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rev i st a d a

Página 42 Página 44
>< Educação >< Ciência e
em Debate: Tecnologia:
os partidos o trem do
da escola futuro
UMA PUBLICAÇÃO DA SEÇÃO SINDICAL DOS DOCENTES DA UFRJ >< ANO 2 >< NÚMERO 3

Entre a vida e a morte


Com apenas 260 leitos e redução de cirurgias e transplantes, o hospital
universitário vive dias dramáticos e ameaça a formação acadêmica
Páginas 04 a 37
#somostodosprofessores Em 40 rostos, a Adufrj homenageia os 5.031 docentes que dedicam a vida a construir uma das
melhores universidades do Brasil. A cada edição, retrataremos outros incansáveis mestres.
índice

Fernando Souza
ANO 2 >< NÚMERO 3 >< SETEMBRO/2017
6

d a
Adilson de Oliveira Afrânio Kritski Alberto Luiz Coimbra Andréa Salgado Angela Santi
raio-x
Conheça por

r e v i s t a
dentro a maior
unidade de saúde
da UFRJ
Por Silvana Sá

26
Antonio Carlos Lima Beatriz Rezende Cláudia Rodrigues Claudia Werner Cristina Riche
editorial

A agonia de um hospital
assistência
>< Hospitais são zonas de fronteira. Entre a vida e a morte, entre o medo e a A luta por
esperança, entre a doença e a cura. O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho um hospital
abriga todos esses opostos e mais um: o de continuar ou acabar. Com 39 anos de universitário de
existência, ele está no limite. Sem recursos, com andares inteiros vazios e apenas
Djalma Mosqueira Falcão Edson Watanabe Eliana Moura Emilio La Rovere Gilberto Domont excelência
260 leitos de internação. Há dez anos tinha 400.
Por Ligia Bahia

30
Elemento essencial na formação acadêmica dos futuros profissionais de saúde, o
Clementino abriga 1.500 alunos que, hoje, convivem com o fantasma do fechamento
expediente do hospital. O tema já ocupa a imprensa nacional e não prejudica apenas a
comunidade da UFRJ. A população do Rio de Janeiro depende de seu atendimento e
A Revista da Adufrj é uma da pesquisa produzida em seus laboratórios.
publicação da Seção Sindical
dos Docentes da UFRJ
Para compreender o aprofundamento dessa longa agonia que já dura décadas e que
Editoras Responsáveis:
Ivone Cabral João Carlos Basílio João Graciano Joaquim Fernando Mendes José Sérgio Leite Lopes pesa como uma imensa sombra de 14 andares sobre o campus do Fundão, a Revista
Ana Beatriz Magno (DF 3976)
da Adufrj oferece um dossiê com 34 páginas. Para fazê-lo, montamos uma equipe de
ebserh
Silvana Sá (RJ 30.039)
quatro jornalistas, um fotógrafo, dois artistas gráficos e seis respeitados professores Depois de anos sem
Projeto Gráfico e Diagramação: nenhuma decisão,
Renata Maneschy da UFRJ, que não têm exatamente a mesma visão sobre as soluções para o hospital,
mas que partilham da mesma preocupação sobre seu destino. empresa volta a ser
Foto da capa: Fernando Souza
cogitada para gerir
Colaborararam nesta edição: o Clementino
Alexandre Pinto Cardoso, Ana Durante seis meses, essa valente equipe leu relatórios, entrevistou autoridades,
Beatriz Magno, André Hippertt, docentes, estudantes e técnicos, visitou outros hospitais universitários e peregrinou Por Kelvin Melo
Carlos Frederico Rocha, pelas enfermarias, ambulatórios e laboratórios do Clementino. O resultado da
Deborah Trigueiro, Denise Pires apuração é impactante.

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Lauro de Melo Leila Bergold Leila Rodrigues Licius Bossolan Luiz Bevilacqua de Carvalho, Elisa Monteiro,
Fernando Santoro, Fernando
Souza, Kelvin Melo, Ligia Bahia, São relatos e imagens de equipamentos caros jogados pelos cantos, goteiras
Maria Luiza Mesquita, Nelson pelos corredores, filas de 30 minutos nos elevadores, falta de controle de ponto,
Souza e Silva, Roberto Medronho, familiares desesperados porque cirurgias foram canceladas por falta de anestesista,
Robson Mathias, Silvana Sá,
Tatiana Roque, Valentina Leite medicação e materiais.
Tratamento de imagens:
O mais triste, no entanto, foi a constatação de uma face pouco conhecida de um
Ricardo Gandra
hospital público: a excelência, traduzida em pesquisas de ponta ameaçadas pela
ensaio
Impressão: GrafMec
falta de recursos e tocadas por profissionais resignados e estudantes apaixonados Esculturas
Tiragem: 5 mil exemplares
pelo ofício, tentando fazer o melhor com tão pouco. É uma agonia imensurável. nos campi
Luiz Davidovich Marcelo de Araújo Carvalho Maria Fernanda Quintela Mônica Salgado Nadja Paraense Distribuição gratuita: formam galeria
Proibida a reprodução sem
autorização formal dos editores. Divulgado no dia de fechamento da revista, o ranking da Folha 2017 mostrou que a céu aberto
Venda proibida. a UFRJ é a melhor universidade do país, mas o curso de Medicina ocupa a sétima Por Fernando Souza
Entre em contato conosco pelo posição. Em 2008, era o primeiro. “Nossos estudantes estão sendo expostos a
canalaberto@adufrj.org.br. ‘escolhas de Sofia’. Todo dia decidimos quem sobe para o CTI e quem não vai

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ADUFRJ (www.adufrj.org.br) sobreviver. Semana passada, tínhamos três doentes precisando de transferência
>< Presidente: imediata para o CTI. Só tinha uma vaga. Só um sobreviveu. Justamente o que foi
Tatiana Marins Roque transferido”, disse o próprio diretor do hospital, professor Eduardo Côrtes, durante
>< 1º vice-presidente: uma reunião do Conselho Universitário no dia 22 de junho.
Carlos Frederico Leão Rocha
Pedro Lagerblad Raquel Massad Reinaldo Gonçalves Ricardo Tadeu Lopes Roberta Andrade
>< 2º vice-presidente:
Fernando José de Santoro Mas, a terceira edição da Revista da Adufrj não é feita só de noticias tristes. Temos
>< 1º secretário: um ensaio fotográfico sobre as esculturas espalhadas pelo campus e uma matéria de
Gustavo Arantes Camargo fôlego sobre um dos orgulhos da pesquisa tecnológica da UFRJ, o Maglev. educação
>< 2º secretário: Reforma do
Antonio Mateo Solé Cava Ensino Médio
Boa Leitura.
>< 1ª tesoureira:
Silvana Allodi
é retrocesso
>< 2ª tesoureira: As editoras para o país
Liv Rebecca Sovik Ana Beatriz Magno e Silvana Sá Por Maria Luiza
Mesquita
Sara Menezes Tania Andrade Lima Theodoro Netto Viviane Lione Walter Suemitsu
Fernando Souza

Dossiê mostra passado e presente do hospital


universitário e soluções para sua crise. Especialistas
apontam alternativas que vão desde a gestão via
Complexo Hospitalar, até a adesão à Ebserh

por Ana Beatriz Magno


e Silvana Sá
>< Da Reportagem da Adufrj
de abandono
O

Epidemia
hospital
universitário >< ARTIGO
da melhor universidade do
país sofre de uma espécie
de doença crônica que O magnífico universidade “socialmente referen-
ciada”, seguindo a pureza de intenções
se agravou nos últimos
meses. O déficit acumulado
em 2017 ultrapassa
dilema dos componentes de seu corpo social.
Para essas pessoas, qualquer ação na
direção de interações com o mundo
os R$ 10 milhões. por Carlos Frederico Rocha externo deve ser bloqueada a qualquer
Medicamentos e materiais >< Vice-presidente da Adufrj custo. Essa agenda do bloqueio privou
estão deixando de ser a cidade de sua principal casa de espe-
comprados, funcionários táculos e não encontrou uso alternativo
correm risco de ficar No dia 11 de maio de 2010, a UFRJ re- ao sucateamento.
sem salários, segundo a tomou a posse do Canecão na Justiça.
direção. As raízes desse Eu nunca acreditei que a universida- Bloquear parece ser uma especia-
quadro são muitas e de pudesse administrar uma casa de lidade que começa a afetar a capaci-
buscamos apresentá- espetáculos, mas pensava que conse- dade de manter as atividades acadê-
las nas próximas 32 guiria gerir um hospital universitário, micas pelas quais a universidade ficou
páginas. Dividimos o centrado na formação de médicos. Sete conhecida. Foi assim que a UFRJ não
dossiê em quatro partes: anos após a retomada do Canecão, o aprovou a alternativa governamen-
orçamento e pessoal, edifício em que estava localizado con- tal para a gestão de seus hospitais: a
formação acadêmica, tinua fechado. Desculpas não faltam. Empresa Brasileira de Serviços Hos-
assistência e pesquisa. Inicialmente, a negativa do antigo in- pitalares (Ebserh). Quatro anos depois
Para cada um, há uma quilino de retirar os equipamentos de o Hospital Universitário Clementino
reportagem e um artigo. sua propriedade deixava gestores atô- Fraga Filho está ameaçado de fecha-
Independentemente nitos, depois, o embate com o Minis- mento. Os dois maiores beneficiários
dos posicionamentos tério Público acerca da formatação de da não aprovação da Ebserh, eleitos,
defendidos, o consenso um concurso público retardava qual- em seus momentos, Diretor do Hos-
gira em torno da seguinte quer projeto de reforma, finalmente, a pital e Reitor da Universidade, trocam
ideia: do jeito que está atual Reitoria enterrou-o nos montes acusações públicas de inação, sem
não pode continuar. de papéis e tarefas que se empilham mencionar (publicamente) a possi-
Vale para as contas, sobre as mesas da chefia de gabinete bilidade da Ebserh. Bloquearam uma
ensino, atendimento e do Reitor. O fato é que, após sete anos, solução e acabarão fechando o HU,
também para os recursos a UFRJ não tem um projeto para aquela enterrando junto o melhor curso de
humanos. O Clementino edificação e afirma, em nota oficial, Medicina do Rio de Janeiro. O custo
é o sexto maior hospital que estuda “as alternativas para rea- social dessa consequência é estratos-
universitário do Brasil em tivação do espaço”, que deverá conter férico, mas infelizmente não parece ser
número de médicos: são “expressões artísticas e culturais que “socialmente referenciado”.
1.097 para 260 leitos. A não encontram abrigo nos circuitos da
relação é de 4,04 médicos indústria cultural”. E continuaremos a enterrar os nos-
por paciente. Apesar sos vivos com atitudes de bloqueio.
de tantos problemas, o Para algumas pessoas da Univer- Ao contrário de Pasárgada, no mundo
Clementino sobrevive pela sidade, parece existir um mundo não externo, há Kairós e, principalmente,
excelência de seu quadro mercantil paralelo, que está localizado Kronos. Assim, estamos diante de um
de pessoal – unanimidade no Fundão e em algumas áreas da Praia magnífico dilema: modernizar a ges-
entre pacientes e Vermelha e do centro da cidade, que tão, afastando-nos de velhos dogmas,
Prova de estudantes. “O diferencial deve ser mantido puro. Pasárgada fun- ou enterrar a universidade no bloqueio
obstáculos no daqui são as pessoas e o cionaria com base em transferências a suas ações. A pergunta desta oportu-
Clementino compromisso de ensinar governamentais incondicionais que, nidade, com esta cronologia, é se o Rei-
Fraga: pacientes sempre as novas gerações”, por definição, não teriam qualquer tor manterá o curso de Medicina aberto
enfrentam resume a estudante de influência ideológica sobre os desti- ou se irá se conservar fiel à agenda de
goteiras, baldes e Medicina, Milena Blanc. nos do conhecimento e manteriam a bloqueio que o elegeu.
rachaduras nos

4 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3


corredores
Revista da ADUFRJ>< Ano 2 >< Número 3 >< 5
DOSSIÊ HOSPITAL

Queda acentuada nas internações e procedimentos Conhecendo o Clementino Orçamento do


Hospital 2016
hospitalares contrasta com o grande número de Dimensões físicas (sem folha de
pessoal próprio)
médicos. Realidade que começa a ser desvelada Ele foi construído com
14 Procedimentos hospitalares
pelos dados de desempenho do hospital 220 mil andares ao longo dos anos
metros quadrados
550 UFRJ (Clementino Fraga)
Hoje ele tem é a capacidade de leitos R$ 82,8 milhões
Internações

110 mil 260 Ministério


da Educação
2009
2016
7600
7125
metros quadrados
após a implosão São os leitos em utilização Procedimentos Clínicos
R$ 50,6 milhões 2009 3667
Fundo Nacional 2016 2954
de Saúde
Cirurgias
2009 3613
* Dados do Portal R$ 12,5 milhões 2016 3795
da Transparência Emendas parlamentares
Internações por Doenças
do Aparelho Circulatório
2011 1482
Desempenho do HU no Brasil: 2016 946
comparação com outros hospitais universitários
Atendimentos de Urgência em Clínica Médica
Total de
2011 326
Funcionários Médicos Leitos Internações Transplantes
2016 110
Clinicas Porto Alegre 4423 1680 - 36.183 1.561
Hospital da Unifesp 5566 2833 621 22.384 602 Transplantes
Clinicas UFMG 5606 3196 401 17.857 953 2009 302
2016 178
por Silvana Sá Hospital de Clinica da UFPR 4436 1960 501 17.482 574
>< Da reportagem da Adufrj Hospital da UFPE 2525 1220 383 13.845 140
Média Internações para Tratamento
1052 médicos Hospital da UFPB 1590 553 149 10.968 sem registro
de Pneumonia ou gripe

M
por leito Hospital da UFSC 1564 559 190 10.027 54 2009
médicos 4,04 Hospital da UFG 1688 824 287 9.833 2 2016
212
138
ergulhar nos dados do hospital universitário demanda Hospital da UFMS 1603 633 197 8.688 0
incrível esforço. Não só para entender a dinâmica do Hospital da UFAL 1394 479 174 Internações para Tratamento de Diabetes
Clementino, mas, principalmente, para conseguir traduzir e com- 358 187 8.420 3
2011
provar em números o que muitas vezes só o olhar é capaz de per- técnicos- professores Hospital da UFC 1705 618 186 8.346 1405
2016
56

ceber. Esta infografia tem uma finalidade simples: a de apresentar administrativos Hospital da UnB 1495 526 228 8.038 159 31

como a universidade, por meio de seu hospital geral, se insere no Hospital da UFBA 2549 855 247 7.949 197
complexo universo da assistência à saúde. Qual é a parcela de aten- Hospital da UFRN 1684 661 210 7.709 391 Transplantes de rins
dimentos à população? Quantas pesquisas são realizadas? Quantos 372 135 Hospital da UFRJ 2874 1097 251 7.125 178 2002 48
são os profissionais que se dedicam a salvar vidas? De que maneira residentes extraquadros Hospital da UFF 1557 748 182 5.520 45
2016 9
a sociedade paga essa conta que não fecha?
Hospital da UFPI 1368 361 155 4.731 sem registro
A subutilização do hospital é evidente. Apesar de sua capacidade Hospital da Unirio 956 379 218 4.714 10 Internações para Tratamento de Cálculo Renal
ser de 550 leitos, a unidade hospitalar, hoje, consegue manter menos Hospital da UFAM 1335 428 147 2011 21
3.852 2
da metade de sua estrutura em funcionamento. São apenas 260 leitos 2016 6
Hospital da UFMT 1048 429 91 3.814 sem registro
ativos num prédio que ocupa uma área de 110 mil metros quadrados,
o equivalente a 11 campos de futebol ou 11 hectares. 1.500 estudantes de 7,1 mil
Hospital da UFPA
Hospital da UFS
-
1287 408
-
122
- 3.852
2.785
2
sem registro Internações para Tratamento de Hepatites Virais
graduação e pós-graduação internações em 2016 2009 21
Ano após ano, o número de procedimentos diminui, o que leva à circulam diariamente Hospital da UFMA 1727 426 492 2.567 106
consequente queda do financiamento por parte do Sistema Único no hospital 178 * sem registro
2016 6
de Saúde. Como se pode observar, em 2009 foram realizados 302 transplantes em 2016
transplantes, contra 178 no ano passado. Uma queda de 41%. Quanto Transplantes de fígado
Programas de residência:
aos transplantes de rins, uma das maiores demandas nacionais, os 818 é a média Dos 23 hospitais universitários federais... 2009
procedimentos diminuíram inacreditáveis 81%. Saíram de 48, em 69 registrados de atendimentos 2015
19
3
2002, para apenas nove, em 2016.
55 ativos diários no ambulatório
...apenas quatro ...apenas oito
A seguir, um pouco das entranhas dessa caixa-preta, cujos dados 196 mil têm mais internam ...treze, têm Transplantes de Córnea
são muito mais que números. Eles refletem dramas humanos de Grupos de pesquisa CNPq: 9 consultas médicos que menos que o menos leitos 2013 5
quem cuida e é cuidado no hospital universitário. Programas de Extensão: 6 ambulatoriais em o Clementino Clementino que o da UFRJ. 2015 1
2016 Fraga Filho. Fraga Filho.

