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– Versão Ultimate
Gustavo Augusto foi agraciado com três bênçãos na vida: Alvinho, um irmão mais velho
muito paciente com ele; Sarah Arah e Andréio, dois amigos inseparáveis; e Dona Clara, uma
mãe linha dura, gorducha e sempre mal-humorada.
Todas as manhãs, Dona Clara escancara as janelas do quarto do pimpolho teen,
permitindo que a luz solar a tudo invada e ilumine:
– Cinco e meia! Acorda que você tem escola!
Gustavo Augusto, vitimista e reclamão, vivia confidenciando a seu irmão mais velho:
– Que vida, Alvinho! Sou um mártir da sociedade consumista! Seria tão bom se não
precisasse ir à escola! Dormir até meio-dia, sem dar satisfação, sem professor otário, chefe
babaca nem mãe enchendo o saco! Não sou um cara exigente. Tendo música, games e Internet,
já estaria bom demais!
– É mesmo, né? Quanto sofrimento! – retrucava o irmão, sem levá-lo a sério.
Sabadão à noite, a turma do Gustavo Augusto se juntou para a balada. Dona Clara pediu
que Alvinho levasse o irmão mais novo de carro. Como não tinha programa melhor, o mais
velho ficou lá, só de olho na pirralhada. O lugar, a casa de um conhecido, via-se repleto de
garotas. Gustavo Augusto tomava cerveja, até que...
Um tremor percorreu-lhe o corpo; seus olhos encontraram os de uma moça alta, magra,
cabelos ruivos longos e roupas de vinil vermelho. Dançava com muita sensualidade e ninguém
chegava nela. A coragem calibrada pelo álcool, Gustavo Augusto deslizou até lá.
Sarah Arah e Andréio se cutucavam, animados, apontando com o queixo. Alvinho,
porém, que conhecia o irmão, duvidava muito do sucesso dele.
Pouco depois, Gustavo Augusto e a menina ruiva saíam da festa abraçados. O moleque
piscou para Alvinho. Era a deixa: “Não vou voltar contigo. Qualquer coisa, te chamo no
celular.”
Os amigos (menos Alvinho, que já sabia que o outro arrumaria um jeito de se queimar
sozinho e não ia se dar bem de jeito nenhum) correram para a sacada da casa e viram quando o
amigo entrava com a menina em um Maserati estacionado do lado de fora. Ela quem saiu
guiando.
– E você achando que teu irmão não ia se dar bem, hein, Alv... – comentava Sarah,
acotovelando o ar e percebendo uma ausência – ... Alvinho?
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– ...dormir até meio-dia, sem dar satisfação, sem professor otário, chefe babaca nem mãe
enchendo o saco! Não sou um cara exigente. Tendo música, games e Internet, já estaria bom
demais!
– Você calado parecia mais interessante.
Diante de um balcão de bar, Gustavo Augusto falava sem interrupção, inconsciente de
que a conversa não agradava sua companhia. Que então agarrou-lhe pela cabeça com as duas
mãos e mandou um beijão bem quente. Um sorriso revelou que os dentes da frente e os caninos
da moça eram pontudos.
Horas depois, quase amanhecendo, o Maserati estacionava em frente à casa de Gustavo
Augusto. Este saiu tropeçando de dentro do automóvel, e se dirigiu todo alegre até a porta. Sem
perceber, porém, que o carro de seu irmão achava-se estacionado metros atrás.
– Que bom que o pirralho não fez nenhuma bobagem. Agora eu posso dormir em paz.
No quarto, Gustavo Augusto coçou o pescoço, ignorando os dois furos com sangue logo
ali. Todo feliz, se deitou e sorriu com dois dentes da frente e dois caninos tão pontudos quanto
os da moça ruiva.
– Isso mesmo. Dorme. É o que você faz de melhor. – observou Alvinho, atrás da porta
entreaberta do quarto.
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Horas depois, janelas e cortinas eram escancaradas, permitindo a entrada da luz em
quantidades fartas. A mãe gorducha, furiosa como sempre, urrava:
– Acorda, moleque vagabundo! Dormiu o domingo inteiro! Levanta que já é segunda!
Bastou olhar para baixo para a mulher perceber um montinho de cinzas sobre os lençóis.
– E ainda inventa de fumar na cama!! Ah, mizerávi, se eu te pego!!!!
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