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SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL

ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

CONTROLE DE
FORMIGAS
CORTADEIRAS
“O SENAR-AR/SP está permanentemente
empenhado no aprimoramento profissional e
na promoção social, destacando-se a saúde
do produtor e do trabalhador rural.”
FÁBIO MEIRELLES
Presidente do Sistema FAESP-SENAR-AR/SP
FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Gestão 2020-2024

FÁBIO DE SALLES MEIRELLES


Presidente

JOSÉ CANDEO SERGIO ANTONIO EXPRESSÃO


Vice-Presidente Diretor 2º Secretário

EDUARDO LUIZ BICUDO FERRARO MARIA LÚCIA FERREIRA


Vice-Presidente Diretor 3º Secretário

MARCIO ANTONIO VASSOLER LUIZ SUTTI


Vice-Presidente Diretor 1º Tesoureiro

TIRSO DE SALLES MEIRELLES PEDRO LUIZ OLIVIERI LUCCHESI


Vice-Presidente Diretor 2º Tesoureiro

ADRIANA MENEZES DA SILVA WALTER BATISTA SILVA


Diretor 1º Secretário Diretor 3º Tesoureiro

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL


ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
CONSELHO ADMINISTRATIVO

FÁBIO DE SALLES MEIRELLES


Presidente

DANIEL KLÜPPEL CARRARA SUSSUMO HONDO


Representante da Administração Central Representante do Segmento das Classes Produtoras

ISAAC LEITE JOSÉ MAURÍCIO DE MELO LIMA VERDE


Presidente da FETAESP GUIMARÃES
Representante do Segmento das Classes Produtoras

MÁRIO ANTONIO DE MORAES BIRAL


Superintendente

JAIR KACZINSKI
Gerente Técnico
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL
ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

CONTROLE DE FORMIGAS
CORTADEIRAS

São Paulo - 2010


IDEALIZAÇÃO
Fábio de Salles Meirelles
Presidente do Sistema FAESP-SENAR-AR/SP

SUPERVISÃO GERAL
Teodoro Miranda Neto
Chefe da Divisão de Formação Profissional Rural do SENAR-AR/SP

RESPONSÁVEL TÉCNICO
Marco Antonio de Oliveira
Técnico da Divisão de Formação Profissional Rural do SENAR-AR/SP

AUTORES
Odair Correa Bueno
Mestre Doutor em Biologia - Zoologia
Fabiana Correa Bueno
Mestre Doutor em Biologia - Zoologia
Sandra Verza da Silva
Mestre Doutor em Biologia - Zoologia

REVISÃO DO TEXTO
André Pomorski Lorente

DIAGRAMAÇÃO
Thais Junqueira Franco
Diagramadora do SENAR-AR/SP

Direitos Autorais: é proibida a reprodução total ou parcial desta cartilha, e por qualquer processo, sem a expressa
e prévia autorização do SENAR-AR/SP.
Material impresso no SENAR-AR/SP

4 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


SUMÁRIO

Introdução.......................................................................................................................9

Controle de Formigas Cortadeiras.........................................................................11

I - Conhecer as Principais Características das Formigas Cortadeiras...... 13


1. Saiba quem são as formigas cortadeiras........................................................... 13
2. Identifique os indivíduos de uma colônia de formigas cortadeiras...................... 13
3. Saiba como as formigas cortadeiras iniciam uma nova colônia ........................ 15
4. Conheça a forma de alimentação das formigas cortadeiras............................... 19

II - Identificar as Principais Espécies de Formigas Cortadeiras.................... 20


1. Diferencie as saúvas das quenquéns................................................................. 20
2. Conheça as principais espécies de saúvas ....................................................... 21
3. Conheça as principais espécies de quenquéns ................................................. 25

III - Controlar Formigas Cortadeiras................................................................... 30


1. Conheça os principais métodos de controle ...................................................... 33
2. Estime o tamanho do ninho ............................................................................... 42
3. Faça o controle de formigas cortadeiras com o uso de iscas ............................ 44
4. Faça o controle de formigas cortadeiras por termonebulização ........................ 47
5. Faça o controle de formigas cortadeiras com pó seco ...................................... 51
6. Descarte das embalagens vazias....................................................................... 55

Bibliografia.................................................................................................................. 56

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APRESENTAÇÃO

O
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL - SENAR-AR/SP, criado em 23
de dezembro de 1991, pela Lei n° 8.315, e regulamentado em 10 de junho de 1992,
como Entidade de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, teve
a Administração Regional do Estado de São Paulo criada em 21 de maio de 1993.

Instalado no mesmo prédio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São


Paulo - FAESP, Edifício Barão de Itapetininga - Casa do Agricultor Fábio de Salles
Meirelles, o SENAR-AR/SP tem, como objetivo, organizar, administrar e executar, em todo
o Estado de São Paulo, o ensino da Formação Profissional e da Promoção Social Rurais
dos trabalhadores e produtores rurais que atuam na produção primária de origem animal e
vegetal, na agroindústria, no extrativismo, no apoio e na prestação de serviços rurais.

Atendendo a um de seus principais objetivos, que é o de elevar o nível técnico, social e


econômico do Homem do Campo e, conseqüentemente, a melhoria das suas condições
de vida, o SENAR-AR/SP elaborou esta cartilha com o objetivo de proporcionar, aos
trabalhadores e produtores rurais, um aprendizado simples e objetivo das práticas agro-
silvo-pastoris e do uso correto das tecnologias mais apropriadas para o aumento da sua
produção e produtividade.

Acreditamos que esta cartilha, além de ser um recurso de fundamental importância para os
trabalhadores e produtores, será também, sem sombra de dúvida, um importante instrumento
para o sucesso da aprendizagem a que se propõe esta Instituição.

Fábio de Salles Meirelles


Presidente do Sistema FAESP-SENAR-AR/SP

“Plante, Cultive e Colha a Paz”

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INTRODUÇÃO

Esta cartilha procura descrever, de maneira simples e ilustrada, as informações necessárias


e operações básicas para o controle de colônias de formigas cortadeiras, tais como: as
características biológicas e comportamentais desse grupo de formigas, as principais espécies
e os diferentes métodos de controle. Além disso, pretende capacitar o trabalhador a utilizar
corretamente os formicidas, mantendo sua saúde e preservando o meio ambiente.