6 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3


DOSSIÊ HOSPITAL >< ARTIGO
N um guia com oito perguntas,
o professor da Faculdade de Medicina,
Alexandre Pinto Cardoso, mostra con-
A média complexidade corresponde ao
fluxo de caixa que entra mês a mês, sem
avaliação. Já a alta complexidade é anali-
Quem é o gestor das vagas
do SUS no HU?

ceitos e temas essenciais para entender o sada antes de os valores serem repassados. O município é o gestor pleno do Sistema
complexo mundo que faz do Clementino Único de Saúde.
uma das unidades mais importantes da O extrateto corresponde a programas,
universidade. como os transplantes ou outros serviços
extraordinariamente realizados que po- E quem paga
dem ser remunerados além do teto. os profissionais ?
Por que os hospitais universitários
foram criados? Essa pactuação pode sofrer revisões O MEC paga a folha de pessoal do qua-
anuais, quando o hospital faz o seu Plano dro, ou seja todos os funcionários do
Para servir ao ensino, pesquisa e extensão, Operativo Anual (POA) e o apresenta ao Regime Jurídico Único e os residentes.
como um grande laboratório pedagógico gestor do SUS. O hospital também rece- A reitoria e o hospital com seus recursos
interessando a muitas áreas de conhe- be o orçamento participativo de custeio próprios (obtidos via emendas parla-
cimento e não só as da saúde. Hospitais destinado à universidade. mentares ou via os atendimentos do
universitários são, portanto, o “locus” SUS) pagam os extraquadros e os terce-
excepcional de interação acadêmica com Há, ainda, os recursos de investimento e rizados. O aporte da reitoria para o pa-
a assistência ao sofrimento humano. custeio do hospital, que podem ter fontes gamento dos extraquadros consiste em
diversas: MEC, Fundo Nacional de Saúde, substantiva ajuda à obtenção do custeio
emendas parlamentares, pesquisa e outros. por prestação de serviços ao SUS.
Os hospitais universitários devem
estar incluídos na linha do cuidado? Os recursos obtidos destas fontes têm sé- Houve época em que o pagamento dos
rias repercussões acadêmicas e apontam extraquadros era feito com recursos de
Claro que sim. Não se pode ensinar a cui- para uma desigualdade entre o que temos custeio do hospital, o que impactava
dar, se não estivermos cuidando. E mais: e o que precisamos em termos de incor- ainda mais a rubrica. No final da minha
num hospital universitário estamos dan- poração tecnológica séria e responsável. gestão (em 2009) à frente do Clemen-
do a conhecer, vivenciando e interagindo tino Fraga Filho, conseguimos que a
com o Sistema Único de Saúde, ocupando UFRJ arcasse com este ônus, o que tra-
o papel que nos cabe na rede assistencial, ria para os meus sucessores um alívio
de um hospital terciário teoricamente de no fluxo de caixa.
alta complexidade.

Como é o quadro de pessoal


Como deve ser exercida a atividade do hospital universitário?
dos profissionais em um hospital
universitário? Há basicamente quatro tipos de profis-
sionais — os servidores próprios, que se
Dentro da perspectiva docente assisten- dividem em servidores técnico-admi-
cial. Todo profissional de nível superior nistrativos e professores que acumulam
deve se enquadrar nesta linha de com- a função de médicos; os residentes, mé-
portamento. O docente deve estar inse- dicos em formação que prestam aten-
rido na linha do cuidado, além do ensino >< dimentos ambulatoriais e nos leitos; os
e pesquisa, até porque é sua área de inte- terceirizados, que desempenham fun-
resse. Da mesma maneira, o médico no Acredito que ções de portaria, limpeza, copa e co-
exercício de sua atividade vai interagir zinha; e os extraquadros, profissionais

O que é um hospital
com alunos de todos os níveis como parte é chegado o que não possuem vínculo formal com a
integrante e indissociável de sua prática. instituição e não têm preservados seus
Este pensamento se aplica a enfermeiros, momento de o direitos trabalhistas.
assistentes sociais, psicólogos, fisiotera-
peutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocu- Conselho Diretor

universitário?
pacionais, farmacêuticos e outros. A transparência de dados do
divulgar todos hospital é suficiente?

Como é o orçamento do os dados do Acredito que é chegado o momento de


hospital universitário? o Conselho Diretor divulgar todos os
Clementino, dados do Clementino, estabelecer suas
Este é um problema crônico que sofre metas e objetivos e submetê-los à UFRJ,
Para responder a esta pergunta-chave, a Revista da Adufrj convidou o ex-reitor e ex-diretor do Clementino agudização periódica. Os hospitais uni- estabelecer suas que irá dizer para onde vamos.
versitários federais são custeados pelo
por Alexandre Pinto Cardoso Ministério da Educação e pela prestação metas e objetivos Na página do Hospital Universitário
>< Professor Associado da Faculdade de Medicina, de serviços ao Sistema Único de Saúde. Clementino Fraga Filho está publicada
ex-reitor e ex-diretor do Clementino Fraga Filho Esses serviços podem ser de média com- e submetê-los à uma tabela de execução orçamentária
plexidade, alta complexidade e extrateto por elementos de despesa, mas não se
— são procedimentos especiais que ul- UFRJ, que irá dizer consegue acessar a totalidade dos da-
trapassam o limite financeiro estabele- dos, bem como o relatório gerencial
cido pelo SUS. para onde vamos anual de atividades.

8 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 >< 9
DOSSIÊ HOSPITAL >< PESSOAL

Fernando Souza
por Silvana Sá
>< Da reportagem da Adufrj
Não é (só) uma
questão de (falta de)
A
pessoal
administração de recursos humanos do hospital uni-
versitário é a variável mais delicada – e complexa – da
gestão de pessoal da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O
Clementino tem 3.328 funcionários, quase um terço dos técnicos
de toda a UFRJ. Há profissionais com as mais diferentes formações
e contratos de trabalho. Tem professor Titular da Faculdade de
Medicina que se desdobra entre a docência, os centros cirúrgicos
e os laboratórios de pesquisa. Tem técnico de enfermagem que
trabalha mais de 60 horas semanais e recebe menos de um sa-
lário mínimo. Há gente que dedicou a vida ao hospital, mas há O Clementino Fraga tem 260 leitos e 1052 médicos. Ao todo,
também distorções de quem trabalha pouco e ganha muito.
são 3.328 funcionários, mais de 20% sem direitos trabalhistas mínimos.
Um dos dramas da política de pessoal são os chama-
dos extraquadros: 673 homens e mulheres, mais de 20% Não existe controle de ponto. Os corredores vivem vazios.
do total de servidores do hospital, que não contam com
direitos trabalhistas, como carteira assinada, férias e Dos 358 médicos concursados, 100 ganham mais do que o reitor e
décimo terceiro. Muitos ganham menos do que o salário
mínimo. Mais de uma centena, 135, são médicos e têm 186 recebem acima da média dos vencimentos de um professor Titular
responsabilidades gigantescas na instituição.

Outro ponto sensível no cotidiano das equipes é a


falta ao trabalho. Não há controle de ponto eletrô-
nico. Em depoimento ao Conselho Universitário,
o diretor do hospital afirmou que, só em 2016, o
Clementino perdeu 30 mil dias de trabalho com
licenças médicas.

Grande no tamanho, com 14 andares, e uma


área de 110 mil metros quadrados, o hospital
não sofre com a superlotação. Os corredo-
res vivem vazios. Há 1.052 médicos e 260
leitos, quase a metade das vagas existentes
em 2008. Estudantes e professores da Me-
dicina reclamam de pouca experiência
prática na formação acadêmica e avaliam
que o problema vai muito além da falta
de profissionais. Tampouco se resume
a uma demanda salarial. Dos 358 mé-
dicos concursados, cem ganham mais
do que o reitor e 186 recebem acima
da média dos vencimentos de um
professor Titular.

A seguir, um pouco do cotidia-


no de quem luta para o Clemen-
tino não morrer.

Muito espaço
para pouca gente:
a estrutura de
110 mil metros
quadrados possui
apenas 260 leitos
ativos e nenhum
controle de pessoal

10 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 >< 11
é gigantesca. “Proporcionalmente, um
Decadência A realidade de quem é invisível

Fotos de Fernando Souza


docente recebe um terço do salário de um
médico. Sou professor 40 horas e médico
em números 20 horas neste hospital. Como médico
Imagine trabalhar em um local por 15 é minha única fonte de renda. Mas a
ganho mais do que como docente”, revela
Descobrir os números de pessoal do Cle- um professor da Faculdade de Medicina. anos sem 13º salário, sem horário de maioria dos colegas só tem o hospital
mentino e cruzá-los com dados de per- “Tenho muitos colegas pedindo redução almoço, sem insalubridade. Ou, depois como local de trabalho”.
formance é como desenrolar um enorme da carga horária docente e aumentando de anos de dedicação, ser dispensado sem
novelo. A cada nó desatado, uma surpre- a de médico. Financeiramente compensa qualquer direito trabalhista. A situação Hoje, a UFRJ tem 1.058
sa. O dia a dia é ditado por 2.218 servido- muito mais, porém a universidade perde remonta ao período da escravidão. extraquadros em todas as suas unidades
res concursados, 430 terceirizados e 673 muito, porque perde a pesquisa e perde o Parece absurda, mas esta é a realidade hospitalares, mas a maioria
trabalhadores extraquadros – categoria ensino”, completa. de mais de 600 profissionais do Hospital se concentra no Hospital do Fundão.
de funcionários que existe no hospital Universitário Clementino Fraga Filho. São 673 trabalhadores nesta
desde 2002. Os dados salariais não devem ser in- categoria, dos quais, 99 médicos.
terpretados como uma demonização do Edson Ramos da Silva, de 40 anos, é Dezesseis deles foram contratados em
O hospital tem 260 leitos e 1.052 médi- vencimento dos profissionais, mas são um desses trabalhadores. Ele começou 2016. Apesar de não terem vínculo
cos, o que significa uma média de mais de importantes para entender que o drama a atuar no Hospital Universitário em formal com a instituição, os extraquadros
quatro profissionais por paciente inter- do Clementino não está relacionado à re- 1997, como terceirizado de limpeza. figuram no Portal da Transparência
nado. Os dados são do Cadastro Nacional muneração dos médicos e muito menos à Anos depois, fez curso técnico de do Governo Federal. No ano passado,
de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e pouca quantidade deles, analisa o econo- eletrocardiografia — oferecido pelo o Ministério da Educação destinou R$
do Sistema de Informações do Ministério mista Carlos Frederico Rocha. próprio hospital — e, em 2002, foi 82,8 milhões ao hospital. Mais de R$ 13
da Saúde de março de 2017. chamado para atuar realizando os milhões foram usados para o pagamento
Entre os médicos concursados, 51% exames. Ele conta que seu vínculo foi desses profissionais. Para este ano, a
Mesmo com mais de três mil funcio- recebem acima de R$ 20 mil, salário feito, inicialmente, via cooperativa. reitoria previu quase o dobro deste valor,
nários, a realidade do Clementino é de médio de um professor Titular, topo da “Mas, com a proibição do Tribunal de R$ 22 milhões, para a rubrica.
corredores vazios, andares inteiros su- carreira docente. Cem ganham mais Contas da União, me tornei extraquadro
butilizados, macas novinhas largadas que o reitor da universidade. Apenas 63 em janeiro de 2003”, conta. “O hospital A novela dos trabalhadores
pelos cantos e goteiras por todo lado. O recebem menos de R$ 10 mil. Dezeno- não podia abrir mão do nosso trabalho, extraquadros começou na década
resultado desse cenário fica ainda mais ve profissionais têm vencimentos que mas ficamos totalmente sem vínculo, de 1990. Os celetistas passaram a
desolador quando comparamos os nú- superam R$ 40 mil, valor acima do teto meio soltos”. estatutários, com a Constituição de
meros com os de outros hospitais de uni- constitucional dos servidores públicos 1988. Aos poucos, a necessidade de
versidades federais. federais que é de R$ 33.763. Ao todo, Para uma jornada de 30 horas repor pessoal se fez presente. Sem
36 médicos estão acima do teto, com semanais, Edson recebe um salário concursos, a diretoria da unidade
Em 2016, o hospital da UFRJ realizou vencimentos que variam de R$ 49 mil a Gargalo: o tem à dedicação exclusiva. Ficamos sem de R$ 739,39. Morador de Duque de resolveu fazer contratações via
7.125 internações. E somente 178 trans- R$ 33.900. Por superarem o limite, eles centro cirúrgico os melhores”, lamenta. Caxias, ele precisa descontar, desse Fundação Universitária José Bonifácio,
plantes durante todo o ano. No mesmo recebem com descontos. é uma das valor, R$ 240 de passagem. “Sobram mas o Tribunal de Contas da União
período, o Hospital Universitário Walter áreas mais “Não acho que ganhemos muito. Nós R$ 500. Como não temos direito à proibiu que a FUJB continuasse
Cantídio, da Federal do Ceará, com 186 Os médicos extraquadros têm rea- sensíveis. recebemos o justo para trabalhar muitas alimentação, esse dinheiro também pagando aos profissionais. Outra
leitos, realizou 8.346 internações e quatro lidade completamente diferente. Mais Faltas de vezes sem condições e temos que fazer precisa pagar meu lanche”. O técnico solução aventada foi a contratação de
vezes mais transplantes, com a metade do da metade dos extraquadros do hospital funcionários milagre. Mas esta realidade é melhor do mora com a mãe, idosa, e com a irmã, cooperativas, que sofreu novo embargo
número de médicos. O Hospital da Uni- recebem menos de R$ 2 mil. Apenas seis adiam que ser professor que tem péssimas con- impossibilitada de trabalhar. “Ainda do TCU. Mesmo sem regulamentação,
versidade de Brasília teve mil internações têm salários maiores que R$ 4 mil e ne- cirurgias e dições de trabalho e recebe um salário bem que também sou concursado o hospital manteve os funcionários sem
a mais que o Fundão e realizou 159 trans- nhum ganha acima de R$ 5 mil. internações. indigno”, compara um clínico. da Prefeitura do Rio, então esta não carteira assinada.
plantes com 526 médicos e 228 leitos. Pacientes do
As diferenças salariais, segundo a de- ambulatório “Se for realizado um dimensionamen-
“Nosso hospital já foi o melhor do país. cana do Centro de Ciências da Saúde, Ma- ficam sem to sério de pessoal deste hospital, ficará
Os residentes disputavam para vir para ria Fernanda Quintela, seriam o principal perspectivas de evidente que sobram médicos. Mas, onde Dignidade: Edson Ramos,
cá. Hoje, sobram vagas”, lamenta a pro- motivo do esvaziamento nos concursos atendimento. será que todos eles estão?”, questiona o há 20 anos no hospital,
fessora Titular do Instituto de Biofísica públicos para docentes da Faculdade de O coração, na diretor da Faculdade de Medicina, Rober- reclama de falta de direitos
Carlos Chagas Filho, Denise Pires de Car- Medicina, especialmente quando há exi- janela, lembra to Medronho.
valho. “A verdade é que a questão de pes- gência do regime de dedicação exclusiva. um pedido
soal do Clementino virou um problema “Os grandes especialistas não se subme- de socorro Os relatos de ausência de profissionais,
político e ninguém quer mexer com isso. sobretudo médicos, são inúmeros. Dos 36
Tem tanta gente lotada no Hospital que médicos com maiores salários do Hospital
hoje ele define uma eleição para a reito- Universitário, 17 possuem um ou mais
ria”, completa. consultórios particulares e dão expedien-
te ao menos uma vez na semana em cada
um deles. São casos de profissionais que
têm contrato firmado com a UFRJ para
Mosaico de trabalhar 40 ou 60 horas semanais.

desigualdades Um dos motivos apontados para as ex-


cessivas faltas é a ausência de um controle
O quadro de pessoal do Clementino é uma de ponto eletrônico. Mas a ideia esbarra
espécie de mosaico de desigualdades. A na resistência de muitos servidores, já que
começar pelos médicos. São 1.052: 358 do a prática não é comum na universidade.
quadro técnico concursado da universi-
dade, 187 professores, 372 residentes e 135 O diretor Eduardo Côrtes admite que
extraquadros. um de seus principais problemas é a falta
ao trabalho. “Perde-se, por ano, neste
Dados do Portal da Transparência sobre hospital, 30 mil dias de trabalho só por
os vencimentos brutos mostram que a di- conta de licenças médicas”, declarou em
ferença salarial entre médicos e docentes sessão do Conselho Universitário, em 11
de maio.

12 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 1 >< Número 3 ><
13
A
o problema, o governo brasileiro resolveu Após quatro anos, devemos analisar
criar em 2011, o Programa de Reestrutura- quais foram os reais impactos da proposta
ção dos Hospitais Universitários Federais da PR-4 na gestão dos hospitais da UFRJ.
Faculdade de Medicina da UFRJ (REHUF) e a Empresa Brasileira de Serviços Devemos ser imparciais na análise da situ-
comemorou 200 anos em 2008, quando Hospitalares, que se baseou no modelo do ação dos diferentes hospitais, o que precisa
se instalou a mais grave crise do Hospi- Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), ser amplamente divulgado para a comuni-
tal Universitário Clementino Fraga Filho. que foi fundado como empresa pública e é dade da UFRJ, pois a maior crise acomete
DOSSIÊ HOSPITAL >< ARTIGO Em termos acadêmicos, nos últimos 20 um Hospital Universitário acreditado inter- o HUCFF.
anos,reformulamos o currículo do curso nacionalmente pela excelência na gestão e
médico, com a introdução de disciplinas no atendimento aos pacientes. A falta de transparência no dimensio-
eletivas e a participação dos estudantes namento de pessoal dos nossos hospitais
nos programas de atenção integral à saúde; Diferentemente do modelo de gestão do talvez seja a maior falha dessa proposta da
implantamos com pioneirismo o Progra- HCPA, que é diretamente vinculado à UFR- reitoria, que efetivamente não resolveu os
ma MD/PhD no Brasil e criamos três novos GS, a Empresa Brasileira de Serviços Hospi- nossos problemas. A UFRJ tem o privilégio
cursos de graduação. talares é uma empresa pública unipessoal, de contar com nove unidades hospitalares
diretamente vinculada ao MEC e criada pela prestando serviços na área da saúde, po-
Até 2008, o curso de medicina era conti- lei 12.550/2011,cujo contrato prevê aten- rém de maneira não articulada. O papel
nuamente avaliado como o melhor do país, dimento hospitalar exclusivo pelo sistema dessas unidades precisa ser redefinido para
um posto de destaque que foi perdido nos único de saúde (SUS). Na UFRJ, a ameaça que os interesses acadêmicos se sobrepo-
anos subsequentes. Em 2010, estávamos em à autonomia didático-administrativa, a nham aos interesses políticos particulares.
terceiro lugar na classificação do Enade. Em necessidade de cessão do patrimônio dos
2017, o Ranking Universitário da Folha nos Hospitais para a Ebserh e o fato de a gestão Não há dúvidas de que os problemas re-
colocou em sétima posição no país. Essa in- da empresa ocorrer fora das universidades, lacionados à simples gestão de pessoal na
flexão negativa e contínua nos obriga a uma centralizada no governo, causaram mui- UFRJ são mais relevantes do que o subfi-
reflexão crítica sobre os fatores que provo- ta resistência interna a este novo modelo nanciamento, pois a menor “produção”
caram essa queda de desempenho. Não po- proposto pelo governo. Entretanto, não é ocasiona redução progressiva no orçamen-
demos deixar de salientar a concomitância verdade que haja risco de privatização do to dos hospitais.
entre esses fatos e a grave crise do Hospital hospital pela simples adesão à Ebserh, pois
Universitário. os atendimentos seriam realizados exclusi- Quais os motivos para a diminuição pro-
vamente pelo SUS. gressiva no número de internações e dos
Em minha percepção, houve, infelizmen- demais atendimentos no HUCFF? O termo
te, uma piora progressiva na formação dos Após ampla discussão interna na UFRJ, “produção”, no caso específico dos hospi-
estudantes da maioria dos cursos de gradu- decidiu-se, em reunião do Consuni de 26 de tais, refere-se ao atendimento adequado à
ação na área da saúde da UFRJ e isso deriva setembro de 2013, pela adesão à proposta que população que em última análise financia
principalmente dos inúmeros problemas foi apresentada pela PR-4/UFRJ em alter- todo o seu custeio e paga inclusive os sa-
enfrentados pelo treinamento na área profis- nativa à Ebserh. Essa proposta foi aprovada lários dos servidores dessas instituições
sional, o que depende majoritariamente do por unanimidade e a decisão retirou da pauta públicas, sejam eles RJU, extraquadros ou
funcionamento do Clementino Fraga Filho. a possibilidade de a UFRJ aderir à Ebserh. terceirizados.
Todos os conselheiros presentes apostaram
A percepção de que há sérios problemas de na possibilidade de a reitoria ser capaz de re- Ao contrário do que se propaga, a força
financiamento e de gestão nos Hospitais da solver a situação dos contratos precários dos de trabalho RJU no Clementino não é pífia.

