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Revista Portuguesa de Psicossomática

ISSN: 0874-4696
revista@sppsicossomatica.org
Sociedade Portuguesa de Psicossomática
Portugal

Rocha, Miguel G.; Coelho, Rui


Placebo - Compreender a cura pelo nada
Revista Portuguesa de Psicossomática, vol. 5, núm. 2, julho-dezembro, 2003, pp. 141-154
Sociedade Portuguesa de Psicossomática
Porto, Portugal

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=28750214

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PLACEBO – COMPREENDER A CURA PELO NADA 141

PLACEBO – COMPREENDER A CURA


PELO NADA
Miguel G. Rocha* e Rui Coelho**

Resumo Fora do contexto dos ensaios clínicos mo-


Desde longa data que o placebo se rodeou de dernos, "placebo" tem sido um termo reservado
grande polémica. A sua definição, nem sempre con- para caracterizar as práticas "substandard" de ou-
sensual; os seus efeitos, difíceis de comprovar e ob- tras áreas menos credíveis ou com menores ba-
jectivar; e os seus mecanismos de acção até agora ses científicas da Medicina, se não mesmo como
praticamente desconhecidos justificam bem a dis- logros ou fraudes. Poucos são os médicos que
cussão gerada em seu torno. Actualmente, novos es- admitem usar placebos na sua prática clínica,
tudos e métodos imagiológicos vieram acender uma com conhecimento desse facto. Na realidade, al-
luz sobre os mecanismos por detrás do placebo. gumas terapêuticas desapropriadas ou em dosa-
Este artigo tem como objectivo rever os conhe- gem inferior à eficaz podem estar a agir unica-
cimentos sobre este tema dando um enfoque espe- mente como placebo.
cial às novas descobertas nesta área. Outro factor interessante a referir tem a ver
Palavras-chave: Placebo; Efeito placebo; com a pressão gerada pela expectativa de que o
Mecanismos do placebo. médico tenha "algo" para prescrever ao doente,
sendo o exemplo muito comum a utilização de vi-
taminas nas mais diversas situações a evidência da
INTRODUÇÃO presença de placebos na medicina contemporânea.
Nas últimas décadas, a reputação do placebo
É grande a polémica gerada em torno do Pla- como logro, sofreu uma reconstrução conside-
cebo, do seu efeito e dos eventuais mecanismos rável. Para os adeptos das medicinas alternati-
de acção. Etimologicamente placebo, é a conju- vas, ele representa a justificação da auto-cura
gação do verbo latino placere (agradar) no futuro gerada pela relação mente-corpo.
e na 1ª pessoa = (eu) agradarei. Este termo apa- Na vertente clássica da Medicina começa-se
rece primeiramente na Bíblia sendo utilizado no agora a incentivar o uso mais eficaz do efeito de
sentido de agradar a Deus. Posteriormente foi cura inerente ao placebo, tentando uma abor-
tomando um sentido mais pejorativo, exprimin- dagem mais empática e atenciosa na relação
do complacência e bajulação. Só no fim do sécu- médico-doente. No entanto, na investigação
lo XVIII, início do século XIX o termo placebo, já médica ainda há a tendência para ver o efeito
não como verbo mas antes como substantivo, placebo como um incómodo ou ruído de fundo
foi integrado no vocabulário médico com o sig- que só perturba os ensaios clínicos experimen-
nificado com o qual é actualmente conotado de tais e que, portanto, deve ser eliminado a todo o
medicamento prescrito mais para agradar do que custo. Só recentemente se tem começado a in-
para beneficiar o doente. vestigar seriamente o efeito placebo em si e o
seu papel, em vez de o usar como balança de
teste em ensaios clínicos a novas terapêuticas.
Sendo este efeito um dos fenómenos mais
* Médico do Internato Geral do Hospital Geral
comuns observados na Medicina (os exemplos
de Santo António.
abundam), é também um dos mais misteriosos
** Chefe de Serviço de Psiquiatria no Hospital pelo quanto de desconhecido nele reside, reves-
de São João. Professor associado de Psiquia-
tria e Saúde Mental na Faculdade de Medici-
tindo-se de grande importância uma análise
na do Porto. mais detalhada do fenómeno.

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O efeito placebo é considerável. Num estu- de conta determinados aspectos gerais; isto é,
do realizado na Universidade de Harvard1, tes- quando uma terapêutica é implementada a um
tou-se a sua eficácia numa ampla gama de per- paciente, esta pode ter vários efeitos. Alguns de-
turbações, incluindo dor, hipertensão arterial e les dependem directamente da terapêutica, por
asma. O resultado foi impressionante: cerca de ex., da acção farmacológica do medicamento.
30 a 40% dos pacientes obtiveram alívio com o Outros, porém, não estão vinculados directa-
uso do placebo! mente à terapêutica (à farmacologia do medica-
Este efeito não se limita a medicamentos, mento), mas também podem aparecer quando
podendo aparecer em qualquer procedimento se administra uma terapêutica inerte como por
médico. Numa pesquisa sobre o valor da cirur- ex., uma substância farmacologicamente inacti-
gia de bypass da artéria mamária interna – artéri- va. É o que denominamos por "efeito placebo".
as coronárias no tratamento da angina de peito, De um modo geral os efeitos de uma terapêutica
foi usado o placebo que consistia em anestesiar podem ser subdivididos em dois tipos, os especí-
o paciente e fazer uma incisão na pele – cirurgia ficos e os não específicos, encontrando-se o efei-
placebo. Os resultados foram surpreendentes: to placebo dentro dos efeitos não específicos. No
dos pacientes operados ficticiamente 80% me- Quadro 1 são apresentados alguns exemplos de
lhoraram, enquanto que os que foram operados efeitos de ambos os grupos.
de verdade apenas 40% revelaram melhoria2. Para fazermos a análise de uma terapêutica
Por outras palavras: o placebo funcionou me- (neste caso medicamentosa) existem pontos
lhor que a cirurgia! fulcrais que devemos respeitar, nomeadamente
os referidos no Quadro 2.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE Finalmente, antes de podermos estimar o
TERAPÊUTICA EM GERAL poder do efeito placebo, outra questão se levan-
ta, e prende-se com os possíveis factores de con-
Na análise do placebo devemos ter em linha fusão que frequentemente se encontram e os

QUADRO 1 – EFEITOS TERAPÊUTICOS ESPECÍFICOS E NÃO ESPECÍFICOS – ALGUNS EXEMPLOS

Efeitos terapêuticos
Específicos Não específicos

• Dose • História natural da doença


• Via de administração • Remissão espontânea
• Estado pré-tratamento do organismo • Regressão à média
• Tempo • Meio
• Farmacologia e farmacocinética • Variabilidade inter-individual e intra-individual
• Interacções • Placebo
•… • Expectativas de mudança
• Crença no tratamento
• Suporte social
• Relação médico-doente
• Características não farmacológicas do medicamento (cor, tamanho,
textura, sabor, cápsula/comprimido, via de administração*,…)
•…

*Via de administração – no sentido do seguinte exemplo: um dado placebo é menos eficaz por via oral do que por via injectável
(e ambos menos eficazes que uma cirurgia placebo).