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CONTROLE DE FORMIGAS CORTADEIRAS

As formigas cortadeiras, conhecidas popularmente como saúvas e quenquéns, são


responsáveis por elevados prejuízos à agricultura, silvicultura e pastagens brasileiras devido
ao desfolhamento que causam nas plantas. Elas representam uma das principais pragas da
América do Sul pelo fato de ocorrerem o ano todo, atacarem plantações de todas as idades
e, quando não controladas, impedirem a sobrevivência de qualquer tipo de planta.

O sucesso no controle de formigas cortadeiras depende do conhecimento básico do seu


modo de vida e do reconhecimento das espécies para a escolha do método de controle mais
adequado e eficiente para cada situação.

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I - CONHECER AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
DAS FORMIGAS CORTADEIRAS
As formigas, juntamente com as abelhas, vespas e cupins, são diferentes dos demais
insetos, pois vivem em colônias e por isso são chamados de insetos sociais. Na sociedade
das formigas existe uma rigorosa divisão de trabalho, sendo que alguns indivíduos são
especializados para a reprodução enquanto outros realizam as demais tarefas, como coleta
de alimento e água, escavação do formigueiro, cuidado da cria, limpeza e defesa da colônia.

1. SAIBA QUEM SÃO AS FORMIGAS CORTADEIRAS

Entre as formigas, encontra-se o grupo das cortadeiras, que diferem das demais pelo fato
de produzirem seu próprio alimento. Ao contrário do que muitos acreditam, as formigas
cortadeiras não se alimentam das folhas que cortam, mas utilizam esse material para o
cultivo de um jardim de fungo, que serve de alimento para toda a colônia.

2. IDENTIFIQUE OS INDIVÍDUOS DE UMA COLÔNIA DE FORMIGAS CORTADEIRAS

A sociedade das formigas é formada por indivíduos permanentes e temporários (Figura 1).

Os indivíduos permanentes não apresentam asas e estão sempre presentes na colônia.


Fazem parte deste grupo a rainha, as crias (ovos, larvas e pupas) e as operárias.

Os indivíduos temporários apresentam asas e ocorrem na colônia apenas em determinadas


épocas do ano. Fazem parte deste grupo as fêmeas reprodutoras, chamadas de içás ou
tanajuras, e os machos reprodutores, chamados de bitus.
INDIVÍDUOS PERMANENTES

RAINHA CRIA OPERÁRIA

INDIVÍDUOS TEMPORÁRIOS

BITU IÇÁ

Figura 1: Indivíduos permanentes e temporários de uma colônia de formigas cortadeiras.

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A rainha produz centenas de ovos por dia, que após uma semana dão origem às larvas.
As larvas passam a ser alimentadas pelas operárias e crescem de tamanho através da
mudança de “pele”. Após um período de 20 a 25 dias, essas larvas já cresceram o suficiente
e iniciam as transformações para formação do indivíduo adulto (fase de pupa), que dura
aproximadamente 15 dias (Figura 2). Deste modo, as formigas aumentam seu tamanho
durante sua vida larval e, quando adultas, não mudam mais de tamanho.

ATENÇÃO!!!

No grupo das saúvas só existe uma rainha para cada formigueiro, mas
em alguns grupos de quenquéns pode haver mais de uma rainha por
colônia.

OVO

7 dias
(50 a 120 dias)

ADULTO LARVA

25 dias
20 dias
PUPA

Figura 2: Ciclo de vida das operárias em formigas cortadeiras.

Durante o ano todo e por toda a sua vida, a rainha produz ovos que dão origem a operárias
e, apenas em uma época do ano, produz ovos que originam os bitus e as içás (Figura 3).

Jardineira nutridora
Generalista
largura da cabeça 0,8 - 1,2 mm
1,3 - 2,1 mm

Cortadeiras escavadoras
2,2 - 2,9 mm

Soldados
>3,0 mm

Figura 3: Indivíduos adultos de uma colônia de saúva.

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As operárias constituem a grande população da colônia. Um “ninho maduro” contém mais
de um milhão de operárias. De acordo com o tamanho que apresentam e função que
desempenham podem ser divididas em 4 categorias: jardineiras, generalistas, cortadeiras
e soldados (Tabela 1). Essa divisão pode ser melhor observada nas saúvas.

Tabela 1: Divisão de trabalho em operárias de saúvas.

LARGURA DA CABEÇA (mm) CATEGORIA FUNÇÕES DESEMPENHADAS


- Cuidado com o jardim de fungo
0,8 – 1,2 Jardineiras
- Cuidado com a cria
1,3 – 2,1 Generalistas - Diversas funções no interior do ninho
- Corte e transporte do material vegetal
2,2 – 2,9 Cortadeiras - Escavação de novas panelas no ninho
- Descarte do lixo
> 3,0 Soldados - Defesa da colônia

3. SAIBA COMO AS FORMIGAS CORTADEIRAS INICIAM UMA NOVA COLÔNIA

A reprodução nas formigas cortadeiras inicia-se com o vôo nupcial ou revoada, caracterizado
pela liberação de grande quantidade de bitus e içás que saem para o vôo e se acasalam no
ar (Figura 4). A revoada ocorre depois de um período de chuvas, em dias claros, quentes e
úmidos, sendo que a época varia de acordo com a região do Brasil. Na região Sudeste, ocorre
durante o período de setembro a dezembro. Na região Sul, ocorre entre junho a dezembro
e, na região litorânea da Bahia, ocorre em abril.

Os machos são os primeiros a deixar os formigueiros e logo em seguida saem as fêmeas.


Antes de saírem, as fêmeas levam na boca um pedaço de fungo que servirá de semente
para o novo jardim a ser formado no futuro formigueiro.

Machos e fêmeas saindo da colônia mãe Fêmea preparando-se para voar

Figura 4: Início da revoada em formigas cortadeiras.

A revoada é a única oportunidade que as fêmeas têm para se acasalar. Por este motivo, elas
copulam com vários machos e armazenam os espermatozóides em um órgão no interior do
abdômen, chamado espermateca. A partir desse momento, a nova rainha produzirá milhares
de formigas durante toda a vida do formigueiro.

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Após o vôo nupcial, os machos morrem e as fêmeas retornam ao solo, cortam as asas e
procuram um local adequado para iniciar a nova colônia. Escolhido o local, a fêmea perfura
um canal de mais ou menos 15cm de profundidade e 1cm de diâmetro e, em seguida,
constrói uma pequena câmara no solo, fechando o canal de entrada com a terra retirada da
câmara (Figura 5).

Fêmea perfurando o canal Canal de entrada fechado

Figura 5: Início da nova colônia em formigas cortadeiras.

