-lhe a mão; a que o havia
atingido. Ela não procurou evitá-lo. Aquele olhar a hipnotizava. Nathan colocou
cada um dos dedos de Annie na boca, sugando-os, acariciando cada terminação
nervosa. Quando a soltou, ela se sentiu desfalecer.
— Nunca seria um estupro, Annie.

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— Saia! Me deixe em paz... eu o odeio — ela bradou com convicção
profunda. — Não vou passar outra noite aqui. Josh virá me buscar.
— Considerando que passou os últimos dois meses procurando se
intrometer na minha vida, essa súbita retirada parecer uma derrota.
— Fui amiga de seu filho por que gosto dele e, para ser honesta, tenho
pena de ele ter um pai como você. E fiquei aqui por amar Chausey. Sei que foi um
erro. Não pense que ligo a mínima para você.
— Sei muito bem, Annie, que só se interessa pelo extrato bancário, e pelo
fato de eu possuir Chausey. — Ele a fitava com um olhar gélido, de menosprezo.
— Não vamos importuná-la mais. Sinta-se à vontade para telefonar para seu
amiguinho.
Quando Nathan saiu, Annie não conseguiu nem chorar. Com o coração
partido, ela ligou para Josh.

CAPITULO VII

O apartamento de um quarto de Josh era perfeito para as necessidades de


Annie, mas ela sentia falta de um jardim, especialmente em um perfeito dia de
setembro como aquele. Embora apreciasse a elegante simplicidade da mobília
escandinava, ainda não se acostumara com as linhas modernas, limpas, da
decoração.
Ela abriu as janelas e molhou as flores dos caixilhos, aspirando seu
perfume.
A vida devia lhe parecer satisfatória. O novo emprego era desafiador e
estimulante; e ela havia rompido com o passado. Mas seu desejo por Nathan, a
saudade que sentia dele, não abrandara; ela precisava dele como o oxigênio
necessita da chama.
A disciplina e a inspiração que ela demonstrava no trabalho haviam
despertado admiração e uma certa dose de inveja. Contudo, por baixo do calmo
exterior, sem que ninguém pudesse suspeitar, uma ânsia a estava consumindo.
Annie se surpreendia por ainda pensar na bela Júlia. Qual a intimidade do
relacionamento entre eles? Eram amantes? A idéia a torturava. Claro que era...
Seria a mãe de Andrew? Annie continuava remoendo os comentários do garoto.
Ela deu um suspiro zangado, irritada com a obsessiva curiosidade que só podia lhe
causar mais dor.
Servindo-se de outra xícara de café, ela voltou a se sentar do sofá para

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ler a carta de Matthew. O enteado escrevera cheio de otimismo e entusiasmo.
Ela deu um sorriso satisfeito, sabendo que nunca se arrependeria de ter saído de
Chausey. Ela amava o velho lugar, sempre iria amá-lo, mas ele também fora o
símbolo de uma existência de contos de fadas, que só existira em sua imaginação.
A atenção de Annie foi repentinamente atraída por um pequeno parágrafo:
ela correu os olhos sobre ele uma vez, duas, três vezes. Não podia ser verdade!
Atordoada, sentiu-se tomada pela raiva. A Fundação Vitória não podia ter
nenhuma conexão com Nathan Audley!
A fundação que estava patrocinando o posto que ela obtivera, de
assistente de pesquisa, era diretamente ligada à Corporação Audley! De fato,
Nathan Audley estava pagando seu salário. Ela se levantou num movimento
abrupto.
Poderia ser coincidência? "Prefiro morrer de fome", ela pensou, dando um
pequeno gemido inconformado. Lágrimas de raiva escorreram pelos cantos dos
olhos, e ela as limpou com dedos trêmulos.
Todo o prazer que sentira ao ganhar o emprego, sua alegria e entusiasmo,
tudo fora reduzido a cinzas. Ela nem ao menos tinha mais certeza de que os
projetos que haviam discutido realmente existiam. Tudo havia sido tramado por
seu senhor e chefe supremo... "Mas não serei comandada por ele", ela declarou a
si mesma.
Uma onda de fúria a arrastou para Chausey, a bordo do velho Fusca que
acabara de comprar. Nem pensara no que iria fazer, ou dizer. Só sabia que tinha
de enfrentá-lo enquanto o sangue lhe fervia nas veias.
Nenhum dos colegas reconheceriam a calma e benevolente Annie como a
deusa da vingança que irrompeu pelos degraus da entrada, até a porta recém-
pintada. Ela bateu com força.
A porta se abriu. Nathan apareceu vestido apenas com uma calça jeans. O
torso desnudo. Ele colocou uma toalha em torno do pescoço e disse:
— Preciso lhe conceder essa... a maioria das pessoas fica ridícula com a
boca aberta, mas você parece deliciosa.
Annie fechou a boca. A raiva, as ofensas que lhe iria atirar, tudo
repentinamente desapareceu. A súbita aparição de Nathan, com o torso à mostra,
deixou-a em pânico.
O peito másculo, poderoso, estava perfeitamente bronzeado. Uma sombra
de pêlos culminavam em uma seta aguda na região do umbigo. Ela sentiu um
formigamento espalhar-se pelo corpo.
— Suponho que esteja surpreso em me ver. — Ela quase suspirou ao

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perceber que havia recuperado a faculdade da fala.
— Na verdade, eu a vi pelas câmeras de segurança.
— Para se livrar dos indesejados?
— Apenas de alguns, não estou lhe deixando entrar? — Ele esfregou o
cabelo molhado com a toalha e lhe deu passagem. — Mal posso esperar para
retribuir um pouco da sua peculiar hospitalidade.
Annie entrou no corredor perfumado. Ele havia feito todas as obras que
gostaria de ter realizado em Chausey. Se seu gosto tivesse sido abominável e a
reforma, de mau gosto, de certo modo perverso ela teria ficado mais feliz.
— Venha e sente-se.
— Não é uma visita social — ela gritou, virando-se para encará-lo. —
Fundação Vitória! — Ela atirou o nome como se fosse uma ofensa.
Se pensara em deixá-lo desconcertado, Annie ficou desapontada. Ele
ergueu uma sobrancelha enquanto continuava a enxugar a cabeça.
— É isso?
— Suponho que nunca ouviu falar dela? — ela zombou.
— Eu disse isso?
Ela observou-o correr os dedos pelo cabelo escuro e ainda úmido. Ela
procurou desviar o olhar. Principalmente quando, ao se deparar com os olhos de
Nathan, pôde ver que ele sabia exatamente o que se passava em sua cabeça. O
verde das pupilas era tão perigosamente convidativo como o mais profundo
oceano.
— Você nega ser o dono da fundação?
— A fundação é uma curadoria sem fins lucrativos — ele a corrigiu —, que
originalmente foi criada por minha companhia. Não tenho envolvimento direto
com os negócios da organização. Só insisto para que os recebedores das verbas
se encaixem no perfil público da Corporação Audley. Se precisa de mais
informações, eu lhe darei um endereço, para o qual deve escrever.
— Você é um cínico — Annie disse com convicção. Ele nem ao menos parecia
embaraçado. — E quem é Vitória? Mais uma de seu harém?
—Vitória é o nome de minha mãe, uma mulher íntegra cuja recompensa foi
ter sido trocada pelo marido por uma jovem prostituta. Morreu antes de ter tido
a satisfação de presenciar a derrocada dele. Mas talvez ela não sentisse nenhum
prazer com isso. Ela... o amava.
Annie emudeceu.

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— Acho que esse é o momento apropriado para nos dirigirmos para a sala
— ele disse, arrastando-a pelo pulso, — Por favor, continue com os comentários
elogiosos, que estava desfiando sobre meu caráter.
Annie esfregou o pulso, que ainda exibia as marcas dos dedos de Nathan.
— Isso dói.
— Só estava tentando manter-me em pé de igualdade.
— Seu senso de humor me impressiona. A Fundação Vitória está pagando
meu salário.
— Parabéns.
— Isso é uma novidade?
— Não, não é novidade. Gosto de saber de tudo o que acontece. Você veio
até aqui para me agradecer? — Ele abriu um sorriso, branco e ameaçador.
— Agradecer? — ela disse com voz esganiçada, — Jamais trabalharia para
você se...
— Sua vida dependesse disso? — ele sugeriu. — Você não está trabalhando
para mim.
— Indiretamente estou. Acha que sou idiota? Eu acabaria descobrindo a
verdade!
Ele deu de ombros.
— Minha ligação com a fundação não é segredo para ninguém, Annie. Você
parece estar pensando em alguma trama tortuosa, que elaborei para enganá-la.
Nunca me esforcei para esconder minha associação... por que deveria?
— Se eu soubesse... Eu estava sendo sincera quando disse que não aceitaria
nada que viesse de você. Se acha que estou pronta para oferecer...
— Você acha que consegui a bolsa de pesquisa para você para que eu
pudesse reclamar meu quinhão de sexo? Minha querida Annie, ambos sabemos que
não preciso usar de chantagem para conseguir levar você para cama.
— Está negando quê?...
— Se pensa desse modo, você obviamente acredita pouco na validade de
seu trabalho. E não estou me referindo ao trabalho no jardim da infância... Sim,
Matthew me contou.
Annie decidiu ter uma conversa séria com o enteado.
— O modo como uso meu tempo não é da sua conta. E o que você sabe
sobre meu trabalho?