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QUADRO 2 – COMPONENTES A CONSIDERAR NA Podemos definir placebo como qualquer tra-


ANÁLISE DE UMA TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA tamento desprovido de acção terapêutica espe-
Componentes para a análise da terapêutica cífica sobre a doença ou os sintomas do doente,
mas que de alguma forma provoca efeito sobre
• Farmacogenética
este, desde que o doente esteja convencido da
• Farmacocinética
sua eficácia. Etimologicamente, como já referi-
• Farmacodinâmica
do, este termo vem do Latim placeo, placere (que
• Efeito inespecífico devido ao medicamento
significa agradar). Com algumas variações este é
• Efeito inespecífico devido ao acto médico
o conceito aceite na comunidade científica.
• Efeito Hawthorne – melhoria que deriva do simples
Por seu lado o termo nocebo refere-se a qual-
facto de um indivíduo ser submetido a observação
quer tratamento inócuo administrado com su-
clínica
postos fins terapêuticos que provoca efeitos in-
• Efeito de regressão à média – a variação sinto-
desejados; do latim nocere que significa infligir
matológica e analítica de uma doença estabilizada
dano. Ou visto de outra forma o efeito nocebo se-
tende a regressar para valores médios
ria o efeito indesejável determinado pela utiliza-
Adaptado de MacDougal, 2001. ção de um placebo.
Faz também sentido definirmos resposta ao
placebo (‘placebo response’) e efeito placebo (‘pla-
QUADRO 3 – FACTORES DE CONFUSÃO PARA A cebo effect’) de uma forma similar à distinção en-
ESTIMAÇÃO DO PODER DO PLACEBO tre resposta ao fármaco (‘drug response’) e efeito
Factores de confusão independentes do placebo do fármaco (‘drug effect’)3.
A resposta ao fármaco é a alteração que ocorre
• Melhoria espontânea após a sua administração, enquanto que o efeito
• Flutuação dos sintomas (particularmente regressão à do fármaco é a porção dessa resposta que é devi-
média) da à sua composição química4.
• Efeitos benéficos do tratamento adicional/ou da aten- Do mesmo modo a resposta ao placebo é a al-
ção médica aumentada durante o estudo teração que decorre da administração do pla-
• Viés de escala na medição de "outcomes" (resulta- cebo4. Contudo, esta alteração poderia ocorrer
dos, desfechos) subjectivos (ex. escala para benefíci- na ausência da sua administração, podendo ser
os maior que para deterioração da situação) devida a outros factores inespecíficos (Quadro
• Respostas de delicadeza ou subordinação experimen- I). Sendo então, o efeito placebo a diferença entre
tal (o participante sabendo a resposta desejada pode a resposta ao placebo e as mudanças que ocor-
reportar benefícios quando estes não ocorreram) rem na ausência da sua administração4.
Adaptado de Hart,1999 As dicotomias de conceitos placebo activo
versus inactivo/inerte e impuro versus puro são
praticamente sobreponíveis nos seus significa-
dos. Desta forma podemos dizer que placebo acti-
quais temos de despistar para a nossa avaliação vo/impuro será um tratamento activo, mas sem
poder ser correcta (Quadro 3). actividade específica para a situação clínica a ser
tratada; enquanto que placebo inactivo/inerte/puro
será um tratamento inerte, desprovido de qual-
NOÇÕES BÁSICAS quer tipo de actividade (específica ou inespecífi-
ca para a situação clínica a ser tratada). Como
São vários os conceitos envolvidos neste exemplo de placebos puros temos: comprimidos
tema e a justificação prende-se, essencialmente, de lactose/amido, injecção de soro fisiológico, ci-
com a existência de várias Escolas que têm in- rurgia fictícia (faz-se a incisão da pele e sutura,
vestigado o efeito placebo. Desta forma torna-se com o doente anestesiado e sem conhecimento
importante procedermos a uma breve sistemati- da realidade cirúrgica).
zação de conceitos.

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COMO CONCEBER O PLACEBO À LUZ No homem aconteceria algo semelhante.


DOS CONHECIMENTOS ACTUAIS Existem diversas experiências que sugerem que
o homem tenha a suas funções tão condicioná-
A interpretação e explicação do "efeito pla- veis quanto as dos animais.
cebo" constitui um tema em que não se atingiu Por exemplo: doentes com dor intensa, pro-
um consenso. Existem essencialmente três mo- vocada por uma aracnoidite, que receberam in-
delos básicos propostos para explicar o efeito pla- jecções endovenosas de novocaína, tinham alí-
cebo: vio da dor e dormiam. Nesses mesmos doentes,
• Modelo opióide; depois de algum tempo, trocou-se a injecção de
• Modelo do condicionamento; novocaína por soro fisiológico, e os doentes con-
• Modelo das expectativas. tinuavam a verificar alívio da dor e melhoria do
sono7.
Modelo opióide A acrescentar que no homem existe um se-
Segundo os autores que defendem este mo- gundo sistema de sinais da realidade, a linguagem,
delo, o efeito placebo seria explicado pela liber- que aumenta as possibilidades de condiciona-
tação de endorfinas a nível central, como res- mento. Desta forma, o homem pode ser condi-
posta ao estímulo placebo. cionado não só por estímulos primários (físicos)
A corroborar esta versão estão as experiên- mas também por estímulos secundários, como
cias de Fields et al.5 que verificaram que a anal- conceitos abstractos. Dois estudos realizados an-
gesia induzida pelo placebo podia ser revertida teriormente (vide infra), com estudantes de me-
pela naloxona (um antagonista opiáceo). dicina8 e mulheres britânicas9 sugerem bem este
Mais recentemente, um grupo de investiga- modelo, assim como o conceito de Resposta signi-
dores do Instituto Karolinska, de pesquisa da ficativa10. Existem ainda muitos outros estudos,
neurofisiologia cognitiva (Departamento de vejamos os seguintes:
Neurociência Clínica) liderado
RESPOSTA NÃO CONDICIONAMENTO RESPOSTA
por Martin Ingvar publicou na CONDICIONADA CONDICIONADA
Science um artigo intitulado
Estímulo sonoro
"Analgesia Placebo e opióide –
imagiologia de uma rede neu- Adrenalina Acetilcolina Adrenalina

ronal compartilhada". Os auto-


res, utilizando Tomografia por
Emissão de Positrões (PET
Scan), verificaram um aumen-
to de actividade no córtex
cingular anterior rostral em
ambos os tipos de analgesia –
placebo e opióide6. REGISTO DA PRESSÃO ARTERIAL