O desafio do
Fernando Souza
UFRJ é antiga, o que culminou com a criação funcionários extraquadros pela sua reposi- Antes de aderirmos a quaisquer dos novos
do controverso Complexo Hospitalar (CH), ção gradual por funcionários contratados modelos de gestão propostos, deveríamos
que faz parte da estrutura administrativa da pelo Regime Jurídico Único (RJU). responder a algumas perguntas, como:
UFRJ desde 2008, mas até hoje não teve o seu 1) quantos servidores são necessários
regimento interno aprovado. Em 2013, poderíamos ter sido os protago- por leito e qual é esta relação no HUCFF?
nistas na relação da universidade com essa 2) como evoluíram, na última década,

Clementino
Mesmo antes da implosão de parte do HU- empresa pública. Afinal, éramos uma das os quantitativos de atendimentos ambu-
CFF em 2010, a comunidade interna sabia melhores Faculdades de Medicina do país. latoriais, cirurgias eletivas, transplantes,
que a administração dos Hospitais deveria Infelizmente, o saldo desta política equi- entre outras atividades que justificam o
mudar na UFRJ. Esse, aliás, foi o mote para a vocada, baseada nos interesses de peque- número de profissionais contratados nas
criação do CH, mas é preciso reconhecer que nos grupos, e sectária que foi implantada na diferentes áreas neste mesmo período?
até hoje essa decisão não causou nenhum UFRJ, é o enfraquecimento do serviço públi- 3) qual a relação candidato/vaga nos
Os dilemas acadêmicos dos Hospitais da UFRJ no século XXI impacto positivo nos nossos hospitais. Na co. Não há pior destino para o setor público programas de residência médica nos Hos-
prática, a comunidade sequer discute, ou do que perder a qualidade. pitais da UFRJ? Há vagas ociosas?
conhece, o orçamento do CH, quiçá a com-
por Denise Pires de Carvalho posição do seu quadro de pessoal. Aparen- A comparação com os hospitais de ou-
>< Professora Titular do Instituto de Biofísica
temente, o complexo hospitalar resolveria tras universidades federais deveria ser feita
o problema de financiamento dos hospitais, >< de imediato, para que possamos analisar
no entanto, não há garantias de que haverá e parametrizar o nosso hospital, sem co-
maior aporte de verbas para as unidades hos- O enfrentamento nivência com inadimplências. Somente
pitalares. As principais críticas ao modelo através deste diagnóstico minucioso se-
do CH se referem à falta de transparência na dos reais remos capazes de aplicar o melhor mo-
unidade gestora dos recursos destinados aos delo de gestão hospitalar para que possa-
hospitais, o que pode agravar ainda mais o problemas se faz mos retornar aos patamares anteriores de
subfinanciamento das unidades isoladas. protagonismo nacional na área da saúde.
necessário para o O enfrentamento dos reais problemas se
No plano nacional, o quadro é semelhante faz necessário para o resgate acadêmico
ao da UFRJ e há consenso de que a grave crise resgate acadêmico da área da saúde da UFRJ. Afinal, o maior
na área da saúde em todo o país tem como compromisso deve ser com a continuidade
pano de fundo a ineficiente gestão de pesso- da área da saúde das instituições públicas e a manutenção
as, o subfinanciamento crônico e o sucatea- da sua qualidade, atendendo às demandas
mento dos Hospitais. Para tentar amenizar da UFRJ da sociedade que as financiam.

14 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 ><
15
DOSSIÊ HOSPITAL

fotos de fernando souza

Doutores
Fotos de Fernando Souza
>< FORMAÇÃO ACADÊMICA

A redução dramática dos


leitos provoca a queda da
diversidade de patologias
tratadas no hospital.
O problema põe em xeque
a mais nobre vocação do por Silvana Sá
Clementino: a de formação >< Da reportagem da Adufrj

O
de novos médicos. A crise
do hospital universitário já curso de Medicina da UFRJ
já foi o mais conceituado do
impacta na qualidade do Brasil, mas hoje sofre com a crise do Cle-
mentino. A última vez que a Faculdade de
curso de Medicina Medicina figurou como a melhor do país foi
em 2004, pelo Exame Nacional de Desem-
penho de Estudantes. Em 2007, o curso já
era o quarto colocado do país pelo Enade.
Também caiu do primeiro ao quinto lugar
pelo Ranking Universitário Folha entre
2008 e 2015. Hoje, é considerado o sétimo
melhor do Brasil, atrás de todas as univer-
sidades paulistas, e das federais de Minas
Gerais e do Espírito Santo.

da teoria
A maior limitação do curso é a falta de
uma estrutura hospitalar que dê conta das
demandas da formação acadêmica de um
médico. “Isto com certeza é um determi-
nante para a qualidade do nosso ensino.
Uma boa formação não é teórica”, admite
o diretor da Faculdade de Medicina, Ro-
berto Medronho. “O estudante tem que
entrar em contato com o maior número
possível de patologias para aprender a
diagnosticar”, completa.

Um bom exemplo vem do pronto-


socorro. Não há emergência aberta no
Clementino. Ela funciona apenas para os
pacientes que já estão internados ou os que
pertencem aos programas do Ambulató-
rio. Resultado: os estudantes têm que fazer
disciplinas de Urgência e Emergência e
Medicina Intensiva em outros hospitais.
É o que explica o vice-diretor da Facul-
dade de Medicina, professor Gil Salles.
“Estas são disciplinas eletivas, mas, para
se formar, também há a necessidade de
fazer pelo menos seis meses de plantão
em Emergência ou em Medicina Intensiva.
Oferecemos os hospitais Evandro Freire,
Sem apoio: na Ilha do Governador, e o CER-Leblon,
residentes e alunos anexo ao Hospital Miguel Couto”. Existe,
reclamam de ainda, a possibilidade de os estudantes
pouca orientação realizarem estes plantões no Clementino,
de médicos mas “em um menor número de vagas”.
responsáveis
pelos serviços “Infelizmente não temos como ofere-
do ambulatório cer estas especialidades dentro do nosso
hospital para todos os nossos estudantes”,
completa Medronho.

16 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 >< 17
kelvin melo
Outra questão que atrapalha a for- odos, que têm suas atividades práticas de ser prejudicial para a nossa formação Os alunos entrevistados são unâni- riam por outra universidade ou por outro
mação dos estudantes é o número pe- nas enfermarias clínicas. Com alguma e incomodar fisicamente o paciente, ter mes: estudar no Hospital do Fundão é hospital. “O ponto alto do hospital é a
queno de leitos. São apenas 260, tidos frequência, os pacientes estão com algum muitos alunos por leito pode prejudicar um exercício de resistência. À medida qualidade dos profissionais. A excelência
como insuficientes para o treinamento tipo de isolamento ou em estado mui- o psicológico da pessoa internada”, diz que avançam os períodos da graduação, do quadro é muito grande. As pessoas são
dos futuros profissionais, especialmen- to grave, o que impede esses alunos de Milena. “Os pacientes acabam achando os alunos passam a lidar com problemas altamente qualificadas”, elogia o estu-
te porque os estudantes da graduação acompanhá-los. Nesses casos, os alu- que têm algo muito grave porque todo mais complexos envolvendo a assistên- dante João Vitor.
não podem ter acesso a todos eles, co- nos são redistribuídos para outros leitos, mundo os visita para fazer investiga- cia: falta de materiais para exames sim-
mo explica João Vitor Cotrim, do oitavo onde já há outros alunos”, afirma. Em ção”, completa. ples, falta de medicamentos, falta de “O fato de o Clementino Fraga Filho
período. “Apesar de serem 260 leitos, se casos mais graves, como o surgimento pessoal. “A gente aprende a improvisar. ser um hospital universitário faz toda
formos contabilizar, só temos acesso a de bactérias multirresistentes, todos os Alguns professores pagam determina- a diferença”, completa Milena. “A filo-
70 ou 80, porque temos que excluir os estudantes precisam deixar de acompa- dos exames fora para seus pacientes, ou sofia é ensinar a quem vem depois. Esse
pacientes graves, os pacientes de CTI, nhar aquele leito e são redistribuídos para Estrutura residentes se juntam para comprar um comprometimento é de todos. É pas-
do centro cirúrgico. É um número bem outros doentes. medicamento que está faltando”, conta sado a cada nova turma. Aqui, a con-
desfavorável considerando que temos precária outro estudante. duta é humana. A gente só percebe o
200 alunos por período”. Outro problema relatado pelos estu- diferencial da nossa formação quando
dantes é a baixa rotatividade de pacientes O prédio, da década de 1970, não permite Além da prática médica, os estudantes vamos para uma instituição que não é
Milena Blanc, também do oitavo pe- nos leitos. “Muitos ficam um ou dois me- a instalação de chuveiros elétricos, nem também têm aulas teóricas no hospital. de ensino”, reconhece Milena. Daniel
ríodo de Medicina, explica por que os ses internados para fazerem uma cirurgia. de um sistema de refrigeração central. Mas a estrutura deixa a desejar. “Usamos corrobora a avaliação dos colegas: “Es-
estudantes são orientados a evitar os pa- A logística do hospital não permite que “No verão é horrível ter aulas nas enfer- exatamente as mesmas carteiras desde tou no meu primeiro período no hos-
cientes mais graves. “São pacientes mais os procedimentos sejam feitos rapida- marias. Uma colega desmaiou durante o final da década de 70. Sabemos disso pital e já amo a unidade. O cuidado e
Justa homenagem: Clementino Fraga Filho frágeis, que não aguentam muitos proce- mente”, revela Milena. “Precisamos se- uma aula prática na beira do leito, por- porque nossos professores nos mostram atenção com as pessoas são realmente
recebeu medalha da universidade em 2006 dimentos. A família também sofre com guir alguns cronogramas de atendimen- que não há sistema de refrigeração no fotos da época”, relata Daniel. diferenciados”.
seu ente sendo manipulado por tantas tos e casos e não conseguimos terminar prédio”, relata João Vitor. “Cada enfer-
pessoas. No CTI, por exemplo, não vamos porque muitas vezes visitamos todos os maria tem apenas um banheiro para seis Mas eles se queixam muito da ausência
Em nome porque não pode haver um alto índice de pacientes disponíveis antes de fechar o pacientes”, completa Daniel Siqueira, de alguns profissionais, especialmente
rotatividade de pessoas por conta do risco ciclo”, reclama a futura médica. do quarto período de Medicina. “Fre- A riqueza médicos. “É tudo muito nebuloso. Não
do criador de contaminação”. quentemente, as portas estão quebradas, entendemos muito qual a carga horária
Mas não é só com a formação que os os chuveiros não funcionam. Todos os do Clementino de cada médico”, diz João Vitor. Milena
Ter uma unidade da UFRJ batizada com o O professor Gil Salles confirma a ago- estudantes se preocupam. Eles também chuveiros são frios o ano inteiro. É desu- reforça: “Eu já passei por uma situação
próprio nome é homenagem para poucos. nia dos futuros médicos. “Principalmen- buscam o menor impacto possível na mano submeter um paciente a um banho A lista de queixas dos alunos é enorme. de estar na enfermaria e precisar do mé-
Mas não poderia ser mais justo chamar te para os alunos do sexto e sétimo perí- rotina dos pacientes internados. “Além gelado no inverno”. Apesar disso, os entrevistados não opta- dico e ele não estar porque faltou”.
o maior hospital da universidade de
Clementino Fraga Filho.
Fernando Souza
Médico e professor, ele foi o grande
responsável pela construção do hospital.
Queria que os estudantes tivessem uma sólida
Caindo aos pedaços: pacientes Especialistas
estão fugindo
e alunos convivem com
formação prática associada aos ensinamentos infraestrutura precária.
teóricos. A obra, iniciada na década de 50, só
do hospital
Manutenção do prédio
foi inaugurada em 1978. é um problema evidente

A empreitada ganhou impulso com o


obstinado Clementino que se tornou A residência médica é a pós-
presidente da Comissão de Implantação graduação em nível de especialização
do hospital, em 1974. “Fui muito aos que os médicos recém-graduados
gabinetes de ministros. Corria em busca de precisam realizar para atuar
recursos”, declarou o professor em entrevista profissionalmente. Mas, ao longo
registrada no livro “Clementino Fraga Filho dos anos, a procura pelos programas
— depoimento de um médico humanista”, de residência do Hospital da UFRJ
organizado pelo professor Flávio Coelho vem caindo. “Editais que já foram
Edler e editado pela Fiocruz. muito concorridos no passado, hoje
são procurados por pouquíssimos
Baiano, Clementino formou gerações de candidatos. Em alguns casos,
doutores discípulos. “Ele era um gênio”, aplicamos prova para um ou dois
conta Mário Vaisman, endocrinologista e candidatos”, revela uma professora.
professor Titular. “Esse hospital só existe por
causa do Clementino”, completa. No ano passado, por exemplo,
eram 394 residentes atuando no
Habilidoso, Clementino conseguiu conciliar hospital. Até março deste ano o
a carreira médica e o magistério com uma número havia caído para 372. Ao
intensa atividade administrativa. Em 1966, todo, 69 programas de residência
foi eleito vice-reitor da universidade e logo médica funcionam no Clementino,
depois assumiu a reitoria para substituir o mas só 55 possuem estudantes
então reitor Raymundo Moniz de Aragão, que ativos. Trinta e três deles passarão,
assumira o cargo de ministro da Educação e esse ano, por nova avaliação do
da Cultura. “Fui professor por vocação e reitor Ministério da Educação. “O número
por acidente”, contou no livro da Fiocruz. pequeno de leitos e de doenças em
cada programa pode levar a um
Em 1986, após aposentar-se no cargo de descredenciamento. Oferecer mais
professorTitular, foi eleito professor emérito leitos é vital para nosso hospital
da UFRJ. Longevo, Clementino Fraga Filho e para a formação de nossos
morreu em 11 de maio de 2016, três meses profissionais”, conclui um professor
antes de completar um século de vida. do programa de Clínica Médica.

18 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 >< 19
damente, pois o número de alunos por
leito é acima do minimamente adequado.
Muitos equipamentos estão sucateados e
outros desatualizados. Situação inversa
do passado, onde o HU era exemplo de
qualidade e unidade de treinamento para
os mais avançados métodos diagnósticos
DOSSIÊ HOSPITAL >< ARTIGO e terapêuticos.

O Clementino é um importante locus


para a pesquisa na área da saúde para
aprimorar a qualidade do SUS e reduzir
nossa dependência externa em uma área
estratégica. Infelizmente, muitas pesqui-
sas, antes realizadas no HU, estão sendo
conduzidas em outras unidades fora da
UFRJ, muitas privadas.

Diante deste dramático quadro, com


impacto direto no ensino, na pesquisa e
na assistência, a Congregação da Facul-

A
dade de Medicina, em fevereiro de 2012,
aprovou a adesão à Ebserh; posteriormen-
te, o Conselho de Centro do CCS aprovou
saga da nossa Faculdade de figura em posição abaixo de sua potencia- a propostatambém com larga margem,
Medicina é mais do que secular. Começou lidade. Isto sem prejuízo aos pertinentes incluindo os votos da imensa maioria dos
em 1808. Mais precisamente em 05 de no- questionamentos sobre ranqueamento. diretores de hospitais a época. Infelizmen-
vembro de 1808, quando D. João VI criou, Urge que se reative plena e imediatamen- te, na sessão do Consuni de 26/09/2013, a
por Carta Régia, a Escola de Anatomia, te o Hospital. proposta foi retirada de pauta. Alegava-se
Medicina e Cirurgia. Ela se instalou no que a UFRJ seria capaz de construir uma
Hospital Real Militar e Ultramar no Morro O corpo social do Clementino e os proposta autônoma e alternativa à Ebserh.
do Castelo. Posteriormente, em 1922, o docentes das inúmeras Unidades Aca- Esta proposta nunca foi apresentada à co-
Morro do Castelo foi demolido. Pouco an- dêmicas que lá atuam são reconhecidos munidade universitária.
tes, em 1918, a Faculdade foi transferida por toda a sociedade. No entanto, nossos
para a Praia Vermelha. alunos necessitam que os leitos estejam É fundamental que se mude o modelo
funcionando em sua plenitude, já que o de gestão dos Hospitais. Os equipamentos
Quase meio século depois, em 1958, prejuízo para o desenvolvimento de suas devem ser modernizados e possuir ma-
a Faculdade foi transferida para o prédio habilidades é enorme. Estamos formando nutenção eficiente e perene. Precisamos
do Recolhimento das Órfãs, na Rua Santa profissionais de saúde com o mesmo pa- enfrentar essa discussão com seriedade,
Luzia, ao lado da Santa Casa de Misericór- drão teórico de sempre, mas que apresen- serenidade, sem sofismas ou preconceitos.
dia. Durante muitos anos nossos docen- tam deficiências na prática profissional,

Formação
fernando souza
tes lecionaram nas enfermarias da Santa tão necessária para atuar na assistência à Engana-se aquele que julga que todos
Casa, que hoje enfrenta grave crise. Em saúde da população. os percalços de nossa história nos enfra-
1975, nosso prédio na Praia Vermelha foi queceram. Ao contrário, continuamos
implodido pela força do arbítrio e até hoje Ressalta-se que, esta crise afeta di- mais vivos e vibrantes que nunca. De nos-
não surgiu nenhuma edificação no local. retamente a população que necessita do sa parte, mantemo-nos inabaláveis em
Este fato nos indigna até hoje. SUS, onde o Hospital é referência. Nossos nossa missão de:

ameaçada
alunos não estão sendo treinados adequa-
Dois anos antes, em 1973, a Faculdade • Formar cidadãos competentes, éticos e
foi transferida para Cidade Universitária, compromissados com a saúde de nossa
na Ilha do Fundão, nossa localização até população, especialmente, as mais ca-
os dias atuais. Em 1º de março de 1978, rentes, e
foi inaugurado o Hospital Universitário,
Crise coloca em risco uma das principais vocações do hospital posteriormente, denominado Clemen- • Gerar e difundir conhecimento que
tino Fraga Filho. A luta pela abertura do contribua para o avanço tecnológico e
nosso hospital foi intensa. O movimen- científico de nosso País.
por Roberto Medronho
>< Diretor da Faculdade de Medicina
to estudantil desempenhou importante ><
papel neste processo e tivemos a honra Temos absoluta certeza que nada nos
dele participar. A abertura do HU foi um Estamos formando impedirá de cumprir nossa nobre mis-
dos fatos mais marcantes em nossos 208 são de educar, pesquisar e curar ou aco-
anos de história. Um hospital moderno profissionais de lher aquele que sofre. Entretanto, para
com um corpo docente e técnico de ex- cumprir essa missão, é fundamental
celência. Sem dúvida, sua inauguração saúde com o que o HUCFF e todas as nossas Unidades
muito contribuiu para uma das fases mais Hospitalares funcionem adequadamente.
profícuas da Faculdade. mesmo padrão Por isto, conclamamos a comunidade da
UFRJ e toda a sociedade para lutarmos
Entretanto, fruto de uma política de teórico de sempre, juntos para uma solução definitiva des-
desinvestimento na saúde e na educação ta prolongada e desgastante crise. Mais
nos últimos anos, o Clementino atravessa mas que apresentam do que nunca, devemos nos pautar pelos
sua mais grave crise, que vem se acen- ensinamentos de nosso grande Professor
tuando ao longo do tempo. Não por aca- deficiências na Emérito Clementino Fraga Filho, que di-
so, nossa Faculdade que sempre liderou zia: “A vida de uma instituição depende
todos os rankings da graduação, agora prática profissional de muitas vidas que a ela se dedicam”.

