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Audrey se considerava feia, sem nenhum atrativo que justificasse ser amada,
até que surgiu em sua vida o homem que podia ser considerado o cavaleiro dos
sonhos de toda garota: Elliot Knight. Sofisticado e experiente, um Don Juan por
profissão, ele se propôs devolver-lhe a auto-estima e o desejo de amar e ser
amada. A aluna superou o mestre, fazendo-o se apaixonar perdidamente por ela.
Elliot não quis reconhecer sua derrota: a palavra amor havia sido arriscada de
seu dicionário...
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CAPÍTULO I
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amargura.
— É melhor entrarmos para conversar — ela convidou num loin áspero.
— Claro. Pedirei um capuccino para nós dois.
Tratava-se de uma cafeteria típica de Sydney. A sala retangular
apresentava, de um lado, um longo e brilhante balcão e, do outro, mesas
separadas por divisórias.
Audrey havia pensado que a essa hora o local estaria vazio, oferecendo a
chance de alguma privacidade. Mas, não era o caso, pois quase todos os
reservados estavam ocupados. Apenas os dois últimos estavam vazios.
Ela decidiu-se pelo mais afastado, consciente da tensão nervosa que
aumentava a cada momento. Mas, a penúltima mesa Sambem estava ocupada,
por um homem inclinado sobre um jornal. Ele a olhou de relance quando passou,
mas voltou logo a sua leitura.
Audrey sentou-se com um suspiro cansado, observando, infeliz, Russell
flertar com a garçonete.
Ele acomodou-se no assento cm frente a ela, e indagou:
— Bem? Vai satisfazer minha curiosidade e contar-me a razão deste
encontro?
— Sim — ela aquiesceu tensa, respirando com dificuldade. O coração
parecia querer saltar do peito e sua voz saía estridente e tremula. — Diane me
contou que saiu com você no sábado passado. Na noite que você me disse que ia
a um jantar de negócios.
A expressão de Russell mudou completamente. Seus lábios se contorceram
num sorriso desagradável e os olhos se estreitaram mostrando mesquinharia.
— Então, é por esta razão que você me chamou! Para responder a um
monte de estúpidas acusações. Eu acreditava que você tinha mais bom senso do
que está demonstrando! Imagine, dar atenção à fofoca de uma pessoa vulgar
como Diane!
— Ela não estava mentindo — Audrey contradisse, aborrecida ao perceber
mais esta faceta desagradável de Russell. Havia sempre se preocupado cm
comportar-se como um gentleman. Encurralado, deixava cair a máscara.
— É claro que sim — ele vociferou. — Ela sente ciúme de você. Será que
não tem inteligência suficiente para perceber a verdade?
Este novo insulto a magoou ainda mais. Mas a dor deu-lhe novas forças
para terminar com este homem de uma vez por todas.
— Ela me mostrou o recibo do motel de sábado — prosseguiu abalada, mas
resoluta. — Está assinado por você e conheço bem sua assinatura.
— Audrey — ele começou impaciente, após um curto silêncio. Ela ergueu o
queixo, orgulhosa, tentando controlar o tremor na voz.
— É inútil mentir para mim, Russell. De qualquer modo, nosso caso está
acabado.
— Não acredito que seja esta sua intenção.
— É esta mesmo. Acredito em Diane e continuarei a acreditar, não
importando o que você diga.
— Então é assim? — ele murmurou, desagradável. — Muito bem, dormi
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deu os ombros, tentando diminuir a tensão. — Meu pai é daqueles homens que
acham que uma mulher não é nada, a não ser que se case. Ele me considera uma
solteirona em potencial — completou com um riso amargo.
— Que rematada tolice! — ele exclamou. — Atualmente as mulheres não
precisam se casar cedo. Ou mesmo não precisam se casar em absoluto. E, de
qualquer modo, você não passa de uma mocinha.
— Completarei vinte e um anos na próxima semana.
— Positivamente idosa — ele deixou escapar uma risada seca.
— Sim, se você encarar a questão de meu ponto de vista. Lavínia costuma
dizer que uma moça comum, com dinheiro, pode ate parecer atraente. Mas, com
o tempo, ela só faz decair.
As palavras de Audrey provocaram faíscas de fúria nos olhos de seu
companheiro.
— E quem é Lavínia?
— Minha madrasta.
— Sua madrasta — as sobrancelhas se ergueram, sardónicas. — E sua
madrasta lhe disse que é uma moça comum, sem atrativos?
Audrey percebia o que ele imaginava. Que Lavínia se comportasse como
uma perversa madrasta.
— Não, Lavínia jamais seria tão cruel. Ela é muito bondosa comigo. Tenta
com empenho ajudar-me, dando conselhos sobre meu cabelo e minhas roupas.
Mas sou um caso perdido. Nada me fica bem.
Enquanto argumentava, ela percebia que Elliot não se convencia.
— E qual a idade de sua madrasta? — ele indagou. — Essa tal que a ajuda
com os cabelos e as roupas.
— Ela está perlo dos quarenta anos. Mas parece muito mais jovem. É muito
bonita e confiante em si mesma.
Um suspiro invejoso escapou dos lábios de Audrey, sem que ela pudesse
evitar. Mas tantas vezes desejara possuir ao menos a metade dos encantos de
Lavínia.
— Não compreendo de onde tirou a ideia de que não é atraente, Audrey.
— Por favor não tente me lisonjear — ela pediu ressentida. — Não é
necessário. Sei muito bem o que sou e como pareço.
De repente, não havia como impedir as lágrimas que ameaçavam surgir
durante toda a tarde. Ela tentava abafar o som de seus soluços. Mas em vão.
Livrou-se do copo e escondeu o rosto com as mãos. Parecia tão desamparada,
dobrada sobre si mesma, chorando lágrimas amargas e silenciosas.
— Audrey, não se desespere — Elliot resmungou, aninhando-a em seus
braços. Ela correspondeu de modo automático, abraçando-o com todas as forças.
Quando ele acariciou-lhe os cabelos num gesto confortador, Audrey
surpreendeu-se com a própria reação. Apesar de seu sofrimento, ela excitou-se
ante seu toque e, quando ele lhe sussurrou palavras de conforto ela estremeceu
num prazer secreto.
— Você é bonita, Audrey. Eu não a estava lisonjeando...
Como acontecera o momento seguinte? Ele ergueu-lhe o rosto molhado de
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CAPÍTULO II
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la. Piedade...
Desejava chorar de desespero, mas o pai a encarava com atenção. De
repente, sentiu uma nova força surgir, talvez como resultado da amarga
experiência que acabara de atravessar. Levantou a cabeça e, olhando o pai com
firmeza, declarou:
— Ele está muito interessado.
— Então, por que não o convida para sua festa?
— Convidar quem? — indagou Lavínia, entrando na saleta, envolvida cm
seu glamouroso négligè de cetim negro. Alta e voluptuosa, a sedosa cabeleira
negra chegando ate os ombros, era uma figura sensual e arrebatadora.
Audrey fitou-a com inegável inveja. Oh, como devia ser bom ser tão segura
de si mesma, tão elegante e sexy!
— Audrey tem um novo namorado — anunciou o pai, num tom em que se
mesclava surpresa e orgulho paterno. — Ela confidenciou-me que ele está muito
interessado.
Audrey piscou os olhos, nervosa. Percebera que estava em apuros. Lavínia
voltou-se, encarando a moça com descrença.
— Realmente? Alguém que eu conheça?
— Já fiz a mesma pergunta. Ela afirma que não. Pelo jeito, trata-se de um
rico playboy.
— Mas, como Audrey encontraria alguém assim? — Lavínia indagou
perplexa. — Ela não freqüenta o ambiente social de Sydney. Parece tudo muito
estranho.
Audrey detestava quando o pai e Lavínia falavam dela como se não
estivesse presente. Normalmente, mergulhava num silêncio rancoroso ou se
distraía. Mas tal atitude não cabia nessa manhã.
— Por que eu haveria de mentir, Lavínia? — ela desafiou.
— É mesmo, por quê?
— Terei o maior prazer cm falar sobre Elliot. Basta apenas que me
pergunte.
Lavínia arqueou as sobrancelhas escuras e encaminhou-se com indolência
para a mesa, trazendo seu café.
— Bem? — conciliou. — Conte-nos, então. Onde se conheceram? Audrcy
engoliu em seco, sentindo faltar-lhe a coragem. Mas o brilho sardônico nos olhos
negros de Lavínia restauraram-lhe as forças.
— Nós nos conhecemos numa festa no sábado à noite — ela explicou,
usando a mesma mentira que Elliot utilizara com Russell. Duas semanas atrás.
— Mas nessa noite você não saiu — Lavínia ponderou. Audrey buscou na
memória o que acontecera nessa data. O pai havia saído com Lavínia para um
clube. Só haviam retornado após a meia-noite e, com certeza não haviam se
preocupado em verificar se ela eslava em seu quarto. A única criada dormindo na
casa era Elsie, que sempre se recolhia cedo.
Apesar de temerosa, conseguiu apresentar uma atitude indiferente.
— Eu não pretendia sair, mas, depois que vocês saíram, uma velha amiga
de escola me telefonou, convidando-me para uma festa de improviso. Assim,
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entre o desejo que ele atendesse e outro que ele houvesse viajado para a Suíça,
pelo resto da temporada de esqui.
No sétimo toque, alguém respondeu.
Audrey prendeu a respiração.
Uma voz masculina repetiu o número que ela acabara de discar.
— EI... Elliot? -— conseguiu emitir, num esforço desesperado. Seguiu-se
um curto e brusco silencio, que elevou a tensão da moça às nuvens.
— Audrey? É você? — o tom denotava o desagrado pela chamada.
— Sim, sou eu — ela confirmou, caindo em doloroso silêncio.
— Então? — ele indagou afinal. — Em que posso te ajudar? — De repente,
ela percebeu que estava agindo como uma tola. Porém, a idéia de falhar era
impensável. Como enfrentaria Lavínia, com a notícia de que Elliot não viria?
— Eu... estou com um problema.
— Sim?
Sentimentos de derrota a dominaram, avassaladores. Ele recusaria. Por
que se humilhar, pedindo-lhe algo que ele não aceitaria mesmo?
Sentiu-se desolada. Se, ao menos, fosse bonita e sexy. Se Elliot não tivesse
dinheiro mas, ao contrário, precisasse aceitar o que ela pudesse lhe dar; como
Russell. Se houvesse alguma maneira de conseguir que ele desejasse vir por
vontade própria!
— Você me disse que eu poderia chamar, caso necessitasse de ajuda — ela
titubeou.
— Sim?
— Eu preciso.
— De que maneira?
— Você se lembra que eu mencionei que logo completaria vinte e um anos?
Bem, acontecerá na próxima sexta-feira, e Lavínia organizou um jantar especial
para mim, aqui em casa. Pretendia trazer Russell, e, você sabe, não tenho
ninguém mais para convidar e pensei que... Bem, tinha a esperança que você
pudesse vir no lugar de Russell.
— Acreditei ter deixado bem claro, Audrey — ele falou entre os dentes —,
que não estou a fim de substituir Russell em nada.
Ainda bem que Elliot não podia vê-la nesse momento. Audrey sentiu o calor
subir à face. As palavras de Elliot provocaram em sua imaginação cenas
ardentes.
— Não poderia convidar outra pessoa? Alguém de sua idade?
— É impossível — ela replicou, esforçando-se para se acalmar. — Ninguém
de quem poderia me orgulhar. E, Elliot, preciso sentir orgulho de meu convidado,
entende? É muito importante para mim.
— Sim, compreendo. Infelizmente... muito bem, Audrey, dê-me seu
endereço e me diga a hora em que devo chegar. E, talvez, seja boa idéia me dizer
seu sobrenome. Ainda não o conheço.
O sucesso trouxe a sensação de triunfo, mas, também, agitação. Ele viria.
Forneceu seu endereço, em Newport, seu nome completo, Audrey Henrietta
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CAPÍTULO III
tons púrpura, sugeridos por Lavínia, para realçar seu colorido, produziam um
efeito contrário. Faziam-na parecer desbotada e doentia.
Quanto aos cabelos... Audrey jamais havia se sentido à vontade com o
mivo(*)-escuro, ou a forte permanente, impossível de domar. Mas Lavínia e seu
cabeleireiro haviam ambos insistido, dizendo que seu castanho natural não a
favorecia, que seu rosto fino necessitava de um contraste dramático. Apesar de
não se sentir plenamente convicta, acabam cedendo aos conselhos, pois ambos
eram experts e, em verdade, as sugestões iam de encontro à moda em vigor.
Havia erguido os cabelos para o alto da cabeça, prendendo-os, deixando
apenas alguns anéis escaparem, emoldurando-lhe o rosto. O resultado fora
ótimo. Decidiu tomar providências neste sentido o quanto antes.
Ouviu ao longe o grande relógio do avô ecoar as sete horas. Estremeceu.
Engoliu em seco, sentindo o estômago revolver-se em espasmos nervosos. Elliot
deveria chegar a qualquer momento, juntamente com os demais convidados.
Precisava descer sem mais demoras.
Hesitava, ainda, aterrorizada ante a idéia de receber críticas pela sua
aparência. Não seria preciso muito para ameaçar a confiança nova e frágil.
E não somente seu aspecto a deixava nervosa. Elliot produziria um choque,
também. Tanto o pai, quanto Lavínia, imaginavam receber um jovem esnobe, sem
nada de especial. Não estariam preparados para a arrebatadora figura de Elliot,
num elegante traje de rigor. Esperava que eles disfarçassem a surpresa e não
fizessem muitas perguntas. Elliot não fazia idéia de que fora idealizado como um
ardente admirador. Sem dúvida imaginava que estaria comparecendo como um
simples amigo.
Tentando controlar o nervosismo, Audrey fitou-se mais uma vez no espelho,
para renovar a autoconfiança e descer, afinal, para a sala de recepção.
— Audrey, minha querida! — exclamou o pai em tom surpreso, quando a
avistou no umbral do enorme living. — Você está adorável! Não concorda,
Lavínia?
Audrey animou-se por um breve momento, mas logo sentiu o coração
apertado quando a madrasta se voltou em sua direção. Estivera verificando os
copos e garrafas para servir o cocktail, no móvel que servia de bar. Examinou o
vestido bege de alto a baixo.
— Sim, está adorável — concordou. Mas havia zanga em seu olhar.
Mais uma vez Audrey deixou-se intimidar pela atitude negativa. Mas
reagiu. Não desejava se exibir, porém, acreditara que, parecendo bonita no
própria aniversário, agradaria à madrasta.