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Sabrina Destinos 07 – Kim Lawrence – Uma atração
irresistível
— Esnobismo intelectual — ele respondeu, saboreando cada sílaba.
— Isso é completamente injusto.
Annie estava ficando na defensiva novamente. Fora um erro ir para lá, no
calor da hora, ela percebeu. Nathan a observou por um momento antes de se
atirar na poltrona. Ele esticou as longas pernas, revelando os músculos por baixo
da calça justa.
— Fiz algumas investigações — ele afirmou, abrindo um sorriso encantador.
— Sobre mim?
— Descobri que quando se referiu ao casamento, estava falando de seu
projeto de pesquisa. Foi um modo engenhoso de me enganar... será que tinha
alguma noção de que, com alguma provocação, eu teria realmente caído e aceitado
até mesmo isso para poder desfrutar de seu corpo? Casamento!
— Não posso ser responsável por cada interpretação sórdida que você faz
de tudo que digo. O fato é que não estou em débito com você. Além disso,
Andrew me contou sobre seus planos de casamento. — Ela procurou mostrar
confiança, mas a voz traiu um certo nervosismo.
Ele abriu os braços.
— Que bom. Quais são esses planos?
— Andrew acha que vai se casar com Júlia.
— Ah, sim?
Por que ele não vestia uma camisa? ela pensou, sentido o suor começando a
brotar na testa.
— E eu acho você um hipócrita tentando me levar para cama enquanto
planeja se casar com outra mulher! Não satisfeito em destruir minha vida
pessoal, agora está tentando interferir em minha carreira — ela o acusou,
sentindo a raiva e o senso de injustiça aumentarem pouco a pouco.
— Quando me recusei a assumir o papel de idiota submissa, você ficou
determinado a provar que eu teria de levar algo seu, mesmo sabendo o tempo
todo que eu nunca, por vontade própria, me colocaria nesse tipo de posição
odiosa.
— Por que não posso lhe dar alguma coisa?
— Porque você não tem nada do que eu quero.
— Dinheiro, posição social... você quer essas duas coisas mais a
estabilidade financeira para ocupar seu talento em um campo no qual a
remuneração está longe de satisfazê-la. Eu sou tudo o que você sempre quis, An-

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irresistível
nie... Se não fosse pelo fato de que me deseja, e por isso se sente vulnerável...
sem controle.
— Você é o homem mais arrogante que já conheci...
— E você conheceu tantos — ele provocou. —; Agora entendo por que
chegou à bizarra conclusão de que eu lhe daria uma bolsa para poder usufruir de
seus favores sexuais. É o que costuma fazer, não é? Trocar sua estonteante
beleza por itens que deseja, como a estabilidade financeira. Como estudiosa do
assunto, tenho certeza de que percebe a semelhança entre sua abordagem e
muitos dos casamentos atuais.
— Historicamente, a teoria do amor romântico é quase tão poderosa
quanto as amarras sociais e econômicas — ela retrucou rapidamente. As palavras
dele a haviam ofendido profundamente.
Ele soltou uma gargalhada, que exacerbou a dor que ela estava sentindo.
— Romance! Não posso acreditar que seja capaz de acreditar em tamanha
quimera.
Se ele pudesse adivinhar... a humilhação seria insuportável.
— Estava falando academicamente... Dando os dois lados da argumentação.
— Mas o que você acha? — ele insistiu.
— Você pode inferir, pois parece um expert sobre o que se passa em
minha cabeça — ela respondeu, sem tentar esconder a amargura. — Por que deu
meu nome à fundação? Não posso crer que tenha feito isso sem segundas
intenções.
Uma expressão estranha passou por seu rosto quando ele se ergueu.
— Seu trabalho tem mérito.
Nathan percebeu o embaraço prazeroso que iluminou o rosto de Annie. O
fato que ela deixasse a emoção transparecer o deixou zangado. De certo modo,
ele sabia que seu raciocínio falhava quando se detinha naquela bela criatura.
— Na verdade, queria ilustrar como é simples para mim fazê-la demonstrar
o extremo oposto do que afirma. Sim, você me deve esse emprego e, antes que
faça qualquer coisa, lembre-se de que o dinheiro de que seu departamento
precisa irá desaparecer, se você desistir.
— Não vou tolerar nenhuma tentativa sua de me dominar. Tenho pena de
Júlia. Ela compartilha de suas ideias sobre o casamento?
— Ela é uma mulher que pensa na carreira, como você, e é bastante
pragmática. Você não está exagerando a situação? Ou está transferindo o senso

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de frustração que teve em seu casamento para um situação totalmente
diferente? Ele era ciumento? — ele perguntou de repente, dando um passo em
sua direção. — Tentou controlá-la?
— Ele não precisava ser ciumento. David era tudo para mim — ela
redarguiu.
Nathan estreitou os olhos.
— Eu não o culparia. Se você fosse minha...
— Para você, que gosta dessa psicologia barata... — ela disse com voz
frágil, temendo que a qualquer momento fosse perder o controle, murmurar
alguma idiotice e sacrificar qualquer vestígio de orgulho que ainda lhe restava —
parece que está tentando conquistar duas mulheres ao mesmo tempo. Dominar
-me é um modo conveniente de se vingar de nós duas... do fantasma e de mim.
— "Conveniente" não é como eu descreveria o que sinto por você. Quem lhe
ensinou a igualar o sexo à dominação? Estive pensando em você nessas últimas
semanas vivendo feliz com seu amante. Ele não deve estar conseguindo satisfazê-
la porque o modo como olha para mim, minha querida, não é o modo como uma
mulher satisfeita olha para outro homem.
Annie sentiu uma sensação estranha, quase como se estivesse flutuando.
Será que foi a confissão de Nathan, dizendo que ela lhe ocupava os pensamentos
do mesmo modo que ele preenchia os dela? Não deveria estar sentindo isso,
percebeu. Seja sensata, Annie; saia já daqui!
— Se você pusesse uma camisa talvez fosse mais fácil não olhar. — Ela
quase não podia pensar nas palavras que lhe haviam escapado.
Nathan prendeu a respiração. Ela juntou as mãos e as segurou à sua
frente. As pálpebras estavam pesadas demais para se levantarem. Ela tombou a
cabeça para frente.
— Olhe para mim. — O comando foi proferido em voz baixa, mas imperiosa.
— Quer me tocar, Annie? — Ele fixou os olhos em seu rosto.
— Eu... — Ela engoliu em seco, arfante, quase incapaz de lidar com a
emoção que estava sentindo. — Eu não gosto de você — murmurou.
Annie queria fugir, mas algo a impedia.
— Sim, eu quero tocá-lo! — A pressão deveria ter diminuído com a
confissão, mas só fez crescer...
Nathan soltou um suspiro fundo. Ela viu os músculos da garganta dele se
apertarem, como se ele também estivesse sob uma tensão insuportável. Aqueles
olhos, de um estranho magnetismo, brilhavam com triunfo predatório.

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— Eu também estive pensando muito em tocá-la, em senti-la sob meu
peso... sua boca e corpo abertos para mim. Quero ouvir meu nome de seus lábios,
quero ouvi-la implorar por mim.
Aqueles comentários eróticos, íntimos, estavam despertando sua
sensualidade. A mulher que havia dentro dela estava subitamente livre.
— Você parece bastante confiante. — Sua própria voz soou baixa e rouca.
— Você tem necessidade de reduzir todos os homens ao nível de um
adolescente apaixonado? Eu quero você. Vou lhe mostrar exatamente como você
me faz sentir; gostaria de ver?
Ele nem precisou tocá-la. Annie podia sentir o calor que irradiava do corpo
glorioso de Nathan. Ele estava falando com Annie como se ela fosse uma pessoa
experiente e habilidosa na arte do amor, alguém como ele. O que estava fazendo?
Nathan escolheu exatamente esse momento para agarrá-la, erguê-la e
levá-la para junto de si, fazendo-a se perder na imensidão do desejo.
O fluxo de sensações a estonteou. Ele provava sua boca como se quisesse
sorvê-la até a última gota.
— Enquanto for minha, quero direitos exclusivos. Por favor, me entenda,
Annie... — Ele se afastou um pouco. — Você deve sair do apartamento de Josh.
As palavras não penetraram totalmente no estado de eufórica letargia em
que ela se encontrava.
— Eu moro lá — ela disse. Do que ele estava falando? A agonia a estava
matando... ela precisava senti-lo... tocá-lo...
— A exclusividade é a única condição que imponho.
A frieza súbita, após o inferno escaldante do desejo, tirou-lhe o fôlego.
Ela viu tudo claramente; de fato, nunca vira as coisas com tanta clareza antes.
— Você ganha a exclusividade... ora, Nathan, e eu, o que eu ganho?
Nathan curvou os lábios numa expressão de desprezo. Uma raiva gélida
percorreu-lhe os olhos, explodindo em sua fala:
— Providenciarei para que tenha uma outra acomodação.
— Quer dizer que não vai me trazer para cá? — ela provocou.
— Meu Deus, toda essa entrega, essa devoção se resume nisso? Fora com o
velho, que venha o novo?
— Me diga uma coisa, Nathan, que outra razão eu teria para sequer
imaginar tornar-me sua amante? Um homem que reduz todo relacionamento