20 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 >< 21
DOSSIÊ HOSPITAL >< ASSISTÊNCIA

Desperdício evidente:
macas novas em enfermarias
recém-reformadas estão vazias.
Contraditoriamente,
pacientes ficam sem
internação por falta de leitos

Um hospital universitário não serve somente para formar


profissionais de saúde. Ele serve para servir. No Clementino, essa função
está em perigo. Não por falta de médicos, mas pela redução drástica de doentes.
Hoje há apenas 260 leitos, 168 a menos que em 2008

Hospital fantasma por Silvana Sá


>< Da Reportagem da Adufrj
*Colaborou Elisa Monteiro

F alar sobre o atendimento à popula-


ção no Clementino é interpretar uma
conta que não fecha. Aqui faltam pacientes e
sobram profissionais. É um drama oposto ao
modelo. Não podemos deixá-lo morrer ”, re-
sume o chefe do serviço de endocrinologia,
professor Mario Vaisman.
ambulatório e o Sistema de Regulação de Vagas
da Prefeitura do Rio, o SISREG. As consultas
ambulatoriais são realizadas para pacientes an-
tigos, com as marcações normais, realizadas na
problema mais comum dos hospitais públicos A capacidade de internação do hospital des- própria unidade, ou pelo SISREG, para pacien-
brasileiros. Na principal unidade hospitalar pencou junto da implosão da ala sul do prédio, a tes de primeira vez, que são encaminhados por
da UFRJ não há gente amontoada em macas chamada “perna seca” em dezembro de 2010. unidades básicas de atendimento. Com sorte,
pelos corredores nem doentes suplicando o Antes, a unidade oferecia 450 leitos. Hoje, estão pelo Sistema também se pode conseguir um
olhar de um médico. Seria um cenário ótimo ativos 260. Em dezembro de 2015 o hospital leito de internação. No entanto, o Clementino
se não fosse provocado por um problema grave: chegou a reduzir sua capacidade para apenas 70 não tem capacidade suficiente nem para inter-
a baixíssima quantidade de leitos. São apenas leitos e até fevereiro do ano passado funcionava nar seus próprios pacientes, nem para ampliar
260 vagas num prédio de 14 andares e 110 mil com 160, o que inviabilizou, na ocasião, o início a oferta de leitos no SISREG, que é responsável
metros quadrados de área construída. das aulas da Faculdade de Medicina. “Somos pela administração de todos os leitos públicos
o único hospital universitário do país que foi do país. No município, quem responde pelo
A tradução desses dados está nos corredores implodido e o único a reduzir para menos da sistema é a Prefeitura do Rio.
vazios e no volume de pessoas internadas. Em metade a sua capacidade de internação”, la-
2016, o hospital realizou 7.125 internações, mentou o diretor Eduardo Côrtes durante reu- A prefeitura exige que o Hospital Univer-
menos da metade do desempenho do Hospital nião do Conselho Universitário de 11 de maio. sitário disponibilize 30% dos seus leitos para
de Clínicas da Universidade Federal de Minas o Sistema, mas só há a oferta de 10%. A pre-
Gerais, 17.857. Mas nem sempre foi assim. O Clementino é um hospital terciário. Sig- judicada é a população mais pobre. Denún-
Clementino tem capacidade para 550 leitos e nifica que ele é de alta complexidade. Não há cias de profissionais e estudantes do hospital
há pouco menos de 10 anos, em 2008, conse- emergência aberta ao público desde a década de atestam que muitos pacientes são atendidos
Fernando Souza

guia ocupar mais de 400 deles. “Isso tudo é 1990. No Rio de Janeiro, somente três hospitais sem passar pelo sistema. “Muitos são amigos
muito triste. Minha vida é esse hospital. Chego de alta complexidade possuem emergências: ou familiares de servidores da UFRJ. Ou são
todo dias às 7h30. Sou bolsista 1A do CNPQ . Andaraí, Bonsucesso e Cardoso Fontes. Na prá- trabalhadores do próprio hospital. Uma par-
Sou professor e médico. Esse hospital já foi tica, a população tem duas portas de entrada: o te considerável da população está deixando

22
18 ><
>< Revista
Revista da
da ADUFRJ
ADUFRJ ><
>< Ano
Ano 21 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 >< 23
Fotos Fernando Souza
de ser atendida, porque a vaga não es- Outra paciente do ambulatório de or-
tá disponibilizada para ela no sistema”, topedia critica a demora para a realização
relata um estudante do sétimo período de sua cirurgia. Ela rompeu o ligamento
da Medicina. Um médico extraquadro do joelho esquerdo em 2016. O laudo e o
confirmou à reportagem que existem risco cirúrgico estão prontos desde julho
pessoas ligadas a servidores públicos que passado. Mas, até hoje, Andréa Barreto dos
realizam procedimentos de alta comple- Santos não foi operada. “Alegaram falta de
xidade “sem enfrentar a fila do sistema”. material, mas fui à ouvidoria e eles disse-
ram que tem material, sim. O ambulatório
Renato Torres, médico do hospital e como um todo está muito abandonado,
chefe da Divisão de Saúde da Comunida- sem fiscalização”, reclama.
de, que é responsável pelo ambulatório e
pela disponibilização de vagas ao SISREG,
tenta explicar porque o hospital não atende
ao exigido pela Prefeitura do Rio. Ele nega Cirurgias
a acusação de pistolão para atendimentos
e afirma que todas as pessoas assistidas e canceladas
operadas no hospital são pacientes. “Todas
têm prontuários. Não temos leitos sufi- Outro grave impacto na vida de pacientes
cientes para suprir nem mesmo a demanda e estudantes é a falta de materiais e de
do nosso ambulatório”, conta. “Hoje mes- gente para realizar procedimentos ci-
mo eu precisava internar dois pacientes. rúrgicos. No dia 23 de junho, 32 cirurgias
Um, tive que mandar para casa e pedir que foram canceladas por falta de materiais e
retorne na próxima semana. O outro en- só voltaram a ser realizadas no dia 26.
caminhei para a emergência”. Em 2016, as
consultas ambulatoriais somaram 196 mil Pedro Fonseca está no segundo ano de
atendimentos. O diretor Eduardo Côrtes especialização em anestesiologia. Enquan-
não quis comentar o assunto. to aguardava para entrar em uma cirurgia
cardíaca, ele conversou com a reportagem.
A enfermeira Gerly Miceli, crítica do “É uma experiência positiva, mas poderia
Sistema de Regulação de Vagas, consi- ser melhor”. Ele conta que as aposentado-
dera que a autonomia das unidades de rias recentes complicaram o quadro. “Pra-
saúde da UFRJ fica comprometida com a ticamente tudo necessita de anestesista,
necessidade de realizar os procedimen- então, eventualmente, deixa-se de realizar
tos via SISREG. “Mesmo um paciente que cirurgias por falta de profissionais”.
é acompanhado pelo ambulatório precisa
entrar no sistema para ser encaminhado “Este é um hospital com excelente
para um procedimento que exija interna- formação de pessoal, mas acaba faltan-
ção. Isso dificulta nosso trabalho”. do tanto material que não conseguimos
muitas vezes nem fazer o básico”, revela
Os pacientes não reclamam do sistema uma docente do serviço de anatomia pa-
de vagas nem da falta de profissionais nos tológica. “Poderíamos fazer muito mais,
ambulatórios. A grande queixa é a lentidão se houvesse condições práticas. Cada re-
nos atendimentos de urgência. “Minha mãe agente que falta é um exame que deixa de
tem 92 anos, está com o fêmur quebrado e ser entregue. É uma cirurgia adiada. É uma
não está sendo atendida porque precisam pessoa que tem menos possibilidades de
esperar o plantonista que atende emergên- sobrevida. Não trabalhamos com núme-
cia”, desabafa Kátia da Silva Godinho. ros. Trabalhamos com vida”.

No osso: vigas e
estruturas metálicas
estão expostas no teto
de muitos andares

Espera sem fim: Andrea


Barreto aguarda há mais
de um ano a realização de
sua cirurgia. Ela apresenta
documento da Ouvidoria do
hospital atestando que há
materiais para o procedimento

24 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 ><
25
Seguiram-se anos de notório e acele-
rado declínio. Apesar da excelência do
corpo clínico, de o hospital universitário
deter a exclusividade do atendimento de
DOSSIÊ HOSPITAL >< ARTIGO determinados problemas graves de saú-
Samuel Tosta/Arquivo Adufrj de, a unidade e o Rio de Janeiro perderam
a primazia da excelência da saúde para
São Paulo. Na realidade, a saúde pública
com seus tradicionais hospitais localiza-
dos no Rio de Janeiro foi superada pelos
estabelecimentos paulistas privados ou
semi-privados. Esse deslocamento de-
correu pela conjugação de duas tendên-
cias: não priorização da saúde pública
por sucessivos governos federais e apro-
ximação de próceres da medicina pau-
lista aos fóruns políticos, quer no âm-
bito local, como no nacional. Enquanto

M
os médicos no Rio de Janeiro, diante da
corrosão da rede pública direcionaram
suas estratégias de sobrevivência para
uitas pessoas que partici- estadual iam bem e a “saúde” pública do trabalhar com “convênios”, os paulis-
param da luta pelo Hospital Universitário Rio, ainda que com notórias lacunas as- tas realizaram um caminho quase in-
Clementino Fraga Filho o denominam “o sistenciais, também. Entre 1980 e 1990, verso: do alto de seus postos de trabalho
nosso hospital”. O uso do plural é colo- a denominada excelência na organização na universidade tornaram-se sócios de
quial para quem, como aluno ou profes- de serviços de saúde esteve concentrada diversos empreendimentos acoplados a
sor, participou do movimento pela inau- no Rio de Janeiro. unidades filantrópicas e privadas.
guração da metade do imenso prédio em
1978. Houve protesto e esperança. Havia iniciativas relevantes de expan- Hoje, “excelência” em São Paulo e no
são e inovação assistencial em outros es- Rio de Janeiro tem praticamente o mes-
Estudantes entregaram durante a ce- tados, mas ocupávamos a dianteira. O mo significado: trata-se de um professor
rimônia uma carta para o então presi- protagonismo do HUCFF no atendimento de universidade pública atendendo em
dente Geisel contra o “atestado ideoló- e combate ao preconceito dos casos no um hospital privado. Mas, o primeiro é
gico” que era exigido para a realização início da epidemia de AIDS evidenciaram “mais excelente” em termos de dotação
de estágios. Enfim, depois de uma longa o potencial científico, técnico e a capa- de recursos materiais. Nas regras em que
espera, a UFRJ teria seu hospital. O co- cidade crítica da UFRJ para enfrentar o está apresentada a disputa, ganha quem
meço de funcionamento de 12 andares de desafio de compreender as causas e bus- amealha mais equipamentos, mais pos-
um hospital novo, moderno, com espe- car tratamento para uma nova doença. ses, haveres, dinheiro para atender aos
cialidades definidas por critérios nosoló- poucos brasileiros que podem pagar di-
gicos e não de acordo com a divisão entre retamente ou indiretamente o acesso à
professores titulares de espaços próprios restrita rede privada para ricos.
para internação e ensino.
Entretanto, a acepção original de
Trazer para o Rio de Janeiro a concep- boa qualidade que orientou a criação do
ção de integração do ensino-pesquisa Hospital Universitário Clementino Fraga
e assistência significou dar um passo à Filho tem sentido diverso. Qualidade é
frente nas experiências dos hospitais de ser público para o público, é ter compro-
clínicas vinculados a universidades. O misso com as necessidades de saúde da
nosso seria um hospital com todos os tra- população. O que importa não é apenas
ços universitários, inclusive pelo com- a árvore; é obrigatório enxergar e com-
promisso de atendimento universal à po- preender a floresta. Embora a missão seja
pulação de determinada área geográfica. conhecida e reconhecida, os sentidos
sobre o que é certo, bom e deve ser rea-
Por um bom tempo, o Clementino lizado não têm interpretação unívoca.
foi senão o melhor, certamente um dos
><

Nascido para
melhores do Brasil. Era excelente na as- Um equipamento público com tan-
sistência, no ensino e na pesquisa e seus tos e excelentes recursos humanos que
profissionais contribuíam decisivamente Qualidade é atende a menos pessoas do que poderia
para a reflexão sobre os rumos da saúde representa um desafio inescapável, que
no país. Parece mentira, mas não é. O ser público para termina por nos remeter de volta à lu-
hospital era bonito, limpo e o mais im- ta pela sua inauguração. A batalha pelo
o público, é ter

ser modelo
portante: pacientes, alunos, profissionais Clementino não terminou, precisamos
e professores cuidavam uns dos outros e lutar pela ampliação de sua capacidade de
de suas instalações físicas. compromisso funcionamento, pela “reinauguração” e
pela produção de conhecimentos sobre a
Minha turma, já no quinto ano da com as vocação de um hospital universitário. A
faculdade, recebeu menção honrosa história segue e seus traços sugerem que
A luta por um hospital moderno para ensino, pesquisa e assistência pelo auxílio para debelar um peque- necessidades de a viabilidade do hospital universitário
no incêndio. O hospital universitário e é indissociável do compromisso com a
outros centros universitários federais e saúde da população efetivação dos direitos à saúde.
por Lígia Bahia
>< Professora da Faculdade de Medicina da UFRJ

26 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 >< 27
‘N
DOSSIÊ HOSPITAL >< PESQUISA

kelvin melo

kelvin melo
Pesquisadores
a Universidade se ensina
porque se pesquisa”. O
pensamento do fundador do Instituto de
Biofísica, professor Carlos Chagas Filho
(1910-2000), continua mais atual do que

resistem
nunca. Mas a vida de cientista não está
nada fácil no Brasil. Os salários são pouco
atraentes, a infraestrutura física deixa a
desejar e falta verba de apoio aos projetos.
O orçamento federal para Ciência, que já
vinha encolhendo desde 2014, caiu mais
44% para 2017, passando de R$ 6 bilhões
para apenas R$ 3,4 bilhões.