A campainha da porta tocou, distraindo-lhe os pensamentos.
"Elliot!" ela pensou, sentindo a respiração parar.
— Pode deixar que atendo eu mesma, Marcc(*) — avisou, detendo a
empregada que se apressava através do saguão de mármore negro em direção à
porta da frente.
O coração de Audrey parecia querer saltar do peito quando ela se desviou
do rosto irritado de Lavínia e dirigiu-se para a porta da frente. Não se tratava de
Elliot, no entanto. Era Edward Hurley e sua esposa, Alice. Alto, na faixa dos
quarenta anos de idade, Edward era o chefe de Audrcy.
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amarelo pálido. Feliz, Audrey primeiro fitou as flores, e depois seu convidado. Por
um momento interminável, a expressão de seu rosto foi indecifrável. Mas um
sorriso irônico tomou o lugar da expressão severa.
— Acredito que deveria seguir a carreira de conselheiro de assuntos
femininos — ele gracejou em tom seco. — Audrey, você está deslumbrante. —
inclinando-se para a frente, beijou-a na face. — Feliz aniversário, Cinderela.
— Elliot, muito obrigado por ter vindo — ela agradeceu, emocionada — e
por tudo o mais. — Lágrimas afloraram a seus olhos, enquanto o coração
palpitava de emoção.
— Se você chorar — ele ameaçou —, voltarei atrás, por esses estúpidos
degraus, imediatamente. E observe que não se trata de um pequeno exercício. —
Ele entrou, fechou a porta atrás de si, e estendeu-lhe as rosas.
Em vez de chorar, ela riu. Elliot, seu amigo, viera em seu socorro, mais
uma vez. Aceitaria sua demonstração de bondade, com apreço. Determinara-se a
impedir que outros sentimentos a invadissem, estragando sua noite.
Apanhando as rosas, deu-lhe o braço livre e o conduziu para dentro, para
exibi-lo a todos os convidados. Demorou-se de modo teatral, sob o arco da
entrada da sala de recepção. Numa das mãos segurava as flores, com a outra,
enlaçava Elliot.
— Amigos, apresento-lhes Elliot — anunciou triunfante.
De repente, todos ficaram cm silêncio. Os convidados masculinos
estreitaram os olhos, apreciativos. Suas esposas apenas fitavam surpresas.
Lavínia o analisava, evidentemente chocada, perscrutando o coqjo(*) soberbo e
elegante, num exame de evidente conotação sexual.
Audrey apertava o braço de Elliot com firmeza, sentindo uma pontada de
medo irracional atravessá-la.
— Então, este é Elliot — declarou Lavínia, estendendo a mão com
elegância. — Não conhecemos muito a seu respeito. Audrey mostrou-se
misteriosa sobre seu novo admirador.
A jovem sentiu o braço de Elliot tensionar, numa reação à declaração de
Lavínia. Sentiu-se apavorada.
— E você, deve ser Lavínia — Elliot retrucou, dando-lhe um aperto de mão
formal e indiferente. — Já não posso dizer o mesmo a seu respeito. Audrey falou
muito sobre a maravilhosa madrasta, que você tem sido para ela. Uma verdadeira
mãe, não é mesmo, minha querida?
Audrey sobressaltou-se ante o tratamento carinhoso. Sensibilizada,
respirou fundo e ergueu a cabeça, olhando Elliot com adoração. "Que homem
gentil e generoso!" ela agradeceu em pensamento, o coração transbordando de
felicidade.
Embora ele lhe sorrisse, Audrey teve a impressão de captar um momento
de hesitação. Por um breve momento, ao fitá-lo, ela distinguiu um brilho
preocupado em seu olhar. Mas, ele logo reassumiu o ar indiferente.
Lavínia parecia derrotada. Estava habituada a receber cumprimentos por
sua beleza, não por seu comportamento materno. Elliot abraçou Audrey com
evidente carinho.
— A minha menina não está sensacional, esta noite? — ele indagou,
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terror que a atormentava. Como ele pudera lhe fazer isso? Não a amaria ao
menos um pouquinho? Como ousava ele?
— Sei que você sempre declarou que não desejava dirigir um carro — o pai
argumentou, ao perceber seu silêncio embaraçado. — Mas Lavínia e eu
discutimos o assunto e decidimos que já estava na hora de superar o acidente
ocorrido há nove anos. O fato de não dirigir não trará sua mãe de volta. É preciso,
aprender a superar medos irracionais e não sucumbir a eles, não é verdade,
Lavínia? A madrasta anuiu com um gesto displicente.
— Sem dúvida, querido.
Audrey sentia-se mergulhar no pânico e, desesperada, lançou um olhar
súplice a Elliot.
Ele hesitou por uma fração de segundo. Mas, logo, passou o braço pela
cintura esguia, atraindo-a para perto de si.
— Acredito que Audrey não tenha palavras para exprimir sua satisfação,
não é, querida? E tem toda razão, Warwick. Toda moça moderna e independente
deveria saber guiar e, pelo que vejo, o Magna é automático. É formidável, Audrey.
Eu mesmo faço questão de ensiná-la a dirigir, se aceitar.
— Estaria disposto, mesmo? — ela falou, a voz apenas audível, sem
contudo, conseguir esconder a confusão interior.
Elliot reconfortou-a com um sorriso delicado.
— Quem mais? Começaremos amanhã mesmo. Bem, não está na hora de
agradecer a seu pai pelo maravilhoso presente? E a sua querida madrasta.
— É um carro adorável — falou entre os dentes. — Muito obrigado, pai...
Lavínia. É exatamente o que eu desejava.
O enorme sorriso de alívio do pai foi tão caloroso e genuíno que Audrey
hesitou. Talvez se importasse, afinal, ela refletiu. Quando ele se aproximou,
envolvendo-a num comovido abraço, ela sentiu-se profundamente tocada. Acho
que ele se importa, sim. De verdade!
— Estou tão contente, minha querida — ele declarou, afastando-se. — E,
também, aliviado. Para falar a verdade, eu me sentia muito preocupado com o
carro. Mas, Lavínia tinha razão, como sempre. Preciso congratular-me com você
— ele prosseguiu, estendendo a mão à esposa. Lavínia pegou-lhe a mão, mas seu
sorriso parecia esculpido cm cimento. — Bem, todos para dentro — Warwick
convidou. — Está muito frio aqui fora. Vamos entrar e celebrar com um vinho do
Porto.
Audrey e Elliot foram os últimos a entrar.
— Parece que estou sempre lhe agradecendo — ela observou.
Uma estranha calma a dominava. A descoberta da verdadeira per-
sonalidade da madrasta parecia dar-lhe uma nova força. — Mas, muito obrigada
novamente.
— Talvez não diga o mesmo amanhã — ele declarou, ríspido. — Dizem que
os homens jamais deveriam ensinar as namoradas a dirigir.
— Mas eu não sou.. — Audrcy começou a dizer, sobressaltada.
Mas não conseguiu terminar a frase. Ele se inclinou e beijou-a de leve na
boca.
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CAPÍTULO IV
Audrey voltou o olhar para o rosto de Elliot. Tentou ver se ele estava
consciente do desejo expresso no rosto da madrasta. Ele fitou-a por um
momento, de modo estranho. De repente, seu rosto se anuviou.
— Você não gostou do meu presente? — indagou, acenando para o colar.
Antes que ela pudesse falar qualquer coisa, seu pai bateu nos ombros de
Elliot.
— É claro que ela gostou! Mas cuidado, meu amigo. Se começar a
presentear uma mulher com jóias, não demora, e ela o está levando ao altar antes
que você se dê conta.
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disso a todo instante. Tratava-se de sua noite. Se ele podia fingir, então ela
também faria o mesmo.
De repente, a música foi interrompida.
Audrey abriu os olhos, e viu Lavínia ao lado do toca-discos, encarando-a
com frieza, antes de dirigir um sorriso alegre para os demais.
— Warwick acabou de abrir o porto. E há café para quem o preferir.
Audrey pensou ter ouvido Elliot murmurar uma palavra que lembrava, de
algum modo, "mulher vulgar". Mas não estava certa. Quando ele afrouxou o
abraço, sua expressão era glacial.
— Café, minha ladyl — ele sugeriu com um aceno galante, estendendo-lhe
a mão.
Audrey deu uma risada. Mas, qualquer possível prazer durante o resto da
noite, pela companhia de Elliot, foi estragado pelos olhares contínuos da
madrasta. Ácidos para si própria, sedutores para Elliot. Audrey sentia-se
ameaçada, tentando antecipar os movimentos e gestos de Lavínia. Por um
momento, ela sentou-se ao lado de seu "namorado", apoiando a mão, como por
acaso, sobre sua coxa. Elliot permaneceu impassível. Ela desejou arrancar os
olhos da madrasta.
De certo modo alegrou-se quando a festa terminou, logo após a meia-noite,
e os convidados começaram a se despedir, apesar de não desejar separar-se de
Elliot.
Elliot não fazia menção de se despedir, no entanto, e o pai de Audrcy
concluiu que ele desejava ficar um pouco a sós com a filha. Chamou Lavínia,
dizendo que deviam deixar os "jovens à vontade". A madrasta ficou lívida ante a
observação, retrucando com azedume e sarcasmo que não se considerava velha
aos trinta e sete anos. Warwick a ignorou, pegou no braço de Lavínia e a
conduziu para fora da sala.
— Sinto muito, Elliot — ela desculpou-se, respirando fundo. Estavam
sentados no mesmo sofá, uma distância razoável a separá-los. Elliot lançou-lhe
um olhar inescrutável.
— Sente pelo quê?
— Por envolvê-lo nesta situação confusa. Por precisar responder a tantas
perguntas. E por Lavínia.
— Ah, sim, Lavínia... Ela foi um tanto óbvia, não é mesmo?
— Sim — admitiu a moça, sentindo o estômago contrair-se.
— Esperemos que seu pai não tenha percebido.
Audrey fitou-o, enquanto bebericava uma xícara de café. Sem dúvida era
atraente sob todos os pontos de vista. Sua aparência, seu estilo, seu ar de
autoconfiança se evidenciavam. Tampouco se importava de ser tratado como
objeto sexual.
— Isto... isto costuma lhe ocorrer com freqüência? — ela indagou hesitante.
Elliot movimentou os ombros, num gesto de indiferença.
— Digamos que acontece mais do que me agrada.
— E o aborrece? — ela perguntou ríspida, sentindo o ciúme crescer em seu
íntimo.
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verdade é — ele hesitou, os olhos desviando-se para os seios que se agitavam sob
a fina seda cremosa — que tais qualidades já estão se enfraquecendo.
Ela sentiu o rosto incendiar-se, quando a ponta de seus seios se
intumesceram ante o olhar ávido de desejo.
— Bom e generoso — ele escarneceu. Com um gesto brusco agarrou-a,
apertando-a fortemente. O contraste entre o corpo macio e o rígido era terrível. —
Bom e generoso — ele repetiu, rindo, segurando sua cabeça para trás, com as
mãos poderosas. — Um homem bom e generoso faria isto?
Aproximou a boca ardente. O beijo revelava total falta de controle. Ele se
entregara às próprias exigências, apoderando-se do que desejava. Abriu os lábios
suaves com urgência, aprofundando a língua com agressividade. Ela não opunha
resistência, mas, mal conseguia respirar.
Não se tratava do tipo de beijo que Audrcy imaginara partilhar com Elliot.
Em absoluto. Mas, por mais que se sentisse chocada, ou mesmo assustada, pela
qualidade da violência de tais ações, seus sentimentos não lhe permitiam ficar
insensível. Em poucos segundos passou a corresponder com ardor. Seu próprio
desejo estourava por todos os poros. Seus lábios exigiam cada vez mais, abrindo-
se voluntariamente. Libertou os braços, apoiando-os no musculoso torso
masculino.
Foi a vez dele se sobressaltar, ante a intensidade com que era
correspondido. Por um breve momento, sua boca afastou-se, mas logo
recomeçou, desta vez com mais gentileza. Audrcy percebeu que estava
aprendendo os caminhos da autêntica sabedoria sexual. Elliot passara a seduzi-
la, brincando com a língua em sua boca, as mãos afagando-lhe a cabeça. Seus
dedos acariciam em lentos toques os lóbulos das orelhas, provocando-lhe
arrepios de prazer. Ele continuava a movimentar-lhe a cabeça em diversos
sentidos, explorando-lhe cada vez mais a boca, cada movimento da língua
provocando ondas de calor e de excitação.
Tornava-se cada vez mais difícil pensar. Parecia estar envolvida num
turbilhão de emoções. Tudo fora tão diferente com Russell. Impossível comparar.
Nem remotamente já vivenciara tais experiências.
Ao ouvi-la emitir um gemido profundo, ele estremeceu e apertou-a ainda
mais. Com uma das mãos acariciava-lhe os cabelos. A outra descia lentamente
pelas costas, desde o pescoço ate ás nádegas. Agarrou-a com mais força ainda,
levantando seu corpo e o pressionando contra o seu. Ela pôde sentir sua
excitação física em toda extensão.
Mais uma vez, ele abandonou-lhe os lábios, passando a percorrer o
pescoço, deixando traços úmidos devastadores do caminho percorrido. Quando
ele começou a sugar sua pele, ela pendeu a cabeça para trás, em puro êxtase.
Mais uma vez ele a surpreendeu, erguendo-a nos braços e começando a
transportá-la através da sala.
— Onde fica seu quarto? — ele indagou rouco, já se encaminhando para a
escada.
— É o primeiro aposento, do lado direito — ela gaguejou, mo-
mentaneamente atônita pela rapidez com que tudo se desenrolava.
Apenas quando ele começou a galgar os degraus dois a dois, ela se lembrou
de um impedimento óbvio para o que pretendiam.
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Serei seu amigo, se ainda o desejar. Creio que você não dispõe de muitos. Mas,
por favor, não complique as coisas apaixonando-se por mim. Seria mais um
fracasso, após o ocorrido com Russell. Dê tempo a si própria para situar os pés
na realidade, antes de partir para um novo romance. Outro homem há de
aparecer, no momento adequado. Alguém de sua idade, que a amará de verdade e
não a magoará. Enquanto isso...
— Enquanto isso — ela repetiu, o coração palpitando.
— Enquanto isso tomarei os devidos cuidados para não cair sobre você
novamente — ele declarou, o rosto marcado por uma expressão cínica. — Você é
uma garota sensual, fácil de ser excitada. Por qual razão Russell afirmou que
você era insípida na cama, não faço a menor idéia! Talvez precise começar a
praticar/ogg/rtg(*)... ou, talvez...