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humano a um contrato de negócios.
— Posso lhe dar uma razão?
Ela deveria ter fugido, mas os pés não lhe obedeceram. Tomado por uma
fúria tremenda, Nathan segurou-a e a arrastou para junto de si. Os olhos tinham
um brilho selvagem, faminto. Aos poucos, mostrando todo o poder de sedução,
com sensibilidade e delicadeza, ele a rendeu por completo.
— Nunca tente me manipular, Annie. — Ele enfiou os dedos em sua
cabeleira ruiva, observando os cachos brilhantes com uma fascinação feroz.
Então, quando Nathan reclamou a doçura de mel de seus lábios doces, ela
se entregou a ele com uma mistura de desespero e exaltação. O amor que a
invadira não lhe deixava escolha. Ele a sentiu tremer e disse seu nome. A palavra
escapou de seus lábios quase como um grito dolorido. Ela precisava de carinho,
sensibilidade. Mas essa brutalidade selvagem, cruel, também mostrava esses
atributos. Nathan tinha tudo o que Annie poderia querer.
— Papai! — A porta se abriu com um estrondo. Annie não teve tempo de
arrumar a roupa amassada.
Nathan estava respondendo às perguntas do garoto com um tom calmo. De
repente, um pequeno corpo se atirou contra ela. Annie lançou um olhar de
esguelha na direção do pai e viu que ele os observava com uma expressão
enigmática.
— Você vai tomar chá com a gente? — O menino indagou, depois de
finalmente a soltar.
— Pensei que estava indo para um festa de aniversário, no rinque de
patinação — Nathan interveio. — Como é que alguém pode ser melhor que isso?
— Ah, pai!
— E eu tenho outro compromisso — Nathan afirmou.
— Com Júlia, não é? — Andrew torceu o nariz ao pronunciar o nome da
outra mulher.
— Srta. Trent para você — Nathan respondeu. — Vá se trocar, Drew. Logo
virão apanhá-lo. — Ele emitiu um pequeno som de exasperação ante a relutância
do garoto. — Pensei que estivesse ansioso para dar um passeio na pista de gelo.
Você só falava disso na semana passada.
— Você vai estar aqui quando eu voltar? — Ele olhava fixamente para
Annie.
— Não. — Ela sorriu para aliviar a crueza de sua resposta. — Numa outra
ocasião, talvez — ela mentiu, sabendo que Nathan faria de tudo para impedi-la de
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ver o garoto novamente.
— Vou pedir para a sra. Gilbert lhe trazer chá — Nathan disse, depois de
ver o filho sair da sala.
— Não é necessário.
Nathan a estava observando novamente com olhos cheios de desejo. Ela
sentiu a respiração acelerar-se, mas se recusou a cair novamente na fogueira de
paixões que a consumira momentos antes.
Então a campainha tocou e eles ouviram um burburinho de vozes na
entrada. Annie sabia que ela só tinha de fazer uma coisa: fugir!
— Quer vir comigo? — ele perguntou.
Annie reprimiu uma resposta imediata à gentileza momentânea de Nathan
e retrucou com frieza:
— Não quero estragar sua reputação aparecendo na frente de seus
respeitáveis amigos.
O sorriso que Nathan esboçara desapareceu e ele a olhou com frieza.
— Como quiser — ele disse friamente.
O corredor interno conduzia à cozinha. Furtivamente, temendo ouvir
passadas no caminho, Annie correu. Havia pistas de que alguém estivera ali, pois
havia sacolas de compras no chão, mas a cozinha estava vazia.
Annie deu um suspiro de alívio. Foi muito fácil se esgueirar para fora,
rodear o edifício e entrar no carro. Ao chegaf à estrada principal, ela se sentiu
finalmente livre. Livre! Deu um sorriso carregado de ironia. Se ela ao menos
pudesse sê-lo...

CAPITULO VIII

Annie acordou na manhã seguinte desanimada e com os olhos inchados.


Olhou para o relógio e percebeu o adiantado da hora. Não havia tempo para
recordar-se dos eventos do dia anterior. Ela havia prometido a Jane que tomaria
conta da filha recém-nascida enquanto a amiga ia ao cabeleireiro.
Ela já havia tomado banho, se vestido e preparado um bule de café quando
a amiga chegou. O bebê estava dormindo como um anjo.
Annie ouviu com paciência as recomendações que a mãe já lhe fizera quatro
vezes.

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— Está certa que consegue se virar, Annie? Annie suspirou.
— Não creio que Emma vá sofrer de sérios problemas psicológicos pelo
fato de a mãe ter se ausentado por duas horas. Farei o possível para me lembrar
de qual lado devo alimentar — ela disse solenemente.
Jane deu um abraço impulsivo na amiga.
— Não sei como agradecer — ela disse, dando uma última olhada no bebê
adormecido. — Voltarei antes das onze — prometeu.
— Não se preocupe — Annie gritou-lhe, quando a amiga já estava saindo.
Ela mal havia tido tempo de terminar a segunda xícara de café quando a
campainha tocou. Ela fechou os olhos.
— Jane, Jane... — murmurou ao abrir a porta. — Não confia em mim?... —
As palavras se extinguiram quando viu a alta figura de Nathan na soleira.
— Não, não confio — ele concordou.
— Vá embora. — Sua tentativa débil de fechar a porta foi tratada com
descaso. Ela deu um passo para trás, na direção da sala, enquanto ele forçava a
entrada no corredor.
— Você não tem o direito de vir aqui, Nathan.
— Você realmente acha que deixaria as coisas como estavam? — Nathan
perguntou. Ele examinou o apartamento com uma expressão ansiosa. — O que
esperava conseguir ao fugir como uma personagem de melodrama barato?
Deveria tê-la seguido? Para uma moça sofisticada, você pode ser irritantemente
infantil — ele observou.
— Pare de gritar comigo... não sou surda — ela rebateu no mesmo tom. —
Não estou interessada em você ou em nenhuma das ofertas que me propôs. Eu saí
porque você não estava com disposição para me ouvir...
Ela respirou fundo. O quarto pareceu repentinamente atulhado, e não mais
aconchegante; a vitalidade indomável daquele homem estava tomando conta do
recinto fechado.
— Se está esperando uma transação melhor do que a que estou lhe
oferecendo, esqueça. Posso admirar a magnífica sedutora de madeixas de fogo,
mas não vou convidá-la a vir morar comigo. Estou farto de seus joguinhos. Eu faço
as regras por aqui e quanto antes você aceitá-las, melhor.
— Estou arrasada! — ela zombou. — Que insolente eu fui ao irritar o
último grande déspota dos tempos modernos. Você é tão arrogante que não lhe
ocorre que Nathan Audley não é a primeira coisa que me vem à mente quando
acordo, ou a última sobre a qual reflito antes de ir para cama.