Para a pesquisa científica realizada no


Hospital Clementino Fraga Filho, o impac-
to dessas cifras é dramático e visível. Um Interação agonizante: equipamentos adquiridos com recursos de pesquisa atendem a pacientes,
exemplo é apontado pelo professor Ser- mas falta de manutenção causa prejuízos. Tomógrafo (na foto abaixo, à esquerda) aguarda conserto
Fazer pesquisa num hospital universitário faz toda a diferença. gio Augusto Lopes de Souza, da Medicina
Nuclear. Ele mostrou à reportagem um
Para os estudantes, para os pacientes e para os pesquisadores. aparelho de última geração de tomografia

É uma produção viva de conhecimento que hoje sofre


computadorizada para exame oncológico.
O equipamento foi adquirido graças a um
edital da Finep, mas as pequenas obras para
Caldeirão de pesquisa
por problemas de infraestrutura e investimento adequação da sala ainda aguardam o ritmo
de disponibilidade de recursos da unidade. Professora Titular da Faculdade de Medi- Qual a importância da pesquisa
Enquanto isso, a máquina fica sem uso. cina, Ana Maria Blanco Martinez é coor- na formação dos alunos?
denadora do programa de pós-graduação
por Elisa Monteiro e Kelvin Melo “A UFRJ é a única universidade federal em Anatomia Patológica. No Hospital, ela ><AMBM: O pesquisador, quando vai en-
>< Da redação da Adufrj com esse equipamento. E, na rede pública dirige o Laboratório de Neurodegeneração sinar, leva o conhecimento que ele próprio
de saúde do Rio, apenas o Instituto Na- e Reparo. Sua pesquisa mais recente bus- gera. Isso é uma fonte de motivação enor-
cional do Câncer tem. Seria um divisor de ca melhorar a capacidade de regeneração me para o aluno. Os estudantes estão ven-
águas, desafogando a fila de espera para do sistema nervoso periférico após lesões do que aquele docente não está repetindo
exames”, explica o professor. Vencido traumáticas graves, como as sofridas em o que está no livro. Eles ficam encantados.
o obstáculo da instalação, há um novo acidentes de moto. E, muitas vezes, se revelam pesquisadores.
desafio: falta de insumo e manutenção. Tenho vários alunos que fizeram mestra-
“Chegamos a testar o funcionamento, mas O laboratório estuda a utilização de pe- do, doutorado e são professores daqui, da
houve problema com uma peça já fora da quenos tubos que serão utilizados na ci- UFF, da Federal da Bahia, da Federal de
garantia. E o hospital não tem contrato rurgia de reparo de nervos dos pacientes. Sergipe, na Fiocruz. Essas pessoas entra-
para manutenção”, completa. Os materiais, constituídos de polímeros ram e gostaram. Aí vão para outros luga-
de ácido lático, são desenvolvidos em par- res, ocupam cadeiras importantes, come-
Na visão do docente, a dificuldade para ceria com a equipe do professor Cristiano çam seus grupos de pesquisa próprios. É o
manutenção adequada da estrutura é o Piacsek Borges, da Engenharia Química da que chamamos de “nucleação”.
principal problema. “Obter uma credita- Coppe. A técnica baratearia os custos deste
Ana Maria ção internacional para os laboratórios que tipo de operação, no Brasil. “Estes tubos,
Blanco Martinez: apresentam infiltrações e coisas do tipo? com estas características e este objetivo, Como está o financiamento da pesquisa?
“Financiamento Esquece!”, lamenta Sergio Augusto. já existem comercialmente na Europa e
não é suficiente nos Estados Unidos. Mas, aqui no Brasil ><AMBM: Nos últimos anos, estamos en-
para pesquisas Para a direção do Clementino, os pro- não existe esta tecnologia. Se o cirurgião frentando uma falta de verba para pesqui-
de ponta” blemas enfrentados pela pesquisa decor- quiser usar isso no seu paciente, ele tem sa muito grande. Tenho, no momento, três
rem da crise financeira do país, mas a re- que importar e pagar caríssimo”, explica. projetos aprovados há mais de um ano:
siliência dos pesquisadores tem produzido dois na Faperj e um no CNPq, mas o di-
bons resultados acadêmicos. De acordo nheiro não chega. Recebemos uma verba
com a assessoria da direção, cerca de 300 Como é trabalhar na universidade denominada “de bancada”, que é pouca,
projetos estão em andamento no hospital. pública em parceria com outros mas chega todo mês. Quebrou um equi-
Em apresentação ao Conselho Universitá- grupos de pesquisa? pamento, manda consertar. Mas, para dar
rio, o diretor Eduardo Côrtes contou ainda saltos qualitativos, para fazer uma pesqui-
que os profissionais da unidade produ- ><ANA MARIA BLANCO MARTINEZ: sa de ponta, esse dinheiro não é suficiente.
ziram 101 artigos científicos em 2016: 72 Dentro do campus, você tem expertises Se esta situação perdurar por muito tem-
nacionais e 29 internacionais. completamente diferentes. Vivemos nesse po, vai refletir muito negativamente na
caldeirão de pesquisa: tem conferência, Ciência do Rio de Janeiro e do Brasil.
defesa de tese, apresentação... Essa troca
Elisa Monteiro

é muito enriquecedora. Eu sou coordena-


dora geral deste projeto, mas ele não exis- E as condições de pesquisa no HU?
tiria sem a Coppe, sem o neurocirurgião Melhoraram ou pioraram
Fernando Guedes, as fisioterapeutas Fer- nos últimos anos?
nanda Almeida e Camila Goulart e alunos
do hospital, entre outras pessoas. Outra ><AMBM: Problemas existem, sempre
vantagem é a autonomia. Temos liberdade existiram, mas talvez estejam piores atu-
para fazer esta colaboração, de pesquisa- almente devido à situação crítica que o Rio
dor para pesquisador. de Janeiro e o país passam no momento.

28 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 1 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 ><
29
S
DOSSIÊ HOSPITAL >< EBSERH

Fernando Souza
er ou não ser da Ebserh? A dúvi-
da que consumiu dias e noites da
comunidade acadêmica em 2013 está de
Casa desarrumada:
volta com a agonia do Hospital Univer-
no subsolo do hospital,
sitário Clementino Fraga Filho. A falta
acesso à escada rolante
de recursos e de leitos da unidade e um
parada há uma década
crescente isolamento na negociação de
vira depósito de sucata
investimentos com Brasília alimentam a
ideia de adesão à Empresa Brasileira de
Serviços Hospitalares.

O nome da empresa pública vincu-


lada ao MEC, criada nos governos do
PT para gestão dos hospitais universi- Debate: em 2013, o tema Ebserh perdeu espaço na UFRJ. Hoje, direção do hospital cogita adesão à empresa
tários federais, não aparece por acaso
na discussão. A Ebserh promete mais
dinheiro para obras, melhoria na ges- a autonomia universitária e só se posiciona Tecnologia, local excepcionalmente esco-
tão e, principalmente, contratação de sobre a gestão das unidades filiadas”, re- lhido para a reunião do Conselho Univer-
pessoal dentro da lei. Os funcionários sume a diretoria, em documento enviado sitário, o então reitor Carlos Levi recuou
são selecionados em concurso público, à reportagem da Adufrj. da decisão de bater o martelo sobre um
mas atuam em regime celetista. modelo de gestão para os hospitais da uni-
Em março, a direção do Clementino versidade. Sem deliberação, o assunto foi
Por muito tempo, em especial nos anos Fraga Filho organizou reuniões com os minguando até sumir.
90, os gestores universitários conviveram funcionários para tratar do tema. Em con-
com a ausência de concursos públicos pa- versas reservadas, Eduardo Côrtes chegou Levi, ao encerrar a sessão, afirmou que
ra recomposição ou expansão do quadro a defender a adesão à empresa. No dia 14 chamaria as representações da comuni-
efetivo, formado por profissionais estatu- de março, o diretor concedeu entrevis- dade para traçar um cronograma de ações
tários. Nos hospitais, a situação era ainda ta à Globo News confirmando que havia que traduzissem o “sentimento da maioria
mais dramática pela evidente necessidade conversas com a comunidade do hospital da UFRJ em relação à sustentação dos hos-
de preservação das vidas dos pacientes. sobre o assunto. Assim que soube desta pitais”. Mas nada de concreto aconteceu
Sem autorização para gerar vagas e pre- movimentação, o Sintufrj chamou Côrtes depois disso.
cisando manter o atendimento, as solu- para uma reunião. Segundo o coordenador
ções mais criativas foram adotadas para a do sindicato, Francisco de Assis, naque- Antes de chegar a este ponto, vários
contratação de pessoal. Os salários, mui- la ocasião, o diretor disse entender que a debates foram promovidos sobre o tema.
tas vezes, eram bancados com verba de Ebserh aparecesse nas discussões como Os movimentos organizados da UFRJ de-
custeio do Sistema Único de Saúde. E tudo possibilidade na atual conjuntura de crise. fendiam o fortalecimento do Complexo
isso era rejeitado pelos órgãos de controle Hospitalar da universidade, integrado ao
da União, que pressionavam os dirigentes. O Sindicato dos Trabalhadores em Edu- estatuto. Em linhas gerais, seria a preser-
cação da UFRJ (Sintufrj) é contra a Ebserh. vação dos hospitais sob a gestão universi-

A volta
Na UFRJ, a irregularidade ainda exis- Para os hospitais universitários, o sindica- tária, mas atuando em rede, por exemplo,
te com os “extraquadros”, profissionais to defende uma proposta da Federação de para o recebimento de recursos e para a
com vínculos e direitos precários. São 673 Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Ad- compra de insumos.
funcionários somente no Clementino. Os ministrativos em Instituições de Ensino
pagamentos são feitos com receitas da Superior Públicas do Brasil (Fasubra), com Outros fóruns, como o Conselho do
universidade, via reitoria. funcionamento baseado em um regimento Centro de Ciências da Saúde, entendiam a
geral para todas as unidades. No regimen- empresa como a saída possível para a crise
Ao mesmo tempo em que se apresen- to proposto pela Fasubra, uma matriz de dos hospitais. Diretor da Maternidade-

dos que
ta como instrumento de recuperação dos financiamento obedeceria a uma série de -Escola da UFRJ, o professor Joffre Amim
hospitais, a Ebserh assusta parte da comu- indicadores, como número de leitos, taxa Júnior dizia: “A Ebserh veio para resolver o
nidade acadêmica. Como a gestão deixa de de ocupação por leito e índice de produção problema dos profissionais extraquadros”.
estar diretamente ligada às universidades, científica, entre outros. Haveria, ainda,
o argumento da “perda de autonomia” é um amplo controle social com os conse- O próprio Consuni, em maio daque-
frequentemente utilizado. lhos gestores formados por usuários (50%) le ano, aprovou a criação de comissão

não foram
e pelos segmentos da comunidade univer- técnica para realizar um diagnóstico dos
A atual reitoria da UFRJ, por exemplo, sitária (50%). Os hospitais continuariam hospitais da UFRJ. A empresa foi refe-
já manifestou sua contrariedade. “A con- sendo administrados pelas universidades rendada pelos especialistas, mas a dis-
tratação da Ebserh é uma alternativa que e o quadro de pessoal seria contratado pelo cussão continuou intensa no colegiado.
entra em conflito com a autonomia e al- Regime Jurídico Único. Ainda no fim de 2013, o tema “Ebserh”
tera o escopo jurídico da universidade”, foi explorado na campanha eleitoral pa-
resume a Administração Central, em nota. ra a direção do Hospital Universitário.
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares administra quase Dos dois candidatos que disputaram o
Em todo o país, desde a criação em Debate turbulento cargo — Eduardo Côrtes e Luiz Augusto
todos os hospitais universitários do país. Clementino Fraga é 2011, a Ebserh já administra 39 hospitais Feijó — apenas Côrtes assumiu posição
universitários federais. Somente a UFRJ, sobre Ebserh em 2013 claramente contrária à empresa e venceu
uma das três exceções. Por enquanto. Diretor, antes ferrenho a Universidade Federal de Uberlândia e nos três segmentos: “A comunidade acre-
a Universidade Federal de São Paulo não O debate sobre uma eventual adesão à Em- dita que há outras possibilidades além da
opositor da proposta, já repensa a decisão firmaram contrato com a estatal. presa Brasileira de Serviços Hospitalares Ebserh e demonstrou isso nessa eleição”,
Fernando Souza

foi bastante turbulento na UFRJ duran- garantiu o atual diretor, pouco antes de
A direção da Ebserh prefere não falar te todo ano de 2013. Naquele ano, em 26 tomar posse e de sentir na pele as dificul-
por Kelvin Melo sobre as universidades que não aderiram de setembro, pressionado por um mar de dades de administrar um hospital federal
>< Da Reportagem da Adufrj à empresa. “A estatal reforça que respeita gente que tomou o auditório do Centro de na contramão de Brasília.

30 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 >< 31
Fotos de Kelvin Melo
pré-Ebserh: R$ 64,9 milhões em 2014; R$
A experiência 68,1 milhões em 2015 e R$ 68,3 milhões Porto Alegre:
em 2016.
da UniRio modelo brasileiro
O telhado, que vivia cheio de goteiras,
No Rio de Janeiro, apenas a UFRJ não aderiu à foi inteiramente trocado nos primeiros O Hospital de Clínicas de Porto Alegre foi
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. anos de gestão da empresa, exemplificou apontado pela Ebserh como modelo de
O professor Fernando Ferry participou da o ex-superintendente. Contudo, ele dei- atendimento a ser expandido para todos os
implantação da Ebserh no Hospital Gaffrée e xou claro que a Ebserh não é garantia de hospitais universitários federais. É o único
Guinle, da UniRio, em 2016. Situado na Tijuca, solução dos problemas financeiros: “De hospital do país criado como empresa pú-
o hospital foi fundado em 1929. O porte da 2015 para cá, estamos com dificuldades blica de direito privado. O desempenho é
unidade é bem menor que o do Clementino, de pagar os fornecedores”, explicou. de impressionar: ele consegue 91% de taxa
mas em 2016 ofereceu quantidade semelhante de ocupação em seus 842 leitos. Os núme-
de leitos: 218. Com 379 médicos, o Gaffrée Ele elogia a transformação da estrutu- ros dão uma dimensão do gigantismo da
realizou 4.714 internações. Até março deste ra de apoio aos hospitais, com a criação unidade. São 128 mil metros quadrados de
ano, o hospital contabilizou 1.121 internações. da Ebserh: “Antes, havia uma coordena- área construída onde atuam 6.083 funcio-
Em entrevista à reportagem da Adufrj, Ferry, doria geral de hospitais dentro do MEC, nários, sendo 1.680 médicos. O hospital faz
diretor do hospital da UniRio desde 2014, fez que era uma seçãozinha do MEC, com atendimentos públicos e privados, que to-
uma avaliação do primeiro ano de gestão da pouquíssimos técnicos. Com a Ebserh, talizaram 34.416 internações e 1.561 trans-
empresa. “Eu recomendaria, sim, a adesão”. instalou-se uma inteligência. Cerca de plantes em 2016.
150 profissionais, na sede em Brasília, de
Quais são os principais pontos positivos da todas as áreas, de informática, de atenção O hospital dispõe, ainda, de 199 consul-
contratação da Ebserh? Melhorias à vista: Hospital Julio Müller, da Universidade Federal do Mato Grosso, à saúde, equipamentos, engenharia clí- tórios para atendimentos ambulatoriais.
>< FERNANDO FERRY - A Ebserh tem as fer- foi o 11º a aderir à Ebserh. Desde 2013 sob gestão da empresa, unidade, nica, manutenção de aparelhos, questões Edna Brasília: “Julio Müller cresceu e melhorou”. Foram mais de 600 mil consultas só no ano
ramentas e a expertise para ajudar na gestão localizada em Cuiabá, recebeu obras e contratou quase 400 funcionários trabalhistas”, enumerou. Ela frequenta o hospital desde 1988. passado. Para completar a estrutura, há
hospitalar. Na verdade, o diretor do hospital uma casa de apoio para humanização dos
universitário, é muito sozinho. A empresa A aproximação com a Academia tam- acolhimentos — que recebe crianças em
capacita, ajuda, dá suporte e treinamento hospital era contratada por uma funda- bém agradou. “Criou-se aqui, com a che- Mas ela também está sofrendo por conta tratamentos continuados. Para o ensino,
para fazermos uma gestão melhor com apoio. Hospital de Cuiabá: ção municipal e completada por funcio- gada da Ebserh, uma estrutura que não da crise econômica”. a instituição possui 39 salas de aula e nove
nários cedidos por outros órgãos. Até ja- existia antes: uma gerência de ensino e auditórios.
E quais aspectos são negativos? valeu a pena neiro de 2017, o hospital universitário já pesquisa, que organizou muito nossa parte Segundo ele, o hospital melhorou a
>< FF: Acho que o problema foi gerado a partir contava com mais profissionais celetistas de pesquisa e de controle administrativo gestão com a Ebserh. Só que, para ganhar Foi lá que a reitoria da UFRJ se espelhou
da forma como foi apresentada para que as “Entre vantagens e desvantagens para concursados pela empresa (395) do que da parte pedagógica, de ensino”, disse. mais do SUS, passou a ter que produzir para importar o sistema de gestão hospita-
universidades decidissem. Quando você nosso hospital, a Ebserh foi mais vanta- servidores estatutários (383) e apenas 39 mais. Amorim contou que estava rece- lar desenvolvido pela equipe do Hospital de
discute no Conselho Universitário, pessoas que gem”. A declaração é do professor Fran- trabalhadores cedidos de outros órgãos. O professor contou, no entanto, que bendo muitas reclamações de profes- Clínicas, em parceria com o Ministério da
não entendem da área da saúde e de hospitais cisco Souto, primeiro superintendente Conforme vão se aposentando aqueles em esperava mais agilidade da empresa: “A sores e de alunos atendendo pacientes Educação e com a Ebserh. O sistema, cha-
opinam e falam muita besteira. Essa tem que do Hospital Universitário Júlio Müller sob Regime Jurídico Único (RJU), são criadas Ebserh não escapa de uma série de trâ- até tarde da noite. “A assistência precisa mado AGHUse, está em fase de implantação
ser uma decisão das escolas de saúde, porque o gestão da empresa, entre 2013 e 2017. A vagas novas por CLT. mites burocráticos. Hospital precisa de desse volume para ter recurso. O ensino e terá a função de auxiliar na gestão e na
destino é delas. O caminho é delas. reportagem da Adufrj visitou o local no algumas decisões muito rápidas e nisso a não precisa. Estamos numa fase ainda de integração das nove unidades de saúde que
início deste ano para conhecer a experi- A contratação de profissionais que não Ebserh ainda peca”. adaptação da gestão. Não é como abrir um compõem o Complexo Hospitalar.
Em que o hospital melhorou desde que ência da unidade, vinculada à Universi- existiam na estrutura da unidade foi outro McDonald’s”, comparou.
aderiu a empresa? dade Federal de Mato Grosso. benefício: “Eu não tinha engenheiro, não O ex-superintendente é carioca da Apesar de promissor, o sistema, sozi-
>< FF: Hoje temos a capacitação do grupo, tinha advogado”, disse Francisco. Mas Ilha do Governador. Fez graduação e Já para a coordenadora do sindicato nho, não será capaz de resolver os pro-
temos um planejamento estratégico e temos O hospital não é grande. Trabalha as es- não está sendo uma adaptação tranquila. mestrado na UFRJ, além de residência dos técnicos-administrativos da UFMT, blemas das instituições de saúde da UFRJ.
um caminho que está sendo percorrido. pecialidades básicas com 118 leitos e reali- “Aconteceram problemas em relação à no Hospital Universitário Clementino Léa de Souza Oliveira, a Ebserh não en- É o que considera o professor Titular do
Houve concurso, vamos ganhar pessoal, za poucos procedimentos de alta comple- vivência dos dois regimes. De um modo Fraga Filho. Ele evita, porém, fazer uma tregou o que prometeu. Não houve “cho- Instituto Coppead, Kleber Fossati, espe-
vamos ganhar equipamentos e tudo isso vai xidade. Não tem emergência e só recebe geral, o contratado Ebserh tem melhores recomendação de adesão à Ebserh aos que de gestão”, os recursos não foram cialista em gestão hospitalar. “Um sistema
nos permitir fazer uma contratualização pacientes pelo sistema de regulação. Uma salários”, explicou. colegas do Rio. “O momento é outro. suficientes para aumentar a capacidade de gestão é necessário, mas não suficiente.
plena com o SUS. dificuldade é a falta de espaço para expan- Não sei se o bonde passou. A Ebserh hoje do hospital e ainda foi criada uma tensão Por mais bem concebido que seja, ele não
são das atividades. O prédio é empresta- A Ebserh foi discutida e aprovada pela também passa por apuros. Esse negócio entre os profissionais estatutários e os ce- será bem sucedido se a implantação não for
Quais eram os problemas anteriores? do pelo estado desde os anos 80, quando Universidade Federal de Mato Grosso em de contenção, teto de gastos, impactou letistas, da empresa. bem feita”.
>< FF: Eram problemas de gestão. Alguns deles começou o curso de Medicina da UFMT: 2012. Naquele ano, ainda sem a empresa, todo mundo”, afirmou.
eu destaco: equipe reduzida, o gestor não pode “O hospital hoje está completamente sa- o hospital recebeu R$ 52,9 milhões de “Primeira coisa: a equipe que hoje ad- Valter Ferreira da Silva, coordenador
remunerar, dificuldade em abrir concurso, turado”, lamentou o ex-superintendente, receitas (já descontando repasses para Diretor da Faculdade de Medicina da ministra o hospital é toda do quadro. A de Tecnologia da Informação do Hospital
enfim, de fazer plena gestão. substituído em março. O local também é a obra do novo hospital, hoje paralisa- UFMT de 2009 até março deste ano, An- única pessoa que veio de fora, foi um ad- de Clínicas, concorda. “Um sistema por
afastado — cerca de sete quilômetros — do da). Em 2013, com as primeiras tratativas tônio Amorim foi o relator da proposta ministrador que não tem experiência em si só não faz milagres. Para que se obte-
E os atuais? campus da universidade. para assinatura do contrato — que ocor- da adesão à Ebserh no Consuni local. gestão hospitalar universitária”, disse Léa, nham bons resultados na implantação, é
>< FF: Nosso grande problema é fazer as pessoas reu em novembro — a unidade recebeu No início, admitiu ter votado favoravel- em resposta ao argumento de profissiona- imprescindível que ocorra o completo en-
trabalharem. Estou estudando a implantação de A expectativa da comunidade local é aproximadamente R$ 70 milhões. Nos mente, pois sentia a universidade sem lização da gestão, via Ebserh. gajamento dos funcionários e da direção
ponto eletrônico e tendo muitas resistências. pela conclusão de um novo campus, em anos seguintes, as receitas continuaram alternativas: “Hoje sou favorável à Eb- dos hospitais. Os ajustes nos processos de
O discurso é que precisamos moralizar, mas a área cedida pelo governo estadual, que superando o período imediatamente serh por convicção. Não por imposição. Ela admitiu a chegada de recursos: trabalho são imprescindíveis para alcançar
prática é a do médico ou professor que marca continuaria distante da universidade, “Só que este dinheiro não se reverteu a sustentabilidade financeira das institui-
30 pacientes para às 7h e às 9h termina todo o mas reuniria o hospital e os cursos da em benefício para o usuário nem para ções”, disse.
seu atendimento e vai para o seu consultório área da Saúde. O prédio da Faculdade de o trabalhador”. Antes da Ebserh, eram
particular. As pessoas não cumprem a jornada Medicina está praticamente pronto. O do Francisco Souto: quase 100 leitos. No início deste ano, 118. Valter explica que o sistema tem como
para a qual são contratadas. novo hospital começou a ser construído. “A Ebserh hoje “Aumentar só 20 leitos com três anos de objetivos principais melhorar os processos
Porém, a obra está parada há dois anos e também passa Ebserh...”, ironizou. assistenciais e administrativos. “O AGHUse
O senhor recomendaria a adesão à Ebserh? sem previsão de término. por apuros” é uma ferramenta que potencializa as boas
>< FF: Eu recomendaria, sim. Só não concordo Com a divisão de pessoal praticamente ao intenções. Com o sistema, por exemplo, é
com a forma de contratação via CLT, mas acho Enquanto o sonho não se concretiza, a meio entre RJU e CLT, há um conflito muito possível unitarizar e acompanhar individu-
que isso pode ser revertido, se todos os hospitais regularização da mão de obra foi um dos grande no ambiente hospitalar, argumen- almente a história de cada comprimido que
se unirem. Precisamos de todo mundo para problemas atacados de imediato. Antes Entrada de pessoal: existe controle de ponto tou Léa. “Eles (da Ebserh) têm muito mais entra ou sai do hospital. Não são aceitas per-
fortalecer nossos hospitais. da Ebserh, parte da força de trabalho do separado entre estatutários e celetistas benefícios e o dobro de salário”, afirmou. das. Para se ter isso, só é preciso querer”.