Figura 1 – Condicionamento da resposta fisiológica (adaptado de Amaral


Modelo do condiciona-
e Sabbatini, 1999).
mento
Após fazer soar um estímulo sonoro, aplicou-se uma injecção de acetilcolina ao
De acordo com esta teoria, cão. Em resposta à acetilcolina o cão apresentou hipotensão arterial.
os benefícios de tomar medica- Depois de experiências sucessivas combinando o som com a injecção, substitui-se
ção ou interagir com os médi- a acetilcolina por adrenalina e o cão continuou a ter hipotensão arterial (embora
devesse ter hipertensão arterial como resposta à adrenalina).
cos, serviriam de estímulo con- O sucedido foi que o condicionamento mudou completamente a resposta ao
dicionado de acordo com a teo- segundo agente. A acção farmacológica da adrenalina foi anulada. Seria de se
ria de Pavlov. esperar que o cão, ao recebê-la, tivesse aumento da pressão arterial; mas como a
injecção estava temporalmente associada ao estímulo sonoro, que para ele era
Esta teoria encontra apoio um estímulo hipotensor, a sua pressão arterial desceu na mesma. O organismo do
em experiências com animais cão ignorou o efeito farmacológico da adrenalina e obedeceu ao sinal de hipoten-
como a seguinte (Figura 1): são arterial, registado no seu sistema nervoso central.

Acetilcolina
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• Se aplicarmos choques eléctricos na mão PSICONEUROIMUNOENDOCRINOLOGIA


de um indivíduo sempre que este ouvir a (PNIE)
palavra campainha, após algum tempo ao
ouvir a palavra (em qualquer língua que O contexto do aparecimento da PNIE
compreenda) ou visioná-la (real, fotogra- Desde os tempos de Hipócrates (século V
fia ou desenho) terá uma reacção de re- a.C.) e ainda antes, aqueles que se dedicavam ao
cuo da mão7. tratamento das doenças dos seus congéneres, sa-
• Um indivíduo com fobia a crocodilos pode biam da íntima relação entre as afecções do es-
reagir negativamente não só aos crocodi- pírito e as do corpo.
los, mas também a outras situações em Foi a partir da separação estabelecida pelo filó-
que o conceito esteja associado (desenhos, sofo, físico e geómetra francês René Descartes
símbolos ou evocação do nome)7. (1596-1650), entre o corpo e alma no século XVII,
Chegamos, então, a uma explicação fisioló- que teve raízes, no campo das ciências, o conceito
gica bastante convincente sobre o efeito place- de um homem com o corpo e a psique (alma) divi-
bo: trata-se de um efeito biológico provocado no didos, de que nós, pertencentes às ciências psico--
doente pelo condicionamento "pavloviano" ao bio-socio-médicas Ocidentais, somos herdeiros e
nível de estímulos abstractos e simbólicos. seguidores.
Sendo assim, o que conta é a realidade pre- Tal evento gerou uma vantagem e uma des-
sente no cérebro, não a realidade farmacológica. A vantagem.
expectativa do sistema nervoso em relação aos A vantagem era que, de algum modo, a Igre-
efeitos de um fármaco pode anular, reverter ou ja tomaria a seu cuidado somente as questões do
ampliar as suas reacções. Pode também fazer espírito, permitindo aos homens da ciência
com que substâncias inertes provoquem efeitos avançar nos segredos do corpo.
que não dependem delas directamente. A desvantagem foi que a ciência oficial Oci-
À luz desta teoria poder-se-ía definir o efeito dental, continuada nessa linha, trabalha sob a
placebo como o resultado terapeuticamente po- concepção de homem máquina, ideia criada em
sitivo (ou negativo – nocebo) de experiências meados do século XVIII pelo médico e filósofo
prévias implantadas no sistema nervoso dos pa- materialista francês Julian Mettrie (1709-1751),
cientes por condicionamento decorrente, por como que se o homem fosse uma obra complexa
exemplo do uso anterior de medicação, de con- de engenharia mecânica, a qual para recuperar a
tactos com médicos, informações obtidas por lei- saúde física e/ou psíquica perdida bastasse arran-
turas, ou comentários de outras pessoas. jar ou substituir as peças disfuncionais.
Talvez por esta mesma razão, a psiquiatria,
Modelo das expectativas nascida no seio da Medicina e ao tornar-se pro-
Segundo este modelo, as expectativas gera- gressivamente independente da neurologia, foi
das à volta da terapêutica teriam um papel cru- sempre vista como uma disciplina menor, cujos
cial na resposta à mesma. Desta maneira, o efei- postulados raramente poderiam ser demonstra-
to placebo seria o resultado de expectativas po- dos cientificamente no sentido das ciências exac-
sitivas e o efeito nocebo, o resultado de expecta- tas, ou serem reproduzidos em condições expe-
tivas negativas. Diversos estudos demonstraram rimentais no laboratório.
este poder. Por exemplo: água açucarada foi uti- Mas duas circunstâncias vieram mudar o
lizada tendo sido referida previamente como rumo dos acontecimentos. Por um lado, a des-
constituindo um forte emetizante e 80% das do- coberta em meados do século passado dos neu-
entes responderam vomitando11. rolépticos (p. ex., a cloropromazina), pôs a psi-
Atentando os fundamentos base de cada mo- quiatria noutra posição, podendo agora influen-
delo uma questão depara-se-nos imediatamente: ciar o funcionamento do corpo, nos termos que
Serão estes mecanismos independentes? a Medicina exigia. Por outro, os novos desen-
volvimentos do psicologia experimental, produ-
zidos maioritariamente em animais do laborató-