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Annie pestanejou, percebendo que, ao contrário do que afirmava, Nathan
estava de fato em sua mente a todo o momento, desde quando acordava até ir
dormir. Ela sentiu um desespero profundo, como se fosse uma adolescente; ou
como uma mulher apaixonada, um voz silenciosa acrescentou.
Ele cerrou os punhos e a fitou com tanta raiva que ela estremeceu.
— Você fica feliz ao fazer isso comigo?
Annie ficou confusa com a agressividade que ele imprimiu às palavras. Do
que estava falando?
— Não sei por que me surpreendo. Sabia que você era uma mulher vingativa
desde o início. Ao menos sei que sofreu tanto quanto eu — ele disse cruelmente,
sorrindo ao ver que ela enrubescera.
— E eu tenho certeza de que encontrou uma válvula de escape para suas
frustrações com a bela Júlia... o outro compromisso, não foi isso? — Ela se
arrependeu da frase no momento em que a proferiu.
— Com ciúme?
— De modo algum. Parece-me justo. Afinal, Josh estava aqui à minha
espera — disse com um sorriso desafiador.
Nathan sussurrou o nome de Josh, e sua voz soou ameaçadora, carregada
de ódio. Ele se aproximou dela e Annie ficou tensa. Nesse instante o choro do
bebê ecoou pelo quarto e Nathan também quedou paralisado.
— O quê?... — Um olhar desnorteado substituiu o olhar furioso que
distorcera suas feições.
— Veja o que fez agora! — ela disse, encarando-o. A crise havia sido
evitada e ela pode respirar normalmente. — Acordou a nenê.
— Nenê? — ele repetiu. Para um homem conhecido pela língua ferina ele
soava terrivelmente abobalhado.
Annie deu um sorriso de superioridade, deliciando-se com o atordoamento
de Nathan, ainda que soubesse que essa condição não iria durar muito.
— Pequenos seres humanos que precisam de muito cuidado e amor... Oh,
desculpe, sei que não é versado nessas coisas.
Ela deslocou-se até o cesto de vime que havia sido colocado no vão, ao lado
da lareira. Murmurando sons reconfortantes, ela pegou o bebê no colo e sorriu
para o rosto avermelhado.
— Aquele homem horrível a acordou, então?
— Você estava gritando muito mais alto do que eu — ele retrucou,

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observando-a com uma expressão desconfiada. — De quem é o bebê?
Ela olhou para ele, enquanto balançava a criança no colo.
— Meu... é o que está pensando? — Ela cerrou os lábios com firmeza, ou ao
menos tentou. — Se fosse assim, eu teria de estar prestes a dar à luz quando nos
encontramos ... Você teria notado — continuou com sarcasmo.
— Teria, de fato... você estava usando trajes de banho. — Ele semicerrou
os olhos como se estivesse vendo aquele belo corpo esguio, pingando água.
— É do seu namorado?
Annie ficou boquiaberta.
— Não seja ridículo! — retorquiu. Ela já se sentia culpada de ter envolvido
Josh nesse caso imaginário; esperava que ele nunca soubesse disso. Tudo o que
precisava agora é que as pessoas começassem a falar que ele andava por aí
engravidando mulheres. — Josh tem senso de responsabilidade moral.
Nathan levou a cabeça para trás como se ela o tivesse esmurrado.
— Você tem uma língua feroz.
Ela corou, arrependendo-se do que havia dito. Afinal, Nathan tentava ser
um bom pai.
— Bem, acho que assumiu a responsabilidade de cuidar de Drew com muita
seriedade; e ele o ama — ela disse rapidamente, e então, como ele parecia
prestes a dizer alguma coisa, continuou apressada: —Vou dar de mamar à nenê.
Ela se virou; assim ele não veria as lágrimas que lhe corriam pelo rosto. Ela
colocou a criança no cesto e se dirigiu para a cozinha.
— Ainda está aqui? — ela disse, ao voltar para a sala com uma mamadeira.
Todos os traços das lágrimas haviam desaparecido.
Ele se afastou no cesto, parecendo quase embaraçado por ela o ter pego
observando a criança.
— Posso esperar.
— Você me surpreende. Não pensaria que a paciência é uma de suas
virtudes.
— Então é verdade que tenho algumas.
— Fui educada a acreditar que há um lado bom em todos nós; pode dizer
que sou apegada a valores de infância. — Ela sentou-se na poltrona e provou o
leite. O nenê, com a mente voltada para a refeição, agarrou-se primeiro ao
pescoço de Annie, sugando ferozmente seu peito, sem ligar para a malha de

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algodão.
Ela riu.
— Sinto muito, querida, mas mamãe deixou uma coisinha gostosa para você.
— Ela finalmente conseguiu colocar o bico da mamadeira na boca do bebê.
Annie ergueu a cabeça depois de ter ficado vários segundos atenta ao
recém-nascido, totalmente absorvido na única atividade que lhe interessava, a de
se alimentar. Nathan a estava observando com um olhar ardente. Por quanto
tempo ele ficaria ali?
Um pequeno choramingo do bebê a trouxe de volta à realidade e, grata
pela oportunidade de poder desviar o olhar, ela abaixou a cabeça.
Annie estava tonta; a emoção crua que havia no rosto de Nathan tinha uma
intensidade que a deixava agoniada.
— Vou trocá-la agora — ela disse, levantando-se. — Você devia ir, Nathan.
Não há nada aqui para você. — Ela tentou soar firme.
— Irei quando tiver o que vim buscar.
— Josh voltará em breve para cá — ela disse. "Perdoe-me, Josh!", pediu
em silêncio.
— Ótimo. Você pode dizer a ele que está se mudando. Onde é que ele
esteve quando você ficou doente?
Ela deitou a criança adormecida no cesto e dirigiu-lhe um olhar feroz.
— Vou ficar. Você pode se dar bem agindo com um tirano em sua própria
casa, mas não aqui.
— Você nunca me perdoou por ter comprado Chausey, não é?
Ela olhou para o cesto.
— Fale mais baixo.
Na verdade, o fato de que ele era agora o dono de Chausey não mais lhe
parecia importante. Ela havia descoberto que as paixões evocadas por tijolos e
argamassa podiam vir em segundo plano. Ao se apaixonar, ela conseguiu ver as
coisas importantes da vida sob um novo ângulo.
— Posso entender que alguém ame uma casa, e o que ela simboliza — ele
afirmou surpreendentemente. — Eu também tinha carinho pela minha casa.
— Por que não a comprou, então, se se importa tanto com a continuidade?
Os olhos dele brilharam.
— Minha querida madrasta botou fogo na casa para receber o dinheiro do

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seguro, o qual ironicamente acabou não recebendo, pois a companhia não
acreditou que o incêndio foi acidental.
— Você não pode ter certeza disso! — ela disse com voz esganiçada. O tom
distante que havia na voz dele se chocava com o horror sugerido pelo fato.
Ele soltou um riso seco.
— Não seja ingênua, Annie. A única razão pela qual ela não acabou sendo
presa por incêndio premeditado foi que não havia provas suficientes. Todos
sabiam que ela o havia provocado... prová-lo é que eram outros quinhentos.
Ele deu de ombros.
— A ironia do destino: ela acabou fazendo uma fortuna com a reconstrução
do local. Talvez seja isso o que estivesse querendo o tempo todo. Espertalhona...
Não sei o que está fazendo hoje em dia mas tenho certeza de que não está
morrendo de fome, na sarjeta. Ela podia ter sido a sua inspiração, Annie.
Annie sentiu-se enojada com a comparação. Então essa era a mulher a
quem Nathan constantemente a igualava. Como ele devia desprezá-la! Sentindo os
joelhos fraquejarem, ela sentou-se na cadeira mais próxima.
— Andrew gostou da nova escola? — Foi o primeiro pensamento que lhe
ocorreu.
Nathan ouviu a pergunta polida e franziu a testa. Ela havia fugido à briga.
— Sim... Não quero falar sobre Andrew — ele disse com impaciência.
Nathan queria que ela reagisse, que rebatesse a acusação.
— Claro que não, ele não me diz respeito, não é?
— Escute-me, Annie. Não vou permitir que ele fique muito apegado a você
só para se ver abandonado de novo... Ele precisa de uma mãe, não de uma amiga —
ele acrescentou, cruel.
"E eu não sou adequada", ela pensou. Pelo menos, ele nunca tentou
disfarçar a natureza da atração que sentia por ela, Annie admitiu.
— Por que você não teve filhos? — ele perguntou abruptamente,
assustando-a. — Eu a observei com a nenê — ele disse carinhosamente, inclinando
a cabeça na direção da criança.
A pergunta os colocava em um terreno perigoso.
— Bem, só não aconteceu. — Sob as circunstâncias, teria sido um milagre
se tivesse ocorrido, ela pensou, sentindo uma pontada de dor.
— Não conheci Drew quando ele era um bebê. A mãe dele sabia que
esconder a mercadoria era um bom modo de elevar-lhe o preço.

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— Que mulheres fantásticas você conhece.
— Não é mesmo? Vamos fazer uma trégua? — Ele abriu um sorriso
encantador, e Annie percebeu o perigo que uma trégua representava.
— Por que deveríamos?
— Por que acho que podíamos empregar nosso tempo de modo muito mais
efetivo fazendo amor — ele propôs com voz baixa, rouca, íntima, que a atraía
como um imã.
Annie soltou um suspiro. Ela sabia que não tinha forças para resistir ao
assédio de Nathan.
— Como você não acredita nas emoções, creio que deva deixar claro que
estamos falando de luxúria e não de amor.
— Uma questão de semântica. Tem alguma idéia de como me senti ao ver
aquele bebê tentar sugar-lhe os seios? — ele disse, com voz embargada, mirando
os belos contornos que se viam sob o fino suéter de algodão. — Quero prová-la,
sentir sua reação a meu toque.
— Nathan. — As duas sílabas emergiram como uma súplica rouca e, num
súbito movimento, ela colocou as mãos nos ombros dele... para afastá-lo. Mas
teria sido essa sua real intenção? Ela ficou parada, hipnotizada pela voracidade
do brilho de seu olhar.
Ele a abraçou, trazendo-a mais para perto de si, até que aninhou a face no
vale entre os seios.
Annie soltou um pequeno gemido e enterrou os dedos nos cabelos negros
de Nathan. Qualquer senso de auto-preservação há muito havia desaparecido. Ela
ansiava pelo toque de Nathan, pelo prazer.
— Diga que me quer, Annie. Quero ouvir de seus próprios lábios. — Ele
ergueu a cabeça e os olhos, fixos em Annie, tinham um brilho intenso. Então, ele
colocou o rosto de Annie entre as mãos.
— Você sabe que eu o quero. — Ela quase não reconheceu a própria voz.
O gemido que escapou da garganta de Nathan era triunfante. Ele mordeu
levemente o lábio inferior de Annie.
— Imaginei-a dizendo isso desde a primeira vez que a vi. Você é tão
sublime, faz com que eu anseie por possuir cada centímetro de seu corpo.
Ele a beijou e então, disse:
— Pensei que iria passar, mas o sentimento cresceu e virou algo que tinha
vontade própria, vida própria.