Um dia após o início da escavação do ninho, a nova rainha regurgita a porção do fungo que
trouxe do formigueiro de origem, cultivando-o com suas próprias fezes e secreções. Nesse
momento, todas as atividades dependem da rainha, a postura dos ovos, os cuidados com
a cria, o cultivo do fungo e os cuidados com ela mesma.

As primeiras operárias adultas que surgem são muito pequenas e desempenham todas
as tarefas, até que nasçam as operárias maiores, especializadas nas diversas tarefas. O
tempo até o surgimento das primeiras operárias varia entre as espécies, mas é de 60 a 90
dias após a revoada.

Somente após 80 a 100 dias da fundação da colônia, as primeiras operárias retiram a terra
que estava fechando o olheiro e saem para o exterior, onde dão início ao corte de plantas
e também à organização e construção do novo ninho. O segundo olheiro é aberto em 17
meses e, após esse período, a colônia cresce rapidamente (Figura 6).

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BITU BITU BITU

Cópula

IÇÁ Rainha corta as asas e


Vôo nupcial escava o ninho

Bitus morrem Ninho inicial

Canal

Câmara 1
Ninho maduro com
mais de 3 meses
Rainha regurgita
o fungo
Câmara 1

Câmara 2 Câmara 1
Câmara 3
Câmara 2

Câmara 4

Abertura do 2º Abertura do 1º
Ninho com 8 meses
olheiro em 17 meses olheiro em 3 meses

Figura 6: Fases de desenvolvimento de uma colônia de formigas cortadeiras.

Um ninho maduro de formigas cortadeiras é constituído por câmaras, que podem ser de 3
tipos: câmaras de fungo, onde são mantidos os jardins de fungo, câmaras de lixo, destinadas
ao depósito de formigas mortas, folhas e fungos velhos e, câmaras de terra, que possuem
terra solta em seu interior. Os canais interligam as câmaras entre si e com as aberturas
externas, denominadas de olheiros. Os olheiros de forrageamento são por onde as operárias
entram com as folhas cortadas, e olheiros de terra, por onde as operárias retiram a terra
que escavaram (Figura 7).

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Tabela 2. Métodos de controle utilizados nas diferentes fases de desenvolvimento de uma
colônia de formigas cortadeiras.

FASE DE DESENVOLVIMENTO DA COLÔNIA MÉTODOS DE CONTROLE


► 80% das rainhas morrem devido às condições
Vôo nupcial, cópula e escavação do ninho
ambientais ou predação por seus inimigos naturais.
► 20% das colônias morrem devido às condições
Ninho inicial ambientais
(até 4 meses) ► Aração e gradagem do solo
► Escavação dos formigueiros
Ninho jovem ► Iscas granuladas ou peletizadas
(5 meses a 3 anos) ► Formicidas pós
Ninho maduro ► Iscas granuladas ou peletizadas
(mais de 3 anos) ► Termonebulização

Olheiro de forrageamento (entrada de folhas) Olheiro de retirada de terra

Figura 7: Tipos de olheiros em ninhos de formigas cortadeiras.

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4. CONHEÇA A FORMA DE ALIMENTAÇÃO DAS FORMIGAS CORTADEIRAS

A atividade das formigas cortadeiras de procurar, cortar e transportar plantas é denominada


de forrageamento. O horário em que ocorre o forrageamento depende da temperatura, da
umidade do ar e da época do ano. Assim, na primavera e no verão ocorre preferencialmente
à noite, e no outono e inverno ocorre durante o dia.

As formigas cortadeiras não se alimentam das folhas que cortam. Elas utilizam as folhas
para manter um jardim de fungo (Figura 8), que é a principal fonte alimentar da colônia. As
operárias adultas também se alimentam da seiva vegetal que é ingerida no momento do
corte das plantas, mas as larvas e a rainha alimentam-se exclusivamente do fungo (Figura 9).

Embora cortem diversos tipos de vegetais, essas formigas são capazes de selecionar as
plantas mais adequadas para o cultivo do fungo e é por isso que, em certas épocas do ano,
algumas espécies de plantas são mais atacadas que outras.

Figura 8: Jardim de fungo cultivado pelas formigas cortadeiras.

ALIMENTAÇÃO PRINCIPAL

cortam crescimento
FORMIGAS PLANTAS JARDIM DE FUNGO

ALIMENTAÇÃO DIRETA
seiva vegetal

Figura 9: Forma de alimentação das formigas cortadeiras.

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II - IDENTIFICAR AS PRINCIPAIS ESPÉCIES
DE FORMIGAS CORTADEIRAS
Entre as formigas cortadeiras, existem as saúvas, pertencentes ao gênero Atta, e as
quenquéns, pertencentes ao gênero Acromyrmex.

1. DIFERENCIE AS SAÚVAS DAS QUENQUÉNS

É possível diferenciar as formigas cortadeiras pelas operárias maiores e também pelas


formas externas de seus ninhos (Tabela 3).

Formigas: As saúvas possuem 3 pares de espinhos na região dorsal, enquanto as quenquéns


possuem 4 pares de espinhos (Figura 10). O tamanho do corpo também é diferente. As saúvas
são bem maiores e a variação de tamanho entre as operárias é grande. As quenquéns são
menores e a variação em tamanho também é menor.
Operária de Saúva Operária de Quenquém

Figura 10: Diferenças morfológicas entre operárias de saúva e quenquém.

Forma externa do ninho: Os ninhos de saúva apresentam grande quantidade de terra solta,
enquanto os ninhos de quenquém são formados por pequenas quantidades de terra solta
ou por montes de folhas e gravetos (Figura 11).
Ninho de Saúva Ninho de Quenquém

Figura 11: Formas externas dos ninhos de formigas cortadeiras.

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Tabela 3. Principais diferenças entre saúvas e quenquéns.

Saúva Quenquém

- 3 pares de espinhos na região dorsal - 4 pares de espinhos na região dorsal

- Pequena variação de tamanho entre


- Grande variação de tamanho entre operárias
operárias

- Ninhos grandes (maiores que 50 m2) - Ninhos pequenos (menores que 5 m2)

- Grânulos de terra pequenos ao redor do


- Grânulos de terra grandes ao redor do ninho
ninho

2. CONHEÇA AS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE SAÚVAS

Quatro espécies de saúvas ocorrem no Estado de São Paulo e elas podem ser divididas
em dois grupos: as que cortam plantas de folhas largas (dicotiledôneas) e as que cortam
plantas de folhas estreitas (monocotiledôneas).