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rio, e algumas experiências psicossociológicas formação e estabilização da junção neuro-


com seres humanos, em particular durante e muscular (JNM). A isoforma Z+ (produto
após a II Guerra Mundial, provaram que os com- do gene Z+) induz o agrupamento dos re-
portamentos, e seus mecanismos subjacentes, ceptores de acetilcolina e outras proteínas
poderiam ser quantificados e investigados pas- pós-sinápticas na membrana da célula
sando então a psicologia a ser considerada uma muscular da JNM.
Disciplina científica. • A agrina está também presente nas sinap-
Os avanços nas últimas décadas na biologia ses neuronais no SNC, embora aqui o seu
molecular, e na imunologia (impelidas pela busca papel ainda não esteja completamente es-
de uma solução ao flagelo do Síndroma da clarecido.
Imunodefeciência Adquirida, complementadas • As células T apenas expressam a isoforma
pelas técnicas de imagem das neurociências e a Z- da agrina. Quando os linfócitos T estão
psicologia experimental) vieram criar as condi- em repouso, a agrina está altamente glico-
ções necessárias à investigação e ao desenvolvi- silada (agrrest), sendo que, quando os lin-
mento da PNIE, como uma Disciplina que tenta- fócitos T estão activos, a agrina se encon-
va abordar o indivíduo humano como uma inte- tra pouco glicosilada (agract). Enquanto
gridade funcional e bio-psico-social (MacDougal, que a forma agrrest está difusamente distri-
2001). buída pela superfície das células T em re-
pouso, a sua forma agract co-localiza-se
Algumas experiências nesta área com os TCRs agrupados. Concentrações
G. Solomom, em 1964, publicou alguns tra- picomolares de agract induziram o agrupa-
balhos relacionando as emoções, a imunidade e mento de TCRs, moléculas coestimulantes
a doença dando origem ao que se designaria CD28 e massas ("rafts") lipidícas. Alguns
mais tarde por Psicoimunologia. autores apontam estas massas lipídicas
Em 1974, Ader12 e colegas demonstraram que como peças chave na sinalização das célu-
o sistema imunológico tinha capacidade de aprendiza- las T.
gem tal como o SNC. Na tentativa de condiciona- Desta forma, Khan et al.14 especulam que a
rem ratos de laboratório a evitar determinado sa- agrina, para além do seu papel nas JNM, seja ne-
bor da água (água com sacarina), esta era minis- cessária para a reorganização das membranas
trada simultaneamente com uma injecção de neuronais e das células T (em que a formação das
ciclofosfamida (um potente inibidor do sistema sinapses tipo I seria conduzida por um mecanis-
imune) para induzir náusea. Enquanto o método mo de agregação de massas lipídicas dependente
de evicção condicionada à sacarina foi bem suce- da agrina), o que contribuiria para o estabeleci-
dido, o efeito imunodepressor da ciclofosfamida mento da memória neuronal e imunológica, res-
também se tornou uma resposta condicionada. pectivamente.
Deste modo os ratos quando recebiam água com Nerem15, em 1979, detectou, acidentalmen-
sacarina tinham uma diminuição das suas células te, que o afecto poderia alterar a resposta imuni-
T, contraíam doenças infecciosas e morriam ines- tária. Realizou uma experiência na qual era ad-
peradamente. ministrada uma dieta rica em colesterol a coe-
Recentemente num artigo intitulado lhos, durante cinco semanas, com o objectivo de
"Agrina – uma ponte entre os sistemas nervoso determinar os efeitos deletérios da mesma. Um
e imune", os autores propõem que esta molécu- dos tratadores engraçou com um coelho e brin-
la funcione no agrupamento (‘clustering’) dos cava, falava e acariciava-o enquanto o alimen-
TCR (receptor antigene específico das células T) tava (durante aproximadamente meia hora, 5
e como co-estimulador acessório nas sinapses vezes por dia). Quando se autopsiaram os coe-
tipo I entre linfócitos T e células apresentadoras lhos para avaliarem os efeitos do colesterol nas
de antigénio13. Esta ideia surgiu dos dados se- artérias, verificaram que "o coelho mimado" ti-
guintes: nha menos 60% de efeitos deletérios do que os
• É conhecida a importância da agrina na restantes. Repetiram a experiência com um gru-

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po de "coelhos mimados" e um grupo de contro- trolo (pb inerte) e uma substância activa mas
lo (sem os "mimos") e obtiveram o mesmo resul- não específica para a situação a tratar, observou-
tado. -se um efeito benéfico superior decorrente do
Trabalhos como os de H.Selye16 sobre os efei- uso da substância activa (pb activo).
tos do stress na variação hormonal vieram con- Alguns estudos sobre a eficácia dos anti-de-
tribuir para a componente endocrionológica da pressores versus placebo indicam que a maioria
PNIE. dos participantes são capazes de deduzir se fo-
Um estudo clínico publicado em 1989, que ram alocados ao tratamento activo ou ao place-
teve como objectivo avaliar quantitativamente bo. Isto poder-se-á explicar através da associa-
os benefícios da psicoterapia no co-tratamento ção que o doente faz a experiências prévias com
do cancro (da mama), demonstrou que os indi- medicação específica para a situação e pela mag-
víduos sujeitos à terapêutica "standard", associa- nitude da diferença entre os efeitos laterais do
da com psicoterapia, tinham ganhos em qualidade pb activo versus pb inerte.
de vida, assim como viram a sua esperança média de Como tal:
vida aumentada em cerca de 18 meses17. – experimentando mais efeitos laterais, os
Recentemente, Reichenberg et al.18 investi- pacientes da substância activa concluem
garam os efeitos de uma dose baixa de endoto- que estão no grupo de tratamento;
xemia (um modelo seguro e estabelecido para – experimentando menos efeitos laterais, os
activar a defesa do hospedeiro), sobre os parâ- pacientes do pb. concluem que estão no
metros emocionais, cognitivos, imunológicos e grupo placebo.
endócrinos, tendo demonstrado um efeito ne- Esta é uma das hipóteses apresentadas por
gativo nas funções emocionais e cognitivas. Kirsch & Sapirstein4 na sua meta-análise sobre a
eficácia dos anti-depressores versus placebo no
tratamento da depressão.
O PODER DO PLACEBO Como conclusão, podemos dizer que os efei-
tos laterais, ao provocarem um reforço positivo na cren-
São inúmeros os estudos que demonstram ça do doente em como este está a ser tratado, justificam
que a eficácia do placebos (pb.s) é extremamen- a eficácia superior do placebo activo face ao inerte.
te variável, não só entre os pb.s activos versus Do exposto sobressai um conceito interes-
inertes, entre as diversas formas terapêuticas sante:
(medicamentosa, cirúrgica,...) como também Todos os medicamentos (terapêuticas) para além do
entre pb.s iguais. efeito farmacológico (ou outros efeitos directos) têm
um efeito placebo, e estes são dificilmente separáveis.
Pb.s activos versus inertes
Das definições apresentadas anteriormente Placebos iguais ou diferentes
depreende-se que a única diferença entre activo Vários estudos foram feitos incluindo o pla-
e inerte reside na presença dos efeitos laterais cebo como termo de comparação e um dado que
induzidos. Posto isto, e sabendo do facto do pla- sobressai é que "...a resposta ao placebo é proporcio-
cebo activo ser mais "eficaz" do que o inerte poder-se- nal à resposta ao fármaco com o qual é comparado"
-á tentar compreender o porquê. Dado que "...a como concluíram Kirsch & Sapirstein4 no traba-
reacção total que se tem ao placebo está parcialmente lho já referido. Estes autores referem como pos-
sob influência de factores que não são fundamentais sível interpretação para esta correlação, as dife-
ao processo, e parcialmente sob a influência de factores renças de eficácia das várias substâncias dos es-
inerentes ao facto de tomar um comprimido que se es- tudos. Isto poderia acontecer "…se medicamentos
pera que produza uma alteração", como afirma mais eficazes induzissem maiores expectativas entre os
Beutler19, é de se esperar que a eficácia dos pla- doentes ou entre os médicos que os prescrevessem".
cebos activos seja superior. Esta justificação vai de encontro a outros estu-
Tomemos o seguinte exemplo num estudo dos elaborados por Frank20, Kirsch21 e Evans22
duplamente cego usando o placebo como con- sendo curioso salientar que o último destes au-