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Ele deslizou os dedos por baixo do suéter. Com a ponta, ele procurou a
curva dos seios, sentindo cada detalhe. Então, com um acesso de intuição
feminina, Annie repentinamente percebeu que ele havia ensaiado tudo isso antes,
o modo como seduzi-la, passo a passo. O reconhecimento do fato agiu como uma
droga poderosa. Ela o mirou com olhos semicerrados, lânguidos.
A campainha havia tocado várias vezes antes de finalmente penetrar pela
névoa sensual que a cercava.
— Deve ser Jane, a mãe de Emma... a nenê. — As palavras soaram
estranhamente desconectas e Annie ergueu as sobrancelhas como se ela própria
não conseguisse compreendê-las.
— Espere — Nathan disse, quando ela se levantou, trêmula. Ele
gentilmente ajeitou-lhe o suéter e, ao fazê-lo, mirou-a com tanta delicadeza que
ela se esqueceu de respirar. — Está ótimo agora. Não ficaria bem para uma
babysitter ser pega namorando.
Considerando-se as coisas que ele lhe havia dito anteriormente, parecia
absurdo que esse comentário a fizesse corar como uma adolescente tímida.
Nathan riu. Ele podia se dar ao luxo de se sentir à vontade. Afinal, estava quase
atingindo seu objetivo, ela pensou com certo rancor.
Annie aprumou os ombros ao abrir a porta. Não podia se entregar à
amargura. Aquela era a única válvula de escape para o amor que a sufocava. Mais
tarde, poderia enfrentar as consequências; naquele momento precisava dele e
nada no mundo poderia impedi-la de amá-lo.
— Annie, puxa, estava começando a ficar preocupada. — Jane entrou no
corredor e deu uma olhadela no espelho. — Você gosta? — ela perguntou,
dedilhando o novo penteado. — Será que George vai gostar? Não responda. Se
disser que sim pensarei que está sendo educada. Minha auto-estima está em
frangalhos depois de ter sido bajulada por um bando de profissionais
anoréxicas... E, Annie, como está meu anjinho? Ela sentiu minha falta? Annie
pestanejou, tentando deglutir a montanha de comentários e perguntas feitos pela
amiga.
— Devo responder, ou essa é outra pergunta retórica? — ela indagou com
ironia gentil. — Emma não deu trabalho nenhum. — Ela acompanhou a amiga à sala.
— Oh, olá! — Jane observou Nathan, entre surpresa e encantada.
— Jane, este é Nathan Audley... Foi ele quem comprou Chausey.
Nathan estendeu a mão e abriu um belo sorriso. Annie não se surpreendeu
quando Annie mexeu no cabelo, constrangida.
— Que bela filha você tem, Jane... Puxou à mãe.

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irresistível
Annie revirou os olhos. Pelo amor de Deus, mesmo ele podia imaginar um
comentário menos tolo. Jane deu uma risada infantil. Quando ela se inclinou para
apanhar o cesto, Nathan piscou para Annie.
Ela tentou aparentar desaprovação, mas teve de admitir que esse lado
juvenil de Nathan era bastante encantador.
— Não posso ficar — Jane insistiu com firmeza quando Annie perguntou se
queria um drinque. Lançando olhares significativos para a amiga, despediu-se e
saiu. Annie sentiu-se aliviada.
— Acho que ela gosta de mim — Nathan observou, quando Annie voltou
para a sala.
— Acho que são os hormônios. Qualquer coisa que vista calças lhe dá
arrepios no momento. Não leve isso muito para o lado pessoal.
— Ela não achou estranho que estivesse recebendo um homem no
apartamento de Josh. — O apelo brincalhão havia desaparecido da voz.
Ela suspirou.
— Quero lhe falar sobre Josh. Há algo que...
— Agora não. — Ele franziu o sobrolho. — Não estou interessado em seus
amantes. E logo você também não vai estar — ele concluiu, confiante.
— Você não entende... — Mas ele acenou para ela e Annie, quase como uma
sonâmbula, aproximou-se dele. Nathan pegou-lhe as mãos e a puxou para o tapete
no qual se ajoelhara. A pequena lareira vitoriana, o único item da casa que
escapara às reformas anteriores, estava repleta de rosas e madressilvas colhidas
nos arbustos da vizinhança. O perfume doce das flores espalhava-se pelo ar.
Ele a deitou no chão. Olhava-o, sentindo-se como se estivesse no olho de
um furacão. O cabelo se espalhava pelo tapete como pétalas de cobre escuro
presas a uma flor delicada.
— Quero despi-la... se tiver forças. — Ele umedeceu os lábios. Os olhos
brilhavam de ansiedade.
— Posso ajudá-lo, se quiser.
Ele a fitou por um momento. Não se sabe ao certo quem despiu quem, mas
logo ambos estavam deitados, pele sobre pele.
Annie contorceu-se, agoniada pelo prazer, enquanto ele a excitava e
torturava com a boca cada pedacinho róseo de carne, sentindo o suave contorno
dos seios que cobria com as mãos.
Annie apertava os músculos dos ombros de Nathan com os dedos. Ele a

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tocava nos lugares certos. Um belo predador... protetor.
Ela murmurou o nome dele quando Nathan moveu-se mais para baixo,
causando-lhe arrepios de prazer com as mãos e boca. Estava incapaz de respirar
direito.
— Nathan, não posso suportar...
— Eu poderia beber seu cheiro, seu sabor. — Ele ergueu a cabeça e ela
desesperadamente procurou os lábios do amado.
Quando as bocas se separaram, ele também respirava acelerado.
— Oh, Annie, eu quero você. — Ele beijou-he o pescoço. — Eu a farei
esquecer de todos os outros — murmurou.
Esquecer? Oh, Deus, ela não poderia se esquecer do que não conhecia. O
instinto a levara até o precipício, mas e depois?... As mãos dele deslizaram por
trás da curva das nádegas de Annie, e então as ergueu. Uma compulsão
embriagadora afogou a dúvida nascente.
Ela o sentiu roçar sua pele suave e trêmula, úmida com o suor do esforço.
A sensação era de volúpia, de glória, mas nada comparada com a que
experimentou quando ele a penetrou.
A fusão não se pareceu com nada que ela tivesse imaginado; era um ritmo
denso, fluente, que cresceu em força e urgência até ela gritar, temendo que
fosse morrer com a sensação. Uma explosão de potência primitiva a manteve
presa a ele enquanto os abalos subsequentes do ato amoroso continuavam a
repercutir por seu corpo.
Ela estava chorando; por quê? Ela esfregou o dorso da mão no rosto,
sentindo os traços do descontrole emocional, que não tinha nada a ver com a
angústia, e sim com o júbilo. Nathan rolara para o lado.
Annie se virou, consciente pela primeira vez de que havia um tapete abaixo
de si. Ela acariciou-lhe as costas. A textura da pele de Nathan era intensamente
agradável. De repente, ela sentiu o pulso ser agarrado.
— Acho que você me deve uma explicação — ele disse, examinando-lhe o
rosto com olhar inquisidor. Ele se ergueu sobre o cotovelo e moveu a perna até
que o peso da coxa a mantivesse presa.
— Não sei o que está querendo dizer.
— Me explique como uma viúva, com uma fila de supostos amantes, chega a
mim, intocada. Minha experiência de seduzir virgens pode ser de pouca monta,
mas...
A raiva súbita soou inacreditavelmente perversa. Ele estava estragando
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tudo, ela pensou, ressentida.
— Essa indignação significa que deixaria de fazer se o soubesse?
— Não acho que fosse capaz de tomar essa decisão, mas também não me
foi dada a oportunidade, de forma que nunca saberemos. Ainda estou esperando,
Annie. Quero uma explicação.
— Ou será que quer uma desculpa, por eu ter sido tão evasiva?
Annie se desvencilhou dele e correu para o banheiro. Vestiu um roupão,
tremendo apesar do sol que penetrava pela janela. Sentou-se na beirada na cama,
com as longas pernas cruzadas no tornozelo, e observou os dedos do pé com uma
expressão concentrada.
— Estou esperando.
Ela ergueu a cabeça. Ele estava encostado na soleira da porta e podia ver
que havia parado para vestir a calça.
— O que há, Nathan? Está irritado por eu não jogar de acordo com as
regras? Sem dúvida, teria preferido uma amante sofisticada, sobre quem não
poderia ter se enganado. Não se preocupe, prometo que não farei nenhum
escândalo.
Ele se sentou ao lado dela, fazendo a cama balançar.
— Devo concluir que você não esteve dormindo com Josh?
— Josh está nos Estados Unidos; a namorada dele mora lá — Annie
admitiu. Ela enfiou a mão no roupão e tirou um lenço, no qual assoou o nariz. —
Estou tomando conta do apartamento — disse, em tom de desafio. Ele respirou
fundo. Apesar de ter esperado uma reação negativa, a profundidade da fúria que
Annie viu nos olhos dele foi espantosa.
— Suponho que achou tudo muito divertido! — ele rosnou. — Rindo de mim,
me fazendo de bobo.
— É isso que o incomoda? — ela indagou, amarga. — O onipotente Nathan
Audley cometeu um erro. Você está certo, foi muito engraçado, quase hilariante.
— Suponho que não teria achado tudo tão engraçado se a tivesse
machucado. — Ele indicou a porta aberta com um gesto de cabeça.
— Acho que está fazendo muito barulho por nada — ela disse com leveza, e
observou fascinada quando ele empalideceu de raiva.
— É isso o que significa para você?
— Bom Deus, você não está implorando um elogio por sua competência como
amante?