Atta sexdens rubropilosa

Nome popular: saúva limão

Ninho: O monte de terra possui ondulações e é irregular, sendo formado pelo acúmulo de
terra de tamanhos diferentes. As aberturas dos olheiros na superfície parecem pequenos
vulcões (Figura 12).

Soldados: A cabeça e o corpo apresentam poucos pêlos e não têm brilho. A maneira mais
fácil de reconhecer essa formiga é pegar uma delas e espremer a cabeça entre os dedos;
sentir-se-á um forte cheiro de limão (Figura 13).

Plantas que cortam: Preferem as plantas de folhas largas, como citros, eucaliptos e as
frutíferas.

Figura 12: Ninho de Atta sexdens rubropilosa (saúva limão).

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Figura 13: Soldado de Atta sexdens rubropilosa (saúva limão).

Atta laevigata

Nome popular: saúva cabeça de vidro

Ninho: O monte de terra solta é arredondado, com a superfície lisa e os olheiros se abrindo
sobre o monte (Figura 14).

Soldados: A cabeça é sem pêlos e muito brilhante, como se fosse envernizada (Figura 15).

Plantas que cortam: Tanto plantas de folhas largas como de folhas estreitas, como cana-
de-açúcar, milho e pastagem.

Figura 14: Ninho de Atta laevigata (saúva cabeça de vidro).

22 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Figura 15: Soldado de Atta laevigata (saúva cabeça de vidro).

Atta bisphaerica

Nome popular: saúva mata pasto

Ninho: O monte de terra solta é uniforme e pouco arredondado, sendo espalhado pelo solo.
Os olheiros abrem-se diretamente no nível da terra solta (Figura 16).

Soldados: A cabeça tem um grande sulco, formando duas protuberâncias laterais (Figura 17).

Plantas que cortam: Plantas de folhas estreitas, como cana-de-açúcar e pastagem.

Figura 16: Ninho de Atta bisphaerica (saúva mata pasto).

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Figura 17: Soldado de Atta bisphaerica (saúva mata pasto).

Atta capiguara

Nome popular: saúva parda

Ninho: O monte de terra solta possui muitas ondulações e pequenos montes ao redor do
monte maior, porém não é muito alto e é muito esparramado (Figura 18).

Soldados: A cabeça apresenta escultura grosseira e sua coloração é parda e opaca (Figura
19).

Plantas que cortam: Plantas de folhas estreitas, como cana-de-açúcar, pastagem e milho.

Figura 18: Ninho de Atta capiguara (saúva parda).

24 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Figura 19: Soldado de Atta capiguara (saúva parda).

3. CONHEÇA AS PRINCIPAIS ESPÉCIES DE QUENQUÉNS

Quatro espécies de quenquéns são economicamente importantes no Estado de São


Paulo. Essas formigas ocupam cada vez mais lugar de destaque em áreas agrícolas, de
reflorestamento e pastagens, pois podem superar as saúvas em quantidade de ninhos por
área. De forma generalizada, seus ninhos são pequenos e cobertos de palha, fragmentos e
outros resíduos vegetais ou então são subterrâneos, com pouca terra escavada.

Acromyrmex rugosus

Nome popular: formiga-mulatinha / formiga-quiçaçá

Ninho: O monte de terra solta parece uma pequena cratera em forma de meia lua e o orifício
do ninho é irregular (Figura 20). Esta espécie geralmente constrói seu ninho subterrâneo em
espaços entre pedras, troncos de árvores e alicerces da construção civil.

Operárias Maiores: Possuem olhos arredondados externamente e mandíbula alongada, são


opacas e apresentam coloração castanho-clara ou castanha (Figura 21).

Plantas que cortam: Plantas de folhas largas, como citros, eucaliptos e plantas cultivadas
em geral.


A B

Figura 20: Ninho de Acromyrmex rugosus (formiga-mulatinha)


(A – formato do ninho; B – formato do olheiro).
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 25
Figura 21: Operária grande de Acromyrmex rugosus (formiga-mulatinha).

Acromyrmex subterraneus

Nome popular: quenquém de cisco graúda

Ninho: Subterrâneo e normalmente localizado próximo à raiz da planta. O monte de terra


solta pode chegar até 2m de diâmetro e, às vezes, é recoberto por folhas secas (Figura 22).

Operárias Maiores: Possuem olhos arredondados externamente e mandíbula alongada,


são foscas e apresentam coloração variada (castanho-clara, castanha, preta e castanha
enegrecida), sendo que algumas apresentam a cabeça mais escurecida que o corpo (Figura
23).

Plantas que cortam: Preferem plantas de folhas largas, como citros e eucalipto.

Figura 22: Ninho de Acromyrmex subterraneus (quenquém de cisco graúda).

26 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Figura 23: Operária grande de Acromyrmex subterraneus (quenquém de cisco graúda).

Acromyrmex crassispinus

Nome popular: quenquém de cisco

Ninho: Apresenta um monte de palha ou folhas na superfície do solo e, às vezes, é subterrâneo


(Figura 24).

Operárias Maiores: Cabeça pouco alargada e com saliências bem definidas, são foscas e
apresentam coloração castanho-escura ou negra (Figura 25).

Plantas que cortam: Plantas de folhas largas, como eucalipto e plantas cultivadas. Porém,
geralmente constroem seus ninhos na área de gramíneas.

Figura 24: Ninho de Acromyrmex crassispinus (quenquém de cisco).

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 27


Figura 25: Operária grande de Acromyrmex crassispinus (quenquém de cisco).

Acromyrmex balzani

Nome popular: boca-de-cisco

Ninho: É constituído por uma torre de fragmentos de palha e outros pedaços de vegetais
na superfície do solo. Além disso, possui um pequeno monte de terra solta distante
aproximadamente 50 cm do olheiro (Figura 26).

Operárias Maiores: A cabeça é arredondada, fosca e sem espinhos grandes, a mandíbula


é pequena e os olhos não são salientes (Figura 27).

Plantas que cortam: Plantas de folhas estreitas, como gramíneas de pastagem, arroz e milho.

Vista geral do Ninho

Detalhe do formato do olheiro

Figura 26: Ninho de Acromyrmex balzani (boca-de-cisco).

28 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Figura 27: Operária grande de Acromyrmex balzani (boca-de-cisco).