Audrey sentiu o estômago contorcer-se. Percebia que ele avaliava se não
seria o caso de arranjar uma amante. Alguém muito experiente, que lhe
preencheria as necessidades sexuais e asseguraria que ele agisse apenas como
um amigo "seguro" em relação a ela.
A desolação a invadiu. Não precisa fazer isto, desejava gritar-lhe. Não sou
mais tão jovem, ou tão inexperiente e ingênua. Conheço os perigos. Sei que você
só deseja sexo. Compreendo. Só desejo ficar a seu lado e confortá-lo. Não rejeite o
meu amor. Não o deixe enfraquecer e terminar, sem ser desfrutado, plenamente
realizado...
Mas ela apenas fitava o belo rosto, as palavras explodindo no coração. Nada
disse. Seu suspiro desolado despertou Elliot do próprio devaneio.
— É melhor você ir para a cama, Audrey — ele aconselhou. — Parece muito
cansada.
Ela anuiu resignada, detestando-se pelo próprio silêncio, embora
reconhecendo que de nada adiantaria oferecer-se como amante para Elliot. Ele
recusaria. Ela tentava convcnccr-sc dc que ele estaria tentando protegê-la de
mágoas futuras. Mas, uma voz familiar em seu íntimo, sussurrava que se ela
fosse realmente bela e sexy, ele não conseguiria afastar-se com tanta facilidade.
— Não precisa incomodar-se em me acompanhar até a saída — ele
declarava. — Conheço o caminho. Às dez, amanhã, será muito cedo para você?
— Poderia, por favor, vir às onze? — ela indagou hesitante. Tinha o
pressentimento de que demoraria muito a adormecer, apesar do cansaço.
— Combinado, às onze, então — ele concordou, adiantando-se para beijá-la
ligeiramente na testa. — Boa noite, querida aniversariante.
Audrey o observou afastar-se, o coração mergulhado em tristeza.
— Oh, Elliot — ela suspirou. Voltou-se, então, dirigindo-se ao quarto de
dormir.
Estava certa. Levaria muito tempo até conseguir pegar no sono.
CAPÍTULO V
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com ele na cama, ou não faria uma afirmação tão ingênua. — Olhou a enteada
com ar de piedade. — Não se iluda.
E com estas derradeira palavras, ela se retirou. Audrey não conseguia
controlar o tremor. Miserável! Ciumenta, invejosa!
Ainda estava sentada, tentando controlar a raiva e a dor quando, alguns
segundos após, o relógio do avô bateu às onze horas. Quase ao mesmo tempo,
soou a campainha.
— Deve ser Elliot — ela gemeu.
Que diferença da noite anterior, quando se alegrara tanto com sua
chegada. Sentia-se desesperada. A custo levantou-se do banco e se dirigiu com
relutância para a porta. Não fosse por Lavínia, ela lhe diria que mudara de ideia,
e que preferia aprender a dirigir numa auto-escola. Terminaria portanto a
amizade que podia lhe trazer a inda mais tristeza. Mas não suportava a idéia de
dar esse gosto para a madrasta.
Mas, ao alcançar a porta da frente, ocorreu-lhe uma idéia que eliminaria o
problema de Lavínia por completo.
Porém, uma vez mais, a visão de Elliot a distraiu. Usava tramtng(*) azul-
marinho, com gola de capuz e camiseta branca por baixo. Parecia mais sexy que
nunca. Talvez a barba por fazer lhe desse esse ar viril. Ou seriam os cabelos em
desalinho, caindo sobre a testa. Ou as roupas informais, chamando a atenção
para o corpo atlético, desde os ombros largos, até os quadris estreitos e as pernas
longilíneas e musculosas.
Uma série de lembranças veio à tona. A sensação daquele corpo forte a
enlaçá-la a invadiu.
— Bom dia, aniversariante — ele saudou, os olhos cinza sorridentes. —
Belo dia, não? O sol brilhando. Sem vento. O melhor tempo do inverno em
Sydney. Acordei às sele, e pratiquei jogging. Hei — ele a fitou de perlo. — Não
parece tão animada. Tem certeza de que deseja começar hoje a aprendera dirigir?
Posso voltar amanhã.
— Não — ela afirmou resoluta. — Inútil adiar o desagradável.
— É desta maneira que pensa a meu respeito? — Elliot riu — Como
desagradável?
— Não se trata de você, Elliot. Refiro-me a aprender a dirigir. Devo adverti-
lo, no entanto, que talvez eu seja inapta a qualquer forma de aprendizagem.
— Impossível! — ele exclamou sem hesitação. — Você é o tipo da aluna
rápida. — Seus olhos passearam um momento por seu rosto e cabelos, antes de
descerem para admirar a camiseta cor de pêssego. — Você demonstrou muita
sensibilidade, mantendo seu cabelo para o alto, bem como usando uma
maquilagem neutra e descobrindo que cores em tom pastel a favorecem muito
mais do que as cores muito vivas.
Audrey sentiu-se ruborizar de prazer. Ao acordar, havia examinado seu
guarda-roupa, jogando fora tudo o que não lhe agradava. Decidira vestir a
camiseta simples que Elliot admirara, e seu jeans favorito, cinza stone-washed.
Porém ele fitava o jeans de sobrecenho carregado.
— Estas calças compridas, no entanto — ele acrescentou aborrecido —,
sugiro que você os deixe no armário, no futuro, quando sair comigo.
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— Não consigo entender nada — ela declarou, agitada. — Por que ela me
detesta tanto?
— Mulheres como Lavínia não detestam — Elliot pronunciou seguro. — Isto
pressuporia certa capacidade de amar. Elas competem. Com todas as outras
fêmeas que apareçam em seu círculo. Elas querem, ou melhor não, necessitam
ser o centro da atenção. Elas acreditam que isto só ocorra em função de sua
aparência. Lavínia veria qualquer mulher como uma ameaça potencial, Audrey. E
você, mais que ninguém.
— Mas nada disto faz sentido! — Audrey explodiu. — Como poderia eu
competir com a aparência de Lavínia? Quero dizer... nunca serei tão bonita como
ela.
— Oh, eu não diria tal coisa. Você estava muito atraente ontem à noite. E
você também é jovem, suave e inocente. Atributos que ela jamais voltará a
possuir. Além disso, há muitos tipos de beleza, Audrey. Sem dúvida, Lavínia
possui uma beleza marcante, mas um tanto notória. Alguns homens não
apreciam tal tipo.
— Você parecia apreciar, há pouco, na porta de casa — ela rebateu, sem
conseguir se controlar.
Elliot diminuiu a velocidade num sinal amarelo, lançando-lhe um olhar
sardónico, quando o carro parou.
— Eu já estava esperando sua reação. Vi que se surpreendeu pelo fato de
eu fitar os seios que despontavam através do peignoir entreaberto. Ouça, sou um
homem norma, Audrey. Consigo admirar a obra da mãe-natureza ao produzir
uma bela mulher, sem no entanto esquecer que se trata apenas de uma simples
fachada. Nada mais. Prefiro ir para a cama com você, meu amor, e não com sua
madrasta.
— Apreciaria que você não fizesse tal tipo de comentário — ela gaguejou,
sentindo as faces ruborizarem.
— Por quê?
— Bem eu... eu.. — ela não conseguiu terminar, aborrecida pela sua
insensibilidade em não poupá-la.
— Porque ainda quer fazer amor comigo? — ele ajudou calmamente.
Ela enrijeceu.
— É melhor que você o reconheça. Ou poderei imaginar que ainda não
decidiu assumir o controle de sua vida.
Ela se voltou, encarando-o. Surpreendeu-se com a calma de seu olhar. Ele
tinha razão. De que adiantava resolver ser diferente, se ainda agia da mesma
maneira?
— Sim — ela confessou, mas, a voz soava estranha, parecia de outra
pessoa.
— Sim, o quê? — ele apressou-se a perguntar, os olhos brilhantes.
— Sim, ainda desejo que façamos amor.
Sentiu-se satisfeita ao conseguir anunciar seus desejos em voz firme e
segura.
Ele sustentou seu olhar por um tempo que parecia enorme. O silêncio
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— Você... você afirmou que eu deveria procurar pelo amor, Elliot — ela
explodiu. — Não apenas sexo.
— Sim, bem, isso foi ontem à noite — ele murmurou, lançando-lhe um
olhar cínico. — Acho que me deixei levar pela minha atitude de cavaleiro galante.
Hoje a história é diferente, especialmente com você usando esses jeans tão justos!
— Seu olhar passeou pelas coxas onde a calça se ajustava como uma segunda
pele. — Olhe Audrey, não pode esperar...
Elliot interrompeu-se, quando os carros atrás começaram a buzinar,
protestando. Há muito tempo, pelo jeito, as luzes tinham se acendido no verde.
Ele murmurou algo baixinho e o carro saltou para a frente, aos solavancos.
— É ridículo... Eu sabia que não devia me envolver com você. Sabia que
seria um erro. Talvez você não seja uma virgem, mas ainda é uma criança, uma
criança tola e ingênua, brincando de mulher, me provocando e então...
— Elliot — ela gritou, ao perceber o Magna desviar-se, aproximando-se
perigosamente de um caminhão no outro sentido.
Desta vez ele não se limitou a resmungar. Praguejou alto e em bom som,
retomando o carro à pista, num pequeno espaço entre dois carros. Na primeira
oportunidade, desviou para uma transversal sossegada, e freou bruscamente.
Desligou o motor. Voltou-se para Audrey, encolerizado.
Mas não pronunciou nenhuma palavra de admoestação, pois ela parecia
paralisada, o rosto branco como um fantasma. Tremia como uma folha.
— Oh, meu Deus — ele resmungou. — Esqueci que você passou por um
acidente traumático. Desculpe-me. Que idiota sou!
Ele soltou ambos os cintos de segurança, e aninhou-a o melhor possível
nos braços, considerando-se o exíguo espaço da parte da frente do carro.
— Vamos, reaja, está tudo bem, não aconteceu nada, estamos salvos, o
carro está parado. Elliot está aqui... tomarei conta de você.
E tudo recomeçou. De repente, ele estava acariciando seus cabelos.
Levantou-lhe o queixo e beijou-a, suspirando resignado.
Audrey gemeu. Percebia que estava se desviando de sua recusa anterior.
Correspondia à linguagem corporal. Sua ansiedade em abrir os lábios a traíam.
Sentia as carícias sobre os seios e quase soluçou de prazer quando ele provocou
uma maravilhosa raeção de um dos bicos.
— Elliot — ela gritou, lutando para respirar.
— Mmm? — ele apenas desviou a boca para devorar-lhe a orelha, sem
interromper sua intenção erótica. Já conseguira desabotoar a blusa, continuando
a esfregar o bico intumescido através da seda do sutiã.
— Ainda não podemos — ela conseguiu dizer.
— Eu sei...
— Pare... por favor.
— Não — ele reagiu. — Não, enquanto você não me prometer um
relacionamento total comigo assim que tiver obtido sua habilitação de motorista.
— Está bem, prometo qualquer coisa. Mas pare com isto.
— Não quero — ele queixou-se.
— Você não está sendo justo.
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— Nem você.
— Elliot, por favor...
Ele deixou-sc reclinar no assento, liberando-a. Ela tremia quase tanto como
no início.
Elliot suspirou, frustrado, mais uma vez.
— Sinta-se livre de mudar de idéia, Audrey — ele declarou tenso. — Não
vou cobrar-lhe uma promessa realizada sob pressão sexual. Não sou tão
bastardo.
Audrey cerrou os olhos tensa. Sua cabeça ainda girava. As acusações
iniciais de Elliot voltaram-lhe à mente. Ele afirmara que ela estava brincando de
mulher, reduzindo-o em frangalhos... E não era exatamente isso o que voltara a
ocorrer?
Já estava na hora de amadurecer, ela decidiu. Já era tempo de entender
que há uma diferença entre o que se quer e o que se pode ter.
— Não mudarei de idéia — cia afirmou resoluta. — Eu o desejo Elliot. Acho
que sempre o quis, desde o primeiro instante em que nos conhecemos. — A voz
traía um ligeiro tremor.
Ele surpreendeu-se ao ouvir tal declaração. Depois pareceu preocupado.
— Sei que você está preocupado. Imagina que eu tenha ficado abalada por
meu rompimento com Russell — ela apressou-se a explicar. — E é admirável de
sua parte. Mas, você não é meu guardião, Elliot. Você mesmo afirmou que o
principal fator para eu decidir ir para a cama com um homem deveria ser a
minha vontade e decisão. Bem, quero fazer amor com você, mais do que jamais
acreditei possível. Mas não sinto apenas desejo por você, Elliot.
— Por favor — ele interrompeu abrupto —, não vá dizer que me ama!
— Não tenho a menor intenção de dizer tal coisa. — E ela não o fez. Não
arriscaria o pouco que conseguira dele. — Eu apenas estava tentando explicar
por que não gosto de reduzir nosso relacionamento a um simples fim de semana
de sexo. Desejo mais para nós dois. Eu... realmente gosto e admiro você, Elliot.
Você tem tarimba social, é sofisticado e muito seguro de si mesmo. Tudo o que
jamais fui ou tive, mas amaria alcançar. Acho que posso aprender muito se
passar algum tempo com você.
Nesse momento, os olhos do companheiro deixavam transparecer uma
ironia irreverente, que a feria.
— Você está falando de modo geral, Audrey? Ou estamos de volta ao sexo?
Ela sentiu-se reconfortada por não corar demasiado. Sua boca devolveu-lhe
um riso intencionalmente provocador.
— Acredito que algumas lições nesse departamento me fariam muito bem.
— E imagina que eu seria um instrutor ideal? — foi a vez dele rir.
— Sim, muito — ela anuiu.
Seus olhos se abriram depois estreitaram, desejo inegável faiscando de
suas profundezas.
— E qual lição deseja iniciar esta tarde? — ele inquiriu, rouco. Uma
sensação de poder invadiu Audrey ao ouvir o tom rouco de Elliot, percebendo sua
excitação. Se ele a desejava tanto, então ela era uma mulher desejável, uma
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CAPÍTULO VI
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Audrey. Em geral há outro motivo bem definido. Já lhe ocorreu que Elliot Knight
possa estar interessado em seu dinheiro? Afinal de contas, ele já foi casado com
uma rica esposa.
Audrey enrijeceu o corpo, ultrajada. Em verdade, Edward podia levar a
falta de tato meio longe, algumas vezes.
— Não penso que...
