São Paulo a caminho da Federação Espírita e observei a vida ao meu redor. A cidade suja, moradores de rua caídos nas sarjetas, muitas pichações e caos no trânsito, além da poluição generalizada. Mas de repente reparo numa mãe, andando com o seu filho pequeno com uma mão segurando em sua pequena mãozinha e a outra em um cigarro dando baforadas que vão em seu rosto por causa do vento. Também vejo um morador de rua em pé falando coisas que não consigo compreender para um rapaz, bem vestido, que pacientemente parou para escutar, ao invés de passar o ignorando como costumamos fazer. Dando seu tempo e atenção, coisas que faltam aos montes para todos, inclusive para quem tem onde morar e o que comer todos os dias. Dentre a arquitetura da cidade, parte planejada e outra parte que parece que só se multiplicou em cima uma da outra pela pressa e necessidade da expansão, vejo uma obra de arte mais recente, que a distância pode se misturar no caos, mas que ao se aproximar um pouco mais e termos um olhar um pouco mais atento, podemos refletir e se surpreender com seus detalhes. É de um pai negro abraçado com sua filha desenhado na lateral de um prédio. Mesmo com a frieza e sujeira da cidade, o que essa obra de cores vibrantes tem a nos mostrar? Será que se pararmos e olharmos para a vida ao redor, não encontraremos um pouco de arte? de amor? Mesmo quando está cercada de prédios velhos, da poluição, da violência, do desequilíbrio emocional e das doenças mentais de tantas pessoas tão diferentes, porém, ao mesmo tempo no mesmo mundo? Ainda vejo nesse mundo mais mal do que bem, seja nas pessoas ao redor e no sistema social que essas pessoas constroem e seletivamente controlam. É um mal que está em tudo e dentro de cada um de nós, as vezes conscientemente e as vezes inconscientemente. Mas nada nunca foi uma totalidade, preto no branco. Somos cercados de tons de cinza e também de tons de azul, laranja, amarelos. Basta parar para olhar. Acho que você deveria nascer aqui na Terra, pois a única maneira de crescer é através dos conflitos. Você dificilmente cresce quando tudo da certo sempre. Você dificilmente aprende uma lição quando nunca é posto em prova. É um remédio amargo muitas vezes, mas não se desespere, pois sempre existirá pontos de luz para te guiar. É preciso praticar o olhar e aprender a encontra-los.