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III - CONTROLAR FORMIGAS CORTADEIRAS

A importância do controle de formigas cortadeiras se deve ao fato de elas causarem danos


consideráveis às plantas, pois cortam continuamente suas folhas e ramos, podendo ocasionar
um desfolhamento intenso e até sua destruição total. Cortes repetidos das folhas fazem com
que os galhos sequem e a planta morra.

ATENÇÃO!!!

Para todas as culturas, os prejuízos podem chegar a 100% quando as


plantas são novas.

Prejuízos em reflorestamentos: As perdas em eucalipto podem se aproximar de 14%,


considerando a densidade de 4 colônias por hectare. Com relação à produção de madeira,
o desfolhamento de 100% das árvores causa redução de 45% da produção de madeira
(Figura 28).
PRINCIPAIS PRAGAS EM REFLORESTAMENTOS
Atta sexdens rubropilosa (saúva limão)
Atta laevigata (saúva cabeça de vidro)
Acromyrmex rugosus (formiga mulatinha)
Acromyrmex subterraneus (quenquém de cisco graúda)
Acromyrmex crassispinus (quenquém de cisco)

Figura 28: Eucaliptos desfolhados por formigas cortadeiras.

30 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


Prejuízos em pastagens: Dez sauveiros adultos por hectare cortam 21 quilos de forragem
por dia, reduzindo em mais de 50% a capacidade de pastagem, além de proporcionar o
aparecimento de plantas daninhas e facilitar o processo de erosão (Figura 29).

PRINCIPAIS PRAGAS EM PASTAGENS


Atta laevigata (saúva cabeça de vidro)
Atta bisphaerica (saúva mata pasto)
Atta capiguara (saúva parda)
Acromyrmex balzani (boca-de-cisco)

Figura 29: Pastagem desfolhada por formigas cortadeiras.

Prejuízos em cana-de-açúcar: Em monoculturas de cana-de-açúcar, um formigueiro adulto


de saúva pode provocar a perda de 3,6 toneladas de cana-de-açúcar por ano. Isso significa,
aproximadamente, 450 Kg de açúcar ou 300 litros de álcool perdidos (Figura 30).

PRINCIPAIS PRAGAS EM CANA-DE AÇÚCAR


Atta laevigata (saúva cabeça de vidro)
Atta bisphaerica (saúva mata pasto)
Atta capiguara (saúva parda)

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Figura 30: Cana-de-açúcar desfolhada por formigas cortadeiras.

Prejuízos em citros: As plantas adultas morrem depois de repetidos ataques de formigas


cortadeiras (Figura 31).

PRINCIPAIS PRAGAS EM CITROS


Atta sexdens rubropilosa (saúva limão)
Atta laevigata (saúva cabeça de vidro)
Acromyrmex rugosus (formiga mulatinha)
Acromyrmex subterraneus (quenquém de cisco graúda)

Figura 31: Laranjeira desfolhada por formigas cortadeiras.

32 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo


1. CONHEÇA OS PRINCIPAIS MÉTODOS DE CONTROLE

1.1. Conheça os métodos preventivos

Alguns métodos preventivos podem ser utilizados no controle de formigas cortadeiras e


apresentam resultados satisfatórios para colônias iniciais, principalmente em pequenas
propriedades.

1.1.1. Conheça o controle cultural

O controle cultural pode ser realizado através de métodos de aração e gradagem do solo
para formigueiros com até 4 meses de idade, pois, nesta fase, a única câmara da colônia
ainda está localizada a aproximadamente 25 centímetros de profundidade do solo e há
grande chance das lâminas do equipamento atingirem a rainha e matá-la. Entretanto, para
formigueiros adultos, o efeito pode ser prejudicial, uma vez que a mecanização do solo pode
desestruturar parcialmente a colônia, interrompendo temporariamente sua atividade, dando
a falsa impressão de que foi controlada e dificultando sua localização.

ARAÇÃO E GRADAGEM DO SOLO

Outro método de controle cultural que tem sido empregado é o uso de culturas armadilhas
na borda da cultura principal. Estas plantas armadilhas podem ser atrativas ou provocarem
efeito tóxico ou repelente para as formigas cortadeiras, desviando-as da cultura principal
por algum tempo.

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► Exemplos de Plantas Atrativas:
GERGELIM HIBISCO

► Exemplos de Plantas Tóxicas:


LEUCEMA MANDIOCA

► Exemplos de Plantas Repelentes:


MAMONA BATATA-DOCE

SALSINHA HORTELÃ

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1.1.2. Conheça o controle mecânico

O controle mecânico de formigas cortadeiras consiste na escavação dos formigueiros até


que a rainha seja localizada e morta. É uma alternativa razoável em pequenas áreas sempre
que os ninhos estiverem superficiais, ou seja, com até 4 meses de idade, pois a partir desta
fase a rainha localiza-se a uma profundidade superior a 1,5 metro. Na prática, este método
é inviável em áreas de plantios comerciais, em reflorestamentos e sistemas de pastagens
devido à grande extensão das áreas e ao tamanho dos formigueiros.

NINHO COM ATÉ 4 MESES DE IDADE

Localização
da rainha

1.1.3. Conheça o controle físico

O uso de barreiras para proteger a copa das plantas é um método de controle muito antigo e
um dos mais utilizados em pomares para se evitar o ataque das formigas. As barreiras mais
utilizadas são cones plásticos invertidos e tiras plásticas cobertas com graxa ou vaselina,
colocados nos troncos das árvores. Outro exemplo é o uso de recipientes contendo água e
detergente ao redor das plantas.

É um método eficiente, porém, vistorias e reparos constantes devem ser feitos para que a
proteção das árvores seja prolongada.

FOTOS

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1.1.4. Conheça o controle biológico

O controle biológico realizado por predadores, parasitóides e microrganismos patogênicos é


importante na regulação das populações de formigas cortadeiras, principalmente durante o
período da revoada e da fundação de novas colônias. Os inimigos naturais juntamente com
as condições ambientais são responsáveis pelo controle de 80% das rainhas, antes mesmo
que elas tenham fundado suas colônias.

Algumas medidas, como restrição à caça de animais e ao uso de produtos fitossanitários e


incentivo à plantação de vegetação nativa entre a cultura principal, são importantes para a
preservação dos inimigos naturais das formigas, como as aves que se alimentam das içás na
época da revoada e os tatus que escavam formigueiros para se alimentarem das formigas.

1.2. Conheça o controle químico

Os métodos químicos são amplamente utilizados no controle de saúvas e quenquéns e as


estratégias diferem pelo tipo de formulação e modo de aplicação dos inseticidas. O combate
químico deve ser realizado com aplicação de dose única dos produtos.