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— Não de uma virgem — ele retrucou.
— Ex...
Ele fechou os olhos como se estivesse estupefato pela atitude dela.
— Vai me explicar como uma mulher casada continua sendo virgem?
— David estava recebendo tratamento antes de termos casado; a
medicação o tornava impotente.
— Você soube disso... antes?
— Sim, ele foi bastante franco.
— Egoísta! Por quê? — ele perguntou, rangendo os dentes.
— Eu o amava; ele foi maravilhoso comigo, ensinou-me muito. Nunca fui
capaz de lhe retribuir.
— Eu diria que fez um excelente trabalho. O médico me disse que tratou
dele em casa.
— No fim. Mas primeiro frequentamos todos os hospitais, que ofereciam
uma cura milagrosa.
— Foi neles que o dinheiro se perdeu.
Ela assentiu novamente. Já lhe teria ocorrido que, se ela não era um
sedenta de dinheiro e emoções, então deveria haver uma razão inteiramente
diferente para ter feito amor com ele?
— Por que você não me contou, droga?
— Por que perder o fôlego? Você nunca acreditou em uma palavra do que eu
lhe disse. Você me sentenciou e me crucificou no momento em que me viu.
— Você tentou me fazer pensar que..
— Odeio desapontá-lo, mas isso parecia lhe dar um prazer perverso; cada
coisa suja que podia imaginar a meu respeito só o tornava mais feliz. Será que só
se excita com esse tipo de devassidão, Nathan?
— E essa foi sua vingança final, dar-me sua inocência? Vai contar a seus
amigos durante o chá da tarde como me fez de bobo?
— Deixarei o exibicionismo para você. Além disso, nem quero que meus
amigos imaginem que transei com você. — Ela suspirou. — Creio que com isso
liquidamos o negócio.
Isso a ensinaria a não ter fantasias, pois, bem dentro do peito ela nutria
sonhos infantis de que, quando percebesse que estava equivocado a seu respeito,
ele repentinamente seria tomado por sentimentos puros. Sempre se deve esperar

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o pior. Será que jamais aprenderia?
Nathan não respondeu. Seus olhos estavam perdidos em uma suave curva
da carne de Annie. Ela estremeceu, lembrando-se da elaborada dança de
sensações que ele lhe havia feito sentir. Uma habilidade sem dúvida aguçada por
uma vasta experiência; era bom se lembrar disso. A inocência não tinha valor para
ele.
— Acho que devo ir — Nathan disse, fazendo um esforço para desviar o
olhar.
— Ótimo! — ela concordou. Nathan nunca a perdoaria por, como ele próprio
dissera, tê-lo feito de bobo. E o que mais poderia ter acontecido entre eles? Ele
nunca insinuara que a desejava de qualquer outra forma que não a sexual.
Zangada e sentindo-se rejeitada, ela o observou partir em silêncio.

CAPITULO IX

Annie tentou convencer-se de que não estava esperando que Nathan


voltasse. Ela costumava pensar em como as amigas deixavam os homens que
diziam amar transformarem-lhes a vida num inferno. Naquela época, ela tinha
certeza de que não daria uma segunda chance ao sujeito que a atormentasse.
— Por que se magoar deliberadamente? — Então, imaginava que David e ela
tinham o melhor dos relacionamentos.
Sua imaginação, porém, tornou-se mais ambiciosa nos últimos tempos. Era
um tormento ficar parada, sofrendo. Seu corpo ainda trazia a marca dos
momentos de paixão que vivenciara com Nathan e, sabia, elas iriam se apagar,
mas as lembranças permaneceriam.
Eram duas e meia da manhã quando o telefone tocou. Esquecendo-se de que
poderia parecer muito ansiosa, ergueu o aparelho antes que tocasse uma segunda
vez.
— Sim? — perguntou, ofegante. O coração batia acelerado. Se fosse ele, o
que diria?
— Sra. Selby? Oh, graças a Deus, é a senhora. Aqui é sra. Gilbert, de
Chausey. Sinto terrivelmente incomodá-la a essa hora, mas estamos no meio de
uma crise.
Annie sentiu um aperto no coração.
— É Nathan? Ele se machucou?

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— Não, não é o sr. Audley, minha querida, é o garoto. É Andrew.
Tensa, Annie escutou a explicação da outra mulher. Ela havia chamado o
médico depois da meia-noite, pois o garoto estava tendo horríveis dores no
estômago.
— Ele estava vomitando muito quando o médico chegou — ela contou, com
voz trêmula.
— Mas por que... — Annie começou.
— Não sei onde está o pai, e imaginei que a senhora talvez soubesse...
— Não tenho a menor idéia — Annie respondeu.
— Não sei o que fazer. O médico chamou uma ambulância. Ele acha que é
apendicite. Andrew está chorando, pois quer o pai a seu lado... e também a
senhora.
— Irei até aí — ela disse com voz firme.
— Esperava que dissesse isso, minha querida. — Então a governanta,
sentindo-se mais aliviada, explicou-lhe para qual hospital estavam se dirigindo.
Annie vestiu as roupas com pressa, seus pensamentos divididos entre o
filho e o pai. Onde estava Nathan? Ela sentiu raiva dele por causa do garoto, mas
era uma raiva misturada à preocupação.
As ruas vazias a levaram para o hospital em menos de quinze minutos. Ela
estremeceu ao entrar. As inúmeras vezes que percorrera com David todos os
tipos de clínicas causaram-lhe uma forte aversão a hospitais em geral.
Depois de algumas perguntas, ela foi levada para o quarto de Drew, ele
estava em um cubículo fechado por cortinas. O rosto quase tão branco quanto o
avental branco que lhe vestiram.
— Sabia que você viria — ele disse, confiante, tentando esboçar um
sorriso. — E meu pai?... — A voz se extinguiu e o rosto se fechou quando Annie
meneou a cabeça.
— Ele logo estará aqui — ela afirmou.
Ela se viu rezando pela chegada de Nathan, enquanto ninava o garoto nos
braços, sentindo-se impotente. Um médico enfiou a cabeça pela cortina,
perguntando se ela era a mãe. Ao ouvir a negativa, ele se foi: precisavam que
Nathan assinasse o documento consentindo na operação. "Todos precisamos de
Nathan", ela pensou sombriamente. Como em resposta às suas preces, Annie
subitamente ouviu uma voz familiar, aquela que ela seria capaz de distinguir entre
milhares de outras.