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tores referiu que o placebo-morfina era substan- os seus efeitos, não vai criar expectativas sobre
cialmente mais eficaz que o placebo-aspirina as possíveis alterações induzidas por estes e o pb
(embora fossem o mesmo composto inerte). neste caso seria ineficaz. Daí que recentemente
Também é conhecida a importância da for- se venha a discutir, no plano teórico-filosófico a
ma de apresentação do medicamento. Foi pedi- apropriação do termo Placebo e haja já autores,
do a um grupo de estudantes de Medicina para como Daniel E. Moerman e Wayne B.Jonas10
participarem num estudo sobre dois fármacos que sugeriram algo como resposta significativa
novos, um estimulante e um tranquilizante. A (‘meaning response’) para denominação alter-
cada um foram distribuídas uma ou duas pasti- nativa deste fenómeno.
lhas azuis ou vermelhas. As suas respostas ao
questionário elaborado no fim do estudo indica- Avaliação do poder do placebo
ram que: as pastilhas vermelhas actuaram como Para podermos avaliar o poder do placebo
estimulantes; as azuis como tranquilizantes; e deveríamos ser capazes de determinar o efeito
duas pastilhas tinham mais efeito do que uma placebo (vide supra). Para esta avaliação ser ho-
(independentemente da sua cor). O que é curio- nesta temos de ter em conta que a expressão
so é que, além de ambas serem o mesmo pb iner- latina "post hoc, ergo propter hoc" (depois de, logo
te, em altura alguma foi referido aos alunos qual por causa de) não está de todo correcta sendo
das pastilhas era estimulante/tranquilizante8. que são inúmeros os factores confundidores in-
Num outro estudo, 835 mulheres britânicas dependentes do placebo (ver Quadro 3) que po-
que regularmente usavam analgésicos para as dem enviesar a nossa análise.
cefaleias foram aleatoriamente distribuídas em Ora, tendo sido o placebo o "fármaco" mais
4 grupos. Um grupo recebeu aspirina com nome testado de todos os fármacos, poucos foram os
comercial bastante publicitado. Os outros gru- estudos que se preocuparam em avaliar o seu
pos receberam: um, a mesma aspirina mas em real poder.
branco (sem referência a nenhuma marca), um De entre estes salienta-se a meta-análise de
pb marcado com o mesmo nome comercial e o Kirsch & Sapirstein4.
último grupo recebeu não marcado. Neste estu- Estes autores, no seu estudo, tentaram esti-
do a aspirina marcada funcionou melhor que a mar o poder do placebo versus anti-depressores
aspirina não marcada, e esta melhor que o pb no tratamento da depressão e para tal conside-
marcado que por sua vez teve maior eficácia que raram os seguintes pressupostos:
o pb não marcado9. • efeito da substância = resposta à substân-
São de facto vários os estudos que apontam cia – resposta ao placebo
neste sentido: placebos iguais, mas diferentes. Para determinar o efeito da substância anali-
Outro aspecto interessante e de aceitação saram "scores" de depressão através de HRS-D
pacífica associa-se às diferentes eficácias das for- (Hamilton Rating Scale for Depression) e de BDI
mas terapêuticas placébicas (nas não placébicas (Beck Depression Inventory) pré-tratamento e pós-
verifica-se o mesmo). A cirurgia placebo é de -tratamento dos grupos com substância activa e
longe mais eficaz que a prescrição placébica e com placebo.
dentro desta uma injecção de soro fisiológico é • efeito placebo = resposta ao placebo – res-
mais eficaz que uma pastilha de amido. posta ao não tratamento
Uma ideia que ressalta do exposto é que o Para determinar o efeito do placebo analisa-
efeito do placebo não pode ser explicado como ram os mesmos "scores" (HRS-D e BDI) pré e
história natural, regressão à média ou entusias- pós-tratamento dos grupos com placebo e dos
mo dos investigadores, como alguns tentam ad- grupos com não tratamento de estudos de psi-
vogar. O efeito do placebo depende sim do significado coterapia na depressão*.
que o doente atribui à terapêutica implementada, às
associações e conotações que faz, e ao seu passado pes- Da análise comparativa entre os efeitos das
soal. Alguém que, por exemplo, nunca tenha diferentes terapêuticas obtiveram as seguintes
tido contacto com medicamentos, não conheça conclusões:

V O L U M E 5, N º 2, JULHO/DEZEMBRO 2 0 0 3
PLACEBO – COMPREENDER A CURA PELO NADA 149

• a eficácia do placebo é proporcional à efi- Por outro lado, é importante salientar que a
cácia do fármaco activo (Fig. 2); alocação dos participantes ao não-tratamento ou
• 75% da resposta às medicações examina- a uma lista de espera poderia afectar o curso da
das no estudo são uma resposta ao place- sua perturbação, como referem os autores na
bo; sua análise. Senão vejamos:
• 25% poderão ser devidos ao efeito do fár- • Como Frank20 argumentou "…a promes-
maco em si. sa de um tratamento é suficiente para de-
Isto significa que para o paciente típico, 75% sencadear uma resposta placebo".
do benefício obtido do fármaco activo também • Entretanto pode-se argumentar que ser
seja obtido de um placebo inactivo (ou, por ou- alocado ao não-tratamento poderia forta-
tras palavras, o placebo tem 75% da eficácia do lecer os sentimentos de desamparo e como
fármaco activo). tal aumentar a sintomatologia depressiva.
Os autores concluíram então que cerca de Outro achado interessante deste trabalho diz
25% do efeito do fármaco é devido a adminis- respeito à eficácia da própria substância ser vari-
tração de uma medicação activa, 50% ao efeito ável consoante o termo de comparação (a corre-
placebo e os restantes 25% devido a factores lação eficácia do placebo/eficácia do fármaco ser
inespecíficos (Fig. 3). bidireccional, matematicamente falando
biunívoca). Este dado vai de encontro a um es-
tudo de Greenberg e Fisher23 em que os autores
verificaram que a eficácia da medicação antide-
pressora era menor quando comparada com um
placebo activo do que quando comparada com
um placebo inerte.

O POLÉMICO PLACEBO

O efeito placebo não é um efeito desprovido de


controvérsia, o que de modo algum surpreende.

Figura 2 - A resposta ao placebo como predictivo da


reposta ao fármaco (adaptado de Kirsh e Sapirstein,
1998).

* Recorreram a estudos sobre os resultados da psicote-


rapia que incluissem grupos de controlo não tratados
dada a inexistência de outros estudos que incluissem
o placebo e o não-tratamento. Consideram que estes Figura 3 – Efeito do fármaco, efeito placebo, e efeito
grupos serão os melhores na medida em que permi- da história natural como proporções da resposta à me-
tem avaliar a evolução natural da doença, e a hipótese dicação antidepressora (adaptado de Kirsh e Sapirstein,
de Frank20 (vide infra). 1998).

R E V I S TA P O RT U G U E S A D E P S I C O S S O M Á T I C A
150 MIGUEL G. ROCHA, RUI COELHO

Em Edinburgh, a 7 de Outubro de 2000 a intensidade da dor de 6,5 mm numa esca-


World Medical Association (WMA) aprovou uma la visual-analógica de 100 mm;
revisão da Declaração de Helsinkia a qual res- • não se justifica o uso do placebo fora do
tringia o uso do placebo "...unicamente quando não contexto do ensaio clínico.
existirem outras terapêuticas disponíveis para compa- Salienta-se desde logo que os próprios auto-
rar com o procedimento em estudo". Sendo que "...os res não concluíram da inexistência do efeito pla-
novos fármacos devem ser testados face ao melhor tra- cebo, apenas não conseguiram demonstrar a sua
tamento disponível"24. Esta revisão pretendia de- existência em determinadas situações experi-
fender os interesses dos doentes de situações mentais. Duma leitura atenta deste trabalho
como as que se verificaram em África (em que pode-se verificar que alguns pontos importan-
se testaram novos fármacos anti-retrovirais con- tes, referidos pelos autores a título simplesmen-
tra o placebo em mulheres grávidas HIV+). Se te notificativo, mereceriam uma discussão mais
facilmente estamos de acordo quanto aos pro- detalhada, entre os quais:
blemas éticos subjacentes neste caso, já o mes- • O não-tratamento correspondia só a ob-
mo não podemos referir em relação a restrições servação clínica do doente ou à terapêuti-
tão limitativas quanto ao uso do placebo. ca standard, sendo que nessa situação o
Esta revisão gerou grande polémica, e várias placebo era adicional;
vozes se opuseram entre as quais as dos respon- • A possibilidade dos doentes do grupo su-
sáveis da Food and Drug Administration (FDA), jeito ao não-tratamento procurarem tra-
Robert Temple e Susan Ellenberg, que inclusi- tamentos adicionais fora do contexto do
vamente tinham publicado um artigo em favor ensaio clínico, em maior escala do que os
do uso do placebo no Annals of Internal Medicine sujeitos ao placebo.
no mês anterior25. Do exposto pode concluir-se que o efeito
Em Março de 2001, a FDA publicou um guia placebo inerente em cada terapêutica não foi
para aceitação de ensaios clínicos26 em que de- considerado, nem como o efeito Hawthorne.
clarava não incorporar esta nova revisão nos Este artigo gerou enorme polémica entre os de-
seus regulamentos. fensores do placebo que desde logo atacaram as
Poucos meses volvidos, em Maio de 2001, suas fragilidades (já referidas) além de sugeri-
A.Hróbjartsson e P.C. Gøtzsche27 vieram pôr em rem variadíssimos exemplos em que o efeito pla-
causa o efeito placebo contribuindo ainda mais cebo é incontornável. Serviu também para a rea-
para esta polémica. Estes autores fizeram uma lização de diversos estudos que vieram dar uma
meta-análise onde incluíram diversos estudos nova afirmação de realidade e objectividade ao
sobre variadas patologias em que os doentes placebo.
eram alocados aleatoriamente a um grupo com Uma das críticas frequentemente apontadas
placebo ou ao grupo de não-tratamento. Da aná- ao placebo é a de não se demonstrar a sua eficácia
lise dos seus resultados concluíram o seguinte: em doenças com resultados/desfechos objectivos.
• de uma maneira geral o placebo tinha Raul de La Fuente-Fernadez et al28 demonstra-
poucos efeitos clínicos; ram, através da utilização de 11[C]raclopride
• não tinha efeitos significativos em resulta- (compete com a dopamina endógena para os re-
dos/desfechos ("outcomes") binários inde- ceptores D2/D3), a eficácia do placebo na doença
pendentemente de estes serem objectivos de Parkinson. Estes autores verificaram: liberta-
ou subjectivos; ção de dopamina endógena no estriado induzida
• em resultados/desfechos contínuos o pla- pelo placebo; e que esta libertação era superior
cebo tinha um efeito benéfico, mas este nos doentes que se aperceberam do benefício te-
diminuía com o aumento do tamanho da rapêutico do placebo. O fármaco activo em com-
amostra; paração utilizado era a apomorfina, e não foram
• no tratamento da dor, o placebo tinha um demonstráveis diferenças significativas entre as
efeito benéfico indicado pela redução de quantidades de dopamina endógena libertada