ATENÇÃO!!!

O combate químico deve ser utilizado antes da aração e gradagem


do solo, pois a movimentação do solo acarretará em desestruturação
do formigueiro, impedindo a utilização dos métodos descritos a seguir.
Somente promova a aração da terra após 2 a 3 dias da aplicação.

1.2.1. Conheça as iscas granuladas ou peletizadas

As iscas são constituídas por polpa cítrica desidratada misturada a um formicida, sendo
prensadas na forma de pellets. Os pellets são distribuídos próximos às trilhas de forrageamento
das formigas e, uma vez localizados, são transportados para o interior do ninho.

Limitações de uso: não devem ser aplicadas em dias chuvosos.

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FORMIGAS QUE PODEM SER CONTROLADAS COM O USO DE ISCAS
Atta sexdens rubropilosa (saúva limão)
Atta laevigata (saúva cabeça de vidro)
Acromyrmex rugosus (formiga mulatinha)
Acromyrmex subterraneus (quenquém de cisco graúda)
Acromyrmex crassispinus (quenquém de cisco)

1.2.2. Conheça a termonebulização

A termonebulização implica na utilização de um equipamento que produza uma fumaça tóxica,


a partir de um formicida misturado em óleo mineral sob a ação do calor. A aplicação se dá
diretamente nos olheiros sobre o monte de terra solta, através de equipamentos denominados
termonebulizadores. Esse método é eficiente para o controle de grandes ninhos em áreas
extensas, onde outras metodologias são inviáveis.

Limitações de uso: - exige mão-de-obra especializada,

- uso de equipamento caro,

- manutenção periódica do equipamento.

FORMIGAS QUE PODEM SER CONTROLADAS POR TERMONEBULIZAÇÃO


Atta sexdens rubropilosa (saúva limão)
Atta bisphaerica (saúva mata pasto)
Atta laevigata (saúva cabeça de vidro)
Atta capiguara (saúva parda)

1.2.3. Conheça os formicidas pós

Os formicidas pós são formulados em veículos sólidos, como talco, para serem aplicados
com equipamentos manuais denominados de polvilhadeiras. A morte das formigas ocorre

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pelo contato direto com o produto, que é aplicado nos olheiros, visando atingir o interior do
formigueiro.

Limitações de uso: - necessita da remoção da terra solta 24 horas antes da aplicação


do produto,

- o produto não penetra em todas as câmaras em ninhos grandes,

- o produto fica aderido ao solo se a umidade estiver alta.

FORMIGAS QUE PODEM SER CONTROLADAS COM PÓ SECO


Ninhos pequenos de saúvas (com até 4 meses de idade)
Acromyrmex rugosus (formiga mulatinha)
Acromyrmex crassispinus (quenquém de cisco)
Acromyrmex subterraneus (quenquém de cisco graúda)
Acromyrmex balzani (boca-de-cisco)

1.2.4. Conheça o equipamento de proteção individual (E.P.I.)

Existem roupas e equipamentos específicos para o aplicador de agrotóxicos, que têm por
finalidade evitar o contato direto com o produto durante a aplicação.

Cada equipamento de proteção tem uma função específica, como:

a) proteção da pele - usar luvas, chapéu de abas largas e avental impermeáveis, camisa
com mangas longas e calça;

b) proteção dos pés - botas impermeáveis;

c) proteção dos olhos e face - óculos de segurança e protetor facial;

d) proteção quanto à inalação do produto - máscaras com filtros específicos, para a aplicação
de agrotóxicos.

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PRECAUÇÃO!!!

Utilize o E.P.I. em todas as operações:


transporte, armazenamento, manuseio e
aplicação dos agrotóxicos.

ATENÇÃO!!!

O aplicador deve estar barbeado antes


de utilizar a máscara, para que ela tenha
maior encaixe sobre o rosto, vedando
completamente a passagem do produto
agrotóxico.

A segurança do aplicador está relacionada diretamente


à sua exposição ao produto e ao risco de intoxicação.
Desta forma, sua segurança dependerá da escolha
e da utilização correta do Equipamento de Proteção OS EQUIPAMENTOS
Individual. DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

A higiene pessoal é de grande importância antes, durante e após as aplicações de agrotóxicos;


portanto, deve-se evitar comer, beber ou fumar e não tocar o rosto ou qualquer parte do
corpo com as luvas sujas. Ao terminar a aplicação, é necessário tomar um banho, com água
e sabão, e, depois, vestir roupas limpas.

Ao final de cada dia de trabalho, as roupas de proteção (E.P.I.) devem ser lavadas, de acordo
com as recomendações do fabricante.

ATENÇÃO!!!

Roupas contaminadas não devem ser reutilizadas.

Antes de iniciar a aplicação de agrotóxicos, é necessário fazer uma revisão no E.P.I.


(Equipamento de Proteção Individual); ele deverá estar sem furos ou rasgos e em boas
condições de uso.

Salvo em condições especiais, o uso de E.P.I. no preparo e aplicação de agrotóxicos deve


obedecer o seguinte:

a) no preparo de calda, onde os produtos são mais concentrados, além dos E.P.I. básicos,
use avental impermeável;

b) a manga da camisa deve ficar sempre sobre o cano da luva;

c) a barra da calça deve ficar sempre sobre o cano da bota;

d) na colocação da roupa e E.P.I. obedecer a seguinte ordem: calça, camisa, luvas, botas,
máscaras, óculos, capuz;

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e) a retirada, lembre-se que a roupa e E.P.I. estão contaminados. Portanto proceda da
seguinte forma:

1. lave as luvas com sabão e água e seque com papel toalha ou pano, para remover o
excesso de contaminação;

2. retire os E.P.I. e roupa na seguinte ordem: capuz, óculos, máscaras, camisa, bota,
calça, luvas.

Ainda usando as luvas, coloque a roupa no local para lavagem e guarde cada equipamento
em sacos separados: luvas, máscara, óculos, botas.

ATENÇÃO!!!

Para retirar as luvas, puxe as pontas dos dedos das duas mãos até
folgar bem as luvas. Vá soltando até as luvas ficarem quase fora das
mãos. Em seguida retire a luva de uma das mãos e segure pela boca
do cano, acabe de retirar a luva da outra mão segurando pelo cano
junto com a que foi retirada da outra mão. Guarde as luvas em um saco
separado dos demais equipamentos.

Após a utilização, verifique, novamente, o seu estado de conservação.