32 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ>< Ano 2 >< Número 3 ><
33
O
da Universidade AUTÔNOMA. A propos- No plano jurídico, entre as entidades
ta de entregar parte de nossas instituições da administração indireta (autarquias,
de saúde para serem gerenciadas por essa fundações, empresas públicas e socieda-
Complexo Hospitalar da UFRJ empresa de serviços foi rejeitada pela co- des de economia mista) não há hipótese
foi criado, por ato do Conselho Universi- munidade universitária em 2013 e retirada de subordinação horizontal, pois todas se
tário, em 18/12/2008, como Unidade Or- de pauta por decisão do Consuni. Por qual encontram vinculadas diretamente a um
çamentária própria. Visava à inovação na motivo querem alguns docentes ressuscitar Ministério e não pode uma ficar subordi-
DOSSIÊ HOSPITAL >< ARTIGO organização de nossas instituições de saúde tal assunto? Por não ter competência, essa nada à outra, mesmo que por contrato,o
Fernando Souza seculares (RELATÓRIO2009 –Comissão de empresa não vem cumprindo seus contra- qual não pode se sobrepor à Constituição.
Implantação do CH E DE SAÚDE/UFRJ). tos de gerência com os hospitais univer-
sitários que cederam à pressão governa- Essa forma de “publicização” dos bens
O complexo pode dispor de 830 leitos, mental para assiná-los. Nem a reposição de públicos que não podem ser privatizados,
26 salas cirúrgicas, 426 consultórios. Cobre pessoal extraquadro, que prometiam, tem foi proposta política do Banco Mundial
todas as grandes especialidades médicas sido cumprida integralmente e não existem como denunciamos em entrevista ao Jor-
e cirúrgicas. Possui laboratórios especia- recursos orçamentários adicionais para os nal da ADUFRJ Ano XII nº 743 (02 de abril
lizados de pesquisa e serve de campo de hospitais universitários como já declara- de 2012).
treinamento para alunos de graduação e ram seus próprios dirigentes.
pós-graduação das unidades acadêmicas A empresa não tem competência para
de diversas áreas da UFRJ. Esse patrimônio Vale aqui lembrar que a autonomia de solicitar vagas e abrir concursos para o
secular foi consolidado na Constituição de gestão financeira e patrimonial (como está pessoal docente e contrata pessoal téc-
1988,no seu artigo 207, que definiu a Auto- na Constituição)consiste, fundamental- nico-administrativo por CLT, legislação
nomia Universitária obedecendo ao prin- mente, na competência de a universidade esta, agora sendo desfigurada. Isto cria
cípio de indissociabilidade entre ensino, gerir, administrar e dispor, de modo autô- problemas insanáveis para a gestão de
pesquisa e extensão. Para que pudessem nomo, seus recursos financeiros. Significa pessoal dos HUs pela universidade e cria
exercer sua plena autonomia didático- dizer que a universidade tem o direito de impedimentos reais para romper qual-
-científica, administrativa e de gestão fi- receber, do ente político que a institui, re- quer contrato.
nanceira e patrimonial, as universidades cursos financeiros necessários para exercer
federais se constituíram sob a forma de au- seu fim último. De acordo com a Constitui- A “PROPOSTA EBSERH” ESTÁ DER-
tarquias, órgãos da administração indireta ção, cabe ao poder público criar e manter as ROTADA NA UFRJ! Todas as forças vivas
do governo federal, ligadas ao Ministério da universidades, porquanto é seu dever pro- de nossa universidade devem se unir na
Educação, para gerenciar seu patrimônio. mover e incentivar a educação e assegurar defesa e desenvolvimento de nossas uni-
o direito ao ensino (art. 205), promover o dades hospitalares e institutos especiali-
Os hospitais universitários s e Institutos desenvolvimento científico, a pesquisa e zados. Resistir à Ebserh e desenvolver o
Especializados que compõem o complexo, a capacitação tecnológicas (art. 218), ga- Complexo Hospitalar significa manter a
não são hospitais apenas assistenciais ou de rantir o desenvolvimento nacional (art. 3º). autonomia universitária impedindo que a
serviços. Suas funções estão bem definidas universidade fique ao sabor de conjuntu-
no Estatuto da UFRJ e nos documentos da Sem recursos próprios, previamente ras temporárias de governos, como o atu-
Implantação do Clementino. São essenciais determinados e intocáveis, torna-se ir- al, que ataca a universidade pública. As
para os Sistemas de Saúde, de Educação remediavelmente inviável a autonomia políticas em implantação de minimizar o
e de Ciência e Tecnologia de nosso País e financeira. poder do Estado e retirar direitos sociais e
devem ser considerados estratégicos para trabalhistas estão evidentes: terceiriza-

Hospital não é da
o desenvolvimento. A autonomia deve ser exercida sem in- ções até das atividades fins, precarização
gerência de poderes estranhos à universi- das relações trabalhistas, congelamento
Reconhecendo a importância dos hospi- dade ou subordinação hierárquica a ou- do orçamento federal por 20 anos, juros
tais universitários, o governo Federal ins- tros entes políticos ou administrativos. Não escorchantes com o sistema da dívida pú-
tituiu através do Decreto Nº 7.082/2010, o pode,portanto, a universidade, alienar seus blica, desoneração de impostos para as
Programa Nacional de Reestruturação dos hospitais universitários e seu pessoal, para grandes empresas, privatização dos bens

Ebserh. É da UFRJ
Hospitais Universitários Federais (Rehuf). qualquer ente, ainda que mistificado como públicos. Atingem não apenas os hospi-
Este decreto definiu a forma de orçamentar empresa pública, mas de direito privado e tais universitários, mas todas as univer-
os hospitais universitários com recursos apenas de serviços, para serem geridos por sidades e o povo brasileiro. Representam
provenientes dos Ministérios da Educa- esse ente estranho à universidade. um repasse de recursos do setor público
ção e da Saúde. Infelizmente esse quadro para o setor privado como nunca visto
foi revertido em dezembro de 2011 com a anteriormente. Provocam, entre outras
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares atenta contra a autonomia universitária criação da Ebserh (Empresa Brasileira de consequências, a extrema desigualdade
Serviços Hospitalares).Uma empresa pú- >< ou injustiça social, a destruição do am-
por Nelson Albuquerque de Souza e Silva >< Professor Emérito da UFRJ – Medicina - blica, mas de direito privado, “prestadora biente, a competição destrutiva nas rela-
Diretor do Instituto do Coração Edson Saad da UFRJ de serviços”, sem nenhum histórico ou A autonomia deve ções humanas, a desvalorização da ética,
e Marcio Amaral >< Professor Associado – Medicina – Vice-diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ competência prévia em administrar hos- a falta de solidariedade na sociedade. Não
pitais universitários, que compra serviços ser exercida sem podemos esquecer que injustiça social
para fazê-lo e centraliza decisões como se afeta a saúde das pessoas e causa aumento
todos os hospitais universitários do Brasil ingerência de poderes da mortalidade por doenças.
fossem iguais. Portanto, ao assinar con-
tratos com as universidades para gerenciar estranhos à Que os nossos dirigentes tenham a
os hospitais universitários, a empresa não sabedoria de não submeter nossa comu-
apenas se apropria de nosso patrimônio universidade ou nidade acadêmica a mais esse desgaste.
secular, mas retira recursos dos hospitais Estou certo que nosso reitor atual saberá
universitários, para gerenciá-los de forma subordinação resistir às pressões que ainda persistem
independente das universidades. e continuará desenvolvendo o Complexo
hierárquica a outros Acadêmico Hospitalar e de Saúde como o
Aceitar qualquer interferência absurda vem fazendo.
na universidade, retirando seu direitos e entes políticos ou
deveres constitucionais de se autogerir e A íntegra do artigo você confere em:
preservar seu patrimônio, é decretar o fim administrativos goo.gl/2zGqDr

34 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 >< 35
De: Gabriela Vasconcelos <gabrielavasconcelos@hucff.ufrj.br>
TROCA DE E-MAILS De: Gabriela Vasconcelos <gabrielavasconcelos@hucff.ufrj.br>
DOSSIÊ HOSPITAL >< ARTIGO

Sem resposta
Data: 23 de fevereiro de 2017 15:11 Data: 7 de abril de 2017 11:58
Assunto: Re: Hospital do Fundão pede socorro contra a Assunto: Re: sobre os dados e entrevista

Debate é o
insegurança no entorno Para: Silvana Sá <silvana@adufrj.org.br>
Para: Silvana Sá silvana@adufrj.org.br Bom dia, Silvana!
Silvana, Isabela comentou que você quer ficar uma pauta sobre Em reunião esta manhã, eu fui informada que o professor Edu-
hospital. Não entendi direito. Pode explicar melhor? Quais ardo Côrtes não vai conceder entrevista para a próxima revista

melhor remédio
serão os assuntos abordados? da Adufrj, assim como não vai indicar um professor para assinar
Gabriela Vasconcelos um artigo na publicação. Att
Assessora de Comunicação Gabriela Vasconcelos
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho Assessora de Comunicação
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
De: Silvana Sá <silvana@adufrj.org.br>
Data: 23 de fevereiro de 2017 15:21 De: Tatiana Roque <<tati@im.ufrj.br> por Tatiana Roque
Assunto: Re: Hospital do Fundão pede socorro contra Data: 22 de maio de 2017 15:00 >< Presidente da Adufrj
a insegurança no entorno Assunto: Entrevista ADUFRJ
Para: Gabriela Vasconcelos <gabrielavasconcelos@hucff.ufrj.br> Para: Gabriela Vasconcelos <gabrielavasconcelos@hucff.ufrj.br>
O Hospital Universitário Clementino Fra- pitais universitários foi criar uma em-
Oi, Gabriela. Precisamos que o diretor nos dê um panorama do Prezado Professor Eduardo Côrtes,
hospital, tanto a respeito de sua área acadêmica: ensino, pes- Em nome da ADUFRJ e conforme conversas anteriores, gostaria ga é um dos principais pontos de conta- presa pública, incumbida de gerir esses
quisa, extensão; quanto de gestão: quadro atual de servidores, de pedir que seja concedida uma entrevista para o próximo to entre a UFRJ e a sociedade. Um bom equipamentos: foi assim que surgiu a Eb-
de terceirizados, de extraquadros - saber se já houve o dimen- número de nossa revista. Designamos o jornalista Kelvin Melo número de pessoas só chega perto da serh. A UFRJ foi das poucas a não aderir.
sionamento de pessoal pedido pela Justiça para que as vagas para entrevistá-lo e reafirmo que seu depoimento seria de universidade quando busca atendimen- Na época, pessoas contrárias, que hoje
sejam abertas; financiamento; perspectivas; planejamento. Eu grande importância para esclarecer a situação de nosso Hospital to nesse hospital. Além disso, é ali que ocupam a reitoria e a direção do hospi-
e Ana Beatriz, minha chefe e editora da revista, vamos fazer a Universitário Clementino Fraga. se formam médicos que irão trabalhar tal, prometeram uma solução alternati-
entrevista com ele. Pode ser na semana do dia 13 de março. Atenciosamente,
em muitos outros locais. É fundamental, va – que não veio. Circularam na grande
Obrigada. Tatiana Roque
Silvana Sá Presidente da ADUFRJ portanto, que o funcionamento do hos- mídia, nos últimos meses, declarações
Jornalista da Adufrj-SSind pital seja o mais transparente possível. do diretor do HUCFF, professor Eduardo
---------- Forwarded message ---------- Não se trata somente de uma questão de Côrtes, dizendo que há uma demanda da
De: Silvana Sá <silvana@adufrj.org.br> orçamento, mas da infraestrutura de um comunidade para que a discussão sobre a
Data: 14 de março de 2017 18:36 From: Gabriela Vasconcelos <gabrielavasconcelos@hucff.ufrj.br> equipamento essencial da cidade do RJ, adesão à Ebserh seja retomada.
Assunto: Repercussão entrevista do diretor Date: 2017-05-23 11:19 GMT-03:00 administrado por uma universidade e que
Eduardo Côrtes para o GNews Subject: Re: entrevista revista ADUFRJ
é um local de interação entre população, Nenhum debate na universidade deve
Para: Gabriela Vasconcelos <gabrielavasconcelos@hucff.ufrj.br> To: Tatiana Roque <tati@im.ufrj.br>
Olá, Gabriela. Tudo bem? Precisamos de uma declaração do Cc: ejbcortes@terra.com.br, Kelvin Melo <kelvin@adufrj.org.br> professores, técnicos, residentes e, prin- ser interditado, nem de forma explícita
professor Eduardo Côrtes sobre a entrevista concedida ao Bom dia! A publicação será só sobre o HUCFF? Se sim, cipalmente, estudantes. (obviamente), nem de forma tácita – por
Jornal das Dez, da Globo News. Ele alegou estar discutindo qual o motivo dessa decisão? Att., meio de constrangimentos ou pressões
internamente a possibilidade de contratualização com a Gabriela Vasconcelos Vivemos um momento de desmonte de grupos políticos. A universidade é,
Ebserh. Gostaria de saber: O que o fez mudar de posição sobre Assessora de Comunicação dos serviços públicos e ameaças cons- por excelência, um lugar de reflexão, de
a empresa passar a administrar o hospital? Essas discussões Hospital Universitário Clementino Fraga Filho tantes de cortes de verbas. Precisamos debate e de produção de conhecimento.
internas envolvem a reitoria da UFRJ? Está pensado algum
mais do que nunca do apoio da socieda- Qualquer tema deve poder ser debatido
cronograma relacionado a esse assunto? A outra coisa é a
de. A imagem passada pela imprensa e exaustivamente até que um consenso se-
Fernando Souza

necessidade daquela entrevista para a Revista da Adufrj. Você From: “Tatiana Roque” <tati@im.ufrj.br>
conseguiu uma data? Precisamos já para a próxima semana. por grupos ativos nas redes sociais é a de ja obtido ou posições conflitantes sejam
To: ejbcortes@terra.com.br,diretor@hucff.ufrj.br
Abraços, Silvana Sá Cc: anacarolmelo@hucff.ufrj.br,anabiamagno@adufrj.org.br ineficiência, desperdício e privilégios. explicitadas e votadas nos órgãos delibe-
Jornalista da Adufrj-SSind Sent: Mon, 3 Jul 2017 12:38:04 -0300 Para desfazer essa caricatura, precisamos rativos da UFRJ. Isso não aconteceu no
Subject: entrevista revista ADUFRJ exibir os dados, abrir as contas, analisar caso da Ebserh.
De: Silvana Sá silvana@adufrj.org.br o efetivo do HUCFF e os atendimentos
Data: 30 de março de 2017 16:03 Prezado Eduardo Cortes, que realiza, avaliar a infra-estrutura e A atual direção da ADUFRJ tem como
Assunto: quantitativo de terceirizados A ADUFRJ-SSind está desde fevereiro deste ano de 2017 tentando
Para: Gabriela Vasconcelos <gabrielavasconcelos@hucff.ufrj.br> O professor Eduardo Côrtes, diretor do Clementino a relação entre seu custo e os benefícios posição política defender que o debate
realizar uma entrevista com a direção do Hospital Universitário Clem-
Gabriela, Vocês têm também o quantitativo de terceirizados? que presta à população e aos estudantes. sobre temas polêmicos na universidade
entino Fraga, para o número especial de nossa revista que trata sobre
Explico: faz parte da revista sobre as unidades hospitalares Fraga Filho, não quis dar entrevista para a reportagem o tema. Tivemos uma conversa proveitosa na sede no dia 4 de abril, Enfim, precisamos mostrar – de forma seja o mais aberto e democrático possí-
da UFRJ os terceirizados, que acabam entrando na relação de quando ficou acertado que nossos jornalistas seriam recebidos para detalhada – o quanto da situação atual se vel, incluindo sempre o contraditório.
trabalhadores que contribuem para os hospitais.
da Adufrj, como mostram os e-mails trocados entre a a realização da entrevista. Em seguida, houve diversas tentativas de deve à falta de financiamento e o quanto Como representantes do conjunto dos
Obrigada mais uma vez, contato, sem que nossa solicitação fosse atendida. No Consuni do dia se deve a problemas (talvez históricos) docentes, não nos cabe ter uma posição
Bjs Silvana Sá
equipe de reportagem e a assessoria do hospital 11 de maio, lembrei que seria importante para a reportagem poder de gestão. a priori sem consultá-los. Nosso papel é
Jornalista da Adufrj-SSind contar com uma entrevista da direção. Alguns dias depois, a nova as- noticiar, estimular o debate e, caso haja
sessora da direção do hospital entrou em contato conosco dizendo que
A solução proposta pelos governos demanda da parte dos docentes, fazer