— Peço desculpas pela minha rudeza — ele interrompeu —, mas, sei que
seu pai não a advertiria.
Audrey confundiu-se ante tal assertiva.
— Por que ele não o faria? — conseguiu indagar, hesitante. Edward voltou-
se, caminhando devagar para sua mesa, a pasta na mão.
— Porque ele não acha que seja errado um homem desposar uma mulher
por dinheiro.
Audrey sentiu um aperto na garganta.
— Você é uma moça atraente, Audrey — prosseguiu o chefe com a máxima
gentileza. — Muito mais atraente do que eu leria imaginado. Você desabrochou
tarde. Merece mais que os Russells deste mundo. Aliás, talvez lhe interesse saber
que despedi Russell ontem.
Audrey quase engasgou pelo choque.
— Eu o apanhei surrupiando no estoque de carros. Não posso admitir esse
tipo de coisas. Também demiti Diane.
— Diane? Mas, com certeza ela não estava furtando, também?
— Não. Mas ela parecia exercer uma má influência num membro muito
digno de meu staff. Uma semana atrás eu sugeri com sutileza que ela se sentiria
mais feliz trabalhando em outro lugar.
Audrey não sabia o que dizer. Jamais lhe ocorrera que o chefe se
importasse com sua felicidade.
O sorriso de Edward era caloroso.
— Como já expliquei, não desejo perdê-la, Audrey. Além disso — seu
sorriso se ampliou, usando o máximo de charme —, preocupo-me com meu
trabalho. Já vejo você dirigindo a empresa um dia desses.
— Eu? — ela se surpreendeu.
— Sim, você tem tino para administração e organização. Também possui
instinto para máquinas. Você conhece mais sobre computadores, impressoras e
copiadoras do que qualquer outra pessoa. Até conseguiu consertar sozinha uma
máquina de escrever na semana passada... Aposto que será uma excelente
motorista.
— Sim, chegarei lá — ela confirmou, exprimindo orgulho e confiança na
voz.
— Ótimo! Apenas uma coisa, entretanto — ele sentiu-se no dever de
acrescentar—, não entregue o coração muito depressa ao instrutor. Quando ele
começou a se afastar, ela se ergueu de chofre(*).
— Edward! — chamou.
— Sim? — ele se deteve, voltando-se com ar sério.
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— Por que você disse isso sobre Elliot? Está a par de algo que eu
desconheço?
— Em absoluto. Mas, tenho a impressão que você também o conhece muito
pouco. Que sabe a respeito de sua família, seu passado, sua situação?
— Não muito — ela admitiu devagar. Nada, em verdade, ela percebeu,
sentindo um sobressalto doentio.
— Então, você já deve começar a perguntar, antes que seja demasiado
tarde.
O conselho de Edward não saiu da cabeça de Audrey o dia inteiro. Em
nenhum momento acreditou que Elliot estivesse atrás de seu dinheiro. Se assim
fosse, ele a teria perseguido desde o início. No entanto, ela deveria informar-se
mais sobre o homem com quem pretendia ir para a cama dentro de uma semana.
O amor não precisava ser tão cego.
Quando encontrou Elliot esperando do lado de fora do escritório,
pontualmente às quatro e meia, ela não se encontrava com vontade de praticar
na direção.
— Elliot — propôs, ao entrar no carro — será que poderíamos cancelar a
aula esta tarde? Seu olhar era penetrante.
— Claro. Alguma razão particular?
— Sim, eu... — de repente ela sentiu-se incapaz de prosseguir. Havia
decidido fazer-lhe todas as perguntas que a atormentavam. Mas não podia. Nem
queria. Talvez fosse uma covarde, mas receava descobrir algo que a impediria de
passarem o próximo fim de semana juntos. Ela reconhecia que era estúpido e
fraco de sua parte, mas não podia evitá-lo.
— Eu, bem, marquei hora no cabeleireiro — ela inventou desesperada. —
Como você me pegará amanhã às onze horas para irmos às corridas, não disporei
de tempo. Preciso aproveitar esta tarde. Ficam abertos ate às nove da noite, nas
sextas-feiras.
Ele lhe lançou um olhar preocupado.
— Que pretende fazer com seus cabelos?
— Ainda não estou certa. Acho que vou cortá-los, e mudar a cor também.
— Sim, acho que seria uma boa idéia.
— Não estava pedindo sua aprovação — ela cortou brusca.
— Hum, como está melindrosa hoje! Teve um mal dia no escritório?
— Absolutamente — ela mentiu, com um tom que a flagrou. — Edward
contou-me que Russell foi despedido, e que Diane também sairá do emprego. Eu
não poderia sentir-me mais feliz.
— Ah, entendo. — Elliot falou em tom seco.
Ela evitava olhar para seu lado, embora fosse evidente que ele não estava
entendendo nada. Imaginaria talvez que ela estaria aborrecida porque Russell
partiria? Na verdade, sentia-se zangada consigo própria por não conseguir fazer
simples perguntas a Elliot. O que receava? Elliot sempre fora honesto com ela.
Tudo bem, ele não gostava de falar a seu respeito. E daí? Muitos homens eram
deste jeito.
— Qual o caminho para o seu cabeleireiro? — ele indagou brusco.
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temendo perdê-la? Mas tais idéias eram ridículas! Ela estava imaginando coisas.
Edward pusera idéias em sua cabeça, idéias que não se baseavam wm fatos.
Elliot talvez não fosse um santo, mas era honrado w ela o amava. Ela o amava w
desejava. E, o mais importante, ela o possuiria. E nada, absolutamente nada,
interferiria em seu caminho!
CAPÍTULO VII
Audrcy chegou em casa depois das nove horas da noite. Estava subindo as
escadas, quando foi surpreendida por Lavínia. A madrasta, carrancuda, ficou
ainda mais lívida ao deparar o penteado de Audrcy.
Mas já estava preparada para tal reação. Substituíra a permanente
exagerada por uma ondulação suave e um corte moderno, que lhe emoldurava o
rosto. Os cabelos se repartiam de lado, e formavam uma curva ao lado das
orelhas e das faces. A nova cor, um cálido loiro, lustroso e dourado, realçava sua
pele.
— Meu Deus! — Lavínia exclamou zombeteira, os olhos negros faiscando.
— O que você fez nos cabelos?
— Nada — retorquiu alegre. — Em verdade foi tudo obra de meu novo
cabeleireiro.
— Muito esperta, Audrey — A mulher sorriu com desdém. — Devo declarar
que a sua maioridade não melhorou em nada seus modos. Ou talvez seja efeito
da companhia atual. Mas creio que deva nos informar quando não vem jantar. A
pobre Elsie cozinhou em vão para você!
— Tentei telefonar do instituto de beleza. Mas a linha estava sempre
ocupada. Além disso, você me havia dito que jantaria fora com papai e Elsie
sempre vai a um cinema nestas ocasiões. Não imaginei estar perturbando
ninguém.
— Bem, seu pai precisou ficar em casa, aguardando algumas ligações
internacionais de negócios.
— Como poderia adivinhar, Lavínia?
— Adivinhar o quê? — indagou uma voz masculina.
A expressão da madrasta mudou completamente ao avistar o marido. A
agressividade dissipou-se, dando lugar à timidez.
— Sobre nossa permanência em casa, querido — ela continuou — Parece
que Audrey não saiu com Elliot. Ela foi ao cabeleireiro.
Warwick Farnsworth escrutinou(*) a filha sorridente.
— Sem dúvida ela foi! Audrey querida, como está diferente! Se tivesse
passado na rua a seu lado não a teria reconhecido. Está tão diferente, com a cor
loira. Mais velha... sofisticada.
— Obrigado, papai. Também gosto muito de minha nova aparência.
Entretanto Lavínia não aprovou.
Ele fitou a esposa com estranheza.
— Não sei por que ela não aprovaria. E percebo que também andou fazendo
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compras. — Ele acenou para inúmeras sacolas de plástico que ela carregava.
— Sim. Amanhã acompanharei Elliot às corridas. Achei que seria a ocasião
de estrear uma nova roupa.
Warwick pareceu surpreso.
— As corridas? Corrida de cavalos ou de carros?
— De cavalos. Lavínia não lhe contou? Elliot possui uma parte na posse de
um cavalo, uma égua chamada Little Girl Pink.
— Não. Ela não me contou nada. — Sua boca exprimia tensão ao trocar um
olhar com a esposa. Era o primeiro leve indício de que o relacionamento, entre os
dois não ia bem. Mas Audrey não sentia nenhuma simpatia especial pelo pai. Ele
desposara uma mulher por dinheiro e outra por sexo. Nenhuma das duas razões
ela louvava.
—-Bem, vou subir. Preciso preparar muitas coisas antes de dormir. E foi o
que fez.
O tempo passado no instituto de beleza fora proveitoso. A dona do salão era
muito amiga da gerente da butique ao lado. Trocaram idéias e, enquanto ela
secava os cabelos, diversos trajes foram exibidos para sua apreciação. Escolheu
novos vestidos e conjuntos, e, também, acessórios, combinando. Também fora
persuadida a maquilar o rosto com o esteticista do salão e, em conseqüência,
adquirira uma série de cosméticos e artigos de beleza.
Audrey entrou no quarto e esvaziou todas as sacolas sobre a cama. Tratou
de arrumar primeiro os potes e frascos e escovas sobre a penteadeira. Depois,
sentou-se junto ao espelho, admirando sua nova aparência.
Naturalmente, a principal mudança estava nos cabelos. Mas, apreciava
também a maneira como o esteticista contornara suas sobrancelhas. Quanto aos
olhos... pareciam maiores sob o efeito das sombras bege e marrom. Sem
mencionar o efeito do rímel nos cílios.
Acompanhou com as mãos, o contorno das faces, sem reconhecer-se. Uma
aplicação correta de blush as realçava. A boca também parecia menos infantil,
pois o delineador e o batom brilhante produziam um efeito adulto. Audrey
avaliou-se. Será que sua aparência poderia ser considerada sexy? Ou ela estava
indo longe demais em suas expectativas? Talvez pudesse se considerar
sofisticada. Sim. Era esta a palavra. Elliot aprovaria? Sentiu o estômago contrair-
se.
Mergulhou na cama, rolando sobre as costas e rindo de felicidade. Elliot...
Saltou fora da cama, sentindo nova onda de alegria ao avistar-se mais uma
vez no espelho.
— Me aguarde, Elliot Knight!
— Não acredito! — exclamou Elliot, assombrado, fitando Audrey, que saía
de casa, fechando a porta atrás de si com firmeza.
— Não gostou? — indagou, porém consciente do brilho de admiração no
olhar perplexo.
— Não gostei de que, deseja saber? — ele indagou rindo. — Dos cabelos, do
rosto, ou do vestido deslumbrante?
Ela corou de prazer.
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se esse fosse seu plano. Ela poderia sentir-se apaixonadíssima, e estar preparada
para entregar-se a com ele. Mas enquanto não o conhecesse melhor, sua relação
não passaria desse patamar.
Logo divisaram a pista de corridas, o enorme campo relvado contrastando
com as chaminés das fábricas vizinhas e seus telhados.
Audrey jamais estivera em Roschill. Já freqüentara Randvvick(*) em um dia
de Derby, quando o pai havia sido convidado por uma de suas relações
milionárias. As corridas pareciam ser prestigiadas por pessoas desse gênero.
Proprietários abastados, ou homens de negócios muito ricos, a quem agradava
impressionar eventuais clientes, proporcionando-lhes um dia de entretenimento
magnífico junto ao esporte dos reis.
Os amigos de Elliot seriam pessoas desse tipo?
Tais reflexões lhe provocaram extrema agitação. Mudara de aparência. Para
muito melhor. Porém, não se transformara, da noite para o dia, numa pessoa de
traquejo social. Obter sucesso, jantando com pessoas amigas era bem diferente
de precisar conversar com estranhos.
— Elliot! — ela não conseguiu se conter mais.
— Sim?
Ele parecia distraído, concentrando-se em manobrar com cuidado no
estacionamento cheio de carros. Um atendente dirigia os veículos para diversos
lugares, embora nem todos obedecessem. O carro a sua frente, por exemplo,
começou a dar marcha a ré. Audrey entrou em pânico.
Elliot resmungou impaciente, virando a direção para o lado e abrigando-se
num espaço livre entre um Mercedes azul escuro e um Rolls-Royce prateado.
Embora a jovem se sentisse aliviada, a visão das pessoas bem vestidas saindo
desses carros, só fez aumentar-lhe o nervosismo.
— Elliot — ela repetiu.
— Sim? — ele desligou o motor e retirou as chaves do contato antes de se
voltar para ela.
— Não me contou nada sobre as pessoas com quem ficaremos. Quem são?
— Co-proprietários do cavalo. Gente simpática. Não precisa se preocupar.
— Mas estou muito preocupada — ela repeliu tensa. — Gostaria ao menos
de conhecer seus nomes e um pouco a seu respeito. — Quero dizer. — ela deu de
ombros desanimada.
Ele virou-se para apanhar os formulários das corridas e os binóculos que
estavam no banco de trás.
— O sr. Nigel Evans e sua esposa serão nossos anfitriões. Conheço a ambos
muito bem. Nigel era o editor de Moira. O nome da mulher dele é Yvonne. O outro
casal é Bill Dayton e sua esposa Joyce. Possui uma gráfica. Estará presente mais
um casal de sobrenome Gregson. O nome do marido é Mike, mas esqueci o da
esposa. Helen, acho. Na verdade, são mais amigos de Moira do que meus — ele
explicou. — Lillle Pink Girl, a égua, pertencia a ela. Cavalos jamais foram minha
paixão, como pode imaginar.
Audrey tentou ignorar a informação sobre as "paixões" da ex-esposa, e,
respirando fundo, encarou-o com firmeza.
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— Não. Não imagino nada. Como poderia? Desconheço tudo sobre Moira.
Ou sobre seu casamento. Andei me perguntando quando você esclareceria mais a
este respeito. Antes, ou depois que dormirmos juntos.
Audrey sentia-se orgulhosa por ter conseguido, afinal, exprimir suas
dúvidas, embora sentisse as mãos tremerem descontroladas.
— Em nenhuma das duas ocasiões — ele declarou exacerbado.
— Por que não?
Ele adiantou-se, olhando-a irritado.
— Pelo amor de Deus, Audrey. Não vejo o que meu casamento com Moira
tem a ver conosco. Está terminado. Deixe tudo como está! Levei um ano para
superar meu sentimento de culpa em relação a Moira! Não quero tocar no
assunto.