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— Ele está aqui — ela disse em voz alta, aliviada e amedrontada.
Quando Nathan afastou a cortina, deparou-se com dois pares de olhos
dirigidos para ele. Olhou para Annie com tamanho espanto, que ela pensou por um
instante que estava furioso por ela ter interferido em seus assuntos familiares.
Então ele abriu um sorriso e quase imediatamente passou os olhos para o filho.
Annie deixou-os a sós, sentindo uma certa tristeza.
Dirigiu-se para a sala de espera. Deu de cara com Júlia Trent... Oh, Deus,
então ele estivera com ela. Annie deve ter demonstrado surpresa, pois a outra
mulher logo abriu um sorriso de triunfo.
— Ficar amiguinha do garoto não vai ajudá-la com o pai, minha querida.
Annie escondeu a repugnância atrás de uma máscara de frieza.
— Só vim por que me chamaram.
— Certamente não foi Nathan; ele estava comigo.
— Parabéns — ela disse com voz compassada.
— Não há por que você esperar — Júlia disse. Annie sentou-se.
— Quero saber como Andrew está.
A outra mulher deu de ombros e se sentou em outra cadeira, a alguns
metros de distância.
Nathan entrou tão silenciosamente que Annie não soube dizer há quanto
tempo ele estivera ali, observando-a. Ele parecia exausto.
— Drew está na sala de operação. Acham que é apendicite. — Parecia
prestes a dizer algo, mas Júlia o impediu ao atirar-se soluçante nos braços dele.
Enojada com a cena, Annie se virou e saiu.
Caminhando pelo estacionamento, ela tentava se lembrar de onde havia
parado o carro.
Ela se lembrou do olhar carinhoso de Nathan quando ele se debruçou sobre
o filho. Arrependeu-se da inveja que sentiu da criança naquele momento. E então
se recordou da fúria que experimentou quando Júlia correu para ele... Annie
parou e olhou em torno, reprimindo um soluço.
— Por que está chorando? Ele vai ficar bem, você sabe.
Ela ergueu o rosto com uma expressão desafiadora.
— Não sei onde está meu carro, é isso que sei. Que tipo de pai você é, na
farra com aquela mulher enquanto o filho precisa de você? Não me importo que
Júlia se case com você... se ela é a mãe de Andrew!

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Ele fez um gesto de impaciência.
— Pelas minhas contas, a mãe de Andrew está com o terceiro marido. Fui
eu quem fui embora... e paguei por isso. Ela nunca se interessou por Andrew. Uma
situação que não tenho intenção de alterar. De onde você tirou a idéia de que
Júlia é a mãe de Drew? — ele perguntou. — E quanto à farra, era com você que eu
queria estar, lembra-se? Você me mandou embora.
— E... você me rejeitou!
— É assim que você intepreta o que aconteceu?
Ela o encarou com olhos arregalados. Sentia-se ferida. A outra mulher
ainda tinha direitos sobre o homem de quem Annie gostava.
— Nem pensei nisso — ela afirmou teimosamente. — Agora saia do meio do
caminho para que eu possa encontrar meu carro.
Ele a deixara e fora ter com aquela mulher...
—Você não está em condições de dirigir—ele retrucou. — Me dê as chaves.
— A voz soou firme, mas os olhos mostravam preocupação.
— Você não tem nada a ver com isso... — A briga foi curta e extremamente
patética, mas as chaves terminaram nas mãos de Nathan.
— Se gritar, creio que vários seguranças vão aparecer.
— Você, minha querida, é muito teimosa para pedir a ajuda.
— Me dê as chaves, Nathan. E não me chame de "minha querida".
Nathan riu.
— Amar uma pessoa nos dá certos privilégios. — Annie não podia acreditar
no que tinha acabado de ouvir. Não queria acreditar.
— O amor é uma farsa. Não é isso o que diz sua vã filosofia? Creio que só
Júlia é páreo para você. Volte para ela.
— Eu a mandei embora.
— Incrível o que certas mulheres aturam.
— Acha que corri para os braços de Júlia depois de ter saído de seu
apartamento? — ele perguntou.
— Foi exatamente o que você fez! — ela gritou.
— Quando saí de seu apartamento, fui me embebedar. Infelizmente,
encontrei um grupo de pessoas, incluindo Júlia. Então recebi o recado. Devo ter
desligado o celular sem perceber. Júlia me ofereceu uma carona e como eu
estava... estou, um tanto embriagado, aceitei.

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— Parece plausível. Mas Júlia... Case-se com ela, eu não me importo — ela
gritou, revelando à revelia o quanto se importava.
— Júlia é uma vampira... e uma excelente arquiteta. Na verdade, não tenho
a menor intenção de me casar com ela.
— Arquiteta! Por que devo acreditar em você? Você nunca acreditou em
mim quando lhe contava a verdade. — Ela limpou uma lágrima que escorria pelo
rosto.
Nathan deixou escapar uma risada seca.
— Vamos encarar os fatos, meu anjo, você não fez outra coisa a não ser
tentar me enganar. Ainda não sei como caí nessa. Até pouco tempo atrás, tinha a
impressão de que vivia com um homem. E eu queria matá-lo.
— Só posso ser acusada de fazê-lo acreditar em sua própria imaginação.
Você queria acreditar em toda sorte de coisas horríveis sobre mim, Nathan.
Ele fechou os olhos e jogou a cabeça para trás.
— É verdade. Vim aqui para lhe agradecer de ter vindo, não para discutir.
Sei como odeia hospitais.
— Gosto muito de Andrew.
— Depois de tudo o que fiz, não teria me surpreendido se simplesmente
tivesse virado para o lado e voltado a dormir.
— Eu não estava dormindo.
Então sentiu-se impelida a perguntar:
— Você está bêbado? — Ele certamente não parecia bêbado. Seria a
embriaguez a única razão para aquele comportamento peculiar?
— Não o bastante para me pendurar no candelabro mais próximo, mas o
bastante para admitir coisas que me são difíceis de dizer. Ele a pegou nos braços.
— Admito que usei minha antipatia, minha aversão ao tipo de mulher que
pensei que representasse, para me proteger da atração que sentia por você. Você
tem alguma idéia de como me senti no momento em que a vi? Bela, deslumbrante,
luminosa como uma chama, a personificação de tudo o que é caloroso, desejável e
feminino? Parecia que a mesma história se repetia, a de meu pai na minha vida.
— Nunca imaginei que poderia ser tão vulnerável — ele continuou, com voz
rouca. — A experiência foi humilhante. Estava em um território estranho e parti
para o ataque.
— Você ainda está atacando — ela disse sem fôlego. Ele parecia obcecado,
como um homem que fora até o limite das forças e sobrevivera. Fora ela a

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responsável por isso? perguntou-se. Ela tinha tanto poder assim nas mãos? Isso
não tinha sentido.
— Eu queria esmagá-la. Queria provar sem sombra de dúvida que tipo de
aproveitadora você era. Mas o tempo todo as coisas pareciam não se ajustar.
Você dizia uma coisa e agia de outra forma. Concluí que, ou era esquizofrênica, ou
estava escondendo coisas de mim.
Ele a puxou com violência e aspirou o perfume de seu cabelo ruivo. Quando
ergueu a cabeça, a expressão de Nathan era severa, dura e implacável.
— Não vai dizer nada, mulher? Provavelmente mencionei o amor cedo
demais, mas não posso crer...
— Amor?
Ele empalideceu.
— Não me rejeite, Annie. Eu a tratei com um menosprezo que não merecia,
mas o tempo todo...
— Nathan. — Ela levantou a mão, tocando seu rosto, percebendo que ele
havia interpretado mal a interrupção. — Eu...
Ele pegou a mão de Annie e beijou a palma.
— Deixe-me terminar. Eu preciso explicar — ele disse com um fervor que
parecia difícil de ser controlado. Queria ser capaz de rejeitá-la. Queria vê-la da
pior forma possível, desprezá-la. Mas você continuava me surpreendendo. Não
podia entender como todos que a conheciam só tinham coisas generosas a dizer
sobre você — ele afirmou, com um tom de reverência na voz. — De início, pensei
que poderia exorcizá-la transando com você — ele abriu um sorriso oblíquo. —
Quando você disse que iria morar com aquele ... rapaz, tive ganas de trancafiá-la.
— Queria que você sentisse ciúme — ela admitiu, abaixando o olhar. —
Josh é meu amigo; gosto dele.
Ele deslizou um dedo pelo lado do rosto de Annie e empurrou o queixo para
cima.
— As pessoas se sentem atraídas por você, Annie. Drew, Matthew, eles a
amam. Você tem tamanha generosidade de espírito. Para alguém tão jovem, você
não se deixou macular pelas coisas que teve de enfrentar.
— Antes de levá-la para cama eu já tinha me decidido que precisava tê-la.
Não por uma noite, mas para sempre. Iria transformá-la na mulher que eu queria.
Sei que é presunção. A grande falha é que, no íntimo, eu já a amava do jeito que
você era, é.
— Foi incrivelmente humilhante perceber que, o tempo todo, eu é que não
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estava a seus pés. Deus, você tinha razões suficientes para ser amarga, mas era
eu quem tinha medo de revelar minhas emoções, de correr o risco de que
suspeitassem que eu também era humano. Você precisa me deixar amá-la, Annie.
— Ele arqueou o peito como se procurasse controlar a violenta explosão emo-
cional que sentia dentro de si.
Annie não pôde mais suportar a situação. As palavras dele a encheram de
um êxtase que ainda não podia acreditar totalmente. Mas sabia que a dor que ele
sentia ela também experimentava, e que estava em suas mãos o poder de
extingui-la.
— Por que acha que fiz amor com você, Nathan?
— Quis morrer quando percebi que era virgem.
— Eu queria que o momento durasse para sempre, mas você agiu como se
eu fosse uma criminosa. Pensei que minha técnica não tinha sido do seu agrado.
— Técnica! — ele disse em tom zombeteiro. — O que isso tem a ver com
fazer amor?
— É fácil dizer — ela retrucou. — Para você, tudo é natural mas, para mim,
eu achava que estava fazendo tudo errado. — Annie franziu a testa, lutando para
explicar sentimentos que eía própria não entendia direito.
— E eu fui tão sutil quanto... não fui exatamente um cavalheiro, e você
precisava de uma iniciação compreensiva. Mal pude acreditar quando percebi que
nenhum homem a havia tocado. Fiquei zangado por você não ter nem ao menos
considerado as consequências de não ter me dito a verdade. Claro que fiquei com
o orgulho ferido quando percebi que me enganara. Via o modo como sorria para as
outras pessoas, sempre calorosa, aberta. Mas, comigo, sempre me tratou com
desconfiança.
— Achei que tinha razões para tratá-lo assim.
Ele deu um sorriso súbito.
— Eu sugeri seu nome para a fundação. Não que esperasse que se
mostrassem tão entusiasmados depois de terem feito as investigações
necessárias. Também informei Matthew, pois sabia que ele logo contaria a você.
Queria ver qual seria sua reação, e queria mantê-la a meu alcance.
— Foi uma espécie de teste...
— Você era um enigma, Annie, e eu senti que o único modo de descobrir
alguma coisa, já que não me revelava nada, era observar o modo como reagia a
situações... Então, ontem, você me deixou em uma encruzilhada. Senti-me como
um violador da inocência. Sei que devia ter ficado e conversado mais com você —