E
De: Gabriela Vasconcelos <gabrielavasconcelos@hucff.ufrj.br> seria marcada uma data para a entrevista. Nesta ocasião, designamos
Data: 31 de março de 2017 16:14 um jornalista responsável que vem tentando contato. No dia 28 de Lula e Dilma para resolver os problemas uma assembleia e votar uma posição da
Assunto: Re: quantitativo de terceirizados junho, por fim, recebemos um email da mesma assessora dizendo estruturais de administração dos hos- ADUFRJ. Lançando este número de nossa
Para: Silvana Sá silvana@adufrj.org.br duardo Jorge Bastos Côrtes, cirurgião, diretor do Hospital que, por problema de agenda, a direção só responderia por escrito. revista com informações sobre o Hospital
Oi, Silvana. O HUCFF tem 430 terceirizados. Obs.: dados de 31-03- Universitário, não aceitou dar entrevista para a Revista da Consideramos essa quebra de acordo inaceitável, diante das sucessivas Universitário, estamos na primeira etapa
2017. Abs.,Gabriela Vasconcelos
Assessora de Comunicação
Adufrj. Foi procurado por e-mail, por telefone e pessoalmente. Em tentativas que vêm sendo feitas desde fevereiro. A reportagem sobre
o HUCFF é fundamental para a transparência das informações sobre
>< desse processo. Podem ser encontradas
algumas ligações telefônicas, sua assessoria respondeu que ele estava aqui avaliações de professores e profes-
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
de férias. Em outras, prometeu receber os jornalistas quando o diretor essa importante unidade, bem como para o debate sobre as razões
de sua crise atual. Muito nos surpreende que a direção não considere
Nenhum debate na soras que têm refletido sobre seus rumos.
De: Silvana Sá <silvana@adufrj.org.br> estivesse menos assoberbado. Na última vez, três meses depois do pri- Cuidamos especialmente para que posi-
Data: 3 de abril de 2017 15:31 meiro contato e 60 dias após atrasarmos a publicação para tentarmos
prioritário o esclarecimento dessas questões para a comunidade
universitária. O referido número de nossa revista está bastante universidade deve ções divergentes estejam representadas.
Assunto: número de médicos ouvi-lo, Côrtes avisou diretamente à diretoria da Adufrj que não falaria atrasado exclusivamente por esse motivo. Por isso, comunicamos que
Para: Gabriela Vasconcelos <gabrielavasconcelos@hucff.ufrj.br>
Oi, Gabriela. O esclarecimento que eu preciso é o seguinte: os
com a reportagem. A partir de abril, a direção do sindicato passou a será fechado nesta sexta-feira dia 7 de julho, com ou sem a entrevista ser interditado, Finalmente, como representantes dos
intermediar as tratativas pela entrevista. De novo, não conseguimos. da direção. Lamentaremos profundamente que uma reportagem com docentes, cabe-nos cobrar uma solução
dados do RH mostram 91 médicos extraquadros + 388 médicos
RJU, o que somam 479 profissionais médicos. Mas os dados do Em 3 de julho, a presidente do sindicato enviou o último e-mail res- essa relevância não conte com a visão do diretor da instituição, mesmo
após termos tentado insistentemente, por quase seis meses, realizar
nem de forma urgente da reitoria para os evidentes pro-
saltando a importância da entrevista para garantir a transparência de blemas do HUCFF. Além de sorver verbas
CNES, do Ministério da Saúde, são 1039 médicos. Eles aparecem
como profissionais SUS. Como a discrepância é muito grande, dados. O diretor, mais uma vez, não respondeu. Uma pena. Reprodu-
a entrevista. Reafirmamos que o compromisso com a transparência
é uma das prioridades da atual direção da ADUFRJ e gostaríamos de explícita que estão fazendo falta em outros setores
precisava que você esclarecesse junto ao RH a razão desse zimos aqui as correspondências entre nossos jornalistas e a assessoria da UFRJ, esses problemas afetam o traba-
número tão diferente. Em anexo segue a cópia da tela com esse
número encontrado. Imagino que os extraquadros estejam
de imprensa do hospital. Fica “em branco” o espaço de duas páginas
ter a direção do hospital como parceira. Informamos que o jornalista
continua disponível até sexta-feira dia 7 de julho. (obviamente), lho dos docentes e o aproveitamento dos
em que o responsável pelo hospital poderia apresentar sua versão da Saudações universitárias, estudantes. É inaceitável que médicos
sendo contatos, mas ainda faltariam 560 médicos para a conta
fechar. Te agradeço a ajuda. Um abraço.
crise e suas saídas para ela. Na sexta-feira, 15 de setembro, às vésperas Tatiana Roque
Presidente da ADUFRJ-SSind
nem de diplomados pela UFRJ ingressem no mer-
de publicarmos a revista, lemos em O GLOBO que o diretor ameaça cado de trabalho sem uma parte essencial
Silvana Sá
Jornalista da Adufrj-SSind fechar o hospital por falta de pagamento de profissionais. forma tácita de sua formação universitária: a prática.

36 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 37


Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 ><
1
5
ENSAIO
1 Sem Título, Palácio Universitário;
por Fernando Souza 2 Sem Título. Modelagem em gesso,
>< fotojornalista
prédio da Reitoria;
3 Sem Título, Instituto de Psiquiatria;
4 “Mãe”, Prof. Armando Sócrates Schnoor
(1913- 1988). Gesso patinado – 1954,
prédio da Reitoria;
5 Sem Título, prédio da reitoria;
6 Detalhe da estátua “deusa Filofrósine,
da Caridade”, Palácio Universitário;
7 Medalhão do Frontal da Igreja de S. Francisco
de Assis (Ouro Preto), de Antonio Francisco
Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814).
Restauração e montagem: Prof. Joaquim
Lemos e Souza, prédio da Reitoria;
8 “Sem Título”, Julieta França. Gesso patinado
de bronze – Paris, 1905, prédio da Reitoria;
9 Vasos do séc XVIII, Museu Nacional;
10 “Sem Título”, Julieta França. Gesso patinado
de bronze – Paris, 1905, prédio da Reitoria

Que tal cruzar com uma obra de 6 9


Aleijadinho, ou apreciar esculturas do
início do século XVIII enquanto caminha
para uma aula? Este ensaio mostra um
pedaço pouco conhecido da universidade:
as esculturas espalhadas pelos campi, que
transformam a universidade numa grande
galeria pública, gratuita e a céu aberto

2
academia da arte 3 4 7
10

38 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 1 >< Número 3 39


Revista da ADUFRJ >< Ano 1 >< Número 2 ><
EDUCAÇÃO EM DEBATE >< ARTIGO Como levar a sério um governo que mento público do ensino superior, nível a
agencia financeiramente jovens para fa- que o jovem pode aspirar, mas para onde
zerem propaganda de uma conjuntura vem sendo desestimulado de prosseguir?
que valoriza apenas resultados imedia- O caráter reacionário dessa reforma do
tistas com vistas a cumprirem estatísti- ensino médio fica marcado por espelhar-

Conservadora
cas internacionais? O caráter selvagem -se — 50 anos mais tarde — em medidas
fica evidenciado com sua primeira pre- engendradas por um governo militar au-
ocupação publicitária ao apagar o lema toritário e conservador. Manobras polí-
EDUCAÇÃO PARA TODOS, priorizando ticas que marcam a culminância de um
ações no sentido de acelerar o desenvol- golpe de estado.
vimento de práticas excludentes. Como

e excludente
não perceber nessas ações a retomada de O açodamento no lançamento dessa
uma política neoliberal, cuja finalidade medida provisória comprova o desinte-
exclusiva é a de se eximir do financia- resse cristalino do governo federal com
investimentos financeiros no ensino su-
perior público, e que certamente terão
repercussão direta e contundente na for-
mação de professores de educação bási-
Reforma do Ensino Médio é um retrocesso para a educação brasileira ca. Atrelada a essa finalidade, provoca-se

A
uma lenta e gradual desarticulação das
carreiras do magistério público federal,
por Maria Luiza Mesquita que foram conquistadas por meio de ex-
>< Professora e ex-diretora do Colégio de Aplicação da UFRJ
Lei de Diretrizes e Bases da tenuantes lutas sindicais durante os úl-
Educação Nacional (1996) consolida e timos 35 anos. Um dos adendos no texto
amplia o dever do poder público com a da reforma é permitir que profissionais
educação em geral e, em particular, com de “notório saber” em sua especialidade
o ensino fundamental. Este compromis- atuem como docentes de educação básica
so assumido pelo Brasil, na Conferência no percurso técnico da formação do alu-
Mundial de Educação para Todos (1993), no no ensino médio. Assim, garante-se
reafirma os Planos Decenais da Educação trabalho para os milhares de profissionais
de que suas metas fossem reatualizadas que, por força das gravíssimas decisões
e reformuladas e de que as políticas de do Executivo e do Legislativo, venham
estado, os programas e as ações desen-
volvidos pelos governos fossem revistos
>< eventualmente a engrossar as estatísticas
de desemprego, diante dos muitos anos
Como levar a sério

Ro
e consolidados no sentido da expansão que terão de trabalhar em razão de outra

bs
on
da educação pública. discussão despropositada – a Reforma da

M
uma reforma que não

at
Previdência – que vem sendo travada no

h
ia
s
Em 2015, movido pelo novo Plano De- Congresso Nacional e que complementa
cenal de Educação (2014-2024), o go-
verno federal reuniu especialistas para
interage com os atores o quadro de desmonte do serviço público.

a discussão da Base Nacional Comum


Curricular (BNCC), cuja proposta aponta
de educação e Mesmo camuflada em discursos ofi-
ciais, a meta principal desse governo
mudanças curriculares nos dois níveis de
ensino da educação básica. O documento
desestimula os alunos ilegítimo no âmbito federal, que tem le-
vado adiante uma nova modalidade de
foi lançado em setembro de 2015. Entre-
tanto, no primeiro semestre de 2016, trâ-
à expansão dos negligência e privatização da educação
pública, é acelerar, para a elite econô-
mites foram interrompidos drasticamen-
te com a mudança política na presidência campo da educação. Como levar a sério
estudos? mica, o aumento do lucro advindo do
controle dos meios de produção (para
da República. Em setembro de 2016, foi uma reforma de ensino que não interage o que necessita de muitos técnicos) e da
apresentada ao Congresso Nacional uma com os atores de educação nem os con- exploração de todos os trabalhadores.
Medida Provisória sobre a Reforma do sulta sobre matéria da qual são especia- Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da
Ensino Médio — a MP 746/2016 — que listas? Como aprovar uma reforma que anatomia: Saberes necessários à prática
tramitou meteoricamente pela Câmara não busca incentivar a reflexão sobre os educativa, nos diz: “Nada, o avanço da
de Deputados e pelo Senado Federal (já caminhos já trilhados, evitando repetir ciência e/ou da tecnologia, pode legiti-
PL 34/2016), tendo sido aprovada e san- erros do passado? Como ser coniven- mar uma ‘ordem’ desordeira em que só
cionada em fevereiro 2017, sem sequer te com uma medida que desestimula os as minorias do poder esbanjam e gozam
ter havido uma discussão ampla que ga- alunos à expansão dos estudos, incen- enquanto às minorias em dificuldades
rantisse sua credibilidade. tivando a terminalidade profissional no até para sobreviver se diz que a realida-
nível médio, como se o estudante não de é assim mesmo, que sua fome é uma
A reforma aprovada aponta um retro- precisasse dar continuidade à sua ca- fatalidade do fim do século. Não junto
cesso de finalidade educativa, aos mol- minhada educacional e profissional? De a minha voz à dos que, falando em paz,
des da lei 5692 de 1971, quando o ensino que maneira podemos considerar válida pedem aos oprimidos, aos esfarrapados
de segundo grau (médio) passara a ser uma lei que supõe que ter acesso ao co- do mundo, a sua resignação. Minha voz
profissionalizante. Nessa época, a obri- nhecimento em seus diversos campos tem outra semântica, tem outra música.
gatoriedade do ensino profissionalizante não seja imprescindível na formação Falo da resistência, da indignação, da
enfrentou muitos obstáculos para sua física, intelectual e afetiva do cidadão? ‘justa ira’ dos traídos e dos enganados.
implementação. Efeito não planejado: Como considerar justa uma reforma que Do seu direito e do seu dever de rebelar-
como formar professores que atendes- exige carga horária integral de perma- -se contra as transgressões éticas de que
sem a essa demanda para todo o territó- nência dos alunos quando as escolas não são vítimas cada vez mais sofridas. A ide-
rio nacional? apresentam as mínimas condições para ologia fatalista do discurso e da política
um acolhimento de qualidade (recursos neoliberais... é um momento daquela
Igualmente, agora, não cessam os humanos, espaço físico, assistência es- desvalia... dos interesses humanos em
questionamentos advindos dos atores do tudantil, etc.)? relação aos do mercado”.

40 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 >< 41
EDUCAÇÃO EM DEBATE >< ARTIGO O bom professor não transfere opi- confundido como sendo a própria causa,

as
hi
at
niões e doutrinas, mas desperta a capa- e o mensageiro é feito de bode expiatório

M
on
cidade de examiná-las, compreendê-las da mensagem.

bs
Ro
e superá-las. O bom professor não ensina

Escola
fórmulas, mas percorre o passo a passo de Todavia, e esse é o ponto crucial da
suas deduções e demonstrações. À medi- propaganda e sua efetividade retórica,
da que o proselitismo bloqueia a reflexão ao chamar o professor de “molestador”
autônoma, trata-se de um problema a ser e ao tipificar como “assédio” situações
enfrentado pedagogicamente. em que se dão diferenças corriqueiras
entre convicções morais ou religiosas e

com partido
O proselitismo frequentemente apa- o questionamento inerente ao processo
rece nas escolas, porque é um obstáculo educativo escolar, o discurso do ESP al-
inerente ao processo educativo: é uma cança com mais força a opinião pública
tarefa difícil para todo educador desper- e as famílias dos alunos do que se apenas
tar um verdadeiro interesse e autonomia apresentasse o problema pedagógico do
de pensamento nos seus alunos. É sem- proselitismo. não são acidentais, nem resultam de hi-
pre mais fácil apresentar conteúdos con- pocrisia ordinária: são exercícios cons-
Projeto de lei criminaliza professores ao acusá-los de doutrinadores solidados, fórmulas eficazes e opiniões O Escola Sem Partido se apresenta co- cientes de duplipensar”(Orwell, 1984).
firmes; é mais fácil para os professores, e mo defensor das vítimas supostamente
mais fácil também para os alunos. indefesas que são os alunos, e aliado dos O mais grave no programa do ESP não
por Fernando Santoro seus pais numa cruzada contra o cercea- são os seus instrumentos de censura, as
>< Filósófo e professor do Instituto de O movimento Escola Sem Partido, mento da fé e contra a imoralidade. “mordaças” aplicáveis aos professores.
Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ todavia, não propõe um enfrentamen- Estes são graves, mas são demasiado
to pedagógico ao problema do abuso Essa postura de conflito tende, além explícitos, e facilmente serão refutados