— Culpa? — ela balbuciou. — Culpa por quê?
— Pela sua morte — ele explicou tenso. — Audrey sentiu-se aliviada. —
Sempre me censurei por estar ausente há tanto tempo quando ela adoeceu. Eu
sabia que não estava bem e não deveria ter partido.
— Partido para onde? Onde você estava?
— No exterior. Na Europa. Tinha sido chamado para colaborar no
planejamento das competições de esqui que ocorreriam no ano seguinte.
Audrey o fitou surpresa. Ele notou sua expressão e reagiu sério.
— Já lhe contei que eu esquiava. Em verdade, costumava esquiar
profissionalmente. Sou bastante conhecido nos círculos internacionais desse
esporte.
— Oh... bem, eu não estava a par.
— Por que estaria? O esqui não é objeto de grande publicidade na Austrália
e já não participo há alguns anos.
— Mas eu já deveria ter perguntado sobre você mesmo antes — ela
declarou, franzindo a testa.
— Sim, acho que você deveria — ele a examinou. — Está perguntando,
neste momento?
Ela sentiu o coração disparar, mas agüentou firme.
— Sim... — anuiu.
— Neste momento?
— Sim.
Ele suspirou, aparentemente divertido.
— Você escolhe momentos bem estranhos, Audrey, meu amor. — olhou de
relance para o relógio. — Suponho que posso lhe fazer um breve resumo.
Vejamos... Sou filho único. Meu pai abandonou minha mãe quando eu era ainda
um bebê. Minha mãe morreu logo após minha formatura do ginásio. Consegui
uma bolsa para a universidade e esquiava durante as férias. Tornei-me um
advogado, trabalhei e economizei. Aos vinte e sete anos, parei de trabalhar
durante dois anos, dedicando-me ao esqui em tempo integral. Aos vinte e nove,
esmaguei meu joelho direito numa queda e abandonei as corridas. Retomei à
Austrália, voltei ao trabalho, conheci Moira numa festa. Logo começamos a viver
juntos e depois nos casamos. Você sabe o resto.
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CAPÍTULO VIII
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comentou Yvonne. — E com alguém tão jovem e bonita. Nigel e eu temos estado
muito preocupados a seu respeito. Suponho que esteja a par de seu enorme
sofrimento pela morte da esposa.
Audrey confirmou, mas sua mente fervilhava pela ênfase que a
companheira dera à palavra jovem.
Yvonne, num gesto de afeição, enlaçou-lhe a cintura.
— Você me consideraria rude, seu eu perguntasse se vocês dois estão
namorando sério?
— Em verdade não! — exclamou Audrey — só nos conhecemos há duas
semanas.
A outra mulher anuiu num gesto de compreensão.
— Percebo. Bom, de qualquer modo, ainda é cedo para pensar em
compromissos. Mas tenho certeza que Moira ficaria muito feliz se vocês dois já
estivessem nesse ponto. — Ela deu uma risadinha — Não se surpreenda, minha
cara. Moira não era possessiva. Ela teria desejado que Elliot voltasse a se casar,
que não retornasse a seu estilo de vida anterior. Sem dúvida ele agia como um
conquistador, antes de desposar Moira.
— Ouvi a respeito — concordou Audrey.
— Sim? Quem lhe contou?
— O próprio Elliot.
— Engraçado, Não é de seu feitio. Em geral costuma ser muito reservado
sobre sua vida particular. Para dizer a verdade, se Moira não tivesse sido uma
amiga muito especial, jamais teria satisfeito minha curiosidade sobre sua pessoa.
Ele deve tê-la em alta estima, para ter se aberto com você.
Audrey se entristeceu. Ela não sabia tanto assim.
— Será que eu falei alguma bobagem? — Yvonne indagou apreensiva.
— Não, não. Em verdade eu gostaria de conhecer mais a respeito de Elliot.
Mas devo respeitar sua privacidade.
— Tolice! Nós, mulheres, devemos nos aliar. Eu lhe direi tudo o que desejar
saber. Pode começar a perguntar!
Como ela poderia resistir?
— O casamento de Elliot com Moira foi um casamento de amor?
— Aí está uma pergunta difícil de responder. Bem, certamente, foi do lado
de Moira. É claro que houve muita especulação, pelo fato de Moira ser famosa e
rica. Murmurava-se que ele era interesseiro. Mas eu jamais engoli tais fofocas.
Elliot possuía uma excelente posição como advogado numa grande companhia. E
também obtivera enorme sucesso nas pistas de esqui. Além disso, ele parecia se
preocupar com ela. Muito embora eu hesite em empregar a palavra amor. — Ela
suspirou. — Moira costumava dizer que ele sempre relutaria em depositar sua
confiança em uma mulher, após o comportamento da mãe.
— Sua mãe? — Audrey interessou-se.
— Não sabia? Diga-me, minha cara, o que Elliot lhe contou sobre sua
infância e juventude?
— Não muito. Contou-me que o pai abandonara a família quando ele era
apenas um bebê, e que a mãe morrera após sua graduação no ginásio.
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— Esta versão é bem reduzida. Seu pai o abandonou. Mas a mãe fez o
mesmo, quando ele contava oito anos.
Audrey parecia muito chocada.
— Ela era alcoólatra — Yvonne explicou. — Elliot foi entregue à custódia do
Estado, e o colocaram cm vários lares de adoção.
Mas, ele não se adaptava, e acabou vivendo numa casa para meninos sem
família. Foi um adolescente anti-social. Uma instituição de caridade especializada
em providenciar férias para crianças sem lar, o levou para um lugar de neve
quando ele tinha quinze anos. Ali, descobriu-se que ele possuía um raro talento
para esquiar. Está a par de suas excelentes qualificações nesse esporte?
— Um pouco...
— Ele era fabuloso. Sem mencionar ser superdotado na escola. Os patronos
desta entidade assistencial conseguiram uma bolsa para que ele estudasse direito
numa universidade, e conseguisse praticar esqui no tempo livre. Seu
investimento foi recompensado por Elliot alcançar as notas máximas no curso
superior e tornar-se um esquiador de nível internacional.
— Incrível! — exclamou a jovem, atônita.
— Comenta-se que ele teria conseguido um título de campeão mundial se
tivesse vivido na Europa e não aqui, na Austrália, com nossa carência de
competições desse gênero. Mas ele sempre conseguia se colocar entre os dez
primeiros. Tal fato, e sua bela aparência, facultaram-lhe um lucrativo contrato
com uma companhia européia de roupas de esquiar.
Yvonne suspirou, mergulhada em lembranças.
— Não que Elliot tivesse contado tudo isso a Moira, pessoalmente —
prosseguiu. — Ela obteve informações através de outras fontes ao longo dos anos,
muito antes que eles se encontrassem. Pois Moira fazia parte do grupo de
patronos que o ajudou.
Mas a companheira não era do tipo de manter silêncio muito tempo c
continuou:
— Ela mesma me disse que o conheceu durante uma festa em Perisher
Valley, em que se celebrava o término da estação de esqui. Sua beleza havia
virado a cabeça da maioria das mulheres presentes. Ele já possuía a reputação de
irremediável conquistador, especialmente de mulheres mais velhas, que só
desejavam sexo de uma relação. Divorciadas... viúvas... executivas... esposas
infelizes.
Audrey sentiu um tremor gelado.
— Bem, mas a vida no circuito de esqui internacional é assim mesmo —
Yvonne continuou com franqueza. — Moira achou divertido observar esse
comportamento de Don Juan a distância. Mas quando ele tentou, com o maior
cinismo, seduzi-la, sentada numa cadeira de rodas, ela se alarmou.
Yvonne deu uma risada com gosto, ao lembrar tal situação. Mas Audrey
lutava para assimilar tanto a informação sobre o Elliot mulherengo, como o fato
de Moira ser uma inválida.
— Acredite-me quando afirmo que Moira parecia uma serena lady —
prosseguiu Yvonne. — Mas era só aparência. Ela reagiu com firmeza a seus
galanteios, sendo mesmo rude em público. Depois o ignorou pelo resto da noite.
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conceituado. Aqui se afirma que com seu peso e excelente posição na pista, ela
tem mais chances que os demais cavalos.
— Fala como um verdadeiro apostador! — Nigel brincou.
— Não se trata apenas disso — ela sorriu —, o jockey usará as cores creme
e preto, minhas cores.
— Oh, bem, neste caso — Elliot caçoou divertido —, seguirei o conselho da
especialista e não darei ouvidos à avaliação do treinador!
Quando os cavalos começaram a primeira corrida, sentiu-se contagiar pela
excitação do ambiente. Procurava acompanhar todos os detalhes.
— Como é bonita! Que belo desempenho! — elogiou.
Elliot apanhou o binóculo de volta c comentou sério:
— Desempenho? Você usa uma linguagem bastante apropriada para
alguém que afirmava nada conhecer sobre corridas de cavalos! — ele estranhou.
— Ouvi Nigel usar o termo ao preparar suas apostas — ela confessou,
encabulada.
Todos riram.
— Bem, vamos esperar que os resultados sejam bons — Nigel interveio. —
Creio que ainda está correndo.
— Também espero — Audrey concordou, observando os tickets de aposta
no bolso do paletó de Elliot com agitação crescente.
Little Girl Pink não venceu. Mas chegou em terceiro, para deleite geral.
Todos se abraçaram, congratulando-se. Elliot conseguiu um prêmio de cinco mil
dólares e deu mil a Audrey.
— Para contrabalançar sua perda — ele declarou.
— Oh, mas não posso aceitar! — ela exclamou, ainda ruborizada pela
agitação. — Perdi apenas dez dólares.
— Pegue — ele insistiu. — Corrompa-se. Posso fazê-la merecer tal quantia,
mais tarde — ele gracejou num murmúrio rouco.
Audrey sentia-se chocada e excitada ao mesmo tempo. Talvez ele estivesse
apenas brincando, mas ela não estava acostumada a esse tipo de zombaria
sofisticada. Ele percebeu seu embaraço, e deu-lhe um rápido abraço.
— Você é deliciosa, sabia? Tão deliciosa — pronunciou, acariciando-lhe a
orelha —, que não conseguirei esperar mais.
— Sinto muito, amigos — ele se dirigiu cm voz alta ao resto do grupo —,
mas Audrey e eu precisamos partir. Vamos a uma estação de inverno, para
passarmos o resto do fim de semana.
Audrey conseguiu dominar a surpresa. Por um segundo sentiu excitação.
Mas, logo, outra ideia desagradável a assaltou.
Compreendeu o que Elliot acabara de fazer. Resolveu aguardar o momento
oportuno para se rebelar.
— Precisam partir tão cedo? — queixou-se Yvonne. — Eu estou adorando a
companhia dos dois.
Mas Elliot permaneceu inflexível e conduziu Audrey, através da multidão e
pelo estacionamento de carros.
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escala. Embora nuvens estivessem cobrindo a lua, podia-se avistar os topos das
árvores e umas poucas luzes brilhando à distância.
Ela olhou ao redor, apreciando a decoração luxuosa. Divisou um espesso
tapete cinza, um conjunto de som e televisão negros, sofás de couro vermelho-
escuro e diversas cadeiras. Um enorme aquecedor preto, de combustão circular,
se elevava com nobreza no centro do aposento, seu funil escuro desaparecendo
no teto branco.
Audrey desviou a atenção para a bem aparelhada cozinha, de um branco
imaculado e separada do restante da sala por um balcão de breakfast, junto ao
qual havia três banquetas de couro preto. À esquerda, praticamente à frente da
enorme vidraça, encontrava-se uma mesa de jantar de vidro, com seis cadeiras de
couro vermelho.
Tudo no aposento, era cinza, branco, preto ou vermelho. O efeito
dramático, muito masculino, de tais cores, levou Audrey a acreditar que o lugar
pertencera a Elliot e jamais a Moira. A conclusão a fez sentir-se melhor.
— Fique à vontade — ele sugeriu. — Vou ligar o aquecimento e depois
prepararei algo quente para comer e beber. — Ele deu alguns passos e ligou
alguns interruptores na parede mais distante. — Está gelado aqui dentro! Acho
que vou acender a lareira também.
Audrey se afastou, fingindo admirar a vista. Conseguiu apenas divisar o
que parecia uma imensa massa de água. Jindabyne Lake, ela supôs.
— Feche as cortinas, sim? — ele pediu. Ajudará a conservar o calor.
As cortinas eram de seda preta pesada. Audrey puxou os cordões e ficaram
isolados do resto do mundo. Sem entender a razão, fitou o teto.
— Sim, há outro andar logo acima — Elliot confirmou. — Duas suítes. —
Ainda bem que já está ficando mais quente. Uma das portas que está vendo leva
à escada. A outra para o banheiro. Imagino que queira usá-lo. Eu também. Mas
vá você, primeiro. Quando retomar, sente-se perto do fogo — ele sugeriu,
acenando para um dos grandes sofás situados ao lado do aquecedor. — Deixarei
a porta de vidro aberta, assim ficará aquecida. Vou providenciar uma refeição
para nós. Acha suficiente lasanha e café? Usarei o microondas.
— Parece ótimo — ela declarou e afastou-se apressada.
Dai a pouco, eles se acomodavam à frente de um fogo crepitante, comendo
e bebendo. Parecia que não tinham a menor preocupação no mundo.
Talvez Elliot percebesse sua apreensão. De repente, ele afastou o prato e
deslizou ao longo do sofá. Retirou-lhe da mão a caneca vazia de café e aproximou-
se.
— Chega de adiamento — declarou decidido, e a atraiu para o sofá junto a
si.
CAPÍTULO IX
Elliot estava beijando Audrey antes que ela pudesse dizer palavra. Rolou-a
para debaixo de seu corpo, pressionando-a contra o macio sofá vermelho, com
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seu peso. Ergueu-lhe o rosto com uma das mãos, mantendo-lhe a boca firme
prisioneira de seus beijos apaixonados.
Audrey foi dominada por súbito pânico, ao perceber a evidência rija de seu
desejo, pressionada com urgência entre suas coxas. O nervosismo provocou nova
contração de seu estômago. E se ela o desapontasse? Porém, seu corpo respondia
de modo automático à profunda necessidade que ele evidenciava, e ela se
arqueou contra ele.
Ele arquejou, rolando de lado, quase caindo do sofá.
— Cuidado, Audrey!
Ela se retraiu ante a observação. Sentimentos de autocomiseração a
assaltaram. Ela era uma estúpida, desajeitada e sem esperanças.