O uso correto dos métodos químicos no controle de formigas cortadeiras pode reduzir muito
os riscos para o homem e, ainda, diminuir os efeitos maléficos ao meio ambiente (Tabela 4).

Tabela 4: Uso correto dos métodos e produtos químicos no controle de formigas cortadeiras.

* Equipamentos de Proteção Individual - EPIs


Adquira o produto com Receituário Agronômico emitido por um profissional habilitado.
ATENÇÃO: A responsabilidade da indicação do produto é de quem emite o Receituário
Agronômico.
Verifique se as embalagens estão em perfeitas condições e dentro do prazo de validade.
ATENÇÃO: Produto Seguro é Produto Registrado
No veículo de transporte deve sempre haver equipamento de proteção individual,
sinalizadores e cordas para isolar o local, caso ocorra acidente.
ATENÇÃO: Formicida é Veneno: O inimigo é invisível, mas é poderoso e pode matar.
Transporte e armazene os formicidas isolados de produtos alimentícios, outros produtos
químicos e ração animal.
Inspecione o depósito de produtos químicos periodicamente para detectar possíveis falhas.
Armazene os produtos em local próprio, longe de crianças, animais e máquinas.
Somente pessoas maiores de 18 anos e treinadas devem aplicar formicidas, sendo capazes
de fazê-lo com segurança.

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A aplicação somente pode ser feita com o uso de equipamentos de proteção individual
(EPIs)* recomendados.
Durante o manuseio ou aplicação do produto não fume, beba ou coma para não ocorrer
contaminação.
Evite contatos do produto com a pele, olhos e roupas, prevenindo possíveis contaminações.
Embalagens vazias, restos de caldas, líquidos de lavagem dos equipamentos de aplicação
e de proteção individual devem ser armazenados em áreas especiais na propriedade,
selecionadas com orientação de um profissional habilitado. Posteriormente, todo material
deve ser entregue aos pontos de coleta.

Os EPIs devem ser usados de acordo com as recomendações feitas para cada metodologia
de aplicação. As responsabilidades podem ser distribuídas das seguintes formas:

Obrigações do empregador Obrigações do empregado

Fornecer EPIs indicados para cada situação Usar os EPIs

Oferecer treinamento quanto ao uso dos EPIs Lavar corretamente os EPIs

Fiscalizar e exigir o uso dos EPIs pelo empregado Conservar os EPIs

Realizar a manutenção dos EPIs

ATENÇÃO!!!

O desconforto que o EPI pode causar é uma segurança para a saúde


do trabalhador.

Tabela 5: Riscos de acidentes conforme a estratégia utilizada no controle químico de formigas


cortadeiras.

Riscos
Formulação Impacto ao ambiente
Ao aplicador Outros animais

Formicidas pós Alto Baixo Muito alto

Termonebulização Muito alto Muito baixo Médio

Iscas tóxicas Muito baixo Muito baixo Baixo

Muito baixo (inferior a 20%) Baixo (40%) Médio (60%)


Alto (80%) Muito alto (superior a 90%)

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2. ESTIME O TAMANHO DO NINHO

Para utilizar métodos químicos no controle de formigas cortadeiras, quase sempre é


necessário conhecer o tamanho do formigueiro, que é obtido através da medida do monte
de terra solta. Para tal, alguns passos devem ser seguidos:

2.1. Localize o ninho

Uma vez observados os danos causados por formigas cortadeiras, é importante encontrar
o ninho, pois algumas quenquéns não formam monte de terra.

2.2. Localize o monte de terra solta

Pelo tamanho e forma é possível diferenciar se é saúva ou quenquém.

2.3. Identifique a espécie de formiga a ser combatida

ATENÇÃO!!!

Esta medida é utilizada apenas para ninhos de saúva. Se a formiga for


quenquém, não é necessário calcular a área de terra solta.

2.4. Calcule a área de terra solta, multiplicando o comprimento pela largura.

comprimento

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2.4.1. Para medir, use uma trena ou então passadas largas de aproximadamente um
metro cada.

EXEMPLO: Um formigueiro de 10 metros de comprimento por 6 metros de largura tem uma


área de 60m2.

Maior comprimento (m) X Maior largura (m) = Área de terra solta (m2)

10m X 6m = 60m2

ATENÇÃO!!!

Para Atta capiguara (saúva parda), o cálculo da área de terra solta deve
incluir, além do monte de terra solta, as rosetas e os discos existentes
ao seu redor.

comprimento

largura

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3. FAÇA O CONTROLE DE FORMIGAS CORTADEIRAS COM O USO DE ISCAS

3.1. Localize o formigueiro.

3.2. Identifique a espécie de formiga a ser combatida.

3.3. Para saúvas, estabeleça a quantidade de isca a ser aplicada no ninho.

EXEMPLO: Os fabricantes recomendam aplicar 10g de isca para cada 1 m2 de terra solta.
Para um sauveiro com 60 m2 de terra solta devem-se aplicar 600g de isca.

Área de terra solta (m2) X Quantidade de isca (g/m2) = Quantidade de isca a ser
aplicada (g)

60m2 X 10g/m2 = 600g

ATENÇÃO!!!

Para quenquéns, aplique 10g de isca por formigueiro.

3.4. Pese a quantidade de isca que deverá ser aplicada no ninho.

ATENÇÃO!!!

A quantidade de isca também pode ser medida com o uso de um


dosador, que acompanha o próprio produto ou pode ser feito pelo
aplicador.

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EXEMPLO: Em um copinho descartável de café cabem 30 gramas de isca.

3.5. Localize os olheiros de forrageamento (onde as formigas entram com as folhas


cortadas) de preferência após as 16 horas (horário de maior atividade das formigas).

3.6. Vista os equipamentos de proteção individual

EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL


NECESSÁRIOS PARA A APLICAÇÃO DE ISCAS

Calça e camisa
(mangas longas)

Luvas de PVC

Botas

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3.7. Aplique diretamente da
embalagem.

ATENÇÃO!!!

Evite o contato direto com as


mãos.

3.8. Coloque a isca formicida no


dosador (se esta ainda não foi
pesada)

3.9. Aplique a isca formicida.

Coloque as iscas ao lado dos carreiros de formigas, 30 a 40 cm dos olheiros de forrageamento,


de preferência após as 16 horas.

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ATENÇÃO!!!

As iscas devem ser distribuídas no maior número de olheiros de


alimentação encontrados.