A
do proselitismo político ou religioso, os disso, a escamotear os outros lados do enquanto nossa sociedade não se tornar
ideólogos do ESP não são pedagogos ou proselitismo, que muito mais do que na a extrema distopia totalitária imaginada
pesquisadores da educação, sequer são escola e no discurso dos professores, em 1984.
Lei de Diretrizes e Bases da dades individuais que este PL representa; professores com alguma experiência proliferam nas pregações religiosas dos
Educação Nacional resultou da Consti- e repetir tais informações em detalhe é didática. Os principais promotores do templos, nas locuções radiofônicas e nos O mais grave, a meu ver, é o que corre
tuição de 1988 e restituiu a liberdade de chover no molhado. O que se pretende movimento são advogados. Acreditam demais meios de comunicação de massa. travestido e é capaz de convencer muita
cátedra, sem a qual milhares de professo- apontar na presente reflexão são os argu- que o proselitismo é assédio moral e de- gente de boa fé. É o fato de que o discurso
res foram exonerados e exilados durante mentos e as estratégias retóricas usadas ve ser tratado judicialmente, aplicando A “liberdade de consciência”, con- do ESP aproveita-se de um real proble-
a ditadura militar. pelos que propõem o PL 867. Neste cam- penalidades punitivas aos “criminosos”. ceito que é ressaltado no PL 867, é apre- ma pedagógico — o proselitismo — para
po, as coisas não me parecem tão claras à sentada falaciosamente como direito de condená-lo nos seus opositores políticos
O programa “Escola sem Partido” ata- comunidade docente e à sociedade civil, Em vez de associar a família e os pro- conservar crenças e convicções. Ora, e para exercê-lo escamoteadamente a
ca frontalmente esse pilar da democracia. mas é neste campo, creio eu, que está em fessores no processo educativo, propõem nenhuma crença ou convicção nasce seu favor.
O primeiro passo do PL 867 do Deputado jogo o rumo das decisões políticas que botar a família e os professores em lados unicamente do foro íntimo de cada um,
Izacié foi retirar a palavra “ensinar” das afetam diretamente a educação. opostos de uma disputa de tribunal. Na mas resulta da interação do indivíduo Quantas vezes não vi o programa do
liberdades inscritas na Lei de Diretrizes história do Ocidente, não será a primeira com sua comunidade. ESP sendo enfrentado com palavras de
e Bases da Educação Nacional. Para evidenciar as estratégias retóricas vez em que se levará o professor ao tribu- ordem e discursos assumidamente ide-
do embate, vamos focar sobretudo nas nal e se o condenará à cicuta por “ensinar O que caracteriza a liberdade de cons- ológicos, de quem toma partido e disso se
As demais modificações seguem e mensagens dos promotores do progra- coisas novas e corromper a juventude”. ciência não é o fato de não estar suscetível orgulha. É o tipo de enfrentamento cujo
desenvolvem o princípio, como uma ma Escola Sem Partido. Eles procuram Em momentos de crise, frequentemente aos discursos daqueles que os defendem efeito não podia ser pior: o de reforçar ao
avalanche que segue a rachadura da tipificar os professores que consideram aquele que aponta as causas da crise é ardorosamente, mas o fato de não estar a público geral a ideia de que o proselitismo
montanha. O professor não teria mais a criminosos como “doutrinadores” e ouvir um único discurso e ter de se sub- está mesmo do lado daqueles que são os
liberdade de ensinar. Por entender que “molestadores”. “Doutrinadores” são meter a ele. A liberdade de consciência culpados dos supostos crimes que o pro-
o professor usa a liberdade de cátedra sobretudo aqueles que acrescentam se realiza no exame que a consciência faz grama quer erradicar, os “crimideias” da
para doutrinar, a solução imposta é o conteúdo político e social às suas aulas e da pluralidade. distopia de Orwell. Enquanto o ESP for
cerceamento de várias vias da atividade “molestadores” são aqueles que tratam enfrentado como o adversário de outro
docente, instaurando mecanismos de de questões relativas à diversidade sexual A família deve produzir o seu discurso partido, prevalecerá a retórica de efeito
judicialização da relação entre a sala de e de gênero. educativo segundo suas convicções, as que condena todo “discurso de partido”,
aula e a casa, entre os professores e os assembleias religiosas têm o direito de prevalecerá a retórica de uma escola sem
pais de alunos. Os “doutrinadores” atentam contra as produzir seus discursos e propagar sua fé, partido. A armadilha do tomar partido é

Toda diferença entre os modos e as


“convicções religiosas” com suas ideias
anticlericais iluministas e socialistas. Os
>< e a escola deve ser o lugar democrático e
plural por excelência onde a diversidade
a velha armadilha de deixar o adversário
vestir a carapuça que lhe prepararam.
culturas ensinados na escola e as convic-
ções provenientes da família — base do
“molestadores” atentam contra a “moral
familiar” quando tocam em temas como
Propaganda das opiniões, convicções e teorias ganha
espaço para ser discutida. Quem se educa na escola não vai parar
diálogo pedagógico formador de novas
gerações — é armada com dispositivos
aborto e orientação sexual e desenvol-
vem alguma “ideologia de gênero”. A
intimidatória, O vocabulário do ESP, mais do que cri-
em tribunal. Fossem construídas mais
escolas, dizia Darcy Ribeiro, de menos
judiciais que criminalizam o professor.
Restrições de conteúdo, propaganda
propaganda procura enquadrar como
assédio moral o proselitismo.
delações anônimas, minalizar as dificuldades inerentes do
processo educativo, opera uma inversão
cadeias precisaríamos no futuro. Ideias
não são crimes, não há crimideias, ideias
intimidatória, delações anônimas, ti-
pificações criminais. O PL é um típico O proselitismo é um problema que faz
tipificações criminais. de sentido nas palavras e chega a pres-
crever a supressão de algumas. George
evitam crimes. O proselitismo, a prega-
ção de valores, a doutrinação são ruins
instrumento de perseguição como os
que instauram a máquina do medo e o
parte das preocupações próprias da for-
mação didática e pedagógica dos pro-
O projeto é um típico Orwell, autor que é frequentemente cita-
do pelos ideólogos do ESP e que inspira o
quando conformam a uniformidade das
opiniões e a indolência do pensamento.
policiamento dos discursos nos regimes
totalitários, sejam eles de direita ou de
fessores. Aprender a ensinar envolve,
nas licenciaturas, desenvolver formas
instrumento de próprio conceito de “Partido” é também
o autor que melhor esclarece a linguagem
Mas não se enfrenta nenhuma doutrina
com a proibição de sua pregação. A liber-
esquerda. e processos de organizar a experiência
de aprendizagem de modo a deixar que
perseguição de propaganda do ESP. Um discurso em
“novilíngua” onde os nomes são mani-
dade de consciência se preserva e desa-
brocha com mais e não menos discussão
A comunidade docente, creio eu, já os estudantes despertem as suas capa- pulados pelo “duplipensar” até virem a em sala de aula, com mais e não menos
está devidamente informada do desastre cidades e habilidades com autonomia e significar justamente o oposto de seus pontos de vista e reflexão, com mais e
pedagógico e do afrontamento às liber- liberdade. sentidos originais.“Essas contradições não menos liberdade discente e docente.

42 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 2 >< 43
PESQUISA
História: como

Divulgação Coppe-UFRJ
O Maglev quer ser muito mais do que um trem de levitação magnética. tudo começou
Nascido da próspera parceria entre ciência, tecnologia e inovação, ele pretende enfrentar Em 1998, Richard estabeleceu uma
parceria com o professor Roberto Ni-
os desafios da mobilidade urbana, com economia, sustentabilidade e silêncio colsky, do Instituto de Física. “O Ro-

O futuro
berto soube que eu estava trabalhando
com mancal magnético. Que é essa
mesma coisa (da levitação magnética),
só que, em vez de ser para translação,
era pra rotação. Rotor girando em torno
de uma parte estacionada sem con-
tato”. O colega, que trabalhava com
supercondutores, vislumbrou utilizar a
pesquisa de Stephan para o transporte.
E assim surgiu o Laboratório de Aplica-
ção de Supercondutores.

é logo ali
De início, foi feito um trabalho em es-
cala reduzida. Um brinquedinho. Com
apoio da Faperj, o laboratório conseguiu
criar um veículo em escala real. Dentro
do laboratório. Em outubro de 2014,
com a ajuda do BNDES e várias empre-
sas, surgiu a linha de demonstração
hoje existente. E, somente após muitos
por Kelvin Melo Nos trilhos: Richard Stephan apresenta para Helena Nader, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, e Luiz Davidovich, testes, em fevereiro de 2016, iniciou-se
>< Da reportagem da Adufrj da Academia Brasileira de Ciência, o funcionamento do Maglev. Luiz Pinguelli e Esdon Watanabe, da Coppe, acompanham a visita a abertura da linha ao público.

D á para viajar ao futuro no


campus do Fundão. E a pas-
sagem é de graça. Atrás do Centro de
Tecnologia, toda terça-feira, o trem de
volta. Mas suficientes para impressionar
professores, alunos, funcionários e visi-
tantes externos. Que não cansam de tirar
selfies no local.
acima do solo, onde ficam os trilhos for-
mados por ímãs, há, na parte de baixo
do veículo, um conjunto de caixas com
materiais supercondutores. Na interação
A maravilha tecnológica custa caro. Es-
tima-se que sejam necessários R$ 60 mi-
lhões para fazer um quilômetro de linha.
Mas o professor se apressa em dizer que, na
O passeio ocorre de 11h às 12h30 e de
13h30 às 15h. Dentro do trem, o único ba-
rulho que se ouve é do ar-condicionado.
Que utiliza doze vezes mais energia que o
possui as matérias-primas para produ-
zir os trens de levitação magnética. “Mas
não existe o parque industrial implantado
(para fazer os ímãs e os superconduto-
levitação magnética Maglev Cobra rea- com os ímãs, eles criam uma força estável comparação com outros modais em ativi- próprio veículo em movimento. A máqui- res)”, argumenta. Os custos poderiam
liza um passeio de 200 metros aberto ao À frente do projeto, está o professor de levitação. Como não há atrito com o dade no Rio, a cifra não é tão assustadora: na pode alcançar a velocidade de 70 km/h, cair, uma vez que o Brasil é autossuficien-
público. Econômico, leve, silencioso e Richard Magdalena Stephan, do Labo- chão, um motor linear na parte central “A Linha 4 do metrô custou R$ 600 milhões mas não passa dos 10 km/h, por motivo te nos metais que compõem os super-
não poluente, o veículo já virou ponto ratório de Aplicação de Supercondutores inferior converte a energia elétrica e pro- por quilômetro”, afirma Richard. Em re- de segurança, em um percurso tão curto. condutores (ítrio, bário e cobre) e os ímãs
turístico da UFRJ. da Coppe. Ele faz questão de acompanhar move a força de tração. lação ao Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), (neodímio, ferro e boro).
muitas das viagens e explicar os princí- a despesa é semelhante. Só que o Maglev Outros países do mundo já utilizam
Desde fevereiro do ano passado, quan- pios de funcionamento da máquina. “Vo- Maglev é a sigla internacional para Cobra leva vantagem em outros quesitos. a tecnologia da levitação magnética em Antes de ver o Maglev circulando pelas
do o trajeto começou a ser oferecido, mais cê já brincou com ímã. E colocou um ímã Magnetic Levitation (levitação magnética, escala comercial: Japão, Coreia do Sul cidades brasileiras, o sonho imediato do
Projeto de seis mil pessoas já fizeram as viagens contra outro, de mesma polaridade. O em inglês). A palavra “cobra” foi adicio- A primeira é na implantação dos traje- e China. Na China, convivem os siste- professor é andar de uma ponta à outra da
ousado: trem de demonstração, em uma passarela ele- que acontece? Um repele o outro. Só que nada para transmitir a mensagem de um tos. Como o trem de levitação magnética mas de alta velocidade (até 450 km/h, Cidade Universitária no veículo. Durante
de levitação vada entre os prédios do CT e do CT-2. São esta força criada é instável”, inicia. Para veículo capaz de se deslocar com agilidade circularia em vias elevadas, as linhas se- para ligar cidades) e o urbano (até 100 a discussão do Plano Diretor da UFRJ,
foi produ- apenas três minutos, contando a ida e a manter o trem levitando um centímetro e flexibilidade como uma serpente. riam construídas em menor tempo e com km/h). No Brasil, o professor da Coppe na gestão de Aloísio Teixeira, o trem de
zido pelo menos impacto ambiental. Em segundo considera que a novidade seria melhor levitação magnética conseguiu um lugar
Laboratório lugar, com o veículo circulando no alto, aplicada em território urbano. “Se você na página 101 do documento aprovado.
de Supercon- não haveria interferência no trânsito e constrói 100 quilômetros de linha, vo- Por enquanto, mesmo que o projeto do
dutores na circulação de pessoas no solo, como cê não consegue nem ligar o Rio a São trem estivesse inteiramente concluído,
da Coppe acontece com o VLT no Rio. Em terceiro Paulo. Mas construir 100 quilômetros não há recursos.
lugar, a manutenção seria mais simples e dentro da cidade é bastante significativo.
barata, pois não existem desgastes mecâ- Muda a mobilidade. E nos parece a ne- Para construir a linha do Fundão, é ne-
nicos ou necessidade de lubrificação. Os cessidade maior. Hoje, você sofre todo cessário fazer um estudo de viabilidade
tempos de aceleração e frenagem também dia do trabalho para casa e de casa para técnica, econômica e ambiental (EVTEA).
seriam menores: “Eu já andei de VLT no o trabalho”, observa Richard. Os resultados do EVTEA vão determinar
Rio de Janeiro quando criança. Na época, o tamanho das estações, número de mó-
chamava-se bonde. A principal diferença O próximo passo do projeto é trans- dulos e frequência de viagens. Mas não
é que tinha escadinha para embarcar e formar o Maglev em veículo autônomo. estão disponíveis sequer os R$ 300 mil
não se falava em ar-condicionado”, iro- “Hoje, nós temos um condutor do ve- para tocar este levantamento preliminar.
niza Richard. ículo, que chamamos carinhosamen-
te de ‘supercondutor’. Vamos demiti- “No Plano Diretor, vejo uma proposta
Engenheiro do Laboratório de Ondas -lo”, brinca o professor. Para completar de construir uma cidade do futuro. Aque-
e Correntes da Coppe, Ivan Falcão reser- a transformação, a esperança era que o la ideia de transformar o Fundão numa
vou alguns minutos para andar no trem. Maglev fosse aprovado no edital BNDES ilha idílica está lá”, completa Richard.
“É muito interessante. Poderia estar em Fundo Tecnológico (Funtec). Foram so-
alguns pontos da cidade”, disse. Já o em- licitados R$ 9 milhões. Mas o pedido foi
presário Alex Tadeu Oliveira levou o filho negado em abril. Passeios no Maglev
João Vitor para passear no Maglev Cobra: Todas as terças-feiras: de 11h às 12h30; e de 13h30h
“É um veículo viável e necessário para a Richard fica indignado, pois o Brasil às 15h. No segundo semestre, a expectativa de func-
cidade do Rio”. agora tem o conhecimento e também ionamento é de 11h às 15h.

44 >< Revista da ADUFRJ >< Ano 1 >< Número 3 Revista da ADUFRJ >< Ano 2 >< Número 2 >< 45
Pacientes
Assistência Hospital
Universidade
Investimento
nossos Extensão

Arte: Robson Mathias


Nelson
Souza
e Silva,
Medicina Treinamento

Estudantes Universidad
professor

SUSInvestimento
Técnicos
Emérito da

colaboradores
Faculdade de

Investimento
Medicina.

Médico Pesqui
Diretor do Instituto
do Coração
Edson Saad.

Alexandre Fernando Renata


Pinto Cardoso, Santoro, Maneschy
professor Associado
da Faculdade de
Medicina e diretor-
professor Asso-
ciado do Instituto de
Filosofia. Possui 80
é jornalista e designer,
Trabalhou na Folha
de S.Paulo, O Dia
Saúde Professores
Ebserh
Universidade Leitos
Enfermeiro
adjunto do Instituto publicações, entre e O Globo. Ganhou
de Doenças do periódicos, capítulos cinco prêmios Esso

Investimento
Tórax. Ex-diretor de livros e livros. Pós- e tem mais de 40

Financiamento
do Clementino doutor pela Universi- prêmios da Society for
Fraga Filho. dade de Paris IV. News Design - SND.

Ana Beatriz Fernando Roberto


Morte Hospital
Magno, Souza, fotojor- Medronho,
jornalista, doutora nalista, vencedor professor Titular
pela UnB, do Prêmio de e diretor da

Vida
vencedora dos Excelência da Faculdade de
prêmios Esso, SND – Society for Medicina.

Pesquisa Ensino
Herzog, Libero News Design pelo Especialista
Badaró, Embratel, trabalho “Rio de em Saúde Coletiva

Enfermeiro
García Márquez Janeiro em com ênfase em

Professores Teoria
e Unicef. Dois Tempos”. Epidemiologia.

Enfermeiro
Técnicos Universidade
Assistência
Medicina
André Kelvin Robson
Hippert, Melo, Mathias é

Extensão
designer e jornalista designer gráfico.
ilustrador, vencedor formado pela Trabalhou no Diário

Extensão
de cinco prêmios Escola de de S. Paulo, Extra e

Médico

Enfermeiro
Esso. Fez projetos Comunicação da Folha de S. Paulo.

Vida
gráficos para os UFRJ, trabalhou Foi finalista do

Pacientes
jornais O DIA, no Jornal do Brasil Prêmio Esso e tem
Meia Hora e Brasil
Econômico.
e atua na Adufrj
desde 1999.
sete prêmios de
excelência da SND.
Teoria Universidade
Deborah
Trigueiro,
Lígia Bahia,

Técnicos
Silvana Sá,
jornalista formada
Pacient
Leitos
professora Associa-
graduada em da da Faculdade de pela Pontifícia

Hospital
Pacientes
Comunicação Medicina. Doutora Universidade
Social e especialista em Saúde Pública, Católica do Rio,

Ebserh
em tradução é especialista em é subeditora

Extensão Técnicos
Inglês-Português saúde coletiva, na Redação
pela Pontifícia com ênfase em da Adufrj,
Universidade Políticas de Saúde e onde atua há
Católica do Rio. Planejamento. seis anos.

Denise Pires Márcio Treinamento


Tatiana

Hospital
de Carvalho, Amaral, Roque,

Professor

Enfe
professora Titular professor professora Asso-

Ensino
do Instituto de Associado da ciada do Instituto

Vida
Biofísica Carlos Faculdade de Matemática da
Chagas Filho de Medicina e UFRJ, doutora em

Teoria
e presidente da vice-diretor do História e Filosofia

Residentes
Latin American Instituto de das Ciências, vence-

Vida
Thyroid Society Psiquiatria dora do Prêmio
(LATS). da UFRJ Jabuti 2013.

Teoria Médico Extensão


Pacientes
Ensino
Elisa Maria Luiza Valentina

Investimento
Professores Leitos
Monteiro, Mesquita, Leite,

Enfermeiro
jornalista e histo- professora da estudante de
riadora, trabalhou Educação Básica, Comunicação Social

Extensão
na Revista Versus atua no Colégio de do 7° período
do Centro de Aplicação desde da Escola de
Ciências Jurídicas 1980. Mestre em Comunicação
e Econômicas. É Linguística, da UFRJ.
repórter na Reda- especialista em for- Estagiária da
ção da Adufrj. mação continuada. Adufrj.

46 ComplexoHospitalar
HIPPERTT

www.adufrj.org.br
UM JEITO DIFERENTE DE FAZER SINDICALISMO

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