— Não, não — ele a acalmou, cobrindo seu rosto entristecido de suaves
beijos. — Não estou aborrecido com você. É que... estou muito, muito excitado,
amor — acariciou-lhe os cabelos, as faces, a boca. — Você é tão encantadora e a
tenho desejado tanto. Compreende o que estou dizendo?
Ela o encarou piscando, o coração aos saltos, a mente em confusão.
— Eu também tenho sentido a mesma coisa — ela confessou,
estremecendo.
— Com certeza você não é frígida... — Quero que você tire as roupas,
Audrey. Preciso vê-la, tocá-la... Aqui mesmo. Mas, se preferir, podemos subir
para o quarto.
— Aqui está bem — ela conseguiu falar rouca.
Ele se inclinou, para voltar a beijá-la, enquanto seus dedos desabotoavam-
lhe os botões do vestido. Logo, vários estavam livres, assim como o fecho
dianteiro do sutiã. Suas mãos começaram a provocar sensações maravilhosas nos
seios macios.
Demasiado maravilhosas. Ela sentia o sangue fluir acelerado na cabeça, o
coração palpitar tão rápido, que receava desintegrar-se. Mas, quando ele ergueu-
lhe a saia acima dos quadris e começou a despi-la das roupas abaixo da cintura,
ela protestou.
— Está tudo bem — ele acalmou-a, sentando-se para continuar a desnudá-
la. E, embora Audrey não se envergonhasse do próprio corpo sentia-se tímida
ante a contemplação direta de Elliot. Jamais teria permitido a Russel olhá-la tão
despudoradamente. Nunca!
Mas, amava Elliot. De verdade. Ele a fitava com tanta admiração e desejo!
— Tem um lindo corpo, Audrey — ele falou com simplicidade, inclinando-se
para beijar os bicos rosados, um de cada vez.
— Oh, Elliot — ela vibrou.
Ele ergueu a cabeça, para filá-la, exibindo um sorriso divertido.
— Aquele homem devia estar louco — ele murmurou. — Não conseguia
enxergar? — E beijou-a com ferocidade, deitando-a, as mãos se movendo pelo
corpo nu. Procurava e encontrava seus lugares mais íntimos, provando-lhe que
Russell conhecera tanto de um corpo feminino, como a Idade Média de música
clássica.
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— Acho que levou meu conselho muito a sério — ele se queixou, e a levou
de volta ao quarto aquecido, estendendo seu corpo úmido sobre o acolchoado de
veludo vermelho da cama.
O toque do tecido sob a pele nua era deliciosamente sensual. Ela se sentia
deliciosamente sensual. Espreguiçou-se como uma gata, colocando os braços sob
a cabeça, regozijando-se com a sensação do plush(*) aquecido na pele molhada.
— Não vá embora — ele caçoou, ao observá-la espreguiçar-se mais uma
vez, e saiu, voltando ao banheiro. Um segundo depois, retornava, com uma
enorme toalha nas mãos.
— Por onde começarei a enxugá-la? — ele hesitou. — Por aqui? — tomou-
lhe um braço e o esfregou com gentileza. Depois o outro. Ela suspirou
reconfortada.
— Aqui, talvez? — Suas pernas obtiveram idêntica atenção.
Audrey apreciava tudo, as pálpebras ficando cada vez mais pesadas. Até
perceber que a toalha subia cada vez mais, entre as coxas. Quando alcançou seu
objetivo, ela arregalou os olhos.
— Ah — Elliot exclamou satisfeito. — Vejo que você decidiu reunir-se aos
vivos.
Quando ele começou a esfregar a toalha, de leve, sobre o estômago, e,
depois, sobre os seios, um gemido baixo escapou-lhe da garganta. No entanto, ele
não se deteve. Continuou esfregando cada vez mais, e menos gentil.
— Creio que já deve estar bem enxuta — ele resmungou, atirando a toalha
longe.
Audrey o fitou, ardendo de desejo, mas ele continuava parado, em pé,
contemplando seu corpo, recostado sobre o leito.
Quando ele começou a tocar-lhe de leve, com as pontas dos dedos, os seios
e o estômago, ela arrepiou-se inteira.
— Tem uma linda pele Audrey. Tão macia... Poderia fitá-la para sempre. E
tocá-la... — ele se estendeu a seu lado. — e beijá-la...
Beijou um dos seios, na parte de baixo. Depois subiu, rolando a língua
sobre o bico intumescido, desenhando-lhe o contorno até que ela protestou com
um gemido.
Ele se deteve de imediato, e depois a surpreendeu, deslizando ao longo de
seu corpo e colocando a boca onde jamais ninguém havia feito o mesmo. Ela teria
morrido de choque e embaraço se Russell tivesse feito tal movimento. Mas, com
Elliot, qualquer momentânea hesitação era descartada de imediato, substituída
pelo puro prazer sensual.
Porém, este tipo de prazer possuía seu lado obscuro. Audrey logo descobriu
que cada extremidade nervosa de seu corpo estava eletrizada com o que Elliot
estava fazendo. Ele provocava sensações demasiado agudas. Sua cabeça parecia
se movimentar para os lados sem controle e ela se perguntava se realmente
desejava que esta agonia maravilhosa continuasse.
Porém, quando Elliot parou, de chofre(*), sentiu-se desalentada e
desapontada. Quando ele afastou o corpo, ela gemeu em protesto. Logo ele
começou a beijar-lhe os ombros, acariciando-lhe os cabelos, e percorrendo com a
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língua a pele macia do pescoço, sugando seu lóbulo, soprando em seu ouvido
numa doce tortura sensual.
Ela estremeceu convulsivamente.
— Eu amo suas reações — ele murmurou, sorrindo de modo sexy. — Amo
tudo em você.
Ele passou a traçar com o polegar um caminho por sua coluna dorsal,
desde o pescoço ate às nádegas. Cada um de seus músculos foi despertado,
contraindo-se em nós de excitação. Seu coração parou de bater e, depois,
recomeçou, acelerado.
— Também tem lindas costas — ele proferiu com voz rouca, os dedos
desenhando círculos sobre as nádegas. — Bela...
Audrey enrijeceu de antecipação quando os dedos reiniciaram suas
viagens, passeando mais uma vez pela base da espinha e se movimentando para
baixo e para dentro. Quando Elliot finalmente alcançou sua intimidade úmida de
desejo, ela tremia. Quando ele lhe separou as coxas, desejava apenas que a
penetrasse, não importava como.
Estava completamente entregue. Ele segurou-lhe os quadris e a levantou,
fazendo com que se apoiasse sobre as mãos e joelhos, e deslizando dentro dela
vindo por trás.
Sua única reação foi um suspiro trêmulo de alívio.
— Sim, oh, sim — ela gemeu, quando ele começou a se movimentar. Ela o
desejava loucamente, contorcia-se, seus dedos agarravam o acolchoado em
movimentos convulsivos.
Com as mãos, Elliot desenhava movimentos circulares sobre seus seios.
Respirava em seu ouvido, murmurando-lhe como era linda e quanto ele a
desejava, e como a possuiria com freqüência. As palavras apaixonadas a
tornaram selvagem e, antes que percebesse, mergulhava num clímax elétrico e
convulsivo. Quase soluçava num êxtase doce e prolongado.
Elliot correspondeu com firmeza enquanto estremecia em seu interior por
diversos segundos e depois a arrastava consigo quando se deixou cair sobre a
cama, arquejante.
Audrey permaneceu ao lado, quieta em seus braços trêmulos, atônita pelo
que haviam acabado de partilhar. A paixão... a intensidade... E o maravilhoso
contentamento. Depois a paz interior... Era muito mais do que jamais sonhara,
ou tivera a esperança de experimentar. Como sobreviveria quando tudo tivesse
terminado, quando não mais deitasse entre os braços de Elliot novamente, nunca
mais sentiria tal paz, tal alegria?
Seu suspiro era ao mesmo tempo sensual c triste.
— Em que está pensando? — ele murmurou, atraindo-a para mais perto.
— Que seria maravilhoso poder repetir o que fizemos todas as noites — ela
respondeu com simplicidade.
— Acho que podemos dar um jeito, não? — ele sorriu gentil.
Audrey reteve a respiração. Com certeza ele não ia pedi-la em casamento?
O fato de considerar a idéia alarmante não a iludiu. Quantas vezes, uma
moça perdidamente apaixonada, recearia que o amado a pedisse em casamento?
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No entanto, não queria que Elliot a pedisse. Em absoluto. Ele não a amava e a
proposta só podia significar uma coisa. A simples idéia lhe provocava frio na
alma.
— Estive pensando — ele declarou, e premiu(*) os lábios suaves sobre sua
orelha. — Gostaria de se mudar para cá e viver comigo?
O coração de Audrey palpitou de alívio e excitação instantânea. Ela se
aninhou em seus braços, fitando seu rosto com olhos brilhantes.
— Tem certeza, Elliot? Quero dizer... realmente está seguro? Eu... bem, não
sou a pessoa mais ordenada deste mundo.
Seu sorriso era sardônico.
— Não tenho em mente suas habilidades caseiras, no momento, doçura. —
E, capturando-lhe o queixo com a mão, tomou-lhe a boca num beijo apaixonado.
— Jamais desejei uma mulher tanto como continuo a querê-la — ele sussurrou
contra seus lábios. — Acho que todas as noites não bastariam para mim.
Suas palavras febris, levaram Audrey a acariciá-lo.
— Nem para mim — ela admitiu com voz rouca, uma onda de desejo a
atravessando, ao perceber como seu leve toque o estimulava novamente.
— Oh, Elliot... adoro senti-lo dentro de mim. Faça de novo... Por favor...
Ele gemeu e a colocou sob seu corpo, quase com rudeza, apartando-lhe as
pernas e mergulhando em sua intimidade ansiosa. Ela o apertou no máximo de
suas forças, provocando-lhe um profundo gemido.
— Algo me diz — ele deixou escapar, rouco — que vamos atravessar uma
longa noite.
CAPÍTULO X
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— Alem disso — ele acrescentou —, eles logo descobrirão quando você vier
morar comigo.
As conseqüências do que havia feito, concordando em viver com Elliot, a
aturdiram. O que diriam seu pai e Lavínia?
— Parece muito quietinha, de repente — Elliot falou suave. — Está
desistindo de vir morar comigo?
Ela sentou-se, afastou os cabelos do rosto e depois deitou-se ao lado de
Elliot, repousando a cabeça no travesseiro.
— Não — comunicou decidida. — Mas não creio que consiga obter a
aprovação familiar.
— Por quê? Por eles saberem que não casarei com você?
Ela o fitou de soslaio, o coração sc apertando. Pois Audrcy não sabia mais
se, em verdade, não desejava que Elliot a pedisse em casamento. Ou não tinha
certeza que ele não a amava. Como poderia um homem fazer amor de modo tão
lindo e com tanta freqüência sem estar apaixonado? De onde provinham a
ternura e o cuidado com o prazer dela em primeiro lugar? Pois ele sempre se
mostrara preocupado com ela, em todos os momentos. Um homem que só
desejava sexo agiria desta maneira? Era difícil acreditar.
— Você sempre soube, Audrcy — ele repetiu com firmeza. — Eu serei seu
amante pelo tempo que desejar. Mas não casarei com você. Não sou do tipo
casadouro.
— Você casou com Moira.
— Era diferente.
— Como diferente? — ela quis saber.
Ele se sentou abrupto, afastando as pernas para o lado da cama.
— Não admito ser questionado — declarou, a voz gelada revelando
reprovação. — Nem por você. Nem por ninguém. Aceite-me como sou, Audrey, ou
desista. Não há mais nada a dizer.
Ela se sentou, empertigando-se, e o fitou sobressaltada, o coração aos
trancos. Aí estava um Elliot que jamais vira, um Elliot rude e frio. Um cavaleiro
negro, não um galante.
Por um breve segundo ela sentiu-se chocada. E ferida. Mas, então,
percebeu a dor silenciosa, que transparecia em cada músculo rígido do amante.
Ele mantinha a cabeça tensa para trás. E ela soube que haveriam razões
complexas para explicar seu modo dc agir. Ele não se parecia mais com o homem
que ela conhecera e pelo qual se apaixonara. Talvez, se tentasse com delicadeza...
Ajoclhou-se a seu lado, deslizando os braços ao redor de seu peito e o
abraçou.
— Elliot... eu compreendo. De verdade.
Ele pareceu ainda mais tenso.
— Você ainda está sofrendo pela morte de sua esposa. Percebo que a deve
ter amado muito. Mas não consegue enxergar que o que nós dois sentimos um
pelo outro, é mais do que simples desejo?
— Não — ele negou com veemência, batendo os punhos. — Está enganada
e não pretendo ser responsabilizado por enganá-la!
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com este ato de mau humor. Não vai se livrar de mim com tanla facilidade! Ele a
fitou incerto.
— Ainda não foi o bastante? — ela o provocou, meneando a cabeça. — Não
esqueça que ainda não atingimos a quota que você me prometeu no início da
noite.
Ele explodiu numa risada, aliviado.
— O que farei com você?
— Está querendo dizer que ainda não sabe? — ela suspirou caçoadora. —
Pobre de mim, imaginava que você sabia tudo o que era necessário saber a
respeito. Mas quero a prova. Você pode enganar algumas pessoas todo o tempo,e
todas as pessoas por algum tempo. Mas não...
Ela gritou quando se sentiu atraída com rudeza para dentro de seus braços
e sobre o leito.
— Creio ser meu dever adverti-la — ele murmurou rouco, exibindo um
sorriso cínico — que desafios são para mim tão irresistíveis quanto uma certa
loira nua!
— Lavínia, é você?
— Não, amorzinho, aqui é Elsie. Audrey suspirou de alívio.
— Papai ou Lavínia já acordaram?
— Ainda não vi sinal de nenhum dos dois. Porém, ainda é apenas dez e
meia. Onde você está, menina? Eu não fazia idéia que você não estava mais em
casa. Também não a avistei hoje. Saiu para uma aula de direção?
Audrey alegrou-se pela possibilidade do álibi já pronto.
— Sim, é isto mesmo. Elliot desejava praticar bem cedo, antes do tráfego de
domingo. Estou na casa dele, tomando um lanche. Achei melhor ligar e avisar
onde estou. Passarei fora o dia inteiro.
— Você está se dando muito bem com esse jovem, não é?
— Eh, sim — ela confirmou hesitante, sentindo o estômago se contrair ao
ver Elliot movimentando-se pela cozinha, entretido em preparar o breakfast. Ele
parecia tentador, usando apenas o robe negro e nada mais. Ela também não
vestia muita coisa. Uma ampla toalha vermelha cobria-lhe a nudez do seio até as
coxas, no estilo sarongue. Outra toalha estava enrolada sobre os cabelos úmidos.