3.10. Verifique se toda a isca foi carregada (volte ao local no dia seguinte). Se houver
sobra de isca, recolha-a e armazene na área especial da propriedade.

3.11. Verifique se o formigueiro está ativo (com presença de formigas).

Retorne ao local após uma semana da aplicação da isca para verificar a atividade do
formigueiro.

ATENÇÃO!!!

Se o formigueiro continuar ativo, a isca só poderá ser aplicada


novamente após 90 dias.

4. FAÇA O CONTROLE DE FORMIGAS CORTADEIRAS POR TERMONEBULIZAÇÃO

4.1. Localize o formigueiro.

4.2. Identifique a espécie de formiga a ser combatida.

4.3. Localize os olheiros do formigueiro.

4-4 faça uma limpeza ao redor dos olheiros, retirando folhas e ramos, de forma a minimizar
o risco de fogo.

4.4. Faça uma revisão completa no termonebulizador (limpeza de velas, carburador e


câmara de abastecimento).

4.5. Abasteça o termonebulizador com combustível.

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4.6. Vista os equipamentos de proteção individual.

EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL


NECESSÁRIOS PARA A TERMONEBULIZAÇÃO

Capuz
Óculos

Protetor de ouvido

Máscara
Luvas de nitrila ou couro

Macacão de pernas e
mangas longas

Botas

4.7. Prepare a solução formicida (calda).

ATENÇÃO!!!

A calda consiste na mistura do formicida com o óleo mineral. Essa


mistura deve ser preparada segundo o receituário agronômico e a dose
recomendada pelo fabricante do inseticida, sempre com o uso de EPIs.

4.8. Abasteça o termonebulizador com a solução formicida (calda).

4.9. Funcione o motor. Aguarde até que o queimador do termonebulizador fique


aquecido (para o equipamento com motor de dois tempos, aguarde alguns minutos
até o aquecimento da câmara).

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ALERTA ECOLÓGICO!!!

Muita atenção quanto ao risco de fogo.

4.10. Aplique o formicida.

Para sauveiros com área de terra solta de até 50m2, aplique em 2 ou 3 olheiros de
forrageamento ativos, em pontos extremos do ninho. Em sauveiros maiores, aplique em 4
ou mais olheiros.

Para Atta capiguara (saúva parda) selecione os olheiros de forrageamento que se encontram
fora do monte de terra solta e, para as demais formigas, selecione os olheiros sobre o monte
de terra solta.

4.10.1. Coloque a ponta do cano


aplicador no olheiro escolhido.

4.10.2. Feche o olheiro em torno da mangueira.

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4.10.3. Abra a torneira de saída do formicida.

4.10.4 Aguarde a saída da fumaça pelos outros olheiros.

4.10.5. Feche com terra os olheiros que estiverem liberando fumaça.

4.10.6. Aplique um pouco mais de fumaça no olheiro (2 a 3 minutos).

4.10.7. Feche a torneira de saída do formicida.

4.10.8. Desligue o termonebulizador. Esta operação deve ser realizada após 10


segundos de fechada a torneira de saída do formicida.

4.10.9. Retire a mangueira 4-10-10 e feche o olheiro de aplicação.

4.10.10. Limpe o termonebulizador.

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5. FAÇA O CONTROLE DE FORMIGAS CORTADEIRAS COM PÓ SECO

ATENÇÃO!!!

O pó seco já vem pronto para o uso.

5.1. Localize o formigueiro.

5.2. Identifique a espécie de formiga a ser combatida.

5.3. Remova a terra solta dos olheiros no dia anterior à aplicação do pó.

5.4. Marque com estacas os olheiros do formigueiro no dia anterior.

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5.5. Vista os equipamentos de proteção individual.

EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL


NECESSÁRIOS PARA A APLICAÇÃO DO PÓ SECO
Capuz
Óculos

Protetor de ouvido

Máscara
Luvas de nitrila ou couro

Macacão de pernas e
mangas longas

Botas

5.6. Abra o recipiente de armazenamento da polvilhadeira e coloque o formicida.

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5.7. Feche a polvilhadeira.

5.8. Coloque a ponta da polvilhadeira no olheiro e feche o espaço em volta da mangueira.

5.9. Bombeie a alavanca da polvilhadeira, até sair o pó pelos outros olheiros.

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5.10. Feche com terra os olheiros que estiverem liberando pó.

5.11. Retire a mangueira do olheiro com cuidado.

5.12. Feche completamente com terra o olheiro tratado.

5.13. Se houver sobra de produto, aplique em outro olheiro, até esvaziar a polvilhadeira.

5.14. Limpe a polvilhadeira

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6. DESCARTE DAS EMBALAGENS VAZIAS

As embalagens de produtos agrotóxicos trazem riscos ao homem e à natureza; portanto,


não devem ser descartadas em qualquer lugar nem enterradas ou queimadas.

As embalagens deverão ser guardadas, temporariamente, em local seguro (fechado e


identificado), como, por exemplo, o próprio depósito de agrotóxicos, sendo posteriormente
levadas para locais próprios de reciclagem.

ALERTA ECOLÓGICO!!!

As embalagens não podem ficar expostas no campo. Não deverão,


também, ser descartadas em locais impróprios (leitos dos rios etc.).

ATENÇÃO!!!

Procure informar-se com um profissional da área, a fim de verificar


a existência de algum programa de reciclagem de embalagens de
agrotóxicos em sua região.

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BIBLIOGRAFIA

1. ANJOS, N.; DELLA LUCIA, T. M. C.; MAYHÉ-NUNES, A. J. Guia prático sobre formi-
gas cortadeiras em reflorestamentos. Ponte Nova: Graff Cor, 1998. 97p.

2. DELLA LUCIA, T. M. C. As formigas cortadeiras. Viçosa: Folha de Viçosa, 1993. 261p.

3. FORTI, L. C.; BOARETTO, M. A. C. Formigas cortadeiras: biologia, ecologia, danos


e controle. Botucatu: Universidade Estadual Paulista, 1997. 61p.

4. HÖLLDOBLER, B., WILSON, E. O. The ants. Berlin: Springer-Verlag, 1990. 732p.

5. JUSTI Jr., J.; IMENES, S. L.; BERGMANN, E. C.; CAMPOS-FARINHA, A. E. C.; ZOR-
ZENON, F. J. Formigas Cortadeiras. Boletim técnico do Instituto Biológico, n.4, 1996.
31p.

6. MARICONI, F. A. M. As saúvas. São Paulo: Ceres, 1970. 167p.

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