V O L U M E 5, N º 2, JULHO/DEZEMBRO 2 0 0 3
PLACEBO – COMPREENDER A CURA PELO NADA 151

induzida por esta ou pelo placebo no grupo es- to que reconhecidamente afectasse a função ce-
tudado (seis doentes com doença de Parkin- rebral foram excluídos. Obtiveram os seguintes
son). Os resultados obtidos sugerem que: resultados:
• existe uma relação dose-dependente en- • não houve diferenças estatisticamente sig-
tre a libertação de dopamina endógena e a nificativas entre os dois estudos;
magnitude do efeito placebo; • 52% (13/25) dos que receberam trata-
• em alguns doentes a maior parte do bene- mento activo, e 38% (10/26) dos que re-
fício obtido do fármaco activo pode ser de- ceberam placebo responderam ao trata-
vido ao efeito placebo. mento. Entre estes não era possível distin-
Estes autores, salientando o facto do sistema gui-los quanto à gravidade da depressão
dopaminérgico estar envolvido na regulação de inicial ou final;
diversas funções cognitivas, comportamentais e • entre os grupos que responderam ao tra-
sensório-motoras e, particularmente, nos meca- tamento em ambos os grupos houve uma
nismos de recompensa concluíram que: diminuição precoce e sustentada dos scores
• a libertação endógena de dopamina no sis- de depressão, sendo a taxa de diminuição
tema nigroestriado está associada à expec- semelhante entre os dois grupos e acaban-
tativa de recompensa, neste caso de um do ambos com scores substancialmente in-
benefício terapêutico (todos os doentes co- feriores aos iniciais;
nheciam os efeitos de um fármaco activo - • as alterações verificadas nas QEEGs mais
levodopa); relevantes e consistentes situaram-se no
• o nível de expectativa determina a experi- lobo pré-frontal e foram mais proeminen-
ência (os doentes que se aperceberam dos tes no hemisfério direito;
benefícios tiveram maior libertação de do- • os indivíduos que responderam ao trata-
pamina). mento activo apresentaram um decréscimo
Posto isto, só faltavam provas tangíveis da significativo da cordance no córtex pré-fron-
existência do efeito placebo. Dois artigos publi- tal único nos quatro grupos;
cados no ‘American Journal of Psychiatry’ em • os indivíduos que responderam ao placebo
Janeiro e Maio de 2002 por grupos de investiga- apresentaram aumento significativo da
dores independentes e com metodologias dife- "cordance" no córtex pré-frontal também
rentes, vieram de algum modo fornecê-la. único nos quatro grupos.
Os autores do primeiro artigo, Andrew F. Saliente-se que, embora a melhoria sinto-
Leucher et al.29, utilizando as medidas tradicionais mática com o tratamento activo ou com o place-
da electroencefalografia quantitativa (QEEG) as- bo tenham sido semelhantes, os dois tratamentos
sim como a cordance*, sugeriram alterações da ac- não podem ser considerados equivalentes fisiologica-
tividade cerebral induzidas pelo placebo. Elabo- mente. Os dados mostrando diminuição da
raram dois ensaios clínicos, duplamente cegos cordance pré-frontal em doentes deprimidos a fa-
onde compararam a eficácia do placebo versus a zer tratamento activo são consistentes com ou-
fluoxetina (20 mg) e venlafaxina (150 mg) em tros estudos, demonstrando diminuição do me-
sujeitos com episódio depressivo major (DSM-IV) tabolismo ou da perfusão no córtex pré-frontal
e scores na HRS-D ≥ 16. Os indivíduos com ten- (independentemente do fármaco utilizado). O
dências suicidas, história de falência terapêutica aumento da cordance pré-frontal no grupo com
com os fármacos em estudo ou doença/tratamen- placebo pode explicar as heterogeneidades en-
contradas em estudos com PET Scan.
Neste estudo os doentes que responderam
ao placebo mostraram uma maior probabilidade
de terem uma resposta mais precoce ao trata-
mento, mas ambos os grupos apresentaram uma
* uma nova medida que demonstrou uma forte asso-
ciação com a perfusão cerebral36 e é sensível aos efei-
melhoria bem sustentada, ao contrário de ou-
tos da medicação antidepressora37,38. tros autores como Quitkin et al.30 que definiam a

R E V I S TA P O RT U G U E S A D E P S I C O S S O M Á T I C A
152 MIGUEL G. ROCHA, RUI COELHO

resposta ao placebo como precoce, abrupta e não a ideia de que a administração de um placebo não é
persistente. uma ausência de tratamento, mas apenas uma ausên-
Do exposto concluíram, então, que a adminis- cia de medicação activa. Os autores, em face da so-
tração de um medicamento inerte parece constituir um breposição de parte das alterações encontradas
tratamento activo, embora esta resposta ao placebo seja sugerem que, independentemente do método
fisiologicamente diferente da resposta ao fármaco activo. terapêutico, a facilitação de determinadas alte-
Dois outros ensaios clínicos vieram corrobo- rações adaptativas recíprocas córtex-sistema lím-
rar esta tese: bico sejam necessárias para a remissão da de-
• uma meta-análise31 sugeria que os doen- pressão.
tes não supressores no teste de supressão Face a uma pressão contínua, que veio au-
da dexametasona tinham menor probabi- mentar com a divulgação destes dados, a Assem-
lidade de responder ao placebo; bleia Geral da WMA reunida em Washington
• um estudo32 utilizando espectrometria de (em 2002), adicionou uma nota de clarificação
Ressonância Magnética Nuclear (RMN) ao tão polémico 29º artigo (o que estipula o uso
em indivíduos mostrando um padrão de do placebo). Desta forma o uso do placebo passa
resposta tipo fármaco-verdadeiro ou tipo a estar orientado pela Declaração de Helsinkia34
placebo (pela definição de Quitkin et al.30) nos seguintes termos:
durante um tratamento com fluoxetina "(...) 29º. Os benefícios, riscos, encargos e eficácias
demonstrou: aumento da relação colina- de um novo método devem ser testados face aos melho-
-creatina nos gânglios basais no primeiro, res métodos profilácticos, diagnósticos e terapêuticos.
e diminuição no segundo. Isto não exclui o uso do placebo, não- tratamento, em
estudos onde não existam métodos profilácticos, diag-
Num artigo intitulado "A neuroanatomia nósticos ou terapêuticos comprovados."
funcional do efeito placebo"33, publicado em
Maio de 2002 sugeriram novas provas, desta vez (...) Nota de clarificação ao parágrafo
fornecidas por Tomografia por Emissão de 29 da Declaração de Helsinkia da WMA
Positrões (PET Scan). O estudo envolvia a com- A WMA reafirma aqui a sua posição que deve ser
paração entre um tratamento com fluoxetina tomado extremo cuidado no uso de ensaios controlados
versus placebo em doentes com depressão. Os com placebo e que em geral esta metodologia deve ser
autores verificaram as seguintes alterações do usada unicamente na ausência de existência de tera-
metabolismo cerebral: pêutica comprovada. Contudo, um ensaio controlado
• em ambos os grupos, envolvendo aumen- com placebo pode ser eticamente aceitável, mesmo ha-
to nas áreas pré-frontal, cingulado anterior vendo terapêutica comprovada disponível, nas seguin-
e posterior, pré-motor, parietal e ínsula pos- tes circunstâncias:
terior e diminuição envolvendo cingulado • quando, por razões metodológicas, o seu uso seja
subgeniano, parahipocampo e tálamo; necessário para determinar a eficácia ou a se-
• adicionalmente, e apenas no grupo tratado gurança de um método profiláctico, diagnós-
com fluoxetina, alterações a nível do tron- tico ou terapêutico; ou,
co cerebral, estriado, hipocampo e ínsula; • quando um método profiláctico, diagnóstico ou
• em termos de evolução temporal: na 1ª terapêutico estiver a ser investigado para uma
semana houve uma diminuição da activi- situação clínica menos grave e os doentes que
dade cerebral no cingulado posterior mo- recebam placebo não fiquem sujeitos a qualquer
dificando-se para aumento no final do tra- risco adicional de dano grave ou irreversível.
tamento (à sexta semana) no grupo da Todas as outras provisões da Declaração de
fluoxetina, enquanto que no grupo place- Helsinkia devem ser atendidas, especialmente a neces-
bo houve um aumento desde início (à pri- sidade para uma revisão ética e cientifica apropria-
meira semana). da."
Em face destes dados, os autores enfatizaram Em Fevereiro de 2002 num artigo intitulado