— Ele é ótimo — ela falou, captando o olhar de Elliot. Ele a saudou com um
gesto de cabeça.
— É muito gentil da parte dele ensiná-la a dirigir. Isto requer muita
paciência.
— Oh, sim. Elliot é muito paciente.
Ele se voltou para ela, franzindo as sobrancelhas.
— Não sou paciente, não, sua pequena preguiçosa. Venha já me ajudar.
— Suponho que devo dar o recado a seu pai e à sra. Farnsworth de que vai
passar o dia fora? — Elsie ofereceu.
— Sim, por favor.
— Eu o farei, pode ficar sossegada. Te vejo mais tarde, queridinha.
— Até logo, Elsie.
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— Não?
— Em definitivo, não. Se passar um dia sem praticar, pode esquecer tudo.
— Realmente? Pensei que fosse como andar de bicicleta. Uma vez que
aprende jamais...
— Madame! As coisas que diz. Estou enrubescendo.
— E eu sou a rainha da Inglaterra.
Os dois se entreolharam e caíram na risada.
Foi um dia de glória. Ambos loucos e maravilhados. Num dado momento,
passaram a fazer amor do lado de fora, no terraço. Mas, quando o vento gelado
começou a congelar certas partes sensíveis, transferiram-se para dentro, sobre o
carpete, onde um agradável raio de sol se filtrava através da enorme janela de
vidro.
Todo o tempo, Elliot continuou com a farsa da relação de madame com
doméstico. E ela declarou-se encantada com seus serviços. Porém deixou bem
claro que, como cozinheiro, suas habilidades estavam muito aquém do desejável.
A maior parte do que comeram foi preparada em microondas.
Por volta das quatro horas da tarde, entraram com relutância no carro,
para a viagem de volta a Sydney. A maior parte do trajeto brincaram jogos
infantis, inventando palavras a partir dos números das placas.
Ao passarem por Goulburn entraram dentro de um McDonalds e
empanturraram-se de hambúrgueres, batatas fritas e milk slakes.
— Parece que desenvolvi um apetite voraz — Elliot comentou, devorando o
segundo sanduíche.
— Não consigo imaginar a razão — Audrey afiançou, com fingida inocência.
— Não me pergunte. Passei a maior parte do dia deitado de costas. — Ele
ergueu uma sobrancelha, fitando-a de soslaio e ela enrubesceu.
— É culpa minha se você não aprecia a posição de missionário?
— Acontece que não sou um missionário.
Ela desatou a rir e Elliot se juntou a ela. Ainda estavam rindo quando
voltaram ao Saab.
— Acho melhor você não entrar comigo — ela pediu, quando ele parou o
carro do lado de fora da escadaria dos Farnsworth. — Quero contar as novidades
sozinha.
— Mas fará as malas ainda hoje?
Ela sorriu e o beijou.
— Ainda que precise ficar acordada metade da noite.
— Voltarei amanhã às sete e meia para sua aula de direção. Ponha a
bagagem no Magna. Virei de táxi.
— Estarei pronta.
— Não deixe que Lavínia a aborreça! — ele advertiu, enquanto ela subia os
degraus.
— Não se preocupe.
Mas estava muito longe de sentir igual confiança quando Elliot se afastou e
ela se viu sozinha. Toda a sua coragem parecia ter-se ido com ele.
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novidade para ele. Ele tem se divertido em brincar de Pigmaleão com ela. Mas,
logo se cansará do papel. Não há dúvida...
— Basta! — Warwick ordenou. — Ficarei grato se mantiver suas opiniões
desagradáveis para você mesma, no futuro. Agora eu gostaria de conversar com
minha filha, a sós!
Lavínia ficou escarlate de ira.
— Muito bem. Mas não diga que não a adverti, Audrey. Tão logo se tornar
um aborrecimento para Elliot na cama, ele a substituirá por alguém um pouco
mais... experiente. Registre minhas palavras! — E, olhando-os com desprezo, saiu
furiosa da sala, batendo a porta atrás de si.
Audrey sentia-se péssima.
— Sinto muito, pai — ela iniciou tremendo. — Eu... eu não pretendia
provocar problemas.
Ele meneou a cabeça, negando.
— Não é culpa sua, querida. Lavínia está... Bem, nos últimos tempos ela
tem se sentido infeliz. Nós dois temos encontrado dificuldades. Mas não se
preocupe com isto. No entanto... — ele hesitava e a jovem se retraiu, angustiada.
— Você tem certeza de que quer viver com esse homem? Lavínia argumenta
que o fato de ele ser bem mais velho do que você. E... mais experiente possam
haver dificuldades...
— Tenho certeza — ela mentiu.
— Então seja — o pai suspirou. — E agora vá logo para a cama, minha
menina. Você me parece um pouco... esgotada — ele terminou, com o esboço de
um sorriso dissimulado.
Ela sentiu o calor subir às faces.
— Sim, estou um pouco cansada. E também preciso preparar as malas.
O pai mostrou-se surpreso.
— Tão depressa?
— Eu me mudarei amanhã cedo.
— Sentirei sua falta. — Ele suspirou.
— Eu o visitarei — prometeu, tocada pela sinceridade de sua reação.
Abraçou-o carinhosamente.
— Espero que sim...
Audrey subiu ao quarto envolvida num turbilhão de emoções. Em absoluto
sentia-se segura de que estava agindo da maneira correta. Por que será,
perguntava-se, agoniada, que outros pessoas conseguiam colocar tais dúvidas em
seu coração? Ela tinha consciência do ciúme de Lavínia, mas, ainda assim, suas
palavras haviam abalado seu otimismo, sua esperança no futuro.
Tudo o que haveria em sua relação com Elliot seria apenas sexo?
Esperava que não. Quando estivessem vivendo sob o mesmo teto, dia após
dia, semana após semana, disporiam de muito tempo para apenas conversar,
conhecer-se mutuamente em diversos níveis. Seu relacionamento amadureceria e
então Elliot perceberia a profundidade de sua ligação.
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CAPÍTULO XI
— Lembro-me que você e Elliot não estavam saindo a sério, segundo suas
próprias palavras — Yvonne observou, levando Audrey para a cozinha, — E viver
junto, nos tempos atuais, não é suficientemente sério?
Nigel havia telefonado a Elliot, a propósito de negócios, durante a semana e
o convidara a jantar no sábado a noite.
Estendera o convite a Audrey quando fora informado do novo arranjo na
vida do amigo.
— Faz apenas uma semana — Audrey despistou. — E não temos intenção
de nos casar.
Yvonne colocou mais batatinhas na tigela vazia que trazia na mão. Ainda
estavam no aperitivo, antes do jantar. Saboreavam bebidas e salgadinhos.
— Devo declarar que ainda estou surpresa — ela comentou — embora fosse
óbvio, para quem visse os dois juntos durante as corridas, que Elliot estava muito
envolvido com você. Quem sabe? — ela riu. — Talvez ele supere, afinal, sua
inclinação por mulheres mais velhas!
Audrey desatou num riso forçado.
— Assim espero.
A outra mulher a fitou com atenção e depois suspirou.
— Está terrivelmente apaixonada por ele, minha querida, não é mesmo?
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Ela fechou os olhos desesperada. O que fizera? Por que agira daquela
maneira? Meneou a cabeça e fitou as mãos trêmulas. Ao levantar os olhos
Edward a observava com uma expressão entristecida.
Audrey retomou ao escritório logo após as duas da tarde, armada do
conhecimento de que gozava de perfeita saúde e que viveria até os cem anos de
idade. Palavras do médico, não suas.
— Sc me sinto tão horrivelmente — murmurou baixinho, enquanto apoiava
a bolsa ao lado da escrivaninha. — Não sei se desejarei viver até os trinta anos.
Edward ergueu-se de detrás de sua mesa e saiu de seu escritório separado
por uma parede de vidro.
— Tudo bem! Basta! Não conseguirei concentrar-me no orçamento de
vendas, com você resmungando desse jeito! — ele se aproximou ainda mais —
Além disso, a vida é demasiado curta para se arruinar o pouco que se consegue.
Vá embora. Vá para casa, ou onde quer que esteja seu amado e faça as pazes
com ele. É uma ordem!
Audrey ficou por um momento surpresa. Depois animou-se. Edward estava
certo! Era exatamente o que ela devia fazer. Ir para casa e fazer as pazes. E daí se
Elliot só desejava sexo de sua parte? Talvez com o tempo as coisas mudassem.
Por que arruinar o que possuíam tentando apressar tudo?
Com um sincero obrigado e adeus, ela se apressou para o lugar onde
deixara o Magna estacionado na rua. Mas teve a ingrata surpresa de deparar com
Russell apoiado com enganadora indiferença na porta do motorista.
— Eu tinha certeza que a encontraria se soubesse esperar — ele observou
sardônico enquanto ela se aproximava, o coração aos saltos. — Embora esteja
bastante difícil reconhecer a antiga Audrey feiosa de algumas semanas atrás. Não
que isto faça alguma diferença... — seus lábios exibiram uma expressão cruel. —
Você poderia se matar de esforço, doçura, e ainda continuaria a ser a mais
incompetente na cama, sem rival no mundo inteiro!
O rubor cobriu-lhe as faces, mas a raiva substituiu de imediato qualquer
receio.
— Saia de minha frente, Russell. Não tenho a menor intenção de
permanecer aqui ouvindo você me insultar!
— É mesmo? E o que pretende fazer? Vai me despedir novamente?
— Eu não o despedi — ela retrucou.
— É claro que o fez, queridinha. Mas, sabe de uma coisa, fez-me um favor.
Consegui um emprego fantástico como gerente de vendas na Nova Guiné, e
começarei na semana que vem. Porém, não podia partir sem contar-lhe um
segredinho. — Sua boca se contorceu num sorriso malicioso.
— Diane não foi o único caso que tive. Também experimentei sua
madrasta. Sim... a sexy Lavínia... Aliás, ali está uma mulher que sabe como
agradar a uma homem. Ora, não precisa ficar tão pálida, gatinha. Será que o seu
playboy atual também está de olho por aquelas bandas? — Sua risada era
grotesca. — Aposto que sim. Por que não lhe pergunta como se entretém
enquanto você está trabalhando?
— Saia de minha frente! — Audrey gritou, afastando-o com violência para o
lado.
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Ele não tentou impedi-la de entrar no carro e partir. Um rápido olhar pelo
espelho retrovisor o mostrou ainda em pé, rindo dela.
Audrey apertava com força o volante durante o trajeto para casa. Quase
soluçou de alívio quando se aproximou da casa de Elliot. Só conseguia pensar cm
abraçá-lo. Ele a reconfortaria, a tranqüilizaria.
Mas seu alívio durou pouco. Chocou-se ao avistar um Fiat familiar, de cor
malva, estacionado ao lado do Saab negro na garagem de Elliot. Empalideceu ao
extremo e parou o carro numa manobra inábil. Lavínia dirigia um Fiat dessa cor.
Aliás nada comum. Não, ela pensava, sentindo-se adoecer. Não... Conseguiu com
dificuldade sair do carro, passar ao lado do Fiat, fitando a escadaria interna e a
porta fechada no topo. Mas não podia continuar. Temia o que poderia encontrar
se subisse a escada, sem ser esperada. Preferiu dar a volta e subir pela escadaria
de madeira que conduzia à entrada lateral da casa. Cada passo exigia um esforço.
Alcançando a sólida porta da frente, de madeira esculpida, tocou a
campainha. Então apoiou-se no corrimão, enquanto os segundos se escoavam. O
que estava Elliot fazendo, ela perguntava, que se demorava a atender?
Mas, afinal a porta foi entreaberta. Lá estava Elliot, os cabelos em
desalinho, um robe de seda vermelho cobrindo-lhe o corpo nu, exceto pela calça
do pijama, também de seda vermelha.
Sua mente lutava para encontrar alguma desculpa, alguma razão para o
espetáculo que tinha a sua frente. Mas, ao testemunhar o rubor de culpa no rosto
de Elliot, ela mergulhou em profundo desespero.
— Audrey! Você avisou que não voltaria para casa até à noite!
— Audrey? — ela discerniu a voz suqnesa(*) de Lavínia, dentro da casa.
— O que está fazendo aqui? — ele perguntou, quase zangado.
— Vim mais cedo para fazer as pazes — ela declarou com voz vazia. — Acho
que me enganei.
— Não é o que está imaginando, por Deus!
Ela deu uma risada. Parecia um copo quebrando em mil estilhaços.
— Meu pai tem um ditado. Se um animal se parece com um cão, late como
um cão e fareja como um cão, então, pode estar certa que se trata de um cão.
Passeou os olhos doloridos sobre seu corpo mal vestido antes de dar a volta
e descer correndo as escadas.
— Volte! — ele gritou-lhe.
Mas ela era demasiado rápida para ele. As chaves ainda se encontravam na
ignição. Saltou para dentro do Magna, ligou o motor, deu marcha a ré e saiu cm
disparada.
Lágrimas embaralhavam sua visão. Mas o tráfego era suave e ela não
encontrou dificuldades em colocar uma boa distância entre seu carro e algum
perseguidor. Ou ao menos acreditava nisso. Mas, quando diminuía a velocidade
perto de um farol vermelho, divisou o Saab negro de Elliot pelo espelho retrovisor,
aproximando-se velozmente.
Assim que a luz foi mudada para o verde, ela deu a partida, acelerando ao
máximo. Porém, um motorista na via transversal, decidira passar na luz
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Bianca 536.2 – Amar outra vez – Miranda Lee
CAPÍTULO XII
Ele telefonara. Ela desligara sem dizer palavra. Ele enviara flores e cartas.
Ela enviara as flores para o pavilhão das crianças e queimara as cartas,
observando o papel se curvar até se transformar em cinzas.
Audrey jamais acreditaria em nada que Elliot dissesse. Tudo estava bem
claro em sua mente. Ela o vira semidespido. Percebera seu embaraço culposo. A
incrível coincidência de Lavínia se encontrar na casa no único dia em que ela não
viria almoçar.
Só não entendia por que Elliot tentava mudar sua opinião. Que ela o
compreendesse e perdoasse. Bem, se ele estava preparado para ir para a cama
com gente como Lavínia, então, não possuía nenhuma consciência.
— Audrey...
Ela voltou ao presente, percebendo o pai ainda sentado ao lado.
— Sim?
— Ouça as explicações dele.