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ele disse com franqueza. — Senti pena de Selby: tê-la sem nunca ser capaz de
fazê-la inteiramente dele. Eu, que o odiara tanto! Eu o desprezei por ter caído na
armadilha de sua beleza, e porque você parecia amá-lo.
— Eu não sabia o que era o amor antes de conhecer você, Nathan... Você
era demais, bonito demais. — Ela deu uma gargalhada ao ver a expressão de
espanto no rosto dele. — Confesse, Nathan, você sabe que é absolutamente
estonteante — ela provocou. — Bonito demais, rico demais, confiante demais,
cínico demais. E eu me apaixonei por você, não há lógica nisso, há?
— Eu a desejei por tanto tempo. — Nathan estava deliciado com a
declaração de Annie. Ele a abraçou com força. — Queria tão desesperadamente
torná-la minha... — Ele parou, subitamente preocupado. — Eu a machuquei?
Os olhos de Annie brilhavam de alegria. Seria possível sentir tamanho
contentamento quando, pouco tempo atrás, achava que nunca mais sorriria?, ela
pensou.
— A verdade é que eu precisava de você, Nathan. Ainda preciso. Odeio
soar desavergonhada, mas não achei nada do que fez chocante ou desagradável;
pelo contrário.
Nathan não resistiu. Beijou-a com fúria, com paixão, com todo o fogo das
frustrações acumuladas no passado e da alegria que se descortinava, no futuro. A
gentileza logo tomou lugar e, quanto ele ergueu a cabeça, Annie sentiu a cabeça
rodar.
— Nathan... — Ela disse o nome com um suspiro. Lágrimas corriam por seu
rosto. — De início, foi uma espécie de vingança, deixar você pensar que eu era
uma aproveitadora — ela admitiu, levantando os olhos e então aproximado a
cabeça do peito amado. — Você me deixava louca. E pensar que esse homem
inacreditavelmente belo me desprezava... Eu fiquei enfurecida, e não só com você
mas comigo mesma, por achá-lo tão atraente. Acreditava que me sentiria melhor
se pudesse odiá-lo.
— Depois, foi um mecanismo de defesa. Eu o amava tanto que não tinha
certeza de que podia sobreviver ao finalizar um caso com você. Apaixonar-se por
alguém que só me espezinhava, essa foi a humilhação suprema.
— Você me fez passar o pão que o diabo amassou — ele gemeu. — Mas
talvez eu tenha merecido. Você foi bem direta. Acha que sou um péssimo pai e,
depois de hoje à noite, realmente não posso culpá-la por pensar assim. Pobre
garoto, nunca estou com ele quando precisa de mim.
— Você é um ótimo pai; cuidar de uma criança sozinho não é fácil para
ninguém. Ele o adora. Não posso entender como foi pensar que você iria se casar

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com Júlia.
— Pode ter alguma relação com uma conversa que tive com ele — Nathan
admitiu. — Eu realmente o sondei sobre as madrastas... só que não era Júlia quem
eu tinha em mente.
Annie sentiu-se leve e respirou fundo.
— Tanto Andrew quanto eu o amamos, Nathan — disse com brandura. — O
passado lhe deu Drew, de modo que não pode ter sido tão ruim assim, não é? —
Ela o abraçou,
Ele olhou para os cabelos de Annie, da cor de folhas outonais. Estava
orgulhoso.
— Você se importa se assumir uma família já estabelecida? — ele
perguntou, com uma ponta de dúvida na voz.
Annie ergueu o rosto e abriu um sorriso deslumbrado. Os olhos, que há um
momento pareciam quase infantis, brilharam com calor feminino.
— É uma proposta?
— Mas não quero lhe impor o fardo de cuidar de uma criança. Isso a
incomoda?
Ela se afastou um pouco e o encarou.
— Vai ser um casamento aberto, então?
— É o que você quer?
— O que está me oferendo? — ela perguntou, já revelando um brilho de
provocação nos olhos.
Então ele percebeu.
— Oh, sua malandrinha. — Ele a puxou para junto de si e a beijou,
sorvendo suas gargalhadas.
— E se eu quiser um casamento aberto? — ela insistiu, brincalhona.
— Um termo absurdo para alguma coisa que, por definição, não existe. Não
quero oprimi-la, mas fazê-la feliz. E quero que todos os outros homens saibam
que você me pertence.
Aquele comentário antiquado a deixou arrepiada.
— E você, Nathan, a quem pertence? — ela perguntou, segurando-lhe o
rosto entre as mãos. Seus dedos pareciam muito pálidos de encontro com a pele
bronzeada de Nathan. Ela gostava do contraste: escuro e claro; duro e macio. Um
feitiço estava ocorrendo, algo belo e primitivo; e ela estava começando a apreciar

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a magia desse processo.
Nathan pôs a mão sobre o peito de Annie.
— Ponha-me aqui, Annie, e nunca me deixe sair. — As palavras a levaram a
um passo do paraíso.
— Será que Drew já saiu da sala de cirurgia? — ela perguntou.
Nathan olhou para o relógio.
— Falta pouco — concordou. — Acho que devemos voltar. Gostaria de
estar lá quando ele acordar.
— Claro que sim.
— Podíamos ambos ficar do lado dele. Não queria forçá-la, sabendo como
se sente a respeito de hospitais.
— Oh, eu adoraria. Você já pensou que Matthew, de uma forma indireta,
será irmão de Drew? E você será o padrasto de Matthew, ou quase isso. Sob as
circunstâncias, devo lhe dar a oportunidade de desistir.
— Acho que posso suportar essa responsabilidade extra — ele assegurou-
lhe. — Mas já que estamos falando de família, quero esclarecer uma coisa sobre a
mãe de Drew. Ela usou a gravidez para se casar comigo. Não creio que imaginasse
que eu fosse a solução permanente para seus problemas financeiros, já que
naquela época minha fortuna não era tão grande assim. No final, ficou feliz com o
dinheiro que lhe dei. Foi um erro terrível que eu cometi — ele continuou. — A
única razão pela qual não falo sobre ela é para proteger Drew. Eu não minto, só
evito me referir a ela. Mas não se preocupe, Annie; ela nunca vai nos importunar.
— Acho que hoje é a noite para nos livrarmos dos fantasmas — ela
declarou, com olhos cintilantes.
— Gostaria de levá-la para casa agora mesmo. Fazer amor com você... Será
que Chausey lhe traz muitas lembranças? — ele perguntou subitamente.
— Chausey é só uma casa. São as pessoas que fazem dela um lar—ela
respondeu prontamente. — Incomoda-o o fato de eu ter morado lá com David?
Ele tocou os lábios de Annie, macios como o veludo, saborosos como mel.
— Não tenho medo de fantasmas. E você?
Annie fixou os olhos no rosto de Nathan e viu ali somente o amor, o carinho
e a confiança. Sentiu-se segura. Deu-lhe a mão.
— Não mais — ela disse, alegre.

Projeto Revisora 95
Sabrina Destinos 07 – Kim Lawrence – Uma atração
irresistível

FIM

Projeto Revisora 96

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