V O L U M E 5, N º 2, JULHO/DEZEMBRO 2 0 0 3
PLACEBO – COMPREENDER A CURA PELO NADA 153

"Controlos Cirúrgicos Placébicos"35, publicado standard resultasse em prejuízo significativo e


no Annals of Surgery, o Conselho para a Ética e se esta terapêutica for eficaz e aceitável para o
Assuntos Jurídicos da "American Medical doente (em termos de efeitos laterais, crenças
Association" estabelecia as recomendações para pessoais,...), então deve ser oferecida a todos os
o uso de cirurgias-placebo em ensaios clínicos grupos do estudo. Se a terapêutica standard não
nos termos seguintes: é totalmente eficaz ou não for aceitável para o
Conselho para a Ética e Assuntos Jurídicos doente, esta pode ser descontinuada em qual-
da Associação Médica Americana quer um dos grupos do estudo".
"(...) O termo controlo cirúrgico placébico refere-se
ao grupo de controlo de um estudo de investigação onde
os doentes são sujeitos a procedimentos cirúrgicos que CONCLUSÃO
têm a aparência da intervenção terapêutica, mas du-
rante a qual a manobra terapêutica essencial é omitida. Este é, então, o ponto da situação relativa-
A apropriação da utilização do placebo cirúrgico mente ao placebo. Evidentemente, muito está
deve ser avaliada com a seguinte base: ainda por esclarecer mas, como se pode consta-
• o controlo cirúrgico placébico só deve ser utiliza- tar do exposto, este tema começa agora a afir-
do quando nenhum outro tipo de desenho de mar-se e estabelecer uma posição própria no seio
estudo conseguir produzir os dados necessários; da comunidade científica. As recomendações re-
• deve ser dada especial atenção ao processo de con- centes da ‘World Medical Association constan-
sentimento informado na inscrição de voluntári- tes na Declaração de Helsinkia, assim como as
os em estudos com controlo cirúrgico placébico. orientações apresentadas pelo ‘Council on
Uma explicação detalhada dos riscos da opera- Ethical and Judicial Affairs da ‘American
ção, assim como a descrição das diferenças entre Medical Association’ para a utilização do "Place-
os grupos em estudo, enfatizando o procedimento bo" vieram criar a conjuntura ética necessária
que será, ou não, realizado. Cuidados adicionais para se aprofundar o conhecimento deste pre-
no processo de consentimento informado podem sente enigma da ciência. Podemos conjecturar
ser apropriados, tais como a existência de alguém que, idealmente, para avaliarmos com rigor o
neutro e independente do estudo que forneça as efeito placebo teríamos de conceber um estudo
informações e consiga o consentimento, ou a mo- que incluisse os seguintes grupos: placebo acti-
nitorização do processo por supervisores; vo; placebo inerte; procedimento terapêutico ac-
• a utilização do controlo cirúrgico placébico não é tivo; lista de espera; e não-tratamento.
justificável na avaliação da eficácia de uma tera- Tudo isto se refere, no entanto, ao uso do
pêutica cirúrgica inovadora que represente ape- placebo no contexto de ensaios clínicos com
nas uma modificação pequena a um procedi- consentimento informado. Embora não se du-
mento cirúrgico existente; vide da inter-relação entre os sistemas Nervoso
• quando um novo procedimento cirúrgico é de- (saliente-se que o efeito provocado pelo placebo
senvolvido com a intenção de tratar uma situa- só se verifica se este for administrado a doentes
ção clínica para a qual não se conheça nenhum conscientes dessa ministração), Imune e Endó-
procedimento cirúrgico, ou quando a eficácia de crino (estando provado que o estado emocional
um procedimento cirúrgico já conhecido é posta do indivíduo está intimamente relacionado com
em causa, a utilização de um estudo que inclua o seu estado de saúde física) a utilização do pla-
o controlo cirúrgico placébico pode ser justificá- cebo na prática clínica pode levantar relevantes
vel se for do conhecimento que a doença em es- questões éticas. Deste modo devemos tentar ti-
tudo possa ser susceptível ao efeito placebo e os rar partido de todos os conhecimentos nesta área
riscos da intervenção desta cirurgia placébica fo- para reforçar a nossa prática clínica, e aumentar
rem relativamente pequenos; a eficácia das nossas acções terapêuticas mesmo
• a respeito de terapêuticas não-cirúrgicas que, por vezes, se possam cingir a uma maior
standard: se a descontinuação da terapêutica empatia para com os nossos doentes.

R E V I S TA P O RT U G U E S A D E P S I C O S S O M Á T I C A
154 MIGUEL G. ROCHA, RUI COELHO

Abstract 18. Reichenberg A, Yimiya R, Schuld A, Kraus T, Haack M, Morag A,


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