— Não. — Seu tom de voz era implacável e o pai ergueu-se, demonstrando
cansaço.
— Você é muito parecida com sua mãe. Ela também era teimosa. Não
prestou atenção quando tentei desfazer a tagarelice maliciosa de alguém me
acusando de tê-la desposado por dinheiro.
— E não foi o que fez? — indagou Audrey, sem rodeios.
— Sim... Mas sua mãe não o sabia. E, quando a fofoca a atingiu, há muito
tempo eu me apaixonara por ela. Tínhamos um bom matrimônio. Éramos felizes,
especialmente após o seu nascimento. Mas ela recusou a ouvir-me, não queria
enxergar a verdade além das aparências. Atirou fora o resto de nossas vidas
juntos e tornou minha vida pessoal um inferno. Recusava-se a dormir comigo e,
por fim, procurei Lavínia para conforto. Não repita o mesmo erro, Audrey. Não se
magoe inutilmente. Elliot a ama. Aposto tudo o que possuo!
Yvonne repetiu o mesmo, na tarde seguinte, quando veio visitá-la.
— Posso imaginar que a situação de Elliot com aquela mulher deve ter
parecido bem ruim — ela comentou abertamente. — Mas, Audrey... Elliot me
assegura que é inocente e eu acredito nele. Minha querida, se apenas pudesse tê-
lo visto nos dias que se seguiram ao seu acidente, quando você estava
mergulhada em coma, devido à concussão... Ele eslava fora de si. Não dormia,
não comia. Percebe o que está fazendo, recusando-se a dar-lhe uma chance de se
explicar? Ele não sabe para onde se voltar, o que fazer. Em desespero, pediu-me
para lhe transmitir uma mensagem, para dizer-lhe que ele não é um Russell.
Audrey hesitou. Pois é conceito de colocar Elliot na mesma categoria de
Russell era simplesmente inadmissível. Bem, ela era obrigada a encarar uma
remota possibilidade. Talvez tivesse se enganado quanto a Elliot. Talvez ele
tivesse sido vítima das circunstâncias, ou das manipulações de Lavínia. Talvez...
— Pense a esse respeito, minha cara — Yvonne recomendou com gentileza.
— Se não der a Elliot a oportunidade de se explicar, não vai sempre imaginar se
não cometeu um enorme erro? Você ama Elliot. Mas amor jamais é suficiente
para construir um futuro. Você deve também possuir confiança.
Audrey sentiu-se desesperar. Confiança... Era muito bonito para dizer, mas
havia uma fina linha entre confiança e ingenuidade. A mensagem de Elliot não
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falava de amor e ela não podia se permitir cometer outro erro monumental. Não
se queria manter sua sanidade mental.
— Eu, prometo pensar no assunto, Yvonne. Obrigado. Você foi muito
bondosa vindo me visitar tantas vezes.
— Foi meu prazer. Bem, devo ir andando. Voltarei amanhã e
conversaremos um pouco mais
— Apreciaria muito. Você é uma amiga de verdade.
Audrey estava deitada, refletindo sobre as palavras de Yvonne, quando
ouviu um ligeiro ruído na porta. Avistou Lavínia entrando no quarto.
Sentiu-se indignada, cada fibra do corpo reagindo com violência. Devia
mostrar claramente seus sentimentos pela expressão do rosto, pois Lavínia
manteve-se afastada da cama, parecendo sofrer muito.
— Por favor, não me mande embora — suplicou. — Precisamos conversar.
Talvez tenham sido as lágrimas verdadeiras, jorrando dos olhos da
madrasta, que tenham suavizado o coração de Audrey. Ou o tato de a oponente
parecer muito mudada. Ela estava quase... desarrumada, o cabelo em desalinho,
sem maquilagem, o tailleur de linho amarelo todo amassado.
Audrey não conseguiu mandá-la embora. Mas tampouco podia falar. Ao
final, Lavínia aproximou-se desajeitadamente do pé da cama.
— Não sei por onde começar — ela soluçou, olhando para o chão. Lágrimas
corriam por suas faces e escorriam do nariz. — Você deve me odiar. Todos me
odeiam. Todos, exceto Warwick. Ele tem sido... surpreendentemente carinhoso e
compreensivo.
— Ele a ama — Audrey conseguiu dizer.
— Sim — Lavínia concordou. — Agora vejo esse sentimento. Porém antes
não conseguia. Eu pensava... — ela negou com um gesto de cabeça. — No dia em
que nos casamos ele me comunicou que não desejava filhos. Senti-me oprimida.
Eu desejava uma criança. Mas Warwick só parecia me desejar pelo sexo. Eu
acreditava que ele não conseguia amar mais ninguém após a morte de sua mãe.
Ele até a enviou para o internato. Porém, quando percebi sua ansiedade ao
esperar que voltasse para casa nas férias, eu me senti profundamente
enciumada. Eu detestava o lugar que você ocupava no coração dele — Lavínia
confessou infeliz.
— Não precisava, Lavínia — Audrey comentou com bondade. — Eu mesma
costumava acreditar que papai não me amava. Apenas há pouco percebi que ele
sente dificuldade em expressar seu amor.
— Sim, é o que ele tem me afiançado, mas também eu pensava que ele não
me amava, especialmente à medida que os anos foram passando e que ele parecia
se afastar de mim cada vez mais. O sexo tornou-se menos importante em sua
vida. Ele encontrou outros interesses, como jogar golfe e colecionar obras de arte.
Eu me sentia negligenciada. Eu... fiz coisas... das quais me arrependo
profundamente.
Audrey sentiu convulsões no estômago. Russell, ocorreu-lhe. Ela está se
referindo a Russell.
— Quando você começou a desabrochar como mulher, conquistando Elliot,
eu me consumi de inveja. Reconheço que enlouqueci. Eu queria feri-la e também
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— Ainda bem que o velho e querido Russell partiu para a Nova Guiné —
Elliot proferiu muito tempo depois. — Pois se não estivesse bem longe, eu
pulverizaria aquele bastardo! Dá para entender bem a razão pela qual você tirou
aquelas conclusões, depois do que ele lhe falou.
— No entanto eu me precipitei. Deveria ter dado a você a oportunidade de
se explicar — Audrey murmurou — que se vestia daquela maneira pois estava
deitado sofrendo de enxaqueca.
— Após nossa conversa, eu tomara alguns comprimidos para dor e havia
caído num sono profundo quando Lavínia bateu na porta. Faltou-me presença de
espírito. Jamais deveria ter permitido que entrasse. Alem do mais, ela fingira
estar preocupada com você e queria verificar se estava tudo bem. Eu não pedi
que ela viesse, Audrey.
— Sei disto, agora, mas foi uma coincidência tão surpreendente, ela visitá-
lo no único dia em que cu não vinha almoçar.
— Não foi coincidência. Edward havia mencionado os exames médicos da
empresa, quando tomara um aperitivo com Warwick no fim de semana. Ela sabia
com exatidão onde você estaria. Quando começou a tentar me seduzir, eu a
repreendi. Adverti-lhe que seu comportamento levaria Warwick um dia a se
divorciar dela. E depois eu a acusei de sempre tê-la tratado muito mal. Quando
você chegou, eu estava terminando meu sermão. Ela parecia genuinamente
abalada. Mas, após o acidente, seu equilíbrio se rompeu. Lavínia é uma mulher
acometida de remorsos, acredite-me.
— Estou a par deste fato. Ela me procurou. Mas não foi apenas ela quem
abriu meus olhos. Foi Yvonne...
—- Ah, ela deu meu recado, não é mesmo, sobre eu não ser um Russell?
— Sim. Por que acreditei que você teria agido como ele, eu mesma não
consigo explicar.
— Nem sempre agi com nobreza, Audrey. Mas mudei.
— Moira mudou você — ela declarou com simplicidade. Elliot sentiu-se
abalado.
— O que está dizendo? Que sabe a respeito de Moira?
— Yvonne contou-me muito sobre Moira. E, também, sobre você.
— Sobre mim? Ela conhece muito pouco sobre minha vida!
— Não é bem assim. Ela era amiga íntima de Moira, Elliot. As mulheres
costumam fazer confidências entre si. Elas não precisam bancar as duronas,
como os homens. Podem se abrir umas com as outras, sem receio de serem
ridicularizadas, ou de serem consideradas fracas.
— Deve ser uma sensação muito boa, não precisar ficar representando todo
o tempo, uma força que não se sente — ele murmurou, os olhos cinzentos
enevoados por pensamentos profundos.
— Poderá sempre abrir-se comigo, Elliot — ela convidou gentil. — É assim
o verdadeiro amor. Não precisa mais sentir-se solitário, guardar para si segredos
sombrios.
Ele a fitou por longo tempo, os olhos pensativos. Depois pegou-lhe a mão e
se exprimiu com voz comedida:
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— Neste caso, há algo que quero contar-lhe, que pode explicar minha
atitude passada em relação ao amor.
— Sim?
— Houve uma vez uma moça...
Audrey procurou manter-se impassível. Uma moça? Com certeza ele não
estava se referindo a Moira.
— Ela era rica... bela... sexy. Eu contava vinte e dois anos, nessa época. Foi
meu primeiro ano no circuito europeu de esqui. Ela se chamava Felicity e, para
ela, a temporada de esqui era um passatempo ocioso. Deixei-me levar pelas
aparências, e me apaixonei perdidamente. Ela garantiu que me amava e desejava
conhecer tudo a meu respeito. Jamais gostei de discorrer sobre meu passado,
mas ela insistiu muito e eu cedi, contando sobre...
Seus olhos se cnsombrcccram(*).
— Yvonne falou sobre minha infância e... minha mãe? Audrey acenou,
afirmativamente.
— Sei que era alcoólatra e que o abandonou aos oito anos de idade. Sei
também a respeito dos lares de adoção e da instituição de caridade...
Por um breve momento, Elliot pareceu aborrecido. Mas, logo, um sorriso
estranho suavizando seu aborrecimento.
— Moira sempre considerou necessário conhecer o passado das pessoas.
Ela acreditava que aí estava a chave de seu futuro. Não uma desculpa, mas a
explicação...
Uma mulher extraordinária a sua Moira, Audrey refletiu.
— De qualquer modo, falhei em não perceber a reação de desagrado de
Felicity quando descobriu minha origem e onde fora criado. Ela não voltou a meu
quarto na noite seguinte e eu procurei por ela. E a encontrei mesmo...
Era impossível negar o pesado cinismo na voz de Elliot.
— Na cama com outro homem?
— Não exatamente. Na cama com dois outros homens.
Audrey retraiu-se desgostosa.
— Sim. Não era um belo quadro. Ela nem percebeu que eu entrara. Estava
ah... muito ocupada.
— Oh Elliot, entendo que tal experiência o tornou amargo quanto ao amor e
às mulheres.
— Em parte. Mas este não é o ponto importante da história.
— Eu... eu não compreendo.
— Muito rapidamente eu compreendi que jamais havia amado Felicity, que
meus sentimentos eram inteiramente voltados para o sexo. Ela fora minha
primeira mulher. Infelizmente, minha fria reação ante a deslealdade dela apenas
reforçou o que eu já suspeitava sobre mim mesmo. Que era um bastardo, a quem
fora negada a oportunidade de amor e carinho durante os anos de crescimento.
Após esta infeliz experiência, mergulhei numa vida de relacionamentos sexuais
transitórios, jamais me importando quando algum caso terminava. Agi deste
modo ate conhecer Moira, quando descobri a possibilidade de ser amigo de uma
mulher. — Ele sorriu com tristeza. — Sabe de uma coisa. Ela costumava
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mencionar seu orgulho por se tornar, em breve espaço de tempo, o orgulhoso pai
de um bebê por nascer. Lavínia anunciara há pouco sua gravidez.
— Você está tão linda — ele sussurrou, ao começarem a caminhar atrás da
dama de honra. — E, também sua amiga. Aquele tom de vermelho-escuro lhe cai
muito bem.
Audrey sorriu, lembrando-se de como Yvonne havia resistido de início em
aceitar ser sua dama de honra. Ao lado de Nigel, representando o melhor amigo.
— Mas sou muito velha! — ela havia protestado.
— É melhor atender a seu pedido Yvonne — Elliot aconselhara, suspirando.
— Só Deus sabe onde foi parar aquela doce e maleável coisinha jovem por quem
me apaixonei. Transformou-se numa ditadora! Sabe o que me disse outro dia?
Que era melhor eu voltar a trabalhar, que não suportaria que o pai de seus filhos
ficasse vagando pela casa o dia inteiro como um gigolô.
Todos havia desatado numa alegre risada e Yvonne cedera.
Chegara o grande momento e Audrey caminhava pelo adro da igreja,
sorrindo para os amigos e parentes, todos lançando olhares de admiração. Logo,
o cortejo de honra chegou ao fim do trajeto e a noiva avistou Elliot, aguardando
por ela.
Seus olhos se encontraram e ela reviveu tudo. O primeiro momento no café,
o galante cavaleiro vindo em sua salvação; o maravilhoso fim de semana, fazendo
amor no chalé; as longas conversas, que se estendiam pela noite; e, agora, isto...
Focalizou Elliot... Este era o melhor momento de todos, em que se fundiriam
numa só pessoa para sempre.
Aproximou-se e ele tomou-lhe a mão, sorrindo com amor.
— Não está nervosa, não é mesmo? — ele indagou suavemente.
— Não.
— Amo você.
— Também te amo...
O ministro tossiu de leve e começou a falar.
"Nós, aqui reunidos, diante de Deus... para unir este homem e esta mulher
pelos laços do sagrado matrimônio..."
Espectadores contariam durante muitos anos sobre o casamento, que
haviam testemunhado entre o surpreendentemente belo noivo e sua delicada e
linda noiva, sobre a maneira enlevada como se fitavam durante a cerimônia e
como, no momento em que o ministro os declarara marido e mulher, não havia
um par de olhos que não estivesse marejado de lágrimas na igreja.
Bianca
Uma história de paixão e amor!
Edição 537
Adorável sedutora
Lindsay Armstrong
Quando Liam a abraçou, Jane quis se afastar, evitar-lhe os lábios sensuais
que se apoderavam dos seus com sofreguidão. Entretanto, traída pelo próprio
desejo, viu-se correspondendo apaixonada, esquecendo-se por um instante de
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que prometera a si mesma jamais ceder ao desafio desse homem que queria levá-
la para a cama a qualquer custo. Como se não bastasse ter de dividir a casa com
ele, agora precisava enfrentar-lhe a firme disposição de conquistá-la! E o pior era
que estava começando a gostar desse jogo perigoso...
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